“A Filha Da Dona Lecy”: Estudo Da Trajetória De Leci Brandão
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“A filha da Dona Lecy”: Estudo da trajetória de Leci Brandão UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE ANTROPOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL “A filha da Dona Lecy”: Estudo da trajetória de Leci Brandão Fernanda Kalianny Martins Sousa São Paulo 2016 1 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE ANTROPOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL Fernanda Kalianny Martins Sousa “A filha da Dona Lecy”: Estudo da trajetória de Leci Brandão Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para a obtenção do título de Mestra em Antropologia Social. Orientadora: Profa. Dra. Heloisa Buarque de Almeida São Paulo 2016 2 Vivir en la frontera Vivir en la Frontera significa que tú no eres ni hispana india negra española ni gabacha, eres mestiza, mulata, híbrida atrapada en el fuego cruzado entre los bandos mientras llevas las cinco razas sobre tu espalda sin saber para qué lado volverte, de cuál correr; Vivir en la Frontera significa saber que la india en ti, traicionada por 500 años, ya no te está hablando, que las mexicanas te llaman rajetas, que negar a la Anglo dentro tuyo es tan malo como haber negado a la India o a la Negra; Cuando vives en la frontera la gente camina a través tuyo, el viento roba tu voz, eres una burra, buey, un chivo expiatorio, anunciadora de una nueva raza, mitad y mitad –tanto mujer como hombre, ninguno– un nuevo género; Vivir en la Frontera significa poner chile en el borscht, comer tortillas de maíz integral, hablar Tex-Mex con acento de Brooklyn ; ser detenida por la migra en los puntos de control fronterizos; Vivir en la Frontera significa que luchas duramente para resistir el elixir de oro que te llama desde la botella, el tirón del cañón de la pistola, la soga aplastando el hueco de tu garganta; En la Frontera tú eres el campo de batalla donde los enemigos están emparentados entre sí; tú estás en casa, una extraña, las disputas de límites han sido dirimidas el estampido de los disparos ha hecho trizas la tregua estás herida, perdida en acción muerta, resistiendo; Vivir en la Frontera significa el molino con los blancos dientes de navaja quiere arrancar en tiras tu piel rojo-oliva, exprimir la pulpa, tu corazón pulverizarte apretarte alisarte oliendo como pan blanco pero muerta; Para sobrevivir en la Frontera debes vivir sin fronteras ser un cruce de caminos. Gloria Anzaldúa (Tradução: María Luisa Peralta) 3 Existo conflituosamente Quando enxergo no espelho Meus traços, meus riscos, meus desenhos Quando me comparo E entendo a que tipo de imperfeições A minha imagem está associada Existo conflituosamente Quando me insiro, me calo Engulo de forma seca As cenas queixosas Com as quais me deparo Existo conflituosamente Nas estatísticas, nas mortes, nas perdas No encarceramento Que tem sempre cor E que não por acaso é a mesma que a minha Existo conflituosamente Quando sinto a inércia dos dias As impunidades, as contradições A tentativa de olhar Parcimoniosamente Para os problemas e não lhes encarar de frente Existo conflituosamente Quando me desqualificam Entendendo-me como emotiva demais Agressiva demais Subjetiva demais Existo deliciosamente Entre os meus pares Quando me identifico Com uma massa que toma rostos e vida Quando me entendo negra e repito: NEGRA, NEGRA, NEGRA! (F.K.M.S.) 4 “Devagarinho é que a gente chega lá, se você não acredita, você pode tropeçar...” (Martinho da Vila) 5 NOME: SOUSA, Fernanda Kalianny Martins TÍTULO: “A filha da Dona Leci”: estudo da trajetória de Leci Brandão Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para a obtenção do título de Mestra em Antropologia Social. Aprovada em: Banca Examinadora Prof. Dr. ______________________________________ Instituição: _______________ Julgamento: ____________________ Assinatura: ______________________________ Prof. Dr. ______________________________________ Instituição: _______________ Julgamento: ____________________ Assinatura: ______________________________ Prof. Dr. ______________________________________ Instituição: _______________ Julgamento: ____________________ Assinatura: ______________________________ Prof. Dr. ______________________________________ Instituição: _______________ Julgamento: ____________________ Assinatura: ______________________________ Prof. Dr. ______________________________________ Instituição: _______________ Julgamento: ____________________ Assinatura: ______________________________ 6 Dedicatória À Dona Tereza, minha avó materna, com quem aprendi o significado de ser uma mulher forte. E à Maria do Céu, minha mãe, que do seu jeito me ensinou uma forma diferente de também sê-lo. 7 Agradecimentos Preciso confessar que durante os últimos 30 meses fiquei pensando no que escreveria quando chegasse esse momento. Como escrever muitas vezes nos deixa mergulhados em silêncios e, de algum modo, somos tomados pela solidão, os agradecimentos dirigem-se às pessoas que diminuíram essa sensação e que estavam por perto para nos segurar quando algo ia mal, mas também para dividir conosco as alegrias que esse movimento de se manter um pouco isolado gera, posteriormente, quando retornamos. Primeiramente, agradeço à Leci Brandão, pessoa sem a qual essa pesquisa não poderia ter ocorrido. O agradecimento não se dirige apenas ao seu interesse, cuidado e entusiasmo nas vezes em que a encontrei, mas também ao seu trajeto enquanto mulher negra. Obrigada, Leci, por ter aberto tantos caminhos para as mulheres negras que vieram depois de você e por continuar abrindo nossos caminhos até hoje. Obrigada por cruzar meu caminho e ter confiado a mim sua história de vida. Agora que paro para agradecê-la, noto que o meu maior desejo, na verdade, é que eu possa continuar perto de você e acompanhando seus passos e que este seja apenas um dos primeiros projetos que faremos juntas. Agradeço ao produtor Juliano Souza, primeira pessoa com quem falei e que se empolgou desde o início com a ideia da pesquisa. À Carla do Nascimento que depois do contato inicial com o Juliano foi a pessoa que mediou meu contato com a Leci, durante quase toda a pesquisa. Agradeço, de um modo especial, ao presidente do fã clube, Alexandre Battel, por ter aberto as portas da sua casa, do seu acervo pessoal e por ter dividido comigo as muitas histórias que conhecia de Leci. Além de ter se colocado à minha disposição para tirar dúvidas infinitas pelo whatsapp, me respondendo sempre com muito carinho. Obrigada Battel. À Heloísa Buarque de Almeida, a querida Helô, agradeço por ter acreditado nas minhas ideias e no meu interesse pela antropologia, desde a graduação, quando eu chegava sempre com diferentes ideias de temas que eu queria pesquisar. Em um espaço que eu me sentia tão deslocada racial e socialmente, a sua orientação e abertura foram cruciais para que eu me sentisse apta a fazer o trabalho que desejava. Obrigada por me ajudar a cultivar minha autonomia enquanto pesquisadora, pelos livros emprestados, pelo 8 apoio, que por vezes ultrapassava a relação profissional, e por ter me feito perceber que era possível fazer uma antropologia crítica. Como nem tudo são flores, no início do mestrado eu não tinha bolsa de pesquisa, e foi muito importante ter trabalhado por dois meses na Sempreviva Organização Feminista – S0F, inclusive para conseguir me manter no mestrado. Agradeço à Tica Moreno por ter me dado essa oportunidade e por continuar acreditando nesse diálogo que ambas tentamos fazer entre academia e movimento social. Agradeço também à Nalu Faria, Sônia Coelho, Maria Fernanda Marcelino e Miriam Nobre que talvez não saibam, mas me ensinaram muito em todas as trocas que fizemos sobre feminismos, militância e respeito às multiplicidades. Alguns meses depois desse período sem bolsa de pesquisa, meu pedido feito à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo foi aceito, agradeço por ter tido a oportunidade de desenvolver meu mestrado sendo bolsista FAPESP, número de processo 2014/00532-5, o que sem dúvida melhorou meu desempenho e envolvimento com a pesquisa. Agradeço também aos/às professores/as que conheci nos últimos sete anos na Universidade de São Paulo, dando um enfoque especial ao professor José Guilherme Magnani de quem ouvi as primeiras dicas sobre como fazer antropologia; a professora Ana Cláudia, com quem aprendi muito na disciplina sobre família cursada na pós- graduação; à Fernanda Peixoto por ter me ensinado a ler projetos de pesquisa criticamente e, assim, também ser mais cuidadosa na minha escrita; ao Márcio Silva pela leveza com que nos fazia pensar sobre antropologia; ao Heitor Frúgoli Jr pelas aulas que me fizeram pensar em muito do que apareceu no capítulo 1 desta pesquisa; e ao professor Júlio Simões, com quem iniciei as leituras sobre sexualidade. À Laura Moutinho e à Janaína Damaceno Gomes seguem meus agradecimentos pelas leituras dedicadas e as observações importantes feitas no exame de qualificação, das quais tentei absorver o máximo possível. Agradeço também à Flávia Rios, com quem dividi uma mesa de debate sobre Feminismo Negro recentemente, por ter alimentado minha pesquisa com o seu relato sobre a trajetória de Lélia Gonzalez e Thereza Santos, assim como pela indicação de leitura de Alex Ratts. Aos/às funcionários/as da USP e do Departamento de Antropologia, pois sem eles/as este trabalho não