Fernando De Noronha Uma Ilha-Presídio Nos Trópicos (1833-1894) Gláucia Tomaz De Aquino Pessoa
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Memória da Administração mapa Pública Brasileira Fernando uma ilha-presídio nos de trópicos (1833-1894) Noronha Gláucia Tomaz de Aquino Pessoa Cadernos Memória da Administração MAPA n.10 Pública Brasileira Fernando de Noronha uma ilha-presídio nos trópicos (1833-1894) Gláucia Tomaz de Aquino Pessoa Fernando de Noronha uma ilha-presídio nos trópicos (1833-1894) Cadernos MAPA n.10 Memória da Administração Pública Brasileira Rio de Janeiro 2014 Copyright © 2014 Arquivo Nacional Praça da República, 173 20211-350 – Rio de Janeiro – RJ – Brasil Telefones: (21) 2179-1286 Tel./fax: (21) 2179-1253 Presidenta da República Dilma Rousseff Ministro da Justiça José Eduardo Cardozo Diretor-Geral do Arquivo Nacional Jaime Antunes da Silva Coordenadora-Geral de Gestão de Documentos Maria Izabel de Oliveira Supervisora do Programa de Pesquisa Memória da Administração Pública Brasileira Dilma Cabral Texto Gláucia Tomaz de Aquino Pessoa Revisão Rodolfo Nascimento Editoração e Projeto Gráfico Fábio Barcelos Imagens Capa e Sumário – Elaboradas a partir de imagens do mapa South Atlantic Ocean: Fernando Noronha, 1886, presente no acervo de documentos cartográficos do Arquivo Nacional (BR AN,RIO 4Q.0.MAP. 71) Epígrafe: Detalhe da ilustração “Escravos condenados a galés”. CHAMBERLAIN, Sir Henry. Vistas e costumes da cidade e arredores do Rio de Janeiro em 1818-1820. MORAES, Rubens Borba de (Tradutor). Rio de Janeiro: Kosmos, 1943, p. 32. Acervo Arquivo Nacional. OR 1985 Pessoa, Gláucia Tomaz de Aquino. Fernando de Noronha: uma ilha-presídio nos trópicos (1833-1894) [recurso eletrônico] / Gláucia Tomaz de Aquino Pessoa – Dados Eletrônicos - Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2014. Dados Eletrônicos (1 arquivo, 1 megabyte) – (Publicações Históricas; 110) (Cadernos Mapa;10 – Memória da Administração Pública Brasileira) Sistema requerido: Adobe Acrobat Player ISBN : 978-85-60207-61-9 1. Sistema penitenciário – Brasil- História . 2. Administração pública- Brasil – História. I. Título II. Série CDD 351.981 Sumário Num dos lados deste recinto estava a porta forte, sempre fechada, e sempre, de dia e de noite, guardada por sentinelas, somente se abria quando era preciso sair para o trabalho. Para além dessa porta ficava o mundo luminoso e livre, viviam as pessoas normais. Mas aquém do recinto, esse mundo, afigurava-se-nos como uma história inverossímil. Na parte de dentro ficava um mundo especial, que não se parecia já nada com o outro, que tinha as suas leis especiais, os seus trajos, as suas regras e costumes, uma casa de morto de além-túmulo, e uma vida […] como não existe em lugar algum, e pessoas singulares. Pois é esse recanto especial que me proponho descrever. F. Dostoievski. Recordações da casa dos mortos. Tradução e prefácio de Fernão Neves, 2ª edição, Rio de Janeiro: Livraria Castilho, 1924 Sumário Apresentação 7 In tro du ção 8 1. Degredados e galés na ilha 10 2. A transferência dos “sentenciados da justiça civil” para o presídio militar 16 3. Trabalho e resistência 22 Roteiro de fontes 42 Planilha 47 4. “Os grilhões que os prendem ao presídio” - as mulheres em Fernando de Noronha 26 Bibliografia 5 . C 34 vi oti olê dia nc no ia e 28 Lançado originalmente em 1994 como primeiro e único número do que se pretendia ser uma série de publicações do então Setor de Apre Pesquisa do Arquivo Nacional, no qual integrava-se o programa Memória da Administração Pública Brasileira-MAPA, o trabalho senta Fernando de Noronha, uma ilha-presídio nos trópicos, constituiu-se uma importante referência para a história do sistema prisional brasileiro, não apenas pelo esforço de recompor a trajetória ainda controversa ção do presídio, mas também por apresentar um roteiro de fontes sobre o tema sob a guarda do Arquivo Nacional. O retorno da pesquisadora Gláucia Tomaz de Aquino Pessoa ao Programa MAPA, em 2013, suscitou o projeto de reeditar o trabalho sobre Fernando de Noronha - que se encontrava esgotado - e reforçar a tradição institucional da qual nos consideramos tributários: a de editar obras de referências que se constituem fonte de consulta para pesquisadores especializados. Além disto, com a série de publicações virtuais Cadernos Mapa iniciada em 2010, resgatamos um projeto de publicações que, apesar de não ter tido continuidade na década de 1990, pôde ser adaptado para novas tecnologias e novas tendências de pesquisa . Este décimo número difere um pouco do perfil do que foram os últimos Cadernos Mapa dedicados a apresentar os resultados das pesquisas em torno do projeto Política e administração: a genealogia dos ministérios brasileiros. No entanto, ele amplia o escopo de nossos trabalhos, que continuam tendo a história político-institucional como eixo de análise. A nova edição de Fernando de Noronha, uma ilha-presídio nos trópicos (1833-1894) foi revista em alguns aspectos, com a incorporação de nova bibliografia, da discussão sobre a descoberta da ilha e uma análise mais detida sobre o conceito da sociedade dos cativos e da violência na instituição prisional. O roteiro de fontes foi mantido ao final do trabalho, tendo sido incluída uma planilha que registra as mudanças de estrutura, competências, subordinação e denominação, de acordo com a metodologia já consolidada pelo programa de pesquisa MAPA, do Arquivo Nacional. Dilma Cabral Supervisora do programa de pesquisa Memória da Administração Pública Brasileira – Mapa 7 Este Caderno Mapa1 tem por objeto o presídio civil de Fernando de Noronha, que, conforme os arts. 8º e 9º da lei n. 52, de 3 de outubro de Intro 1833, passou a receber os “condenados por fabricação, introdução, falsificação de notas, cautelas, cédulas e papéis fiduciários da nação ou do banco, de qualquer qualidade e denominação que sejam”. A pena prevista dução nesses casos era a de galés, isto é, trabalhos públicos forçados. Nos casos de reincidência, os condenados eram punidos com a pena de galés perpétuas, acrescida do dobro da multa então prevista. Já na segunda metade do século XIX, o decreto n. 2.375, de 5 de março de 1859, determinou que os degredados e os condenados a pena de prisão, “quando no lugar em que se devesse executar a sentença não houvesse prisão segura”, também fossem enviados para Fernando de Noronha. Assim, o então Presídio militar de Fernando de Noronha, que àquela época pertencia à Secretaria de Estado dos Negócios da Guerra, tornou-se também local onde os condenados pelos crimes definidos pelo Código Criminal de 1830 cumpriam suas sentenças. Ao longo do século XIX, houve duas tentativas de organização do presídio. Pelo aviso de 14 de novembro de 1862, o brigadeiro Henrique de Beaurepaire Rohan foi designado para visitar a ilha e realizar estudos para transformar o presídio militar em uma colônia agrícola penitenciária que gerasse receita própria (BRASIL, 1865, p. S14-3; BRASIL, 1864, p. 9). Em 1879, pelo aviso de 30 de agosto, o dr. Antônio Herculano de Souza Bandeira Filho foi encarregado de visitar a ilha com objetivo de colher informações para apresentar uma nova proposta. Essas visitas oficias deixaram registros sobre as inúmeras irregularidades que ocorreram durante as administrações militar e civil, as condições de segurança do presídio, sobre como se dava a execução das penas privativas de liberdade (simples e com trabalho) e de galés, e sobre o cotidiano dos prisioneiros e da população livre que habitava a ilha (BRASIL, 1880, p. A-I-1). O documento redigido por Bandeira Filho serviu de base para a confecção do primeiro regulamento disciplinar na administração da Secretaria de Justiça, o decreto n. 9.356, de 10 de janeiro de 1885. Coube ao Governo Provisório da nascente República tomar as medidas concernentes para remediar os graves problemas herdados do período imperial. O decreto n. 854, de 13 de outubro de 1890, criou no arquipélago os cargos de juiz de direito, com jurisdição civil e criminal, de promotor público e de escrivão, considerados necessários devido ao crescimento populacional da ilha, mas, principalmente, em razão do fato de ali funcionar um presídio. A criação desses cargos, conforme o 1Agradeço a José Luiz Macedo de Faria Santos, Sátiro Ferreira Nunes e a toda equipe do MAPA: Dilma Cabral, Fábio Barcelos, Rodolfo Nascimento, Angélica Ricci Camargo, Daniela Hoffbauer, Felipe Pessanha, Louise Gabler, Rodrigo Lobo, Salomão Alves. 8 referido decreto, foi resultado de “serem de suma gravidade os abusos e irregularidades há muitos anos denunciados por todas as comissões inspetoras” e tinha como objetivo auxiliar “as notórias dificuldades de repressão” que teriam originado, na avaliação do governo, as irregularidades acumuladas ao longo das administrações militar e civil. Com o decreto n. 371, de 14 de fevereiro de 1891, o arquipélago saiu da esfera do Governo Federal e passou a pertencer ao Estado de Pernambuco. Em 1894, o decreto n. 226, de 3 de dezembro, proibiu o recebimento de sentenciados em Fernando de Noronha. Entretanto, esse último diploma legal não encerrou a participação do arquipélago na história da punição e do encarceramento no Brasil. Após a instituição do Estado Novo (1937), o decreto-lei n. 640, de 22 de agosto de 1938, criou no arquipélago uma Colônia Agrícola destinada à “concentração e trabalho de indivíduos reputados perigosos à ordem pública ou suspeitos de atividades extremistas”. Durante a conjuntura de guerra (1939-1945), o decreto-lei n. 4.102, de 9 de fevereiro de 1942 criou o Território Federal de Fernando de Noronha, que passaria a ser utilizado como base militar. Assim, a Colônia Agrícola foi então transferida para a região de Dois Rios, na Ilha Grande, no Rio de Janeiro, passando a se chamar Colônia Agrícola do Distrito Federal. 9 Em artigo intitulado Quem descobriu a ilha de Fernando de Noronha 2 o historiador português Duarte Leite (1864-1950) afirmou que o 1. Degre mercador Fernando de Loronha havia comandado, em maio de 1501, uma expedição que partiu de Lisboa com destino à terra de Vera Cruz, dados e retornando à Europa em julho de 1502.