UM NOVO

PROGRAMA DE GOVERNO

FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

S U M Á R I O

APRESENTAÇÃO ...... 1

INTRODUÇÃO ...... 2

A DIMENSÃO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO ...... 3

TENDÊNCIAS RECENTES DA ECONOMIA ...... 8

AÇÃO ESTRATÉGICA DO PROGRAMA DE GOVERNO ...... 11

EIXOS ESTRUTURANTES DA AÇÃO DO GOVERNO ...... 14

COLABORADORES ...... 129

PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

APRESENTAÇÃO

Depois de meses de discussões e debates com vários segmentos da sociedade pernambucana, apresento o Programa de Governo da Frente Popular de Pernambuco com nossas propostas ao governo do estado para o período 2007-2010. Nossas rodadas de conversações para organizar os termos do Programa iniciaram-se há quase dois anos com a Agenda 40. Debatemos nossas propostas e recebemos contribuições e reflexões críticas de importantes segmentos políticos, econômicos e sociais das regiões do interior e da capital. Trazemos ao conhecimento do povo pernambucano um documento que expressa as aspirações dele emanadas. Reconhecemos a necessidade de realizarmos com urgência uma mudança no estilo de desenvolvimento hoje prevalecente no estado. A interiorização das ações estratégicas para o crescimento econômico e para a melhoria dos indicadores sociais é um reclamo generalizado dos cidadãos e uma diretriz central de nossas propostas ao governo do estado. Muito se tem falado que os problemas mais relevantes para nosso estado derivam do fraco desempenho econômico por que passa nossa estrutura produtiva. As discussões realizadas exaustivamente com trabalhadores, empresários e com intelectuais, entre outros, nos tornaram claro que o estado precisa sim elevar seu ritmo de expansão econômica. No entanto, os problemas mais graves estão relacionados às estruturas que impedem um pleno desenvolvimento das condições sociais do nosso povo. Em outras palavras, nossos problemas mais graves estão ligados às péssimas condições de vida da maior parte da população. Em fases recentes da nossa história (desde, pelo menos, a década de 1960) houve períodos em que a economia cresceu bastante, porém os indicadores sociais e de qualidade de vida melhoraram muito pouco. De fato, a questão social nunca foi uma prioridade para a

1 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO maioria dos governantes pernambucanos. A experiência do PSB, com Dr. em seus três governos, se constitui exceção, em meio a um quadro desolador para a garantia das liberdades políticas e para o avanço das questões sociais. Queremos continuar a trilhar os caminhos socialistas e democráticos aqui no estado. No governo da Frente Popular as necessidades de ampliação do bem-estar dos cidadãos estarão em primeiro lugar. A educação, a saúde, a segurança pública e a cultura, entre outros, terão destacado papel na nossa estratégia de superação da pobreza e da conquista da dignidade cidadã. Projetaremos nossas ações para o futuro. É preciso colocar nosso estado numa rota de desenvolvimento compatível com os padrões que estão abertos em função dos avanços do conhecimento, da pesquisa e da tecnologia. Muitos dos obstáculos a serem enfrentados na questão ambiental, da saúde, da produção de alimentos e mesmo da inovação empresarial tendem a merecer considerações e apoio do Sistema Estadual de Ciência e Tecnologia que iremos proceder em Pernambuco.

Para nós não basta crescer, será preciso crescer com qualidade. Somente a disseminação do conhecimento científico e da inovação tecnológica em todas as regiões poderá dotar o estado de uma base de capital humano e empresarial necessária ao desenvolvimento realmente sustentado por um longo período de tempo. Este documento se propõe a realçar o compromisso da Frente Popular com os cidadãos pernambucanos em torno a idéias que visam, sobretudo, a abraçar a causa do desenvolvimento social equilibrado e da melhoria das condições de vida do nosso povo.

Recife, Outubro de 2006.

Eduardo Campos

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I - A DIMENSÃO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO

O compromisso da candidatura de Eduardo Campos pela Frente Popular tem como meta principal superar as mazelas do passado, as quais configuraram um quadro de prevalência de péssimos indicadores de qualidade de vida, a despeito de esforços realizados pelos últimos governos: atuar no sentido da superação dos déficits nos indicadores sociais (educacionais, de saúde e saneamento). Ou seja, o compromisso que se assume é o de mobilizar todos os recursos políticos, institucionais e financeiros à disposição do Estado para romper as amarras que prendem uma parcela considerável dos cidadãos pernambucanos no subdesenvolvimento. Dito de outro modo, afirmamos o compromisso da construção sistemática e orgânica de uma visão de futuro para Pernambuco.

PANORAMA DA SITUAÇÃO SOCIAL EM PERNAMBUCO

Em termos da distribuição da população no território estadual, a trajetória recente tem sido a de localização preferencial no seu espaço urbano de modo mais acentuado que a observada no restante da região Nordeste. Em 1991, 70,9% da sua população viviam nas áreas urbanas contra 29,1% estabelecidos nas rurais. Em 2000, a população urbana aumentou para 76,5% do total e a rural declinou para 23,5%. O maior contingente populacional está na sua região metropolitana. Esta abrigou em 2000 aproximadamente 3,3 milhões de pessoas, correspondendo a 42,1% do total do estado. O conjunto das regiões de desenvolvimento da Mata Sul e Norte somaram neste mesmo ano

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1,2 milhão de habitantes (15,2% do total estadual). Daí que toda a grande região litorânea do estado, compreendendo a região metropolitana de , a Mata Norte e Mata Sul, concentrou 57,3% da população pernambucana. Por sua vez, na região do Agreste do estado (Central, Meridional e Setentrional) radicaram-se 1,9 milhão de habitantes (25,1% da população total). E, por fim, a região do Sertão (São Francisco, Araripe, Itaparica, Sertão Central, Moxotó e Pajeú) respondeu por 17,4% da população total, isto é, 1,4 milhão de pessoas em 2000. A maneira pela qual se distribui a população no território estadual fornece elementos importantes para o delineamento do conjunto das ações que a política de governo em geral necessita enfrentar: a) há uma concentração populacional excessiva na Região Metropolitana do Recife (RMR), padrão que, no entanto, se assemelha ao observado em importantes unidades da federação do país; b) somando-se as populações das zonas da Mata Norte e Sul à da RMR tem-se cerca de 4,5 milhões de habitantes, em 2000, vivendo numa estreita faixa de, aproximadamente, 100 km de largura e 300 km de extensão no litoral do estado e exercendo fortes pressões por equipamentos de infra-estrutura urbana; e finalmente c) no interior do estado encontra-se uma rede bastante frágil de cidades médias e pequenas, as quais têm pouca articulação entre si, a precisar de uma enérgica intervenção pública de maneira a dotá-la de um nível superior de infra-estrutura em geral e que facilite o incremento do potencial de trocas econômicas, sociais e culturais do conjunto de sua população.

Esta dinâmica populacional mais fraca que, em tese, deveria apontar para fatores positivos quanto a uma menor pressão que a população tende a exercer sobre recursos públicos. No entanto, ela não se traduziu, como será visto mais detidamente a seguir, em substanciais melhoras no padrão médio de vida do povo pernambucano.

1.2 – Qualidade de vida: o que revelam os indicadores sociais?

Com o crescimento populacional mais lento nas últimas duas décadas, o estado certamente teve algum espaço para aproveitar esta janela de oportunidade de melhorar seus indicadores sociais e econômicos. De fato, o que se observa no estado é que, na média, os indicadores de qualidade de vida são melhores que os dos demais estados nordestinos colocando-o na vanguarda, em termos regionais, de desenvolvimento social. Destarte este quadro positivo, algumas ressalvas precisam ser evidenciadas para

4 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO compor um panorama mais realista da suposta vitalidade da sociedade estadual. É que seus indicadores sociais, conquanto superiores à média regional, ainda se apresentam abaixo dos patamares médios vigentes no plano nacional. Veja-se a situação atual da saúde da população pernambucana por meio de três indicadores nos quais o estado de Pernambuco apresenta-se com elevados déficits relativamente à média do país como um todo. A sua taxa de mortalidade infantil, segundo dados do Ministério da Saúde, de 40 por mil nascidos, é 60% superior à média brasileira e é, aproximadamente, três vezes superior à do Distrito Federal (a menor entre as unidades da federação). A mortalidade de menores de cinco anos por doenças diarréicas, isto é, por doenças relacionadas com a pobreza extrema e déficits de saneamento básico entre outros, foi, em 2002, de 8,2, quase o dobro da média nacional (4,4). E, de modo mais gritante, ela foi 5,8 vezes maior que a média apresentada pelo estado do neste mesmo ano.

E, por fim, no que tange à mortalidade provocada por acidentes de trânsito e por homicídios, o estado de Pernambuco, com 91,7 mortos por 100 mil habitantes em 2002, situou-se 27% acima da média nacional e 164% acima da observada no Maranhão. O que está, portanto, em evidência é uma situação geral de retraso da política estadual de saúde que, a despeito da ampliação dos programas e políticas do governo federal com a reformulação e ampliação do Sistema Único de Saúde (SUS), não tem sido capaz de gerar avanços mais significativos nesta área. Na educação algo parecido ocorre. Há avanços absolutos, mas em termos relativos o estado ainda tem um longo caminho a percorrer. Dois indicadores selecionados e subdivididos pelo atributo da raça (branca e negra) oferecem um mapa introdutório da qualidade do potencial educacional à disposição dos cidadãos pernambucanos no ano recente de 2003. O que revela evidências das deficiências da política educacional voltada para estratos populacionais menos favorecidos e ainda, em certa medida, estigmatizados pela sociedade por causa de sua cor. A taxa de analfabetismo da população branca de 15 anos ou mais, residente em áreas urbanas, no ano de 2003 foi em Pernambuco de 13,0%, sendo mais que o dobro da média nacional e mais de quatro vezes superior à verificada no Distrito Federal. Ainda entre a população branca, o número médio de anos de estudo na faixa etária de 15 anos ou mais foi de 7,4 anos no estado, e, novamente, inferior à média de 8,0 anos para o país como um todo.

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Para a população negra, o indicador de taxa de analfabetismo entre aqueles de 15 anos ou mais em 2003 é bem mais elevado que o da população branca e também maior que aquele entre negros no país como um todo (18,9% para PE e 12,9% para o Brasil). Entre a população negra também o número médio de anos de estudo foi inferior ao observado como média do país (5,8 anos em PE e 6,2 no Brasil). Esse quadro observável para a população de 15 anos ou mais não mudou radicalmente quando se analisa a população analfabeta como um todo (isto é, inclusive aqueles com idade inferior a 15 anos). O índice de analfabetos no estado passa de 34,3% em 1991 para 24,5% em 2000. As proporções verificadas para o Brasil nos respectivos anos foram de 20,1% e 13,6%, bem inferiores, portanto. Para a região Nordeste, os índices são de, respectivamente, 37,7% e 26,2%. Quando se remete diretamente aos pré-requisitos da modernidade econômica ou tecnológica numa dada sociedade, representados por elevados níveis de qualificação universitária, a posição pernambucana é, mais uma vez, desvantajosa no cenário nacional. Em Pernambuco, no ano de 2000, o percentual de pessoas de 18 a 22 anos com acesso a curso superior foi de apenas 4,6% do total incluído neste grupo etário. Foi superior à média da região Nordeste, de 3,7%, mas foi inferior à média brasileira, de 7,6%. No Brasil, o problema da moradia tem se mostrado historicamente de difícil solução, em decorrência do seu acelerado processo de urbanização desde a década de 1940. A elevada concentração populacional nas grandes metrópoles, estimulada pela, rápida industrialização, não veio à tona com a necessária provisão de infra-estrutura urbana (moradia, saneamento etc) de modo a garantir um padrão de vida digno às pessoas. Em Pernambuco, esta tendência nacional de precariedade urbana tem se somado a um incipiente padrão de crescimento econômico e modernização social. Potencializando assim elevados déficits sociais, os quais vêm se acumulando desde o passado, quando o estado era uma importante fonte de riqueza do Brasil colônia. No momento recente, pode-se adiantar que dentre os principais problemas a serem enfrentados pelo nosso governo na questão da moradia estão a proliferação de assentamentos informais, a segregação da população de menor poder aquisitivo em favelas e o déficit de serviços de infra-estrutura urbana. Tal como para a educação e para a saúde, aqui aparece o patamar mais precário da qualidade de vida dos cidadãos nacionais residentes em Pernambuco. A busca de terras irregulares para equacionar as elevadas demandas por habitação segue um padrão perverso e disseminado nacionalmente. Em Pernambuco, 6,5% da população total residindo em

6 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO domicílios urbanos apresentam problemas de regularização quanto aos direitos de propriedade. São domicílios construídos ou ocupados ilegalmente. Outra característica da fragilidade da ocupação urbana está no elevado gasto – aqui entendido como o comprometimento de mais de 30% da renda familiar – que têm as camadas mais pobres da população com o item aluguel. A proporção da população em domicílios urbanos, com ônus excessivo de aluguel foi, em 2003, de 27,2% do total no estado, a qual foi superior à observada para o país como um todo. Tem sido evidente que os esforços para universalizar o atendimento a serviços sociais básicos como: educação, saúde, habitação, transportes urbanos, entre outros, estão aquém do necessário. A política pública, para ser conseqüente, precisará concentrar esforços nos principais desafios e desenvolver políticas que tenham foco permanente em estratos mais vulneráveis da população (baixa renda, negros, jovens etc) e também nas áreas do território estadual em condições mais desfavoráveis.

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II - TENDÊNCIAS RECENTES DA ECONOMIA

Uma característica marcante da economia estadual ao longo das últimas décadas tem sido a presença de taxas de crescimento econômico inferiores ao que se observa no restante da região Nordeste e no resto do país. Desde, pelo menos, a década de 1960, a trajetória de expansão da economia estadual se apresenta desse modo, sem conseguir mostrar ímpeto mais vigoroso que o restante da economia nordestina. Não quer dizer, entretanto, que a economia estadual esteja em declínio absoluto, isto é, que esteja perdendo vitalidade. Pelo contrário. Seu declínio relativo no contexto regional decorre da existência de uma transição em curso no sentido de que uma longa e demorada reestruturação produtiva está se passando. Setores novos vêm aparecendo e se desenvolvendo, mas ainda não foram capazes de assumir as posições que setores antigos detinham no parque produtivo do estado. Há, em outras palavras, uma salutar diversificação no conjunto das atividades produtivas no estado – a qual precisa ser fortalecida pela política pública – parteira de novos ramos econômicos (fruticultura irrigada, pólo gesseiro de Araripina, pólo de confecções em Caruaru, pólo médico, pólo digital, turismo etc), os quais, entretanto, não têm oferecido contrapeso ao declínio dos antigos setores (atividades do açúcar e do álcool, enxugamento da indústria de transformação etc).

A economia pernambucana vem percorrendo, entre 1960 e 2003, ciclos de expansão e de declínio similares aos observados na economia nacional e na economia nordestina. As taxas de crescimento econômico foram mais intensas entre as décadas de 1960 e 1980 para as três economias e refluíram logo em seguida. Em fins dos anos 80 e durante a década de 1990. É possível observar que, em geral, o crescimento da economia pernambucana está contido no crescimento das outras duas economias, a nacional e a regional. Entre 1960 e 2005, a economia estadual apresentou expressivas taxas de crescimento da ordem de 3,8% ao ano, que devem ser consideradas com um excelente patamar de expansão no longo prazo e que, também assinalam, como já dito acima, para o fato de que o

8 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO estado pode acompanhar, de perto, as mudanças estruturais que se passaram no conjunto da economia brasileira no mesmo período. Contudo, deve-se ponderar: as economias do Nordeste e do Brasil tiveram taxas de aceleração superiores, de 4,5% ao ano para ambas nestes últimos quarenta e cinco anos. Realizando-se um recorte temporal que foca o período recente de 1990 até o presente também a sua mais contida evolução econômica manteve-se com uma tendência. No período 1990/2005 as taxas de crescimento de 2,5% ao ano defrontaram-se com taxas de 2,9% para o Nordeste e de 2,6% ao ano para o Brasil. O padrão de crescimento desta década de reformas liberais (abertura comercial, liberalização financeira, privatizações, reformas trabalhistas etc), ao contrário do correntemente apregoado pelos setores conservadores que lhes deram respaldo, foi bem inferior ao padrão pretérito da fase desenvolvimentista da economia nacional – principalmente entre 1930 e 1980.

No período que se sucedeu à implementação do Plano Real de estabilização macroeconômica – 1994/2005 – houve, na verdade, uma mudança na trajetória de crescimento, vis-à-vis ao patamar anterior, com as taxas se apresentado menos intensas não somente em Pernambuco, mas também no país como um todo e na região Nordeste. A análise da performance comparada do crescimento quando feita por período de mandato de governo estadual, traz importantes e elucidativas referências para a compreensão dos processos recentes definidores do comportamento da economia estadual no contexto nacional. Durante o mandato do Governador Joaquim Francisco (PFL) de 1991 a 1994, Pernambuco teve crescimento médio anual de 0,9%, menos de metade da expansão que se dava na economia regional (de 2,2% ao ano) e na brasileira (de 2,6% ao ano). Neste mesmo período, a economia cearense andou a passos largos de 4,4% ao ano, e a baiana manteve-se nos 2,6% ao ano. No período seguinte, no terceiro mandato do governador Miguel Arraes (1995/1998), a economia estadual apresentou uma forte aceleração – se comparada ao período imediatamente anterior – atingindo o patamar de 2,1% anuais, e situando-se bem mais próxima do que ocorria no Nordeste, no Brasil e até mesmo próxima às taxas da , mas ainda distante do excepcional crescimento que se processava na economia do Ceará. Portanto, já desde 1995, quando começou o último mandato do governador Arraes, que a economia vinha se recuperando do fastígio inicial da década e passou a apresentar taxas mais elevadas de crescimento econômico. Nesse mesmo período a economia estadual, contrariando a trajetória de longo prazo que a mantinha em taxas inferiores às nacionais, ousou igualar-se ao crescimento da economia do Brasil.

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Mais recentemente, durante o período dos mandatos de - Mendonça (1999/2005) a taxa de aceleração da economia estadual foi de 2,6% ao ano contra 3,3% para o Nordeste e 2,3% para o Brasil. Sendo que nos últimos dois anos (2004 e 2005), o país teve taxa média de expansão (3,6) superior à do estado (3,1%). Estes números acerca da evolução recente da economia pernambucana ensejam uma interpretação diferenciada da correntemente apregoada por certas instâncias do atual governo estadual. Em primeiro lugar, o cenário positivo que se instalou em Pernambuco, com taxas ascendentes de crescimento econômico não se iniciou no primeiro mandato de Jarbas Vasconcelos ao governo do estado. Pelo contrário, já estava em curso pelo menos desde 1995, durante o último mandato do governador Miguel Arraes em meio a um cenário nacional bastante adverso ao crescimento por conta, de um lado, da aceleração da política de privatizações de ativos públicos implementada pelo governo federal entre 1996 e 1999, a qual provocou nas unidades da federação uma imediata perda de capacidade de indução do desenvolvimento, e, de outro lado, em decorrência das renegociações das dívidas estaduais com o governo federal a partir de 1997, que comprometeram a capacidade geral de investimento dos governos estaduais.

Em segundo lugar, em que pese a retomada do crescimento econômico desde 1995, a posição relativa de Pernambuco no contexto regional ainda se mostra frágil, pois com taxas de crescimento inferiores às da região, a economia estadual continua na sua tendência de perder importância relativa no cenário nordestino. Mesmo no atual governo estadual, a ampliação das atividades produtivas no estado não tem conseguido exceder o patamar de expansão observado na economia regional que lhe circunda. E, por fim, em terceiro lugar, quaisquer que tenham sido as políticas de investimento do governo Jarbas em Pernambuco, as taxas de crescimento econômico durante maior parte de seus dois mandatos (1999/2005) não foram capazes de retirar a economia da trajetória de crescimento observada no longo prazo que tende a conduzir a economia pernambucana a perder posição relativa nos contextos regional e nacional. Em resumo, a questão estrutural que amordaça a economia pernambucana em baixo crescimento relativo ainda não foi devidamente resolvida até o presente momento.

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III - AÇÃO ESTRATÉGICA DO PROGRAMA DE GOVERNO

O elemento-chave que articula as várias ações a serem pensadas para o programa de Governo da Frente Popular (2007-2010) é a integração do estado de Pernambuco. Esta proposição de caráter geral visa promover um estilo de desenvolvimento equilibrado em Pernambuco, o que irá requerer uma intervenção integradora do território estadual, ou seja, trata-se de “integrar para desenvolver”. Essa escolha estratégica deverá ser tratada em diversas dimensões: econômica, social, espacial e político-institucional. Para desenvolver-se harmonicamente, será preciso integrar aquelas regiões e populações que se encontram fragmentadas, separadas e isoladas do conjunto das transformações que se processa em ritmo mais intenso noutras áreas do estado, particularmente na região metropolitana do Recife, o principal centro econômico e cultural do estado. Vale dizer: o compromisso do Programa de Governo é de reconhecer os desníveis e diferenças econômicas, sociais, culturais e espaciais existentes; e intervir tratando desigualmente os desiguais, para reduzir as diferenças entre os cidadãos pernambucanos. A dimensão econômica. O compromisso do novo governo é o de promover e aprofundar, de um lado, a integração dos vários subespaços da própria economia estadual, isto é, intensificar esforços para elevar os níveis e oportunidades de desenvolvimento nas regiões interioranas de modo a reduzir as distâncias que as separam da realidade econômico-produtiva prevalecente na RM do Recife. De outro lado, buscar-se-á também intensificar a integração estadual com a economia nacional visando obter mais benefícios das ondas de expansão, seja dos investimentos governamentais federais, seja dos investimentos privados, de modo a fortalecer o potencial produtivo da economia estadual vis-à-vis as transformações em vigência no plano nacional. Em particular, cabe afirmar, a título de exemplo, que o governo estadual precisará despender esforços para tirar proveito dos possíveis benefícios que as diretrizes das políticas setoriais do governo federal venham

11 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO a impactar no estado, da nova política de promoção da inovação, do movimento de descentralização das instituições públicas e privadas de ensino superior, entre outros. Na esfera privada, deve-se convergir esforços no sentido de atrair empreendimentos que reforcem o adensamento de cadeias produtivas importantes como, exemplo: empresas que viabilizem a formação de uma cadeia petroquímica local. A dimensão social. É compromisso do governo buscar esforços para, de um lado, fazer convergir os indicadores sócio-culturais das várias regiões do estado em direção ao patamar médio mais eqüitativo, uma vez que há, no presente momento, uma pronunciada diferenciação entre os indicadores de suas várias regiões – principalmente no que se refere à comparação entre RMR e interior. E, de outro lado, ademais a este esforço de expansão generalizada dos atributos sociais nas áreas interioranas, desenvolver ações para elevar os referidos indicadores em direção à aproximação e/ou superação das médias nacionais prevalecentes nos mesmos. O esforço a ser feito será tanto maior, quanto mais se verifica o arrefecimento das políticas públicas sociais nos últimos anos pela atual gestão governamental do estado.

Esta tarefa de melhoria das condições sociais das populações nas várias regiões do estado exigirá abordagens multidisciplinares e sistêmicas tanto do planejamento quanto da execução da política pública, de modo a levar em consideração dimensões culturais dos problemas sociais que, com certa freqüência, continuam desprezados. Um elemento importante dessa discussão é, por exemplo, a relação entre pobreza econômica e baixos indicadores sociais, a qual tem sido tomada como caminhando no mesmo sentido e com a mesma intensidade. Pelo contrário, em Pernambuco há regiões portadoras de baixo nível de desenvolvimento humano (IDH), mas que geram razoável nível de produção econômica, como são os casos da Mata Norte e Mata Sul. Ou seja, são subespaços em que o nível superior de atividade econômica não tem sido capaz de propiciar bons indicadores sociais. Essencial, entretanto, deve ser a tarefa de coordenação a ser assumida pelo governo estadual na sua relação com os governos municipais. Ao longo dos anos 90 houve um importante processo de descentralização de recursos governamentais bem como das atribuições sobre estes do governo federal em direção aos municípios. Esse passou a exigir um nível de reaparelhamento institucional dos municípios às vezes muito além da capacidade efetiva dos mesmos. O governo do estado pode e deve ajudar os municípios neste percurso de ganho de musculatura de gestão e de planejamento para que aquelas áreas de atribuição exclusiva da esfera municipal (educação básica e saúde são os exemplos mais importantes) passem a ter

12 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO um desempenho, em termos da melhoria dos indicadores sociais, mais satisfatório. A dimensão espacial. Possui mais uma função transversa, ou seja, de percorrer todas as ações do programa de governo na medida em que se constitui na abordagem espacializada de ações econômicas e sociais. No entanto, cabe explicitar que a integração espacial precisa, entre outros meios, para se materializar, que se efetive a ampliação da infra-estrutura de transportes e comunicações de modo a se evitar a existência de regiões com vazios (ou déficits crônicos) de dotação de bens públicos ofertados pelo governo estadual. O mesmo sendo requerido relativamente à ampliação da oferta e ou uso mais intenso da infra-estrutura social – em especial a de prestação de serviços de saúde e a de oferta de ensino médio ou profissionalizante. Indispensável é o esforço de ampliar o acesso ao conhecimento e à informação no interior do Estado. A dimensão político-institucional. Atua como elemento mediador, regulador e também viabilizador das ações concernentes às outras dimensões. Implica, de um lado, no desafio de se garantir a participação pró-ativa da sociedade organizada no processo de desenvolvimento; e, de outro, no desafio de se garantir as condições mínimas institucionais para se realizar as políticas públicas necessárias, as quais passam pela valorização e modernização do sistema de gestão pública e pela coesão e objetividade na aplicação das ações públicas.

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IV- EIXOS ESTRUTURANTES DA AÇÃO DE GOVERNO

Os eixos abaixo especificados objetivam estruturar a ação governamental com vistas a um processo coordenado de atuação pública voltada para a eficaz solução de problemas, gargalos e obstáculos a serem superados. É proposta a seguir uma configuração básica como suporte à idéia-força do programa de governo de “integrar para desenvolver” contendo quatro (04) eixos de coordenação das atividades governamentais, os quais atuam como catalisadores dos conteúdos analisados:

Eixo 1: DEMOCRATIZAÇÃO DO ESTADO (ESTADO-CIDADÃO)

É compromisso da candidatura da Frente Popular ao governo do estado assegurar o respeito a regras democráticas, transparentes e descentralizadas de atendimento das políticas de Estado ao cidadão pernambucano. Uma das diferenças cruciais entre as nações desenvolvidas e as subdesenvolvidas está na inexistência e/ou inferior grau de maturação de suas instituições. Nossa se coloca a favor da utilização de formas, mecanismos e práticas de gestão dos organismos estatais que visam à universalização de políticas públicas de modo a evitar a apropriação por clientelas de recursos públicos escassos. Sem dúvida que para empreender tais iniciativas, o governo deverá contar com um sistema eficiente de planejamento, o qual seja capaz de sugerir, organizar, implementar, coordenar e avaliar políticas públicas. O foco último da atenção do governo é a democratização do acesso dos cidadãos aos bens e serviços ofertados pelo Estado. Daí que as tarefas a serem realizadas pelo aparato institucional do governo na forma de prestador de serviços ao cidadão e de ofertante de bens públicos assumirão uma dimensão especial do programa de governo porque elas serão desempenhadas com o fito principal de gerar desenvolvimento com inclusão social.

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O eixo estruturante chamado de ‘estado-cidadão’ reflete a opção de considerar as “pessoas em primeiro lugar”. Ou seja, ele pretende organizar toda a ação governamental para, simultaneamente, aumentar o nível de qualidade de vida – por meio das políticas de saúde, de educação, de habitação, saneamento, assistência social, de emprego etc – em direção a padrões mais elevados e corrigir distorções existentes dentro do estado do ponto de vista espacial, de raça, de gênero ou cor.

Eixo 2: TRANSPOSIÇÃO DO CONHECIMENTO

O modelo de crescimento econômico consolidado no Nordeste brasileiro desde a década de 1960 pela política de desenvolvimento regional implementada pela SUDENE tem dado sinais de esgotamento quanto à sua capacidade de estimular o dinamismo empresarial em tempos de globalização com elevada abertura comercial e financeira para o exterior. Voltado originalmente para o barateamento das inversões de capital na região por meio da aplicação de incentivos fiscais, tornou-se, em certo sentido, obsoleto num quadro de crescente guerra fiscal entre unidades da federação como o estabelecido no país desde a década de 1990. Noutra perspectiva, ele também tem sido visto como pouco eficiente para induzir um ambiente de competitividade empresarial e pouco estimulador da geração e adoção de inovações. Somente a mudança de enfoque para o crescimento econômico baseado num sistema nacional de inovação poderia assegurar a expansão econômica a taxas mais elevadas por um período longo de tempo. Esse modelo de crescimento a um só tempo cria espaço para a indução de competitividade no sistema empresarial e para a ampliação do investimento em capital humano, isto é, deixa de centrar-se no subsídio puro e simples ao capital e passa a focar a expansão do potencial de recursos humanos na região.

Ademais destas considerações sobre a necessidade de mudanças no estilo de desenvolvimento econômico em curso na região, também o reconhecimento do retraso estadual em termos de desenvolvimento científico e tecnológico, do descasamento entre geração de conhecimento e sua utilização pelo tecido produtivo e, ainda, pela defasagem de qualificação técnica da sua mão-de-obra vis-à-vis os parâmetros nacionais e internacionais, exige que uma ação estrutural a ser desencadeada no âmbito deste Programa de Governo tenha como ênfase uma política, sustentada no tempo, de geração e de ampliação do escopo

15 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO prevalecente de conhecimento. A idéia de ‘transposição do conhecimento’ está relacionada com ações a serem realizadas pelo governo visando a interiorização e melhoria da distribuição regional do conhecimento. Será dado destaque a toda ação que envolva e estimule a descentralização das universidades públicas, estaduais e federais, com o objetivo de apoiar a transferência para o setor produtivo do conhecimento gerado nessas instituições e nos centros de pesquisa localizados na Região. Para a realização dessa estratégia, arranjos produtivos locais, clusters etc precisam ser devidamente mapeados e catalogados nas várias regiões de desenvolvimento do estado de Pernambuco quanto à sua situação atual e ao seu potencial a ser desenvolvido. Ademais, investimentos na infra-estrutura física de comunicações (rede de fibra ótica) e de geração de conhecimento (escolas técnicas, faculdades, universidades etc) precisam ser realizados.

Eixo 3: DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO PARA TODOS

As políticas e instrumentos de governo voltados para o apoio à atividade produtiva são pensados de modo a se endereçar ora para setores econômicos, ora para espaços econômicos relevantes.

No primeiro caso, será objetivo explícito a ação do governo para garantir e perseguir que o tecido produtivo estadual venha a se modernizar para que elevadas taxas de crescimento econômico sejam atingidas. De um lado, as ações visam a fortalecer e expandir novos segmentos econômicos com alto potencial de crescimento e, de outro lado, as ações visam também a fortalecer e estimular a renovação dos setores produtivos maduros que precisam expandir seu potencial de agregação de valor. No segundo caso, as ações governamentais também devem estar orientadas para a identificação daqueles espaços geoeconômicos que necessitam de atenção especial porque estão deprimidos ou porque precisam desenvolver novos potenciais produtivos. Estas áreas de especial interesse da política econômica não se restringem apenas aos espaços onde

16 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO forem localizados arranjos produtivos locais relevantes para a atuação da estratégia de ‘transposição do conhecimento’, mas incluem estas, e outras áreas do estado, mesmo as mais desenvolvidas, as quais mereçam tratamento especial para que novas atividades venham a florescer e/ou que antigas sejam modernizadas a bem do interesse maior do estado.

Eixo 4: INFRA-ESTRUTURA PARA O DESENVOLVIMENTO E AUTO-SUSTENTABILIDADE HÍDRICA

De maneira a perseguir melhorias dos padrões de vida bem como o desenvolvimento econômico, as ações do governo estadual precisam dotar o estado de um necessário conjunto de infra-estrutura de transportes, comunicações, saneamento, energia e recursos hídricos. Somente por meio de nível elevado de dotação universalizada e moderna de bens de infra-estrutura é que os padrões sócio-econômicos dos cidadãos pernambucanos poderão ser efetivamente elevados. Desse modo, realizando políticas coordenadas de mapeamento dos déficits e um planejamento conseqüente para a ampliação da oferta de tais bens, o governo estadual busca soluções, a um só tempo, para os problemas sociais tanto quanto para os econômicos. Aspecto crucial para a melhoria das condições de vida das populações do semi-árido, o abastecimento de água coloca-se como um importante desafio a ser superado pelo governo estadual. Pode-se destacar que é nas regiões do interior do estado com menor nível de desenvolvimento econômico-social, principalmente, Sertão e Agreste, caracterizadas por elevada variabilidade climática e ocorrências de secas, que a escassez de recursos hídricos é mais visível.

De maneira a realizar o objetivo central de efetuar a integração sócio-econômica das regiões do estado, o governo necessariamente precisará atacar esse obstáculo. Sua resolução, de forma permanente e planejada de modo a antecipar movimentos futuros que restrinjam ou provoquem colapso na oferta hídrica, atende a um só tempo a dois requisitos das políticas de desenvolvimento. De um lado, ao levar água potável encanada para municípios e populações ainda não atendidas, tende a provocar melhorias nas condições gerais de saúde, aumentando no médio prazo os indicadores de desenvolvimento humano locais. De outro lado, nas regiões onde o atendimento de água para consumo humano já

17 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO está realizado, será preciso ampliar a oferta de água para consumo da atividade produtiva (agropecuária, indústria, turismo etc) de maneira a garantir que as oportunidades de crescimento econômico se efetivem de modo generalizado. Em outras palavras, as políticas de recursos hídricos deverão atuar para remover gargalos que impedem ganhos na qualidade de vida e/ou inviabilizem a expansão de oportunidades econômicas.

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PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

EDUCAÇÃO PARA A

O desafio de ampliar a escolaridade e a qualidade da educação em Pernambuco ainda deve ser visto como uma meta fundamental e obrigatória para todo o sistema de planejamento educacional de uma gestão de governo estadual. A expansão do grau de instrução médio da população é um requisito fundamental para o desenvolvimento do estado, é uma garantia efetiva para que a cidadania se exerça de modo pleno, e é também um mecanismo vital para a equalização das oportunidades de obter-se uma vida digna em sociedade. Tem sido consensual entre especialistas em políticas públicas o argumento de que melhorias educacionais se correlacionam fortemente com o desenvolvimento econômico, muito embora pouco se pode afirmar acerca da determinação existente entre o nível de renda e o nível de escolaridade, isto é, quem influencia quem e em que direção. O que se sabe ao certo, pela experiência histórica internacional é que países hoje ricos e desenvolvidos são aqueles com sistemas educacionais também desenvolvidos. Nesses países tanto o nível de analfabetismo é muito reduzido como a média de anos de estudos é bastante elevada. No Brasil e também aqui em Pernambuco há espaço nestes dois requisitos, entre outros, para avançar, pois estamos muito distantes em termos educacionais dos países europeus, da América do Norte e do Japão, apesar dos inegáveis avanços obtidos pela política educacional brasileira ao longo da última década.

Um ponto desalentador da realidade educacional aqui no nosso Estado, por exemplo, e que tem uma influência enorme sobre os indicadores sociais e econômicos é o que se refere à média geral de anos de estudo da população, que é muito baixa. Em Pernambuco, a média de anos de estudo das pessoas de 25 anos ou mais de idade evoluiu de 4,0 em 1991 para 5,0 em 2000, as quais são inferiores à média prevalecente para o país como um todo: de respectivamente 4,9 e 5,9. Na última década, diligências foram desenvolvidas em nível federal com apoio de

21 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO estados e municípios no sentido de atingir a universalização do ensino fundamental no país. A criação e implementação de um poderoso instrumento de financiamento – o Fundo Nacional para o Desenvolvimento do Ensino Fundamental (FUNDEF) – do ensino podem ser tomadas como a marca principal deste esforço nacional. Nos estados, os governantes também têm feito sua parte, procurando se adequar aos ditames da Constituição de 1988 que passou a prever a aplicação mínima de 25% da receita tributária estadual na manutenção e desenvolvimento do ensino. Na última gestão do PSB aqui em Pernambuco (Governo Arraes - 1995/1998), o gasto em educação esteve, na média do período, em 27,5% da receita estadual. No entanto, nas gestões posteriores, do PMDB- PFL, este percentual sofreu uma redução para 26,4%. Esse quadro demonstra a efetiva necessidade de que sejam realizados gastos mais expressivos no sistema educacional público do Estado se pretendemos erradicar o analfabetismo, colocar todas as crianças na escola e mantê-las na escola até o ensino médio com nível de qualidade superior à vigente hoje em dia.

Os grandes desafios que se impõem para a nova administração estadual são:

• Apoiar os municípios para que sejam capazes de expandir a rede de ensino infantil (creche e educação infantil) no estado;

• Criar condições para que os municípios garantam a universalização do ensino fundamental com qualidade;

• Aumentar a oferta de vagas no ensino médio e profissionalizante no estado; • Garantir que a expansão do ensino médio ocorra em concomitância com um nível sempre mais elevado de qualidade.

• Expandir a oferta de ensino universitário em direção ao interior do estado.

As propostas da Frente Popular visam, sobretudo, como já firmado no nosso documento de Diretrizes do Programa de Governo, a interiorização das ações de desenvolvimento. Nesse sentido, as ações para a Educação serão direcionadas para:

• O Novo Ensino Fundamental

Articulação com Municípios para ampliar a escolarização das crianças de 4 a 10 anos,

22 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO no pré-escolar e no primeiro ciclo do ensino fundamental. Promover a institucionalização da gestão técnica nos municípios para formular e planejar a política educacional municipal. De maneira a criar em cada município uma estrutura de gestão bem aparelhada, o município deverá ser capaz de disputar por recursos na Secretaria Estadual de Educação (Seduc). No segundo ciclo do fundamental (5ª. a 8ª. Série), onde o governo do estado é co- responsável pelo ensino, a Seduc deverá:

o Instituir ao parâmetros nacionais de ensino; o Garantir a qualidade da educação por meio da melhoria de bibliotecas e equipamentos; limitação do número de alunos por sala de aula; ampliação dos recursos de informática para o ensino em sala de aula e acesso para o professor às ferramentas informáticas;

o Melhoria das condições de trabalho para o professor; o Ampliar os Núcleos de Línguas nas escolas com a maior oferta em cada Gerência Regional de Educação (GERE), principalmente, para inglês, espanhol e francês;

o Reforçar as iniciativas de formação (licenciatura) de professores em áreas com déficits mais freqüentes como são as de química, física, matemática, biologia, artes e educação física.

• Ensino Médio

A política de ensino médio é de atribuição constitucional dos governos estaduais e é aqui que o Governo da Frente Popular pretende dar uma contribuição mais substantiva para a melhoria da educação em Pernambuco. A um só tempo pretende atacar dois problemas fundamentais. O primeiro refere-se a dotar os cidadãos de capacidade e autonomia para aproveitar oportunidades de emprego e ocupação que se lhes apresentem e, também, para formar uma força de trabalho mais qualificada, a qual contribua para o aumento da produtividade do sistema econômico. O segundo está relacionado com a preocupação de que para conter a onda de crescente violência e de criminalidade entre jovens será preciso investir na construção de uma alternativa de futuro para a juventude. Manter o jovem na

23 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO escola até que o seu ciclo de profissionalização se complete será uma política permanente do governo. Algumas das principais ações a serem implementadas voltam-se para:

o Expandir o número de matrículas e escolas existente; o Garantir a qualidade da educação por meio da melhoria de bibliotecas e equipamentos; limitação do número de alunos por sala de aula; ampliação dos recursos de informática para o ensino em sala de aula e acesso para o professor às ferramentas informáticas;

o Reforçar as iniciativas de formação (licenciatura) de professores em áreas com déficits mais freqüentes, como são as de química, física, matemática e biologia;

o Estabelecer número mínimo na relação aluno/sala de aula para garantir a qualidade da aprendizagem;

o Investir em equipamentos e tecnologias de informática para a educação de maneira a atingir plena integração às atividades escolares.

PROGRAMA DE BOLSAS DE INCENTIVO À REDUÇÃO DA EVASÃO NO ENSINO MÉDIO

De modo mais contundente, o governo do estado estará preocupado em evitar a elevada evasão escolar que ocorre no ensino médio. Para tal será implementado um Programa de Bolsas direcionado para alunos e professores, cujo objetivo é fortalecer a aprendizagem e premiar a assiduidade principalmente dos alunos pertencentes a famílias carentes. Para os alunos, o programa criará a Bolsa Estágio com a contrapartida da realização de serviços de apoio à docência, de prática de laboratório e serviços burocráticos. A Seduc deverá regulamentar as regras para a seleção, por critérios de insuficiência de renda familiar, desempenho escolar e constância às aulas:

• Pretende-se atingir cerca de 10% dos alunos atualmente matriculados

24 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

no ensino médio, ou seja, 30.000 bolsas ao longo de quatro (04) anos.

Para os professores, o programa criará a Bolsa Tutoria, destinada ao trabalho de supervisão de tarefas que melhorem o desempenho escolar dos alunos:

• Para professores com especialização e que se disponham a supervisionar estudantes, num número máximo de 6 por bolsa concedida. Serão concedidas 4.000 bolsas para o período de 4 anos. Ou seja, cerca de 1 mil bolsas novas a cada ano.

• Educação Tecnológica e Formação Profissional

O número de vagas oferecidas pelo ensino técnico/profissional no estado é muito baixo frente às necessidades da população. Para se ter uma idéia aproximada do déficit a ser preenchido, façamos uma comparação entre a população de pessoas com idade entre 20 e 24 anos (potencial alvo da educação profissional) no estado e o número de matrículas de ensino profissional oferecidas. Em 2003, a população naquele grupo etário foi de 790 mil, sendo que o total oferecido de matrículas nesse tipo de ensino foi de apenas 17,2 mil. Em 2005, o número de matrículas passou para 20,2 mil. Nos dois anos analisados, portanto, a oferta de matrículas correspondeu a menos de 2,5% da população-alvo. Notamos, também, que a participação do governo do estado na oferta de matrículas é muito reduzida frente à do governo federal e à do setor privado. Em 2003, o estado ofertou 1,5 mil (8,8% do total) vagas em cinco (5) escolas, e em 2005 apenas 1,8 mil (8,7% delas) em seis (6) escolas.

Como nem o número de matrículas nem o número de escolas estaduais no ensino técnico e profissional tem aumentado de modo expressivo, ao menos nos últimos cinco anos, o atual governo do estado passou a sua gestão sem conseguir alterar a situação que ele mesmo criticou. Ademais formação técnica no Estado sofre de outro grave problema. Ela está fortemente dissociada da realidade produtiva vigente em cada região. Segundo dados da própria Secretaria de Educação Estadual, a rede pública ofertava, até 1999, 18 cursos

25 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO profissionalizantes que se distribuíam da seguinte maneira por atividade econômica: dois voltados para atividades da agropecuária; seis cursos em áreas da indústria, e dez cursos para o setor de serviços (administração, contabilidade, enfermagem etc). Os cursos estão mais voltados para as atividades terciárias (comércio e serviços) e, por isso, tendem a atender às pessoas que habitam na Região Metropolitana do Recife e, é claro, ficaram menos dirigidos para aquelas que poderiam fortalecer as bases econômicas das regiões interioranas, como é o caso da agropecuária.

COMPROMISSO COM A MUDANÇA: INTERIORIZAÇÃO DE ESCOLAS TÉCNICAS

Para preparar todos os pernambucanos, da capital e do interior, para enfrentar os desafios impostos pela sociedade do conhecimento, o governo da Frente Popular se compromete a expandir a rede de escolas técnicas profissionalizantes por todas as doze (12) regiões de desenvolvimento do Estado. É nosso entendimento que a montagem e consolidação de uma rede articulada de escolas técnicas profissionalizantes estaduais, em atuação conjunta com as escolas técnicas do governo federal no estado, não somente tem o objetivo de qualificar o potencial de recursos humanos para o trabalho e a empregabilidade, mas significa também o fortalecimento dos potenciais produtivos existentes em cada região do estado. Os jovens egressos dos cursos profissionalizantes em cada região poderão contribuir sobremaneira para o desenvolvimento sócio-econômico local e, sem dúvida, por meio dessas medidas o governo estará fincando as bases para que as regiões do interior venham a dar uma contribuição à expansão econômica, social e cultural de Pernambuco muito maior que a que se verifica atualmente.

Haverá doze (12) novas escolas técnicas em todo o Estado nos 4 anos de nosso governo. Ao menos uma (1) em cada região de desenvolvimento do Estado com cursos voltados principalmente para a realidade produtiva e do mercado de trabalho de cada região. Por exemplo, no Sertão do Araripe, cursos voltados para a atividade do pólo gesseiro da região; no Agreste Central, cursos de moda e design para o pólo de confecções de Caruaru/Toritama/Sta Cruz do Capibaribe; no Agreste Meridional, cursos de

26 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO processamento de alimentos lácteos para a região leiteira de Garanhuns, entre outros; na Zona da Mata, cursos profissionalizantes para o turismo (hotelaria, artesanato, restaurantes), cursos de processamento de alimentos da agricultura familiar (doces, compotas etc), cursos de formação técnica para a atividade de floricultura tropical etc.

• Interiorização do Ensino Universitário

Nosso programa de governo contempla também a interiorização do ensino superior como estratégia de redução dos desequilíbrios nas oportunidades de desenvolvimento entre a região metropolitana – com seu potencial de formação de recursos humanos de nível superior e da pós-graduação já fortemente consolidado – e as regiões do interior do estado. O governo estadual conta com a Universidade de Pernambuco (UPE) para executar essa estratégia. Nos últimos anos alguma reorientação já vem sendo realizada no sentido de ampliar os cursos universitários e também os campii para o interior do estado, muito embora haja espaço para ampliarmos o raio de atuação da UPE pelo estado. Um fato positivo tem sido também a reorientação do governo federal para expandir o número de universidades pelo interior do país visando uma ampliação da infra-estrutura de conhecimento para regiões carentes fora dos eixos urbanos consolidados e predominantemente litorâneos. Aqui em Pernambuco as ações do governo federal, no que toca no fortalecimento do sistema universitário no Estado, se constituíram em investimentos em três importantes regiões: a) No Sertão - O governo federal está consolidando, em Petrolina, a Universidade do Vale do São Francisco (UNIVASF) com cursos de psicologia, enfermagem, zootecnia, administração e medicina, e em Serra Talhada promove a extensão do campus da UFRPE com cursos em agronomia e veterinária; b) No Agreste - São duas ações: uma em Caruaru com a extensão do campus da UFPE com cursos de economia, administração, design, engenharia civil e pedagogia, e outra em Garanhuns, com a extensão do campus da UFRPE, com cursos de agronomia e veterinária; e c) Em Vitória de Santo Antão a extensão do campus da UFPE, promovendo uma descentralização no interior da própria Região Metropolitana.

Colocado este quadro auspicioso de expansão das oportunidades de acesso à universidade para os pernambucanos (e, também, para demais nordestinos), o papel do governo do estado será, quanto à sua atuação via a UPE, de suprir aquelas regiões não

27 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO cobertas pela ação federal, tanto no espraiamento pelo interior do Estado quanto nas áreas de conhecimento não cobertas por aquela ação.

• Educação de Jovens e Adultos (EJA)

O Programa de Governo da Frente Popular também não deverá descuidar dos pernambucanos que são analfabetos funcionais (possuem menos de quatro anos de estudo) e os que não sabem ler ou escrever. Políticas especiais de atendimento a estes grupos serão implementadas em consonância com programas federais já em curso, como o Brasil Alfabetizado e o Educação de Jovens e Adultos (EJA). Esses programas visam auxiliar estados e municípios a manterem classes de jovens e adultos, por meio de repasses de recursos que financiam também ações de formação de professores e material didático para alunos. A Seduc instituiu em 2003 o Projeto Alfabetização Cidadã para atender à população não alfabetizada de 15 a 24 anos e que se encontra fora da escola. A tarefa do governo será a de avaliar a sua efetividade em termos do atingimento dos objetivos propostos, e reestruturar as suas ações para reduzir, de fato, o analfabetismo entre jovens e adultos, principalmente em regiões mais carentes, como são alguns municípios do Agreste e do Sertão do Estado.

28 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

CULTURA E DIVERSIDADE

A Frente Popular considera que o estado de Pernambuco se constitui numa das mais relevantes e inspiradoras matrizes culturais do país. A sua riqueza cultural repousa em especificidades históricas que tornaram o Estado centro da sociedade brasileira no período inicial de sua colonização e que perdura até o presente por meio de vários movimentos culturais, artísticos e literários, com repercussão no cenário nacional, como as experiências do Ateliê Coletivo, do Movimento de Cultura Popular (MCP), da geração de poetas de 1967, do Movimento Armorial, dos representantes do Tropicalismo no estado e, mais recentemente, do Movimento Mangue Beat. No entanto, para além destas expressões e movimentos tão importantes do pulsante patrimônio cultural local, está a sua manifestação de caráter popular, fortemente disseminada em todas as regiões do estado, seja nos maracatus e cocos da Região Metropolitana e da Zona da Mata, seja nas cantorias sertanejas, e mesmo no primoroso artesanato do barro, das rendas e do couro no Agreste. Esse é o caráter dos conteúdos culturais que importa ressaltar para todos os pernambucanos: o de seu potencial popular. Essa dádiva impõe para a ação governamental uma tarefa de importância ímpar relacionada com a possibilidade de criar condições dignas de vida para inúmeros pernambucanos por meio do reconhecimento do seu saber-fazer de base popular. Daí que este potencial necessita ser dinamizado ora como instrumento de ampliação de cidadania, ora como instrumento de desenvolvimento econômico.

Para tal, a candidatura de Eduardo Campos entende ser crucial a recriação da Secretaria de Cultura do Estado, de maneira que as ações governamentais reflitam a relevância que a cultura tem na vida cotidiana dos nossos cidadãos. Em governos anteriores do PSB, com Dr. Miguel Arraes à frente, a cultura sempre teve posição proeminente na ação governamental. Mais recentemente, ao longo da gestão Jarbas Vasconcelos, entretanto, o que se viu foi um enorme retrocesso institucional, com a pasta da Cultura

29 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO sendo transformada em apêndice da Secretaria da Educação, e, é claro, as manifestações culturais populares perderam relevância como objeto da política pública. O Governo assumirá firme compromisso com o povo pernambucano de trazer de volta ao centro das decisões políticas a Secretaria da Cultura como instrumento de valorização de nossas riquezas artístico-culturais e da promoção da diversidade dos modos de ser e existir das pessoas em sociedade. Em particular, é nas manifestações da cultura popular que Pernambuco apresenta-se como um dos grandes celeiros nacionais, e é desejo do governo de Eduardo Campos que a cultura popular volte a ter sua importância reconhecida e apoiada. As ações da pasta da Cultura são entendidas, ademais da valorização da cidadania, como importantes para a diversificação do potencial econômico do Estado. Nesse sentido, o governo planeja incentivar a cadeia produtiva dos negócios relacionados à cultura, como os empreendimentos da área de produção de áudio-visual, música e livros, entre outros.

Propõe-se também ações concatenadas entre a cultura e o turismo, de modo a requalificar a idéia de turismo que está consolidada no Estado na forma do binômio “sol e praia”, e cuja contribuição para a economia estadual tem sido, ao longo dos anos, muito importante. No entanto, há oportunidades e recursos humanos e institucionais já desejosos de serem aproveitados no sentido da diversificação das atividades turísticas ao se agregar um ponto de vista da cultura: o turismo histórico (casario colonial, patrimônio museológico etc), o gastronômico, o de eventos culturais (dança, música e produção audiovisual), o de visitação a centros de artesanato no interior do estado etc. Considerando as demandas próprias do campo artístico e das manifestações culturais, os seguintes eixos de atuação para o governo de Pernambuco estão sendo propostos:

• incentivo à produção cultural dos artistas pernambucanos, contribuindo para, com apoio financeiro e institucional, facilitar a abertura de canais de divulgação, de distribuição e de transmissão da produção cultural;

• apoio à cultura popular, buscando potencializar as manifestações espontâneas aproximando-as das novas tecnologias e aproveitando seu potencial de ação social por meio da cultura;

• apoio a políticas articuladoras da produção cultural e da realização de eventos e festivais artísticos, como forma de estímulo às cadeias produtivas da cultura e do turismo;

• estímulo à formação de público para as produções artísticas por meio de políticas

30 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

conjuntas com a pasta da Educação, visando a introdução de conteúdos artístico- culturais fomentados pela ação do governo no ensino da rede estadual;

• estabelecimento de políticas de revitalização dos aparelhos culturais existentes, criando-os onde não existem e abrindo-os ao livre acesso da população, especialmente das camadas da população com pouco ou nenhum acesso a bens culturais.

As ações mais concretas previstas para a área:

o Recriar a Secretaria de Cultura de Estado;

o Consolidar um modelo de Sistema Estadual de Cultura que tenha capacidade de diagnosticar, planejar e realizar ações demandadas pela população voltadas ao apoio a movimentos culturais de modo disseminado nas várias regiões do Estado;

o Fortalecer os mecanismos de financiamento das atividades culturais no Estado e, em especial, dar solidez ao Fundo Estadual de Cultura (FUNCULTURA) ao mesmo tempo em que se compromete com maior democratização e transparência nas possibilidades de acesso a recursos deste fundo.

31 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

POLÍTICA DE ESPORTES, VIDA SAUDÁVEL

Os caminhos para a formulação de uma Política Esportiva apontam para a direção de que esta deve estar em sintonia com a necessidade de enfrentamento da questão social e, por isso, precisa colocar-se de acordo comum programa mais geral de governo. O esporte deve ser um instrumento na resolução da questão social, articulando-se com setores fundamentais da atividade estatal: educação, saúde, habitação e política alimentar. Neste sentido, o governo deve colocar o esporte a serviço de políticas que priorizem investimento de pequeno e médio porte, condizentes com o perfil de uma sociedade cuja maior tarefa, no momento, é diminuir as enormes distâncias entre a pobreza absoluta das periferias nas grandes cidades e do homem do campo. Uma política de desporto voltada para a cidadania e justiça social deve contemplar como prioridade a promoção de iniciativas que, sem passar pela estrutura formal do esporte-competição, ofereçam à criança, jovens, idosos, pessoas portadoras de deficiência, uma forma de educação suplementar, com grande poder atrativo e com condições de viabilizar a permanência por mais tempo do aluno no sistema de ensino, como maior assistência e opções mais variadas de aprendizagem.

No contexto atual em que se encontra a sociedade pernambucana, o governo estadual deve prioridade ao chamado Esporte Social, voltado para o atendimento prioritário das camadas mais pobres da população (praticado nas escolas e bairros populares). Os recursos destinados ao esporte Social devem ser investidos na melhoria de pessoal (professores, especialistas da área, pedagogos etc), material esportivo e outros. Regra geral, os levantamentos realizados apontam para uma subutilização das áreas esportivas existentes que, em sua maioria, demandam, quando muito, pequenas reformas, solucionáveis com investimentos insignificantes.

O Esporte Social deve buscar como parceiro principal a escola pública, valorizando seus profissionais (principalmente professores) e espaços físicos. Nos bairros populares, as

32 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO parcerias devem estar voltadas não somente para escolas públicas como para associações de moradores, igreja e demais segmentos representativos da comunidade. A execução de qualquer projeto de uma política de esportes cidadã deve ser descentralizada, respeitando os progresso consideráveis da Constituição de 1988 e as administrações municipais, cabendo aos Estados, papel complementar no campo da supervisão e capacitação de recursos humanos, não excluindo, evidentemente, as ONGs como agentes executores e de treinamento. Dado que o esporte apresenta-se com um alcance relevante entre os jovens, o nosso governo preocupado que está com o estrato juvenil da população – por causa das condições mais propícias que se encontram hoje para aderir à criminalidade, em meio à escolas precárias, desemprego e falta de perspectivas de ascensão social – entende a importância de desenvolver programas de práticas esportivas para este grupo etário.

Portanto, em conjunto, com municípios, o governo estadual deverá implementar ações que valorizem as políticas de esportes as quais combatam a evasão escolar, que estimulem melhor desempenho escolar e que se tornem veículos de promoção de valores éticos, culturais e pedagógicos para os jovens. A estrutura física para a prática de desporto encontra-se bastante degradada pela ação do tempo, sem que investimentos tenham sido feitos nos últimos anos. Alguns equipamentos públicos estaduais de fundamental importância para a reconstrução da Política de Educação Física, do Esporte e do Lazer demandarão inversões em reestruturação e renovação física. São eles: Centro de Educação Física Santos Dumont (Boa Viagem); Centro Esportivo Almirante Cox (Santo Amaro); Parque de Esporte e Lazer Arcoverde (divisa Recife-Olinda); Centro de Treinamento Esportivo de Olinda (Rio Doce- Olinda); Campus da Escola Superior de Educação Física (Santo Amaro); Centro de Educação Física de Arcoverde; e Centro de Educação Física de Petrolina Sugere-se, além da recuperação desses Centros e Parques, a ampliação e construção de novos espaços dedicados à prática social de desporto, bem como a adoção de ações mais efetivas voltadas para a melhoria da qualidade:

• Dotar as Escolas Públicas Estaduais de estruturas para a prática da Educação física, Esporte e Lazer, para que funcionem como Centros Esportivos nos Municípios;

• Construção ou ampliação de Centros esportivos nos bairros, considerando a dimensão geográfica e a demanda de clientela

• Elaboração de Calendário anual das práticas de Educação Física, Esporte e Lazer,

33 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

com larga divulgação par a ampla e efetiva participação da comunidade;

• Incentivo á criação de Conselhos Municipais de Esporte e Lazer • Promover o entrosamento entre as diversas secretarias e áreas que tratam de políticas públicas afins;

• Reavivar o Conselho Estadual de Esporte e Lazer. Órgão colegiado, de caráter normativo, consultivo, fiscalizador e de assessoramento, formulação e proposição de diretrizes estratégias para as ações do Governo.

34 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

SAÚDE PARA TODOS

A qualidade de vida dos cidadãos pernambucanos vem apresentando sucessivas melhorias nos indicadores relacionados à saúde da população. Entretanto, comparativamente às médias nacionais, o Estado ainda precisa investir muito nesta área. A expectativa de vida ao nascer, por exemplo, saiu de 62,0 anos em 1991 para 67,3 em 2000, mas o mesmo dado para o país como um todo está acima do pernambucano: 64,7 anos em 1991 e 68,6 em 2000.

A desigualdade intra-regional salta aos olhos e é motivo para forte preocupação e atenção da política de saúde estadual. Os melhores índices de expectativa de vida estão na Região Metropolitana, com 70,4 anos em 2000. Nas regiões do Agreste estão as áreas com pior expectativa de vida: o Agreste Meridional com 62,4 anos em 2000 notabilizou-se com a pior posição entre todas as doze as Regiões de Desenvolvimento, e o Agreste Central com 64,1 anos de expectativa de vida no mesmo ano. No sertão também se encontram as regiões do Araripe e do Pajeú com baixos indicadores. Na Zona da Mata, é a Mata Sul que apresentou apenas 65,0 anos de expectativa de vida, e Mata Norte com 66,6 anos. Portanto, as condições gerais de precariedade da saúde estão bastante disseminadas nas várias regiões do Estado merecendo, assim, uma política que deve ter foco em áreas de maior risco, mas deve ser universalizada para promover modificações estruturais nas condições de vida das populações. O Programa de Governo expressa o conhecimento de que são as condições de precariedade da infra-estrutura social e urbana básica, relacionadas aos déficits crônicos de acesso à água, ao esgotamento sanitário, à coleta de lixo e, é claro, a deficiências no próprio sistema de saúde pública, que precisam ser amplamente enfrentadas. No que se refere, em particular, à saúde pública, as ações e propostas de governo vão ao encontro das deficiências e inadequações mais graves no sistema de atendimento à

35 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO saúde, mais graves:

o A infra-estrutura precária e deficiente, com relação a pessoal qualificado e a equipamentos, de grande parte dos hospitais;

o O atendimento hospitalar de emergência e de alta complexidade se encontram saturados;

o A insuficiência de medicamentos, equipamentos e de instrumental nas unidades de saúde em relação à demanda;

o O desconhecimento da população sobre o funcionamento do Programa de Saúde da Família.

• Política de Investimento em Infra-estrutura da Saúde:

1. Criar na Região Metropolitana de Recife (RMR), durante o mandato da Frente Popular, três (3) novos hospitais de médio porte para Emergências e Traumas, de maneira a desafogar o atendimento no Hospital da Restauração. Esses novos hospitais são de média complexidade e, portanto, auxiliares na reorganização do sistema de atendimento na RMR. a. Custo unitário = R$ 15 milhões para construção e equipamentos b. Custo total do investimento = R$ 45 milhões.

2. Transformar o hospital regional de Arcoverde em uma unidade de alta complexidade na Regional de Arcoverde. Os pólos de alta complexidade da rede hospitalar do estado estão localizados em Recife, na RMR e nos municípios de Caruaru e Petrolina. Devido à grande distância existente entre estes dois municípios, parte considerável do interior do estado – as regiões do Sertão do Araripe, do Pajéu e do Moxotó – encontra-se desprovida de atendimento rápido e fácil.. a. Custo total de, aproximadamente, R$ 10 milhões em equipamento e pessoal.

3. Reforçar os pólos de alta complexidade de Petrolina e Caruaru e qualificar os

36 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

hospitais restantes de modo a promover a modernização, resoluvitidade e fortalecimento da integração regional da rede hospitalar do estado.

4. Implantar no Estado de Pernambuco a Assistência Domiciliar aos doentes de patologias crônicas pelo SUS que foi objeto de portaria do Ministério da Saúde e já ocorre em outros estados (em Campinas – SP, por exemplo).

• Política de Saúde:

1. Reduzir as Taxas de Mortalidade no Estado:

a. Reduzir os níveis de mortalidade materna em 50% – Garantir que 100% das gestantes tenham acesso ao pré-natal por meio de um incentivo financeiro aos municípios que melhorem as suas coberturas; b. Reduzir os níveis de mortalidade perinatal – Investir na qualificação dos recursos humanos e garantindo o reequipamento das maternidades municipais; c. Reduzir os níveis de mortalidade infantil – Ação inter-setorial (secretarias de Saúde, Educação, Infra-estrutura Água e Saneamento etc) tendo como alvo as áreas de risco (municípios com altas taxas de mortalidade e com menos de 20.000 habitantes);

d. Combater a dengue – Intensificar as ações de vigilância Sanitária e Epidemiológica e investir em pesquisa para a produção de uma vacina (LAFEPE, CPqAM); e. Instituir políticas efetivas de Vigilância Sanitária – Garantir o controle da qualidade da água potável pelos municípios; f. Instituir políticas efetivas de Vigilância Epidemiológica – Investir na qualificação das estruturas de investigação e nos recursos humanos para gerar conhecimento sobre o nosso perfil epidemiológico.

37 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

2. Modernização e consolidação da Estrutura Institucional: a. Ampliar as atividades do LAFEPE dando mais condições para que este laboratório seja um importante ator na política de saúde: i. Produzir o conjunto de medicamentos mais demandados pela população assistida no programa de saúde da família no estado ii. Construir uma rede de farmácias do LAFEPE iii. Voltar a realizar produção de imunobiológicos (vacinas) b. Investir no HEMOPE para instrumentalizá-lo para o reforço a sua atividade de prevenção e controle de doenças contagiosas por meio das transfusões sanguíneas:

i. Garantir a oferta de 100% do sangue transfusional em todo o estado de Pernambuco pelo investimento contínuo em atividades de coleta, processamento e controle sorológico e imunohematológicos ii. Garantir a posição de excelência dessa instituição como referência no diagnóstico laboratorial e tratamento de doenças do sangue, bem como na medicina transfusional e no apoio a serviços de transplante de órgãos.

3. Valorização de Recursos Humanos da Área de Saúde:

a. Desenvolver ações conjuntas com os municípios para interiorizar e fixar profissionais da saúde, pois há uma alta concentração de recursos humanos da saúde na Região Metropolitana e muita carência nas demais regiões do interior do Estado;

4. Apoiar e reforçar as ações dos Programas Saúde da Família (PSF) e Agente Comunitário de Saúde (PACS):

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a. Esses dois programas são as bases para o êxito do Sistema Único de Saúde (SUS) na atenção básica de saúde e têm contribuído sobremaneira para a redução da mortalidade infantil no país como um todo.

5. Apoiar e reforçar no Estado as ações federais em:

a. Programa Nacional de Controle da Tuberculose b. Programa de Prevenção e Controle das Doenças Sexualmente Transmissíveis/AIDS c. Campanha Nacional de Vacinação de Idosos d. Programa Farmácia Popular do Brasil

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DIREITO À MORADIA E SANEAMENTO

Os gastos em Habitação e Saneamento do atual governo, entre 2001 e 2005, conjuntamente, estiveram em patamares muito reduzidos e não foram capazes de atacar de frente a questão do déficit de moradias no Estado. Segundo o Tribunal de Contas do Estado, a média de gastos nos últimos cinco anos foi de apenas 0,27% do total das despesas orçamentárias. Note-se bem: menos de meio (0,5%) por cento das despesas estaduais. Ano passado, em 2005, foram gastos R$ 12,6 milhões, ou seja, 0,13% da despesa total do Estado. Está claro a pouca relevância que a atual gestão tem dado a essa área pelos reduzidos dispêndios realizados que não têm chegado nem mesmo a atingir uma fração de um (1) ponto percentual das despesas orçamentárias totais. Não somente isso, há uma variabilidade ano após ano nos gastos, o que demonstra que o governo parece não ter nenhum tipo de política efetiva de curto ou médio prazo para o setor. Este quadro é preocupante em função do déficit habitacional no estado. Em 2000, o déficit total no estado era de 307 mil unidades (dados da Fundação João Pinheiro). Em 2005, estima-se que o déficit tenha atingido 350 mil unidades (segundo a Assembléia Legislativa do Estado). Nas áreas urbanas – principalmente na região metropolitana – o déficit é de 259 mil unidades (74%) do total. Nas áreas rurais o déficit é de 91 mil unidades. O déficit corresponde a cerca de 15,6% do total de domicílios do Estado. Além do déficit, existe, porém, o problema da qualidade das moradias existentes. Somente na área urbana, onde o problema é mais grave, existem 134,2 mil domicílios considerados em condições inadequadas. Existem, também, 214,6 mil domicílios sem banheiro na área urbana. Portanto, o problema não é somente de quantidade (o déficit real), é também de qualidade das habitações existentes, em que um grande número apresenta condições precárias de uso.

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Para atuarmos adequadamente sobre essa questão tão grave, a Frente Popular propõe olhar o problema sob três (3) pontos de vista: Social, Econômico, e Institucional. A visão social nos impele a desenvolver esforços para conter, num primeiro momento, a expansão do atual déficit de 350 mil moradias no conjunto do estado e, em seguida, preparar-se para operar uma redução gradual do mesmo. Essa não é uma tarefa fácil, pois exigirá que realizemos uma inversão de prioridades quanto ao atendimento dos déficits de quantidade e de qualidade das habitações. Ou seja, deveremos priorizar o atendimento às camadas de renda mais baixa (até 3 salários mínimos) da população do Estado. Ademais, a urbanização de favelas e a melhoria de assentamentos precários na região metropolitana e no interior do estado; bem como a expansão do número de moradias para as populações de baixa renda nas cidades e no campo. Do ponto de vista econômico, expandir moradias para a população por meio de políticas de habitação e saneamento conseqüentes tem um efeito multiplicador elevado sobre o nível de emprego e de renda no Estado. O setor de Construção Civil gera, no Estado, cerca de 5% dos seus empregos totais; em 2001 eram 46 mil. Em 2003 diminuíram para 39 mil. São, portanto, um importante gerador de empregos para as categorias de baixos salários e pouca qualificação. De grande relevância para a geração de riquezas, o setor vem apresentando, sem que medidas tenham sido tomadas para reverter esta situação, uma redução na sua participação na geração de Valor Adicionado Bruto (VAB). Em 2001, o setor respondia por 11,5% do total do Estado. Em 2003, sofreu uma redução para 9,6% do total. O governo de Eduardo Campos implantará, em função desse quadro, programas de desenvolvimento socioeconômico e de geração de trabalho e renda que tenham estreita interface com a política habitacional: apoio a pequenos produtores de material de construção; incentivo à pesquisa de novas tecnologias de materiais de construção civil, etc. Sob o ponto de vista institucional, o governo do Estado precisa implementar meios legais/jurídicos que facilitem a posse da terra urbana. Esforços neste sentido são muito relevantes porque facilitam que as famílias sejam capazes de obter empréstimos governamentais para construir e/ou reformar suas casas, melhorando suas condições de habitabilidade. Em suma, o governo do estado terá responsabilidade em criar:

o Políticas de acesso à terra urbana e regularização fundiária voltadas à população de baixa renda; e

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o Políticas de segurança jurídica da posse (garantias de proteção legal contra despejos forçados, expropriações, deslocamentos e outros tipos de ameaças).

Saneamento Básico

Dentre tanto outros desafios que se apresentam para o governo, o equacionamento dos problemas relacionados ao saneamento é, sem dúvida, um dos mais desafiadores, sendo que o abastecimento de água e o esgotamento sanitário são as questões mais preocupantes. Esse setor, desde a extinção do BNH, se recente da falta de um ambiente institucional e governamental nas três esferas de governo, onde possam ser formuladas as políticas e diretrizes que venham solucionar os problemas existentes. A responsabilidade do nosso governo quanto a uma Política de Saneamento Estadual tem a preocupação de que seja instituído o Sistema Estadual de Saneamento Básico que seria composto por, entre outros: 1. Um Conselho Estadual definidor das políticas de Gerenciamento de Recursos Hídricos e Saneamento Básico; 2. Um Comitê de Monitoramento da disponibilidade dos recursos hídricos e dos seus usos, bem como o acompanhamento dos indicadores de atendimento e de qualidade do saneamento básico; 3. Uma entidade que elabore os planos de Saneamento Básico dos municípios, já que a maioria deles não está capacitada para exercer este novo papel que, certamente será preservado na nova lei;

4. Um fórum de controle social sobre os agentes prestadores de serviço; 5. Um fundo para financiamento dos estudos e elaboração dos planos de Saneamento Básico dos municípios, bem como para assistir aos programas de capacitação dos municípios;

Posição da Frente Popular quanto a um Plano de Metas e Ações:

• Universalizar o serviço de abastecimento de água das sedes municipais e dos

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distritos em 8 anos;

• Universalizar o serviço de coleta e tratamento de esgotos das sedes municipais e dos distritos em 15 anos;

• Definir os padrões de atendimento em cada um dos sistemas e subsistemas e assegurar o atendimento destes padrões pelos prestadores de serviço;

• Redefinir o papel da COMPESA e promover sua recuperação empresarial; • Ampliar o controle social sobre a prestação do serviço;

É também proposta da Frente Popular o fortalecimento dos consórcios municipais. Somente com a articulação mais estreita entre governo estadual e governos municipais que o déficit de saneamento poderá ter uma solução de equacionamento.

Para tal, será necessário: a) definir um modelo de articulação com os governos federal e municipais, o qual integre e comprometa todos com os objetivos da universalização no curto, médio e longo prazo; e b) viabilizar a constituição de fundo público, com recursos de todos os entes federados e dos usuários;

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SEGURANÇA PÚBLICA E COMBATE À VIOLÊNCIA

Ao longo de toda a última década a sociedade brasileira vem acompanhando de forma dramática o aumento dos índices de criminalidade violenta do país, fato este mais sensível nas principais capitais brasileiras, sobretudo por sua expressividade econômica. Segundo os dados divulgados pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP/MJ), em 2003 a taxa nacional registrada para homicídios dolosos era de 23,0 por grupo de 100 mil habitantes. No estado de Pernambuco, a taxa foi de 35,2, a segunda maior da região nordeste. Se observarmos a capital do estado, Recife, a taxa chega a 46,3, colocando a cidade em quarto lugar neste tipo de crime dentre as capitais do país. Ao olhar este fenômeno com mais cuidado, é possível perceber que, nos últimos dois anos, segundo dados divulgados pela Secretaria de Defesa Social, o público alvo preferencial desse tipo de crime é o de jovens do sexo masculino com idade entre 18 e 30 anos. Por outro lado, o acesso às armas de fogo e seu emprego indiscriminado têm contribuído de maneira substancial para o aumento do grau de letalidade e da gravidade das lesões físicas nas interações conflituosas, violentas e criminosas no estado de Pernambuco.

Nos anos recentes, os crimes violentos que resultaram em mortes tiveram seu crescimento acelerado com a disseminação do uso das armas de fogo. Em 2004 foram cerca de mil mortes registradas em todo o estado e, do total dos homicídios, 85% foram praticados com o uso de arma de fogo. No ano anterior esse índice alcançou 87%. Dados revelados pelo estudo da UNESCO também evidenciam esse dramático cenário. As taxas de jovens entre 15 e 24 anos assassinados no ano de 2002 alcançaram números alarmantes tanto na capital (192,9/100 mil) quanto no estado de Pernambuco (103,4/100 mil). O aumento das vitimizações fatais de jovens em Pernambuco, sobretudo dos homens, tem produzido elevados custos sociais, políticos e econômicos. São bens e serviços públicos e privados gastos diariamente no tratamento dos efeitos da violência e da criminalidade,

44 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO como serviços médicos, sociais, de proteção, a mobilização das instituições de segurança pública e encarceramento. Indiretamente, há perda de investimentos, bens e serviços, que ou deixam de ser captados ou deixam de ser produzidos em virtude da existência da criminalidade e do sentimento de insegurança da população. Se elencarmos os custos sociais e políticos da criminalidade observar, sobretudo, a redução da qualidade de vida das pessoas, ocasionada pela erosão das relações sociais, da naturalização e banalização da violência através de gerações, a limitação de circulação em espaços públicos e a elevação da sensação de insegurança. Enfrentar este quadro faz parte de uma agenda nacional de investimentos em segurança pública e deve comprometer, além das diferentes instâncias governamentais (federal, estadual e municipal), a participação dos indivíduos, sujeitos diretamente associados a uma política pública que deve ter como norte fundamental a defesa da vida.

No entanto, cabe ao governo do estado um papel de fundamental importância para conter o difícil quadro de violência prevalecente aqui em Pernambuco. A proposta programa de governo da Frente Popular aqui apresentada e já discutida em vários debates com a comunidade estadual é a de que é preciso, com urgência, reestruturar a Política de Segurança Pública como um todo. A questão que se coloca no presente momento é menos de volume de gastos na área e mais de como os recursos são gastos, uma vez que as despesas totais da pasta de segurança, segundo dados do Tribunal de Contas do Estado, estão perto de 8% do total das despesas orçamentárias do estado em 2005. Não existe, de um lado, um sistema de informações, por exemplo, que permita se trabalhar de modo inteligente sobre os focos de violência, nem também se tem controle sobre quais sãos os grupos sociais mais vulneráveis em tempo real. A informação existente sobre a violência é defasada e não espelha uma orientação estratégica para intervenção sobre a questão. Dito de outra maneira, os mecanismos de gestão de informação são precários e ineficazes sem conseguir gerar uma atuação conseqüente. De outro lado, o corpo de policiais civis, militares e de bombeiros encontra-se bastante desmotivado e desvalorizado. As pressões da sociedade por resultados positivos no combate à violência têm se transformado em frustrações sobre o contingente policial, uma vez que as expectativas favoráveis não se confirmam. Também a política de recursos humanos e de cargos e salários do governo do estado nas gestões Jarbas-Mendonça não ofereceram estímulos para uma boa performance policial: são salários baixos e defasados e uma situação precária de equipamentos como armamentos, viaturas e coletes entre outros.

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Os gastos destinados para Capacitação de Recursos Humanos em 2005 na pasta de segurança pública foi de apenas R$ 1,8 milhão, ou aproximadamente 0,23% do orçamento da pasta (dados do TCE). O gasto em Informação e Inteligência policial no mesmo ano foi de R$ 1,4 milhão, 0,18% do orçamento da segurança pública. Será preciso reverter uma grave situação de déficit do efetivo policial logo nos primeiros meses do próximo governo. Ao final do último governo do PSB (Governo Arraes), em 1999 o efetivo ativo da Polícia Militar era de 17.862. Atualmente este quadro é de apenas 17.613 militares e, portanto, menor do que o número existente 7 anos atrás. Conforme prevê a Lei estadual No. 12.544 de 12.03.2004 (lei de fixação do efetivo), este deveria ser de 26.865, o que significa que existe um déficit de 9.252 militares estaduais.

PROPOSTAS DA FRENTE POPULAR

No sentido de reestruturarmos uma nova Política de Segurança Pública para enfrentamento da violência no estado, entendemos que os seguintes eixos dão solidez à nossa proposta: Reorganização do Sistema Estadual de Segurança Pública. Dois parâmetros fundamentais operando transversalmente balizarão este eixo. O primeiro, de natureza político-institucional, se refere à ampliação dos mecanismos de participação social para formulação, execução e fiscalização das políticas públicas que interferem na dinâmica da segurança pública. O segundo corresponde a uma matriz estratégica, de natureza gerencial e compreende todo o universo das políticas públicas objetivando a racionalização das ações governamentais e a obtenção de resultados com efetivo potencial para a produção de impactos socialmente relevantes.

As ações a serem desenvolvidas nesse importante eixo da política de segurança implicam:

o Implementação do Sistema Único de Segurança Pública no Estado, à luz do Plano Nacional de Segurança Pública do Governo Federal;

o Otimização das ações do Consórcio Metropolitano de Segurança Pública, difundindo suas diretrizes para os demais municípios do estado;

o Criação e ampliação de mecanismos de participação social para a formulação,

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execução e fiscalização das ações de segurança pública;

o Criação do Gabinete de Gestão da Segurança Pública e do Gabinete de Gestão da Ordem Pública;

o Otimização das ações do Conselho Estadual de Segurança Pública.

Modernização das Instituições de Segurança Pública. Inexiste no âmbito da Polícia Militar uma cultura dinâmica orientada para o planejamento estratégico, tático e operacional. Tampouco se verifica a utilização de metodologias e de ferramentas de gestão capazes de otimizar o método de planejamento e a prática da gestão local. No que toca à Polícia Civil, aliada à deficiência acima assinalada, percebe-se também a inexistência de uma cultura policial orientada para a produção de provas.

Será preciso realizar a tarefa de redefinir as áreas de policiamento, circunscrevendo de maneira racional, no espaço geográfico considerado, os indicadores de violência e criminalidade, as características demográficas e sociais e os recursos públicos e privados existentes. Esta constitui uma providência fundamenta, pois visa orientar de modo consistente e qualificado as ações de governo que incidirão sobre determinada realidade. O redesenho das responsabilidades das áreas de policiamento tem o objetivo de minimizar o exacerbado centralismo administrativo, calcado no modelo clássico da administração policial, o que impede o desenvolvimento de práticas locais, descentralizadas, propulsoras do surgimento de novas lideranças locais. Propomos as seguintes ações para este eixo:

o Criação de um banco de dados unificado, reunindo informações sobre segurança pública e justiça criminal, contendo não apenas dados das polícias civil e militar e justiça criminal, mas também indicadores de violência e criminalidade, dados geográficos e sociais e informações sobre recursos públicos e privados;

o Criação de Áreas Integradas de Ordem Publica, redefinindo o desenho e as responsabilidades das áreas de policiamento;

o Criação do Centro de Controle de Estatística Criminal; o Implantação dos Centros Comunitários Distritais; o Elaboração de um Planejamento Estratégico para as polícias civil e militar

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vislumbrando sua modernização;

o Utilização de geoprocessamento nas áreas integradas de ordem pública.

Valorização dos Profissionais de Segurança Pública. Consideramos a necessidade de realização de um censo nas instituições policiais como ferramenta para levantar dados e informações qualificadas sobre os profissionais de segurança pública. A gestão dos recursos humanos precisa ser permanentemente suprida de informações para se realizar a contento. Está em pauta a reorganização do sistema de formação e capacitação do profissional de segurança pública tanto do ponto de vista dos requerimentos e qualificações necessários para a sua entrada no sistema como do ponto de vista dos mecanismos que orientam sua permanência, isto é, os critérios de ascensão profissional e de promoção na carreira. No primeiro caso, uma medida importante a ser tomada é a de criação de um Centro Integrado de Ensino em Segurança Pública que se destinaria à melhoria do ensino nas Corporações policiais. Para uma Nova Polícia será preciso revisar e atualizar os conteúdo programáticos bem como redefinir o perfil profissional do policial civil e militar. No segundo caso, a valorização do mérito deve constituir a principal tônica norteadora de uma política de promoção.

Algumas das ações a serem presididas implicam:

o Realização de um censo das instituições policiais do estado a fim de levantar dados e informações sobre os profissionais de segurança pública e identificar as principais demandas e expectativas deste público;

o Revisão e atualização dos processos de seleção das instituições policiais, garantindo os critérios vocacionais;

o Adoção de novos critérios e índices de aprovação quanto ao grau de escolaridade, estado de saúde, condicionamento físico, etc.

o Desenvolvimento de Programas de Capacitação Continuada, com o pagamento de bolsas-auxílio; e

o Reformulação do Regulamento Disciplinar.

Inteligência Policial e Produção de Informação. Visando o compromisso de

48 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO garantir um padrão de excelência na prestação de serviços à comunidade será necessário dotarmos o sistema de segurança pública de conhecimento, informação e tecnologia de patamares mínimos de qualidade. Trabalharemos para superar a prática reativa caracterizada pelo improviso e amadorismo ainda presente nas rotinas administrativas e operacionais das corporações policiais e criar outra prática organizacional que tenha como pressuposto o trabalho de diagnóstico, o planejamento fundamentado, alicerçado com base no desenvolvimento consistente de estratégias e métodos operacionais. A criação de um Centro de Controle de Estatística Criminal torna-se necessária pois reunirá o trabalho de profissionais de diferentes instituições do sistema de justiça criminal, de modo a produzir e disponibilizar informações confiáveis e qualificadas sobre violência e criminalidade no estado. As ações mais prementes sugeridas:

o Elaboração constante de diagnósticos que orientam ações de segurança pública;

o Realização de ações em segurança pública baseadas na elaboração de diagnóstico, seguida de planejamento e avaliação de resultados; e

o Revisão e atualização da Doutrina de Inteligência.

Controle Externo, Participação Social e Valorização das Ouvidorias. Muitas são as vantagens de se incorporar a participação social no processo de formulação e implementação de políticas públicas. O reconhecimento e o envolvimento dos cidadãos co- gestores da ordem urbana promove a necessária responsabilização partilhada da boa governança democrática. Permite também a mobilização dos recursos e das energias sociais criativas e inexploradas, os quais apontam alternativas práticas e viáveis para os problemas enfrentados. E, por fim, assegura a transparência, o controle social e a sustentabilidade das intervenções pela sua apropriação e responsabilização comunitária. Nosso governo pretende que as Ouvidorias de Polícia sejam mais um instrumento desta participação social na política se segurança pública. Elas se configuram, na verdade, como órgãos criados para monitorar e controlar a atividade policial, por esta razão, devem ser autônomas, independentes, com orçamento próprio e representativas de um canal institucional da população no exercício do controle externo da atividade policial.

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Desenvolvimento de Programas de Prevenção da Violência. A orientação estratégica que se pretende para a pasta da segurança pública é a de prevenir a ocorrência de delitos e não apenas atuar quanto eles ocorrem. Organizar o trabalho da pasta para atuar deste modo, sem dúvida, é um grande desafio que precisaremos encarar em nosso governo. Em particular, com base em diagnósticos realizados, dois grupos da população se apresentam como necessitando de atenção especial de programas de prevenção: as mulheres e os jovens. Para as primeiras, o atendimento em delegacias especializadas é uma demanda apenas parcialmente cumprida pelo governo. Será preciso aumentar o número de delegacias da Mulher em direção ao interior do estado e melhorar a qualidade do atendimento nas existentes. A capacitação dos policiais civis e militares para um melhor atendimento e encaminhamento das vítimas também se apresenta como necessário.

Para os jovens, que têm aparecido como grupo social mais vulnerável aos riscos de vitimização e a práticas violentas, as ações devem ocorrer de modo coordenado e considerando as demandas do grupo: os jovens precisam ser ouvidos e devem ser partícipes das ações as quais eles estarão sujeitos. As ações propostas:

o Para as mulheres ver seção dedicada às mulheres neste documento; o Para a juventude: a) políticas de segurança pública voltadas para a prevenção da violência, e b) políticas em outras áreas do governo como as de atividades de educação, aceleração escolar, profissionalização, inserção no mercado de trabalho devem ser consideradas.

Valorização de Ações Municipais de Prevenção à Violência. Nosso programa de governo entende que é crucial para o bom desempenho de qualquer política pública a participação dos governos municipais. O poder local tem um papel decisivo na vida dos cidadãos. Mais próxima do cotidiano das pessoas, a administração municipal interfere de forma mais direta nas condições de vida da população, já que é responsável pela oferta da maior parte dos serviços básicos e essenciais. Daí acreditarmos que o governo estadual deve valorizar e estimular ações municipais de prevenção da violência, colocando-se,

50 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO sempre que possível e necessário, como intermediário em convênios de cooperação entre o Governo Federal e os municípios. As ações propostas:

o Incentivo aos municípios para a criação de planos municipais de prevenção da violência;

o Criação e desenvolvimento de programas de prevenção da violência em parceria com municípios;

o Otimização do funcionamento do Consórcio Metropolitano de Segurança Pública, envolvendo um número cada vez maior de municípios.

Todos estes eixos estratégicos pontuados terão suas ações implementadas por meio da criação de três programas específicos:

1. Programa Delegacias Inteligentes Consiste na reestruturação das rotinas de trabalho da Polícia Civil: a. Tripartição das funções elementares: atendentes; administradores; policiais inteiramente dedicados à investigação; b. Redefinição das rotinas policiais; c. Informatização das rotinas redefinidas: criação de softwares originais, criação de redes e sistemas virtuais de informação; e d. Incorporação ao espaço da delegacia de instituições afins: defensoria pública; ministério público; juizado especial cível, etc.

2. Programa Segurança da Mulher Conjunto de ações preventivas, de repressão qualificada e de apoio à mulher vítima de violência doméstica ou de gênero: a. Criação da Comissão de Segurança da Mulher, com o propósito de apoiar a definição e na implementação das políticas orientadas para a segurança da mulher; b. Elaboração de projetos de implantação de casas-abrigo e de Delegacias

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da Mulher; c. Desenvolvimento de programas de capacitação dos profissionais de segurança pública, bem como daqueles que atuarão nas casas-abrigo; d. Construção de Casas Abrigo.

3. Programa Segurança das Minorias Opera como centro irradiador de políticas para a área de segurança, incluindo ações de treinamento e capacitação junto às Polícias Civil e Militar e funciona ainda como canal de permanente diálogo com representantes das comunidades negra, homossexual, terceira idade, entre outras.

a. Criação de Centros de Referência para atendimento a segmentos da população tradicionalmente excluídos das políticas de segurança e alvos de discriminação ou desatenção pela sociedade em geral.

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CIDADANIA E DIREITOS SOCIAIS

A experiência histórica vem demonstrando que, a despeito de inúmeros avanços consolidados no país e no estado relacionados à ampliação de direitos sociais, ainda existe um quadro de forte desigualdade entre grupos sociais no acesso a oportunidades para uma vida digna. Em particular, entre esses grupos estão as mulheres, os negros, os idosos, os jovens e portadores de deficiências. Não basta que os mecanismos da ação pública do Estado sejam democratizados. Eles precisam sê-lo de forma tal que desvelem um conjunto de práticas cotidianas fortemente enraizadas e que promovem violência e discriminação contra camadas específicas da população, e que sejam capazes de provocar reações ora de punição ao delito ora de educação contra o preconceito.

1. Políticas Públicas para as Mulheres

Nosso programa de governo assume a responsabilidade de implantar instrumentos e equipamentos que venham promover mudanças significativas por meio de Políticas Públicas específicas de gênero, marcando uma nova etapa na vida das mulheres e no atendimento às suas lutas históricas como fortalecimento, interlocução e parcerias com as organizações do movimento de mulheres e feminista.

O principal compromisso é o de criar uma Coordenadoria Estadual da Mulher ligada

53 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO diretamente ao gabinete do governador para atuar de modo firme no atendimento dos anseios e reivindicações das mulheres pernambucanas. Essa Coordenadoria deverá atuar de modo coordenado com outras áreas do governo, com intuito de maximizar os resultados das ações em várias áreas como saúde, educação, combate à violência, política de ocupação e renda, entre outras. No enfrentamento da pobreza, as estratégias econômicas do governo deverão dar atenção especial às mulheres que, em proporção crescente, estão se tornando parte relevante dos chefes de família de baixa renda no estado. Os instrumentos de apoio à agricultura familiar e ao estímulo dos pequenos negócios, por exemplo, deverão dar suporte diferenciado (acesso a crédito e a terra) para que as mulheres chefe de famílias possam obter facilidades da ação governamental. Projetos de qualificação profissional e de (re)inserção no mercado de trabalho também serão elementos desta ação de fortalecimento econômico das mulheres mais carentes em todo o estado.

No combate à violência, urge que o nosso governo crie novas Delegacias para Atendimento à Mulher que, em atuação conjunta com outras delegacias especializadas, garantam cumprimento das leis que asseguram a não violência contra a mulher e ajam no sentido de obter apurações rigorosas e com conseqüente punição para todos os crimes contra a mulher. Teremos uma política de superação da violência contra a mulher cuja atuação se dá por meio de prevenção, assistência e enfrentamento. Logo, a política pública precisa garantir o acesso das mulheres ao atendimento e informação sobre as formas de prevenção de todos os tipos de violência. Também deverá reconhecer, nas distintas ações, programas e projetos, que a violência contra a mulher é uma questão de saúde pública e, portanto, tratada como uma prioridade. As ações na segurança pública, no conjunto desses esforços, deverão necessariamente se organizar para consolidar as seguintes práticas:

• Capacitação dos profissionais de Polícia para o melhor atendimento à mulher; • Criação de uma rede de proteção às testemunhas que dê segurança para que as mulheres denunciem não apenas os crimes de morte, mas de espancamento e de violência contra a mulher;

• Garantir atendimento jurídico específico à mulher vítima de violência;

Na saúde, é compromisso do Governo Eduardo Campos, em conformidade com as demandas realizadas pelos movimentos de mulheres, efetivar o cumprimento do Programa

54 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO de Assistência Integral à Saúde da Mulher, respeitando as diversidades étnicas e raciais; implementar a atenção à saúde das mulheres lésbicas e bissexuais; sensibilizar gestoras(es) e profissionais de saúde para tratar as mulheres em situação de risco de vida em decorrência de tentativa ou prática de aborto clandestino; desenvolver esforços na busca da prevenção e assistência em DSTs/Aids; garantir investimentos em programas de moradia com o acesso prioritário para as mulheres vítimas de violência; aumentar o investimento de recursos em programas e projetos habitacionais que garantam o direito a moradia e a terra urbana e rural; ampliar e universalizar as soluções específicas para os transportes coletivos; criar uma política de creches públicas na cidade e no campo; garantir e promover o acesso das mulheres quilombolas e indígenas à terra. O governo deverá atuar com vistas à ampliação da concepção tradicional de saúde da mulher como uma questão exclusivamente de saúde materna para uma posição de atendimento integral, desenvolvendo ações que incorporam a perspectiva de gênero. Nessa nova visão, coloca-se como referência o estímulo à implementação da assistência em planejamento familiar, a promoção da atenção obstétrica e neonatal qualificada e humanizada, a prevenção e controle das DST e da Aids na população feminina, a redução da morbimortalidade por câncer cérvico-uterino e de mama, e a revisão da legislação punitiva da interrupção voluntária da gravidez.

Nos esforços de efetivação dos direitos humanos das mulheres (civis, políticos, sexuais e reprodutivos), o governo pretende estimular a implantação e implementação/extensão de defensorias públicas específicas para as mulheres. Assegurar às mulheres no sistema prisional, ou egressas desse, a dignidade e proteção dos direitos humanos, sexuais e reprodutivos, também deverá ser objeto da política da Coordenadoria da Mulher. E, em sentido amplo, coloca-se como instrumento para elaborar e implementar legislação e políticas para efetivação dos direitos sexuais e reprodutivos, com políticas de difusão, bem como garantir os direitos das mulheres e dos casais quanto à opção da maternidade/paternidade. A política de educação do Estado terá papel relevante nesta cruzada pela melhoria das condições de vida das mulheres. Por meio delas se pretende construir mudanças efetivas nas formas de reprodução de atitudes e comportamentos discriminatórios, como: assegurar e monitorar ações estratégicas nas instâncias de decisão e execução de políticas educacionais para uma educação e pedagogia não sexista, anti-racista, antidiscriminatória e anti-homofóbica. Nesse sentido, à Secretaria da Educação caberá:

55 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

o introduzir na formação de docentes, disciplinas sobre relações de gênero, raça, etnia e orientação sexual;

o rever os parâmetros curriculares e as políticas educacionais sobre a ótica de gênero, raça e etnia, orientação sexual, geracional e pessoas com deficiência;

o avaliar os livros didáticos e recursos pedagógicos, integrando a dimensão de gênero, raça, etnia, orientação sexual, geração, deficiência e regionalidade;

o criar programas de educação que entendam a realidade e as necessidades das mulheres do campo; e

o desenvolver, por meio da Coordenadoria Especial de Políticas para a Mulher, campanhas educativas na mídia de enfrentamento a todas as formas de discriminação, com ampla divulgação dos direitos da mulher”.

2. Políticas Públicas para a Juventude

O desgaste do tecido social do país em decorrência do baixo crescimento econômico nos últimos 25 anos resultou na desesperança de parte considerável da sua juventude. A longa crise do mercado de trabalho com uma, conseqüente, redução das oportunidades de ocupação e renda, tem bloqueado de modo permanente possibilidades de incorporação de jovens à estrutura produtiva. De um lado, vem promovendo a desesperança entre os jovens, cristalizada num elevado estímulo à evasão escolar, o qual limita, por esse modo, as chances de profissionalização e de construção de carreiras sólidas. De outro, os jovens estão sendo atraídos para a criminalidade, para o tráfico e para a violência. Esse quadro se generalizou no país como um todo, a despeito de que é nas regiões metropolitanas e nas capitais dos estados que a violência tem sido mais intensa. Ela atinge bem proximamente os mais desfavorecidos social e economicamente: a violência e a criminalidade têm se mostrado mais intensa entre jovens (18 a 24 anos) do sexo masculino, na população de baixa renda e entre negros e pardos. Uma lista ampla de fatores pode ser utilizada como explicativa da generalização pelo país do fenômeno da violência juvenil: a expansão do crime organizado e o aliciamento de crianças e adolescentes que ele promove; as altas taxas de impunidade dos crimes; a desigualdade social; a falta de mobilidade social; o fácil acesso a armas de fogo; e o inchamento das cidades brasileiras. São, todas, características bem presentes na realidade pernambucana sobre a qual nosso governo precisará ser capaz de intervir.

56 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

Para enfrentar esses problemas, no que tange ao combate à violência, as ações governamentais deverão aumentar a eficiência dos órgãos de segurança pública, realizar um trabalho preventivo com adolescentes e jovens, e reduzir o número de armas de fogo entre a população. Mais importante, entretanto, será o papel que as políticas sociais básicas – de saúde, de educação, de renda mínima, de trabalho, entre outras) – deverão realizar para fortalecer os indivíduos, as famílias e as comunidades carentes do Estado. As questões que mais afetam os jovens e que, por isso mesmo, são motivos de suas preocupações mais prementes são as dificuldades de:

♦ Acesso à escola de qualidade ♦ Inserção no mercado de trabalho ♦ Acesso a meios de informação (com destaque para os digitais) ♦ Acesso aos bens culturais como forma de ampliar suas experiências de formação humanística

Na dificuldade à escola de qualidade, o que se nota é que é muito alto o índice de exclusão escolar entre jovens. Se os esforços para universalização do ensino fundamental vêm tendo resultados positivos no país e em nosso estado, o mesmo não ocorre no ensino médio e mesmo no técnico-profissional. Reside justo aqui o problema dos jovens entre 15 e 24 anos. À medida que precisam avançar na sua formação escolar passam, de um lado, a enfrentar a escassez de vagas nas escolas do ensino médio e profissional e, de outro lado, são impelidos pela situação sócio- econômica da família – principalmente aquelas de baixa renda – a entrar no mercado de trabalho e a, paulatinamente, abandonar sua formação educacional. No governo da Frente Popular, o que se pretende é desenvolver esforços junto com o governo federal e os municípios para assegurar a ampliação de vagas no ensino médio e no ensino profissional. O governo deverá destinar mais recursos para a expansão do ensino para jovens ao mesmo tempo em que buscará a melhoria das condições físicas e materiais das escolas no estado. Quanto aos problemas enfrentados no mercado de trabalho, este programa de governo está atento ao fato de que há um grave estrangulamento na capacidade de oferta de ensino técnico-profissional e os requerimentos de um mercado de trabalho em constante evolução quanto aos conteúdos – principalmente os tecnológicos – exigidos à classe trabalhadora. Nas últimas duas gestões do governo estadual pouco foi feito nesta área e

57 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO mesmo o Sistema S (Sesi, Senai e Senac), o qual tem um papel importante de capacitação técnica, não tem sido ágil o suficiente para se adequar a esta nova situação. Durante gestão no governo do estado, a Frente Popular se propõe a tomar esta bandeira da qualificação profissional como um dever da administração estadual. Esforços e políticas públicas terão como objetivo o papel ativo de coordenador de ações junto às políticas federais para a área e também como aglutinador, junto ao Sistema S, de políticas educacionais de capacitação e treinamento profissional, visando ampliar a oferta de vagas existente e reordenar as vagas já existentes para que se adequem mais prontamente aos novos requerimentos de qualificação profissional do setor empresarial.

Em relação ao acesso aos meios de informação e aos bens culturais,o desafio é o de prover a juventude, mas também o conjunto da população do estado, de acesso a meios de informação de modo amplo. A revolução tecnológica que vem se processando na área de telecomunicações (redes digitais, internet, telefonia celular, etc) vem obrigando os governos a darem mais atenção à criação de uma rede de comunicações democrática e de fácil acesso individual a conteúdos informacionais e educacionais, principalmente para as populações de baixa renda. Neste programa de governo, a preocupação com a formação, em sentido amplo, humanística e educacional das pessoas é questão de primeira ordem. Não se podes conceber que o estado de Pernambuco continue a apresentar indicadores sociais tão baixos relativamente à situação média dos demais estados brasileiros. A articulação das políticas e ações que os demais estados engendram visam, a um só tempo, a ampliar o acesso aos serviços educacionais (ensino fundamental, médio, profissional e universitário) com ênfase nas carências reveladas pelos cidadãos do interior do estado e quase sempre relegadas a último plano, e também a criar (onde não existe) e a ampliar (onde já existe) a rede digital que permitirá um mais rápido e mais intenso acesso a informações e bens culturais, bem como à formação profissionalizante em regiões do interior do estado, voltada para o atendimento das necessidades econômicas e empresariais locais.

O programa de governo propõe o seguinte conjunto de ações para a juventude:

♦ Ampliar o acesso ao ensino médio e profissionalizante, bem como expansão do número de vagas dos cursos universitários;

♦ Para evitar a evasão escolar dos jovens, o governo estadual deverá instituir, nos

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ensinos médio e profissionalizante, programas de bolsas de estudo remuneradas, como incentivo à realização de trabalhos e pesquisas escolares monitorados pelo corpo docente (o qual também terá um incentivo financeiro para engajar-se neste programa);

♦ Desenvolver esforços para ampliar o engajamento das políticas (e recursos) do Ministério da Ciência e Tecnologia quanto à ampliação do número de Centros de Vocação Tecnológica (CVTs) no estado;

♦ Desenvolver esforços para ampliar o engajamento das políticas (e recursos) do Ministério da Educação relacionadas com os programas que visam a manter e a estimular os jovens a permanecerem na escola, a fim de concluir seu ciclo básico profissional, principalmente o Pro-Jovem e o Ensino a Jovens e Adultos (EJA) no estado;

♦ Como forma de facilitar a transição da fase de capacitação profissional para a fase de entrada no mercado de trabalho, o governo do estado propõe-se a requalificar e redimensionar para a realidade local as propostas do programa Primeiro Emprego do Ministério do Trabalho e Emprego, o qual tem tido um relativo insucesso, de modo a favorecer a inserção dos jovens no mercado de trabalho.

3. Direitos da Criança e do Adolescente

No governo de Eduardo Campos a preocupação mais premente será com relação às áreas de educação e saúde para a criança e para o adolescente. Muito embora desde a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em 1990 avanços importantes tenham sido construídos, ainda há muito por fazer. Na educação houve a ampliação do ensino fundamental em direção a sua universalização e na saúde a redução da taxa de mortalidade infantil (crianças de até um ano de idade) também foi notória (de 62,6 em 1991 para 47,3 em 2000 em Pernambuco). Entretanto, retrocessos também se fizeram presentes, caracterizados pela expansão de mortes de adolescentes por causas externas (homicídio e acidentes de trânsito) e pela piora das condições dadas aos adolescentes em medida privativa de liberdade.

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Em termos espaciais, o problema se apresenta sob o contraste, de um lado, entre a pobreza e o desemprego urbanos, que vem atingindo milhares de famílias na região metropolitana, o que joga crianças e adolescentes nas ruas em situação de mendicância e de delinqüência; e de outro lado, entre a pobreza e o desemprego rurais, representado fortemente pelas difíceis condições de vida prevalecentes nas regiões do semi-árido do estado. Nessa região, existe um quadro muito sério de desnutrição infantil decorrente da miséria e da falta de informação. Para as crianças e adolescentes que escaparam da morte por desnutrição, as condições precárias de vida enfrentadas pelas famílias exigem que elas sejam levadas a sair da escola (ou mesmo a não ir) desde muito cedo para ajudar seus pais e parentes em trabalhos na agricultura de subsistência. Em ambos os casos e regiões, o futuro das crianças e adolescentes torna-se irremediavelmente comprometido. Acesso à educação e a uma vida digna por meio da saúde torna-se essencial para crianças e adolescentes, mas não será suficiente. Além da expansão de vagas nas escolas, da melhoria da educação, e da ampliação das condições de saúde, será preciso operar políticas que combatam as distâncias sociais e econômicas por meio de ações de inserção em trabalhos dignos, de criação de oportunidades de cultura e lazer e políticas de transporte e moradia voltadas para a recuperação social de toda a família. Para enfrentar essa dura realidade, o governo estadual precisará se articular com os governos federal e municipais, para, juntos, realizarem ações coordenadas para o resgate dessas populações. Conselhos Tutelares precisarão ser criados em todos os municípios do estado. O ECA prescreve que cada município deve ter, pelo menos, um Conselho Tutelar composto por cinco membros escolhidos pela própria comunidade. Aqui em Pernambuco ainda há muito por ser feito, pois até fevereiro/2006 havia 148 conselhos para um conjunto de 185 municípios. O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) tem realizado várias conferências nacionais com a presença de delegados estaduais, estabelecendo normas e diretrizes para as várias dimensões da questão infanto-juvenil. Caberá ao governo do estado estruturar-se em prol das proposições já em vigor pelo Conanda.

4. Preconceito racial

Consideramos que o Brasil, apesar dos avanços realizados no combate à

60 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO discriminação racial na última década, ainda não cumpriu seu dever de reduzir o quadro histórico de desigualdade e exploração dos negros. No estado, essa problemática se mostra merecedora de atenção especial de políticas públicas. Em primeiro lugar deve estar claro que será compromisso de governo trabalhar pela ampliação de Direitos Humanos e a favor da luta em prol da igualdade racial. A exemplo das políticas e molduras institucionais que estão sendo consolidadas no Governo Federal, como é o caso da Secretaria Especial de Políticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), aqui em Pernambuco também o governo deverá fortalecer os instrumentos públicos governamentais para atender às demandas da comunidade negra. É sabido, entretanto, que algumas questões exigem soluções e intervenções mais prementes por parte da ação pública. Nos temas relacionados ao acesso à educação, à inserção no mercado de trabalho e à esfera da segurança pública existem fraturas profundas a serem combatidas.

No que se refere ao acesso à educação, regra geral, os indicadores revelam uma situação mais frágil entre a população negra do que entre brancos. Em Pernambuco a taxa de analfabetismo da população negra com 15 anos e mais de idade de 18,9% é superior a do mesmo grupo etário dentro da população branca (13,0%). O número médio de anos de estudo, como se poderia esperar nas atuais condições, na população negra de 15 ou mais de idade é de 5,8 anos; para a população branca do grupo etário o número médio é de 7,4. Esses números ressaltam que há mecanismos muito profundos de perpetuação da desigualdade racial na sociedade brasileira, os quais estão a impedir que a população negra venha a ter acesso em nível de igualdade à mesma educação que é oferecida para a população branca. O trabalho de reversão deste quadro não pode se limitar apenas à expansão do número de vagas para estudantes negros nas escolas fundamentais, de ensino médio ou da universidade. A atuação da política educacional deve ser também a de problematizar em seus conteúdos de ensino a questão racial e dos problemas sócio-culturais advindo da nossa herança da escravidão. No mercado de trabalho a Frente Popular considera que reside parte essencial dos problemas da comunidade negra. Estudos mostram que para o caso do Brasil, os quais podem ser facilmente generalizados para Pernambuco, as diferenças de rendimentos percebidas entre brancos e negros são alarmantes. Em 2003, portanto, muito recentemente, o rendimento médio mensal da população branca foi da ordem de R$ 877,00 e mais que o dobro do rendimento médio da população negra, de R$ 418,00. Segundo o Ipea, estudos

61 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO confirmam que essa distância não tem se reduzido na última década, pelo contrário, mantem-se relativamente constante. O nível de informalidade entre trabalhadores negros também é superior ao mesmo encontrado entre brancos: 42% destes últimos têm carteira assinada ou são funcionários públicos, entretanto, entre os negros o nível de formalidade é de apenas 31,4%. Menos de um terço dos trabalhadores de cor negra tiveram acesso a direitos trabalhistas no país. A situação mais grave revelada pelo estudo é que a diferença de rendimentos entre brancos e negros não decorre apenas do desnível educacionais entre os dois grupos, o que desmente a tese corrente de que apenas o acesso mais amplo à escola e a conteúdos educacionais permitiria a igualação das remunerações pagas no mercado de trabalho. Existem sim diferenciações de rendimentos que não são explicados pela escolaridade ou por qualquer outro atributo mais palpável, e, portanto, tais diferenças devem ser atribuídas ao preconceito racial.

O sistema de segurança pública tem se constituído, regra geral, em elemento de discriminação racial. A política pública deverá despender esforços para mudar este quadro. Os problemas nesta área dizem respeito ao fato de que os negros tendem a ser as maiores vítimas não apenas dos criminosos, mas também do aparato policial. A proporção de negros e pardos mortos pela polícia é superior a de brancos mortos numa mesma localidade (seja bairro ou favela) mesmo considerando que a proporção de brancos no total da população é bem superior a de negros e pardos. Relatórios do PNUD sobre o tema apontam que a proporção de pretos, entre as vítimas da violência policial, é de cerca de três vezes a proporção desse grupo na população como um todo; resultado que prefigura uma situação de forte viés racista nos aparelhos de repressão. Para atuar sobre todos estes problemas, a candidatura da Frente Popular entende que será necessária a mobilização de movimentos sociais, Ong’s e de toda a sociedade civil para ampliar a discussão, mobilizar recursos e implementar políticas públicas que sejam capazes de atuar pontualmente sobre as questões levantadas entre outras, mas que também possibilitem um avanço na redução do preconceito racial e na institucionalização em caráter permanente, dos direitos humanos da população de cor negra em nosso estado.

5. O Movimento de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros

Nossa candidatura não poderia se furtar a apoiar as reivindicações do movimento de

62 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros (GLBT) no estado. O compromisso histórico dos socialistas com as bandeiras de igualdade de direitos para todos os cidadãos nos coloca lado a lado com o movimento gay. Não podemos aceitar que cidadãos e cidadãs pernambucanos ainda sejam discriminados por sua orientação sexual. No sentido de construirmos uma sociedade libertária, democrática e com princípios socialistas devemos assegurar que as práticas cotidianas de discriminação no trabalho, a escola, nas ruas, enfim em todos os lugares contra pessoas homossexuais não encontrarão eco nem respaldo por parte do nosso governo. O compromisso que assumimos com a comunidade GLBT é de caminharmos aqui em Pernambuco em direção aos avanços realizados pelo Governo Federal na administração Lula e relacionados ao programa Brasil Sem Homofobia – Programa de Combate à Violência e à Discriminação contra GLBT e de Promoção da Cidadania Homossexual.

Com este propósito, afirmamos que as políticas públicas do governo de estado, em particular, as da Secretaria de Justiça devem estar comprometidas com os valores que prezam a dignidade humana e que se colocam contrários a todas as formas de preconceito. As políticas públicas precisam ser transversais para terem amplo alcance e efetividade: as secretarias de educação, de saúde, de segurança, etc irão atuar na área de sua competência para atuar conta a Homofobia. Por exemplo, deveremos incentivar campanhas educativas que esclareçam para toda a população que a homossexualidade não é uma doença ou prática desviante. É importante comprometer-se com uma reorganização interna na pasta da Segurança no sentido de preparar o corpo policial para o atendimento respeitoso a pessoas homossexuais. Evitando que estas se sintam constrangidas ao requerer ajuda dos órgãos estaduais de segurança pública. Enfim é um dever do Estado o reconhecimento dos direitos dos homossexuais, na medida em que estes são cidadãos plenos, empreendedores e pagam impostos, como todos os demais. Diretrizes para as ações na área:

• Combater a discriminação e a violência contra GLBT • Apoiar a luta pelo fortalecimento dos direitos humanos de GLBT • Criminalizar a homofobia e a garantir a punição dos crimes cometidos contra a orientação homossexual

63 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

• Garantir os direitos de previdência social para parceiros de funcionários públicos homossexuais a exemplo do que ocorre com demais servidores não- homossexuais.

• Garantir a doação de sangue sem discriminação, retirando do processo de coleta a necessidade de identificação da orientação sexual do doador.

6. Políticas para Idosos e de Acessibilidade

A tendência recente de envelhecimento da população pernambucana, seguindo padrões também vigentes no país como um todo, está a demandar dos governos um novo olhar para a política pública. À medida que as pessoas de 60 anos e mais passam a aumentar sua proporção no total da população, novas necessidades de equipamentos sociais são exigidas. As pessoas estão vivendo mais e precisam viver com mais qualidade de vida. Logo, é necessário que toda a sociedade esteja preparada para garantir que isso ocorra. O governo da Frente popular pretende atender às novas demandas colocando-se a favor das práticas promotoras de uma vida saudável e não apenas cuidar da doença. Na verdade, como coloca a Política Nacional do Idoso, a importância de hábitos saudáveis durante toda a existência das pessoas é que deve ser um objetivo das políticas estaduais. O compromisso do governo é de garantir, no que se refere à saúde, o atendimento, principalmente por parte do Programa de Saúde da Família, o qual presta serviços no próprio domicílio do idoso evitando que este se desloque demasiadamente até um posto de saúde ou hospital. No entanto, o governo estadual, juntamente com as prefeituras municipais e a sociedade civil, pretende desenvolver ações de promoção de atividades físicas em escolas e praças – e em todo tipo de espaço público à disposição – para desenvolver a prática da saúde, da sociabilidade entre os que estão aposentados e estimular o engajamento dos idosos para trabalhos sociais.

O idoso, ao contrário de décadas passadas, tem tido uma atuação relevante em grande parte das famílias brasileiras porque tem se constituído em fonte de renda proveniente de aposentadoria. Na medida em que têm um papel econômico importante, o governo do estado deverá implementar políticas públicas que estimulem o trabalho cooperativo nas

64 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO próprias comunidades onde vivem, como por exemplo, ajudar a repassar conhecimentos práticos a jovens nos CVTs a serem criados pelo Programa CVTs nos Bairros. O que é importante ressaltar é que o envelhecimento da população não poder ser encarado como um problema ou fardo par o conjunto da sociedade. Na verdade, os idosos se constituem em fonte de saber e maturidade, podendo ser colocada novamente à disposição dela na fase de inatividade devido à aposentadoria. Os equipamentos públicos de infra-estrutura, entretanto, precisam estar adaptados a esse grupo populacional. Para podermos oferecer democraticamente a cidade para as pessoas que nela vivem, a cidade deve ser capaz de acolher as limitações físicas e as potencialidades destes idosos. O governo pretende atuar, junto com os municípios, incentivando que estes incorporem cada vez mais nas proposições dos seus Planos Diretores Municipais e Planos Diretores de Transporte e Trânsito mecanismos de facilitação e de acessibilidade ao espaço público. Nos logradouros públicos – teatros, repartições públicas, escolas, hospitais, postos de saúde etc – práticas como a disseminação de piso antiderrapante, de estruturas de apoio e sustentação à locomoção, entre outros devem ser estimuladas. Entendemos ser necessário que nas construções, reformas ou ampliações de edificações de uso público ou coletivo, normas garantidoras de acessibilidade – que não se destinam apenas a idosos mas também a pessoas portadoras de deficiência – sejam disseminadas e aplicadas.

65 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

GESTÃO DEMOCRÁTICA DO ESTADO

Para dar sustentabilidade ao sistema democrático não basta que se consagre as regras formais legitimadoras desse tipo de regime. O grande desafio para a consolidação da democracia está na possibilidade de lograr a estabilidade de longo prazo dos seus princípios e fundamentos. Para que tal venha a ocorrer, urge que o déficit social venha a ser corrigido, principalmente no acesso à educação, à saúde e à moradia. No entanto, somente a redução do déficit não será suficiente. Será igualmente necessário solucionar o déficit na capacidade de implementação do Estado, ou seja, as políticas públicas precisam ser capazes de produzir resultados almejados. No governo estadual a proposta da Frente Popular dirige-se para a construção desse aparato estatal com caráter republicano, o qual dá prioridade a mecanismos de gestão comprometidos com o interesse público. Deverá ser recusada a prática recorrente dos partidos à direita no espectro político no estado de isolamento e confinamento burocrático. O poder de coordenação do governo estadual precisa ser fortalecido para que políticas públicas venham a produzir os frutos planejados e desejados. A sociedade civil, no entanto, precisa ser fortalecida por meio da construção de novos espaços de negociação entre atores sociais. Um novo modelo de gestão das estruturas públicas do governo estadual precisa, então, ser construído. Três eixos dão a tônica a essa tarefa democrática: o da organização gerencial, o da democratização da relação com servidores públicos, e o do sistema de controle das funções estatais.

66 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

o Organização Gerencial

Uma tarefa primordial para o governo da Frente Popular será a de proceder ao redimensionamento e a reestruturação na matriz organizacional da gestão do estado, agrupando unidades por temas afins. A gestão deverá estar em estreita sintonia com os objetivos e prioridades colocados nos eixos do programa de governo. Neste sentido, os mecanismos de gestão precisam estar voltados diretamente, de um lado, para as questões do atendimento dos déficits sociais graves que ainda perduram no nosso estado. E, de outro lado, para a promoção do desenvolvimento econômico sustentado. Fortalecer as iniciativas de formação de consórcios e pactos municipais, atualmente com dificuldades políticas e burocráticas para se efetivarem, é compromisso com formas de gestão democrática. A superação das dificuldades nos campos social, cultural e econômico somente poderá ser atingida a contento com a participação dos governos municipais e da sociedade civil nos municípios. No governo Eduardo Campos, o modelo liberal de gestão do Estado, o qual preconizou um enxugamento das instituições estatais com o objetivo de reduzir a sua importância estratégica no atendimento às demandas sociais, será abolido. Será extinta a Secretaria de Administração e Reforma do Estado, que não é outra coisa que um instrumento da minimização da esfera pública estatal, e transferidas suas atividades para a Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão Pública, à semelhança do que existe no Governo Federal. É preciso repaginar a atual Escola de Governo do Estado, transformando-a na Escola de Governo e Gestão Pública, cuja finalidade será a capacitação e formação dos servidores públicos e da sociedade em geral envolvidos em atividades essenciais do Programa de Governo da Frente Popular. Exemplo: formação de gestores públicos para atuar nos arranjos produtivos, na instalação da Transnordestina, no Pólo de Poliéster, na Hemobrás, para que os servidores estejam aptos a lidar com a nova realidade. A sociedade em geral deverá também ser capacitada instrumentalmente para poder participar com competência do Programa de Gestão Participativa (em contraposição ao Orçamento Participativo), hoje completamente anacrônico.

É necessário fortalecer os modelos de gestão que contemplem as políticas públicas integradas no território, dando ênfase ao poder e à gestão local, racionalizando o que é apenas teórico no chamado “desenvolvimento local sustentável” e tratando o cidadão como um ente que precisa ser visto no seu todo e não por partes. Não adianta a educação chegar

67 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO sozinha numa região se faltam as condições básicas de saúde, saneamento, habitabilidade, entre outras.

Nova relação Governo –Cidadão

O princípio geral que guiará a relação do governo com o cidadão é a transparência e a legitimidade das demandas que emanam da sociedade. Para tal, um novo comportamento gerencial precisa ser adotado, o qual se caracterize por:

o Utilizar o Planejamento Estratégico Participativo como instrumento que indique e facilite o monitoramento de resultados que visem à melhoria das políticas públicas;

o Facilitar o acesso dos cidadãos aos bens e serviços ofertados pelo Estado, através de melhoria de fluxos, e estruturação de ambientes e tecnologias que facilitem o processo de atendimento;

o Democratizar as relações com os Servidores Públicos, visando estabelecer um canal direto com as representações dos Servidores Públicos Estaduais nos moldes do Sistema Permanente de Negociações Coletivas, conforme foi implantado na Prefeitura do Recife, na gestão de Danilo Cabral (PSB) como Secretário de Administração 2001-2003. Através do Sistema, serão negociados e estabelecidos: a) Planos de Cargos e Carreiras; b) Núcleos de Atenção ao Servidor; c) Contratos de Gestão; d) Formação e Capacitação.

o Sistemas de Controle

A instituição de sistema de controle em todas as esferas do executivo do governo estadual tem por finalidade expandir e aperfeiçoar a capacidade de ação estatal na implementação de políticas públicas e na consecução das metas coletivas. Os mecanismos de controle são eficientes instrumentos para garantir a responsabilização pública dos governantes. Serão propostos e implantados no nosso governo controles internos e externos.

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Os controles internos referem-se à implantação e /ou confirmação das auditorias e controladorias internas em cada entidade setorial do governo, dando-lhes condições de funcionamento. Os controles externos são mais complexos porque envolvem órgãos do judiciário e o controle social sobre os atos do governo. De um lado, será preciso viabilizar a implantação de um canal direto com os órgãos reguladores: Tribunal de Contas e Ministério Público, com o objetivo de subsidiar a implantação de instrumentos de controle que favoreçam a análise de processos e contábil. De outro lado, no controle social, mecanismos inovadores precisam ser criados por meio do Programa de Gestão Participativa – participação da sociedade em todas as fases e etapas do planejamento e não apenas do orçamento – utilizando a democracia participativa (por representação). E, por fim, ainda referindo-se ao controle social, um sistema estadual de Avaliação de Políticas Públicas precisa urgentemente ser implementado visando a: a) construir e controlar indicadores de desempenho com critérios de eficiência e eficácia de modo a mensurar o custo-benefício das ações para a sociedade e para a gestão; e b) instituir comitês de avaliação e administração das políticas públicas, que deverão ter representantes técnicos do legislativo, com a finalidade de propor e avaliar as ações e os ajustes de metas.

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PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

As ações de governo propostas neste eixo estruturante visam dotar o estado de Pernambuco de uma base científica e tecnológica moderna com capacidade de contribuir para modificar o seu potencial econômico. Não basta que a comunidade científica tenha expressividade numérica, não se trata de uma questão quantitativa. Ela precisa ter uma ação dirigida para produzir inovação e isso requer a integração com segmentos empresariais demandante de novos produtos e processos de produção.

O desenvolvimento econômico em formas modernas e atuais está a requerer altos níveis de conhecimento e inovação para colocar-se e manter-se em trajetórias dinâmicas de crescimento. Em Pernambuco, como, de resto, no Brasil, depois de uma fase de intenso crescimento fincado na prioridade às inversões em capital físico chegou-se a uma exaustão nas taxas de expansão da economia – a economia teria entrado em fase de rendimentos decrescentes de escala – e cuja tendência somente poderá ser modificada – no sentido de viabilizar-se uma nova fase de rendimentos crescentes de escala – por uma mudança na forma como se concebe o desenvolvimento econômico. A prioridade para o momento atual é a de investimentos na base científica e de produção de tecnologia, a qual, por sua vez, requer que o capital humano – isto é, a formação das pessoas – seja desenvolvido em ritmo e qualidade superiores ao que ocorreu na estratégia anterior de desenvolvimento. Esta é uma estratégia bastante promissora, pois, se implementada sob critérios de busca de condições igualitárias para os cidadãos pernambucanos, deverá reorientar as ações governamentais para reduzir a desigualdade prevalecente nas oportunidades educacionais e de emprego e renda. Durante o governo de Eduardo Campos apresentar-se-á para Pernambuco uma oportunidade histórica para realizarmos este salto de desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação. Abre-se uma janela para realizar uma conjugação entre o sistema estadual de política científica e tecnológica e o sistema nacional aqui representado pelas ações do MCT no estado. Duas importantes instituições foram consolidadas na gestão do PSB no MCT aqui em Pernambuco. O Centro Regional de Ciências Nucleares (CRCN), que é a primeira

72 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO instituição de pesquisa e desenvolvimento na área nuclear localizada fora da região Sudeste, com a missão de atuar nos campos de: radioproteção e segurança nuclear; medicina das radiações; saúde dos trabalhadores; metrologia das radiações ionizantes; meio ambiente; hidrologia e indústria; apoio ao licenciamento e fiscalização de instalações radioativas e nucleares; e gerenciamento de rejeitos produzidos na região; e o Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (CETENE), o qual tem a missão de desenvolver, introduzir e aperfeiçoar inovações tecnológicas que tenham caráter estratégico para o desenvolvimento econômico e social do Nordeste brasileiro. O governo federal estuda a implementação de outras unidades de pesquisa que, em conjunto, reforçarão no estado um Complexo Tecnológico do MCT. São elas: o Instituto para Inovação em Informática (i3), voltado para promover atividades de formação de capital humano fortemente aliado ao meio industrial (papel de think tank regional e nacional) orientado para o desenvolvimento de processos e sistemas de inovação na área de informática, e um Centro de Imagens Médicas Avançadas, fortemente articulado com as atividades de Medicina Nuclear do CRCN que, equipado com instrumental de última geração, desenvolverá pesquisa, capacitação profissional, desenvolvimento e prestação de serviço, com atendimento à população em especialidades hoje não atendidas ou somente disponíveis ao público com maior poder aquisitivo.

Integra ainda as ações do MCT no estado o conjunto de atividades promovidas pela Secretaria de C&T para Inclusão Social, distribuídas em inúmeros municípios, beneficiando 15 arranjos produtivos locais (APLs), implementando 22 centros vocacionais tecnológicos (CVTs), 39 centros de inclusão social (CIDs) fixos e 7 CIDs móveis. Também é ação do MCT a implantação – em parceria com prefeituras municipais – de 13 Salas de Teleconferências para as 13 Instituições de Ensino Superior de Pernambuco vinculadas a Assiespe.

PLANO DE AÇÃO

É meta do nosso programa de governo integrar toda a capacidade instalada no estado, envolvendo as instituições mantidas pelo governo estadual, as universidades e instituições de ensino superior, os institutos e centros de pesquisa, as escolas técnicas e as empresas que atuam em ciência, tecnologia e inovação. O plano visa a promoção e implementação de um novo modelo de ciência e

73 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO tecnologia do Estado com base numa nova arquitetura institucional constituída de ações setoriais e transversais, embasadas em iniciativas indutoras que objetivam potencializar a convergência das oportunidades e dos interesses dos três segmentos capazes de promover novos patamares de desenvolvimento, ou seja: (i) setores demandantes de tecnologias (segmentos produtivos); (ii) setores ofertantes de tecnologias (universidades, instituições de P&D, empresas); e (iii) setores promotores e gestores de ciência e tecnologia (governo federal, estadual e municipal, agências e bancos de desenvolvimento nacionais e internacionais e demais entidades do setor). Essa nova arquitetura institucional permitirá a mudança de estilo de crescimento com vistas a assegurar a expansão econômica a taxas mais elevadas por um período longo de tempo, ao criar espaço para a indução da competitividade no sistema empresarial e ampliação do investimento em capital humano. Ou seja, pretende-se planejar o sistema de C,T&I de modo que ele contribua para:

• Viabilizar saltos de competitividade/produtividade e de renda, criando condições para mudanças estruturais no tecido produtivo do Estado;

• Maximizar sinergias entre ações já em curso ou que sejam agregadas aos esforços que vêm sendo feitos pela política nacional de C,T&I e pelo setor produtivo;

• Impulsionar a modernização da base produtiva já existente no Estado, dando ênfase aos segmentos produtivos, cadeias e arranjos locais;

• Estimular a inserção de Pernambuco em setores modernos e dinâmicos da economia condicionados aos avanços da ciência e tecnologia, mesmo ainda incipientes ou apenas projetados, representando, desta forma, iniciativas portadoras de futuro;

• Promover impacto horizontal e estruturante assegurando a competitividade sistêmica que conduza a novos patamares de desenvolvimento no Estado.

INTERIORIZAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO:

INSTRUMENTOS DE AÇÃO

o Centros de Inovação e Difusão de Tecnologias (CidTec)

74 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

Os centros integrados de apoio à inovação e à difusão tecnológica representam a materialização da nova arquitetura institucional do sistema estadual de inovação. A proposta constitui-se de uma rede estruturada em diversas unidades de CidTec’s objetivando a articulação e mobilização de competências, organizadas em estrutura flexíveis, compatíveis com as especificidades do setor econômico e da base institucional de educação, ciência e tecnologia da sub-região onde se instalem. A implantação de um sistema de CidTec deve ser concebida a partir de parcerias entre instituições de educação e/ou pesquisa e entidades de suporte ao desenvolvimento empresarial, sempre que possível aproveitando as instituições já existentes ou sendo implantadas no local (universidades, centros de pesquisa, institutos tecnológicos e de educação profissional, centros vocacionais tecnológicos-CVTs, etc), com forte participação do setor produtivo.

o “Estrada do Conhecimento” - Expansão e Consolidação da Rede de Comunicação Ótica

O esforço de transformação estrutural no sistema estadual de C,T&I demandará uma moderna infra-estrutura de redes digitais. Será por meio dessa estrada do conhecimento que as instituições governamentais, científicas e empresariais e o público em geral passarão a operar em redes cooperativas. Aplicações cada vez mais demandantes de capacidade de transmissão de dados, como transmissão de imagem em alta resolução, operação remota de sistemas, vídeo conferência, acesso a bibliotecas digitais e bases de conhecimento compartilhadas, representam uma verdadeira revolução na forma de produzir e disseminar conhecimento, com grande impacto em áreas como educação, saúde e de negócios. Isto requer, porém, uma infra-estrutura de comunicação complexa e nem sempre disponível nos diversos espaços territoriais.

O compromisso do governo do estado é o de prover, durante seu mandato, todos os municípios pernambucanos de acesso à infra-estrutura nacional ótica de alta capacidade para comunicação, computação e conhecimento. Esta tarefa deverá sem empreendida em parceria com a CHESF e outras empresas concessionárias de serviço (energia, rodovias, ferrovias), quando for o caso.

75 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

As ações concretas para tal objetivo são:

• implantação e extensão para o interior da iniciativa de redes avançadas

Criação de condições reais de implantação e extensão para o interior de Pernambuco da iniciativa de redes avançadas em multigigabits (Iniciativa Ótica Nacional - ION) de forma a atingir o maior número possível de municípios do Estado através de parcerias com operadoras de telecomunicação e da CHESF, dentre outras.

• projetos piloto de infra-estrutura de rede avançada

A presente iniciativa refere-se à implantação de projetos piloto de montagem de infra-estrutura de rede avançada, associada aos pólos produtivos do Estado, onde haja demanda por acesso e competência em recursos humanos para operação do sistema. Por outro lado, encontra-se em fase avançada a implantação da infra-estrutura de fibras ópticas da Rede Metropolitana do Recife vinculada à Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) do MCT, tendo o CETENE como instituição âncora. Os investimentos a serem feitos para a consolidação da ‘estrada do conhecimento’ são, em sua maior parte, de atribuição do governo federal, o qual tem políticas em andamento para criar uma nova infra-estrutura nacional ótica de alta capacidade, a chamada Infra-estrutura Ótica Nacional (ION). Caberá ao governo estadual dimensionar a sua contrapartida de recursos para consolidar o sistema estadual de inovação que, por sua vez, será implementada paulatinamente ao longo do mandato.

• Programas de Fixação de Alunos e Pesquisadores no Interior do Estado

O governo pretende criar dois programas visando o estímulo à fixação de capital humano nas principais cidades do interior do estado. São eles: o Programa Pré-acadêmico “Universidade à Vista” e o Programa de Fixação de Pesquisadores no Interior (ProFix). O primeiro visa a criar condições, por meio de bolsas para a realização de ‘cursinhos’ pré-

76 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO vestibulares, de reforço à entrada de estudantes do interior na universidade. O programa busca atingir cerca de 10 mil alunos espalhados pelo estado, principalmente nos municípios onde ocorre a interiorização das universidades federais (UFPE e UFRPE) e as expansões da UPE. Terá uma Coordenação Geral ancorada na FACEPE, sendo implementado por meio de chamadas de Editais Púbicos, concedendo bolsas para os alunos participantes e para os alunos-professores, selecionando-se as propostas que atendam a um conjunto de critérios de qualidade e responsabilidades acadêmicas. Diferentemente do programa do governo Jarbas chamado de “Rumo à Universidade”, que tem recebido apoio financeiro de forma não regular e acidental, esse programa da Frente Popular terá regularidade garantida ao longo de toda a sua implementação. O que o governo mais deseja é ampliar as oportunidades para que os alunos do interior, principalmente os de baixa renda que mais necessitam, venham a ter reforço de conteúdos educacionais que lhes facilitem o acesso, por mérito, à universidade.

O segundo programa, o ProFix, por sua vez, visa a reter pesquisadores em regiões menos desenvolvidas do estado. A fixação de pessoas qualificadas (doutores/mestres) no interior é muito difícil por requerer estímulos que somente podem ser concedidos com um planejamento de longo prazo e que envolva efetivamente o apoio do estado, das universidades, dos centros e institutos de pesquisa e dos setores produtivos. Isso explica, por exemplo, o fato de que muitas das experiências anteriores para criação de entidades de pesquisa e de extensão agrícola no interior em regiões adversas tenham padecido de problemas de descontinuidade, especialmente pela falta de condições efetivas para a fixação de pessoal qualificado. Por outro lado, com o surgimento de núcleos iniciais de interiorização das universidades federais, UFPE, UFRPE, e a criação da nova universidade multi campi na região do Vale do São Francisco - UNIVASF e a expansão da estadual UPE, nasce a possibilidade de criação de cursos de pós-graduação em novos moldes, proporcionando reais condições de uma interiorização definitiva da pesquisa, além do ensino e, por conseqüência, da extensão, fomento e inovação tecnológica. Nesses ambientes será possível preparar pessoas com elevado nível de qualificação para contribuir nas soluções inovadoras para os problemas locais. Para viabilizar a presença e a permanência de pessoal qualificado nessas instituições de educação, pesquisa e inovação sediadas no interior, é necessário que sejam criados novos instrumentos específicos, os quais exigirão uma forte articulação entre o Estado e os agentes diretamente responsáveis pela interiorização das instituições. Assim, torna-se imprescindível a participação do MCT, CNPq, MEC e CAPES, além das instituições

77 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO envolvidas com a educação profissional, como o SENAI, por exemplo.

• Nova FACEPE

Para dar conta da política de C,T&I no estado com a envergadura que se pretende para essa área, a qual terá papel estratégico no desenvolvimento nos próximos anos, o governo da Frente Popular precisará reestruturar o órgão de fomento à ciência e tecnologia do estado, a sua Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia (FACEPE). Foi criada em 1989 por iniciativa do Governador Miguel Arraes, com o início de suas atividades operacionais a partir de julho de 1990. O problema que tem dificultado as operações desta instituição de fomento à pesquisa refere-se à insuficiência de recursos para atender às demandas da comunidade científica – em 1997 foram disponibilizados cerca de US$ 2.800,00 por ano para cada pesquisador, em 2004, os recursos minguaram para US$ 380,00 por pesquisador – além do que a instituição vem sofrendo de elevada instabilidade e flutuação no repasse de recursos. Para solucionar essa questão, o governo da Frente Popular, em função das novas atribuições que serão desempenhadas pela FACEPE na política de promoção de um salto qualitativo no sistema de C,T&I para criar uma nova trajetória de desenvolvimento em Pernambuco, deverá rever o parágrafo 1º. do artigo 3º. da Lei estadual No. 10.401/89, no sentido de redefinir o que é a receita orçamentária do estado para fins da dotação de meios necessários ao pleno funcionamento da FACEPE. O governo de Eduardo Campos, sensível às demandas da comunidade científica estadual, se compromete a desenvolver esforços para realizar a alteração na Constituição Estadual visando a uma solução definitiva para a regulamentação da dotação orçamentária deste que é o principal órgão de fomento à produção de ciência no estado. Essa solução deverá ser negociada com a comunidade científica de maneira a preservar, no período inicial da mudança, algum grau de liberdade para que o governo estadual opere a contento a reestruturação orçamentária global sem causar drásticos cortes ou interrupções de recursos para setores essenciais: em outras palavras, o governo deverá propor um plano de escalonamento temporal para que os recursos da FACEPE se elevem ao nível desejado.

78 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

• Programa CVT nos Bairros: desenvolvendo ações sociais

Experiências do MCT em Pernambuco para a construção de Centros Vocacionais Tecnológicos em 22 municípios têm contribuído para popularizar o conhecimento científico e tecnológico em atividades vocacionadas para o mercado local. Os CVTs atuam em várias frentes: floricultura, gastronomia, rizicultura, confecções, patrimônio histórico, castanha de caju, caprinos, apicultura, carpintaria, laticínios, couro de caprinos, vinho e laboratórios técnicos. Motivado pelo impacto e sucesso dessa iniciativa, o presente Programa de Governo da Frente Popular, ainda no campo das contribuições que C&T pode oferecer para a inclusão social, propõe ampliar o conceito original dos CVTs estendendo a implantação dessas unidades para os bairros da região metropolitana e de cidades de médio porte do interior (como Caruaru e Petrolina), com a criação do Programa CVTs nos Bairros. Cada CVT é então agora concebido como uma unidade de ensino profissionalizante informal voltada para a difusão de conhecimentos práticos na área de serviços técnicos vocacionados pelo próprio bairro, identificada pelo adensamento de atividades profissionais que caracterizam o bairro. Sua estrutura de ensino, com base em oficinas e laboratórios práticos − instalados, por exemplo, em ambientes pré-existentes de escolas, associações de bairro, ou outros −, estará orientada para capacitar jovens para o trabalho prático em um determinado campo da atividade profissional. O CVT do Bairro deve atrair aqueles jovens que não têm tempo disponível ou já estejam excluídos das condições de receber ensino formal − porque buscam ganhar a sobrevivência nas ruas, por exemplo −, e por estas razões precisam adquirir conhecimentos para ter uma profissão ou ofício e para entrar no mercado de trabalho mesmo como autônomo. A partir de estudos de viabilidades, oferta e demanda e plano de metas bem definido, os CVTs nos Bairros atuarão capacitando profissionais em serviços técnicos que demandam treinamento e conhecimentos específicos tais como: hidráulico especializado; eletricista de maquinas e motores; eletrotécnico; operador de máquina e equipamentos especializados; serralheiro soldador especializado; vidreiro especializado; marceneiro decorador; entalhador e restaurador; pintor especializado; pedreiro instalador; jardineiro ornamental; cozinheiro gourmet; gestor de serviços especializados; bem como em outras atividades de serviços mais sofisticados como: técnicos de laboratórios; técnicos em serviços eletrônicos; técnicos em computadores; digitadores; recepcionistas e assim por

79 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO diante. O Programa será coordenado de forma conjunta pelas Secretarias de Educação e de Ciência Tecnologia e Meio Ambiente e envolverá intensas articulações com o Governo Federal, os governos municipais interessados, e com instituições parceiras: Universidades, CEFETs, Escolas Técnicas e entidades do setor privado (comércio e industria), como o sistema “S”.

• ParqTel: impulsionando o parque produtivo

O Parque Tecnológico Eletro-Eletrônico (ParqTel) iniciado no terceiro Governo Arraes (1995-1998) precisa ser consolidado. Nas últimas gestões de Jarbas ele não recebeu atenção e seu potencial econômico não foi alimentado. O estado de Pernambuco perdeu, assim, uma excelente oportunidade de acelerar o desenvolvimento econômico pela criação e estímulo à instalação de empresas com alto conteúdo tecnológico. Estudos recentes do Ipea, órgão de pesquisas econômicas do governo federal, sobre empresas radicadas (nacionais e estrangeiras) no Brasil mostram que aquelas que utilizam mais intensamente a tecnologia e a inovação em seus produtos e processos exportam mais, têm maior faturamento por empregado e pagam mais à sua mão-de-obra que as empresas que não usam a ciência e a tecnologia a seu favor. Por essa razão que nosso governo se propõe a incentivar a aplicação de ciência e tecnologia nos empreendimentos produtivos aqui no estado. Segmentos econômicos de elevado potencial de crescimento como informática, microeletrônica, biotecnologia, nanotecnologia, optoeletrônica, química fina, equipamentos médico-hospitalares, se encontram no nosso estado à espera de maior estímulo da política pública.

O nosso governo deverá criar o Programa Laboratório de Inovação Tecnológica nas Empresas (ProLab) como o principal fomentador da consolidação do ParqTel. Esse programa deverá aperfeiçoar a atual estrutura de estímulo à incubação de novas empresas no âmbito das entidades públicas e deverá induzir, no ambiente das próprias empresas privadas, investimentos de parcerias público-privadas (PPPs) capazes de dar retorno à sociedade. As ações desse Programa, com amplitude em todas as iniciativas voltadas para a

80 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO incubação de novas empresas de base tecnológica, e a consolidação do ParqTel, visam multiplicar as oportunidades de acesso a novos recursos, explorando as possibilidades abertas pela Lei no 10.973, de 2 de dezembro de 2004, da Inovação Científica e Tecnológica, recentemente regulamentada pelo MCT. No presente momento, e pela primeira vez, as ações decorrentes dessa Lei de Inovação se encontram em pleno processo de implementação de editais públicos pela Finep, dentro da política industrial (PITCE) e em parcerias com os Estados, no modelo de subvenção direta às empresas com a previsão de investimento do governo da ordem de R$ 209 milhões. Com base nesse mesmo conceito o Programa ProLab atuará na consolidação da estrutura do Parque Tecnológico de Eletro-Eletrônica de Pernambuco – ParqTel, cujo projeto de modernização encontra-se, no presente momento, sendo objeto de estudos prospectivos e de viabilidade conduzidos por grupos de pesquisa da UFPE que atuam na área em questão, com financiamento da Finep. Ainda dentro do Programa são previstas ações voltadas para:

o apoio à implantação de novos centros empresariais de consultoria e serviços; o criação de fundos de aval para micro e pequenas empresas nas áreas de informática e de alta tecnologias, visando a alavancar recursos de bancos oficiais, como o BNB;

o apoio à implantação de novas empresas visando expandir e consolidar o Pólo de Informática já existente;

o expansão das incubadoras de empresas de base tecnológica; e o criação de novos parques tecnológicos temáticos em áreas portadoras de futuro de acordo com as novas diretrizes da PITCE. Todas essas iniciativas são traduzidas numa leitura clara e precisa de que no Governo de Eduardo Campos as ações serão priorizadas, viabilizando saltos de competitividade, de produtividade e de renda para mudanças estruturais no tecido produtivo de Pernambuco.

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PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

A estratégia de crescimento econômico e de geração de emprego e renda está estruturada de maneira a ser capaz, de um lado, de estimular e fortalecer novos setores e ramos produtivos e, de outro lado, de promover a recuperação e soerguimento de tradicionais setores com potencial para a modernização. O governo da Frente Popular tem a compreensão de que a ação governamental na economia pode e deve ser capaz de operar uma transformação substantiva na base produtiva pernambucana com intensidade tal que as taxas de expansão da economia estadual sejam capazes de apresentarem um ritmo muito mais intenso e sustentado do que o padrão vigente na última década e meia. Para atingir esse objetivo o governo estadual deverá ter como prioridade acelerar a produtividade da economia e aumentar o nível e qualidade do investimento pelo estímulo ao: a) crescimento centrado numa nova base de conhecimento; b) crescimento lastreado no fortalecimento do capital humano; e c) pelo desestímulo ao estilo de crescimento baseado exclusivamente no barateamento do capital físico.

A política de crescimento econômico para o estado precisa ser redimensionada quanto a seus objetivos e quanto a metas a serem alcançadas. Ao longo do governo Jarbas- Mendonça (1999-2006) tem sido propagandeado que a economia estadual teria retomado taxas de expansão muito vigorosas. Fato que não corresponde exatamente à realidade. Pegando carona no impulso inicial da desvalorização cambial ocorrida em 1999 sobre a economia brasileira, a economia pernambucana teve taxas médias anuais de 2,5% entre 1999-2003, superiores às do país, de 1,9% no mesmo período e inferiores às do Nordeste, de 3,3% nos mesmos anos. As estimativas existentes para os anos de 2004 e 2005 mostram que a situação mais recente não variou em substância: as estimativas de crescimento econômico de Pernambuco nesses anos foram de 3,3% e 2,9% (Condepe/Fidem), enquanto para o Brasil as previsões realizadas pelo Ipea foram de 4,9% e 2,3%. Esses dados apenas confirmam nossa hipótese de que a economia estadual não apresenta vigor suficiente para sustentar no tempo um emparelhamento com o nível de PIB observado nacionalmente. A estratégia de desenvolvimento a ser construída pelo governo do Estado na nossa gestão precisa ter um foco. De um lado, ela precisará realizar esforços

84 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO na direção da ampliação dos investimentos públicos – especialmente em infra-estrutura – e na criação de um ambiente favorável ao investimento privado. De outro lado, ela deve buscar, de modo orientado, a melhoria das condições sociais e de geração de emprego e renda da população, de modo a se garantir um crescimento sustentado do PIB com inclusão social, o qual tenha reflexos no aumento do PIB per capita. Os dois caminhos, a serem trilhados paralelamente, visam colocar o estado numa trajetória de equalização de seu PIB per capita relativamente ao nível nacional. O PIB por habitante pernambucano em 2005 é equivalente a, aproximadamente, 60% do nacional (de R$ 5.602,00 para o Estado e R$ 9.405,00 para o país, em valores constantes de 2004). Imagine-se, num exercício conservador, que a taxa de crescimento do Pib pc brasileira vai evoluir em modestos 1,5% ao ano nos próximos vinte anos, isto é, entre 2005 e 2025, (um pouco maior que a ocorrida entre 1990 e 2005, que foi de aproximadamente 1,25% ao ano), então, ao final de vinte anos o PIB pc brasileiro poderia alcançar o patamar de R$ 13.049,00.

Qual será a posição do PIB pc de Pernambuco neste cenário. Se a sociedade pernambucana pretende convergir para os patamares de renda mais próximos do nível médio nacional, o que os governos poderão fazer. Duas alternativas, entre várias, podem ser sugeridas. Na primeira, ao final de vinte anos o PIB per capita estadual equivalerá a 80% do nacional. Na segunda, se deseja igualar o PIB per capita estadual com o mesmo nacional. Os cenários são os seguintes:

CENÁRIO A – 80% DO PIB pc NACIONAL EM 2025 o Estabeleçamos uma meta. Digamos, os governos estaduais desejam realizar esforços para que o PIB per capita de PE aumente de seu patamar atual de 60% do PIB per capita nacional para um nível mais

elevado, de 80% do valor nacional em 2025. o Esta implica que deveremos ter um PIB per capita de, aproximadamente, R$ 10.439,00 em 2025. o Precisaremos, pois, crescer a uma taxa anual de 3,22% ao ano tão somente para que nosso PIB por habitante se eleve para o nível de 80% do PIB por habitante nacional. o Neste último período de 1999/2005, a taxa de crescimento do PIB per capita no estado foi de 1,66%. Precisaremos, portanto, fazer um esforço de duplicação da taxa atual de crescimento da riqueza por habitante no Estado.

CENÁRIO B – 100% DO PIB pc NACIONAL EM 2025 o Esta meta implica que deveremos ter um PIB per capita de, aproximadamente, R$ 13.049,00 em 2025. Será necessário crescer a uma taxa anual de 4,38% ao ano, durante vinte anos, para que nosso PIB o por habitante se iguale ao mesmo nível do PIB por habitante nacional. o Precisaremos, portanto, fazer um esforço de multiplicação da taxa atual de crescimento da riqueza por habitante no Estado por um fator de 2,6 vezes a média atual (do período 1999/2005).

85 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

ELEMENTOS PARA UMA ESTRATÉGIA

Acreditamos que uma estratégia de desenvolvimento econômico conseqüente para o estado, com a preocupação de criação de empregos e da melhoria da competitividade empresarial, precisa estar orientada para, de um lado, o estímulo às novas atividades e, de outro lado, para o apoio a segmentos produtivos críticos. Estímulo às novas atividades. Importantes investimentos privados estão sendo anunciados para se implantarem no estado nos próximos anos. O estaleiro naval, a refinaria de petróleo, o pólo de poliéster, a siderúrgica são alguns deles, e constituirão em vultosas inversões de recursos com desdobramentos, em termos de adensamento de cadeias produtivas, muito promissores no médio e longo prazos. Ao lado destes investimentos privados, projetos de infra-estrutura em andamento com forte participação do setor público, principalmente, do Governo Federal representam a contrapartida pública para a fixação e consolidação dos projetos privados, mas significam também que oportunidades econômicas se abrem pela própria viabilização física da infra- estrutura gerada. A duplicação da BR 101, a Transnordestina, o Porto de Suape, o Porto de Recife, a construção de gasodutos, entre outros, tendem a abrir um novo leque de negócios empresariais para a economia estadual.

Fortalecimento de cadeias e arranjos produtivos. Atividades tradicionais presentes na estrutura produtiva do estado, em nosso governo, deverão passar a ser vistas como dotadas de potencial ainda não inteiramente utilizado. A reestruturação e modernização de importantes arranjos produtivos já consolidados visam ampliar a competitividade da economia estadual. No agronegócio, espalhando-se desde o semi-árido até a faixa litorânea, atividades relacionadas a fruticultura irrigada, aqüicultura (carcinicultura e piscicultura),

86 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO ovinocaprinocultura, produção de cachaça, avicultura; biodiesel a partir da mamona, floricultura e apicultura. No setor de serviços, existem atividades com elevada potencialidade e poder gerador de emprego e renda que deverão ser objeto de especial interesse da política. São as de turismo, cultura, entretenimento, artesanato, serviços médicos, educacionais e de informática. Apoio a segmentos em situação crítica. A indústria de transformação do estado encontra-se em posição de quase estagnação, no entanto, ramos como os de produtos alimentares e de têxtil e confecções são alguns que merecerão atenção da política estadual. Na agricultura, que sofre com muita intensidade das condições climáticas, o foco de interesse da política será o de provisão de assistência técnica para que as condições de vulnerabilidade sejam superadas. E finalmente, o governo pretende rever a política de comércio exterior no estado. O quadro atual é de perda de posição relativa no contexto regional e nacional e a diversificação da pauta comercial não tem gerado resultados positivos para a economia local.

CONSTRUINDO A ESTRATÉGIA

Duas forças operativas deverão ser acionadas na promoção do desenvolvimento econômico. Uma dessas forças deve ser capaz de estimular a presença de ramos produtivos de alto poder expansivo sobre o tecido produtivo estadual e ter elevada capacidade competitiva para exportações.

o Projetos Inovadores/articuladores caracterizados pelo seu conteúdo de conhecimento e de utilização de capital humano especializado:

o Parque Tecnológico (ParqTel). Retomada e alavancagem de seu potencial estratégico para reposicionar o setor industrial no Estado. Refere-se à consolidação de um parque estadual de produção de equipamentos eletrônicos e de informática, em consonância com as proposições, oportunidades e recursos da Política Nacional de Desenvolvimento Industrial e de Comércio Exterior do Governo Federal. O Parque Tecnológico foi criado, ainda no Governo Arraes, especialmente para agregar empresas de base tecnológica, incluindo

87 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

condomínios de empresas emergentes, empresas de pequeno e médio porte e as empresas-âncora interessadas em desenvolver tecnologia de ponta.

o Cadeia Produtiva de Produtos Farmacêuticos. Consolidar os investimentos do governo federal na Hemobras em Goiana e expandir e fortalecer o Lafepe e o Hemope para produzirem remédios, vacinas e hemoderivados para o mercado nacional e internacional. Obtendo-se, para isso, apoio institucional e financeiro da Política Nacional de Desenvolvimento Industrial no seu vetor de estímulo à produção de fármacos;

o Cadeia Produtiva da Cultura. Fortalecer dos empreendimentos voltados para atividades culturais com potencial para atendimento de demandas culturais dos mercados estadual, regional e nacional (cinema, áudio e vídeo e música);

o Cadeia Produtiva do Turismo. Dar novo impulso ao turismo no estado por meio de uma nova agenda de negócios que passa a incorporar, de modo permanente e reconceituado, as atividades de turismo histórico, rural, museológico, de negócios, gastronômico e de eventos culturais, entre outros, à, já tradicional, atividade de “sol e mar”, que, inclusive, tenderia a ser reforçado pela perspectiva de uma estratégia de integração com as outras opções de atrativos turísticos presentes no estado. Os recursos do PRODETUR passarão a ser operados com o intuito de colaborar para o reforço a esta idéia expandida daquilo que se concebe como atividade de turismo.

O outro vetor da estratégia de crescimento constitui-se de duas linhas de ação. Uma é a que visa à reestruturação de ramos produtivos já existentes e que precisam ser modernizados para elevar seu potencial competitivo em termos nacionais e internacionais. A outra visa o fortalecimento de cadeias produtivas de base local, principalmente no interior do estado e a expansão e melhorias das condições de comercialização da produção da agricultura familiar.

o Projetos modernizadores: que requerem alta porção de investimento em capital físico (plantas industriais, equipamentos, infra-estrutura física etc).

88 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

o Consolidação do Complexo Industrial-Portuário de Suape. Garantir a efetivação dos investimentos relacionados aos grandes projetos anunciados como a refinaria, estaleiro e fábrica de poliestireno (PET); desenvolver ações para incentivar a ampliação das cadeias produtivas ligadas a cada um dos grandes investimentos anteriores;

o Ferrovia Transnordestina – desenvolver esforços junto ao Governo Federal para a realização dos investimentos necessários à finalização da ferrovia no seu trecho de Missão Velha (CE) a Salgueiro e Suape (PE); a ferrovia, quando pronta, deverá reduzir custos de transporte para as cadeias produtivas em regiões do Sertão (gesso e frutas/vinhos) e Agreste do estado possibilitando uma integração econômica maior do espaço pernambucano;

o Diversificação da matriz energética e auto-suficiência do estado na geração de energia para incorporar a termoelétrica, a biomassa, etc, visando reduzir as importações (e as saídas de recursos para outras regiões) para ser um produtor de energia. Algumas das apostas mais viáveis são as de energia de origem de biomassa (como o álcool e o óleo de mamona), a termeletricidade a gás natural, a co-geração a gás natural e a energia eólica.

o Projetos de base local: que requerem baixo nível de investimento em capital físico e são grandes geradores de ocupação e renda e inclusão social:

o Agricultura familiar – política de apoio e fortalecimento por meio de extensão rural, incentivos fiscais à produção e desenvolvimento de redes de distribuição da produção;

o Cadeias produtivas regionais – política de apoio e fomento ao potencial econômico revelado nas doze regiões de desenvolvimento do estado por meio da criação de redes de distribuição da produção, de disseminação de informações de apoio aos negócios (mercados interno e externo), da promoção de incentivos fiscais específicos e da ampliação da oferta de infra-estrutura básica. As principais cadeias produtivas são: fritucultura/vitivinicultura; aqüicultura; avicultura; ovinocaprinocultura; açúcar e álcool; têxtil e confecções; couro e calçados; fármacos; equipamento de base tecnológica; software; pólo

89 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

gesseiro; pólo leiteiro; produção de flores tropicais; apicultura; indústria naval; e petroquímica.

o Implementação de um Porto Seco em Petrolina – criação de área alfandegária para facilitação dos negócios de comercialização e exportação da produção de fruticultura irrigada.

INSTRUMENTOS E RECURSOS

Instrumentos:

o Política Tributária

A política de gasto governamental é, em si mesma, um poderoso instrumento para a efetivação da estratégia de desenvolvimento econômico na medida em que constitui um poderoso estimulador da demanda agregada em setores e/ou ramos produtivos escolhidos. No entanto, um instrumento particular precisa ser melhor dimensionado. É o que se refere à política de cobrança tributária vigente no estado, a qual será, em nosso governo, manejada para fomentar a expansão da atividade econômica com rigor, transparência e seguindo critérios de eficiência produtiva.

Entendemos que a carga tributária estadual está demasiadamente centrada em três modalidades de setores econômicos: distribuição de energia elétrica, combustíveis e lubrificantes e telecomunicações. Esses são ramos produtivos cujo produto tem demanda muito disseminada em todos os segmentos de consumidores, quer sejam eles residenciais ou empresariais, e se caracteriza por ser insumo crucial para outras atividades produtivas. Daí se constituir num custo elevado para as cadeias produtivas que lhes estão adiante. O nosso governo pretende redimensionar a política de cobrança de impostos no sentido de criar tarifas/alíquotas diferenciadas de acordo com o tamanho e/ou faturamento de determinados empreendimentos que se deseja fomentar na matriz produtiva estadual. O objetivo é manejar a política tributária de modo a criar no estado um ambiente

90 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO propício ao empreendedorismo e à criação de novas empresas, em que o custo de insumos como energia elétrica, lubrificantes e telecomunicações venha a ser rebaixado, mas que o nível de arrecadação venha a ser mantido sem perdas uma vez que se espera que os novos setores venham a aumentar noutra ponta a receita de impostos.

o Prodepe

Os governos Jarbas-Mendonça realizaram uma mudança de orientação na atuação deste poderoso instrumento de incentivo à implantação de empreendimentos produtivos ao desestimular o setor industrial e dar prioridade aos ramos de distribuição de mercadorias e logística.

Nós entendemos, contrariamente, que o Prodepe deve voltar a priorizar os empreendimentos de produção de bens, isto é, a indústria e o agronegócio. Estes são setores que apresentam, regra geral, capilaridade maior sobre outros ramos da cadeia produtiva em que eles estão inseridos, induzindo a instalação de novas empresas em torno a fornecedores, expandindo também o número de empregos. Os ramos de distribuição e logística, em que pesem serem importantes, tendem a criar pouco encadeamento para trás e para frente no sistema produtivo, muito embora quando os investimentos se realizam eles apresentem um resultado rápido de conclusão e, por isso, foram estimulados pelo governo anterior. Em Pernambuco, estado cuja pauta de comércio exterior tem sido deficitária, a priorização de ramos de distribuição tende a reforçar o potencial importador de mercadorias e de transferidor de renda para outras regiões do país e do exterior. Nós queremos, no nosso governo, inverter esta tendência e pretendemos tornar nossa economia mais competitiva e com maior volume de produção local e de exportação.

o Trade points: fomento ao comércio exterior

O comércio internacional de uma região contribui para o crescimento econômico e geração de emprego, aliviando a pobreza. Entretanto, potenciais traders, especialmente as pequenas e médias empresas são, em geral, excluídas do comércio exterior por não terem acesso a redes de informação, por ineficiência nos procedimento ou por não contarem com serviços de apoio e logística adequados.

91 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

Para a realização de qualquer transação comercial internacional é fundamental o acesso a um conjunto de dados estratégicos: informações sobre o mercado, opções e preços do transporte de mercadorias, seguros, disponibilidade de créditos, impostos incidentes, regulamentações gerais e específicas sobre os produtos e serviços que pretende vender, aspectos culturais, etc. Também, ainda se faz necessário dominar procedimentos burocráticos envolvidos numa transação e garantir acesso a serviços de qualidade. Os trade points são centros facilitadores de negócios que pretendem melhorar a eficiência no comércio internacional. Seus objetivos são:

o Facilitar as transações comerciais internacionais por meio da simplificação e padronização de processos;

o Melhorar a atuação dos atuais e potenciais traders facilitando o acesso às informações comerciais, serviços, tecnologias e redes de informação e treinamento;

o Promover novas parcerias comerciais entre traders internacionais através da criação de elos de comunicação e informação eletrônica e da incorporação de novos participantes ao comércio exterior;

o Ampliar a consciência dos atuais e potenciais traders para novas oportunidades comerciais e técnicas oferecidas pelos avanços da informação comercial, tecnologia e padrões internacionais resultantes. Para atingir estes objetivos os trade points devem ser centros de informação comercial, de simplificação dos procedimentos além de um elo para redes globais. O governo do estado, em parceria com instituições privadas, deverá implantar esta experiência em centros de logística de transporte como Suape, Aeroporto dos Guararapes e no Aeroporto de Petrolina de maneira a estimular o crescimento das operações de comércio exterior, principalmente, de pequenos e médios produtores (em formato de cooperativas).

Recursos:

É sabido que a capacidade própria de investimento do governo do estado encontra-se muito reduzida, num patamar de cerca de 8,0% da despesa corrente. A despesa de investimento permaneceu, na média, em R$ 300 milhões anuais entre 1999-2004. Portanto,

92 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO para fazer a economia pernambucana entrar numa trajetória expansiva de modo a convergir seu PIB per capita em direção aos níveis nacionais, recursos adicionais do governo federal e do setor privado terão que ser barganhados para o Estado. Existem, pelo menos, duas fontes públicas de financiamento do investimento privado que têm sido pouco utilizadas nos últimos anos, explicando em parte o crescimento pouco vigoroso prevalecente na economia estadual. A primeira corresponde aos recursos do Naco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES), os quais têm tido baixa utilização no Estado. Os desembolsos de recursos para Pernambuco, relacionados aos projetos aprovados, representam uma parcela de aproximadamente 1,6% do total nacional dos desembolsos em 2005, sendo que a média do período 1999-2005 ficou em 1,2% do total. Em ambos os casos, a participação do estado no total de desembolsos é inferior à participação do estado no PIB nacional, de 2,7% em 2005.

A segunda fonte de recursos é a do Fundo Constitucional para o Desenvolvimento do Nordeste (FNE), cujos recursos são manejados pelo Banco do Nordeste do Brasil (BNB). Também aqui o estado tem sido um fraco captador de recursos, estando com um saldo acumulado em Dezembro/2005 de R$ 3 bilhões desde o início das operações do FNE, em 1989, até o presente. Sua posição é o terceiro lugar (após Bahia e Ceará) entre os estados nordestinos no volume total demandado. No último ano, em 2005, não foi percebida melhoria alguma nesta fraca disposição estadual para competir por recursos. Os valores contratados do FNE para Pernambuco representaram a soma R$ 388 milhões, ou 9,3% do total da região, ficando o estado em quarto (4º) lugar na captação de recursos desta importante fonte de financiamento do desenvolvimento. Os baixos níveis de captação de recursos são uma evidência de que o atual governo do estado, ao contrário do que propagam, não foi capaz de articular uma estratégia sustentada e expansiva do crescimento para o estado. Não há, pelo que se pode deduzir, um planejamento que articule investimentos públicos e privados para o Estado. Se há investimentos, estes devem estar lastreados apenas com recursos de incentivos fiscais por parte do instrumento local para o desenvolvimento que é o PRODEPE. Dada a limitação que esta fonte de recursos impõe à situação fiscal do estado, contar somente com ela significa que a taxa de expansão da economia estadual deverá ser baixa nos próximos anos e, no máximo, se aproximando em alguns anos isolados das médias nacionais. Para mudar esse quadro, nos propomos a realizar uma política de desenvolvimento no estado que tem estreita correspondência, quanto a recursos e instrumentos, com a política

93 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO industrial e de comércio exterior do governo federal (Governo Lula), a qual prevê a ênfase em quatro grandes setores estratégicos para a realização de investimentos: semicondutores, software, fármacos e medicamentos e bens de capital. Desse modo, o governo se orientará para canalizar, para o estado, investimentos naqueles setores produtivos de especial interesse da política industrial nacional e, portanto, altamente capazes de receber recursos dos bancos oficiais de investimento. Não é por outra razão que incluímos o ParqTel e a cadeia de fármacos como projetos inovadores/articulares: eles se coadunam com as estratégias nacionais de desenvolvimento de setores portadores de futuro. De outra forma, o nosso governo se propõe a articular e negociar junto ao governo federal uma ampliação dos seus gastos nos estados da região na expansão da infra-estrutura de rodovias, ferrovias, telecomunicações e redes digitais, portos, saneamento e habitação no bojo de uma política articulada de desenvolvimento regional.

Esse esforço buscará fazer com que recursos que tradicionalmente já se destinam ao estado tenham uma finalidade convergente com as estratégias de desenvolvimento propostas pelo nosso governo. Cerca de R$ 11,5 bilhões foram repassados, em 2005, ao estado pelo governo federal por meio dos seus vários ministérios, incluindo-se aqui os desembolsos do BNDES e do BNB (FNE), os quais, apenas estes últimos, totalizaram R$ 1,1 bilhão neste mesmo ano. A cifra total de recursos do governo federal para Pernambuco correspondeu, grosso modo, a 22% do PIB estadual de 2005. Os recursos transferidos pelo governo federal não são de pouco monta e, é claro, parte deles não pode ser remanejada para outros fins que não os constitucionalmente definidos. Eles precisam, entretanto, ser utilizados mais racionalmente e de modo menos dispersivo num sem-número de pequenas ações para que o potencial de desenvolvimento econômico e social do estado entre numa trajetória de plena utilização.

ESFORÇOS DE GERAÇÃO DE TRABALHO E RENDA

Estimativas otimistas dos órgãos de planejamento estaduais apontam que os novos investimentos, relacionados com os grandes projetos previstos para se instalar no Complexo Portuário de Suape – a refinaria PDVSA/, um estaleiro e o pólo de poliéster – poderão gerar cerca de 200 mil empregos diretos e indiretos.

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Além destes, os empregos previstos pelo PRODEPE sob incentivo do governo estadual (investimentos até 2015) no estado, especialmente na região metropolitana, deverão gerar cerca de outros 50 mil empregos ao longo dos próximos dez anos. Ou seja, a previsão (bastante otimista) é de que 250 mil novos empregos venham ser criados no mercado de trabalho metropolitano nos próximos 10 anos, isto é, cerca de, em média, 25 mil novos empregos anualmente. No entanto, sabe-se que o número de desempregados, apenas na RMR, é de, aproximadamente, 330 mil pessoas; além do que entram todo ano no mercado de trabalho cerca de 30 mil novas pessoas. Portanto, o ciclo expansivo na economia permitirá certo desafogo na questão do desemprego, mas, por certo, ele não terá fôlego suficiente para solucionar em definitivo a questão. Em face desse quadro acima colocado de insuficiência de empregos, para reduzir o estoque de desemprego ao longo do tempo e à medida que novas pessoas entram no mercado de trabalho a cada ano, o governo do estado precisará ter políticas ativas de trabalho e renda que observem o conjunto da economia estadual, e que tenha, ao mesmo tempo, uma estratégia especial para a RMR, onde se concentra a grande maioria dos desempregos e sub-empregos. A estratégia, do lado da demanda de trabalho, a ser desenvolvida pelo governo estadual deve atuar no sentido de criar condições para a geração de novos postos de trabalho, tanto na região metropolitana – onde o desemprego é mais grave – como no interior do estado, mas também para aumentar a renda dos trabalhadores autônomos. Isso pode ser feito por meio de uma política estadual que esteja sincronizada com as políticas e os recursos disponibilizados para este fim pelo governo federal. Existe uma gama ampla de programas de geração de emprego e renda com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) geridos pelo governo federal e que podem ser articulados a ações propostas pelo governo estadual para potencializar resultados. São, em geral, mecanismos de democratização do acesso ao crédito voltados para o financiamento de atividades produtivas.

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Quadro 1

Programas de geração de emprego e renda com recursos de depósitos especiais remunerados do FAT (1994-2005)

Programa Criação Agente Financeiro

1) Programa de Geração de Emprego e Renda Resolução no. 59 do Codefat em 25 de maio de BB, Caixa, BASA e

Modalidade Urbana – Proger Urbano 1994 BNB

2) Programa de Geração de Emprego e Renda Resolução no.82 do Codefat em 3 de maio de BB, BNB e BNDES

Modalidade Rural – Proger Rural 1995

3) Programa Nacional de Fortalecimento da Resolução no.22.191 do Conselho Monetário BB, BNB e BNDES

Agricultura Familiar - Pronaf Nacional de 24 de agosto de 1995

4) Programa de Expansão do Emprego e Resolução no. 103 do Codefat de 6 de março de BNDES

Melhoria da Qualidade de Vida do 1996

Trabalhador - Proemprego

5) Programa de Crédito Produtivo Popular - Resolução no. 124 do Codefat de 14 de outubro BNB e Oscip

PCPP de 1996

6) Programa de Promoção do Emprego e Resolução no. 171 do Codefat de 27 de maio de BNB

Melhoria da Qualidade de Vida do 1998

Trabalhador - Protrabalho

7) Programa de Geração de Emprego e Renda na Resolução no. 273 do Codefat de 21 de Caixa e Banco do

Indústria da Construção Civil – FAT novembro de 2001 Brasil

Habitação

8) Programa de Apoio à Inovação Tecnológica Resolução no. 310 do Codefat de 11 de FINEP

da Empresa Nacional – Pró-inovação dezembro de 2002

9) Programa de Geração de Emprego e Renda na Resolução no. 341 do Codefat de 10 de julho de Caixa

Indústria da Construção Civil para 2003

Revitalização de Imóveis em Centros urbanos

Degradados e Sítios Históricos – FAT

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Revitalização

10) Programa de Fomento às Micro, Pequenas e Resolução no. 345 do Codefat de 10 de julho de BNDES

Médias Empresas – FAT Fomentar 2003

11) Programa FAT Exportar Resolução no. 344 do Codefat de 10 de julho de BNDES

2003

12) Programa Nacional de Microcrédito Medida Provisória no. 226 de 29 de novembro BB, Caixa, BNDES e

Produtivo Orientado de 2004, convertida na Lei no. 11.110 de 25 de BNB

abril de 2005

13) Programa FAT Infra-Estrutura Resolução no. 438 do Codefat de 2 de junho de BNDES e BB

2005

Fonte: Boletim de Políticas Sociais, Ipea.

Tais programas representaram um volume de crédito muito importante para a economia brasileira na última década de funcionamento. Entre 1995 e 2004, foram realizadas 8,2 milhões de operações de crédito no valor total acumulado de R$ 53,3 bilhões. Em 1995, ainda no governo FHC, o volume de crédito foi de apenas pouco mais de R$ 1 bilhão. Ao final do segundo governo de FHC em 2002 o montante foi de aproximadamente R$ 6 bilhões. No governo Lula estes programas tiveram maior impulso e chegaram, em 2004, a ofertar cerca de R$ 12 bilhões, representando um acréscimo de 100% sobre o montante verificado em 2002. Do lado da oferta de trabalho, o governo do estado deverá implementar ações de expansão do sistema de formação e capacitação da mão-de-obra buscando aumentar a qualificação por meio do estímulo à expansão do ensino médio e das escolas técnicas a serem criadas nas regiões de desenvolvimento. Serão, pelo menos, doze escolas técnicas a serem criadas durante o nosso mandato de governo, as quais estarão voltadas para o desenvolvimento de habilidades profissionais e de empreendedorismo ligadas às potencialidades produtivas já reveladas em cada região e também àquelas a serem estimuladas pelas políticas de indução econômica. As ações do governo estadual da Frente Popular no estado deverão atuar em estreita sintonia, entre outras, com as estratégias do Ministério da Ciência e Tecnologia. A implementação de Centros de Inovação e Difusão de Tecnologias (CidTec) e o Programa

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CVTs nos Bairros que visam articular e mobilizar competências para atuar sobre as especificidades econômicas de cada região de desenvolvimento (entidades de ensino, segmentos empresariais e diferentes nível de governo). O nosso compromisso com os cidadãos pernambucanos é garantir que o nível médio de ensino se amplie e melhore de qualidade, que o acesso à qualificação profissional se expanda e que todo este esforço seja convergente com uma atitude pró-ativa de mudanças no ambiente econômico, social e cultural local.

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ÁGUA E SANEAMENTO

Considerando o papel central do abastecimento de água e do esgotamento sanitário para a melhoria da qualidade de vida das pessoas, o governo da Frente Popular tem como metas perseguir durante a próxima gestão do governo estadual o seguinte:

• Programa Água para Todos - Universalizar o serviço de abastecimento de água das sedes municipais e dos distritos em 8 anos;

• Universalizar o serviço de coleta e tratamento de esgotos das sedes municipais e dos distritos em 15 anos;

• Definir os padrões de atendimento em cada um dos sistemas e subsistemas e assegurar o atendimento destes padrões pelos prestadores de serviço;

• Redefinir o papel da COMPESA e promover sua recuperação empresarial; • Capacitar os municípios para que possam desempenhar o novo papel institucional previsto no projeto de lei do saneamento já aprovada no senado;

• Ampliar o controle social sobre a prestação do serviço;

Dentre tanto outros desafios que se apresentam para o governo, o equacionamento e a resolução dos problemas relacionados ao abastecimento de água e o esgotamento sanitário são questões muito preocupantes, pois têm rebatimentos diretos sobre a qualidade de vida e, em especial, sobre as condições gerais de saúde da população. O setor de saneamento, desde a extinção do BNH, se recente da falta de um ambiente institucional e governamental, nas três esferas de governo, onde possam ser formuladas as políticas e diretrizes que venham solucionar os problemas existentes. São inúmeros os agentes públicos que interagem com o setor, e por isto, o tratamento das questões a ele

100 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO relacionadas se apresenta com elevada complexidade. No ambiente do Governo do Estado são parte interessada no tema as secretarias de Saúde, de Meio Ambiente e de Infra- estrutura. No Governo Federal, a interlocução se dá no Ministério da Saúde, na FUNASA, no Ministério das Cidades, no Ministério da Integração Nacional. As Prefeituras Municipais, que detém a titularidade dos serviços, são interlocutores fundamentais neste contexto. A fiscalização da prestação do serviço se dá através da ANA, IBAMA, na esfera Federal e pela ARPE e CPRH no âmbito do estado de Pernambuco. Além das questões institucionais, o setor ainda enfrenta sérios problemas de escassez de água, dada a instabilidade dos mananciais disponíveis em Pernambuco, acarretando custos cada vez mais elevados para a prestação do serviço, atingindo valores incompatíveis com a capacidade de pagamento de boa parte dos usuários. Não bastassem os obstáculos até aqui citados, o Governo do Estado ainda tem que enfrentar os problemas relacionados com a gestão empresarial da concessionária responsável pela prestação do serviço na quase totalidade dos municípios do estado, a COMPESA.

o O ABASTECIMENTO DE ÁGUA

1 – Situação atual nas regiões

A análise dos recursos hídricos nas várias bacias do estado evidencia uma série de conflitos de uso, que podem ser enquadrados em duas perspectivas gerais:

o Conflitos de escassez de água no Sertão e no Agreste, onde a disponibilidade hídrica assegurada pelas obras hidráulicas (barragens de maior porte, pequenas barragens, poços, adutoras, redes de distribuição de água nas cidades e cisternas para a população rural difusa) não atende à demanda da população. Essa deficiência é gerada por diferentes causas que muitas vezes se superpõem: a) insuficiência de volumes de água garantidos pelas fontes citadas; b) qualidade hidroquímica (excesso de sais) que torna a água inadequada ao consumo; c) poluição dos rios e também da água dos poços, principalmente nas proximidades dos agrupamentos humanos; d) deficiência de rede de adução e distribuição, o que deixa cidades como

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Caruaru e vizinhança conviverem com racionamentos inaceitáveis de muitos dias consecutivos, apesar de terem a oferta de água.

o Conflitos de qualidade da água nas zonas da Mata e Litoral, onde é intensa a poluição dos cursos d’água, poluição essa que se estende aos reservatórios de abastecimento humano. Em paralelo, fortes enchentes ocorrem sistematicamente na Mata Sul, especialmente na bacia do rio Una, inundando as cidades da região. No litoral, especialmente na região metropolitana, ocorre a grande incoerência: trata-se de uma região de chuvas intensas e bem distribuídas e, no entanto, ocorre falta de água continuada. Solução que sempre foi apontada ao longo do tempo: construir novas barragens para aumentar a oferta, ao invés de reduzir as perdas da COMPESA, hoje em torno de 60% entre perdas físicas e de faturamento.

2 – Estratégias para abastecimento de água à população

Em função do quadro vislumbrado acima e das necessidades enfrentadas por cada região, entendemos que o governo necessita orientar-se para atuar no território como se segue: Região Metropolitana. O investimento na execução da adutora de Pirapama deve ser realizado para garantir a oferta de água da a área metropolitana. No entanto, é fundamental reduzir as perdas do sistema. Um esforço coordenado de redução de perdas para um patamar de 40% equivaleria ao suprimento de água de uma barragem do porte de Pirapama. Bastaria intensificar a rede de hidrômetros, com maior eficiência na prevenção e controle de vazamentos, com melhoria na rede de adução e distribuição. Na Zona da Mata. Existem soluções possíveis e mapeadas no Plano Estadual de Recursos Hídricos e em estudo realizado pela Agência Nacional de Águas para resolver os problemas de abastecimento de água de diversos municípios da Zona da Mata. Na Mata Sul, por exemplo, há possibilidades de construção de barragens, principalmente na bacia do rio Una, que ao mesmo tempo permitirão o controle de cheias e o reforço do abastecimento de água. Também nessa área é essencial o investimento no tratamento de esgotos nas cidades ao longo dos rios principais. Agreste e Sertão. O Agreste pernambucano é considerado nos estudos sobre os recursos hídricos de abrangência nacional como a região mais complexa do ponto de vista de sustentabilidade hídrica, aquela que tem os menores índices de água disponível per

102 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO capita em todo o Brasil. As soluções, também já identificadas nos diversos estudos, são específicas para cada caso. Caruaru tem mais problema de distribuição do que de manancial e esse problema pode ser resolvido em prazo mais curto; o reservatório do Prata pode ter sua exploração ampliada, como mostram os estudos, e, juntamente com Jucazinho e outras fontes menores, podem ampliar o abastecimento de muitas cidades daquela região do agreste. Já a partir de Belo Jardim a situação é mais complexa. Os reservatórios existentes, como o Bitury, são insuficientes para atender à demanda, mesmo com a mistura da água com outros reservatórios que apresentam teores de sais elevados. Para essa região é imprescindível o atendimento a partir de adutoras que tragam água do rio São Francisco e/ou do reservatório de Itaparica. A solução pode variar conforme o andamento do Projeto de Transposição de Águas do Rio São Francisco, por meio principalmente do chamado Ramal Leste. A região do Pajeú deverá ter uma adutora a partir das águas do São Francisco, preferencialmente integrada ao Ramal Leste, para garantir o abastecimento de suas cidades. A região do Araripe apresenta potencialidade de aproveitamento de águas subterrâneas a grandes profundidades. Exemplo disso é o poço instalado em Bodocó pelo Governo Arraes, com profundidade de 950m, perfurado pela Petrobrás e capacidade de produção de 130m³/h. Essa empresa pode ajudar na perfuração de novos poços na chapada. Na bacia do Moxotó, por sua vez, também se pode aumentar a exploração de águas subterrâneas, como se fez no Governo Arraes. Essa água subterrânea em poços sedimentares, de profundidades entre 200 e 300m, é de muito melhor qualidade e maior vazão que a obtida por meio dos poços no cristalino.

A Situação dos Distritos e da população rural difusa

O atendimento da população rural difusa será feito primeiro para garantir água para beber. Cem mil cisternas rurais, construídas em parceria com as organizações não- governamentais articuladas pela ASA, levarão água ao homem do campo. Esse trabalho será feito juntamente com um processo de melhoria das condições de higiene dos telhados usados para captação da água e com instrução de uso para as pessoas, além de distribuição sistemática de cloro, de modo que a água das cisternas não seja contaminada e todo um esforço perdido. Em complemento, opções como construção de implúvios, barreiros- trincheira e barragens subterrâneas, onde forem adequadas, complementarão o leque de opções, servindo como opções para outros usos da água, inclusive dessedentação de

103 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO animais e agricultura familiar.

3 – Estratégias para o suprimento de água destinada à agricultura

O aproveitamento dos grandes reservatórios, como Serrinha e Poço da Cruz, é essencial para recuperar a agricultura irrigada e a agroindústria do tomate, do doce e em novas fronteiras de fruticultura. Existem áreas próximas ao rio São Francisco, na bacia do Moxotó, que podem ser aproveitadas para esse fim. Da mesma forma, áreas das bacias dos rios Terra Nova e Brígida podem ser aproveitadas, com os traçados propostos no atual projeto de transferência das águas do São Francisco ou pelo traçado do Canal do Sertão Pernambucano, estudado pela CODEVASF e já defendido à época pelo Governo Arraes. Como se tratam de áreas dentro da bacia do rio São Francisco, esses projetos não necessariamente precisam ser atrelados ao projeto de transposição. Com a execução da Ferrovia Transnordestina, será possível viabilizar a produção agrícola da região, pela enorme redução do custo de transporte. A pequena agricultura e a emergente produção de mamona para biodiesel será suprida por fontes locais de água, como os pequenos barreiros e açudes, porém integrados com soluções localizadas como barragens subterrâneas e aproveitamento dos aluviões dos rios, barreiros-trincheira, implúvios e soluções semelhantes, que têm mostrado resultados excelentes em escala menor, implementados por ONGs e instituições de pesquisa.

4 – Re-estruturação de gestão das águas

O processo de gestão das águas em Pernambuco foi instalado no Governo Arraes na Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente, sendo referência nacional como um dos bons trabalhos entre os estados brasileiros. Houve solução de continuidade com a criação e posterior extinção da Secretaria de Recursos Hídricos no primeiro governo Jarbas, que terminou extinguindo-a pela má gestão e falta de resultados. Posteriormente voltou à SECTMA, porém com prejuízos de perda de técnicos e dispersão das equipes. Por essa descontinuidade, ações importantes, como a estruturação dos comitês de bacia hidrográfica e conselhos de usuários de açudes praticamente não avançaram. A administração dos açudes do sertão ainda é inexistente ou temerária, principalmente na região do perímetro da maconha. Continua terra sem lei e o governo não opera os açudes. A criação prometida da

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Agência Estadual de Águas ainda não ocorreu. Portanto, é preciso recuperar o tempo perdido, dado que sem a gestão das águas não adianta fazer obras para não repetir desastres como o de Poço da Cruz.

5 – Fontes de recursos e horizontes de projeto

As ações propostas não são trabalho para um só governo: compõem um plano de estruturação para Pernambuco resolver de vez o problema de falta d’água e de tratamento de esgotos em um prazo de 15 anos, mas que será imediatamente iniciado no Governo de Eduardo Campos, deflagrando as ações em toda a região. É preciso ser ousado e dar prioridade à questão, seguindo os exemplos de estados como Bahia, Minas e Ceará. Pernambuco tem capacidade de conseguir recursos junto aos financiadores externos, como fizeram aqueles estados citados. Mais que isso, Pernambuco tem o apoio do Presidente Lula, que é sensível à questão como nenhum outro governante do Brasil foi. A Petrobrás, pelo volume de recursos que dispõe para investir na questão social e também pelo interesse na questão do suprimento de água para Suape, dada a instalação da refinaria e das indústrias de apoio, deverá apoiar com recursos financeiros na execução de obras na Mata Sul e na perfuração de poços de grande profundidade na chapada do Araripe, pela sua experiência nesse tipo de ação.

DESAFIOS DO MARCO INSTITUCIONAL

Para universalizar o serviço, com qualidade e modicidade tarifária é indispensável que os Governos em geral e o Governo Federal em particular, solucionem a questão institucional apresentando ao país o Marco Regulatório para o setor. Neste sentido, o Congresso Nacional criou uma comissão especial para sistematizar os diversos projetos em tramitação nas duas casas legislativas, tendo sido aprovado em julho/2006 um relatório com a proposta de projeto de lei, já aprovado sem emendas no Senado Federal e encaminhada para votação na Câmara dos Deputados. Este projeto de lei embora não apresente soluções para todos os gargalos para a prestação do serviço, traz avanços importantes sobre temas fundamentais, tais como:

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• Atribui aos municípios, que detêm a titularidade da prestação do serviço, a competência para a formulação da política de saneamento básico através da elaboração dos planos, da delegação para a prestação do serviço e da regulação e fiscalização, da fixação dos parâmetros de qualidade, dos direitos e deveres dos usuários, do estabelecimento dos instrumentos de controle social, entre outros;

• Estabelece os mecanismos que asseguram o equilíbrio econômico-financeiro da prestação do serviço, em conformidade com os planos elaborados;

• Formaliza a possibilidade de formação de consórcios públicos e constituição de fundos para custear a universalização;

• Institui mecanismos para a prestação do serviço em condições de escassez de água e em situações emergenciais;

• Define os princípios que deverão orientar a função de regulação; • Reconhece a necessidade da existência de subsídios públicos para assegurar a universalização e define critérios para a sua aplicação.

Fica evidente no projeto de lei, o reconhecimento de que é necessária uma forte articulação entre os diversos entes federados para que possam ser alcançados os objetivos propostos. Neste sentido, o próximo governo deverá:

• Definir um modelo de articulação com os Governos Federal e Municipal que integre e comprometa a todos com os objetivos da universalização no curto, médio e longo prazo;

• Viabilizar a constituição de fundo público, com recursos de todos os entes federados e dos usuários;

• Assumir diretamente ou por delegação a gestão dos recursos hídricos no estado, sob a ótica do uso múltiplo. Ao poder público estadual deverá ser atribuída a responsabilidade pela disponibilização dos recursos hídricos necessários ao atendimento das necessidades da população;

• Quanto aos Concessionários, devem ser separadas (desverticalizadas) as funções de Captação, Transporte e Tratamento de água bruta das funções de Distribuição;

• Capacitar os municípios para que possam exercer adequadamente o papel constitucional de titular do serviço e agora, o papel de propositor de políticas e elaboração dos planos de saneamento básico;

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• Estabelecer, em conjunto com os municípios os padrões de qualidade a serem observados na prestação do serviço, aderentes à realidade de cada localidade;

Para equacionamento e solução das questões relacionadas aos recursos hídricos e ao saneamento básico, será necessário um novo arranjo na estrutura do estado que permita focar os esforços e integrar os diversos agentes. Neste sentido se propõe que seja instituído o Sistema Estadual de Saneamento Básico que seria composto por, entre outros:

• Um Conselho Estadual definidor das políticas de Gerenciamento de Recursos Hídricos e Saneamento Básico;

• Um Comitê de Monitoramento da disponibilidade dos recursos hídricos e dos seus usos, bem como o acompanhamento dos indicadores de atendimento e de qualidade do saneamento básico;

• Uma entidade que elabore os planos de Saneamento Básico dos municípios, já que a maioria deles não está capacitada para exercer este novo papel que, certamente será preservado na nova lei;

• Um fórum de controle social sobre os agentes prestadores de serviço; • Um fundo para financiamento dos estudos e elaboração dos planos de Saneamento Básico dos municípios, bem como para assistir aos programas de capacitação dos municípios;

Na concepção do sistema Estadual de Saneamento Básico, devem ser consideradas todas as estruturas e entidades já existentes, reagrupando-as e redefinindo os seus papéis. Os recursos para constituição do fundo devem ter origem nos orçamentos dos governos das três instâncias e também dos usuários dos serviços. O sistema deve abordar a universalização do saneamento básico por bacia hidrográfica. O reuso das águas servidas também deve estar presente na elaboração dos planos. Estima-se que com a adoção de uma cota da ordem de 5% sobre o faturamento dos prestadores do serviço de saneamento básico, seriam arrecadados cerca de 25 milhões de reais por ano, recursos suficientes para custear os estudos e elaboração dos planos no médio prazo. A seqüência de elaboração destes planos seria estabelecida por critérios transparentes tendo a sua aplicação acompanhada pelo comitê de monitoramento acima referido.

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POLÍTICA DE TRANSPORTES

Transporte Urbano/Metropolitano de Passageiros

O transporte é um serviço público essencial para o desenvolvimento econômico e urbano do Estado, pois garante o acesso das pessoas aos centros de saúde, emprego, educação, lazer etc. Constituindo-se, dessa forma um importante elemento para as políticas públicas que tenham como objetivo a inclusão social, redução da pobreza, melhoria dos índices de desenvolvimento humano (IDH). No Brasil o transporte coletivo não possui subsídio, sendo totalmente coberto pela tarifa, que por sua vez além de bancar os custos globais do sistema, assume também a imposição das gratuidades concedidas a algumas categorias. Sem questionar aqui a validade e a importância das gratuidades para determinadas categorias, vale ressaltar que o sistema é bancado pela tarifa e em conseqüência as gratuidades concedidas pelos poderes executivo, legislativo e judiciário acabam sendo assumidas pelos usuários, ou seja, o lado mais fraco (mais pobre) dessa cadeia produtiva e da sociedade – o usuário mais pobre, muitas vezes até desempregado e sem direito ao vale-transporte. Na RMR uma parcela significativa da força produtiva atua no mercado informal ou está desempregada e, portanto, não está incluída na política do vale-transporte. Para estes, os custos com o deslocamento acabam por representar um peso muitas vezes excessivo no orçamento familiar, impedindo o seu acesso ao serviço de transporte que poderá interferir negativamente numa oportunidade de emprego. Até hoje o transporte de passageiros no Brasil, tem sido tratado como se fosse um serviço em que o governo do estado não deveria participar ativamente no seu provimento e

108 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO financiamento. O único subsídio concedido pelo governo estadual ao sistema foi, em 2006, a isenção, em 50% o ICMS sobre o combustível. Ainda assim, sem uma avaliação concisa e objetiva sobre qual seria a melhor opção para promover /subsidiar o sistema. Outro subsídio do sistema é o vale-transporte, que não é coberto integralmente pelo empregador e só é fornecido até um limite de salário. Se, de um lado, esse subsídio reduz a despesa com transporte do trabalhador formal, por outro, o que tem se observado é a exclusão cada vez maior dos que moram mais afastados dos postos de emprego, pelo fato dos empregadores terem passado a usar como critério de seleção para os seus postos de trabalho, a proximidade e os custos requeridos do transporte, como forma de se desonerar dessa responsabilidade financeira. Uma outra questão que se coloca no cenário dos núcleos urbanos e metropolitanos é a dos congestionamentos causados pela predominância do modo rodoviário individual (automóvel). Tal fato decorre, em grande parte da opção de deslocamento específica à classe média. Para atrair para o sistema de transporte coletivo esses usuários de renda mais elevada seria preciso, entretanto, realizar uma mudança substancial na qualidade do sistema de transportes de maneira a gerar atratividade. Isso apenas ocorrerá se houver esforços para gerar economia de custos e para propiciar conforto, segurança, pontualidade e rapidez.

PROPOSTAS PARA O SISTEMA DE TRANSPORTE METROPOLITANO

Preocupado com os problemas diagnosticados na região metropolitana de Recife e dada extensão relacionada ao número de pessoas atingidas, a candidatura da Frente Popular tem manifestado abertamente que se propõe a realizar a ampliação do Sistema Estrutural Integrado de Transportes (SEI) pela construção de novos terminais de integração em lugares estratégicos da RMR. Visam facilitar o acesso dos cidadãos ao transporte de passageiros em toda a área metropolitana com melhorias nas rotas e nos equipamentos de infra-estrutura.

Serão cinco novos terminais de passageiros, sendo que três deles a cargo do Governo Estadual. São as estações de Caenga, da PE-22 e do Cabo. Outras duas estações, a cargo do Governo Federal, representam a integração do SEI ao o Metrô de Recife. São as estações

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Tancredo Neves em Boa Viagem e a do Cajueiro Seco.

As ações propostas, no entanto, não se resumem aos Terminais de Integração (SEI), precisando de uma política articulada para o setor de transportes que contemple o seguinte:

• Criação do Consórcio Metropolitano – Tendo em vista as interfaces institucionais existentes para a gestão do Sistema de Transportes no modelo de gestão atual, pela centralização no Estado, notadamente pelo maior poder concedido aos municípios pela Constituição Federal de 1988 torna-se essencial a criação de um novo organismo (Consórcio de Transportes) que permita a gestão compartilhada do Sistema. A gestão compartilhada irá favorecer a solução de problemas estruturais de financiamentos e legais (licitação das linhas);

• Conclusão do Plano Diretor de Transportes (Governo Federal/Estadual)

• Conclusão da Expansão do METROREC e elaboração de um Plano de Ampliação do Sistema Metroferroviário, que inclui: a) acesso a SUAPE; e b) a modernização do trecho Prazeres – Curado;

• Concluir a implantação do sistema de Bilhetagem Eletrônica para permitir um maior controle da evasão no sistema.

• Concluir o SEI - Sistema Estrutural Integrado da RMR:

• Implantar o corredor da Av. Norte. Fazê-lo de modo tal que o corredor venha a contribuir para a estruturação e desenvolvimento urbano da área. Requalificando-a com a utilização de via paralela e faixa exclusiva para ônibus na atual avenida.

• Implantar o corredor da Av. Kennedy. Contribuir para a estruturação e desenvolvimento urbano da área. Requalificando-a com a utilização de via paralela e faixa exclusiva para ônibus na atual avenida, enquanto não é construído o Anel Norte.

• Requalificar os demais corredores estruturais do SEI, tornando-os mais atrativos e integrados a sua área de entorno. (Exemplo da PE-15: tornar um corredor com um projeto de urbanismo, estações amplas com piso na altura do piso dos ônibus, subida e descida de passageiros amparados da chuva, rodovia arborizada e iluminada, controle da operação etc). A requalificação,

110 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

associada às leis de Uso do Solo municipais incentivando o adensamento da área lindeira do corredor, pode se constituir em elemento de atração para os investidores imobiliários.

• Implantação da PE-27 desde Chã de Cruz até o Centro urbano de Araçoiaba • Implantar um tratamento preferencial para o transporte coletivo no corredor da Av. Domingos Ferreira em Boa Viagem.

• Requalificação das áreas do Centro do Recife através de uma proposta de circulação e liberação das calçadas da área central (atualmente repleta de paradas de ônibus e ambulantes etc.)

• Construção da Central de Carga–Norte Sul e Oeste para disciplinar a carga na RMR.

• Complementação da 3ª Perimetral (continuação da Av. Recife). • Descentralização do Transporte Rodoviário – retirar as linhas intermunicipais externas à RMR do centro do Recife. Ficará difícil justificar aos usuários do SEI, que fazem integração, a existência de linhas diretas rodoviárias intermunicipal. Uma idéia seria a construção de dois terminais rodoviários, um ao norte e um ao sul da RMR. Sugestão de localização: Próximo a estação metroviária Cajueiro Seco/Jaboatão ou no Cabo ao Sul e próximo ao terminal da PE-15 ao Norte).

• Continuação do Corredor da PE-5 até Timbi, continuar o que foi feito por Dr. Arraes do final da Avenida Caxangá até entrada de Aldeia.

• Prolongamento da BR-101 até Av. Bernardo Vieira de Melo. • Prolongamento da II Perimetral até PE-01 (Rio Doce-Olinda)

2 – Transporte Ferroviário de Carga

A conclusão da ferrovia Transnordestina merecerá atenção especial do nosso programa de governo e, neste sentido, negociaremos com o Governo Federal para que os investimentos necessários possam ser realizados. Esta ferrovia quando pronta propiciará um salto de competitividade nas cadeias produtivas do interior do estado, principalmente, a do gesso e da fruticultura irrigada, pelo rebaixamento dos custos de transporte até o destino final no porto de Recife ou de Suape. Este é um investimento crucial para a logística de

111 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

Suape, pois, constitui-se em elo de escoamento que permite articular o porto com os demais subespaços produtivos do estado.

Ações

1. Viabilizar/agilizar a implantação da ferrovia ligando-a ao porto de Suape e modificar o sistema logístico no entorno do porto, por meio de: ƒ Pavimentação de estradas vicinais para permitir a interligação com os entrepostos e centrais concentradoras e distribuidoras de carga. ƒ Integração das infra-estruturas dos diversos modos de transportes de cargas rodoviário/ferroviário/marítimo.

ƒ Construção de centrais de cargas nos principais pólos. 2. Capacitação da população nas Universidades, Escolas Técnicas e Treinamentos de Apoio à formação de mão de obra para atuar no setor de transporte e nos setores econômicos relacionados à área de abrangência da Transnordestina e SUAPE. 3. Trem Turístico – Criação de rota turística envolvendo a potencialidade de cada região, Ex.: Rota dos Vinhos com as vinícolas no Vale do São Francisco entre outras como acontece no Sul do país.

No que se refere às ferrovias Norte e Sul chegando a Suape será necessário cobrar da CFN sua adequada manutenção e reativação dos trechos hoje desativados. Esta medida torna-se importante para a logística do porto dadas as áreas de influência Sul chegando a Aracaju e a Norte indo até o Rio Grande Norte. A ligação Norte já está em operação e hoje a maior parte da carga de minério de ferro proveniente do chega a Suape por ferrovia. Nos próximos cinco anos serão transportadas cerca de 12 milhões de toneladas de minério de ferro do Rio Grande do Norte até o Porto de Suape. A ligação Sul, por seu turno, foi parcialmente destruída pelas chuvas estando hoje desativada, precisando, por isso mesmo de atenção urgente da política estadual de transportes.

3 – Transportes Rodoviários

Entendemos que se coloca como necessária elaboração de um Plano geral da infra-

112 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO estrutura de transporte no estado para que a ação governamental torne-se eficiente e conseqüente com as demandas da população. Reconhecemos, ademais, que em função da crise econômica no país nas últimas décadas, a ampliação e mesmo a conservação da infra- estrutura rodoviária ficaram comprometidas.

Olhando para frente, nosso governo pretende, pois fazer o estado avançar na recuperação de suas rodovias e estradas e para tal se propõe a:

• Continuação da duplicação da BR-232;

• Plano de Manutenção das Rodovias;

• Implantação do Plano Diretor do DER Transporte Rodoviário de Passageiros;

• Criação de um Sistema de Transportes que facilite o acesso da população em geral ao seu respectivo pólo regional e municípios vizinhos.

• Complementação da Implantação do Projeto Costa Dourada juntamente com um Plano Diretor de Turismo para a região;

• Integração do transporte rodoviário/ ferroviário/ portuário.

Em particular, dada a sua dimensão estratégica para a economia do estado, a região de Suape demandará alguns investimentos específicos. Essa é uma área que precisa ser pensada como território metropolitano estratégico e com múltiplas interfaces com áreas de habitação, transporte urbano e de carga, infra-estrutura rodoviária, abastecimento de água, esgoto etc.

Ações referente à infra-estrutura rodoviária

ƒ Sistema viário paralelo a Avenida Domingos Ferreira para transporte de passagem (Via Mangue). ƒ Construção de via de acesso à Praia do Paiva. ƒ Duplicação da BR-101, desde a rótula da indústria Muller até a COPERBO. ƒ Duplicação da Estrada de Curcurana em Jaboatão

113 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

ƒ Construção da Central de Carga –Sul ƒ Duplicação da PE-60 do acesso ao Porto de Suape até PE-38 (inclusive) ƒ Complementação das pistas locais da BR-101 ƒ Alargamento da Estrada da Batalha ƒ Articular com os municípios e o Complexo Portuário de SUAPE a gestão dos resíduos sólidos industrial e domiciliar. ƒ Plano Logístico envolvendo o Aeroporto dos Guararapes e Central de Carga. Disciplinamento desta carga na RMR.

114 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

ENERGIA PARA O DESENVOLVIMENTO

O novo modelo do setor elétrico brasileiro prevê um papel estratégico para o Ministério de Minas e Energia, enquanto órgão articulador responsável pelo desenvolvimento harmônico do país; reforça as funções de regulação, fiscalização e mediação da Agência Nacional de Energia Elétrica; e re-estabelece as imprescindíveis funções de planejamento da expansão, de operação e de comercialização. Para os governos estaduais, entretanto, pouco restou para fazerem. Não mais recairão responsabilidades no que diz respeito à oferta direta do serviço, cabendo-lhe, aqui em Pernambuco, acompanhar o cumprimento das regras estabelecidas para o setor, sobretudo porque a prestação do serviço está a cargo de uma empresa privada – a Celpe. Nesse sentido, uma diretriz de governo para este setor deve ser a de fortalecimento da agência reguladora – ARPE. Adicionalmente, o órgão estadual de política energética (Diretoria de Energia, da Secretaria de Infra-estrutura) permanece com o importante papel de monitorar o planejamento para o estado, além de manter atualizadas importantes ferramentas de controle e planejamento, como o balanço energético estadual e a realização de inventários das diversas fontes energéticas.

Como então, o Governo do Estado deveria examinar tão importante serviço público, seja do ponto de vista social, seja do ponto de vista econômico? Do ponto de vista social vê-se que as regras estabelecidas asseguram a universalização e a modicidade tarifária que as agências reguladoras asseguram à qualidade da prestação do serviço. Caberá ao governo e à sociedade a vigilância ao cumprimento da legislação aplicada. Do ponto de vista do Governo Estadual, esse deve olhar para o setor como uma oportunidade de desenvolvimento econômico para o estado. Em outras palavras, o Governo

115 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO do Estado de Pernambuco deve adotar uma estratégia que induza os agentes econômicos do estado a participarem do negócio energia elétrica. Em 2005, o serviço público de energia elétrica brasileiro gerou uma receita bruta anual da ordem de 85 bilhões de reais e recolheu aproximadamente R$ 37 bilhões em impostos, tributos e encargos setoriais. Essa receita está distribuída entre os agentes de geração, de transmissão e de distribuição. Portanto, é fundamental que Pernambuco participe desta indústria produzindo energia elétrica para o Sistema Interligado Nacional. Além disso, enfatizem-se as repercussões positivas que resultarão desta atitude, principalmente quando se trata de geração distribuída, utilizando-se a biomassa. Dentre as repercussões, cabe destacar: (i) fixação do homem no campo, diminuindo os fluxos migratórios para os grandes centros urbanos; (ii) incremento de trabalho e renda; (iii) criação de novas cadeias produtivas que surgem como sub-produtos; (iv) incremento de culturas existentes, utilizáveis como fonte primária de energia.

O ATENDIMENTO AO ESTADO DE PERNAMBUCO

Pernambuco, por muitos anos, teve o suprimento de energia elétrica assegurado pela CHESF que deteve e detém até 2015 a maior parte da concessão para explorar os empreendimentos hidroelétricos em operação no médio São Francisco. Por outro lado, a Chesf atualmente não possui mais a concessão para exploração dos empreendimentos potencialmente possíveis. O Nordeste como um todo e Pernambuco em particular, foi beneficiado por dispor, por muito tempo, da energia elétrica mais barata do Brasil e sempre muito abundante. Todavia, após a construção da usina hidroelétrica de Xingó, a capacidade do “Velho Chico” para gerar energia elétrica para o Nordeste está quase que totalmente esgotada, faltando construir apenas três aproveitamentos de médio porte os quais se encontram em fase de estudos. Igualmente em estudos estão as futuras usinas do Parnaíba, também de médio porte. O conjunto das citadas usinas no São Francisco e no Parnaíba ainda é insuficiente para o atendimento da demanda regional, no horizonte decenal. Atualmente, a geração de energia pelas usinas da CHESF só atende cerca de 90% do consumo total da região Nordeste, o que resulta na importação de aproximadamente 10% restantes das regiões Norte e Sudeste. Esta situação indica que a partir de agora, caso não

116 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO sejam viabilizadas a construção de usinas de geração de energia de outras fontes que não a hidráulica, o Nordeste como um todo e Pernambuco em particular, serão consolidados como importadores de energia de outras regiões. Voltando ao novo modelo, observa-se que a geração de energia elétrica, independentemente do local onde venha a ser produzida, será destinada a todos os consumidores brasileiros. Assim sendo, se for viabilizada a construção de uma usina competitiva em Pernambuco, ela poderá vender energia elétrica para todo o Brasil, através de contratos com cada uma das distribuidoras estaduais. Além de gerar valor no estado com estes empreendimentos, Pernambuco estaria exportando em vez de importar energia elétrica. O Plano Decenal de expansão de energia elétrica, referência oficial do MME e produzido pela EPE com a visão do país como um todo, com horizonte 2015, indica que o consumo de energia para o Nordeste crescerá 64% em relação ao consumo do ano de 2005. Para atender a expansão na demanda do Nordeste, evitando aumento sistemático da importação de energia, o plano prevê a construção de usinas que utilizam fontes alternativas de energia (306 MW), de usinas hidroelétricas no S. Francisco e no Rio Parnaíba (1.172 MW) e usinas térmicas a gás ou outros combustíveis com capacidade total de 2.550 MW. Característica do novo modelo, caberá aos agentes de geração construir os novos empreendimentos indicados no planejamento ou propor à EPE empreendimentos substitutos de competitividade demonstrada. É neste ponto que o Governo do Estado poderá tomar a iniciativa indutora para que as novas usinas sejam construídas no estado. Deve ser observado que, mesmo que não venha a ser construída uma única unidade de geração de energia no estado, o suprimento de energia estará assegurado, segundo as regras do novo modelo. Neste caso, Pernambuco será um importador de energia ao mesmo tempo, em que estará deixando de participar deste gigantesco negócio. O que se quer focar aqui é que produzir energia elétrica para o Sistema Interligado Nacional – SIN, passou a ser uma atividade geradora de riqueza e que deve ser atraída para o estado. Nesse contexto, ressalte-se que cerca de 560 MW estarão alocados às futuras usinas de Riacho Seco e Pedra branca, na divisa de Pernambuco com a Bahia, nas regiões de Santa Maria da Boa Vista e de Orocó. No Parnaíba deverá ser agregado um montante de aproximadamente 612 MW. A diferença a instalar, portanto cerca de 2.856 MW (306 MW de biomassa e 2.559 MW de fonte térmica) não tem definida a sua localização. Tal potência, em princípio, pode ser concentrada, dividida em grandes blocos ou ainda pulverizada pelo Nordeste. O momento atual é então apropriado para que Pernambuco

117 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO demonstre que esta capacidade pode ser implantada no estado, no todo ou em parte significativa. A motivar tal assertiva deve-se ter em mente que cada empreendimento de geração térmica com capacidade para gerar 1.000 MW gerará uma receita operacional da ordem de R$ 1,0 bilhão ao ano. A estratégia para atrair tais investimentos e participar do “Negócio de Energia Elétrica” compreende:

Energia de Biomassa. O potencial de oferta identificado no Plano Decenal poderia ser viabilizado a partir da utilização da biomassa de cana de açúcar nos principais estados das regiões Centro-Sul e Norte-Nordeste no período decenal 2006-2015. Atualmente o parque da agroindústria canavieira nacional possui 304 usinas em atividade, sendo 227 na região Centro-Sul e 77 na região Norte-Nordeste e ainda conta com cerca de 80 projetos em fase de implantação e desenvolvimento. O Plano Decenal considerou, conservadoramente, que a geração com a biomassa, a partir do bagaço de cana, irá contribuir com a capacidade máxima de geração para o SIN nos estados da federação com maiores potenciais: São Paulo, e Goiás, para o sistema interligado Sul/Sudeste/Centro-Oeste/Rondônia e e Pernambuco, para o sistema interligado Norte/Nordeste. Como pode ser visto, o Estado de Pernambuco está considerado no planejamento para co-geração de energia elétrica a partir da biomassa de cana de açúcar. Caberá ao governo de Pernambuco fazer a articulação e apoiar os produtores para que Pernambuco participe desta indústria que tem um potencial de agregar receita anual da ordem de 300 milhões de reais por ano para o setor.

Termeletricidade a Gás Natural. Entre as fontes de recursos para produção de energia primária que compõem a matriz energética brasileira, o gás natural foi a de maior crescimento percentual, passando de 5,5% em 1989 para 8,9% em 2004. O deslocamento de combustíveis fósseis líquidos, com acentuadas características poluidoras, trouxe melhorias ao meio ambiente, principalmente em regiões industriais de grande concentração urbana ou nas cidades em que ocorreu maior inserção dos veículos automotivos a gás natural. Outra vantagem importante foi a melhoria nos processos e produtos de alguns segmentos industriais que requerem energia de queima mais eficiente e limpa. O crescimento da termogeração a gás natural também trouxe benefícios importantes ao

118 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO sistema elétrico do país, tanto em termos energéticos, para aumentar as garantias do sistema gerando eletricidade quando há maiores riscos de geração hidrelétrica futura, quanto em termos de estabilidade do sistema elétrico, pois as termelétricas a gás natural podem ser instaladas próximas ou nos centros de carga, onde podem atuar na estabilização dos níveis de tensão, sem contar com a economia relativa do investimento no sistema de transmissão. Entretanto, apesar do grande crescimento de oferta e demanda de gás natural no país nos últimos anos, com taxa média de 16,7 % ao ano (de 1999 a 2004), a indústria de gás natural enfrenta atualmente um período de escassez de oferta deste combustível que pode ser definido como transitório. No entanto, as grandes empresas do setor estão atuando para aumentar a oferta de gás natural, a exemplo da Petrobras que projeta em seu planejamento estratégico de 2005 a manutenção desta mesma taxa de crescimento (17% ao ano) para o mercado deste combustível. Esta transitoriedade deverá ser superada, tão logo algumas questões sejam resolvidas, como por exemplo, a conclusão da construção de gasodutos, em curso ou em projeto, e a confirmação de importantes projetos de produção de gás natural nas bacias marítimas de Santos, Campos e Espírito Santo. Quanto aos gasodutos, alguns se encontram em construção, como os de Urucu-Coari- Manaus, Campinas-, -Alagoas, GASENE (trecho Macaé-Vitória- Cacimbas), ou em ampliação, como o gasoduto Rio-Belo Horizonte. O trecho Espírito Santo-Bahia (ES-BA) do GASENE deverá ser iniciado ainda neste segundo semestre de 2006, totalizando investimentos da Petrobrás da ordem de US$ 3,0 bilhões. No que tange à perspectiva de maior oferta de gás natural no médio e longo prazos, não se pode ignorar o grande volume comprovado das reservas existentes na América do Sul, totalizando mais de seis trilhões de metros cúbicos de gás natural, suficientes para suprir o consumo atual do continente por mais de 50 anos. A Bolívia, país fornecedor de gás natural para o Brasil desde 1999, tende a ser um agente propulsor de “gás novo”, tanto para a Argentina, quanto para o Brasil. No longo prazo, a oferta incremental de gás natural no país poderá vir da Venezuela, país que detém as maiores reservas comprovadas, deste combustível, da América do Sul, e com o qual o governo brasileiro desenvolve estudos conjuntos para a construção de um gasoduto de dimensões continentais. O Brasil ainda poderia utilizar como fonte deste recurso, projetos de importação de gás natural liquefeito - GNL, pois os mercados de gás natural, bem como seus gasodutos, estão concentrados próximos à costa marítima. O recurso de importação de GNL, também pode ser uma opção para projetos temporários, viabilizando a antecipação de mercados, a serem futuramente supridos por gasodutos em construção, ou como estratégias a serem utilizadas nas crises de abastecimento de gás natural e em sistemas com grandes variações

119 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO de consumo, reduzindo os investimentos em gasodutos. A importação de GNL se apresenta como grande oportunidade para Pernambuco dada a sua localização geográfica e a infra- estrutura do porto de SUAPE. Por outro lado, enquanto o estado é privilegiado sob a ótica da importação, ele perde muita competitividade quando suprido com gás natural através da rede de gasodutos planejada. Os grandes projetos em curso favorecem em especial o estado da Bahia. Por esta razão o Governo do Estado deve se articular para viabilizar a implantação de um terminal de re-gaseificação no porto de SUAPE. Para dar viabilidade ao terminal, o Governo deve fazer gestões para que a CHESF, diretamente ou através de parcerias com investidores privados, implante usinas de geração de energia elétrica no estado. Pernambuco poderá ser um exportador de energia a partir de gás natural liquefeito importado. Adicionalmente, o governo do estado deve reorientar a COPERGÁS, através de alterações do seu estatuto social, para que ela possa participar do negócio geração de energia elétrica. Uma importante atividade que poderia ser desenvolvida pela COPERGÁS seria a participação em projetos de co-geração de energia a partir do gás natural. É importante ainda salientar que o fomento à implantação de grandes parques térmicos em Pernambuco utilizando combustível a partir do gás natural importado liquefeito, conta com a vantagem prevista no Plano Energético do MME, cujo horizonte é de 30 anos, que outro importante bloco de termeletricidade deve vir a ser implantado no Nordeste, após o horizonte decenal. Isto estimula desde já a infra-estrutura necessária cuja escala de implantação certamente implicará em vantagens competitivas também a médio e longo prazo.

Co-Geração a Gás Natural. A co-geração pode ser definida como a produção simultânea de duas ou mais formas de energia a partir de um único combustível. O processo mais comum de geração é a produção de eletricidade e energia térmica (calor e/ou frio), a partir do uso de gás natural, biomassa ou outro energético. As aplicações de tecnologias e processos de co-geração a gás natural possibilitam beneficiar diversos setores da economia, com destaques para as aplicações na indústria, comércio, serviços e agricultura. Uma das aplicações mais recentes, e com grande poder de interferência sobre o mercado tradicional das concessionárias de energia elétrica, é a climatização de ambientes, ou seja, a refrigeração por absorção e/ou o aquecimento de ambientes residenciais, comerciais e industriais, assim como da água utilizada nestes locais

120 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

(lavanderias, piscinas, etc.). As centrais de co-geração são geralmente instaladas nos locais de uso final da energia, pelo próprio cliente ou através de empresas e investidores que operam em regime de outsourcing, para produzirem nas suas instalações a energia térmica necessária (vapor, calor e frio). Por se tratar de um combustível de queima total e constante, o gás natural também acarreta uma maior eficiência do processo produtivo industrial, gerando economia e resultando em produtos melhor acabados. Sua queima, isenta de resíduos, ainda ocasiona o aumento da vida útil dos equipamentos, evitando gastos com manutenção. Outro benefício advindo do uso do gás natural é a colaboração ambiental, pois emite significativamente menos resíduos tóxicos comparados a outros combustíveis. O gás natural é considerado também um dos combustíveis mais seguros que existem, pois, por ser mais leve que o ar, dissipa-se rapidamente na atmosfera. Além disso, o sistema de fornecimento contínuo de gás natural, por meio de canalização, dispensa seu armazenamento local, com trocas e o manuseio de recipientes pesados. Isto confere aos clientes maior segurança e confiabilidade com relação aos combustíveis tradicionais. Dentre as principais razões pelas quais a indústria da co-geração está se desenvolvendo em todo o mundo, podem-se mencionar as seguintes:

o Eficiência energética: a eficiência energética da co-geração (energia elétrica e térmica produzida por unidade de combustível utilizado) é superior à alternativa de produção separada de eletricidade e energia térmica, resultando em menor consumo de energéticos e menor emissão de poluentes.

o Segurança operacional: melhoria das condições de segurança e confiabilidade operacional das empresas.

o Produção e uso local de energia com custos evitados: por ser instalada no próprio local de consumo, a co-geração evita custos de transmissão, reduzindo o custo final da energia. Isso representa uma grande vantagem, considerando- se que os custos de investimento no transporte de energia elétrica e as perdas de transmissão tendem a crescer no futuro.

o Fator de desenvolvimento econômico sustentável: a indústria da co-geração é um importante instrumento de desenvolvimento econômico sustentável, contribuindo para o desenvolvimento da indústria nacional de equipamentos, introdução de novas tecnologias, geração de emprego e renda e a possibilidade de utilização eficiente das reservas brasileiras de gás natural.

121 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

Assim, na medida em que a COPERGÁS estimule e participe da co-geração a partir do gás natural, estará se produzindo energia elétrica em Pernambuco, gerando valor no estado, e evitando-se a importação de energia.

Energia Eólica. O desenvolvimento da energia eólica, no Brasil, tem ocorrido de forma gradual e consistente e está em consonância com a diretriz do Governo Federal de diversificação da Matriz Energética, bem como valorizando as características e potencialidades regionais na formulação e implementação de políticas energéticas. O potencial eólico brasileiro para aproveitamento energético tem sido objeto de estudos e inventários desde a década de 1970, que culminaram com a publicação, em 2001, do Atlas do Potencial Eólico Brasileiro. O Atlas apontou a existência de áreas com regimes médios de vento, propícios a instalação de parques eólicos, principalmente nas regiões Nordeste (144 TWh/ano, e Sul e Sudeste do país, 96 TWh/ano). O principal incentivo a esta fonte de energia foi instituído por meio da Lei no 10.438, de 26 de abril de 2002, a qual representa um marco no arcabouço regulatório do setor elétrico, por ter criado o PROINFA (1ª Etapa), cujo objetivo é aumentar a participação de energia elétrica produzida a partir das fontes de geração eólica, pequena central hidrelétrica (PCH) e biomassa. Na primeira etapa do PROINFA, foram celebrados contratos com 54 empreendimentos de energia eólica, totalizando uma potência de 1.493 MW. O potencial de energia eólica do estado de Pernambuco pode ser bastante explorado por uma política governamental que perceba a oportunidade histórica de abertura de novas cadeias produtivas de insumos e equipamentos, expandindo a atividade econômica e o nível de emprego.

Bioenergia. Especial atenção deve ser dada pelo próximo governo às ações voltadas para a produção de energia a partir de produtos agrícolas, tendo em vista a escassez futura de energia originada de carbono fóssil e, por conseguinte, o rápido crescimento por energias renováveis a partir da biomassa. O Governo Federal tem dedicado especial atenção a esta questão e vem estimulando fortemente o desenvolvimento da agroenergia no Brasil. Neste contexto, será de fundamental importância um alinhamento do próximo Governo Estadual com as diretrizes e políticas do Governo Federal, preparando o estado para ser um parceiro atento na execução destas políticas, as quais são apresentadas a seguir:

122 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

Os cenários da área energética apontam para a progressiva redução das reservas de carbono fóssil. Os níveis críticos dessas reservas, aliados à crescente demanda energética da sociedade contemporânea, estão provocando a ascensão sustentada de preços do petróleo, situação essa agravada em razão de as reservas mais importantes deste produto estarem concentradas em poucas regiões no mundo. Nesse contexto, a humanidade deve perseguir um novo conjunto de fontes de energia, sucedâneos ao carbono fóssil, base da energia por quase dois séculos. Dentre as energias renováveis, a agroenergia produzida a partir de biomassa poderá responder por parcela substantiva da oferta futura. A projeção do potencial da agroenergia no Brasil, para os próximos 30 anos, vislumbra a possibilidade de produzir mais de 120 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (tep) anualmente, o que significa quase dobrar a oferta atual, estimada em 57 milhões de tep. Entretanto, a consecução de metas ambiciosas na agroenergia pressupõe investimentos ponderáveis em logística (transporte e armazenamento), uma política de atração e fixação de capitais internacionais, a segurança patrimonial e contratual dos investidores, as condições para ampliação da oferta de matéria-prima e uma política de Ciência e Tecnologia que consolide o Brasil na fronteira da tecnologia do agronegócio tropical. Essas intervenções necessitam ter o caráter de perenidade, pois a maturação das metas na agroenergia ocorre, necessariamente, no longo prazo. A competitividade dos produtos da agroenergia, no nosso mercado interno e no internacional, é função direta dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento tecnológico e logística. Do ponto de vista do relacionamento internacional, além da atração de investidores, será necessário assumir a liderança da formação de um mercado internacional de bioenergia. É importante também o alinhamento com os dispositivos dos acordos internacionais, em especial o Protocolo de Quioto, pelos seus desdobramentos econômicos (como o mercado de carbono) e pelas aberturas possíveis da estratégia geopolítica do governo brasileiro.

As diretrizes gerais dessa política são:

o Desenvolvimento da agroenergia. Expansão do setor de etanol, implantação da cadeia produtiva do biodiesel, aproveitamento de resíduos e expansão de florestas energéticas cultivadas, com abrangência nacional, objetivando a eficiência e produtividade e privilegiando regiões menos desenvolvidas.

123 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

o Agroenergia e produção de alimentos. A expansão da agroenergia não afetará a produção de alimentos para o consumo interno, principalmente da cesta básica. Pelo contrário, co-produtos do biodiesel, por exemplo, torta de soja e de girassol, tendem a complementar a oferta de produtos para a alimentação humana e animal.

o Desenvolvimento tecnológico - Pesquisa e desenvolvimento de tecnologias agropecuárias e industriais adequadas às cadeias produtivas da agroenergia, que proporcionem maior competitividade, agregação de valor aos produtos e redução de impactos ambientais. Concomitantemente, deverá contribuir para a inserção econômica e social, inclusive com o desenvolvimento de tecnologias apropriadas ao aproveitamento da biomassa energética em pequena escala.

o Geração de emprego e renda. A política de agroenergia deve constituir-se em um vetor da interiorização do desenvolvimento, da inclusão social, da redução das disparidades regionais e da fixação das populações ao seu habitat, em especial pela agregação de valor na cadeia produtiva e integração às diferentes dimensões do agronegócio.

o Otimização das vocações regionais. Incentivo à instalação de projetos de agroenergia em regiões com oferta abundante de solo, radiação solar e mão- de-obra, propiciando vantagens para o trabalho e para o capital, dos pontos de vista privado e social, considerando-se as culturas agrícolas com maior potencialidade.

o Aderência à política ambiental. Os programas de agroenergia deverão estar aderentes à política ambiental e em perfeita integração com as disposições do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) do Protocolo de Quioto, aumentando a utilização de fontes renováveis, com menor emissão de gases de efeito estufa e contribuindo com a mitigação deste efeito por meio do seqüestro de carbono. Finalmente, deverão ser atendidas demandas transversais e norteadoras, em especial os estudos de caráter socioeconômico e estratégico, os estudos prospectivos e suas conexões com temas ambientais, econômicos e sociais, objetivando a orientação na tomada de decisões. Sob o ponto de vista da gestão destas diretrizes de agroenergia, propõe-se que seja efetuada por um conselho gestor interministerial, subsidiada por grupos de especialistas.

124 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

A concepção básica do programa de governo para a questão energética pode ser resumida no seguinte:

• Produzir em Pernambuco a energia adicional que será demandada e exportar excedentes, gerando riqueza para o nosso estado.

• A economia estadual se expande pela diversificação estratégica dos

negócios relacionados à nova matriz energética.

Esse deve ser o foco estratégico do próximo governo. Para viabilizá-lo, o governo deverá orientar as suas ações nas seguintes direções:

o Articulação com o Governo Federal, PETROBRAS e outros produtores e comercializadores de gás natural para viabilizar a implantação no estado de um terminal de re-gaseificação de gás natural liquefeito – GNL a ser importado.

o Articulação com a CHESF e outros investidores para a implantação de usinas térmicas a gás natural no estado, consolidando assim o terminal de re- gaseificação.

o Fortalecimento da Agência Reguladora ARPE que fará o monitoramento do cumprimento das obrigações por todos os agentes do setor, conforme preconizado no novo modelo.

o Cotejamento da política nacional de energia e do planejamento do governo estadual, através do fortalecimento da área de energia da Secretaria de Infra- estrutura, mediante a implementação de Grupo de Alto Nível.

o Estímulo à implantação de plantas de geração de energia elétrica movidas a partir de fontes alternativas de energia.

o Estímulo à geração de energia elétrica a partir do bagaço de cana de açúcar, aumentando a produtividade do setor sucro-alcooleiro.

o Ampliação do papel da COPERGÁS para que ela possa atuar em novos negócios de energia como agente de geração de energia elétrica, estimulando, principalmente, a co-geração de energia a partir de gás natural.

125 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO o Organização dos arranjos produtivos locais (pólo gesseiro, perímetros irrigados, pólo da sulanca, entre outros) para contratação de energia em novos termos, utilizando vantagens advindas do novo ambiente institucional (auto- produtor, produtor independente, comercializadoras de energia, garantia de acesso às redes, entre outros). o Preparar o Estado para que se torne pioneiro e líder no Nordeste na execução das políticas e diretrizes estabelecidas pelo Governo Federal para o segmento de AGROENERGIA.

126 PROGRAMA DE GOVERNO • FRENTE POPULAR DE PERNAMBUCO

POLÍTICA AMBIENTAL

Durante os anos de governo Jarbas-Mendonça a política ambiental foi bastante minimizada e relegada a uma posição subalterna no conjunto das ações de governo. A agência de recursos hídricos, a CPRH tem se constituído mais num órgão administrador de licenças ambientais e menos num gestor preocupado com o controle da poluição e do desmatamento e da implementação da política ambiental em geral. A resultante deste descaso tem se caracterizado em perdas ambientais irreparáveis no estado. Na região do Sertão do estado um problema de elevada gravidade é o relacionado ao desmatamento para uso da madeira da caatinga como combustível para os empreendimentos localizados no pólo gesseiro do Araripe. No entanto, outra questão tão grave quanto é a do uso e conservação de recursos hídricos de maneira inadequada na região. As barragens, açudes e rios do semi-árido sofrem de problemas de salinização e de assoreamento avançado sem que ações efetivas tenham sido tomadas nos últimos anos. Na região do Agreste, o problema mais premente a ser atacada é o da poluição dos rios. Tanto a ausência de tratamento de esgotos nos municípios da região quanto os dejetos industriais do pólo de confecções da Sulanca estão contribuindo para a o avanço da poluição dos mananciais de água, o rio Capibaribe tem sido um exemplo claro da falta de controle por parte dos órgãos estaduais da pasta de Meio Ambiente. Nas áreas litorâneas os danos ambientais mais freqüentes se referem à poluição dos rios pelas usinas de álcool/açúcar e pela ausência de tratamento de esgotos dos municípios da região, mas não se reduzem apenas este. A degradação avançada da cobertura vegetal pelo crescimento desordenado da população e pela especulação imobiliária vem promovendo de maneira crescente prejuízos à qualidade de vida em áreas nas quais o patrimônio natural de praias e mananciais de água é vital para a atividade turística.

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AÇÕES PROPOSTAS

Nosso governo entende que será necessário reorganizar a pasta de meio ambiente, principalmente quanto ao papel a ser desempenhado pela sua agência de recursos hídricos, a CPRH como órgão não apenas de fiscalização e aplicação de multas mas como instrumento de execução da política ambiental. Entendemos que para realizar uma tarefa conseqüente sobre os vários biomas existentes nas regiões do estado torna-se importante a descentralização das atividades da CPRH para o interior do estado. As ações desta instituição estão excessivamente voltadas para os problemas metropolitanos e com pouca atuação no interior do estado. Na nossa gestão incentivaremos a atuação do Conselho Estadual de Meio Ambiente na estruturação de políticas públicas e estimularemos também a participação descentralizada de municípios como co-partícipes das soluções a serem implementadas. Para mantermos um estilo de crescimento sustentável a partir da utilização conseqüente da base de recursos naturais ações da ciência e tecnologia terão que ser ativamente incorporadas às nossas propostas. A pesquisa florestal, a cargo do Instituto de Pesquisa Agrícola (IPA) em caráter renovado, e a implementação de um Programa de Educação Ambiental junto com os municípios deverão se constituir em elementos imprescindíveis para nossa estratégia ser bem sucedida. Nas regiões que demandam madeira com muita intensidade para a sua atividade produtiva, por exemplo, poderia ser estimulada a introdução de espécie vegetais de rápido crescimento na matriz energética do Estado. O eucalipto, bem como a algaroba, a leucena e o sabiá, têm sido apontados como espécies vegetais bastante apropriadas para o reflorestamento com vista à produção de lenha para as empresas calcinadoras na região do Araripe e em várias porções do Sertão pernambucano.

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COLABORADORES

Aluízio Lessa Ana Elizabeth Molina Fernando Jucá Ana Selva Fernando Machado Anderson Gomes Flávio Campos Neto Antonio Alfredo Menezes Jr. Frederico Montenegro Argentina Bezerra de Mello Getúlio de Sá Gondim Aristides Monteiro Neto (Coordenador) Giliate Falbo Ascendino Flávio Givonete Oliveira de Castro Aurélio Molina Glauce Gouveia Belmirando Costa Homero Bittencourt Carlos Rocha Humberto de Azevedo Vianna Cyro Andrade Lima Isabel Lins Danilo Cabral Ivon Fittipaldi Dilton da Conti João Bosco de Almeida Dora Pires João Recena Edgar Félix Jorge Gusmão Enildo Meira José Aleixo Evaldo Costa José Almir Cirilo Fábio Lopes José Lopes Fátima Cabral José Luiz Lima

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José Patriota Rachel Azevedo Mello Julio Zoé Raimundo Carrero Leonardo Guimarães Neto Regilma Maria Souza Lucia Melo Renata Campos Manoel Marinho Barros Ricardo Lima Marcos Cerqueira Roberto Arraes Marcos Loreto Roberto Montezuma Maria Antonieta Cruz Rosilda Barreto Santos Maria das Graças Oliveira Sileno Guedes Marilena Chaves Leão Silke Weber Miriam Pires de Freitas Simone Guimarães Ribeiro Niedja Guimarães Tales Wanderley Oswaldo Lima Neto Tânia Maria de Andrade Lima Paulo Telga Araújo Paulo Câmara Valdeci Monteiro dos Santos Paulo Ferraz Guimarães Zeca Brandão Pedro Mendes Zélia Porto

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