RELATÓRIO O Exmº. Sr. Desembargador Federal EDILSON PEREIRA NOBRE JÚNIOR (Relator): CHESF
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PROCESSO Nº: 0800023-09.2015.4.05.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO AGRAVANTE: CHESF - COMPANHIA HIDRO ELETRICA DO SÃO FRANCISCO ADVOGADO: RAQUEL VILELA RIZUTO CADENA AGRAVADO: MUNICIPIO DE TACARATU RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL EDILSON PEREIRA NOBRE JUNIOR - 4ª TURMA RELATÓRIO O Exmº. Sr. Desembargador Federal EDILSON PEREIRA NOBRE JÚNIOR (Relator): CHESF - COMPANHIA HIDRO ELÉTRICA DO SÃO FRANCISCO interpõe o presente agravo de instrumento contra decisão que, em sede de ação ordinária, indeferiu a antecipação dos efeitos da tutela, através da qual pretende obter provimento judicial para que o Município de Tacaratu/PE, ora agravado, assuma imediatamente o serviço de tratamento e fornecimento de água potável à população da Agrovila do Perímetro Irrigado de Barreiras Bloco 2, localizada naquela municipalidade. Em suas razões recursais, a CHESF alega que a Constituição Federal em seu art. 30, incisos I e V, atribui ao Município a competência de gerir o serviço de abastecimento de água, de modo que a negativa do agravado em assumir o serviço mencionado, no perímetro irrigado de Barreiras Bloco 2, denota ilegalidade, eis que viola o texto constitucional. Não houve contrarrazões. É o relatório. PROCESSO Nº: 0800023-09.2015.4.05.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO AGRAVANTE: CHESF - COMPANHIA HIDRO ELETRICA DO SÃO FRANCISCO ADVOGADO: RAQUEL VILELA RIZUTO CADENA AGRAVADO: MUNICIPIO DE TACARATU RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL EDILSON PEREIRA NOBRE JUNIOR - 4ª TURMA VOTO O Exmº. Sr. Desembargador Federal EDILSON PEREIRA NOBRE JÚNIOR (Relator): Ao desatar a controvérsia, assim se manifestou o ilustre Juiz Federal da 28ª Vara Federal da Seção Judiciária de Pernambuco, na decisão que consta do identificador nº 4058310.789649: "Cuida-se de ação ordinária declaratória e de obrigação de fazer (assunção de serviço público) com pedido de liminar ajuizada pela CHESF (COMPANHIA HIDROELÉTRICA DO SÃO FRANCISCO) em face do Município de Tacaratu/PE, na qual se colima a concessão de ordem judicial para que o município réu assuma imediatamente o serviço de tratamento e fornecimento de água potável à população no perímetro irrigado de Barreiras Bloco 2. Narra que, para a implantação e enchimento do reservatório de Itaparica, associado à Usina Hidro Elétrica (UHE) Luiz Gonzaga, a autora teve que empreender, ainda nos anos de 1980, um vultoso programa de reassentamento urbano e rural, através do qual houve a realocação de cerca de dez mil e quatrocentas famílias. Com esse fim, foram implantados perímetros irrigados em dez municípios dos Estados da Bahia e Pernambuco, a saber: Glória, Rodelas, Abaré e Curaçá, na Bahia, e Petrolândia, Tacaratu, Floresta, Belém do São Francisco, Orocó e Santa Maria da Boa Vista, em Pernambuco. Explica que, por razão da participação do Banco Mundial, como co-financiador do empreendimento do reservatório, o perfil de abastecimento necessitou ser adequado às condições mínimas exigidas pela instituição financeira para concessão do financiamento, dentre elas, implantação de sistema de tratamento de água e a implantação de rede de distribuição com, ao menos, um ponto de água na área de serviço das moradias. Atendendo às condicionantes, a autora realizou a construção de estações de tratamento de água em cada agrovila, de forma descentralizada, e dotada de filtragem, desinfecção, estocagem e distribuição de água a cada domicílio implantado. A partir do ano de 1993, todavia, a autora iniciou contatos com as municipalidades no intuito que assumissem os serviços a que são constitucionalmente encarregadas, contudo, relata que restaram infrutíferas as tratativas. Suscita que, recentemente, por deliberação do Conselho de Administração da Eletrobrás (doc. 09), holding federal do setor elétrico nacional e acionista majoritária da Chesf, diante do pequeno progresso com relação às tratativas com os quatro municípios remanescentes, inclusive o Município de Tacaratu/PE, foi determinada a suspensão do pagamento daqueles serviços, entendendo que não são de responsabilidade institucional ou estatutária da companhia, e, em consequência, a empresa não poderia estar arcando com tais despesas para manter um serviço público de prestação onerosa. Narra a presença do requisito do fumus boni iuris, defendendo a urgência da transferência pleiteada ante a prolação, pelo Tribunal de Contas da União, do Acórdão nº 101/2013, estabelecendo prazo para a realização da transferência do serviço de abastecimento de água (janeiro de 2015), podendo a autora vir a sofrer penalidade por parte do TCU por não ter ainda dado início ao processo de transferência do serviço. Requer a imediata assunção dos serviços pelo município réu, de forma que possam ser adiantadas, enquanto cobertos pela Chesf, até janeiro de 2015, todas as medidas necessárias à manutenção da prestação do serviço de natureza de distribuição e de abastecimento de água nas áreas do perímetro irrigado de Barreiras Bloco 02. Esse juízo determinou à parte autora diligências para fins de regularidade dos documentos indispensáveis à propositura da demanda, bem como a justificação do valor atribuído à causa. Ainda determinou a intimação da União para se manifestar sobre seu interesse na causa. Manifestação apresentada logo em seguida. A CHESF, por sua vez, apresentou os documentos requeridos pelo juízo, em cumprimento ao despacho. Esse juízo determinou a intimação do autor para se manifestar sobre a alteração de competência havida com o Município de Tacaratu/PE, que passou a integrar a jurisdição de Serra Talhada/PE. O autor se manifestou requerendo que o processo permanecesse tramitando no presente juízo, tendo em vista que a modificação de competência ocorreu posteriormente ao ajuizamento da presente demanda. Vieram-me os autos conclusos. Decido. Em preliminar, tenho que a demanda deve continuar tramitando neste juízo, nos termos do art. 87 do CPC. Sobre o pedido liminar, anoto que as medidas cautelares e as medidas de antecipação de tutela de mérito correspondem ao que se denominam tutelas de urgência, representando, como ensina Humberto Theodoro Júnior, "providências tomadas antes do desfecho natural e definitivo do processo, para afastar situações graves de risco do dano à efetividade do processo, prejuízos que decorrem da sua inevitável demora e que ameaçam consumar-se antes da prestação jurisdicional definitiva" (Curso de Direito Processual Civil, vol. II, Editora Forense, 2010, pág. 654). Contudo, ao passo que as medidas cautelares são puramente processuais, destinadas à preservação da utilidade e eficácia do provimento jurisdicional final, a tutela antecipatória se identifica com a própria tutela final pretendida pela parte. A reforma levada a efeito no Código de Processo Civil, em especial, a nova redação do art. 273, prevê a possibilidade da antecipação dos efeitos da tutela, sujeitando-a, entretanto, a requisitos mais rigorosos que aqueles necessários à concessão de medidas cautelares, ao dispor que "o juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou II - fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu". Como se percebe, para o deferimento da tutela antecipatória é necessário que o magistrado, "existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação", ou, em outras palavras, que os fundamentos da pretensão sejam relevantes e apoiados em prova idônea. Pois bem. No caso dos autos, em cognição sumária, própria das tutelas de urgência, não verifico a presença dos requisitos exigidos para a concessão da tutela antecipada. A parte autora, consoante exposto no relatório, em 1980, com a implantação e enchimento do reservatório de Itaparica, associado à Usina Hidro Elétrica (UHE) Luiz Gonzaga, empreendeu um vultoso programa de reassentamento urbano e rural. Em razão desse programa, teve de implementar perímetros irrigados em 10 municípios, dentre esses, Tacaratu, bem como realizar a construção de estações de tratamento de água em cada agrovila, de forma descentralizada, e dotada de filtragem, desinfecção, estocagem e distribuição de água a cada domicílio implantado. Assim, forçoso concluir que, desde meados de 1980, a CHESF é a responsável pelo fornecimento de água nos domicílios rurais existentes nas áreas de perímetro irrigado de Barreiras Bloco 02, no município de Tacaratu. Ora, em que pese os relevantes argumentos da parte autora, de que o encargo de abastecimento de água nos domicílios rurais existentes na área em comento é de competência do Município de Tacaratu/PE - por competência constitucional -, o fato é que esse serviço vem sendo executado pela CHESF há mais de três décadas. Sendo assim, o pleito de urgência na prestação jurisdicional, contrapõe-se à demora no ajuizamento da presente demanda, desnaturando a liminar pleiteada. Ademais, depreende-se que o deferimento do pedido liminar da imediata assunção do serviço de fornecimento de água potável pelo município réu poderia importar na interrupção abrupta do serviço de fornecimento de água, prejudicando as famílias residentes nas áreas de perímetro irrigado de Barreiras Bloco 02. Por todo o exposto, uma vez inexistente requisito autorizador para a concessão da medida, nos termos do art. 273 do CPC, indefiro o pedido de antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional. Intime-se a parte demandante acerca da presente decisão. Cite-se a parte demandada (arts.