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Radis187_felipe.indd 1 03/04/2018 11:40:57 EXPRESSÕES E EXPERIÊNCIAS Direitos para TODOS os humanos e compromisso de comunicadores com a veiculação de conteúdos, no Guia editado pelo coletivo sentido de evitar “a omissão, o desrespeito, a construção de estereó- tipos, o machismo, o sexismo, o racismo, a homofobia, a exposição, Intervozes orienta cobertura a mercantilização e a crimininalização de mulheres, negras e negros, LGBTs, indígenas, crianças e adolescentes, idosas e idosos e pessoas jornalística responsável sobre com deficiência”, ações que caminham na contramão da construção de uma cultura de respeito à diversidade humana. direitos humanos Dividido em oito eixos, o guia parte de um breve histórico das lutas e acúmulos políticos sobre o tema, para situar os marcos legais e tirar dúvidas frequentes sobre questões que podem surgir no mo- Adriano De Lavor mento da produção das notícias, além de promover a reflexão sobre o enquadramento midiático dos temas e propor “boas práticas em uantos mais vão precisar morrer para que essa guerra comunicação”, com exemplos de experiências de respeito aos direitos acabe?” A frase premonitória, postada em uma rede humanos na mídia. Também estão no material datas comemorativas social pela vereadora Marielle Franco (PSOL/RJ), um ou alusivas à organização dos movimentos sociais em defesa do dia antes de ser assassinada, ao lado do motorista tema, assim como um glossário e um guia de fontes — que podem “QAnderson Pedro Gomes, dia 14 de março, no Centro do Rio de ser usadas por profissionais de comunicação e pelo público em geral. Janeiro, denunciava um episódio de violência e a truculência policial na comunidade de Acari, zona norte carioca — e aponta como pode SAIBA MAIS ser perigosa a vida de ativistas que atuam na defesa dos direitos humanos no Brasil. Guia Mídia e Direitos Humanos (baixar) Mesmo que a investigação em curso não tenha concluído https://goo.gl/oYXHei ligação efetiva entre a morte de Marielle e a sua atuação nesta área, está comprovado que o país é um dos quatro líderes globais em homi- cídios de ativistas, ao lado de Colômbia, Filipinas e México, de acordo com relatórios publicados em 2017 por Anistia Internacional, pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos e pela ONG Front Line. Somente em 2017, foram registrados no Brasil 49 casos de ataques contra ativistas — 43 mortes, quase todas relacionadas a disputas ambientais, por terras indígenas ou mineração, além de três casos de intimidação e outras três de espancamento, segundo números divulgados pela organização inglesa Business & Human Rights Resource Center, também em março. Somam-se ao número de ameaças e ataques o desconheci- mento de muitas pessoas sobre o assunto e o uso irrefletido das redes sociais, que têm sido frequentemente usadas como veículos para a disseminação de teorias infundadas — como a que sustenta que direitos humanos existem para defender bandidos, por exemplo — e de acusações levianas que colocam em risco a reputação (e, muitas vezes até a vida) de ativistas, fatores que contribuem para a formação de um cenário favorável ao crescimento de ações violentas e de intolerância. Neste contexto, recobra sua atualidade o “Guia Mídia e Direitos Humanos”, produzido em 2014 pelo Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, em convênio com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, que reúne informações sobre os direitos humanos de mulheres, população de lésbicas, gays, bis- sexuais, travestis e transgêneros (LGBT), negras e negros, crianças e adolescentes, população idosa e pessoas com deficiência, e adverte para o papel central dos meios de comunicação na valorização dos direitos destes segmentos, além de orientar a produção para a cober- tura ética e responsável sobre temas relativos aos direitos humanos. O guia foi formulado a partir da compreensão da mídia como espaço público fundamental de formação de imaginários, representa- ções, hierarquias e identidades, e nas consequentes responsabilidade

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Radis187_felipe.indd 2 03/04/2018 11:40:58 EXPRESSÕES E EXPERIÊNCIAS

Nº 187 EDITORIAL ABR | 2018

Vidas e direitos importam Expressões e Experiências no de 2018. Aqui na terra estão em segurança pública e pesquisadores da • Direitos para todos os humanos 2 Ajogando o futebol da Fifa na Rússia saúde e de outros campos sociais como ine- e a apatia nacional será esquentada com ficaz e geradora de mais violência, as Editorial jingle em ritmo de festa junina pelo mono- cariocas seguem sob as regras de exceção • Vidas e direitos importam 3 pólio de transmissão na TV. Ainda há sam- das botas militares estaduais e federais, ao ba, mas num minúsculo bar em que ele lado do controle territorial e códigos bárba- Voz do leitor 4 soa desde 1968, em Copacabana, houve ros do crime organizado do tráfico ou das quem se sentisse autorizado a interrompê- milícias. Em meio à violência, desaparecem Súmula 5 -lo de arma na mão. Parte do rock and roll os direitos na , segue o genocídio dos “encaretou de vez”. Chico Buarque (autor, jovens negros e pobres, perdem-se vidas de Toques da Redação 9 com Francis Hime, da canção “Meu caro todos os lados. amigo”, de 1976, aludida neste parágrafo) Uma das mais autênticas vozes con- Personagem já não é unanimidade no país e o que ele tra essa violência, preocupada com a vida • A história se repete 10 representa é alvo de ataques obscuros em da população e dos agentes do Estado e redes sociais digitais. Nas universidades, crítica à intervenção militar, a socióloga Aborto professores são perseguidos e calados. Marielle Franco, criada na favela da Maré • A letra da lei e a vida das mulheres 12 Nas instituições de pesquisa, projetos rele- e eleita vereadora do com vantes são interrompidos e pesquisadores a bandeira do respeito a todos os direitos dispensados. Movimentos sociais são cri- humanos, foi brutalmente executada na minalizados e lideranças são assassinadas noite de 14 de março, dias após denunciar no campo e nas cidades. Por todo lado, casos de violência policial. A esta guerreira irrompem dos ovos as serpentes, entre dedicamos nossa matéria de capa, que Capa | Favela farsas e tragédias. estava sendo apurada naquele momento, • Nossas vidas importam 14 Não por acaso, os fóruns da saúde nas favelas do Rio. coletiva retomam de 1965 o brado “faz Nesta reportagem, Luiz Felipe • Entrevista | Jaílson de Souza e Silva: "Sou favelado com orgulho" 22 escuro, mas eu canto, porque a manhã Stevanim nos mostra uma pulsante vida vai chegar”, do poeta Thiago de Mello. cultural nas favelas, que a violência diária • Vidas que não importam? 24 No estado da Paraíba, após o banimento insiste mas não consegue apagar. Jovens seguido de reclusão por 50 anos, ressurge nascidos e criados nesses territórios dedi- na voz do compositor Geraldo Vandré o cam seu talento na poesia, publicidade, hino “Para não dizer que não falei das arte de colorir paredes e nas mais diversas flores”. Parece coisa do passado. Mas formas de criação musical para descons- não. É uma realidade nova, complexa e em truir a ideia de favela apenas como “área transformação, a ser compreendida à luz de risco” e “espaço do crime” e lutar Tuberculose da história e enfrentada, sob a inspiração para que as comunidades tenham acesso • Atenção total 28 da defesa dos direitos humanos, princípios a educação, saúde, cultura, moradia, igualitários e utopias libertárias. transporte, ao direito de viver, relata Luiz. Febre amarela Mantendo o compromisso de 36 Muitos desses jovens dedicam também • O que há de novo no front 32 anos ao lado da saúde e da democracia, a a sua formação profissional e acadêmica redação de Radis coloca mais esta revista para lutar contra estigmas e preconceitos Serviço 34 na internet, nas ruas, escolas, unidades e abrir caminho nas universidades para os de saúde... mais de 110 mil exemplares mais novos. A favela simbólica ou concreta Pós-Tudo enviados para pessoas e instituições que resiste criativa e vive rica em transforma- • Marielle presente 35 constroem o SUS no campo e em todas ções, humanidade e solidariedade. as cidades do país. Sob o signo da “guerra às drogas”, cri- Rogério Lannes Rocha Capa: grafite de Thiago Taif e Diego ticada e apontada por inúmeros especialistas Editor chefe e coordenador do Programa Radis Azeredo, em foto de Eduardo de Oliveira

CARTUM RADIS . Jornalismo premiado pela Opas e pela Asfoc-SN ALEXANDRE BECK

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Radis-carol-187.indd 3 02/04/2018 17:08:35 VOZ DO LEITOR

Sociedade que adoece para aguentar a própria falta do olhar humanizado nas relações de trabalho, em ambientes inadequados que adoecem; pessoas adoe- obre a notícia “Rivotril e seus semelhantes matam mais do que cendo durante suas teses de mestrado/doutorado, trabalhando em Scocaína e heroína (Folha 1, 14/3), eu acredito que o olhar para bancos ou como advogados, enquanto estudam para o vestibular, ou os usuários de drogas legais ou ilegais deve ser sempre ampliado. mesmo dentro de casa, porque as relações familiares são difíceis. A Acho que o contexto que leva alguém a usar drogas como essas o carga está alta para todo mundo e isso está nos levando a recorrer a adoece e mata a longo prazo talvez tanto quanto essas drogas. Que drogas ou adoecer, seja pela má alimentação, sedentarismo, doenças sociedade é essa que vivemos que cada vez mais pessoas necessitam cardiovasculares... Estamos tentando nos adaptar a realidades cada usar drogas para se adaptar? Competição, disputas de todo tipo, vez mais desumanas. Precisamos olhar para a sociedade que estamos desigualdades imensas, corrupção, preconceito, violência física e psi- construindo e achar o que nos leva a fugir cada vez mais. As drogas cológica, um distanciamento cada vez maior entre os seres humanos matam, mas eu acho que a sociedade que estamos construindo e busca e cobrança por status, carreira, dinheiro — ou até mesmo também está nos matando. pela sobrevivência — realmente desestabiliza qualquer indivíduo • Luana Rosa, Campos do Jordão, SP que não esteja preparado psicologicamente. O nível de tensão das pessoas que conheço é alto o tempo todo, chega a ser desumano. Luana, muito obrigado por sua contribuição! Ela nos alerta Vemos, por exemplo, nas faculdades ou ambientes de trabalho inú- sobre a importância de se levar em consideração os contextos meros estudantes/profissionais da área da saúde tomarem remédios e as complexidades que acompanham as notícias sobre saúde.

Radis agradece Violação de direitos

ou assinante e leitor assíduo da Radis, mas nunca tinha parado m 2015, sugeri para a presidência do Senado e para a presi- Spara parabenizar a todos e todas que contribuem para fazê-la e, Edência da Câmara dos Deputados que formulassem uma lei, para trazer aos seus leitores matérias, reflexões e contribuições tão que respondesse por crime hediondo quem ameaçar ou cometer pertinentes e coerentes com um modelo de sociedade baseado na crimes contra a imprensa e seus familiares. Só a liberdade pode justiça social e no bem comum. O trabalho que vocês prestam à socie- permitir que exista democracia. Sem democracia não existem dade brasileira é incomensurável, visto a hegemonia e predominância direitos humanos. Muitas vezes os órgãos que deveriam ser de- de revistas e outras mídias que têm como foco e/ou preocupações fensores da imprensa violam de maneira muito clara o direito à os interesses do mercado e/ou capital. Sou graduado e mestre em liberdade de expressão. Por eu ser ativista dos direitos humanos, psicologia pela UFAL, atuo como redutor de danos/agente de Ação tenho sofrido muitas perseguições. Social no Consultório na Rua de Maceió, e a leitura da revista contribui • Cláudio Dias Santiago, presidente do Sindicato da Agricultura bastante para minha formação e prática profissional. Recomendo a Familiar, Maracás, BA leitura da Radis aos colegas de trabalho e universidade. Obrigado por prezarem e fazerem um material que caminha lado a lado na luta pelos Cláudio, Radis corrobora sua opinião: sem liberdade e sem direitos da população e por políticas públicas de saúde. AbraSUS! democracia, não há saúde! Um grande abraço. • Adriano Roberto Alves da Silva, Maceió, AL Geografia e saúde Estamos todos juntos, Adriano! Nosso lado é o SUS! companho todas as publicações da Radis, e gostaria de sugerir Diário da emergência Aque fizessem uma matéria sobre a importância da geografia da saúde para um olhar holístico dos problemas de saúde no Brasil, ou enfermeiro emergencista do Samu e queria sugerir como levando aos contrastes sociais, assim como a revista sempre tem nos Ssugestão de pauta a luta diária dos profissionais do atendimento mostrado, porém partindo de um olhar geográfico. pré-hospitalar. A precariedade das estradas do Brasil e a falta de ética • Patrike Machado Barbosa, Oeiras, PI de algumas pessoas que registram fotos dos pacientes no momento das ocorrências são algumas das dificuldades de nosso trabalho. Patrike, a compreensão do espaço é fundamental para que • Renan Galdino do Monte, Itapipoca, CE se encontrem soluções para os problemas de saúde. Sugerimos que leia na edição 138 a matéria "Toda a atenção ao território". Renan, sua sugestão foi anotada e será, em breve, contem- Vamos tentar aprofundar este olhar da geografia. Obrigado plada na pauta da Radis. Aguarde! pela dica!

EXPEDIENTE

www.ensp.fiocruz.br/radis é uma publicação impressa e online da Administração Fábio Lucas e Natalia Calzavara Fundação Oswaldo Cruz, editada pelo Programa Estágio supervisionado Ana Luiza Santos da Radis de Comunicação e Saúde, da Escola Silva /RadisComunicacaoeSaude Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp). Apoio TI Ensp Fabio Souto (mala direta) Presidente da Fiocruz Nísia Trindade Lima Assinatura grátis (sujeita a ampliação de cadas- /RadisComunicacaoeSaude Diretor da Ensp Hermano Castro tro) Periodicidade mensal Editor-chefe e coordenador do Radis Tiragem 111.600 exemplares USO DA INFORMAÇÃO • O conteúdo da Rogério Lannes Rocha Impressão Rotaplan revista Radis pode ser livremente reproduzido, Subcoordenadora Justa Helena Franco acompanhado dos créditos, em consonância Fale conosco (para assinatura, sugestões e com a política de acesso livre à informação Edição Adriano De Lavor críticas) da Ensp/Fiocruz. Solicitamos aos veículos que Reportagem Bruno Dominguez (subedição), Tel. (21) 3882-9118 reproduzirem ou citarem nossas publicações Elisa Batalha, Liseane Morosini, Luiz Felipe E-mail [email protected] que enviem exemplar, referências ou URL. Stevanim e Ana Cláudia Peres Av. Brasil, 4.036, sala 510 — Manguinhos, Arte Carolina Niemeyer e Felipe Plauska Rio de Janeiro / RJ • CEP 21040-361

Documentação Jorge Ricardo Pereira e Eduardo Ouvidoria Fiocruz • Telefax (21) 3885-1762 de Oliveira (Fotografia) www.fiocruz.br/ouvidoria

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Radis-carol-187.indd 4 02/04/2018 17:08:36 VOZ DOLEITOR Radis-carol-187.indd 5 C fiscal também foram um dos temas discutidos no encontro, na na encontro, no discutidos temas dos um foram também fiscal dois anos. acada épromovido oFSM atualmente 2016, em Canadá, no e realizada foi cidade do Nordeste. A edição anterior uma em aconteceu o encontro que vez a primeira foi essa civil, sociedade da va 2001, em iniciati Alegre, por Porto em evento.do Surgido site o afirmou como de golpear liberdades e democracias”, com suasde dominação novas formas e xenofobiasdas guerras sistemas e dos defrontam com os fundamentalismos se hoje humanidade da “osqual sonhos no democracia, da crise de o contexto para apontava transformar” é criar, “Resistir O slogan é de acordo com organizadores. resistir os 160 de países, participantes mil 50 de e cerca cadastradas nizações eorga 1.500 de mais foram coletivos todo, ao autogestionadas; 1.300 de atividades 19 ecerca em temáticos eixos distribuídas discussões, das central a tônica foi direitos dos A defesa mundo. (entre 13 eno e17 Brasil no março), de democracia da ofuturo da programação do Fórum. do programação da parte sediou que (UFBA), Bahia da Federal Universidade da Ondina caminhada em homenagem à Marielle aconteceu no campus de (15/3). Atual Brasil Rede da osite Uma noticiou como Democracias, das Defesa em Mundial a Assembleia durante Compartilhada, da Comunicação Internacional Ciranda da Freire, Rita afirmou isso”, para aqui a a reagir,resistir, estamos nós e desafiam nos que em exceção, de estado um em Estamos alma. na dor com no também episódio. morto Gomes, “NósAnderson estamos motorista e ao homenagem sua em com atos contou que edição, esta marcou também Janeiro, de Rio readora Marielle Franco (PSOL-RJ), no MÍDIA NINJA RESISTÊNCIA POPULAREDEFESADADEMOCRACIA o Fórum Social Mundial (FSM) 2018 debateu, em Salvador 2018 (FSM) Salvador em Mundial debateu, Social o Fórum Resistência”, em eMovimentos Territórios “Povos, otema om Os ataques ao direito à saúde com a política de austeridade austeridade de apolítica com àsaúde direito ao ataques Os ve da assassinato do A notícia FÓRUM SOCIALMUNDIALDISCUTE - - poderá serfatal. Oneoliberalismo adormecidos por umailusão. Isso “Como foi possível umdesmonte Boaventura de Sousa Santos, professor da tão grande de tantas conquistas com pouca resistência? Estamos as políticassociais. Precisamos defender oqueconquistamos” quer destruir ademocracia e Universidade de Coimbra - Juventude e com a Assembleia Mundial das Mulheres. das Mundial aAssembleia ecom Juventude da Intercontinental oAcampamento com ainda contou O FSM e da da pobreza. da miséria discriminação, das desigualdades, a redução princípio e tem como emancipatórias lutas das reflexo de é 1988 a Constituição que ainda lembrou ela financeiras; instituições das eopoder renda de aconcentração semprego, ode aumentar para contribuem atuais cortes os cidadão, do 185. federal direitos procuradora dos Duprat, Déborah Segundo o site do CNS (15/3) CNS do o site que —assunto segundo eeconômica, política social, acrise agrava só públicos investimentos os reduzir que apontaram SUS do nanciamento fi de área da Nacional”, especialistas Estado do o desmonte no novamente a acreditarem pessoas as mover faça que silêncio, em está quem falar faça que ementes, corações movimente que política, fazer de formas novas epopular”, “incorpore que crático demo “estado um de aconstrução SUS” énecessária do eque financeira “asfixia de contexto um para 95 apontam Constitucional como Direito”. Jandira afirmou que medidas como a Emenda e Saúde “Democracia debateram Santos, Sousa de Boaventura Coimbra, de Universidade da B) eoprofessor do (PC Feghali Jandira Tenda do Conselho Nacional de Saúde (CNS). A federal deputada SÚMULA Venâncio (EPSJV/Fiocruz). Joaquim Saúde de Politécnica Escola da ro?”, afirmou, como publicou portal o brasilei povo do resistência sem tempo pouco tão em golpistas dos radical tão e rápido tão desmonte um possível foi Como estar. deveria como rua na está não oBrasil que por perguntando me Eu fico a rua. para ir é preciso mia, acade na discutida apenas ser pode não ademocracia onde processo um “Temos retrocessos. dos diante inércia a —ressaltou FSM do apoiadores pais (15/3). princi dos — um Boaventura Já CNS do osite Brasil”, noticiou como Na mesa “Austeridade fiscal e “Austeridade fiscal mesa Na Radis RADIS 187•ABR/2018

abordou na edição 02/04/2018 17:08:37 [5] ------Radis-carol-187.indd 6

WIKIMEDIA o risco de transmissão) mant transmissão) de o risco (que aumenta detectável viral ecarga HIV maioria dos adolescentes com infectados a que mostrou Unifesp da Medicina de Paulista da em Escola Pediatria Graduação U pelo vírus da aids por transmissão vertical vertical transmissão por aids da vírus pelo infectados 93 de adolescentes reprodutivo e o planejamento a sexualidade avaliou Unifesp), (CEADIPe/ Pediátrica Infectologia de Disciplina da Atendimento de Centro Alexandre Lelis Braga, colaborador do pesquisa, da eautor Oenfermeiro anal). sexo e68,4% vaginal 63% sexo oral, (65% osexo para desprotegidas sexuais se redes de farmácias do país estão re estão país do farmácias de redes se Comissão de Dados Pessoais do MP, do Pessoais ao Dados de Comissão Frederico Meinberg, coordenador da dados dos clientes, declarou o promotor dos fazem farmácias que o uso descobrir janeiro, em 2018. iniciada A intenção da investigação, de janeiro em começou A investigação em uma de espécie mercado paralelo. crédito, de análise ede saúde de planos de empresas para divulgada sendo esteja consumidor cada de compra de a lista que éde Asuspeita desconto. de troca em deles o CPF exigir após clientes, de oupassando vendendo dados sigilosos O [6] iniciou uma investigação para apurar apurar para investigação uma iniciou Federal Distrito do Público Ministério ção de mestrado no Programa de Pós- de Programa no mestrado de ção m estudo apresentado como disserta como apresentado m estudo Adolescentes comHIVnãosabem RADIS 187•ABR/2018 negociar usodepreservativo é “abrir uma caixa preta” e preta” é “abrir caixa uma ameaçar dadosdeclientes Farmácias: descontopode ê m relações m relações - - a sua infecção”,a sua opesquisador. explicou acabarpode levantando suspeitas sobre eles, Insistir, para sexual. oparceiro com uso seu o negociar para suficiente lidade habi vezes, muitas tem, não HIV/Aids com vive que “O adolescente parceiros. com os negociação de poder pouco têm mas nha, camisi da uso ao opõem se não jovens os estudo, do oautor Para gravidez. uma de caso em o embrião, ou o parceiro infectar não para profiláticas medidas sobre tado limi conhecimento um ainda há jovens, desses parte por camisinha da uso baixo do Nordeste ojornal oestudo, sobre matéria Em parto). no ou útero no filho para (de mãe para auxiliar as apurações. empresas de sigilo de quebra de sibilidade a pos descartada Também está país. não no assunto do trate que legislação há não ainda Unidos, Estados nos ou Europa na porque,Isso ao contrário do que acontece nacionalmente, com de pedido urgência. a conduta coibir para a Justiça acionará Público Ministério o terceiros, com clientes dos dados compartilham as farmácias que de suspeita a confirmada Caso escrito. por responder, para dias dez de prazo um terão que Brasil, do farmacêuticas redes maiores dez as para oficial requisição enviar pretende oMP opaís, todo em acontece odesconto conceder para o CPF G1 (16/03). pedir de portal aprática Como (21/3) revelou que além do do além (21/3) que revelou

Diário Diário - - - - https://goo.gl/6cBU7Y https://goo.gl/6cBU7Y em download para disponível está pleta com Apesquisa anos. e 34 30 entre faixa 57,4% e53,7% até 29 anos grupo no na de cerca representam Brasil no médicas As da Medicina. mundial de feminização atendência acompanha Brasil no médicos de total população na mulheres de tual Opercen 35 de anos. menos com dicos mé os eentre recém-formados os entre maioria são já elas e profissão na lheres mu mais há que também mostrou quisa Apes habitantes. mil por médico um de menos há eNordeste, Norte regiões das interior no extremo, outro No habitantes. 12 mil por –existem médicos exemplo por Santo, Espírito no –Vitória, brasileiras capitais algumas em habitantes, mil por 2,18 existem oBrasil todo em médicos ambulatórios de especialidades”. e em prontos-socorros em primária, atenção –na (SUS) Saúde de Único Sistema do serviços vários eem cidades nas dasmunicípios, periferias grandes pequenos nos médicos “Faltam saúde. de sistema próprio do interior no quanto tantopermanecem geograficamente, número de profissionais, as desigualdades USP da no publicada matéria em mentou, FMUSP, da Preventiva co Medicina de Departamento do eprofessor pesquisa da Scheffer, coordenador Mário habitantes. mil por 2,81 de médico taxa, a maior tem Sudeste A região médicos. de milhão meio de amarca ultrapassado terá o país março, Brasília. em 20 dia de (Cremesp), divulgados Paulo São de Estado do Medicina de Regional Federal de Medicina (CFM) e do Conselho Conselho do apoio com (FMUSP) USP da Medicina de 2018, Faculdade pela feita noBrasil Médica Demografia pesquisa da edição quarta da parte fazem dos da Os saúde. de eprivados públicos setores os entre distribuídos mal estão brasileiras, centros egrandes capitais em concentrarem se de Além país. no melhor profissionais distribuição desses garantiu não densidade aalta médicos, de E médicos cresce, má distribuição 2018 um marco histórico em número 2018 número em marco histórico um em alcançado tenha oBrasil mbora O apontou estudo que, enquanto 2020 em oestudo, com acordo De permanece Número de (20/3) que, mesmo com o maior 02/04/2018 17:08:37 Jornal ------

LISEANE MOROSINI

“Ativistas de movimentos sociais marcharam em Brasília (23/3) pelo direito à água e contra a privatização desse recurso na- tural por grandes corporações. O manifesto era parte da programação do Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA 2018), que aconteceu no mesmo período do Fórum Mundial da Água. A cobertura completa sobre as discussões travadas nos dois eventos estará nas páginas da Radis de maio.

Legislação ambiental: retrocessos à vista

esmo cercada de críticas, a nova SOS Mata Atlântica, o texto apresentado rodovias”, afirmou o deputado Alessandro MLei do Licenciamento Ambiental (PL pelo relator da proposta, deputado Mauro Molon (PSB-RJ), coordenador da Frente 3729/04 e apensados) será votada em Pereira (PMDB-RS), é unilateral e pode gerar Parlamentar Ambientalista. Segundo o breve pela Câmara dos Deputados, previa “uma lei de exceção que tira e flexibiliza parlamentar, o projeto “vai dificultar a a Agência Câmara, em 13/3. A versão atual para determinado setores o licenciamen- participação popular no processo de li- da nova lei simplifica procedimentos para a to ambiental diferente dos interesses da cenciamento, vai permitir uma espécie de concessão de licenças ambientais, depen- sociedade e do que diz a Constituição”, autolicenciamento para empreendimentos dendo do porte dos empreendimentos, e conforme registrado no site da Rádio que podem causar danos ao meio ambien- dá prazo para que órgãos governamentais Câmara (13/3). “É um projeto muito ruim te, e vai promover uma espécie de guerra decidam sobre pedidos apresentados pelas porque, na prática, acaba com a exigência fiscal-ambiental entre os estados”, como empresas, segundo divulgou a agência. de licença ambiental para empreendimen- já havia declarado à Agência Câmara de Para Malu Ribeiro, representante da ONG tos agrícolas, pecuários e de abertura de Notícias (12/2).

Política de drogas na contramão

atual política nacional sobre drogas, internação compulsória, Osmar Terra usou o novo texto reflete uma posição do go- Aresponsável por orientar o atendimento o Projeto de Lei (PLC 37), de sua própria verno e é um “avanço” para enfrentar a a usuários e dependentes químicos, sofreu autoria e ainda em tramitação no Senado, violência. Em artigo publicado no Globo um forte revés com a aprovação (28/2) da como uma das bases da nova diretriz. (12/3), a professora Lígia Bahia, integrante abstinência e de comunidades terapêuticas Os conselhos federais de Psicologia da Comissão de Política, Planejamento como base para as ações governamentais (CFP) e de Serviço Social (CFSS), contrários e Gestão em Saúde da Abrasco, alertou na área. A nova orientação, que suprime a à medida, anunciaram que vão entrar com que é falsa a premissa de que a violência é política de Redução de Danos, aprovada uma ação no Ministério Público Federal uma causa direta da presença de usuários em 2005, e não distingue usuário de de- pela anulação da reunião. Ao site da Carta, de drogas (ilícitas). “Não é possível afirmar pendente químico, foi apresentada pelo a representante do CFSS alegou que a que as transgressões cometidas ou sofri- ministro do Desenvolvimento Social Omar proposta está ligada a uma investida maior das pelas pessoas com quadros graves de Terra na reunião do Conselho Nacional de do governo em abastecer as comunidades dependência decorrem apenas da fissura, Políticas sobre Drogas (Conad). O ministro terapêuticas. “Em 2017, o Ministério da da abstinência, da necessidade premente é conselheiro do órgão e, segundo o site Saúde previu 240 milhões de reais para de financiar o consumo”, escreveu. Em da revista Carta Capital (12/3), tachou os a área da Saúde Mental, Álcool e Outras entrevista concedida à EBC (16/3), a pes- grupos favoráveis à Redução de Danos Drogas, dentre os quais 120 milhões eram quisadora reforçou que o Conad está na de “incentivadores do consumo de en- exclusivos para essas entidades”, observou. contramão do que hoje se tem acumulado torpecentes”. Conhecido por defender a Osmar Terra disse ao G1 (1/3) que de conhecimento científico.

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EDUARDO DE OLIVEIRA O Carta Capital Carta de site da rede social podem ter descumprido as regras que garantem garantem que regras as descumprido ter podem social rede da aplicativos outros quantos sabe se não (ITS-Rio), Janeiro de Rio do Affonso de diretor Souza, do Instituto de Tecnologia e Sociedade pelo jornalouvidos como usuários, especialistas dos apontaram dados dos segurança a garantir para suficientes são não empresa da executivo do ções declara as Porém, vazamento. pelo desculpas pedir apúblico veio visar seus demônios interiores”. e elas sobre sabíamos oque explorar para “modelos e construir pessoas” de milhões de “captar perfis para oFacebook explorou aempresa que jornal ao revelou vazamento do participou que denunciante Um Europeia. União da Unido Reino do à saída levou Trump 2017, em Donald republicano que Brexit, campanha e na o elegeram que Unidos, Estados dos eleições nas votos os ciar influen para personalizada política propaganda desenvolveu daí, partir e, social da rede perfis de milhões 50 de adados acesso ( Unido Reino no política consultoria britânico o jornal quando à tona veio O caso a política. sobre social rede da cia levantou a discussão sobre a privacidade na internet eainfluên internet na aprivacidade sobre adiscussão levantou de dados pessoais de seus usuários para uso político, o que oque político, uso para usuários seus de pessoais dados de vazamento sobre escândalo um em envolveu se Facebook Em resposta, o presidente do Facebook, Marc Zuckerberg, Zuckerberg, Marc Facebook, do opresidente resposta, Em The Observer The O Estado de S. Paulo S. de O Estado Privacidade sobataque:Facebookeo vazamento dedadosparausopolítico (23/3) — publicou que uma empresa de de empresa uma que —publicou (23/3) — em notícia reproduzida pelo pelo reproduzida notícia —em Cambridge Analytica (22/3). Segundo Carlos Carlos Segundo (22/3). ) teve ) teve - - - detalhadas sobre os brasileiros do que o Facebook”, apontou. agência governamental ou portal no Brasil tem mais informações informações mais tem Brasil no portal ou governamental agência universidade, Nenhuma Unidos. Estados dos governo do exceção com governo, qualquer ode que do maior émuito Facebook do análise de “O poder usuários. seus dos um cada de armazena e recolhe que informações as sobre questionado sendo está não mas dados, vazar de acusado sendo está oFacebook é que (21/3), Forum intrigante omais Revista na publicado artigo em ABC, do Federal Universidade da professor Silveira, da Amadeu usuários que comprometem a liberdade de expressão. Para Sérgio os sobre vigilância de e ferramentas fixa larga banda na franquia de limite empresas, pelas pessoais dados de comércio livre tal, digi política censura como 2016, em criada práticas denuncia Brasil, no eaberta livre internet da defesa em e pesquisadores ativistas entidades, por formada Rede, na Direitos A Coalizão rede. na usuários dos direitos os defendem que e coletivos ções organiza para énovidade não internet na dados de proteção da jornal. ao a democracia”, afirmou para ésaudável isso se perguntar nos “Precisamos políticos. de negócios baseado no impulsionamento de produtos e, agora, de modelo no está do Facebook problema o que afirma (Lavits), eSociedade Tecnologia Vigilância, em Estudos de Americana Latino- Rede da pesquisador Bioni, Bruno Já a privacidade. Embora tenha vindo à tona em março de 2018, março de em àtona vindo tenha oassunto Embora Adverte RADIS

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- - TOQUES

tivistas e movimentos sociais par- Aticiparam, no Rio de Janeiro, de atividades no Dia Internacional contra a Discriminação Racial (21/3). No Cais do Valongo, na zona portuária, os partici- pantes passaram por diversos pontos da cidade que se relacionam com a história da população negra. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Maternidade e PrEP Brasil na Lancet universidade estudo de demonstração do uso da Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP), coorde- Onado pela pesquisadora Beatriz Grinsztejn, chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica oi destaque nas redes sociais e, de- em DST e Aids do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), foi Fpois, no noticiário: professor do cur- tema de editorial e artigo publicados em fevereiro no Lancet HIV, um dos mais pres- so de Ciências Sociais da Universidade tigiosos periódicos científicos internacionais. No editorial, os pesquisadores Jerome Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Galea (Harvard), Ricardo Baruch (Instituto Nacional de Salud Pública/México) e Brandon proibiu estudante de assistir às aulas Brown (Universidade da Califórnia), destacam o impacto do estudo, pioneiro na América acompanhada da filha de cinco anos. Latina, enquanto no artigo, assinado por Beatriz e demais integrantes do projeto, são Waleska Maria Lopes, aluna de Ciências apresentados resultados em detalhe. Acesse os textos em https://goo.gl/QcWCmi. Sociais na universidade, alegou não ter com quem deixar a criança; o professor argumentou que a presença da menina Sonia Fleury: demissão mobiliza prejudicava o andamento da aula. No meio de tantas opiniões sobre o as- nstituições de saúde coletiva e sanitaristas se posicionaram contra a demissão da sunto, destacou-se o questionamento Iprofessora Sonia Fleury da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas do também professor Jean Segata, da da Fundação Getúlio Vargas (EBAPE/FGV), em março. Com 35 anos de trabalhos na Universidade Federal do Rio Grande do instituição, a pesquisadora formou incontáveis gestores, acadêmicos e militantes polí- Sul (UFRGS): “É inconcebível o número ticos, e era a profissional mais produtiva da EBAPE, segundo os principais indicadores de abandonos de curso entre mulheres de avaliação da produção acadêmica. Sonia Fleury foi presidente do Cebes e diretora que se tornam mães. Até quando as da Abrasco, entidades que emitiram nota lamentando a decisão. Sônia é reconhecida universidades vão silenciar sobre a falta como uma das pessoas mais influentes na construção do pensamento brasileiro e latino de políticas de permanência para mães? americano em saúde. Foi participante ativa da Assembleia Nacional Constituinte de 1988, Até quando a maternidade continuará onde contribuiu para a formulação do capítulo da seguridade social. Em nota, a Ensp/ tratada como destino e impedimento?” Fiocruz também criticou a decisão, considerando-a “inoportuna e incoerente”. “Sonia Fleury foi uma das maiores articuladoras do Movimento da Reforma Sanitária. Trata-se de mais uma atitude arbitrária e de austeridade contra a saúde pública brasileira”, alertou Oportunidade Hermano Castro, diretor da escola. Leia a nota na íntegra em https://goo.gl/s75Rzc. em malária Práticas integrativas RADIS Adverte stão abertas as inscrições para a piterapia, aromaterapia, bioenergética, constelação familiar, cromoterapia, geotera- Emedalha Ruth Nussenzweig, que Apia, hipnoterapia, ozonioterapia, imposição de mãos e terapias de florais são as 10 irá premiar jovem pesquisador(a) dez novas práticas integrativas e complementares (PICS) incorporadas pelo SUS, desde que tenha contribuições para o março. “É prioridade não deixar que o país adoeça. Essas práticas são uma prevenção estudo da malária. A premiação para que pessoas não fiquem doentes, não precisem de internação ou cirurgia, o que acontecerá durante a reunião na- custa muito para o SUS”, justificou o ministro Ricardo Barros, durante o lançamento, cional de malária, que acontecerá no Rio de Janeiro. A decisão recebeu críticas do Conselho Federal de Medicina, que durante o MedTrop 2018, em considera que as práticas aprovadas “não têm base na medicina e são sem evidências”. setembro. Candidatos (as) devem Psicólogo especializado em hipnoterapia, Valdecy Carneiro defende que a prática já é solicitar informações e enviar mate- reconhecida por quatro conselhos federais (psicologia, odontologia, fisioterapia e terapia rial ao professor Wuelton Marcelo ocupacional) e se mostrou eficaz para ajudar os indivíduos a se livrarem de traumas. A Monteiro, no e-mail wueltonmm@ médica Maria Emília Gadelha, presidente da Associação Brasileira de Ozonioterapia, alerta gmail.com que a saúde deve ser vista de maneira ampla, e destaca os benefícios da ozonioterapia para evitar complicações provocadas por diabetes.

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Radis187_felipe.indd 9 03/04/2018 11:41:02 PERSONAGEM

Radis187_felipe.indd 10 03/04/2018 11:41:03 Adriano De Lavor

iografias são testemunhos que nos ajudam o darwinismo social, teoria que defendia que a mistura a entender o tempo e o ambiente em que de raças causaria degeneração. Para os que seguiam esta viveram suas personagens. Direta ou indire- corrente, ele seria um degenerado, já que além de sua tamente, elas nos informam sobre a vida que ascendência negra, era filho de mãe tuberculosa e pai seB levava na época, ajudando a desenhar contextos neurastênico. Em seus romances, contos e outros tex- e a compreender comportamentos e disputas que tos, a loucura e o uso excessivo de álcool foram usados forjaram, inclusive, situações e práticas de saúde. Isso por Lima como metáfora para o desencaixe social, álibi se potencializa quando o biografado foi uma figura perfeito para sua personalidade fora das regras, para o pública e deixou uma obra magistral, como é o caso “protagonista fora do lugar”. do escritor Lima Barreto (1881-1922), cujas vida e obra Sua narrativa sobre a experiência em instituições de carregam marcas da vivência do racismo e da exclusão saúde mental também conta muito sobre personagens social, das críticas mordazes ao patrimonialismo e às reais daquele período, como o psiquiatra baiano Juliano disputas pelo poder, mas que também são um retrato Moreira (1873-1933), de quem foi paciente. Conhecido dos desafios enfrentados pela população da nascente por sua explícita discordância quanto à atribuição da 1ª República — alguns, ainda atuais um século depois. degeneração do povo brasileiro à mestiçagem, especial- “Lima Barreto é um dos intérpretes do Brasil. Sua mente a uma suposta contribuição negativa dos negros história se confunde com a do país”, confirmou a histo- na miscigenação, foi Juliano que deu a Lima Barreto riadora e antropóloga Lília Schwarcz, na apresentação “alguma dignidade”, ao entregar a ele papel e lápis. que fez do escritor, ao proferir a aula inaugural da Casa Como contou Lília, ele usou “instrumentos de trabalho de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), no início de março. como instrumentos de cura” e permitiu que o escritor Autora da biografia “Lima Barreto — Triste visionário” exercesse sua subjetividade. Tais experiências estão (Companhia das Letras, 2017), Lília destacou a impor- descritas em outro romance, "O cemitério dos vivos", tância do resgate do autor, celebrado apenas depois escrito em 1919, no qual o autor se revela nas injustiças de sua morte, “neste momento de claro declínio dos e preconceitos sofridos pelo narrador-protagonista, direitos sociais e civis”. Vicente Mascarenhas. Invisibilidade, inadequação, adicção e loucura Para além do preconceito e da loucura, Lima são palavras determinantes na trajetória de Afonso também gravou em sua produção literária a marca de Henriques de Lima Barreto, autor de “Triste Fim de uma época, ao descrever o cotidiano do Rio de Janeiro Policarpo Quaresma”, um dos clássicos da literatura daqueles dias. “Lima Barreto foi nosso primeiro criador brasileira. Nascido no bairro carioca das Laranjeiras em de almas. Ele sentiu, como nenhum outro escritor um premonitório 13 de maio, sete anos antes da abolição brasileiro, a tristeza e o humor que cabem na vida do da escravatura no país, ele mesmo neto de escravizados pobre. É nossa primeira autoridade neste assunto: povo. e filho de pais livres — um tipógrafo e uma professora Viu os costumes da gente carioca, seus divertimentos, —, o escritor experimentou ainda jovem a desigualdade suas virtudes e seus vícios”, descreveu o crítico literário e a discriminação — temas presentes em seu primeiro Agripino Grieco, em 1956, destacando como o escritor livro, “Recordações do escrivão Caminha”, de 1909 —, era capaz de enxergar a beleza daquilo que é mais o que talvez o tenha despertado para uma busca insis- próximo e atual. tente por liberdade, traço marcante de sua pena e de Funcionário público de pouco destaque, descre- sua trajetória. Para ele, “o fim do cativeiro e a conquista veu com maestria o cotidiano do transporte público da liberdade eram ‘troféus’ difíceis de ganhar, compli- carioca — “Nos trens, somos todos da mesma cor” cados de guardar, quase impossíveis de manter”, como —, criticou a atuação de políticos e a corrupção que destacou Lília, em artigo sobre o 13 de maio de 1888. já se apresentava naquela época, e discutiu o papel da A historiadora identificou, na produção da sua literatura em um país pobre. Recusado duas vezes para biografia, uma certa urgência e um desconforto cons- entrar na Academia Brasileira de Letras, cultivou uma au- tante, sentimentos que compartilhava por meio da dor toimagem de contestador, e se mantinha à margem do de suas personagens — escravizados libertos, pacientes primeiro escalão de cronistas de Bruzundanga — como internos, funcionários públicos entediados — e da crí- ele chamou o país numa sátira sobre a vida brasileira no tica feroz que fazia à elite e seus estrangeirismos, aos começo do século 20. Recuperar sua história é, para Lília, políticos e à corrupção. “Ele estava sempre em um local além de um resgate importante para a cultura nacional, onde não gostaria de estar”, resume a pesquisadora. O mais uma maneira de reparar uma dívida histórica com descompasso também se refletia na relação que Lima o escritor, somente escalado ao panteão dos grandes travou com a loucura, esse “imenso caminhão onde cabe nomes décadas após a sua morte. “A história produz qualquer coisa”, como costumava dizer, e que entrou em muitas invisibilidades sociais, por ser um exercício de sua vida “para nunca mais sair”, nas palavras de Lília. lembrar e de esquecer”, justificou. Para ela, é importante O contato precoce com a Colônia dos Alienados, tentar enxergar, a partir das narrativas de Lima Barreto, onde o pai foi administrador, e as duas internações ao quais as questões que se modificaram e quais as que longo da vida — motivadas pelo excesso no consumo permanecem. Em sua opinião, em relação ao escritor, de álcool — renderam ao escritor desafetos, desalentos, a questão racial permanece. Um século depois, ainda mas também belas personagens e inúmeros questiona- não damos conta. mentos. “No manicômio, a única cor é negra”, escreveu, no momento em que se discutia no país conceitos como

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Radis187_felipe.indd 11 03/04/2018 11:41:04 ABORTO A letra da lei e a vida das mulheres

Sem apelos sentimentais ou discursos fundamentalistas, juristas e pesquisadoras apontam possibilidades para que a legislação confira cidadania e autonomia reais às mulheres

Elisa Batalha

criminalização não impede que sejam provocados 55,7 milhões de abor- tos por ano — 160 mil por dia no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Desses, 45% são realizados em condições inseguras. No Brasil, a Pesquisa Nacional do Aborto, realizada em 2016 pela Universidade deA Brasília (UnB) e pela organização Anis — nstituto de Bioética, registrou 500 mil abortos em 2015. Segundo o estudo, uma em cada cinco mulheres aos 40 anos já fez pelo menos um aborto; quase metade das entrevistadas acima de 16 anos de uma pesquisa divulgada pela Agência Patrícia Galvão em 2017 apontaram que conhecem alguém que já fez um aborto; as mulheres negras correm um risco duas vezes e meia maior de morrer por causa de um aborto, de acordo com um estudo do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (IMS/Uerj). Estes foram alguns números e constatações que conduziram as falas do debate suscitado a partir da palestra “Legalidade e ilegalidade do aborto: uma reflexão sobre a vida das mulheres”, organizado pelo Departamento de Direitos Humanos, Saúde e Diversidade Cultural (Dihs), realizado na Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Ninguém gosta de abortar, argumentaram todas as integrantes da mesa, que se concentraram não nas razões pessoais de cada mulher que já recorreu a uma interrupção de gravidez, nem nas crenças e tabus que acompanham o debate. A Pesquisa Nacional do Aborto mostrou que 88% das mulheres que já abortaram professam religiões, sendo 56% católicas, 25% protestantes e 7% de outras de- nominações. Conhecedoras desses dados, as palestrantes direcionaram o debate para o embasamento jurídico e sociológico que sustenta até hoje a proibição no país — e nas reivindicações e ações concretas possíveis para alterar a legislação vigente. “O tema da descriminalização é objeto de manifestações maciças no mundo inteiro e precisa de um olhar não apenas sob viés da saúde pública, mas também como questão de cidadania” apontou Luciana Boiteaux, professora de direito penal da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Luciana é uma das signatárias da arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF 442), uma medida que propõe ao Supremo Tribunal Federal (STF) analisar a inconstitu- cionalidade da criminalização do aborto até doze semanas de gestação. “O cenário hoje é de dificuldade de debater o tema publicamente. É uma ação que contém argumentos jurídicos e argumentos sociológicos. Uma ação ousada e arriscada, mas sem ousadia não se muda nada”, explicou a jurista. “No Uruguai, em 2012, o primeiro ano após a legalização do procedimento no país, não houve nenhuma morte de mulher em decorrência de complicações dos sete mil procedimentos”, lembrou a pesquisadora da Ensp e presidente do Centro Brasileiro de Estudo da Saúde (Cebes), Lúcia Souto. Enquanto na maior parte dos países europeus a interrupção voluntária já é um direito, os debates e as ações políti- cas em prol da liberalização do aborto no Brasil são marcados por avanços, recuos e inúmeras negociações políticas que resultam na atual legislação, que prevê o aborto apenas em caso de estupro, de risco de vida para a mãe ou em gestação de feto anencéfalo. “Na prática, mesmo o acesso ao aborto legal é dificultado por barreiras

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Radis-carol-187.indd 12 02/04/2018 17:08:38 ABORTO a vida das mulheres

sociais e preconceitos por parte dos profissionais de saúde”, denunciou Luciana. “A visão fundamentalista não pensa na saúde de ninguém. Uma mulher morre a cada dois dias por complicações do aborto no país”, reforçou Luciana Lindenmeyer, representante do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Fiocruz (Asfoc-SN). O momento atual é marcado por ameaça de retrocessos, lembraram as juristas presentes. Em 2015, por pouco o projeto de lei 5.069, apresentado pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ), não foi aprovado no Congresso Nacional, o que dificultaria ainda mais o acesso ao serviço de aborto legal por mulheres estupradas, já que restringia a aprovação do procedimento somente em caso de o crime ser comprovado por exame de corpo de delito e comunicado à polícia. A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 181, de 2017, era uma lei que origi- nalmente tratava da expansão da licença maternidade para o caso de bebês nascidos prematuramente. No entanto, os deputados (todos homens) da comissão votaram pela inclusão de uma mudança no artigo primeiro da Constituição, enfatizando a “dignidade da pessoa humana desde a sua concepção”. Um adendo desse tipo, que não tem relação direta com o texto da lei que está sendo votada, é conhecido como um “Cavalo de Tróia”. Com a mudança no texto, os deputados esperavam abrir uma brecha legal para condenar mulheres por fazerem aborto, mesmo em casos permitidos pelo Código Penal. “A PEC 181 poderia criar um problema até para o uso da pílula do dia seguinte”, lembrou Simone Nacif. A luta das mulheres pela legalização do aborto, no entanto, organizada nas redes sociais a partir da hashtag #PelaVidaDasMulheres, conseguiu pressionar os parlamentares de modo que o projeto de lei e a PEC fossem retiradas de pauta. “A questão não é reli- giosa. O Estado é laico. O papel do Supremo é proteger as minorias”, lembrou Luciana, para quem hoje, o debate é “totalmente contaminado” pelo discurso fundamentalista religioso. Ela destacou que hoje, até mesmo falar de uma sociedade democrática em que as mulheres tenham a cidadania completa garantida tem sido difícil. “Nesse momento é importante ocupar todos os espaços”, defendeu.

MATERNIDADE COMPULSÓRIA

Juíza de Direito do Pará, Andrea Bispo analisou o discurso sociológico que está nas bases do ordenamento jurídico do país. “O que autoriza no Brasil a criminalização do aborto? O embrião ou o feto não são juridicamente titulares de direitos. O que justifica na verdade a criminalização é a maternidade como o papel tradicionalmente atribuído à mulher na sociedade. Historicamente, esse papel e esse ´instinto´ são construções sociais que estão totalmente naturalizados na nossa sociedade”, explicou ela. “Muitas das mu- lheres que abortam já são mães de três, quatro filhos, e sem condições de mantê-los. A sociedade como um todo não está preocupada com crianças, nem com o feto nem com o embrião, mas com a maternidade idealizada”, continuou Simone Nacif, também juíza e integrante do Conselho de Administração da Associação Juízes para a Democracia. “Na forma como o corpo é descrito nos textos jurídicos e sentenças, é como se a mulher fosse uma hospedaria. A mulher não tem autonomia sobre o próprio corpo. A criminalização do aborto é uma tentativa de controle social sobre a mulher”, criticou Andréa. Maternidade compulsória é o termo utilizado no jargão feminista como o resulta- do da criminalização do aborto somada a essa carga social em torno da maternidade como principal — ou única — função da mulher. Ao mesmo tempo, há 5,5 milhões de crianças no país hoje sem sequer o nome do pai na certidão de nascimento. “Quando vão falar sobre o aborto, quando a criança está ainda na barriga da mulher, a mulher não é sequer considerada, somente a criança. Depois que a criança nasce e está ali nas ruas, também não ligam mais, não se preocupam que tenha educação, saúde, moradia. A criminalização do aborto é uma tentativa de imposição do controle social sobre a mulher", reforçou Luciana Boiteaux. O debate foi marcado pela visão de que o meio jurídico também é espaço de disputa para transformações sociais. Simone Nacif lembrou que o ordenamento jurídico existe para manter as relações de poder, “e assim ele dá ao homem o direito de escolher ser pai e nega às mulheres o direito à saúde e à vida. É na insurgência, na desobediência que se faz nascer o direito, na luta concreta nas estruturas sociais como elas estão postas”, afirmou. “A história das mulheres é opressiva, patriarcal, racista. O feminismo contemporâneo deve ser o feminismo para as 99%, com uma luta agregada, uma agenda expandida”, apontou Lúcia Souto.

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ALÍCIA MELO [14] FAVELA RADIS 187•ABR/2018 03/04/2018 11:41:04 LUIZ FELIPE STEVANIM favela vive na luta e na voz de cada um deles do grupo Força do Rap, é conhecido em todo o canto e de cada uma delas. Sabrina — conhecida de Acari como uma referência na defesa de seu povo como MC Martina — pede licença no busão e persiste organizando atividades culturais e artísticas para recitar uma poesia: “Você conhece a raiz onde mora. doA gueto?” Brenda descobriu na poesia marginal, feita Vidas nascidas na favela, esses nomes e muitos nas ruas e na laje, um sentido para a existência que não outros lutam para que as comunidades periféricas encontrou na escola. Fransérgio luta contra estigmas tenham acesso a direitos básicos, como educação, e preconceitos que recaem sobre favelados e lembra: saúde, cultura, moradia, transporte e o mais essencial: “Favela é resistência”. Jaílson lidera há décadas projetos o direito de viver. Até quando a favela vai ser vista de inserção social e cultural de jovens periféricos, que apenas como “área de risco” e “espaço do crime”? buscam transformar os olhares sobre os espaços em É a pergunta que ecoa na fala de todas elas e todos que vivem. Rodrigo acredita que é possível construir eles. “Quantos mais vão precisar morrer antes que uma publicidade afirmativa sobre a favela, revelando essa guerra acabe?”, afirmava Marielle Franco (PSOL), as suas potências a partir de dentro. Thiago Taif colore vereadora nascida na favela da Maré e executada no as paredes de sua comunidade com as tintas de um Rio de Janeiro em março. “Não entenderam ainda? A sonho: ser um artista renomado. Érika e Rita entraram quebrada é tipo um livro e vocês matam a poesia que em universidades públicas e estão à frente de um pré- por ela corria...”, pergunta Brenda em seus versos. -vestibular comunitário para que outros jovens como Mesmo com a violência e a discriminação, a poesia elas possam ter o mesmo direito. Pingo, ex-integrante da favela vive e resiste.

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Radis187_felipe.indd 15 03/04/2018 11:41:05 CADÊ A POESIA DO MORRO? e dança que quase apagaram...” Em outra performance, ela se serve de um ponto de Umbanda para representar a orixá Oxum Uma voz ecoa no silêncio do trem: “Ataque!” Não é tiro lavando os corpos dos meninos mortos. “Falo de todos nós, ne- que vem por aí, nem assalto. Como num eco, outros respondem: gros e negras vivos, fazendo sua arte, seu trampo, lutando contra “Poético!” De repente, surgem cinco ou seis jovens, a maioria o sistema que quer desde muito tempo nos ver mortos”, enfatiza. negros, e uma delas recita os versos: “Em nome do amor, se A história de Sabrina não é diferente da vivida por Brenda: oprime, reprime e ilude. / Em nome da paz instaurada, a guerra ao terminar o Ensino Médio, ela se viu sem emprego e nenhuma que mata um preto, dentro e fora da favela, a cada 23 minutos.” fonte de renda. Depois de participar de um projeto organizado Ao terminar, ela se apresenta: MC Martina, 20 anos, poeta, rapper por um coletivo de comunicação na favela, o “Gato Mídia”, e produtora cultural do morro do Alemão, no Rio de Janeiro. abriu os olhos para algo que nunca tinha notado: o que havia de Alguns reclamam daquela voz que vem perturbar o silêncio, bom dentro da própria comunidade. “Eu não sabia que existiam mas a maioria aplaude. Depois é no BRT. Outra jovem negra dá tantos favelados universitários e tanta coisa acontecendo dentro o papo: “Apressado, a poesia podia estar ao seu lado/ Tenho o da favela”, conta. Daí foi um passo para se descobrir produtora destino traçado pelas vozes do Estado / Boné afundado na cara / cultural e participar da organização de eventos nas favelas do Mó cara de bolado”. Quem fala é Brenda Lima, 19 anos; e como Alemão e da Maré. ela mesma afirma, seus versos, carregados de gírias e expressões do morro, das favelas e das quebradas — diferentes nomes como a periferia é chamada —, refletem a luta e a resistência de seus DO MORRO PARA O MUNDO antepassados. Os Ataques Poéticos nas praças, no transporte público e Sabrina transformou-se em MC Martina — e depois de nas escolas são realizados pelo coletivo Poetas Favelados, um acompanhar o trabalho do coletivo Poetas Ambulantes, na capital grupo de artistas da poesia e da música formados por jovens de paulista, decidiu criar, junto com o amigo Al Neg, um coletivo de diferentes favelas do Rio de Janeiro. Dentre eles, estão Sabrina poesia com artistas das favelas do Rio, não só da capital, mas Martina — conhecida como MC Martina —, Brenda Lima e o da Baixada Fluminense e do interior do estado. “A poesia está rapper Al Neg. “Nosso objetivo principal é levar a arte favelada, em tudo. Está em poder voltar para casa, ter comida pra comer, nossa cultura, informação e realidade para a galera que mora minha família estar bem, conseguir fazer as coisas que eu faço”, em periferia, mas que não tem ressalta. A ideia era impactar acesso a esse tipo de literatu- o lugar onde mora, porque o ra”, conta Sabrina. Para ela, as “AS VIELAS QUE NÃO TEM Alemão contava com muitos pessoas não acessam a arte coletivos de comunicação, mas pois precisam trabalhar para ESPAÇO PRA CULTURA nenhum voltado para poesia. sobreviver. “O Ataque Poético “O objetivo inicial dos Poetas é um sarau itinerante, que vai MAS TEM LUGAR PRA FUZIL E AS Favelados era combater o ma- ao encontro dessas pessoas. É FARDAS PRA DITADURA. chismo, o racismo e uma série muito interessante ver a reação de preconceitos que existem delas. Muitas estão com um na cena do hip hop. O coletivo semblante abatido, a fisionomia realiza os Ataques Poéticos cansada, e durante o ‘Ataque’, A QUEBRADA É TIPO UM LIVRO no busão, nas escolas e em a gente vê a mudança”, relata. E VOCÊS MATAM A POESIA QUE vários lugares pela cidade, mas Sabrina é nascida e criada especialmente na favela e em no Complexo do Alemão, na POR ELA CORRIA” espaços públicos”, descreve. zona norte do Rio de Janeiro, O grupo conta hoje com cerca e Brenda mora em Petrópolis, (BRENDA LIMA, POETAS FAVELADOS) de oito integrantes oriundos de na região serrana do estado. diferentes periferias do estado. As duas chegaram ao Ensino MC Martina também Médio sem perspectivas para o foi uma das idealizadoras do futuro. “Eu comecei a escrever poesia quando larguei a escola no Slam Laje, a primeira “batalha de poesia” no Alemão feita pelos segundo ano do Ensino Médio. Não me encaixava no modelo de próprios moradores. O “slam” é um tipo de competição urbana ensino aplicado pelo Estado, que não estimula a pensar”, narra em que os artistas recitam suas poesias em performances — os Brenda. Ela então conheceu a literatura de outras mulheres ne- versos geralmente têm um caráter de resistência e politização. “O gras, como as escritoras Carolina Maria de Jesus e Elisa Lucinda, nosso objetivo é disseminar cultura e poesia marginal dentro da e decidiu que poderia fazer de sua própria poesia “uma forma favela, furando a ‘bolha’”, conta. O projeto também reúne a famosa de comunicação com o mundo”. “Eu sinto que, ao recitar, posso “batalha do passinho”, estratégia para se aproximar de crianças e curar, alertar, denunciar, lutar”. Questões como racismo e vio- adolescentes mais novos (a “menorzada”). “A favela é quilombo. A lência aparecem em seus textos, segundo ela, como relato de gente tem uma cultura incrível, não só a favela, mas o povo preto “vivência própria”: “Não é sempre que falo, pois é algo que exige em si, sacou? Foi o povo preto que criou o samba, o hip hop e muita força, mas além de tudo aparece num tom de denúncia várias outras culturas. E arte é isso: um lugar que permite a gente sobre o que meu povo sofre”. ter voz e ser ouvido”, reflete. Brenda lembra que, em sua poesia, não surge apenas a sua A rapper não esconde as marcas que a violência, o racismo história, mas a expressão de “muitos de nós”. “Eu sou pelo que e a segregação deixam na população das favelas: “Já levei muita nós somos. Os meus irmãos interferem na minha arte e eu penso dura [da polícia]. Dura em moto, no busão, na rua. Qual o motivo que posso e devo fazer por eles, intervir e trocar conhecimentos da dura? Eu não deveria ter medo de policial, mas eles são uma ancestrais que nos foram dados, tomados e que agora estamos das coisas que mais tenho medo”, aponta. Segundo ela, uma das retomando aos poucos”, afirma, lembrando um provérbio afri- características da cultura da favela é a capacidade de reinvenção. cano. Em um de seus versos, ela ressalta: “Eu sou a sombra dos “Desde sempre o povo preto, a periferia, apanhou muito. Apanha, meus ancestrais escravizados, sou poesia a chibatas, sou a música levanta e continua, porque é a necessidade. Eu não tenho a escolha

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Radis187_felipe.indd 16 03/04/2018 11:41:06 “Favela é quilombo”: MC Martina é uma das organizadoras do Slam Laje, com batalhas de poesia e do passinho no Morro do Alemão (RJ) BENTO FABIO BENTO

“VOCÊ CONHECE A RAIZ DO de ser fraca, porque preciso cuidar da minha família, entendeu?” Ela destaca que os jovens negros e periféricos são sempre vistos como GUETO? “suspeitos”. “Ao mesmo tempo a favela é um lugar onde existe a ausência de direitos. O Estado só vem aqui dando tiro. Que política RESPEITA O MEU POVO PRETO pública existe hoje em dia para a favela e a periferia?”, questiona. QUE NÃO TEM DIREITO A CHORAR Em um de seus poemas, MC Martina compara a ocupação do Complexo do Alemão, em 2010, que teve ampla cobertura ESTÁ ACOSTUMADO A APANHAR midiática, com a “ocupação” do Brasil pelos portugueses em 1500: “A cor do colonizador nunca mudou / Mas o discurso sim E NÃO PODE GRITAR de novo te enganou”, afirma. “Ser pobre, negro e favelado é ser criminalizado pelo que você é”, acrescenta à Radis. Estudante PORQUE NO DIA SEGUINTE TEM de um pré-vestibular comunitário, a menina nascida no Alemão QUE IR TRABALHAR” planeja fazer faculdade de Ciências Sociais e continuar sua carreira como rapper, poeta e produtora cultural. Ela também faz parte do (MC MARTINA, POETAS FAVELADOS) coletivo “Movimentos”, grupo de jovens de periferias do Rio que discutem e propõem uma nova política de drogas. “Antes de ser MC, sou favelada, sou preta e sou pobre. As pessoas não sabem o que a gente passa por trás do microfone. O triste é que estou LUTA PELA VIDA falando isso pra você, essa matéria vai ao ar e muita gente não vai se ligar, porque já tem o coração frio. Não tem empatia”, desabafa. Quatro dias depois do anúncio da intervenção federal Histórias como as de Brenda e Sabrina, que fazem poesia na na segurança pública do Rio de Janeiro (16/2), crianças favela, foram tema do filme “Meu fuzil é a poesia” (Grito Filmes), da comunidade Kelson, na Penha, tiveram suas mochilas dirigido por Fernando Salinas e Victor Hugo Liporage e produzido revistadas em uma operação conjunta das Forças Armadas por Cinthia Martins. O curta reuniu performances de diversos e das Polícias Militar e Civil. Como noticiou a Ponte (22/2), coletivos e poetas nas ruas, favelas e escolas do Rio de Janeiro. “A o Comando Militar do Leste afirmou que a ação não teve Suburbana estava marcada com sangue de João. / Quem dera fosse relação direta com a intervenção e foi feita sem um objetivo, com migalhas de pão?”, sentenciam os versos do rapper Dyonnás apenas para mandar um “recado” a criminosos e “baixar a Sykeira. Em conversa com Radis, Brenda afirmou que existe sim bola deles”. O episódio, porém, revela que as pessoas que espaço para cultura na favela, mas esse enfoque não interessa ao moram nas favelas são as mais afetadas pela política de segu- Estado. “O que vende é a guerra e o massacre, a desigualdade, a rança pública baseada na “lógica da guerra”. Para Fransérgio falta desse olhar para a educação e para o resgate da nossa cultura”, Goulart, historiador e militante do Movimento de Favelas, avalia. Para ela, as pessoas querem cada vez mais se armar, mas atualmente assessor político do Centro dos Direitos Humanos o armamento “nunca foi garantia de paz e sim do caos”. “Cabe a da Diocese de Nova Iguaçu (RJ), essa não é uma novidade gente fazer uma reflexão sobre nós que fomos afastados da nossa na história do Brasil. “A partir do discurso de pacificação, própria cultura e tivemos acesso negado ao direito de ser e estar, determinadas populações sofreram e ainda sofrem com a com um único objetivo: pretos contra pretos, pobres contra pobres guerra. Foi assim com os indígenas, depois negros, hoje com se matando a mando do Estado, enquanto ele aplaude e fica com os favelados, os movimentos de ocupações, os sem-terra, os todo o lucro”, constata. assentados”, afirma.

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Radis187_felipe.indd 17 03/04/2018 11:41:06 Escolas e creches fechadas, postos de saúde com funcio- do racismo, a realidade da segregação não vai ser alterada. “As namento interrompido e dificuldades para ir ao trabalho são discussões têm que ser pautadas a partir da centralidade do ocorrências comuns provocadas pelas operações policiais, como racismo, em ações de educação, educação em saúde e cultura”, relatam os diferentes moradores ouvidos por Radis. Dados da propõe. Pesquisa “Educação em Alvo: O racismo e o “olhar de os efeitos da violência armada fora”, que enxerga o outro na sala de aula”, realizada pelo como inferior, também está aplicativo Fogo Cruzado e “SALVE OS BALAIEIROS E BALAIEIRAS! presente nas pesquisas aca- pela Fundação Getúlio Vargas SALVE AS RESISTÊNCIAS INDÍGENAS! dêmicas sobre a favela, como (FGV), apontam que mais de ele ressalta: os pesquisadores 20 escolas no conjunto de fa- SALVE O QUILOMBO! das universidades “sobem o velas da Maré (RJ) tiveram suas morro” e fazem estudos com aulas interrompidas apenas SALVE A FAVELA! as populações faveladas, sem em fevereiro de 2017. “Com dar retorno ou propor saídas a justificativa de ‘combater o QUE DE NADA TEM DE DIFERENÇA para transformar a realidade crime organizado e o tráfico A NÃO SER A POSIÇÃO GEOGRÁFICA pesquisada. Com o propósito de drogas’, tais operações de questionar essa prática, colocam em risco a integri- MAS FAVELA É NORDESTE ele criou, junto com outros dade física e a saúde mental militantes, um espaço de dos moradores de favelas, FAVELA É PRETO discussão intitulado “Para que vivem sob constante FAVELA É ÍNDIO que e para quem servem as tensão”, afirma manifesto da pesquisas acadêmicas sobre Campanha “Caveirão Não! SACOU?” as favelas?”. “Existe uma do- Favelas pela Vida e contra minação branca e um grupo as Operações”, assinado (DISCURSO DE RAULL SANTIAGO, ATIVISTA DO de privilegiados que fala sobre pela Rede de Comunidades o outro. É muito ainda a visão e Movimentos contra a do colonizador”, avalia. Ele Violência e mais de outras trinta instituições que atuam na área defende mudanças para democratizar o acesso às universidades de direitos humanos. e propõe a construção de pesquisas e olhares a partir de dentro Essa realidade também representa um cotidiano de medo das próprias comunidades periféricas. A mesma crítica ele faz para quem luta por direitos e políticas públicas dentro das favelas. a comitês que apenas “observam” a violência a partir de fora: “A pauta principal dos movimentos de favela hoje é ficar vivo. É segundo Fransérgio, eles ajudam a dar visibilidade, mas não a gente poder acordar no outro dia”, disse Fransérgio à Radis, resolvem os problemas dos favelados. “Para quem mora nesses em entrevista dias antes da execução da vereadora Marielle territórios, como eu e outros e outras, nossos problemas são Franco (PSOL-RJ), que também teve sua trajetória marcada pela muito mais intensos e são pautados no racismo. Isso deve ser atuação junto à população das favelas. Oriundo de Manguinhos, colocado como prioridade”, reflete. na zona norte do RJ, Fransérgio conhece bem essa realidade pois atua como apoiador de diferentes movimentos de resistência e luta por direitos nas comunidades periféricas, como as Mães A FAVELA POR ELA MESMA de Manguinhos, Mães de Maio e a Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência. Para ele, a favela é resistência A rua Teixeira Ribeiro é um dos pontos de encontro da Maré, desde a sua fundação. “Ela existe porque ela resiste. A favela conjunto de favelas na zona Norte do Rio de Janeiro onde vivem precisa resistir se não ela não sobrevive, às vezes de forma cole- cerca de 130 mil pessoas: além de ser um dos principais acessos tiva, às vezes individual. No cotidiano das ruas e dos becos, isso ao bairro, pela Avenida Brasil, é onde acontece uma feira popular já é claro”, aponta. aos sábados que reúne desde rodas de samba à galera do hip hop. Como exemplo, ele narra a origem do conjunto de favelas da Para registrar as vozes e os rostos que compartilham o espaço, jo- Maré (RJ), surgida de uma ocupação liderada por uma mulher ne- vens da própria comunidade empunharam câmeras e microfones gra, Dona Orosina, que depois teve de lutar para não ser expulsa e fizeram um vídeo como parte do projeto Favela 3D (Disposição, pelo Exército. Para ele, os próprios moradores das favelas já vêm Diversidade e Direitos), coordenado pelo Observatório de Favelas. construindo saídas para a violência a partir de dentro. “Muito por São olhares para além da violência, que enxergam a favela como meio do protagonismo dessa juventude que tem novas formas “lugar de potência”. “São agendas potentes que não são vistas de ocupar o espaço público. São jovens negros, jovens mulhe- como tal. Tem muito mais do que a violência. Tem vidas, pessoas, res, moradores de favelas, que a partir do cotidiano constroem populações, histórias, memórias, afetos. A gente tenta o tempo alternativas para enfrentar a violência no campo da educação e todo mostrar para além da carência, a partir da perspectiva da da saúde”, defende. Ele cita alguns exemplos: o Coletivo Papo potência”, afirma Rodrigo Azevedo, publicitário e coordenador Reto, no Complexo do Alemão, que realiza um trabalho de de- do Observatório de Favelas. núncias de violência; o projeto “Histórias Vivas”, da Maré, para Na Teixeira Ribeiro também está localizada a sede do recriar as narrativas da favela pelos próprios moradores; e o Rolé Observatório, onde funciona parte de suas iniciativas, como a dos Favelados, uma iniciativa de incentivo à atividade turística a Escola Popular de Comunicação Crítica (ESPOCC) e o projeto partir de “dentro”. “Imagens do Povo”. Duas ruas adiante, fica o Galpão Bela Maré, Para Fransérgio, a visão que se tem da favela, marcada por um local que incentiva expressões artísticas na favela e reúne estigmas e preconceitos, é fruto da construção do Brasil pautada exposições, biblioteca e atividades culturais. Foi na “Teixeira”, no racismo. “O racismo é estruturante da constituição do Brasil como é chamada carinhosamente pelas pessoas, que a equipe enquanto nação. Isso reflete nos territórios de favelas, que são de Radis conheceu Rodrigo, nascido e ainda hoje morador de São majoritariamente da população jovem e negra”, explica. Segundo Gonçalo (RJ). “Já andei muito e vivo a contradição da desigualdade ele, enquanto as políticas públicas não fizerem o enfrentamento desde que me entendo por gente. Sou morador de São Gonçalo,

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EDUARDO DE OLIVEIRA públicas”, e políticas soluções caminhos, avalia. propõem que perspectivas de apartir mas corpos, mostrando não “A segurança ecultura. discute gente educação de quanto pública segurança da campo no tanto políticas de propostas com documento um construiu escola da alunos pelos criada campanha a negros, jovens de ogenocídio denunciava que cidade da centro no artística intervenção uma realizar de viver”: além para marcada “Juventude eintitulado curso de conclusão de trabalho como ESPOCC da turmas das uma por desenvolvido projeto um exemplo como ambiente”, cita Ele nesse considera. ecirculam vivem que potências as todas nega gente a tráfico, do questão dessa causa epor gastronomia, rock, de festival pagode, samba, tem também Mas otráfico. fato, existe De questões. essas eabafar neutralizar nem oterritório, éromantizar “Não aviolência. eles dentre mas, interessantes”, acham acrescenta. eles que comunicação de emeios informativos produzir eorganizações, coletivos fortalecer equestões, causas potencializar para acomunicação utilizar a passam “Os jovens epreconceitos. racismo sexismo, como publicidade, da históricos vícios os superar Também pretende presentes. vozes estejam de multiplicidade uma que em social, de adiversida compreenda que lógica uma de apartir comunicação a trabalhar busca afirmativa a publicidade ele, Segundo explica. favelas”, as sobre olhar outro um mostrar para recursos desses apropria se e também visibilidade ganham não que Rio Grande do populares territórios de eagendas debates potencializar para publicidade da “A favela. da elementos dentro ma utiliza gente autoesti ede positivos olhares de aconstrução incentivar para e cultura digital. 2012 ano, entre por jovens 90 de cerca e2016, audiovisual em publicitário foi coordenador da ESPOCC, projeto que formou e violência”, humano O conta. desenvolvimento de índice em piores dos e um estado do populoso mais município o segundo Olhar as potências da favela não significa ignorar os proble os ignorar significa não favela da potências as Olhar afirmativa” “publicidade de oconceito desenvolveu A escola - - - potência, da arte e da fala”, eda arte da potência, comenta. melhor, de tem da que do apartir constituição easua a vida olhar é, conseguir realmente oque ser évocê hoje “O caminho preconceitos. esses desconstruir por passa eolhares narrativas novas de a produção Mas públicas”, analisa. políticas sem do - epensa construído lugar um Foi ecarente. frágil lugar um de complexo, estigma um construiu Isso edesapropriações. centros duro, com deslocamentos, retiradas dos grandes de pessoas muito processo um em deu se populares territórios edos favelas das A constituição abertas. valas edas vielas das violência, da oterritório como somente espaços esses olha mídia grande da voz. sua “A cobertura expressar para comunicação de ramentas fer das apropriar se devem jovens, os principalmente favelas, centenas de Ele desabrigados. defende que a população das chuva, que inundou a comunidade depois do carnaval e deixou da água da marcas as parede na mostra lugar. do diano Rodrigo 22). página na dela”,entrevista (veja moradores dos reflete parte por cidade à direito ao respeito diz que no áreas, as todas eem pública segurança da campo no também mas cultura, eda educação da campo no só “Não periferias. as para políticas desenvolver de ecriativas alternativas formas potência”,da pensar épossível “paradigma de chama que do eapartir popular protagonismo trimonialismo e o sexismo”, considera. Segundo Jaílson, com o opa oracismo, são que desigualdade, da estruturais bases as a combater ajudem que públicas políticas é construir desafio “O juventude. sua especialmente moradores, dos participação acom construídas ser que têm favelas nas urbanas políticas as que defende Maré. da Ele morador efoi (RJ) Pina de Brás de fundadores, Jaílson de e Souza Silva, nasceu numa comunidade seus de Um populares. espaços eos favelas as sobre olhar novo com um conhecimentos produzir de com aproposta surgiu Criado em 2001, na Maré, o Observatório de Favelas de 2001, em Criado oObservatório Maré, na Como parte da Maré, o Observatório vive o mesmo coti omesmo vive oObservatório Maré, da parte Como defende RodrigoAzevedo,coordenador do ObservatóriodeFavelas, naMaré A favelapossui“agendaspotentes”, 03/04/2018 11:41:07 - - - No “forno” do Observatório, está um novo projeto, chama- do de Agência de Narrativas, voltado para a produção de pautas e olhares alternativos sobre a favela. Segundo Rodrigo, a ESPOCC atualmente está sem financiamento, pois “é um projeto caro”, que oferecia não apenas formação, mas ajuda de custo aos cerca de 90 alunos. Outra iniciativa é o “Imagens do Povo”, que reúne registros de fotógrafos populares — o Observatório ajudou a formar, com a Escola de Fotógrafos Populares, alguns profissionais renomados e responsáveis por trazer novos olhares sobre a co- munidade em que moram, como Ratão Diniz, oriundo da própria Maré. “O nosso conceito de ‘lindo’ não é só a arquitetura, mas a vida e as brechas de felicidade dentro desses espaços”, reflete. Sobre as constantes operações militares na Maré, Rodrigo conta que vivenciou junto com a comunidade a presença do Exército, entre 2014 e 2015, por conta dos grandes eventos (Copa e Olimpíadas), e não houve resultados. “A militarização é muito ruim pois não resolve nada. Matam-se todos, morrem-se todos, e aí? Isso nunca vai resolver, pois não incide em políticas públicas, mobilidade urbana e direitos”, considera. No dia que conversou com Radis, ele havia esquecido a carteira em casa. De um lado, havia a preocupação se levasse uma “dura da polícia”, o que já aconteceu: “Abriram minha mochila e encontraram livros. Perguntaram: ‘Para que isso? Você trabalha onde?’”, conta. Mas de outro, a certeza de que, mesmo sem dinheiro, não ficaria sem almoço: “O lado bom é que aqui você não fica sem almoço, sempre tem um amigo pra te chamar para almoçar”, completa.

ACARI É AQUI

Aquele era o segundo dia após a execução da vereadora única que morava em Acari. Todos os professores são voluntários. Marielle Franco (PSOL-RJ), assassinada junto com seu motorista, As aulas acontecem de segunda à sexta, sempre à noite. Já Érika Anderson Gomes, no centro do Rio. Quatro dias antes de sua foi estudante da primeira turma, o que rendeu sua aprovação em morte, ela escreveu em sua página no Facebook: “Precisamos uma universidade pública; como ela mesma relata com orgulho, a gritar para que todos saibam o que está acontecendo em Acari participação na iniciativa fez com que ela “abrisse os olhos” para nesse momento. O 41° Batalhão da Polícia Militar do Rio de a própria comunidade em que vive e se envolvesse na luta para Janeiro está aterrorizando e violentando moradores de Acari”. que outros jovens também possam ingressar no Ensino Superior. Nossa entrevista sobre o pré-vestibular comunitário e a visita ao “Eu não tinha tanto contato com a comunidade em que moro. Centro Cultural Poeta Deley de Acari estavam marcadas para a A gente é incentivada o tempo todo a sair e nunca a conhecer o sexta-feira seguinte ao crime (16/3). De manhã, nosso contato que existe aqui dentro”, relembra. informou que não havia operações policiais na comunidade e Entrar em uma universidade não estava nos planos de Érika que poderíamos conversar. Depois de descer pela rua que leva quando terminou o Ensino Médio e teve de conseguir um em- ao Centro Cultural, no bairro da zona norte do Rio, a equipe de prego para ajudar a família. Voltar a estudar, sete anos depois, Radis chegou ao espaço onde no passado funcionou um depar- foi um desafio, pois ela precisou novamente contar com a ajuda tamento de polícia, hoje tomado pelo pré-vestibular comunitário dos pais. “Minha mãe é dona de casa e meu pai sustenta a minha e por atividades artísticas e culturais. casa. E como é que eu falo para ele que novamente ele vai ter Em uma das paredes, um grafite dava o papo: “Informado que me sustentar para eu conseguir conciliar os estudos?”, narra. pela mídia, desinformado é.” Em outro canto, algumas palavras Segundo a estudante, participar do pré-vestibular — primeiro — “Liberdade”, “Paz”, “Amor, “Luta”, “Fé” — contornavam o como aluna, depois como voluntária — trouxe para ela solida- esboço de uma favela, em tinta preta. Érika Oliveira, 26 anos, e riedade e ação. Cada aluno aprovado faz com que elas sintam Rita Ventura, 24, contam que, quando passaram a frequentar o a mesma sensação de vitória. “Eu quero ajudar outras pessoas Centro Cultural, ele era bem diferente do que é hoje. As aulas daqui a terem as mesmas oportunidades que eu tenho”, afirma aconteciam apenas em metade do salão e, aos poucos, elas foram Érika. “É como se fosse a minha própria aprovação. Quando a se envolvendo com o espaço e dando uma nova cara. Érika é gente vê que somos parte de uma vitória que foi dela, mas que estudante de História da Arte na Universidade Federal do Rio de também é nossa, é muito empolgante pra gente”, completa Rita. Janeiro (UFRJ) há menos de um ano; Rita está com a formatura Para elas, a aprovação em uma universidade pública foi em Geografia prevista para 2018 na Universidade do Estado do apenas o início de uma luta cotidiana. As constantes operações Rio de Janeiro (Uerj), “se não tiver greve”. Ambas moram em policiais dificultam a trajetória das estudantes. “A universidade é Acari e coordenam as atividades do pré-vestibular comunitário elitizada. Ninguém quer saber se a gente passa por uma operação que recebe, pelo terceiro ano consecutivo, uma turma de cerca policial, se a gente tem dificuldades de três horas para chegar. A de 15 alunos da comunidade. gente tem que estar lá na hora da aula, senão somos cortadas “Geralmente as turmas começam bem cheias e aí vão da matéria como qualquer outro”, relata Érika. Segundo ela, os acontecendo diversas situações que dificultam a permanência professores do pré-vestibular debatem as dificuldades enfrentadas dos estudantes. Muitos têm filhos pequenos, ou então trabalham por uma pessoa de uma comunidade periférica para ter acesso à noite, e ainda tem a questão das operações que dificultam o ao Ensino Superior. “Várias vezes já perdi aula e avaliações por acesso”, conta Rita, que foi professora desde a primeira turma — a conta das operações. Alguns professores entendem, mas a grande

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Radis187_felipe.indd 20 03/04/2018 11:41:09 Radis187_felipe.indd 21 a paz com sangue? / Mostrar que acha o nosso povo ignorante / ignorante povo onosso acha que /Mostrar sangue? com a paz favela: “O de acha? tu que /Promover populações pelas sofrida discriminação da otema expressa ele “Quebra-cabeça”, música na recentes, letras suas turístico”, de uma Em lugar um comenta. dela efazer entrar querem gringos Os afavela. igual falar quer Tanto todo. otempo “A apista que arte Cultural. transpira favela Centro do eeducativas artísticas atividades das coordenadores dos 1990, éum ehoje anos dos carioca funk do geração na so suces fez que Rap, do “o Força MC”. grupo do integrante foi Ele forte”, mais relata. abolsa eseguram ônibus no te veem pessoas As recebidos. ser vão como sabem não porque vão não simplesmente eles almoçar, mas pra anamorada com sair restaurante, num ir de condições até tem que meus amigos vestir. Tem me de modo vários no cabelo, no pele, minha da cor na Está calçada. de muda “Toda alguém eracismo. vez preconceito enfrentam moradores os favela, da fora circular ao que, aponta Ele àcidade”, acesso de reflete. falta étambém Isso informação. de falta é, pela ele que oartista sabe não nele, isso reconhece não mas 10 de desenhista, e12 ótimo éum moleque que aqui anos “Existe à cidade. relação em favela de populações das exclusão da arealidade erevela Acari, de morador Rap, do Pingo MC cultural, mano”. eprodutor rapper édo égravíssima, parada Afrase Essa museu. ou cinema praia, na cidade, da centro no ir para daqui fazer?”, indo mora?está você Oque conta. Onde vai? você onde Para Perguntam: éaberta. bolsa a nossa operação, tendo e está daqui Toda sai a gente que vez passaram. já que situações inúmeras de falam “Eles comunidade. da jovens dos discurso no violência da abanalização estuda ela curso, de de conclusão monografia Emsua Rita. estudantes”,dos ressalta especificidades eas necessidades as compreende não maioria “Parece brincadeira, mas tem moleque que nunca saiu saiu nunca que moleque tem mas brincadeira, “Parece Por onde passa nas ruas de Acari, Pingo é reconhecido como como é reconhecido Pingo Acari, de ruas nas passa onde Por FORÇA DA FAVELA vida eauniãonascomunidadesperiféricasé tema marcante dassuasletras doMCPingo “Nosso timeébom.Sófaltaserunido”:a do Rap,morador deAcari

EDUARDO DE OLIVEIRA - nunca vai se render. se vai nunca favela da apoesia luta”, na Pingo, Para continuo que completa. dizer omelhor, posso fazer só tentando Cultural, Centro um de dentro está que eperiférica, popular cultura da “Como alguém ruas. edas favela da aforça calar “mordaça” vai de não tipo esse que écalado”, forma considera ele Mas alguma de reflete. abriga, ecomprar acara colocar de coragem essa tem alguém que Sempre afora. Brasil favela qualquer éem Acari, em é só Não calado. eficar chicote. do Você apanhar É alei que tem funk. de rodas algumas em esteve já ela bloco, num tocamos Nós aMarielle. “Eu otema. conheci sobre silenciar possível era Franco, não Marielle vereadora da assassinato do depois dias caça”. de Dois narrativas das heróis os sempre serão caçadores os histórias, próprias suas as “Até inventem africano: leões os que provérbio um grafado estava Cultural, Centro do andar segundo no funciona que Faveleira estamparia pela produzida camiseta, com a vida”, paga você fala, você Em sua Se sofre. pontua. favela a que a violência chicote”. denunciar nem pode não você “Hoje opressora” e ausente tempo mesmo é ao “A emblemática: Estado do força frase com uma de madeira na beira do rio faltando luz?”, questiona. E completa Barracos potável? é totalmente água Nossa doenças? tantas tem que Por mano. aqui, violência de tipos os todos sofremos Nós negligenciadas. doenças as aberto, acéu éoesgoto hoje ruas, nas obarro era Antigamente vendo. está você que aqui isso foi sempre éfavela, favela que “Desde à cultura. moradores dos o acesso garantir para luta que artista um como comunidade sua em vive ehoje ofunk com sucesso fez que Acari de menino do atrajetória emarcou arte sua em presente esteve sempre favela na Avida amúsica. descobriu cedo emuito sinal no bala vendendo trabalhou já que conta Pingo perto”. 39 anos, Aos avó por minha ter de vontade que /Ai certo. deu que acho eu “A tive eu letras: que suas em aparece criação também que ção, respirar”, aqui destaca. isso fazer para conhecimento, seu e do si de tudo dando tempo, oseu doando um Écada privado. ou governamental órgão nenhum ragem”. de ajuda temos não “Nós “na co ena viram cara se voluntários os que conta ele Cultural, Centro do atividades as manter pesado.” Para pegou já aí burros, Até concordo que não somos estudados / Mas achar que somos “A DOESTADO FORÇA ÉAO MESMO TEMPO AUSENTE EOPRESSORA”TEMPO Para ele, todo o grito do favelado é tratado na “lei do do “lei na étratado favelado do ogrito todo ele, Para sua em forma da avó ainfluência narra ele conversa, Na RADIS 187•ABR/2018 03/04/2018 11:41:10 [21] - - Radis187_felipe.indd 22 reflete. Thiago Taif aceitou o convite de Thiago o convite aceitou reflete. Taif forma”, certa de toca cores eas aarte com têm eles que visual comunicação Aquela grafite. fazendo estou quando idosos e dos adultos dos crianças, das o olhar é mais “O cativa me que arte. sua de viver em sonha hoje mas Aeronáutica, da rua”. militar foi anos, seis Por da é na realidade “O dizer: grafite de cansa não ele galerias, como espaços, outros para arte sua levando mesmo e, aFrança visitou oficinas, ministrou eventos, de participou Já fascinou. se e criança ainda o grafite mesmo mês”, conta, sorrindo. Thiago Taif conheceu eno dia mesmo no aniversário faz agente completar, “Taip”: como é conhecido “Tal Tal pai, filho”. “Para pai o muros, nos “Taif” assina ele Enquanto grafiteiro. também Ivan, pai, do passos os segue ele pois tada, coincidência torna a sua ainda trajetória mais inusi o “cara como grafite”. do vive uma onde Na realidade, lugar do ruas nas éreconhecido (RJ), Caju do região na Esperança, Boa comunidade da morador anos, U você como um líder, um como exemplo”,você Thiago. um completa para olham pessoas as visão, essa perdeu ou tem não que comunidade, essa para arte traz você “Quando Plauska e do fotógrafo Eduardo Oliveira, da da Oliveira, Eduardo fotógrafo edo Plauska Felipe designer do oapoio com ainda contou trabalho O Caju. do favela na praça uma de entorno no muro o pintaram RJ), (de Niterói, Aze Diego e parceiro, amigo e, seu com junto edição desta acapa ilustrar POR TRÁS DA POR TRÁS vai ter oficina pra gente pintar?” O artista de 25 pintar?” artista gente O pra oficina ter vai quando “Tio, Thiago: para pergunta criança ma CAPA... Radis Radis para para - .

EDUARDO DE OLIVEIRA as suas precariedades. Há uma leitura sobre a paisagem dentro dentro a paisagem sobre leitura uma Há precariedades. suas as carências, suas as seriam oque substantivado tem sempre favela carente”, como geral em “comunidade mídia da a adefinição seja precário”, seja a definição doIBGE de “aglomerado subnormal”, de Cidades “assentamento das Ministério do adefinição Seja seria. não que do partir a sempre édefinida Afavela precariedade. da ausência, da paradigma um de apartir épensada afavela que em difundida muito representação auma acrítica fazer era doutorado de tese Favelas minha de eda Observatório do O pressuposto dela? fora de favela da tem se que éavisão Qual Favelas. de UFF, da éprofessor oObservatório também que amigo um Barbosa, e, 2001, em com o Jorge junto fundei organizações várias de Participei urbano. do âmbito no pensam entender por que agem as como pessoas agem, pensam como basicamente tentando Eu trabalho sociais. práticas as pensam que e pesquisadores intelectuais dos da maioria distintas formulações construindo fui disso Apartir diferenças. minhas as são essa origem, éminha essa mas eeconomicamente, social Eu ascendi favelado. ser de orgulho UFF. na etenho entrei favelado quando Sou favela na Eu morava trabalho. do central oeixo era estratégia, que de apartir conseguiam, nós de alguns que epor isso Discutir sidade. univer à chegar de grande muito dificuldade uma tinha periferia de geração minha a Definitivamente, universidade. na a entrar bisnetos, e netos avó, filhos, minha entre da descendente primeiro o fui e nordestinos migrantes de filho Janeiro, de Rio do periferia da família uma de membro Eu sou trajetória. aminha com aver muito — tem outros?” e não uns que — “Por doutorado de tese A minha eintelectual? afetiva trajetória sua marcou afavela Como moradores, principalmente de seus jovens”, destaca. seus de participação da a partir ser que tem favelas nas público espaço do regulação de forma “Qualquer auniversidade. acessar para favela de jovens de aluta aborda doutorado, de tese sua de livros, “Por que uns e não outros?” (Editora 7 letras, 2003), oriundo seus de Um epreconceitos. estigmas com fora de vistos espaços, esses sobre olhares os e ampliar favelas nas locais pesquisadores formar de o desejo estava horizonte, No amigos. de grupo com um 2001, em Favelas, de junto Observatório do fundadores dos um foi de Janeiro, e ex-morador da Maré, o filho de migrantes nordestinos Rio do norte zona na Pina, de Brás de comunidade uma em Nascido à tem”, ela oque ver etentar entrevista em defende, carência eda ausência da odiscurso com éromper potências suas de partir a afavela “Pensar (UFF). Fluminense Federal Universidade da fessor pro eatualmente (PUC-RJ) Janeiro de Rio do Católica Universidade Pontifícia pela edoutorado com mestrado pública, universidade em formado geógrafo desse vida de earazão otrabalho aser passou potência” da “paradigma de batizou que outra por precariedade D FAVELADO SOU ORGULHO ENTREVISTA Para outros, vidas em sua potência. Superar a visão da da avisão Superar potência. sua em vidas outros, Para ecarências. pobreza de amontoado um uns, Para veem?” olhos “O seus que visitantes: aos perguntava eSilva Souza de Jaílson Maré, da favela na casa, antiga sua de a laje

| Jaílson de Souza eSilva de Souza | Jaílson COM 03/04/2018 11:41:12 Radis - - . FAVELADO SOU ENTREVISTA

| Jaílson de Souza eSilva de Souza | Jaílson COM Radis187_felipe.indd 23 a polícia e o Exército entram e só veem ali o que há de risco. risco. de há oque ali veem esó entram eoExército a polícia quando faz se que coisa Éamesma formais. mais critérios de a partir a beleza a pensar acostumado está porque reconhece não você que belezas de conjunto Éum ecrianças. jovens de imenso número do causa por presente faz se vezes muitas que aalegria aintensidade, afesta, público, espaço do regulação de formas novas produzirem pessoas dessas a capacidade diversas, mais as brincadeiras de a invenção solidariedade, da a beleza aqui”. têm Avida, beleza de tipos quantos perceber conseguem não que domesticados olhos seus são “Feios Eu né?” falei: feia, muito “É efalou: andar terceiro no chegou favela, na entrado tinha nunca ela Maré, na casa, minha na foi amiga uma vez Certa tem. ela oque ver etentar carência eda ausência da odiscurso com éromper potências suas de potência”. apartir afavela Pensar da “paradigma de chama agente oque foi aorganização com construímos e que isso enfrentar de tem a gente que A forma direitos? por eluta criatividade cia, resistên de espaço como afirmar se pode a favela Como eles. para política uma efetivamente produzir de Estado do incapacidade pela atingidos profundamente são favelas das moradores os que em perverso processo um Ocorre eprecária. perigosa eabsolutamente inferno um avida tornando Estado, do segurança de forças pelas extermínio do lógica da partir a são combatidos que drogas, de traficantes principalmente específicos, criminosos grupos gera privatização essa privatizada, seja aregulação com faz processo esse acidade, toda de público espaço do regulador de papel oseu efetivamente cumpre não OEstado vicioso. círculo um Vivemos extermínio. do guerra de processo um gera se que em incursões ede Estado do parte por combate de formas surgem daí, A partir espaço. desse controle tráficodedrogas asde e asmilícias formas definindo terminam o criminosas, facções as Eaí público. espaço do regulação da privatização de processo um a entregues ficam efavelas periferias das maioria ea imensa dominantes, classes das cidade, da espaço determinado em “cidadela”: de regras as ideia egarantir proteger a com trabalham brasileiras cidades grandes as pois complexo, é mais isso pública, segurança da campo no Em particular plenos. cidadãos como moradores seus reconheçam que favelas as para públicas políticas gente constrói a é como fundamental O desafio do crime”? “espaço como apenas a favela encara que pública, rança segu de política na reflete se “seletividade” essa Como valorização. asua mais ainda favorece só oque ricas, mais áreas as para vai parte amaior que em públicos, recursos dos utilização de perversa profundamente lógica uma Existe investimentos. menos de espaços os àfavela destinados eram sempre que em política uma produzindo se foi Historicamente cariocas. favelas das dentro Culturais, Lonas chamadas as como e localizados, pontuais muito e outros cidade da nobres áreas em envergadura grande de projetos fazem se que em tempo mesmo dores por aquela falta de manutenção, por aquelas condições. Ao mora os eresponsabiliza-se destruída está ela depois meses Seis manutenção. de tipo nenhum sem favela da dentro praça uma fazer se comum Émuito precariedade. de sistemático processo um de sempre apartir públicas políticas esuas afavela pensar de uma forma define carência eda ausência da paradigma Esse com seus moradores? relaciona se público opoder como eaforma urbanas políticas as define afavela” “ver de modo esse Como dominantes. das classes mais ricas, das classes espaços os formal, seriam que organização da normalidade, da dentro está não que aquilo sociocêntrica: de chamo eu que visão uma de vêapartir se só enela favela da - - - Por isso, n isso, Por juventude. da especialmente favelas, das moradores dos diana coti avida permeia que cultural criação de invenção, de cidade capa essa Afirmar potência. essa afirmar é principal O desafio favela? da espaços os Como as práticas e populares podem ressignificar saberes espaço urbano. no estigmatizados mais os ejovens, pretos basicamente são que Especialmente falando porque estamos de uma população negra, mais do que qualquer outra coisa. Então ela é inaceitável. (LFS) éinaceitável. ela Então coisa. outra qualquer que do mais federal, governo do apopularidade melhorar é principalmente Eoobjetivo pública. segurança da campo no está Não política. estratégia uma tudo de éantes intervenção Essa atuação. de eixo seu como extermínio de alógica tenha não eque criminosos) moradores, dos agentes de segurança e dos próprios jovens (dos todos de àvida odireito respeite que prazo, alongo cia, inteligên de trabalho um fazer de Temguerra. necessidade uma ser pode não pública Asegurança pública. segurança na cabe não que guerra, de a com lógica principalmente e trabalha geral em moradores dos direito o viola eficiência, nenhuma eficácia, nenhuma tem não engodo, éum Janeiro, de Rio no vivemos nós éa13ª militar que intervenção de tipo Esse saída. asua após ainda mais fortaleceram se eprincipalmente agindo, lá, estavam traficantes jovens os Armadas, Forças das com apresença Mesmo fracasso. verdadeiro um revelou se ela processo enesse milhões 600 R$ de mais gastando Armadas Forças das homens 2 mil mais de ostensiva apresença Houve forte. muito foi impactante, 2014 de [abril Maré na 2015] de ajunho A intervenção muito foi favelas? nas vive Qual é o impacto da militar na intervenção vida de quem sustentassem. se elas que permitiu não efetivamente eisso favelas das “donos” novos os ser queriam comandantes Os pública. à segurança moradores seus de odireito garantir que do oespaço mais controlar em preocupação foi a de Polícia Pacificadoras] [Unidades das UPPs fundamental Oerro jovens. seus de principalmente moradores, seus de participação da apartir ser que tem favelas nas público espaço do de regulação forma Qualquer cidade. da figuração econ representação de central lugar um assumem Elas centros. tornam se periferias as mais vez Cada periféricos. espaços como favelas as pensar equívoco éum Então centrais. tornam se mais vez cada manifestações outras tantas e passinho o o hop, grafite, ohip ofunk, Hoje cidade. da artísticas atividades edas cultura da vista de ponto do impacto tanto produzam e que favelas nas ão é casual que que écasual ão existam tantos projetos da juventude juventude da projetos tantos existam RADIS 187•ABR/2018 03/04/2018 11:41:13 [23] - - - - CAROLINA ALEIXO Radis187_felipe.indd 24

AGÊNCIA BRASIL [24] guerra: guerra aos pobres e aos negros. negros. eaos pobres aos guerra guerra: aessa nome 13. dava dia ela no Franco ia, que lugar todo Em guerra acabe?”, tuitou a vereadora do Rio de Janeiro Marielle essa que para morrer precisar vão mais Quantos igreja. da saindo estava Melo Militar. Matheus Polícia da a conta para entrando estar pode que jovem um Homicídios”.“Mais de de homicídio um Divisão pela investigado sendo “o eque está baleado” caso sido teria Castro de Melo Matheus que de informados foram “policiais que afirmando seguinte, dia no nota, divulgou Manguinhos Cruz 2013. desde Oswaldo Fundação da seletiva coleta de agente eera namorava pais, os com morava anos, 23 Tinha resistiu. não Matheus mas vigília, em até aUPA, correram igreja da eamigos familiares entre pessoas, cem de Mais Atendimento. Pronto de Unidade —até uma mão de —carrinho “burrinha” uma em levado local; pelo passavam que desconhecidos por socorrido foi vivo, Ainda pilotava. que amoto parar ele para ordem dado teriam não que policiais, dos partiram disparos os que Testemunhas afirmam tórax. eno braço um em tiros, dois por atingido ser ao chão ao foi Matheus viatura. uma havia Câmara, Hélder Dom Avenida “obreiro”. era que em Fé, da na caminho, do Missão meio No Evangélica Igreja — da jovens de reunião de — espécie fúgio” “re um de participar de depois Janeiro, de Rio do norte zona na VIDAS QUEVIDAS NÃO Matheus Melo de Castro voltava para casa, em Manguinhos, Manguinhos, em casa, para voltava Castro de Melo Matheus O comando da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) de (UPP) Pacificadora Polícia de Unidade da O comando RADIS 187•ABR/2018 DA NOITE 12 DEMARÇO,10hDA Sob argumento de combate à violência, combate à argumento de Sob BRUNO DOMINGUEZ BRUNO Estado mataEstado jovens negros epobres

- Akari segundo o qual, na manhã na oqual, segundo Fala Akari coletivo do página importam”. favelas nas “vidas ahashtag adicionando escreveu, pior”, ainda ficou a intervenção ecom sempre desde Acontece Hoje a polícia andou pelas ruas ameaçando os moradores. valão. um em ejogados mortos foram jovens dois semana Nessa acontecendo. está oque saibam todos que para gritar aterrorizando e violentando moradores de Acari. “Precisamos estava Barros, eCosta Carvalho de Vicente Pavuna, Irajá, de bairros os cobre que Janeiro, de Rio do Militar Polícia branco”. jovem um de amorte que do asociedade menos choca negro jovem um de “a violenta que de morte a afirmação com concordam não brasileira 56% é uma só impressão: da população essa que confirma Federal Senado edo (Seppir) Racial Igualdade da de Promoção de Políticas Especial da Secretaria Pesquisa Vivo. Negro Jovem acampanha organizou anos três por que Internacional Brasil, da Anistia diretora executiva Werneck, Jurema cidade”, da artigo em nobres mais compara áreas de morador branco, jovem um ade que do menos valesse negro jovem um de avida se Écomo enaturalizadas. zadas banali sendo terminam eperiferias favelas em vivem que 2017. de novembro em negros jovens de “Tantas mortes Unidas Nações pelas lançada Negras, com Vidas a campanha acordo ano, de um em mil 23 ou dia um em letal violência pela perdidas negras 63 vidas somando gro é assassinado, ne jovem um minutos, 23 Acada Matheus. como negras IMPORTAM? Sete em cada dez pessoas assassinadas no Brasilsão assassinadas pessoas dez emSete cada Mais cedo, Marielle No dia 10, Marielle morte violentadeumjovemnegro chocamenos Alvo: 56%dosbrasileiros concordam quea já já havia republicado um relato da relato um republicado havia já alertava que o 41° que da alertava Batalhão do queamortedeumjovembranco

03/04/2018 11:41:15 - - Radis187_felipe.indd 25 humanos e peladefesadosdireitos ruas porinvestigaçãoimparcial Anderson levoumilhares às Execução deMariellee corpos de faveladas efavelados”. faveladas de corpos os controla que a“mão como Estado do comunidades nas militar a ocupação tratando Pavio, à agência entrevista em confronto”, um de aiminência fevereiro, em avaliou, carne nossa na corta desespero, esse medo, Maré. da “Esse favela na crescer ao pequena desde testemunhou ela que policial, àviolência ocombate marcas das uma como tinha Marielle de Omandato pública. segurança na federal a intervenção acompanhar para Rio do Vereadores de Câmara na criada bradou a vereadora, recém-eleita relatora de uma comissão jovens”, nossos matar de Chega apopulação. esculachar de Chega a com intervenção. forte mais ainda opera e agora Janeiro de Rio do Militar aPolícia operou sempre que É assim lá. estava terror”, quem narrou desespero, medo, muito de foi Odia também. nós de cima em atiravam moradores, dos casa na oalto, atiravam para Atiravam disseram. eles almas, não”. “só bandido levar matar Equeriam queriam não que também Disseram palavras. terror, essas com sim, tacar para de moradores. Andavam pelas ruas gritando que tinham vindo a identidade e fotografaram critério o menor sem casas muitas mais à noite. de Quebraram moradores. Invadiram portões logo obaile, ocorresse que permitir iriam não que “Disseram caveirões. três com toda afavela ecercando atirando 6h, das volta por comunidade, na entraram policiais sábado, daquele caminho, a essa altura, o mundo inteiro sabe. inteiro omundo altura, aessa caminho, no havia Oque Rio. do centro do bairro Lapa, na localizado convivência de espaço Pretas, das turas”, Casa na organizou que estru movendo “Jovens negras conversa de roda da participar “O 41° Batalhão é conhecido como ‘Batalhão da Morte’. da “O ‘Batalhão como 41° éconhecido Batalhão Marielle Franco voltava para casa, na , depois de depois Tijuca, na casa, para voltava Franco Marielle DA NOITE 14 DEMARÇO,10hDA

- comunidades. das dentro popular emobilização comunicação de coletivos de do surgimento a importância Daí destacou inimigos. favelas são das moradores os que de narrativa dessa construção na mídia grande da acontribuição para aula na alertou Salles Vivi Deus, combatidos”. ser devem que inimigos potenciais como eperiferias, favelas de moradores eos negros os especial em jovens, vêos que militarizada, policial força uma de Trata-se vida. da preservação na e não enfrentamento, e no são pública marcadas por operações policiais operações por marcadas pública segurança de 18,2%. de “As aumento políticas houve negros os entre 12% de queda teve não-negros, os para 100 habitantes mil por a2015, 2005 homicídios De de ataxa questão. enquanto à enecessária” adequada aresposta dê se não que com fazem oracismo, e, eles, com junto eàpobreza àjuventude associados nazista. Alemanha da racial higiene de políticas as para base de serviu que médica) ética de (professor Hoch eAlfred penal) direito em (especialista Binding Karl alemães dos artigo citando vividas”,serem observou, de indignas vidas de ou matáveis, vidas de conceito do dentro éinimigo, ali mora quem que de construída aimagem Reforça favelas. as para apontados sejam efuzis canhões que autoriza drogas das drogas. às proibição guerra é a“A define, mesmo ele como negra, juventude da massa” em encarceramento e de 12 em março. de Venâncio (EPSJV/Fiocruz), Joaquim Saúde de Politécnica Escola da Saúde de Comunitário Técnico Agente em Curso do letivo ano do abertura na disse, velada”, barbárie essa institucionalizar de éatentativa tervenção Ain efavelados. negros matar para branca carta teve Sempre favelas. das casas “A violou sempre polícia eperiférica. negra a população contra força da o uso é justamente Brasil no polícias das Zaccone, características uma dasJaneiro Orlando principais econtraprodutivas”. inaceitáveis são e negras pobres pessoas emarginalizam miram que repressivas “Respostas feita feita ser jamais deve não pública “Segurança Rio. no a intervenção de Marielle e Pedro do criticaram motorista Gomes, Anderson e imparcial rápida do assassinato de uma investigação lização area pedirem de 26 em além março, de qual, no comunicado (ONU), Unidas das Nações emitiram dahumanos Organização de especialistas independentes em monitoramento dos direitos às custas Socióloga e ativista do Movimento Resistência Cidade de de Cidade Resistência Movimento do eativista Socióloga Jurema também destaca que “os estereótipos negativos negativos “os que estereótipos destaca também Jurema extermínio de a“política hoje legitima oque Zaccone, Para de Rio do Estado do Civil Polícia de delegado do análise Na Os integrantes do Procedimentos Especiais, maior órgão órgão maior Especiais, Procedimentos do integrantes Os REPRESSÃO OUDISCRIMINAÇÃO? de direitos humanos”, afirmaram. E completaram: humanos”, E completaram: direitos de afirmaram. são focadas na repres na focadas 03/04/2018 11:41:16 - - - MÍDIA NINJA O Papo Reto é uma dessas experiências. Coletivo de comunicação independente criado em 2014 por jovens moradores dos Complexos do Alemão e da Penha, divulga pelo Whatsapp e pelo Facebook notícias de dentro do morro — eventos, protestos, reivindicações, alertas de confronto. “Para a grande mídia, tudo o que acontece na favela está relacionado ao tráfico. Mas em apenas um mês os moradores da nossa comunidade ganharam 26 medalhas — do Mundial de Judô ao concurso de melhor barbeiro do Rio. Se a gente não fala disso, ninguém mais vai falar”, avalia o museólogo e capoeirista Thainã de Medeiros. O coletivo segue a metodologia do “nós por nós”, que para Thainã é uma das características da vida nas favelas. Se o Estado não provê água, eu chamo um vizinho encanador. Se o Estado não me fornece luz, chamo um vizinho eletri- cista. Se não tem creche, deixo meu filho com um vizinho enquanto trabalho. Na comunicação, já que o dia a dia da comunidade não ganha os jornais, os próprios moradores se comunicam em um chat sobre o “zilhão de coisas” que acontece a sua volta. “Nosso papel como comunicadores é fazer a curadoria dessa conversa orgânica, um recorte”, explica ele à Radis. A violência está sempre presente no papo, principalmente na forma de alerta para evitar as ruas durante troca de tiros. Morador do Alemão, Thainã já viveu sob ocupação militar — tropas federais ocuparam o morro em 2010. “Prometeram que íamos ter paz duradoura, mas o que tive-

mos foi medo durador”, lembra. O barulho de tiro diminuiu, BRASIL AGÊNCIA diz ele, mas o silêncio aparente nas ruas escondia outras violações: invasões de casas, assédio às mulheres, tortura.

PAZ OU SILENCIAMENTO?

“Paz sem voz não é paz, é medo”, cantou a banda O Rappa. E a voz do Fala Akari, que atua denunciando as violações de direitos na Favela de Acari, está ameaçada. Procurado pela reportagem da Radis, um integrante do coletivo relatou medo de se pronunciar. Uma coletiva de imprensa chegou a ser marcada para 26 de março, mas foi cancelada por questões de segurança. Em nota, o grupo informou que alguns integrantes acharam prudente se afastar do território, diante de diversas ameaças, mas sem deixar de continuar apontando os abusos na região, em especial os do 41º Batalhão. “Sofremos com a política genocida e racista praticada pelo 41º BPM e seguimos denunciando suas práticas ilegais. Afirmamos haver um genocídio do povo negro. O pretexto de guerra às drogas resulta na criminalização das favelas, não só sob responsabilidade deste batalhão, mas de toda a cidade”, diz o texto. O 41º Batalhão foi criado em junho de 2010 e logo se tornou o mais letal do estado do Rio de Janeiro. Segundo o Instituto de Segurança Pública, desde 2011 a unidade soma 567 homicídios em supostos con- frontos. Em janeiro deste ano, 41% das mortes violentas na região de Irajá, Pavuna, Vicente de Carvalho e Costa Barros foram de autoria dos policiais ali lotados. O coletivo denuncia não só as execuções, mas um “combo de abusos” nas incursões, com invasões a domicílios, furtos de pertences pessoais, depredação de patrimônios dos moradores e a prática da “tróia” — ato de se esconder em alguma casa para efetuar disparos sem que ninguém suspeite de presença policial no local. A im- punidade é outro fator que alimenta o ciclo da violência: apenas 8% dos homicídios viram um processo judicial, de acordo com o Conselho Nacional de Justiça.

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Radis187_felipe.indd 26 03/04/2018 11:41:16 Portas fechadas: ausência de acordo da sociedade sobre forças policiais

AGÊNCIA BRASIL AGÊNCIA gera medo e insegurança

GUERRA ARTIFICIAL na segurança pública. Reproduziu o que havia nos anos de chumbo. Não há normatividades, não há definição do que se Professora do Departamento de Segurança Pública da pode e não se pode fazer. Se não estão escritos e publiciza- Universidade Federal Fluminense, a antropóloga e cientista dos os métodos e procedimentos, como podemos controlar política Jacqueline Muniz resumiu esse cenário com didatismo as polícias? Como podemos saber se estão atuando mais ou em debate promovido pelo Sindicato dos Servidores de Ciência, menos, bem ou mal?” Tecnologia, Produção e Inovação em Saúde Pública (Asfoc-SN), A sociedade brasileira, na opinião de Jacqueline, passou na Fiocruz, em 9 de março: “Existe um circuito perverso de um “cheque em branco”, deu um “mandato em aberto” para fabricação artificial de crises de segurança pública. O Estado as forças policiais. A promessa de proteção levou à adesão de mente que há uma guerra, mas não há uma guerra concreta acordos precários, que incluem a exclusão social e afirmativa porque não tem exército do lado de lá. Assim, não há vitória – o muro, a cancela, o guarda do condomínio, o cercadinho nem derrota, e a população se mantém enganada em uma VIP. Diante da ineficácia para prover a segurança de todos, se cortina de fumaça”. introduziu o medo como conselheiro, a violência como moeda Jacqueline foi diretora do Departamento de Pesquisa, de troca e o terror como horizonte. “Tudo passou a ser visto Análise da Informação e Desenvolvimento de Pessoal em como ameaça: a favela, o jovem negro, o cabelo com dread.” Segurança Pública do Ministério da Justiça e atuou como A antropóloga indica que a intervenção no Rio de Janeiro coordenadora setorial de Segurança Pública, Justiça e Direitos não surgiu do nada; e, sim, foi recebendo autorizações no co- Humanos e como diretora da Secretaria de Segurança Pública tidiano. “Houve um clamor para ‘alguém’ fazer ‘alguma coisa’. do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Ela participou em Mas ‘alguma coisa’ não é ‘qualquer coisa’, feita por ‘qualquer 2003 da elaboração da proposta de criação de um Sistema um’, porque segurança diz respeito às nossas vidas”, observa. Único de Segurança Pública (SUSP), nos moldes do Sistema Jacqueline lembra que a polícia foi inventada nas democracias Único de Saúde (SUS), que foi então engavetado e só voltou para substituir a presença do Exército nas ruas e garantir os a ser discutido após o anúncio da intervenção. O texto, que direitos individuais, e não para violentá-los. visava estabelecer uma estrutura federativa, acabou mudado Os abusos por parte das forças policiais minam a confiança para basicamente chancelar operações policias continuadas. da população e elas vão se tornando estrangeiras em seu próprio A antropóloga opõe o conceito de segurança – pública, território. Quando o soldado passa nas favelas, as portas vão se de todos para todos – ao de proteção – particular, paga por fechando, as pessoas olham com medo, não há um reconhe- alguns. Na Constituição de 1988, diz, em vez de enfrentarem a cimento de sua legitimidade, observa. Jacqueline conclui que reforma da segurança pública, estruturarem e organizarem as o “consentimento” — o sentir junto — é o que distingue a forças, valorizarem os profissionais da polícia e democratizarem polícia como recurso democrático a sustentar os direitos indi- os mecanismos de controle interno e externo, os deputados viduais de bandos armados a mais, criminosos ou com nome procuraram a via mais fácil, da sustentação indefinida de de polícia. “Quem não sente a dor dos outros e abandona a ameaças. “A Constituição avançou em muitos aspectos, menos dor de si não é capaz de pensar ou produzir segurança.”

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Radis187_felipe.indd 27 03/04/2018 11:41:17 TUBERCULOSE

Liseane Morosini

a varanda da casa de poucos cômodos, o pernambucano Moisés Nascimento ouve as recomendações da equipe de saúde. Vez por outra responde com a voz abafada pela más- cara protetora para evitar a contaminação do Bacilo de Koch, bactériaN da tuberculose que se desenvolveu em seus pulmões. Tempos atrás, a doença primeiro levou seu avô, depois seu pai. ATENÇÃO TOTAL A mãe Solange e a avó Clarice acompanharam de perto o sofrimento e não querem ver a história se repetir. Para não morrer da mesma forma, Moisés tem consciência do único caminho a percorrer: fazer o tratamento gratuito prescrito pelo SUS até o final, e seguir as orien- tações dos profissionais da Unidade de Saúde da Família (USF) Sítio das Palmeiras, que fica no bairro dos Torrões, onde mora no Recife. Moisés é papeleiro e, antes da doença, sobrevivia fazendo pe- quenos biscates. No final de 2015, com tosse recorrente, cansaço e perda de peso, confirmou o diagnóstico. Seguindo o protocolo padrão, o tratamento indicado duraria seis meses. Mas, como tantos doentes em condição de extrema vulnerabilidade, ele começou a se sentir bem e parou de tomar os comprimidos de antibióticos que matam a bactéria em seu estágio inicial. Como não estava curado, a doença voltou mais forte e o retratamento será de no mínimo um ano e meio. Aumentar a adesão ao tratamento é um desafio para os serviços de saúde em geral, já que o abandono deixa a bactéria mais resistente aos antibióticos, dificultando a cura. Para Moisés, além dos comprimi- dos, agora há também injeções que são fornecidas pelo Hospital Otávio de Freitas, referência estadual para atendimento de pacientes com tuberculose. O tratamento é forte, provoca reações adversas, e por isso é importante que o doente se sinta amparado. “A família apoia, e isso é importante. A gente está aqui também como família deles. Temos que ter um papel bem ativo e próximo”, recomenda a médica Fabiana Alheiros, que integra a equipe da USF Sítio das Palmeiras.

SITUAÇÃO VULNERÁVEL

A tuberculose é uma doença infecciosa, transmitida por uma bactéria que afeta principalmente o pulmão e pode atingir também laringe, ossos, pleura, pele e sistema nervoso, entre outros. A forma pulmonar é a que mais preocupa a saúde pública, já que o contágio ocorre quando o doente espirra, tosse ou fala. Fortemente associada à pobreza, a doença tem suas chances de propagação entre aqueles que vivem em situação de vulnerabilidade, como pessoas em situação de rua ou vivendo com o HIV, além de indígenas e presidiários. Moisés se enquadra nos padrões de vulnerabilidade. O bairro dos Torrões, onde ele mora, é uma zona empobrecida, com alto déficit de saneamento e com muitos moradores vivendo em condições precárias. Felizmente, a casa de Moisés tem janelas e recebe a luz do sol, como a reportagem da Radis pode verificar, quando acompanhou a visita da equipe de saúde, em novembro de 2017. Vilma Guedes, enfermeira de família e então coordenadora Distrital de Tuberculose, disse que esse é um ponto positivo no caminho de cuidado e cura de Moisés, já que o bacilo se desenvolve melhor em locais úmidos, pouco iluminados e ventilados naturalmente, e também em ambientes superlotados. Agente comunitária de saúde, Mitiam Alcenir acompanhou de perto a história de perdas protagonizada por Moisés e sua família, na luta contra a tuberculose. “Olha, eu não queria perder mais um”, desabafou, informando que ele já é considerado multidrogaresis- tente [TB-MDR]. “É um paciente que vai todo dia à unidade e vem sendo acompanhado clinicamente”, contou, sem perder a esperança na possibilidade de cura. “Estamos fazendo de tudo para que ele se recupere. E ele vai se recuperar”. Em Pernambuco, desde 2011, existe o Programa Sanar, da Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), cujo objetivo é controlar e reduzir os índices

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Radis-carol-187.indd 28 02/04/2018 17:08:41 TUBERCULOSE A TENÇÃO TOTAL ATENÇÃO Radis-carol-187.indd 29 saúde primáriaparatentarfrearoavançodadoença Em Pernambuco,programaseaproximada

rede de 02/04/2018 17:08:43

EDUARDO DE OLIVEIRA TUBERCULOSE. da doença. O foco do programa é o enfrenta- integral às pessoas. “Nós precisamos saber o mento de doenças negligenciadas, com atenção que o paciente encontra na unidade, quais É BOM SABER direcionada. Além da tuberculose, engloba a são as condições, se a equipe está preparada hanseníase, esquistossomose, geo-helmintíase, para recebê-lo, se é possível realizar exames e filariose, leishmaniose visceral, doença de Chagas como é o encaminhamento”, relatou Marília. O QUE É? e tracoma. Para a SES-PE, o estado inova com As informações colhidas nas unidades ge- Doença contagiosa, curável, o Sanar, já que a política prevê enfrentamento ram um relatório em cada um dos municípios, mas até fatal se não for tratada das doenças de forma integrada. “Pernambuco contendo recomendações para a melhoria dos adequadamente. tem índices inaceitáveis dessas doenças e pre- programas. A enfermeira explicou que uma cisamos mudar esse cenário. Na tuberculose e segunda visita é feita três a quatro meses depois QUAIS SÃO OS SINTOMAS? hanseníase, o Sanar é uma ação complementar do primeiro contato, quando a equipe do Sanar Tosse por mais de 3 semanas / aos programas, e atua no processo de trabalho verifica se as demandas e problemas apontados Cansaço fácil / Febre / Falta de de municípios considerados prioritários, com foram solucionadas. “Esse monitoramento é apetite / Perda de peso mais de 50 mil habitantes”, explica Alexandre importante para a gente observar se as de- Suor noturno Menezes, então coordenador do programa. mandas apresentadas anteriormente foram Ele informou à Radis que o Sanar integra resolvidas. Percebemos que esse é o tempo COMO É TRANSMITIDA? ações de vigilância epidemiológica, controle que o município precisa para se organizar. As Pelo ar. Quando o doente vetorial, apoio laboratorial, assistência aos pa- questões laboratoriais geralmente têm muitos tosse, fala ou espirra, espa- cientes e educação e comunicação em saúde entraves”, exemplifica. “Depois, a gente sai do lha gotículas no ar contendo de diversos setores das secretarias estadual e município, mas a ideia é que eles continuem o micróbio da tuberculose municipais, além das gerências regionais de com os protocolos”, disse. (Bacilo de Koch). As pessoas saúde. “Normalmente, as gestões estaduais respiram e o micróbio penetra são muito próximas dos coordenadores dos no organismo. programas. O Sanar vai muito além disso”, NÚMEROS ALTOS observou, explicando que a equipe do projeto O QUE ELA AFETA? trabalha diretamente na unidade de saúde Dos 141 municípios pernambucanos Os pulmões, mas pode ocorrer verificando se há condições para ela exercer o prioritários selecionados pelo programa em outras partes do corpo. seu papel, no que diz respeito a fazer buscas (76% do total), 15 recebem as ações para de doentes, tratar casos até o final e evitar ou tuberculose e hanseníase. Onze ficam na A TUBERCULOSE TEM CURA? diminuir o abandono no tratamento — seja de região metropolitana e registram a maioria Sim, se o tratamento de seis tuberculose ou de hanseníase. Isso, segundo dos casos. Entre 2015 e 2017, 373 unidades meses for feito até o final. ele, amplia o que é feito pelas demais políticas básicas de saúde foram alcançadas pelo Depois de um mês, os sinto- estaduais. Sanar. A Secretaria Estadual de Saúde divul- mas desaparecem. Mas não Além das ações de rotina executadas ga que investiu R$ 8 milhões na iniciativa e quer dizer que há cura. pelos programas específicos, o Sanar faz ativi- repassou mais de R$ 4 milhões diretamente dades de prevenção, diagnóstico e tratamento para os municípios, totalizando R$ 12 milhões COMO EVITAR A dos casos, e de capacitação dos profissionais. em recursos. TRANSMISSÃO? Segundo Alexandre, a metodologia permite Somente as unidades básicas que Cubra sempre a boca e o nariz que a equipe técnica dialogue com os profis- têm casos da doença e alguma pessoa em quando tossir ou espirrar e sionais que estão em campo, verifique como tratamento é que recebem a atenção do mantenha sua casa aberta, está o processo de trabalho e realize o treina- Sanar. “Nosso questionário é aplicado para com luz do sol e ar entrando mento sobre a vigilância dessas doenças. “Nós profissionais que sabem o que é o acom- pelas janelas. falamos sobre quais são os procedimentos panhamento de pacientes de tuberculose. de cada doença, que protocolos devem ser Uma unidade sem caso desconhece possíveis ONDE BUSCO AJUDA? seguidos, verificamos se há ou não condições problemas e as dificuldades que o paciente Procure o serviço de saúde mais de o diagnóstico ser feito na unidade”, exem- pode enfrentar durante o tratamento”, ob- próximo para realizar o exame plifica. Ele avalia que o resultado do trabalho serva Marília. A enfermeira salienta também de escarro (baciloscopia). traz ganhos para todos. “É muito bom para que uma “unidade silenciosa”, onde não o município e para a coordenação estadual há registro de casos, é muito preocupante, COMO É O TRATAMENTO? de tuberculose saberem o que acontece nas devido aos indicadores altos da doença no É todo feito no SUS. Os unidades. Isso faz com que as pessoas sejam estado. “No contexto epidemiológico local, é comprimidos são gratuitos. melhor acompanhadas pelos profissionais que estranho que exista uma unidade sem casos. A pessoa deve ingerir os atuam ali”, justifica. Se a equipe for para o território e buscar comprimidos diários e fazer Radis também acompanhou uma visita uma pessoa com tuberculose, acredito que visitas regulares à unidade de técnica da equipe do Sanar à Unidade de vá encontrar”, assegura. saúde. Saúde Caetés I B, no município de Abreu e Marília contou que as equipes são Lima, situado na região metropolitana do motivadas a atuar em conjunto. “O médico POSSO INTERROMPER O Recife. Durante uma manhã, a enfermeira também tem a função de registrar livro, fazer TRATAMENTO? Marília Barros Gomes conversou com inte- acompanhamento. Não é só o enfermeiro. E o Não. O abandono ou uso grantes de uma equipe de saúde da família agente comunitário de saúde é muito impor- irregular dos medicamentos para fazer o assessoramento técnico, e apli- tante na busca no território. Precisamos que podem tornar o bacilo mais cou um longo questionário para investigar, todo mundo esteja junto”, afirma. A agente resistente e estender o tempo entre outras questões, se houve aumento de Maria José Batista dos Santos participou da de tratamento. casos novos e como estava o tratamento dos reunião em Abreu e Lima, quando relatou o pacientes registrados nas UBS. Ela estimulou acompanhamento de um caso em sua área de Fonte: Programa Sanar/PE; a busca ativa de contatos de pacientes com tu- cobertura. “É de uma pessoa que veio de outro Ministério da Saúde berculose e reforçou a necessidade da atenção bairro e quando se mudou chegou à unidade.

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Radis-carol-187.indd 30 02/04/2018 17:08:44 No Recife, Fabiana, Vilma, Ariane e Mitiam seguem para a visita a Moisés: acompanhamento próximo faz diferença no tratamento de uma pessoa

com tuberculose DE OLIVEIRA EDUARDO

Eu monitoro a medicação, vejo se está tomando direitinho, faço Contudo, Jair Brandão, coordenador da ONG Gestos – os exames de acompanhamento e observo se o tratamento está Soropositividade, Comunicação e Gênero, discorda. Para ele, os evoluindo. É um tratamento cansativo”, classificou. Maria José disse indicadores mostram que a tuberculose ainda continua negli- recomendar que as equipes de saúde fiquem atentas. “Quando genciada. “Na visão da sociedade civil, apesar de a tuberculose percebo um paciente com sintomas de tosse, febre, questão res- estar em um programa de doenças negligenciadas, isso não piratória, oriento para que vá à unidade. E depois acompanho”. elevou seu lugar na saúde. Recife é uma das capitais com maior índice da doença e Pernambuco está com indicadores altos no coeficiente, na mortalidade e na incidência. Não acho que isso RANKING NACIONAL seja levado em conta”, afirmou, em conversa com aRadis . Para ele, é preciso que as UBS funcionem em localidades mais neces- Informações do Ministério da Saúde, de 2016, mostram sitadas. “Eu acho que tem muita gente capacitada, mas na ponta que Pernambuco ocupa o segundo lugar no ranking nacional em não conseguimos ver esse resultado. A capacitação é feita, mas número de mortes causadas por tuberculose (4,5 mortes para o problema é ter ambientes de saúde favoráveis para que isso 100 mil habitantes), o terceiro lugar em casos novos (49,6/100 mil aconteça. É fazer com que a população tenha acesso ao serviço habitantes) e o sexto em abandono. Entre as capitais, o Recife foi e informação disponível na sua linguagem”, opinou. o município que apresentou o maior risco de morte pela doença Ariane reconhece que o trabalho com a tuberculose é (7,7/100 mil). A cidade também contabiliza a maior mortalidade en- muito complexo. “Ele não envolve apenas o acesso a unidade tre os municípios do estado, com quase 95 casos para cada 100 mil de saúde da família ou à unidade terciária, pois é a condição habitantes. Sozinha, a capital concentra 35% dos casos em todo o de vulnerabilidade do usuário que faz com que ele abandone estado. Por conta destes números, a secretaria municipal de Saúde o tratamento. Infelizmente, ainda não conseguimos quebrar a implantou a metodologia de trabalho do Sanar no Recife, mas com cadeia de transmissão da doença”, diz. Mas a coordenadora foco em quatro doenças: tuberculose, hanseníase, filariose e geo- observa que já é possível identificar impactos no processo de -helmintíases. Coordenadora do programa municipal, a enfermeira trabalho. “Quando implantamos o Sanar Recife, havia unidades sanitarista Ariane Bezerra reforça que o objetivo do programa é o sem nenhum trabalho de prevenção e promoção da tuberculose. trabalho com profissionais de saúde que cuidam dessas doenças. Agora, seus profissionais vão ao território para fazer educação “É chegar e conversar. Explicar o que é a tuberculose, o que tem em saúde, busca ativa e mutirão de atendimento. Há, sim, uma de ser feito, como é o acompanhamento. Além disso, apoiamos mudança em curso. Por isso é que precisamos assessorar esse as políticas que trabalham com esses agravos. Estamos juntos nas profissional e monitorar os casos junto às unidades”. campanhas, nas atividades de promoção, prevenção, vigilância, monitoramos os indicadores epidemiológicos. E um contexto de ações para enfrentamento desses agravos de forma prioritária”, acrescenta. SAIBA MAIS Para Ariane, é preciso que os profissionais da atenção básica percebam que a tuberculose faz parte do seu contexto Plano Nacional Contra a Tuberculose – Ministério da Saúde, 2017 - https://goo. de trabalho. “A tuberculose era tratada de forma centralizada gl/pEsL6y por especialistas em centros especializados. Era da alçada da Boletim epidemiológico de Tb 2017 - https://goo.gl/wv7oXT referência. Agora não mais”, comenta. Segundo ela, a estratégia Programa Sanar - https://goo.gl/LRxooz de aproximação das unidades, apoio técnico e assessoramento é Na Radis realizada há quatro anos e, em sua avaliação, “é cedo para medir Edição 69, maio 2008 — https://goo.gl/JYg113 o impacto em curto prazo”. Edição 189, janeiro 2018 — https://goo.gl/igiuKD

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Radis-carol-187.indd 31 02/04/2018 17:08:45 Radis-carol-187.indd 32 O QUE HÁ DE NOVO NO FRONT são geográfica se dá”,se explicou. geográfica são expan essa que em écontexto sensíveis humanos não primatas ebuscando o Sul para migrando de mosquitos população da “Calor, explosão é diurno. chuvas, omosquito que vez uma o dia, durante florestas para desempenhar atividades que entrem nas pessoas ou quaisquer trabalhadores geralmente adultos, a de é suscetível mais eapopulação sistema, - ecos do desequilíbrio ao devido país, do litoral ao direção em doença da gráfica geo expansão uma anos dos longo ao havendo está que lembra Ele quisador. das temperaturas”,queda o pes criticou com a casos de número do sazonal adiminuição apenas era mas epidemia, da ofim ‘decretou’ Saúde da o ministro 2017, “Em vacinação. o inverno, durante da negligenciamento ao levou e isso casos, sos”, novos ocorrem não que em pesquisador, tem alguns “anos silencio o explicou conforme silvestre, amarela Fiocruz). epidemiológica da A febre curva em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/ Tecnologia de Instituto do e Estratégico Homma, presidente do Conselho Político Akira previsível”, explicou tamente éabsolu acontecendo “O está que [32] EXPANSÃO GEOGRÁFICA avaliações sobre a eficácia da vacina e a defesa da imunização — medida medida — imunização da defesa e a vacina da a eficácia sobre avaliações medicamento, onovo sobre estudos os março. de pauta, Na mês no listas, jorna para ministrada oficina em pesquisadores por fornecidas orientações de apartir amarela, afebre sobre atualizado aseguir, guia um apresenta, vacinar. se a Radis população a de convencer necessidade ea confiáveis de informações a para divulgação e especialistas ativistas mobiliza que Elisa Batalha Batalha Elisa comprovada de prevenção do retorno da doença às cidades. às doença da retorno do prevenção de comprovada A RADIS 187•ABR/2018 As estratégiasdisponíveispara conter adoençaeevitar Some-se a isso o risco confirmado de reurbanização da doença, doença, da de reurbanização confirmado orisco aisso Some-se 2018 em a2017. casos de número relação no em 50,8% de aumento um evitaram não amarela afebre contra abordagens as vacinação, por prevenível conhecida, doença uma ser de pesar temida reurbanização - - - - - na oficina sobre o tema. sobre oficina na sultados promissores”, explicou André, re tem precoce aadministração é que observação eanossa graves pacientes em medicamento do bula] da original fizemos uso uso fizemos testada emtestada modelos já éaprimeira porque oestudo para “A escolhida foi camundongo. de droga células em ovírus contra sofosbuvir do em laboratório demonstraram a eficácia preliminares Estudos país. do hospitais diversos com parceria em clínico ensaio um em desenvolvido sendo está mento medica do oprotocolo C, hepatite para febre amarela. indicado Originalmente a contra sofosbuvir medicamento do ouso avaliar vai estudo novo um tes, pacien desses avida salvar tentar Para gicos”, mortalidade. de grau alto com Fiocruz) descreve como “sintomas trá (INI/ Chagas Evandro Infectologia de dopesquisador Instituto Nacional Siqueira, André oinfectologista o que com graves, casos os são hospitais aos chegam geralmente que pacientes os entanto, No comum. gripe uma com confundir se podem que leves sintomas apresenta ou assintomática, fica 80%) (até parte amaior amarela, febre da ovírus com infectam se que pessoas Das NOVO MEDICAMENTO off-label off-label in vivo in [fora da indicação [fora da indicação

. Até agora . Até agora -

- - - - transmissão dentro das cidades. cidades. das dentro transmissão a favorecer pode que quadro é um vírus), pelo ainfecção após dias cinco a três primeiros nos sangue, no lando circu vírus muitos com exemplo, por viagem, de (um recém-chegado viremia alta com pessoa uma de introdução — populacional densidade alta com locais em quitos mos muitos de apresença entanto, No echikungunya. zika adengue, como diferentemente doenças, de outras amarela, febre da atransmissão para competente altamente vetor éum não aegypti O Aedes imunizadas. sejam silvestre forma da circulação há onde mata de áreas as com contato em entrem que pessoas as que é essencial 2017, de julho em que Reports” ressalta “Scientific internacional na revista publicado oestudo, ourbano, para silvestre ciclo do doença da damento transbor ochamado prevenir Para IOC. Transmissores de Hematozoários do chefe do Laboratório de Mosquitos Oliveira, de Lourenço Ricardo afirmou local”, transmissão da oinício para oportunidades múltiplas existem infectado, mosquito um por Janeiro intr ser ovírus de hipótese na que indicam “Os dados ovírus. transmitir de capazes eSabethes Haemagogus Aedes, deespécies mosquitos dos gêneros diferentes que mostrou Apesquisa sim. é aresposta infelizmente, França, na Pasteur, oInstituto com parceria em Instituto Cruz Oswaldo (IOC/Fiocruz) do estudo amarela? febre Segundo da reurbanização de real orisco Existe oduzido na área urbana do Rio de de Rio do urbana área na oduzido REURBANIZAÇÃO: COMO PREVENIR não vacinada não vacinada 02/04/2018 17:08:46

— ea são são - - -

REPRODUÇÃO O QUE HÁ DE NOVO NO FRONT Radis-carol-187.indd 33 REPRODUÇÃO alarmante. Rio de Janeiro, fato que ele considera do capital da 100 quilômetros distante Grande, aIlha visitar após amarela bre fe de morreram chilenos turistas dois Em fevereiro, Homma. Akira afirmou mais eficaz”, de comunicação tratégia es é uma é necessária O que vacina. da asegurança eéabsoluta a população toda para SUS pelo distribuídas sendo 15%.Paulo, suficientes doses “Há 2018de São ede 7%, apenas de era até fevereiro Janeiro de Rio do estado no amarela a febre contra vacinada OHomma. percentual da população baixíssimo Akira pelo epidemiologista éconsiderado número Esse 40%. de era vacinada população da percentual o adoença, para éendêmico que Gerais, Minas de estado no amarela bre Ainda em 2016, em fe de Ainda osurto durante COBERTURA VACINAL BAIXA - - - torno de um caso de animal doente. animal de caso um de torno em apopulação toda de a vacinação reforçar de éhora que de alertam que “sentinelas”, chamados os já são cacos ma os isso Por eaurbana. rural a zona imunidade, em áreas de transição entre circulando animais e atingindo sem está o vírus que de o alerta dão e morrem, animais, quandoadoecem Os macacos. nos e florestas, das dentro árvores das copas nas vivem que mosquitos nos permanece ovírus pois é erradicável, não silvestre ciclo seu em A doença FEBRE AMARELA FEBRE MACACOS SENTINELAS EM NÚMEROS EM -

de anticorpos em 95% das pessoas. 95% em pessoas. das anticorpos de a produção induz atenuado, vírus de tipo édo que Avacina, Bio-Manguinhos. de epesquisadora Tatiana médica Noronha, do momento da vacinação”, reforçou apartir anos oito menos pelo por similar proteção a sustenta Bio-Manguinhos por produzida avacina padrão, dose da quinto um em reduzida dose da aaplicação com mesmo que indicam “As médica. recomendação pesquisas sob feita ser deve anos 60 de maiores epessoas amamentando estejam que mulheres de Avacinação nodeprimidos. algumas exceções como gestantes e gestantes como exceções algumas salvo vacinados, foram nunca que todos por tomada ser deve e eeficaz, segura atual) campanha na SUS no aplicada sendo vem que (e adose A vacina mortos casos e 49 mortes. e49casos mortes. doença, com com doença, pela afetado mais o estado GERAIS MINAS Saúde. da Ministério do boletim do divulgação da data 2018, de 142017 março até de de julho de OPAÍS TODO em RIO DERIO JANEIRO 300 pessoas já morreram pessoas 300 ESPÍRITO SANTO ESPÍRITO Ministério da Saúde 14/03 Saúde da Ministério Fonte: Boletim epidemiológico do notificado ( FEDERAL DISTRITO lugar, com PAULOSÃO casos, sem vítimas fatais vítimas sem casos, óbitos DOSES FRACIONADAS . . 376 e120 casos e uma morte e ocupa o segundo osegundo ocupa 415 e130 casos RADIS 187•ABR/2018 FEBRE AMARELA continua sendo sendo continua teve teve teve teve , um caso um caso 123 123 cinco cinco 02/04/2018 17:08:49 ). ). imu [33]

é - SERVIÇO

PUBLICAÇÕES

Corpo e política Ciência e interdisciplinaridade

esultado de projeto rea- onsiderado um “livraço” Rlizado pela Casa da Arte Cpelo neurocientista Sidarta de Educar (CAE), parceria en- Ribeiro (UFRN), Imagens, tre os cursos de psicologia e micróbios e espelhos — Os de dança da UFRJ, o livro A sistemas imune e nervoso potência política do cor- e nossa relação com o am- po — Expressão e trans- biente (Editora Fiocruz), de -form-ação: arte e clínica Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro com crianças e jovens na e Yuri Chaves Martins, apre- Mangueira (Editora CRV), senta uma visão panorâmica organizado por Mônica Botelho das relações do corpo com o Alvim e Adriana Molas, reúne ambiente, a partir do olhar da artigos que descrevem sob múl- imunologia. A obra trata os tiplos planos a experiência na temas de forma interdisciplinar comunidade da Mangueira, que e dialógica, ancorada nos co- objetiva fortalecer o diálogo mentários de 13 especialistas entre a universidade e a sociedade e a formação de profissionais convidados, com formações engajados na transformação social, a partir de questões relacio- que vão da medicina e biolo- nadas ao território e à construção de uma clínica da expressão e gia a filosofia e antropologia, e que se inserem na defesa política da transformação de si e do mundo com o outro. da racionalidade e do conhecimento científico.

Trabalho escravo Dossiê da violência

Câmara Criminal do s organizadoras Cecília AMinistério Público Federal AMinayo e Simone de Assis (MPF) lançou a coletânea de apresentam, em Novas e artigos Escravidão contem- velhas faces da violência porânea, que apresentam no século XXI — Visão pontos relevantes da história da literatura brasileira do da evolução da legislação bra- campo da saúde (Editora sileira com relação ao trabalho Fiocruz), uma extensa revisão escravo. A publicação inclui bibliográfica de 2.477 textos, casos de trabalho escravo em entre artigos, dissertações e fazendas no país, o trabalho teses, publicados entre 2001 e obrigatório nas prisões norte- 2013, que tratam dos impactos -americanas e a exploração dos da violência sobre a saúde. O bolivianos nas confecções brasi- tema é abordado a partir da leiras. Debate também as políti- perspectiva histórica, pelo olhar cas públicas de erradicação do das ciências sociais e humanas, assim como do ponto de vista trabalho escravo no Brasil e o cadastro de empregadores que dos reflexos na saúde individual e coletiva, incluindo mortes, exploram o trabalho escravo na chamada “Lista Suja”. O li- lesões, traumas físicos e mentais e o impacto nos serviços e na vro está disponível gratuitamente em https://goo.gl/8dH8AS qualidade de vida.

EVENTOS

5º Seminário de Estudos da Informação 13º Congresso Internacional Rede Unida

rganizado pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da om o tema “Faz escuro, mas cantamos: redes em re-existência OInformação da Universidade Federal Fluminense (UFF), o Cnos encontros das águas”, a Associação Brasileira Rede Unida evento tem como tema “Produção, tratamento, disseminação (Rede Unida) promove mais um congresso, com o objetivo de e uso de recursos informacionais heterogêneos: diálogos inter- reunir trabalhadores da saúde, usuários do SUS, pesquisadores, disciplinares” e propõe contribuir com discussões que possam estudantes, professores, gestores e representantes de movimen- apontar similaridades e especificidades nos processos teóricos e tos sociais, para refletir e dialogar sobre saúde, educação, arte metodológicos que interligam os acervos de unidades de infor- e cultura, participação cidadã, gestão e trabalho em saúde na mação como arquivos, bibliotecas e museus. perspectiva do fortalecimento do SUS.

Data 14 e 15 de junho de 2018 Data 30 de maio a 2 de junho Local Niterói, RJ Local Manaus, AM Info https://estudosdainformacao.wordpress.com/ Info www.redeunida.org.br/pt-br/evento/5/

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MÍDIA NINJA encontra, não se vê. se não encontra, se não reconhece, se não aonde gente objetivamente lugar naquele nos fortalecer para fazendo está aquem junto organizada, civil à sociedade junto sociais, movimentos aos junto pautado estar precisa periférica, (1979-2018) Franco Marielle mulher negra, favelada, favelada, negra, mulher uma de O mandato PÓS-TUDO 02/04/2018 17:08:50 Radis187_felipe.indd 36 03/04/2018 11:41:19