Variação Do Comprimento De Lottia Subrugosa Orbigny, 1846
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Copyright© jan-jun 2017 do(s) autor(es). Publicado pela ESFA [on line] http://www.naturezaonline.com.br Rubioli T, Ferreira CS, Castro GA (2017) Variação do comprimento de Lottia subrugosa Orbigny, 1846 (Patellogastropoda, Lottiidae), associados a bancos de mexilhão em costões rochosos do Espírito Santo, Brasil. Natureza on line 15 (1): 042-049 Submetido em: 26/10/2015 Revisado em: 28/07/2016 Aceito em: 31/10/2016 Variação do comprimento de Lottia subrugosa Orbigny, 1846 (Patellogastropoda, Lottiidae), associados a bancos de mexilhão em costões rochosos do Espírito Santo, Brasil Length variation of Lottia subrugosa Orbigny, 1846 (Patellogastropoda, Lottiidae), associated with mussel beds, at Espírito Santo State rocky shores, Brazil Thiago Rubioli¹*, Clécio da Silva Ferreira², Gilson Alexandre de Castro³ 1 Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). 2 Instituto de Ciências Exatas, Depar- tamento de Estatística, Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). 3 Instituto de Ciências Biológicas, Departamento de Zoologia, Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). *Autor para correspondência: [email protected] Resumo A biologia e ecologia das lapas foram am- amostrados, sendo que as variações morfométricas plamente estudadas por diversos autores, porém es- foram influenciadas, principalmente, pelo recruta- tudos de espécies brasileiras, como Lottia subrugosa, mento diferente de indivíduos entre as estações. Des- contam com pouca representação na literatura. O tra- sa forma, a conservação e o manejo adequado dos balho teve como objetivo comparar a abundância e a bancos de mexilhão são de extrema importância para variação do comprimento de L. subrugosa associa- a manutenção das populações dessa espécie de gas- dos a bancos de Perna perna em diferentes estações trópode no litoral sul do Espírito Santo. (verão e inverno) na Baía de Benevente, ES. Espera- -se responder duas perguntas: 1) Os bancos de mexi- Palavras-chave: Lapa, Perna perna, Baía de Bene- lhão abrigam, em sua maioria, indivíduos jovens de vente, Ecossistemas Costeiros, Abundância. L. subrugosa? 2) A média de comprimento de concha dos indivíduos de L. subrugosa varia entre verão e Abstract The biology and ecology of limpets were inverno. As amostragens de L. subrugosa foram fei- extensively studied by several authors, but studies tas utilizando quadrados de 20 x 20 cm distribuídos of Brazilian species, as Lottia subrugosa, have litt- em três pontos de coleta nos bancos de P. perna. A le representation in the literature. The study aimed abundância relativa de indivíduos < 5 mm das amos- to compare the abundance and length variation of L. tras foi comparada e a população foi classificada em subrugosa associated with beds of Perna perna in classes de comprimento com intervalo de 2 mm. Foi different seasons (summer and winter) at Beneven- realizado o teste de Kruskal-Wallis (α = 0,05) para te Bay, ES. We expect to answer two questions: 1) análise de variância e o teste de Mann-Whitney (α = Mussel beds present mostly young individuals of L. 0,05) para as comparações múltiplas. A maioria da subrugosa? 2) Shell length means of L. subrugosa in- população de L. subrugosa encontrada é composta dividuals vary among summer and winter? Samples por indivíduos jovens, com comprimentos de concha of L. subrugosa were made using squares of 20 x 20 reduzidos. Além disso, a média de comprimento de cm over three different spots on the beds of P. per- concha foi maior no verão na maioria dos costões na. The relative abundance of individuals < 5 mm in Rubioli et al. Variação do comprimento de Lottia subrugosa no Espírito Santo. 43 ISSN 1806-7409 – www.naturezaonline.com.br the samples were compared and the population were ray e Carranza 2007; Buschbaum et al. 2009). classified in length class with 2 mm interval. Kruskal- A biologia e ecologia das espécies de lapas foram -Wallis test (α = 0,05) was performed for analysis of amplamente estudadas por diversos autores (Frit- variance and Mann-Whitney test (α = 0,05) for multi- chman 1961 I e II; Breen 1972; McMahon 1976; ple comparisons. Most of the population of L. subru- Underwood 1979; Picken 1980; Thompson 1980; gosa found was composed of young individuals with Branch 1981; Creese 1981; Niu et al. 1992; Hobday shell lengths reduced. Moreover, the average shell 1995; Denny e Blanchette 2000), porém estudos de length was greater in the summer in most shores sam- espécies brasileiras contam com pouca representação pled, and the morphometric changes were influenced na literatura. mainly by different individuals recruitment betwe- Espécimes de Lottia subrugosa Orbigny, en seasons. Thus, the conservation and appropriate 1846 frequentemente se encontram associados aos management of mussel beds are of great importance bancos de mexilhão, embora sejam capazes de viver for the maintenance of the populations of this gas- em toda a região entremarés (Tanaka 1997). Os gas- tropod species in the south coast of Espírito Santo. trópodes característicos da zona supralitoral e meso- litoral superior tendem a aumentar de tamanho em Keywords: Limpet, Perna perna, Benevente Bay, direção ao limite superior do costão, enquanto que os Coastal Ecosystems, Abundance. gastrópodes característicos da zona mesolitoral infe- rior exibem padrão inverso (Vermeij 1972). Essas ca- racterísticas de distribuição estão relacionadas com Introdução a mortalidade dos indivíduos menores por variações de fatores físicos e biológicos, como a dessecação Principalmente em regiões litorâneas, os re- nos níveis mais altos do costão e predação nos níveis cursos marinhos alimentícios são amplamente con- mais baixos, respectivamente (Vermeij 1972). Além sumidos pelos seres humanos, incluindo moluscos disso, os padrões verticais também podem variar de como ostras, vieiras e mexilhões. Nesse contexto, as acordo com as estações do ano devido a flutuações de pesquisas visando o cultivo de mexilhões no Brasil temperatura, disponibilidade de alimento e períodos se iniciaram na década de 60 pelo Instituto de Bio- de imersão (Breen 1972; Branch 1981). A presença ciências da Universidade de São Paulo. Desde en- e distribuição de organismos sésseis pode também tão, o mexilhão Perna perna Linné, 1758 passou a influenciar a densidade e o gradiente de tamanho ser cultivado em diversos estados brasileiros devido das lapas nos gradientes verticais do costão rocho- à facilidade e ao baixo custo de sua produção (Res- so, onde indivíduos jovens tendem a se abrigar em galla Junior et al. 2008). Porém, a prática de extração bancos de mexilhão, por exemplo, contra condições de mexilhões em bancos naturais ainda é comum e estressantes do ambiente (Thompson 1980). muitas vezes realizada de forma não sustentável, po- O objetivo do presente estudo foi comparar a dendo exercer grande pressão sobre as populações e abundância e variação morfométrica (comprimento) aumentar o risco de esgotamento das mesmas em cer- de populações de L. subrugosa associadas a bancos tas regiões do Brasil (Henriques et al. 2001 e 2004). de P. perna e em diferentes estações do ano (verão Com relação ao seu papel ecológico, os ban- e inverno). A partir disso, espera-se responder duas cos de mexilhão são importantes, pois são conside- principais perguntas: 1) Os bancos de mexilhão abri- rados “engenheiros de ecossistema” (Crooks 2002; gam, em sua maioria, indivíduos jovens de L. subru- Gutiérrez et al. 2003). A agregação das conchas cria gosa? 2) A média de comprimento de concha dos uma maior complexidade e heterogeneidade no am- indivíduos de L. subrugosa varia entre verão e inver- biente, promovendo substrato para o assentamento de no? outros organismos sésseis, alteração na circulação de partículas e refúgio para outras espécies contra outros tipos de distúrbios (Gutiérrez et al. 2003). Portanto, Materiais e Métodos diversas espécies de organismos ‒ incluindo algas, crustáceos, poliquetos, equinodermos, briozoários e Área de estudo outros moluscos ‒ são encontradas dividindo espaço O estudo foi realizado na Baía de Benevente, em com esses bivalves (Gutiérrez et al. 2003; Borthaga- cinco costões rochosos localizados nas praias Monte Rubioli et al. Variação do comprimento de Lottia subrugosa no Espírito Santo. ISSN 1806-7409 – www.naturezaonline.com.br 44 Aghá (20o 52’ 2,5” S e 40o 45’ 29,8” W), Itaipava (20o a presença de indivíduos juvenis nas amostras. Além 53’ 30,5” S e 40o 46’ 0,4” W), Itaoca (20o 54’ 18,3” S disso, a abundância relativa de indivíduos juvenis foi e 40o 46’ 36,7” W), Costa Azul (20o 49’ 58” S e 40o calculada. Para a análise de variância entre as mé- 41’ 34,2” W) e Namorados (20o 49’ 42,6” S e 40o 41’ dias de comprimento de concha foi escolhido um 23,6” W). A Baía de Benevente compreende-se entre teste não-paramétrico, após verificada a normalidade a Ponta dos Castelhanos (20º 50’ 13,61” S e 40º 37’ dos dados através do teste de Lilliefors (p < 0,05). 46,37” W) e a Ponta do Espigão (21º 0’ 13,29” S e 40º Portanto, foi realizado o teste de Kruskal-Wallis (α 48’ 3,15” W), no litoral sul do Espírito Santo, abran- = 0,05) para analisar a variância de comprimento de gendo os municípios de Anchieta, Piúma e Itapemi- concha das amostras entre si. Posteriormente foi re- rim, e os distritos de Iriri, Itaoca e Itaipava (Figura 1). alizado o teste de Mann-Whitney (α = 0,05), para as Três importantes rios da região, que atuam na drena- comparações múltiplas, utilizando o software PAST gem de três grandes bacias hidrográficas, deságuam v3.01 (Hammer et al. 2001). na baía (Rio Benevente, Rio Novo e Rio Itapemirim). O clima da região é tropical úmido, caracterizado por três meses secos (IBGE 2002). As características geo- Resultado lógicas e geomorfológicas de todo o litoral do estado, bem como de regiões específicas foram detalhadas Um total de 2209 indivíduos de Lottia su- por Albino et al. (2006). brugosa foram contados e mensurados em seu com- Com relação à exposição a ondas, o costão ro- primento total de concha.