PRIMEIRA EDIÇÃO | DEZEMBRO 2019 Inovação A REVISTA & DESENVOLVIMENTO DA FACEPE

FACEPE 30 ANOS A ciência, tecnologia e inovação a serviço do desenvolvimento de

O fomento à A criação da Facepe Os notórios cientistas pesquisa como no embalo da pernambucanos que lutaram política pública redemocratização pela instituição da primeira no Brasil e em do País agência de fomento à Pernambuco pesquisa do Nordeste

EXPEDIENTE Editorial FUNDAÇÃO DE AMPARO À CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO ESTADO DE PERNAMBUCO

DIRETORIA EXECUTIVA DA FACEPE Os desafios no fomento à Ciência, Tecnologia e Inovação são enormes num país como o Brasil. Somente em meados do século passado, o Estado brasileiro deu passos rumo ao incentivo institucional dessas áreas. Algo JOSÉ FERNANDO THOMÉ JUCÁ Presidente recente se comparado a outros países com universidades inauguradas na Idade Média e que ainda estão em pleno funcionamento. PAULO ROBERTO FREIRE CUNHA Diretor de Ciência e Tecnologia

ARONITA ROSENBLATT Um desses obstáculos é sensibilizar a sociedade demonstrando que o investimento em pesquisa pode trazer Diretora de Inovação crescimento econômico e bem-estar social. É com esta bandeira que a Fundação de Amparo à Ciência e Tecno-

ANA ROSA DE ANDRADE LIMA logia do Estado de Pernambuco chega aos 30 anos. A Facepe acredita que o progresso está diretamente ligado Diretora Administrativa e Financeira ao fomento das atividades científicas. Mas para que a sociedade e o Poder Público tenham esta percepção, é preciso difundir os resultados e popularizar a Ciência. CONSELHO SUPERIOR

JOSÉ ALUÍSIO LESSA DA SILVA FILHO Por isso, ao celebrar três décadas de existência, a Facepe decidiu lançar a Revista Inovação & Desenvolvimento. Secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de Pernambuco e Presidente do Conselho Superior A Resolução 004 de setembro de 2019 do Conselho Superior da Facepe orienta para que a publicação seja de JOSÉ FERNANDO THOMÉ JUCÁ linguagem acessível à comunidade com números, avanços, descobertas, soluções que visam o desenvolvimen- Secretário Executivo do Conselho Superior to de Pernambuco. Como não poderia deixar de ser, a primeira edição marca as comemorações dos 30 anos ADRIANO BATISTA DIAS daquela que é a primeira agência de fomento à pesquisa do Norte e Nordeste. Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco

GABRIEL ALVES MACIEL Resgatamos essa história de pioneirismo que se mistura as lutas por democracia, o combate ao autoritarismo e Pesquisador do Instituto Agronômico de Pernambuco a busca incessante pelo desenvolvimento. Diante de um passado rico e de um futuro cada vez mais promissor, FERNANDO BUARQUE DE LIMA NETO contar essa trajetória por meio de reportagens exigiu um trabalho árduo da equipe da revista. Livre Docente da Escola Politécnica de Pernambuco/Universidade de Pernambuco

IVON PALMEIRA FITTIPALDI Professor Titular da Universidade Federal de Pernambuco Convidamos o leitor a fazer uma viagem por uma pesquisa sociológica minuciosa, entrevistas com personalida- des que atuaram diretamente nos processos que viabilizaram a criação da Fundação. No decorrer das páginas, RINALDO APARECIDO MOTA Professor Titular da Universidade Federal Rural de Pernambuco revisitamos como o surgimento das principais instituições de ensino superior e centros de pesquisa de Pernam- buco deu origem a uma comunidade científica engajada e aguerrida que lutou pela criação da Facepe. É claro MARIA DE FÁTIMA DE SOUZA SANTOS Professora Titular da Universidade Federal de Pernambuco que o contexto nacional não poderia ficar de fora, até porque o debate público brasileiro passa pela história da Fundação. SUZANA MARIA GICO LIMA MONTENEGRO Secretária Executiva da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da UFPE São trinta anos fazendo pesquisa, discutindo soluções concretas para problemas da sociedade e capacitando MARCELLO TABARELLI Professor Associado da Universidade Federal de Pernambuco e Chefe do Departamento de Botânica recursos humanos num Estado vocacionado para o desenvolvimento científico. De acordo com dados da Coor-

ARMANDO GUERRA NETO denação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Pernambuco tem atualmente 161 progra- Diretor-Executivo Da Tmed, Desenvolvedora de Produtos e Serviços Médico-Hospitalares mas de pós-graduação. Boa parte conta com auxílio ou bolsas concedidas pela Fundação. Os números revelam

JOSÉ OSWALDO DE BARROS LIMA RAMOS ainda que o Estado formou 23.850 mestres e doutores nos últimos 10 anos. Diretor Regional do Sesc em Pernambuco A Revista Inovação & Desenvolvimento firma com você, leitor, um compromisso de apresentar resultados dessa considerável produção acadêmica que conta com o apoio da Facepe. A próxima edição já está com o tema defi- nido: os Parques Tecnológicos de Pernambuco. Mas por enquanto, é hora de celebrar! A todos, uma excelente Revista Inovação & Desenvolvimento leitura.

CONSELHO EDITORIAL EDITOR-CHEFE ASSESSORIA TÉCNICA , 3 de dezembro de 2019. Abraham Sicsú André Ribas Ana Rosa de Andrade Lima Comissão Editorial da Revista Inovação & Desenvolvimento Aronita Rosenblatt Andreia Santos Francisco Saboya JORNALISTA RESPONSÁVEL Suele Martins Ivon Palmeira Fittipaldi Daniel França (DRT-PE 3120) José Fernando Thomé Jucá GERENTE DE COMUNICAÇÃO - SECTI Paulo Roberto Freire Cunha PROJETO GRÁFICO Nilton Lemos Ricardo de Almeida Gláucio Menezes Ricardo Leitão

Inovação & Desenvolvimento | a r e v is ta d a fa c ep e 5 A legalização do fomento à pesquisa enquanto espaço democrático

Andreia Santos - socióloga

“Um país se faz com homens e ciência”. Essa frase, que foi dita e Além disso, a Facepe pode ser considerada como algo que se liga repetida por um pesquisador durante uma entrevista sobre a ciên- à própria história científica de Pernambuco, a origem de sua co- cia em Pernambuco, também nos remete, direta e indiretamente, à munidade científica. A saber, na segunda década do século XIX, es- história da Facepe. Mas por quê? pecialmente cinco anos depois da Independência do Brasil, surge a Faculdade de Direito do Recife, datada de 1827, sendo o berço A Facepe é fruto de um sonho, que se concretizou mediante alian- de valiosos debates e de importantes pensadores sociais do Brasil, ças e embates travados entre os homens e as mulheres da ciên- Joaquim Nabuco e Tobias Barreto por exemplo. Sumário cia com o campo político. Ela é, antes de tudo, resultado de uma ação coletiva desenvolvida pela comunidade acadêmica, que se A Faculdade de Direito foi o primeiro, dentre muitos ocorridos nas somou ao contexto de abertura política existente em Pernambu- décadas e séculos seguintes, dos passos dados voltadas à institu- 07 08 10 co e no País simbolizado pelo Movimento da Redemocratização e cionalização da ciência em Pernambuco, o que ofertou ao Estado A legalização do fomento à Entrevista: Sérgio Rezende, A institucionalização do a promulgação da Constituição Federal de 1988. Com base nessa condições para ser considerado um celeiro, um espaço privilegia- pesquisa enquanto espaço ex-ministro da Ciência & conhecimento ao longo do lei maior, é que o fomento à pesquisa foi mais uma reivindicação do, dentro do contexto da época, para a ciência, seja atraindo, seja democrático Tecnologia tempo dos(as) cientistas pernambucanos, cujo impacto propiciou, no ano formando inúmeros pesquisadores que se destacaram em abran- seguinte, a criação da primeira Fundação de Apoio à Pesquisa (FAP) gência nacional e internacional, como foram os casos de Gilberto na região Nordeste (a Facepe). Freyre, Josué de Castro, Paulo Freire, Ricardo Ferreira, Vascon- celos Sobrinho, entre tantos outros notáveis cientistas. Essas ca- É incontestável que a Constituição foi um determinante para que a racterísticas subsidiaram, em larga medida, a formação do campo 12 14 17 Facepe fosse implantada em 1989. Ela estabeleceu em seu artigo científico em Pernambuco até a presente data. A Ciência e a tecnologia no Fomento à pesquisa no Brasil: A redemocratização e o 218, também conhecido como Emenda Florestan Fernandes, que debate público do país uma luta iniciada há 100 anos ambiente político da criação da o “Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, Nesse sentido, a Facepe não deixa de ser um ponto de chegada e de Facepe a pesquisa, a capacitação científica e tecnológica e a inovação”. E partida para a ciência que se fez e que se faz em Pernambuco nas facultou aos Estados e o Distrito Federal a possibilidade de “vin- últimas três décadas, pois ela se constituiu como personagem rele- cular parcela de sua receita orçamentária à entidades públicas de vante para o desenvolvimento científico e tecnológico de Pernam- fomento ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica”. buco e, de certa maneira, tornou-se uma herdeira da busca pela institucionalidade, através do fomento à pesquisa, tão almejado 21 24 Ainda em 1988 foi instituída a Secretaria de Ciência e Tecnologia. pela comunidade acadêmica durante séculos. Linha do tempo: os fatos Gestão com participação da No ano seguinte, foi publicada a Constituição de Pernambuco, que marcantes que entraram para a comunidade científica em seu artigo 203 determina, em seu inciso 3°, que para fomentar Assim, a Facepe, por meio de suas ações, não deixa de simbolizar a história da Facepe as atividades científicas e tecnológicas “o Estado criará, com a par- necessidade do fazer-se cientista, de ampliação e reconhecimento ticipação do Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia, uma Fun- do seu saber-fazer, do exercício de um ofício secular que deve ser dação de Amparo à Ciência e Tecnologia”. renovado e estimulado, e que precisa, para tanto, encontrar apoio e investimento para investigar, para formar recursos humanos, para É dentro dessa atmosfera de mudanças sociais, econômicas e po- realizar novos experimentos, novas descobertas e questionar a si, 26 29 líticas, além de jurídicas, que a Facepe foi gestada e nasceu como as coisas e ao mundo para melhor servir à sociedade e ao próprio A Facepe dribla as dificuldades Curtas: as curiosidades e uma expressão, um resultado da força e da luta da comunidade conhecimento. Sem dúvida, na história da Facepe, o(a) pesquisa- na oscilação de recursos os projetos de sucesso da científica de Pernambuco, que mobilizada encontrou abertura no dor(a) e a pesquisa são sujeitos centrais, cuja tradução é a própria Fundação campo político (na época do então governador Miguel Arraes, 1987- institucionalização do fomento à pesquisa, que tem nela sua razão 1990) para concretizar um anseio daqueles(as) que trabalharam in- de ser e que tem reverberado em melhorias para a sociedade como cansavelmente para realizá-lo. um todo.

Inovação & Desenvolvimento | a r e v is ta d a fa c ep e 7 que se a Facepe não existisse Pernambuco não teria crise há alguns anos deveria estar aumentando os o destaque que tem hoje em termos de produção investimentos em Ciência e Tecnologia. Mas, infeliz- científica. Num levantamento muito recente, a nossa mente, o governo federal não tem essa visão. A comu- Universidade Federal de Pernambuco ficou em 10º nidade científica está passando por sustos constantes lugar no ranking das universidades brasileiras em desde o começo do ano. O governo federal diminuiu termos de Ciência, Inovação e Tecnologia. É a única os recursos, bolsas de estudos. E nessa hora a Face- ENTREVISTA: SÉRGIO REZENDE do Nordeste entre as dez primeiras. E como eu dis- pe tem um papel muito importante. Alguns programas se, a Facepe apoiando o trabalho dos pesquisadores, que são de cooperação do CNPq e Facepe, como por concedendo bolsas de estudos, teve um papel muito exemplo os institutos nacionais de Ciência e Tecnolo- importante para chegarmos no nível em que estamos. gia ou programa de lucro de excelência, o CNPq não “Se nós quisermos desenvolver o tem repassado os recursos, mas a Facepe tem repas- I&D - Uma lei estadual, que segue a Constituição Fe- sado a parte dela. Então, se não houvesse a Facepe Brasil, precisamos fazer pesquisa e deral, determina o repasse de recursos a partir de um nós estaríamos numa crise muito maior. percentual da dotação orçamentária do Estado para formar pesquisadores.” as agências de fomento à pesquisa, no caso de Per- I&D - E o que podemos esperar do futuro a curto e a nambuco a Facepe. Qual a sua percepção desses re- médio prazos? passes ao longo dos últimos 30 anos pelas gestões S.R - Eu sou otimista no sentido de que a médio e a estaduais? longo prazos as crises serão resolvidas. Tenho dado S.R - Na Constituição de Pernambuco há a previsão muitas palestras sobre Ciência e Tecnologia e nessas Sérgio Rezende é um personagem importante na uma fundação local e que apoia o trabalho dos seus de que um por cento do orçamento iria para Ciência e palestras eu mostro três slides que alimentam meu história da Facepe. Ele foi um dos articuladores para cientistas, pesquisadores e técnicos faz um trabalho Tecnologia para ser executado pela Facepe. Nos pri- otimismo, que é o que tem acontecido com as univer- que a Fundação viesse a ser criada e não à toa foi o fundamental para o futuro de Pernambuco e do Brasil meiros anos, no governo Miguel Arraes, no governo sidades federais. No governo Lula, além de terem sido seu primeiro diretor-científico. Mas a trajetória desse também. Carlos Wilson, a Facepe teve bastante recursos. Mas criadas algumas novas universidades, como a do ABC, cientista nascido no Rio de Janeiro vai além da relação o governo seguinte acabou dando uma interpretação a do Vale do São Francisco, foram criadas 230 exten- diferente para o que tinha na Constituição e reduziu sões universitárias. O mapa do Brasil está coalhado com a agência pernambucana de fomento. Professor I&D - Por que é tão importante incentivar a formação drasticamente os recursos da Facepe. Aí Arraes assu- de universidades atualmente... Titular da Universidade Federal de Pernambuco des- em recursos humanos em Ciência, Tecnologia & Ino- miu de novo e os recursos subiram novamente. De- de 1972, ele tem doutorado em Engenharia Elétrica e vação? pois assumiu um novo governo e, durante oito anos, Ciência dos Materiais pelo Massachusetts Institute of S.R - Porque a Ciência e a Tecnologia tem uma co-re- I&D - Isso tem um impacto social... Technology. Foi secretário estadual de Ciência, Tecno- lação muito grande com o desenvolvimento econômi- os recursos foram bem menores. Felizmente, a partir S.R - Um impacto social enorme e para o futuro a logia e Meio Ambiente de Pernambuco, presidente da co e social. Os oito países mais ricos do mundo (Esta- de 2006, quando assumiu o Gover- gente ainda não consegue perceber com clareza. Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e ministro dos Unidos, China, Japão, Alemanha, França, Índia e no do Estado as coisas começaram a mudar. Além de Mas eu não tenho dúvida de que nós teremos muito da Ciência e Tecnologia entre 2005 e 2010, no Gover- Itália) são também os países com o maior número de aumentar o repasse, o governo Eduardo Campos fez mais pessoas capacitadas para contribuir com o seu no Lula. Durante entrevista à Revista Inovação & De- publicações científicas e papers. Isso mostra a co-re- uma coisa importante: um ajuste na lei de tal maneira conhecimento para a melhoria do nosso desenvolvi- senvolvimento, ele destacou a ligação entre pesquisa lação entre Ciência, Tecnologia, riqueza e desenvolvi- que ela não poderia ter outra interpretação. E desde mento social e para a nossa riqueza. No longo prazo e progresso social, relembrou fatos marcantes e falou mento. Se nós quisermos desenvolver o Brasil e nós então, o governo Eduardo Campos, o governo Paulo eu sou otimista. Agora, como e quando nós vamos sair sobre como percebe as áreas de Ciência & Tecnologia queremos desenvolver o Brasil, pensando no futuro, Câmara tem honrado, tem cumprido a lei e a Facepe da crise atual eu não tenho a menor ideia. no Brasil nós precisamos fazer pesquisa e formar pesquisado- está numa situação bastante boa comparada a de res, além de contribuir diretamente para resolver pro- muitos estados, que têm fundações há mais tempo e I&D - E que mensagem o senhor deixaria pelo aniver- que quase não têm recursos. Os repasses de recursos Inovação & Desenvolvimento - Como o senhor enxer- blemas que afligem a sociedade. sário de 30 anos da Facepe? dependem da visão que os governos têm da Ciência e - É uma alegria muito grande comemorar os 30 ga a missão da Facepe? S.R Tecnologia. anos da Facepe e vê-la pujante, desempenhando um Sérgio Rezende - A Facepe tem uma missão mui- I&D - Fazendo uma retrospectiva desses últimos 30 papel muito importante para Pernambuco. Desejo to nobre que é a de apoiar a Ciência e a Tecnologia anos, como é que o senhor percebe os avanços em vida longa a Facepe! no Estado de Pernambuco. A Ciência e a Tecnologia Pernambuco nessas áreas e qual tem sido o papel da I&D - E em tempos de crises econômica e política, com o Brasil são setores muito novos. Nós começamos a Facepe nesse processo? escassez de recursos, como as agências de fomento formar pesquisadores, ou seja os programas de pós- S.R - Pernambuco é um dos estados da região Nor- devem lidar com esse desafio? -graduação, há apenas 51 anos. Então o Brasil não deste mais desenvolvidos em vários aspectos e tam- S.R - Em países desenvolvidos, em momentos de cri- tem muita tradição disso. Então um Estado que tem bém na Ciência e Tecnologia. Eu não tenho dúvida de se, eles aumentaram os investimentos em Ciência e Tecnologia. Então o Brasil que está em situação de

8 Inovação & Desenvolvimento | a r e v is ta d a fa c ep e Inovação & Desenvolvimento | a r e v is ta d a fa c ep e 9 época. “Essa Escola propiciou particularmente o de- senvolvimento de formulações teóricas, fortemente marcadas pelo racionalismo científico, que iriam com- bater a metafísica, a tradição supersticiosa e o clerica- lismo católico conservador”, observa Andreia Santos.

Entre o final do século XVI e o início do século XX, o campo científico de Pernambuco assistiu à criação de várias instituições de ensino superior e a fusão de algumas delas. Vale destacar a Escola de Engenha- ria (1895); a Escola Superior de Agricultura (1912); a Faculdade de Medicina do Recife (1920); a Escola de Belas Artes de Pernambuco (1932); o Instituto A institucionalização do de Pesquisas Agronômicas - IPA (1935); e o Institu- to Tecnológico de Pernambuco - ITEP (1942). Já em conhecimento ao longo do tempo meados do século XX foi criado o Centro de Pesqui- sas Aggeu Magalhães - CPqAM (1950). Vinte anos depois, o CPqAM foi integrado à Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz). A produção científica da forma como a conhecemos A escolha não foi ao acaso já que Pernambuco era a começou a se estabelecer na Idade Média, a partir do sede administrativa, política, econômica e cultural do Posteriormente, as Faculdade de Direito, Engenha- surgimento das primeiras universidades nas cidades Brasil holandês. A região produzia a principal fonte de ria, Medicina e Belas Artes deram origem ao primeiro de Bolonha, Paris, Montpellier e Oxford por volta do riqueza da colônia: o açúcar. Em 1629 eram 150 enge- centro universitário do Norte e do Nordeste brasileiro, ano de 1.200. De acordo com o historiador Jaques nhos produzindo o que se chamava na época de ouro a então Universidade do Recife que em 1946, viria se Verger, foi a partir da organização das universidades branco. transformar na Universidade Federal de Pernambu- que o conhecimento passou a ser institucionalizado. co (UFPE). Em 1947 foi criada a Universidade Federal A pujança econômica fez surgir uma elite rural que Rural de Pernambuco (UFRPE), que incorporava as “As universidades ganharam destaque para a ciência desejava a formação superior para seus herdeiros. antigas Escolas Superiores de Agricultura e Medicina porque se constituíram no espaço no qual o habitus Era preciso formar quadros intelectuais, jurídicos, ad- Veterinária, além da Escola Agrotécnica de São Lou- científico começou a ser estruturado, a ser institu- ministrativos para continuar dominando o país politi- renço da Mata e o curso de Magistério de Economia cionalizado, tendo em vista que elas permitiram tan- camente. Doméstica Rural. to o exercício da profissão de pesquisador quanto à formação de recursos humanos especializados para Quase dois séculos depois, o pensamento vanguar- Em 1949, nascia a Fundação Joaquim Nabuco (Fun- empreender esforços no desenvolvimento da ciência, dista pernambucano proporcionou as condições para daj), voltada para desenvolver pesquisas sobre as tecnologia e inovação”, destaca a socióloga Andreia a criação de um dos primeiros cursos de Direito do condições de vida do homem do campo da Região Santos. Brasil: a Faculdade de Direito do Recife foi fundada Nordeste; Dois anos depois, a Faculdade de Ciências, em 1827 e, inicialmente, foi instalada no Mosteiro de Letras e Filosofia Manoel da Nóbrega se transforma- As universidades já eram vistas como centro de for- São Bento, em Olinda. Atualmente, a graduação fun- ria na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). mação de recursos humanos desde a época do Brasil ciona no Centro de Ciências Jurídicas (CCJ) da Univer- A Universidade de Pernambuco (UPE) foi instituída Colônia. E Pernambuco foi uma das regiões pioneiras sidade Federal de Pernambuco (UFPE). em 1968. no país ao aliar a institucionalização do conhecimen- to e empreendedorismo. A relação da então capitania Além da formação de juristas renomados como Jo- Além dessas instituições, que formaram o campo com a ciência teve um marco importante durante o aquim Nabuco, Tobias Barreto, Sílvio Romero, Clóvis científico local, é relevante mencionar que Pernam- período de dominação holandesa, entre 1630 e 1654. Beviláqua, Franklin Távora e Castro Alves, a Facul- buco tem uma das mais antigas Secretarias Regionais dade deu origem à Escola do Recife, que por sua vez da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Na gestão de Maurício de Nassau, Pernambuco re- promovia reflexões, estudos e debates sobre projetos A SBPC-PE iniciou suas atividades em 1961, com o cebeu a primeira missão científica do Novo Mundo. de nação a partir da visão das elites dominantes da epidemiologista Frederico Simões Barbosa.

10 Inovação & Desenvolvimento | a r e v is ta d a fa c ep e Inovação & Desenvolvimento | a r e v is ta d a fa c ep e 11 Apesar do golpe militar de 1964, setores mais conser- vadores da academia ou aqueles que buscaram man- ter-se neutros continuaram a ter um caráter de reivin- dicação sempre associando a importância da Ciência e Tecnologia para o Brasil.

Por outro lado, o próprio regime militar percebeu a importância da Ciência e Tecnologia para qualificar a força de trabalho da economia capitalista em lar- ga expansão. Uma das provas disso foi a criação, em Prédio da rua Pio XI, 1500, 1967, da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) sede da FAPESP desde 1977 no âmbito federal, com objetivo de institucionalizar o Fundo de Financiamento de Estudos de Projetos e Programas criado em 1965. A Ciência e a tecnologia entram na Não há como contar a história do fomento à Ciência Na década de 1970, o governo militar apoiou a forma- e Tecnologia no Brasil sem mencionar a Fundação agenda do debate público do país ção de novos grupos de pesquisas, também fomentou de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp). “Foi o surgimento de programas temáticos, estimulou a formalmente criada em 1960 e começou a funcionar expansão da infraestrutura da área de Ciência e Tec- efetivamente em 1962, ainda que já prevista na Cons- nologia, bem como a consolidação institucional da tituição Estadual de São Paulo em 1947”, conta o his- pesquisa e da pós-graduação. A Finep foi uma grande Os primeiros passos na institucionalização do fo- Mas essa aliança entre academia e poder público toriador Shozo Motoyama. incentivadora de parceria entre universidades e cen- mento à pesquisa no Brasil está intimamente ligado visando o desenvolvimento não foi tão harmônica tros de pesquisa. ao contexto histórico-político do país, principalmente assim. Pelo contrário, passou por uma série de ade- Em seu primeiro ano de funcionamento, a agência entre as décadas de 1950 e 1960. Havia um clamor quações. O regime militar iniciado em 1964 tinha perfil paulista concedeu apoio financeiros a projetos em Paralelamente às ações da Finep e dos outros órgãos de combate ao atraso e ao subdesenvolvimento bra- conservador e a relação com a comunidade científica duas modalidades: as Iniciativas e os Programas Es- já existentes, outro fato histórico que impulsionou a sileiros. foi marcada por conflitos. A década de 1970 registrou peciais. De acordo com o site oficial da instituição, as institucionalização do fomento à pesquisa no Brasil grande prejuízo na atividade científica. Vários pesqui- Iniciativas tratavam de um tema específico, geralmen- foi a criação do Ministério da Ciência e Tecnologia. As “Tudo isso passa a ocupar a agenda política da nação sadores perderam seus cargos nas universidades e te apresentado por pesquisadores. Já os Programas primeiras articulações começaram ainda na década nas mais diversas e antagônicas correntes de pen- muitos acabaram exilados. Especiais promovem a pesquisa científica e a forma- de 1970, mas a instituição do MC&T só se concretizou samento (na política, na economia, na cultura, nas ção de recursos humanos no Estado de São Paulo. nos anos de 1980. universidades, no cinema). Também nesse período, os debates acadêmicos acirram-se a respeito dessas Ainda em 1962, a Fapesp financiou 24 Iniciativas de questões e muitos intelectuais ligados às universida- “A industrialização pesada interesse científico, social ou econômico. Em 1994, as des, às instituições de pesquisa ou a órgãos de pla- Iniciativas foram substituídas por outra modalidade nejamento vão ocupar papel de destaque nesse mo- e a complexidade da chamada de programas de projetos especiais e temá- mento histórico”, explica a socióloga Andreia Santos. administração pública ticos. Na década de 1990, a Fapesp começou a investir trouxeram à tona a em projetos de infraestrutura de pesquisa e em ino- As historiadoras Marieta Ferreira e Regina Moreira vação contam ainda que “a industrialização pesada e a com- necessidade urgente de plexidade da administração pública trouxeram à tona formação de especialistas Dados publicados em seu portal na Internet revelam que até outubro de 2019 foram investidos mais de um a necessidade urgente de formação de especialistas e e pesquisadores nos pesquisadores nos mais diversos ramos de atividade bilhão de reais em pagamentos de bolsas, auxílios à de cientistas qualificados”. Ainda de acordo com elas, mais diversos ramos de pesquisa, programas estratégicos de pesquisa, inova- profissionais de áreas como física, matemática, quí- ção tecnológica em parceria com empresas, divulga- atividade de cientistas Atual sede mica, técnicos em finanças e pesquisadores sociais da FINEP, ção e difusão dos resultados de pesquisa. Ações e nú- eram a prioridade da época. qualificados” localizada meros que fazem da agência paulista uma referência no Rio de Janeiro no país.

12 Inovação & Desenvolvimento | a r e v is ta d a fa c ep e Inovação & Desenvolvimento | a r e v is ta d a fa c ep e 13 Ele conta também que neste período “alcançou no- O processo de amadurecimento da instituição en- toriedade pública, e suas reuniões atraíam milhares frentou percalços. Documentos institucionais re- de participantes, além de larga cobertura da impren- velam que um dos períodos mais difíceis ocorreu sa”. A criação da SBPC é considerada um símbolo de durante a ditadura militar iniciada em 1964, que inau- pressão acadêmica para a constituição de mecanis- gurou na agência um período de descontinuidade mos institucionais voltados para o desenvolvimento administrativa e turbulência institucional. Por pouco da ciência no país. não foi extinta. A regulamentação da pós-graduação no Brasil, também na década de 1960, fez a Capes se A comunidade científica brasileira avançava na or- tornar essencial para o apoio à ciência e tecnologia ganização, em certa medida, inspirada nos Estados no país. Unidos e Europa, que impulsionaram suas agências de fomento à pesquisa depois das duas Guerras “Embora muitos outros desafios tenham se coloca- Mundiais. Foi neste contexto que, em 1951, foram do, os investimentos destinados à agência, de modo Fomento à pesquisa no Brasil: criadas duas agências de fomento à pesquisa que geral, visaram garantir a formação de cientistas e até hoje são referências no financiamento de proje- pesquisadores no ambiente acadêmico, através da uma luta iniciada há 100 anos tos científicos no Brasil: a Coordenação de Aperfei- concessão de bolsas de pós-graduação (mestrado e çoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o doutorado) no Brasil e no Exterior, além de estimu- Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e lar cooperações nacionais e internacionais”, revela o Tecnológico (CNPq). documento oficial da instituição. Em comparação a outros países, o fomento estatal A SBPC já nasceu com vocação comunitária e atua- à pesquisa no Brasil é relativamente recente. Está ção em rede. Desde os primórdios, a entidade bra- A Capes teve como entusiasta um dos maiores edu- Se, por um lado, a Capes representava a profissiona- prestes a completar 100 anos. As movimentações sileira estabeleceu diálogo com outras instituições cadores brasileiros. O jurista e escritor Anísio Tei- lização dos cientistas, por outro, era preciso desen- em torno da criação dos primeiros órgãos de fomen- semelhantes no Brasil e no Exterior conquistando o xeira foi um notório defensor da universalização da volver um mecanismo que incentivasse a pesquisa to começaram na década de 1920 logo após a Primei- status de sociedade que representava oficialmente educação. Uma de suas bandeiras eram o aperfeiço- científica e tecnológica. Foi neste sentido que a im- ra Guerra Mundial. os cientistas brasileiros. Segundo o cientista político amento, promoção e captação de recursos humanos plantação do CNPq foi o grande marco na orienta- Simon Schwartzman, “durante alguns anos, na déca- no Ensino Superior. Não à toa, suas reivindicações ção dos investimentos para as universidades, seus Os integrantes da antiga Academia Brasileira de Ci- da de 1970, as reuniões anuais da SBPC representa- junto ao Ministério da Educação o credenciaram para laboratórios e centros de pesquisas, bem como na ências já enxergavam o papel estratégico do Estado ram o único foro aberto para discussões de qualquer ser o primeiro presidente da Capes. formulação de política científica de abrangência na- no incentivo à pesquisa e isso ficou mais evidente espécie, em meio a um regime político fortemente cional. Seu projeto-lei de criação foi redigido por uma depois da Segunda Guerra Mundial. Americanos e fechado e censurado”. comissão, nomeada pelo Presidente Eurico Gaspar europeus perceberam que a ciência e a tecnologia Dutra em 1949, sendo formada por 22 cientistas e usadas nos conflitos poderiam contribuir para o de- dirigida pelo almirante Álvaro Alberto Motta e Silva, senvolvimento. Um exemplo disso é o setor da avia- primeiro presidente do órgão de fomento. ção. A adaptação da tecnologia bélica à agricultura e à indústria fizeram a ciência ser vista de forma posi- “Durante alguns anos, “Esses processos revelam a relação entre o campo tiva e a serviço da sociedade. científico e o Poder Público para institucionalizar o na década de 1970, fomento à pesquisa científica e tecnológica e possibi- “Isso ajudou, de certa maneira, no processo de insti- as reuniões anuais da litar a constituição das universidades. Por outro lado, tucionalização da atividade científica e, portanto, no SBPC representaram o isso mostra também a capacidade de intervenção, da fomento à pesquisa no Brasil. Foi nesse sentido que, referida comunidade acadêmica, em ter suas deman- em maio de 1948, um grupo de cientistas decidiu ins- único foro aberto para das atendidas, isto é, a busca de reconhecimento por tituir a atual Sociedade Brasileira para o Progresso discussões de qualquer parte de outros campos (político, econômico, entre da Ciência (SBPC) sem fins lucrativos nem cor políti- espécie, em meio a um outros) para sua expansão e consolidação”, analisa co-partidária, que se voltou para a defesa do avanço O jurista e escritor Anísio Teixeira a socióloga Andreia Santos. foi um notório defensor da científico e tecnológico e do desenvolvimento educa- regime político fortemente universalização da educação cional e cultural do Brasil”, explica a socióloga An- fechado e censurado” dreia Santos.

14 Inovação & Desenvolvimento | a r e v is ta d a fa c ep e Inovação & Desenvolvimento | a r e v is ta d a fa c ep e 15 A busca constante da comunidade científica por res- está a de provar que o fortalecimento da ciência e paldo passa pelo reconhecimento da sociedade. E tal tecnologia é capaz de impulsionar outros setores reconhecimento só ocorre quando a sociedade as- essenciais para o crescimento econômico como agri- socia as práticas científicas ao progresso de todos. cultura, indústria, infraestrutura e saúde. Um exem- “É esse reconhecimento que permite aos cientistas plo disse é o agronegócio que se consolidou e se ex- alcançar prestígio social e atrair apoio financeiro”, pandiu como um dos pilares da economia brasileira salienta Schwartzman. graças a investimentos em pesquisa.

Além das agências de fomento, outra ação estraté- gica adotada pela comunidade científica brasileira Luta por democracia construiu ambiente NOTÁVEIS CIENTISTAS PERNAMBUCANOS político para criação da Facepe

A história da ciência em Pernambuco permitiu a formação de nomes de pesquisadores e pesquisadoras co- nhecidas e reconhecidas internacionalmente nas mais diversas áreas do conhecimento. Veja na galeria abaixo: Um dos personagens mais emblemáticos da história sua campanha eleitoral era composta por pessoas da Facepe é o ex-governador de Pernambuco Miguel vinculadas às universidades e alguns desses intelc- Arraes. O início da trajetória da agência de fomento tuais ocuparam cargos públicos no governo estadu- à pesquisa no estado está intimamente ligada a um al, sendo responsáveis por ações da gestão nessa dos episódios marcantes da vida política do líder so- área. cialista. Este grupo de intelectuais em torno de Arraes era A ditadura militar cassou o primeiro mandato do en- formado por gente que já conhecia a importância tão governador iniciado em janeiro de 1963 e sus- do fomento à pesquisa inspirados em órgãos como penso em abril de 1964. Arraes foi obrigado a buscar o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico Aggeu Magalhães Celso Furtado Fernando Figueira Gilberto Freyre João de Vasconcelos exílio que terminou em 16 de agosto de 1979. Neste e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoa- Médico Economista Médico Sociólogo Sobrinho - Agrônomo mesmo ano, o governo do general João Batista Fi- mento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Fun- gueiredo promulgou a Lei da Anistia. As imagens do dação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo desembarque de Arraes no Aeroporto dos Guarara- (Fapesp). pes no Recife e a comoção popular em recebê-lo são um símbolo do começo do declínio do regime auto- ritário.

José Leite Lopes Josué de Castro Mário Schenberg Nelson Chaves Com o retorno ao país de personalidades antes per- Físico Geógrafo Físico Nutricionista seguidas pelo regime militar, muitas delas se torna- ram expoentes de luta por democracia e outras cau- sas populares. O fim da ditadura em 1985 fez muitas dessas personalidades se credenciaram a disputar cargos eletivos. Foi neste contexto que Miguel Arra- es, eleito em 1986, voltou a ser governador de Per- nambuco pela segunda vez. Paulo Freire Pe. Paulo Meneses Suely Galdino Ulisses Pernambucano O ex-governador Pedagogo Filósofo Farmacêutica Psiquiatra A eleição de Arraes estimulou a discussão sobre a de Pernambuco, Miguel Arraes, Ciência e Tecnologia no campo politico. A equipe da idealizador da FACEPE.

16 Inovação & Desenvolvimento | a r e v is ta d a fa c ep e Inovação & Desenvolvimento | a r e v is ta d a fa c ep e 17 O contexto da redemocratização também impulsio- a diversidade. A base da constituição era muito forte nou avanços na institucionalização do fomento à nessa questão da diversidade e a Ciência tinha que pesquisa no Brasil. “Com a reabertura democrática ter um protagonismo nisso”, analisa Lúcia. no cenário político e a partir da Constituição Federal de 1988, houve a criação de leis, decretos e constitui- Ainda de acordo com a ex-presidente da Facepe, na ções estaduais, visando, dentre outras questões so- época a SBPC tinha um peso político significativo ciais, possibilitar e garantir fundos permanentes para para reivindicar que os estados destinassem à pes- fomento à pesquisa. Daí, então, a formação e atuali- quisa recursos previstos em leis orçamentárias. Uma zação de um sistema nacional de ciência e tecnologia causa inspirada no que já era realidade em São Pau- passaram a ser uma necessidade contínua e cres- lo. “São Paulo tinha uma prerrogativa que nenhum cente em que a produção, transferência e utilização outro estado tinha que era vinculação orçamentária do conhecimento conduzissem ao desenvolvimento para a Ciência, que era a Fapesp. A Fapesp já tinha econômico e social em outros moldes, inclusive mais naquela época um percentual do orçamento do esta- democráticos”, analisa a socióloga Andreia Santos a do. E por que os outros não tinham? Porque não era partir de levantamento feito a partir dos registros or- obrigatório”. ganizados por Maria das Graças Andrade Ataíde de Almeida e Maria de Fátima Cavalcanti Cabral (2005). Vale salientar que a campanha liderada nacional- mente pela SBPC tinha força nos estados a partir de Ainda do ponto de vista constitucional, vale destacar suas representações locais. A unidade de Pernam- a emenda apresentada pelo então deputado Flores- buco teve um papel importante na criação da Face- tan Fernandes (PT-SP), que resultou no artigo 218 do pe. “Em 1985 nós começamos o movimento entre os A assinatura de criação da Facepe. À esquerda o ex-governador Miguel Arraes, ao lado, o primeiro 5° parágrafo da Carta Magna de 1988: “É facultado professores para fazer proposta, para que o governo presidente da Facepe, Sebastião Simões Filho. aos estados e ao Distrito Federal vincular parcela de Pernambuco tivesse uma política de financiamen- de sua receita orçamentária a entidades públicas de to da pesquisa. Aí, então, Arraes foi eleito e esse gru- fomento ao ensino e à pesquisa científica e tecnoló- po acabou sendo convidado a redigir propostas con- gica”. cretas. E nós fizemos uma proposta de se criar uma Fundação Estadual de Apoio à Pesquisa, a exemplo O notório grupo contava com a participação de Sér- ências (ABC), ele entrou no Instituto de Química da A partir dessa regulamentação constitucional, os es- da Fapesp, que é o grande exemplo de instituição gio Rezende, Tânia Bacelar, Luiz Antônio Marcuschi, USP, mas concluiu a graduação no bacharelado de tados estavam legalmente amparados para destinar estadual. Escrevemos isso no programa de Arra- Lúcia Melo, Abraham Sicsú, Ricardo Ferreira, André Química da Universidade Católica de Pernambuco percentuais de suas receitas às fundações de apoio es”, conta Sérgio Rezende, um dos idealizadores da Furtado, entre outros. Sérgio atuou como diretor em 1952. Foi professor da UFPE, desenvolveu pes- à pesquisa. A iniciativa atendia a uma intensa reivin- agência pernambucana. científico da Facepe entre os anos de 1990 e 1992. Foi quisas em universidades americanas e se tornou dicação da Sociedade Brasileira para o Progresso da secretário estadual de Ciência e Tecnologia e mais uma referência para a comunidade científica. Faleceu Ciência e de grupos como o Movimento de Ciência e A ideia de implantar um fundo para a Ciência e Tec- tarde se tornou ministro de Ciência e Tecnologia, de aos 85 anos em 30 de julho de 2013. Tecnologia na Constituinte para o Desenvolvimento nologia em Pernambuco é anterior à promulgação da 2005 a 2010, no Governo Lula. Social. Para Lúcia Melo, a Constituição de 1988 bus- Constituição Federal de 1988, uma vez que os pro- Outros cientistas participaram das ações que re- cou estabelecer uma discussão sobre o papel da Ci- fessores começaram na década de 1970 a lutar por Já a economista Tânia Bacelar atuou por 30 anos na sultaram na fundação da agência pernambucana. ência para a sociedade. melhores condições de trabalho dentro das universi- Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste “A Facepe foi uma construção coletiva com muitas dades, o que deu origem às associações de docentes (Sudene), uma trajetória marcada pelo combate à pessoas que se envolveram, muita gente envolvida “A Ciência deve servir à cidadania, a Ciência deve se (sindicatos), a exemplo da Associação dos Docentes desigualdade social. Outro entusiasta da criação da desde a gênese da Facepe, que era a ideia, a vontade envolver com as questões do Brasil e da população da Universidade Federal de Pernambuco (Adufepe) Facepe era o professor Marcuschi. Pesquisador re- de ter uma Fundação aqui até ela acontecer, depois brasileira. Então esse entendimento no contexto da em 1979. Por isso, a busca por recursos para a pes- nomado da área de Letras e Linguística da Universi- até ela aprimorar, até ela evoluir! Então tem muita Constituição é muito interessante, é muito impor- quisa já era uma demanda dos professores envolvi- dade Federal de Pernambuco. gente esteve tanto na direção como nos bastidores tante. Não foi lobby da comunidade para ter dinheiro dos na campanha para governador de Miguel Arraes da criação da Facepe. Foi uma agenda muito forte do não! É porque havia uma certa compreensão que no e do seu programa de governo. O químico recifense Ricardo Ferreira, nascido em ponto de vista político”, analisa a ex-secretária esta- ambiente de uma Constituição Cidadã, que dava todo 1928, é reconhecido internacionalmente por ser um dual de Ciência, Tecnologia e Inovação Lúcia Melo, espaço para identidade, para igualdade, para hete- A força política da atuação da comunidade científica dos fundadores da ciência moderna brasileira. De que presidiu a agência pernambucana entre os anos rogeneidade da população brasileira, tudo que atu- local fez o governo federal instalar em Pernambu- acordo com registros da Academia Brasileira de Ci- de 1995 e 1998. almente está se criticando a Constituição valorizava, co a Agência Nordeste do CNPq, quase uma década

18 Inovação & Desenvolvimento | a r e v is ta d a fa c ep e Inovação & Desenvolvimento | a r e v is ta d a fa c ep e 19 antes da Facepe. A socióloga Andreia Santos conta havia gente aqui mobilizada, ligada, competente, mas que a representação regional do CNPq foi criada em não se pode dizer que a existência dessas pessoas 1980 “destinada a atender às particularidades da e desse movimento, fosse suficiente para produzir Região para equidade no desenvolvimento de pes- isso. Quer dizer, se não houvesse, não tivesse a gran- quisas, sendo extinta no primeiro ano do mandato do de mobilização nacional e discussão disso na consti- presidente Fernando Collor de Melo. A implantação tuição provavelmente a Facepe não existiria”. dessa Agência em Pernambuco revela a liderança e o protagonismo da comunidade científica e do Estado A combinação de lutas históricas das comunidades na região”. científicas nacional e de Pernambuco fez do estado um dos pioneiros no País na institucionalização da Outro pesquisador que esteve envolvido no processo pesquisa. A Facepe é a primeira fundação estadu- Linha do tempo - Facepe de criação da Facepe foi o Prof. Dr. Ivon Fittipaldi. Ele al de apoio à pesquisa (FAP) do Nordeste. Somen- relembra como a articulação política durante a cam- te mais de dez anos depois, a Bahia criou a Fapesb panha de Arraes resultou na lei estadual que prevê (2001) e Sergipe a Fapitec (2005). Os fatos marcantes que entraram para a história da Facepe destinação de parte do orçamento para o fomento à pesquisa. “A gente propõe a criação uma fundação de “Pernambuco sempre foi uma referência no Nordes- amparo à pesquisa no Estado de Pernambuco. Ele de te. A presença da universidade é muito forte, muitos pronto gostou da ideia e criou-se então o capítulo 4 alunos de outros estados vinham estudar aqui. Den- da constituição do Estado de Pernambuco, que fala tro do Nordeste ele sempre teve um protagonismo sobre a Ciência e Tecnologia e lá prevê a criação de relevante e a comunidade científica de Pernambuco uma fundação. Essa fundação então teria uma do- também tinha um protagonismo muito grande. Então, tação orçamentária. Nessa constituição diz que nós eu diria que ela foi uma protagonista da redemocra- teríamos direito de 1% da receita orçamentária do Es- tização e ela soube cunhar a bandeira da prioridade tado de Pernambuco. A gestão desse fundo estaria a do investimento em ciência e tecnologia. Ela ajudou cargo de uma fundação. Isso é o que está na consti- muito processo de criação tanto da Secretaria de Ci- tuição brasileira”, conta Ivon que foi diretor científico ência e Tecnologia como depois da Facepe. Eu credi- da Facepe entre 1999 e 2003. Ele também foi diretor to isso ao político, no caso do Governador da época, da Representação do Ministério da Ciência e Tecno- Miguel Arraes, mas credito também a esses outros logia no Nordeste. dois movimentos, o movimento de redemocratização e a presença da liderança acadêmica nesse proces- O ex-presidente da Facepe entre 2007-2014, Diogo so”, analisa a economista Tania Bacelar, que atuou Simões, reforça que a junção da mobilização nacio- como secretária da Fazenda e de Planejamento no nal e a atuação da comunidade científica pernambu- governo Arraes (1987-1990). cana produziram as condições ideais para a criação da agência de fomento. “A gente não deve se esque- “A comunidade de Pernambuco era a mais forte que cer que essa luta por assegurar regularidade ao fi- tinha no Nordeste. Estava envolvida com esses Pla- nanciamento das atividades de ciência e tecnologia, nos Setoriais e que estava muito antenado com o que era algo que precedeu a criação da Facepe e tinha estava acontecendo em Brasília. É interessante isso caráter nacional, uma dimensão nacional. Foi ela que porque eu acho que a época de 1980 a 1990 foi uma se alimentando, digamos, do que nessa matéria já se época muito rica para a Ciência e Tecnologia porque tinha sido feito desde os anos 50 com a criação do foi a época da redemocratização”, relembra o profes- CNPq, com a criação da Fapesp, etc. Mas em 1988 na sor Abraham Sicsú, ex-presidente da Fundação entre discussão, nos anos que antecederam à constituição, 2014 e 2019 e que atuou como superintendente da a nova constituição brasileira, então foi ali que se Agência Nordeste do CNPq de 1985 a 1989. deu o passo fundamental ao inserir aquele dispositi- vo que permite aos estados a vinculação de parcela de sua receita, ao desenvolvimento. Então, claro que em Pernambuco, nós podemos sair na frente porque

20 Inovação & Desenvolvimento | a r e v is ta d a fa c ep e Inovação & Desenvolvimento | a r e v is ta d a fa c ep e 21 Linha do tempo - Facepe

Candidatura de Miguel Arraes ao Governo do Estado e a elaboração Primeiro concurso de uma proposta de público para Novo Marco Legal de Instituição da Apoio a Programas Ciência e Tecnologia provimento de Inovação. Revogando Diretoria de Inovação de Formação em para Pernambuco que cargos do quadro a Lei de Inovação do e criação do Prêmio Engenharia incluiu a criação de Promulgação da Convênio com o Convênio com a próprio de pessoal e estado de Pernambu- Naíde Teodósio de Automotiva em uma secretaria e de Constituição de CNPq para a Fapesp para o ampliação dos co (13.690/2008) Estudos de Gênero parceria com o uma agência de Pernambuco e implantação do Programa Genoma acordos de através da Lei em parceria com a Instituto Politécnico fomento. criação da Facepe. Pibic da Cana de Açúcar. cooperação Complementar nº 400 Secretaria da Mulher di Torino, na Itália. internacional de 18/12/2018

1986 1989 1995 1999 2007 2011 2015 2018

1988 1990 1997 2003 2008 2014 2016 2019

Emenda Constitucional O químico industrial 1ª Jornada de Criação da Bolsa de Florestan Fernandes Sebastião Simões Iniciação Científica e Incentivo Acadêmico Apoio a Estudos e Consolidação da área Apoio para pesquisas Editais de Combate à que originou o artigo Filho assume como Instituição do Prêmio (BIA) e a de Coopera- Pesquisa para de inovação com sobre Zika Vírus e a Contaminação por 218 - dispositivo legal primeiro presidente da Ricardo Ferreira ção Técnica (BCT), Políticas Públicas lançamento do microcefalia Petróleo. que permite estados Fundação. O primeiro Firmatura de Estaduais: Segurança Pesquisador na destinar percentuais diretor científico foi Convênio com o Pública, Prevenção e Empresa de Pernambu- preestabelecidos de Sérgio Rezende que, CNPq para o Pronex, Controle da Dengue e co (Pepe) e da suas receitas às anos mais tarde, veio a PPP e DCR, além do Erosão Costeira Subvenção Econômica agências de fomento à se tornar ministro da Pibic Júnior. a Microempresas e pesquisa. Promulgação Ciência e Tecnologia Empresas de Pequeno das Constituição do na gestão Lula. Porte – Tecnova. Brasil.

22 Inovação & Desenvolvimento | a r e v is ta d a fa c ep e Inovação & Desenvolvimento | a r e v is ta d a fa c ep e 23 auxílios concedidos e os resultados das pesquisas, “A formação desses pesquisadores dirigentes (Pre- providenciando sua divulgação. Também é função sidente e Diretor Científico) somada às relações fir- do Conselho Superior homologar as indicações dos madas na carreira, por meio de sua atuação no meio membros das Câmaras de Assessoramento e Avalia- acadêmico/científico, oportuniza, em certa medida, o ção, propostas pelo Diretor Científico e pelo Presi- acesso ao referido cargo. A experiência na área de dente, e aprovar e modificar o Regimento Interno da Ciência e Tecnologia adicionada à competência e o Instituição. reconhecimento dos pares são de suma importância para estar à frente do referido órgão de fomento”, O cargo de Presidente é uma indicação política reali- analisa a socióloga Andreia Santos. zada pelo Governador do Estado a cada quatro anos. Gestão com participação da De modo geral, o cargo é ocupado por um professor- A Diretoria de Inovaçao compartilha com a Científica -pesquisador, com titulação de doutor ou atuação a gestão de programas de C,T&I, além de buscar so- equivalente, vinculado a uma instituição de ensino luções e fomentar projetos a partir do relacionamen- comunidade científica ou centro de pesquisa localizado em Pernambuco. to com empresas. Já a Diretoria de Gestão Adminis- trativa e Fincanceira está responsável, entre outras A gestão superior da Facepe é auxiliada por três di- atividades, pela tecnologia da informação, prestação retorias: a Científica, a de Inovação e a de Gestão Ad- de contas, finanças, patromônio e gestão de convê- Uma das marcas da história da Facepe é a participa- O Estatuto da Facepe diz que “poderão ser eleitos ministrativa e Financeira. A primeira desenvolve uma nios e de pessoas. ção direta de membros da comunidade científica per- os pesquisadores que já obtiveram classificação ní- das atividades-fim da Fundação que é a de coorde- nambucana em sua gestão superior. A Presidência, vel um do Conselho Nacional de Desenvolvimento nar e implementar a política de fomento à ciência, à juntamente com as diretorias, o Conselho Superior Científico e Tecnológico ou aqueles de notório saber tecnologia e à inovação estabelecida pela Facepe, e a Câmara de Assessoramento e Avaliação contam científico, reconhecidos nacionalmente, a critério do acompanhando a execução dos programas e se arti- com a atuação de cientistas e pesquisadores dos Conselho Superior”. culando com instituições para propor ao Presidente mais variados campos do conhecimento. as diretrizes de apoio à pesquisa e à formação de re- Ainda de acordo com o Estatuto, os outros dois con- cursos humanos. O Conselho Superior é formado por dez integrantes, selheiros são “representantes do setor empresarial sendo quatro conselheiros indicados diretamente designados pelo Governador do Estado entre pesso- É a Diretoria Científica que deve também indicar à pelo Governador do Estado. Gente com notória repu- as com reconhecida atuação em ciência, tecnologia Presidência os nomes aptos para compor a Câmara tação científica e tecnológica de diferentes áreas. Do ou inovação, indicadas por entidades de representa- de Assessoramento e Avaliação e coordenar os pro- total indicado pelo Chefe do Executivo Estadual, dois ção empresarial”. Essa representatividade empresa- gramas técnico-científicos através de bolsas e auxí- conselheiros devem ser pesquisadores em atividade rial foi aumentada há dois anos. O Decreto N° 44.270, lios. O Estatuto Facepe determina ainda que cabe à técnica nas entidades de pesquisa que integram a de 30 de Março de 2017, acrescentou dois conselhei- Diretoria Científica manter e supervisionar o sistema Administração Estadual, a exemplo da Fundação de ros do setor empresarial e o tempo do mandato pas- de informações referentes aos incentivos financeiros Hematologia e Hemoterapia de Pernambuco, Insti- sou de três para seis anos. concedidos, consultas técnico-científicas, atualizar Reunião do Conselho Superior tuto de Pesquisas Agronômicas, do Laboratório Far- da Facepe, realizada em os dados sobre as unidades de pesquisa do Estado setembro de 2019. macêutico do Estado de Pernambuco, da Universida- A política e as prioridades da Facepe são determina- e averiguar as pesquisas realizadas, identificando as de de Pernambuco entre outros órgãos. das pelo Conselho Superior, cabendo também a ele que são financiadas pela Fundação. aprovar os planos anuais e plurianuais de atividades, Outros quatro pesquisadores de outras áreas do co- inclusive propostas orçamentárias, gestão patrimo- A escolha do Diretor Científico se dá por escolha a nhecimento devem ser representantes das institui- nial e financeira da Fundação. Isso inclui as seguintes partir de uma lista tríplice com critérios específicos ções públicas de ensino e pesquisa sediadas no Es- atribuições: aprovação do Plano de Cargos, Carreiras estabelecidos pela Fundação através de edital (cha- tado. Eles são eleitos por integrantes dos colegiados e Salários da Fundação, submetendo-o à apreciação mada pública). Para que um pesquisador seja candi- dos programas de pós-graduação que tenham, no do Governador do Estado; apreciação dos relatórios dato e venha a ser eleito pela própria academia deve mínimo, conceito quatro da Capes. A eleição é coor- e contas do exercício anterior, mediante parecer do ser inicialmente uma indicação de um grupo forma- denada por uma comissão indicada pelo Secretário Conselho Fiscal, bem como o relatório anual das ati- do por, no mínimo, dez pesquisadores atuantes, que Executivo do Conselho. vidades da Fundação e, em especial, a aplicação dos reconhecem naquele nome um representante da co- munidade científica e ser bolsista de produtividade nível 1A do CNPq.

24 Inovação & Desenvolvimento | a r e v is ta d a fa c ep e Inovação & Desenvolvimento | a r e v is ta d a fa c ep e 25 dor. Vale salientar também a oposição sistemática do torado, um maior investimento nos auxílios e bolsas de Governo Federal do presidente Fernando Henrique fluxo contínuo, bem o estabelecimento de parcerias, Cardoso (PSDB) e do seu vice Marco Antônio Maciel cooperações e convênios com instituições nacionais e (PFL) ao então governo de Miguel Arraes. internacionais. “Cabe destacar ainda que as ações da Fundação se alinhou com a política desenvolvida pelo Aliado às políticas federais conduzidas pelo presi- Ministério da Ciência e Tecnologia, tendo em vista o dente Fernando Henrique Cardoso, o governador do Plano de Ação em C,T&I”, frisa Andreia Santos. Estado de Pernambuco (1999- 2006) reproduziu localmente a conjuntura de Brasí- De acordo com dados da Capes, Pernambuco tem lia, o que reduziu os investimentos na Facepe. Este hoje 81 programas de mestrado e doutorado, 56 de cenário de poucos investimentos perdurou mesmo mestrado, 28 de mestrado profissional e dois de dou- quando Luís Inácio Lula da Silva (PT) assumiu o poder torado, totalizando 161 programas. Os números re- A Facepe dribla as dificuldades na em 2003. “Mesmo com as mudanças ocorridas no di- velam ainda que o Estado formou 23.850 mestres e recionamento político partidário, a Facepe continuou doutores nos últimos dez anos. Esses dados são de oscilação de recursos enfrentando dificuldades quanto ao valor repassado grande importância para as ações desenvolvidas pela pelo governo estadual. Apesar da regularidade de re- Facepe no que se refere ao Programa de Bolsas de cursos, os valores só passaram a aumentar vertigino- Pós-Graduação, iniciado em 2006 e reconfigurado samente em em decorrência do modelo político e de em 2008, quando a Fundação ofertou 280 bolsas de A luta pela garantia de recursos para a pesquisa faz que a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado gestão adotados pelo governador Eduardo Campos, mestrado e 150 de doutorado, com um investimento parte da história da Fundação pernambucana. A cria- de Pernambuco foi extinta em 1991, sendo recriada, que passou a apostar num tipo de ação estatal bali- de R$ 5,4 milhões. Ao longo desses anos de funcio- ção, ainda que por lei, de uma agência de fomento não depois da pressão de acadêmicos, dois anos depois, zada no que alguns vão denominar de neo-desenvol- namento, motivada principalmente pelo crescimento era suficiente para ganrantir o bom andamento das em 1993”, relembra Andreia Santos. De acordo com vimentismo, seguindo a linha do então Presidente da da quantidade de Programas de Pós-Graduação em políticas públicas de ciência e pesquisa. Era preciso Frederico Toscano, durante esta gestão, a Facepe re- República Luís Inácio Lula da Silva”, analisa Andreia Pernambuco e consequente entrada de mais alunos mecanismos para tirar a Fundação do papel e essa cebeu valores anuais que variaram ao equivalente a Santos. na pós-graduação, a Fundação aumentou a quanti- materizalização só seria possível com dotação orça- US$ 843.000 e US$ 2.000.000,00. Dinheiro que veio dade de novas bolsas ofertadas semestralmente e mentária garantida por lei. de convênios com órgãos do Governo Federal. Ainda de acordo com a socióloga, o fato de Eduar- reajustou os valores mensais das mesmas. Em 2015, do Campos ter sido ministro da Ciência e Tecnologia a Facepe concedeu 350 novas bolsas de mestrado e Graças a este instrumento legal, os recursos obtidos “Na realidade, o novo quadro político, a crise de inves- entre os anos de 2004 e 2005, durante o primeiro 190 de doutorado, destinando R$ 35 milhões de in- pela Facepe têm sido perenes, mesmo oscilando a de- timentos de recursos financeiros e o Impeachment do Governo Lula, permitiu acumular experiência e sen- vestimento em pós-graduação para o período de 2015 pender da situação econômica do País e do Estado. Os presidente Fernando Collor em 1992 contribuiu, deci- sibilidade na área, “bem como estreitar seus elos com a 2019. A agência de fomento à pesquisa vem desde investimentos feitos antes do Plano Real não foram didamente, para esse quadro negativo”, complementa a comunidade científica, assim como havia realizado 2017, em cooperação técnica com a Capes, conceden- corrigidos para a moeda atual. As planilhas em real Andreia. seu avó Miguel Arraes décadas antes. Esse contato e do o total de 300 bolsas de mestrado e 160 de douto- mostram os recursos destinados à agência a partir valorização do campo político em relação ao científico rado na primeira rodada, para os discentes egressos de 1995. As verbas liberadas pelos gestores que es- O retorno de Miguel Arraes de Alencar (PSB) para foi uma marca da gestão Eduardo Campos”. nos Programas no primeiro semestre e 50 bolsas de tiveram a frente do Governo do Estado de Pernam- governar Pernambuco, entre 1995 e 1998, aconteceu mestrado e 30 de doutorado na segunda rodada para buco após a implantação do Plano Real não sofreram dentro desse cenário de grave crise e se agravou com A primeira gestão de Eduardo Campos (2007-2010) os cursos que iniciam no segundo semestre. Apesar grandes alterações, sendo o ano de 1997 o de maior o caso dos precatórios. “Esta gestão seria marcada foi responsável por 72,3% de tudo o que foi aplicado de uma trajetória animadora, a atual crise política e volume de recursos para auxílios financeiros e bolsas por denúncias de emissão irregular de precatórios, na Fundação desde 1995. Em termos absolutos, dos enconômica brasileira provoca consequências nos in- concedidas na década de 1990. operação que se constitui na emissão de títulos públi- mais de 112 milhões de reais (R$ 112.339.164,95) que vestimentos em pesquisa em Pernambuco. Em 2018, cos para pagamento de dívidas judiciais. Respaldado o Governo de Pernambuco destinou à Facepe, Eduar- houve uma queda no montante liberado pelo tesouro Nesse período o país atravessava uma nova crise por uma lei estadual, que autorizava o pagamento de do Campos investiu mais de oitenta e um milhões de estadual. econômica. Em Pernambuco, isso não foi diferen- salários de funcionários, obras e outros encargos pú- reais (R$ 81.233.963,36). Ou seja, em quatro anos de te. Impactada pela queda na economia, a gestão do blicos, com os recursos provenientes dos precatórios, mandato, aplicou e articulou mais verbas para a Face- Mesmo garantida por lei desde a sua criação, a libe- governador eleito em 1990 pelo antigo PFL (atual o governo emitiu 408 mil títulos e arrecadou R$ 402 pe do que nos 11 anos anteriores ao seu governo. ração de recursos para a Facepe não se deu de for- DEM), Joaquim Francisco, fez investimentos reuzidos milhões”, conta Lúcia Gaspar no livro Miguel Arraes ma contínua, apresentando escassez e irregularidade em diversas áreas, o que repercutiu na área de Ciên- de Alencar. O caso foi bastante explorado nas elei- Esse novo direcionamento politico promoveu a con- em vários períodos da instituição, mas a comunidade cia e Tecnologia. “Sobre esse período, vale destacar ções de 1998, da qual Jarbas Vasconcelos saiu vence- solidação do Programa de Bolsas de Pós-Graduação, científica buscou formas de enfrentamento. “A Lei que através da concessão de bolsas para mestrado e dou- instituiu a Fundação, com dotação de no mínimo 1%

26 Inovação & Desenvolvimento | a r e v is ta d a fa c ep e Inovação & Desenvolvimento | a r e v is ta d a fa c ep e 27 da receita orçamentária do Estado funcionou bem “A política científica praticada pela Facepe é madu- nos dois primeiros anos, mas não foi cumprida e fi- ra, no sentido de que ela não se exerce de maneira cou muito mais na dependência da vontade política acrítica e no sentido de que ela não é errática. Ela é do governante em exercício”, destaca a pesquisadora orientada por objetivos de política pública, de política Andreia Santos. científica mais ampla e, portanto, não é algo que se Curtas: as curiosidades e os projetos de improvise. Por isso, eu reivindico para essa política o No entanto, outro importante marco da história da adjetivo maduro. Acho que ela é objeto de uma refle- Facepe quanto à garantia de recursos foi a Emenda xão e de um planejamento. Portanto, ela merece, pelo sucesso da Fundação Constitucional n° 38 de 16 de dezembro de 2013, que menos, ser considerada enquanto tal”, avalia o pro- trouxe na Constituição uma dotação anual em valor fessor Diogo Simões, ex-presidente da agência entre equivalente a, no mínimo, cinco décimos por cen- 2007 e 2014. to da receita de impostos. Entre 2013 e 2018 houve 10 Jornada Fábrica da Jeep 1 uma manutenção no repasse de recursos por parte Os investimentos realizados pela Fundação geraram A primeira jornada de Iniciação Científica promovida A qualificação da mão de obra pernambucana para do Governo Estadual. Dados da Secretaria de Ciência, grande impacto no desenvolvimento científico, tecno- pela Facepe foi realizada em julho de 1997. O prêmio atuar na fábrica da Fiat-Chrysler em Goiana contou Tecnologia & Inovação (Secti) revelam que em 2015, lógico e de inovação no Estado, contribuindo de for- recebeu o nome de Ricardo Ferreira, notório pro- com a participação da Facepe. Em março de 2011, o os recursos totais alcançaram o montante de R$ 54,7 ma determinante na formação de recursos humanos fessor de Química da Universidade Federal de Per- então governador Eduardo Campos firmou parceria milhões, sendo 85,5% (R$ 46,8 milhões) provenien- qualificados, na atração e fixação de pesquisadores, nambuco que deu relevante contribuição à Ciência com a multinacional automotiva e a Universidade Po- tes do tesouro estadual, 11,6% repassados do governo além de aplicar recurso em pesquisas voltadas para pernambucana. A então bolsista da UPE, Ana Carine litécnico de Turim para que estudantes de engenha- federal (incluindo CNPq, Capes, MCTI, Finep, entre ou- a solução de problemas de Pernambuco, indo desde Valetin, conquistou o primeiro lugar com o trabalho ria das universidades públicas do Estado pudessem tras) e 2,9% referem-se a outras fontes de recursos, o combate às arboviroses ou na prevenção de aciden- Purificação e Caracterização Parciais da Lectina da concluir seus estudos na Itália. O edital que selecio- como convênios com outras Secretarias de Governo, tes com tubarões, além de direcionar recursos para Svartzia Pickellii Killip (jacarandá branco). nou os contemplados saiu por meio da Fundação e Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA) e Agência projetos no Interior e nos arranjos produtivos locais. O da Secretaria de Qualificação, Trabalho e Empreen- Pernambucana de Águas e Clima (Apac). Um acordo resultado desses investimentos se mostra no desen- Combate ao Zika 1 dedorismo. de cooperação técnica e acadêmica firmado entre a volvimento do Estado e da sociedade. Um caminho A Facepe financiou a pesquisa que resultou na des- Capes e a Facepe para o período 2016-2022 prevê que a Facepe vem trilhando ao longo de seus 30 anos coberta de uma substância capaz de bloquear a pro- Fábrica da Jeep 2 orçamento de R$ 45,1 milhões, sendo 36% de contra- de existência. dução do Zika vírus em células da pele e do cérebro. Ao longo dos anos, a Facepe teve participação inten- partida da agência pernambucana. A Fundação destinou um milhão de reais por meio do sa nas ações do Governo do Estado na qualificação edital 004/2016 de combate emergencial à doença. profissional para atender as demandas da fábrica da Também houve recursos do Conselho Nacional de Fiat-Chrysler. Em maio de 2015, firmou convênio de Evolução do orçamento efetivamente desembolsado da Facepe (R$ milhões) Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e cooperação técnica para o fortalecimento da capaci- da Secretaria Estadual de Saúde. O estudo foi de- tação tecnológica em desenvolvimento de motores 60 senvolvido por cientistas da Fundação Oswaldo Cruz de combustão interna, híbridos e elétricos. O convê- (Fiocruz-PE). A descoberta foi anunciada em agosto nio foi resultado do Programa de Apoio a Parcerias 50 48,43 48,40 de 2017. para a Inovação Tecnológica e a Formação Qualifica- 45,84 45,37 43,34 43,02 43,03 da. Por meio de edital, a Facepe investiu 425 mil reais 41,74 Combate ao Zika 2 e a Fiat-Chrysler 518 mil reais. 40 No auge da epidemia do vírus da Zika em Pernam- buco, a Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia & Biocombustíveis 30 29,35 Inovação investiu três milhões de reais para finan- Em março de 2008, um grupo de pesquisadores da 26,56 ciar pesquisas que desenvolvessem um protocolo de Facepe, IPA, Embrapa, Fundação Joaquim Nabuco e

19,73 diagnóstico rápido da doença. O edital saiu em parce- UFPE concluiu que a mamona e o algodão eram as 20 ria com a Secretaria Estadual de Saúde. Coube à Fa- espécies oleaginosas mais vantajosas para produzir cepe selecionar as pesquisas. Foram contemplados biocombustíveis. Foram pesquisados aspectos do

10 estudos que tinha como proposta o monitoramento, cultivo, produção de óleo e capacidade de fabricar 6,00 prevenção e minimização do efeito da doença. subprodutos. O estudo teve financiamento da Petro- 2,79 3,36 2,31 bras visando atender à demanda da Refinaria Abreu 0 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 e Lima, construída no Complexo de Suape.

28 Inovação & Desenvolvimento | a r e v is ta d a fa c ep e Inovação & Desenvolvimento | a r e v is ta d a fa c ep e 29 Marco Legal CT&I Parqtel Genoma da cana Interiorização A Facepe participa ativamente dos debates sobre o Localizado no bairro do Curado, Zona Oeste do Re- A Facepe, o Ministério da Ciência e Tecnologia e a Em abril de 2019, a Facepe lançou o edital do Pro- Marco Legal da Ciência, Tecnologia & Inovação. Em cife, o Parque Tecnológico de Eletro-Eletrônica de Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de São grama de Desenvolvimento Científico, Tecnológico março de 2016, o seminário intitulado Entendendo o Pernambuco tem área de 60 mil metros quadrados Paulo firmaram parceria para desenvolver pesquisa e Regional (PDCTR). Houve ofertas de bolsas pós- Novo Marco Legal da CT&I contou com a participação e foi lançado na última gestão de Miguel Arraes, em de sequenciamento do DNA da cana-de-açúcar. O -doc. O edital prevê a concessão de 20 bolsas em da então secretária estadual da área, Lúcia Melo, e 1996. O modelo de gestão do ParqTel visa o desen- laboratório do chamado Projeto Genoma da Cana de 2019, outras 16 em 2020 e mais dez em 2021. Podem do então presidente da Facepe, Abraham Sicsú. volvimento de pesquisas e de centros de inteligência. Açúcar foi inaugurado em julho de 2000 na UFRPE. concorrer pesquisadores doutores nas vertentes Anos depois, em 11 de março de 2008, o então gover- O mapeamento do código genético permite o desen- interiorização e regionalização. Neste edital haverá Mulher nador Eduardo Campos lançou a pedra fundamental volvimento de uma cana mais produtiva e resistente pontuações extras para os critérios considerados As pesquisas fomentadas pela Facepe incentivam do Centro Administrativo do Parque. O investimento a pragas. prioritários pelo governo do estado de Pernambuco: o debate em torno do combate às desigualdades de inicial foi de 17,2 milhões de reais divididos entre a Fi- interiorização e engenharias. gênero e da defesa dos direitos das mulheres. Um nanciadora de Estudos e Projetos (Finep) e a Facepe, Aeropepe exemplo prático foi a parceria, em abril de 2015, para que arcou com 9,2 milhões de reais. O avião monomotor Flamingo, desenvolvido pela a realização do Prêmio Naíde Teodósio de Estudos de empresa pernambucana Aeropepe, utiliza a chama- Gênero. Foram distribuídos 40 prêmios entre tablets Porto Digital da tecnologia de fibra de carbono. O uso do material Curiosidade e quantias que chegaram a 20 mil reais a pesquisas, Em maio de 2001, a gestão do então governador de e o projeto aerodinâmico fazem do Flamingo uma das O primeiro projeto de pesquisa apoiado pela Facepe artigos científicos e trabalhos que abordaram um dos Pernambuco Jarbas Vasconcelos transformou o aeronaves mais seguras da categoria. O projeto teve foi coordenado pela Profª Drª Luana Cassandra Brei- 18 temas do edital. Além da Facepe, também foram Porto Digital em organização social com o objetivo apoio da Facepe. tenbach Barroso Colho. Até 2005, ela atuou como realizadoras do prêmio, as secretarias estaduais da de facilitar e acelerar a implantação de empresas de coordenadora do Doutorado em Ciências Biológicas Mulher, CT&I, Educação, Planejamento e Gestão, informática, comunicações e de transmissões de da- Divulgação científica da UFPE. Na formação de pessoal já orientou deze- Cepe, Fundarpe, Fundaj e IFPE. dos. Na época, a Secretaria de Ciência, Tecnologia e O Espaço Ciência firmou parceria com a Facepe nas de alunos de Iniciação Científica, 45 Mestres e Meio Ambiente (atual Secti) investiu dois milhões de para divulgação de trabalhos científicos. Em março 22 Doutores; co-orientou 13 Mestres e 12 Doutores; 10 Conselho Superior reais. A Facepe e a AD/Diper administraram os Fun- de 2018, a Fundação elaborou um edital específico supervisionou 5 Pós-Doutores. Atualmente é Pro- A primeira diretoria da Facepe foi nomeada em 27 de dos de Capital de Risco e Humano. destinado a projetos apresentados por professores fessora Pesquisadora da UFPE (Pesquisadora nível março de 1990, conforme publicação no Diário Ofi- de escolas públicas ou de Instituições de Ensino Su- 1B do CNPq). cial de Pernambuco. Presidente: Sebastião Simões Genética perior (IES) sem fins lucrativos. O valor total do edi- Filho; Conselheiros (as) do Conselho Superior: Silke A Facepe foi uma das investidoras do laboratório de tal foi de 500 mil reais distribuídos entre exposições Intercâmbio na Itália Weber; Lúcia Carvalho Pinto de Melo; Ricardo de Pró-genética construído na estação experimental do interativas, experimentos e exposições audiovisuais. Estudantes de engenharia de universidades pernam- Carvalho Ferreira; Manoel Abílio de Queiroz; André IPA, em Arcoverde. Em janeiro de 2012, o laboratório bucanas foram preparados em uma das principais Freire Furtado; Eliane Maria Pessoa de Melo; Alcides começou a desenvolver pesquisas para produzir sê- Popularização da Ciência universidades técnicas da Europa para trabalhar na Nóbrega Sial; e Gabriel Alves Maciel. men a partir das raças bovinas girolando e holande- O edital de Apoio a Atividades de Monitoria em Divul- indústria automotiva do Estado. Uma parceria entre sa com o objetivo de melhorar a produção pecuária gação Científica selecionou sete projetos apresenta- a Facepe e o Instituto Politecnico di Torino (Polito), na Gesso do Sertão do Estado. dos por centros e museus de ciências de Pernambu- Itália, já formou 20 engenheiros automotivos. Des- O desenvolvimento do Polo Gesseiro de Pernambuco co. Foram concedidas bolsas de cooperação técnica ses, 14 já foram contratados pela fábrica Fiat- Chrys- tem recebido importantes contribuições da Facepe. Pioneirismo eólico (BCT). Os projetos aprovados foram apresentados ler, em Goiana, na Zona da Mata Norte de Pernam- Em janeiro de 2000, foi testada uma máquina capaz A primeira turbina de energia eólica de grande por- pelo Museu de Arqueologia da Unicap; pelo Espaço buco. de aperfeiçoar a produção de placas de gesso em um te colocada em funcionamento na América Latina foi Ciência Salgueiro, do Instituto Federal de Educação, sistema semelhante a um carrossel que melhorou a em Pernambuco. O equipamento foi instalado na ilha Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano; pelo Internet qualidade dos pré-moldados. O investimento foi de de Fernando de Noronha. O aerogerador tinha po- Museu de Oceanografia da UFRPE (campus Serra A Facepe foi uma das instituições que participaram 100 mil reais e quase dois anos de trabalho. A cons- tência de 75 Kw, uma torre de 23 metros de altura e Talhada); e pelos museus de Minerais e Rochas e de do impulsionamento da Internet em Pernambuco. trução da máquina contou com a participação da Se- pás com 17 metros de diâmetro. Na época, o Governo Ciências Nucleares da (UFPE); Espaço Ciência (vin- Juntamente com professores do Departamento de cretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente (atu- do Estado investiu o equivalente a cem mil dólares culado à Secti); e o Jardim Botânico do Recife. O edi- Informática da UFPE e Secretaria de Ciência e Tec- al Secti), Sindugesso, Sebrae-PE e UFPE. A pesquisa na compra do equipamento fabricado na Dinamarca. tal visou cumprir um dos objetivos da Facepe que é nologia, a fundação do Ponto de Presença da Rede foi uma ação do Centro Tecnológico da Indústria do A Celpe, até então estatal, investiu o mesmo valor de popularizar a ciência, incentivando sua percepção Nacional de Ensino e Pesquisa em Pernambuco (Po- Gesso do Setrão do Araripe, um consórcio formado na infraestrutura. Já a Facepe e o grupo de energia social. p-PE). O centro instalado no Itep fornece acesso à pela Facepe, Senai, Sindugesso, Facepe, AD-Diper e eólica da UFPE desenvolveram a tecnologia para a Internet para instituições de ensino e pesquisa desde prefeituras da região. implantação. 1991.

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