The Epidemiologic Profile of the Schistosomiasis Mansoni in the Alto
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PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA ESQUISTOSSOMOSE MANSONI NO BAIRRO ALTO DA BOA VISTA, RIO DE JANEIRO The epidemiologic profile of the Schistosomiasis mansoni in the Alto da Boa Vista, neighborhood in Rio de Janeiro Fabíola da Cruz Nunes1, Maria do Carmo Esteves da Costa2, Maria Izabel de F Filhote3, Marta Sharapinn4 RESUMO A esquistossomose é um importante problema de saúde pública no Brasil, onde ainda existem muitas áreas consideradas de média e alta endemicidade para a doença. O presente estudo foi realizado com o objetivo de conhecer o perfil epidemiológico da esquistossomose no bairro Alto da Boa Vista, no Rio de Janeiro, já que este foi considerado área endêmica para a doença na década de 70. Realizou-se um estudo de 177 casos, onde foi identificado uma maior prevalência da doença nas localidades próximas ao Rio Furnas, em pessoas do sexo masculino e na faixa etária de 20-30 anos. As localidades foram visitadas para levantamento das questões ambientais envolvidas na manutenção de focos da doença. O controle da doença na área, só será possível se medidas como o diagnóstico precoce, tratamento dos casos, educação em saúde e saneamento básico forem adotadas em conjunto, já que o ecossistema da região e a imigração de pessoas de áreas endêmicas da região nordeste tem favorecido a manutenção dos focos de transmissão. PALAVRAS-CHAVE Esquistossomose, Schistosoma mansoni, epidemiologia, Biomphalaria ABSTRACT The Schistosomiasis is an important public health problem in Brazil, where there still exist several areas of intermediate and high endemicity of this disease. The aim of the present study was to understand the epidemiologic profile of the Schistosomiasis in the Alto da Boa Vista neighborhood in Rio de Janeiro, which was considered an endemic area in the 70’s. A retrospective study of 177 cases identified a high prevalence of the Schistosomiasis in the areas close to Furnas River, especially among 20 to 30-year-old men. Those areas were visited to investigate all environmental problems related to the maintenance of disease foci. The effective control of the disease in those areas would be possible only if some actions were adopted together such as early diagnosis, treatment of positive cases, health education program and basic sanitation. These initiatives 1 Médica Veterinária. Especialista em Saúde Coletiva – NESC/UFRJ. Mestranda em Saúde Pública – ENSP/FIOCRUZ - End.: Rua Manoel Duarte, 314. Centro Mesquita. CEP 26553-180. Tel.: (21) 88084918 e-mail: [email protected] 2 Médica. Doutora em Saúde Pública - Instituto Nacional do Câncer-INCA/MS. 3 Enfermeira. Especialista em enfermagem do trabalho. Mestre em enfermagem - NESC/UFRJ. 4 Engenheira Sanitarista. Mestre em Saúde Pública - Coordenação de Saúde da Área de Planejamento 2.2 da Secretaria Municipal de Saúde - RJ. C ADERNOS SAÚDE COLETIVA, RIO DE JANEIRO, 13 (3): 605 - 616, 2005 – 605 F ABÍOLA DA CRUZ NUNES, MARIA DO CARMO ESTEVES DA COSTA, M ARIA IZABEL DE F FILHOTE, MARTA SHARAPINN should take into account the ecosystem of that region and the constant immigration of people from endemic areas in Northeast region of Brazil, which might have been favoring the maintenance of the transmission of disease. KEY WORDS Schistosomiasis , Schistosoma mansoni, epidemiology , Biomphalaria 1. INTRODUÇÃO A esquistossomose é uma endemia parasitária típica das Américas, Ásia e África. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que a doença acometa 200 milhões de pessoas em 74 países. No Brasil, acredita-se que são cerca de seis milhões de infectados, encontrados principalmente, nos estados do Nordeste e em Minas Gerais (Katz & Almeida, 2003). Nas Américas, implantou-se inicialmente nos territórios coloniais onde as metrópoles basearam a economia na exploração escravista, importando mão-de-obra africana. Com a presença de moluscos suscetíveis e demais condições ecológicas favorecendo o ciclo evolutivo do parasita, instalou-se a endemia (Rey, 1992). A distribuição da esquistossomose hoje no Brasil não é muito diferente da constatada há 20 anos. As áreas de médias e altas endemicidades constituem uma região contínua, predominando no litoral nordestino, do Ceará até a Bahia, e em Minas Gerais. No restante, a transmissão ocorre em áreas focais, não constituindo um contínuo, sendo eminentemente localizada e de baixa intensidade, com algumas áreas reduzidas de transmissão mais intensa. A epidemiologia da doença é tão variada quanto a ecologia humana e o ambiente no qual a esquistossomose ocorre. Os parâmetros epidemiológicos, como prevalência, incidência, intensidade de infecção e morbidade, variam amplamente, mesmo dentro de uma região (Dias et al., 1994). A dinâmica da transmissão da esquistossomose no Estado do Rio de Janeiro é complexa, e as características ecológicas das áreas de transmissão são distintas. A distribuição das espécies de molusco hospedeiro é extensa e independente da ocorrência de transmissão da doença. O grande fluxo migratório interno torna a preocupação com a expansão da doença e a instalação de novos focos pertinentes (Moza, 2003). A esquistossomose, também conhecida como bilharziose, é transmitida por trematódeos do gênero Schistosoma que, para o homem, tem como principais agentes etiológicos as espécies S. mansoni, S. haematobium e S. japonicum. Sua distribuição geográfica está condicionada pela presença de algumas espécies de moluscos de água doce, do gênero Biomphalaria, que são os hospedeiros intermediários do S. mansoni (Dias et al., 1994). No Brasil , são os caramujos das espécies: B. glabrata; B. tenagophila e B. stramínea (Ministério da Saúde, 2004). Os parasitas adultos, vivem no interior das vênulas da parede intestinal, seus ovos são eliminados com as fezes 606 – CADERNOS SAÚDE COLETIVA, RIO DE JANEIRO, 13 (3): 605 - 616, 2005 P ERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA ESQUISTOSSOMOSE MANSONI NO BAIRRO A LTO DA BOA VISTA, NO RIO DE JANEIRO do paciente e eclodem na água, liberando o miracídio, que nada até encontrar o molusco hospedeiro. No interior deste, cada miracídio transforma-se em esporocistos primário e secundário e depois em cercárias, que abandonam o molusco e nadam em busca de um novo hospedeiro vertebrado (Dias et al., 1994). Em relação ao grau de endemicidade da esquistossomose mansônica de uma área, há dificuldades em estabelecer parâmetros para avaliar o seu grau, devido a seu caráter focal e sua ampla diversidade. Todavia, sugere-se a seguinte classificação: uma área é de alta endemicidade quando há alta prevalência e intensidade de infecção, geralmente em crianças entre 5 e 15 anos de idade, e formas crônicas em adultos; área de moderada ou baixa endemicidade, quando a distribuição geográfica dos portadores e da morbidade severa é bem localizada, em focos nitidamente delimitados (Dias et al., 1994). Apesar da ampla distribuição dos moluscos e as freqüentes oportunidades do contato humano com a água, as altas taxas de transmissão só devem ocorrer em poucos locais. O número de ovos por grama de fezes que fornece a intensidade de infecção, deve ser considerado ao se tentar classificar os níveis de endemicidade (Quadro 1). Com as devidas ressalvas, poderíamos considerar regiões de média e alta endemicidade aquelas com prevalência superior a 10%, com mais de 120 ovos por grama de fezes e presença de indivíduos com quadro clínico da esquistossomose. Área de baixa endemicidade seria aquela com prevalência inferior a 10%, com a maioria dos infectados assintomáticos e eliminando menos de 96 ovos por grama de fezes (Dias et al., 1994). Quadro 1 Intensidade da esquistossomose segundo o número de ovos de S. mansoni, por grama de fezes pelo método de Kato-Katz. A prevalência da doença aumenta rapidamente entre 2 e 15 ou 20 anos e, em seguida, diminui mais ou menos lentamente, nos grupos etários mais velhos (Rey, 1992). Para diagnóstico, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o método de Kato-Katz (Katz et al., 1972), por ser um exame parasitológico de fezes rápido e de fácil execução, além de ser o mais preciso qualitativa e quantitativamente (Katz & Almeida, 2003). No entanto, nas áreas onde a doença é de pouca gravidade, com manifestações leves e pouco específicas, com a maioria dos portadores eliminando menos de 100 ovos do parasita por grama de fezes, a C ADERNOS SAÚDE COLETIVA, RIO DE JANEIRO, 13 (3): 605 - 616, 2005 – 607 F ABÍOLA DA CRUZ NUNES, MARIA DO CARMO ESTEVES DA COSTA, M ARIA IZABEL DE F FILHOTE, MARTA SHARAPINN prevalência real da doença fica subestimada quando se emprega somente esse método para diagnosticar a esquistossomose. Isso ocorre por causa da baixa sensibilidade do método de Kato-Katz, que depende diretamente da quantidade de fezes examinadas e do número de ovos eliminados pelo portador (Oliveira et al., 2003). Os objetivos desse estudo são traçar o perfil epidemiológico da esquistossomose mansoni e estimar áreas de risco para a ocorrência da doença no Alto da Boa Vista, Rio de Janeiro, Brasil. 2. METODOLOGIA ESCOLHA DA ÁREA O bairro Alto da Boa Vista foi selecionado para o estudo por ter sido considerado área endêmica de esquistossomose na década de 70 (Schall et al., 1985). Esta área é a de abrangência do Posto de Saúde (PS) Nicola Albano, o qual é responsável pelo acompanhamento dos doentes. DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO O Alto da Boa Vista está localizado na VIII Região Administrativa (VIII RA) do município do Rio de Janeiro, na A.P 2.II. Possui uma extensão territorial de 3.149,57 ha e tem 11% da sua área urbanizada, com 1.465 imóveis residenciais (PMRJ, 2004). É um bairro de classe alta, que atualmente devido a problemas de segurança pública, vem apresentando uma mudança no padrão demográfico. Está localizado na maior área de floresta urbana do mundo, e tem perdido ao longo dos anos boa parte de sua área verde, por conta do desmatamento e da ocupação humana, existindo atualmente sete favelas avançando pela floresta (Baca et al., 2002). A população caiu em cinco anos, de 9.305 para 8.254 habitantes, sendo 53% de mulheres.