Oswaldo Vigas Antológica 1943-2013
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OSWALDO VIGAS antológica 1943 • 2013 anthological 1943 • 2013 MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA da Universidade de São Paulo Reencontro e revisita Hugo Segawa Diretor MAC USP • 2014-2015 Oswaldo Vigas, aos 27 anos, era um promissor artista vene zuelano que compareceu com três pinturas na delegação de seu país que participou da II Bienal de Artes Plásticas de São Paulo. Foi a edição do evento consagrada para as comemorações do 4º Centenário da Cidade de São Paulo, entre os meses de dezembro de 1953 e janeiro de 1954, com a inauguração do Pavilhão das Nações e do Parque Ibirapuera, projetados por Oscar Niemeyer e equipe. O delegado da Venezuela para a II Bienal, Juan Röhl, o saudava no catálogo como “dotado de uma bela intuição sensível nas suas composições, mostra-nos a riqueza sensual de sua paleta”. O início da década de 1950 foi virtuoso para o reconhecimento desse jovem artista, então premiado em várias mostras em seu país, e já no rumo para sua estadia de doze anos em Paris. Vigas ainda Hierática participaria da IlI Bienal de São Paulo IV, 1971 em 1955 com duas pinturas, assinalando Óleo sobre tela/ Oil on canvas possivelmente a última aparição do 180 x 150 cm artista no Brasil. A retrospectiva Oswaldo Vigas Antológica chamou de Comunhão das Artes. Nesse 1943-2013 poderia ser interpretada saudável desencontro de definições, como o reencontro de Vigas com Portinari, Di Cavalcanti, Clóvis Graciano, São Paulo. Em um espaço não muito Lívio Abramo, Alfredo Ceschiatti, Athos distante daquele em que a primeira vez Bulcão, entre outros, se alinham com expôs em 1953 – hoje conhecido como Diego Rivera, Mateo Manaure, David Pavilhão Armando de Salles Oliveira –, Alfaro Siqueros, Oswaldo Guayasamín, José Clemente Orozco, Wifredo Lam, na instituição que acolheu o acervo das Miguel Alandia Pantoja, José Chávez primeiras bienais de São Paulo, o Museu Morado e Oswaldo Vigas, no rito de uma de Arte Contemporânea da Universidade “aventura plástica latino-americana”, de São Paulo – abrigado no edifício que parafraseando Damián Bayón. na celebração do 4º Centenário era o Pavilhão da Agricultura. Mais que o reencontro de Vigas com São Paulo, trata-se do encontro de São Paulo O artista venezuelano passou à margem com um grande artista venezuelano da cultura brasileira. Mas sua atuação praticamente desconhecido no nosso se alinha ao universo latino-americano meio cultural, cuja retrospectiva resgata dos anos 1950 e 1960, no qual também seu papel e importância não só para o brasileiros compartilharam atitudes. Brasil, mas para a América Latina e para Vigas foi um dos vários artistas que o mundo. participaram na experiência da Síntese das Após percorrer Lima, Santiago e Bogotá, Artes como concebida pelo venezuelano é com grande satisfação que o Museu de Carlos Raúl Villanueva, arquiteto do Arte Contemporânea da Universidade de extraordinário campus da Universidad São Paulo recebe a grande exposição de Central de Venezuela, reconhecido como Oswaldo Vigas, agradecendo à Fundación Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. Oswaldo Vigas e a curadora da mostra, Integração das Artes foi outro termo que Bélgica Rodríguez, pela oportunidade de Personaje Naciente I, 1953 Óleo sobre tela / Oil on canvas cunhou o debate, no qual o brasileiro apresentar de corpo inteiro para o público 202 x 83 cm Lucio Costa, divergindo desses conceitos, brasileiro o grande mestre venezuelano. Oswaldo Vigas, mestre pintor das Américas Bélgica Rodríguez PHD / Curadora Desde muito pequeno, Oswaldo Vigas quotidiano. Suas primeiras obras de tipo Como estava consciente do que desejava, (Venezuela, 1923 - 2014) descobre bar- barroco mostram formas e personagens procurou um caminho que lhe permitisse reiras para chegar a arcanos de outros fantásticas cuja influência é cubista, criar uma estética própria na pintura amanheceres: começa a aventura da arte. figurativa da Venezuela daquela época. que tinham sido extraídos de memórias Tem um talento especial e inato que se Uma profunda fascinação pela cultura pré- e lembranças, bem como de práticas de encontrava escondido em seu ser. Ele hispânica local o leva a viajar por diversas pinturas e leituras da história da arte que conseguiu dominar suas inquietações regiões do país e também pela América de jovem artista abrindo seu espírito ele tinha feito sem ter recebido nenhuma do Sul. Ele conhece e estuda a iconografia aos «fantasmas» criativos que o aproxi- orientação acadêmica: Tetragramista II e destas manifestações artísticas; adora a mam de revelações bem diferentes do Composición IV (ambas de 1943). figura feminina, a “Vênus” achatada de Tríptico II (Terrícolas), 1963 Óleo sobre tela / Oil on canvas 35 x 76,5 cm olhos marrons, e dela toma elementos e feições que aparecerão depois nas figuras que identificam sua produção artística, que são conhecidas como as “bruxas” de Vigas. Em relação a isto, o artista comenta: «Depois de achatar a cabeça delas, estiquei também o pescoço, fiz aparecerem as costelas, tirei os dedos das mãos e dos pés. Deixei à vista os ossos dos braços, fiz que aparecessem alguns galhos, rebentos e frutas tropicais em qualquer parte do corpo delas e para que nenhum membro do reino animal se sentisse excluído cobri as Bruxas de óxido, de cristais e de todos os outros minerais vindos do céu». É assim como Vigas se aproxima da cosmogonia telúrica destas culturas antigas, dos misteriosos antecessores que estão presentes na geografia da América Latina. Revisando suas próprias crenças, descobre a imagem que as representa, suas atmos- feras e seus conceitos e, com toda essa informação, cria uma temática. É normal que se fale das Bruxas de Vigas. O artista encontra uma via e deixa marcas calmas e Aparecido turbulentas que tornam atraente seu cami- Azul, 1976 nho, que começou em 1942 (século XX) e Óleo sobre tela / Oil on canvas terminou em 2014 (século XXI), ano do 150 x 120 cm seu falecimento. Em cada década as bruxas-figuras mudam em sua gênese: as dos anos sessenta são agressivas, violentas e, ao mesmo tempo, gentis, mais próximas ao expressionismo figurativo, característica das vanguardas da Europa e de Nova Iorque. Aos poucos, o artista entra em contato com um universo de violência ligado a uma teologia pessoal figurativa. Portanto, a lógica formal do seu trabalho responde a certos parâmetros relacio- nados com a união do simbólico com o icônico em uma área globalizada cheia de problemas humanos. Na pintura de Vigas de todos os tempos é notável o cuidadoso procedimento formal marcado pelos traços grossos em preto que se alinham com a figura reconstruída ou com o mesmo plano geométrico de linhas grossas que a delimitam e criam sua abstração. Além disso, na pintura de Vigas, a figuração e a abstração convivem em perfeita harmonia. São reconhecidas estas duas técnicas no trabalho dele: a figuração é considerada essencialmente formalista no âmbito internacional, Comadres de enquanto que a abstração em aquelas Ipacarai, 1995 ideias e conceitos referentes à cosmogra- Óleo sobre tela / Oil on canvas fias provêm da cultura pré-hispânica da 250 x 168 cm América Latina. Reencounter and revisit Hugo Segawa The retrospective of Oswaldo Vigas Communion of the Arts. Paraphrasing Diretor of the MAC USP • 2014-2015 Anthological 1943-2013 could be Damián Bayón, in such debate, Portinari, interpreted as Vigas’ reencounter with São Di Cavalcanti, Clóvis Graciano, Lívio Oswaldo Vigas, when he was 27 years old, Paulo. In a space not far away from the Abramo, Alfredo Ceschiatti, Athos Bulcão, was a promising Venezuelan artist that one where his artwork was shown in 1953 among others; aligned with Diego Rivera, showed three paintings, as part of his (nowadays, known as Pavilhão Armando de Mateo Manaure, David Alfaro Siqueros, country’s delegation, at the II São Paulo Salles Oliveira), the institution kept the art Oswaldo Guayasamín, José Clemente Art Biennial. Such event was set forth to collection of the first São Paulo biennials; Orozco, Wifredo Lam, Miguel Alandia celebrate the 4º Centennial of the City of also, the Museu de Arte Contemporânea da Pantoja, José Chávez Morado, and São Paulo between December 1953 and Universidade de São Paulo was sheltered Oswaldo Vigas in the rhythm of a “Latin January 1954, inaugurating the Pavilhão within the building where the celebration American plastic adventure.” das Nações and the Ibirapuera Park- of the 4º Centenary was held- the Pavilhão both designed by Oscar Neimeyer and da Agricultura. More than a reencounter of Vigas with his team. São Paulo, this is about the encounter of The Venezuelan artist was ignored by São Paulo with a great Venezuelan artist Juan Röhl, Venezuelan delegate before the Brazilian culture; notwithstanding, the who is practically unknown in our cultural II Biennial, welcomed Oswaldo Vigas in the artist’s intention was aligned with the spectrum, whose retrospective rescues catalogue, saying that “Vigas is gifted with Latin American universe of the 50’s and his role and his importance not only for a sensitive and beautiful intuition in his 60’s- period of time in which Brazilians Brazil, but for Latin America and the rest compositions; it shows a sensual richness shared concepts. Vigas was on the artists of the world. in his palette.” In the early 50’s, the young that participated in the experience artist was recognized for his work, he Synthesis of the Arts, conceived by Carlos After a journey through Lima, Santiago, and was awarded for different artworks in his Raúl Villanueva, Venezuelan architect that Bogota, the Museu de Arte Contemporânea home country- during this decade, the designed the extraordinary campus of da Universidade de São Paulo receives the artist also moved to Paris; where he lived the Universidad Central de Venezuela; great Exhibition of Oswaldo Vigas. We twelve years. In 1955, Vigas participated recognized by the UNESCO as World would like to thank the Fundación Oswaldo in the II São Paulo Art Biennial with two Heritage.