Música 23 de janeiro 2013

Mais um no fado Aldina Duarte © Isabel Pinto O Sentido das Notas, o Canto dos nossos dias, e António das Palavras Zambujo, e através destas os seus versos convertem-se num terreno comum para Apenas o Amor (2004), Crua (2006), o encontro entre outras tantas posturas Mulheres ao Espelho (2008), Contos artísticas idiossincráticas, passando da de (2011). Os títulos dos quatro condição de mera expressão individual álbuns que Aldina Duarte lançou pare- da sua autora ao estatuto de um patri- cem formar, como um mosaico, o retrato mónio partilhado e reestruturante do perfeito da sua postura de artista – o próprio género. E ela mesma revisita – e de alguém para quem a relação com o de algum modo reinventa, nessa viagem Fado passa por um registo constante e – alguns dos fados mais emblemáticos incandescente de paixão, mas também do seu repertório, partindo, para esse por um percurso por vezes quase cruel novo olhar, do desafio que representa a de introspecção e pela descoberta parceria com o piano de Júlio Resende. fascinada de múltiplos olhares sobre o Mais uma vez nos confronta, deste mundo, pela mão dos poetas, dos artis- modo, com esse seu misto tão espe- tas, dos fabricantes de sonhos e de mitos cial de tradição e ruptura, de medo e fundadores. Tudo isto assenta sempre coragem, e – porque não? – de pudor e nos alicerces de um repertório de fados desvario. estróficos depurados pelo tempo, tão firmes e enganadoramente simples nos Rui Vieira Nery contornos essenciais que os definem (Rui Vieira Nery escreve de acordo Voz Aldina Duarte Guitarra portuguesa José Manuel Neto Viola Carlos Manuel Proença como livres e complexos nos desenhos com a antiga ortografia) Convidados Ana Moura, António Zambujo, Júlio Resende novos e inesperados que o seu canto lhes sabe dar em cada revisitação. Tudo Criação artística Aldina Duarte Produção executiva Radar dos Sons acontece pela mediação de um discurso Som Alfredo Almeida Road manager Ana Moitinho Luz Paulo Mendes poético rigoroso, assumidamente con- Aldina Duarte vestida por José António Tenente temporâneo, sem concessões, em que a sua própria voz de poeta emerge com frequência, lado a lado com a de tantos grandes criadores da Língua portu- guesa, como uma força tão marcante como o canto. Aldina Duarte tem este jeito especial de saber ao mesmo tempo dizer o sentido das notas e cantar a melodia das palavras. É por isso que nunca deixa de nos surpreender, que nunca a podemos prever, que é sempre uma descoberta renovada. Assim, neste Qua 23 de janeiro programa o seu caminho cruza-se com o 21h30 · Grande Auditório · Duração: 1h30 · M3 de duas outras vozes relevantes do Fado

3 © Isabel Pinto quase aleatória, preenchem os registos olhos e ouvidos pela fadista, Aldina veio responsabilidade das segundas vozes do da maior parte dos fadistas surgidos pós num alvoroço emocional, como que coletivo liderado pelo ator Pedro Wilson Mísia e Camané. A inteligência e rigor repentina e violentamente puxada para que se anunciava como “uma banda de que dedica a cada álbum tornam-nos o fado. Para aquele fado. A partir daí, é xunga / rock comercial”. objetos de um deleite que convoca todos seguro dizê-lo, a sua vida não mais foi a Na altura em que teve por epifa- os sentidos. Não é só a voz que faz com mesma. nia a visão abençoada de Beatriz da que a terra estremeça – como dela se “Fiquei apaixonada por tudo o que Conceição, Aldina trabalhava como diz e canta – ou a profunda e ajustada ouvi, pedi-lhe conselhos, falou-me de monitora num Centro de Paralisia carga poética. Sobretudo quando a tudo o que é mais importante no fado. Cerebral. E seria aí, junto daqueles com palavra que lhe é oferecida vem de Quis ser fadista. Passei dias a ouvir quem passava os dias que se estrearia na parceiras habituais como Maria do muitos discos de fado, noites a ouvir vida que passaria a ocupar-lhe as noites. Rosário Pedreira ou Manuela de Freitas. muitos fadistas, meses a ler e a decorar O seu primeiro espetáculo seria, por- Ou, inclusivamente, da safra da própria poemas”. Assim lembrou no seu site tanto, para os funcionários do Centro. fadista. O amor enlutado, a paixão oficial esse momento que tudo mudou. Para trás, ficava uma infância de que visceral ou a condição feminina, não há “Foi um fenómeno brutal pela viscera- a fadista prefere não falar. Marcada Aldina Duarte ninguém que os cante como ela. lidade de tudo aquilo”, lembrou ainda por um ambiente ainda pesadamente em entrevista. “Tornei-me uma aluna fascista, Aldina perde o pai para a A revelação da Beatriz. Ia ouvi-la todas as noites”.1 Guerra Colonial – “foi quando eu tinha O fado feminino É habitual dizer-se que há um momento “Aquilo para mim era como estar a dois três meses e morreu lá, tinha eu dois Aldina Duarte chegou tarde ao fado. em que a vida de cada um de nós muda metros da Billie Holiday”.2 anos; representa a injustiça da Guerra, Ou, talvez seja mais acertado dizê-lo, para sempre. E é possível dizê-lo, O arrebatamento foi tão violento que onde morreu tanta gente, estupida- não chegou com a idade com que hoje com maior ou menor grau de precio- Aldina não encontrou imediatamente mente”, confessou 3 – e assiste àquilo a se celebram as novas vozes, augurando- sismo, em relação a inflexões afetivas e o seu lugar dentro do fado. “Não foi que chama o “sofrimento redobrado” de -lhes grandiosos futuros quando ainda profissionais, a acidentes de percurso logo amor, amor sereno, como é agora”, saber-se pobre e ter de testemunhar a mal se cruzaram com a vida. Por isso que rompam com os planos sonhados. explicou. “Era uma espécie de tremor humilhação social dos pais ou, no caso, mesmo, a sua aprendizagem depois da Mas, em muitas dessas vezes, esse que me acontecia sempre que cantava, da mãe. Daí que classifique a infância epifania de ouvir Beatriz da Conceição momento apresenta-se como algo rela- como se fosse outra pessoa. Há sempre como “triste e cruel” e a sinta como uma a dois passos, fez-se com outro fundo, tivamente abstrato, opaco, distendido. uma sensação de vertigem quando se etapa demasiado passageira, substi- uma bagagem emocional sólida e uma Uma acumulação de circunstâncias acorda. Nunca cheguei a ter uma grande tuída por uma idade adulta começada maturidade pessoal que nunca a fez cair e não tanto um momento concreto. paixão. Passou de uma grande confusão precocemente. num registo de excessos. Pelo contrário, No caso de Aldina Duarte, contudo, para um grande amor”.1 Aldina não tem ponta de histrionismo torna-se possível estender o dedo Dois amores no seu canto, não procura impressionar e pousá-lo com segurança aqui: na A infância não dita Os primeiros anos de vida de Aldina de forma gratuita, antes canta buscando noite em que, a pedido do realizador e Aldina tinha 24 anos. Nascida em Duarte, no entanto, trouxeram-lhe dois em cada palavra a sua verdade absoluta encenador Jorge Silva Melo, se dirigiu Lisboa, em julho de 1967, tinha crescido amores edificantes, estruturantes, que e o autêntico espelho daquilo que lhe a uma casa de fados com a missão de num bairro social em Chelas e passado lhe forneceriam um escape para o seu vai na alma. entrevistar Beatriz da Conceição para pelo jornalismo e pelo radialismo. A sua dia a dia. O gosto pela leitura, incutido Apaixonada confessa pela literatura, um documentário em que entrariam sede de cultura colocara-a na rota de desde cedo pela mãe, baseava-se não Aldina não faz dos seus discos os habi- também Fernando Maurício e Celeste gente como Jorge Silva Melo ou do apenas no contacto com a grande lite- tuais apanhados de poemas (mais ou Rodrigues. E em vez de sair de lá com grupo de pop excêntrica Valdez e as ratura em si mesmo, sendo igualmente menos contemporâneos) que, de forma uma entrevista, depois de passados Piranhas Douradas. Aldina assumia a alimentado pela mãe na convicção de

4 5 que “a salvação de um pobre era a inte- Godinho (A Noite Passada) ou Joan Mário Branco. Graças ao contacto com A pausa durou até ao dia 22 de julho, ligência e o conhecimento”. “Os livros”, Baez (Amazing Grace) nas festas da José Mário, a fadista torna-se igual- data do seu aniversário, quando Aldina diz ainda Aldina, “ajudaram em tudo” e escola. mente próxima de Manuela de Freitas, foi festejar com alguns amigos e com o “no início eram mesmo a minha única atriz, letrista, companheira do músico. seu marido, Camané, que se encontrava e grande saída daquele mundo limitado As noites na Comuna “Quando canto”, admite, “canto com as a cantar no Senhor Vinho. Na sua pre- em que vivia – Chelas”. Esta ideia de Na sequência da pesquisa encomen- experiências que tivemos no trabalho sença, Maria da Fé resolveu dedicar-lhe salvação, diz a fadista, é partilhada pela dada por Jorge Silva Melo, Aldina com o Camané [Aldina pesquisava, um fado: “Disse que eu tinha um talento música. “Desde que entrei em contacto Duarte acaba ela própria por figurar José Mário produzia, Manuela escrevia extraordinário mas que estava num com elas fiz tudo para não as perder no filme Xavier, realizado por Manuel algumas letras] e, ainda antes, com a momento de pausa. Foi como quando e para alimentar a presença delas na Mozos e escrito por Mozos, Silva maneira como sempre absorvi a ativi- estamos a ouvir um programa de rádio e minha vida”.3 Melo e Manuela Viegas, interpretando dade artística deles”.3 há uma interferência, só se ouve ruído. As suas primeiras referências Novo Fado da Severa (Rua do Capelão), Nem sabia que ela pensava aquilo. musicais viriam do chamado canto de filmado na Mouraria, com os moradores Arranque e pausa E dizia que quando se tem este talento, intervenção. “Para mim, só havia José a exigir um bis. isto em 1992. Em 1995, a convite do guitarrista Mário por mais que se queira fugir, é impossí- Mário Branco, Fausto, Sérgio Godinho No ano seguinte, Aldina canta fado pela Pacheco, Aldina Duarte passa a integrar vel, é mais forte que nós. E que o que ela e, passado algum tempo, Jorge Palma. primeira vez em palco, na peça Judite, o elenco do Clube de Fado. Durante mais gostava era que eu retomasse no Cheguei ao mestre, Zeca Afonso, através Nome de Guerra, de Almada Negreiros, os dois anos seguintes é ali que canta Senhor Vinho. Tive um ataque de choro, dos seus discípulos”.3 Aos poucos, os numa encenação de Germana Tânger no e se vai fazendo fadista. Pouco depois, convulsivo”.4 Limpas as lágrimas, Aldina ouvidos de Aldina começariam a sinto- Teatro S. Luiz. viaja para Itália, a fim de cantar numa recompôs-se e decidiu-se a cantar dois nizar-se nas cantoras de jazz e de blues Pouco depois, em colaboração com “peça lindíssima do Antonio Tabbuchi”, fados naquela mesma noite. clássicas, a sorver o canto expressivo o encenador João Mota, Aldina cria as intitulada Os Últimos Três Dias de O rastilho reacendeu-se. Aldina sabe de Billie Holiday, Nina Simone e Ella famosas Noites de Fado no Teatro da Fernando Pessoa, no Teatro Piccolo de bem que há outra vibração, o sangue Fitzgerald, cuja qualidade interpretativa Comuna, ao abrigo das quais convida Milão. Já a cantar no elenco do Senhor ferve de outra maneira e a alma despe- nunca se deixou subjugar pelo virtuo- gente como Beatriz da Conceição, Vinho, propriedade da fadista Maria da -se integralmente quando não há palco, sismo vocal. Esse fascínio pelo uso da Manuel de Almeida, Maria da Nazaré, Fé e do letrista José Luís Gordo, Aldina apenas um metro a separar o/a fadista palavra em contexto musical levá-la-ia Carlos Paulo e Manuela de Freitas. É parecia ter o seu percurso encarrilado. de quem o/a ouve – ali não há mentiras, igualmente ao encontro de Jacques Brel, nessas circunstâncias que acaba por “Nunca soube muito bem o que queria não há microfones, não há botões de mestre absoluto na encenação de uma conhecer Camané, nascendo então uma fazer”, confessou. “Tive de trabalhar volume, há apenas um canto que não se canção. relação amorosa que durará dez anos e muito cedo e fazia o que aparecia. Como pode escudar, as emoções derramadas Aos 20 anos, Aldina larga a escola, fará de Aldina a responsável pela esco- não sou capaz de fazer o que não gosto, sem filtros. As vozes maiores sentem- sai de Chelas e parte em busca da sua lha de reportório para os seus discos. ia saltando de trabalho em trabalho. -se aí. E esse ambiente irrepetível autonomia e de descodificar aquilo que Por outro lado, na condição de colabo- O fado tornou-se a minha forma de lembrou Aldina de que o seu lugar era a vida guarda para si. Nessa altura, o radora da EMI-Valentim de Carvalho, expressão mais duradoura. Foi onde me aquele. “A Maria da Fé e o Camané fado era não mais do que uma tangente trabalha na organização digital do encontrei”.1 convenceram-me que era tudo disparate nos seus dias, ouvia-o por acaso na espólio e na elaboração de coletâneas de Ainda assim, após cinco anos a meu”, disse.4 Aldina quis, felizmente, rádio através dos sucessos de Amália Raul Ferrão e Alfredo Marceneiro. cantar de forma consistente, e mesmo ser convencida. Aos poucos, começou ou de , mas não sabia Ainda no âmbito das Noites de Fado, continuando a sentir-se fadista, Aldina a cantar novamente na casa de Maria nenhuma letra de cor. Até então, na Comuna, Aldina acaba por ter à sua parou “por achar que não tinha talento da Fé durante os fins de semana e foi incentivada também pelos colegas que disposição o pretexto perfeito para nenhum”.4 Durante seis meses, não ficando. Até hoje. nela percebiam haver uma voz fora do conhecer a sua “grande referência conseguiu retomar a música. “Sentia-me As vozes persuasoras de Camané e normal, cantara apenas temas de Sérgio de sempre, artística e humana”: José triste, mais do que deprimida”, diria.3 Maria da Fé não eram, naturalmente,

6 7 umas quaisquer. Os dois, juntamente músicas do fado tradicional, a cantora de fado”.2 “Antes de gravar estes fados, sonhava ter alguém para interpretar o com Beatriz da Conceição, constituem rapidamente percebeu que era aí, sem cantei-os durante ano e meio na casa fado escrito por ele”. o grupo a que Aldina chama o seu “tripé intervenção de ideias pretensamente de fados, para os apurar, viver com eles Os fados tradicionais foram esco- artístico”. “Apesar de haver outros com inovadoras, que queria fazer o seu cami- e eles conhecerem-me a mim... E achei lhidos por quem melhor os conhecia. quem aprendi muito, com estes contac- nho. “É a partir daí”, diria, “que cada que seria a maneira de correr menos Depois de todo o trabalho de pesquisa tei também muito – que é uma forma de fadista vai fazendo o seu percurso e riscos e de apresentar a génese do que realizado para Camané e para a sua aprendizagem muito forte”.3 criando a sua identidade. É preciso que faço e do que sei fazer”. própria formação enquanto fadista, o O regresso ao Senhor Vinho teria essa música flua de tal maneira, porque conhecimento de Aldina dispensava para Aldina um valor especialmente vive do improviso e para improvisar é Crua quaisquer ajudas neste campo. E as pala- simbólico: “Esta arte só pode nascer preciso ter a verdade muito absorvida. vras com que João Monge a ia abaste- “A textura da voz, a intenção da leitura, onde nasceu verdadeiramente”.1 Isto é fascinante!”.2 cendo, por via desse conhecimento pro- a respiração que toma as rédeas do peito A certeza do “caminho solitário” que fundo, iam caindo quase milagrosamente e que respira quando nós nos sustemos, a Apenas o Amor estava a tomar – Aldina lembra que nos fados eleitos pela fadista. O encaixe força telúrica capaz de devolver à terra Aos 37 anos, com a voz já senhora das não tinha produtores, nem compositor, seria ainda facilitado pela coincidência tudo o que à terra pertence, o drama e suas emoções, Aldina Duarte estreia- nem letristas que quisessem trabalhar de fundo político entre os dois. Aldina, a dádiva, principalmente a dádiva das -se finalmente nos discos, pela mão da consigo – levou a que decidisse avançar mulher de fortes convicções humanistas coisas simples e eternas da vida, é que me EMI-Valentim de Carvalho. Intitulado para o seu primeiro disco antes sequer e desde sempre assumida como “ser de levam Mar adentro. Se tudo isto é fado, Apenas o Amor, o seu primeiro álbum de haver contrato com a EMI-VC. Tanto esquerda”, descobriria naqueles fados tudo isto é Aldina!” destacar-se-ia desde logo por incluir assim que, recrutados os músicos com “um descaramento na abordagem do João Monge oito poemas da sua autoria, arrojo raro quem desenvolvera já uma cumpli- prazer própria da esquerda”.4 no mundo do fado e mais escasso ainda cidade sublime – José Manuel Neto A ideia para o segundo álbum de Aldina Relativamente ao título escolhido, com uma qualidade que em nada empa- (guitarra portuguesa) e Carlos Manuel Duarte, Crua, começa a nascer quase Aldina Duarte dirá que “o álbum é cru lidecia ao lado dos letristas tradicionais. Proença (viola), que ainda hoje a acom- por acaso. No final de um concerto de porque cada um trabalhou, ao longo de “Até hoje, só escrevi quando não encon- panham –, foi a própria a assegurar a apresentação de Apenas o Amor, João seis meses, e individualmente, os temas, trei letras que dissessem o que para produção de um registo que deixaria Monge – letrista dos Trovante e da Ala as letras, sem artifícios”. “É um disco mim era urgente cantar na altura”, jus- claro o seu posicionamento: o seu canto dos Namorados, e coinventor do cole- muito intenso, cheio de contrastes. Os tificaria.5 Já antes, aliás, Aldina assinara era cru, visceral, sem necessidade de tivo Rio Grande, tinha já escrito para meus, os do mundo e os das pessoas que as letras para o álbum Diz, uma parceria complicar onde se exigia a simplici- Camané e Mísia – dirige-se ao camarim trabalharam comigo”. Ou seja, Monge do contrabaixista Carlos Bica com a dade. Uma ligação direta e ardente às de Aldina e diz-lhe “Muito obrigado na escrita, Proença na viola e Neto na atriz/cantora Ana Brandão. A qualidade emoções. pelo teu disco”. Ela, espantada, retor- guitarra portuguesa. dos seus textos para fado não tardou Para que essa verdade não fosse que: “A sério?! Gosta?! Se gosta mesmo, também a obter um amplo reconheci- traída, Aldina gravou metade do disco podia demonstrar isso escrevendo um Londres, Madrid mento. Assim, para lá dos poemas que no Senhor Vinho – “queria que o disco disco inteiro só para mim”. Monge ri-se, O ano de 2007 seria um período de abastecem o seu próprio canto, Aldina fosse tanto quanto possível o retrato nu desvaloriza dizendo que Aldina não pre- sinais contrários na carreira de Aldina começou a espalhar os seus versos pelas e cru daquilo que tenho feito” na casa cisa de ninguém, que dá perfeitamente Duarte. Em novembro, participa no vozes de Camané, Joana Amendoeira, de fados – e a outra metade na sala- conta do recado sozinha. “Mas a ideia elenco do espetáculo Divas do Fado, António Zambujo ou Pedro Moutinho. -estúdio do Teatro Nacional D. Maria II. nunca mais me saiu da cabeça”, revelou apresentando no Queen Elizabeth Hall, Apenas o Amor, lançado em 2004, evi- A escolha de espaços pouco habituais mais tarde.4 “Quando me disseram em Londres, no festival Atlantic Waves, denciava a segurança no percurso que às gravações pretendia, naturalmente, que era hora de pensar num segundo organizado pela Fundação Calouste Aldina desenvolvera até então. Lançada reforçar o compromisso com “a magia trabalho, dei esta ideia. O João aceitou. Gulbenkian. Em palco, surge ao lado de na pesquisa aturada do espólio das 140 que só acontece no dia a dia das casas Afinal, fiquei a saber que há muito algumas das suas grandes referências,

8 9 como Beatriz da Conceição e Maria da Mulheres ao Espelho parte da dis- Carlos do Carmo. Aldina pediu-lhe dois Enquanto o disco novo não chegava, Fé, assim como de outras vozes entre- cussão em torno da despenalização da poemas, dando-lhe apenas a pista de Aldina participou também no disco tanto despontadas – Mafalda Arnauth, interrupção voluntária da gravidez, que o álbum seria sobre mulheres ao a solo de Pacman, ex-vocalista dos Joana Amendoeira e Raquel Tavares. motivada pela aprovação em referendo espelho. A resposta, por escrito, fez-se Da Weasel, Uma Falaciosa Noção de Meses antes, no entanto, Aldina da nova lei do aborto, em fevereiro de com dois espantosos textos intitulados Intimidade, assim como integrou o pro- Duarte fica a saber da sua dispensa do 2007. Depois de perceber-se “muito Quadras de Amor Errante e O Amor Não jeto Laço Eterno, com músicos vindos catálogo da EMI nacional. Devido a um chocada” pelo “desrespeito pela sen- se Desata. Mais o poema Mãe, lido pela da música improvisada e do jazz – Vítor atribulado processo de reestruturação sibilidade e pela condição femininas, própria Maria do Rosário, que encerra Rua, Carlos “Zíngaro” e Carlos Barretto. da filial portuguesa, que passa então que pensava honestamente que já não o disco. “Não tive a pretensão de dar Mais pensado para o palco, o Laço para a direta dependência administra- existia”,7 a revolta conduz Aldina a uma respostas a nada”, diz Aldina. “É um Eterno deverá dar algumas novidades tiva e financeira de Madrid, as ordens reflexão profunda, reforçada pela morte trabalho que trata das minhas questões em breve. vindas de fora ditam o afastamento de de uma figura de referência na sua vida, permanentes. Constatei que não há vários artistas nacionais que, na análise a psicóloga e sexóloga portuguesa Maria homens felizes ao lado de mulheres Contos de Fados fria e cega dos números, não estarão Clementina Diniz. “Dedico o disco às infelizes”.6 Amante dedicada da literatura, era de acordo com os objetivos traçados a mulheres com quem aprendi coisas apenas uma questão de tempo até que regra e esquadro pela casa-mãe espa- essenciais, e que têm todas um traço Um corpo para a alma os dois universos arranjassem forma de nhola. Assim, Aldina, Sérgio Godinho, comum: foram pioneiras”.7 Procurando sempre questionar o seu se encontrar com outro fôlego na obra Mesa, Jacinta e Souls of Fire deixam de Um dos temas mais fortes de percurso e colocar-se em situações de Aldina Duarte. A meio da leitura de estar sob contrato com a EMI. Mulheres ao Espelho leva por título menos confortáveis, Aldina Duarte um conto de Nikolai Gógol, O Retrato, “Princesa Prometida” e é uma reação dedicou algum do seu tempo entre o título do disco surgiu a Aldina vindo Mulheres ao Espelho pela pena da própria Aldina “contra álbuns e extra Senhor Vinho a projetos do nada: Contos de Fados. A partir daí, A medida de dispensa do catálogo da uma série de pressões e de estigmas a menos óbvios. Um deles foi o espetáculo a fadista tratou de desenvolver um EMI não produz, ainda assim, efeitos que as mulheres estão sujeitas”. “Desde Aldina Duarte por Olga Roriz, apresen- conceito que o tornasse “para além de negativos na vontade criadora de Aldina aquela coisa mais descarada que há tado no Teatro S. Luiz, em Lisboa, em apelativo, consistente”.5 E convidou Duarte. E, em vez de cruzar os braços a Oriente, das mulheres prometidas, julho de 2010. Ao invés de coreografar então alguns dos seus letristas preferi- e ficar à espera que algo aconteça, a destinadas, até à nossa própria realidade o corpo de Aldina, Olga Roriz assumiu dos – Manuela de Freitas, José Mário fadista cria a sua própria editora para – o contrato social e financeiro a que a o papel de diretora musical, deixando a Branco (“os responsáveis pelos alicerces publicar o álbum que começava já maior parte das mulheres continua a voz da fadista acompanhada apenas por da construção da minha biblioteca pes- a germinar dentro de si – Mulheres sujeitar-se a Ocidente é tão grave como um único instrumento em cada um dos soal”, chama-lhes 8), Maria do Rosário ao Espelho. Com o nascimento da isso”.6 Ao trono da beleza, da juventude onze fados que interpretava. Se havia Pedreira, José Luís Gordo e a própria Rodalámusic, passa a assumir toda e da dependência, Aldina contrapõe as óbvias guitarra portuguesa e viola, Aldina – a escrever letras a partir de uma série de funções empresariais, a falta de respeito que implica olhar outras das escolhas puseram Aldina a obras da literatura universal. O ponto de conquistando uma posição de absoluta para os elencos governativos dos vários cantar em diálogo com piano, percussão, partida tanto poderia ser um romance independência, curiosamente mais con- países e encontrar uma quantidade harpa, acordeão e contrabaixo. Tudo como uma crónica ou uma novela. Tudo sentânea com a sua postura quotidiana e ínfima de mulheres. porque depois de tanto ouvir sobre si era válido como fonte de inspiração. artística. “Tive de pedir um empréstimo Mulheres ao Espelho é também o “a Aldina tem muita alma”, a fadista Assim, em Contos de Fados Aldina para abrir uma editora e poder editar disco do encontro de Aldina Duarte perguntou ao então diretor artístico do Duarte canta textos escritos a partir o meu disco, sou eu que faço a fatura- com a poesia de Maria do Rosário S. Luiz, Jorge Salavisa, quem lhe pode- de O Eterno Marido, de Dostoiévski, ção da empresa, sou eu que negoceio e Pedreira. Até à altura, os textos de ria oferecer um corpo para a sua alma. A Bela Adormecida, um conto de monto os meus próprios espetáculos, as Maria do Rosário só haviam saltado Ao que Salavisa respondeu imediata- Hermann Hesse, a peça de teatro Um tournées, a promoção”, descreveu.6 dos livros de poesia para um disco de mente: “Olga Roriz”. Elétrico Chamado Desejo, de Tennessee

10 11 © Isabel Pinto Williams, e o mito de Orfeu e Eurídice, “O Mário Viegas costumava dizer que cantava e qualquer motivo de reunião entre outros. O álbum, diz Aldina, tinha de estar ligado ao teatro, nem que familiar terminava com um festejo sob pode ser descrito como “uma espécie fosse o homem da bilheteira; eu digo o a forma de música. Embora cantasse de de luta entre o amor e o desamor”. E a mesmo, mas em relação ao fado. Podia tudo, Ana começava já a sentir que, por experiência foi tão intensa que a fadista até ser porteira de uma casa de fados. alguma razão, tinha um carinho especial se diz “artisticamente e humanamente Não sei o que é viver sem isto”. pelo fado. Aos seis anos cantava já o seu diferente depois desse disco”.3 “Fui Aldina Duarte, entrevista ao jornal primeiro fado, Cavalo Ruço, enquanto obrigada a cantar sentimentos que Expresso, 10 de junho de 2011. ouvia frequentemente a mãe trautear nunca tinha cantado. As dores do amor, O Xaile de Minha Mãe. Depois, veio a as alegrias do amor, a cidade, a raiva, o adolescência e deixou o fado adorme- desespero – canto isso desde sempre. Fontes de consulta cido. E despertou para outros tipos de Mas o vazio, a frieza, a incapacidade Enciclopédia da Música em no música, mais condizentes com a idade e de amar, não. A mentira, a fealdade, Século XX (Temas e Debates / Círculo de as amizades liceais. também não. Tive de ir a um fundo Leitores, 2010) É com essa curiosidade por outras a que ainda não tinha ido, para me Biografias no site do Museu do Fado músicas, em plena adolescência de poder interpretar”. Esta abordagem, no (www.museudofado.pt) Ana Moura descobertas e rebeldias, que Ana Moura entanto, daria a Aldina o disco em que chega a Carcavelos, com 14 anos, para menos se cantou a si própria. Citações fazer o 10º ano. Chega não para cantar, Fiel sempre ao fado tradicional, 1. Entrevista a Aldina Duarte por Tiago Um fado com mundo mas para estudar, inscrevendo-se então Aldina nunca sentiu até hoje o apelo Salazar, Máxima, julho de 2007. Não há outra voz no fado como a de na Academia dos Amadores de Música. de trazer algo inédito para o fado. 2. Entrevista a Aldina Duarte por Miguel Ana Moura. Uma voz que se passeia Mas é aos colegas de escola que se junta “Quando me perguntam quais são as Francisco Cadete, suplemento “Y” pela tradição livremente, sem deixar de para a primeira banda. Apesar de cantar novidades, eu digo que não tenho. (Público), 26 de março de 2004. flirtar elegantemente com a música pop, outros géneros, a verdade é que, deixada A única novidade, de disco para disco, 3. Entrevista a Aldina Duarte por Anabela alargando de uma forma muito pessoal à sua sorte, a voz de Ana rapidamente se sou eu a cantar letras escritas sobre o Mota Ribeiro, revista “Pública” (Público), o raio de ação da canção de Lisboa. Mas cola ao registo fadista e, assim, mesmo que acontece agora, escritas por mim 29 de maio de 2011. aquilo que a distingue é não apenas um com grupos de rock vai conseguindo ou para mim. Não tenho a preocupação 4. Entrevista a Aldina Duarte por João timbre grave e sensual como há poucos incluir um ou dois fados no reportório de inovar nada. Acho isso limitativo e Pedro Oliveira, suplemento “6ª” (Diário de – Ana Moura transforma instantanea- – habitualmente, Povo que Lavas no Rio, redutor”.6 Nem é novidade que se lhe Notícias), 20 de janeiro de 2006. mente em fado qualquer melodia a de Amália, nessa fase a sua referência pede. O canto de Aldina Duarte, colado 5. Entrevista a Aldina Duarte por Manuel que encoste a sua voz. É um rastilho máxima enquanto intérprete. ao fado tradicional, é um milagre de Halpern, Jornal de Letras, 1 de junho de imediato, uma explosão emocional dis- A experiência com essa banda de contenção e emoção a que apetece 2011. parada sem contemplações ao coração covers, os Sexto Sentido, acaba depois voltar sempre, sem o qual não sabemos 6. Entrevista a Aldina Duarte por Sarah de quem a ouve. por conduzir ao início de gravações de já viver. Adamopoulous, Notícias Magazine, Fausto, José Afonso, Ruy Mingas, um disco pop/rock com o músico Luís 19 de outubro de 2008. música angolana e fado. Era isto que se Oliveira, cujo lançamento fazia parte 7. Entrevista a Aldina Duarte por Nuno cantava nos serões da família Moura, da agenda da multinacional Universal. Pacheco, suplemento “Ípsilon” (Público), em Coruche, era Ana Moura apenas O disco, no entanto, não chega a ser 6 de junho de 2008. uma catraia – nasceu numa outra terminado. Entra em cena o destino e 8. Entrevista a Aldina Duarte por localidade ribatejana, Santarém, em leva Ana Moura a um bar em Carcavelos Alexandra Carita, suplemento “Actual” 1979 – com gosto pelas cantorias. Os onde cede à tentação e canta um fado. (Expresso), 10 de junho de 2011. pais cantavam, toda a família materna Presente na sala, o guitarrista António

12 13 Parreira, de tão impressionado, toma-a Para a produção do álbum de estreia, de uma nova casa de fados, em Alfama, por conta de um dueto com o histórico pela mão e leva-a a várias casas de fado. Guarda-me a Vida na Mão (2003), é de nome Casa de Linhares – Bacalhau cantor espanhol Patxi Andión. , Até ao momento em que, numa festa de chamado Jorge Fernando. Além de de Molho. A internacionalização leva além de autor, deixaria também o seu Natal de músicos e fadistas, Ana Moura comandar a direção artística do álbum, então Ana Moura a atuar na mítica sala saxofone impresso em dois temas do é levada ao convívio daqueles que have- o músico é igualmente responsável por Carnegie Hall, em Nova Iorque, em disco – Velho Anjo e A Sós com a Noite. riam de habitar as suas noites daí em seis dos quinze temas gravados, um dos fevereiro de 2005. Graças ao tema Os Búzios, de Jorge diante e é convidada a cantar. Desta vez, quais é assumido pela cantora como Do outro lado do mundo, o saxo- Fernando, o sucesso de Para Além da é Maria da Fé, coproprietária da presti- o seu BI musical – Sou do Fado, Sou fonista dos Rolling Stones Tim Ries Saudade havia de escalar até níveis giada casa de fados Senhor Vinho, quem Fadista. A cumplicidade entre os dois entra na Tower Records de Tóquio à inéditos na carreira de Ana Moura, não resiste àquele talento em bruto. Aos há de manter-se nos discos seguintes. procura de discos de fado. Leva já na acabando por gozar de dois grandes aplausos, Maria da Fé junta o convite Logo aí, fica evidente que o fado de Ana cabeça a ideia de incluir uma fadista momentos de consagração em Portugal para cantar na sua casa. Moura comporta uma elasticidade rara, no segundo volume do Rolling Stones através da atuação nos Coliseus de É precisamente nesses ambientes convocando participações de gente Project, um projeto por si liderado que Lisboa e do Porto. O álbum trar-lhe-ia noturnos, do Senhor Vinho mas também como os Ciganos d’Ouro e Pedro Jóia, e convida gente de outras marés musicais ainda o Prémio Amália Rodrigues. das outras casas de fados que começa instrumentos com o cajon e a guitarra a interpretar temas dos Stones em cola- Após o sucesso gigantesco de Para a frequentar, que se dá a verdadeira de flamenco. Mas o essencial mantém- boração com um dos históricos músicos Além da Saudade – há 70 semanas na escola do seu canto. Antes, Ana Moura -se intocado: a tradição não arreda da banda. Compra três CD às escuras, tabela dos mais vendidos quando o cantava o fado porque sim, porque a pé. A receção, crítica e de público, a por mero instinto, e foi amor à primeira quarto álbum chega às lojas –, a edição intuição lhe mandava, porque a boca Guarda-me a Vida na Mão é de um audição. Para o disco, Ana grava Brown de Leva-me aos Fados (2009) é saudada lhe fugia para ali. Agora, os ensinamen- entusiasmo que não deixa dúvidas e Ana Sugar e No Expectations. Ao vivo, quase de imediato com a obtenção do tos dos mais experientes – sobretudo Moura começa de imediato a tornar-se interpreta este último com os Stones no galardão de platina. Como habitual- Maria da Fé e Jorge Fernando – dão- presença recorrente nos palcos portu- Estádio Alvalade XXI. A partir daí, em mente, é produzido por Jorge Fernando -lhe outros porquês, sem lhe matar a gueses e, progressivamente, também várias ocasiões, as digressões de Ana e conta com letras de Tozé Brito, espontaneidade. nos internacionais. Moura e dos Rolling Stones coincidem Manuela de Freitas, Mário Rainho e Essa paixão manifesta-se de tal Aconteceu, em 2004, é a continuação nos mesmos sítios. Numa delas, em Nuno Miguel Guedes, assim como uma maneira que rapidamente conquista lógica do disco de estreia. Tratando-se São Francisco, Ries liga para a fadista e composição original de José Mário Miguel Esteves Cardoso (MEC). Antes de um álbum duplo, revela uma mostra-lhe uma música que compôs a Branco. O álbum inclui mais uma cria- sequer de as editoras ouvirem falar surpreendente ambição por parte da pensar na sua voz. Velho Anjo, entraria ção encomendada à inventividade de no seu nome, é a escrita de MEC que cantora, ao mesmo tempo que vinca no disco seguinte de Ana Moura, Para Amélia Muge. Não É Um Fado Normal serve de amplificador para a notícia com uma espantosa confiança a certeza Além da Saudade (2007), depois de conta com a participação dos Gaiteiros do talento da jovem fadista, depois de do seu caminho: a convivência natural “afadistado” por um arranjo de Jorge de Lisboa e vinca o percurso distinto a ouvir e ver atuar num programa de entre o fado mais apegado à tradição e Fernando. da fadista, de resto evidente logo no António Pinto Basto na RTP1 chamado uma forma muito pessoal e convicta de Um dos trunfos de Para Além da próprio título. Fados de Portugal. É inclusivamente lhe exigir contemporaneidade. Saudade, aliás, seria a rara participação Em maio de 2009, após um primeiro depois de ler as palavras enlevadas de A carreira de Ana Moura começa a de Fausto num disco alheio. Ana, que contacto telefónico, desloca-se MEC no Independente que Tozé Brito, ganhar um tamanho fôlego que a fadista crescera a ouvir o autor de Por Este Rio propositadamente a Paris para presen- administrador da Universal, vai ao acaba por abandonar o Senhor Vinho, Acima, perdeu a vergonha e pediu-lhe ciar à sua frente o charme da fadista Senhor Vinho à descoberta daquela voz a fim de poder dar resposta aos muitos uma composição. Outra das autoras na sala La Cigale. A 18 de julho de que conhecia apenas dos Sexto Sentido. convites que vai recebendo para tocar convidadas, desta vez a compor expres- 2010, Ana Moura volta a colocar o fado Não demora a propor-lhe a gravação do fora do país. Essa falta é mais tarde samente para si, foi Amélia Muge. A num grande espetáculo do universo primeiro disco. colmatada pela integração do elenco troca com outras culturas ficou então pop/rock, ao subir ao palco com Prince

14 15 no encore do concerto do músico no Martins dos , Miguel Araújo A meio do seu percurso integrou o Américas e Ásia, e participou nos Festival Super Bock Super Rock, no dos Azeitonas, Luísa Sobral e António elenco do musical Amália, dirigido por mais populares festivais nacionais e Meco. Juntos interpretam uma versão Zambujo) e em nomes consagrados Filipe La Féria. internacionais. em português de Walk in Sand e o fado da música portuguesa (como Aldina Em 2002 é editado o seu primeiro Em 2012 edita pela Universal Quinto. tradicional Vou Dar de Beber à Dor. Duarte, Tózé Brito, Manuela de Freitas álbum pela Ocarina O mesmo fado, e na Além de originais de António Zambujo, Em setembro de 2010, Ana Moura e ) para a criação dos sequência do seu êxito recebe o prémio o disco conta com composições de aceita o convite da Frankfurt Radio temas. Para a produção Ana Moura foi de Melhor Nova Voz do Fado, já atri- Pedro da Silva Martins (Deolinda), Bigband para cantar em dois concertos buscar , o multigalardoado buído pela Rádio Nova Fm a intérpretes Márcio Faraco, Rodrigo Maranhão e na cidade alemã, sendo a parceria repe- produtor norte-americano que no como , Camané ou Mafalda Miguel Araújo Jorge (Os Azeitonas) tida, mas desta feita em sentido inverso, seu currículo tem trabalhos com Joni Arnauth. Passados dois anos Zambujo e letras de João Monge, Nuno Júdice, quando a fadista chama a orquestra Mitchell, – que tem ganha o Prémio Amália Rodrigues (atri- Maria do Rosário Pedreira e José de jazz a acompanhá-la, em abril de uma participação especial em buído pela Fundação Amália Rodrigues) Eduardo Agualusa, entre outros, tudo 2011, no seu regresso aos Coliseus de –, Madeleine Peyroux, Melody Gardot, na categoria de Melhor Intérprete produzido sob a coordenação de Lisboa e Porto. Para Ana Moura, é um Tracy Chapman, entre muitos outros. Masculino de Fado. Ricardo Cruz. momento de celebração de um ano Em setembro de 2007 lança o seu Quinto foi apresentado em abril marcado pela vitória de um Globo © Gonçalo F. Santos terceiro álbum Outro Sentido, com pro- no Grande Auditório da Fundação de Ouro, pela presença nos tops de dução musical de Ricardo Cruz e a par- Gulbenkian, concertos esgotados e vendas da Billboard e da Amazon e pela ticipação especial das Vozes Búlgaras inseridos no Ciclo Músicas do Mundo. nomeação enquanto Artista do Ano para – Angelite, que é editado na Europa Os espetáculos contaram com direção os prémios da revista inglesa Songlines. e nos EUA pela Harmonia Mundi e musical de Ricardo Cruz. Passados escassos meses, em agosto, considerado pela revista Songlines Top De lá para cá, recebeu a Medalha de sobe ao palco do festival Back2Black, no of The World . Depois de atuar Honra da cidade de Beja, atuou pela Rio de Janeiro, ao lado de Gilberto Gil, no Théâtre de La Ville, em Paris, Outro segunda vez em menos de um ano, nos com quem interpreta o Fado Tropical de Sentido sobe ao terceiro lugar de vendas EUA onde foi muitíssimo bem recebido Chico Buarque. da Fnac francesa. pela crítica, apresentou a sua música em Em 2012, ano em que Ana Moura A editora MPB edita Outro Sentido no França nos mais importantes festivais participou no disco de homenagem a Brasil. Esta edição tem três faixas adi- de Jazz e World Music. Caetano Veloso com uma versão de cionais com participações de Roberta Sá No outono viu Quinto a ser lançado Janelas Abertas nº2, produzida por José e Trio Madeira Brasil, de Zé Renato e de pela Harmonia Mundi na Europa, atuou Mário Branco, a cantora guardou uma Ivan Lins. No ano seguinte lança o seu na Coreia do Sul e, para além de datas pequena mudança na sua linguagem António Zambujo quarto disco Guia onde são interpreta- em teatros nacionais, António Zambujo musical. Do seu canto, sabemos apenas dos originais de compositores e letristas irá atuar pela primeira vez, em nome que nasceu no fado. Nunca saberemos António Zambujo nasceu em Beja, em nacionais e brasileiros tais como próprio, no , em onde termina. 1975, e cresceu a ouvir cante alentejano Vinicius de Moraes, Márcio Faraco, Lisboa. Desfado, o quinto álbum de origi- apreciando a harmonia das suas vozes, Pierre Aderne, Rodrigo Maranhão, nais de Ana Moura, representa um a cadência das frases e o tempo de cada Ricardo Cruz, o próprio Zambujo, João momento de viragem na carreira da andamento. Apaixonou-se pelo fado Gil, João Monge, Aldina Duarte, José artista. A fadista apostou em nomes e pelas vozes de Amália Rodrigues, Agualusa, Maria do Rosário Pedreira e da nova geração de compositores Maria Teresa de Noronha, Alfredo Pedro Luís, entre outros. nacionais (como Manuel Cruz dos Marceneiro, João Ferreira Rosa e Max, António Zambujo tem levado a sua Ornatos Violeta), Márcia, Pedro da Silva entre muitos outros. música a numerosos países da Europa,

16 17 © Pedro Cláudio Os discos de Júlio Resende são Próximo espetáculo editados pela Clean Feed, conside- rada pela AllAboutJazz como uma das © Mary Keating Burton cinco melhores editoras de Jazz do Mundo, editora de nomes como Gerry Ruthie Foster Hemmingway, Tony Malaby, Mário Hootenanny · Ciclo comissariado Laginha, Bernardo Sassetti. por Ruben de Carvalho Atualmente encontra-se a preparar um novo disco a solo com uma visão muito própria sobre Amália Rodrigues e que será ser editado no próximo mês de março.

Música Sáb 26 de janeiro Grande Auditório · 21h30 · Dur. 1h30 · M3

Júlio Resende Guitarra acústica, voz Ruthie Foster Bateria, percussão, experiência de quatro anos de estrada Júlio Resende começou a tocar aos 4 voz Samantha Banks Guitarra baixo, voz Tanya pelas instalações militares dos Estados anos. Tem um background na Música Richardson Teclado, mandolim, voz Scottie Miller do Sul. Clássica mas cedo descobriu que não Guitarra elétrica, voz Hadden Binion Sayers Desmobilizada em 1997, ei-la em ficava satisfeito em ser apenas um Nova Iorque onde a editora Atlantic a intérprete de peças musicais em que Embora tenha estudado música apoiou e, em poucos meses, fazia do não pudesse improvisar. Participou em enquanto jovem no seu Texas natal, seu primeiro CD uma surpresa para a vários workshops onde trabalhou com começado a cantar como solista aos 14 crítica. As raízes, contudo, mantinham- os melhores mestres do Hot Clube, anos, Ruthie Foster iniciou a sua carreira -se e uma determinante digressão foi New School for Jazz and Contemporary musical no mais improvável dos locais: a realizada com os Blind Boys of Alabama. Music, a Berklee College of Music, e a marinha de guerra dos Estados Unidos! Abandonando a viola e o piano com que Bill Evans Academy entre o tempo que “Durante anos tudo o que fiz foi a si própria se acompanhava, a primeira passou na Université de St. Denis em comer, falar, sonhar e viver à volta da década do novo século foi fulgurante: Paris. música. Chegou um ponto em que quis festivais desde o North Sea Jazz Festival Atualmente é professor de Piano – saber se era capaz de ter uma conversa ao Jazzfest de New Orleans, nomeações Jazz na Universidade de Aveiro no sobre qualquer outra coisa – contou para prémios quase anualmente, até ao âmbito do Mestrado em Música – Jazz. – e estava também curiosa acerca do primeiro lugar nos Traditional Blues Em 2006, licencia-se em Filosofia resto do mundo. Por isso, alistei-me na em 2010, ao fulcral Koko Taylor Award pela Faculdade de Ciências Sociais e Marinha”. em 2011. Humanas da Universidade Nova de Numa festa de Natal a bordo interpre- Dotada de uma impressionante Lisboa. tou algumas canções para o seu esqua- presença cénica e sempre apoiada por You taste like a song é o último disco drão de helicópteros: foi um passo para cuidadas e vigorosas bandas, em 2010 em Trio e foi lançado em fevereiro de ser integrada num grupo musical da conquistou o primeiro lugar do Living 2011 no grande auditório da Culturgest. Marinha, Pride, que lhe deu a primeira Blues Critic’s Pool.

18 Conselho de Administração Culturgest Porto Iluminação de Cena Presidente Susana Sameiro Fernando Ricardo chefe Fernando Faria de Oliveira Rui Osório de Castro Álvaro Coelho Administradores Miguel Lobo Antunes Comunicação Maquinaria de Cena Margarida Ferraz Filipe Folhadela Moreira Nuno Alves chefe Artur Brandão Assessores Publicações Dança Marta Cardoso Frente de Casa Gil Mendo Rosário Sousa Machado Rute Sousa Teatro Francisco Frazão Atividades Comerciais Bilheteira Arte Contemporânea Catarina Carmona Manuela Fialho Miguel Wandschneider Patrícia Blazquez Edgar Andrade Serviço Educativo Clara Troni Raquel dos Santos Arada Serviços Administrativos e Financeiros Pietra Fraga Cristina Ribeiro Receção Luísa Fonseca Paulo Silva Sofia Fernandes estagiária Teresa Figueiredo Ana Luísa Jacinto

Direção de Produção Direção Técnica Auxiliar Administrativo Margarida Mota Paulo Prata Ramos Nuno Cunha

Produção e Secretariado Direção de Cena e Luzes Coleção da Caixa Geral de Depósitos Patrícia Blázquez Horácio Fernandes Isabel Corte-Real Mariana Cardoso de Lemos Inês Costa Dias Jorge Epifânio Assistente de Direção Cenotécnica Maria Manuel Conceição José Manuel Rodrigues Exposições Coordenação de Produção Audiovisuais Mário Valente Américo Firmino Produção coordenador Edifício Sede da CGD António Sequeira Lopes Paulo Abrantes Rua Arco do Cego, 1000-300 Lisboa, Piso 1 Paula Tavares dos Santos Ricardo Guerreiro Tel: 21 790 51 55 · Fax: 21 848 39 03 Fernando Teixeira Tiago Bernardo [email protected] · www.culturgest.pt

Culturgest, uma casa do mundo