A Poética Da Sinceridade De Rui Knopfli

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A Poética Da Sinceridade De Rui Knopfli GABRIEL MADEIRA FERNANDES A POÉTICA DA SINCERIDADE DE RUI KNOPFLI São Paulo 2012 GABRIEL MADEIRA FERNANDES A POÉTICA DA SINCERIDADE DE RUI KNOPFLI Dissertação apresentada à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Letras. Área de concentração: Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa. Orientador: Mário César Lugarinho São Paulo 2012 Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. Para contato com o autor: [email protected]. FERNANDES, Gabriel Madeira. A poética da sinceridade de Rui Knopfli. Dissertação apresentada ao Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo para obtenção do título de mestre em Letras. Área de concentração: Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa. Aprovado em: Banca Examinadora Examinador: ______________________________________________ Julgamento: _________ Assinatura _________________________ Examinador: ______________________________________________ Julgamento: _________ Assinatura _________________________ Examinador: ______________________________________________ Julgamento: _________ Assinatura _________________________ 2 Porque não se escreve, no mar, com grafites ou tintas. No mar, escreve-se apenas com sangue. Gustavo Guiral Dedico este trabalho àqueles que traçaram comigo a minha história A minha mãe, guerreira. O meu pai, que pisa firme pra que eu não me perca. Os irmãos, Henrique e Carlos e as cunhadas Ana Carolina e Bruna Bischoff, com a compreensão que só irmãos podem ter. Os irmãos mais novos, Isadora e Pedro, que só alimentaram minha alegria com sorrisos e caretas. Os irmãos que a gente escolhe, Leandro Celestino e Gustavo Henrique Guiral dos Santos, que me ensinaram a escrever no mar. A professora Elaine Veronesi Fukuda, que me ensinou o valor da escrita E a Carolitcha, é claro. 3 AGRADECIMENTOS Agradeço aqui às pessoas que acompanharam esse meu trajeto e que souberem me entender: Cássia Tamura, Bruna Fava, Elizabete Viana, Daniel Zungolo, Monika Kratzer, Selma Correa, Maria Rocha, Luciana Baraldi, Igor Aoki, entre outros que me ensinaram muito sem dizer palavra alguma. Bárbara Garcia, Beatriz Blanco, Lucas Pantera Torrisi, Lucas Shimoda, Fabiana Muliterno, entre outros que percorreram os corredores da FFLCH de mãos dadas comigo. Ricardo Bassetto, Leonardo Bassetto, Rafael Lala, Bruno Zelli, Tiago Aparecido dal Aba de Souza, Luciana Castilho entre outros que mantêm o bom-humor não importando a adversidade. Tania Dias, a chefinha mais incrível que o mundo já conheceu. Paloma Falcon Cassini, Carina Gotardelo, pela amizade inusitada e tão intensa. Pra todos vocês guardo sempre um abraço e um sorriso. 4 RESUMO FERNANDES, G. M. A poética da sinceridade de Rui Knopfli. 2012, 95f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2012. Enfatizando a relação que a obra de Rui Knopfli mantém com o espaço africano como portador de experiências vivenciadas pelo poeta, e pelo qual ele nutre um sentimento de pertença bastante intenso, empreendemos a pesquisa. A resistência a uma poesia a serviço de uma ideologia levanta a questão da limitação ideológica da arte em favor de sua causa. Explorando as muitas tentativas do poeta de escrever uma “arte poética”, nos deparamos com uma honestidade e fidelidade consigo mesmo que guia o poeta do início ao fim de sua produção poética mesmo lhe custando o afastamento de sua terra natal e espaço de preferência. Reconhecemos o valor de sua poesia como afiliada à tradição ocidental e também a aproximação que promove com os espaços africanos. Assumimos, dessa maneira, a defesa da obra de Rui Knopfli como um dos pilares da poesia moçambicana, o pilar subjetivo, que acreditamos ser a tendência das próximas gerações poéticas em Moçambique. Palavras-chave: Poesia. Cânone. Moçambique. Rui Knopfli. 5 ABSTRACT FERNANDES, G. M. A poética da sinceridade de Rui Knopfli. 2012, 95f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2012. Highlighting the relationship of the work of the Rui Knopfli keeps with the African space as a keeper of experiences lived by the poet and for which he feeds a feeling of belonging very intense, we undertook this research. The resistance to a poetry in service of an ideology raises the question about the ideological limitation of art in favor of his case. Exploring the many attempts of the poet to write a “art poetic”, we are faced with a honesty and loyalty to himself that guides the poet from the beginning to the end of his poetic production that cost him the departure from him homeland, place of preference. We recognize the value of his poetry as affiliated with the Western tradition and also with the approach that promotes with the African spaces. We assume, thus, to defend the work of Rui Knopfli as a pillar of the poetry of the Mozambique, the subjective pillar, that we believe to be the trend of future generations poetic in Mozambique. Keywords: Poetry. Mozambique. Canon. Rui Knopfli. 6 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................................... 7 1 UMA CICATRIZ NA HISTÓRIA – A SINCERIDADE DE RUI KNOPFLI ............................................ 9 2 O PAÍS E A PÁTRIA – O SUJEITO FORA DE LUGAR ............................................................................ 29 2.1 No meio do caminho: o poeta entre espaços culturais ..................................................... 32 2.2 A pátria da língua ............................................................................................................................. 37 2.3 A dor de lembrar .............................................................................................................................. 48 2.4 Knopfli e Craveirinha – O país de quem, afinal?.................................................................. 52 3 ARTE POÉTICA – A SINCERIDADE E A FIDELIDADE À PROVA.................................................... 59 3.1 Indicadores de leitura .................................................................................................................... 59 3.2 No jardim, apenas flores ............................................................................................................... 69 4 VÁRIOS CAMINHOS PARA UM SÓ DESTINO ........................................................................................ 74 4.1 Por trás da palavra .......................................................................................................................... 83 CONCLUSÃO .......................................................................................................................................................... 88 BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................................................................... 90 7 APRESENTAÇÃO Ao iniciar o trabalho, jamais imaginei as dificuldades que me ocorreriam ao longo desta dissertação. Foram muitos os percalços ao longo de toda a jornada que deu à luz esta dissertação. Alguns aspectos pessoais me forçaram a ocupar muito do meu tempo com um trabalho externo, dificultando a pesquisa e a dedicação que um trabalho deste porte merece. No entanto, encontrar a poesia de Knopfli foi encontrar, dentro das literaturas africanas de língua portuguesa, algo que fizesse a diferença também na minha vida. O lugar de enunciação Knopfliano sempre foi muito atrativo pra mim. O seu não alinhamento político-ideológico, seu trabalho poético, o modo como lida com a memória e principalmente a qualidade de seus versos me atraíram desde o início para sua obra. Tentei iniciar, ainda na graduação, uma pesquisa sobre ela, mas também por motivos de força maior, acabei não conseguindo. Lembro-me de me perguntarem, uma porção de vezes, o porquê de eu estudar um poeta moçambicano e, mais especificamente, este poeta. A resposta mais certeira e mais imediata que me ocorria era “porque ele é estranho, um pouco como eu”. Esse é um critério muito vago, não? Mas há critério mais válido do que o gosto? Daí, perguntas imediatamente saltam: por que ler um poeta que se restringe a seu mundo? Em que essa leitura pode afetar-nos? Uma leitura precisa afetar o leitor? O que o diferencia de um jovem escrevendo um blog confessional? O que Knopfli escreve, portanto, pode ser algo apenas escrito para o “eu” que ele enuncia e nós criamos a aura de que o poema necessita pra se tornar poema, objeto-poema, mercadoria-poema. Diferentemente, por exemplo, do que faz a poesia de cunho ideológico, que visa 8 justamente cativar o leitor para que participe de sua causa. E até que ponto essa arte não sacrifica sua potência em favor da abrangência de público? Isto é, uma poesia que lute por uma causa social deve fazer-se legível e inteligível para todos os que estão comprometidos com essa causa? Quem tem a autoridade para nomear como poema uma produção? Atropelando essas questões, ou não lhes dando importância, pode-se negligenciar ou ocultar uma produção literária de qualidade. Os interesses políticos sempre em voga, principalmente numa zona de instabilidade política, como fora Moçambique durante todo o processo de independência e ainda alguns
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