O QUILOMBISMO Abdias Do Nascimento Este Livro Destina-Se Ao Uso Exclusivo De Deficientes Visuais, Não Podendo Ser Copiado Ou Ut
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O QUILOMBISMO Abdias do Nascimento Este livro destina-se ao uso exclusivo de deficientes visuais, não podendo ser copiado ou utilizado com quaisquer fins lucrativos. Ignorar essa advertência significa violar a lei nº 9610, de 19 de fevereiro de 1998, que regulamenta os direitos autorais no Brasil. O QUILOMBISMO Documentos de uma militância pan-africanista Livros do mesmo autor: Sortilégio (Mistério Negro). Rio de Janeiro: Teatro Experimental do Negro. 1960. Dramas para Negros e Prólogo para Brancos (antologia de teatro negro-brasileiro) Rio de Janeiro: Teatro Experimental do Negro. 1961. Teatro Experimental do Negro-Testemunhos. Rio de Janeiro: GRD. 1966. O Negro Revoltado. Rio de Janeiro: GRD. 1968. "Racial Democracy" in Brazil: Myth or Reality?, traduzido por Elisa Larkin Nascimento. Ibadan: Sketch Publishing Co. 1977. O Genocídio do Negro Brasileiro - Processo de um Racismo Mascarado. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1978. Sortilege (Black Mystery) traduzido por Peter Lownds. Chicago: Third World Press 1978. Mixture or Massacre? Essays in the genocide of a Black People, traduzido por Elisa Larkin Nascimento. Buffalo: Afrodiaspora. 1979. 1980, Abdias do Nascimento Direitos de publicação: Editora Vozes Ltda. Rua Frei Luís, 100 25600 Petrópolis – RJ Brasil Diagramação Beatriz Salgueiro Em memória dos 300 milhões de africanos assassinados por escravistas, invasores, opressores, racistas, estupradores, saqueadores, torturadores e supremacistas brancos; Dedico este livro aos jovens negros do Brasil e do mundo, na esperanca de que continuem a luta por um tempo de justiça, liberdade e igualdade onde estes crimes nao possam jamais se repetir. Com o amor fraterno do Autor SUMÁRIO Documento nº 1: Introdução à mistura ou massacre? - Ensaios desde dentro do genocídio de um povo negro (USA), 11 Bibliografia, 34 I Congresso das Culturas Negras das Américas Grupo D - Etnia e Mestiçagem (excerto das Conclusões e Recomendações propostas pelo Grupo e aprovadas pela assembléia geral do Congresso), 35 Conclusões, 35 Recomendações, 36 Documento nº 2: Revolução cultural e futuro do pan- africanismo (Dar-es-Salaam, Tanzania), 39 Cultura: uma unidade criativa, 42 O exemplo de Palmares, 46 Língua: um obstáculo para a unidade, 47 Brasil: de escravo a paria, 49 Quilombos, insurreições e guerrilhas, 51 "A luta continua", 58 Chico-Rei: história que se torna lenda, 62 "Abolição" de quem?, 63 O negro heróico, 66 O Teatro Experimental do Negro, 68 Auto-suficiência e cultura pan-africana, 70 A respeito de ciência e tecnologia, 73 Capitalismo versus comunalismo, 75 Pan-africanistas em ação, 77 Evocação dos ausentes, dos silenciados e dos aprisionados, 78 Bibliografia, 79 Documento nº 3: Considerações não sistematizadas sobre arte religião e cultura afro-brasileiras (lle-lfe e UNESCO), 81 Primeira providência: apagar a memória do africano, 84 A luta antiga da persistência cultural, 89 Catolicismo e religiões africanas, 94 A destruição das línguas africanas, 101 Cristo Negro: atentado à religião católica, 105 A imposição cultural ariana, 108 O negro e os estudos linguisticos, 112 O negro no desafio nordestino e na canção de ninar, 114 Algumas vozes negras recentes, 118 O negro no teatro brasileiro, 122 Música e dança, 127 Artes plásticas, 133 Um olhar sobre a nossa intelígensia, 140 Para finalizar, 149 Bibliografia, 151 Documento nP 4: Etnia afro-brasileira e politica internacional (Washington D. C., Cali-Colômbia e Estocolmo, Suécia), 155 De como o olho azul do Itamarati não vê, não enxerga o negro, 161 A raça negra e os marxistas, 169 A ação internacional do Brasil, 180 Os votos do Brasil nas Nações Unidas, 185 O embranquecimento compulsorio como politica oficial, 192 Anti-racismo oficial: "humor branco" brasileiro, 198 Tratado do Atlantico Sul: uranio, supremacia branca, anticomunismo, 201 Bibliografia, 206 Documento nº 5: Reflexões de um afro-brasiliano (USA), 209 Bibliografia, 225 Documento nº 6: Nota breve sobre a mulher negra (Dacar), 227 Escravidão e abuso sexual da mulher africana, 230 Imagem da mulata na literatura e na ciência social, 234 Alguns antecedentes históricos, 240 Bibliografia, 244 Documento nº 7: Quilombismo: um conceito científico emergente do processo historico-cultural das massas afro- brasileiras, 245 Memória: a antiguidade do saber negro-africano, 247 Consciência negra e sentimento quilombista, 253 Quilombismo: um conceito científico histório-social, 261 Estudos sobre o branco, 265 A B C do quilombismo, 269 Alguns princípios e propósitos do quilombismo, 275 Semana da Memória Afro-Brasileira, 278 Bibliografia, 281 "O escravo que mata o seu senhor pratica um legítimo ato de autodefesa". Luís Gama DOCUMENTO N.01 INTRODUÇÃO à MISTURA OU MASSACRE? ensaios desde dentro do genocídio de um povo negro Livro publicado por Afrodiaspora-Puerto Rican Studies and Research Center-State University of New York at Buffalo. 1979. "... a luta pela libertação é, antes de tudo, um ato cultural". Amílcar Cabral La Cultura fundamento del movimiento de liberacion Varias razões me fizeram hesitar antes de decidir a publicação destes estudos em forma de livro. Uma razão primeira: terem eles sido escritos em situações diferentes, com diferentes intenções e destinos, em tempo e espaço; consequentemente, sua reunião para formar um corpo único careceria tanto de unidade formal quanto de coerência expositiva. Havia, também, problemas com a tradução dos textos. Entretanto, o fator básico das minhas dúvidas articulava-se na pergunta: - qual seria a utilidade efetiva de um livro como este? De uma coisa estava convencido: que uma coerência fundamental e uma unidade íntima entrelaçavam os ensaios entre si; e que essa essência unificadora se exprimia no objetivo comum de revelar a experiência dos africanos no Brasil, assim como na tentativa de relacionar dita experiência aos esforços das mulheres e dos homens negro-africanos de qualquer parte do mundo em luta para reconquistar sua liberdade e dignidade humana, assumindo por esse meio o protagonismo de sua própria história. Considerei o alcance da minha real contribuição ao conhecimento recíproco na trajetória histórica dos afro- brasileiros e a dos seus irmãos do mundo africano de modo geral; nessa espécie de balanço, pesou na hora da decisão a clamorosa ausência de informação sobre o negro brasileiro, tanto aqui nos Estados Unidos como, sem exceção, entre os africanos de idioma inglês. É verdade que alguns scholars norte-americanos, quase todos brancos, têm publicado trabalhos em que focalizam o negro no Brasil; o mesmo pode ser dito de uns quantos bra sileiros, literatos ou cientistas sociais, também brancos. Quando, porém, o negro do meu país de origem alguma vez transmitiu para os leitores dos Estados Unidos, diretamente, sem intermediários ou intérpretes, a versão afro-brasileira da nossa história, das nossas vicissitudes cotidianas, do nosso esforço criador, ou das nossas permanentes batalhas econômicas e sócio- políticas? Que eu saiba, nenhum afro-brasileiro jamais publicou um livro, com tais finalidades, em inglês. Inversamente do que ocorre no Brasil, onde vários livros de afro-norte- americanos têm sido publicados em tradução portuguesa. De memória posso lembrar, por exemplo, a Autobiografia de Booker T. Washington, que li ansioso, la pela década dos 30... Também de ha muito tempo me vem à lembrança o comovente Imenso Mar, do poeta Langston Hughes, com quem mais tarde eu trocaria esparsa e fraterna correspondência. Outra leitura inesquecível: Filho Nativo, de Richard Wright, e Negrinho, parte de sua autobiografia; recordo ainda A Rua, de Ann Petry, e, mais recentemente, Giovani, Numa terra estranha e Da próxima vez, o fogo, todos de James Baldwin; e O povo do blue, de Le Roy Jones, Alma encarcerada, de Eldridge Cleaver. Estou quase certo de que também O homem invisível, de Ralph Ellison, tenha sido publicado no Brasil, livro que li em tradução ao espanhol. Mas certamente a última dessas obras negro-norte-americanas editadas no Brasil terá sido Raizes Negras, de Alex Haley. Obviamente não estou citando todos os livros e autores publicados, ou por ignorância ou por falha da memória. No entanto, o que importa é assinalar que o livro e o escritor negrobrasileiro não existe aqui nos Estados Unidos; melhor dito, não apenas aqui: em nosso próprio país, o escritor afro-brasileiro é um ser quase inexistente, ja que umas raras exceções so con firmam a regra. Os motivos? A resposta é simples: devido ao racismo. Um racismo de tipo muito especial, exclusiva criação luso-brasileira: sutil, difuso, evasivo, camuflado, assimétrico, mascarado, porem tão implacável e persistente que está liquidando definitivamente os homens e mulheres da raça negra que conseguiram sobreviver ao massacre praticado no Brasil. Com efeito essa destruição coletiva tem conseguido se ocultar da observação mundial pelo disfarce de uma ideologia de utopia racial denominada "Democracia racial", cuja técnica e estratégia têm conseguido, em parte, confundir o povo afro-brasileiro, dopando-o, entorpecendo-o interiormente; tal ideologia resulta para o negro num estado de frustração pois que Ihe barra qualquer possibilidade de auto-afirmação com integridade, identidade e orgulho. Mesmo observadores treinados as vezes não escapam da armadilha da "democracia racial". A informação distorcida, 14 assim como a manipulação de fatos e dados concretos, na forma perpetrada e perpetuada no Brasil, tem resultado em de plorável lesão que prejudica o conhecimento e o estudo da realidade afro-brasileira. Ao ponto de até um historiador competente e autorizado como é o caso