Universidade Federal Do Rio Grande Do Norte Centro De Ciências Sociais Aplicadas Departamento De Serviço Social Programa De Pós-Graduação Em Serviço Social
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL “MULHER NÃO VALE NEM UM REAL” PATRIARCADO NAS LETRAS DAS MÚSICAS DE FORRÓ Sônia de Melo Feitosa NATAL-RN 2011 2 SONIA DE MELO FEITOSA MULHER NÃO VALE NEM UM REAL” PATRIARCADO NAS LETRAS DAS MÚSICAS DE FORRÓ Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Serviço Social. Orientadora: Profª. Drª Telma Gurgel da Silva NATAL/RN 2011 3 4 5 HOMENAGEM A Heleieth I.B Saffioti (1934/2010) http://www.fpabramo.org.br/blog/faleceu-professora-e-pesquisadora-feminista-heleieth-saffioti. Queremos aqui prestar homenagem a Heleieth Saffioti que dedicou a sua vida e obras a desvendar as formas de dominação/exploração das mulheres que apontaram o caminho a ser trilhado para emancipação feminina. Suas obras pioneiras na análise das desigualdades entre homens e mulheres, da violência contra as mulheres e das teorias feministas são fundamentais para os estudos sobre a condição das mulheres em qualquer área do conhecimento. Saffioti foi uma socióloga estudiosa, pesquisadora e militante das temáticas feministas, autora de livros como: O poder do macho (1987); Mulher brasileira é assim (1994); Violência de gênero, poder e impunidade (1995); Gênero, patriarcado, violência (2004), entre outros e de artigos sobre a situação das mulheres. Suas obras e sua atuação como feminista revelaram como canta Joyce em Mulheres do Brasil que: No tempo em que a maçã foi inventada Antes da pólvora, da roda e do jornal A mulher passou a ser culpada Pelos deslizes do pecado original 6 Guardiã de todas as virtudes Santas e megeras, pecadoras e donzelas Filhas de Maria ou deusas lá de Hollywood São irmãs porque a Mãe Natureza Fez todas tão belas Oh! mãe, oh! Mãe, oh! Mãe Nossa mãe, abre teu colo generoso Parir, gerar, criar e provar Nosso destino valoroso São donas-de-casa, professoras, bailarinas Moças operárias, prostitutas meninas Lá do breu das brumas Vem chegando a bandeira Saúda o povo e pede passagem A mulher brasileira Obrigada Saffioti por sua dedicação a emancipação das mulheres, suas obras foram fundamentais para a realização desse estudo. 7 Maria, Maria Milton Nascimento Composição: Milton Nascimento e Fernando Brant Maria, Maria É um dom, uma certa magia Uma força que nos alerta Uma mulher que merece Viver e amar Como outra qualquer Do planeta Maria, Maria É o som, é a cor, é o suor É a dose mais forte e lenta De uma gente que rí Quando deve chorar E não vive, apenas aguenta Mas é preciso ter força É preciso ter raça É preciso ter gana sempre Quem traz no corpo a marca Maria, Maria Mistura a dor e a alegria Mas é preciso ter manha É preciso ter graça É preciso ter sonho sempre Quem traz na pele essa marca Possui a estranha mania De ter fé na vida.... Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei!! Lá Lá Lá Lerererê Lerererê Lá Lá Lá Lerererê Lerererê.... Dedico este trabalho e este tão sonhado momento, a minha querida e amada irmã MARIA, que dolorosamente, durante o processo de construção desse estudo, surpreendeu-me com sua definitiva ausência física. Portanto, misturo aqui a dor e a alegria, mas continuo a ter fé na vida. (Esta música era a sua preferida) 8 AGRADECIMENTOS É na hora dos agradecimentos que nos damos conta que um trabalho, aparentemente solitário, é um ato ontológico que realizamos necessariamente em conjunto com outras pessoas. Por isso, quero aqui dividir o sabor da vitória com todas as pessoas que de alguma forma contribuíram no processo de produção deste estudo, expressando meus agradecimentos. À minha família por ter estado ao meu lado durante este tempo me dando apoio e conforto. Às minhas queridas e amadas irmãs que mesmo estando distantes compartilharam comigo a felicidade de ter sido aprovada na seleção do mestrado, e que igualmente compartilham comigo a alegria ter concluído mais uma etapa de minha vida. À minha amiga e companheira de sempre Marwyla, por ter me proporcionado a graça e alegria de estarmos juntas desde a graduação. Amiga, compartilhamos juntas a alegria e a felicidade de termos sido aprovadas na seleção do mestrado, e caminhamos juntas nesse processo que fez com que nos conhecêssemos mais e melhor. Marwyla, não importa o que aconteça de agora em diante, pois nossa amizade ultrapassará o tempo e o espaço. E como canta Milton Nascimento: Amig@ é coisa para se guardar de baixo de sete chaves, dentro do coração..... À minha orientadora Telma Gurgel por ter aceitado o desafio de me orientar, quando o processo de formulação da 9 dissertação já estava em andamento. Obrigada pelas sábias discussões teóricas que me dispensou, pois foram decisivas e me proporcionaram maior momento de lucidez e apreensão do meu objeto e, encaminharam-me em direção a concretização desse estudo. À professora Eliana Guerra por ter aceitado no primeiro momento ser minha orientadora e por ter aceitado a participar da minha banca de qualificação do projeto de pesquisa. Obrigada pelas discussões teóricas indicadas durante o tempo em que foi minha orientadora e durante o processo de qualificação, elas foram essenciais para um maior aprofundamento nas minhas reflexões sobre o meu objeto. À professora Rita de Lourdes Lima por ter feito parte da minha banca de qualificação do projeto de pesquisa e por mais uma vez ter se disponibilizado a compor minha banca de defesa de dissertação. Suas contribuições durante a qualificação foram valiosas para realização desse estudo. A todas as professoras do mestrado por suas valiosas discussões e contribuições teóricas na minha trajetória nesse curso que me propiciaram a transposição do senso comum para o conhecimento científico reflexivo e crítico. Obrigada pelos os conhecimentos que me repassaram, eles possibilitaram que eu realizasse esse tão desejado momento. 10 À minha turma do mestrado pela socialização de conhecimentos que me proporcionaram refletir melhor sobre o meu objeto. À Fernanda Marques de Queiroz, por ter acreditado na minha capacidade, motivando-me e me repassando conhecimentos que foram decisivos para a minha aprovação na seleção do mestrado. À Mirla Cisne por ter me iniciado em uma nova leitura da realidade, onde posso visualizar as mulheres como sujeito ativo na História da humanidade que as invisibilizam e que foram decisivas para que eu realizasse meu projeto de pesquisa de mestrado. A todas as amigas que, direta ou indiretamente, acompanharam contribuíram nessa fase de minha vida com idéias, sugestões e críticas construtivas. À Valmara que me acolheu com muito carinho e desprendimento durante o processo de mestrado em sua pequena residência, proporcionando-me a felicidade de fazer parte dessa etapa de sua vida. Obrigada pelos os momentos de descontração que pude vivenciar ao seu lado. Sinto Saudades! À Milena que sempre me atendeu com delicadeza nas horas em que precisei trocar conhecimentos. Obrigada pelo tempo que me dispensou cheio de conhecimento e sabedoria. 11 À Lenira por ter se disponibilizado a realizar minha inscrição no mestrado. À Ilidiana, Tassia, Ednara e Flavia, por terem me acolhido em seu pequeno espaço na residência da pós-UFRN, no momento mais importante desse processo, o da seleção. Obrigada pela acolhida e pelo incentivo que vocês me dispensaram. A todas as pessoas amigas da residência da pós- graduação que me acolheram com alegria e descontração e, que me proporcionaram vivenciar momentos coletivos de amizade e carinho. 12 Música A música é uma das nossas mais antigas formas de expressão comunicacional que permeia as mais variadas dimensões da existência humana, por meio dela são expressos sentimentos, dilemas, ideologias e utopias. É uma expressão essencialmente humana, que sofre influencia da organização sociocultural local (PENNA, 1999). No Brasil desde a época de sua colonização convivem práticas musicais distintas, que vão da música erudita a música popular. A música no Brasil marcou sua presença em todos os momentos históricos, registrando fatos da maior importância sociológica, portanto, a música nos permite, inclusive, conhecer melhor a sociedade de cada época (CALDAS, 1985). Zélia Dulcan e Dante Ozzetti reuniram em uma só letra todos os ritmos que influenciaram e compõem a música brasileira. Vejam a letra: Se Eu Fosse (Zélia Dulcan) Se eu fosse um blues, te mandava embora Se eu fosse um samba, esperava a aurora Se eu fosse um jazz, improvisava o amor Se eu fosse um forró, sacudia toda dor Se eu fosse uma valsa, te conduzia pela vida Se eu fosse um tango, te empurrava pra saída Se eu fosse um rock, te doava minhas veias Se eu fosse um choro, te sorria a noite inteira Se eu fosse um maxixe, remexia sua libido Se eu fosse uma canção, te acarinhava os ouvidos 13 Se eu fosse uma modinha, jurava que você vinha Se eu fosse um Sebastian Bach, tentava a fuga todo dia Se eu fosse um Beethoven, era tua a Nona Sinfonia Se eu fosse letra de música fazia uma rima única E no final de um verso chinfrim cantava você pra mim... 14 RESUMO O patriarcado é um sistema de dominação que determina o poder do homem nas relações sociais como sistema sócio-ideológico e elemento estruturante das variadas formas de dominação masculina seja nas relações sociais de gênero, na organização da vida social, nas relações privadas e nos espaços de decisões políticas. Nesse estudo ampliamos nossa reflexão sobre o patriarcado a partir da análise de letras de músicas de forró, mais especificamente do forró conhecido como estilizado. Gênero musical que, nas últimas décadas, vem apresentando uma grande aceitação em todo território nacional, utilizando-se de expressões do cotidiano que reproduzem e fazem apologia as várias formas de discriminação, opressão e violência contra as mulheres.