Sintonias Filosóficas Em Paulinho Da Viola
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LUIZ COSTA PEREIRA JUNIOR O Mar que me Navega – Sintonias filosóficas em Paulinho da Viola Tese apresentada à Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Educação. Área de Concentração: Filosofia e Educação Orientador: Prof. Dr. Luiz Jean Lauand São Paulo 2011 Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. Catalogação na Publicação Serviço de Biblioteca e Documentação Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo 37.01 Pereira Jr., Luiz Costa P436m O mar que me navega : sintonias filosóficas em Paulinho da Viola / Luiz Costa Pereira Jr. ; orientação Luiz Jean Lauand. São Paulo : s.n., 2011. 244 p. Tese (Doutorado – Programa de Pós-Graduação em Educação. Área de Concentração : Filosofia e Educação ) – Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo) . 1. Paulinho da Viola, 1942- 2. Filosofia da educação 3. Música – Educação – Filosofia I. Lauand, Luiz Jean, orient. PEREIRA Jr., Luiz Costa. O mar que me navega – Sintonias filosóficas em Paulinho da Viola. Tese apresentada à Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) para obtenção do título de Doutor em Educação. Aprovado em: _____/_____/_____. Banca Examinadora Prof. Dr. Luiz Jean Lauand (orientador) _______________________________ Faculdade de Educação da USP Prof. Dr. Sylvio Roque de Guimarães Horta _______________________________ Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP Prof. Dr. José Gabriel Perissé Madureira _______________________________ Pós-graduação em Educação da Uninove Prof. Dr. Roberto Carlos Gomes de Castro _______________________________ Centro Universitário das Faculdades Integradas Alcântara Machado Prof. Dr. Marcos Ferreira dos Santos _______________________________ Faculdade de Educação da USP ii Para Kaline e nossos filhos, a animação que é o outro nome da serenidade iii AGRADECIMENTOS A conclusão deste trabalho seria impossível sem inúmeros agradecimentos, mas alguns são, de fato, necessários – e especiais. Minha gratidão, inicialmente, ao Prof. Dr. Jean Lauand. Mais que um orientador para esta tese, um amigo e inspirador, que resgatou minha fé na capacidade universitária de manter viva a tradição de um saber que se realiza também como sabor. Aos também amigos e parceiros de reflexão, o professor Paulo Albertini, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, pelas correções, sugestões e, principalmente, por ter iluminado a compreensão sobre a filosofia reichiana; ao músico Luca Raele, pelas observações sobre teoria musical, e ao cineasta e jornalista Rubem Barros, pelas discussões e apontamentos sobre o universo do samba. A minha mulher, Kaline, pelo apoio e carinho incondicional, e meus filhos, Beatriz e Guilherme, pelo indispensável riso adicional que me provocam sempre, e a lembrança sempre próxima de minha irmã Francisca e de meu irmão Luiz Carlos, pai recente que acaba de perpetuar a tradição familiar de legar luizes ao mundo. A minha mãe e meu pai, in memoriam. iv “Os argumentos filosóficos não são acolhidos pela autoridade de quem diz, mas pela validade do que se diz” Tomás de Aquino (1225-1274) (non... propter auctoritatem dicentium, sed propter rationem dictorum” – In Trin. 2, 3 ad 8) “É nessa ampliação de um gênero já pleno (o samba), que no limite não precisa de ninguém, nessa criação paradoxal no interior do que parece completo e perfeito, que Paulinho da Viola encontra seu viés e sua singularidade. (...) Num plano mais imediato, trata-se também de uma tentativa de acesso poético a uma grandeza popular que nunca se materializou verdadeiramente, uma Grécia do samba que nunca virou vida, mas fotografia, memória e canção – e que deve, portanto, ser cantada, a um só tempo, como perda e como glória, exposta em seu ato mas guardada em seu sono” Nuno Ramos (1960-) (em: NESTROVSKI, Arthur (org.). Música popular brasileira hoje. São Paulo: Publifolha, 2002: 236) “O que a música sempre traz – e este é o fato mais decisivo – ao campo de visão do filósofo é a sua proximidade da existência humana, uma característica específica que torna a música necessariamente objeto essencial para todos os que refletem sobre a realização humana.” Josef Pieper (1904-1997) (em: Sobre a música, 1988) v RESUMO Este trabalho interpreta, à luz da filosofia, temas recorrentes na obra musical de Paulinho da Viola. Detentor de um vasto repertório de referência, o compositor e intérprete expressa em seus sambas uma abordagem sobre o mundo que se vincula a correntes de pensamento tão distintas como as de Epicuro, Heráclito, Benedictus de Spinoza, Tomás de Aquino, Henri Bergson, Josef Pieper e Richard Rorty, dentre outros. Perguntar pelo ser (“o que é isto, em suas últimas razões”) a partir da efêmera paisagem cotidiana estaria no cerne daquilo que é cantado por ele. A hipótese deste trabalho é que a canção em Paulinho da Viola (de sua autoria e de adoção, ao interpretar composições alheias) se filia a um desconforto sem ilusões e à sensação de espanto ante o mistério das coisas, a que apresenta como resposta a potência de sua serenidade. Assim, o trabalho procura mostrar não só que as composições executadas por ele podem ilustrar questões recorrentes na filosofia, como evidenciar que o ângulo de abordagem das canções de seu repertório só serão plenamente compreendidas à luz de certos debates ou conceitos. O estudo sugere que uma obra cultural pode ser usada como ferramenta do processo educativo. Além de possibilitar uma melhor compreensão de nossa realidade cultural, em nível de educação informal, o estudo e o ensino da filosofia podem ter em Paulinho da Viola o trunfo de uma atuação musical que é filosófica em seus problemas sem o ser na abordagem. Há um pensamento composicional em jogo, que não é mera aplicação de procedimentos especulativos sistêmicos e, mesmo assim, evita que o paralelo entre MPB e filosofia se torne artificial: a racionalidade de sua música contém uma musicalidade do pensamento, a recorrência de motivos que atormentam o gênero humano – e, como a mera incidência no repertório de um cantor popular deveria indicar, não há sinal de que serão apaziguados tão cedo. Palavras-chave: filosofia, educação, música, samba, Paulinho da Viola. vi ABSTRACT This study interprets, to the light of philosophy, recurrent themes in the work of Paulinho da Viola. Owner of a wide reference repertoire, the composer and interpreter expresses in his music an approach to the world that is linked to currents of thought so distinct as those of Epicurus, Heraclitus, Benedict de Spinoza, Thomas Aquinas, Henry Bergson, Josef Pieper and Richard Rorty, among others. At the core of his singing we find the questioning of being in ephemeral daily landscapes. The hypothesis in this study states that Paulinho da Viola‟s singing (whether his own compositions or those of other composers) is affiliated to a disillusioned discomfort and to the sensation of awe before the mystery of things, to which he responds with the strength or power of his serenity. Hence, this study points out that the compositions sang by him may not only illustrate recurrent issues in philosophy, but also evidence that the his songs approachwill only be fully grasped under the light of certain debates or concepts. This study suggests that a cultural work of art may be used as a tool for the learning process. Aside from yielding better understanding of our cultural reality as informal education, the study and teaching of philosophy could benefit from using Paulinho da Viola‟s work for it presents the advantage of a musical repertoire which is itself philosophical in its issues but not in its approach. There is a compositional reflection at play which is merely an application of systemic speculative procedures and, even so, avoids the artificial comparison between Brazilian Popular Music and philosophy: the rationality of his songs has a musicality of thought, the reoccurrence of reasons that plague the human being – and, as the mere occurrence in the repertoire of a popular singer should indicate, there is no sign that such issues will be settled any time soon. Key words: philosophy, education, music, samba, Paulinho da Viola. vii SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1 1. FOI UM RIO QUE PASSOU EM MINHA VIDA................................................. 17 1.1. Criação em roda......................................................................................... 18 1.2. Para dançar o pensamento ......................................................................... 26 1.3. Pragmática do samba ................................................................................. 30 1.4. Modelo de consciência .............................................................................. 38 1.5. O mar que me navega ................................................................................ 52 1.6. Heraclitiano ............................................................................................... 59 1.7. Voz média.................................................................................................. 63 1.8. A filosofia violiana do samba .................................................................... 69 2. SINAL FECHADO ................................................................................................... 79 2.1. Curva de tensão ........................................................................................