Universidade Federal Fluminense Instituto De Letras Programa De Pós-Graduação Em Estudos De Linguagem
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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE LINGUAGEM Lúcia Donato da Silva Mendes O MACACO, A BANANA E O PRECONCEITO RACIAL: Um estudo da metáfora no discurso NITERÓI 2016 LÚCIA DONATO DA SILVA MENDES O MACACO, A BANANA E O PRECONCEITO RACIAL: Um estudo da metáfora no discurso Dissertação apresentada ao Programa de Pós- graduação em Estudos de Linguagem da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Estudos de Linguagem. Orientadora: Prof.a Dr.a Solange Coelho Vereza NITERÓI 2016 Lúcia Donato da Silva Mendes O MACACO, A BANANA E O PRECONCEITO RACIAL: Um estudo da metáfora no discurso Dissertação apresentada ao Programa de Pós- graduação em Estudos de Linguagem da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Estudos de Linguagem. Aprovada em 29 de agosto de 2016. BANCA EXAMINADORA Prof.a Dr.a Solange Coelho Vereza – UFF Orientadora Prof. Dr. Ricardo Luiz Teixeira de Almeida – UFF Prof.a Dr.a Fernanda Carneiro Cavalcanti– UERJ NITERÓI 2016 À memória de minha avó Maria Donato, que será sempre meu modelo de amor, fé e simplicidade. AGRADECIMENTOS A Deus, por permitir que realizasse esse sonho de cursar o mestrado. À minha querida orientadora professora Solange Coelho Vereza, que de uma forma amabilíssima me ajudou a construir esta pesquisa. À minha família, em especial meu marido Valter Mendes Neto, minha filha Isabella Donato, minha mãe Anádia Donato e meu pai Geraldo Raymundo, por darem-me a estrutura necessária nos momentos de dificuldade. À Universidade Federal Fluminense, que acolheu-me como estudante desde o curso de graduação, oferecendo-me inúmeras oportunidades de aprendizado. Aos professores Ricardo Luiz Teixeira de Almeida e Fernanda Carneiro Cavalcanti, por suas valiosíssimas contribuições durante o exame de qualificação. Ao Gestum (Grupo de Estudos da Metáfora), que participou ativamente desta pesquisa, ajudando-me em diversos momentos. RESUMO Recorrentes casos de racismo envolvendo a expressão “macaco” e, metonimicamente, ao expressão “banana” têm acontecido na sociedade contemporânea. Visto que nos dois casos há relações metafóricas envolvidas na produção de sentidos e em seus efeitos ideológicos, propomo-nos a pesquisar, sob o ponto de vista da Linguística Cognitiva, mais especificamente da Teoria da Metáfora Conceptual (LAKOFF; JOHNSON, 1980 [2002]), as representações da expressão “macaco” evocadas nesses contextos. Para a análise empírica, foram utilizadas ocorrências do termo“macaco” no website “Corpus do Português” para o estudo de possíveis mapeamentos observados nas projeções metafóricas. Após essa análise inicial, utilizamos, como segundo corpus, comentários de teor racista publicados em páginas de redes sociais. A partir da análise desses comentários, foram observados outros veículos metafóricos / metonímicos, além do animal macaco, como os relacionados à escravidão, ao cabelo crespo, a outros animais e a cor. Com base em Kövecses (2010), Charteris-Black (2005) e Goatly (2007), as questões culturais e ideológicas que surgiram da problematização desses usos metafóricos / metonímicos foram discutidas. Os resultados da análise e da discussão indicam que a questão preponderante na maioria dos veículos metafóricos / metonímicos encontrados diz respeito à escravidão e aos fatores sociais dela decorrentes. Palavras-chave: metáfora; racismo; cultura; ideologia. ABSTRACT Recurrent cases of racism involving the expression ‘monkey’ and, metonymically, the expression ‘banana’ have taken place in contemporary society. Since in both cases there are metaphoric relations involved in sense production and in their ideological effects, we intend to research, from the point of view of Cognitive Linguistics, more specifically the Conceptual Metaphor Theory (LAKOFF; JOHNSON, 1980 [2002]), representations of the expression ‘monkey’ evoked in these contexts. For the empirical analysis, we used occurrences of the word ‘monkey’ from the website ‘Corpus do Português’, for the study of possible mappings observed in such metaphoric projections. After this initial analysis, we used, as second corpus, racist comments published on social networking pages. On the basis of the analysis of these comments, we could observe other metaphoric / metonymical vehicles, in addition to ‘monkey’, as the ones related to slavery, to curly hair, to other animals and to color. Relying on Kövecses (2010), Charteris-Black (2005) and Goatly (2007), we discussed the cultural and ideological issues that emerged from the investigation of these metaphorical / metonymical uses. The results from the analysis and from the discussion indicate that the major issue in most of the metaphoric / metonymical vehicles found concerns slavery and the social factors that arise from it. Keywords: metaphor; racism; culture; ideology. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO p. 10 1.1. Delimitação do tema e justificativa p. 10 1.2. Objetivos da pesquisa p. 12 1.3. Apresentação dos capítulos p. 13 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA p. 15 2.1. Visão tradicional da metáfora p. 15 2.2. A ascensão da metáfora p. 18 2.3. A Teoria da Metáfora Conceptual (TMC) p. 19 2.3.1. Metáfora como figura de pensamento p. 19 2.3.2. Tipos de metáfora conceptual p. 22 2.4. A metáfora no discurso p. 24 2.5. Metáfora e cultura p. 25 2.5.1. O conceito de cultura p. 25 2.5.2. Metáfora e cultura p. 26 2.6. Metáfora e ideologia p. 28 2.6.1. O conceito de ideologia p. 28 2.6.2. Metáfora e ideologia p. 29 2.7. Metáforas Negras p. 30 2.7.1. O racismo nas metáforas negras p. 30 2.7.2. Metáforas negras na Bíblia p. 31 3. METODOLOGIA p. 34 3.1. Procedimentos de análise do uso metafórico do termo “macaco” p. 34 3.2. Procedimentos de análise de comentários racistas p. 35 3.3. Procedimentos de discussão dos resultados p. 36 4. ANÁLISE DO USO METAFÓRICO DO TERMO “MACACO” p. 38 4.1. A estrutura física p. 38 4.2. Os trejeitos p. 41 4.3. A esperteza p. 41 4.4. A primitividade p. 42 4.5. O uso racista do termo “macaco” p. 43 4.6. O termo “banana” como metonímia racista p. 54 5. ANÁLISE DE COMENTÁRIOS DE TEOR RACISTA p. 59 5.1. O caso da jornalista Maria Júlia Coutinho p. 59 5.2. O caso da atriz Taís Araújo p. 63 5.3. O caso do participante do programa Big Brother Brasil 16 Ronan p. 71 5.4. O caso da cantora Ludmilla p. 73 5.5. O caso da atriz Cris Vianna p. 74 5.6. O caso da atriz Sheron Menezzes p. 79 6. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS p. 87 6.1. Veículos metafóricos / metonímicos relacionados à escravidão ou à classe social p. 90 6.2. Veículos metafóricos / metonímicos relacionados a cabelo p. 91 6.3. Veículos metafóricos / metonímicos relacionados a animais p. 92 6.4. Veículos metafóricos / metonímicos relacionados a cor p. 93 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS p. 95 REFERÊNCIAS p. 97 ANEXO p. 102 10 1. INTRODUÇÃO 1.1. Delimitação do tema e justificativa Durante o ano de 2014, ano em que dei início ao curso de mestrado, muito se falou na mídia sobre casos envolvendo racismo nos esportes, principalmente no futebol: ora atletas eram chamados de “macaco”, ora bananas eram literalmente neles lançadas. Se considerarmos a relação metonímica entre os dois conceitos (a banana pelo macaco), o efeito de sentidos, em ambos os casos, é praticamente o mesmo. Casos assim chamaram muito a atenção da população e em torno do tema surgiram várias polêmicas. Durante reuniões do Grupo de Estudos da Metáfora (GESTUM)1, comentávamos algumas dessas notícias, o que sempre gerava reflexões bastante interessantes. Com o desejo de me aprofundar nas questões de racismo envolvendo o uso do termo “macaco” para designar uma pessoa afrodescendente, optei por dedicar a presente pesquisa a esse tema. Antes mesmo de se falar dos termos “macaco” ou “banana”, é relevante observarmos que parece haver preconceito racial envolvendo alusões à cor negra ou preta. As chamadas “metáforas negras” constituem um importante caminho para se entender como se dá essa relação. Paiva (1998) afirma que [as Metáforas Negras] introjetam no falante o preconceito racial/social. Essas metáforas fazem parte de nosso sistema conceptual e seu uso intenso faz com que o falante incorpore, e passe a considerar como seus valores preconceituosos que permeiam a linguagem. (PAIVA, 1998, p. 105) Segundo a autora, o fato de usarmos, mesmo que de uma forma não plenamente consciente, expressões de cunho racista faz com que o racismo seja não apenas reproduzido, como também naturalizado. A nossa linguagem cotidiana contém diversas expressões desse tipo. Basta uma simples pesquisa em um site de buscas para encontrarmos centenas de expressões como: “serviço de preto”, “negro de alma branca”, “amanhã é dia de branco”, “denegrir” (no sentido de macular, infamar) etc. Quem, ao pronunciar as palavras “denegrir a imagem de alguém”, ou afirmar que “a coisa está preta”, o faz, necessariamente, com o propósito de demonstrar preconceito racial? Não podemos afirmar que todas as pessoas que utilizam tais expressões tenham esse propósito. Além da questão racial, a própria cor negra ou preta tem sido atrelada a algo negativo. Tradicionalmente, o branco é ligado ao bem e o preto ao mal. É muito provável que aspectos 1 Grupo de estudos cadastrado no CNPq, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagem da Universidade Federal Fluminense, coordenado por Solange Coelho Vereza. 11 físicos tenham dado origem a essa associação entre o branco e o negro e a algum tipo de valoração (bem/mal; bom/ruim). Uma vez que, devido às nossas limitações físicas, precisamos de luz para conseguir realizar muitas das nossas ações, a falta de luz, ou seja, a escuridão é um fator de dificuldade, o que é negativo (PUENTE, 2014). Isto não tem a ver, a princípio, com preconceitos, mas sim com o que, na Linguística Cognitiva, é abordado como “pensamento corporificado” (PALOMANES; MARTELOTTA, 2012).