Primeiros Escritos Boletim De Pesquisa Na Graduação Em Filosofia
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Primeiros Escritos Boletim de Pesquisa na Graduação em Filosofia Pablo Picasso, A Grande Coruja (1948) Primeiros Escritos Boletim de Pesquisa na Graduação em Filosofia N- 2, período 98/99 Universidade de São Paulo Reitor: Prof. Dr. Jacques Marcovitch Vice-Reitor: Adolfo José Melfi Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Diretor: Prof. Dr. Francis Henrik Aubert Vice: Prof. Dr. Renato da Silva Queiroz Departamento de Filosofia Chefe: Prof. Dr. Ricardo Ribeiro Terra Vice: Prof. Dr. Franklin Leopoldo e Silva Programa de Iniciação Científica do Depto. de Filosofia (PIBIC-USP/CNPq) Coordenador: Prof. Dr. Moacyr Novaes Programa Especial de Treinamento da Área de Filosofia (PET/CAPES) Tutor: Prof. Dr. Caetano Ernesto Plastino Endereço para Correspondência A/C Coordenador do Programa de Iniciação Científica Departamento de Filosofia USP Av. Prof. Luciano Gualberto, 315 CEP 05508-900 Cidade Universitária São Paulo - S.P. Telefone: (011) 818-3761 Fax: (011) 211-2431 e-mail: [email protected] P r i m e ir o s E s c r it o s é uma publicação do D epartamento d e F il o s o f ia d a USP/SP Editor Responsável: Moacyr Novaes Editoração Eletrônica: Oliver Tolle Apoio: Guilherme Rodrigues Neto e todo o pessoal da secretaria do departamento Agradecimentos: MAC/USP e CAF Tiragem: 400 exemplares Apresentação O boletim de pesquisa na graduação em filosofia do Departamento de Filosofia da USP/SP chega ao seu segundo número. A publicação reúne os trabalhos apresentados no II Encontro de Pesquisa na Graduação em Filosofia, realizado neste Departamento em maio de 1998, e conta com a participação de alunos pesquisadores de outras instituições de ensino de filosofia pelo Brasil afora. Esperamos que o boletim cumpra a sua função de divulgar os resultados das pesquisas e estimule as discussões acadêmicas nas mais diversas áreas do saber filosófico. A Comissão Organizadora índice Entre o Divino e o Humano: Tensão na “Filosofia da História” de G. B.Vico Antônio J. Pereira Filho 7 Blaise Pascal: Fragmentos sobre o Olhar Emanuel R. Germano 18 Tolerância Religiosa em Voltaire Ana Lima Cecilio 26 Esquemas para Crítica Literária como Ponto Crucial na Democracia Russa Cristiana Maria Cardachevski 35 A Qualificação Profética do Governante em AI-Farabi Natalia Beatriz Sáez Quihónez 45 Filósofos e Filodoxos em Platão Margarida Maria Chagas 51 Platão e a Crítica da Poesia Adriana Natrielli 58 Diderot e a Crítica às Regras Priscilla C. dos Santos 65 Crítica Leibniziana ao Intuicionismo Cartesiano William Siqueira Piauí 68 Interesse e Certeza na Terceira Antinomia Paulo Roberto Pinheiro da Silva O Ceticismo em Hume Caio Cesar Cabral 87 Acerca do Sentimento Moral Cario Gabriel Kszan Pancera 91 Hume e a Razão Prática Cláudio Eduardo Rodrigues 96 Vico contra Descartes: A História como Ciência Moderna Adriano Eurípedes Medeiros Martins 99 Acerca dos Universais e da Teoria da Suppositio de Guilherme de Ockham Eligia Hirano Tunis Martins 103 A Imortalidade da Alma e o Papel do Corpo em sua Purificação Michele Czaikoski 108 Apontamentos acerca da Justiça e Propriedade em Hume e Locke Andréa Cristina Silva 119 Diferença Fundamental entre o Pensamento Tomista e a Filosofia Kantiana Neilson José da Silva 124 Voltaire e a Filosofia Inglesa: o Perfil da Filosofia e do Filósofo Rodrigo Brandão 130 A Pessoa Humana na Obra de Urbano Zilles Fábio de Barros Silva 137 Percursos Visuais no Acervo do MAC/USP: Uma Fenomenologia da Educação Artística CauêAlves A “Estética do Assombro” de Jorge Luis Borges André Domingues dos Santos As Bases Intelectuais e os Princípios da Bioética Antonio Fábio Cabral da Silva 163 Estética e Conhecimento Sensível Oliver To lie 165 Nietzsche: A Religião da Compaixão e o Espelho do Ocidente Fernando R. de Moraes Barros 169 Hume e a Questão da Identidade Pessoal Antonio Cesar da Silva Leme 173 Entre o Divino e o Humano: Tensão na “Filosofia da História” de G. B.Vico Antônio J.Pereira Filho (Bolsista PET/CAPES - DF/USP/SP) Orientadora: Maria das Graças do Nascimento “Este mundo de nações foi certamente feito pelos homens, pelo que o seu motivo deve encontrar-se no interior das modifi cações de nossa própria mente humana. E a história não pode ser mais certa do que quando o que faz as coisas também as descreve”. Giambattista Vico2 “Pensador fecundo, sugestivo e original, mas escassamente claro e coerente.”3 É assim que mesmo os maiores admiradores de Vico costumam apresentá-lo: ao mesmo tempo que se reconhece a importância e originalidade de seu pensamen to, identifica-se em sua obra filosófica um amálgama de senso e contra-senso, no qual idéias claras e confusas estão entretecidas devido à falta de ordenação e sistematização característica dos pensadores paradoxais. Este tom dissonante que comumente se ouve na obra principal de Vico, a Scienza Nuova, é um dos aspectos que mais dificultam o acesso ao núcleo do seu pensamento. O reflexo dessa dissonância, sinal de sua fertilidade filosófica, são as mais variadas interpretações que se tem feito desse autor, cada uma apontando para uma direção. Em razão disso, talvez seja possível adotar um ponto de vista que privilegie justamente os paradoxos e as tensões que são intrínsecas ao horizonte reflexivo de Vico. É nessa perspectiva que este trabalho pretende se inserir4. O tema deste estudo gira em torno da ambivalência que é possível identificar na “filosofia da história” do pensa dor napolitano. Aliás, a simples vinculação de Vico à “filosofia da história” já é em si um problema; e segundo a clássica interpretação de Benedetto Croce, mais do que um problema, um erro5. Por esse motivo, inicialmente farei algumas observações gerais sobre este aspecto polêmico do tema a ser desenvolvido e, em seguida, entrarei na questão que interessa investigar mais de perto. 1. Vico e a “filosofia da história” “Se é verdade que a construção de um tal sentido oculto constitui a essência de toda filosofia da história autêntica, então o italiano Giambattista Vico foi o primeiro verdadeiro filósofo da história da época moderna. ” Max Horkheimeh A expressão “filosofia da história” está associada ao nome de Vico desde que Jules Michelet, na primeira metade do século XIX, resolveu dar o título de “Principes de Philosophie de 1’histoire” à sua tradução da “Ciência Nova” Isto representa, segundo Croce, uma redução brutal do verdadeiro tesouro da obra. Na interpreta ção de Croce, que lê Vico com as lentes de sua própria filosofia, o autor da “Ciência Nova” surge, entre outras coisas, como o criador de "uma nova filosofia do espírito”, da “metafísica da mente”, mas não é o fundador da “filosofia da história” se esta expressão possui o significado de uma “história universal narrada filosoficamente” (Croce, 1962, p. 150). Crítico impiedoso de toda “filosofia da história” Croce estranhamente aponta as armas de sua filosofia para o próprio Vico e, com o intuito de defendê-lo, denuncia a confusão presente em pensamento no que concerne a relação entre filosofia e história, filosofia e filologia, um dos motes centrais da “Ciência Nova” Afinal, é possível uma abordagem filosófica da história? Pode-se reduzir a história à filosofia? Tal redução não é possível, diz Croce, “não porque se trata de algo heterôgeneo, mas antes porque ambas são homogêneas a história já é intrinsicamente filosofia. Não é possível proferir a mínima proposição histórica sem plasmá-la com o pensamento, isto é, com a filosofia” (Idem, Ibidem, p.32 e 33). Nota-se que a questão é tomada por Croce no plano discursivo; nesse nível, pensar a história - emitir um juízo histórico - já é filosofar; por sua vez, “ não se pode filosofar sem referir-se a fatos, ou seja, à história” (Croce, 1960, p. 129). Filo sofia e história são postas assim num mesmo plano. Aqui a função da filosofia deve se limitar a circunscrever uma metodologia do conhecimento histórico; pois, na visão de Croce, “filosofia da história” não passa de um discurso mítico, um discurso que pretende reduzir a mitos o curso cronológico da história. É uma redu ção mitológica dizer, por exemplo, que o “oriente se identifica com o ‘infinito’ a antiguidade greco-romana com o ‘finito’, e a idade cristã como a síntese entre o ‘finito e o infinito’; é igualmente um mito “identificar a idade antiga com o conceito de ‘economia escravocrata’, a idade média com o de ‘economia servil’ a idade moder na com a ‘economia capitalista’ e o futuro com a ‘socialização dos meios de produ ção” Em suma, o que se vê em toda “filosofia da história” é o desejo de “descobrir e revelar o VZeitpian, o designio do mundo, desde seu nascimento até sua morte, ou desde a sua entrada no tempo até sua entrada na eternidade” (Croce, 1960, p.130-131). Vista desse ângulo, a “filosofia da história” é filha da teologia e da Igreja. Daí que, para Croce, por tradicionalmente conceberem a filosofia como algo exterior à história, e ligada aos chamados problemas supremos, os “filósofos da história” julgam ser, muitas vezes, não apenas os contempladores, mas os diretores e reformadores da sociedade e do estado. Ora, Vico adota uma posição que difere bastante das exigências de Croce e parece ter plena consciência das dificuldades que envolvem a aproximação entre filosofia e história. Isto porque a tradição filosófica, baseando-se no conceito platônico-aristotélico de racionalidade, considera o acontecimento histórico algo impenetrável para a razão. Afinal, não pertecem filosofia e história tradicionalmente a domínios distintos? O que caracteriza a história é a contingência, a multiplicidade dos eventos e sua dispersão no fluxo ininterrupto do tempo, dispersão que ganha certa ordem com o discurso narrativo do historiador; ao passo que a filosofia, ocu pando-se de verdades essenciais, atemporais ou ahistóricas, caracteriza-se pela necessidade e pelo alcance generalizador de suas afirmações, pela unidade do seu discurso, conexão lógica e intrínseca de suas constatações.