Reinvenções Da Narrativa
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REINVENÇÕES ENSAIOS DE HISTÓRIA E CRÍTICA DA NARRATIVA LITERÁRIA ORGANIZADORES FELIPE CHARBEL I JOÃO DE AZEVEDO E DIAS DUARTE I KELVIN FALCÃO KLEIN I LUIZA LARANGEIRA DA SILVA MELLO REINVENÇÕES DA NARRATIVA ENSAIOS DE HISTÓRIA E CRÍTICA LITERÁRIA Reitor Pe. Josafá Carlos de Siqueira SJ Vice-Reitor Pe. Álvaro Mendonça Pimentel SJ Vice-Reitor para Assuntos Acadêmicos Prof. José Ricardo Bergmann Vice-Reitor para Assuntos Administrativos Prof. Ricardo Tanscheit Vice-Reitor para Assuntos Comunitários Prof. Augusto Luiz Duarte Lopes Sampaio Vice-Reitor para Assuntos de Desenvolvimento Prof. Sergio Bruni Decanos Prof. Júlio Cesar Valladão Diniz (CTCH) Prof. Luiz Roberto A. Cunha (CCS) Prof. Luiz Alencar Reis da Silva Mello (CTC) Prof. Hilton Augusto Koch (CCBS) REINVENÇÕES DA NARRATIVA ensaios de história e crítica literária organizadores Felipe Charbel João de Azevedo e Dias Duarte Kelvin Falcão Klein Luiza Larangeira da Silva Mello © Editora PUC-Rio Rua Marquês de São Vicente, 225, Casa da Editora PUC-Rio Gávea – Rio de Janeiro – RJ – CEP 22451-900 Telefone: (21)3527-1760/1838 [email protected] www.puc-rio.br/editorapucrio Conselho Gestor da Editora PUC-Rio Augusto Sampaio, Danilo Marcondes, Felipe Gomberg, Hilton Augusto Koch, José Ricardo Bergmann, Júlio Cesar Valladão Diniz, Luiz Alencar Reis da Silva Mello, Luiz Roberto Cunha e Sergio Bruni. Revisão de texto e diagramação de miolo: Debora Fleck Projeto gráfco de capa: Flávia da Matta Design Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da editora. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Reinvenções da narrativa: ensaios de história e crítica literária / organizadores Felipe Charbel ... [et al.]. – Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio, 2019. 210 p.; 23 cm Inclui bibliografa ISBN (PUC-Rio): 978-85-8006-282-3 1. Narrativa (Retórica). 2. Literatura - História e crítica. I. Teixeira, Felipe Charbel. CDD: 808 SUMÁRIO Rodrigo Turin PARTE I TRADIÇÃO E VANGUARDA NA NARRATIVA LATINO-AMERICANA En los inicios de la gran aventura: Karina Vasquez Rafael Gutiérrez Ieda Magri Narrativas antilhanas: Imara Bemfca Mineiro PARTE II A FORMAÇÃO E AS MUTAÇÕES DO ROMANCE MODERNO Tomas Mann, leitor de Lukács: o problema da tragédia em Morte em Veneza77 Pedro Spinola Pereira Caldas O romance desmarginado: A função do fm Luiza Larangeira da Silva Mello De Saturno a Vênus: a narrativa do tédio em O vermelho e o negro Clarissa Mattos As relações perigosas João de Azevedo e Dias Duarte PARTE III VARIAÇÕES DA NARRATIVA CONTEMPORÂNEA Memórias estilhaçadas e autofcção: Anna Faedrich Felipe Charbel A narrativa dos atores: Henrique Buarque de Gusmão Uma poética do detalhe: fórmulas de pathos Kelvin Falcão Klein Gustavo Naves Franco Prefácio Rodrigo Turin Vivemos tempos de crise. Afrmar isso pode soar tanto redundante quan- to inócuo. Afnal, a crise é um modo próprio de ser moderno (D’Allonnes, 2012). Seu uso foi tão recorrente em políticos e escritores que cada vez me- nos acreditamos na força de seu apelo. Quando não estivemos em crise? A crise política, a crise da identidade, a crise da narrativa... Desde o sécu- lo XVIII, apontar para a crise, diagnosticá-la, implicava o gesto simultâneo de indicar a sua resolução, abrindo o presente ao futuro. A “análise de con- juntura” era uma condição de elaboração das estratégias de orientação e de ação para grupos políticos e vanguardas artísticas. A crise era, assim, um momento de particular intensidade que, na sua dimensão caótica, prometia a emergência (e a urgência) de um novo futuro. É na repetição desse gesto duplo, de fgurar a crise e a sua promessa implícita, que o sentido original do conceito foi se esvaziando, ao mesmo tempo em que seu uso se torna- va onipresente. Se tudo está em crise o tempo todo, logo a crise não existe. De todo modo, sem negar a potência do paradoxo, talvez seja o pró- prio conceito de crise que esteja em crise. A sua onipresença, da economia à política, passando pela estética e pela universidade, também poderia ser percebida como operando sob um novo regime, no qual seus sentidos são deslocados. Ela já não lançaria a um futuro qualquer, mas serviria como modo de perpetuação do presente. A noção de crise, nessa chave, seria su- gada pelo presentismo. Seu uso atual implicaria a inserção de “uma lógica distinta na estrutura histórica da modernidade, apontando não para o fu- turo, mas para o presente, para o agora” (Jordheim; Wigen, 2018: 11). Em 7 reinvenções da narrativa um cenário marcado pela aceleração social e por uma globalização desi- gual, com os impactos conjuntos da hegemonia do capital fnanceiro e das novas tecnologias, com a experiência inédita na qual a natureza parece es- tar mais acelerada do que a história, a noção de crise vem espelhar essa in- cômoda sensação de não saber para onde ir, nem o que fazer do passado. O recurso à crise pode servir, assim, como um mecanismo retórico que nos sincroniza em um presente precário, porém contínuo. O livro que o leitor tem em mãos não fala propriamente de crise, talvez um modo inapropriado de interrogar a pluralidade do nosso presente. Sem recorrer a essa fórmula desgastada e suspeita, os autores aqui presentes pre- ferem, com razão, seguir de perto as diferentes formas através das quais se reinventam, hoje e ontem, nas diferentes modernidades, os modos de nar- rar o tempo e dar sentido às experiências. Em vez de falar de crise da narra- tiva, prestar atenção às reinvenções da narrativa. Nessa chave, recusando o gesto profético de dar ordem ao tempo, no seu aspecto normativo, os textos desta coletânea buscam amplifcar e intensifcar as diferentes confgurações e texturas narrativas, com seus distintos procedimentos e implicações éti- cas, que emergem na cotemporalidade do nosso presente. Em lugar de nos sincronizar em um mesmo tempo, os autores convidam a nos lançar à es- cuta das ressonâncias de outros tempos e de outras formas. A atenção ao detalhe – melhor expressa aqui pela cena da pizza na sé- rie Breaking Bad, analisada por Kelvin Falcão Klein, e que ecoa em outros textos da coletânea –, mais do que conduzir a uma pressuposta totalida- de, encaminha para esse exercício de deslocamento produzido no encontro com as obras, amplifcando e multiplicando suas ressonâncias. Em um ce- nário onde se cobra cada vez mais rapidez e performance, a escuta e a visão do detalhe assumem ares de resistência. Elas requerem, afnal, um contra- -movimento, aquele de parar, de se fazer presente ao momento. O artifício do detalhe, na medida em que cobra o tempo da atenção, também é capaz de lançar o sujeito em um universo complexo de referências e histórias pa- ralelas – como bem nos lembra Gustavo Naves em seu texto. A narrativa entendida como “procedimento”, “artifício”, “dispositivo”, tal como presente nos capítulos que se seguem, sugere a sua dimensão emi- 8 prefácio nentemente experimental. É pela experimentação dos artifícios e dos pro- cedimentos herdados da tradição que as diferentes obras aqui analisadas se abrem à temporalidade. Das intrigas de Laclos aos clifangers e spin-ofs das novas séries e romances, da melancolia em Stendhal à desmarginação e automodelação em Elena Ferrante, passando pela condição decolonial das Américas, acompanhamos os modos pelos quais o ato de narrar é reinven- tado nessa relação com e contra as tradições que o possibilitam. A reinven- ção da narrativa como essa busca recorrente e sempre provisória pela es- pessura da vida. Interrogando as diversas voltas que a narrativa dá sobre si mesma, os autores não deixam de operar eles mesmos um movimento que me parece também fundamental em sua forma. Tal como as narrativas se reinventam com e contra as tradições que as formaram, o mesmo poderia (ou deveria) ser dito a respeito das disciplinas. Os textos do presente livro – produto do encontro entre disciplinas, em um evento ocorrido na Unirio, em maio de 2018 – nos provocam a pensar para além das compartimentalizações her- dadas e naturalizadas, que tornam objetos e problemas de pesquisa estan- ques e inertes, em função de reproduções departamentais. Dando conti- nuidade, assim, ao que já estava presente em As formas do romance (2016), promove-se aqui uma refexão sobre essa dupla historicidade, das obras e de seus horizontes de leitura. Mais do que um projeto, o que o leitor tem em mãos é a experimentação – ainda que já madura – de uma prática das humanidades aberta também à temporalidade de sua própria forma. Sem perder o rigor e o refnamento, os textos recusam classifcações rápidas, rei- vindicam diferentes cânones, os subvertem, sempre com a atenção na fatu- ra dos textos e das imagens analisadas. Ao interrogarem as reinvenções da narrativa, não deixam de apontar igualmente para uma também necessária reinvenção das humanidades. Ao dar ressonância às formas pelas quais as narrativas se reinventam, em sua historicidade, os autores realizam o necessário gesto, ético e cogni- tivo, de indicar a abertura de outros tempos para além da imagem de um presente sempre em crise, incapaz de se fgurar. A leitura e a narrativa, en- fm, como um ato de resistência, um modo de se fazer presente. 9 reinvenções da narrativa Referências bibliográfcas D’ALLONNES, Myriam Revault. La crise sans fn: Essai sur l’expérience mo- derne du temps. Paris: Seuil, 2012. JORDHEIM, Helge e WIGEN, Einar. Conceptual Synchronisation: from Progress to Crisis. Millennium: Journal of International Studies, 2018. 10 PARTE I TRADIÇÃO E VANGUARDA NA NARRATIVA LATINO-AMERICANA En los inicios de la gran aventura: modernismo, internacionalismo y vanguardias Karina Vasquez Tanto en Argentina como en Brasil, los años veinte fueron un momento marcado por la emergencia de jóvenes intelectuales en la esfera pública, que insistieron en la necesidad de una actualización de la cultura, insisten- cia en la que se desenvolvió la crítica y el enfrentamiento – a veces abier- to, y otras solapado – con fguras consagradas de la generación anterior.