Agudíssimas Horas Imagens Do Tempo Na Poesia De Hilda Hilst
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS ÁREA: ESTUDOS DE LITERATURA ESPECIALIDADE: LITERATURA BRASILEIRA LINHA DE PESQUISA: LITERATURA, IMAGINÁRIO E HISTÓRIA AGUDÍSSIMAS HORAS IMAGENS DO TEMPO NA POESIA DE HILDA HILST ALESSANDRA RECH ORIENTADORA: PROF(a). DR(a). JANE TUTIKIAN PORTO ALEGRE 2010 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS ÁREA: ESTUDOS DE LITERATURA ESPECIALIDADE: LITERATURA BRASILEIRA LINHA DE PESQUISA: LITERATURA, IMAGINÁRIO E HISTÓRIA AGUDÍSSIMAS HORAS IMAGENS DO TEMPO NA POESIA DE HILDA HILST ALESSANDRA RECH ORIENTADORA: PROF(a). DR(a). JANE TUTIKIAN Tese em Literatura Brasileira submetida à banca no Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul para obtenção do grau de doutor (a). PORTO ALEGRE 2011 3 AGRADECIMENTO A Jane Tutikian, sobretudo pela confiança. 4 RESUMO A obra poética de Hilda Hilst é uma resposta ao tempo. A presente tese demonstra como o problema da finitude é fundamental nessa poesia. O amor, a morte, a busca do sagrado, a loucura e a obscenidade, todos temas recorrentes em Hilda Hilst, apontam para as “agudíssimas horas”: flagelo lírico-existencial da poeta. Com uma produção que se estende ao longo de 45 anos, Hilda Hilst deixou uma importante contribuição, principalmente pela complexidade das imagens que mobiliza, em que é possível identificar três formas distintas de temporalidade: a cronológica, o Eterno Retorno e o Tempo Antes do Tempo, as duas últimas, tentativas de fuga da irremediável fome de Chronos. A metodologia consiste na revisão da bibliografia a respeito da autora e dos temas que suscita e na análise da obra poética com ênfase às imagens que remetem ao tempo. Eliade, Bachelard, Durand e Paz estão entre os principais integrantes de um quadro teórico multidisciplinar. Palavras-chave: Hilda Hilst, poesia, tempo, temporalidade, imaginário, sucessão, duração, amor, loucura, morte, Deus, mito, obscenidade. 5 RÉSUMÉ La poésie de Hilda Hilst est une réponse à temps. Cette thèse montre comment le problème de la finitude est fondamental dans Hilda Hilst. Amour, la mort, la recherche du sacré, l'obscénité et la folie, tous les thèmes récurrents dans Hilda Hilst, pointez sur les «heures plus aigus", fléau du poète lyrique existentielle. Avec une production qui s'étend sur plus de 45 ans, Hilda Hilst laissé une contribution importante, principalement en raison de la complexité des images qui mobilise, il est possible d'identifier trois formes distinctes de la temporalité: l'ordre chronologique, l'éternel retour et le temps avant le temps, les deux dernières, tentatives pour échapper à la faim incurable de Chronos. La méthodologie consiste à examiner la littérature sur l'auteur et des thèmes abordés et l'analyse de la poésie en mettant l'accent sur des images qui correspondent à temps. Eliade, Bachelard, Durand et Paz sont parmi les principaux membres d'un cadre théorique pluridisciplinaire. Mots-clés: Hilda Hilst, poésie, temps, temporalité, imaginaire, succession, amour, folie, mort, Dieu, mythe, obscénité. 6 SUMÁRIO INTRODUÇÃO..............................................................................................................................9 1 – O TEMPO E SUA FOME......................................................................................................23 1.1 – Teu silêncio de facas: a via dolorosa da ausência......................................................35 1.1.1 – Inversão, queda e redobramento..............................................................................41 1.1.2 – Temporalidade.........................................................................................................49 1.1.3 – Deus Pai...................................................................................................................51 1.2 – E desde sempre te espio: a interlocução da morte......................................................55 1.2.1 – Signos para o Nada..................................................................................................62 1.3 – Barcos no último vestido: a passageira de Caronte....................................................67 1.3.1 – A travessia...............................................................................................................72 1.3.2 – Memória e esquecimento........................................................................................75 1.4 – Amor: degelo prendendo as águas...............................................................................80 1.4.1 – Ódio-amor...............................................................................................................82 1.4.2 – Desejo.....................................................................................................................86 1.4.3 – Recusa.....................................................................................................................88 2 – O ETERNO RETORNO .......................................................................................................92 7 2.1 – Trança meu desamparo: exercício de permanência..................................................99 2.1.1 – Simbologia vegetal.................................................................................................101 2.1.2 – Bestiário lunar.........................................................................................................106 2.2 – Das madeiras da casa farei barcas côncavas: feminino, espaço e tempo...............121 2.2.1 – Habitar o tempo parado..........................................................................................126 2.2.2 – Cronótopo ..............................................................................................................131 3 – O TEMPO ANTES DO TEMPO ..................................................................................... ..136 3.1 – Entre a luz e o sem-nome: o tempo da poesia.............................................................140 3.2 – Um deus prenhe de amor: a fábula e o riso.................................................................146 3.2.1 – Paródia e subversão...............................................................................................150 3.2.2 – O riso ritual.............................................................................................................155 3.3 – Dá-me a via do excesso: loucura, uma brecha no tempo ......................................... 161 3.3.1 – O duplo.................................................................................................................166 3.3.2 – Vida e embriaguez................................................................................................170 3.4 – O poeta se fez água de fonte: a plenitude do começo................................................176 CONCLUSÃO.............................................................................................................................180 BIBLIOGRAFIA........................................................................................................................188 8 “O tempo como tal não é visível nem tangível, donde não é observável, nem mensurável. Também por essa razão, não pode dilatar-se Nem se contrair.” (Norbert Elias) “Não posso escrever enquanto estou ansiosa ou espero soluções a problemas porque nessas situações faço de tudo para que as horas passem – e escrever, pelo contrário, aprofunda e alarga o tempo.” (Clarice Lispector) 9 INTRODUÇÃO COMO QUEM SOMA A VIDA INTEIRA A TODOS OS OUTONOS Tomo emprestado alguns trechos da obra poética de Hilda Hilst para nomear esta Introdução e os capítulos que seguem. Selecionei-os por funcionarem como uma síntese lírica daquilo que será tratado. Explicam-se por si. A quem desconhece autora e obra, gostaria que servissem como um convite a descobrir o legado dessa poeta, que responde por uma produção consistente que versa sobre o tempo, este que é uma condição. Das recorrências do tempo e suas distintas imagens no texto de Hilda Hilst, identifico uma tríade que dá base a cada um dos capítulos desse estudo. Em linhas gerais, na presente tese sustento que o tempo na poesia de Hilda Hilst contempla imagens que, interpretadas, podem ser divididas em três instâncias: da Sucessão; do Eterno Retorno e, por fim, de um Tempo Antes do Tempo, que corresponde à eternidade ou ao tempo anterior à Criação, conforme conceitua Eliade. Pensar o tempo na obra de Hilda Hilst é partir de um aprisionamento. “Como quem soma a vida inteira a todos os outonos1”, a poeta cruza seus grandes temas (amor, desejo, loucura, solidão, volúpia...) com a passagem do tempo, o declínio do corpo, o fim das paixões, a morte. Em quase todos os poemas, as ações e os anseios se apresentam atados a um tempo devorador, a um castigo existencial de se saber perecível. Há folhas caindo da mais frondosa sombra sob a qual possam repousar os amantes hilstianos. Há cabelos em queda na observação espantada e trágica da própria fragilidade. 1 HILST, Hilda. “Do Desejo.” São Paulo. Editora Globo, 2004. p. 50 10 O peso de todos esses outonos emerge da primeira leitura – e é possível, na abertura aleatória de praticamente qualquer um dos seus livros de poesias, perceber esse cronômetro disparado: Barcas Carregando a vida Descendo as águas. Pesam pesadas Distantes do poeta e de sua caminhada. Barcas Inundadas de afago Nas águas da meiguice. O fulgor dos cascos Ilumina o dorso dos afogados: Eu soterrada