Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXIX Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande - MS, 23 a 25 de junho de 2020

ANTES DA VAZA JATO: lawfare, jornalismo e ações políticas contra Lula1 BEFORE VAZA JATO: Lawfare, journalism and politics actions against Lula Carlos Alberto de Carvalho 2 Maria Gislene Carvalho Fonseca3

Resumo: Neste artigo refletimos sobre o papel do jornalismo como ator político no caso de lawfare envolvendo as notícias relativas à investigação, condenação e prisão do ex-presidente Lula no âmbito da Operação Lava Jato. Adotamos como metodologia a combinação de revisão teórica em torno da política em Hannah Arendt, sobre necropolítica e democracia a partir de Achille Mbembe, sobre o jornalismo como ator político a partir de Héctor Borrat e sobre o lawfare como estratégia também comunicativa baseados em Gregory P. Noone e Susan W. Tiefenbrun. Na constituição do corpus de narrativas jornalísticas adotamos a premissa de contemplar as diversas fases dos procedimentos de investigação, condenação e prisão do ex-presidente Lula, analisando articulações entre o jornalismo com setores da Polícia Federal, do Ministério Público e do Judiciário que culminaram na inviabilização da candidatura de Lula às eleições presidenciais de 2018.

Palavras-Chave: Jornalismo. Lawfare. Política.

Abstract: In this article we reflect about the role of journalism as a political actor in the case of lawfare involving news related to the investigation, conviction and imprisonment of former President Lula in the context of Operation Lava Jato. We adopted as a methodological procedure the combination of theoretical revision around politics in Hannah Arendt, about necropolitics and democracy from Achille Mbembe, about journalism as a political actor from Héctor Borrat and about lawfare as a communicative strategy based on Gregory P Noone and Susan W. Tiefenbrun. In the constitution of the corpus of journalistic narratives, we adopted the premise of contemplating the different phases of the investigation, conviction and imprisonment procedures of former President Lula, analyzing articulations between journalism with sectors of the Federal Police, the Public Ministry and the Judiciary that culminated in the unfeasibility of Lula's candidacy for the 2018 presidential elections.

Keywords: Journalism. Lawfare. Politics.

Introdução

No início do mês de junho de 2019 teve início uma série de revelações, pelo site Brasil, de conversas privadas trocadas por autoridades diretamente responsáveis pela denominada Operação Lava Jato, que nos últimos anos alterou os rumos políticos e jurídicos brasileiros, por meio de práticas controversas, como as que envolvem o ex-presidente Lula, preso sob acusação de corrupção, impedido de concorrer às eleições presidenciais de 2018, e solto em novembro de 2019, depois de decisão do Supremo Tribunal Federal contra as prisões

1 Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Estudos de Jornalismo do XXIX Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande - MS, 23 a 25 de junho de 2020 2 Professor do curso de Jornalismo (UFMG). Doutor em Comunicação Social (UFMG). Email: [email protected]. 3 Professora do curso de Jornalismo (UFOP). Doutora em Comunicação Social (UFMG). Email: [email protected].

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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXIX Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande - MS, 23 a 25 de junho de 2020 em segunda instância. Batizada de Vaza Jato, a série de reportagens produzidas a partir de informações vazadas, trocadas por meio do aplicativo de mensagens Telegram, revelam, dentre outros detalhes, acertos entre promotores e o juiz responsável pelo julgamento de Lula, indicando práticas jurídicas antiéticas e desleais, por desequilibrarem o direito à ampla defesa e julgamento justo e isento. No centro das conversas destacam-se , procurador responsável pela Operação Lava Jato, e Sérgio Moro, juiz que condenou Lula.

A Operação Lava Jato, iniciada em 2014 e ainda vigente em 2020, objetiva investigar e combater casos de corrupção envolvendo agentes públicos, pessoas privadas e empresas envolvidas em prática lesiva à , empresa estatal brasileira de petróleo. Dentre os partidos políticos e seus filiados, o maior atingido foi o Partido dos Trabalhadores (PT), que governou o Brasil entre 2002 e 2016, quando a presidenta foi deposta por controverso processo, para alguns atores políticos e jurídicos considerado um golpe institucional (CARVALHO, 2019). A Lava Jato foi decisiva para o desgaste da imagem pública do PT, de Lula e de Dilma Rousseff, contribuindo para o próprio desenrolar da destituição de Dilma e para o resultado da eleição presidencial de 2018. Por sua vez, a Vaza Jato - denominação irônica que faz referência a diversos vazamentos de conversas envolvendo pessoas investigadas no âmbito da Lava Jato, alguns deles ilegais, - consistiu na divulgação de conversas privadas, por texto e voz, de membros do Ministério Público responsáveis pela condução da Lava Jato. As informações, obtidas pelo The Intercept Brasil de uma fonte que hackeou trocas de mensagens pelo aplicativo Telegram, indicavam, dentre outras ações, que o juiz Sérgio Moro, responsável pela condenação de Lula, atuou em vários momentos como instrutor das atividades do Ministério Público responsável pelas operações da Lava Jato. Diversas mensagens indicavam relações entre membros do Ministério Público e setores da imprensa com o objetivo de dar visibilidade às ações da Lava Jato. Nas primeiras mensagens vazadas que foram publicadas pelo The Intercept Brasil o papel da imprensa é destacado, com a informação de preocupações de envolvidos na Lava Jato com a liberação de entrevista do ex-presidente Lula no período eleitoral. Segundo o portal IG,

A primeira reportagem a mostrar trechos das conversas oficialmente relata uma troca de mensagens realizada em setembro de 2018, quando o ministro Lewandowski autorizou o jornal Folha de S.Paulo a entrevistar o ex-presidente na prisão. O lamento de procuradores, o medo de que a entrevista influenciasse no resultado das eleições positivamente para o Partido dos Trabalhadores (que já tinha como representante oficial) e simulações dos melhores cenários para evitar que a conversa ocorresse antes do Brasil ir às urnas foram expostos pelo site. (BARROS, 2019.)

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Em diversas ocasiões, Lula e seus advogados denunciaram que mídias jornalísticas tradicionais estariam aliadas aos posicionamentos de determinados agentes do Poder Judiciário, como alguns representantes do Ministério Público, de tribunais e mesmo juízes, além de membros da Polícia Federal. Essa estratégia de ação do jornalismo é típica de práticas de lawfare, modalidade de violência política que visa, por meio do uso de ações de suposto cunho legal, minar as resistências morais de inimigos escolhidos como alvos, tal como se evidencia em todas as estratégias contra Lula, conforme análises de diversos juristas (PRONER, et al, 2017; 2018).

Neste artigo tratamos das implicações do jornalismo nas fases de investigação, condenação, prisão e impedimento de Lula candidatar-se à presidência em 2018, inclusive contra manifestação do Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas que determinava ao Brasil respeitar os direitos políticos do ex-presidente até que se esgotassem todos os recursos jurídicos de apelação contra a prisão. São acontecimentos que antecedem as denúncias da Vaza Jato, que confirmam o que Lula e seus advogados vêm denunciando desde o início das ações contra o ex-presidente.

As práticas de lawfare, por implicarem diretamente o uso do jornalismo em suas estratégias, voluntária ou involuntariamente, trazem à baila relações certamente controversas e complexas deste com as questões políticas e processos de politização da justiça. Complexidade que está no fato de diversos estudos proporem que sem o jornalismo a democracia sequer seria possível, com sugestões mesmo de que os jornais constituiriam parte ativa do jogo político democrático, a exemplo de Héctor Borrat (1989), que define o jornal como ator político. Em outras abordagens, como a de Robert G. Picard (2009), a democracia existiria apesar da imprensa, que no limite pode mesmo estar sob ameaça pela ação desta. As práticas de lawfare, que não foram objeto de nenhum dos dois pesquisadores, acrescentam novos elementos às contraditórias relações entre jornalismo, política e democracia.

Metodologia

Adotamos como procedimento metodológico a combinação de revisão teórica e a constituição de um corpus de narrativas jornalísticas, permitindo, além da descrição de aspectos essenciais da cobertura noticiosa envolvendo o ex-presidente Lula, compreender

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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXIX Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande - MS, 23 a 25 de junho de 2020 dimensões políticas aí envolvidas. A escolha das narrativas abrange diversas fases dos procedimentos que finalmente inviabilizaram a candidatura de Lula às eleições presidenciais de 2018: investigação (com condução coercitiva), condenação, prisão e tentativas de soltura até que ocorra decisão judicial definitiva, com o acréscimo do impedimento de conceder, da prisão, entrevistas durante o período eleitoral. Coletamos notícias veiculadas por mídias tradicionais (Folha de S.Paulo, O Globo, Uol, G1 e outras) e de mídias que se propõem alternativas às tradicionais (Brasil 247, Jornal GGN, Revista Fórum e outras). Embora utilizemos apenas algumas delas na argumentação analítica deste artigo, em sua totalidade coletada as narrativas foram fundamentais para a compreensão e contextualização do foco do trabalho. Desse modo, todas as informações que envolvem a Operação Lava Jato, a Vaza Jato e detalhes sobre a política brasileira recente foram obtidos em sua quase totalidade a partir das notícias coletadas que em parte analisamos aqui.

Para a revisão bibliográfica selecionamos literatura que aborda as temáticas aqui trabalhadas. Recolhemos livros e artigos que já analisaram os processos envolvendo Lula, com destaque para dois livros organizados por Carol Proner et al (2017; 2018). Conceito e prática recente, que remonta ao final dos anos 1990, lawfare tem sido abordado quase exclusivamente em pesquisas interessadas em questões militares e de direito, particularmente direito internacional. Consequentemente, buscamos, a partir de pistas trabalhadas em artigos dessas áreas, mapear as interseções entre jornalismo e lawfare. Sobre o jornalismo, interessaram-nos reflexões sobre suas relações com a política e com a democracia, possibilitando cotejamento mais próximo aos problemas que as práticas de lawfare trazem como novos desafios dessas dinâmicas. Por seu turno, tratamos a política a partir de pressupostos que a tomam como essencial às ações humanas pautadas pelo respeito à diversidade e de reflexões sobre o que constitui ameaças à democracia.

Política, democracia e a vida na pluralidade

Hannah Arendt reitera não somente a necessidade e a inevitabilidade das ações políticas, como as defende como nossa única possibilidade de vida em conjunto, pautada pelo princípio da diversidade humana. A defesa ética da política e da política praticada segundo rigorosos preceitos éticos encontra ecos tanto em tradições filosóficas, quanto na história da

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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXIX Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande - MS, 23 a 25 de junho de 2020 política, o que permite a Hannah Arendt fundamentar seu pensamento crítico no aparente paradoxo entre a impossibilidade de realização da política segundo as prerrogativas do respeito às diferenças - como ela reflete a partir dos totalitarismos representados pelo imperialismo, pelo nazismo e pelo stalinismo - e a esperança cautelosa e vigilante quanto aos potenciais humanos de combate a todas as formas de desrespeito à pluralidade e de exercício de opressões. Tomamos como referências para nossas reflexões esses princípios defendidos por Hannah Arendt, pois consideramos que pensar a política e as relações do jornalismo com ela nesses marcos nos possibilita melhor elucidar as práticas de lawfare como uma das ameaças ao exercício político. Ao mesmo tempo, estratégias de lawfare contribuem para o preconceito contra a política, que Hannah Arendt lista entre os muitos métodos para minar e deslegitimar as ações políticas. Como é evidente, Arendt não está se referindo às práticas de lawfare como uma das condições de exercício de preconceitos políticos e contra a política, sendo essa uma proposição nossa. Se a política, para Hannah Arendt, deve se dar como, e tendo em vista a diversidade humana e a pluralidade, está pressuposto que as instituições e os estados também deverão se guiar por esses princípios. Nesse sentido, a história política da humanidade tem nos mostrado a dificuldade de fazer valer os ideais de pluralidade de pensamentos e respeito à diversidade humana, de que as guerras e os regimes políticos autoritários e totalitários em todos os tempos e locais são os exemplos mais eloquentes. Consequentemente, resta o desafio de não deixar morrer os ideais políticos de pluralidade e diversidade, que em última instância, seguindo as pistas de Arendt, somente pode ser possível se nos guiarmos pela resposta positiva relativamente à dúvida se a política ainda faria sentido (ARENDT, 2002). Tal indagação e sua resposta positiva implicam reconhecer que a política como ideal de diversidade e pluralidade tem sido mais exceção do que regra, mas especialmente, que defendê-la e exercê-la é um imperativo humano. Às contribuições de Hannah Arendt sobre a política acrescentamos o pensamento de Achille Mbembe (2014; 2017), autor que recorre com frequência a Arendt na busca de compreensão sobre as lógicas do racismo contra os negros e das construções imaginárias sobre a África. Reconhecendo as práticas imperialistas como fundamentais para a desqualificação do negro tornado escravo, Achille Mbembe alerta que as lógicas racistas, impulsionadas contemporaneamente sobretudo pelo pensamento neoliberal, alcançam outras “raças”, abarcando povos os mais diversos nas políticas de exclusão cultural, política e econômica.

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Manifestas sob a forma de racismo, sexismo, xenofobia etc. as políticas de exclusão, ou “políticas da inimizade”, têm seu corolário na necropolítica, promovida ou tolerada pelo Estado, consistindo na eliminação de corpos considerados indesejáveis. Longe de constituírem deformações da vida democrática, Achille Mbembe considera que as mais variadas formas de violências - físicas e simbólicas - devem ser perspectivadas como parte da democracia como a temos conhecido e praticado. Dão a ver, portanto, fissuras no projeto de humanismo nascido na Europa e por ela espraiado precisamente por meio das práticas imperialistas, desde sempre adotando estratégias de aculturação e doutrinação em nome de “processos civilizatórios” centrados na lógica do homem branco europeu, inclusive com toda a carga sexista implicada na nomeação masculina da espécie humana. Na esteira do pensamento de Mbembe é possível constatar que a atividade política democrática jamais existiu sob a forma plena da igualdade e da liberdade para todas as pessoas que supostamente deveriam ser por ela beneficiadas e protegidas de perseguições, exclusões e violências de diversas ordens. Nesse sentido, tomar a atividade política como essencialmente subordinada aos mecanismos típicos das democracias formais traz inerente o risco de reduzir aos processos consultivos, de que as eleições para exercícios políticos são o exemplo mais evidente, a ampla gama de processos, requisitos éticos e morais, dentre outros, que a política pressupõe. Diante das dificuldades enfrentadas para levar adiante ações políticas pautadas pelo princípio do respeito à diversidade e de construção de projetos democráticos livres das práticas de violências, haveria ainda esperanças? Ao final do longo percurso do livro Origens do Totalitarismo, Arendt alerta que regimes totalitários, ditaduras e autoritarismos de diversas ordens não são acidentes de percurso na história da humanidade, mas realidades que podem retornar, em muito como consequência do que ela denomina “solidão das massas”, que as tornariam suscetíveis aos apelos totalitários. No entanto, Mas permanece também a verdade de que todo fim na história constitui necessariamente um novo começo: esse começo é a promessa, a única “mensagem” que o fim pode produzir. O começo, antes de tornar-se evento histórico, é a suprema capacidade do homem; politicamente, equivale à liberdade do homem. Initium ut esset homo creatus est – “o homem foi criado para que houvesse um começo”, disse Agostinho. Cada novo nascimento garante esse começo; ele é na verdade, cada um de nós. (ARENDT, 1989, p. 531, com destaques no original) Também buscamos as últimas palavras de Achille Mbembe, do livro Crítica da razão negra, no qual ele chama atenção para todas as formas de racismo, preconceito e exclusão que, se historicamente estiveram associadas ao negro, arrancado da África como escravo, na

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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXIX Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande - MS, 23 a 25 de junho de 2020 atualidade alcança vastas populações, independentemente da “raça”, ameaçando os ideais de democracia. Lembrando-nos que existe um só mundo, Mbembe aponta para as contradições da reivindicação das diferenças, destacando seus potenciais libertadores: Mas se, de facto, a diferença consiste no desejo (isto é, a vontade), esse desejo não é necessariamente desejo de poder. Também pode ser o desejo de ser protegido, de ser poupado, de ser preservado do perigo. Por outro lado, o desejo de diferença não é também necessariamente o oposto do desejo do em comum. De facto, para aqueles que passaram pela dominação colonial ou a quem, num dado momento da história, a sua humanidade foi roubada, a recuperação desta parte da humanidade passa muitas vezes pela proclamação da diferença. Mas, como vemos em certa crítica negra moderna, a proclamação da diferença é apenas um momento de um projeto mais vasto – de um mundo que virá, de um mundo antes de nós, no qual o destino é universal, um mundo livre do peso da raça e do ressentimento e do desejo de vingança que qualquer situação de racismo convoca. (MBEMBE, 2014, pp. 305-306, com destaque no original) Às indicações esperançosas e vigilantes quanto aos percalços que marcam a história da política e da democracia é imperioso contemporaneamente acrescentar os riscos adicionais que as práticas de lawfare representam para ambas.

Lawfare e politização jurídica Parece consensual que o termo lawfare apareceu no contexto das ações do Exército dos Estados Unidos, conforme indica Gregory P. Noone: Lawfare, como foi originalmente concebido no final da década de 1990 pelo Major General Charles J. Dunlap Jr., da Força Aérea dos Estados Unidos, era um termo ideologicamente neutro descrevendo uma operação baseada em efeitos - onde o efeito criado é o foco, não necessariamente o meio de obtê-lo. Em outras palavras, lawfare era uma maneira de aplicar a pressão legal no outro lado de um conflito, muitas vezes, mas nem sempre, em conjunto com operações militares, que então forçavam o inimigo a se defender em múltiplas arenas. O conceito foi projetado para uma audiência inicial de comandantes militares, para que eles pudessem entender melhor o papel e a contribuição potencial dos advogados militares (os advogados dos juízes - comumente chamados de JAGs)4. (NOONE, 2010, p. 74, tradução livre)

Em artigo cujo título, Lawfare or strategic communications?, indica as íntimas relações entre as práticas de lawfare e conexões com processos comunicacionais, os jornalísticos incluídos, Gregory P. Noone expõe uma série de situações nas quais o lawfare esteve presente, como nas guerras dos Estados Unidos contra o Iraque e o Afeganistão, nos conflitos entre judeus e palestinos e noutras contendas que envolvem civis e militares.

4 Lawfare, as originally conceived in the late 1990s by retired Major General Charles J. Dunlap, Jr., of the U.S. Air Force, was an ideological neutral term describing an effects-based operation - where the effect created is the focus, not necessarily the means of obtaining it. In other words, lawfare was a way to apply legal pressure on the other side of a conflict, often times, but not always, in conjunction with military operations, which then potentially forced the enemy to defend themselves in multiple arenas. The concept was designed for an initial audience of military commanders so that they could better understand the role and potential contribution of the military lawyers (judge advocates - commonly referred to as JAGs).

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A princípio, lawfare diria mais de uma “guerra jurídica” capaz, em determinadas circunstâncias, de evitar os confrontos armados, mas seguindo a lógica de minar as resistências do inimigo eleito como alvo a ser abatido. Contudo, seus sentidos ultrapassaram os originais, dentre outras razões, por serem também práticas dirigidas contra pessoas, países e instituições, além de ser altamente questionável sua natureza de “ideologicamente neutro”, como pretendia seu precursor. A aproximação das práticas de lawfare com as estratégias de comunicação é um caminho frutífero, pois aponta que faz parte da destruição moral do inimigo a utilização de processos que envolvem a erosão de reputações e a busca de apoio da opinião pública por meio, sobretudo, da informação jornalística. A aproximação entre as práticas de lawfare com as estratégias de comunicação e com as mídias é delineada de forma mais detalhada por Susan W. Tiefenbrun, no artigo Semiotic definition of ”Lawfare”, ampliando também os sentidos do termo. "Lawfare" é uma arma projetada para destruir o inimigo usando, maltratando e abusando do sistema legal e da mídia, a fim de levantar um clamor público contra esse inimigo. O termo “lawfare” é também um jogo inteligente de palavras, um trocadilho e um neologismo que precisa ser desconstruído para explicar o poder linguístico e político do termo. A teoria semiótica pode ajudar a desmembrar esse jogo de palavras, o que cria uma equivalência interessante e chocante entre lei e guerra. (...) A arma usada é o próprio estado de direito que foi originalmente criado não para acalmar o discurso dos inocentes, mas para subjugar ditadores e tiranos. Ironicamente, é essa mesma regra da lei que está sendo abusada para dar poder aos tiranos e impedir a liberdade de expressão5. (TIEFENBRUN, 2010, p. 29, tradução livre)

Embora o impedimento da liberdade de expressão não se dê apenas em relação aos agentes jornalísticos e de outras mídias, já que atinge também a cidadania, inclusive nas suas possibilidades de defesa contra as práticas de lawfare, interessa-nos especialmente atentar para os efeitos sobre as atividades dos primeiros, inclusive quando elas atingem a cidadania, como as denúncias relativas ao caso Lula. Nesse sentido, é fundamental destacar que o jornalismo tanto pode estar envolvido voluntária quanto involuntariamente nas práticas de lawfare, agora percebidas não somente em seu uso militar, mas em quaisquer situações nas quais o sistema legal é utilizado na promoção de perseguições, não raro deturpando a própria letra legal. Voluntariamente, o jornalismo pode eleger inimigos a combater, se valendo do princípio legal

5 “Lawfare” is a weapon designed to destroy the enemy by using, misusing, and abusing the legal system and the media in order to raise a public outcry against that enemy. The term “lawfare” is also a clever play onwords, a pun, and a neologism that needs to be deconstructed in order to explain the linguistic and political power of the term. Semiotic theory can help unpack this play on words, which creates an interesting and shocking equivalence between law and war. (...) The weapon used is the rule of law itself that was originally created not to quiet the speech of the innocent but more to subdue dictators and tyrants. Ironically, it is this very same rule of law that is being abused in order to empower tyrants and to thwart free speech.

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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXIX Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande - MS, 23 a 25 de junho de 2020 da liberdade de expressão, do direito ao sigilo das fontes e de outras premissas jurídicas, assim como aliando-se a agentes do Estado na promoção de perseguições, o que naturalmente constitui grave delito ético e abuso de prerrogativas. Involuntariamente, ele pode dar ressonância a práticas de lawfare quando noticia acontecimentos dessa natureza promovidos por governos, agentes do judiciário e outros, que inclusive podem se valer o tempo todo de redes de mentiras de difícil apuração jornalística. Susan W. Tiefenbrun (2010, p. 53, tradução livre) destaca que as técnicas de lawfare “incluem difamação frívola e discursos de ódio contra escritores, políticos, jornalistas e até cartunistas que falam publicamente ou satiricamente sobre questões de segurança nacional”6, o que denota relações ambíguas e contraditórias entre o jornalismo e as práticas de lawfare. De qualquer modo, ficam afastadas as possibilidades de entendimento do lawfare como ideologicamente neutro, assim como acentuadas as assimetrias que suas práticas promovem, além do uso político do direito e dos sistemas jurídicos e legais. Ainda recorrendo a Susan W. Tiefenbrun (2010, p. 60, tradução livre), “o uso continuado do lawfare irá corroer a integridade dos sistemas legais nacionais e internacionais e resultar no uso infeliz e crescente da guerra para resolver disputas”7. Acrescentamos: o uso contínuo e reiterado inscreve a violência no seio das ações políticas, erodindo as possibilidades democráticas e o reconhecimento da pluralidade do ser humano como constitutiva das nossas possibilidades de existência, tal como postula Hannah Arendt. Não raro, as estratégias de lawfare têm como alvo pessoas e populações “racializadas”, além de defenderem interesses neoliberais, que Achille Mbembe situa como responsáveis pelos projetos necropolíticos e pelas lógicas dos preconceitos diversos.

Jornalismo contra democracia?

Uma vasta literatura sobre as relações políticas do jornalismo - na maioria das vezes referido mais particularmente como imprensa - defende a tese deste como fundamental para a constituição e consolidação dos ideais e práticas democráticos, que teriam, para alguns estudiosos, origens nos mesmos períodos históricos, com marcos cronológicos que tendem a

6 Techniques of lawfare include frivolous libel and hate speech lawsuits brought against writers, politicians, journalists, and even cartoonists who speak publicly or satirically about issues of national security. 7 Continued use of lawfare will erode the integrity of the national and international legal systems and result in the unfortunate and increased use of warfare to resolve disputes.

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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXIX Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande - MS, 23 a 25 de junho de 2020 indicar como momentos inaugurais a invenção da prensa móvel por Guttemberg e a Reforma Protestante, acentuando-se com o advento da Revolução Francesa. Ainda que na maioria das vezes seja dada pouca atenção às contradições entre imprensa partidária prevalecente naqueles momentos, portanto pouco afeita à pluralidade de opiniões, a princípio fundamental a qualquer projeto democrático, as teses das relações umbilicais entre jornalismo e democracia fundamentam-se sobretudo na perspectiva do liberalismo econômico e político (GENRO FILHO, 1987). Tais pressupostos, em linhas gerais, orientam a proposição de Héctor Borrat (1989) sobre o jornalismo como ator político: Compreendendo por ator político todo ator coletivo ou individual capaz de afetar o processo de tomada de decisões no sistema político, afirmo que o jornal independente de informação geral é um verdadeiro ator político de natureza coletiva, cujo âmbito de ação é o da influência, não o da conquista do poder institucional ou da permanência nele. O jornal influi assim sobre o governo, mas também sobre os partidos políticos, os grupos de interesse, os movimentos sociais, os componentes de sua audiência. E ao mesmo tempo que exerce a sua influência, é objeto da influência de outros, que alcançam uma carga de coerção decisiva quando esses outros são os detentores do poder político8. (BORRAT, 1989, p. 10, tradução livre)

A tese de Borrat se complementa com a noção de que o conflito é o elemento principal das ações do jornal como ator político, tanto na condição de promovê-lo, de negociá-lo, como de atenuá-lo. Consequentemente, o jornal não se coloca o tempo todo à parte dos conflitos, pois atua como agente às vezes interessado e não somente como um mediador distante dos interesses em jogo. Para o autor é particularmente importante a perspectiva da economia e da democracia liberais, pois pela primeira seriam concretizadas as condições para sobrevivência financeira do jornal, dando-lhe autonomia face aos diversos poderes político-institucionais e garantindo a possibilidade de livremente constituir suas coberturas noticiosas. Borrat não elucida, no entanto, como livrar-se das pressões econômicas possíveis por parte dos diversos anunciantes, incluindo governos, mas resta a sugestão de que a própria pluralidade de produtos e serviços anunciados constituiria o antídoto contra pressões financeiras de um único comprador de espaço publicitário do jornal. Quanto à democracia liberal, não haveria muito a questionar, posto que ela pressupõe naturalmente a pluralidade de opiniões, restando o problema de pressões específicas por parte de detentores dos poderes político e econômico que historicamente têm impedido amplas parcelas das populações de expressarem seus pontos de

8 Entendiendo por actor político a todo actor colectivo o individual capaz de afectar al proceso de toma de decisiones en el sistema político, afirmo que el periódico independiente de información general es un verdadero actor político de naturaleza colectiva, cuyo ámbito de actuación no el de la conquista del poder institucional o la permanencia en él. El periódico influye así sobre el Gobierno, pero también sobre los partidos políticos, los grupos de interés, los movimientos sociales, los componentes de su audiencia. Y al mismo tiempo que ejerce su influencia, es obyecto de la influencia de otros, que alcanza una carga de coerción decisiva cuando esos otros son los titulares del poder político.

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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXIX Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande - MS, 23 a 25 de junho de 2020 vista e reivindicações de direitos, perspectivas que não são objeto de preocupações por parte de Borrát. É com base nesses equívocos que tem se sustentado grande parte das proposições das relações do jornalismo (ainda quando a referência seja mais restrita ao jornal ou à imprensa) com a política, deixando em segundo plano que a tese começa sua erosão já na condição das mídias jornalísticas como parte dos dois sistemas liberais, portanto, comprometidas com modelos econômicos, políticos, culturais e ideológicos não necessariamente partidários da pluralidade. Nesse sentido, as proposições de Robert G. Picard (2009) acerca das relações da imprensa com a democracia, e por extensão com a política, nos parecem mais lúcidas. A maioria de nós assumiu que a democracia requer a imprensa como a conhecemos. Teóricos democráticos e sociais, de John Milton a Thomas Jefferson, de Alexis de Tocqueville a John Dewey e de Walter Lippmann a Jürgen Habermas, todos afirmaram os papéis da imprensa na criação de uma comunidade política e retrataram a imprensa como intermediária entre governadores e governados, como superintendentes de atos governamentais e como criadores de fóruns em que o debate público ocorre. Na prática, no entanto, essas relações nunca foram tão evidentes porque a democracia se desenvolveu e prosperou antes que a imprensa, tal como a conhecemos hoje, existisse. Mesmo em tempos modernos, movimentos democráticos para derrubar o colonialismo e suas condições residuais foram bem sucedidos sem uma imprensa democraticamente inclinada ou simpatizante. Na África e Ásia surgiram democracias quando as condições e poderes coloniais, como o apartheid, foram rejeitados pela população, apesar da falta de apoio na imprensa. A luta pela democracia na Europa Central e Oriental avançou sem a imprensa realizando as funções democráticas que acreditamos que elas servem9. (Picard, 2009, p. 70. tradução livre)

Forjadas como parte de reflexões sobre os desafios da imprensa em tempos de internet, as proposições de Picard colocam em dúvida as teses das relações umbilicais entre jornalismo e democracia, certamente mais complexas, como sugerem os exemplos históricos citados por ele. As relações entre jornalismo e práticas de lawfare agudizam a complexidade, trazendo à baila a hipótese mesmo de que o jornalismo possa vir a se constituir como uma ameaça à democracia e à política como ação na diversidade e respeitando a pluralidade, quando atua voluntariamente em cooperação com os estrategistas das guerras jurídicas. Vítima involuntária

9 Most of us have assumed that democracy requires the press as we know it. Democratic and social theorists from John Milton and Thomas Jefferson, Alexis de Tocqueville to John Dewey, and Walter Lippmann to Jürgen Habermas have all asserted the roles of the press in creating political community and have portrayed the press as intermediaries between governors and the governed, as overseers of governmental acts, and as creators of forums in which public debate takes place. In practice, however, these relations have never been so evident because democracy developed and thrived before the press as we know it today even existed. Even in modern times, democratic movements to overthrow colonialism and its residual conditions were successful without a democratically leaning or sympathetic press. In Africa and Asia, democracies emerged when colonial powers and conditions such as apartheid were rejected by the population despite the lack of support in the press. The struggle for democracy in Central and Eastern Europe went forward without the press carrying out the democratic functions we believe they serve.

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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXIX Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande - MS, 23 a 25 de junho de 2020 das práticas de lawfare, o jornalismo se tornaria tão ameaçado em sua existência quanto a democracia, mas nos interessamos aqui em verificar como o jornalismo se tornou aliado importante de setores da Polícia Federal, do Ministério Público e do Judiciário em ações contra o ex-presidente Lula.

Práticas de lawfare contra Lula

Com o intuito de iniciarmos nossas discussões partindo dos momentos da investigação, o começo de nosso recorte é marcado pela condução coercitiva de Lula para depoimento à Polícia Federal no dia 04 de março de 2016, quando a tomada de depoimento produziu todo um cenário midiático. A programação matinal da Rede Globo foi interrompida para aguardar informações sobre o depoimento de Lula tomado no Aeroporto de Congonhas-SP. Naquele momento dava-se o tom que o jornalismo colocaria às narrativas do processo jurídico, e que culminariam em consequências políticas evidenciadas nas eleições de 2018, não somente pelo tom simpático às ações da Lava Jato, como pelo aparato técnico acionado para a cobertura. Por sua vez, os estrategistas da Lava Jato faziam coincidir os principais lances das operações com os horários de telejornais matinais, garantindo coberturas ao vivo.

A implicação midiática nas ações políticas, como apresentado e discutido por Borrat (1989), é identificada neste processo a partir das vinculações de planejamentos e articulações que levam em consideração as agendas coincidindo com as melhores oportunidades de cobertura ao vivo pela imprensa. Para tanto, essas agendas precisavam estar sintonizadas, como evidenciou-se nas denúncias feitas pelo jornal The Intercept Brasil em junho de 2019, à medida que trechos de conversas implicam jornalistas e mídias jornalísticas como “ator interessado”, e não como “mediador”.

Quando Lula é convocado a depor e essa convocação vem acompanhada da definição de “coercitiva”, produzindo imagens de carros da Polícia Federal chegando à casa do ex- presidente, tendo seu trajeto coberto e narrado ao vivo na televisão e nos sites de notícias, evidencia-se que operações que em condições normais de legalidade deveriam ser sigilosas, eram previamente comunicadas a setores da imprensa. No caso da condução coercitiva, a ilegalidade maior esteve na própria natureza da decisão, uma vez que o instrumento somente pode ser acionado quando a pessoa convocada se recusa a comparecer ao depoimento

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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXIX Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande - MS, 23 a 25 de junho de 2020 agendado, conforme, à época, lembrou o ministro do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello (CARVALHO; FONSECA, 2019).

Uma postagem às 2h da manhã do dia 04 de março de 2016 no Twitter de Diego Escosteguy (foto 1), então editor da revista Época, foi um elemento utilizado para gerar desconfiança de que as organizações midiáticas já estariam sabendo da condução antes que ela fosse anunciada ao investigado. O possível vazamento da informação garantiria o papel fundamental da mídia na exposição da condução coercitiva para que o depoimento pudesse repercutir. O palco precisava ser montado para que a fogueira da praça pública fosse acesa, estratégia que é típica das práticas de lawfare.

Foto 1: Diego Escosteguy. Fonte: Twitter @diegoescosteguy O jornalismo aparece, assim, como um ator fundamental para os modos de reverberação do acontecimento. Para isso, seria preciso constituir as alianças entre as agendas, de modo que todos se retroalimentassem. Consequentemente, o argumento apresentado pelo então juiz Sérgio Moro (foto 2) de que a condução coercitiva teria o objetivo de evitar o alvoroço midiático na ocasião do depoimento não se concretiza, já que, em vez disso, a participação da mídia naquele cenário era fundamental para que ele se configurasse como lance político.

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Foto 2: Condução coercitiva. Fonte: Folha de S.Paulo Na manhã do dia 4 de março foi realizada a condução para a tomada de depoimento de Lula como parte da 24ª etapa da operação Lava Jato, designada Operação Aletheia, em referência ao sentido grego do termo como verdade, aquilo que promove desvelamento da realidade, indo além da aparência. Essa fase da operação visava apurar se empreiteiras e o pecuarista José Carlos Bumlai (tido como amigo de Lula) haviam beneficiado o ex-presidente e sua família por meio de um sítio em Atibaia e de um triplex no Guarujá, todos eles situados no estado de São Paulo, que nunca foram comprovadas como propriedades de Lula ou de algum familiar, além de estarem fora do estado do Paraná, onde atuam Sérgio Moro e a coordenação nacional da Lava Jato, contrariando o princípio jurídico do “juiz natural”, reforçando a hipótese de lawfare contra o ex-presidente (PRONER et al, 2017; 2018). Diante da falta de informação sobre o efeito “coercitivo” da condução, o qual a mídia tradicional tampouco fez questão de explicitar no momento da ocorrência, fez-se confusão e muitas pessoas entendiam aquele processo como uma prisão. As redes sociais online foram fundamentais para oferecer a

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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXIX Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande - MS, 23 a 25 de junho de 2020 possibilidade de construção de outras narrativas, assim como sites jornalísticos que se apresentam como alternativos àqueles controlados pelas mídias tradicionais.

Ex-assessora da Operação Lava Jato, Christianne Machiavelli, em entrevista ao The Intercept Brasil, ajuda a compreender as relações da mídia com a Operação, destacando que não havia estratégia, por parte da Justiça Federal em Curitiba, de manter o interesse midiático pela Operação. Mas explicita como foram construídas as relações entre mídia, Polícia Federal, Justiça Federal e Ministério Público:

Mas a responsabilidade da imprensa é tão importante quanto a da Polícia Federal, do Ministério Público e da Justiça. Talvez tenha faltado crítica da imprensa. Era tudo divulgado do jeito como era citado pelos órgãos da operação. A imprensa comprava tudo. Não digo que o trabalho não foi correto, ela se serviu do que tinha de informação. Mas as críticas à operação só vieram de modo contundente nos últimos dois anos. Antes praticamente não existia. Algumas vezes, integrantes da PF e do MPF se sentiam até melindrados porque foram criticados pela imprensa. (AUDI, The Intercept Brasil, 2018)

Ao longo dos acontecimentos envolvendo Lula, no entanto, verifica-se mais do que uma “imprensa que comprava tudo” que vinha dos agentes citados pela ex-assessora da Lava Jato, mas também o que tratamos aqui como processo de lawfare. Lula se refere aos procuradores e ao poder judiciário articulados em sua condenação como “reféns da imprensa” (foto 3), destacando a mídia como parte integrante dos acontecimentos que o envolve.

Quase todas as denúncias foi motivo da imprensa aprisionar vocês, a imprensa aprisionar o grupo da Lava Jato, acho que vocês estão refém de uma coisa grave para o Poder Judiciário Brasileiro, nós estamos vendo o que está acontecendo com Janot, nós estamos vendo. (UOL, 2016, s/p)

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Foto 3: Depoimento. Fonte: Revista Exame

Diante do espetáculo criado, o Ministério Público não teria outra possibilidade que não fosse solicitar a condenação de Lula. Para isso, a mídia estava vigilante e ainda fornecia “as provas” para que ele fosse considerado culpado e preso, conforme encontramos em análises nos já referidos livros organizador por Carol Proner et al (2017; 2018).

Nos discursos que Lula realizou depois das acusações e dos depoimentos, sempre é considerada uma dimensão midiática como parte dos eventos. Lula se diz “atacado” pela mídia, o que denota as práticas de lawfare em suas articulações com o jornalismo. A participação da mídia é uma das camadas de violência à qual Lula está submetido. Junto dela, há a violência da parcialidade judicial que é explicitamente declarada por Sérgio Moro no depoimento do dia 13 de setembro: “se nós fôssemos discutir aqui, a minha convicção foi que o senhor é culpado” (UOL, 2016).

E foi a partir dessa “convicção” e não de provas irrefutáveis (PRONER, et al, 2017) que os processos contra Lula levaram à sua condenação pelo juiz Sérgio Moro, em primeira instância, a uma pena de 9 anos e seis meses (foto 4). Após apelação ao Tribunal Regional Federal-4, a pena foi aumentada, por unanimidade, para 12 anos e 1 mês (foto 5), abrindo caminho para a prisão do ex-presidente. Levantamento realizado pelo jornal Folha de S.Paulo indicou procedimento atípico do TRF-4 na celeridade com que julgou a apelação dos advogados de Lula.

Levantamento feito pela Folha aponta que, em 2017, apenas dois processos públicos por corrupção foram decididos em menos de 150 dias pelo TRF-4. No caso de lavagem de dinheiro, nenhum de mérito foi julgado – foi apenas decidido em um caso que a competência para a decisão é da Justiça Federal do Rio Grande do Sul. (MARQUES, et al, 2017)

Foto 4: Manchete Estadão. Fonte: Estadão

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Foto 5: Condenação G1. Fonte: G1

No dia 6 de abril de 2018, o juiz Sérgio Moro, acompanhado dos olhares atentos da mídia que se preparava para anunciar que “finalmente” tinham conseguido prender o líder político, decretou que Lula se entregasse à Polícia Federal até as 17h daquele mesmo dia (LEITÃO, 2018, s/p) (foto 6).

Foto 6: Manchete G1. Fonte: G1 Paraná A condenação de Lula e o pedido de sua prisão foram acompanhadas mundialmente. Ao não se entregar na data estipulada, Lula participou no dia seguinte de uma celebração ecumênica em memória de dona Marisa Letícia, sua falecida esposa. Foi acompanhado no palanque pelos apoiadores que acreditavam que aquela prisão se tratava de uma condenação política e de cunho eleitoral. Depois da missa, Lula decidiu que se entregaria. Mas no fim da tarde, quando seu carro saía para a Polícia Federal, as pessoas que ainda estavam em vigília impediram a saída do carro da garagem e Lula precisou voltar. Lula se entregou à Polícia Federal, em São Paulo, no dia 7 de abril de 2018 e foi levado a Curitiba na mesma noite, onde esteve preso até o dia 8 de novembro de 2019. A violência dos acontecimentos a ele relacionados não pararam.

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Na Revista Fórum, Marcelo Uchôa (2018) aborda a prisão de Lula como um momento de condenação internacional do Brasil, tratando o judiciário brasileiro, que estaria articulado com a mídia com o objetivo de impedir a candidatura do presidente, como problemático e cheio de transgressões. As relações entre a mídia tradicional e setores da Polícia Federal, do Ministério Público e do judiciário nos acontecimentos envolvendo Lula são pautas frequentes em mídias que se apresentam como alternativas, a exemplo da Mídia Ninja, da Revista Fórum, do Jornal GGN, do Brasil247, do Tijolaço, da revista Carta Capital, dentre uma diversidade de outras mídias, quase todas presentes exclusivamente na internet.

Cíntia Alves (2018), no Jornal GGN, aponta arbitrariedades jurídicas que tiveram sequência à prisão de Lula em segunda instância, alterada apenas em novembro de 2019. Segundo o Jornal, uma manobra realizada pela ministra Cármen Lúcia impediu o julgamento dos pedidos de habeas corpus de Antonio Palocci e de Paulo Maluf na semana seguinte ao pedido de prisão de Lula, o que poderia beneficiar o ex-presidente. A mídia tradicional tendeu a tratar a manobra de Cármem Lúcia, que sinaliza arbitrariedade na manutenção da prisão de Lula, como o que deveria mesmo ser feito. Disso, decorreu-se o impedimento da candidatura de Lula nas eleições de 2018, às quais ele chegou a apresentar-se, mas que foi impedida pela Lei da Ficha Limpa. Lula foi substituído nas eleições por Fernando Haddad.

A decisão do TSE contrariou o Comitê de Direitos Humanos da ONU, que recomendava a aceitação da candidatura de Lula, por entender que ainda não estão esgotados todos os recursos jurídicos a que ele tem direito, o que preserva sua possibilidade de candidatar-se.

Foto 7: G1-Eleições 2018. Fonte: G1

Foi no contexto de uma prisão que se mostrou resultado de estratégias típicas das práticas de lawfare, em articulações ambíguas e contraditórias entre setores da mídia, do judiciário e da Polícia Federal com fins eleitorais, que houve a manipulação seguinte que impediu a entrevista de Lula à Folha de S. Paulo e a outras mídias jornalísticas no transcurso das atividades políticas

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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXIX Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande - MS, 23 a 25 de junho de 2020 das eleições presidenciais de 2018. Pelo reconhecimento de que a circulação pública da voz de Lula pelo jornalismo tem efetivamente efeitos políticos, a juíza federal Carolina Lebbos, da 12a Vara Federal de Curitiba, impediu qualquer entrevista ou produção de imagens de Lula em sua carceragem (PERON; MARTINS, 2018). Foi pelas vias do silenciamento e das escolhas do que poderia circular na imprensa que o acontecimento foi montado com estratégias de lawfare, tendo como principal consequência a não participação de Lula nas eleições de 2018 e a vitória de nas urnas.

Seguiu-se a isso a nomeação de Sérgio Moro para ministro da Justiça, apontando para vinculações entre o judiciário e a política, ou melhor dito, a politização da justiça e do judiciário, que para se concretizar, precisou da cumplicidade de um jornalismo que atua na manutenção dos próprios interesses. Mascara-se o lawfare com os argumentos de um interesse público autorreferente, no caso das ações jornalísticas, mas que tornam a evidenciar o papel político do jornalismo em um cenário pretensamente democrático, com as possíveis ameaças à democracia, tal como indicamos anteriormente.

Considerações finais Certamente casos rumorosos que se desenvolvem na era das mídias, tendo-as como atrizes no front da produção das notícias, mas também mobilizando as pessoas a partir de tomadas de posição jornalística frente aos acontecimentos não são novidade, como comprova o Caso Dreyfus, ocorrido na França em fins do século XIX. As acusações, o processo, a condenação e as tentativas de revisão das sentenças de Alfred Dreyfus, capitão do exército francês, de origem judaica, acusado de espionagem e traição, com provas afinal tidas como falsas, tiveram nos jornais da época elementos importantes na mobilização da opinião pública, de que foi paradigmática a carta Eu acuso, de Émille Zola, publicada no jornal L’Aurore, endereçada ao presidente francês Félix Faure (BREDIN, 1995). A carta, parte de posicionamentos dos jornais de então a favor ou contra Dreyfus, foi decisiva para que ocorresse a revisão do caso contra o capitão. Retrospectivamente, o caso Dreyfus possui diversos elementos do que contemporaneamente conhecemos como estratégias de lawfare, particularmente aquelas específicas aplicadas contra Lula.

Chama atenção no corpus de narrativas jornalísticas envolvendo o que os advogados do ex-presidente Lula, assim como juristas de variados matizes conceituais vêm denunciando

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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXIX Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande - MS, 23 a 25 de junho de 2020 como lawfare, posicionamentos explícitos da quase totalidade das mídias noticiosas brasileiras tradicionais - quase sempre de propriedade familiar - favoráveis aos métodos da Lava Jato e à Operação em si, incluindo seus operadores no Ministério Público, no Judiciário e na Polícia Federal. Já por parte das mídias jornalísticas que se apresentam como alternativas editorial, política e ideologicamente contra as mídias tradicionais, as críticas à Lava Jato, seus métodos e operadores é praticamente unânime. Como buscamos evidenciar, Lula e seus advogados, antes das divulgações da Vaza Jato, já explicitavam e denunciavam as práticas de lawfare naquilo que suas estratégias implicam em interconexões de agentes diversos do Estado com setores das mídias jornalísticas.

A partir das ações da Lava Jato, naquilo que elas constituem como práticas de lawfare contra Lula - mas não somente contra ele - como pensar a política e a democracia quando as mídias atuam como partes interessadas nos conflitos, à maneira da proposição de Héctor Borrat em relação aos jornais, ou da possibilidade de as democracias terem sobrevivido a despeito da imprensa, como sugere Robert Picard? Da perspectiva dos jornais, e por extensão do jornalismo como ator político, as denúncias, investigações, condenação e prisão de Lula nos indicam fortemente coberturas que colocam em xeque a hipótese de pluralidade de vozes e pontos de vista na imprensa liberal, prevalecendo muito mais as premissas do ator interessado do que a do ator que atua promovendo o debate e a mediação. Consequentemente, há de se levar mais em consideração em pesquisas sobre o jornalismo os alertas de Robert Picard a respeito das relações entre jornalismo e democracia. Não nos parece exagero considerar a hipótese de que o jornalismo pode mesmo estar contribuindo decisivamente para a erosão das democracias.

É necessário apostar nas possibilidades tanto de manutenção da política como atividade humana configurada como respeito à pluralidade, nos termos de Hannah Arendt, quanto da democracia, apesar de todas as possibilidades de que ela contenha em sua dinâmica, historicamente, muitos componentes de violência, como nos lembra Achille Mbembe. As proposições de Hannah Arendt e de Achille Mbembe são parte dessa aposta, pois ambos, como indicamos, são otimistas vigilantes quanto às contradições da política e da democracia, o que não permite que eles percam de vista as possibilidades de um mundo plural. Pluralidade que está sob forte ameaça pelas estratégias de lawfare disseminadas atualmente em uma diversidade de países, aplicadas contra pessoas e instituições, com contribuições decisivas do jornalismo, voluntária ou involuntariamente. Aliás, como postulam Susan W. Tiefembrun e

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Gregory P. Noone, não é possível referir às práticas de lawfare sem as contribuições da comunicação, de que destacamos particularmente a jornalística.

Referências

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