Ajude uma mãe: campanhas apoiam mulheres durante pandemia

Projetos levam renda e doações de alimentos a família em situação de vulnerabilidade social; veja como colaborar

(Colabora, 06/05/2020 – acesse no site de origem)

As mulheres, e mães, são as mais prejudicadas pelapandemia do novo coronavírus. Além de parte delas ser profissional da saúde, muitas também são responsáveis pela renda familiar e acabam cuidando sozinhas de filhos, pais e demais parentes.

No caso das favelas, a situação se torna ainda mais complicada, pois os lares são chefiados por 49% de mulheres e 47% são autônomas, grupo mais prejudicado pela crise.

Uma pesquisa feita pelo Data Favela e pelo Instituto Locomotiva mostra que são cerca de 5,2 milhões de mães nas comunidades do Brasil. Deste número, 72% afirmam que a alimentação da família ficará prejudicada pela ausência de trabalho e 92% dizem que terão dificuldade para comprar comida após um mês sem dinheiro.

Por isso, neste período de quarentena, a solidariedade é essencial para auxiliar quem mais precisa. A Catraca Livre selecionou quatro projetos para você ajudar mães em situação de vulnerabilidade social. Confira as iniciativas abaixo e veja como doar!

Mães da Favela

A campanha Mães da Favela, realizada pelaCentral Única das Favelas (Cufa), tem como objetivo levar renda básica a milhares de mães moradoras de comunidades de todo o país, afetadas pela pandemia. As doações podem ser feitas pelo site oficial do programa ou pelo aplicativo PicPay por meio da Cufa. A organização irá transferir o valor do benefício, de R$ 120, para todas as mães cadastradas durante dois meses.

Saiba mais:

Fundo para mães e trabalhadoras informais Voluntários do Cursinho Popular Chance, da favela de Paraisópolis, em São Paulo, criaram uma vaquinha online para coletar doações e ajudar cada mulher com uma renda básica de R$ 400. A iniciativa surgiu quando o grupo acompanhou mães dos alunos, de funcionários e colaboradores depois do início da pandemia.

“Com a covid-19, milhões de mulheres perderam seus empregos e estão sem renda para sustentar suas famílias. Marias diaristas, vendedoras autônomas pelas ruas, mães solteiras, mantenedoras da casa. Especialmente negras. Marias fortes e guerreiras, Marias como eu e você”, diz o texto da campanha.

Se você quiser ajudar, basta clicar aqui. A campanha foi criada pelo Cursinho Popular Chance, de Paraisópolis. Crédito: Reprodução.

Segura a curva das mães Já o movimento Segura a Curva das Mães foi idealizado para identificar mães em situação de vulnerabilidade, causada ou agravada pela pandemia do novo coronavírus, para, então, garantir apoio emergencial a este grupo. A organização do projeto é do Instituto Casa Mãe e do Coletivo MASSA.

Até o momento, a campanha já mapeou mais de 700 mulheres mães por todo o país, responsáveis por crianças, adolescentes, idosos e pessoas com deficiência. Com o dinheiro arrecadado, a ação já atendeu mais de 100 mães, com o apoio financeiro no valor de R$ 150. Colabore aqui!

Impactando Vidas Pretas

No Brasil, o impacto da covid-19 tem sido ainda maior para famílias vulneráveis. A crise agravou a situação da comunidade negra, que encabeça a lista dos desempregados e dos que vivem abaixo da linha da miséria. Por isso, é necessário fazer um recorte social e racial na hora de criar políticas públicas em um país tão desigual.

O Impactando Vidas Pretas é uma campanha de caráter emergencial para atender, preferencialmente, famílias negras lideradas por mães solos e afroempreendedores. A ideia do projeto é promover a transferência de renda, buscando auxiliar pessoas que estão desassistidas historicamente.

“Cesta básica ajuda, mas é, de novo, o asfalto dizendo para a favela o que ela tem direito a consumir. Mais efetivo seria transferir renda diretamente para que os moradores de favelas comprassem o que precisam”, afirma Renato Meirelles.

Veja como apoiar a ação neste link.

Assassinatos de mulheres trans e travestis sobem 13% durante isolamento social, diz pesquisa

Levantamento feito pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais releva que 26 casos foram noticiados nos meses de março e abril, quando a pandemia se agravou no Brasil

(Celina/O Globo, 06/05/2020 – acesse no site de origem) Uma rápida busca na internet revela a crueldade vivenciada pelas mulheres trans e travestis no Brasil. “Travesti é morta a facadas”, “transexual é encontrada morta dentro de casa”, “travesti é assassinada por adolescente em ponto de ônibus”. Todas as manchetes são de notícias publicadas nos meses de abril e março de 2020. Neste período, desde que o isolamento social começou a ser adotado para conter a pandemia de coronavírus, foram registrados 26 casos de assassinatos de mulheres trans e travestis no país. Um aumento de 13% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).

Entre os meses de janeiro a abril, foram64 casos. Uma alta de 49% em relação as 43 ocorrências registradas no mesmo período do ano passado. O número do primeiro quadrimestre de 2020 também foi superior ao de 2018 (63) e 2017 (58), quando a Antra começou a divulgar o relatório. Os casos são contabilizados conforme são noticiados pela mídia ou notificados à entidade através de sua rede. A associação considera que aumento no número de assassinatos de pessoas trans registrados contrariou as expectativas de redução de casos neste período de isolamento social, assim como ocorreu com outras parcelas da população.

“Quando vemos que o assassinato de pessoas trans aumentou, temos um cenário onde os fatores sociais se intensificam e tem impactado a vida das pessoas trans, especialmente as travestis e mulheres transexuais trabalhadoras sexuais, que seguem exercendo seu trabalho nas ruas para ter garantida sua subsistência, visto que a maioria não conseguiu acesso às políticas emergenciais do estado”, diz o relatório.

Há quatro anos a Antra monitora as mortes de pessoas trans no Brasil. Os números são divulgados anualmente, em janeiro, mês da Visibilidade Trans. Neste ano, a entidade decidiu divulgar boletins bimestrais e quadrimestrais, trazendo um panorama da situação em geral.

Somente nos dois primeiros meses do ano, o aumento no número de assassinatos em relação ao mesmo período do ano passado foi de 90%. Em 2019, foram 20 casos e, em 2020, 38 – o maior para o período nos últimos quatro anos, segundo o monitoramento. Até o momento, todas vítimas em 2020 são travestis e mulheres transexuais. “As travestis profissionais do sexo, em sua maioria negras e semianalfabetas que desempenham sua função na rua, enfrentam diversos estigmas no país que mais assassina pessoas trans do mundo”, escreveu a secretária de articulação política da Antra, Bruna Benevides, no relatório. À Celina, ela disse que o esvaziamento das ruas em função das medidas de isolamento social favorece a atuação de “pessoasl mal intencionadas” e dificulta o registro de ocorrências.

— Não que a prostituição seja uma atividade perigosa, os maiores índices de violência no Brasil estão dentro de casa. Mas as pessoas que buscam as travestis seguem o rito de tentar apagar qualquer vestígio deste envolvimento ”pecaminoso ou abjeto”, indo até as últimas consequências para que não sejam descobertos — explicou Benevides.

Ela também ressaltou a baixa incidência de identificação e prisão dos suspeitos nos casos de assassinato de pessoas trans e a falta de um procedimento ou critério instituído para o atendimento dessas ocorrências. — Não há rigidez na atuação de casos envolvendo pessoas trans por um preconceito anterior, muitas vezes a culpa é imposta à vítima pelo assassinato — afirmou.

A Antra releva que, nos quatro primeiros meses de 2020, também foram notificados 11 suicídios, 22 tentativas de homicídio, 21 violações de direitos humanos, além de 6 casos de mortes relacionadas à Covid-19. A associação denuncia a falta de uma política específica para a população LGBT+ durante a pandemia.

Em janeiro, a Antra publicou o levantamento dos assassinatos noticiados ao longo de 2019, como faz todos os anos. O dossiê revelou que apesar de uma queda no número de mortes registradas ao longo do ano passado, o Brasil segue sendo o país que mais mata travestis e transexuais do mundo, segundo a ONG Europe. Além disso, a associação destaca que o país do 55º lugar, em 2018, para o 68º em 2019 no ranking de países seguros para a população LGBT+.

A associação alerta ainda que os números trazidos em seu relatório não refletem exatamente a realidade, em função da provável subnotificação dos casos e da ausência de dados governamentais sobre esses crimes — os monitoramentos são feitos por organizações de defesa de direitos LGBT+, como a Antra ou o Grupo da .

Por Leda Antunes

Saúde financeira de mulheres negras é mais crítica na pandemia da covid-19

Pesquisa revela os medos e dificuldades de empreendedoras e empregadas em companhias nacionais e multinacionais

(Exame, 06/05/2020 – acesse no site de origem)

Apesar de todos estarem sujeitos a contaminação do novocoronavírus , a pandemia não atinge as pessoas da mesma forma.

No atual e crítico cenário de saúde, na capital paulista, por exemplo, pretos têm 62% mais chance de morrer vítimas da covid-19 quando comparados com brancos. Entre pardos a chance é 23% maior, segundo dados divulgados pela Secretaria Municipal de Saúde no último dia 28.

As dificuldades da população negra se tornam ainda maiores quando dividas por gênero. Representando 28% dos brasileiros, as mulheres negras estão 50% mais suscetíveis ao desemprego do que outros grupos, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.

De olho nesse cenário, foi lançada a pesquisaSaúde Financeira de Mulheres Negras na pandemia da covid-19 por meio de uma parceria entre o Instituto Identidades do Brasil, a Comunidade Empodera, a organização EmpregueAfro e a Faculdade Zumbi dos Palmares. A partir de 250 entrevistadas de 19 estados, as mulheres foram identificadas em três grupos profissionais: alocadas em empresas nacionais (20%), alocadas em empresas multinacionais (7,8) e empreendedoras (72%).

Das empreendedoras, 47% tem medo de perder os clientes ou o empreendimento, e 38% tem medo de ficar doente e não conseguir trabalhar. Para 44% delas, o capital de giro é de apenas um mês, e somente 4% das entrevistadas têm capital de giro para 4 a 6 meses, mesmo que o valor médio para sustentar a instituição seja de até 5 mil reais em 56% dos casos.

“A maior preocupação é com a manutenção das despesas fixas. Minha reserva é de um mês apenas”, diz uma empreendedora do ramo jurídico identificada na pesquisa como R.C.

Para as negras em companhias nacionais e multinacionais, o medo de perder o emprego aflige 76,5% das entrevistadas, seguido por 13,2% do receio de ficar doente e não poder trabalhar. O temor faz também com que 40% sintam a necessidade de apoio psicológico.

Para os idealizadores da pesquisa, a pandemia torna a situação financeira das mulheres negras ainda mais crítica, visto que a ajuda mensal de 600 reais no auxílio-emergencial é insuficiente para a manutenção dos negócios, o que impacta diretamente na sustentabilidade do empreendimento e da sua subsistência pessoal.

As dificuldades trazidas pela pandemia do novo coronavírus, podem então, servir também como base para a construção de mecanismos e políticas públicas e privadas que apoiem à subsistência dessas mulheres negras, seus empregos, negócios, e consequentemente a sociedade como um todo.

Por Marina Filippe Marias em fuga: as nordestinas que migram para fugir da violência doméstica

Nas rotas de migração pelo Brasil afora, uma constante chama atenção: nordestinas partindo para escapar da violência doméstica e familiar.

(AzMina, 05/05/2020 – acesse no site de origem)

Maria Celeste Braga, 75, saiu às pressas de Florânia, no Rio Grande do Norte, com 22 anos e hoje vive em Goiânia. Entre as muitas coisas que perdeu ao migrar, a que mais lhe doeu foi a guarda do filho, que tinha seis meses na época. Maria da Guia Xavier, 52 anos, fugiu aos 15 anos de Riachão, no Maranhão, sem contar com nenhum tipo de apoio familiar, por anos, precisou trocar seu trabalho como doméstica por comida e moradia. Maria José dos Santos, 47 anos, natural de Santa Teresa do Paruá, também no Maranhão, saiu de lá aos também 15 anos, deixando para trás família e amigos, e hoje vive em Governador Nunes (MA).

Maria José, Maria Celeste e Maria da Guia. Três mulheres nordestinas que, apesar de nunca terem se conhecido, partilham muito em comum, para além do nome. As três foram vítimas de violência doméstica e, por causa disso, migraram de suas cidades de origem para outras localidades do Brasil, em fuga.

Historicamente, o Nordeste é uma região com elevado índice de evasão migratória. Para se ter uma ideia, atualmente 9,5 milhões de nordestinos residem em outra região do país, representando, desta maneira, 53,6% do total nacional de migrantes, revelam dados do Censo 2010.

Dentre os vários motivos para migrar, a busca por emprego, oportunidades de estudo e melhores condições de vida costumam ser as razões mais citadas. No entanto, se tratando da migração feminina, um outro fator tem sido frequentemente mencionado: a violência doméstica, que, segundo dados da Pesquisa Condições Socioeconômicas e Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, realizada pela Universidade Federal do Ceará (UFC) em parceria com o Instituto Maria da Penha, se faz presente na vida de três em cada dez nordestinas (27,04%) entre 15 e 49 anos.

Foi a violência doméstica que fez com que Maria José, aos 15 de idade, se visse obrigada a partir de Santa Teresa do Paruá (MA) para Santa Inês, cidade vizinha, fugindo das recorrentes ameaças de morte por parte do ex- marido a ela e toda a sua família

Na época, ainda adolescente, havia acabado de sair de um relacionamento de quase dois anos, marcado por xingamentos, empurrões e socos. Maria José decidiu separar-se quando ouviu o companheiro dizer que tinha a intenção de abusar sexualmente da filha, uma criança de oito meses.

“Ele fez foi me falar que não ia plantar um pé de bananeira para vir outro e cortar o cacho. Ou seja, quis dizer que um dia ia usar minha filha”, reproduz as palavras do ex-companheiro.

Violência enquanto fator migratório

“Ao não encontrar no espaço social do qual faz parte os mecanismos necessários para reprimir a violência que enfrenta, a mulher se vê obrigada a partir”, explica Carlos Bernardo Vainer, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e sociólogo que estuda aviolência enquanto fator migratório.

Ele comenta que esse tipo de deslocamento compulsório revela a ineficiência do Estado em proteger mulheres em situação de violência e é algo recorrente tanto nos pequenos municípios, como ocorreu com Maria José, que vivia num local com cerca 9 mil habitantes, quanto em grandes cidades, como é o caso de Maria Celeste.

Cinco décadas atrás, ela teve que ir às pressas de Natal, capital do Rio Grande do Norte, para a casa de um tio que vivia em Florânia (RN) para fugir do companheiro que, após ter sido contrariado, cortou sua cabeça com uma faca.

“A situação foi assim: a tia dele cortou o meu cabelo, mas ele não queria que cortasse. Aí ele passou a faca aqui [aponta a cabeça] e cortou”, relata.

Pretas e pobres, as mais vulneráveis

Sem apoio da família, Maria da Guia teve de trabalhar como doméstica em troca de teto e comia quando migrou. Foto: Indy Braga

A classe social e a cor são dois elementos determinantes nas probabilidades de sofrer ou não com a violência de gênero, segundo a pesquisa do Instituto Maria da Penha com a Universidade Federal do Ceará. Isso porque a intersecção entre a desigualdade social e o racismo deixam essas mulheres mais vulneráveis, com menor estrutura e suporte para sair da violência em um estágio inicial.

Maria da Guia é negra e conta que conviveu com a pobreza extrema durante a infância. No caso dela, a violência familiar foi a razão pela qual foi embora de Riachão, município no extremo sul do Maranhão, para Goiânia (GO). Tinha 15 anos quando foi agredida pelo irmão.

“Lembro que ele me bateu tanto que minhas costas ficaram parecendo costas de escravo! Bateu de cinto, do lado da fivela”, relata. Outro agravante da situação foi o fato da mãe, que também já havia a agredido muitas vezes, ter defendido a atitude do irmão. Aymê Sousa, Comunicadora Popular da Associação Mulheres na Comunicação, aponta que, dentre os vários fatores que tornam as migrantes negras e pobres mais vulneráveis à violência, um deles é a falta de transversalidade e interseccionalidade.

“Infelizmente os serviços especializados não dialogam de fato com as várias instituições da sociedade civil, tampouco abarcam as várias especificidades da mulher, tais como classe social, raça e origem geográfica”, explica.

A invisibilização da violência como motivação

Após oito meses vivendo em Florânia, Maria Celeste voltou para Natal, de lá migrou para Santos (SP) e, anos depois, para Goiânia (GO). Do mesmo modo, Maria José ficou dois anos em Santa Inês, depois morou por três anos em Parauapebas e hoje reside em Governador Nunes Freire (MA).

Ambas percorreram a seguinte rota de fuga: num primeiro momento migraram para uma cidade próxima, onde tinham algum familiar que pudesse ajudá-las e depois foram para outras localidades em busca de melhores condições econômicas.

Essas migrações em sequência muitas vezes invisibilizam a violência enquanto motivo que as fez migrar, especialmente porque muitas delas sentem vergonha de comentar, ou sequer se dão conta de que sofreram um relacionamento abusivo.

A socióloga Uianã Cruvinel comenta que a naturalização da violência é um dos fatores que impede que tais migrantes percebam a violência como o motivo do deslocamento.

“Muitas delas não veem a violência doméstica como um fenômeno que piora a vida. O que piora a vida é o financeiro. A violência é vista como uma condição do gênero suportável e, portanto, um motivo secundário”, pontua.

Faltam serviços especializados nas cidades de origem

“Não tinha como pedir ajuda”, conta Maria José sobre a falta de estrutura na cidade de onde partiu. Foto: Joel Pontes/ AzMina

De acordo com a Pesquisa do Instituto Maria da Penha, o nível de violência fora das capitais – em pequenos municípios, como estes de onde saíram as três Marias, bem como nas médias e grandes cidades – costuma ser três vezes maior. Neles, o que se percebe muitas vezes é a inexistência de serviços especializados de atendimento à mulher, conforme relata Maria José.

“Não tinha como pedir ajuda até porque nem polícia lá tinha. Era um lugar muito parado, muito pequeno”, explica Maria José. Delegacia da Mulher então, até hoje não existe na cidade.

Além dessa falta de proteção e suporte imediatos, a ausência desses aparelhos do Estado acaba por resultar na proliferação das mentalidades e comportamentos machistas e violentos, já que não existem órgãos públicos para reprimir tais atos. Maria José conta, por exemplo, que não apenas o marido, mas também o pai dele e irmãos, agrediam suas companheiras. Um dos irmãos, inclusive, chegou a cometer feminicídio e, em represália, foi assassinado pelo cunhado.

E o acolhimento na cidade de destino?

Das três entrevistadas, Maria da Guia foi a única que migrou sem receber suporte algum da família. Por isso, sempre que chegava num novo lugar a única alternativa era buscar um emprego de doméstica com moradia inclusa. Nessa situação extremamente vulnerável, muitas vezes chegou a trabalhar não em troca de um salário, mas por um lugar para dormir.

“Trabalhava de domingo a domingo, não tinha salário, só ganhava roupa usada, tinha comida quando os patrões terminavam de comer, que eles saiam da mesa, daí o que sobrava eu comia”, conta.

Para ela, o Estado não deu nenhum suporte com políticas públicas. E seu caso não é exceção. Sem suporte familiar, essas mulheres precisariam de políticas públicas para moradia e emprego, no mínimo, para poderem restabelecer suas vidas.

Goiás tem sido um polo de atração migratória do Centro-Oeste do país, região que mais retém imigrantes desde 2004, de acordo com dados do PNAD 2009/IBGE. Foi o estado brasileiro que mais recebeu migrantes 2004 (146.997 pessoas) e 2009 (129.056).

Diferente, por exemplo, de São Paulo, estado que recebeu muitos nordestinos entre as décadas de 1950 e 70, mas que hoje apresenta saldo migratório negativo, como o Sudeste de modo geral, que também apresentou saldo negativo tanto em 2004 como em 2009, segundo dados da publicação Reflexões sobre os Deslocamentos Populacionais no Brasil/IBGE.

Goiânia, capital de Goiás, conta com a Casa de Acolhida Cidadã (CAC), que abriga temporariamente famílias e adultos migrantes, além de pessoas em situação de rua. O atendimento prestado na CAC é voltado tanto para homens quanto para mulheres e inclui também atendimento psicológico e orientação e encaminhamento para o mercado de trabalho.

Mas fora da capital, o estado ainda não não tem estrutura para atender as comunidades de migrantes nesse sentido, especialmente no que se refere a oferecer moradia em casos de risco de morte iminente, segundo Ana Rita Marcelo de Castro, presidente do Conselho Estadual da Mulher em Goiás (Conem). E também não há um olhar para gênero nas políticas para migrantes.

Ela traz o panorama de como estão os serviços especializados de atendimento à mulher em Goiânia. “No momento, o estado não tem nenhuma casa abrigo em Goiânia. Temos somente uma da prefeitura, e atuando com uma certa fragilidade. Porém, essa questão da violência contra a mulher migrante já é uma demanda que colocamos em pauta”, afirma.

Falta de suporte e revitimização

A situação de vulnerabilidade e falta de apoio acabou colocando Maria da Guia em uma nova violência. Cinco anos após sua saída de casa, foi vítima de um abuso sexual. Hoje ela sente que essa vivência dolorosa é resultado, mesmo que indiretamente, de sua partida precoce de casa. “Depois que fui embora, minha mãe não tinha aquela preocupação comigo, sabe?”, tenta explicar. Em outras palavras, desde cedo ela deixou de saber o que era ter um adulto por perto, aconselhando, cuidando e dando orientações.

Na época do ocorrido, a única pessoa com quem pode contar foi com Márcia, que descreve como uma das poucas patroas que acabou se tornando sua amiga e, quando soube do abuso, levou ao médico para fazer exames e lhe deu a pílula do dia seguinte.

Ela tinha 20 anos, ainda era virgem e sofreu abuso em uma festa a que foi com amigas da escola. “No dia seguinte quando eu acordei eu tava toda suja de sangue”, relata. Em função do ocorrido, ela parou de estudar, pois tinha medo que o rapaz viesse a tentar algo novamente e, por isso, também não fez boletim de ocorrência.

Migrações de retorno

Tal como Maria da Guia, inúmeras migrantes, quando vítimas de violência e abuso, não vão até a delegacia. Ainda assim, Paula Meotti, delegada Titular da 1ª Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (DEAM) e Coordenadora Estadual das DEAMs de Goiás, atende, em média, mil a dois mil casos de violência por ano.

Ela afirma que o registro de ocorrências por parte de migrantes nordestinas é algo mais recorrente do que se pode imaginar. “Especialmente mulheres da Bahia, Pernambuco e Maranhão”, lista os estados que mais aparecem nas fichas.

Leia mais: 15 sinais de que você pode estar em um relacionamento abusivo Inclusive, a Delegada comenta que, assim como muitas mulheres partem do seu local de origem para fugir da violência, outras tantas regressam também para escapar desse tipo de situação.

“Muitas vezes essa mulher vem acompanhando o marido, aqui ocorre a situação de violência e por isso ela decide voltar para seu estado, para perto dos familiares, para assim se sentir segura de fato”, explica. Outro ponto que enfatiza é que, em geral, migrantes se mostram mais fragilizadas ao chegar na delegacia, e explica o motivo. “Quando ela não tem vínculos familiares no estado, se sente menos empoderada para terminar o relacionamento, pois não terá uma rede de apoio com a qual contar”.

O que fica para trás

Maria Celeste reconstruiu sua vida, mas ainda sofre por ter se afastado do filho ainda pequeno ao fugir. Foto: Indy Braga/ AzMina

Das três entrevistadas, somente Maria Celeste chegou a acionar a polícia quando foi vítima de violência, e isto porque, mesmo tendo fugido para outra cidade, o ex-companheiro continuou a persegui-la.

Sua sorte foi que o viu antes, e por isso tempo de chamar a viatura. Na mochila do ex-companheiro foi encontrada uma faca. “Tenho certeza que ele foi lá para me matar”, diz Celeste.

Somente meses depois o rapaz parou de persegui-la. Ainda assim, a separação lhe custou a perda do direito de estar perto do filho, que tinha apenas alguns meses de vida. “Eu não levei meu menino comigo porque ele tomou. Não deixou de jeito nenhum”, conta. Além de impedir que Celeste levasse a criança, o ex-marido proibiu que mantivessem contato. Só anos depois, a mãe conseguiu a reaproximação com o filho, que atualmente vive em Natal.

O caso de Celeste foi extremo, mas todas essas mulheres deixam algo para trás: família, amigos, bens e trabalhos.

“Quando eu fugi deixei tudo para trás. Até minha família teve que ir embora da cidade para gente poder viver em paz”, relata Maria José.

Escassez de dados

Gláucia de Oliveira Assis, cientista social e antropóloga que estuda a feminização das migrações, comenta que só muito recentemente a questão de gênero foi incluída nas teorias sobre fluxos migratórios e nas pesquisas estatísticas sobre o tópico, o que acaba por dificultar a identificação da violência contra a mulher como fator migratório e, consequentemente, a implementação de políticas públicas nesse sentido.

Para se ter uma ideia, na publicação de 2011, Reflexões sobre os Deslocamentos Populacionais no Brasil, do IBGE, é feita uma proposta de reedição do questionário aplicado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD). Dentre as reformulações sugeridas, há a inclusão do quesito “violência no lugar de origem” como possível motivo para migrar. Mas essa proposta nunca entrou em vigor.

A falta de mecanismos de apoio no local de origem e a ausência de políticas públicas no local de destino acabam por tornar cada vez maior a migração de nordestinas para escapar da violência doméstica e familiar, modificando para sempre as trajetórias de vida de tais mulheres.

Vidas reconstruídas

Hoje Maria José tem 47 anos, é casada e tem cinco filhos. Quando pergunto sobre a relação entre o pai, seu ex-companheiro, e a filha, vítima de ameaça de estupro, ela comenta que chegaram a se ver uma vez, mas desde então perderam contato.

“Eu contei para ela o que aconteceu. Ela é muita revoltada com ele, viu”, releva.

Já Maria Celeste, hoje com 75 anos, teve, além do filho que teve que deixar para trás, uma outra filha e afirma ter sido muito feliz no seu segundo casamento, que durou mais de 40 anos até que, em 2007, o marido faleceu. Para além do ofício da costura, uma paixão que descobriu desde a juventude, sua maior alegria são os dois netos Ingryd e Yan.

No caso de Maria da Guia, 52 anos, a depressão tem sido sua atual companheira. Dentre os vários motivos para ter desenvolvido a doença, ela cita as vivências traumáticas do passado, as dificuldades financeiras presentes e o fato da mãe ter sido diagnosticada, dois anos atrás, com alzheimer.

“Às vezes acho que fraquejei. Fico pensando assim… E se eu tivesse estudado. Como seria? Hoje eu e meus filhos teríamos uma vida melhor e eu daria conta de cuidar da minha mãe”, diz.

Após ter saído de Riachão, Maria da Guia ficou seis anos sem dar notícias para a família. Hoje já retomou contato com todos, é casada há mais de 30 anos, tem dois filhos, uma filha adotiva e um neto e possui uma loja de roupas online chamada Flor de Maria Gyn.

Essa reportagem foi produzida pela Bolsa de Reportagem AzMina Especial Violência Doméstica, realizada em parceria com o Volt Data Lab.

Texto: Flaviana Alves | Edição: Helena Bertho | Fotos: Indy Braga e Joel Pontes. ONU Mulheres divulga chamado para apoio aos povos indígenas na resposta à COVID-19

Declaração do Grupo de Apoio Interinstitucional das Nações Unidas (IASG) sobre Questões Indígenas recomenda incluir mulheres e pessoas indígenas nas decisões sobre a resposta à pandemia Covid-19

(ONU Mulheres, 05/05/2020 – acesse no site de origem)

Em uma declaração à luz da pandemia do COVID-19, o Grupo de Apoio Interinstitucional das Nações Unidas (IASG) sobre Questões Indígenas incluiu as necessidades e contribuições dos povos indígenas nos esforços de resposta em todo o mundo.

À medida que o COVID-19 se espalha por diferentes áreas do mundo, a pandemia está agravando a situação precária em que muitos povos indígenas já se encontravam. Os povos indígenas têm três vezes mais chances de viver em extrema pobreza, dificultando a compra e o armazenamento de alimentos ou a manutenção de si mesmos enquanto não conseguem trabalhar.

Os povos indígenas também enfrentam acesso limitado a serviços de saúde de qualidade e culturalmente acessíveis, limitando suas capacidades para testar e identificar casos de infecção ou tratar aquelas pessoas que podem ser infectadas. A falta de reconhecimento de milhões de povos indígenas em alguns países também pode impedi-los de acessar serviços públicos básicos e pacotes de compensação econômica.

As mulheres indígenas correm o risco de ser desproporcionalmente impactadas devido ao seu papel de destaque na economia informal e como prestadoras de cuidados. No entanto, elas também são parceiras indispensáveis ​​no combate à pandemia.

Na declaração recentemente publicada, o Grupo de Apoio Interinstitucional (IASG) sobre Questões Indígenas apela para inclusão de mulheres e pessoas indígenas nas decisões sobre a resposta à pandemia Covid-19:

– garantindo que as mulheres indígenas se beneficiem igualmente das intervenções de proteção social e estímulo e sejam consideradas em medidas para mitigar o impacto socioeconômico da pandemia.

– prevenindo e respondendo à violência que está aumentando em razão das políticas de distanciamento social;

– garantindo que os sistemas de saúde já sobrecarregados não resultem em uma escalada das taxas alarmantes de mortalidade materna existentes entre mulheres, meninas e adolescentes indígenas.

Leia a declaração completa do IASG aqui e as orientações da ONU Mulheres sobre mulheres indígenas e o Fundo de Multiparceria aqui

Coronavírus: mulheres em todo o Brasil precisam de ajuda. Veja o que você pode fazer por elas

Listamos iniciativas solidárias que reúnem doações para as mulheres em situação de vulnerabilidade durante a crise da Covid-19

(Celina/O Globo, 05/05/2020 – acesse no site de origem)

As mulheres estão entre os grupos mais afetados pelas consequências sociais e econômicas da pandemia do coronavírus. Elas são maioria entre os trabalhadores informais, ainda recebem salários menores e também sofrem com a violência doméstica, que temcrescido no período de isolamento domiciliar. Por isso, diversos projetos pelo país estão organizando ações solidárias voltadas para mulheres em situação de vulnerabilidade. Para quem quiser e puder ajudar, a equipe de CELINA preparou uma lista de iniciativas que reúnem doações para essas mulheres. Essa pode ser uma forma de colocar a sororidade em prática nesse momento tão difícil. Confira:

Apoie uma empreendedora periférica

Rio de Janeiro

O projeto, organizado pelo coletivo e start-up As Josefinas, arrecada doações para comprar cestas básicas, kit limpeza, kit infantil e hortifruti (adquirido de produtores locais) para cerca de cem microempreendedoras da Zona Oeste carioca e seus familiares. A cada R$ 1 doado, os patrocinadores da campanha doam R$ 2, até que a meta de R$ 30 mil seja alcançada. Os doadores podem escolher recompensas que vão desde menção nas redes sociais do projeto até mentorias online.

Para ajudar: Na campanha apoie uma empreendedora

Mais informações: Na página do coletivo As Josefinas

Apoie uma chefe de família

Rio Grande do Sul

A ONG Mulher em Construção, que capacita mulheres para trabalhar na área da construção civil na região de Porto Alegre (RS), criou a campanha “Apoie uma chefe de família”. A iniciativa visa complementar a renda de mulheres que já passaram pelas oficinas da organização e estão em situação de vulnerabilidade social e econômica durante o período de isolamento domiciliar. Elas recebem um voucher, que pode ser usado para compra de alimentos e materiais de limpeza.

Mais informações: No site da ONG Mulher em Construção

Campanha de cestas básicas da Rede Nami

Rio de Janeiro

A organização de mulheres artistas Rede Nami está conectando colaboradores com mulheres chefes de família de diversas comunidades no estado do Rio de Janeiro que estão com dificuldade no acesso à alimentação durante o período de isolamento domiciliar. O valor arrecadado por meio de uma plataforma online é revertido em cestas básicas, que custam R$ 100 cada uma.

Para ajudar: Na campanha de doação da Rede Nami

Mais informações: No Facebook da Rede Nami

Rede de Apoio a Diaristas

Diversos estados

Organizada pelo Movimento de Mulheres Olga Benário, a Rede de Apoio a Diaristas reúne doações para as trabalhadoras que tiveram seus serviços suspensos ou cancelados devido à pandemia de coronavírus. Além das diaristas, a campanha também apoia trabalhadoras autônomas que atuam em serviços de limpeza, camelôs, cuidadoras e indígenas que vendem seus artesanatos. As doações, a partir de R$ 5, podem ser feitas por meio de uma campanha de financiamento online e são revertidas em cestas básicas e materiais de limpeza. Além disso, é possível doar materiais diretamente nas Casas de Referência parceiras.

Para ajudar: Na campanha de Apoio a Diaristas Mais informações: No Facebook do Movimento de Mulheres Olga Benario

Campanha de alimento para as Marisqueiras

Pernambuco

O projeto de surf feminino TPM (Todas Para o Mar) criou uma vaquinha online com o objetivo de arrecadar o valor necessário para comprar cestas básicas para 150 famílias de marisqueiras, artesãs, catadoras de latinhas, ambulantes e trabalhadoras autônomas da região da baía de Maracaípe, em Pernambuco. Caso a meta seja ultrapassada, elas irão ajudar mais famílias necessitadas. Para ajudar: Na vaquinha da campanha de alimento

Mais informações: No Instagram do projeto TPM

Segura a Curva das Mães

Todo Brasil

Depois de mapear mais de 700 mães em situação de vulnerabilidade em todo o país, agora o Instituto Casa Mãe e o Coletivo Massa estão arrecadando doações para apoiar essas mulheres. Os valores arrecadados por meio de uma vaquinha online são investidos no apoio a organizações parceiras voltadas para a assistência dessas mulheres e na garantia de um apoio financeiro para as mães identificadas pelo mapeamento.

Para ajudar: Na vaquinha Segura a Curva das Mães

Mais informações: No Facebook do Instituto Casa Mãe

Projeto Por Elas

Maranhão

O Projeto Por Elas reúne doações voltadas para mulheres em situação de vulnerabilidade durante a pandemia de coronavírus, como aquelas em situação de rua, que foram vítimas de violência ou de baixa renda. O auxílio é feito por intermédio de instituições parceiras, como a Patrulha Maria da Penha, hospitais e profissionais do Consultório na Rua. As contribuições podem ser feitas por meio de conta bancária ou pode ser combinada a entrega de materiais.

Mais informações: No Instagram do Projeto Por Elas

Coletivo Mulheres da Luz

São Paulo

O Coletivo Mulheres da Luz recebe doações para mulheres em situação de prostituição, que trabalham na região do Parque da Luz, na cidade de São Paulo. “Em dias normais, elas já não conseguem se sustentar com os programas de 20 ou 30 reais que realizam e, com a pandemia de agora, precisam ainda mais da nossa ajuda”, diz a publicação do coletivo. A contribuição pode ser feita por meio de transferência bancária ou pela doação de produtos alimentícios ou de higiene. Os valores doados também são revertidos para o pagamento de aluguel e gás das mulheres, entre outros gastos.

Mais informações: No Facebook do Coletivo Mulheres da Luz

Por Raphaela Ramos

“Coronavírus pode acabar com minha oportunidade de ser mãe: mulheres sofrem com suspensão de tratamento de fertilidade

Desde março, as clínicas de reprodução assistida no Brasil estão com seus trabalhos suspensos, deixando ansiosos as mulheres e casais passando pelo processo, que não é barato.

(Época, 04/05/2020 – acesse no site de origem)

A pandemia do coronavírus parece ter congelado o tempo e a vida de milhares de pessoas ao redor do mundo. Para algumas delas, contudo, o tempo é o que tinham de mais precioso.

“Cada mês que eu espero, tenho menos chances de ter um filho”, diz Giovana*, uma mulher de São Paulo que tenta engravidar há quatro anos e que, desde o ano passado, recorre a um processo de fertilização in vitro. “Quando soube que a pandemia suspenderia meu processo de reprodução assistida, tive certeza que ali tinha acabado minha oportunidade de engravidar. Eu não estava morta por um coronavírus, mas de certa forma me mataram. Mataram meu sonho de ser mãe.”

A administradora Adriana Carlos, 37 anos, tenta engravidar há dois anos e meio. Como ela e o noivo não conseguiram de forma natural, no final do ano passado procuraram uma clínica, conta ela, que mora no interior de São Paulo. Descobriu que tinha baixa reserva ovariana, além de dois miomas, e decidiu começar um processo de fertilização in vitro no fim de janeiro. A tentativa, no entanto, não foi bem-sucedida, e ela iria tentar mais uma vez no mês seguinte.

“O maior problema é que eu acabei de fazer 37 anos e já tenho reserva ovariana baixa. Não dá para saber se isso vai se manter até o final do ano ou não. Quanto mais o tempo passa, pior fica, vai ficando mais difícil. Pode ser que quando eu retome o tratamento, minha reserva ovariana esteja muito abaixo do que estava no começo do ano”, lamenta.

Desde março, as clínicas de reprodução assistida no Brasil estão com seus trabalhos suspensos, deixando ansiosos as mulheres e casais passando pelo processo, que não é barato. Um tratamento pode custar entre R$ 15 mil e R$ 30 mil.

Ansiedade e solidão

A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que a infertilidade afeta 15% dos casais em idade fértil no mundo inteiro. Isso inclui problemas de subfertilidade, em que, no caso da mulher, apesar da ovulação ocorrer, a concepção não acontece por questões hormonais ou problemas físicos no aparelho reprodutivo. Segundo a organização, a infertilidade pode levar a “vergonha, estigma, ansiedade, depressão, sentimentos de baixa autoestima e culpa”.

É também um sofrimento solitário. Casais ou mulheres que tentam engravidar e depois passam por tratamentos de reprodução assistida não costumam contar para outras pessoas, como no caso de Giovana. Seu nome foi modificado justamente porque ela não quer que amigos descubram seu caso por meio da reportagem.

Agora, Giovana e outras mulheres estão sofrendo como o restante da população com a pandemia, mas vivem uma camada secreta de sofrimento sem poder compartilhar com outras pessoas.

Em 2019, 43 mil mulheres passaram por ciclos de fertilização in vitro no Brasil. Para 2020, a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) esperava 50 mil processos. “Estamos muito preocupados. Como em 2016, tivemos redução de ciclos por causa da zika, com esse movimento de alerta da pandemia e todo mundo tendo de adiar ciclos, achamos que deve reduzir muito”, diz Hitomi Nakagawa, especialista em ginecologia e obstetrícia e presidente da SBRA.

Há 183 clínicas de reprodução assistida cadastradas com a Anvisa no Brasil. Em março, a SBRA recomendou que a maioria dos procedimentos de reprodução assistida fosse suspensa. Recentemente, atualizou a orientação para incluir exceções para casos individuais, “sob juízo do profissional”, e evitando ainda as transferências embrionárias, uma etapa final da fertilização in vitro.

O processo passa pela estimulação ovariana com hormônios, depois pela captação e fecundação dos óvulos in vitro e, por fim, pela transferência embrionária, levando os embriões formados ao corpo da futura gestante. Em 2019, quase 72 mil embriões foram transferidos no Brasil.

“Nunca vou ter filhos”

Com transferências suspensas, fóruns e grupos de Facebook que reúnem mulheres tentando uma gravidez por meio da fertilização in vitro estão repletos de mensagens com relatos desesperados. “Meu médico cancelou a minha [transferência de embrião]… medo da minha reserva ovariana baixar mais ainda e eu não conseguir engravidar com meus próprios óvulos… ai, gente, tô angustiada”, diz uma das dezenas de mensagens no fórum BabyCenter, portal de informações sobre gestação e bebês. Há relatos principalmente de mulheres preocupadas por causa da idade.

Nakagawa diz que, depois dos 30 anos, a reserva de óvulos da mulher “vai se consumindo” e que, depois dos 35, “começa a decair muito significativamente”. Por isso, é preciso ter uma atenção especial para as mulheres que procuram os serviços de reprodução assistida depois dos 36 ou 37 anos.

É o caso de Giovana, que é engenheira civil em São Paulo e tem 36 anos. Tenta engravidar há quatro e, há dois, descobriu que tem problemas nas duas trompas. Um espermograma do marido também acusou problemas que poderiam ser sanados, entretanto, com medicamento. O casal já passou junto por dois processos de reprodução assistida — e gastou R$ 31 mil com isso.

“É um desgaste emocional e financeiro muito grande”, relata ela, citando todos os remédios manipulados e injeções que tomou antes de descobrir que os processos não tinham dado resultados. O casal partiu então para uma terceira tentativa.

O plano era esperar e tentar mais uma vez no ciclo seguinte, no fim de março. “Quando eu menstruei, avisei meu médico, mas ele me disse que não poderíamos fazer mais por conta do coronavírus. Pensei: ‘Pronto, ferrou. Já tenho reserva ovariana baixa, agora vai zerar de vez e eu nunca vou ter filhos. Foi um desespero’.”

Ela fala das vezes em que é cobrada por amigos e familiares a ter filhos, sem que saibam que é o que ela mais queria. Ou de quando as pessoas comentam do seu ganho de peso, sem saber que é por causa da quantidade de hormônio que teve de tomar.

“É um sentimento muito ruim. Eu tenho casa, trabalho, condição de ter uma família e oferecer coisas que eu não tive e não consigo engravidar. Quanto mais o tempo passa, pior eu me sinto. Estou numa corrida contra o tempo”, diz.

Adriana Carlos, do interior de São Paulo, conta sentir uma mistura de sensação de perda, pressão e incerteza. “Fiquei esperando muitas situações ideais para chegar num momento de ter um filho. Inevitavelmente passa pela minha cabeça que eu não vou poder ter”, diz ela, que já gastou R$ 23 mil com o processo e calcula que gastará mais R$ 20 mil. “Os médicos falam: ‘Cada mês, cada ano que passa, a qualidade dos óvulos diminui’. O tempo do corpo não espera.”

Já são oito anos de tentativa no caso de Fernanda Fiuza, 37, de Belo Horizonte (MG), que tem uma disfunção na hipófise que a impede de engravidar. Nesse período, ela e o marido fizeram um processo de fertilização in vitro que não deu certo. Foi em 2018 e, naquela época, gastaram R$ 15 mil. Em novembro do ano passado, resolveram tentar de novo, desembolsando mais R$ 15 mil. Iam começar em janeiro, mas por questões de trabalho e viagem, o marido pediu para que esperassem até março.

O processo nem pôde começar. “O mundo da ‘tentante’ [como são chamadas as mulheres que tentam engravidar] é todo em volta do filho. Quando a gente descobre que não vai conseguir ter, é como se acabassem com um sonho. Como eu tenho 37 anos, para mim é pior ainda. Já tenho reserva baixa. Será que quando voltar tudo, vou conseguir?”

Gravidez e coronavírus

Outra preocupação recorrente entre as mulheres é a própria gravidez. Se conseguirem, finalmente, engravidar, correrão algum risco por causa do coronavírus?

Segundo Nakagawa, a presidente da SBRA, a entidade recomendou evitar tratamentos de rotina “por precaução e porque a gente não tem dados de gravidez inicial”. “A gente tem vários traumas de alguns anos atrás do que aconteceu com o zika. Não sabemos se na fase inicial das gestantes de covid-19 vai haver diferença”, afirma, destacando que não há estudos até agora apontando perigos.

Sua orientação é que os pacientes mantenham contato com os médicos para receberem orientações. “Há serviços que, realmente, de acordo com a condição da mulher, será preciso fazer, com todos os cuidados de afastamento social, máscara, e horários de atendimento distantes”, diz, quando questionada sobre mulheres que estão na faixa limítrofe de reservas de óvulos. “Já estamos pensando em protocolos para voltar devagar.”

Por Juliana Gragnani

Webinário: Violência de gênero e a Covid-19: evidências, vigilância e atenção

Os surtos de doenças afetam mulheres e homens de maneiras diferentes, e as pandemias tornam piores as desigualdades existentes para mulheres e meninas. Em tempos de crise, mulheres e meninas podem estar em maior risco de violência por parceiro íntimo e outras formas de violência doméstica devido ao aumento de tensões na família. Como os sistemas que protegem mulheres e meninas, incluindo estruturas comunitárias, podem estar enfraquecidos ou inativos neste contexto, medidas específicas devem ser implementadas para as proteger do risco de violência por parceiro íntimo com a dinâmica de risco imposta pelo COVID-19.

Nesta segunda edição dasérie de webinários População e Desenvolvimento em Debate, especialistas discutirão sobre violência baseada em gênero no contexto do COVID-19.

Webinário: Violência de gênero e a Covid-19: evidências, vigilância e atenção Quando: Quarta feira, 06 de maio de 2020 Horário: 15h às 16h30

Palestrantes Jackeline Romio

Demógrafa Jackeline Romio é doutora em Demografia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp. Desenvolve pesquisas interdisciplinares sobre violência e a relação entre opressão racial e escreve artigos científicos sobre feminicídio, epistemologia feminista, mortalidade feminina, saúde e indicadores sociais de violência contra a mulher. Julieta Palmeira Secretária Estadual de Políticas para as Mulheres da Bahia (SPM/BA) Julieta Palmeira é médica geriatra e integrante do movimento de mulheres desde os anos 70, quando iniciou a participação na União Brasileira de Mulheres (UBM). Desde 2017, ocupa o cargo de secretária de Políticas para as Mulheres do Estado da Bahia e desde então vem desenvolvendo ações de enfrentamento à violência contra as mulheres no estado. Jacqueline Pitanguy Socióloga Jacqueline Pitanguy é socióloga e foi professora na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e também lecionou na Universidade de Rutgers, nos Estados Unidos. Foi presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) e integrou, na qualidade de notório conhecimento, o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Internacionalmente, Jacqueline é membro do Conselho Diretor do WLP, Women Learning Partnership for Peace, Development and Rights. Integra também o Inter American Dialogue. É fundadora e coordenadora executiva da CEPIA, Cidadania Estudos, Pesquisa, Informação, Ação, uma organização não governamental que trabalha no marco dos direitos humanos e com a perspectiva de gênero.

Facilitadora Júnia Quiroga Representante Auxiliar do Fundo de População das Nações Unidas no Brasil A luta contra o coronavírus tem o rosto de mulheres

Elas são quase 85% no setor de enfermagem: “Tenho muito orgulho das mulheres que atuam na Saúde como eu, mas também tenho medo de contaminar meus familiares”

(El País, 02/05/2020 – acesse no site de origem)

“Medo eu tenho todo dia”, diz Luciana Martinez, 42. No entanto, de segunda- feira a sábado, esta técnica de enfermagem supera o temor e deixa o filho, o marido e o sogro em casa, na zona norte de São Paulo, e vai trabalhar seus dois turnos em hospitais (um da rede pública e um privado) onde se dedica a atender pacientes infectados pela covid-19. No total, ela passa 12 horas por dia cercada de jovens, idosos e às vezes famílias inteiras com coronavírus. Luciana faz parte da linha de frente do combate à doença, em uma trincheira na qual a imensa maioria dos soldados são mulheres. Segundo relatório do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e da Fundação Oswaldo Cruz, 84,7% dos auxiliares e técnicos de enfermagem são do sexo feminino. “Tenho muito orgulho das mulheres que atuam na saúde como eu, no enfrentamento à covid-19. Fico até emocionada de falar da profissão, porque sinto que a profissão que me escolheu”, diz Luciana.

“Medo eu tenho todo dia”, diz Luciana Martinez, 42. No entanto, de segunda- feira a sábado, esta técnica de enfermagem supera o temor e deixa o filho, o marido e o sogro em casa, na zona norte de São Paulo, e vai trabalhar seus dois turnos em hospitais (um da rede pública e um privado) onde se dedica a atender pacientes infectados pela covid-19. No total, ela passa 12 horas por dia cercada de jovens, idosos e às vezes famílias inteiras com coronavírus. Luciana faz parte da linha de frente do combate à doença, em uma trincheira na qual a imensa maioria dos soldados são mulheres. Segundo relatório do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e da Fundação Oswaldo Cruz, 84,7% dos auxiliares e técnicos de enfermagem são do sexo feminino. “Tenho muito orgulho das mulheres que atuam na saúde como eu, no enfrentamento à covid-19. Fico até emocionada de falar da profissão, porque sinto que a profissão que me escolheu”, diz Luciana.

Estar o dia inteiro cercado por pacientes com uma doença sem cura cobra também um preço físico. Até o momento, de acordo com levantamento feito pelo Cofen e divulgado na segunda-feira (27), 4.602 profissionais de enfermagem foram afastados por suspeita da covid-19, e 57 morreram pela doença ou em casos suspeitos mas ainda não confirmados. Destes óbitos, 32 (ou 56%) são mulheres. “Esta é apenas a ponta do iceberg”, diz o chefe do departamento de Gestão do Exercício Profissional do Conselho, Walkírio Almeida, tendo em vista que as ações de fiscalização do órgão alcançaram, até o momento, 27% do total de profissionais da área. Segundo ele, foram recebidas mais de 4.590 denúncias, boa parte delas referente àfalta de equipamentos de proteção individual (EPIs) para as equipes de enfermagem.

Nos hospitais, o grande desafio para a equipe médica é nomomento de desparamentação, ou seja, na hora de tirar osequipamentos de proteção individual usados durante o trabalho: óculos, máscara N95 (que cobre a boca e nariz), máscara facial, avental impermeável e luvas. “É muito fácil se contaminar nessa hora se você não seguir um protocolo rígido, uma ordem determinada do que tirar primeiro”, afirma Luciana. “O fundamental é calma e foco. Mas infelizmente não existe risco zero”, diz.

O trabalho com pacientes da covid-19 também expõe Luciana aos dramas pessoais das famílias de pessoas infectadas. “Tem um caso que mexeu comigo, o de um casal de idosos na casa dos 80 anos. Os dois chegaram juntos com sintomas e foram direto para a unidade de tratamento intensivo. A esposa melhorou, mas ele infelizmente faleceu. Para não desestabilizá-la emocionalmente e comprometer sua melhora, a família não contou que ela perdeu o marido. E ela pergunta muito dele, e eu não posso contar a verdade”, diz. Em alguns casos, famílias inteiras são internadas. “Teve um paciente que foi internado com os pais. Ambos morreram”, lamenta. “A gente vê paciente jovem sem comorbidade que está com a doença e está em situação bem ruim na UTI”, conta, desmistificando o argumento de que a covid-19 é uma doença que afeta apenas idosos.

Indagada sobre como é trabalhar neste ambiente, Luciana resume: “Não posso deixar de ir trabalhar. O momento pede. Eu acordo e acho que estou num filme, mas tento fazer o meu melhor para que esse filme tenha final feliz”. Sobre as aglomerações que acontecem na cidade mesmo com o número recorde de mortos, ela diz que “as pessoas não tem noção do que está ocorrendo no hospitais”, e termina com um “fiquem em casa!”.

Fraldas para trabalhar e renascimento

Com a escassez de equipamentos de proteção e o risco de contaminação na hora da desparamentação, muitas enfermeiras e técnicas acabam tendo que recorrer a métodos drásticos para conseguir ficar 6 horas seguidas sem urinar ou usar o banheiro. “Acabamos usando fralda pra poder aguentar. Não somos sexo frágil, aguentamos muito mais do que os homens em várias coisas, inclusive muitos homens também estão trabalhando de fralda”, afirma Joana, que pediu para ter seu nome e o do hospital onde ela atende mantidos em sigilo. Ela é técnica de enfermagem em uma unidade de referência no tratamento ao coronavírus em Fortaleza, no Ceará, Estado que ocupa a terceira posição no número de casos confirmados (atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro), e que anunciou, em 14 de abril, o colapso de seu sistema de UTIs.

Assim como Luciana, Joana teme contaminar a mãe, idosa e cardíaca. “Pensei até em sair de casa. Muitos fizeram isso, saíram de casa para não contaminar os familiares, mas isso tem um custo financeiro alto”, diz. Ela chegou a apresentar sintomas da doença, e por isso foi afastada. “Fiquei isolada 14 dias em casa sem sair do quarto, morrendo de medo de morrer e de infectar minha mãe”. O resultado do exame saiu na segunda-feira: negativo. “Agora é voltar para a batalha”.

Para algumas profissionais, os pais mesmo distantes são motivo de preocupação. “A minha mãe, que mora no interior do Estado, não queria que eu fosse mais trabalhar, ela tinha medo de que eu pegasse a doença”, diz Ivanise Freitas da Silva, 29, enfermeira do hospital Leonardo Da Vinci, em Fortaleza. “Mas eu expliquei pra ela que eu estou concentrada, e pensando que só depende de mim para eu não me contaminar”. Com mais de seis anos de atuação em UTIs, Ivanise está confiante: “Eu já tenho visto muitos pacientes saírem da UTI. Eu vejo o renascimento também, não só a morte pelo coronavírus, e isso dá esperança para seguir lutando”.

Por Gil Alessi

Da janela, medo, culpa e união: os relatos do confinamento nas periferias

Com reportagem de Jéssica Ferreira, especial para o blog MULHERIAS

(Universa, 01/05/2020 – acesse no site de origem) Pedimos para mulheres das periferias compartilharem seu olhar sobre as quebradas nesses dias difíceis. Recebemos vídeo-poesias, fotos, música e relatos sobre transformações pessoais e de suas comunidades.

“A pandemia acabou por nos tirar a perspectiva de como e do que será o futuro”, resume a cantora, compositora e comunicadora Nayra Lays, há mais de um mês em confinamento em sua casa no Grajaú, no extremo Sul de São Paulo.

Do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, a rapper, poeta e produtora MC Martina, 22, conta que também não vê horizonte. “As pessoas estão assustadas, próximas do estágio de desespero. Quando saem de casa é para ir buscar o pão de cada dia, ainda que retornem sem dinheiro.” .

De Campinas, no interior de São Paulo, o relato da fotógrafa Fabiana Ribeiro, 45, é desalentador. “Meu olhar é pela câmera, pelas lentes. Por isso fui registrar a distribuição de alimentos em uma comunidade extremamente vulnerável e testemunhei um Brasil que não tem aplicativo de celular para cadastramento de benefício nenhum. Porque antes disso falta água, falta moradia, falta rua, falta acesso mínimo ao que se chama de direitos, falta tudo. Vejo, infelizmente, muita fome. O que salva é a solidariedade.”

Em comum, todas falam do enfrentamento de um dia de cada vez. “Nada será como antes”, acredita Martina. “O futuro é a próxima pequena atividade do dia”, completa Nayra. “Ou a próxima cesta básica a chegar nas favelas”, diz Fabiana. Acompanhe as histórias de quem testemunha a pandemia de perto.

“Meu movimento também tem o poder de inspirar pequenas curas coletivas”.

“Semana passada fez um mês que estou em casa. As poucas e necessárias saídas à rua me deixam em um alerta quase paranoico. Aqui no Grajaú, as ruas seguem cheias de gente. Um mercado pintou no chão a distância necessária entre as pessoas na fila do caixa mas nem todos respeitam. Minha mãe, que é auxiliar de enfermagem num posto de saúde, não teve a opção de parar de trabalhar. Tenho sorte de poder fazer home office e seguir remunerada. Trabalho em Pinheiros, a cerca de 1h de condução. Sou articuladora de juventudes brasileiras na ong EmMovimento. Com meu irmão mais velho, de 24, foi diferente. Ele foi demitido do restaurante que fornecia alimentos para empresas de aviação. Uma pena. Ele estava tão feliz… Tinha conseguido emprego depois de um ano parado. Está morando agora com a noiva, que tem um salão de beleza e, por incrível que pareça, segue atendendo. Não compreendo por que fazer unhas ou sobrancelhas em plena pandemia. Tenho muito medo de minha cunhada se contaminar.

Veja reportagem completa neste link.

Por Flávia Martinelli