COLÉGIO SÃO LUÍS

ENSINO MÉDIO

CURSO DE METODOLOGIA DE INCIAÇÃO CIENTÍFICA

MARIANA CORAÇA E THERESA AIELLO

A INFLUÊNCIA DA INDÚSTRIA CINEMATOGRÁFICA NAS TENDÊNCIAS DA MODA JOVEM DESDE O ÚLTIMO SÉCULO

São Paulo

2020

MARIANA CORAÇA E THERESA AIELLO

A INFLUÊNCIA DA INDÚSTRIA CINEMATOGRÁFICA NAS TENDÊNCIAS DA MODA JOVEM DESDE O ÚLTIMO SÉCULO

Artigo apresentado como requisito de aprovação em “Metodologia de Iniciação Científica”, na 2ª série do EM do Colégio

São Luís

Orientadora: Prof. Fernanda Franco

São Paulo

2020

AGRADECIMENTOS

A professora e orientadora de metodologia Fernanda Franco, pelas correções, ensinamentos, incentivos e palavras de motivação que foram essenciais para o processo de desenvolvimento do projeto. Obrigada pela dedicação e comprometimento Fe, sua orientação foi fundamental.

Aos professores Paulo Ramirez e Andrey Almeida pelo cuidado quanto à organização do curso e aos direcionamentos adicionais.

Aos nossos pais, por toda a compreensão, apoio e paciência, principalmente durante os momentos de dificuldade ao longo desse período.

Por fim, ao Juninho, cachorro da Mari, que foi importante nos momentos de descontração e descanso entre um parágrafo e outro.

A INFLUÊNCIA DA INDÚSTRIA CINEMATOGRÁFICA NAS TENDÊNCIAS DA MODA JOVEM DESDE O ÚLTIMO SÉCULO

THE FILM INDUSTRY’S INFLUENCE ON YOUTH FASHION TRENDS SINCE THE LAST CENTURY

Mariana Coraça e Theresa Aiello Prof. Fernanda Franco

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo construir uma análise acerca da maneira como as obras cinematográficas e as tendências a partir delas geradas influenciaram nos padrões de vestimentas da juventude, sobretudo desde os anos 60. Buscou-se fazer uma análise minuciosa a respeito da influenciabilidade da juventude, o objeto de estudo, com a investigação de argumentos científicos e sociais, além do entendimento sobre a influência em questão, ser utilizada como recurso pela mídia. Para tal fim, foram selecionados os filmes Noivo neurótico, noiva nervosa; Bonequinha de luxo; As Patricinhas de Beverly Hills; Grease - Nos Tempos da Brilhantina; – O Caçador de Androides e O Grande Gatsby, dos quais foi elaborado um estudo aprofundado quanto ao figurino. A partir disso, foram coletados registros visuais que evidenciassem os reflexos destes figurinos na moda da atualidade.

Palavras-chave: Cinema, Moda, Juventude, Consumo, Mídia, Tendências.

Abstract: The following article aims to build an analysis as to how cinematographic productions and the trends introduced by them influenced young people’s apparels, mainly after the 1960s. We sought to carry out a thorough analysis of the influenceability of youth, the object of study, along with the study of scientific and social arguments, as well as the understanding that this influence is commonly used as a resource by the media. To this end, the pictures Annie Hall; Breakfast at Tiffany’s; Clueless; Grease; Blade Runner and The Great Gatsby were selected, of which an in-depth study of the costume designs was conducted. Thus, visual records were gathered to show the impacts of the costumes in today’s fashion.

Keywords: Cinema, Fashion, Youth, Consumption, Media, Trends.

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1 INTRODUÇÃO

Desde o seu surgimento, o cinema vem encantando muitos, das mais inúmeras maneiras possíveis. Aquilo que surgiu como uma simples forma de entretenimento hoje é a maior delas, e, mais importante ainda, se tornou parte do estilo de vida e do dia a dia de muitos, no mundo inteiro, fazendo dele algo essencial para a diversão do povo. A indústria cinematográfica rapidamente ganhou prestígio e a adoração das massas, por representar um novo modo de entretenimento que era inovador e que transformou a contação de estórias em algo mais humano. Tal popularidade proporcionou ao cinema um poder significativo sobre a população, o que o levou a ter uma posição de influenciador em vários diferentes aspectos. A sociedade sempre se viu em uma posição de influenciada. O conceito de modas e tendências existem desde sempre, o homem vê algo que admira e é instigado a acompanhar aquilo em tudo que este faz. Nunca será possível dizer ao certo quando influenciadores de massas surgiram, mas eles sempre existiram. Costumes, usos e tendências sempre foram aspectos muito reproduzíveis. A população está em constante necessidade de alguém ou algo que os diga o que fazer, o que comer, o que vestir, aonde ir. Agentes influenciadores aparecem então no meio social com o intuito de instruírem o povo no que é certo. Atualmente, diversas personalidades da história são consideradas de muita importância por serem influenciáveis ao ponto de mudarem o curso da história. Estas figuras causaram inúmeras mudanças em diferentes áreas: figuras que moveram massas o suficiente para criarem novas religiões, que inovaram no ramo da medicina e criaram soluções para problemas internacionais, personalidades que causaram conflitos globais e outras que souberam resolvê-los, personagens que reedificaram o mundo da moda e estabeleceram novos padrões de beleza e tendências de como a população deveria se portar, entre outros. A indústria da moda, portanto, sempre se mostrou sedenta por pessoas e/ ou instituições que criassem e estabelecessem tendências. Celebridades, estilistas,

5 cantores, modelos, atores, revistas, todos serviram como inspiração para as massas influenciadas. “A moda revela-se como o espelho dos grandes movimentos da humanidade, revoluções científicas, sociais, culturais e tecnológicas, sendo também o cinema uma grande vitrine dessas transformações.” (BATTISTI, 2009, p.2) No passado, figuras de alta influência no mundo da moda poderiam ser membros da realeza, por possuírem um alto nível de abrangência e representatividade em diferentes lugares. Tais membros já possuíam um certo respeito e importância que os fizeram capazes de influenciarem as massas da época. Talvez o melhor exemplo de uma situação como essa seja a da monarca da França Maria Antonieta. Conhecida como a rainha da moda, ela marcou a história por ter induzido toda a população francesa da época e querer se vestir igual a ela. Ela introduziu à moda comum europeia a elegância do estilo rococó, que ao mesmo tempo dialogava com a extravagancia e apresentava um todo sofisticado. Outro tipo muito comum e importante de figuras influenciais da moda são homens e mulheres que inovaram ao desenhar vestimentas e assim criaram-se tendências, revolucionando completamente o mundo da moda e as suas percepções. Algumas notáveis personalidades são: Mary Quant, Miuccia Prada, Diane Von Furstenberg, entre muitas outras. Outro meio capaz de influenciar a indústria da moda é o meio das mídias de comunicação. “Presenciamos uma avalanche de produções midiáticas — programas de rádio, tv, vídeo, filmes, revistas, jornais e sites direcionados a despertar o interesse da juventude. Trata se de produções que definem o que pode , e investem em e “deve” ser desejado, sonhado, consumido‐ pelas novas gerações suas aspirações” (SCHMIDT, 2006, p.16). Revistas são um grande exemplo disso, por ocorrência da grande quantidade de revistas “femininas” disponíveis que vêm apresentando novidades e novas modas nos vestuários durante muitos anos. No entanto, desde os seus primórdios, o cinema se tornou o mais poderoso dos meios citados, pois se mostrou muito influente em diversas questões, sendo elas políticas, ambientais, e econômicas, além de criar tendências, não apenas das

6 já comentadas vestimentas, mas também, por exemplo, de atores e atrizes que são lançados ao estrelato. Como já visto antes, a moda é um aspecto muito influenciável. Pode se dizer até que a moda necessita de influenciadores para abrangerem mais grupos e causarem o impacto necessário. O cinema, assim como os outros meios de comunicação, veio ao mundo já propenso a ser mais influenciável ainda. “Historicamente, o cinema foi disseminador de moda e atualmente estilistas renomados assinam figurinos de grandes produções” (MARQUES, 2014, p.14). A indústria cinematográfica começou então a mostrar a população mais vividamente as ditas tendências. Filmes começaram a ser usados como certa inspiração pelo modo como a população agia. “Moda e cinema andam de mãos dadas e firmaram uma relação de múltipla troca.” (BATTISTI, 2009, p.3). Atrizes e atores começaram a ser usados como inspiração pelo modo como a população se vestia. “Ser uma “estrela” do cinema implica estar sempre à mira do público, dentro e fora das telas, pois ela, devido a sua exposição na mídia, tem o poder de inspirar, fascinar e influenciar o público” (MARQUES, 2014, p.13). Desse modo, se evidenciou ainda mais o papel de influenciador do cinema, o que fez com que esse ganhasse ainda mais visibilidade e aderência das massas, por se verem representadas nas telas do cinema. Esta representatividade abriu o caminho para um novo tipo de publicidade, apresentada em diversos fatores do cinema, por exemplo, nos atores: “moda e cinema firmaram uma parceria que foi de grande ajuda para ambos os sistemas, centrada na figura da estrela. As atrizes usavam a roupa da alta-costura para enfatizar seu glamour, dentro e fora das telas, levando ao mimetismo milhares de mulheres em todo o mundo, enchendo as plateias, ao mesmo tempo em que davam a conhecer os nomes dos criadores.” (REGEN, 2008, p.1) Tal publicidade afirmou cada vez mais a importância do cinema na sociedade, por mostrar seus diferentes resultados nas grandes massas. “O padrão estipulado pela indústria cultural ocorre exatamente com o fito de agradar e acostumar o grande público ao modelo, garantindo que os produtos culturais de hoje e os de amanhã serão facilmente vendidos, desde que sigam a fórmula” (JUNIOR,

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2019, p.2). E todos esses fatores combinados levaram a indústria a ser a que é hoje, de proporções internacionais e de grande importância para a economia mundial. A juventude então logo se tornou a parte da população que mais consumia da indústria do cinema, portanto, mais se influenciava dela. Por se sentirem representados nos filmes, jovens começaram a assisti-los ainda mais, dando assim mais visibilidade a essa indústria. “A presença dos jovens ganha importância e cria novas demandas de produtos de moda, e novos estilistas para supri-las.” (REGEN, 2008, p.2) Como visto anteriormente, os jovens e a sua tamanha influenciabilidade aumentaram a importância da representação da moda e de fatores visuais no cinema. “A revalorização da estética contamina inevitavelmente o cinema, tanto por seu potencial de nos propiciar experiências estéticas, quanto por veicular estéticas diversas, já que faz circular estilos de vida, valores éticos e morais, costumes e culturas distintos.” (ALMEIDA, 2007, p.17) Sabendo do efeito que causavam nos jovens, diretores e produtores passaram a modelar seus filmes na direção que os jovens gostariam mais. Um exemplo disso são os figurinos usados. Figurinistas ganharam a posição de principais agentes em fazer com que os jovens aprovassem algum material cinematográfico. As roupas usadas nos filmes se tornaram a melhor forma da juventude se identificar com esses. Os figurinos então passaram a representar a essência da juventude na sua forma mais crua e orgânica possível. Ao retratar jovens, filmes os retratavam de modo natural, esporadicamente acrescentando novos elementos à moda da época, com o intuito de que os jovens pegariam tais aspectos como inspiração e acrescentariam eles em seus modos de se vestirem, “ (...) fazendo com que os figurinos dos filmes, façam parte do cotidiano das pessoas, sem parecer que elas estejam vestidas como os próprios personagens (...)” (MARQUES, 2014, p.14). Uma vez que o figurino de um filme se torna o jeito mais fácil de influenciar um certo grupo de pessoas, ele passa a ser um elemento histórico de extrema importância. Ele ganha essa importância por “ensinar” dito grupo a como se vestir, entrando assim para a história da moda e da sociedade da época. Nasce então a

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“possibilidade de se considerar o filme como fonte de pesquisa histórica, através da análise de seus figurinos; […] possibilitando a correta interpretação dos conteúdos simbólicos das roupas e sua identificação dentro do contexto histórico a que se referem.” (GUIMARÃES, 2019, p.6) Os filmes mais conhecidos e mais famosos são considerados tais por vários motivos. Eles fizeram muito sucesso, deram muito sucesso aos atores e ao diretor, instigaram novos modos de agir para uma população, influenciaram épocas tanto ao ponto de causar mudanças. Mudanças estas que podem ser vistas em grande quantidade no modo em como a população passava a se vestir após tais filmes. Para serem analisados de forma mais aprofundada nesse artigo, foram escolhidos seis filmes que influenciaram a juventude no modo como se vestiam, e que, por causa disso, marcaram época: Noivo Neurótico, Noiva Nervosa; Bonequinha de Luxo; As Patricinhas de Beverly Hills; Grease – Nos Tempos da Brilhantina; Blade Runner - O Caçador de Androides e O Grande Gatsby. Muitos dos filmes mais prestigiados mudaram o modo como o povo se vestia. Personagens usavam roupas diferentes e inovadoras. O público assistia e se inspirava. Nascia assim uma nova geração de pessoas com um senso de moda altamente influenciável pelas mídias, principalmente pelo cinema, influência essa constante, pois permanece até os dias de hoje. Como já visto, o cinema, e os padrões de consumo por ele transformados, podem ser considerados consequências de uma nova era globalizada e tecnológica, na qual nos encontramos. Nesse contexto, o cinema e outros meios de comunicação atuais mantém a sociedade à par da realidade, auxiliando na construção de um pensamento crítico e moderno, ideal para seguir o ritmo veloz das informações e acontecimentos atualmente. Além disso, é importante destacar o impacto da incessante busca pela imagem perfeita, dando forma aos padrões de beleza assumidos pela mídia. Com os atuais padrões de beleza e dinâmicas de mercado, as gerações atuais têm tido a maior incidência de danos à saúde de seus indivíduos, considerando severas condições psicológicas obsessivas pela

9 aparência, consumo, tendências da moda, transtornos alimentares e modificações estéticas. Desse modo, a indústria cultural, sustenta seu grande poder de influência sobre o público por meio de produções que agradem-, e que sejam facilmente consumidas. Portanto é necessário que as produções culturais sigam uma fórmula, um padrão que se encaixe nos interesses do telespectador. Sendo assim, conclui-se que seriam os jovens a partir da década de 60, pertencentes às classes médias e altas, o objeto de estudo mais adequado para se entender mais a fundo a influência das produções cinematográficas nos padrões de vestimenta e comportamento dessa parcela da população. Isso porque, a juventude, é a geração que melhor compreende o funcionamento das ferramentas de telecomunicação e expressão, e consequentemente a massa que mais vulnerável à intervenção dos arquétipos reforçados pela maioria dos filmes dos últimos tempos. Em outras palavras, são as gerações jovens que possuem maior responsabilidade social, maior desapego as relações sociais, além de maior necessidade de exposição de opinião. Logo, as produções midiáticas, tais como programas de rádio, TV, vídeo, filmes, revistas, jornais e sites, são personalizadas para despertar de modo apelativo o interesse jovem, e estabelecem o que deve ser consumido por essa nova geração. De modo inevitável, as opiniões desses jovens são moduladas conforme o panorama que se tem do mundo, que depende diretamente do tipo de informação e meios de comunicação ao quais se tem acesso. Por esse motivo, selecionamos as produções que de acordo com nosso entendimento, foram grandes bilheterias dos últimos séculos e merecem ser estudadas mais a fundo. Entre elas estão: Noivo neurótico, noiva nervosa; Bonequinha de luxo; As Patricinhas de Beverly Hills; Grease - Nos Tempos da

Brilhantina; Blade Runner – O Caçador de Androides e O Grande Gatsby. Tendo em vista os filmes selecionados, é possível apontar alguns dos critérios utilizados para justificar nossa escolha. Além serem considerados filmes que geraram as maiores bilheterias da história, algo que pretendemos comprovar concretamente ao longo do artigo, os filmes escolhidos impactaram bruscamente

10 nos padrões de consumo e de vestimenta, e revolucionaram a história das produções cinematográficas. Contudo, algo que também motivou nossa escolha foram características comuns entre alguns desses filmes. Por exemplo, ambos os filmes As Patricinhas de Beverly Hills e Grease, por mais que se passem em épocas distintas, têm como principal tema o estilo de vida da juventude, sendo o ambiente do ensino médio o espaço onde o enredo se desenvolve. Nesse contexto comum, ambas as obras mostram as aventuras vividas, as escolhas impulsivas e o turbilhão de emoções enfrentadas pelos jovens personagens; o que faz de ambos os filmes, clichês adolescentes. É justamente essa temática que atrai os olhares dos jovens espectadores, que a partir desses filmes, constroem expectativas para essa conturbada fase da vida. Por isso, estilos de produção como este são os principais responsáveis por criar as tendências jovens, em especial na área da moda. Alguns questionamentos a serem levantados adiante serão o modo como os atores de filmes são capazes de influenciar jovens, de forma que se tornem ícones inspiradores para estes. Além disso, estudaremos os impactos negativos do poder das grandes bilheterias do cinema selecionadas acima, todas lançadas a partir década de 60, na saúde dessa juventude. A respeito da indústria do consumo, a pesquisa se concentrará na maneira que ela se beneficia de tendências ditadas pelo cinema durante o período delimitado. Ademais, buscaremos as razões que expliquem por que são em maioria os jovens os principais influenciados pelas tendências de moda trazidas pelos filmes selecionados, em suas respectivas décadas. Por fim, supõe-se que o alcance dos atores ao seu público, como o da atriz a ser estudada, Audrey Hepburn, dependa diretamente do seu número de apoiadores, prestígio e fama, portanto possui maior poder de influenciar os padrões comportamentais da juventude, em maior após as produções da década de 60. É possível notar também que o poder do cinema, especialmente das maiores bilheterias, sobre os jovens possa ser refletido de modo negativo para sua saúde, por exemplo talvez por meio da depressão, ansiedade, entre outras doenças derivadas da exacerbada comparação com os demais.

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A hipótese é de que a indústria obtém grande lucro por intermédio das tendências ditadas pelo cinema, que consequentemente influenciam os jovens a agirem de certa maneira. Isso porque, esse grupo etário é o mais vulnerável a aceitar mudanças e tentar a todo custo se encaixar nos padrões estabelecidos pela mídia, a fim de garantirem um sentimento de pertencimento e acolhimento em um grupo social. Os objetivos gerais deste artigo, diante do cenário cinematográfico das maiores bilheterias da última década, serão de estudar a fundo origem do cinema, e o que na realidade ele representa e significa em nossa sociedade. Além disso, deseja- se compreender a importância do cinema para que sejam ditadas determinadas tendências seguidas pela sociedade, e como seus figurinos podem estar sendo diretamente ou indiretamente nas mais famosas passarelas da atualidade. Mais especificamente, procuraremos buscar fatores científicos que expliquem o porquê dos adolescentes ocuparem uma posição influenciável na sociedade, e com isso compreender como as produções cinematográficas, sobretudo com foco principal nos filmes Noivo neurótico, noiva nervosa; Bonequinha de luxo; As Patricinhas de Beverly Hills; Grease - Nos Tempos da Brilhantina; Blade Runner – O Caçador de Androides e O Grande Gatsby; podem mudar o seu padrão de comportamento, com foco principal em suas vestimentas. Para viabilizar o projeto, planeja-se a leitura de artigos do Scielo e Google Acadêmico sobre a moda e o cinema e a sua relação, e possíveis entrevistas com redatores de revistas de moda de maior circulação e popularidade. Além disso, haverá a análise do papel de Audrey Hepburn na comunicação entre a moda e o cinema, bem como o estudo profundo dos filmes mencionados nessa introdução, incluindo a história de seu figurino e o impacto que causaram na população, principalmente no sentido da moda. Além disso, será feito o estudo de filmes que retratam épocas antigas e estudo dos figurinos deles e a importância da representação do passado por meio dos figurinos, com a análise das figuras mais influentes da moda e quais delas estiveram na indústria cinematográfica. Por fim,

12 deseja-se compreender o papel de estilistas de marcas de alta-costura na composição de figurinos de filmes.

2 A INFLUENCIABILIDADE DA JUVENTUDE

Para dar início a este estudo, esse capítulo trará um aprofundamento em relação ao grupo selecionado como objeto de estudo: os jovens a partir da década de 60. Para entender a influência que esse público está sujeito, dividiremos nossa pesquisa em duas frentes: os fatores científicos que expliquem a vulnerabilidade social da juventude, com foco nas produções midiáticas; e os modos como essa influenciabilidade se articula e é utilizada como recurso pela mídia.

2.1 FATORES BIOSSOCIAIS Sabe -se que desde o crescimento e expansão das grandes mídias, o acesso à informação e conhecimento passou a invadir o cotidiano da população, no que diz respeito não apenas à internet, mas também à estações de rádio, canais de televisão aberta, literatura, teatro, cinema, música, entre outros campos. Nessa perspectiva, desde os primeiros anos que sucederam as inovações na indústria da comunicação, pôde-se observar a elitização de seu acesso, fazendo com que principalmente no início, o foco dos meios de comunicação social estivesse restringido às classes mais altas da sociedade, que retinham o poder de consumo, sendo esse o público alvo primordial. Logo, os holofotes das grandes mídias se tornaram para os cidadãos mais ricos, fazendo com que as inovações tecnológicas se tornassem mais um instrumento de marginalização das populações carentes. Além do conteúdo desses meios ter sido direcionado à elite, as mídias focaram em uma faixa etária muito específica: a juventude. Inquestionavelmente, notou-se que os jovens eram o grupo social em situação de maior vulnerabilidade e influenciabilidade. Isso se deve ao fato, da mídia, principalmente a televisão, trabalhar com modismos, com coisas e situações que façam com que as pessoas se identifiquem com aquilo e passem a comentar (FARIA e RODRIGUES, 2008).

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A partir das pesquisas do psiquiatra Maurício Knobel, que estuda mais a fundo a questão, fundamentou-se a chamada “síndrome normal da adolescência”. Em sua tese, ele argumenta que há um conjunto de sinais e sintomas que caracterizam esta fase da vida, quando o adolescente vivencia desequilíbrios e instabilidades extremas com expressões psicopatológicas de conduta. Para ele, um dos aspectos que explicam essa influenciabilidade é a “busca de si e da identidade”. Nessa busca, o jovem recorre a situações e sensações que se mostram mais favoráveis no contexto em que ele se encontra. Uma delas, é a uniformidade coletiva, ou melhor, o processo de identificação em massa, que explica o fenômeno de grupo. Knobel, também destaca um outro aspecto que chama de “tendência grupal”. Esse conceito apresenta que a busca da identificação coletiva é uma defesa do adolescente, responsável por proporcionar segurança e autoaceitação. O fenômeno grupal na adolescência é inevitável, já que através dele o jovem passa a ser dependente dos valores e comportamentos do grupo que ele pertence. Além disso, para alcançar a autoaceitação, o adolescente involuntariamente busca primeiro a aprovação do meio exterior. Tendo em vista estes fatores biossociais, é evidente que os jovens das classes mais altas apresentavam desde o princípio uma maior adesão às produções midiáticas, uma vez que observavam uma orientação sobre como viver e se relacionar na sociedade que estão inseridos. As imagens produzidas para atingir esse público colaboravam para legitimar e afirmar os seus modos de sociabilidade. Como explica a psicóloga e terapeuta-comportamental Nayara Benevenuto Peron, a mídia não determina, mas pode influenciar os valores, os modos de agir, vestir, consumir e até no padrão de beleza vigente.

Sala de cinema em Fortaleza (CE), inaugurada em 1917.

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Disponível em: https://bit.ly/2Eyml5B. (Acesso: 23/08/20). Casal em cinema drive-in, EUA.

Disponível em: https://bit.ly/2QfbErk. (Acesso: 23/08/2020).

Adolescente comprando ingressos em um cinema local (1954).

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Disponível em: https://bit.ly/2CSwidTU. (Acesso: 23/08/2020).

Nesse sentido, é notável que desde o surgimento das primeiras produções cinematográficas, o lazer dessa juventude passou a ser vinculado diretamente ao hábito de ir às salas de cinema semanalmente, tanto para assistir as sessões tradicionais, quanto para os filmes dos cinemas drive-in. Por mais que a atitude partisse muitas vezes do indivíduo, com o tempo tornou-se uma motivação coletiva da faixa etária, influenciada por fatores externos, à medida que determinados filmes de sucesso tinham estes jovens como público-alvo.

2.2 A APLICAÇÃO DESSA INFLUÊNCIA Uma vez determinado o papel dos jovens como faixa etária mais influenciável, apresentam-se diferentes meios e agentes que passaram a se aproveitar da considerada vulnerabilidade da juventude assim praticar essa influência. Como já estabelecido anteriormente, aqueles que se encontram na juventude ainda não desenvolveram por completo os seus sensos de identidade e intelecto social, o que os torna suscetíveis a se espelharem naquilo que veem retratado nas

16 grandes mídias. Isso se expande ainda mais quando se considera a popularidade dessas mídias entre os próprios jovens e como estes são influenciados uns pelos outros e pelos seus desejos de pertencimento. Tais mídias se estendem em muitos outros meios de entretenimento e de comunicação, embora esta pesquisa se desenvolver em torno da indústria cinematográfica e da moda e a conexão e influência delas especialmente nos jovens. Um dos meios de talvez mais popularidade e reconhecimento é o da a indústria da música. Este, no entanto, não se estabeleceu a princípio como um agente influenciador, considerando que o público idolatrava e cultuava os artistas em si, tornando eles mesmos os agentes influenciadores. Celebridades e figuras públicas como influenciadores das massas serão discutidas posteriormente neste artigo. Todavia, isso mudou com a chegada dos clipes musicais. Anteriormente eram chamados de clipes promocionais, e tinham formatos notavelmente diferentes. Os music videos que conhecemos hoje surgiram em 1981, quando a MTV transmitiu o clipe da música Video Killed The Radio Star dos The Buggles, segundo a Business Insider. Os clipes permitiam que os fãs visualizassem mais os artistas e não apenas os ouvissem. Tais clipes se tornaram então meios pelos quais o público tomava inspiração e se inspirava na moda mostrada neles, sem mencionar que ganham um fator histórico, por representarem adequadamente e precisamente a moda vigente de uma certa época, facilitando e ajudando pesquisas e estudos futuros. A comunicação, de antes pouco ou muitas vezes nenhum interesse aos jovens, se reinventou e ganhou outros significados com a chegada das revistas de moda e/ou comportamento juvenis. A indústria de revistas é datada no início do século XVIII e teve a sua primeira revista considerada “moderna” publicada em 1731: a britânica Gentleman’s Magazine. Não foi, no entanto, até 1770 que a primeira revista direcionada especificamente ao público feminino surgiu: a Lady’s Magazine, revista britânica que tratava principalmente sobre as tendências de moda feminina, mas também apresentava artigos sobre poesia, música, ficção, e comentários e fofocas sobre os cenários sociais da época. Além disso, distribuía padrões de bordado e partituras

17 para as leitoras. Revistas femininas a partir de então não pararam de crescer e foram ganhando cada vez mais popularidade e adesão do público feminino pelo mundo todo. A primeira revista feminina brasileira chamava-se O Espelho Diamantino: Periodico de política, litteratura, bellas artes, theatro e modas dedicado às senhoras brasileiras, mas foi lançado em 1827 e logo saiu de circulação em 1828. Algumas das revistas de moda mais famosas e circuladas hoje nos Estados Unidos já possuem mais de cem anos de história, sendo elas a Harper’s Bazaar, de 1865 e a Vogue, de 1892, e continuam até hoje trazendo novidades de interesse feminino e suas concepções sobre a sua moda e o seu comportamento. A grande popularidade e interesse das massas pelas revistas femininas também se dá pelo comum uso de celebridades e personalidades da moda, do cinema, do esporte e outros nas capas das edições e artigos sobre eles. Isso traz um viés ainda mais influenciador as revistas, pelo fato de que, ao trazer uma figura de renome, a revista muitas vezes faz com que os fãs e apoiadores dela comprem exemplares e passem a consumi-la regularmente.

Páginas de uma edição de 1947 da revista Carioca, onde se podem ver textos e desenhos sobre a moda, destinados às leitoras.

Exemplar da revista The Lady’s Magazine de 1818.

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Disponível em: shorturl.at/lrtJ3. Acesso: 24/08/2020.

Na esquerda, o primeiro exemplar da Harper’s Bazaar, de 1865. Na direita, o mais último exemplar da Harper’s Bazaar, de 2020.

Disponível em: shorturl.at/lprsI e shorturl.at/iyJO5. Acesso: 24/08/2020

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Tais revistas, tratando principalmente da moda e suas notícias, inovações e atualizações, mas também da conduta feminina e de outros fatores como assuntos domésticos como decoração, maternidade e culinária se tornaram parte do dia a dia e do lazer das mulheres. Elas se tornaram - juntamente com o cinema, que será discutido com mais profundidade ao longo dessa pesquisa – os principais e muitas vezes únicos meios de acessar as tendências da época, o que colaborou com a sua popularidade do gênero. Foram por meio dessas revistas femininas, apesar de serem principalmente direcionadas a adultas, que jovens começaram a se inspirar e se influenciar, se espelhando no comportamento adulto e se distanciando das suas próprias identidades de jovens. Notando a necessidade por revistas que fossem direcionadas aos jovens, a primeira revista adolescente, Calling All Girls, surgiu em 1941 nos Estados Unidos. Em 1944, a revista Seventeen, com um público muito mais amplo que a anterior, entrou em circulação, se tornando um ícone da cultura jovem mundial. O gênero logo ganhou muita popularidade entre as jovens, pois trazia artigos e novidades sobre a moda, beleza, entretenimento e conselhos sobre a adolescência, mas também tratava de assuntos sérios como a importância de votar e a Segunda Guerra Mundial. A revista visava interpretar os jovens realmente como jovens, e não como crianças ou adultos, reforçando neles esse autoconhecimento e autoconsciência sobre as suas identidades, algo que antes não possuíam.

Um exemplar da revista Calling All Girls, de 1961.

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Disponível em: shorturl.at/hnpG1. Acesso: 24/08/2020

Na esquerda, o primeiro exemplar da revista Seventeen, de 1944, e na direita, um exemplar da revista Seventeen de 2018.

Disponível em: shorturl.at/pARY4 e shorturl.at/qrzF3. Acesso: 24/08/2020.

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O setor do entretenimento se mostra de grande poder de influenciabilidade. Obras de ficção como livros também podem agir como influentes da juventude, por meio de personagens que apelam a eles e que os impulsionam a agir de certa maneira. Um influenciador ainda maior, no entanto, é a televisão e os programas televisivos. Esses, da mesma maneira que o cinema, apresentam estórias e narrativas de interesse dos jovens, o que faz com que eles invistam muito do seu tempo e pensamento nisso. Eles veem então os personagens retratados em suas televisões como figuras superiores e de respeito, o que os leva a admirá-los e espelhar o que eles fazem em todos os sentidos, sendo um deles (e o mais recorrente) a moda. A indústria cinematográfica e celebridades se mostram os maiores influenciadores da juventude, por terem tamanho reconhecimento, prestígio e popularidade. A grande exposição dos jovens a esses os concede uma certa reputação e um papel cada vez maior de influentes e guias dos jovens em relação a como eles se comportam, o que comem, o que consomem, como se vestem e como pensam.

3 CINEMA E MODA

Após o entendimento da influência que a mídia, sobretudo o cinema, retém sobre a juventude, foi feita a seleção de seis grandes bilheterias cinematográficas lançadas a partir do último século, para o estudo aprofundado de seu figurino e consequentemente, das tendências de moda geradas. Entre as produções estão: Noivo neurótico, noiva nervosa; Bonequinha de luxo; As Patricinhas de Beverly Hills; Grease - Nos Tempos da Brilhantina; Blade Runner – O Caçador de Androides e O Grande Gatsby; que serão discutidas particularmente nos próximos subcapítulos.

3.1 O GRANDE GATSBY

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O filme O Grande Gatsby, lançado no primeiro semestre de 2013, é mais uma adaptação cinematográfica do clássico romance literário de 1925, de autoria do escritor F. Scott Fitzgerald. O enredo se desenvolve entre as cidades de Nova York e de Long Island em meio aos Estados Unidos dos anos 1920, fazendo uma crítica direta ao “sonho americano”, materialismo e jogos de interesses presentes na sociedade da época. Dirigido pelo australiano Baz Luhrmann, o longa-metragem narra a história de Nick Carraway, um jovem investidor, interpretado por Tobey Maguire, que se aproxima de seu vizinho Jay Gastby, um bilionário conhecido pela extravagância, luxo e histeria das festas que ocorrem semanalmente em sua mansão. Nick testemunha o conturbado romance entre Gatsby (Leonardo DiCaprio) e Daisy Buchanan (Carey Mulligan). A fortuna do bilionário é rodeada de rumores, já que nenhum dos frequentadores de suas animadas festas o conhecem realmente. No auge da década dos excessos imprudentes e eufóricos, o misterioso Gatsby parece personificar o espírito da Era do Jazz.

Cena da produção que mostra a extravagância das festas na mansão de Gatsby.

Disponível em: https://bit.ly/3iOOjJF. (Acesso: 19/09/20).

Com uma bilheteria que arrecadou mundialmente cerca de 353,6 milhões de dólares, segundo o jornal The New York Times, e gerou inúmeras repercussões na

23 mídia durante todo o ano de 2013, O Grande Gatsby foi responsável por dividir de modo polarizado as opiniões dos críticos de cinema de maior prestígio. Por um lado, a produção foi mal recebida por parte da crítica que alegou que a obra de Fitzgerald foi adaptada de modo superficial e vazio, visto que Luhrmann não teria sido capaz de retirar emoções genuínas e profundas do elenco, resultado de sua má-direção. Segundo a crítica de Chris Nashawaty no Entertainment Weekly, o filme traz uma “ visão devastadora do lado obscuro do American Dream”, argumentando que a obra de Luhrmann não fez jus à história original do livro. Para Ricardo Calil, crítico da Folha de S. Paulo, o filme é “um alvo fácil de críticas”, uma vez que Luhrmann não soube retratar dignamente a alma do enredo, ao representar o mistério por trás dos personagens de modo equivocado. Ainda, foi comentado que o papel misterioso e multifacetado do personagem Gatsby do livro acabou por se perder na falta de expressões e indiferença da atuação de Leonardo DiCaprio. Além disso, segundo a crítica do jornal britânico The Guardian, o personagem principal Nick Carraway se apresenta como intruso nas telas, enquanto na obra original ele possui o papel essencial de narrador observador. Outro aspecto criticado foi a inadequação na escolha da trilha sonora do longa, que reuniu nomes do pop e hip-hop da atualidade, como Lana del Rey e Jay-z, afastando significativamente o público do tempo narrado. Contudo, a película superou totalmente as expectativas de bilheteria que se tinham antes de seu lançamento. De acordo com a crítica da Folha de S. Paulo, apesar da abordagem pouco profunda, o filme é esteticamente impecável aos olhos. Outrossim, o filme foi novamente elogiado quanto a sua direção artística e fotográfica. Desse modo, a produção se tornou um grandioso exemplo de como o figurino é capaz de assumir protagonismo no cinema. Segundo Magaldi, (apud MUNIZ, 2004, p. 28): O figurino tem uma importância tão grande como a palavra e o cenário, porque é um dos elementos fundamentais para a transmissão de uma imagem completa do personagem ao público. Seguindo a moda do período histórico em questão, a obra reflete a década de 1920 para a burguesia nova-iorquina; período de prosperidade econômica que

24 colaborou para o enriquecimento desse grupo após a Primeira Guerra Mundial. Sendo assim, considerando a absorção da moda europeia na época, o luxuoso figurino se apropriou de tecidos nobres, tais como o veludo e variações da seda, em tons verde jade, azul topázio e dourado, com aplicações de cristais, bordados, paetês, predarias, franjas, penas e até mesmo de peles. É também notável a reflexão da estética da Art Déco, na qual predominam linhas retas e geometrizadas, além de um design mais abstrato.

Alguns dos vestidos produzidos pela Prada para O Grande Gatsby, usados pela personagem Daisy Buchanan.

Disponível em: https://bit.ly/2RL2oMs. (Acesso: 20/09/20).

Na cena, são notáveis as cores fortes dos vestidos, juntamente da extravagância dos acessórios, com destaque para a utilização de penas e franjas.

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Disponível em: https://images.app.goo.gl/C8mfMwGQnUXQ7qz4A. (Acesso: 20/09/20).

Abaixo, mais um vestido de Daisy, o qual provavelmente deixa mais evidente a estética glamourosa dos anos 20.

Disponível em: https://bit.ly/33K195Q. (Acesso: 20/20/20).

Abaixo, dois figurinos usados pela personagem Jordan Baker. À esquerda, um vestido tubular preto com aplicações de brilhos e pedras, somando-se à acessórios que

26 enriqueceram a produção. À direita, uma regata de seda champagne, complementada por um longo colar de pérolas.

Disponível em: https://images.app.goo.gl/Rk5AUnqWAuARs8hs5 e https://images.app.goo.gl/vEBG8Fb2hnDfXMAh6. Acesso: 20/09/20.

Ademais, a sofisticação do figurino evidenciou a silhueta livre de espartilhos que ganhou movimento nos vestidos tubulares, deixando braços e pernas à vista, aspectos revolucionários e considerados ousados para a moda feminina anterior à década de 20. Nesse contexto, originaram-se as flappers, ou melindrosas; mulheres que estremeceram as normas da sociedade pós-guerra a partir de inovações não somente nas vestimentas, mas também na maquiagem e nos cortes de cabelo. Perfeitamente retratados no filme, era ilustre o corte "la garçonne"; cabelos curtos com pontinhas indo das orelhas até as maçãs do rosto, deixando a nuca à mostra.

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O corte "la garçonne"

Disponível em: https://bit.ly/2RL2oMs. (Acesso: 20/09/20).

Uma comparação entre as vestimentas das melindrosas da década de 20 e o figurino da personagem Daisy Buchanan.

Disponível em: https://images.app.goo.gl/d4pj4kAKjcVXidS8A e https://bit.ly/2RL2oMs. (Acesso: 20/09/20). Já na maquiagem, foram utilizados tons mais avermelhados nos lábios e olhos destacados com muito rímel. Juntamente com o visual, é possível notar que o filme faz um paralelo com a mudança comportamental feminina daquele tempo; a incorporação de comportamentos tradicionalmente masculinos, como a prática de esportes, fumar e beber em público.

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A maquiagem das personagens femininas: batom avermelhado e rímel

Disponível em: https://bit.ly/2RL2oMs. (Acesso: 20/09/20).

O figurino de O Grande Gatsby foi pensado e desenvolvido pela figurinista Catherine Martin juntamente da estilista Miuccia Prada. A colaboração “traduz o estilo de inspiração europeia usado pelos aristocratas da costa leste do Estados Unidos na década de 20 junto com os vestidos glamorosos e sofisticados da época", como dito por Martin. Conforme declarado em uma matéria da Vogue UK, a colaboração resultou em 40 designs, cuja produção foi inspirada diretamente em peças ilustres das coleções de 2011-2012 da Prada e da Miu Miu. Como disse Miuccia para a Vogue em 2013; “Quando trabalhei com figurinos percebi quantas peças poderiam se tornar bem 1920’s com uma pequena intervenção e um outro ponto de vista”.

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Croquis revelados por Miuccia Prada dos looks da Miu Miu e da Prada usados no figurino das cenas de festa em O Grande Gatsby.

Disponível em: https://images.app.goo.gl/UZtRqPa6DiL3tDEi7 e https://bit.ly/2RL2oMs. (Acesso: 20/09/20).

Não somente as roupas da produção, como também as joias utilizadas foram projetadas por grifes luxuosas e de alta costura. A Tiffany&Co, produziu os braceletes de diamantes, anéis, acessórios para cabelo e os colares maximizados de pérolas, exclusivamente para a obra. Assim como no caso da Prada, as joias também foram inspiradas nos arquivos da joalheria americana, que priorizaram a extravagância e exagero da era. Tendo em conta a adesão do público ao figurino após o lançamento do longa, tanto a Prada quanto a Tiffany&Co elaboraram

30 coleções especiais baseadas no filme que foram comercializadas em suas vitrines e difundidas pelas passarelas ao redor do mundo; fato que será abordado mais profundamente em breve neste artigo.

As joias desenhadas pela Tiffany&Co para O Grande Gatsby.

Disponível em: https://images.app.goo.gl/r8qBMjNizcDVPwQU9 e https://images.app.goo.gl/bDYjeNsoLMbBWwa48.(Acesso: 20/09/20).

Ainda que os papeis femininos, interpretados por Carey Mulligan, Isla Fisher e Elizabeth Debicki, destaquem-se pela maior elegância e glamour de seus figurinos, as vestimentas masculinas seguiram a mesma linha de sofisticação, embora mais semelhantes entre si. Para os homens, maioria na trama, os figurinistas optaram por peças como o smoking, ternos, flores, gravatas borboletas e lenços de lapela, que ajudaram a construir a imagem do homem nova-iorquino dos anos 20.

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Smokings branco e cáqui utilizados pelo ator Leonardo DiCaprio, como Gatsby no longa.

Disponível em: https://images.app.goo.gl/15yjwcRP1AhWKHoa7. (Acesso: 20/09/20).

Alguns itens e peças que fizeram parte do figurino de Nick Carraway, interpretado por Tobey Maguire.

Disponível em: https://images.app.goo.gl/6aDZEyfjt76EJVmy6. (Acesso: 20/09/20).

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Após o lançamento, Catherine Martin, a figurinista de O Grande Gatsby, levou a premiação do Oscar de melhor figurino, no ano de 2014. Também disputavam o prêmio; "Trapaça", "O Grande Mestre", "The Invisible Woman" e "12 Anos de Escravidão". Entretanto, a extravagância e luxuosidade da Era do Jazz se sobressaiu entre os demais figurinos da disputa. Tamanho foi o êxito do figurino, que Martin também foi indicada para a categoria de melhor design de produção, somando-se a outras cinco indicações ao Oscar em seu currículo.

3.2 BLADE RUNNER: O CAÇADOR DE ANDROIDES O filme estadunidense Blade Runner, em português intitulado Blade Runner: O Caçador de Androides, foi lançado em 1982 e abriu o caminho para diversas inovações e ideias que foram se instalando no público. O filme, ambientado no ano de 2019, retrata o ex-policial Rick Deckard atrás de replicantes fugitivos. Tais replicantes são tecnologias inventadas e usadas nas colônias fora do Planeta Terra: são androides que agem e se parecem com humanos, com exceção da posse de um intelecto emocional. Os replicantes vivem a serviço dos humanos e possuem datas de expiração, no entanto, um grupo se rebela e se esconde na cidade de Los Angeles, o que leva Deckard a ser acionado para exterminá-los. Blade Runner tem no seu papel principal Harrison Ford – que então tinha recentemente participado do episódio quatro de Star Wars, uma das franquias mais consumidas de todos os tempos - como Rick Deckard, Sean Young como Racheal, Rutger Hauer como Roy e Daryl Hannah como Pris. A direção é de , que depois direcionaria outros filmes de sucesso como Thelma & Louise e Perdido Em Marte. O filme inicialmente não fez sucesso. Segundo dados retirados do site IMDB, Além dos críticos constantemente escreverem coisas negativas sobre ele, também foi exibido nos cinemas ao mesmo tempo que o filme E.T., de Steven Spielberg, que dominou as bilheterias da época. Isso fez com que fossem liberadas diversas versões diferentes do filme, com cenas cortadas ou acrescentadas, narrações dos

33 produtores, finais alternativos. Foi só então que, de alguma maneira, o filme se tornou um clássico e uma das maiores inspirações do gênero de ficção científica. Blade Runner é aclamado como uma das obras de ficção científica mais talentosa de todos os tempos e com grandes realizações. Ao longo dos anos, alcançou o status de um clássico filme cult, e é considerado profundo, existencial e poético. Ele vem inspirando muitos desde o seu lançamento, e a sua popularidade, prestígio e fama nunca pararam de crescer, considerando que, quando foi lançado, concorreu à dois Academy Awards, prêmio de grande reputação, e a sua estima levou a produção de uma sequência de alto custo e investimento, feita em 2017 e estrelada por Ryan Gosling, ator de muito reconhecimento. O futuro, sempre causando muita curiosidade e muitas dúvidas e questões no público geral, muitas vezes é explorado no cinema. Antes de Blade Runner, outro filme de grande sucesso, 2001: Uma Odisseia No Espaço, também explorou o futuro e o que este traria. Apesar de muito evidentemente não ter acertado, em sua maioria, suas previsões e concepções sobre o futuro, Blade Runner influenciou muito diversos setores da cultura da época e continua a fazer isso até hoje. O filme retrata 2019 de uma maneira melancólica, a cidade no qual é ambientado, Los Angeles, deixa de ser colorida e ensolarada e se torna visualmente estranha e confusa. A arte do filme é um trabalho a ser parabenizado a parte: os cenários e os takes são obras de arte por si próprios. A distópica Los Angeles é representada bem monocromática, o que acrescenta luz e rouba a atenção dos espectadores são as luzes e as placas neon espalhadas pela cidade. A cidade havia se tornado uma metrópole superpopulosa com uma arquitetura moderna mais ao mesmo tempo claramente decadente. O filme traz características e visuais futuristas-retrô, e foi inspirado nos filmes noir da década de 50, como um dos filmes mais conhecidos e clássicos da ficção científica, Metrópolis, de Fritz Lang.

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Uma cena do filme Blade Runner, na qual é possível ver a extravagância de cores com as luzes neon.

Disponível em: https://2.bp.blogspot.com/JlqxVbl9iOc/VGPQpPY5AwI/AAAAAAAAUfs/btuT_NOwL1U/s16 00/Newspaper.jpg. Acesso: 22/09/2020

Ao representar o futuro, Blade Runner apresenta as vestimentas muito coerentes com o estilo de vida da cidade e da época retratada. O filme inovou ao revelar suas versões de roupas futurísticas que viriam a inspirar e admirar muitos. As roupas mostradas no filme são muito características e inegavelmente “roupas futurísticas”, mas ainda assim trazem uma singularidade e rastros do molde pelas quais foram feitas pelos criadores. Blade Runner é considerado, pela curadora Lou Stoppard, no jornal Financial Times, o filme que viu o futuro da moda. Foi de extrema importância e influência para os contextos sociais da época e está constantemente sendo reconhecido pelo mundo da moda pelo seu legado. Blade Runner inovou ao representar os vestuários do futuro de forma extravagante e revolucionária, ao contrário do que era conhecido anteriormente, pois as roupas utilizadas nas representações do futuro eram sempre simples e minimalistas. Ao ousar e renovar as ideias sobre e moda do futuro, Blade Runner mudou para sempre a indústria.

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Cena do filme Blade Runner que exemplifica a moda mostrada nele.

Disponível em: https://lh3.googleusercontent.com/proxy/u- svSj90qgrwzBHOvlyxCElpwgXzKgVFkDQSW- buAADnCirF2Wv_relfpHZfFdI8bA2NngT3iqVtAODEMi6zYnWV4Dyrq370cvybIn1d9sgSpw 55cvj58mLdQSpzQQ. Acesso: 22/09/20.

Cena do filme Blade Runner que exemplifica a moda mostrada nele.

Disponível em: https://www.highsnobiety.com/p/blade-runner-style/. Acesso: 22/09/20.

Cena do filme Blade Runner que exemplifica a moda mostrada nele.

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Disponível em: https://static.wikia.nocookie.net/bladerunner/images/4/41/Zhora.jpg/revision/latest/top- crop/width/360/height/360?cb=20171028221610 e https://64.media.tumblr.com/36b960d9af295e224a8e120ff0dfcd82/tumblr_owwsf1VHAz1u rf4tmo1_400.jpg. Acesso: 22/09/20.

Cena do filme Blade Runner que exemplifica a moda mostrada nele.

Disponível em: https://www.highsnobiety.com/p/blade-runner-style/ Acesso: 22/09/20.

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Blade Runner continua trazendo noções e princípios da época do cinema noir por meio da caracterização seu protagonista, Rick Deckard. O policial interpretado por Harrison Ford foi desenvolvido com base em narrativas de detetives noir, e a sua paramentação deriva da de atores de renome como Orson Welles, James Cagney e Humphrey Bogart.

Na esquerda, o ator Humphrey Bogart, e na direita, o personagem Rick Deckard, interpretado por Harrison Ford.

Disponível em: https://i.pinimg.com/564x/3c/a8/3d/3ca83d16e443353aa26adfc9dcffcdc7.jpg Disponível em: https://www.highsnobiety.com/p/blade-runner-style/ Acesso: 23/09/20

A moda do filme é composta por diversos elementos de tendências na época pouco conhecidas, tais como o cyberpunk e o futurismo-retrô. Além das tendências atuais e emergentes, o vestuário do filme também lidou com modas dos anos 40 e 50 que já haviam caído no desuso. Essas tendências podem ser muito vistas na personagem Rachael, a ser analisada em seguida.

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Marcas do futurismo-retrô na moda: a primeira fazia parte da edição de agosto de 1965 da revista Vogue e a segunda é uma edição da revista Vogue de dezembro de 1964.

Disponível em: https://www.vogue.com/article/1960s-beauty-retro-futurism-courreges- paco-rabanne-vogue-archives Acesso: 22/09/20

Como antes mencionado, o cyberpunk e o futurismo-retrô então foram dados muita mais importância e muito mais procurados pelos consumidores, e os estilos e tendências estabelecidos por estes, e representados no filme Blade Runner foram sendo adotados pela população que era cada vez mais influenciada. O progresso e o desenvolvimento do estilo musical New Wave também fazem referência aos gêneros mencionados e a moda apresentada no título. Os visuais futuristas do filme inspiraram muito a moda da época e foram se tornando aos poucos referências da moda dos anos 80 de tão populares que se tornaram. Apesar de terem marcado tal década, esses modismos e tendências continuam sendo usadas, renovadas e reconstruídas até os dias de hoje.

Roupa futurista desenhada pelo estilista francês Thierry Mugler, em 1979.

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Disponível em: http://www.osovictoria.com/2013/04/lately-i-have-been-silver-fabrics.html Acesso: 22/09/20

Daryl Hannah, ao representar a rebelde replicante Pris, traz para a personagem um estilo punk com influências góticas e muito inovadoras, adicionando mais camadas à representação do filme de uma subclasse esquecida e incompreendida. A personagem faz uso de tendências óbvias da moda punk como o uso constante do couro, tachas, e coleiras de cachorro, além de inovar ao usar collants e maiôs. Seu corte e cor de cabelo e sua maquiagem completamente preta em volta dos olhos que remete à uma máscara também lembram os movimentos da moda e cultura mencionados anteriormente.

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Personagem Pris.

Disponível em: https://www.ft.com/content/803687a8-9a22-11e7-b83c-9588e51488a0 e https://i.pinimg.com/originals/b5/48/0f/b5480ff4ceb3dc93c31881705767dda0.jpg. Acesso: 22/09/20.

Góticos nos anos 80, com um estilo semelhante ao da personagem Pris.

Disponível em: https://post-punk.com/oldschool-gothic-a-gallery-of-80s-goth-and- deathrock-culture/ Acesso: 22/09/20

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Por outro lado, a heroína do filme, Rachael, interpretada por Sean Young, traz consigo diversas camadas que a fazem uma personagem extremamente complexa e atípica, e as suas vestimentas adicionam a este mistério carregado por ela. Rachael é o melhor exemplo da mistura do que então era futurista com aquilo que já era retrô apresentada em Blade Runner. Sean Young, portanto, passou a representar uma personagem que vive no futuro, porém está sempre trazendo e revivendo elementos do passado. Tal passado, um passado noir, foi uma das maiores inspirações para o figurino da personagem Rachael. Ela foi modelada a partir de estrelas dos filmes noir dos anos 40 e 50, e isso se concretiza em seu vestuário. A sua aparência no filme relembra os Anos de Ouro de Hollywood, especificamente a atriz Joan Crawford, que usava figurinos assinados pelo designer Adrian Adolph Greenberg, o qual serviu de inspiração para os próprios figurinistas de Blade Runner. Racheal recorda muito Joan Crawford em suas maneiras de se vestirem. Estas, portanto, fazem muito o uso de elementos da moda dos anos 40, as ombreiras, principalmente. Ademais, outros fundamentos desta época foram utilizados no figurino de Rachael: quadris estreitos, cabelo enrolado, ombros quadrados, ternos feitos sob medida e saias que terminavam logo abaixo do joelho.

Atriz renomada Joan Crawford.

Disponível em: shorturl.at/glBDM. Acesso: 22/09/20.

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A mágica então feita pelos figurinistas do filme foi a mistura desta silhueta feminina dos anos 40 com uma silhueta dos anos 80, influenciada pelos padrões futuristas. Logo, foram adicionados ao seu vestuário tecidos com aparência de látex e couro, luxuosas peles falsas e ombros estruturados, e à mistura foram acrescentados ângulos exagerados e afiados. Por fim, foi criado então o semblante icônico de Rachael, uma personagem que inova e eterniza a moda por meio de suas peças de roupas que fazem ousadas afirmações.

Personagem Rachael

Disponível em: https://static.rogerebert.com/redactor_assets/pictures/54038931cd3b56bbca000211/blader unner-1-sean-young-as-rachel.jpg e https://www.highsnobiety.com/p/blade-runner-style/. Acesso: 22/09/20.

O figurino do filme Blade Runner influenciou muito o mundo da moda, por apresentar uma convergência e um diálogo entre diferentes estilos, grupos sociais, e épocas, como visto anteriormente. Essa influência pode ter sido mais abstrata, influenciando as massas a passarem a ver a moda de uma maneira diferente, mais

43 maleável, ou a inovar e mudá-la, visando os gostos pessoais e também ideias e concepções futurísticas, no entanto, um elemento do figurino da personagem Rachael – o mais icônico de todo o filme – são as ombreiras utilizadas por ela. Praticamente todos os seus figurinos faziam uso de ombros estruturados, e isso muito evidentemente serviu de inspiração para muitos, considerando o tamanho da febre de ombreiras nos anos 80, após o lançamento do filme.

Ombreira utilizada por Rachael em Blade Runner e exemplo da moda muito grande dos anos 80, como vista nesse visual da princesa Diana em 1985.

Disponível em: https://i.pinimg.com/originals/fa/b2/52/fab25273bc662f5d390d14f938b605c6.jpg e https://www.glamourmagazine.co.uk/gallery/princess-diana-best-dresses-fashion-style. Acesso: 22/09/2020

Em vista disso, estas ombreiras são um grande exemplo do grande sucesso e influência no público do filme Blade Runner. A fama e o prestígio dele fizeram com que o seu figurino fosse ainda mais valorizado e respeitado. Os responsáveis por esse figurino tão ilustre e aclamado são Michael Kaplan e Charles Knode. Eles conseguiram essa função por meio do diretor do filme, Ridley Scott, que pediu para

44 o Costume Designers Guild, uma associação de figurinistas muito conhecida, se havia alguém jovem, com ideias diferentes e inéditas sobre a ficção científica, disponível para desenhar o figurino da obra. Outrossim, tais expectativas do diretor a respeito da moda presente no filme foi o que fizeram dela tão notável. Kaplan e Knode conseguiram, através do figurino, atribuir ao filme fidedignidade, pois este era crível, mas, ao mesmo tempo, inovador, ousado e desafiador. O figurino do filme se tornou então algo icônico à parte, chegando a inspirar muitos em diversas épocas, e chegando até a trazer inspiração para designers e estilistas de muito renome que criaram diversas coleções e desfiles homenageando especificamente o filme, que serão abordados ao longo deste projeto. Michael Kaplan, que recebeu o prêmio de Melhor Figurino no British Academy Awards, atribui ao motivo da glória da moda de Blade Runner a fascinação do mundo da moda com aquilo que é novo e transformador, elementos incessantemente presentes no filme. Desse modo, as reformas e inovações da moda presentes em Blade Runner – O Caçador De Androides são o que deram ao seu figurino um legado que está armazenado na consciência criativa do mundo da moda até hoje.

Esboço de Michael Kaplan para a personagem Rachael

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Disponível em: https://www.ft.com/content/803687a8-9a22-11e7-b83c- 9588e51488a0. Acesso: 22/09/2020.

Esboço de Michael Kaplan para a personagem Rachael.

Disponível em: https://www.ft.com/content/803687a8-9a22-11e7-b83c- 9588e51488a0. Acesso: 22/09/2020.

3.3 AS PATRICINHAS DE BEVERLY HILLS Foi no ano de 1995 que a cultura jovem e o gênero juvenil no cinema mudaram para sempre, com a chegada do hoje clássico As Patricinhas De Beverly Hills. Em inglês Clueless, o mais memorável filme adolescente continua influenciando diversas esferas culturais até os dias de hoje, especificamente a da moda, grande quesito abordado no filme. As Patricinhas De Beverly Hills retrara a vida de Cher, uma adolescente rica, linda, e - assim como diz o título – sem noção nenhuma sobre conceitos da vida real, que navega pelo ensino médio tentando administrar a sua vida social e

46 amorosa, se destacar na escola, deixar seu pai orgulhoso e, principalmente, ajudar os menos afortunados, de diversas maneiras diferentes. Desse modo, Cher utiliza as suas capacidades persuasivas para melhorar as suas notas no colégio, juntar dois professores infelizes, e ajudar a aluna nova do colégio a se adaptar à moda e os costumes da elite californiana da época. Apesar de estar constantemente ajudando os outros, o filme mostra Cher muitas vezes incerta sobre ela mesma, sobre seus sentimentos, sobre quem quer ser e sobre o que gostaria de fazer. Dirigido por Amy Heckerling, o clássico é uma releitura de Emma, romance de Jane Austen de também muito sucesso. Em seu elenco estão nomes muito conhecidos como Alicia Silverstone como Cher; Paul Rudd como Josh, seu ex meio- irmão; Stacey Dash como Dionne, e Brittany Murphy como Tai. Clueless foi o modelo para diversos outros filmes que retratam o ensino médio e a vida adolescente, que viriam posteriormente e fariam amplo sucesso. Os jovens da época gostaram de se ver representados no cinema de forma tão natural e inspiradora. Assim, o imenso sucesso do filme fez com que este assumisse o papel de influenciador e por isso, os atores que participaram da produção foram levados ao estrelato logo após o lançamento. Dessa forma, a obra se tornou algo essencial para a experiência adolescente e é considerada um clássico cult amado e referenciado por todos. A produção se manteve como influência para os jovens da atualidade, no que diz respeito ao seu comportamento, como por exemplo, por meio de frases icônicas usadas no filme que já caíram em uso popular. Além disso, as vestimentas e as tendências de moda presentes no filme, a serem mais estudadas adiante, permanecem eternizadas. O tamanho sucesso de As Patricinhas de Beverly Hills pode ser visto no papel que a sua moda desempenhou e desempenha até hoje na cultura pop mundial. Diversas pessoas se inspiram todo ano nas famosas roupas usadas por Cher. A cantora Iggy Azalea fez do clipe de sua música “Fancy” uma grande homenagem ao filme e o vídeo hoje contabiliza quase um bilhão de visualizações. Ainda mais, o designer Alexander Wang listou Clueless como seu o seu filme preferido e uma grande fonte de inspiração.

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A moda exerce uma parte muito importante no filme. Cher e Dionne, por terem alto poder aquisitivo, se dedicam muito a ela e estão constantemente inovando e trazendo novas tendências ao seu contexto. Diversas roupas utilizadas em Clueless se tornaram demasiadamente famosas e ícones da moda no cinema. A responsável por tal é Mona May, figurinista do filme, pela qual foi alcançado um filme tão influente no mundo da moda. Mona May, juntamente com Amy Heckerling, queria representar os jovens de forma realista, por isso elas visitaram escolas de Los Angeles da época para estudarem a moda utilizada pelos alunos. Os resultados não foram muito agradáveis: elas viram muitos elementos da moda grunge dos anos 90 (a qual odiavam): camisas xadrez, jeans largos, entre outros, o que as inspirou a criar o seu próprio universo de moda no qual poderiam inovar e reinventar a moda ao seu favor, com o propósito de se encaixá-la na realidade abastada e sofisticada do filme, e esperançosamente, mudar a terrível moda mencionada.

Exemplo da moda grunge presente nos anos 90 antes de As Patricinhas de Beverly Hills, em ícones da época: Drew Barrymore e Winona Ryder.

Disponível em: https://i.pinimg.com/originals/7e/7c/5f/7e7c5fc2283eac81b32c952903ef3c59.jpg e

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https://i.pinimg.com/736x/e5/46/cd/e546cd109e086b912432f405e4f02911.jpg. Acesso: 05/10/2020.

A figurinista então criou um mundo da moda a parte, um que correspondia as ousadas e revolucionárias inovações que Cher e seus amigos criavam. Surgiu então a moda das Patricinhas de Beverly Hills: uma versão colorida e melhorada do que os anos 90 poderiam ser. Foram criados figurinos extravagantes que eram elegantes, femininos e caíam bem, criando uma sensação de fantasia que todos querem viver. O filme com todos os seus fatores icônicos introduziu aos jovens um novo dicionário comportamental, e inspirou muitos a aposentarem seus estilos grunge e encontrarem a sua Cher Horrowitz interior. Sendo assim, Mona May conseguiu abandonar os visuais de skatistas preguiçosos e entregou uma moda estrondosa e exuberante. As Patricinhas de Beverly Hills definiu então um padrão que a moda dos anos 90 e em seguida deveriam seguir: jaquetas xadrez com saias combinando, vestidos mini, roupas justas, chapéus ousados e peças de designers, e todos estes viriam, graças ao filme, a se tornarem características da mencionada moda juvenil da época. As personagens do filme se expressam muito por meio da moda, suas percepções do mundo, suas classes sociais, suas vontades e seus atributos. Clueless é considerado pela revista Harper’s Bazaar um dos filmes mais “fashionables” de todos os tempos. Apesar de ter influenciado diversas gerações, o filme também serve como uma grande imagem dos anos 90 e das tendências que passariam a ser criadas por causa dele. Por meio dele, portanto, os anos 90 foram marcados para sempre e sua moda imortalizada nas cenas do filme. Um exemplo da visão que temos dessa época na obra é a da cena em que Cher reclama sobre os meninos do ensino médio e seus comportamentos e moda horríveis. Cena do filme que retrata o modo como os meninos do ensino médio se vestiam.

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Disponível em: https://lh3.googleusercontent.com/proxy/qoEKwgKWkdcRp9MkMJdk5gGezWyOBo7RUM urQ3m4OiVjz4y_O6XoroUxeOBJ2_djwpQHZjcVGNSJOfV_33RiGOAkuPWvfje8dAWCR1 FQQilhyLiAHlr3IURmSUFbqVC1sw. Acesso: 05/10/2020.

É por meio do figurino que o filme representa diferentes sensações, expectativas, temas e sentimentos. Um exemplo são as estações do ano. Ao longo do filme, Cher e Dionne e os personagens de fundo se vestem todos de acordo com a paleta de cores de cada estação: no outono, são usadas roupas vermelhas, laranjas e amarelas. Já na primavera, o filme mostra figurinos com cores pastéis e delicadas, e no Natal se podem ver roupas vermelhas e verdes. A aclamada moda do filme não veio de forma fácil e seu processo de criação certamente também não. A figurinista Mona May não tinha muito dinheiro para criar figurinos tão chiques e extravagantes, então misturou muito roupas designer - tanto emprestadas quanto compradas - com roupas encontradas em bazares. Tratava-se da necessidade de pegar elementos de diversas fontes diferentes e prever o que estaria sendo usado pelo público seis meses depois, como um estilista naturalmente faria. Esboço de Mona May do figurino de Cher e Dionne.

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Disponível em: https://www.vanityfair.com/hollywood/2015/06/clueless-clothes. Acesso: 05/10/2020. Cher Horowitz, protagonista do filme e uma das personagens mais estilosas do cinema, se caracteriza por utilizar roupas elegantes e modernas, muitas vezes versões minimalistas do estilo preppy, que lembra uniformes de escolas privadas. Cher faz da coordenação de cores sua aliada ao utilizar conjuntos e vestidos delicados que ela estila junto com sapatos e acessórios combinando.

Exemplos da moda preppy usada por Cher. Se destaca o uso do xadrez.

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Disponível em: https://decider.com/2015/07/13/clueless-ranking-chers-outfits/ Acesso: 05/10/2020

Exemplo da moda preppy representado na série estadunidense Gossip Girl

Disponível em: https://harpersbazaar.uol.com.br/wp-content/uploads/2019/04/gossip-girl- 1024x576.jpg. Acesso: 05/10/2020

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Ainda usando a moda preppy como inspiração, a personagem Cher é mostrada diversas vezes usando meias acima do joelho. Tais há anos não estavam na moda, mas Amy Heckerling demonstrava tamanha admiração pelos anos 20 e as estrelas dos filmes mudos que ela as tornou marca registrada da personagem. Apesar de, na época, não serem usadas pela população, as meias acima do joelho se tornaram elementos essenciais da moda dos anos 90 depois da estreia do filme. Assim como elas foram inspiradas nos anos 90, Cher também apresenta características dos anos 60 e 70, como seus suéteres e saias de camurça, acrescentando ao seu visual preppy mencionado anteriormente. A icônica roupa utilizada por Cher, seu conjunto amarelo xadrez, é um dos figurinos mais reconhecidos mundialmente. Para o primeiro dia de aulas, foi criado primeiramente a roupa que Dionne usaria, porem a figurinista do filme teve bloqueios ao desenhar uma roupa para Cher que se destacaria. Quando Mona May finalmente criou o visual, ela soube que nada conseguiria superá-lo. O figurino foi feito pela Dolce & Gabanna, e em uma entrevista para a Vogue, Alicia Silverstone, que interpreta Cher, declarou que a roupa, uma releitura sofisticada de um uniforme escolar, marca a transição do espectador para o universo do filme.

Famoso conjunto amarelo xadrez que marcou As Patricinhas de Beverly Hills.

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Disponível em: https://i.pinimg.com/736x/f9/1d/d9/f91dd95b9a650572454b33d89abeffcc.jpg Acesso: 05/10/2020 Assim como o emblemático conjunto amarelo, Cher faz uso de outras peças de designers que ajudam a estabelecer o seu caráter e a sua relação com a moda. Um exemplo disso é visto na cena em que a personagem é assaltada ao voltar de uma festa. Quando obrigada a deitar no chão, Cher se recusa, pois fala que está usando um Alaia. Alicia Silverstone apresenta nessa cena um vestido de festa vermelho-cereja. As frases “You don’t understand, this is an Alaia!” e “It’s like, a totally important designer” (“Você não entende, isso é um Alaia!” e “Ele é tipo, um designer super importante”) marcaram o filme e tornaram o vestido mais um das

57 muitas roupas famosas de Cher. Além disso, foi essa cena que realmente trouxe reconhecimento à marca de Azzedine Alaia. O icônico vestido Alaia usado por Cher.

Disponível em: https://akns- images.eonline.com/eol_images/Entire_Site/2020617/rs_1024x759-200717101851-1024- clueless-gj-7-17-20.jpg?fit=around|1024:auto&output- quality=90&crop=1024:auto;center,top. Acesso: 05/10/2020. Do mesmo modo, outra cena altamente reconhecida pelo público é a cena em que Cher está se preparando para o seu primeiro encontro com Christian, e está usando um vestido branco que enfurece seu pai. O diálogo dos tais sobre a peça é muito conhecido: “What the hell is that?” “A dress!” “Says Who?” “Calvin Klein!” (“O que diabos é isso?” “Um vestido!” “Quem disse?” “Calvin Klein!”). A partir desse momento o vestido branco da Calvin Klein utilizado por Cher se imortaliza também. Além disso, esses momentos ajudam na construção da personagem e possibilitam

58 que o público veja a sua relação com a moda e com designers importantes sendo tão jovem. Vestido Calvin Klein usado por Cher no filme.

Disponível em: https://i.pinimg.com/originals/7c/92/23/7c92235126140e9e229c589379f01574.jpg Acesso: 05/10/2020

Como mencionado anteriormente, é por meio da moda que, sutilmente, ou talvez até bem explicitamente, os personagens demonstram seus sentimentos e suas vontades interiores. Isso pode ser muito visto na protagonista, quando ela, por exemplo, muda o jeito como se veste depois que percebe que está apaixonada por Josh. Cher passa a se vestir de forma mais séria e respeitável, buscando fazer com que Josh a veja de uma maneira que o faça se apaixonar. Mudança de Cher no seu comportamento e no seu vestuário.

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Disponível em: https://decider.com/2015/07/13/clueless-ranking-chers-outfits/ Acesso: 05/10/2020 Assim como a sua melhor amiga, Dionne também apresenta diversos esforços corajosos no quesito da moda. A personagem praticamente sempre apresenta figurinos combinando com Cher, mesmo assim exibe mudanças ousadas e audaciosas. Dionne está incessantemente inovando o modo como se veste de maneiras muito divertidas e diferenciadas. Ela apresenta elementos de diversas culturas diferentes e cria ela mesmo tendências um pouco inusitadas. Dionne é marcada pelo seu uso destemido de chapéus. Ela está sempre acrescentando aos seus visuais chapéus modernos e novos à moda local. Mona May destaca o uso exagerado da personagem destes assessórios e explica que chapéus sempre foram itens muito estilosos, mas é preciso ter coragem para usá- los e inovar com eles, e isso Cher e Dionne têm de sobra. Ela lembra da cultura rave presente na época, e lembra das pessoas aderindo à chapéus divertidos e modernos por causa dela. Mona então encontrou uma maneira de incrementar tais elementos à moda sofisticada do filme, mas ainda trazendo essas características alegres e diferentes.

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Dionne e seus diferentes chapéus.

Disponível em: https://media.vanityfair.com/photos/5575fb50ca2dc24e4d264f17/1:1/w_1038,h_1038,c_lim it/ss05-clueless-amy-heckerling-young-and-clueless.png Disponível em: https://www.refinery29.com/images/9915188.jpg. Acesso: 05/10/2020

A figurinista do filme tomou cuidado ao retratar Cher e Dionne e suas amigas como realmente adolescentes. São adolescentes que apresentam um estilo e uma moda escolar nada comum, mas continuam crianças. Isso é demonstrado por meio dos sapatos usados. As meninas fazem uso de Jimmy Choos e Mary Janes, sapatos de certo modo ingênuos, mas nunca stilettos, fazendo jus à juventude e inexperiência das personagens. Personagens femininas usando sapatos Mary Jane.

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Disponível em: https://www.vogue.com/article/summer-fashion-trends-clueless Acesso: 05/10/2020 A cena a ser mencionada a seguir, na qual as alunas estão tendo uma aula de educação física que é atrapalhada pela chegada de Tai, é um grande exemplo da moda esportiva da época que claramente impactou como nos vestimos atualmente. As personagens são todas vistas usando diferentes variações de roupas pretas e brancas, com Cher e outras meninas usando bermudas de ciclistas, o que viria a voltar à moda recentemente. Cena da aula de educação física.

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Disponível em: https://www.wellandgood.com/wp-content/uploads/2017/09/News-write- around-features-Clueless-Athleisure.jpg. Acesso: 05/10/2020 Kourtney Kardashian vestindo shorts ciclista.

Disponível em: https://i.pinimg.com/originals/a5/31/f0/a531f0c46c6f7896b09733fb73942596.jpg. Acesso: 05/10/2020. Tai, o mais importante projeto de Cher no filme, é uma aluna nova recém chegada à Los Angeles. Tai se mostra perdida a respeito da engenharia do colégio: os grupos sociais, os costumes, a moda utilizada. Cher e Dionne, portanto, a “adotam” no seu grupo e a transformam para encaixá-la em seu contexto social. No início, Tai exibe em roupas, segundo Cher, de fazendeiros: uma calça marrom e uma blusa xadrez que não a serviam, ou seja, ela se apresenta adepta ao estilo grunge da época, especificamente aquele ao qual Amy Heckerling e Mona May desprezavam. Dessa maneira, Tai é transformada em uma real menina da elite californiana. Isso acontece apesar de ela vir de uma classe completamente diferente, o que pode ser visto, por exemplo, na maneira como ela sempre usa calças jeans, ao contrário

63 de Cher, que, por ser uma menina afortunada e muito estilosa, as rejeita completamente. Tai então passa a apresentar visuais mais femininos e delicados, e faz o uso de saias e blusas croppeds que valorizam mais o seu corpo. É possível perceber que a pessoa criada por Cher e Dionne não era verdadeiramente Tai, mas isso muda quando, depois de seu conflito com Cher, descobre quem realmente quer ser e acrescenta à sua antiga maneira de se vestir os elementos novos apresentados pelas amigas, e um toque sofisticação. Tai depois de sua transformação.

Disponível em: https://media.glamour.com/photos/570665d9855bb47b3175ae57/4:3/w_1294,h_971,c_limi t/entertainment-2016-04-clueless-main.jpg. Acesso: 05/10/2020

Fazendo jus ao grande legado da moda deixado por As Patricinhas de Beverly Hills, outros personagens valem ser lembrados. Christian, o primeiro interesse amoroso de Cher no filme, se mostra diferente dos outros meninos

64 adolescentes, dos quais ela tanto abomina. Um dos motivos que o diferencia deles é a maneira como se veste. Christian se apresenta pela primeira vez usando uma calça de cintura alta e uma camiseta preta. É esse estilo que ele exibe ao longo do filme. Um estilo Frank Sinatra, que ele utiliza religiosamente: óculos escuros, jaquetas quadriculadas com forro de cetim e jaquetas de boliche, e calças clássicas de diversas cores. A primeira aparição do personagem Christian.

Disponível em: https://dazedimg-dazedgroup.netdna-ssl.com/786/azure/dazed- prod/1120/9/1129907.jpg. Acesso: 05/10/2020 Todos os personagens do filme são marcados por terem aparências muito específicas. Amber, que sempre entrava em conflito com Cher e Dionne, demonstra um senso de moda único e muito inovador. Ela sempre se vestia com um tema, seja ele comissária de bordo, bandeira americana ou Pipi Meia Longa, e essa sua ousadia continua a mostrar como a moda era lidada (de forma divertida e tangível) nesse cenário. A personagem Amber e o seu figurino chamativo.

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Disponível em: https://vignette.wikia.nocookie.net/clueless/images/6/65/Amber-mariens- 1.png/revision/latest/scale-to-width-down/340?cb=20130830215047. Acesso: 05/10/2020. Os personagens masculinos do filme também tomaram parte no impacto de As Patricinhas de Beverly Hills no mundo da moda. Diferentemente de Christian, as roupas coloridas e ousadas de Murray são o exemplo perfeito do streetwear estadunidense dos anos 90. Componentes como moletons, bonés, shorts largos e caídos, boinas e camisetas e tênis clássicos da Adidas, todos fizeram parte do vestuário de rua da época. Exemplo da moda adotada por Murray, que representa o streetstyle da época.

Disponível em: https://images.app.goo.gl/Am2AKVw4k4wqvT3r9. Acesso: 30/10/20.

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Dessa maneira, é possível estabelecer o tamanho impacto cultural de As Patricinhas de Beverly Hills no mundo da moda, e como seu figurino inovou tanto o contexto social da época por trazer novas características e opções de mudanças para a juventude. Por meio das roupas, o filme conseguiu capturar perfeitamente a essência da adolescência e ao mesmo tempo moldou diversas gerações ao influenciar adolescentes a se vestirem e agirem de certa maneira.

3.4 BONEQUINHA DE LUXO Lançado no ano de 1961, o clássico Bonequinha de Luxo, do inglês Breakfast at Tiffany’s, é uma comedia romântica dirigida por Blake Andrews, adaptada do livro de Truman Capote. O longa-metragem conta a história da jovem Holly Golightly, interpretada por Audrey Hepburn, e de Paul Varjak, por George Peppard, que se envolvem e se apaixonam ao longo da narrativa. O enredo se desenvolve na gigantesca e superpopulosa Nova Iorque dos anos 60. Holly Golightly é uma jovem garota de programa nova-iorquina fascinada pela luxuosidade e glamour, que deseja casar-se com um homem rico. A socialite, de espírito livre e aventureiro, porém determinada, é apaixonada pela joalheria Tiffany&Co, lugar onde toma café da manhã semanalmente, como válvula de escape para a agitada vida urbana. No enredo, o caminho de Holly se cruza com o de seu novo vizinho, o jovem escritor, Paul Varjak, que bagunça os planos da jovem, confusa com o sentimento que Paul desperta. Cena do filme em que Paul e Holly passeiam pela cidade de Nova Iorque.

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Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/27162403975658892/. (Acesso: 01/10/20) .

O clássico dos anos 60, que arrecadou uma bilheteria de 14 milhões USD, é mais um grande exemplo da importância do figurino nas produções cinematográficas, sendo “até hoje uma das obras mais fashionistas e adoradas da indústria da moda”, segundo a Harper’s Bazaar Brasil. A produção ainda venceu dois Oscars: trilha sonora e canção original. Em relação ao figurino, a revista ainda destacou que “A finesse não só de Holly, mas de todos os personagens do filme é um sopro da elegância vintage”. No ano de 2010, foi divulgada uma pesquisa feita pela empresa pela empresa britânica Lovefilm, que trabalha com de aluguel e venda de DVD’s. Dados oficiais do jornal Daily Mail revelam que bonequinha de luxo ficou em primeiro lugar dos top 10 filmes no quesito figurino. Hepburn vestiu peças que acentuam um corpo longilíneo e mostram um estilo mais feminino e delicado. De fato, a película ficou eternizada pela convergência feita entre a moda e o figurino. Uma das peças mais clássicas e atemporais do longa é certamente o vestido preto usado por Audrey na cena de abertura. Assim como outros vestidos do figurino, o elegante tubinho é de autoria do estilista Hubert Givenchy, feito em cetim italiano. Com um belíssimo recorte, esse vestido representa a combinação entre a modernidade e a simplicidade, além da inspiração na alta costura da moda

68 parisiense da década de sessenta. Tendo em vista a simplicidade da composição, o vestido foi capaz de conectar-se diretamente a seu público. O aclamado “pretinho básico” não possui mangas ou adornos na frente do corpete justo, surpreendendo com um decote profundo nas costas. O little black dress usado por Audrey

Disponível em: https://www.pinterest.co.uk/pin/644788871645890504/ (Acesso:04/10/20)

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Disponível em: https://www.pinterest.co.uk/pin/312789136626157968/ (Acesso:04/10/20)

Curiosamente, o vestido original planejado para a cena passou por ajustes feitos pela figurinista Edith Head. As alterações foram feitas no comprimento do modelo e na retirada de uma fenda na saia do vestido, para que não mostrasse as pernas da personagem Holly. A jovem era uma garota de programa e deveria chamar a atenção dos homens, mas, na época, era preciso lidar com o assunto de modo delicado. A sutileza foi essencial para o sucesso do filme e para a contratação de Audrey. Além do tubinho, Audrey também usou um outro vestido, de modelo conhecido como “vestido de coquetel”, na mesma cor, porém mais curto, também de autoria de Givenchy. Apresentando plumas em sua barra, o vestido possuía um

70 decote oval, um nó abaixo dos seios, indo até a altura dos joelhos. Ambos os vestidos pretos eram completados com acessórios únicos que traziam uma maior elegância ao visual, os quais serão apresentados detalhadamente mais à frente. O vestido coquetel preto da personagem

Disponível em: https://www.pinterest.co.uk/pin/312789136626157968/ (Acesso:04/10/20)

Sabe-se que no início dos anos 1960, as peças pretas vestidas por Holly Golightly, até então associadas a viúvas ou mulheres ousadas, revolucionaram as vestimentas femininas da época. No período em questão, o estilo mais feminino substituiu o utilitarista, tornando vestidos florais tendências. Entretanto, os vestidos pretos do longa tornaram-se um símbolo da vida independente e agitada levada pela personagem. Além disso, o vestido preto também revela a melancolia e solidão da personagem, na cena em que ela está diante da vitrine da Tiffany’s.

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Outra peça famosa é o vestido rosa pink sem mangas em seda e Strass, com borlas (“tessels”) e um laço na cintura, também desenhado por Givenchy. Em contraste com o restante dos vestidos da personagem, a peça apresenta uma nova silhueta semicircular, em oposição aos vestidos de corte mais seco ajustado, como de costume. É interessante notar como a escolha das cores do figurino ajudou a espelhar as emoções sentidas pela personagem de Audrey Hepburn. Por exemplo, o rosa traz à socialite um ar mais feminino, delicado e doce, visto que o visual foi usado na cena em que a jovem deseja impressionar o milionário brasileiro José Pereira em um encontro. O figurino remete à intenção de Holly de “criar laços” com um bom partido e mudar seu estilo de vida. O visual monocromático em rosa da protagonista.

Disponível em: https://www.pinterest.jp/pin/772226667343394608/. (Acesso: 04/10/20)

Além disso, outro visual em destaque é o casaco de lã laranja acinturado com gola alta que fazia parte de uma das coleções de Givenchy de 1959 e foi um sucesso

72 de venda para a marca. O tom vibrante espelha a empolgação e receptividade da personagem na cena em que está aberta para conhecer Paul mais profundamente. Por baixo há um vestido justo preto e branco com comprimento na altura dos joelhos. Audrey vestindo o casaco de lã laranja acinturado

Disponível em: https://www.pinterest.jp/pin/554013191644331534/ (Acesso:04/10/20) Outros figurinos selecionados pela figurinista Edith Head para Holly que se tornaram referências de moda foram os visuais da cena em que a personagem canta de sua janela e de uma das cenas finais do longa, na qual ela se despede de Paul. Ambos os visuais se baseiam em cores mais neutras, uma vez que a figurinista optou por uma composição básica de camisas, calças e ballerina flats, mais conhecidas como sapatilhas.

A cena em que Holly canta de sua janela, com vestimentas mais neutras e simples.

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Disponível em: https://www.pinterest.ca/pin/784893041302055107/. (Acesso: 04/10/20) Abaixo, outros figurinos icônicos de Holly Golightly na produção: Holly aposta em uma camisa branca social masculina.

Disponível em: https://www.pinterest.jp/pin/AbXYJUXGAf5bZCmYmkryUQBW- Il4e6u0u79Q5moFhMKyQPZrqGkdOOk/. (Acesso: 04/10/20)

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O quimono laranja.

Disponível em: https://www.pinterest.pt/pin/2955555989790634/. (Acesso: 04/10/20). O clássico trench coat.

Disponível em: https://www.pinterest.pt/pin/64598575882985205/. (Acesso: 04/10/20).

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A cena em que Holly improvisa um vestido, enrolando-se em um cobertor.

Disponível em: https://cinemaclassico.com/figurinos/os-figurinos-bonequinha-de- luxo-1961/. (Acesso: 04/10/20) Apesar de vestimentas aclamadas, o filme também lançou tendências em forma de acessórios que enriqueciam a elegância da composição. Um deles foi o chapéu flying saucer, de alça larga, que é utilizado em conjunto com um vestido preto durante o dia. Notoriamente, as joias utilizadas também foram de extrema importância. Com destaque para duas peças projetadas pela Tiffany’s para a protagonista. Uma delas foi a gargantilha utilizada junto com o vestido preto. Outro item cobiçado por fãs do filme e da marca é o anel de diamantes projetado por Charles Lewis Tiffany e por George Frederick Kunz. Nele, o diamante é cortado, polido e dividido pela metade, conquistando um brilho incomparável. O chapéu flying saucer de Holly.

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Disponível em: https://images.app.goo.gl/XiQKGmK9awFFF8JA7. Acesso: (04/10/20). A gargantilha da Tiffany’s utilizada junto do vestido preto.

Disponível em: https://images.app.goo.gl/AooNNJc5bhyq8QVA6. (Acesso: 04/10/20). Outro aspecto importante foi a presença de pérolas nos acessórios, como brincos, acessórios de cabelo e colares. Para o visual de Holly também foram utilizadas bolsas “baguete”, longas luvas de cetim, tiaras de brilhante, além dos famosos óculos de sol projetados por Oliver Goldsmith. Ademais, a personagem de Hepburn também difundiu o coque banana, ou french twist em inglês, seu penteado característico, frequentemente utilizado por Holly em várias cenas da produção. Na imagem pode-se observar, os brincos, colar e coroa da personagem detalhadamente.

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Disponível em: https://www.pinterest.ca/pin/392305817517079377/. (Acesso: 04/10/20). Os óculos de sol projetados por Oliver Goldsmith e usados por Audrey em várias cenas do filme.

Disponível em: https://www.pinterest.ca/pin/183943966019565666/ (Acesso: 04/10/20). O french twist de Audrey Hepburn.

Disponível em: https://www.pinterest.ca/pin/5200954 56970107218/. (Acesso: 04/10/20). Além do êxito de Audrey como Holly Golightly, o figurino de outros personagens da trama também apresentou grande adesão do público. Por exemplo

78 o personagem Paul Varjak, cujos trajes, criados por Edith Head, não divergem muito das tendências atuais, já que essas estão sob forte influência da moda dos anos 1960. Paul, assim como outros personagens masculinos da narrativa usam tendências peculiares do final dos anos 1950 e início dos anos 1960 - corte mais ajustado, ternos neutros e elegantes, lapelas finas, bolsos quadrados com lenços, gravatas estreitas com barra reta, camisas brancas simples, por vezes azuis, com gola pontuda, calça slim com frente plana e cardigans. As roupas sociais de Paul Varjak: terno ajusta e calça slim

Disponível em: https://www.pinterest.ca/pin/139470919698936639/. (Acesso: 04/10/20).

O traje sofisticado sem esforço de Varjak.

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Disponível em: https://alicealves.com.br/blog/curiosidades/o-figurino-de- bonequinha-de-luxo. (Acesso: 04/10/20) José da Silva Pereira, milionário brasileiro interpretado por José Luis de Villalonga, também possui alguns aspectos notáveis em seu figurino. Para representar sua riqueza o guarda-roupa do personagem era dominado por peças sofisticadas, como um casaco de lã escuro com ombreiras, um lenço de seda branco, um terno risca-de-giz azul marinho, e um smoking do mesmo tom. Além disso, José sempre usa uma pulseira de corrente de ouro, evidenciando sua fortuna.

O traje clássico do brasileiro simboliza seu conservadorismo e cuidado com a auto-imagem.

Disponível em: https://alicealves.com.br/blog/curiosidades/o-figurino-de- bonequinha-de-luxo. (Acesso: 04/10/20) Já o figurino da personagem Emily Eustace Failenson, interpretada por Patricia Neal, foi inteiro projetado pela estilista francesa Pauline Trigere. Em um de seus notáveis visuais, ela veste um refinado tailleur verde com grandes botões,

80 broche de ouro e pérolas, chapéu estiloso, luvas de camurça, estola de pele, bolsa marrom claro e um vistoso anel de diamante, que traduziam bem sua personalidade dominante. Alguns visuais da personagem Emily.

Disponível em: https://alicealves.com.br/blog/curiosidades/o-figurino-de-bonequinha-de- luxo. (Acesso: 04/10/20). É importante destacar a relação de proximidade que Audrey Hepburn possuía com o estilista Hubert de Givenchy, responsável pela maioria do figurino da produção. Nas palavras da atriz: “Há poucas pessoas que eu amo mais. Ele é a pessoa mais íntegra que eu conheço.”. Givenchy ainda declarou sobre Hepburn, após sua morte: “Em toda coleção uma parte do meu coração, do meu lápis e do meu desenho vai para Audrey. Ela agora partiu, mas eu ainda comungo com ela.”. A relação inédita entre ambos, deixou clara a significante convergência entre o cinema e o mundo da moda e suas tendências. “Esta relação entre a estrela e o costureiro é um exemplo da colaboração entre o cinema e a moda, que funcionou como ferramenta de marketing para ambas as indústrias ao longo do século XX.” “Audrey vestia Givenchy em todas as ocasiões públicas ou nos lançamentos dos filmes e posou como modelo para fotos de inúmeras coleções, beneficiando-se da nova estética proposta por ele, em sintonia com a imagem de mulher moderna que ela representava. Ele, por sua vez, ganhou visibilidade internacional e uma clientela americana fiel graças à fama da atriz.” (REGEN, 2008, p.2). Givenchy ajustando uma peça de roupa sobre o corpo de Audrey.

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Disponível em: https://images.app.goo.gl/B2SPGsBXQWKN8gE2A. (Acesso: 04/10/20). Ambos reunidos após anos de amizade e trabalho conjunto.

Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/343188434098959869/. (Acesso: 04/10/20). De fato, a atriz britânica nascida na Bélgica, vinda de uma linhagem aristocrática, não somente dominou a indústria cinematográfica, com suas impecáveis interpretações, mas também se firmou como um dos maiores ícones de estilo de todos os tempos.

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Tamanha influência de Audrey na moda pode ser esclarecida por meio do fenômeno star system, um processo de lançamento de estrelas de Hollywood, “que colocou atrizes em posição de ícones de moda e beleza, não somente através de suas personagens nos filmes, mas principalmente pelas fotografias em revistas, cartazes, programas de rádio e, mais tarde, vinculando suas imagens à publicidade e à televisão.” (REGEN, 2007, p.6). Hepburn, foi capaz de estabelecer novos parâmetros de beleza, trazendo uma nova imagem de feminilidade, já rascunhada a partir dos anos 50. Segundo a matéria da loja Farfetch, “Audrey foi a primeira a apostar em sobrancelhas grossas e viu sua franja se transformar em objeto de desejo, inspirando estilistas o mundo todo, como Oscar de la Renta e Valentino.”. Retrato detalhado da jovem atriz.

Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/709528116279661246/. (Acesso: 04/10/20).

A atriz foi uma mulher que fugiu dos padrões de beleza dominantes na época, não apenas rompendo paradigmas estéticos; com seu cabelo curtinho, ausência de curvas e traços diferentes das modelos daquele momento; como também comportamentais e de estilo de vida. A matéria ainda afirma que “ao contrário do

83 glamour extremo que predominava na época de ouro do cinema, Hepburn dava preferência aos clássicos atemporais. “Sempre respeitei o gosto de Audrey. Ao contrário das outras estrelas, ela gostava da simplicidade”, declarou Givenchy.”. Retrato da estrela nos anos 60, vestindo uma camisa branca e uma calça pantalona estampada.

Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/485403666081078120/. (Acesso: 04/10/20).

Audrey Hepburn em 1951.

Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/485403666081078120/. (Acesso: 04/10/20).

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3.5 NOIVO NEURÓTICO, NOIVA NERVOSA O longa-metragem estadunidense Noivo neurótico, noiva nervosa, traduzido do inglês Annie Hall, foi lançado no ano de 1977. Produzida por Charles H. Joffe e dirigida pelo cineasta Woody Allen, que também fez parte do elenco da trama, a comédia dramática foi muito bem recebida pelo público e crítica. A película narra a história de Alvy Singer, interpretado por Woody Allen, um humorista judeu e divorciado, que faz análise há quinze anos. Singer acaba se apaixonando por Annie Hall, feita por Diane Keaton, uma cantora em início de carreira com opiniões e ideias um tanto complexas. Rapidamente, os personagens começam a morar juntos, contudo, após certo tempo, os dois percebem desavenças e crises que estremecem a relação. Annie e Alvy em uma das cenas da produção.

Disponível em: https://www.harpersbazaar.com/culture/film-tv/news/a9899/best-romantic- comedies-netflix/. (Acesso: 05/10/20). Em relação à bilheteria, a produção arrecadou 38,3 milhões USD, tendo vencido quatro categorias do Oscar de 1978: Oscar de Melhor Filme, à Charles H. Joffe; Oscar de Melhor Roteiro Original, à Woody Allen e Marshall Brickman; Oscar de Melhor Diretor, também à Allen; e finalmente Oscar de Melhor Atriz, à Diane Keaton. O roteiro do filme ainda foi eleito “o mais divertido de todos os tempos” pelo sindicato dos roteiristas norte-americanos, o WGA. O humor da trama adotou um

85 estilo mais escrachado e visual, inspirado em outras comédias contemporâneas. É notável que o roteiro equilibrava piadas leves com temáticas mais profundas, como discussões sobre a morte, a alma, o conceito de Deus, a criação artística e o inconsciente, brincando principalmente com as descobertas da psicanálise de Freud. Tendo em vista o alcance e sucesso atingido, o figurino da produção influenciou as vestimentas de muitas mulheres em 1977, que desejavam se vestir como a protagonista Annie Hall, de Diane Keaton. O alvoroço ao redor da figura de Annie uniu as mais variadas tribos femininas, gerando discussões especialmente ao redor da identidade de gênero e divisão de roupas com relação ao sexo. É certo que o longa reproduziu a moda da década de 70, que já estava em circulação nas ruas, inspirada no período pós-guerra que sofreu influências dos anos 40, trazendo peças do guarda-roupa masculino ao universo feminino. “Em 1975, ao comercializar a versão final dos terninhos “Yves Saint-Laurent faz o masculino-feminino, nem tanto ao inventar o gênero, mas principalmente ao banalizá-lo nos guarda-roupas, nos quais o terninho se torna um curinga.” (LELIÈVRE, 2011, p.156).” (MAZZARINO, 2014, p. 3). A masculinização da roupa feminina foi necessária na época para que mulheres pudessem ganhar maior notoriedade para assumir cargos de chefia, que antes eram considerados exclusivos à homens. Nas imagens, é possível notar algumas tendências dos anos 70. A moda feminina passou a aderir as peças de alfaiataria e camisas sociais coloridas.

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Disponível em: https://bit.ly/3d7LoKg. (Acesso: 05/10/20).

Disponível em: https://bit.ly/3d7LoKg. (Acesso: 05/10/20).

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Em destaque, as calças flare de alfaiataria que eram tendência na época. Além disso, é possível perceber que o estilo era baseado em camisas sociais e blusas polos, anteriormente consideradas peças masculinas.

Disponível em: https://bit.ly/33uX1Yf. (Acesso: 05/10/20).

O figurino de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, foi assinado pelo estilista Ralph Lauren que passou a produzir peças para o público feminino a partir de 1971. Entretanto, muitas peças vieram diretamente do guarda-roupa pessoal da atriz Diane Keaton que costumava se vestir exatamente como sua personagem. Nas redes sociais, a atriz declarou: "Este foi o início de tudo, foi quando eu comecei a usar só roupas que eu realmente gostava. Eu fiquei feliz quando Woody [Allen, diretor do longa] disse: 'Sim, você pode se vestir como se veste na realidade”. De acordo com o editor da Vogue, André Leon Talley: “Ela representava o que havia de novo no estilo americano. Diane era, naquela época, o que Sarah Jessica Parker é para as mulheres hoje.”. O visual chave de Annie Hall.

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Disponível em: https://bit.ly/3jB20MW. (Acesso: 05/10/20).

A atriz aparece diversas vezes de camisa, calça social, colete e gravata.

Disponível em: https://images.app.goo.gl/XYBPLfvHgvf3K1aS6. (Acesso: 05/10/20).

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A imagem mostra como a personagem utiliza de itens masculinos, nesse caso o colete social e a gravata borboleta, para compor seus looks.

Disponível em: https://images.app.goo.gl/NnNnnnU68v7fA71ZA. (Acesso: 05/10/20).

Os visuais andrógenos de Annie Hall, colaboravam para a construção de identidade da personagem, que buscava espaço no meio profissional e amoroso, na relação com Ally. Nas palavras da jornalista e estilista Paula Martins, “no caso de Annie, a vestimenta serve como uma arma de distanciamento entre o visual e o comportamento tipicamente feminino. A personagem é carismática e beira o estranho – no bom sentido – e as produções carregadas na atmosfera masculina acabam por corroborar sua personalidade única. Mais uma vez um caso de reafirmação da essência através da figura.”. Simbolicamente, as composições utilizavam de sobreposições oversized, calças de alfaiataria masculina, camisas, chapéus de feltro, blazers, coletes, ombreiras e até mesmo gravatas. A utilização de elementos atrelados ao armário masculino pode ser interpretado como uma adaptação ao universo feminino, “o trabalho progressivo, incontestável, de diminuição dos extremos não tem pôr termo a unificação das aparências, mas a diferenciação sutil, algo como a menor oposição distintiva dos sexos” (LIPOVETSKY, 1989, p. 131).

Outro visual de Annie, ironicamente igual ao de seu namorado.

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Disponível em: https://images.app.goo.gl/coukJ95ynfdbWjKg7. (Acesso: 05/10/20).

É certo que Diane Keaton firmou-se nos anos 70 como ícone para a indústria de moda, sendo responsável pela constante criação de novas tendências. As vestimentas unissex continuam sendo marca da atriz, juntamente de peças criativas como luvas, óculos coloridos e meias com sandália. De acordo com a matéria da Vogue Portugal, “Diane Keaton manteve o estilo one of the boys que tem vindo a definir a sua carreira como atriz há mais de quarenta anos, esbatendo as barreiras do convencional para criar um guarda-roupa verdadeiramente pessoal, único e inconfundível - um guarda-roupa onde os power suits caminham lado a lado com os colares de pérolas, os cortes mais femininos convivem em harmonia com as gravatas largas e as camisas brancas, e os vestidos compridos ganham uma nova vida quando conjugados com meias brancas e sapatos oxford.” Um pouco do estilo da atriz fora das telas.

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Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/20195898317278296/. (Acesso: 05/10/20). Diane vestindo peças “punk” pelas ruas da Califórnia, com destaque para a jaqueta de PVC.

Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/351914158382544223/. (Acesso: 05/10/20). A própria atriz explica sua originalidade quando em relação ao estilo: "Mesmo quando eu era bem nova, era obcecada por moda. Eu e minha mãe ficávamos escolhendo estampas nas lojas de tecido, e eu dizia para ela o que queria fazer com cada um — e ela fazia tudo o que eu pedia!", contou. "Moda sempre foi tudo para mim. Com o tempo, eu comecei a recortar imagens de revistas como inspiração, e faço isso até hoje”. O estilo divertido e descolado de Diane, misturando estampas, tecidos e texturas.

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Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/217791331960202107/. (Acesso: 05/10/20). Visual de Diane na década de 70, no qual ela combina uma camisa floral abotoada com o blazer social sopreposto.

Disponível em: https://www.whowhatwear.com/collar-button-down-shirt/slide3. (Acesso: 05/10/20).

3.6. GREASE – NOS TEMPOS DA BRILHANTINA No ano de 1978, o mundo foi introduzido ao clássico musical que viria a encantar diversas gerações e marcar épocas culturais. Grease – Nos tempos Da

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Brilhantina chegou aos cinemas com uma história simpática e fascinante que nunca parou de despertar o interesse da população. O filme segue a história da discreta Sandy e do rebelde Danny, que se apaixonam em uma viagem nas férias de verão, mas que pensavam que nunca mais se veriam. Na volta às aulas, no entanto, surpreendentemente descobrem que passarão a estudar na mesma escola, e os dois precisam decidir se irão seguir caminhos separados ou se deixarão levar pela sua paixão. Esse clássico cult, dirigido por Randal Kleiser e estrelado pelos célebres John Travolta e Olivia Newton- John é ambientado em 1959 e traz ao mundo uma visão romântica e animada do ensino médio da época. Grease é o musical de maior bilheteria de todos os tempos, o que apenas adiciona ao seu imenso sucesso ao longo dos anos. Baseado no musical homônimo de 1972, o filme agrega tantos elementos adorados pelo público que se manteve icônico tantos anos depois. As músicas mundialmente reconhecidas, clássicas frases, personagens amados pelos espectadores e a moda fabulosa são o que fizeram do filme um fenômeno mundial. Página da edição de novembro de 1978 da revista Pop sobre Grease.

Dessa maneira, a sua tamanha popularidade vem cativando muitos desde a sua estreia. Todavia, por apresentar uma versão tão fantasiosa do que o ensino

94 médio e a adolescência poderiam ser, Grease conquistou a atenção dos jovens, no seu lançamento e até os dias de hoje, que queriam viver e agir como os seus ídolos da obra. Como já mencionado, a moda do filme, sendo um dos fatores mais fascinantes dele, também influenciou a cultura jovem. Tal fenômeno é, com efeito, surpreendente, considerando o fato de Grease absolutamente não exibir uma moda atual, e sim de uma época passada. O êxito do filme, portanto, fez popular tendências uma vez esquecidas: o uso do couro, calças justas, saias rodadas, jaquetas, tiaras e lenços, entre outros. Tratava-se de uma nova estética, baseada em uma reinterpretação de uma tendência antiga com as tendências do momento. Logo, a moda, sendo tão influente no público, foi se tornando um componente cada vez mais importante do filme. Todos os modismos de vestuário mostrados no filme continuam inspirando muitos até hoje, o que os faz relevantes, mesmo depois de mais de 40 anos da estreia do filme. O responsável pelo sensacional figurino de Grease é o francês Albert Wolsky, que assina o figurino de outros clássicos como All That Jazz. Albert Wolsky começou o seu trabalho em Grease em uma direção realista e tradicional. O diretor, contudo, demandou mais cor e expressão, e foi aí que o designer se deixou levar e foi à loucura desenhando os figurinos.

Cena do filme que retrata um típico prom americano

Disponível em: https://www.stylist.co.uk/fashion/grease-40th-anniversary-best-fashion- sandy-danny-zuko-bardot-top-leather-trousers/212566

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Acesso: 08/10/2020

Dessarte, é por meio da moda que os personagens de Grease – Nos Tempos Da Brilhantina se expressam e expressam os contextos em que estão inseridos. A moda demonstra claramente os diferentes grupos sociais aos quais eles pertencem, assim como representa quem eles querem ser e aquilo que ambicionam. Tal fenômeno pode ser visto, por exemplo, quando Sandy e Danny, no final do filme, passam por exageradas transformações, que representam eles aceitando as maneiras do outro. A moda, assim sendo, desdobrou-se nos personagens descobrindo quem realmente são e essa definindo os jovens de sua época. Consequentemente, a mudança de Sandy, talvez um dos momentos mais icônicos de toda história do cinema, representa – incontestavelmente – uma mudança no caráter da personagem e em suas percepções, mas os visuais valem ser mencionados por si próprios. Sandy passa de uma menina que se vestia de maneira doce e inocente a uma rebelde e clássica bad girl. Inicialmente, Sandy incorporava a tradicional garota conservadora americana. Faziam parte do seu vestuário peças requintadas de um guarda-roupa dos anos 50, que estabelecem a sua estética feminina e delicada, mas discreta. Sandy pode sempre ser vista esteticamente perfeita, com tendências dos anos 50, como conjuntos de cardigans, saias e acessórios de cabelo combinando. Ela fazia muito o uso de cores claras e pastéis, em vestidos mídis, saias rodadas, casacos, com estampas graciosas e joias combinando. Exemplos do estilo delicado e feminino de Sandy

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Disponível em: https://www.stylist.co.uk/fashion/grease-40th-anniversary-best- fashion-sandy-danny-zuko-bardot-top-leather-trousers/212566 Acesso: 08/10/2020.

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Disponível em: https://www.stylist.co.uk/fashion/grease-40th-anniversary-best- fashion-sandy-danny-zuko-bardot-top-leather-trousers/212566 Acesso: 08/10/2020

Disponível em: https://i.pinimg.com/originals/25/42/26/254226590cdef7025ad60263021b9c2c.jpg

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Acesso: 08/10/2020

Disponível em: https://i.pinimg.com/originals/4a/8b/06/4a8b067d1510739e28540031737f74b4.jpg Acesso: 08/10/2020

Disponível em: https://www.vogue.com/article/grease-live-fashion-inspiration-john- travolta

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Acesso: 08/10/2020 Um dos visuais mais famosos de Sandy é o de líder de torcida. Acrescentando a sua natureza feminina tradicional, Sandy entra para as líderes de torcida do colégio Rydell, e o seu uniforme é fiel ao que líderes de torcida realmente usavam na época. A roupa usada por ela ajudou a determinar e solidificar o que seria a clássica representação da líder de torcida estadunidense. Essa influência pôde ser vista na coleção outono/inverno da Fila de 2006, onde uma modelo na passarela apresentava uma saia plissada e um suéter listrado, que recorre muito ao visual usado por Olivia Newton-John. Uniforme de Sandy em Grease e peça de coleção Fila outono/inverno 2006.

Disponível em: https://64.media.tumblr.com/2bf874c11112890a28da7b668bd751be/2ef7cbbf1d7f9fa9- dc/s500x750/177f4cb064a5a43a10f030f1d6b4bb2fbd35d59f.jpg e https://hips.hearstapps.com/hmg-prod.s3.amazonaws.com/images/gettyimages- 528015899-1572631032.jpg?crop=1xw:1xh;center,top&resize=980:*. Acesso: 08/10/2020.

Da mesma maneira, as recorrentes saias, peças fixas do guarda-roupa de Sandy, também influenciaram a moda da época.

Página da edição de 1978 da revista Pop falando sobre a moda do verão: saias que podem ser vistas no filme Grease.

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Como foi dito anteriormente, ao final do filme, Sandy passa por uma transformação e aceita o modo de vida de Danny e seus amigos, e demonstra isso majoritariamente pelas suas roupas. Ela abandona o seu figurino de boa menina para uma rebelde durona, experiente e nada ingênua, que usa roupas justas e que até fuma. Seu visual icônico consiste em uma calça cigarette preta, muito popular nos anos 50, uma blusa de ombro caído combinando, jaqueta de couro e sapatos mules vermelhos. Ela usa argolas de ouro e seu cabelo está desgrenhado e bagunçado, acentuando a sua drástica mudança.

Sandy após sua transformação.

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Disponível em: https://www.instyle.com/new/olivia-newton-john-sandy-grease-costume- sale Acesso: 08/10/2020

Ao contrário de Sandy, as Pink Ladies, que já eram mais entendidas e definitivamente menos inocentes que ela, desde o começo demonstravam a sua ferocidade e ousadia por meio do que vestiam. Cada uma das meninas tem o seu visual diferente, mas todas sempre apresentam a jaqueta bomber rosa clássica, com escritos na parte de trás. Constantemente usando saias justas, calças curtas e óculos diversos, as Pink Ladies faziam sucesso e dominavam a escola.

As Pink Ladies.

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Disponível em: https://static.onecms.io/wp- content/uploads/sites/6/2018/06/shutterstock_editorial_5886160cc_huge-2000.jpg Acesso: 08/10/2020

Disponível em: https://i.pinimg.com/originals/18/e4/b3/18e4b3980066527af8f774d30b8ea04c.jpg Acesso: 08/10/2020

Exemplo de como as jaquetas bomber, como as usadas pelas Pink Ladies, continuam na moda até os dias de hoje, com a foto mostrando Kendall Jenner e Gigi Hadid.

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Disponível em: https://www.capitalfm.co.ke/lifestyle/2016/07/29/us-military-supplier- becomes-celebrity-go-brand-alpha-bomber-jacket/ Acesso: 08/10/2020

Enquanto isso, os meninos do colégio Rydell, especialmente Danny Zuko e os T-birds, estavam constantemente usando roupas que asseguravam a sua masculinidade e os deixavam legais, como jaquetas de couro, jeans e camisetas simples brancas e muito justas. Homens da época também se inspiraram em Grease e aderiram as jaquetas e o topete de Danny nos seus próprios vestuários, trazendo tendências dos anos 50 para o final dos anos 70. Assim como, em 2017, Call Me By Your Name trouxe à moda shorts curtos e justos, John Travolta o fez com Grease.

Os T-Birds.

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Disponível em: https://hips.hearstapps.com/hmg-prod.s3.amazonaws.com/images/grease- halloween-costumes-t-birds-1566922165.jpg Acesso: 08/10/2020

John Travolta como Danny usando shorts justos e curtos que fizeram moda em Grease (1978) e Armie Hammer usando shorts parecidos que também fizeram moda em Call Me By Your Name (2017).

Disponível em: https://www.stylist.co.uk/fashion/grease-40th-anniversary-best-fashion- sandy-danny-zuko-bardot-top-leather-trousers/212566. Disponível em: https://i.pinimg.com/474x/4e/7b/03/4e7b039c8f9ee9917471352638cdafd8.jpg Acesso: 08/10/2020

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Assim sendo, é possível ver o tamanho impacto de Grease – Nos Tempos Da Brilhantina na cultura pop desde seu lançamento e até atualmente. O filme permanece sendo uma obra repleta de momentos nos quais o mundo da moda constantemente volta e referência e que apresenta estéticas e visuais tão atuais. Todos os fatores discutidos, desde à história até a apresentação das cenas, fizeram de Grease essa obra colossal que é amada por todos e que já influenciou muitos de diversas maneiras diferentes.

4 COLEÇÕES INSPIRADAS NAS PRODUÇÕES CINEMATOGRÁFICAS Para dar continuidade à trajetória deste artigo, serão expostas coleções de moda das mais renomadas grifes, nas quais fica evidente a influência das produções cinematográficas abordadas anteriormente. Com isso, foram coletadas imagens de desfiles, matérias de revistas e exposições da alta-costura, para dar o devido fechamento a este projeto, ao tratar de modo prático e visual as questões debatidas previamente.

4.1 O GRANDE GATSBY Desde que foi feito o anúncio de lançamento do filme, em 2012, as passarelas das mais luxuosas grifes já se preparavam para o figurino que estava por vir e se viram dominadas por traços da Art Déco e das tendências dos anos 20, fenômeno conhecido por alguns críticos como “Efeito Gatsby”. O figurino feminino de O Grande Gatsby ganhou repercussões nas coleções da alta costura, deixando clara a influência que o filme passou a representar para a indústria cinematográfica e da moda. A coleção primavera-verão 2012, da grife Ralph Lauren foi tomada pela atmosfera das flappers; com aplicações de pedrarias, franjas e seda. É notável a semelhança entre a sofisticação dos vestidos da coleção de Lauren e da personagem Daisy Buchanan. Alguns visuais da coleção de Ralph Lauren, inspirados nas melindrosas de Gatsby.

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Disponível em: https://bit.ly/3d17e1L (Acesso: 05/10/20).

As composições inspiradas na Era do Jazz em detalhes.

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Disponível em: https://bit.ly/3d17e1L (Acesso:04/10/20)

Disponível em: https://bit.ly/3d17e1L (Acesso:04/10/20).

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Disponível em: https://bit.ly/3d17e1L (Acesso:04/10/20).

Disponível em: https://bit.ly/2Swnkap (Acesso:04/10/20).

Modelos da marca se preparando para a passarela.

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Disponível em: (Acesso:04/10/20).

Além disso, no desfile de outono da Ralph Lauren em Nova Iorque, também em 2012, alguns vestidos trouxeram mais influências da Era do Jazz, resgatadas pela película. Vestidos da coleção de outono da grife: linhas douradas, brilho e seda.

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Disponíveis em: https://www.elle.com/runway/fall-2012-rtw/g24953/ralph-lauren- 625871/?slide=43. (Acesso: 05/10/20).

Ademais, a flagship da Prada de Nova York, organizou uma exposição para os figurinos utilizados em O Grande Gatsby. Os 40 looks criados por Miuccia Prada e pela figurinista Catherine Martin ficaram expostos em maio de 2013, onde foi possível observar em detalhes os materiais luxuosos, como veludo e peles, que foram usados nos figurinos femininos, além de cristais e franjas com paetês. Abaixo, algumas fotos do evento.

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Disponível em: https://www.lilianpacce.com.br/moda/o-grande-gatsby-por-prada-a- exposicao/. (Acesso: 05/10/20).

Disponível em: https://images.app.goo.gl/UUsi8gh8r2hPf6V79/. (Acesso: 05/10/20).

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Disponível em: https://images.app.goo.gl/A59VcFqH7Qa2zmxV6. (Acesso: 05/10/20).

Disponível em: https://images.app.goo.gl/zAGzGhH722iHY16BA. (Acesso: 05/10/20).

Outra grife que também se inspirou no filme de Baz Luhrmann para suas coleções foi a Gucci. A coleção primavera-verão, apresentada na Milan Fashion Week de 2012, trouxe as linhas geométricas da Art Déco e se baseou em designs pretos e dourados para construir o ambiente das melindrosas da década de 20.

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A coleção utilizou de tecidos pretos e dourados adornados com franjas.

Disponível em: https://www.livingly.com/runway/Gucci/Milan+Fashion+Week+Spring+2012/liD0iCiXjjT. (Acesso: 05/10/20).

Disponível em: https://www.livingly.com/runway/Gucci/Milan+Fashion+Week+Spring+2012/liD0iCiXjjT. (Acesso: 05/10/20).

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Ainda, várias revistas de moda de 2013, o ano de estreia, comentaram sobre a influência obtida pelo figurino da trama. Abaixo, há uma matéria da revista Harper’s Bazaar Brasil, publicada em junho daquele ano, a respeito de vestidos de noiva.

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Além das vestimentas, os acessórios e joias da produção também serviram de inspiração para a coleção Ziegfield da Tiffany&Co, joalheria que projetou as peças exclusivamente para o filme. A coleção tem forte influência da década de 1920, com peças feitas de pérolas, prata e ônix.

Disponível em: https://images.app.goo.gl/B3G5A8UpEtkDi7v16. (Acesso: 05/10/20). Detalhe do clássico colar de pérolas da coleção Ziegfield.

Disponível em: https://www.garotasmodernas.com/2013/06/ziegfeld-colecao-de-joias-da- tiffany-co.html. (Acesso: 05/10/20). As peças feitas de pérolas, prata e ônix, possuem preços que variam entre R$ 990,00 e R$ 4.800,00.

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Disponível em: https://www.garotasmodernas.com/2013/06/ziegfeld-colecao-de-joias-da- tiffany-co.html. (Acesso: 05/10/20)

4.2 BLADE RUNNER Como discutido anteriormente, o filme Blade Runner: O Caçador de Androides representou o futuro de forma estupenda, forma esta que vem encantando estilistas no mundo todo desde o seu lançamento. Um exemplo disso pode ser visto no desfile de primavera/verão 2018 de Raf Simons. O show foi ambientado em Chinatown, Nova Iorque, com visuais de luzes baixas e coloridas, na chuva com guarda-chuvas e roupas futurísticas, referências à estética geral de Blade Runner.

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Disponível em: https://edition.cnn.com/style/article/blade-runner-2049-costume-design- fashion-renee-april/index.html Acesso: 11/10/20

Disponível em: https://www.apartpublications.com/wp-content/uploads/2018/02/rs- 640x412.png Acesso: 11/10/2020

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Disponível em: https://media.gettyimages.com/photos/model-walks-at-the-raf-simons- springsummer-2018-show-on-july-11-2017-picture-id813259000 Acesso: 11/10/20

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Disponível em: https://www.vogue.com/fashion-shows/spring-2018-menswear/raf-simons Acesso: 11/10/20

Sobre o desfile e sobre o filme Blade Runner, Raf Simons disse ao jornal Financial Times que “tem sido uma fonte constante de inspiração, visualmente, narrativamente, emocionalmente. Para mim é o filme perfeito e, com o passar dos anos, sempre encontro algo que quero revisitar, explorar ou usar como fonte de inspiração”.

Modelo do desfile de outono de 2009 de Jean Paul Gaultier usando uma maquiagem e cabelo inspirados nos da personagem Pris do filme Blade Runner.

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Disponível em: https://www.vogue.com/fashion-shows/fall-2009-couture/jean-paul-gaultier Acesso: 11/10/20

Em março de 1998, a Vogue Itália apresentou uma edição completamente inspirada no filme Blade Runner, fotografada por Steven Meisel. A modelo espanhola Eugenia Silva aparecia na sessão de fotos vestida de Rachael, usando Prada. As fotos também apresentavam o slogan “Eu vi coisas que vocês não acreditariam”, famosa frase misteriosa do filme.

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Disponível em: https://forums.thefashionspot.com/threads/vogue-italia-march-1998- eugenia-silva-by-steven-meisel.370851/ Acesso: 11/10/2020.

Ademais, a estilista Vivienne Westwood citou Blade Runner como a sua principal inspiração para a sua coleção de 1983, “Punkature”. A coleção apresentava cenas do filme estampadas em algumas peças.

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Disponível em: https://blog.viviennewestwood.com/wp- content/uploads/2018/09/4406374918-eaa29d9b3b-o.gif Acesso: 11/10/2020

Disponível em: https://i.pinimg.com/originals/70/fc/bd/70fcbd62c770e304daf73d1f402cade9.jpg Acesso: 11/10/2020

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Disponível em: https://live.staticflickr.com/4059/4406375380_2501225abf_b.jpg Acesso: 11/10/2020

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Disponível em: https://i.pinimg.com/originals/c9/d3/8f/c9d38f1a0c3981b8f4efc3d24bfdd8e0.jpg Acesso: 11/10/2020

4.3 AS PATRICINHAS DE BEVERLY HILLS

O clássico filme que para sempre será referenciado como representante da moda adolescente também foi honrado nas passarelas. No desfile outono/inverno 2018 da Versace, pudemos ver uma modelo vestindo algo que lembra muito o icônico visual amarelo de Cher no primeiro dia de aula. Todo o desfile trouxe elementos escolares e xadrez, que se assemelham à estética geral de Clueless.

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Disponível em: https://www.vogue.com/fashion-shows/fall-2018-ready-to-wear/versace Acesso: 11/10/20

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Além disso, As Patricinhas De Beverly Hills também recebeu uma coleção de tênis com a marca K-Swiss que eternizam ainda mais os visuais e os marcos do filme.

Disponível em: kswiss.com/pages/clueless Acesso: 11/10/2020

4.4 BONEQUINHA DE LUXO Desde os anos 60, Bonequinha de Luxo tornou-se uma enorme referência para a indústria cinematográfica e para a alta costura, com seu figurino, simples, clássico e sofisticado. Dessa forma, Audrey Hepburn, que interpretou a protagonista Holly Golightly, fixou-se como um dos maiores ícones fashionistas da história, servindo assim de inspiração para marcas e grifes aclamadas. Tendo isso em vista, a Reem Acra, uma grife de noivas libanesa, renomada e conhecida mundialmente, inspirou-se diretamente no filme e no figurino de Holly para lançar sua coleção de primavera 2018. A linha de vestidos de noiva produziu designs similares aos do longa, em colaboração com a joalheria Tiffany & Co. A coleção apostou na combinação de pulseiras de cristais Swarovski e vestidos pretos, para noivas mais modernas e não convencionais.

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Os vestidos de noiva inspirados nos modelitos de Audrey Hepburn em Bonequinha de Luxo.

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Disponíveis em: https://www.vogue.com/fashion-shows/bridal-spring-2018/reem- acra/slideshow/collection#34. (Acesso:04/10/20).

Detalhes das pérolas de um dos modelos.

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Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/346003183873213988/ (Acesso:04/10/20).

Fotos do ensaio fotográfico organizado pela Harper’s Bazaar NY que fotografou os vestidos de Reem Acra na flagship da Tiffany’s.

Disponível em: https://revista.icasei.com.br/colecao-primavera-verao-2018-de-vestidos- de-noiva-reem-acra-e-tiffany-co/. (Acesso: 05/10/20).

Disponível em: https://revista.icasei.com.br/colecao-primavera-verao-2018-de-vestidos- de-noiva-reem-acra-e-tiffany-co/. (Acesso: 05/10/20).

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Disponível em: https://revista.icasei.com.br/colecao-primavera-verao-2018-de-vestidos- de-noiva-reem-acra-e-tiffany-co/. (Acesso: 05/10/20).

Além de servir de base para novas coleções, o clássico vestido preto usado por Hepburn na cena de abertura também foi recriado em 2018 pela Givenchy. O vestido foi apresentado na Paris Fashion Week, em um desfile que homenageou o fundador da grife, Hubert de Givenchy, que havia falecido em março daquele ano. Considerando a grande amizade que o estilista manteve com Audrey ao longo de sua carreira, a diretora criativa da marca, Clare Waight Keller, recriou o little black dress, usado na cena em que a atriz observa a vitrine da Tiffany’s, juntamente do colar de pérolas e dos icônicos óculos escuros. A nova versão do vestido de Holly foi feita em veludo, com uma faixa cinza brilhante. A releitura também ganhou um capuz inédito, que deu uma nova cara ao modelo, porém manteve a graça e elegância do original. O little black dress de Holly Golightly recriado pela Givenchy em 2018.

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Disponível em: https://www.metropoles.com/colunas-blogs/ilca-maria-estevao/givenchy- recria-e-coloca-capuz-em-vestido-usado-por-audrey-hepburn. (Acesso: 04/10/20).

O capuz adicionado em detalhes.

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Disponível em: https://www.metropoles.com/colunas-blogs/ilca-maria-estevao/givenchy- recria-e-coloca-capuz-em-vestido-usado-por-audrey-hepburn. (Acesso: 04/10/20).

Inspirado no vestido rosa da personagem, o estilista Oscar de La Renta dedicou um dos vestidos de sua coleção primavera-verão 2013 para recriar o visual. Dessa vez, o modelito rosa pink foi complementado com plumas na parte inferior e acinturado com uma faixa de strass. A produção ainda contou com o toque do hairstylist Orlando Pita que adicionou tons de rosa nas mechas loiras da modelo.

Vestido rosa-choque recriado por Oscar de La Renta.

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Disponível em: https://parischiccouture.tumblr.com/post/31421252453/oscar-de-la-renta- spring-2013-hot-pink-fluffy. (Acesso: 04/10/20).

4.5 NOIVO NEURÓTICO, NOIVA NERVOSA É certo que o filme Annie Hall revolucionou a moda feminina e as passarelas ao redor do globo. Com seu figurino boyish, utilizando peças vindas diretamente do armário masculino, a produção foi capaz de gerar um novo conceito do que era a vestimenta para as mulheres. Mais de 40 anos após seu lançamento, ainda é possível notar claras referências aos visuais de Diane Keaton, presentes nas coleções das mais renomadas marcas.

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Isso foi evidenciado na coleção primavera-verão 2020 da Victoria Beckham. Com blazers e calças de alfaiataria em cores neutras em sua maioria, camisas sociais e mocassins, é inevitável olhar para as composições do desfile da marca e não as relacionar diretamente aos visuais de Annie. Algumas peças da coleção que seguiram a linha de estilo da personagem Annie Hall.

. Disponível em: https://www.stylecartel.com/posts/victoria-beckham-spring-summer-2020- collection-annie-hall-in-2020. (Acesso: 05/10/20).

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Disponível em: https://www.stylecartel.com/posts/victoria-beckham-spring-summer-2020- collection-annie-hall-in-2020. (Acesso: 05/10/20).

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Disponível em: https://www.stylecartel.com/posts/victoria-beckham-spring-summer-2020- collection-annie-hall-in-2020. (Acesso: 05/10/20).

Disponível em: https://www.stylecartel.com/posts/victoria-beckham-spring-summer-2020- collection-annie-hall-in-2020. (Acesso: 05/10/20).

141

Disponível em: https://www.stylecartel.com/posts/victoria-beckham-spring-summer-2020- collection-annie-hall-in-2020. (Acesso: 05/10/20).

Além disso, outra marca que revisitou as peças andróginas de Annie Hall foi a Ralph Lauren, em sua coleção de outono 2017, apresentada na New York Fashion Week. Apostando nas estampas quadriculadas em peças de alfaiataria, a grife uniu a casualidade à sofisticação e elegância. Algumas criações da Ralph Lauren que remetem diretamente ao visual de Annie Hall.

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Disponível em: https://www.elle.com/runway/g12221756/ralph-lauren-runway-show- 17/?slide=3. (Acesso: 05/10/20).

Disponível em: https://www.elle.com/runway/g12221756/ralph-lauren-runway-show- 17/?slide=3. (Acesso: 05/10/20).

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Disponível em: https://www.elle.com/runway/g12221756/ralph-lauren-runway-show- 17/?slide=5. (Acesso: 05/10/20).

Disponível em: https://www.elle.com/runway/g12221756/ralph-lauren-runway-show- 17/?slide=37. (Acesso: 05/10/20).

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4.6 GREASE – NOS TEMPOS DA BRILHANTINA

Assim como outros filmes mencionados nesse projeto, o filme Grease, além de influenciar o mundo da moda ao criar tendências e trazer de volta tendências antigas, também influenciou designers e estilistas a criarem peças e desfiles em sua homenagem. A PARAMOUNT X GREASE surgiu com a marca Simon Miller colaborando com o estúdio para criar uma coleção de peças inspiradas no filme Grease. A coleção é baseada no conceito de fazer uma releitura da moda de Grease, trazendo- a e obedecendo as tendências do século 21. Trazendo um estilo nostálgico, mas ao mesmo tempo jovial e inovador, a coleção reimagina os personagens icônicos do filme como cidadãos dos tempos atuais. A coleção PARAMOUNT X GREASE

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Disponível em: https://www.simonmillerusa.com/pages/paramount-x-grease

Acesso: 11/10/20

No desfile da sua coleção primavera/verão 2014, o estilista francês Jean Paul Gaultier também homenageou Grease – Nos tempos da Brilhantina. No show, Gaultier apresentou a modelo Coco Rocha toda vestida com couro imitando Danny, ao som de “You’re The One That I Want”, música clássica do filme.

Desfile primavera/verão 2014 de Jean Paul Gaultier

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Disponível em: https://www.crfashionbook.com/fashion/g32812534/grease-musical- celebrity-runway/?fbclid=IwAR0BwCi0QsZ0GQV78DwZdkAYpHIAsPRenRWIQGOQWC- lEZCcRZbYBVENrSc&slide=6 Acesso: 11/10/20 Assim como Gaultier, a marca Tommy Hilfiger também se inspirou em Grease ao incluir no seu desfile primavera/verão 2017 uma modelo com um grande suéter de malha, que é uma versão da jaqueta de atletas usada por Danny no filme.

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Disponível em: https://www.crfashionbook.com/fashion/g32812534/grease-musical- celebrity-runway/?fbclid=IwAR0BwCi0QsZ0GQV78DwZdkAYpHIAsPRenRWIQGOQWC- lEZCcRZbYBVENrSc&slide=8 Acesso: 11/10/20

5 CONCLUSÃO O desenvolvimento deste artigo visou compreender os impactos da indústria cinematográfica na cultura jovem, sobretudo na maneira como estes jovens se vestem e nas tendências de moda. Com o estudo destas decorrências, foram analisados os fatores que as abrangem, isto é, foram feitas investigações sobre a influenciabilidade da juventude e o poder de influência do cinema. Desse modo, foi possível observar a maneira como as grandes produções do cinema influenciam muito mais do que imaginado, por reterem grande poder de atuação. Assim sendo, tamanha influência, juntamente da influenciabilidade e da vulnerabilidade dos mais jovens, mencionada anteriormente, torna iminente o impacto do cinema na moda. Isso se mostra, concretamente, na maneira como os filmes carregam uma enorme capacidade de trazer à moda, ou de volta a ela, diversas tendências. Esse efeito foi estudado amplamente, trazendo também

148 opiniões externas de críticos e revistas renomadas no mundo do cinema e da moda, além de dados e estudos científicos que fundamentassem os argumentos em questão. Além disso, com o intuito de aprimorar ainda mais a pesquisa, foram feitas extensas análises de filmes que marcaram épocas por introduzirem novas modas e tendências. Tais filmes, Noivo neurótico, noiva nervosa; Bonequinha de luxo; As Patricinhas de Beverly Hills; Grease - Nos Tempos da Brilhantina; Blade Runner – O Caçador de Androides e O Grande Gatsby, deram conta de ilustrar perfeitamente as ideias levantadas pelo artigo, ao representarem as grandes produções que de alguma maneira influenciaram a moda jovem. Dessarte, os temas abordados neste estudo revelam-se importantes ao meio acadêmico, uma vez que fazem um recorte do modo como a grande mídia faz uso da ampla influenciabilidade dos jovens. Isso porque, conforme comprovado, o cinema é um dos principais agentes influenciadores dessas massas. Nesse contexto, a pesquisa se mostra relevante porque destaca determinadas qualidades da indústria cinematográfica, em detalhes. Em outras palavras, este projeto compreende as reais dimensões do cinema e consequentemente, de sua influência e importância, não só como provedor de entretenimento e informação, mas também como estabelecedor de tendências e padrões vigentes na atualidade. Diante do estabelecido acima, é interessante resgatar as primeiras hipóteses propostas no trabalho. Após este estudo, comprovou-se que os jovens se apresentam o setor da sociedade mais influenciável, porque aqueles nesta faixa etária são mais suscetíveis a passar por mudanças para que possam se encaixar nos arquétipos exibidos pelas grandes mídias. Com isso, se revela de imediato a relação entre os jovens, o cinema e a moda, já que as indústrias – da moda e do cinema – fazem uso dessa dependência da juventude no sentimento de pertencimento, a fim de obter lucros consideráveis com as tendências facilmente adotadas pelos jovens. Observou-se que além do poder do cinema sobre a juventude e os seus costumes, a indústria cinematográfica é responsável pela criação de estrelas: celebridades que ganham imenso reconhecimento e sucesso e que muitas vezes,

149 como já visto, transformam-se em agentes influenciadores. Nesta pesquisa, foi analisado o caráter de tais figuras e a maneira como influenciam o público. Verificou- se que esse impacto é diretamente dependente do tamanho da glória e da fama destes famosos. Ou seja, evidenciou-se a presença de uma proporcionalidade: quanto maior o seu alcance, maior a sua influência sobre as massas. À vista disso, a indústria cinematográfica, com sua amplitude e poder, se aproveita da influenciabilidade da juventude e a compele, indiretamente, a adotar um certo estilo de vida, seja este uma maneira de se comportar, de falar, e, especialmente, de se vestir. A juventude se inspira nas grandes produções para escolher quais roupas usar, algo vastamente explorado durante o projeto.

Após examinar a conexão entre o cinema, a juventude, e a moda; conclui-se que esses agentes são interligados por um ciclo contínuo de influência. Assim, a indústria cinematográfica e a moda são interdependentes, trabalhando em conjunto para gerar novas tendências que possam ser aderidas pelas camadas mais jovens da população, o que traz vastos benefícios à indústria capitalista de consumo na qual a sociedade está inserida.

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