Uma Etnografia Da Chefia Kalapalo E Seu Ritual Mortuário
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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DEPARTAMENTO DE ANTROPOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL ANCESTRAIS E SUAS SOMBRAS Uma etnografia da chefia kalapalo e seu ritual mortuário Antonio Roberto Guerreiro Júnior Brasília 2012 ANCESTRAIS E SUAS SOMBRAS Uma etnografia da chefia kalapalo e seu ritual mortuário Antonio Roberto Guerreiro Júnior Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Antropologia Social da Universidade de Brasília para obtenção do título de Doutor em Antropologia Social Orientadora: Profa. Dra. Marcela Stockler Coelho de Souza Brasília 2012 Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da Universidade de Brasília. Acervo 998591. Guerrei ro Júnior, Antonio Roberto. G934a Ancest rais e suas sombras : uma etnograf ia da chef ia kalapalo e seu ri tual mortuário / Antonio Rober t o Guerreiro Júnior. -- 2012. 511 f. : il. ; 30 cm. Tese (doutorado) - Universidade de Brasí l ia, Depar tamento de Antropologia, Programa de Pós-Graduação em Ant ropol ogi a Social , 2012. Inclui bibliografia. Or ientação: Marcela Stockler Coelho de Souza . 1. Índios Kalapálo. 2. Etnologia. 3. Índ ios da Amér i ca do Sul - Vida e costumes sociais. 4. Índios - Ri tos e cerimônias fúnebres. I. Souza, Marcela St ock ler Coelho de. II. Título. CDU 39(=082) ANCESTRAIS E SUAS SOMBRAS Uma etnografia da chefia kalapalo e seu ritual mortuário Antonio Roberto Guerreiro Júnior Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade de Brasília para obtenção do título de Doutor em Antropologia Social. Aprovada por: _____________________________________ Profa. Dra. Marcela Stockler Coelho de Souza (PPGAS-DAN/UnB) Orientadora _____________________________________ Prof. Dr. Luis Cayón (PPGAS-DAN/UnB) _____________________________________ Profa. Dra. Bruna Franchetto (PPGAS-Museu Nacional/UFRJ) _____________________________________ Profa. Dra. Elsje Lagrou (PPGSA-IFCS/UFRJ) _____________________________________ Prof. Dr. Renato Sztutman (PPGAS/USP) Uinguheniko inhani Para os que me abriram os olhos Aliju inha Para Aliju AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar aos Kalapalo, que me receberam em suas casas (muitas vezes em momentos tristes e difíceis), cuidaram de mim e dividiram comigo suas vidas com inigualável generosidade. Enumü e Itsapü, que já tomaram o caminho a oeste do céu, eram personalidades ímpares, e me acolheram em sua família com carinho e boa vontade. A Nailu, Haja “Senegal”, Kahagahü, Sahati, Aline, Luka, Hinhuka “Tafarel” e Maũ, agradeço pelos cuidados, pelo bom humor, pelas conversas agradáveis, e por tentarem me fazer engordar. A Haihua, por me ensinar seus cantos com paciência e por sempre me trazer de volta para a realidade. Hélio, Kuango, Tuku, Isa, Mansu, Johi, Susema e Jepe foram muito importantes, porque o campo sem essas crianças não teria sido tão cheio de risadas. Agradeço aos caciques Waja, Tühoni e Hagema, que me ofereceram sua hospitalidade e me cederam muito de seu tempo; a Tipüsusu, grande pensadora de seu povo, por ser sempre tão generosa com suas ideias; a meu amigo Hüge Hüti “Orlandinho”, por ser sempre tão preocupado, observador e divertido, e por ter passado muitas horas me ajudando no trabalho de transcrição e tradução; a Masinua, por não ter desistido de me ensinar a pescar; a Hikama, pela fineza e eloquência de suas explicações, e por demonstrar sua confiança em mim; a Kalühi, por ser tão detalhista; a Moge, pelos jaraquis; a Tawana, Kamankgagü “Viola”, Kayauta, Kohoi, Mataiatsi, Sapuia, Kainahu e Hepia, pela companhia, pela ajuda no trabalho e por me darem todo o apoio no difícil aprendizado de sua língua. A todos os que porventura deixei de mencionar, agradeço por me fazerem sentir à vontade, e por me ajudarem a combater os perigos da saudade. Ugise merece um agradecimento especial, pois sem ele esta pesquisa teria sido impossível – desde as viagens na chuva, até as complexas interpretações de sua cultura, tudo o que fez para me ajudar é imensurável. Ageu, um observador como poucos (o “cientista político do Xingu”, segundo meu amigo Kulumaka Matipu), foi outro pivô deste trabalho. Sou muito grato por sua confiança, sua dedicação como mestre e por ter se preocupado tanto com minha compreensão das coisas. Certa vez, ele me disse: “Quando você contar sobre nossos costumes para os brancos, diga a eles: foi meu tio quem me ensinou. Diga que eu conheço todas as histórias, todos os discursos, porque meu pai me ensinou tudo. Diga que eu só dei isso para você, para mais ninguém”. Espero não frustrar suas expectativas, e poder um dia retribuir à altura. Fora do Xingu, agradeço a meus pais, de quem nunca me faltou apoio e carinho, e que aprenderam a se interessar pelo que faço, o que não é pouco. Marina Cardoso, na UFSCar, me fez gostar de antropologia e me apresentou aos Kalapalo. Se não fosse por ela, este trabalho sequer teria começado. Agradeço a Marcos Lanna, professor e amigo, pelas conversas criativas e pelo entusiasmo com o tema da política. Jorge Villela também foi importante, me incentivando a cursar o doutorado em Brasília em um momento de indecisão. Ao pessoal da turma de mestrado de 2008, especialmente Carolina Pedreira, Diogo Bonadiman Goltara, Fabíola Gomes, Julia Otero, Pedro MacDowell e Walison Pascoal, agradeço demais por terem me “adotado”. Sem a amizade de vocês a antropologia não teria sido tão interessante, e teria sido muito mais difícil chegar (e ficar) em Brasília. A Marcela Coelho de Souza, motivo pelo qual vim para Brasília, não saberia por onde começar a agradecer. Esta tese teria sido impossível sem suas leituras atentas, sua preocupação com as minúcias do texto, com os duplos sentidos e sua vontade de distorcer tudo que parece óbvio. Mas agradeço sobretudo à sua confiança, por ter aceitado me receber como seu orientando antes mesmo de nos conhecermos, sem eu ainda sequer ter prestado a seleção do doutorado. A Bruna Franchetto, agradeço pelo apoio no Xingu e fora dele, pelas conversas, pela hospitalidade no Rio, e pelas aulas de karib em Küngahünga. A Mara Santos, pelo esforço conjunto com Bruna Franchetto para que saísse o PRODOC Kalapalo, e pela ajuda com a língua karib. Agradeço também a Mutua e Jamalui Mehinaku-Kuikuro, que me ajudaram na transcrição e tradução de um conjunto de cantos em arawak. A Marina Novo, minha eterna gratidão por fazer de Brasília um lugar muito feliz. Sua paciência e compreensão frente à minha ansiedade, minhas dúvidas, minhas dificuldades, meu mau humor e meu desleixo foram inestimáveis. Seus comentários a uma versão anterior deste trabalho, sua ajuda na revisão e formatação do texto, e seu esforço para me manter no chão na reta final tornaram esta tese possível. Também são dela os créditos pelos mapas e muitas das fotografias. Obrigado a todos os funcionários do DAN, por terem resolvido com presteza qualquer questão burocrática antes mesmo que eu pudesse pensar em me preocupar. Agradeço também ao CNPq pela bolsa concedida. The best way I have found to define ethnographic interpretation is the classic analogy of three blind men attempting to describe an elephant by touch—one holding its trunk, one its tail, and the other its tusk. Different ethnographers see things different ways, and the contrasting subjective viewpoints of each fieldworker determine the nature of the resulting ethnographic portrait. We, as much as the people who are our subject matter, create the reality of social and cultural phenomena, for we too are acting "culturally" by doing anthropology. James Weiner, The Heart of the Pearl Shell (1988: 1) RESUMO Esta tese é uma etnografia da chefia kalapalo (karib) e seu ritual mortuário no contexto do sistema multiétnico e multilíngue do Alto Xingu (MT). Pela descrição e análise de diferentes aspectos do ritual, percebe-se que os chefes apresentam um tipo de dualidade, sendo produzidos e exibidos ao mesmo tempo como pais/consanguíneos para seu povo, e inimigos simbólicos/afins para outros chefes. Sugere-se que a forma assumida por tais agentes está ligada à produção do parentesco no âmbito do sistema regional, e que o ritual cria as condições a partir das quais este processo pode ser concluído e recomeçado. Palavras-chave: chefia, ritual, parentesco, Alto Xingu, Kalapalo, povos karib ABSTRACT This thesis is an ethnography of kalapalo (karib) chieftaincy and its mortuary ritual within the multiethnic and multilingual system of the Upper Xingu (MT). By describing and analyzing different aspects of the ritual, it becomes clear that chiefs present a kind of duality, being produced and displayed simultaneously as fathers/consanguines for their people, and symbolic enemies/affines for other chiefs. It is suggested that the form assumed by such agents is related to the production of kinship within the regional system, and that the ritual creates the conditions from which this process can be concluded and restarted. Keywords: chieftaincy, ritual, kinship, Upper Xingu, Kalapalo, karib-speaking peoples SUMÁRIO I. INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 21 i. Um mundo em festa ...................................................................................................... 23 ii. O egitsü ......................................................................................................................... 27 iii. Histórico da pesquisa .................................................................................................... 37 iv. O campo onde tudo (e todos) tem dono .......................................................................