RESENHA DE NOTÍCIAS CULTURAIS

Edição Nº 77 [ 23/2/2012 a 29/2/2012 ] Sumário

CINEMA E TV ...... 3 The News Tribe (Paquistão) - Brazilian film festival kicks off in Islamabad...... 3 Folha de S. Paulo – Único filme de Antunes Filho trata da questão racial no Brasil...... 4 FOLHA DE S. PAULO – Quatro brasileiros disputam Guadalajara ...... 4 OESTADO DE S. PAULO - Os selecionados para o 17º É Tudo Verdade...... 4 OGLOBO - Pra frente, Roberto ...... 5 OGLOBO - Um coração dividido por duas cidades...... 7 TEATRO E DANÇA ...... 9 Estado de Minas – Daqui pra frente...... 9 Estado de Minas – Dupla diversão ...... 11 Folha de S. Paulo – Teatro: Cibele Forjaz discute identidade brasileira a partir da escravidão ... 12 Folha de S. Paulo – Peça retoma vida de defensora dos direitos das prostitutas ...... 13 O Globo - Notícias do Brasil...... 14 ARTES PLÁSTICAS ...... 16 O Globo - A Bienal do suspense...... 16 O Estado de S. Paulo - Eduardo Srur, o ecologista da arte ...... 18 OESTADO DE S. PAULO - Criações para o Recôncavo...... 20 OGLOBO - Degustações amorosas ...... 21 ESTADO DE MINAS – Muito além do mercado ...... 23 FOLHA DE S. PAULO – Arte tecnológica tenta reinventar paisagens naturais...... 24 FOTOGRAFIA...... 25 FOLHA DE S. PAULO – Coleção Pirelli destaca mestres no Masp...... 25 MÚSICA ...... 26 LA NACION (ARGENTINA) - y los años ...... 26 Estado de Minas - De olho no futuro...... 32 OGLOBO - Quando um artista vale por uma banda ...... 34 ESTADO DE MINAS – O rei do partido-alto...... 36 FOLHA DE S. PAULO – Michel Teló vai de Adele ao rei Roberto Carlos no Reino Unido...... 37 CORREIO BRAZILIENSE - Recife- Paris, sem escalas ...... 37 FOLHA DE S. PAULO – Pelas costas...... 39 FOLHA DE S. PAULO – Produtores lutam para ressuscitar turnê de 80 anos...... 40 LIVROS E LITERATURA...... 41 Folha de S. Paulo – Rubem Fonseca vence prêmio em Portugal...... 41 Estado de Minas – Cada vez mais atual...... 42 ZERO HORA – nas prateleiras...... 44 ARQUITETURA E DESIGN ...... 45 Brasil Econômico – Retrospectiva dos Irmãos Campana...... 45 OGLOBO - Irmãos Campana: ‘Falta investimento no Brasil’ ...... 46 QUADRINHOS ...... 48 ZERO HORA – Páginas de uma vida...... 48 OUTROS ...... 48 Estado de Minas - Cai o acesso à cultura ...... 48 Tribune de Lyon (França) - Brasilyon, un mois de festival brésilien à lyon ...... 49 AGÊNCIA DE NOTÍCIAS BRASIL-ÁRABE - Um concurso para pequenos expatriados...... 50 FOLHA DE S. PAULO – Medidas vitoriosas e desafios da cultura / Artigo / Fábio de Sá Cesnik...... 51

2 CINEMA E TV

The News Tribe (Paquistão) - Brazilian film festival kicks off in Islamabad

Brazilian film festival kicks off in Islamabad

(27/2/2012) Islamabad: The Brazilian film festival has kicked off in Islamabad which will continue till March 4 on the Brazilian embassy premises.

“Pakistanis don`t know much about beyond football and some other things and we wanted to showcase our culture for them through this festival,” Thomaz Mayer, first secretary at the embassy, was quoted as saying.

“There are no regular movie theaters in Islamabad so we want to offer people something interesting,” added Mayer.

The schedule is given below.

(Sunday – February 26) ‘The Year My Parents Went on Vacation’: In 1970 Brazil is faced both with both the ecstasy of a Football World Cup victory and the drama of a military dictatorship. In this context a ten-year-old boy is left by his politically persecuted parents to live in a migrant neighbourhood of Sao Paulo where he will learn hard lessons about tolerance solidarity and friendship.

(Monday – February 27) ‘Lisbela and the Prisoner’: In this light hearted comedy set in rural Brazil, a charming and nomadic con-man meets the love of his life — a young woman who is passionate about old movies. But to be together they must evade a dangerous and jealous hit man and his mysterious wife.

(Tuesday – February 28) ‘Blindness’: After a city is ravaged by instant blindness and the government over reacts society breaks down and chaos ensues. The only woman whose sight is unaffected by the plague leads a group of seven strangers into safety and salvation. (English, adult content)

(Wednesday – February 29) ‘Cinema, Aspirins and Vultures’: While WWII devastates Europe a German pacifist drives his truck across northeastern Brazil to sell aspirin in small villages using advertisement movies to promote the medicine. He meets and befriends a humble yet savvy Brazilian assistant but the unpredictable flow of history will force him to make difficult choices. (English subtitles, adult content)

(Thursday – March 01) ‘Bossa Nova’: This delightful romantic comedy depicts a love triangle between an American teacher of English, a lawyer and travel agent amid the sumptuous scenery and thrilling music of Rio de Janeiro. (English sub-titles, adult content)

(Friday – March 02) ‘Behind the Sun’: It’s 1910 in the arid hinterlands of North Eastern Brazil Ordered by his father to avenge the death of his older brother a young man questions the tradition of violence between two rival families. The arrival of a travelling circus changes everything. Based on the award winning novel “Broken April,’ by Ismail Kadare. (English sub-titles)

(Saturday – March 03) ‘The Motorcycle Diaries’: The story of a motorcycle road trip Ernesto Guevara went on in his youth across South America before becoming the legendary ‘Che.’ (English, adult content)

3 (Sunday – March 04) ‘Central Station’: An elderly former school teacher of Rio de Janeiro who writes letters for illiterate persons helps a young boy in search for the father he never knew — a life-changing journey across the countryside of Brazil. Received more than 30 Film Awards. (English sub-titles, coarse language).

The embassy will be open to cinemagoers from 5 p.m., tea and coffee will be served before the movies, which will be screened promptly at 5:30 p.m. Reservations must be made in advance by dialling 2287129 from 10 a.m. -3 p.m. or by email [email protected] and are subject to seat availability. Attendance is free, content is not suitable for children.

Folha de S. Paulo – Único filme de Antunes Filho trata da questão racial no Brasil

"Compasso de Espera" é exibido pela primeira vez na TV MARCOS GRINSPUM FERRAZ, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

(24/02/12) Em meio a uma carreira intensa de quase 60 anos no teatro brasileiro, o renomado encenador Antunes Filho encontrou espaço para uma breve inserção no mundo cinematográfico. O resultado, o longa "Compasso de Espera" (1969-1973), não é menos impactante do que as peças do dramaturgo, mas é certamente menos conhecido. O filme terá sua primeira exibição na televisão amanhã, às 23h, no Sesc TV.

Em plena ditadura militar, Antunes Filho expõe de forma contundente o racismo existente no Brasil, demonstrando a fragilidade da ideia de que vivemos em uma democracia racial harmoniosa.

Como protagonista, o poeta negro Jorge de Oliveira (Zózimo Bulbul) -de origem pobre, mas apadrinhado por um poderoso homem branco- se vê encurralado e confuso em sua situação aparentemente ambígua.

Ao mesmo tempo em que se envolve com mulheres brancas e se integra ao ambiente das elites intelectuais, apanha na praia por causa de sua cor; ao mesmo tempo em que se engaja por igualdade racial, é acusado por amigos e familiares de ser conformista e integracionista.

Seja no teatro ou no cinema, Antunes Filho não busca soluções fáceis.

FOLHA DE S. PAULO – Quatro brasileiros disputam Guadalajara

(28/02/12) Os longas brasileiros estão na competição do Festival de Cinema de Guadalajara, no México, que acontece entre 2 e 10 de março. Competem os filmes "Corações Sujos", de Vicente Amorim; "Sudoeste", de Eduardo Nunes; "Transeunte", de Eryk Rocha; e "Vou Rifar Meu Coração", de Ana Rieper.

OESTADO DE S. PAULO - Os selecionados para o 17º É Tudo Verdade

(29.02.12) O É Tudo Verdade - Festival Internacional de Documentários anunciou seus primeiros selecionados da competição de longas, médias e curtas-metragens de 17.ª edição, que ocorre de 22 de março a 1.º de abril em e Rio.

Um dos mais importantes festivais do gênero, o É Tudo Verdade é a principal janela da produção mundial de documentários na América Latina e, ao mesmo tempo, é ponta de lança dos documentários brasileiros para olheiros de outros festivais internacionais. "É uma honra lançar nova safra com raro vigor, nos longas e curtas, nas obras de cineastas consagrados e de jovens revelações", declarou Amir Labaki, fundador e diretor do É Tudo Verdade. "A paixão dos realizadores pulsa em cada produção." Por ora, a lista de selecionados da Competição Brasileira - Longas e Médias conta com títulos como Coração do Brasil, de Daniel Solá Santiago, que acompanha a volta

4 de três integrantes da expedição realizada pelos irmãos Villas Boas nos anos 50 ao centro geográfico do Brasil. Já Mr. Sganzerla - Os Signos da Luz, de Joel Pizzini, é um filme-ensaio que reconstrói o ideário do diretor Rogério Sganzerla. Paralelo 10, de Silvio Da-Rin, toma o Paralelo 10.º Sul como seu ponto de partida. É ali, na pequena base Xinane, da Funai, que o pioneiro sertanista José Carlos Meirelles faz o difícil trabalho de proteger os índios isolados da região.

Ao todo, sete longas inéditos no Brasil farão sua estreia na mostra competitiva. Desses, seis fazem sua première mundial. Cinco dos nove curtas em competição também são inéditos. Três longas nacionais totalmente inéditos serão apresentados nas Projeções Especiais e outros dois na mostra O Estado das Coisas. Outros títulos brasileiros inéditos, assim como a seleção internacional, serão anunciados nos próximos dias. O documentário vencedor da disputa de longas e médias-metragens nacionais receberá prêmio no valor de R$110mil e o Troféu É Tudo Verdade, criado pelo artista plástico Carlito Carvalhosa.O vencedor da disputa de curtas receberá prêmio no valor de R$ 10mileo Troféu É Tudo Verdade. O Festival volta a fazer uma itinerância em Brasília, entre 10 e 15 de abril.

Jornada. Coração do Brasil refaz a expedição realizada pelos irmãos Villas Boas nos anos 50 ao centro geográfico do Brasil

OGLOBO - Pra frente, Roberto

Às vésperas de completar 80 anos e sem filmar há 25, diretor prepara quatro longas-metragens

Mauro Ventura

(29/2/2012) Aos 3 anos, viu a porta de casa entreaberta e fugiu. Atravessou sua Nova Friburgo a pé até seu destino: o cinema Leal, que costumava frequentar desde bebê, de mamadeira, no colo da mãe. Ao chegar, a frustração: era cedo demais e as portas estavam fechadas.

— Foi um impacto. Esse fascínio pelas imagens em movimento permanece até hoje. Às vésperas de completar 80 anos, dia 27 de março, Farias está cheio de planos. São quatro projetos em andamento. O mais adiantado é “Entre o céu e a terra”, que deve começar a ser rodado em julho. Ele não vê a hora de voltar às telas. Afinal, o homem que levou 9,5 milhões de pessoas ao cinema só com seus três filmes ao lado de Roberto Carlos; que desafiou a ditadura com seu “Pra frente, Brasil”; que dirigiu o marcante “O assalto ao trem pagador”; que comandou a Embrafilme de 1974 a 1979, numa época em que o cinema brasileiro chegou a ocupar quase 40% do mercado; que preside a Academia

5 Brasileira de Cinema não consegue filmar há 25 anos, desde “Os Trapalhões no Auto da Compadecida”.

— Quando caiu o número de salas, começaram a inventar as leis de incentivo, que pedem um tipo de profissional especialista em encontrar recursos diferente do que sou. Era outro mundo, que dependia de padrinhos, de procurar políticos e empresários, de sair pedindo dinheiro, tentando explicar que seu negócio é maravilhoso. Não era mais a eficiência profissional em primeiro lugar. Não é minha praia — explica ele, que participa hoje, a partir das 13h30m, no Museu da Imagem e do Som, da série Depoimentos para a Posteridade, entrevistado pelo professor do departamento de cinema e vídeo da UFF João Luiz Vieira, pelo cineasta Zelito Viana, pelo produtor Luiz Carlos Barreto e por seu irmão, Riva Faria — o “s” a mais do sobrenome de Roberto foi erro do cartório.

Ao longo desses 25 anos, Farias teve em mãos vários projetos que naufragaram. Um era “Anjo da guarda”, cinebiografia de Gregório Fortunato, chefe da segurança de Getúlio Vargas. Autor da ideia, Alfredo Sirkis assinava o roteiro. — Mas acho que ele não conseguiu patrocínio — diz Farias.

Outro era “Poder paralelo”. — Falava do surgimento de uma milícia numa favela. Escrevi antes de todos os policiais que foram feitos, inclusive “Cidade de Deus”. O BNDES aprovou R$ 1 milhão. Ele não conseguiu captar mais e, quando começou a safra de filmes sobre a violência urbana, como “Tropa de elite”, desistiu.

“Entre o céu e a terra” vai ser possível graças a uma verba de RS$ 1,5 milhão do Fundo Setorial do Audiovisual e ao apoio da Globo Filmes — o longa-metragem é um desdobramento de um elogiado episódio do programa “Brava gente” que Farias dirigiu em 2002. Com roteiro de Farias e de Marco Schiavon, conta a história de um garoto que mora próximo a uma base aérea e sonha em voar. Torna-se amigo de um piloto, que ele não sabe ser um fantasma.

— Tem essa coisa mágica do contato com outro mundo, que sempre intriga. Esse filme é uma espécie de ensaio, como que um aquecimento de músculos para a volta. Não é o filme da minha vida. Hoje o filme da minha vida é sobre João Goulart. Sou apaixonado pela história dele, é quase uma obsessão.

Era um estadista e teve seu nome soterrado pela história recente. Foi o primeiro presidente brasileiro que morreu no exílio, e há dúvidas sobre a causa de sua morte. É um tema fantástico para um filme, dá um thriller. Ele já recebeu muito material do filho de Jango, João Vicente. — Tenho feito anotações, e a estrutura já está bem sedimentada.

Começa com a morte de Jango e a vinda do João Vicente da Inglaterra. Aí se inicia um flashback — diz Farias, que espera escrever o roteiro com o escritor Fernando Morais. Para o papel do ex- presidente, ele gostou de uma sugestão que recebeu: Alexandre Nero, que faz o motorista de Christiane Torloni em “Fina estampa”.

— É um ator muito versátil — diz Farias, que em 1960, com seu “Cidade ameaçada”, disputou o Festival de Cannes com nomes como Michelangelo Antonioni, Vincente Minnelli, Ingmar Bergman, Carlos Saura, Luis Buñuel e Federico Fellini, que venceu com “La dolce vita”. Um projeto de Farias que está em fase de roteiro — tem até cartaz, feito por Ziraldo — é “O anjo do meu marido”, baseado em peça de Théo Drummond. Farias descobriu o texto há cerca de 40 anos, mas à época não havia tecnologia para os efeitos especiais. Há pouco, quando decidiu que era hora de fazer comédia, lembrou-se da peça e, junto com o autor, adaptou a obra.

— É uma história mágica sobre um sujeito que vai ao médico e descobre que estão nascendo asas nele, por causa de um erro no céu. Elas dão origem a muitas confusões.

O quarto filme, “Rondon e o hóspede americano”, também recua longe. Ele escreveu o roteiro em 1983. Trata da vinda do ex-presidente americano Theodore Roosevelt à Amazônia, quando passou três meses com o Marechal Rondon numa perigosa expedição por um dos afluentes do Rio Madeira.

— Fui procurado por produtores interessados em filmar. Eles estão batalhando na Ancine, porque o orçamento é de R$ 15 milhões, mas o limite que a agência autoriza a captar é R$ 7 milhões. O que não deve mais sair do papel é outra parceria com Roberto Carlos. O projeto inicial eram cinco filmes,

6 mas só foram feitos três — “Roberto Carlos em ritmo de aventura” (1968), “Roberto Carlos e o diamante cor de rosa” (1970) e “Roberto Carlos a 300 quilômetros por hora” (1971).

— A gente já se encontrou várias vezes para falar sobre um novo filme, mas o momento de cada um é outro. Nos anos 1980, cheguei a contratar o Doc Comparato para o roteiro, mas Roberto queria fazer um filme, e eu, outro. Um problema é a agenda de Roberto Carlos.

— Já no segundo filme era difícil encontrar com ele. Lembro que o procurei para decidirmos o início das filmagens e ele disse: “Estou viajando hoje à noite para Veneza.” Acabei comprando uma passagem e sentei do lado dele. Resolvemos tudo no voo.

Nesses 25 anos longe do cinema, Farias direcionou sua energia para a TV, onde fez de minisséries (“Memorial de Maria Moura”, “A máfia no Brasil”, “As noivas de Copacabana”) a programas (“Você decide”, “Sob nova direção”, “Faça sua história”). Mas é mesmo a tela grande que seduz Farias, que completa este ano 62 anos de uma carreira iniciada como assistente de direção em “Maior que o ódio”, de José Carlos Burle.

Sete anos depois, estreou como diretor. O pai, dono de um pequeno açougue, pegou dinheiro com um agiota para pagar em 120 dias, sob o risco de perder o único bem, a casa. Com a ajuda do produtor Murilo Seabra, filho da atriz, produtora e diretora Carmen Santos, filmou “Rico ri à toa”, chanchada com Zé Trindade.

— Em 120 dias, rodamos, montamos, lançamos o filme e pagamos o empréstimo — diz ele, que é irmão ainda de Reginaldo Faria, protagonista de “Pra frente, Brasil”.

— Fiz o filme porque passei quatro anos na Embrafilme com a respiração presa, vigiado pelo Serviço Nacional de Informações (SNI), com o telefone grampeado. Quando saí, li o argumento do Reginaldo e do Paulo Mendonça e falei: “É esse filme que quero fazer.” Mas o nome era “Por uma questão de liberdade”. Depois de pronto, resolvi mudar. O Luiz Carlos Barreto e o Celso Amorim passaram uma tarde tentando me convencer a desistir, alegando que era provocação.

E, de fato, o longa sobre um trabalhador que é confundido com um subversivo e torturado pelos militares acabou censurado. Farias não faz questão de comemorar o aniversário de 80 anos, mas sua mulher, Ruth, está se movimentando para convidar os amigos.

— Como diz o , a velhice é uma merda. E você ainda vai comemorar? — diz ele, que ganhará uma retrospectiva este ano no CCBB, ainda sem data definida. ■

OGLOBO - Um coração dividido por duas cidades

Karim Aïnouz começa a rodar ‘Praia do Futuro’, filme passado entre Fortaleza e Berlim

André Miranda [email protected] Enviado Especial • BERLIM

7 JESUITA BARBOSA, Karim Aïnouz, Wagner Moura e Clemens Schick em Berlim, onde o diretor nascido em Fortaleza mora: filmando desde anteontem

(29/2/2012) O futuro, para Karim Aïnouz, passa pelo encontro de dois locais distantes e distintos, mas que ocupam um espaço próximo em seu coração. Um deles é quente, povoado e está presente nas lembranças de infância. O outro é frio, vazio e surgiu como uma paixão recente da vida adulta. Karim tem um pé em Fortaleza e outro em Berlim.

E está prestes a expressar o significado desse seu coração partido através de um filme. Nascido há 46 anos em Fortaleza, Karim deu início, anteontem, em Berlim, à filmagem de “Praia do Futuro”, seu quinto longa-metragem. O filme vai mostrar como um jovem cearense vai de um continente ao outro atrás do paradeiro de seu irmão mais velho, um salva-vidas da Praia do Futuro, cartãopostal de Fortaleza, que de repente desaparece. A única pista é que ele, assim como o diretor, mudou-se para a Alemanha.

— Eu não quero que seja um filme autobiográfico, mas quero que ele venha do coração — conta Karim, numa conversa com O GLOBO em Berlim. — Eu fui criado na Praia do Futuro, ia a festas lá. Aquilo era uma utopia que se tornou distopia.

Foi uma coisa que nunca deu certo direito. Já Berlim é o contrário. É um lugar que virou ruínas e que, depois, foi sendo reconstruído. Karim mora em Berlim desde 2009, no bairro Neukölln.

Mas o desejo de fazer um filme lá é anterior: em 2004, o diretor esteve na cidade e se apaixonou pelas possibilidades que um local repleto de espaços vazios oferecia. Ele chegou a comprar uma câmera e sair fotografando as paisagens urbanas de Berlim.

— Não é uma cidade bonita, mas é charmosa. Esses vários vazios que existem aqui mostraram o quanto Berlim é fotogênica — diz. — Eu gosto dessa coisa bagunçada da cidade, de nada estar completamente pronto, tudo estar sempre sendo construído.

O roteiro de “Praia do Futuro” foi escrito por Karim em parceria com Felipe Bragança, também corroteirista de “O céu de Suely”, o segundo filme do diretor, lançado em 2006. No elenco, estarão Wagner Moura, como o salva-vidas desaparecido, e o novato Jesuita Barbosa, como o jovem que viaja em busca do irmão.

Parte da equipe também será composta por atores da Alemanha, como Clemens Schick e Sabine Timoteo. A história prevê 35 minutos passados em Fortaleza e 70 em Berlim. As filmagens vão se

8 estender por cinco semanas na Alemanha e depois terão mais 12 dias no Ceará. O orçamento é dividido meio a meio entre empresas brasileiras e alemãs.

— A escolha dos atores é muito importante. Eu acho que não conseguiria trabalhar com quem eu não tivesse tesão. Eu tenho que ter algum tipo de interesse naquela pessoa para a coisa dar certo — explica ele.

O cineasta já trabalhou com nomes como Lázaro Ramos, em “Madame Satã” (2002), e Alessandra Negrini, em “O abismo prateado” (cuja estreia está prevista para abril), e é considerado um dos melhores diretores de atores do país: — Eu digo que estou aprendendo a dirigir atores. Eu venho da fotografia, da pintura, da arquitetura. Não venho do teatro, não tenho formação em dramaturgia. Mas gosto de observar pessoas. Curiosamente, apesar de já morar em Berlim há três anos, Karim ainda não domina o idioma alemão. Durante a préprodução, na escolha de elenco, ele chegou a ter problemas para conversar com uma atriz alemã de uns 60 anos.

— Nós nos sentamos para tomar um café, e só aí percebi que ela não sabia falar inglês — lembra. — Foi uma situação difícil.

Para o filme, eu vou ter alguém comigo para checar os diálogos em alemão. Eu estudei um pouco o idioma, mas, sinceramente, não falo bem. Outro “empecilho” encontrado por Karim foi a mudança recente na política mundial.

De quando começou a escrever o roteiro, em 2008, para agora, o Brasil assumiu um papel de maior destaque na política internacional. — É por isso que não quero que o filme seja sobre imigração. Quero que seja sobre coragem.

Hoje, o medo parece ter assumido uma importância incrível na sociedade. Você vota em alguém porque tem medo de outro, invade um país porque tem medo de uma bomba atômica. Eu quero que meu filme seja sobre a falta de medo — define. TEATRO E DANÇA

Estado de Minas – Daqui pra frente

Gabriel Villela retoma parceria com o Galpão e anuncia montagem de texto de Pirandello. Em 9 de março, ele estará de volta a Belo Horizonte com a tragédia Hécuba, de Eurípides

9 Depois da mescla de Shakespeare e barroco mineiro em Romeu e Julieta, Gabriel Villela prepara Macbeth inspirado na tradição dos teares de Carmo do Rio Claro

Sérgio Rodrigo Reis

(23/02/2012) Era para ser mais uma viagem de férias aos Estados Unidos. O encenador Gabriel Villela rodava pelo interior daquele país quando se deparou com um anúncio de apresentação da sua adaptação de Romeu e Julieta, de Shakespeare, com o Grupo Galpão. Só que, até então, ele não sabia de nada. O fato foi o estopim para uma briga de bastidores que não só tirou a peça de cartaz como o distanciou do grupo, desfazendo uma das parcerias mais bem-sucedidas do moderno teatro nacional. Nada como o tempo para aparar as arestas. “Isso é coisa do século passado. Mas é igual briga de amor, depois passa”, resume ele, que se prepara para uma agenda intensa de atividades ao lado do Galpão. Além da volta de Romeu e Julieta, que será apresentada no Globo Theater, em Londres, vai dirigir a próxima montagem do grupo. A intenção é montar com a trupe mineira Os gigantes da montanha, do italiano Luigi Pirandello (1867-1936).

Gabriel, que vive em São Paulo, não abandona as raízes mineiras. Sempre que pode, aproveita o tempo livre para recarregar as energias com a sabedoria popular e as tradições mineiras da terra natal, Carmo do Rio Claro, no Sul de Minas. Na semana que vem ele chega a Belo Horizonte para ensaiar Romeu e Julieta com o Galpão. A peça, uma livre adaptação do clássico de Shakespeare para a realidade do interior do estado, foi vista em várias partes do mundo e deverá ser uma das principais atrações na agenda das comemorações dos 30 anos de fundação do Galpão.

A possibilidade de remontá-la tem mexido com os artistas. “A Fernanda Viana me ligou chorando outro dia. Estão fazendo ensaio musical e, na remontagem, o Paulo André entrará no lugar do Chico Pelúcio.” Antes de começar a se dedicar inteiramente à criação da nova peça com o grupo, que deverá ocorrer a partir de agosto, tem vários projetos pela frente. A começar pela temporada em BH da peça Hécuba, de Eurípides.

O espetáculo, estrelado pela atriz Walderez de Barros, chega ao Teatro Alterosa nos dias 9, 10 e 11 de março. Trata-se da adaptação de Gabriel Villela da tragédia que se abateu sobre a rainha Hécuba. Coube ao diretor a criação também dos figurinos, a partir de máscaras confeccionadas pelo artista plástico Chicó do Mamulengo. Em viagem a Natal (RN), encontrou o artesão na cidade de Assu e se impressionou tanto com o trabalho que resolveu convidá-lo.

10 Parceiros antigos se somaram à empreitada. “A trilha sonora do Hernani Maleta é deslumbrante. Os atores cantam a capela”, conta Villela, satisfeito com o resultado da sua estreia na tragédia grega. “Espero não ficar só nesta”, avisa. Motivos não faltam para continuar. “É um prazer enorme mergulhar nos mitos. Há um ganho espiritual e artístico no processo. E a Walderez dá um show. É uma escola. Tem um jeito de colocar a voz que evoca o clássico.”

Trevas Villela fará outro Shakespeare depois da imersão no universo grego. Em maio, estreia em Macbeth, São Paulo, desta vez com Marcello Antony como protagonista. “Vou trabalhar em cima da mecânica das tecedeiras da minha terra natal”, adianta ele, sobre a relação do espetáculo com a tradição dos teares do município de Carmo do Rio Claro, constante fonte de inspiração para os seus projetos. “Os cenários serão uma metáfora do cotidiano do ser humano, que nascem, crescem e morrem. Farei uma relação com o universo de e trevas onde habitam os personagens de Shakespeare. Um teatro de trevas”, antecipa.

A correria com tantos projetos não o assusta como no passado. “A sensação que tenho é que sempre pintamos um quadro em branco, mas hoje não tenho a ansiedade da juventude. Convivo bem com o silêncio, fruto de um olhar psicológico sobre a vida. Na realidade, continuo o mesmo jeca de sempre, um sujeito da roça, de Minas Gerais. Não consigo produzir sem Minas.”

Se a forte ligação com as tradições do estado lhe deram subsídios para a montagem da versão de Romeu e Julieta, no novo projeto para o Galpão ele espera mirar em outras direções. “Será bem diferente”, avisa. Em Os gigantes da montanha, Pirandello narra a história das agruras e vicissitudes de uma companhia de teatro. “É uma ode ao teatro”, resume Gabriel.

A opção pelo texto num momento de celebração foi proposital. “Tem algo bonito na relação entre o real e o imaginário na história. A intenção é usar metalinguagem para contar a história de vida da companhia.” A opção é por uma encenação pouco usual. “Talvez recriemos um ambiente lúdico numa lona de circo. Esteticamente, será muito diferente do que já fiz com o Galpão”, conclui.

A aldeia e o mundo

O diretor, cenógrafo e figurinista mineiro Gabriel Villela nasceu em Carmo do Rio Claro, Sul de Minas, mas foi em São Paulo que se projetou na cena teatral nacional. Com trabalhos de forte conotação barroca, com frequentes imersões no imaginário brasileiro, ele conquistou várias êxitos na carreira. Estreou, depois de se formar na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), sua primeira montagem, em 1989, Você vai ver o que você vai ver, de Raymond Queneau, com o grupo Circo Grafitti e, desde o início, já apareceram os traços que definiriam seu trabalho. Um ano depois dirigiu Vem buscar-me que ainda sou teu, de Carlos Alberto Soffredini, montagem com a qual ganhou o Prêmio Shell de melhor direção.

A partir de 1992, quando começou a parceria com o Grupo Galpão, sua inventividade despontou para todo o país. Adaptou Romeu e Julieta, de Shakespeare, para as ruas, numa encenação ambientada no interior, feita utilizando elementos circenses. A peça arrebatou público e crítica, levando o grupo para turnês pelo Brasil e Europa, projetando o trabalho de Villela. Daí em diante, partiu para realizar projetos com artistas consagrados como Beatriz Segall, e Maria Padilha.

Seu caminho voltou a se cruzar com o Galpão quando realizou A Rua da Amargura, texto de Eduardo Garrido inspirado nos ritos da semana santa e, mais uma vez, com elementos do circo-teatro. A peça também conquistou a crítica e ganhou os prêmios Molière e Shell de melhor direção.

A partir dos anos 1990, distanciou-se do Galpão. Nesse período, apostou em montagens inspiradas na obra de , a partir da encenação de Ópera do malandro, Os saltimbancos e Gota d'água. A possibilidade de retomar a parceria com o grupo mineiro touxe um desafio: o que fazer diante de um grupo com 30 anos de carreira, formado por atores maduros, para não repetir fórmula consagrada? “Vou propor algo muito diferente”, avisa.

Estado de Minas – Dupla diversão

ARTES CÊNICAS » Espetáculos do Coletivo Joaquina unem humor, delicadeza e poesia, com foco na cultura popular e no universo feminino

11 Ana Clara Brant (23/02/2012) As atrizes Herica Veryano e Edna Miranda, do Coletivo Joaquina, de Curitiba, terão uma maratona dupla de hoje a domingo, em Belo Horizonte. Em cartaz na cidade com dois espetáculos, o infantil Maria de uma rima só e o adulto Palhaças de salto em Café Simpatia, as artistas prometem levar diversão e emoção ao público mineiro. Segundo Herica, também responsável pela direção das peças, o trabalho da trupe sempre se destacou pela comicidade e a palhaçaria e elas fizeram questão de privilegiar as mais diferentes idades com o repertório que trazem à capital. “Sempre que estamos em uma cidade, procuramos mostrar todas as nossas vertentes de pesquisa. O trabalho infantil é importante porque é bem diferente e delicado. Não é um texto infantilizado e atende todas as faixas etárias”, frisa a atriz.

Maria de uma rima só conta a história de Maria, uma menina que está sempre atrasada e nunca consegue pegar o trem. Enquanto aguarda na estação, ela narra “causos”, navegando pela cultura popular, lendas e jogos infantis. O espetáculo também traz elementos da dança e malabares, tendo como Maria de uma rima só, do inspiração o jogo das cinco marias. Maria de uma rima só Coletivo Joaquina, conta a consegue capturar o interesse de crianças e adultos história de uma menina que abordando temas universais como os conflitos, perdas, sempre perde o trem esperança e superação. “Como a interação nessa peça é muito grande, as crianças participam ativamente, dão palpites e o espetáculo vai se moldando. Isso ocorre muito com a gente. Ele nunca está completamente acabado. E é um espetáculo muito musical e ao som da viola e outros instrumentos, Maria vai relatando suas aventuras com humor, ritmo e poesia”, acrescenta Herica Veryano.

Em Palhaças de salto em Café Simpatia, as protagonistas são vizinhas, mas não se conhecem. São opostos que realmente se atraem, vivenciado situações constrangedoras, ridículas e humanas. Revelando sem máscaras a verdade do universo feminino, a dupla vai ao extremo, às últimas consequências, para resolver seus problemas pessoais. “Apesar de levar palhaços para o palco, a peça é adulta, porque a gente quer mostrar justamente isso, que essa figura não é exclusiva do universo infantil. Queremos provar que a comédia não necessariamente precisa ser agressiva, forçada”, destaca.

O grupo Fundado em 2006, quando a maioria dos integrantes ainda frequentava a Faculdade de Artes do Paraná, o coletivo nasceu sem nome. O batismo veio anos depois, sugerido por Herica Veryano. “Joaquina representa a figura feminina em cena e a força da mulher brasileira. Nosso grupo tem repertório muito focado no universo feminino e sempre teve mulheres à frente”, conta a atriz. A trupe é conhecida por sua pesquisa e desenvolvimento de trabalhos artísticos que nasceram da vontade de movimentar o cenário de Curitiba com espetáculos que difundem a linguagem popular por meio de textos próprios, que surgem do trabalho de processo colaborativo.

Depois de Belo Horizonte, a turnê, que em Minas tem produção da Yepocá – Cia de Teatro, segue para as cidades de Turmalina, Capelinha, Água Boa, Cláudio, Oliveira e Divinópolis.

Folha de S. Paulo – Teatro: Cibele Forjaz discute identidade brasileira a partir da escravidão

Com a Cia. Livre, diretora estreia "A Travessia da Calunga Grande", que retrata viagem dentro de um navio negreiro

Para ela, montagem evidencia "como a estrutura escravista ainda está arraigada nas nossas relações" GABRIELA MELLÃO, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

12 (23/02/12) A diretora Cibele Forjaz pilota um navio movido a sangue que erra entre África e Brasil no Oceano Atlântico. A embarcação é tema central de "A Travessia da Calunga Grande", novo espetáculo de sua Cia. Livre, cuja estreia ocorre em 9 de março no Sesc Pompeia, em São Paulo.

Também serve como metáfora para a formação do povo do país ao sintetizar a história do tráfico de escravos, que acabou por gerar a identidade mestiça do brasileiro.

Para a dramaturga Gabriela Amaral Almeida, o navio representa a perpetuação dos crimes da escravidão numa sociedade que prega a falsa conciliação das diferenças.

Ao redor do barco, há um espelho d'água que representa o mar. Tem o formato de um olho, símbolo da trajetória do anti-herói de "Édipo Rei", clássico de Sófocles.

Para Forjaz, a tragédia e as matrizes da criação do Brasil estão relacionadas. Segundo ela, a busca por identidade (discussão central do mito de Édipo) é também a grande questão do brasileiro. "Como se pensa a identidade de um país composto por diferenças?", pergunta.

Por desconhecer sua ascendência, Édipo mata o pai e se casa com a mãe. Ao descobrir sua real identidade, fura seus olhos.

Enquanto viajam rumo ao Brasil no navio negreiro Calunga Grande (mar e morte em língua bantu), os personagens da peça de Forjaz têm jornadas similares à empreendida por Édipo. Como ele, perdem suas raízes. Alguns de forma voluntária, como o Capitão Tanto Faz McCarty e Nora, corrompidos por ganância e sede de poder para ascenderem socialmente.

Os demais sofrem um corte involuntário ao serem vendidos como escravos. "Os escravos eram desumanizados, despojados de tudo, viravam objetos", diz Lucia Romano, atriz que interpreta Nora.

Forjaz prepara a viagem de "A Travessia" há sete anos. Começou a planejá-la com a pesquisa sobre mitos, morte e renascimento na cultura brasileira, que resultou nas peças "Vem Vai, o Caminho dos Mortos" (2007) e "Raptada pelo Raio" (2009). Ao analisar a gênese africana, segue seu trabalho de recuperação da memória brasileira.

Define "A Travessia da Calunga Grande" como o espetáculo mais amado e difícil dos 11 anos de seu grupo, pela abordagem ácida que faz do preconceito racial e por evidenciar "como a estrutura escravista ainda está arraigada nas nossas relações humanas de hoje".

Folha de S. Paulo – Peça retoma vida de defensora dos direitos das prostitutas

JOHANNA NUBLAT e NÁDIA GUERLENDA, DE BRASÍLIA

(23/02/12) A mulher moderna que saiu de casa, virou prostituta e queria mudar o mundo ficou grávida. E duas vezes. É sobre as escolhas dessa garota, que abandonou a vida familiar em São Paulo, na década de 1970, para viver sua revolução sexual, que trata a peça "Filha, Mãe, Avó e Puta", com estreia na terça (dia 28), também no Centro Cultural Banco do Brasil.

Aquela moça, hoje aos 60 anos, é Gabriela Leite, projetada no cenário nacional nos anos 1980 e 90 como defensora dos direitos das prostitutas. Em 2005, sua atuação despontou com a criação da grife Daspu.

Pressionada pela mãe a largar a boêmia após o nascimento da primeira filha, Gabriela Leite decidiu "assumir o egoísmo" de ser ela mesma.

Saiu de casa e entrou, pela primeira vez, num bordel.

Enquanto uns lutavam contra a ditadura militar, a menina desafiava a família aristocrata pela busca de uma liberdade sexual: a de que gozavam os homens.

13 Inicialmente uma luta particular, a defesa da sexualidade livre se misturou à batalha pelo direito das prostitutas. A trajetória de Leite inclui, em 1969, a aprovação no curso de filosofia da USP.

Em 1979, ela passou a participar de protestos, após o sumiço de prostitutas na região da Boca do Lixo, no centro de São Paulo. Em 2005, brigou quando uma agência norte-americana rejeitou doar dinheiro ao combate à Aids porque não queria vincular sua marca às prostitutas.

Essas e outras histórias descritas no livro que Gabriela Leite lançou em 2008 ganham, no palco, a interpretação da atriz Alexia Dechamps, que atua sob a direção de Guilherme Leme.

Para reforçar o tom de "realidade", a montagem é no formato de um depoimento, uma entrevista, feita em cena pelo ator Louri Santos.

A RAPIDINHA DO MINEIRO

Apesar dos momentos dramáticos, a peça também arranca risadas da plateia.

"Mineiro adora uma rapidinha! Se a mulher tiver disposição, faz 50 programas por dia. Fiz meu pé de meia", diz Leite, relembrando sua estada em Belo Horizonte.

A mulher que queria mudar o mundo, por fim, encontrou o amor na figura do jornalista Flavio Lenz e saiu de vez da noite carioca.

O Globo - Notícias do Brasil

De volta após 22 anos, o projeto Mambembão traz ao Rio 20 espetáculos de vários estados do país

Luiz Felipe Reis

(23/2/2012) De mambembe só resta o que o termo tem de melhor: a ideia de pegar a estrada, circular pelo país, desbravar novos palcos. Criado em 1978, sedimentado nos anos 1980 e realizado pela última vez em 1990, o projeto Mambembão volta à ativa a partir de hoje e, até o dia 1ode abril, leva aos teatros Dulcina, Glauce Rocha e Cacilda Becker 20 espetáculos de teatro e dança. Serão 15 companhias vindas de dez estados das cinco regiões do país. Oficialmente batizado como Mostra Nacional Funarte de Dança e Teatro, o Mambembão estreia com a peça “Pólvora e poesia”, às 19h, no Teatro Cacilda Becker, e com o espetáculo de dança “Perfume para argamassa”, de Goiás, no Teatro Dulcina, também às 19h.

— O Mambembão põe a produção brasileira na estrada, cria uma itinerância e cumpre a missão do poder público, que é fomentar a circulação das nossas criações, tentando alcançar um público cada vez maior — diz o presidente da Funarte, Antonio Grassi.

Curadoria do crítico Macksen Luiz “PÓLVORA E POESIA”, da Bahia: hoje, no Cacilda Becker Nos anos 1970, Grassi iniciava a carreira de ator em Minas Gerais e teve a oportunidade de participar do projeto, à época organizado pelo Serviço Nacional de Teatro. As possibilidades de contato com grupos de outros estados e de se apresentar para o público dos grandes centros foram “fundamentais” para o crescimento do seu trabalho, “por vezes tão isolado nas montanhas mineiras”, lembra ele.

— Por experiência própria sei a importância da circulação para a produção artística criada fora do eixo Rio-São Paulo — diz. — O grande atrativo dessa retomada é mostrar a excelência dos

14 espetáculos de outras regiões, fazer com que a gente conheça melhor o país e sua diversidade. Responsável pela curadoria da mostra teatral, o crítico Macksen Luiz ressalta que a premissa do novo projeto é um pouco diferente da antiga versão do Mambembão.

— Eles traziam espetáculos de todo o país, mas havia o compromisso de que essas peças representassem características das suas regiões, o que agora mudou. Não vamos trazer um espetáculo do Amazonas só porque tem características da cultura local. Escolhemos montagens que revelam a atualidade da cena brasileira, mas a partir de diferentes gêneros e processos de pesquisa e investigação de linguagem.

Texto premiado abre mostra

Com texto de Alcides Nogueira, vencedor do Prêmio Shell em 2001, “Pólvora e poesia” chega ao Rio em encenação dirigida por Fernando Guerreiro. A montagem, que teve uma curtíssima temporada no Teatro Poeira em 2011, põe em cena os encontros e desencontros amorosos e estéticos entre os poetas Arthur Rimbaud e Paul Verlaine. Outro destaque é o espetáculo inédito da paranaense Companhia Brasileira de Teatro, “Isso te interessa?”, que estreia dia 15 de março no Glauce Rocha.

A peça é dirigida por Marcio Abreu, responsável por sucessos recentes como “Vida” (2009) e “Oxigênio” (2011), e é uma adaptação para o texto “Bon, Saint-Cloud” (2009), da francesa Noëlle Renaude. Inédita no Brasil, a peça acompanha a trajetória de três diferentes gerações de uma família. Também do Paraná, o diretor e autor Marcos Damasceno estreia no Dulcina, dia 25, a elogiada “Árvores abatidas ou para Luís de Mello”. Interpretado por Rosana Stavis, o monólogo reflete “É SÓ UMA FORMALIDADE”: sobre a decadência do cenário artístico de Curitiba. peça de Minas estreia dia 24 Ainda da região Sul surge a premiada (Braskem 2010) “DentroFora”, produção de Porto Alegre inspirada no texto “Hide and seek”, do romancista Paul Auster, encenada pela primeira vez no Rio no dia 15 de março, no Dulcina. Dirigido por Carlos Ramiro Fensterseifer, o texto é uma metáfora que expõe a imobilidade do ser humano contemporâneo. Já o grupo mineiro Quatro los cinco — Teatro do Comum é o único a trazer duas montagens ao Rio: “Outro lado”, que estreia dia 22 no Cacilda Becker, e “É só uma formalidade”, que chega ao mesmo palco no dia 24.

— São montagens que indicam uma diversidade e uma interseção de linguagens, propostas que variam do convencional ao experimental, como é o caso da Companhia Brasileira, que traz um espetáculo inusitado, que espanta a plateia num primeiro momento, mas de repente atinge uma fluência impressionante — analisa o curador.

— Já “DentroFora” alia beleza estética e uma carga de incômodo, “Pólvora e poesia” é uma encenação marcante, e o grupo Quatroloscinco traz duas propostas bem diferentes, uma peça supersimples, mineiramente melancólica, e uma outra que mexe com a tecnologia, mostrando que tem uma identidade própria.

A mostra de dança, organizada por Regina Levy, “DENTROFORA”, do Rio Grande do Sul: tem predomínio de solos e duos. “Perfume para inspirada em Paul Auster argamassa”, de Goiás, traz Kleber Damaso e Viviane Domingues numa performance- intervenção marcada por recursos visuais. A partir de 1ode março, Ester França leva dois espetáculos

15 mineiros ao Cacilda Becker, “Novo algo de sempre”, em que divide a criação com Andréa Anhaia, e o solo “Vago”, representando o Coletivo de Criação em Dança.

Otávio Bastos, de Pernambuco, dança os solos “O fio das miçangas” e “O alfaiate de livros” (8 de março no Dulcina), enquanto Monica Siedler e Roberto Freitas se dividem nas montagens de “1A(Uma)” e “Somático” (10 de março no Cacilda Becker).

Para a Funarte, o Mambembão 2012 serve como plataforma de um plano maior, que visa realizar, no início de 2013, um grande intercâmbio de produções das cinco regiões do país, estabelecendo outras cidades-satélites, e não apenas o Rio de Janeiro.

— Nosso ojetivo é realizar um projeto nacional, em que todas as regiões sejam contempladas com montagens de outros polos. Logo após o Mambembão vamos pensar num edital para cumprir essa meta — anuncia o diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte, Antônio Gilberto. — Devido à extensão do país e às dificuldades de produção, sabemos o quanto é raro poder circular pelas regiões. Então a mostra carioca serve de exemplo do que o Mambembão tem como objetivo, que é fomentar a circulação pelo território, fazer com que possamos conhecer melhor a nossa produção.

ARTES PLÁSTICAS

O Globo - A Bienal do suspense

Condenada por inadimplência, a principal mostra de arte do país já desmobiliza equipes e ameaça cancelar de vez a edição de 2012 caso não chegue a acordo com o governo em 20 dias

Marcia Abos

A ÚLTIMA BIENAL, em 2010, com obra de Nuno Ramos à frente: “O Brasil tem capacidade de desfazer o que conquistou”

Numa corrida contra o tempo, o destino da Bienal Internacional de Arte de São Paulo será definido em 15 de março.

(23/2/2012) Se até lá as contas da Fundação Bienal continuarem bloqueadas por inadimplência, a instituição começará a desmobilizar a equipe convidada a realizar sua 30aedição, prevista para setembro, dispensando curadores e artistas. Ontem haveria uma reunião em Brasília entre a Advocacia Geral da União (AGU) e representantes da Bienal para tentar encontrar uma solução ao impasse que desde janeiro ameaça uma das mais importantes mostras de arte contemporânea do mundo, ao lado da Documenta de Kassel e da Bienal de Veneza.

— Se a Bienal não se realizar, será um atentado à imagem da arte brasileira. Como um país que vai organizar uma Copa do Mundo e as Olimpíadas não consegue sequer realizar uma Bienal? — questiona José Roberto Teixeira Coelho, crítico de arte e curador do Masp. Após a crise institucional que resultou na “Bienal do vazio”, em 2008, uma nova gestão, liderada pelo consultor Heitor Martins, assumiu a Fundação Bienal à beira da falência, com um discurso de transparência e restauração. A próxima edição, com um orçamento de R$ 30 milhões aprovado pelo

16 MinC, começou a ser planejada há dois anos, quando o curador venezuelano Luis Pérez-Oramas foi escolhido e começou a trabalhar com sua equipe curatorial, formada por Andre Severo, Tobi Maier e Isabela Villanueva.

150 colaboradores dispensados

O bloqueio realizado pelo Ministério da Cultura em 2 de janeiro, por recomendação da Controladoria Geral da União (CGU), incide sobre R$ 12 milhões captados via lei Rouanet para a realização da mostra deste ano. Também impede que a fundação capte outros R$ 8 milhões já comprometidos por empresas, também via incentivo fiscal. Outros R$ 5 milhões captados sem lei Rouanet estão livres, mas o valor é insuficiente para a realização da Bienal, que custa no mínimo R$ 18 milhões.

A equipe de 150 pessoas contratada pelo programa educativo da Bienal já foi dispensada. O grupo trabalha na formação de monitores e professores, que são capacitados a preparar estudantes antes da visita à mostra e realizar debates depois.

A decisão do MinC de acatar a recomendação da CGU de listar a Bienal como inadimplente causa polêmica entre artistas, curadores, galeristas e gestores culturais, pois ameaça não só a realização desta edição da exposição — a que comemoraria seus 60 anos — mas sua existência. O relatório apresentado pela CGU ao ministério aponta irregularidades em 13 prestações de contas ocorridas entre 1999 e 2006, somando quase R$ 33 milhões. A CGU pode levar de dez a 15 anos para concluir se houve ou não desvios de verba. Se a Bienal continuar a ser considerada inadimplente durante as investigações, ela será impedida de captar novos recursos ou fazer convênios com o governo.

— A Bienal é um jogo ganho, mas o Brasil é um país autodestrutivo. Tem a capacidade de desfazer o que já conquistou — lamenta o artista plástico Nuno Ramos. — Neste momento de restauração de uma dinâmica digna, vem essa bomba relativa a dívidas de gestões anteriores. É trágico e fere um esforço louvável.

O bloqueio das contas pegou a equipe da Bienal de surpresa. A fundação vinha apresentando à CGU documentos e esclarecimentos, conforme solicitados pela auditoria, e mantendo diálogo constante com o MinC. A instituição já havia assinado em 2011 um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) e devolveu ao ministério R$ 700 mil usados para consertar parte do teto do prédio. A obra foi considerada irregular pelo CGU, pois foi feita sem licitação.

Após ser listada como inadimplente, a Bienal entrou na Justiça contra a decisão do MinC, pedindo o desbloqueio urgente das contas para evitar o adiamento da mostra.

O pedido de liminar foi negado pela Justiça Federal. Novo recurso está sendo analisado pelo Tribunal Regional Federal de São Paulo, mas é pouco provável que a fundação consiga a liberação dos recursos pela via judicial. A saída para que a mostra seja realizada na data prevista depende de uma negociação entre Bienal, MinC, CGU, Tribunal de Contas da União (TCU) e os ministérios públicos federal e estadual. Representantes de cada uma destas partes precisam chegar a um acordo e assinar um novo Termo de Ajuste de Conduta (TAC). A reunião de ontem em Brasília discutiria os termos iniciais deste documento. Caso as negociações se prolonguem, repassar os recursos já captados pela Bienal para outra instituição que esteja adimplente frente ao MinC seria uma solução temporária capaz de viabilizar sua realização.

— Tanto a realização da Bienal quanto a prestação de contas são de interesse público. Caberia ao ministério encontrar uma solução negociada, capaz de evitar o fim da Bienal e de recuperar dinheiro, se forem comprovados desvios — defende Nuno Ramos.

Procurado, o MinC não quis se pronunciar, alegando que o processo, transformado em Tomada de Contas Especial (TCE), é responsabilidade do TCU.

Num momento em que a arte brasileira ganha reconhecimento internacional, a 30 a- Bienal de São Paulo é um evento que está na agenda de curadores, colecionadores e galeristas de todo o mundo. Além de ser uma vitrine importante para o Brasil e para a produção latinoamericana, a exposição aproxima a vanguarda das artes visuais do grande público e gera reflexões e debates que movimentam a cena contemporânea.

17 — Trata-se de uma instituição com um capital de realização poderoso. Poucas instituições brasileiras têm a mesma força, o mesmo espaço expositivo e a mesma marca histórica — avalia Teixeira Coelho, curador do Masp e crítico de arte.

Para o diretor artístico da galeria Vermelho, Eduardo Brandão, a importância da Bienal é o que a faz superar as crises e continuar a ser realizada.

— Esta não é a primeira Bienal que tem problemas.

O cancelamento da mostra é uma hipótese muito remota, não só pela importância mas pela capacidade da gestão atual, que conseguiu sair de uma quase falência, levantou recursos e realizou uma excelente exposição em 2010 — lembra Brandão. Não é a primeira vez que a Bienal vê sua existência ameaçada. Desde 1991, a instituição passa por altos e baixos, alternando momentos de crise institucional com o debate sobre seu papel na atualidade.

— A Bienal é um marco na arte brasileira contemporânea, que deve a ela muito de seu processo de internacionalização. Mas hoje nos perguntamos qual a diferença de uma Bienal e uma grande feira de arte — questiona a historiadora e crítica de arte Aracy Amaral.

Para o artista plástico Nuno Ramos, a importância da Bienal é indiscutível.

— A Bienal é o momento no qual as artes plásticas brasileiras se tornam públicas e artistas de ponta alcançam uma dimensão de público mais ampla. É uma dessas coisas que nos dá orgulho, que mobiliza forças culturais — acredita o artista, que em 2010 expôs na 29 a- Bienal a instalação “Bandeira branca”, que continha dois urubus vivos que foram apreendidos, causando polêmica e atraindo a atenção do público.

Bienal adiada em 1993 e 2000

O risco de a Bienal terminar existe, acredita Ramos, discordando do diretor artístico da galeria Vermelho.

— É notável nossa incapacidade de criar ou manter algo contínuo e duradouro — afirma, lembrando que a Bienal foi adiada em 1993 e em 2000.

Críticos e curadores que sugerem que a Bienal repense seu papel acreditam que a instituição ganharia mais estabilidade ao investir na formação de artistas, oferecendo bolsas-residência.

Também defendem o uso do prédio de Oscar Niemeyer com maior frequência para exposições intermediárias, como a mostra de 2011 “Em nome dos artistas”, e o investimento na formação de um acervo formado pelas obras inéditas criadas por artistas convidados.

— A Bienal de Veneza existe basicamente nos mesmos moldes da de São Paulo e não vejo muitas cobranças para que elas e reinvente. Quem pede transformações à Bienal de São Paulo está, na verdade, cobrando uma redefinição de todo o sistema da arte no Brasil, que está em frangalhos.

A maior parte dos museus e instituições culturais brasileiros vive à beira da falência todo mês — rebate Teixeira Coelho. — Quando um banco está à beira da falência ou sob suspeita, o poder público se mobiliza para salvá-lo.

Da mesma forma, o problema da Bienal é um problema do Brasil e cabe a todos, poder público, iniciativa privada e sociedade civil, encontrar uma solução negociada para este impasse. ■

O Estado de S. Paulo - Eduardo Srur, o ecologista da arte

Com nova instalação no Parque Villa-Lobos, artista confirma sua veia engajada

EDISON VEIGA

18 (26/02/2012) Desde ontem, o frequentador do Parque Villa-Lobos, na zona oeste de São Paulo, pode perder-se no meio de um monte de lixo. Trinta toneladas de plástico, garrafas PET, alumínio... Não, não é um problema de limpeza do parque. Trata-se de Labirinto, a nova instalação do artista plástico Eduardo Srur, de 37 anos, o mais engajado ecologista da cena artística contemporânea.

Como o próprio nome sugere, a ideia é que o público interaja com a obra, percorrendo os corredores de lixo. "Que a pessoa se perca em um primeiro momento, mas em seguida encontre a saída. É o que queremos para a sociedade, não é?", provoca.

Não é a primeira vez que Srur flerta com a causa ambiental. "Acredito que a arte tenha esse poder: provoca, conscientiza e educa a população de uma forma direta." Formado em Artes Plásticas pela Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), ele começou sua carreira como pintor - mas não foi assim que conquistou fama, público e crítica.

Em 2004, sua carreira decolou. Inspirado em Javacheff Christo, artista americano de origem búlgara conhecido por grandes intervenções urbanas - em 1995, por exemplo, embrulhou a sede do Parlamento alemão -, Srur trocou de suporte: em vez das telas, passou a fazer arte na cidade. Naquele ano, paulistanos se surpreenderam ao ver 35 barracas de acampamento penduradas do então "esqueletão da Doutor Arnaldo" - estrutura de concreto que estava abandonada na avenida homônima e onde hoje funciona o Instituto do Câncer Doutor Arnaldo.

Desde então, Srur afirma que consegue viver da arte. "E vivo bem", diz. Paulistano criado nos , bairro onde até hoje mantém seu ateliê, ele atualmente mora no Real Parque, miolinho nobre do distrito do Morumbi. "O segredo é que meu lado artístico se mistura com meu lado empresarial", admite. Em 2006, ele montou uma empresa de intervenções urbanas que oferece inusitadas soluções de marketing para a iniciativa privada. "Assim, os lados autoral e comercial convivem sem se confundir. São universos diferentes que se complementam."

Currículo. Difícil o paulistano que nunca tenha se deparado com uma obra de Srur, ainda que não ligue o nome à criação. Foi ele quem encheu o Rio Tietê, em 2008, com gigantescas garrafas PET coloridas - cada uma medindo 11 metros de comprimento. Foi ele que equilibrou seis bicicletas sobre cabos de aço em plena Avenida Paulista, em 2007. Foi ele que vestiu estátuas paulistanas, do Duque de Caxias ao Borba Gato, com alaranjados coletes salva-vidas, em 2008. E, em 2006, espalhou 100 caiaques pelo Rio Pinheiros. Também é ele o autor das 12 ecobags gigantes espalhadas pela cidade.

Misturando humor e crítica social, sua carreira tem cativado público e ganhado admiração até de colegas artistas. "Suas obras ficam na memória, são sensacionais. É um artista único no Brasil", elogia o muralista Eduardo Kobra - outro que usa a cidade como pano de fundo para obras.

Para conseguir esses resultados, Srur diz que não consegue se desligar nem nos momentos de lazer. "Se vou ao cinema ou a um passeio qualquer, no caminho já estou imaginando as respostas que posso dar a essa cidade, tão caótica e dinâmica", exemplifica. "Misturo, sem perceber, trabalho e lazer, arte e vida."

A instalação do Parque Villa-Lobos não deve parar por aí. Nas próximas semanas, os Parques da Juventude, na zona norte, e Ecológico do Tietê, na leste, também ganharão obras semelhantes. A intervenção faz parte do Cultura Livre SP, projeto do governo do Estado que promove atividades culturais gratuitas em espaços públicos da capital.

19 Todo o lixo utilizado foi adquirido de cooperativas de catadores. "Houve uma negociação nos últimos 45 dias para que elas coletassem e armazenassem o material." Para a montagem, Srur contou com 15 assistentes.

Montanha. O artista já tem um plano para essas montanhas de lixo, quando os labirintos forem desmontados, em 8 de abril. "Minha vontade é juntar todos em um só, um megalabirinto, e instalar em local público. Quem sabe o Parque do Ibirapuera", vislumbra.

OESTADO DE S. PAULO - Criações para o Recôncavo

Começa hoje o Fiar 3, evento que promove série de intervenções e debates em duas cidades baianas Camila Molina (29.02.12) "Cenário de cinema, é sério", diz a artista Tininha Llanos sobre as cidades de Cachoeira e São Félix, no Recôncavo Baiano, onde, a partir de hoje e até sábado, ocorre um festival dedicado a intervenções artísticas. Integrante do GIA (Grupo de Interferência Ambiental), coletivo de artistas sediado na Bahia e dos mais destacados do circuito - por exemplo, eles participam da atual edição da mostra do projeto Rumos Artes Visuais do Itaú Cultural, em São Paulo -, Tininha organiza, há três anos, o Fiar, Festival de Intervenções Artísticas do Recôncavo. Mais de 50 artistas brasileiros e outros latinos vão criar obras especialmente para o evento e, mais ainda, participar de debates, oficinas e encenações abertos ao público em geral.

O desafio é integrar criação artística à paisagem e ao espaço urbano, agir em uma região no interior do Estado da Bahia fora do eixo Salvador-Sudeste. Todas as edições do Fiar ocorreram em Cachoeira e São Félix, localidades tombadas pelo Iphan. São duas cidades que ficam uma de frente para a outra, com uma ponte sobre o Rio Paraguaçu. "Arte urbana nos grandes centros fica muito vinculada à publicidade. O interior ainda não foi invadido pelo show biz", diz Tininha Llanos. O festival tem, assim, o seu caráter reflexivo, como também chama a atenção para uma via "relacional" entre pessoas e o espaço da cidade.

A feira livre de Cachoeira, por exemplo, atrai um público grande, de 500 a 1 mil pessoas vindas de lugares diversos, inclusive, "da roça". Interessa ao festival justamente a audiência espontânea e imensurável -, mas há os interessados em artes visuais e artistas locais que cativamente participam das atividades do Fiar, mais um evento da região, assim como a já conhecida Bienal do Recôncavo.

A performance de abertura desta edição do festival, hoje, a partir das 8 horas da manhã, do coletivo Mucambo Nuspanoça, do Piauí, ocorrerá justamente na feira de Cachoeira, onde os artistas WG e Gilsão pretendem criar grafites em roupas dos transeuntes. Mas as intervenções artísticas do evento são diversas, trazem desde uma instalação com guarda-chuvas com sensores no Jardim Grande da cidade, a realização de oficinas de fotografia pinhole e de animação em película, respectivamente, com Bianca Portugal e com Paula Damasceno no Bairro do Tororó, e de passeios de barco até a criação do Flutuador, uma ilha estética feita de garrafas de plástico e criada pelo GIA para o Rio Paraguaçu.

Rede. Na verdade, o Fiar tem essa pertinência de ser uma atividade de esforço coletivo e independente num cenário artístico brasileiro - e internacional - dominado pelo mercado de arte ou eventos espetaculares ávidos por patrocínios milionários. A 3.ª edição do festival marca sua ampliação, como a realização de um Encontro de Rede de Artes Visuais com representantes de vários coletivos. Como a chilena Rosa Apablaza e o Desislaciones, criado em 2006, mas que promove um blog com criadores de diversos países latinos. Outros participantes do festival são os grupos Opavivará, do Rio; Poro, de Minas Gerais; EIA e Frente 3 de Fevereiro, de São Paulo; e Rádio Amnésia, da Bahia. "Serão três debates públicos, com temas vastos", diz Tininha. O Fiar 3 está sendo realizado com R$ 100 mil - recursos de edital da Funarte, da Secretaria de Estado da Bahia e com apoios locais. "Os anteriores foram feitos com um terço desse montante", afirma a curadora. Um livro sobre o evento será lançado em abril, com 5 mil exemplares para distribuição.

20 Na rua. Imagem de uma das intervenções do coletivo baiano GIA, uma das principais atrações em Cachoeira e São Félix

OGLOBO - Degustações amorosas

Como Tarsila do Amaral soube absorver a arte moderna europeia e dotá-la de uma inteligência particular

‘Tarsila do Amaral — Percurso afetivo’ Centro Cultural Banco do Brasil

Marisa Flórido

21 “O OVO OU URUTU”, (acima) e “O lago”, ambas de 1928: no período antropofágico, formas se condensam em elementos arcaicos, como ovos e cobras em tensão e paisagens estilizadas

(27/2/2012) “Uma figura solitária, monstruosa, pés imensos, sentada numa planície verde, o braço dobrado repousando num joelho, a mão sustentando o peso- pena da cabecinha minúscula. Em frente, um cacto explodindo numa flor absurda.” Assim Tarsila do Amaral descreveria o quadro presenteado a seu marido, Oswald de Andrade, em 1928. A pintura apelidada “Abaporu”, do tupi- guarani, “homem que come”, se tornaria o símbolo do movimento antropofágico e inspiraria o “Manifesto antropófago”.

Contra a herança patriarcal e repressiva dos colonizadores, o manifesto, escrito por Oswald, evocava como paradigma ético, político e estético, o modo de vida antropofágico dos índios brasileiros: devorar o outro para melhor assimilar suas qualidades. No lugar da violência civilizatória ocidental, a degustação tribal de todas as influências pelos selvagens canibais.

‘Percurso emocional e afetivo’

O célebre quadro não está em “Tarsila do Amaral — Percurso afetivo”, em exposição no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Mas está outro também emblemático: “Antropofagia”, de 1929, em que “Abaporu” se enlaça com “A negra” (1923). Com curadoria de Antonio Carlos Abdalla e Tarsilinha do Amaral (sobrinha- neta da artista), a mostra apresenta, após 43 anos sem uma individual no Rio, 87 obras dessa artista fundamental do Modernismo brasileiro.

“Para esta mostra não foram considerados os períodos — pau-brasil, antropofágico e social — habitualmente identificados na obra de Tarsila.” O enfoque, escreve o curador, foi “um percurso emocional e afetivo” baseado no “Diário de viagens” da artista, dos anos 1920. O diário é uma colagem de fotos, tíquetes, cartas que a artista recolhia.

Uma espécie de “devoração” do que tinha impacto sobre ela para ser regurgitado em sua arte. Naqueles anos, ela conheceria Blaise Cendras, Picasso, Brancusi, Lhote, Gleizes e Léger, de quem foi aluna. O projeto modernista brasileiro desdobrou-se com ambições antagônicas: o desejo de ser cosmopolita e a busca por elementos genuínos da identidade brasileira; o fascínio pela modernidade, por sua sociedade industrial e progressista, e a valorização do primitivo e do ingênuo; a absorção das rupturas do modernismo europeu e o resgate das tradições nacionais.

De certo modo, seria o elemento afetivo em Tarsila que faria a ponte entre essas polaridades.

A artista soube absorver o impacto da arte moderna europeia e dotá-la de uma inteligência particular. É assim que, na fase pau-brasil, a geometria angulosa e a universalidade cubista mesclam- se com sua memória afetiva: a paleta abre-se às cores dos vilarejos do interior brasileiro; a Torre Eiffel vai acabar em Madureira; “La négresse”, de Brancusi, transforma-se na ama de leite negra de sua infância (na mostra, está a fotografia da “ama de leite” que a inspirou). O “primitivo” descoberto na Europa (das máscaras africanas do Cubismo ao Surrealismo) seria redefinido por sua sensibilidade singular. No período antropofágico, o que era o articulador de polaridades culmina numa síntese mítica — formas sinuosas e estranhas organizam a superfície do quadro; a memória da infância converte-se em memória arquetípica; as formas se condensam em elementos arcaicos, como ovos e cobras em tensão (“Urutu”) e paisagens estilizadas (“O lago”).

22 “Abaporu” parece suspender o próprio humanismo e o que o identificou pictoricamente: a figura arcaica é algo ainda a desenhar- se como homem, o pé se sobrepõe à cabeça mínima, o corpo dobrado recusa a verticalidade da “criatura ilustrada”, signo de dominação e racionalidade. Humanidade sem cabeça ou líder, “sem Napoleão ou César”, como postulou o manifesto.

Em “Antropofagia”, encontramos as mesmas cabeças diminutas, os rostos apagados, os pés agigantados. Ao fundo, a paisagem estabelece um contínuo orgânico com os corpos entrelaçados em ato amoroso, libidinoso e devorador. Comemos por estômago, cérebro, olho, sexo ou coração?

Ao centro, insinuando o ponto de fuga que enlaça as pernas, o seio da Negra. “Matriarcado do Pindorama”, diz o manifesto. Mas o seio não só devora, também dá de comer. Eis o ato amoroso fundamental: oferecerse à degustação do outro. Não é uma inflexão poderosa?

ESTADO DE MINAS – Muito além do mercado

ARTES VISUAIS » Mostra em São Paulo destaca artistas com obras contemporâneas que fogem ao convencional. De Minas, foram escolhidos Fernando Ancil, João Castilho, Pablo Lobato e Raquel Versieux

Trabalho da artista plástica Raquel Versieux reflete pesquisa arqueológica sobre a paisagem mineira Sérgio Rodrigo Reis

(28/02/2012) Foram 1.770 inscritos e 45 artistas selecionados das várias regiões do país que começam, a partir deste mês, uma maratona de exposições por São Paulo, Rio de Janeiro e mais quatro cidades brasileiras. Este é o resultado do edital Rumos artes visuais, promovido pelo Instituto Itaú Cultural, que, até 22 de abril, apresenta em sua sede na capital paulista cerca de 100 trabalhos selecionados, numa exposição coletiva com curadoria geral de Agnaldo Farias e museografia de Marta Bogéa.

Depois de seleção que envolveu 13 curadores de vários estados e de um processo intenso de discussões, chegou-se a um panorama das formas artísticas emergentes na atualidade. O conjunto é o mais diverso possível: da pintura à fotografia, do vídeo à instalação, da escultura às linguagens mais tradicionais. Se existe algo em comum nos trabalhos é uma tentativa de sair do convencional para explorar os materiais até o seu limite.

23 Agnaldo Farias, curador-geral da exposição, explica: “É a primeira vez que reunimos tantos curadores no processo. O resultado escapa à visão predominante no mercado e aposta em trabalhos mais insubordinados e experimentais”. O projeto, nas quatro edições anteriores, a partir da realidade das artes visuais em cada região, além de escolher um grupo para espelhá-la, tentou apontar tendências. Nesta nova edição, Agnaldo Farias acha difícil propor o mesmo, dada à diversidade de linguagens e projetos. “Este ano, o discurso é mais amplo”, avalia.

Produção local A presença dos mineiros entre os selecionados é tímida diante da realidade da produção local. Foram escolhidos apenas quatro: Fernando Ancil, João Castilho, Pablo Lobato e Raquel Versieux. O curador Agnaldo Farias justifica que não existe nenhum tipo de direcionamento no concurso. “É inegável que a tradição mais forte é carioca. Porém, numa seleção composta por 13 especialistas, qualquer tipo de estratagema pegaria mal. Muitas vezes chegamos ao impasse e, somente uma vez, tive que desempatar”, conta.

A produção de artes visuais mineira, apesar da pouca representação entre os escolhidos, conseguiu se sair bem no conjunto. Raquel Versieux faz uma investigação arqueológica sobre o chão e a paisagem mineira, reproduzindo em gravuras a iconografia do século 19. Já Pablo Lobato exibe em monitores imagens retiradas do seu arquivo e, ao lado delas, um cronômetro ligado anuncia o quanto de tempo falta para serem apagadas por um programa de computação. Fernando Ancil faz uma imersão na realidade dos campos de várzea para produzir fotografias. “O que estou achando legal é que, além de mostrar, estamos tendo oportunidade de falar sobre nossa produção”, conta ele.

João Castilho destaca a relação entre documento e notícia. Apresenta cenas de reféns de sequestro ou pessoas em plena guerra, prestes a serem executadas. As imagens de cenas diversas vão sendo exibidas em nove televisores até que se ouve um tiro e todas exibem simultaneamente o instante da morte dos personagens. “É o trabalho mais pesado que fiz”, diz Castilho.

Sobre a vantagem de pertencer à geração atual, aponta o fato de não precisar sair da terra natal. “Gosto daqui e não quero sair. Há 10 anos não podíamos fazer essa opção. Vivo de arte, mas não da venda dos meus trabalhos. Sou artista, mas que faz mestrado, vende obra em galeria, ganha prêmio e faz consultoria”.

FOLHA DE S. PAULO – Arte tecnológica tenta reinventar paisagens naturais

Obras desenvolvidas no laboratório do MIS simulam ambientes como florestas, parques, rios e bosques

Trabalhos de sete artistas foram criados durante residências artísticas no museu e no exterior em 2011

Cena de vídeo do artista Lucas Bambozzi, que mostra reflexos da cidade de Utrecht

24 SILAS MARTÍ, DE SÃO PAULO

(29/02/12) Na mostra das obras criadas no laboratório de novas mídias do Museu da Imagem e do Som, o LabMIS, a parafernália eletrônica de sensores, transmissores, câmeras, amplificadores e luzes está a serviço da paisagem, gênero clássico da história da arte. É como se a tecnologia mais avançada aguçasse o olhar para as formas mais simples, ambientes imersivos que simulam, na verdade, florestas, lagos, parques e bosques.

Pedaços de ferro espalhados pelo chão do museu amplificam os passos dos visitantes. Esse som é transmitido em tempo real para um alto-falante numa floresta nos arredores de São Paulo, onde um microfone capta o canto dos pássaros e o retransmite ao vivo para o espaço do MIS.

"É uma microfonia, um curto-circuito que vai misturando várias vozes", diz Eduardo Duwe, do coletivo Banda Esquizofônica, que montou a obra. "Isso é comunicação e colisão ao mesmo tempo, é robótica ambiental."

Outro ambiente um tanto robótico, como um passeio pela textura de uma embalagem de cigarros vista sob microscópio, é projetado na superfície da água na obra do coletivo Micro.sca.pe/s. São composições abstratas que tremem sob impacto sonoro de amplificadores e ao mesmo tempo refletem a luz de um projetor no teto da sala.

"Nossa ideia é trabalhar com escalas", diz o artista Pedro Veneroso. "Queremos criar a visualização de um universo que não é tangível."

Da mesma forma, Lucas Bambozzi traduz uma paisagem tangível, vistas da cidade holandesa de Utrecht, em tomadas abstratas de seus reflexos na água. Nas cenas do vídeo, o mundo ressurge transmutado pelas ondas.

É uma obra que encontra eco noutro vídeo da mostra. Claudio Bueno filma o rio visto do porto de Québec ao som de vozes femininas entoando uma espécie de litania, alusão à morte de mulheres canadenses que trabalhavam com radiodifusão nos navios durante a Segunda Guerra.

Quem visita o local só ouve esse canto por meio de um aplicativo de celular, ou seja, a tecnologia capaz de traduzir outra história invisível.

Pensando, aliás, nas "Cidades Invisíveis" de Italo Calvino, as artistas Rita Wu e Graziele Lautenschlaeger criaram uma espécie de caixa de ressonância, com elásticos que emitem sons quando tocados pelo público, referência às linhas tecidas entre pessoas e coisas na fictícia Ercília do autor italiano.

FOTOGRAFIA

FOLHA DE S. PAULO – Coleção Pirelli destaca mestres no Masp

Obras de Claudia Andujar, Mario Cravo Neto, , Pierre Verger e outros focam presença do corpo

Mostra anual chega à 19ª edição com mais de cem trabalhos de 45 artistas, todos eles já consagrados no país

25 ‘Cena de Trabalho’ (1947), de Pierre Verger, que retrata estivadores em Salvador

SILAS MARTÍ, DE SÃO PAULO

(28/02/12) Existe certa carnalidade nas fotografias que acabam de entrar para o acervo do Masp, doadas pela Pirelli. É uma presença potente da pele e do corpo, glamourizado ou ultrajado, que domina essas imagens de grandes mestres brasileiros. Em quase duas décadas, a coleção costuma apontar novos nomes da fotografia, mas, desta vez, decidiu turbinar o número de obras de nomes de peso que estão no acervo.

Claudia Andujar mostra uma criança ianomâmi à luz de uma clareira na oca, quase um extraterrestre luminoso no meio do negror fuliginoso da aldeia.

Rosângela Rennó exibe as nucas de prisioneiros fotografadas em estudos para determinar sinais de delinquência por exame de seus dados biométricos. Numa subversão do meio, Rennó refotografa uma imagem de jornal em que sobreviventes de Hiroshima aparecem segurando fotos da cidade japonesa antes do bombardeio atômico. Ela amplia esse quadro e exibe os pontos grosseiros que compõem a foto original, expondo a pele dessa película.

Mario Cravo Neto retrata o corpo como escultura, aproximando a pele da pedra. São negros contra fundos pretos, num desfile de texturas.

Em cores saturadas, Miguel Rio Branco mostra os boxeadores de Salvador numa espécie de transe. Seus corpos avermelhados pela luz escura do ringue parecem pulsar em frequência sanguínea.

Pierre Verger e Marcel Gautherot, franceses radicados no país, surgem com grupos de trabalhadores sob olhar estrangeiro. Eles aparecem em recortes quase geométricos, pele escura e vestes claras contra o céu sobre o mar.

Noutro registro, Otto Stupakoff clica belas mulheres em poses de estatuária clássica para editoriais de moda. A dor passa ao largo dessas imagens em que a forma humana vira objeto de desejo -o contraponto aos índios e detentos de Andujar e Rennó.

MÚSICA

LA NACION (ARGENTINA) - Caetano Veloso y los años

Por Leonardo Tarifeño

(24/2/2012) Cerca de los 70, el cantautor bahiano dice que aprendió a ser paciente y a considerar que siempre hay tiempo para hacer las cosas que uno quiere; se siente cerca de los jóvenes y confiesa que le gusta más cantar que componer

El próximo 7 de agosto, Caetano Veloso cumplirá 70 años. El personaje es tan emblemático que hasta podría pensarse que el aniversario le corresponde a todo Brasil. Creador del movimiento tropicalista, autor de canciones inolvidables, intelectual polémico e ícono contracultural, Caetano

26 representa buena parte del rumbo que la cultura de su país tomó durante la segunda mitad del siglo XX.

Junto a y Tom Zé, y a partir de la "antropofagia" de Oswald de Andrade, Veloso reinterpretó la influencia de Estados Unidos en el arte y la sociedad brasileña, en un ejemplo político- social que impactó en el resto de América latina; estéticamente, unió las influencias de João Gilberto y del cancionero estadounidense (de Cole Porter al rock de los años 60 y 70) para crear un sonido único, que surca de manera transversal la historia reciente de la música verdeamarelha . Pero la novedad no es ésa. La noticia es que muy pronto cumplirá 70 años, y que contra todo pronóstico llega a esa cita al frente de una banda de rock.

De paso por Buenos Aires, a muy pocos días del show que ofrecerá en el porteño Gran Rex junto a su hijo Moreno, Caetano se dejó entrevistar en la intimidad de un hotel. En ese espacio, a la vez luminoso y sombrío, quedó claro que la traducción en letra escrita de ese diálogo fracasaría irremediablemente. Y es que el encanto de este hombre de modales suaves y exquisitos no radica sólo en lo que dice o piensa sino, sobre todo, en el silencio que precede a cada una de sus respuestas, la sonrisa con la que termina cada frase y el esfuerzo que manifiesta con su intención de ser claro y preciso. Da la impresión de que ante uno hay un personaje que ya escribió todas las canciones, respondió a todas las preguntas y vivió todas las historias, pero que siempre tiene algo interesante que decir. Aunque para él, quizá, lo más relevante sea el "muchas gracias por el interés" con el que recibe y despide al periodista, tal vez demasiado vehemente para ser cierto.

-¿Escribe canciones cuando está de viaje?

-A veces, pero aquí no escribí nada.

-¿Le resulta cómodo escribir en un hotel, durante un viaje?

-A veces sí. ¡Muchas veces! Me acuerdo de una canción que compuse en un hotel en Lisboa, y de otras que escribí en hoteles en el interior del estado de San Pablo? Una en Londres, pero no de la época en que estaba exiliado, sino de viaje en un hotel. Hay algunas canciones importantes que fueron escritas, según me acuerdo, en un hotel?

-¿Cuáles?

-Bueno, en Lisboa escribí, justamente, "Noche de hotel". En Londres, en un hotel pequeño, "Vaca profana". Y en el interior de San Pablo, "Vera gata". Al menos me acuerdo de éstas.

-¿Buenos Aires le resulta estimulante como ciudad?

-Me estimula a recorrerla. Yo veo una ciudad a partir de sus panaderías, librerías y pizzerías. No sé si en ese orden, pero son mis prioridades urbanas. Y en Buenos Aires, esa tríada es fabulosa.

-¿Escribe a un ritmo parejo o tiene épocas más creativas que otras?

-Hay épocas en las que escribo más. Si estoy motivado por un proyecto, escribo más. Por ejemplo, a comienzos de 2011 compuse mucho porque quería producir un álbum para , todo con canciones inéditas. Yo pensaba en un tipo de sonido y me proponía componer según esa idea; como tenía esa motivación, creé muchos temas. Y ahora estoy contento porque el disco acaba de salir en Brasil. Pero después de todas las canciones que escribí para ese disco, apenas si compuse una más. Sólo una, y porque me lo pidió mi amiga: Mart'nália, la cantante, hija de .

-¿Qué cosas lo inspiran?

-La verdad, lo que más me inspira para escribir canciones son otras canciones. Sí. La idea y la belleza de su existencia y el hecho de que siempre me haya gustado la música. Esto es lo que más lo lleva a uno a escribir canciones.

-¿Esto pasa au n en los momentos difíciles? En su libro V erdad tropical cuenta que escribió "Irene" en la cárcel. En una situación como ésa, ¿la principal fuente de inspiración fueron otras canciones?

27 -Sí. A veces, en los momentos difíciles, escribir una canción es necesario. Y otras veces, en los momentos buenos y agradables, hacer una canción es irresistible.

-¿En qué canciones ha pensado especialmente en todos estos años?

-En muchas. En una multitud de canciones que conozco y que he escuchado de niño. Sobre todo, brasileñas. Y después de las brasileñas, en norteamericanas, argentinas, mexicanas y cubanas.

-¿Las que interpreta son aquellas que le hubiera gustado escribir?

-Sí. A mí me gusta más cantar que componer [se ríe].

-¿Y por qué?

-Es más placentero. Es puro placer. Componer una canción no deja de ser un trabajo; da trabajo. En cambio, cantar es un placer.

-Y eso que, como ha dicho más de una vez, al principio de su carrera no se tenía mucha fe como cantante.

-Todavía no tengo. Ni como cantante ni como músico. En general.

-¿Y se siente más cantante que compositor?

-Creo que mi presencia en el escenario de los músicos conocidos de Brasil se justifica en parte por haber escrito un número considerable de canciones que pueden ser relevantes. Y eso me da el derecho de cantar. Pero a mí lo que de veras me gusta es cantar.

-¿Cuáles son las canciones que le hubiera gustado escribir?

-Las de . Algunas norteamericanas, como? [piensa] "I get a kick out of you", de Cole Porter. El tango "Volver". Algunas canciones de Assis Valente, el compositor brasileño, como "Camisa listada", que grabó en los años 30. "Come as you are", de Kurt Cobain. "Para machucar meu coração", de . "Estrada branca", de Tom Jobim? [sigue pensando]. Bueno, éstas, principalmente.

-¿Y de las suyas? ¿Cuáles le gustan especialmente?

-No sé? eso va cambiando. Pero "Corazón vagabundo" ha sido muy resistente al paso del tiempo. Es raro, porque la hice muy joven, cuando era bastante inexperto con la guitarra; sin embargo, para mí sigue siendo cantable, audible e interesante, aún hoy.

Globalización y mestizaje

-Mencionó las canciones americanas como una gran influencia en su obra. Pero, al mismo tiempo, siempre se ha preocupado de que la cultura de Estados Unidos no se devore a las latinoamericanas. ¿Mantiene esa preocupación aún hoy?

-Para mí es un hecho que la canción estadounidense y toda la cultura de masas norteamericana en general son una presencia dominante en el mundo. Y entonces, sólo se trata de reconocer la realidad de ese hecho. Uno trabaja a partir de aquello que es, y formar parte de una generación contemporánea de la época en que la cultura popular de masas de Estados Unidos dominó el globo es parte de la composición de mi persona. Ahora, también es cierto que aunque yo ame muchas canciones estadounidenses, mi interpretación de ellas va a ser hecha por una cabeza que habla portugués africanizado en América. Y las vivencias culturales que eso implica siempre son más fuertes.

-También es un gran defensor del mestizaje y las formas culturales que no son puras. ¿Cree que la globalización favorece el mestizaje o lo convierte en algo homogéneo y superficial?

28 -Creo que pasan las dos cosas. Por lo que hemos visto, el mestizaje ha generado una reacción extrema de los nacionalismos. Con la globalización radicalizada de las últimas décadas, algunos particularismos se pusieron más fuertes y quizá más fanatizados. Es algo que se ve mucho en Europa: localismos y nacionalismos lingüísticos o culturales que se fortalecen al mismo tiempo que la economía se globaliza y que la cultura de masas es más norteamericana aún. Pero el mestizaje ocurre más allá de esas reacciones. Siempre que puede, ocurre. Y más en un mundo como el actual, donde los viajes rápidos y las comunicaciones accesibles favorecen todo tipo de mezclas. Al mismo tiempo, la sensación de que pueda haber un proceso homogeneizador no parece muy saludable. Es curioso, porque en estos casos dan ganas de pensar como Lévi-Strauss: que las diferencias culturales son vitales para la presencia humana sobre el planeta. Tal vez sea así. No pienso como él, pero cuando veo demasiada tendencia a la uniformidad me siento inclinado a pensar que sus ideas sobre este asunto tienen fundamento.

-¿Cree que la globalización impone un acento norteamericano? ¿A partir de la globalización somos todos un poco más estadounidenses?

-Es un tema complejo, con muchos matices, que no admite una mirada unidireccional. Por ejemplo, algunos de los grupos de rap brasileño más auténticos, aquellos que surgieron de las favelas y que llevaron más afirmación para la población marginada, tienen como miembros a artistas que se llaman , Eddie Rock o Ice Blue. Parecen extraídos de una serie de un canal norteamericano. Y, sin embargo, ellos son los que, de hecho, representan más y mejor a las poblaciones reales de estos sitios particulares de Brasil. Esa gente se reconoce en ellos. Porque hay un nacionalismo transnacional, que es el nacionalismo negro, que también forma parte de esta situación. Son muchos factores para tener en cuenta, y estas caracterizaciones de estilos e identidad se componen de todos estos factores. Hay una complejidad que nos presenta un mundo interesante, más que un mundo homogeneizado. Son movimientos complejos y quizás fascinantes, que no representan un deseo de uniformidad, aunque sí, tal vez, de "ser" norteamericano.

-¿"Ser" norteamericano?

-Sí. Y es que un chico con poca cultura de libros y pocas oportunidades en la vida siente que la vida americana de la televisión y las películas es la vida verdadera. Los nombres de las celebridades, todo, es como si la vida verdadera fuera la americana, no la suya. Y disculpa que diga "americanos" y no "estadounidenses", como se dice en español: es que no me gusta la palabra "estadounidense".

-¿Por qué?

-Porque es una palabra inventada, y además mal hecha. Estados Unidos no es el nombre de aquel país; el nombre es "América", pero ya sabemos que un país en América no tendría el derecho de llamarse como el continente. Sin embargo, así son los colonizadores ingleses. En el sur de África hicieron lo mismo, llegaron a una zona y le pusieron Sudáfrica. Es una costumbre inglesa, extraña, eso sí... [Se ríe].

La música y los jóvenes

-Desde su disco C ê toca con una banda de jóvenes. ¿Qué es lo que le da, musicalmente y no sólo en la música, el contacto con otras generaciones?

-Me da muchas cosas. Sobre todo porque los chicos con los que yo toco saben todo. Conocen las canciones brasileñas de los años 30, las americanas tradicionales, las latinoamericanas, las del rock actual, el indie o el pop, todo lo de los años 60 y 70? Son eruditos en lo que hacen. Hay muchos así. Y éstos que trabajan conmigo son especialmente curiosos. Entonces, sí, me siento muy bien porque yo también soy curioso y conozco muchas cosas. Eso hace que trabajemos con gran facilidad y una muy buena comunicación.

-¿Se reconoce en ellos? ¿Ve un poco de usted mismo cuando tenía esa edad?

-Sí, un poco sí, claro. Cuando estamos viejos nos reconocemos en los jóvenes porque alguna vez fuimos como ellos. Hubo un día, ya lejano, en que fui como ellos también. Y además son músicos

29 jóvenes; yo, que fui un músico joven, sé lo que les pasa y me reconozco en ellos. Pero después aparece otra identificación, más personal, que por suerte no depende del tiempo.

-¿Esa identificación la alimenta el interés mutuo por el rock?

-No sé. Cuando Pedro Sá y yo inventamos la banda que participó en C ê , nos dimos cuenta de que las canciones eran un puente entre el rock, el postpunk y el espíritu de los arreglos de Tom Jobim. La mezcla nos enriquecía, nos llevaba a un lugar que nunca habíamos pisado.

-¿Qué lugar?

-Musicalmente, el de una experimentación basada en el rock, pero que surgía del rock sin quedarse allí. Como decíamos antes, una zona de mestizaje.

-Es curioso que usted apueste con fuerza al rock cuando está cerca de cumplir los 70 años.

-[Se ríe]. Debe ser porque el rock es uno de los sinónimos del sexo. Cuanto más básico es el rock, más cerca está del sexo. Y todos sabemos que el sexo no tiene edad.

-De joven, a usted le interesaba especialmente la poesía. ¿En los amigos jóvenes de su banda también ve ese interés en la poesía?

-También, también. Aunque ellos conocen sobre todo la poesía de las letras de las canciones. En mi generación, la poesía la cultivaban más personas. La gente joven de la actualidad lee poco, y sobre todo lee poca poesía. Los libros de poesía no despiertan el interés que despertaban en los años 50 y 60, eso está muy claro. Con mis amigos de mi época podíamos decir de memoria muchos poemas. Ahora no es así. Mis amigos de ahora hablan de música, de canciones y de autores, de Iggy Pop a Lou Reed, pasando por Martinho da Vila?

-¿...como usted hablaba de poesía concreta?

-Bueno, los poetas concretos los encontré de más grande, pero hablábamos mucho de Drummond, de Vinicius, de Fernando Pessoa, sabíamos poemas de Federico García Lorca. La poesía nos decía algo que tomábamos personalmente. Creo que los jóvenes hoy buscan esas voces en otra parte. En las canciones, por ejemplo.

-¿Sigue leyendo poesía?

-Sí, pero menos. No leo tanto como cuando era joven. Y desde hace tiempo debo leer con lentes, ya no puedo salir sin ellos, y hubo un tiempo en que eso me molestaba mucho. Por otro lado, cuando éramos jóvenes mis amigos leían mucha poesía y hablábamos, sí, de eso. Pero si soy sincero, debo admitir que la mayoría de ellos eran poetas. Porque creo que a los demás, ayer y hoy, la poesía no les interesa mucho. Es un fenómeno que no sé explicar.

-Ahora que va a cumplir 70 años, ¿qué encuentra en esa edad que lo haya sorprendido para bien?

-¿En mí?

-Sí, claro.

-[Piensa mucho.] Vivir en carne propia la sensación del tiempo. La capacidad de esperar. Y la de saber resignarme a frustraciones que, aprendí, en general son pasajeras y pueden ser superadas. La capacidad de no caer en impaciencia y desesperación porque el tiempo podría no ser suficiente. Uno, a los 25 o 34 años tiene, probablemente, décadas por vivir, pero siente que no hay tiempo para nada. A los 69, en cambio, quizás no tenga ni dos décadas más por delante, no se sabe, pero creo que muchos, o al menos ése ha sido mi caso, aprenden que hay tiempo. Se puede esperar.

-¿Cómo impacta la edad en su trabajo musical?

30 -Preferiría tener otra edad, no lo voy a negar. Pero los artistas no nos jubilamos. Y si pensamos en músicos de rock, hay muchos muy buenos que tienen mis años o más. Yo no sé si cantar es un trabajo; exige fuerzas, pero que no dependen mucho de la edad. Miro atrás y pienso que todas mis canciones me han dado mucho placer. Tal vez de allí surja la fuerza que aún creo tener.

-Después de tantos discos grabados y tantas canciones escritas, ¿cómo ve su obra? ¿Qué podría decir de ella, a su favor?

-Que es perdonable.

CAETANO,SEGÚN PASAN LOS AÑOS

1944. Infancia

"De niño tenía complicadas intuiciones filosóficas", dice Caetano cuando contempla esta foto que le sacaron al cumplir dos años.

1966. Amigos

En su juventud, se rodeó de poetas. En la foto, tiene a la izquierda a Torquato Neto, colaborador de Gilberto Gil, y a la derecha a Capinan.

1967. Dedé

El 29 de noviembre se casó con Dedé, como todos llamaban a Andrea Gadelha. Fue la primera de las varias compañeras sentimentales del cantante.

1968. Militancia

El 26 de junio, Dedé y Caetano participaron en la Marcha de los Cien Mil, la protesta contra el asesinato del estudiante Edson Luis a manos de la policía.

1970. Popularidad

Antes de los 30, llegó el reconocimiento. La foto lo muestra en el estudio de grabación, junto al productor Guillermo Araujo y su equipo.

1971. Exiliado

Veloso recibe la visita de muchos amigos, entre ellos Gilberto Gil. "En Londres empecé a amar el verde de los parques", dice Caetano.

1972. Juntos

João Gilberto invita a dos jóvenes figuras -Caetano Veloso y Gal Costa- a compartir con él un programa especial para la televisión.

1985. Ídolo

Durante la década del 80, el prestigio de Caetano se extendió por el mundo. En la foto, se lo ve como primera figura en los desfiles del carnaval de Río.

2007. Estampa

"El sexo es un asunto central en mi vida", dijo a los 65 años, en la nota de tapa que le hizo la versión brasileña de la revista Rolling Stone.

PADRE E HIJO EN ESCENA

31 En un video que se puede mirar en YouTube, filmado en un amplio departamento repleto de libros, papeles y discos, Caetano Veloso confiesa que nunca pudo bailar samba con la naturalidad con la que lo hacen los cariocas. Mientras el bahiano habla sobre sus dificultades para aprender el típico paso, la cámara enfoca los pies de Moreno, que se mueven con destreza sobre el piso de parquet. El padre lo observa admirado y el hijo le explica, casi en voz baja, cuáles son los secretos de esa danza tradicional. En la imagen final se los ve bailar juntos.

Así, como compinches, se los ve también sobre el escenario cuando cantan canciones como "Sertão", con letra de Caetano y música de Moreno, y en la presentación en vivo del disco Prenda minha . El 27 de marzo, en el Teatro Gran Rex, el público argentino podrá verlos juntos por primera vez. Harán un concierto acústico a beneficio de la fundación El Arca. Como no podía ser de otro modo, el show se llama Padre e hijo.

COMO UN ROLLING STONE

En su autobiografía, publicada en castellano en 2002 por Salamandra con el título Verdad tropical , Veloso recorre con mucha transparencia su vida sentimental, erótica y política. Entre muchas anécdotas (algunas terribles, como sus meses en la cárcel durante la dictadura militar brasileña), está la del encuentro con Mick Jagger. "A comienzos de los años 80 -cuenta Caetano- Roberto Dávila, un periodista de la televisión, me pidió que lo acompañara a Nueva York para ayudarlo a entrevistar a Mick Jagger. Supuestamente, mi presencia aumentaría la curiosidad de la audiencia, teniendo en cuenta que en la prensa solían llamar a los tipos como yo ?el brasileño' o ?el John Lennon brasileño'. Como nunca les he tenido demasiada antipatía a esas calificaciones imbéciles, acepté la invitación. También, claro, por curiosidad y por admiración a Jagger. Lo interesante es que, cuando le pregunté cómo lo había conquistado el rock, le conté mi desprecio inicial por Elvis y le dije que, al principio, el rock me había resultado primario y poco estimulante, y que a mí y a muchos otros brasileños la bossa nova nos había atraído con fuerza y nos había orientado en otra dirección. Me interrumpió para decir: ?Eso es bueno. Sería muy aburrido si no hubiese estilos diferentes en los diferentes lugares y la música fuera uniforme en todo el mundo'. No me lo dijo como un cumplido, sino más bien como una leve amonestación. Al parecer, creyó que yo me estaba culpando por no haberme interesado antes por el rock and roll. Sin embargo, esa única observación me pareció natural y absolutamente correcta. Viví y vivo como auspicioso el hecho de que la bossa nova surgiera justo cuando mis compañeros y yo estábamos aprendiendo a pensar y a sentir."

Estado de Minas - De olho no futuro

Grupos mineiros buscam novas formas de divulgar o seu trabalho e participam de coletânea produzida por plataforma de música on-line

Thaís Pacheco

(24.02.12) A plataforma de música on-line Melody Box acaba de lançar sua quarta coletânea digital, Fora da caixa volume 4. A edição tem o samba como tema e a intenção de divulgar os novos talentos da MPB.

Entre os 10 artistas selecionados estão três mineiros: Joãozito e A Parceria, Odilara e Samba de Luiz. O CD virtual também traz os grupos Projeto Feijoada (ES), Lêda Chaves (BA), Pouca Chinfra (PE), Caio Martinez (RS) e Sarará Crioulo (PR).

“A gente adorou. É uma forma muito boa de interagir com a rapaziada, além de ser uma divulgação a mais. Ficamos superfelizes”, diz Eurípedes Neto, violonista e cantor do Odilara. Ele se diz orgulhoso em estar ao lado do conterrâneo Samba de Luiz. “Somos parceiros, tocamos juntos em janeiro. O grupo faz um som diferente e mais contemporâneo, assim como o Odilara”, comenta.

Túlio Araújo, pandeirista e vocalista do Samba de Luiz, conta que não foi complicado ingressar no projeto. “Cadastrei-me lá porque banda independente tem de fazer isso em todas as plataformas. Recentemente, eles mandaram e-mail informando que fariam a coletânea e queriam incluir a gente. Claro que aceitamos”, resume Túlio.

32 O contato do Samba de Luiz com o público é significativo, considerando-se sites e as redes sociais em que o grupo está cadastrado. Os músicos recebem cerca de 50 mensagens por semana. Eles estão na Melody Box, Onerpm.com, Toque no Brasil, LastFM e Facebook. “Saí do My Space porque é horrível. Difícil de mexer, dá pau o tempo todo. Já foi a época dele. Atualmente, Facebook é o que dá mais resposta”, diz Túlio Araújo. Isso se deve ao fato de se tratar de um espaço ao qual as pessoas estão conectadas o tempo todo. “Banda independente tenta estar sempre por dentro da internet, em Facebook, blog, essas plataformas todas”, concorda Eurípedes Neto.

Novos formatos

Se as bandas buscam novidades para divulgar o próprio trabalho, empreendedores se preparam para lidar com novos formatos do mercado. “A gente não acredita em vender música. A experiência de ouvi-la é que gera o consumo. As marcas devem estar ali, patrocinando essa experiência”, diz Joana Carneiro, de 30 anos, idealizadora e sócia da Melody Box.

“O futuro da maneira de se consumir música é ‘mobile’. As pessoas baixam e passam para o celular, ouvem no computador. Qualquer rádio simples de carro tem uma entrada USB”, explica Joana.

Por essa razão, as coletâneas criadas pela Melody Box não são físicas, impressas, gravadas e vendidas. Pode-se encontrá-las on-line, disponíveis no site. “Queríamos agilidade e redução de custos, porque há muita coisa legal para mostrar e pretendemos lançar coletâneas com frequência. Essa é uma forma de apostar no caminho que estão adotando lá fora. As próprias rádios têm migrado para internet, iPad e iPhone”, observa a sócia da Melody Box.

MPB

Além de buscar novos caminhos na indústria fonográfica e abrir espaço para os independentes, a Melody Box se propõe a valorizar a variedade da música feita no Brasil. “Ela tem de se renovar. O Skank e o Barão vão parar, tem de vir algo novo. Há muita gente legal, com qualidade musical e apresentação surpreendente no palco. Já é possível ver que esse cara está pronto”, garante Joana.

Com 6,5 mil artistas e 22 mil fãs cadastrados na plataforma, a Melody Box busca a variedade. “Temos samba, MPB, instrumental e rock. Queremos ter amostra de todos os estilos musicais”, avisa ela. A escolha dos nomes para a coletânea se dá por meio de curadoria interna da empresa, além da movimentação dos fãs e das bandas. Ao entrar na página, é possível conferir números, pontos, seguidores, fãs e ranking de cada grupo, além de ouvir música, assistir a vídeos, conferir fotos e enviar resenhas.

33 Banda Odilara comemora a chance de participar da coletânea on-line Fora da caixa volume 4, produzida pela Melody Box

OGLOBO - Quando um artista vale por uma banda

A paraense Liah chega à final do Campeonato Mundial de Loop Station, performance que une talento musical e habilidade cênica

Leonardo Lichote

LIAH E O “LOOP”: “Há um tanto de malabarismo ali”, diz a cantora, autora de sucessos de Sandy e Junior e primeira brasileira no concurso, que tem final em março

Sobre o palco, o cantor se faz acompanhar por seu violão — cena mais que comum na música pop do século XX. Mas o século XXI permite variações.

Ele para de tocar, e o som do violão continua. Pega o baixo e o instrumento é agregado à música, em seguida faz o mesmo com uma percussão e com vozes que reproduzem, sobrepondo-se umas às outras, um coro de backing vocals. Uma banda inteira toca, mas só há uma pessoa ali, multiplicada — com a ajuda de um equipamento que permite a gravação e reprodução, em loop, de cada instrumento separadamente.

34 O quadro descreve uma performance do Campeonato Mundial de Loop Station, que reúne os melhores na prática de montar uma-banda-de-umhomem- só (ou loopers) e cuja final da segunda edição, no dia 21 de março, em Frankfurt, traz pela primeira vez um concorrente do Brasil: a paraense Liah.

Rata de estúdio

A artista de 32 anos não começou sua carreira como looper. Suas composições românticas foram gravadas por Sandy e Junior, Wanessa e . Como cantora, teve “Garotas choram” bem executada nas rádios e emplacou canções em novelas da TV Globo, como “Nossa música” (“A vida da gente”), “E não vou m a i s d e i x a r v o c ê t ã o s ó ” (“Três Irmãs”) e “O amor é mais” (“Malhação”). Seu quarto CD, “Quatro cantos” (Som Livre), com lançamento previsto para março, traz uma parceria com (com participação do compositor). Mas há alguns anos ela descobriu no looping um outro caminho possível na música.

— Sempre fui rata de estúdio, fascinada com aquele ambiente onde você vê a música ganhando forma — explica Liah. — Há cinco anos, antes mesmo de gravar meu primeiro disco, vi um guitarrista fazer isso e achei fascinante aquela possibilidade de levar exatamente esse clima do estúdio para o palco. Mas nunca imaginei que isso poderia virar um campeonato.

Mas virou, ela se inscreveu (ou melhor, foi inscrita por seu produtor, Victor Pozas) e ficou em segundo lugar na edição nacional da competição.

Classificou-se assim para a etapa mundial do Loop Station — campeonato que leva o nome do equipamento produzido pela empresa patrocinadora — e ficou entre os 14 finalistas.

Como é um campeonato baseado numa técnica, não num gênero, há concorrentes que defendem todos os tipos de música — desde o hip-hop em beatbox (percussão com a boca) à simulação de um grupo de blues, um conjunto vocal, uma banda de jazz. Há, porém, a exigência de que seja uma música própria.

— Há um tanto de malabarismo ali. Tudo tem que estar no lugar certo, à mão, porque você precisa de agilidade para que a música soe naturalmente, como se fosse uma banda tocando. Não pode ficar repetindo a mesma coisa muito tempo enquanto você vai pegar um instrumento — diz Liah. — Esse é o desafio maior, fazer como uma bailarina, que não deixa à mostra o esforço, faz tudo parecer fácil.

Outros artistas são fãs da prática. No Brasil, já no início dos anos 2000, no show “Falange canibal”, de Lenine, JR Tostoi sobrepunha guitarras em loop, sozinho no palco, num dos momentos mais fortes do show. E o carioca Daniel Lopes costuma fazer graça em seu show reproduzindo, com auxílio de um pedal de loop e um violão, os arranjos clássicos de canções como “Thriller”, de Michael Jackson.

— (A escocesa) KT Tunstall e (a francesa) Camille também usam pedais de loop — acrescenta Liah, que defende que a prática mudou sua forma de compor. — Assim como faz diferença compor no violão ou no piano, o pedal de loop também te conduz para outro caminho. “Casa vazia”, minha parceria com Ivan Lins, compus ali.

Liah acredita que o looping se relaciona com uma característica da produção musical dos últimos anos — uma era na qual a facilidade da tecnologia digital traz a democratização dos estúdios e a proliferação da cultura independente e faz com que o artista passe a se desdobrar em diferentes funções (compositor, cantor, instrumentista, produtor...):

— Hoje todo músico tem um Protools (software de edição musical) no seu computador, conhece a dinâmica do arranjo, do estúdio.

No segundo semestre, a cantora planeja fazer uma turnê nos Estados Unidos, como looper, ao lado do americano Phil Stendek, vencedor mundial do Loop Station no ano passado — a aproximação se deu quando ele entrou em contato com ela via Facebook, depois de ter visto seus vídeos no YouTube.

35 — Queria também fazer uma turnê com o show “Voltas ao redor de mim”, todo feito com looping — adianta a cantora. — Apresentei-o apenas duas vezes no ano passado.

ESTADO DE MINAS – O rei do partido-alto

Sai em CD a obra completa do sambista Xangô da Mangueira Kiko Ferreira

(28/02/2012) Xangô da Mangueira (1923-2009) foi um dos grandes do samba. Aclamado com títulos de prestígio, como Rei do Samba, Cidadão Samba e Magnífico do Samba, foi responsável direto pela entrada de nos estúdios e palcos, foi afilhado de Paulo da e sucessor de como diretor de harmonia da Mangueira. Durante os mais de 50 anos na função, organizou a divisão da escola em blocos, criou a ala dos passistas e inspirou um parceiro, Jorge Zagaia, a criar os versos antológicos de Diretor de harmonia: “se estou errado me perdoa/ eu sou o samba em pessoa”.

Nascido no Morro do Estácio, filho de mãe mineira e pai paulista, começou pelo jongo e foi aprendendo os ritmos, gêneros e estilos ancestrais e companheiros do samba. Foi operário de indústria têxtil, segurança, estivador e funcionário público. Andou pela Europa e Japão com a Velha Guarda da Mangueira. Frequentador das rodas de samba da Praça Onze, influenciou Martinho da Vila e era para muitos especialistas o equivalente masculino a .

Mestre da improvisação, só entrou para a Mangueira, vindo da Portela e da Lira do Amor, depois de ganhar uma disputa com 10 duplas de improvisadores. Não é por acaso que o título de um de seus quatro discos, o primeiro deles, gravado em 1972, é O rei do partido alto. Os álbuns, gravados quando ele já estava na casa dos 50 anos, estão finalmente sendo lançados em CD.

Moro na roça, a primeira faixa do disco de estreia, já é uma aula de partido-alto, como Quando vim de Minas (aquela do “quando vi de Minas/ trouxe ouro em pó”) e Pequeninho. Na verdade, as 12 faixas podem ser cantadas na sequência, que o resultado será uma roda de samba impecável.

Gravado três anos depois, Velho batuqueiro abre com Carolina meu bem e também tem jeito de antologia com Brincadeira tem hora, Dança do caxambu e Vim da Bahia. Chão da Mangueira (1977), com um certo Bezerra da Silva na tumbadora, tem uma das mais belas composições de Dona Ivone Lara, Festa de Santo Antônio, além de pérolas como Mineiro, mineiro, Catimbó e Viola de pinho.

36 O pacote termina com Xangô da Mangueira Vol. 3, de 1978, com uma mistura de samba de breque (Zé Cansado), dois bons partidos de Beto Sem Braço (Mulher da melhor qualidade e A cobra sussurana), um samba de roda especial (Dá no nego) e o samba de terreiro Perdi minha alegria, na época com 50 anos de criação. Para quem gosta de samba de raízes sólidas e sem truques, a obra completa de um mestre por apenas um punhado de dezenas de reais.

FOLHA DE S. PAULO – Michel Teló vai de Adele ao rei Roberto Carlos no Reino Unido

Cantor tocou para 2.000 pessoas, em sua maioria brasileiros que moram em Londres RODRIGO RUSSO, DE LONDRES

(28/02/12) O cantor Michel Teló se apresentou no domingo à noite para mais de 2.000 pessoas em Londres. Ele trouxe na bagagem "If I Catch You", versão em inglês de seu maior sucesso, "Ai Se Eu te Pego". Mas a tradução para o idioma local não foi necessária. O público da noite era majoritariamente brasileiro, e as empresas que patrocinavam o evento estavam de olho nesse farto filão. Até mesmo o HMV Forum, local do show, colocou na entrada cartazes em português para organizar as filas. Repetidos incessantemente em um telão antes de o show começar, era possível saber qual operadora de telefonia promete as melhores tarifas em ligações para o Brasil, para que companhia ligar em caso de acidentes e até qual empresa de marmitex e qual açougue oferecem serviços aos brasileiros. BRASILEIRADA Teló cativou o público -a "brasileirada", como cumprimentou a plateia- em seu show, que teve quase duas horas de duração. Seus maiores hits, "Fugidinha" e "Ai Se Eu te Pego", foram os responsáveis pelos momentos de maior empolgação, mas o cantor também arriscou composições bem distintas do sertanejo. Caso do hit "Someone Like You", da britânica Adele, e de "Como É Grande o meu Amor por Você", do cantor Roberto Carlos, de quem se declarou fã. Ao fim, usou música tecno e gospel antes do bis com "If I Catch You", que começou em inglês e depois voltou à versão brasileira. A passagem por Londres é parte da turnê internacional do cantor, que antes esteve em Portugal e agora segue para Espanha, Luxemburgo, Suíça, Holanda e Itália. PLATINA Teló disse que, em Portugal, 90% de seu público era local. Ele ganhou um disco de platina no país. À Folha, o cantor disse esperar público de maioria brasileira na Suíça, enquanto na Espanha acha que terá público nativo. Na Itália, não sabe qual será a recepção, mas conta com o sucesso das comemorações de gol ao som do "Ai Se Eu te Pego" para ter casa cheia.

CORREIO BRAZILIENSE - Recife- Paris, sem escalas

O grupo pernambucano Bande Dessinée expõe em álbum de estreia uma clara inspiração na música francesa dos anos 1960 e 1970

Rosualdo Rodrigues

Tudo começou com uma coletânea de France Gall circulando de mão em mão, numa troca de figurinhas entre amigos. Isso foi em Recife, por volta de 2004. O designer Raul Luna apresentou o som da cantora francesa — que fez sucesso nos anos 1960 — aos músicos Filipe Barros e Thiago Surugay. “Ficamos de cara com aquelas músicas, o universo sonoro, a piração dos arranjos de metais e como ela conseguia juntar tantas influências de maneira tão pop”, lembra Filipe. Ouvir France Galle levou a dupla a descobrir também Serge Gainsbourg, Nino Ferrer, Dalida “e um monte de gente que formava a cena dos 1960 na França”.

37 “Essas músicas começaram a rolar nas festinhas e isso foi virando algo bem forte. Ficamos tão instigados que pensamos em começar um projeto tocando essas canções.” Aí, três anos depois de terem posto as mãos naquele disco de France Gall, Filipe e Thiago criaram a Bande Dessinée, grupo recifense que acaba de estrear em disco com o álbum Sinée qua non. A sonoridade retrô, mistura de rock, iê-iê-iê, jazz e surf music, aparece em músicas próprias, grande parte delas em francês — três são em português e uma em italiano, influência de outra descoberta pop dos anos 1960, a italiana Mina.

“As composições em outros idiomas entraram porque era natural para mim, como compositor, e para a banda. Nossa onda não é fazer reverência a ninguém, ou imitar x ou y. A convergência de idiomas e sotaques faz parte do nosso universo criativo. Fazemos música brasileira conectada com o mundo. Descobrir o outro é se descobrir”, declara o guitarrista, que, além de Thiago (bateria), arregimentou Márcio Oliveira (trompete), Tati Monteiro (voz), Ed Staudinger (teclado) e Miguel Mendes (baixo). “Todo esse grupo foi fundamental para a gente chegar à sonoridade do Sinée qua non. Não imagino esse disco sem a presença de cada um dos músicos que fazem parte da Bande.”

As referências aos anos 1960 também estão no refinado projeto gráfico de Raul Luna — sim, o designer que provocou tudo isso —, cheio de imagens de objetos de design da época e sem nenhuma informação sobre a banda. “O projeto tem esse lado viajado, sem focar na imagem dos músicos, mais voltado para um horizonte imagético, que transportasse nossa sonoridade para o disco. As informações estão no CD mesmo, foi uma viagem do nosso designer”, explica o líder da Bande Dessinée (o que em francês quer dizer “história em quadrinhos”). Mas ele lembra que o ouvinte mais curioso vai encontrar na internet todas as informações (www.bandedessinee.com.br).

Em um lugar de identidade cultural local forte, como é Recife, a recepção à banda não poderia ter sido melhor. “Começamos realizando um show e terminamos fazendo uma temporada de dois meses. No primeiro ano, tocamos muito, quase 60 shows em seis meses, parecia grupo brega”, brinca Filipe. Para ele, o interesse pelo diferente é que faz a capital pernambucana ser tão efervescente. “Quando surgimos, inserimos novas referências e tendências para dialogar com a cultura da cidade. Isso eu acho valioso, renova a cena. Depois, muita gente começou a tocar nossas músicas em festinhas, shows e a citar alguns desses artistas como referência para seus trabalhos”.

Lançado o álbum, a expectativa da Bande Dessinée agora é circular cada vez mais além dos limites de Pernambuco. E chegar, inclusive, a Brasília. “Tocamos na festa Criolina em São Paulo, que começou em Brasília. Estamos circulando e temos alguns projetos aprovados para o segundo

38 semestre, mas no momento estamos na parte de produção e tentando superar as dificuldades de circulação dentro do cenário independente.”

Depois da febre A cantora parisiense, hoje com 64 anos, foi uma das grandes sensações da música francesa nos anos 1960 e, embora não tenha conseguido manter a mesma notoriedade a partir da década de 1980, não parou depois disso nem deixou de fazer sucesso. O disco mais recente de Gall é o ao vivo Pleyel, de 2005, e coletâneas são lançadas quase que anualmente na França com os sucessos da cantora — muitos deles compostos por Serge Gainsbourg, como Les sucettes, N'écoute pas les idoles, Laisse tomber les filles, Poupée de cire, poupée de son e Baby pop.

FOLHA DE S. PAULO – Pelas costas

Álbuns embargados por João Gilberto há 20 anos estão disponíveis para venda na internet, em novas edições, produzidas fora do país

O cantor João Gilberto, no palco do Auditório Ibirapuera, em São Paulo (Foto: Tuca Vieira - 14.ago.08/Folhapress) MARCUS PRETO, DE SÃO PAULO

(29/02/12) Eles estão proibidos, mas podem ser comprados em um clique. E com nota fiscal. Pilares da bossa nova lançados por João Gilberto pela Odeon, os álbuns "Chega de Saudade" (1959), "O Amor, o Sorriso e a Flor" (1960) e "João Gilberto" (1961) foram embargados na Justiça pelo cantor em 1992 e, ao menos oficialmente, nunca mais puderam ser reeditados.

No Brasil, jamais foram. Mas edições novíssimas desses discos vêm sendo produzidas de maneira aparentemente irregular fora do país -sobretudo na Inglaterra, onde está instalada a sede da gravadora EMI, detentora do catálogo da finada Odeon.

Estão disponíveis em todos os formatos em voga no mercado atualmente -CD, vinil e digital. Quem os vende? As duas principais lojas virtuais do mundo: a Amazon.com e a iTunes Store, da Apple.

39 "A EMI alega que essas versões são piratas. Mas eu própria os comprei na Amazon. Se a gravadora tem os direitos sobre esses discos, ela teria o dever de cuidar deles", diz a jornalista Cláudia Faissol, mãe da filha caçula de João, que há quatro anos tenta um acordo com a empresa.

Faissol afirma que, há poucos meses, tentou reaver para João as masters originais dos três discos. Segundo ela, a EMI mandou vir um técnico de som americano para mostrar o material ao cantor.

"Mas o que mostraram não eram os originais. Eram rolos de fitas que pareciam ser os originais, mas já estavam manipulados. João reconheceu na hora que os finais estavam cortados", diz. "Para mim, eles não têm mais os masters. Se tivessem, teriam mostrado ao João. Até por medo."

Procurada pela Folha, a EMI diz que seu departamento jurídico está em férias e não vai comentar o assunto.

Já o selo europeu Doxy Music e o inglês él (divisão da Cherry Red Record), que lançaram, respectivamente, as novas edições em vinil e CD da trilogia proibida, não responderam aos contatos até o fechamento desta edição.

O EMBARGO

O imbróglio que envolve a EMI e João Gilberto se arrasta desde 1992, quando os três álbuns -mais as três faixas gravadas pelo cantor no compacto "Orfeu da Conceição" (1962)- foram lançados em um único CD, "O Mito".

João não gostou nada do que ouviu. E entrou na Justiça para que deixassem de ser fabricados. Nunca falou publicamente sobre o assunto, mas suas considerações estão registradas em cena de um documentário ainda inacabado que a própria Faissol vem fazendo sobre o músico.

"No processo [de digitalização], tiram coisas, tiram frequências, fazem besteira. Mudam o som. É uma outra coisa. Eu não sei o que eles fazem, mas sei que fica diferente. Aí então eu me apresento, eu luto por isso", disse o cantor em uma das cenas a que a Folha teve acesso.

Depois de uma batalha que já durava 15 anos, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decretou, em dezembro passado, que João Gilberto terá que receber indenização por violação ao direito moral do autor em razão a "O Mito".

Segundo o laudo do STJ, "as canções originais de três discos gravados em vinil sofreram modificação substancial de apresentação após terem sido remasterizadas".

"Mas João continua sem receber", diz Faissol. "Se o governo não está fazendo nada, é por questão de leviandade. O Juca [Ferreira, ex-ministro da Cultura] recebeu um memorial assinado por João. O governo dele passou e nada foi resolvido. Mais recentemente, falei com Ana de Hollanda. Ela me disse que a lei é lenta assim mesmo."

A atual ministra é ex-cunhada de João Gilberto -o cantor foi casado com Miúcha, irmã de Ana, com quem teve a primeira filha, a cantora . Procurada, a ministra disse, por meio da assessoria do MinC, que não vai comentar o caso.

FOLHA DE S. PAULO – Produtores lutam para ressuscitar turnê de 80 anos

(29/02/12) DE SÃO PAULO - Os produtores da turnê de 80 anos de João Gilberto, cancelada no ano passado após problemas de saúde do cantor, participaram de reuniões no Rio para tentar, enfim, tirar os shows do papel. Hoje, se reúnem em São Paulo. Anteontem, os produtores Maurício Pessoa e Barreto Júnior retomaram as negociações com representantes do músico.

"A bola está com a empresa, que vai ter de refazer uma proposta. Ou eles fazem uma legal, ou eu vou ter que aceitar outras propostas, de fora do Brasil ou mesmo do governo", disse Claudia Faissol, mãe de uma filha de João, que intermedeia as negociações.

40 Segundo Pessoa, as reuniões tratarão de datas, locais de apresentação e condições do contrato, e não sobre novos valores.

Anteontem, os produtores se reuniram também com a direção do Theatro Municipal do Rio, que tinha feito um adiantamento de cerca de R$ 200 mil por um show da turnê.

"Estamos estudando datas a partir de maio e junho", afirmou Pessoa.

Hoje, a reunião será com o Via Funchal, casa de espetáculos onde se realizaria a parte paulistana da turnê. (MATHEUS MAGENTA E MARCUS PRETO)

LIVROS E LITERATURA

Folha de S. Paulo – Rubem Fonseca vence prêmio em Portugal

Autor, que ganhou 20 mil euros por "Bufo & Spallanzani", fez discurso bem-humorado ISABEL COUTINHO, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PÓVOA DE VARZIM (PORTUGAL)

(24/02/12) O escritor Rubem Fonseca recebeu ontem, na cidade portuguesa de Póvoa do Varzim, o Prêmio Literário Casino da Póvoa. O autor ganhou 20 mil euros (cerca de R$ 46 mil) por "Bufo & Spallanzani", publicado em Portugal no ano passado. Fonseca viajou a Portugal para receber a homenagem da 13ª edição do encontro literário Correntes D'Escritas. Ele concorria com autores como Enrique Vila-Matas, Leonardo Padura e Inês Pedrosa.

Ainda ontem o escritor brasileiro, que ganhou em 2003 o Prêmio Camões, o mais importante da língua portuguesa, foi condecorado pelo governo português com a Medalha de Mérito Cultural.

"Amo a língua portuguesa, é uma língua lindíssima", disse ele durante o discurso de agradecimento.

"Adoro poesia. Lembrei-me de Camões. Vocês me permitem que eu leia Camões?", perguntou. Em seguida, recitou o soneto "Busque Amor Novas Artes, Novo Engenho" e terminou com um "Viva a língua portuguesa!".

Em sua justificativa para o prêmio de "Bufo & Spallanzani", o júri declarou que trata-se de "uma obra reveladora da diversidade do humano". A nota destacou, ainda, o rigor da escrita de Fonseca, "bem como a qualidade da arquitetura romanesca".

FALANTE

Em geral avesso a entrevistas e a discursos em público no Brasil, o autor se mostrou bastante falante e bem-humorado no festival.

"A escrita é um risco total?", perguntou ele na tarde de ontem, de microfone na mão e andando de um lado para o outro no palco.

"Na verdade, escrever é uma forma socialmente aceita de loucura. Nessa mesa somos todos loucos, cada um à sua maneira!"

Depois, apontando para plateia, disse: "Não basta ser louco, também tem que se ser alfabetizado".

Despertando risos na plateia, ele completou: "Só existe um caso de escritor analfabeto. Ocorreu no século 14, o nome do escritor era Catarina de Siena, tinha de ser uma mulher, né? Agora, era uma santa, e isso podia ser um milagre. E, como santa, era louca, porque todo o santo é louco, e nós sabemos disso".

Por fim, Fonseca, que vez por outra tentava emular o sotaque português, terminou sua participação dirigindo-se ao público.

41 "E vocês aí não pensem que, não sendo escritores, também não são loucos!"

Estado de Minas – Cada vez mais atual

Um dos autores mais citados nas redes sociais, Caio Fernando Abreu ganha site oficial. Escritor gaúcho, que morreu em 1996, publicou romances, contos e textos para teatro

Caio Fernando Abreu é autor dos clássicos contemporâneos Onde andará Dulce Veiga? e Morangos mofados Thaís Pacheco

(27/02/2012) Era maio de 2010 quando a escritora gaúcha Andréa Beheregaray passou em frente à última casa em que Caio Fernando Abreu morou, em Porto Alegre. Decidida a transformá-lo em centro cultural ou tombar a construção, criou o blog http://salveacasadocaiofernandoabreu.blogspot.com. Logo recebeu adesão de pessoas de várias partes do país, em especial de Liana Farias, produtora cultural de Brasília, que sugeriu a criação da Associação Amigos do Caio Fernando Abreu (AACF), hoje com 60 membros interessados em homenagear a manter viva a obra do escritor. A associação conta com a participação de pessoas de vários lugares, como Porto Alegre, Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Belém e até da Argentina.

Salvar a casa não foi possível. Ela foi vendida antes que a AACF entrasse em ação. Mas os atuais proprietários permitiram que seja colocada uma placa no local. Para manter as atividades e objetivos, a associação decidiu então criar o primeiro site oficial de Caio Fernando Abreu.

Por meio de crowdfunding (“vaquinha” virtual), a turma conseguiu reunir dinheiro para realizar pesquisas, contratar um designer e outros custos administrativos. Em memória aos 16 anos da morte do escritor, o site – www.caiofernandoabreu.com – entrou no ar ontem. Caio Fernando morreu em 25 de fevereiro de 1996, vítima de Aids. Publicou, entre outros livros, O ovo apunhalado, Triângulo das águas, Onde andará Dulce Veiga?, Morangos mofados e Pedras de Calcutá.

Entre tantas possibilidades de falar do escritor, por que um site? “É muito mais prático, por ter um alcance grande. Qualquer pessoa de qualquer lugar pode ter acesso. E como Caio foi muito traduzido, vamos publicar parte da biografia também em inglês e espanhol, para abrir o leque”, conta Liana Farias, que encabeça o projeto. Além disso, o escritor é um dos mais citados nas redes sociais, tanto por textos próprios quanto por apócrifos que se multiplicam a cada dia.

42 No conteúdo on-line, destaque para vários trechos de livros, publicados em formato PDF e cedidos pelas próprias editoras. Liana garante que já está em contato com editoras internacionais para oferecer conteúdo em outras línguas. Uma empresa de pesquisas e organização de acervos de Porto Alegre também decidiu ajudar: reuniu todos os trabalhos acadêmicos produzidos em todas as universidades do país sobre Caio Fernando Abreu, organizou e cedeu ao site.

Além dos livros e trabalhos acadêmicos, o site oferece áudio e vídeo de entrevistas e três apresentações biográficas feitas por amigos: “Caio jornalista”, por Paula Dip; “Caio escritor”, pelo diretor de teatro Luciano Alabarse; e “Caio dramaturgo”, assinado pelo ator Marcos Breda.

A AACF também conseguiu apoio da família do escritor. A irmã, Márcia, disponibilizou clipping de todas as matérias publicadas sobre ele, que foram escaneadas e postadas no site. “É um álbum de figurinhas que a gente vai completando. As coisas vão chegando e vamos oferecendo”, diz Liana Farias, de 28 anos, que lê Caio Fernando Abreu desde 2002.

Palavra de especialista

Paula Dip

Autora de Para sempre teu,

Caio F. – Cartas, conversas, memórias

Caio Fernando na rede

Escrevi um texto para o site chamado “Caio jornalista acidental”. Embora tenha sido dos melhores jornalistas que conheci, não gostava do ofício. Dizia que jornalismo era fazer biscate, como costurar para fora. Ele gostava de escrever livros e não matérias jornalísticas com as quais nem concordava. Às vezes escrevia contos entre uma matéria e outra. As pessoas perguntam se ele usaria Twitter ou Facebook. Não sei. Mas, vivo ou morto, ele está lá. E mais vivo do que nunca. Acho isso uma façanha.

Pode até ser que, eventualmente, uma frase de outra pessoa seja atribuída a ele. Mas isso é o preço da fama. Acontece com Einstein e Arnaldo Jabor. Quanto mais famoso, brilhante e genial é uma pessoa, mais os outros acham que a frase é dele ou tem a cara dele. Costumo encontrar citações bem autênticas, dele mesmo. O Caio tem seguidores muito jovens. O site oficial não vai resolver a questão de as frases se espalharem sem se conferir autoria. Mas o que importa é criar a curiosidade e interesse pela obra dele. Na internet não há como controlar. A vantagem é que ela expande.

Três perguntas para...

Jeanne Callegari

Autora da biografia Caio Fernando Abreu – O inventário de um escritor irremediável

Caio publicou tudo o que queria?

Sim. Algumas coisas que escreveu não foram publicadas porque não era a intenção dele. Mas depois surgiram algumas correspondências ou contos tirados delas. Ele sempre conseguiu publicar, inclusive fez uma revisão da obra dele. O livro Ovelhas negras é uma revisão que fez em vida de coisas não publicadas, rascunhos que poderiam ser aproveitados e comentários.

É possível encontrar a obra completa de Caio Fernando Abreu nas livrarias?

Ainda há algumas coisas mais difíceis. Muita coisa foi relançada no livro O essencial da década de 70 e, depois, na coletânea da década de 1980 (ambas pela Editora Agir). Mas há uma movimentação. Caio já era muito estudado nas faculdades, em mestrados e doutorados e isso foi estourando. Agora está nas redes sociais, as editoras relançam, as peças de teatro dele aparecem muito. A obra não perdeu a relevância, não ficou datada e tem muita gente nova lendo.

Qual a importância de um site oficial sobre Caio Fernando Abreu?

43 O legal do site é que tem o interesse pela obra, que cresce como uma espécie de retomada. Há muita demanda sobre o escritor, querem saber mais sobre ele. Esse estouro é algo bem novo. Não estava assim quando lancei a biografia, em 2008. O site é bacana, um lugar para quem quiser pesquisar a vida e obra de Caio Fernando.

ZERO HORA – Moacyr Scliar nas prateleiras

Obra do autor, falecido há exatamente um ano, será alvo de reedições e novas coletâneas

(27/02/12) Completa-se hoje um ano desde que a morte do escritor Moacyr Scliar deixou uma ausência ainda sentida na literatura do Brasil e do Estado. Autor com 80 livros publicados, Scliar não deixou material de gaveta ou muitos inéditos a redescobrir, mas são previstas para este ano compilações de seus textos para jornais e reedições de seus romances.

Ao longo de cinco décadas de carreira, Scliar passou por várias editoras, mas sua obra para adultos concentra-se em duas casas publicadoras em específico, a L&PM e a Companhia das Letras. A editora gaúcha conta com 11 romances e novelas de Scliar em seu catálogo – quase todos ainda à disposição pela coleção pocket. Há novos planos editoriais para sete dessas obras. A L&PM deve colocar no mercado novas edições, em formato convencional, com capa dura, com prefácios e ensaios introdutórios, dos romances A Guerra no Bom Fim, Os Deuses de Raquel, O Ciclo das Águas, O Exército de um Homem Só, A Festa no Castelo, Os Voluntários e Max e os Felinos. Os primeiros livros reeditados devem estar nas livrarias até o final do primeiro semestre de 2012.

A L&PM também prepara a reunião em um único volume, com 700 páginas, de seis romances da primeira fase da carreira de Scliar que lidam com a questão da identidade judaica no Brasil. O volume será parte da Série Ouro da editora, coleção de luxo que já publicou compilações de clássicos do horror, um trio de romances de Machado de Assis e peças escolhidas de William Shakespeare, entre outros. A estimativa também é de publicação no fim do primeiro semestre.

– O Scliar é um autor de leitura obrigatória para entender a condição humana. Seus livros devem ser lidos, e nosso compromisso como editora é mantê-lo disponível para os seus leitores – diz Ivan Pinheiro Machado, publisher da L&PM.

A outra casa frequente de Scliar, a Companhia das Letras, também prepara novidades: A professora de literatura da UFRGS Regina Zilberman está selecionando material para duas novas antologias de crônicas do autor, com material inédito em livro. A primeira, com crônicas de temática mais geral, tem previsão inicial para agosto. A segunda, com crônicas de temática médica e de saúde, só deve ganhar edição em 2013.

– Os livros incluirão textos ainda do começo da escrita do Scliar em jornal. Será um panorama abrangente da atuação dele na crônica – diz Regina.

Os projetos NOVAS EDIÇÕES A Guerra no Bom Fim, Os Deuses de Raquel, O Ciclo das Águas, O Exército de um Homem Só, A Festa no Castelo, Os Voluntários e Max e os Felinos serão reeditados. EDIÇÃO DE LUXO A L&PM reunirá em um único volume A Guerra no Bom Fim, Os Deuses de Raquel, O Ciclo das Águas, O Exército de um Homem Só, A Festa no Castelo e Max e os Felinos. CRÔNICAS A Companhia das Letras publicará duas coletâneas: uma de crônicas de temática geral e outra de textos sobre medicina e saúde.

44 ARQUITETURA E DESIGN

Brasil Econômico – Retrospectiva dos Irmãos Campana

Mostra premiada já esteve em São Paulo, Espírito Santo e Distrito Federal

(24/2/2012) A partir de 27 de fevereiro, a mais completa retrospectiva dos Irmãos Campana poderá ser conferida no Rio de Janeiro. A mostra, com 200 obras (de 1989 a 2009), foi realizada pelo Vitra Design Museum, da Alemanha, onde permaneceu até fevereiro de 2010, percorrendo posteriormente outros museus da Europa. No Brasil, a mostra já esteve no Museu Vale (ES), no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB-Brasília) e no CCBB-São Paulo, onde foi premiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) de 2011, na categoria Artes Visuais. A curadoria de “Anticorpos” é de Mathias Schwarz-Clauss, curador do Vitra Design Museum.

Os trabalhos

“Anticorpos” têm como foco o conjunto dos trabalhos dos irmãos Fernando e Humberto Campana - artes plásticas, peças de mobiliário e joias -, e mostras suas estratégias, fontes de inspiração e as variadas abordagens do design que eles utilizam. Enquanto Humberto cria seus objetos como artesão e artista autodidata, Fernando participa como arquiteto experiente. Juntos, ignoram todas as convenções do design tradicional, brincam com a noção de funcionalidade e formam seus objetos poéticos a partir de realidades contraditórias.

Terra natal

Considerados figuras importantes do design internacional, os Irmãos Campana têm uma linguagem visual ancorada no Brasil, com contraste de cores, formas emateriais. Utilizando fios emaranhados de algodão, plástico, cobre, retalhos coloridos e estampas em formas exuberantes, transformam uma cadeira numa obra de arte. A retrospectiva apresenta a maior parte dos trabalhos dos Irmãos Campana, incluindo coleções particulares, institucionais e as obras do Estúdio Campana. Exibe ainda peças criadas pelos dois designers especialmente para “Anticorpos”, desenvolvidas em cooperação com o Vitra Design Museum. Dentre elas, um número de experimentações em papel machê e uma série de colagens em papel. ■ Redação

45 OGLOBO - Irmãos Campana: ‘Falta investimento no Brasil’

Prestes a ganhar sala no Museu de Artes Decorativas do Louvre e homenagem na Semana de Design de Pequim, dupla abre duas exposições no Rio

Cristina Tardáguila

OS IRMÃOS Humberto (à esquerda) e Fernando Campana no Leblon e algumas obras em exibição a partir de hoje no CCBB: “Gostaríamos de trabalhar mais por aqui”, diz Humberto, que também abre mostra na galeria Luciana Caravello, Amanhã

46 (29/2/2012) Chegou a hora de os irmãos Humberto e Fernando Campana, a dupla paulista de pele bronzeada que há quase 30 anos administra a mais prestigiosa grife de design brasileiro no exterior, conquistarem o mercado asiático. A Semana de Design de Pequim deste ano, evento que toma a capital chinesa entre setembro e outubro e que é considerado um dos mais conceituados encontros da área na atualidade, escolheu como tema o artesanato e decidiu, há poucos dias, que homenageará os irmãos Campana.

— Embarcamos daqui a alguns dias para a China para conhecer os artesãos que vão nos ajudar a montar nossa instalação — conta Fernando, de 50 anos, durante um café da manhã com O GLOBO no Leblon. — Também vamos conhecer o pavilhão do evento e, lá, bolaremos a mostra, que ainda está na estaca zero — acrescenta Humberto, de 58 anos.

Bambu e bronze

A dupla, que tem obras nos acervos do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) e no Centro Georges Pompidou, de Paris, também vai inaugurar neste ano — provavelmente no segundo semestre — uma sala só sua no Museu de Artes Decorativas do Louvre.

— Será uma sala especial, com uma exposição totalmente nova — adianta Humberto. — Faremos uma instalação com bambu e bronze, materiais bem diferentes que revelam nosso interesse por misturas, ocupando todo o espaço, e exibiremos nele seis peças novas. Em abril, estarei em Roma fabricando o conjunto, mas já sei que haverá sofás, candelabros, cadeiras... Apesar do sucesso internacional, a dupla surpreende:

— Gostaríamos mesmo é de trabalhar mais por aqui. O problema é que falta investimento do empresariado brasileiro — critica Humberto. — Neste exato momento, temos uma cadeira novinha feita com caixas de ovos prensadas pronta para ser construída que não despertou o interesse de nenhum brasileiro.

Aliás, vale registrar que, diferentemente do que acontece em qualquer outro lugar que sedia uma Olimpíada, os designers brasileiros não foram envolvidos. Não tenho notícias de ninguém que tenha sido oficialmente convidado para participar ou para pensar em algo. Nem nós, nem nossos colegas.

Mas, enquanto aguardam propostas para atuar por aqui, os irmãos Campana comemoram as duas mostras que serão inauguradas sobre eles no Rio de Janeiro nesta semana.

O Centro Cultural Banco do Brasil abre ao público hoje a exposição “Anticorpos”, que passou pela Alemanha, por Vitória, Brasília e São Paulo e que, sob a curadoria do alemão Mathias Schwartz- Clauss, do Vitra Design Museum (na cidade de Weil am Rhein), reúne 200 peças dos Campana. — Não se trata de uma retrospectiva — avisa Fernando. — É um recorte da nossa obra, algo que mostra o processo criativo. Essa nossa brasilidade que dispensa o verde e amarelo e que aceita o improviso, a gambiarra. — O Mathias passou quatro anos estudando nosso trabalho, veio ao Brasil duas vezes e acho que conseguiu extrair nosso DNA — diz Humberto. — Conseguiu até nos levar de volta ao mundo bidimensional! São de nossa autoria as ilustrações do catálogo.

O segundo evento em torno dos Campana é a inauguração da exposição “Arte de sentar com arte”, que a galeria Luciana Caravello Arte Contemporânea abre amanhã ao público. A mostrá junta 11 cadeiras, de edição limitada, criadas pelos designers, entre elas “Favela”, feita em 1991, inspirada na Rocinha. Tanto as cadeiras quanto os utensílios domésticos dos Campanha continuam — e continuarão — destinadas ao mercado de luxo. Temendo a “massificação do design” e a “perda de identidade”, a dupla prefere trabalhar no universo da exclusividade.

— Fizemos uma linha de móveis em madeira OSB prensada com papel melamínico, e o mercado popular a rejeitou. A cadeira custava cerca de R$ 300 e não vendeu. Acabamos tirando tudo de linha — explica Fernando.

— Mas é pecado trabalhar para o mercado de luxo? — questiona Humberto. — Não é! Sem querer me comparar a Michelangelo, obviamente, ele não teria pintado a Capela Sistina sem ele! É engraçado ver esse preconceito no Brasil, mas é ele que impulsiona as grandes criações artísticas ao longo da História. Sobre o futuro do design, a dupla coincide: a direção é a sustentabilidade.

47 — O design não precisa mais se ater à funcionalidade. Entrou no campo das artes e chega a ser político. Quem enveredar pela sustentabilidade, por exemplo, vai marcar pontos — aconselha Humberto. Entre os nomes que a dupla acompanha estão os designers Mana Bernardes, Zanini de Zanine e Rodrigo Almeida. QUADRINHOS

ZERO HORA – Páginas de uma vida

QUADRINHOS

“Daytripper” deu o prêmio Eisner a Fábio Bá e Gabriel Moon CARLOS ANDRÉ MOREIRA A série Daytripper, escrita pelos gêmeos brasileiros Fábio Moon e Gabriel Bá, é uma leitura perturbadora que ficará reverberando no leitor por um bom tempo após o fim das 256 páginas do álbum. E esse é um elogio praticamente impossível de ser feito à maioria das coisas que a indústria dos quadrinhos publica atualmente. Estruturada em 10 capítulos, Daytripper foi publicada originalmente em inglês e ganhou o prêmio Eisner (o mais importante do mercado americano) de melhor minissérie. Saiu no centro do país no fim do ano passado, e aos poucos foi chegando ao Rio Grande do Sul, primeiro em livrarias e agora em bancas de revistas. O álbum é protagonizado por Brás de Oliva Domingos, jornalista que trabalha com obituários, intimidado com a sombra de seu pai, grande escritor e intelectual respeitado (a semelhança entre o personagem e Chico Buarque, filho de Sérgio Buarque é intencional). Em cada capítulo, os gêmeos mostram momentos que, por alguma circunstância, transformam a vida do protagonista. Tomadas de decisões impulsivas levam Brás a enfrentar o que de mais drástico existe em qualquer vida: seu fim. Os capítulos são nomeados por um número: a idade de Brás naquele ponto da narrativa. O aniversário de 31 anos, insatisfeito com a profissão; uma excursão a Salvador, com 21; uma separação aos 28. Memórias e sonhos, expressos em um texto conciso e com imagens dinâmicas que, auxiliadas pelo trabalho sutil, quase aquarelado, do colorista Dave Stewart, conseguem fazer de uma página uma expressão das sensações de seu personagem. Cada episódio é um recorte de vida possível, resultado de escolhas que podem ou não ter desfecho trágico. Cada vislumbre da personalidade de Brás por meio de seus momentos cruciais reforça o caráter muitas arbitrário e gratuito da existência humana. OUTROS

Estado de Minas - Cai o acesso à cultura

Walter Sebastião

(24.02.12) Ano passado, os brasileiros se dedicaram menos a programas culturais, como mostra levantamento realizado pela Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio/RJ), em parceria com o Instituto Ipsos. Foram ouvidas 1 mil pessoas em 70 cidades, incluindo as nove regiões metropolitanas.

Se em 2010 53% da população desfrutou de algum programa envolvendo arte, no ano passado esse índice foi reduzido para 45%. Detalhe: nada menos de 47% dos brasileiros não têm o hábito de ir a teatro, cinema ou shows, por exemplo.

Christian Travassos, economista da Fecomércio, atribui a queda de 53% para 45% ao crescimento menor da economia, à sensação de orçamento apertado e à inflação, além da disseminação da internet, que trouxe o hábito de baixar produtos gratuitamente, inclusive de forma ilegal.

Das seis categorias investigadas (livro, exposição, cinema, show, dança e teatro), apenas o setor teatral apresentou crescimento: 9% dos consultados assistiram a alguma peça, contra 7% em 2010. De acordo com Travassos, o levantamento deixa claro: o acesso do brasileiro à cultura é extremamente desigual.

48 “Cerca de 40% da população desfruta de manifestações culturais com regularidade, mas outros 40% nunca as acessaram”, observa o economista. Os 20% restantes oscilam ao sabor de diferentes conjunturas, destaca ele.

Hábito

O motivo do pouco acesso a programas culturais, de acordo com o economista, deve-se à falta de hábito, e não a questões econômicas. “Não adianta ficar reclamando ou constatando que há muito a fazer. O primeiro passo para alterar esse quadro é a escola incentivar crianças, adolescentes e jovens a frequentarem ambientes culturais, mesmo que suas famílias não o façam”, defende.

Essa ação ganha vigor se os jovens contarem com o apoio da família e de políticas públicas, ressalta Travassos. “O que influencia a formação de hábitos de fruição cultural é a experiência: ir ao cinema, ao teatro, ao centro cultural, não apenas falar desses assuntos. Se a pessoa só conhece um ambiente hostil, degradado e violento, não tem como valorizar contextos saudáveis, bem preservados, que fomentem o autoconhecimento e o conhecimento da sociedade”, explica. Christian Travassos diz que a tendência de queda do consumo cultural pode continuar este ano. “Mas a situação tende a mudar no futuro, pois há muitas iniciativas públicas, privadas e do terceiro setor que investem na cultura como vetor de transformação social”, afirma.

A preferência dos entrevistados que frequentaram atividades culturais foi ler algum livro (63%), ir a show e ao cinema (ambos com 53%), assistir a alguma peça (21%), conferir espetáculo de dança e visitar exposição de arte (ambos com 16%).

Tribune de Lyon (França) - Brasilyon, un mois de festival brésilien à lyon

François Mailhes

(27/2/2012) Il n’est pas certain que le climat suive, mais l’intention de « faire chaud au cœur » y est. Pendant un mois la Croix-Rousse se fait son petit carnaval de Rio. La quatrième édition de Brasilyon promet d’animer le quartier du 15 février au 11 mars avec de la danse, de la culture de la gastronomie, avec des vrais morceaux de Brésil. Ainsi il aura des stages d’initiation à différentes

49 danses, dont la samba, mais pas uniquement puisqu’on pourra tester des cours de capoeira, un mélange de danse et d’art martial impressionnant par sa grâce, mais aussi la souplesse qu’il faut posséder pour la pratiquer à haut niveau. Il y aura évidemment une grande partie consacrée à la découverte du Brésil par l’intermédiaire de soirées culturelles et musicales, des conférences débats des soirées concert, des expos et plusieurs lieux où l’on pourra goûter de la feijuada, le pot au feu brésilien à base de viande de porc, de riz et de haricots noirs. Histoire de bien comprendre que le Brésil n’est pas une « civilisation » uniquement constituée de travestis ou de footballeurs, comme le veut le cliché. De nombreuses activités sont prévues pour les enfants. Comme Brasilyon se déroule dans plusieurs endroits, aussi divers que le bar Bar Cassoulet Whisky Ping-Pong, le gymnase de la Ficelle ou le Théâtre Kantor, surveillez bien la programmation. Vous pouvez les récupérer dans les mairies ou consulter le site Internet www.gingando-capoeira- lyon.com

BrasiLyon : cultura & capoeira. du 15 février au 11 mars. Lyon 4e. Tarifs : 10 euros pour les adultes. De nombreuses activités sont gratuites

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS BRASIL-ÁRABE - Um concurso para pequenos expatriados

O Itamaraty abriu inscrições para um concurso de desenho infantil voltado a crianças brasileiras que moram no exterior. O tema é História do Brasil e a meta é reforçar laços com a pátria mãe.

Da redação

(28/2/2012) São Paulo – Crianças brasileiras que moram no exterior podem se inscrever para a terceira edição do concurso de desenho infantil "Brasileirinhos no Mundo". Serão escolhidos os dez melhores desenhos com o tema "Meu capítulo favorito da História do Brasil", que receberão o "Prêmio Itamaraty de Desenho Infantil Brasileirinhos no Mundo". As inscrições, abertas neste mês, devem ser feitas até início de maio.

Divulgação

Saci: desenho da Alemanha foi vencedor no ano passado

(28/2/2012) Podem participar crianças com idades entre seis e 11 anos. Segundo informações divulgadas pelo Itamaraty, o objetivo da iniciativa é "promover e conservar vínculos culturais e de identidade das novas gerações de brasileiros no exterior com seu país de origem". A promoção é feita pelo Ministério de Relações Exteriores por meio da Subsecretaria-Geral das Comunidades Brasileiras no Exterior.

Sob o tema da história, nessa edição os desenhos deverão abordar o modo como o menor recorda ou imagina episódios ou mesmo personagens da história do Brasil antiga, moderna ou contemporânea. As inscrições devem ser feitas por email, mas posteriormente os desenhos devem ser entregues no Consulado ou Embaixada local.

50 Cada concorrente pode apresentar apenas um desenho, que pode ser feito com materiais diversos, como aquarelas, guaches, marcadores, entre outros, e também técnicas variadas como colagens, uso de tecidos, etc. A organização recomenda uso de outros materiais que não o lápis de cor. A obra deverá ser inédita.

O julgamento e a seleção dos premiados serão feitos até 30 de junho. Os julgadores serão personalidades do campo de artes plásticas, professores ou críticos de arte. Além da premiação dos dez melhores trabalhos, serão dadas dez menções honrosas. Os ganhadores receberão kits de jogos, brinquedos e livros infantis sobre o Brasil e literatura brasileira. Serão organizadas cerimônias de entrega em cada local onde haverá premiados.

Na edição passada foram analisados 438 desenhos de crianças de 22 países. Participaram crianças de países árabes como Omã, Líbano e Palestina. O tema era "Minha brasileira(o) favorita(o)" e o ganhador foi da Alemanha. O segundo lugar também foi para uma criança da Alemanha e o terceiro para uma do Japão.

Mais informações

Site: www.brasileirosnomundo.itamaraty.gov.br/acoes-para-a-comunidade/iii-concurso-de-desenhos- infantis-brasileirinhos-no-mundo

FOLHA DE S. PAULO – Medidas vitoriosas e desafios da cultura / Artigo / Fábio de Sá Cesnik

FÁBIO DE SÁ CESNIK, 37, é advogado especializado em entretenimento e terceiro setor. É autor do livro "Guia de Incentivo à Cultura" (editora Manole) As cotas de programação e a captação recorde da Lei Rouanet foram vitórias; é necessário aprovar o Vale Cultura e vincular receitas para a área da cultura (29/02/12) Tivemos um grande ano de 2011 para o mercado cultural do nosso país. Várias medidas gestadas foram vitoriosas. A primeira vitória se deu no campo audiovisual. A sanção da lei 12.485/11, discutida há muito tempo, criou uma estrutura que permitiu uma modificação geral no mercado de cultura. Foram criadas cotas de programação e de canal beneficiando a produção nacional, que estimulam um maior volume de produções para televisão e cinema. Com o aumento da produção audiovisual, impulsiona-se a indústria da música (trilhas sonoras), o mercado editorial (adaptação de livros), a empregabilidade dos atores e técnicos e, portanto, toda economia do setor. Para deixar essa equação ainda mais forte, a mesma lei facilita a entrada do setor de telecomunicações de forma mais ativa na área. Isso ampliará a diversidade de agentes de distribuição, aumentando o acesso à cultura por parte de camadas da população que hoje não são atingidas pela televisão por assinatura. Ainda no campo audiovisual, os recursos para financiamento do mercado foram ampliados pelo Fistel (Fundo de Fiscalização das Telecomunicações) e pelo Condecine (taxa anual que incide sobre filmes veiculados no cinema e na TV). Isso deve significar um aumento de investimento de quase R$ 300 milhões, segundo a Ancine. Produzir mais conteúdo audiovisual significa promover a nossa cultura, além de difundir o turismo e os produtos nacionais. No âmbito executivo, a Lei Rouanet atingiu recorde de captação de R$ 1,35 bilhão em 2011. Ela teve o seu processo de acompanhamento de projetos aprimorado por iniciativa do Ministério da Cultura. O mesmo ocorreu nos Estados: a Secretaria de Cultura de São Paulo, por exemplo, publicou alteração no regulamento do seu programa de incentivo, simplificando normas e criando um calendário de financiamento até 2014. No âmbito legislativo, foi aprovada pela Câmara dos Deputados, em 29 de novembro de 2011, uma proposta de emenda à Constituição para conceder imunidade tributária aos CDs e DVDs com produção musical brasileira. Se o projeto seguir adiante, ele será um marco importante para o mercado. Os desafios agora se concentram em quatro grandes eixos. O primeiro é o envio para a sanção presidencial do projeto que cria o Vale Cultura. Ele possibilita que os cidadãos recebam, das empresas, a partir de incentivos, "vales" para consumo de produtos culturais.

51 O segundo trata da aprovação da PEC 150, que garantiria a vinculação de receitas para a área da cultura. Terceiro, o envio ao Congresso da nova lei de direito autoral, tanto debatida ao longo do ano passado. Por fim, conseguir que o projeto do ProCultura, que busca melhorar o atual sistema de financiamento, possa realmente garantir a destinação de mais volume de recursos ao setor, sem retroceder. Essas iniciativas, se conduzidas de forma acertada, certamente poderão mudar a história da políticas cultural no Brasil.

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