A PÓS-MODERNIDADE EM CAMPOS DE CARVALHO: Um Estudo Sobre a Liquidez, O Desvario E O Niilismo Nos
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA ARMANDO RIBEIRO JUNIOR A PÓS-MODERNIDADE EM CAMPOS DE CARVALHO: Um estudo sobre a liquidez, o desvario e o niilismo nos romances A lua vem da Ásia e O púcaro búlgaro UBERLÂNDIA 2013 ARMANDO RIBEIRO JUNIOR A PÓS-MODERNIDADE EM CAMPOS DE CARVALHO: Um estudo sobre a liquidez, o desvario e o niilismo nos romances A lua vem da Ásia e O púcaro búlgaro Dissertação de mestrado apresentada no Programa de Pós-graduação em Letras – Curso de Mestrado em Teoria Literária, no Instituto de Letras e Linguística, Universidade Federal de Uberlândia, para a obtenção do título de Mestre em Letras. Área de concentração: Teoria Literária. Linha de pesquisa: 1 – Poéticas do texto literário: cultura e representação. Orientadora: Prof.ª. Drª. Kenia Maria de Almeida Pereira UBERLÂNDIA 2013 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Sistema de Bibliotecas da UFU, MG, Brasil. R484p Ribeiro Junior, Armando, 1981- 2013 A pós-modernidade em Campos de Carvalho: um estudo sobre a liquidez, o desvario e o niilismo nos romances A lua vem da Ásia e O púcaro búlgaro / Armando Ribeiro Junior. - 2013. 123 f. : il. Orientadora: Kênia Maria de Almeida. Pereira. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Uberlândia, Programa de Pós-Graduação em Letras. Inclui bibliografia. 1. Literatura - Teses. 2. Carvalho, Campos de, 1916-1998 - Teses. 3. Pós-modernismo - Teses. 4. Niilismo - Teses. I. Pereira, Kênia Maria de Almeida. II. Universidade Federal de Uberlândia, Programa de Pós-Graduação em Letras. III. Título. CDU: 82 Aos meus pais. Sempre! AGRADECIMENTOS À professora Kenia Maria de Almeida Pereira, minha orientadora, cara Lady Perséfone, a primeira a chegar depois de todos terem partido. Ao poeta Heleno Álvares, figura indispensável para o desenvolvimento desta pesquisa, por sua paciência em cada uma das entrevistas cedidas, por sua disposição em vasculhar sua biblioteca pessoal para me fornecer materiais inéditos. Ao professor Leonardo Francisco Soares, por seu multimidiático grupo de estudos. Ao professor Alcides Freire Ramos, dono de uma fabulosa máquina de abrir horizontes. À poeta Lisa Alves, por sua maldição, por sua profecia. À caríssima Valéria D. Bittencourt, pelas discussões intermináveis. À Soraia Cristiane do Amaral Ribeiro, toda consideração pela paciência e pelo companheirismo. Em memória do camarada Ruy Barbosa da Silva Júnior, ‘stamos em pleno mar! É preciso ter o caos dentro de si para dar à luz uma estrela dançarina. Nietzsche A chuva dá de beber aos mortos. Campos de Carvalho RESUMO São raros os trabalhos sobre o romancista mineiro Walter Campos de Carvalho (1916–1998), aos quais incide grande obscuridade na tentativa de definição. Embora, depois de décadas desaparecido, tenha retornado às páginas da imprensa nos últimos anos, graças às adaptações teatrais dos seus quatro romances, permanece um silêncio incompreensível acerca de sua literatura – que, não raro, é tomada simplesmente como uma experiência humorística. Percebendo-se o exposto, esta dissertação tem como principal objetivo observar o desenvolvimento da pós- modernidade, a partir do viés do sociólogo Zygmunt Bauman, nos romances A Lua vem da Ásia (1956) e O Púcaro Búlgaro (1964), respectivamente o primeiro e o último dos romances de Campos de Carvalho, apontando que Waltinho em verdade antecipou experiências narrativas muito próprias da contemporaneidade e que parte da incompreensão que o cerca se dá em consequência desse fato. Palavras-chave: Campos de Carvalho. Pós-modernidade. Pós-modernismo. Caos. Niilismo. Liquidez. ABSTRACT Works on the novelist Walter Campos de Carvalho (1916-1998) are rare. Great obscurity falls on that works in the attempt of definition. Although, after being decades absent, he had returned to the pages of the press in the last years, thanks to the theatrical adaptations of his four novels, there are still an incomprehensible silence about his literature – which is often merely taken as a humoristic experience. Thus, this dissertation has as its principal objective to observe the development of postmodernity, according to the sociologist Zygmunt Bauman’s view, of the novels A Lua vem da Ásia (1956) e O Púcaro Búlgaro (1964), respectively the first and the last of Campos de Carvalho’s novels, showing that the novelist in fact anticipated narrative experiences proper of contemporaneity and that part of the incomprehension about him is due to this fact. Keywords: Campos de Carvalho. Postmodernity. Postmodernism. Chaos. Nihilism. Liquidness. SUMÁRIO INTRODUÇÃO Explicação necessária ......................................................................................................... 06 Os prolegômenos ..................................................................................................................11 1. O NOVELO GÓRDIO.......................................................................................................18 1.1. Simpatia pelo demônio ................................................................................................. 25 1.2. Tem, mas acabou! ........................................................................................................ 32 1.3. Um passeio pelos campos de carvalho ..................................................................... 36 2. DO ORIENTE VEM ARTÊMIS .......................................................................................50 2.1. Vou-me embora pra Bulgária ......................................................................................64 3. SURREALISMO POSSÍVEL E REALIDADE INSUPORTÁVEL: DO REALISMO- FANTÁSTICO AO REALISMO CAÓTICO ........................................................................ 77 4. IDENTIDADES FRAGMENTÁRIAS ..............................................................................87 5. AS ÚLTIMAS GOTAS DE UM SÉCULO LÍQUIDO OU UM SÉCULO ATÉ A ÚLTIMA GOTA! .....................................................................................................................92 6. SEM LENÇO E SEM DOCUMENTO: O DESENVOLVIMENTO ARQUETÍPICO DO ETERNO CAMINHANTE ................................................................................................... 102 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 115 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................117 6 INTRODUÇÃO 1 Explicação necessária Que a chamada pós-modernidade, nesse ponto decisivo, não haja superado a modernidade nem criado nada de novo já se revela na falta de conteúdo de seu próprio conceito, que só remete a um ‘futuro’ vazio. A pós- modernidade, além de não fornecer nenhuma orientação cultural, erige a falta de orientação em virtude a fim de seguir rodando por inércia, eternidade afora. Robert Kurz, sociólogo e ensaísta alemão A produção literária de Campos de Carvalho enfrenta desde o momento de seu lançamento uma dificuldade de classificação, sendo bastante distinta das realizações estéticas de sua época, por mais que estas fossem variadas e amplas. A terceira fase do modernismo e o possível surrealismo em que Campos convencionalmente é encaixado não fornecem todas as respostas quando se estuda suas obras mesmo que superficialmente. Daí advém a necessidade de uma releitura teórica para tanto. O psiquiatra, psicanalista e crítico literário Paulo Castro esboçou, em 2007, em Portugal, um trabalho vinculado à Universidade Lusíada de Vila Nova de Famalicão sobre as noções de mania nas obras de Campos de Carvalho. Porém, como aqueles que percebiam, no tempo da publicação dos livros de Campos, que o autor só seria compreendido adequadamente, e se o fosse, em trinta anos ou mais, Paulo Castro, em entrevista a um periódico lusitano, assim justificou as opções teóricas de seu projeto: (...) Os pós-modernos são controversos, cá e em qualquer lugar do mundo. De difícil trato e muito a dizer, leio-os com interesse e intensidade. A modernidade e suas respostas não convencem mais e doravante não convencerão. Não é mais possível separar modernidade, pós-modernismo e pós-modernidade. Imbricação que une forma, conteúdo e continente. (...) Campos de Carvalho, tal as criaturas de suas fabulações, é cosmopolita. Pode ser lido mais facilmente em qualquer canto do Ocidente que a maior parte dos romancistas brasileiros do último século. Um tanto da peleja em se definir o momento ocupado pelo Waltinho na linha evolutiva da literatura brasileira está em sua distância entre a realidade brasileira de seu tempo e 1 O anacronismo dos subtítulos é proposital: uma espécie de homenagem à introdução do romance O Púcaro Búlgaro, de Campos de Carvalho, divida em “Explicação Necessária”, “Explicação Desnecessária” e “Os prolegômenos”. 7 as realidades mais globais de suas ficções. Outra parte se dá pela antevisão de tempo a fazer parte simultaneamente do presente e do porvir. (...) Os recursos para estudar Campos de Carvalho são mais apropriados e vastos hoje que outrora. (CASTRO, 2007, pp. 07-08). Guiando-se pela mesma linha da colocação de Paulo Castro, nesta dissertação há uma opção pela palavra pós-modernidade numa conotação que deve previamente ser explicada: não um período de tempo compreendido como o fim da modernidade ou ainda um pré-o-que-virá, independente do que virá, se é que virá, mas uma terminologia utilizada de modo recorrente para caracterizar autores – muitos dos quais nem se sentem à vontade sob este guarda-chuva semântico, quando não o rechaçam completamente –, que, de algum modo, questionam,