FENOLOGIA REPRODUTIVA DE CANELA-PRETA ( cath arinensis Mez-) NO PARQUE ESTADUAL DA CANTAREIRA, SÃO PAULO (SP)\

Antonio da SILVA2 Ivor Bergemann de AGUIAR3 .. 4 Edgar Ricardo SCHOFFEL

RESUMO ABSTRACT

A fenologia reprodutiva de Ocotea The reproductive phenology of Ocotea catharinensis (canela-preta) foi estudada no Parque catharinensis was studied in an area of Atlantic Estadual da Cantareira, em área de Mata Atlântica, Forest localized in São Paulo (SP) Brazil at 850 m localizado em São Paulo (SP) a 850 m de altitude mean altitude, 23°22' latitude S and 46°36' média, 23°22' de latitude S e 46°36' de longitude longitude W, with a Cfb climate. Phenological W, com clima Ctb. As observações fenologicas observations were made in 17 trees monthly from foram efetuadas mensalmente, de janeiro de 1988 a January 1988 to December 1995. The flowering dezembro de 1995, em 17 árvores. O florescimento e and fruiting were related with the temperature, air a frutificação foram relacionados com a temperatura, relative hurnidity, rain, photoperiod and hydric umidade relativa do ar, precipitação, fotoperíodo e balance of the place. It was found that the balanço hídrico do local. Constatou-se que o flowering and the fruiting occurred irregularly and florescimento e a frutificação ocorreram de varied between trees and years. Flowering maneira irregular e variaram entre árvores e anos. occurred in the spring, winter and mainly in the O florescimento ocorreu na primavera, no inverno summer. Most of the flowered trees failed to fruit e, principalmente, no verão. A maioria das árvores or produced only immature fruits. Only the fruits que floresceu não frutificou ou produziu somente originated of spring flowering reached the frutos imaturos. Apenas os frutos originados do maturity, showing the need of a hot and wet period florescimento ocorrido na primavera atingiram a for their development. Seeds production was maturidade, indicando a necessidade de um supra-annual and limited to few trees. período quente e úmido para o seu desenvolvimento. A produção de sementes foi supra-anual e restrita a poucas árvores. Palavras-chave: fenologia; florescimento; frutificação; Key words: phenology; flowering; fruiting; seed produção de sementes. production.

1 INTRODUÇÃO Segundo Reitz et al. (1988), é a espécie mais comum, característica e significativa da mata Ocotea catharinensis é uma espécie pluvial da encosta atlântica do Sul do Brasil, freqüente arbórea de grande porte, pertencente à família em altitudes compreendidas entre 300 e 800 m. Sua Lauraceae e conhecida principalmente como canela- madeira é de excelente qualidade, moderadamente preta (Vattimo, 1956; Teixeira, 1980; Inoue et al., pesada (densidade de 0,70 a 0,80 g/cnr'), resistente, 1984; Reitz et al., 1988; Rizzini, 1990; Lorenzi, de fácil desdobro e apropriada para a laminação, 1992; Carvalho, 1994). Ocorre naturalmente em toda apresentando grande potencial econômico. Assim, a encosta oriental da Serra do Mar, na floresta pode ser utilizada para fins nobres como marcenaria e pluvial atlântica, desde o sul do Estado de São Paulo carpintaria, entre outros usos (Inoue et al., 1984; até o norte do (Lorenzi, 1992). Reitz et al., 1988; Lorenzi, 1992).

(1) Parte da Dissertação de Mestrado apresentada pelo primeiro autor em 21/02/97 à Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP de Jaboticabal - SP, e aceita para publicação em agosto de 2000. (2) Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil. (3) Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP,. Rodovia Professor Paulo Donato Castellane km 5, 14870-000, Jaboticabal, SP, Brasil. (BF.lsista do CNPq) (4) Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP, Rodovia Professor Paulo Donato Castellane km 5, 14870-000, Jaboticabal, SP, Brasil. (Bolsista da FAP!::SP)

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SILV A. A. da; AGUIAR, I. B. de & SCI-IÓFFEL, E. R. Fenologia reprodutiva de canela-preta (Ocotea catharinensis Mez-Lauraceae) no Parque Estadual da Camareira, São Paulo (SI').

As flores são bissexuadas e reunidas em Assim, este trabalho foi desenvolvido com o inflorescências racemosas axilares com I a 3 em de objetivo de estudar a fenologia do florescimento e da comprimento. O fruto é uma baga elipsóide, de frutificação de o. catharinensis, em relação aos coloração pardo-escura, com 2,0 a 2,5 em de fatores abióticos, em uma área de ocorrência comprimento e 1,0 a 1,5 em de diâmetro, envolvida natural da espécie. por uma cúpula hemisférica até próximo à metade do seu comprimento (Inoue et al., 1984; Reitz, 1988). Do ponto de vista de extração de sementes, 2 MATERIAL E MÉTODOS Silva et al. (1993) classificaram os frutos de o. catharinensis como carnosos e indeiscentes. 2.1 Área de Estudo As árvores florescem praticamente durante o ano todo (Reitz et al., 1988; Lorenzi, 1992), com maior intensidade em determinados A pesquisa foi desenvolvida em árvores meses do ano, que variam em função do local: de adultas de o. catharinensis numa área de floresta outubro a janeiro (Inoue et al., 1984) e de junho a natural do Parque Estadual da Cantareira janeiro (Carvalho, 1994) no Paraná; de julho a denominada Pinheirinho, administrada pelo março em (Carvalho, 1994) e de Instituto Florestal de São Paulo. O Parque agosto a março no Rio Grande do Sul (Reitz et al., encontra-se localizado na Zona Norte do município 1988). A frutificação ocorre principalmente de de São Paulo (FIGURA I), à altitude média de 850 m, janeiro a março em São Paulo (Carvalho, 1994), de 23°22' de latitude S e 46°36' de longitude W maio a agosto no Paraná (Inoue et al., 1984; (Ventura et al., 1965/66), compreendendo uma Carvalho, 1994), em novembro e dezembro em área de 7.881 ha de Mata Atlântica. Santa Catarina (Carvalho, 1994) e no outono- De acordo com Ventura et al. (1965/66), inverno no Rio Grande do Sul (Reitz et al., 1988). o solo dessa área é classificado como Latossolo De acordo com a classificação em grupos Vermelho Amarelo-fase rasa (LVr) c o clima do ecológicos, o. catharinensis é considerada uma tipo Cfb, segundo a classificação climática de Kõppen. espécie clímax (Carvalho, 1994; Cordini, 1994). Com base nos dados meteorológicos referentes ao Está ameaçada de extinção (Baitello, 1992; período mínimo de II anos, os' autores relataram Carvalho, 1994), devido à destruição de seu habitat que a prccipitacão média anual foi 1.545 mm, a na área de ocorrência natural. Em algumas áreas, temperatura média do mês mais quente 21 ,O°C e a segundo Baitello (1992), é encontrada em estado do mês mais frio 14,4°C. nativo, protegida em Parques Estaduais como o das Lauráceas (PR), o do Ibiritá (RS), o da Cantareira 2.2 Seleção, Marcação e Medição das Árvores (SP), o da Serra do Mar (SP) e o das Fontes do Ipiranga (SP), bem como na Reserva Biológica Em janeiro de 1988 foram selecionadas Estadual da Canela-preta (SC). 17 árvores de o. catharinensis, todas dominantes Apesar da importância ecológica e do dossel florestal, a maioria distribuída na meia econômica, as pesquisas com o. catharinensis são encosta e menor Quantidade em locais planos, escassas e as informações envolvendo sua biologia localizadas em diferentes pontos. A distância entre reprodutiva, que podem ser obtidas parcialmente árvores variou de 18 a 136 m, tendo sido em trabalhos de fenologia, são contraditórias. selecionadas aquelas de bom aspecto fitossanitário, vigor e forma da copa. De acordo com Prado Segundo Lieth (1974) apud Mantovani & (comunicação pessoal), elas possuem mais de 300 MARTlNS (1988), a fenologia estuda a ocorrência anos de idade. de eventos biológicos repetitivos e sua relação com As 17 árvores foram numeradas as mudanças no ambiente biótico e abiótico. seqüencialmente e identifícadas com placas de Referindo-se às matas brasileiras, Morellato et ai. alumínio colocadas no tronco, à altura aproximada (1989) enfatizaram que a fenologia das espécies é de 2 m do nível do solo. Foi efetuada a medição do pouco conhecida. DAP (diâmetro à altura do peito), altura do fuste, Acredita-se que informações mais seguras da copa e altura total, bem como o diâmetro da poderão subsidiar estudos nas áreas de produção, copa de cada uma das árvores selecionadas. Os tecnologia e fisiologia da germinação das sementes. dados obtidos constam na TABELA I.

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FIGURA 1 - Localização do Parque Estadual da Cantare ira no município de São Paulo (SP).

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TABELA 1 - Características das árvores de Ocotea catharinensis selecionadas para as observações fenológicas realizadas no Parque Estadual da Cantareira, São Paulo (SP), em 1988.

Nº DAP Altura fuste Altura copa Altura total Diâmetro copa da árvore (em) (m) (m) (m) (m)

01 62,0 12,50 7,00 19,50 16,60 02 52,0 15,00 5,80 20,80 10,00 03 56,0 10,00 8,80 18,80 6,00 04 51,8 13,00 7,50 20,50 8,00 05 61,3 10,00 8,50 18,50 12,00 06 39,0 11,00 6,00 17,00 6,00 07 40,0 12,50 6,00 18,50 6,00 08 50,0 12,50 7,00 19,50 8,00 09 37,0 12,00 7,00 19,00 6,00 10 47,0 10,00 6,00 16,00 11,50 I I 54,7 12,50 7,00 19,50 11,70 12 50,8 11,50 7,00 18,50 12,30 13 54,0 12,50 8,00 20,50 7,00 14 49,0 12,50 10,00 22,50 8,00 15 55,6 16,00 9,00 25,00 8,00 16 59,9 12,50 14,00 26,50 9,00 17 44,0 9,00 11,70 20,70 10,00 Média 50,8 12,06 8,02 20,07 9,18

o DAP foi medido com uma fita com o uso de binóculo Nikon I° x 70. Quando a diamétrica e para determinar a altura do fuste, foi visualização foi difícil, o observador subiu até a utilizada uma corda de sizal, na qual colocou-se, a copa das árvores para fazer a avaliação. Foram cada metro, a partir de 5 m, uma fita crepe registradas as seguintes fases fenológicas: numerada seqüencialmente. O mensurador escalava a florescimento, reunindo flores em diferentes árvore com a corda amarrada no cinto de segurança estádios de desenvolvimento; e frutificação, e ao atingir o topo do fuste, soltava uma de suas registrando em separado frutos imaturos (de extremidades; outra pessoa, no solo, esticava a coloração esverdeada) e frutos maduros (de corda até o colo da árvore, fazendo a leitura. coloração amarelada). Foi registrada, mensalmente, a O diâmetro e a altura da copa foram ocorrência de árvores que apresentaram cada medidos com vara de bambu graduada em metro, evento fenológico. que também foi conduzida pelo escalador, amarrada Os dados meteorológicos foram obtidos pela corda. de sizal. Ao alcançar a copa da árvore, a na Estação Meteorológica de Mirante de Santana, vara de bambu foi mantida na posição vertical, pertencente ao Instituto Nacional de Meteorologia para a medição da altura, e na posição horizontal, (lNMET), localizada à aproximadamente 6 km da para a medição do diâmetro. A altura total da árvore área de estudo, a 792 m de altitude. Foram elaborados foi obtida pela sornatória da altura do fuste e da gráficos referentes à temperatura, umidade relativa altura da copa. do ar, fotoperíodo, precipitação e componentes do balanço hídrico, compreendendo os oito anos de 2.3 Observações Fenológicas e Meteorológicas acompanhamento fenológico. O fotoperíodo foi estimado com base na latitude do local das As 17 árvores selecionadas foram observadas observações, c o balanço hídrico calculado segundo mensalmente, de janeiro de 1988 a dezembro de 1995, Thomthwaitc & Mather (1955).

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SILV A, A. da; AGUIAR, I. B. de & SCIIOFFEL, E. R. Fcnologia reprodutiva de canela-preta (Ocotea cothorinensis Mcz-Luurnccac) no Parque Estadual da Cantareira, São Paulo (SI').

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO relatada por Reitz et aI. (1988) e Lorenzi (1992), de que a espécie floresce praticamente durante o As condições meteorológicas durante o ano todo. período de desenvolvimento do trabalho foram típicas A variação na época de florescimento de clima Cfb, temperado úmido com período mais observada no Parque Estadual da Cantareira não seco de junho a agosto, no inverno (FIG URAS 2, 3 permite que seja estabeleci da sensibilidade da e 4). A precipitação média anual foi de 1.665 mm espécie à temperatura, umidade e fotoperiodo, para (janeiro foi o mês mais úmido), a temperatura a iudução floral. Estudando a fenologia de espécies média do mês mais quente (janeiro) foi de 23,0°C e arbóreas de floresta de altitude na Serra do Japi, a do mês mais frio (julho), de 16,2°C. em lundiaí (SP), também com clima Cfb, Morellato Com base em dados médios mensais, a et al. (1989) relacionaram os seguintes fatores FIGURA 2 mostra o comportamento da temperatura e desencadeadorcs do florescimento: precipitação após da umidade relativa do ar. A temperatura nos período de estrcsse hídrico para as espécies que meses de verão (dezembro a fevereiro) foi superior, florescem na estação transicional (setembro e em tomo de 10°C, à verificada no inverno (junho a outubro), condições favoráveis para a agosto); da mesma forma, a umidade relativa do ar polinização foi mais elevada durante o verão. para as espécies que florescem na estação seca e A distribuição das chuvas, bem como as período anterior de precipitação abundante para as lâminas de água precipitadas, podem ser observadas espécies que florescem na estação úmida. No na FIGURA 3, tendo ocorrido baixa precipitação Parque Estadual da Cantarcira, as árvores de o. apenas no inverno. Dessa forma, o balanço hídrico catharinensis floresceram nessas três estações. para o período 1988 a 1995, para uma capacidade A duração do florescimento foi de de armazenamento de água no solo de 300 mrn, aproximadamente 120 dias, mas a sua intensidade acusou pequenas deficiências hídricas de julho a variou de árvore para árvore. Algumas floresceram outubro, como mostra a FIGURA 4. Nos demais abundantemente, enquanto outras apresentaram meses, a reposição de água ao solo, pela chuva, foi pouco florcscimento, ou foram mais regulares, ou superior ao consumo de água pela mata, não floresceram. Das 17 árvores observadas, as de predominando, assim, longos períodos com alta disponibilidade de água para as plantas. números 7, 16 e 17 não floresceram no período de O acompanhamento fenológico permitiu estudo (FIGURA 5). As árvores que floresceram constatar que as árvores de o. catharinensis com maior freqüência foram as de números 12 floresceram e frutificaram de maneira irregular (em seis anos) e I e 8 (em cinco anos). As árvores (FIGURA 5). O florescimento ocorreu em vários de números 2, 3, 9 e 14 floresceram em quatro meses do ano, mas concentrou-se principalmente anos, as de números 5, 6, 10, 11 e 15 em três anos no verão e início do outono (janeiro a abril), e as de números 4 e 13, em apenas dois anos. período de maior temperatura (FIGURA 2), maior A considerável variação no florescirnento preeipitação (FIGURA 3) e em que a duração e na conseqüente produção de sementes entre astronômica do dia (fotoperiodo) está diminuindo, como mostra a FIGURA 6. Esse comportamento árvores da mesma espécie tem sido observada por concorda com as observações feitas por Moraes diversos autores, conforme relataram Kageyama & (1993) no Parque Estadual de CarIos Botelho, Pifia-Rodrigues (1993). Essa variação tem sido localizado em São Miguel Arcanjo-SP, onde o constatada quanto à capacidade inerente da árvore flores cimento dessa espécie, em 1991, ocorreu de de florescer de maneira mais abundante ou não, janeiro a março, ou seja, também no verão. assim como quanto ao período de florescimento. Conforme pode ser observado na Estudando a variação individual do florescimento FIGURA 5, houve florescimento em outras épocas de 22 espécies da família Lauraceae, na Costa do ano: na primavera (setembro a novembro), Rica, Wheelwright (1986) verificou a existência de período em que a temperatura, a precipitação e o fotoperíodo estão aumentando, e no inverno (maio indivíduos que cresceram apenas vegetativamente, a julho), período mais frio, mais seco e de menor sem nunca se reproduzirem (Piíia-Rodrigues et al., fotoperíodo. Essa constatação corrobora a informação 1990; Pifia-Rodrigues & Piratelli, 1993).

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Rev. Inst. Flor., São Paulo, 12(2):77-88, 2000. ::;:, t"'lcr. :<: '" '" sr0..<- s Florescimento §.t> ~ 1::::1 Flores e frutos imaturos "'1 fr;» .a., O Frutos imaturos ílfr 17 ~ Flores, frutos imaturos e maduros ::: 'O- cr. - ~;J> ~I l2Zl Frutos maduros C :;~. co: -e 16 "c ~~ P•... o~I .•_ t·" 15 llJ ",' t": t.il B...., 00...... , 14 ..::J lU ~" 00 - -=.=J ~R? .00 Y~ IV o o 13 I :r o - o • o • ...,., ...,., I lIIi..l.lJ tvZl t"'l 12 .:==J -=:J r t"'l 11 I -=:J ;:e (1) - '- • • ...,., o 10 I " '>- • • -=:J -ro ceo ro Oõ'" -o 9 I ~ r..•, o • • ~ O '(1)- 8 I ... I o.. r - S c: • -=o :;:. -::; - ., Z 7 - o.. " " 6 V//l rE, • -;g- 5 -I V//l ev - - ..:=J o;- • â f0/1 t) 4 ~ - c • e - t)'" .::J e 3 ~- ::t- • e 2 -I - .:=J I s • .:=J '" • ;'"::";. -11 1 VZd m=~ .:=J .:=J I :>' • "N - t 01 /88 01 /89 01 /90 01 /91 01 /92 01 /93 01/94 01 /95 ~n c, Mês/ano ~" s :; .'"n t: ?O FIGURA 5 - Eventos fenológicos observados em Ocotea catharinensis durante o período de janeiro de 1988 a dezembro de 1995, no Parque Estadual da Cantareira (SP) e, .A 86

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FIGURA 6 - Duração astronômica do dia (fotoperíodo) estimado para o Parque Estadual da Cantareira (SP).

Em muitas árvores que floresceram No Parque Estadual de Carlos Botelho, Moraes houve desaparecimento gradual e total das flores, (1993) verificou alta predação por insetos sem ocorrer frutificação. Todas as árvores que ovopositores, no período pré-dispersão, através do floresceram em 1988 não frutificaram; algumas das exame dos frutos de o. catharinensis em três árvores que floresceram de 1990 a 1993 também árvores caídas. Em árvores em pé, o autor não frutificaram (FIGURA 5). Outras árvores observou mono-carvoeiro iBrachyteles arachnoidesi frutificaram em 1989 e de 1991 a 1995, mas alimentando-se de frutos. produziram apenas frutos imaturos. Apenas as árvores que floresceram na De acordo com Piíia-Rodrigues & primavera, de setembro a novembro (como as de Piratelli (1993), a predação por animais é uma números 4,5 e 6, em 1989 c a de número 12, em importante causa da redução da quantidade de 1993), produziram frutos maduros e em quantidade sementes produzidas. Para Kageyama & Piiia- relativamente grande, na estação seca do ano Rodrigues (1993), os principais danos 5.:10 causados por seguinte (FIGURA 5). Os frutos maduros, constatados insetos no estádio de larvas, oriundos de ovos na árvore I em 1988, podem ter sido resultantes do depositados na flor ou no fruto em desenvolvimento. florcscimcnto ocorrido de setembro a novembro do Esses autores relataram, ainda, que a ano anterior. Esse comportamento indica a predação em flores ocorre tanto na pilhagem do necessidade de um período quente e úmido para que pólen, quanto no consumo de partes da flor ou da o desenvolvimento dos frutos ocorra adequadamente, inflorescência. Além disso, a própria planta preparando-os para a maturação, que ocorreu no mantém um ritmo de descarte de flores ou frutos período mais frio e seco. para alocar recursos para o desenvolvimento dos Estudando a variação feno lógica das óvulos fecundados; da mesma forma, a ineficiência espécies de cerrado em Moji Guaçu (SP), na polinização pode contribuir, também, para a Mantovani & Martins (1988) verificaram que as produção de menor quantidade de frutos em espécies arbustivo-arbóreas floresceram, em geral, relação à de flores (Piüa-Rodrigues & Piratelli, em resposta ás mudanças climáticas ocorridas na 1993). l primavera, e produziram frutos, a maioria carnosos Constatou-se, na área de estudo, intenso e zoocóricos, na estação chuvosa e quente. Os ataque de um lepidóptero, desde o estádio inicial frutos de o. catharinensis são carnosos (Silva et de desenvolvimento dos frutos até o início da al., 1993) e zoocóricos (Carvalho, 1994) e, no dispersão. Outro aspecto a ser salientado foi a Parque Estadual da Cantarcira, apenas os que se presença do bugio (Alouaüafuscay alimentando-se desenvolveram na estação chuvosa e quente de frutos no estádio inicial de desenvolvimento. amadu rcccram.

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SILV A, A. da; AGUIAR, I. B. de & SCHÕFFEL, E. R. Fenologia reprodutiva de canela-preta (Oeolea catharinensis Mcz-Lauraccac) no Parque Estadual da Cantare ira, São Paulo (SP).

Quando o florescimento ocorreu de em alocar recursos para o crescimento vegetativo, janeiro a abril, os frutos não atingiram a maturidade. como relatou Janzen (1983) apud Piíía-Rodrigues Nesse caso, os frutos se desenvolveram no período de & Piratelli (1993). inverno, mais frio e seco, provavelmente prejudicando Assim, os resultados obtidos neste trabalho a sua formação e fortalecimento, ficando mais revelaram que a fenologia rcprodutiva de o. susceptíveis à queda provocada pelo vento. Apenas catharinensis é complexa, não tendo sido identificado a árvore I, que floresceu em 1993 de fevereiro a o fator ou os fatores indutores do florcscimento. A abril, produziu, ao mesmo tempo, pequena quantidade produção .dc sementes é pequena, restrita a poucos de flores e de frutos imaturos e maduros. indivíduos, e ocorre de maneira supra-anual. É Apesar das condições meteorológicas do necessário, portanto, a realização de outras pesquisas, Parque Estadual da Cantareira, durante os anos em diminuindo o intervalo entre as observações e que foi conduzida a pesquisa, terem mostrado incluindo estudos de polinização, abordando o flores- estações chuvosas e secas bem definidas, o cimento em suas diferentes etapas (iniciação floral, florescimento e a frutificação de o. catharinensis inflorcscência em botões, botões em ântese e final ocorreram em poucos indivíduos, em intervalos de florcscirncnto), bem como a dispersão de sementes. irregulares e de forma supra-anual. Comportamento semelhante foi observado por Moraes (1993) para a espécie, que no Parque Estadual de Carlos 5 CONCLUSÕES Botelho não frutificou no período de 1988 a 1990 e iniciou a frutificação em 1991. O comportamento fcnológico de o. Estudando a estratégia fenológica de 28 catharinensis no Parque Estadual da Cantareira, espécies arbóreas em floresta de altitude, na Serra em São Paulo, permitiu concluir que: do Japi, em Jundiaí (SP), também com clima Ctb, I. o florcscimento e a fiutificação foram irregulares e Morellato et al. (1990) observaram padrão anual de variaram entre árvores e anos; frutificação para a maioria das espécies. Em geral, 2. o florescimento ocorreu em três estações do a maior parte dos indivíduos que floresceu ano: na primavera, no inverno e, principalmente, produziu frutos. No entanto, para algumas espécies no verão; como Clethra scabra, Dalbergia brasiliensis e 3. apenas os frutos originados do florescimento Lamanonia ternata, os raros indivíduos que ocorrido na primavera atingiram a maturidade, floresceram não frutificaram. Callistene minar e sendo necessário, portanto, um período quente e Lonchocarpus subglaucescens não floresceram nos úmido para o seu desenvolvimento, e dois anos de estudo (1984 e 1985). No caso de 4. a espécie apresentou periodicidade supra-anual Machaerium brasiliensis, apesar do intenso e de produção de sementes, restrita a pequeno sincrônico florescimento, não foi produzido um número de árvores da popu lação. fruto sequer em 1984 e os frutos produzidos em 1985 não atingiram a maturidade. Os autores atribuíram ao elevado grau de predação, constatado REFERÊNCIAS BIBU OG RÁFI CAS nos raros frutos jovens, a causa principal da falta de sementes. Baseados em Janzen (1976) relataram, BAITELLO, J.B. Ocotea catharinensis. In: também, que as flores seriam produzidas apenas Centuria pluntarum brasiliensuim exstlntionis para a polinização, com função de flores minitata. : Sociedade Botânica do masculinas, ou para a atração de polinizadores. Brasil, 1992. p.167. De acordo com Kageyama & Viana (1991), CARVALHO, P.E.R. Espécies florestais as espécies clímax têm maior variação nas suas brasileiras: recomendações silviculturais, feno fases reprodutivas do que as pertencentes a potencial idades e uso da madeira. Colombo: outros grupos ecológicos, podendo a frutificaçâo CNPF; Brasilia: EMBRAPA, 1994. 640p. ocorrer em intervalos de alguns anos. Segundo CORDINI, C. GI1IpOS ecológicos de espécies Piüa-Rodrigues & Piratelli (1993), existem florestais nativas de Santa Catarina. Agropec. espécies que florescem anualmente e aquelas de Catarinense, v.7, n. I, p.40-43, 1994. floração supra-anual, que apresentam intervalos INOUE, M.T.; CARLOS, V.R.; KUNYOSHI, Y. entre os anos de produção. Os anos sem produção Projeto madeira do Paraná Curitiba: Fundação podem ser resultantes da necessidade da espécie de Pesquisas Florestais; 1994. 260p.

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