EXTRA! EXTRA! DISNEY E PATETA SÃO a MESMA PESSOA! Lígia
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EXTRA! EXTRA! DISNEY E PATETA SÃO A MESMA PESSOA! Lígia Maria de Carvalho Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás, aluna do curso de doutorado, Goiânia, Brasil RESUMO A presente proposta de trabalho é parte integrante da tese - ainda em curso - que visa analisar o processo de construção da personagem disneyana conhecida como Pateta ( Goofy ), estabelecendo um paralelo com a própria história de vida de Walt. Para tanto, será mantido um diálogo com as fontes bibliográficas e iconográficas, visando discutir algumas das asseverações consolidadas a respeito da personagem em questão, como é o caso da afirmação feita por Neil Gabler, um dos mais conceituados biógrafos do animador, que assegura, em seu livro: Walt Disney: o triunfo da Imaginação Americana (2009, p. 480), ser o Pateta odiado por Walt. Vale notar que tal assertiva mostra inexatidões interessantes, sendo uma delas, o compartilhar de características físicas, como por exemplo: a “risada alta e gutural”; o sotaque caipira, que uma repórter classificou de “dialeto inarticulado do meio-oeste”; e a silhueta longilínea e magricela, cujo figurino desalinhado, composto de calças e suéteres surrados e fora de moda, emprestam um ar de inadequação aos moldes sociais. Mas, talvez, a maior semelhança esteja na questão de ordem moral, pois, o Pateta, em sua pureza, boa índole e incorruptível ingenuidade, se transforma na materialização do ideal valorado por Walt em toda a sua obra: o eterno triunfo do bem sobre o mal. Esta idealização, fez da personagem um ícone poderoso, e a tal ponto, que serviu de impedimento ao envio da estrela ao front, ao contrário do que ocorreu com seus companheiros Mickey e Donald, que se tornaram garotos propaganda da II Guerra Mundial, conforme explica John Baxter, na obra: Disney During World War II: How the Walt Disney Studio Contributed to Victory in the War (2014). Conquanto, ainda haja muito a ser estudado, a pesquisa contribui para lançar outras luzes sobre a personagem que tem sido pouco conhecida e valorizada. PALAVRAS-CHAVE: Pateta; Goofy; Disney; ABSTRACT These article is an integral part of the thesis - still in progress - that aims to analyze the process of construction of the character, created by Disney Studios, known as Goofy, establishing a parallel with Walt's own life story. In order to do so, a dialogue will be maintained with the bibliographical and iconographic sources, aiming at discussing some of the consolidated assertions about the character in question, as is the case of the statement made by Neil Gabler, one of the most renowned biographers of the animator, in his book: Walt Disney: The Triumph of American Imagination (2009, p. 480), that says that Walt hated Goofy. It is worth noting that this assertion shows interesting inaccuracies, because both they share characteristics, such as: "high and guttural laughter"; rustic accent, which a reporter has classified as the "inarticulate mid-west dialect"; and the long, and skinny silhouette, whose misaligned clothes, composed of worned pants and sweaters lends an air of inadequacy to the social molds. But perhaps the greatest similarity lies in the moral question, for the Goofy, in his purity, good nature, and incorruptible naivety, becomes the materialization of the ideal valued by Walt in all his work: the eternal triumph of good over the evil. This idealization made the character a powerful icon, and such an extent that it served as an impediment to sending the skinny to the firelines of Second War, contrary to what happened with his companions Mickey and Donald, who became propaganda boys of World War II, as explained John Baxter, in the work: Disney During World War II: How the Walt Disney Studio Contributed to Victory in the War (2014). Although, there is still much to be studied, research contributes to shed other light on the character that has been little known and valued. O presente artigo é parte de uma pesquisa maior que trata de analisar o processo criativo do Pateta ( Goofy ), a personagem disneyana, que compõe a midiática trindade da cultura pop exportada ao mundo. Entretanto, se comparada aos companheiros de estrelato, Mickey e Donald, o magricela orelhudo ainda é pouco estudado e, talvez, isto seja o resultado do preconceito ao qual foi vítima em suas origens e que, posteriormente, foi reforçado por biógrafos, como Neil Gabler (2009), que afirmou ser o Pateta, odiado por Disney. Portanto, este artigo tenta fazer uma provocação ao suposto rechaço de Walt à personagem, que pode ser considerada a própria essência de seu criador. E A ESTRELA SOBE Durante sua vida, Walt Disney (1091 – 1966), recebeu 59 indicações ao prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, das quais, conquistou 22, o que lhe valeu o recorde de maior número de vitórias e indicações individuais em toda a história do cinema. O animador também aparece no ranking das personalidades mais entrevistadas do século XX. Utilizando-se do instrumento midiático, Disney elevou a si próprio e seu trabalho, à condição de lenda. Em 1964, o presidente Lyndon B. Johnson o premiou com a Medalha Presidencial da Liberdade, considerada a maior distinção conferida a um civil. Não por acaso, foi-lhe dado o carinhoso apelido de Tio Walt , menção honrosa destinada ao vendedor de sonhos que, ao criar um mundo mágico, encantou, por gerações, milhares de fãs mirins em todo o mundo, ainda que nos bastidores, fosse uma pessoa egoísta e um chefe tirano. De pobre garoto caipira do Centro-Oeste estadunidense à celebridade mundial, muitos desafios tiveram que ser superados. Porém, a imagem que construiu para si, de um inquebrantável otimismo, de reverência à pureza de espírito e à eterna confiança de que, ao se perseguir o sonho com coragem e fé, ele se tornaria realidade, permaneceu intacta. “O importante é ensinar a um filho que o bem sempre pode triunfar sobre o mal”, disse Walt, “e é isso que nossos filmes fazem” (DISNEY, 2001, p. 131). Obviamente, Disney impregnou suas criaturas com esses ideais, embora, alguns possam discordar da qualidade dos resultados. Autores como J. Richard Singleton (2011), afirmam que a obra de Disney contribuiu, intensamente, para o prolongamento da puerilidade, à qual denomina de “culto da infância” 1. Seja como for, Disney criou tipos inesquecíveis que se consagraram no imaginário popular. Além de imprimir, em suas personagens, características dele próprio e traços de amigos aos quais admirava, como, por exemplo: os de Chaplin em Mickey Mouse (GABLER, 209 e APGAR, 2014), o artista se aprimorou em erigir personagens que imitassem, ao máximo, as expressões e os movimentos de pessoas e animais, dando-lhes dimensão e profundidade (JOHNSTON e THOMAS, 1995). Isto lhe permitiu a inserção de novos conceitos no modo de se fazer animação, o que fez com que o publico se importasse e se identificasse com as personagens na tela. Walt Disney não inventou o filme de animação nem contou histórias inteiramente originais nesses filmes, mas Neal Baer observa que Disney foi pioneiro na ideia de uma cadeira sendo uma cadeira. Antes de Disney, os animadores permitiam que uma cadeira tivesse uma configuração gráfica elástica, sendo muito mais uma reflexão de ideias do que uma representação do mundo real; a visão de Walt Disney era, simplesmente, a de fazer as caricaturas mais reais. Os personagens com características humanas têm aparência de pessoas reais, o mesmo acontecendo com a forma realista de retratar o mundo no qual esses personagens habitam (SINGLETON, 2011, p. 1). Não por acaso, Walt afirmou: “Eu tento construir uma personalidade completa para cada tipo animado – com a finalidade de torná-los personagens” (DISNEY, 2001, p. 16), e em outra ocasião ainda acrescentou: Até que uma personagem se torne uma personalidade, ela não é verossímil. Sem personalidade, a personagem pode fazer coisas 1 Segundo o autor, “trata-se uma invenção relativamente nova, pois é fruto da urbanização e dos tempos de prosperidade nos EUA”. Já que a gente miúda “não mais necessitava contribuir para o sustento familiar” e a única obrigação que lhe pesava sobre os ombros era o trabalho de “ser criança”, essa geração de bem-aventurados podia se dar ao luxo de recrear e se divertir no e com o cinema. Não por acaso o cinema se tornou mercadoria e o meio de entretenimento por excelência. Assim, uma vez “removidas as cobranças da vida, a garotada ficava menos susceptível de ser exposta ao sexo e à violência na tenra idade, caso em que os contos de fadas perderiam sua função, que era a de preparar as crianças para a vida” (pp. 2- 3). engraçadas ou interessantes, mas, a menos que as pessoas sejam capazes de se identificar com ela, suas ações vão parecer irreais. E, sem personalidade, uma história não pode soar verdadeira para o público” (DISNEY, 2001, p. 15). E que melhor maneira de tornar uma personagem de animação “real” do que a de se inspirar em pessoas reais? Como tantas outras criações do Estúdio, o Pateta não foi diferente. BEM AVENTURADO OS PUROS DE CORAÇÃO Nascido em Chicago, aos cinco dias do mês de dezembro de 1921, Walter Elias Disney, o quarto filho de Elias Disney ( 1859-1941 ) e de Flora Call Disney (1868-1938), residiu na periferia da cidade dos ventos sibilantes e repleta de problemas sociais, até a idade de cinco anos. A cinzenta Chicago se tornara muito violenta, principalmente, na segunda metade do século XIX, quando passou a ser o receptáculo de centenas de aventureiros e imigrantes, vindos de todas as partes, atraídos pelas oportunidades oferecidas pelos trilhos. Transbordando de gente amontoada em bolsões de pobreza, a fervilhante Babel, de ruas sujas e pantanosas, parecia abatedouro, haja vista, a febre e os incêndios grassarem entre a população de forma inclemente.