CARACTERÍSTICAS GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS DO SOLO RESIDUAL DO GRANITO DE MARVÃO (PORTALEGRE)

GEOLOGICAL AND GEOTECHNICAL CHARACTERISTICS OF RESIDUAL SOIL OF THE MARVÃO GRANITE (PORTALEGRE)

Duarte, I.M.R.- Assistente do Dept. de Geociências da Univ. de Évora Ladeira, F.L. - Professor Associado do Dept. de Geociências da Univ. de Aveiro Gomes, C.F. - Professor Catedrático do Dept. de Geociências da Univ. de Aveiro

RESUMO

O solo residual do Granito de Marvão localizado no Distrito de Portalegre, Nordeste Alentejano, chega a atingir espessuras superiores a 10 metros. Procedeu-se ao estudo mineralógico por difracção de raios X e à análise química por fluorescência de raios X, deste solo, assim como à determinação das suas características geotécnicas: parâmetros granulométricos, limites de consistência, peso específico dos grãos, expansibilidade, permeabilidade, equivalente de areia, teor em matéria orgânica, resistência ao corte directo e triaxial, consolidação em célula edométrica e compactação. No local, realizaram-se os seguintes ensaios penetrométricos: DPL; CPT; SPT; DPSH. Pretende-se, com este trabalho, contribuir para o conhecimento dos parâmetros geotécnicos dos solos residuais de rochas graníticas, que ocorrem em regiões de clima temperado.

ABSTRACT

The residual soil derived from the Marvão granite, which occur in the Portalegre District, NE , can have more than 10 metres of thickness. This paper presents the mineralogical and chemical analyses using X-ray diffraction and X-ray fluorescence techniques, respectively, and also some geotechnical parameters such as grain size distribution, Atterberg limits, particle density, swelling capability, permeability, sand equivalent, organic matter content, shear strength (from direct shear and triaxial tests), consolidation obtained in oedometer test and compaction (standard Proctor compaction test). The results of in situ tests such as DPL, CPT, SPT and DPSH are presented. The present paper aims to contribute to the knowledge of the geotechnical parameters of granitic residual soils, typical from regions of temperate climate.

1 - CONSIDERAÇÕES GERAIS

1.1 - Introdução

A alteração é o processo de modificação dos materiais rochosos, na superfície terrestre ou perto dela, por decomposição química e desagregação física (ANON,1995). O tipo de alteração e a natureza dos seus produtos é fortemente influenciada pelo clima e litologia. Assim sendo, certo tipo de rocha, que pode ser muito afectado pela decomposição química em regiões tropicais, produz solos com características completamente distintas dos solos produzidos pelo mesmo tipo de rocha, mas em condições climáticas mais temperadas.

Os factores dominantes, que controlam o modo como a meteorização evolui, são a precipitação e a temperatura média (Ollier,1984). Entre outros importantes factores, está a periodicidade das mudanças que se verificam relativamente a estas duas variáveis.

151 VII Congresso Nacional de Geotecnia

A taxa de alteração é função do tipo de rocha, clima (precipitação e temperatura) e geomorfologia (ANON,1995). Além disso, um maciço rochoso intensamente fracturado, logo com uma permeabilidade considerável, tende a alterar-se muito mais rapidamente que outro menos fracturado, consequentemente, menos permeável.

O solo residual é o material resultante da alteração da rocha mãe e que nunca foi transportado do seu local de origem (Bligt, 1997). Este facto contribui para que os solos residuais possuam características geomecânicas distintas das dos solos transportados e redepositados. Estes solos dependem grandemente das características herdadas da rocha mãe, principalmente no que respeita à mineralogia, à textura e à estrutura, factores que são determinantes no seu comportamento geotécnico.

Parâmetros tais como: índices de plasticidade e de consistência, compacidade relativa, teor em argila, etc., são largamente informativos acerca da deformabilidade e da resistência dos solos sedimentares; e são muito menos, ou mesmo nada, para os solos residuais (Matos Fernandes et al., 1994).

Nos solos residuais é comum verificar-se grande variabilidade da dimensão e forma das partículas, do índice de vazios, dos produtos de alteração, da estrutura, etc., o que dificulta a sua caracterização, em termos geotécnicos, quando se recorre aos critérios da Mecânica dos Solos, aplicáveis em solos transportados e redepositados.

Por tudo isto, os solos residuais apresentam exigências específicas na sua identificação e caracterização. Para além das classificações clássicas da Mecânica dos Solos, deverão incluir-se a descrição do perfil de alteração e aspectos químicos, mineralógicos e físicos dos materiais presentes (Viana da Fonseca, 1996).

1.2 - Localização geográfica

O local escolhido, para os estudos efectuados, foi uma saibreira com um perfil de alteração superior a 10 metros, que ocorre no Distrito de Portalegre, Concelho de Marvão, a 2 Km de Marvão, junto ao cruzamento da EN 359 com a EN 359-6.

A saibreira é constituída por solo residual do Granito de Marvão e está incluída na mancha granítica, que consta na Carta Geológica de Marvão, escala 1/50 000, correspondente à folha 29-C do Instituto Geográfico e Cadastral (Perdigão, 1976). Está identificada e caracterizada (ficha nº 13) na Carta de Materiais do Distrito de Portalegre, escala 1:200 000 (JAE, 1983).

1.3 - Enquadramento geológico

A região enquadra-se na Zona Centro Ibérica (ZCI) e faz parte do CEN - Complexo Eruptivo de Nisa (Pereira et al., 1998). O Granito de Marvão, de idade hercínica, contacta os terrenos paleozóicos do sinclinal de Portalegre, que metamorfiza. Trata-se de um granito calco-alcalino de grão grosseiro, com fenocristais de feldspato e com duas micas, estas predominantemente biotíticas.

Ao microscópio, revelou como minerais essenciais: quartzo, oligoclase, albite-oligoclase, micropertite, microclina-pertite, biotite e moscovite; como minerais acessórios: turmalina, andaluzite, zircão, apatite, minerais negros de ferro e acidentalmente fluorite e silimanite. Os minerais secundários são: caulinite, sericite, clorite, esfena e calcite (Fernandes in Perdigão,1976).

1.4 - Geomorfologia

O perfil estudado situa-se em plena Serra de S. Mamede, a qual tem locais que ultrapassam os mil metros de altitude, mais precisamente numa encosta virada a NNE, a uma cota aproximada de 800 metros.

152 Prospecção, Amostragem e Caracterização de Maciços

A região é acidentada possuindo várias elevações que rondam os mil metros de altitude. No sopé da serra, corre o rio Server, afluente da margem esquerda do Tejo. Para além deste rio, existem outros cursos de água, seus tributários, sendo a ribeira das Águas, a mais próxima do local onde se situa a saibreira e para onde confluem as águas de drenagem da área do maciço em estudo.

Devido ao relevo acidentado e ao micro-clima que se verificam na Serra de S. Mamede, sendo este local o mais pluvioso do Nordeste Alentejano, existem condições favoráveis à escorrência das águas precipitadas nas encostas, e à sua infiltração nas descontinuidades dos afloramentos rochosos e nas descontinuidades "relíquia" dos solos expostos. Estes factores facilitam a drenagem e a infiltração, contribuindo para que se verifiquem taxas elevadas de alteração física e química.

1.5 - Aspectos tectónico-estruturais

Na região, as rochas magmáticas estão representadas por ortognaisses ante-hercínicos e granitos hercínicos, tendo sido os movimentos hercínicos, especialmente os ocorridos na fase Sudética ou Astúrica, e posteriormente na fase Sálsica, que preguearam os terrenos sedimentares e provocaram a tectonização dos granitos já então existentes, bem como a fracturação regional. Essa última, possivelmente, foi também influenciada pelos movimentos alpinos, pois, por vezes, observa-se ter havido jogo das fracturas e falhas hercínicas (Perdigão, 1976).

A partir do Paleozóico superior, a região manteve-se emersa e sofreu intensa erosão, que ao provocar a alteração e remoção dos terrenos mais superficiais, contribuiu para o aparecimento de fracturas de descompressão.

A meteorização dos maciços graníticos da região é, assim, bastante controlada pelos sistemas de descontinuidades presentes. Na geopaisagem granítica, o granito apresenta-se em grandes blocos com formas arredondadas, com aspecto de enormes bolas graníticas, mais concentradas nas elevações topográficas e mais esparsas nos vales onde abundam os perfis de solo residual, revelando alteração diferencial, dependente de nítido controle estrutural.

2 - ESTUDOS REALIZADOS E RESULTADOS OBTIDOS

2.1- Descrição do perfil e da amostragem

O perfil de alteração do solo residual do granito de Marvão, apresenta uma altura superior a 10 m, uma vez que as sondagens penetrométricas demonstram que a espessura do solo se prolonga em profundidade para além do material exposto, e apresenta-se praticamente vertical. A saibreira tem entre 60 e 80m de largura. Solos do mesmo tipo, são abundantes nos taludes das estradas da região.

O solo é composto por areia grossa siltosa, branca acinzentada ou amarelada. Trata-se de um solo muito friável e fácil de colher. Possui poucos grãos de quartzo e onde os feldspatos se encontram praticamente alterados. Todavia, por vezes, observam-se fenocristais de feldspato, assim como algumas biotites (2 - 5 mm) dispersas, as quais, quando alteradas, conferem uma auréola ferruginosa à matriz branca. No topo do perfil, a terra vegetal não ultrapassa os 20 cm de espessura.

Vertical e lateralmente o perfil apresenta-se relativamente homogéneo, no que respeita à granularidade e cor, exceptuando algumas descontinuidades oblíquas. Colheram-se amostras de solo com extractores a 3 e 8 metros de profundidade, sobre as quais se determinaram: teor em água, densidades nos estados natural e seco e parâmetros granulométricos. Os dados obtidos, ao longo do perfil, comprovaram a inexistência de uma variação gradual destas propriedades.

Colheram-se amostras remexidas para os ensaios de identificação e compactação, e amostras indeformadas, a partir de blocos ou em amostradores, para os ensaios de resistência mecânica e compressibilidade. Houve dificuldades no processo de amostragem, porque o solo apresentava pouca

153 VII Congresso Nacional de Geotecnia coesão entre partículas e como tal, desagregava-se com facilidade. Colheu-se rocha sã e alterada para análise química e macroscópica.

2.2 - Caracterização mineralógica e química

Caracterização mineralógica

Uma porção do solo residual granítico de Marvão (fracção inferior a 0.425 mm) foi sujeita à difracção de raios X (DRX). Utilizando-se os máximos de difracção específicos de cada um dos minerais presentes nas amostras, pôde-se determinar a respectiva composição mineralógica aproximada. O difractograma correspondente, apresenta-se na Fig.1.

Fig.1 - Difractograma do solo residual granítico de Marvão

A análise mineralógica identificou a presença de quartzo (Qz); Plagioclase (Plag.), esta última, sendo responsável pelo caracter calco-alcalino da rocha-mãe, e que embora alterada, se mantem no solo residual; feldspato potássico (Feld. K), em menor quantidade e filossilicatos, estes mais abundantes nos finos do solo e que são essencialmente representados por caulinite e ilite/mica.

Os picos da caulinite são bem definidos, facto que prova que a estrutura deste mineral é bem ordenada, e que o processo de alteração é típico de relevos com declives acentuados e de condições de drenagem favoráveis.

Análise química

O método adoptado para se proceder à análise química do granito são e do respectivo solo residual, foi a fluorescência de raios-X. Os resultados obtidos expressos em percentagens ponderais de óxidos dos elementos maiores, são apresentados no Quadro 1.

Comparando a composição química do granito são e do solo residual, constata-se que a meteorização proporciona uma diminuição da percentagem de alguns elementos químicos, facto devido à lixiviação dos elementos caracterizados por possuírem maior mobilidade geoquímica, como são os casos de Si, Ca e Na.

O teor de alumínio aumentou no solo residual, pois este elemento tende a ficar retido nos produtos da meteorização, participando, principalmente, na formação de caulinite, mineral que conjuntamente com a ilite/mica compõe a fracção argilosa do solo residual. Também a perda ao rubro aumentou significativamente, devido à incorporação de água nos minerais argilosos de neoformação, que são aluminossilicatos hidratados.

154 Prospecção, Amostragem e Caracterização de Maciços

Quadro 1 - Composição química do granito são e do respectivo solo residual

Óxidos (%) Rocha sã Solo residual

SiO2 71,92 59,53 Al2O3 15,04 25,07 Fe2O3 1,56 1,84 MnO 0,04 0,02 CaO 0,40 0,04 MgO <200 ppm 0,16 Na2O 3,43 2,55 K2O 4,64 4,97 TiO2 0,14 0,13 P2O5 0,39 0,19 perdas ao rubro 1,01 5,24

Com o objectivo de quantificar o grau de meteorização, utilizou-se o índice de lixiviação β, que pode assumir valores entre 0 e 1, correspondendo este último valor à rocha sã.

η do horizonte alterado Índice de lixiviação: β = η da rocha sã

K2O + Na2O Em que, η =

Al2O3

Para o solo residual do Granito de Marvão, obteve-se um valor de β = 0,56, inferior, por exemplo, ao valor obtido para o solo residual do Granito do Porto, β = 0,65 (Viana da Fonseca, 1996), mas superior aos encontrados para solos residuais de granitos de regiões tropicais, (Brasil), em que β varia entre 0,36 e 0,5 (Sertã, 1986 in Viana da Fonseca, 1996).

2.3 - Ensaios laboratoriais de caracterização geotécnica

As propriedades físicas determinadas "in situ", nomeadamente, o peso específico nos estados natural (γo) e seco (γd), o teor em água natural (Wo), o índice de vazios (eo) e a porosidade (n), foram avaliadas simultaneamente com a amostragem.

Nas amostras colhidas, foram realizados os ensaios de identificação constantes no Quadro 2: análise granulométrica por peneiração húmida (fracção > 0.075 mm) e, utilizando um granulómetro de raios X (fracção < 0.1 mm); limites de consistência, limite de liquidez obtido com a concha de Casagrande (LL) e com o cone penetrométrico BS (LLc), limite de plasticidade (LP) e respectivos índices de plasticidade (IP e IPc). Com os resultados obtidos foi possível determinar a actividade do solo (act), índice de liquidez (IL), índice de consistência (IC) e o limite de retracção (LR), bem como parâmetros granulométricos, como sejam: o diâmetro efectivo (D10), coeficiente de uniformidade (Cu) e coeficiente de curvatura (Cc).

O solo residual granítico de Marvão, foi classificado com base nas classificações geotécnicas do Sistema Unificado ( ASTM D2487-85, Gomes Correia) e AASHTO (LNEC E 240-1970).

Efectuou-se o ensaio de compactação tipo Proctor, tendo sido possível determinar o peso volúmico seco máximo (γdmáx) e o teor em água óptimo (Wópt.), para este tipo de solo. Determinou-se ainda o

155 VII Congresso Nacional de Geotecnia equivalente de areia (EA), expansibilidade (Exp), permeabilidade (K), peso específico das partículas sólidas (γs) e teor em matéria orgânica (MO) existente no solo.

Quadro 2 - Características físicas e geotécnicas do solo residual granítico de Marvão.

argila silte areia D10 Cc Cu LL LLc LP IP IPc (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%)

1,04 16,01 67,67 0,02 2,5 40 33 38 31 2 7

EA Exp. K MO γs Act. IL IC LR Classif. Classif. unificada AASHTO (%) (%) (m/s) (%) (KN/m3) (%) (%) (%)

49 8.2 3,4*10-5 0,11 26,28 1,9 -10,9 11,9 30 SM A-1-b

Wo γo γd eo n γdmáx. Wópt. C φ Cc Cs (%) (KN/m3) (KN/m3) (KN/m3) (%) (KPa) (o) 0,12(1) 0,02(1) 9,2 16,97 15,59 0,686 40,7 16,92 16,6 6,7 32,7 0,25(2) 0,03(2)

Com as amostras indeformadas, realizaram-se ensaios de corte directo em caixa quadrada de 100 cm2 e uma velocidade de corte de 1 mm/min, e ensaios de compressibilidade em célula edométrica, com uma carga máxima de 3532.8 KPa, seguida de descarga total, que permitiram obter os valores dos índices de compressão (Cc) e de expansão (Cs) apresentados no Quadro 2.

Para o ensaio triaxial, colheram-se amostras com amostradores de parede dupla mas, ao retirar a amostra, devido à fraca coesão entre partículas, o solo desagregou-se em placas. Recorreu-se então a amostras remoldadas, tentando reproduzir o melhor possível as características físicas "in situ". As amostras, com diâmetro igual a 102 mm, foram saturadas (Sr > 95 %), consolidadas e, posteriormente, sujeitas ao corte não drenado, com leitura de pressões neutras. A velocidade de deformação imposta na fase de corte foi de 0,15 mm/min. Na fase de consolidação foram realizadas leituras, que permitiram obter dados para estimar o valor do coeficiente de permeabilidade. Os valores dos parâmetros de resistência em termos de tensões efectivas e tensões totais (coesão-c e ângulo de atrito-φ), bem como o módulo de deformabilidade tangente (Eti), constam no Quadro 3.

Quadro 3 - Valores dos parâmetros determinados no ensaio triaxial

Parâmetros físicos iniciais e finais Parâmetros geotécnicos obtidos σ 'c γd Wi Sr Wf K Eti Af Resistência Resistência total efectiva (KPa) (KN/m3) (%) (%) (%) (m/s) (MPa)

50 16,65 12,8 95,0 18,6 9,9*10-7 13,074 0,255 φ = 30,6º φ' = 36,9º

-7 100 16,6 12,7 96,6 18,6 3,8*10 17,768 0,180 c = 0 KPa c' = 0 KPa

200 16,5 12,7 97,2 18,7 7,5*10-7 24,458 0,145

2.4 - Ensaios de penetração "in situ"

No topo do perfil de alteração do Granito de Marvão, foram realizados os seguintes ensaios de penetração: o ensaio de penetração super-pesada (DPSH), ensaio com o penetrómetro dinâmico ligeiro (DPL), o ensaio " standard penetration test - SPT" e o ensaio com o penetrómetro estático (CPT). Na Fig.2, pode-se comparar os valores obtidos nos ensaios DPL, DPSH e SPT, em termos de número de

156 Prospecção, Amostragem e Caracterização de Maciços pancadas necessárias para penetrar 10 cm (DPL), 20 cm (DPSH) e 30 cm (SPT). Os valores do CPT, são apresentados em termos de resistência de ponta (qc), atrito lateral (fs) e razão de fricção (Fr) na Fig.3.

SOLO RESIDUAL GRANÍTICO DE MARVÃO

Nº PANCADAS 0 20 40 60 80 100 120 140 0

1

2

3

4 m 5 DPL DPSH 6 SPT

7 PROFUNDIDADE (

8

9

10

11

12

Fig.2 - Ensaios de penetração dinâmica

Resistência de ponta qc (MPa) Atrito Lateral fs (MPa) Fr (%)

01234567891011 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 02468 0 0 0

1 1 1

2 2 2 Prof. (m)

3 3 3

4 4 4

Fig.3 - Ensaio de penetração estática

157 VII Congresso Nacional de Geotecnia

3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dos estudos efectuados e dos resultados obtidos podem retirar-se as seguintes conclusões:

3.1 - Perfil de alteração

• Ausência de uma variação gradual das propriedades visuais ao longo do perfil, facto que levou a estudá-lo como um todo.

• Evidência no solo da estrutura e textura herdadas da rocha-mãe, salientando-se as diaclases "relíquia", que têm um forte controle sobre a alteração diferencial e que são responsáveis por uma certa heterogeneidade nas propriedades destes solos, podendo mesmo surgir blocos de rocha sã ou mais ou menos alterada, no seio do solo residual. Este género de alteração em bolas é usual em granitos de grão grosso (Irfan, 1996).

• Dificuldades na execução da amostragem, devido à fraca coesão entre partículas (Quadro 2) e à baixa percentagem de argila presente no solo granítico.

3.2 - Mineralogia e geoquímica

• A presença de caulinite com boa ordem estrutural, revela que não só o relevo actual, mas também o paleorelevo, são caracterizados por declives acentuados que favorecem a drenagem e a lixiviação dos elementos químicos mais móveis (Gomes, 1988).

• A relação SiO2/ Al2O3 > 2, significa que a Bissialitização, foi o processo de meteorização geoquímico mais importante na génese destes solos (Gomes, 1988). A Bissialitização engloba o fenómeno da arenização, típico de zonas temperadas e que consiste na transformação, por hidrólise, das rochas granitóides em saibro, formação evoluída que preserva a estrutura da rocha primitiva embora esta se mostre pouco coesa e fortemente lixiviada (Aires-Barros, 1991).

• O valor do índice de lixiviação encontrado, β = 0,56, é inferior ao valor obtido para o solo residual do Granito do Porto, β = 0,65 (Viana da Fonseca, 1996), mas superior aos valores determinados em solos residuais de granitos de regiões tropicais, mais precisamente do Brasil, em que β varia entre 0,36 e 0,5 (Sertã, 1986 in Viana da Fonseca, 1996). A variabilidade deste índice reflecte a influência que diferentes condições de meteorização tais como: clima e relevo, actuando em tipos litológicos semelhantes, podem originar produtos (solos residuais), com composições químicas diferentes, mineralogias distintas e também comportamentos físicos e geotécnicos próprios de cada local.

3.3 - Características geotécnicas

• O solo residual do Granito de Marvão, apresenta um peso volúmico seco natural baixo 3 (γd=15,6KN/m ), próprio de uma estrutura aberta, caracterizada por um volume de vazios relativamente elevado (eo= 0,69), estrutura que resulta do processo de lixiviação a que o solo esteve sujeito.

• Os parâmetros granulométricos obtidos, revelam tratar-se de um solo com uma granulometria extensa (Cu=40) e bem graduado (Cc=2.5), mas aqueles parâmetros não são tão correlacionáveis com as propriedades geomecânicas, como o são para os solos sedimentares. Na verdade eles não traduzem a disposição natural das partículas "in situ", uma vez que as partículas finas se aglomeram em agregados mais grosseiros, proporcionando uma estrutura relativamente porosa que tem reflexos no comportamento hidráulico e mecânico dos solos residuais "in situ".

158 Prospecção, Amostragem e Caracterização de Maciços

• O solo é ligeiramente plástico (IP=2), facto típico de materiais fortemente arenizados com uma componente siltosa elevada (SM) e com uma percentagem de argila muito baixa, essencialmente caulinítica e ilítica, portanto pouco expansiva.

• A resistência deste solo residual granítico é praticamente controlada pelo seu caracter granular, friccional, uma vez que a coesão é muito fraca. Os valores obtidos, para o ângulo de atrito, φ=32,7º (corte directo) e φ'=36,9º (triaxial), são comuns em solos arenosos.

• Os valores obtidos para os índices de compressão (Cc) e de expansão (Cs), são respectivamente para amostras pequenas (área 1=20cm2) de 0,12 e 0,02; e para amostras maiores (área 2=77cm2) de 0,25 e 0,03. Estes resultados provam que a influência do tamanho da amostra a ensaiar é considerável, neste tipo de solo, quer devido ao tamanho das partículas (ou agregados) em causa, quer ao efeito perturbador do processo de amostragem, que é superior em amostras mais pequenas.

• A permeabilidade média do solo (K= 7,1*10-7 m/s) obtida na fase de consolidação em câmara triaxial é substancialmente menor que a obtida no ensaio de permeabilidade de carga constante (Quadro 3). O valor médio, deste parâmetro, determinado a partir do ensaio edométrico foi K=2,9*10-9 m/s. Na realidade a permeabilidade é um parâmetro muito variável, principalmente em solos residuais com uma granulometria extensa e cujas partículas mais finas estão, geralmente, agregadas no seu estado natural. O mais correcto seria avaliar este parâmetro "in situ", até porque a permeabilidade nas descontinuidades não é tida em conta nos ensaios laboratoriais.

3.4 - Ensaios "in situ"

• Pela análise da Fig.2, pode-se concluir que com o penetrómetro super-pesado podem atingir-se profundidades superiores, praticamente duplas das conseguidas com o penetrómetro ligeiro, neste tipo de solos. Por outro lado, este último ensaio é muito mais susceptível às pequenas heterogeneidades do terreno, como sejam pequenos seixos, diaclases "relíquia" preenchidas por materiais com resistências diferentes, etc..

• No SPT, apesar de se usar o mesmo peso de pilão que no DPSH, o amostrador de Terzaghi tem um poder menos penetrativo que a ponteira do DPSH e, oferece maior resistência lateral, logo há uma maior dissipação de energia devido à coluna de varas e amostrador. A diferença verificada entre os dois agrava-se com a profundidade. O SPT é muito mais moroso, pois é necessário retirar sempre o amostrador após um ensaio a determinada profundidade.

• O CPT é muito sensível para solos granulares e, a profundidade atingida é limitada à partida para zonas um pouco mais resistentes, como acontece com frequência nos solos resultantes da alteração de granitos.

• Em suma, o DPSH demonstrou ser o ensaio de penetração mais indicado para solos residuais granitóides, pois para além de atingir profundidades maiores, pode fornecer um registo contínuo da resistência à penetração.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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