Caracterização Anatômica Damadeira De Siphoneugena
Total Page:16
File Type:pdf, Size:1020Kb
BALDUINIA. n. 23, p. 21-26, 15-VIl-201O CARACTERIZAÇÃO ANATÔMICA DA MADEIRA DE SIPHONEUGENA REITZIl D. LEGRAND (MYRTACEAE)1 SIDINEI RODRIGUES DOS SANTOS2 JOSÉ NEWTON CARDOSO MARCHIORP RESUMO No presente estudo, a estrutura anatômica da madeira de Siphoneugena reitzii D. Legrand é descrita e ilus- trada, com base em material proveniente do Rio Grande do Sul, Brasil. Os caracteres anatômicos observados são de ocorrência geral em Myrtoideae, corroborando a homogeneidade estrutural da subfarrnlia. O material descrito distingue-se de outras Mirtoídeas nativas no Estado, principalmente pela altura das séries de parênquima axial e das margens unisseriadas de raios. Palavras-chave: Siphoneugena, Siphoneugena reitzii, anatomia da madeira, Myrtaceae. ABSTRACT [Wood anatomy of Siphoneugena reitzii D. Legrand (Myrtaceae)]. The wood anatomy of Siphoneugena reitzii D. Legrand is described and illustrated, based on samples from Rio Grande do Sul state, Brazil. The anatomical features observed in the wood are of common occurrence in Myrtoideae, corroborating the structural homogeneity of this subfarnily. The described species distinguishes itself from other native Myrtoideae from Rio Grande do Sul state, mainly by the height of parenchyma series and ray margins (unisseriate ends). Key words: Siphoneugena, Siphoneugena reitzii, wood anatomy, Myrtaceae. INTRODUÇÃO Apesar da proximidade com o centro de dis- Pouco conhecido, o gênero americano Sipho- persão do gênero, o Rio Grande do Sul conta neugena O. Berg é um dos menores de com apenas um representante na flora nativa: Myrtaceae, contando com apenas 8 espécies, Siphoneugena reitzii D. Legrand (Sobral. 2003). distribuídas desde Porto Rico até o Norte da Ar- Espécie heliófila e seletiva higrófila, a espécie gentina e Brasil (Proença, 1990). Uma nova es- em estudo é um dos elementos mais caracterís- pécie do sudeste brasileiro, Siphoneugena ticos das florestas Nebular e Ombrófila Mista delicata Sobral & Proença foi recentemente in- do nordeste gaúcho (Marchiori & Sobral, 1997); cluída por Sobral (2006), confirmando esta re- sua distribuição geográfica, todavia, inclui o gião como o centro de diversidade do grupo. restante da região sul, alcançando o estado de Um aspecto digno de nota é a preferência da São Paulo (Proença, 1990). maioria das espécies por ambientes úmidos e Árvore de até 15 m de altura, de casca lisa e montanhosos, caso do material em estudo. esfoliante, acinzentada ou amarelada (Sobral, 2003), Siphoneugena reitzii apresenta copa ar- redondada e muito densa, com ramos tortuosos, achatado-tetrágonos quando jovens (Marchiori 1 Recebido para publicação em 16-3-2010 e aceito para publicação em 21-6-2010. & Sobral, 1997). As folhas, curto-pecioladas (1- 2 Biólogo, bolsista do CNPq - Brasil, doutorando do 2 mm) e pequenas (15-40 x 5-10 mm), são Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal, glabras e discolores. As flores, em número de Departamento de Ciências Florestais, Universidade Federal de Santa Maria. CEP 97105-900. Santa Maria, 2-6 (Sobral, 2003), reúnem-se em pequenos RS, Brasil. [email protected] racemos axilares e apresentam hipanto mais lon- 3 Engenheiro Florestal, Dr., bolsista de Produtividade em go do que o ovário, afunilado em direção ao Pesquisa do CNPq, Professor Titular do Departamento de Ciências Florestais, Universidade Federal de Santa ápice, à semelhança de um sifão, como sugere Maria, Santa Maria, RS, Brasil. [email protected] o nome genérico (Marchiori & Sobral, 1997). 21 Conhecida regionalmente como "camboim", perfuração escalariformes constam apenas para a espécie produz madeira muito dura e pesada, Myrceugenia glaucescens. Espessamentos utilizada localmente em moirões de cerca ou espiralados foram assinalados para Cam- como lenha (Legrand & Klein, 1977). A com- pomanesia guazumaefolia, Eugenia in- posição e organização da estrutura anatômica volucrata, Myrceugenia myrtoides, Myrceu- da madeira, objetivo do presente estudo, são ain- genia glaucescens e Myrrhinium atropur- da desconhecidas. pureum. Traqueídeos vasicêntricos foram referidos para Myrceugenia glaucescens, Acca REVISÃO DE LITERATURA sellowiana, Eugenia involucrata e Myrrhinium Com exceção de Siphoneugena densiflora, atropurpureum. Séries cristalíferas, por sua vez, descrita em conjunto com outras 11espécies das foram descritas para o parênquima axial de matas ciliares do centro-oeste brasileiro (Paula Blepharocalyx salicifolius, Eugenia involucra- et al., 2000), não constam referências ta, Acca sellowiana e Myrrhinium atropur- anatômicas na literatura consultada sobre os pureum. representantes do gênero, nem mesmo em obras O comprimento e largura de vasos, na maio- clássicas, como Record & Hess (1949) e ria das Mirtoídeas nativas, situa-se entre 503- Metcalfe & Chalk (1972). 595 llm e 42-58 llm, respectivamente. Muito Para Siphoneugena densiflora, são mencio- variável (11-266 poros/mm2), a freqüência de nados os seguintes aspectos anatômicos: poros é geralmente superior a 50/mm2• A altura porosidade difusa; poros solitários, com 81-103 das séries parenquimáticas varia de 3 a 8 célu- llm de diâmetro e freqüência de 13-18/mm2; ele- las, embora em certas espécies, como mentos vasculares de 346 llm de comprimento, Blepharocalyx salicifolius (até 12 células), o com placas de perfuração simples (raro múlti- caráter ultrapassa o referido limite. Os raios têm plas) e pontoações intervasculares alternas; 1-3, raro 4 células de largura. Quanto à altura, parênquima apotraqueal sub-agregado, além de os unisseriados geralmente apresentam-se com paratraqueal; raios predominantemente 1-2 se- 1-10 e os multisseriados 6-25 células, não ul- riados, heterogêneos, de células quadradas e trapassando, em ambos os casos, 500 llm de al- procumbentes, com 520 llm de altura e freqüên- tura. A freqüência de raios, na maioria das es- cia de 5-1O/mm; e fibras de 1110 a 1212 llm de pécies, fica entre 15 e 25/mm. O comprimento comprimento. de fibras, por sua vez, varia de 800 a 1200 llm, Na maioria das Mirtoídeas sul-rio- na maioria das espécies. grandenses descritas por Marchiori (1984a,b,c; 1987; 1988; 1998), Marchiori & Muniz (1987), MATERIAL E MÉTODOS Marchiori & Brum (1997) e Denardi & O material analisado é proveniente da Flo- Marchiori (2005), foram observados: poros ex- resta Nacional (FLONA) de São Francisco de clusivamente solitários; porosidade difusa; pla- Paula, Rio Grande do Sul. A amostra de madei- cas de perfuração simples; pontoações ra e respectivo material botânico foram incor- intervasculares alternas e ornamentadas; fibras porados à Xiloteca e Herbário do Departamen- com pontoações areoladas (fibrotraqueídeos); to de Ciências Florestais (HDCF) da Universi- parênquima apotraqueal difuso e difuso-em- dade Federal de Santa Maria, com o número agregados; e raios heterogêneos, estreitos. Fi- 6140. bras com pontoações simples ou indistintamen- Do material lenhoso foram extraídos três te areoladas e porosidade semi-difusa, todavia, corpos de prova (3x3x3 cm) da parte mais ex- foram observadas em Eugenia involucrata e terna do lenho, próxima ao câmbio, orientados Myrciaria tenella, respectivamente. Placas de para obtenção de cortes nos planos transversal, 22 longitudinal radial e longitudinal tangencial. Um volume da madeira. Conteúdo de cor alaranjada, outro bloquinho foi também retirado, com vis- muito escasso. Porosidade difusa (Figura IA). tas à maceração. Poros exclusivamente solitários, ligeiramente Os corpos de prova foram amolecidos por poligonais, muito pequenos (36 ± 6,4 (25 - 47,5) fervura em água e seccionados em micrótomo ~m), de paredes finas (2,6 ± 0,4 (2,5 - 3,7) ~m) de deslizamento, regulado para a obtenção de e sem padrão definido de organização (Figura cortes anatômicos com espessura nominal de 20 1A,B). Elementos vasculares de comprimento ~m. Os cortes foram tingidos com acridina-ver- médio (407 ± 72 (280 - 630) ~m), com placas melha, crisoidina e azul-de-astra (Dujardin, de perfuração simples, geralmente oblíquas, e 1964), desidratados em série alcoólica-ascen- apêndices geralmente em ambas as extremida- dente (30%, 50%, 70%, 95% e duas vezes em des (Figura 1D). Espessamentos espiralados, álcool absoluto), diafanizados em xilol e mon- ausentes. Pontoações intervasculares alternas, tados em lâminas permanentes, usando-se circulares (3,9 ± 0,4 (3 - 4,6) ~m), com abertu- Entellan como meio de montagem. ra em fenda inclusa, ornamentada, ao menos em Para as lâminas de macerado, adotou-se o parte dos vasos. Pontoações raio-vasculares com método de Franklin, modificado (Kraus & bordas distintas, semelhantes às intervasculares, Arduin, 1997), usando-se coloração da pasta embora menores (2,6 ± 0,4 (2,1- 3,1)~) e res- com safranina 1% e montagem em lâminas per- tritas às células marginais de raios (Figura 1D). manentes, com Entellan. Parênquima axial: muito distinto das fibras A descrição microscópica da madeira ba- em seção transversal, ocupando 20 ± 3,4 % do seou-se nas recomendações do IAWA volume da madeira, disposto em arranjo Committee (1989). No caso da percentagem dos apotraqueal difuso e, principalmente, difuso-em- tecidos, foram realizadas 600 determinações ao agregados, além de paratraqueal escasso (Figu- acaso, com auxílio de contador de laboratório, ra 1A,B). Séries parenquimáticas com 287 ± 60 conforme proposto por Marchiori (1980). Afre- (210 - 400) ~m de altura e 2 - 4 células (Figura qüência de poros foi obtida de forma indireta, a lF). partir de um quadrado de área conhecida Raios: muito numerosos (22 ± 1 (20 - 24 superposto a fotomicrografias em seção trans- raios/mm),