Polígono Da Maconha: Contexto Socioeconômico, Homicídios E Atuação Do Ministério Público

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Polígono Da Maconha: Contexto Socioeconômico, Homicídios E Atuação Do Ministério Público POLÍGONO DA MACONHA: CONTEXTO SOCIOECONÔMICO, HOMICÍDIOS E ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO Adriano Oliveira * Jorge Zaverucha Ernani Rodrigues INTRODUÇÃO O Polígono da Maconha, em Pernambuco, é composto, tradicionalmente, pelas cidades pernambucanas que formam as regiões do Sertão e do São Francisco 1. No Sertão, destacam-se como áreas de intensa produção e tráfi co de maconha os municípios de Salgueiro, Mirandiba, Serra Talhada e Imbimirim. Na região do São Francisco, pontifi cam os municípios de Belém do São Francisco, Cabrobó, Carnaubeira da Penha, Floresta, Lagoa Grande, Orocó e Santa Maria da Boa Vista. O município de Petrolina, localizado na região do São Francisco não é reconhecido como área de produção de maconha. Contudo, o tráfi co e o consumo em Petrolina são considerados intensos, tanto por conta de sua localização geográfi ca2 como por ser uma cidade mais desenvolvida economicamente em relação às outras que compõe o Polígono. 3 Ressalte-se não haver consenso sobre a defi nição das cidades que fazem parte do Polígono da Maconha. Relatório, assinado pela Corregedora-Geral do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), Maristela de Oliveira Simonin, e por Gustavo Augusto R. de Lima, presidente da Associação do Ministério Público de Pernambuco 4, informa que o Polígono é formado pelos seguintes municípios: Floresta, Belém do São Francisco, Cabrobó, Orocó, Santa Maria da Boa Vista, Tacaratu, Petrolândia, Itacuruba e Carnaubeira da Penha. Divergências geográfi cas à parte, este artigo tem três grandes objetivos: 1) contex- tualizar as condições socioeconômicas do Polígono; 2) analisar se estão presentes relações de causalidade entre tráfi co de drogas e o elevado número de homicídios em alguns municípios da região; 3) avaliar a efi ciência do Ministério Público no enfrentamento ao cultivo e tráfi co de maconha no Polígono. Julgamos importante lançar luzes sobre o contexto socioeconômico em que ocorre a produção e o tráfi co de droga no Polígono da Maconha. Assim sendo, será possível ao leitor examinar minuciosamente as variáveis que proporcionam o cultivo e o tráfi co intenso de maconha. * Os autores são membros do Núcleo de Estudos de Instituições Coercitivas (NIC) da UFPE. Agradecemos a contribuição de Dalson Brito, Nara Pavão e Aécio Júnior. 1 Esta área é também reconhecida como Sertão do São Francisco. 2 O município de Petrolina está próximo dos estados da Bahia, do Piauí e do Ceará. Possui aeroporto com capacidade para operar aviões à jato tanto para transporte de passageiro como de carga. 3 Petrolina cultiva frutas tropicais de excelência. E é grande produtora de vinho. Que são exportados (inter)nacionalmente. 4 Relatório assinado em 24/04/1997. Polígono da Maconha: contexto socioeconômico, homicídios e atuação do Ministério Público | 175 Em seguida, mostraremos o quantitativo de homicídios na região do Polígono da Maconha. Os dados sobre homicídios permitirão verifi car se esta área, comparada tanto à cidade do Recife como a outros municípios, tem, proporcionalmente, um maior número de assassinatos. Em caso positivo, testar-se-á a hipótese de que a produção e o tráfi co de drogas geram agudos confl itos de interesse. Resultando na presença de um grande número de homicídios no Polígono. Finalmente, analisaremos a ação do Ministério Público de Pernambuco no enfren- tamento à produção e ao tráfi co de drogas em quatro municípios do Polígono da Maconha – Belém do São Francisco, Floresta, Santa Maria da Boa Vista, Salgueiro e Cabrobó. A análise em torno das ações do MPPE, possibilitará respostas para os seguintes questionamentos: 1) a produção e o tráfi co de drogas, nos municípios referidos, são realizados por grupos criminosos ou feito de modo solitário? 2) a ação tanto das Polícias como do MPPE concentram-se no combate ao trafi cante ou ao cultivador de maconha? 3) qual é a instituição policial que têm uma ação mais efi caz no combate a produção e ao tráfi co no Polígono? CONTEXTO SOCIOECONÔMICO Foram selecionados três indicadores com o objetivo de entender o contexto sócio-econômico dos municípios inseridos no Polígono da Maconha 5. E de que modo este contexto infl ui no tráfi co de drogas. São eles: 1) Índice de Desenvolvimento Humano (IDH-M); 2) Renda per capita; 3) Índice Gini. O IDH-M engloba as seguintes informações: Produto Interno Bruto (PIB), a lon- gevidade da população e seu nível educacional. Quando este índice está acima de 0,8 o município é considerado como de alto desenvolvimento humano. Quando o IDH-M está entre 0,5 e entre 0,8, as cidades inseridas neste intervalo são consideradas como de médio desenvolvimento humano. Verifi cando-se o gráfi co 1 constata-se que qualquer município integrante do Polígono da Maconha pode ser considerado de médio desenvolvimento humano. Deste modo, nenhum se enquadra na defi nição de baixo desenvolvimento humano 6. Tal como é o IDH-M do Estado de Pernambuco. (Gráfi co 1, a seguir). Portanto, pode-se afi rmar que municípios considerados de médio desenvolvimento humano são reconhecidos como produtores de maconha e, também, áreas de tráfi co. Assim sendo, mesmo que um município seja de baixo desenvolvimento econômico não, necessariamente, a produção e tráfi co de drogas devem fl orescer. Por exemplo, a cidade de Manari, localizada no sertão pernambucano, possui o IDH-M mais baixo do Brasil (0,467). Mesmo assim, não existem indícios de que ocorram produção e tráfi co de maconha. Embora, Manari esteja próxima à cidade de Imbimirim – município reconhecido por possuir grupos organizados atuando no plantio e no tráfi co de maconha7. 5 Todos os dados correspondem ao ano de 2000. Foram coletados no Atlas Brasil e no IBGE. 6 O IDH médio do Polígono da Maconha é de 0,654. Já o de Pernambuco é de 0,705. 7 O IDH de Ibimirim é de 0,566. 176 | Coleção Segurança com Cidadania [Volume I] Subsídios para Construção de um Novo Fazer Segurança Pública 0,8 IDH dos municípios e de Pernambuco 0,7 0,6 IDH 0,5 0,4 Grá 0,3 S 0,2 co 1 0,1 o objetivo de explicar o 0 serem reconhecidosOutras como áreas de produção e tráfi co de maconha. A variável IDH, como se viu, é Belém S. F. Cabrobó variáveis, condicionais e causais devem ser levadas em consideração com população dos municípios do Polígono Car. Da Penha as maiores Nesterendas sentido, analisamos o segundo indicador/variável:Floresta renda os maiores índices de IDH da região. Ibimirim per se Lagoa Grande porquê Orocó insufi ciente Petrolina dos municípios com médio Sdesenvolvimentoalgueiro humano per capita MunicípiosSanta M. B. V. Petrolândia 8 . Tacartu IDH 250 Mirandiba 200 (vide gráfi co 2). Estes dois municípios tiveram, também, 150 Pernambuco 100 9 . As cidades de Petrolina e Salgueiro apresentam 50 Renda per capita 0 Renda per capita versus IDH Grá 8 S desenvolvimentoO estado de humano. Pernambuco De 1991 tem para o IDH Belém2000, de S. oF. 0,705. IDH de Neste caso, ele é considerado um território de médio co 2 e longevidade (34,4%) foram os fatores que maisCabrobó con contribuiu com 17,2%. Inferências semelhantes são encontradasCar. Da na evolução do IDH dos municípios do Polígono da Maconha. Penha 9 Floresta indivíduos. A renda per capita de cada indivíduo é defi nida como a razão entre a soma da renda de Razão entre o somatório da renda per capita de todos os indivíduos e o número total desses todos os membros da família e o número de membros dessa família. ValoresIbimirim expressos em reais de per capita 1º de agosto de 2000. Lagoa Grande Orocó Municípios Petrolina da Salgueiro V. Santa M. B. Petrolândia 0,8 Polígono da Maconha: contexto socioeconômico, homicídios e atuação do M Itacuruba 0,6 Pernambuco avançou 13,71%. Educação (48,4%)Tacaratu 0,4 tribuíram para este crescimento. A variável renda Per capita 0,2 Mirandiba 0 Pernambuco IDH IDH inistério Público | 177 Deseja-se verifi car se é possível justifi car a produção e o comércio de drogas pela baixa renda per capita presente nos municípios do Polígono. Dos 14 municípios pertencentes à esta região, 4 estão entre as 100 cidades que possuem a menor renda per capita do estado de Pernambuco. São eles: Carnaubeira da Penha, Ibimirim, Tacaratu e Mirandiba. Estes municípios ocupam respectivamente a 2ª, a 33ª, a 37ª e a 27ª posição no ranking das menores rendas per capita. Por outro lado, as outras cidades do Polígono da Maconha – em sua maioria – estão inseridas no ranking das 100 maiores rendas per capita do estado de Pernambuco. Destaque para Petrolina, Salgueiro e Itacuruba. Estas ocupam as seguintes posições no ranking: 8ª, 18ª e 38ª, respectivamente. O município que mais se aproxima da escala das 100 menores rendas per capita é Orocó, ocupando a 68ª posição no ranking das menores rendas per capita. Portanto, é possível afi rmar que o nível da renda per capita, assim como o IDH não explicam per se a produção e o comércio de drogas nos municípios que fazem parte do Polígono da Maconha. Buscou-se um outro indicador/variável. O índice Gini mede o grau de concentração de renda em um determinado grupo. Seu valor varia de 0 (zero), quando não há desigualdade (a renda de todos os indivíduos tem o mesmo valor), a 1, quando a desigualdade é máxima (apenas um indivíduo detém toda a renda da sociedade e a renda de todos os outros indivíduos é nula). Grá S co 3 Índice Gini 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 Gini 0,3 ìndice Gini 0,2 0,1 0 Orocó Ibimirim Floresta Cabrobó Petrolina Tacaratu Salgueiro Mirandiba Petrolândia Belém S. F. Pernambuco Lagoa Grande Santa M. B. V. Car. Da Penha Municípios A maioria dos municípios do Polígono possui o índice de Gini igual ou acima de 0,60.
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