Boletim da Associação dos Diplomatas Brasileiros Ano XIX Nº 79 Outubro/Novembro/Dezembro 2012 ISSN 0104–8503 FELIZ NATAL E UM ANO NOVO CHEIO DE REALIZAÇÕES.

ADB – Associação dos Diplomatas Brasileiros Ministério das Relações Exteriores – Esplanada dos Ministérios Palácio do Itamaraty, Anexo I, 3º andar, sala 329–A 70170–900 – Brasília – Brasil Fones: (61) 3411 6950 e 3224 8022 Fax: (61) 3322 0504 www.adb.org.br – e–mail: [email protected] Carta aos Associados

ormulo aos nossos Associados, em nome de toda a Diretoria da ADB, os melhores votos de saúde e de prosperidade para o Ano Novo de 2013. FO avanço brasileiro na complexa ciência da informática é fato que explica a cooperação técnica que o Brasil vem prestando a instituições públicas e privadas mundo afora. Não há milagre. A que deve a Coréia do Sul seu enorme progresso econômico? A resposta é uma só: ao investimento maciço e constante em educação. O número anterior da Boletim publicou matéria da jovem diplomata Roberta Lima sobre a Conferência Rio+20. O presente número tem a honra de acolher, sobre o tema, matéria do Senador Rodrigo Rollemberg, Senador pelo PSB/DF e Presidente da Comissão do Meio Ambiente do Senado. Desta vez, coube ao Embaixador da Tailândia -Tharit Charungvat - falar de seu país e das suas relações com o Brasil. A matéria de capa traz cifras impressionantes sobre o desenvolvimento presente e futuro do agrone- gócio no Brasil. Esta produtividade se deve, em boa parte, às pesquisas de elevadíssimo nível científico e tecnológico de uma instituição totalmente brasileira, a mundialmente renomada Embrapa, cujas atividades de cooperação técnica prestada a países estrangeiros vêm-se consolidando dia a dia. Se comparado ao que existe em outros países, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer em matéria de museus, tanto no que se refere à quanti- dade quanto à qualidade. Mas esse caminho está sendo percorrido. Prova disto, é o Museu do Inhotim, no interior de Minas Gerais. Cionsiderado um dos maiores museus a céu aberto do mundo (110 hectares de jardins), abriga obras de arte contemporânea e grande quantidade de amostras da flora dos biomas Cerrado e Mata Atlântica. Como o faz regularmente, este número do Boletim apresenta relatório a respeito do andamento das diversas ações movidas, em grupo, por funcionários da Carreira de Diplomata. O Boletim destaca a realização da XIX Assembleia Geral Ordinária que elegeu a Diretoria da ADB para o biênio 2013/2014. Nesse sentido, deixo aqui registrados meus melhores agradecimentos aos que votaram pela minha reeleição, afiançando a todos os nossos Associados que prosseguirei no firme propósito de desenvolver todo meu esforço em benefício da ADB. Conforme está posto em relevo na matéria sobre o assunto, merece redobrado destaque o interesse de jovens diplomatas pela ADB. Mais um vez, o Embaixador Sergio Bath nos brinda com um texto sucinto mas, como sempre, com grande densidade e cujo título resume toda a matéria: “O HISTORIADOR HÉLIO JAGUARIBE”. É uma pena para a ADB, mas faz parte intrínseca de nossa carreira, o Ministro Paulo Roberto de Almeida, atual Vice-Presidente da nossa Associação, foi removido para posto no exterior. Mas, para sorte do Boletim da ADB - de que é o responsável pela importante seção “Prata da Casa” - de longe, continuará a prestar sua valiosa colaboração. Assim sendo, e como se poderia chamar, pois, de “meia-despedida”, nos oferece, no presente Boleitm, matéria de muito interesse para a história diplomática do Brasil, intitulada “Renato Mendonça: um intelectual na diplomacia”.. Prata da Casa encerra este número do Boletim.

Guy M. de Castro Brandão Presidente da ADB

B oletim da A D B | 1 Sumário Modelo Brasileiro Coreia do Sul Artigo Entrevista Cultura

4 7 11 12 18 Experiências de Indústria e O senador Rodrigo O embaixador da O Boletim da ADB sucesso, como educação Rolemberg Tailândia no Brasil, faz um tour pelo os sistemas fortalecidas argumenta sobre a Tharit Charungvat, maior museu a céu de previdência impulsionam o responsabilidade do recebeu a equipe aberto do mundo: privada, eleições e crescimento da poder legislativo na do Boletim da Inhotim, instalado automação bancária, Coreia do Sul e condução das metas ADB e falou sobre a em Brumadinho, são modelos fazem o país se traçadas pela Rio+20 proximidade entre os Minas Gerais, no exportados pelo destacar no cenário dois países. coração do Brasil. Brasil para o mundo. asiático.

Capa

Boletim da Associação dos Diplomatas Brasileiros Ano XIX Nº 79 Outubro/Novembro/Dezembro 2012 ISSN 0104–8503 15

O Brasil reforça seu papel de gigante na produção de alimentos e conta com a tecnologia para aprimorar seus produtos.

2 | B oletim da A D B Sumário Relatório Jurídico Assembleia ADB Memmorial Artigo Prata da Casa

21 25 27 28 30 Fizemos um A última reunião O embaixador O diplomata Nas obras indicadas apanhado de qual é oficial do ano Sergio Bath nos Renato Mendonça pelo Prata da Casa, a situação das ações trouxe novos presenteia com é lembrado pela temas como a judiciais de interesse membros à diretoria um texto sobre estreita relação com influência africana dos associados da e perspectivas a trajetória do a cultura em texto na língua nacional, ADB. positivas para o historiador Hélio do Ministro Paulo os 20 anos do próximo exercício. Jaguaribe. Roberto de Almeida. Mercosul, a relação do Brasil com o mundo ásio-africano, ensaios sobre figuras históricas nacionais, a questão do racismo e a relação com Cuba.

B oletim da A D B | 3 Modelo Brasileiro O que o Brasil tem a ensinar para o mundo Como os sistemas eleitoral, de previdência social e de automação bancária chegaram aos olhos de autoridades mundiais e como estão sendo implementados em países pobres, em desenvolvimento e ricos

Nelson Jr-TSE os últimos anos, o Brasil ganhou destaque no cená- Nrio internacional por ter construído uma economia sólida e resistente aos efeitos da crise mun- dial que afeta os cofres de vários países do planeta. Também ganhou notoriedade nas relações diplomáti- cas, com uma política externa base- ada na justiça social, no respeito à democracia e na promoção de direi- tos humanos e da paz. A admiração conquistada pelo Brasil vem ganhando propor- ções maiores, a ponto de ter suas experiências requisitadas por auto- ridades de países de todas as esca- Membros das comitivas da , da Russia e da Índia visitam TSE las econômicas – de pobres a ricos. Nesta edição, o Boletim da ADB em 2010, a população já conhecia a experiência é valorizada por diver- aborda três exemplos concretos que nova presidente uma hora e quatro sos países, que buscaram o modelo têm servido de modelo para várias minutos depois do encerramento da tupiniquim para assegurar idonei- nações há alguns anos: os sistemas votação, momento em que o resul- dade e agilidade na hora da apura- eleitorais, de automação bancária e tado já estava matematicamente ção e da totalização dos votos. de previdência social. definido. Antes, a apuração durava Países como Argentina, Costa A forma como a eleição brasilei- meses e, invariavelmente, era reali- Rica, Equador, Guiné-Bissau, Haiti, ra se realiza atualmente é elogiada zada sob suspeita. México, Paraguai e República Domini- em várias partes do mundo. O voto cana buscaram a consultoria da Jus- eletrônico foi a solução desenvolvida A procura pela expertise – A tiça Eleitoral brasileira. Essas nações pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – consagração do processo eleitoral receberam orientações do TSE no com tecnologia própria – para acabar brasileiro veio em 2000, após a uti- que se refere à implantação de um com a fraude e garantir segurança, lização das urnas eletrônicas por sistema de votação automatizado. celeridade e transparência ao pleito. todos os municípios – antes, nas O Paraguai foi o único país cujo A velocidade com que é concluí- eleições de 1996, só a população processo eleitoral a Justiça Eleitoral do todo o processo surpreende. Para de 3.700 cidades havia testado o brasileira se dispôs a organizar inte- se ter ideia, no último pleito nacional, novo equipamento. Desde então, a gralmente. Em 2006, o TSE forneceu

4 | B oletim da A D B Modelo Brasileiro urnas, desenvolveu softwares, fez o A Índia é exemplo disso. Ape- sistema previdenciário, defasado planejamento do pleito e a imple- sar de o processo eleitoral indiano há cerca de 30 anos – todos os mentação de mecanismos de segu- também ser informatizado, bus- procedimentos ainda são feitos rança, logísticas e de auditorias. cou-se o aprimoramento do pleito manualmente. Em 2011, os dois paí- No entanto, esse modelo de com nossa expertise. Em 2011, os ses assinaram um acordo de coo- consultoria integral precisou ser governos dos dois países assina- peração com uma série de medidas abandonado, pois o Tribunal tinha ram um documento que prevê a para que seja implantado o novo número reduzido de técnicos. E os troca de informações, equipamen- sistema previdenciário social do poucos que existiam, depois dessa tos, tecnologias e conhecimento país da costa leste da África. experiência no país vizinho, volta- técnico relacionado a processos De acordo com a Assessoria de ram às suas atividades, ou seja, eleitorais. Comunicação do Ministério da Pre- foram redirecionados para atender O acordo também propõe a vidência Social, o Brasil, além de às demandas internas. produção e divulgação de material auxiliar na informatização de todo “Mudamos a nossa postura. informativo referente ao sistema o processo previdenciário moçam- Agora, fazemos análise da situa- eleitoral, metodologia de votação, bicano, também oferecerá cur- ção do país e transferimos conhe- educação e conscientização dos sos em tecnologia da informação, cimento, estabelecendo um plano eleitores, bem como participação comunicação social, atendimento de aplicação do sistema eletrônico de minorias. ao público, educação previdenciá- de votação, mas deixando que a Representantes da Justiça Elei- ria, entre outros. parte operacional fique por conta toral brasileira receberam, ainda, O flerte de Moçambique com do país”, explica Giuseppe Janino, convites para apresentar em pales- o Brasil começou em 2007, quan- secretário de Tecnologia da Infor- tras e conferências a experiência do representantes do país - mação do TSE. das eleições, da urna eletrônica e no conheceram as operações do Além de transferir conhecimen- da identificação biométrica do elei- Ministério da Previdência Social to tecnológico aos países, o Bra- tor nos Estados Unidos, na China, e a Empresa de Tecnologia e sil também firmou acordos para na Índia, na Rússia, na Itália, em Informações desse órgão federal o aperfeiçoamento dos sistemas vários outros países da União Euro- (Dataprev). Foi naquele momento eleitorais, baseando-se na troca de peia e em nações da comunidade que as autoridades moçambica- experiências com outras nações. “O de língua portuguesa. nas manifestaram interesse em ter intercâmbio de informações permi- a ajuda brasileira para reformular te que cada país possa identificar Conexão Brasil-Moçambique – a política previdenciária. soluções que o outro adotou e usá- O Brasil estendeu as mãos tam- Dois anos depois, em 2009, las de acordo com suas necessida- bém para o continente africano. O o governo brasileiro, por meio de des”, avalia André Tavares, diretor governo brasileiro está ajudando seus representantes, foi a Moçam- da Escola Judiciária Eleitoral do TSE. Moçambique a modernizar o seu bique conhecer de perto o sistema

INSS divulgação de Seguridade Social, e, após a visi- ta, construiu-se uma proposta de cooperação com o governo do país africano. “Eles pretendem implan- tar processos novos de trabalho e sistemas de tecnologia de infor- mação, e usaremos o know-how da Dataprev para concretizar esse desejo”, afirma Eduardo Basso, chefe da Assessoria de Assuntos Internacionais do Ministério da Pre- vidência Social. A expectativa do governo bra- Visita de técnicos brasileiros a Moçambique sileiro é de que a partir de 2016

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os moçambicanos já comecem a da Previdência Social, o governo legislação previdenciária para o usufruir plenamente o novo sistema do país africano pretende ter um servidor público. A proposta é pro- previdenciário. “Eles planejam para modelo parecido com o brasileiro. visória e, segundo Eduardo Basso, daqui a dois anos (2014), mas pela “Eles querem que esses paga- foi aprovada no congresso do nossa experiência e pelas dificul- mentos sejam feitos por cartão país. O Brasil aguarda os próximos dades inerentes ao processo, deve magnético e por conta corrente, passos do governo timorense. demorar um pouco mais”, acredita como nós fazemos por aqui. As No caso do Paraguai, a consul- Eduardo Basso. Até novembro deste negociações com os bancos estão toria está em um ritmo mais lento ano, o projeto estava na fase final bem adiantadas e já pensam em em razão da saída do país do Mer- do desenvolvimento dos sistemas. trabalhar com essa nova modalida- cosul. “Fizemos todo o levantamen- A etapa seguinte, e última, será a da de a partir de 2013”, conta Eduar- to do que seria necessário para implantação propriamente dita. do Basso. a Previdência Social paraguaia, Além da reestruturação tecnoló- tomando como base as prioridades gica na área da seguridade social, Ásia e América do Sul – Outros deles: previdência rural, cobertura Moçambique está mudando todo dois países pediram ajuda ao para a informalidade e os direitos o tratamento com a rede bancária governo brasileiro para melhorar previdenciários das empregadas local para realizar os pagamentos suas atividades previdenciárias: domésticas”, diz Eduardo Basso. O de benefícios aos cidadãos. Segun- Timor Leste e Paraguai. A nação governo brasileiro, inclusive, pro- do o chefe da Assessoria de Assun- asiática contou com o auxílio do duziu uma matriz de projetos para tos Internacionais do Ministério ministério na elaboração de uma esses casos.

Brasil: Uma das referências mundiais em automação bancária

Assim como a Justiça Eleitoral dita que os bancos nacionais Ministério da Ciência, Tecnologia e brasileira investiu em tecnologia têm habilidade e capacidade de Inovação, Adalberto Barbosa. para implantar o voto eletrônico, produzir soluções inovadoras e O combate ao crime eletrônico o setor bancário vem fazendo o seguras a custos muito compe- também faz parte do portfólio bra- mesmo para modernizar suas ati- titivos. “Isso atrai o interesse sileiro em TI para bancos. A contí- vidades e oferecer comodidade, de clientes no exterior, especial- nua evolução do internet banking rapidez e segurança aos clientes. De mente de países que têm alguma e o intenso aperfeiçoamento do acordo com a Federação Brasileira semelhança com o Brasil, seja mobile banking fizeram as institui- dos Bancos (Febraban), as institui- em tamanho geográfico, econo- ções desenvolverem meios para ções financeiras do Brasil investi- mia, programas sociais, seja em garantir segurança aos mais de 40 ram em 2011 cerca de R$ 18 bilhões nível de bancarização”, declara. milhões de usuários dessas moda- para automatizar o seu sistema. Atualmente, segundo o Minis- lidades de serviços. Os aportes financeiros fizeram tério da Ciência, Tecnologia e Ino- O presidente da Febraban, o país ficar no primeiro time da vação, há produtos e serviços ban- Murilo Portugal, afirma que os automação bancária no mundo, cários brasileiros exportados para bancos estão preparados para atrás apenas dos Estados Unidos, mais de 20 países, com destaque enfrentar o desafio do crime ele- da Alemanha, da França, do Reino para os mercados de Portugal, Esta- trônico, tratando de se antecipar Unido e do Japão, nessa ordem. dos Unidos, Espanha, Venezuela, às fraudes e também no esforço Aliado a isso, há outro fator impor- Argentina e Índia. de esclarecimento da sociedade. tante que colocou o Brasil em evi- “O Brasil vendeu mais de 900 “É vital que as respostas sejam dência no cenário internacional de terminais de caixas eletrônicos rápidas e esclareçam os consu- tecnologia da informação (TI) para para a Índia, iniciando parceria midores de forma objetiva. Nada bancos: a criatividade. com empresas produtoras locais disso seria possível se nossos Nori Lermen, diretor comer- para o desenvolvimento de um bancos não tivessem um grau cial da Perto S.A., empresa fabri- sistema. É um exemplo da nossa de modernidade tecnológica que cante de terminais de autoa- maturidade”, diz o coordenador os coloca entre os melhores do tendimento e periféricos, acre- de Tecnologia da Informação do mundo”, analisa.

6 | B oletim da A D B Coreia do Sul

Potência asiática

Investimentos na té a década de 1960, a Os motivos de um crescimen- Coreia do Sul era um país to tão acentuado e rápido são industrialização Apobre, que sobrevivia, basi- vários, mas o foco na educação e, principalmente, camente, de economia agrária. é considerado o ponto funda- na educação Recém-saídos de uma guerra que mental do desenvolvimento sul- resultou na trágica divisão de seu coreano. O número de alfabeti- impulsionam território, os sul-coreanos dedicaram zados, atualmente, é de quase crescimento da os últimos 50 anos ao desenvolvi- 100%, índice que já foi de 22% República da mento do país e os resultados são em 1945. Segundo dados da impressionantes. O Produto Interno Organização para Cooperação Coreia do Sul. País Bruto (PIB) per capita do país, que era e Desenvolvimento Econômico possui o terceiro apenas de US$ 100 em 1963, ultra- (OCDE), 97% dos estudantes passou US$ 31 mil neste ano. Além completam o ensino médio – o maior PIB da Ásia disso, é a maior economia entre os mais alto percentual entre todos e deve ultrapassar tigres asiáticos (, Singapu- os países pesquisados. o Japão em breve ra e Taiwan), a quarta maior da Ásia e “A partir dos anos 1960, a Coreia a décima terceira do mundo. do Sul começou a mudar. Quando

Flickr

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Park Chung-hee assumiu, deter- US$ 6 mil a US$ 15 mil por mês. Os os conhecimentos dos profissionais. minou que o objetivo fosse o futu- professores, também, são premia- “O modelo coreano é muito interes- ro e, com isso, as crianças foram dos financeiramente de acordo com sante. Eles trazem a universidade encaminhadas para a escola”, conta o rendimento de seus alunos. para dentro da empresa, estimulam Wilson Almeida, pós-doutor em Rela- Porém, a busca desenfreada pelo os estudantes a desenvolver pesqui- ções Internacionais pela Georgetown conhecimento tornou-se um pro- sas importantes para as empresas University, em Washington. blema para parte dos jovens core- e, depois, contratam esses novos anos. Além das 11 horas de aula a profissionais”, explica Almeida, que O povo coreano que todos os alunos assistem nas pretende levar o reitor da instituição escolas, 83% deles ainda frequentam onde leciona para o país asiático. estava unido em aulas extracurriculares, que variam “Quero que ele veja a realidade lá de 4 a 5 horas por dia. Isso faz com para inspirar uma mudança aqui. torno da ideia de que esses jovens estudem até 16 Não devemos adotar o sistema, mas melhoria de vida. horas diárias. “Eles perderam a mão. precisamos ver a Coreia e admitir A taxa de suicídio entre os jovens sul- que há algumas coisas interessan- Eles colocaram coreanos, de 15 a 25 anos, é uma tes na experiência deles e trazê-las dos maiores do mundo (a segunda para cá, mas ajustadas e adaptadas na cabeça que maior, conforme a Organização Mun- à cultura e à realidade brasileira”. o caminho a ser dial da Saúde, atrás somente da Rús- sia) por causa de desempenhos que Industrialização e empresas seguido seria a eles não consideram bons na esco- que ganharam o mundo – A rápi- educação. la”, diz Wilson Almeida. da transformação coreana em uma O número de pessoas com ensi- economia rica também se deve à no superior também é impressio- industrialização no curto perío- Segundo o embaixador da nante, se comparado a padrões bra- Coreia do Sul no Brasil, Bon- sileiros. Mais de 60% da população Woo Koo, se há uma razão muito entre 25 e 34 anos têm diploma importante para esse desenvol- universitário. Os 350 mil coreanos vimento, é a mobilização dos que estudam fora do país, entre gra- sul-coreanos. “O povo coreano duação e pós-graduação, ajudam estava unido em torno da ideia na contagem. Com esse número, de melhoria de vida. Assim, eles a Coreia do Sul é o país que mais colocaram na cabeça que o cami- envia alunos para outros países. A nho a ser seguido seria a educa- China, por exemplo, tem 240 mil ção. Eles tinham a crença de que estudantes fora de suas fronteiras, a educação poderia mudar essa mesmo com população 27 vezes trajetória e se uniram em prol da maior (48 milhões de coreanos con- causa”, relata Koo, que vivenciou tra 1,3 bilhão de chineses). o período de transição. A maioria das universidades são O reconhecimento dos profissio- financiadas por grandes empresas nais de educação também é grande. nacionais. Assim, as corporações O salário dos educadores de ensino moldam seus futuros funcionários fundamental e médio varia entre da maneira como querem e ajustam

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Coreia do Sul

do. Park Chung-hee incentivou a reconhecidas mundialmente em seus fabricação orientada à exportação segmentos. “Nós, coreanos, não ima- e a uma força de trabalho altamen- ginávamos que Samsung e Hyundai te qualificada. O problema é que os fossem se tornar o que são hoje. A produtos, no início, não eram dota- aceitação do mercado é gigantes- dos de qualidade necessária para ca, a tecnologia é alta e a qualidade gerar interesse de outros países. é igual ou superior em comparação “O governo tentou fazer concorrên- com as maiores concorrentes do cia do que era produzido na Coreia mundo”. Ele, contudo, sabe o que do Sul com os produtos internacio- motivou o crescimento das marcas. nais para que os artigos coreanos “O principal elemento é que o capital se equiparassem à qualidade ofe- quase todo era investido na área de recida pelos outros. Fez-se isso até pesquisas para tecnologia. E essas mesmo a fim de que as empresas empresas não estão parando por sul-coreanas conquistassem mer- aqui; elas estão tentando sempre cados”, avaliou Bon-Woo Koo. melhorar e buscar melhores cami- O embaixador admite que não nhos para continuar seu desenvolvi- pensava que as empresas fossem mento. Acho que isso vai fazer que crescer tanto, a ponto de serem elas continuem crescendo”, acredita.

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Segundo as Cultura coreana previsões do FMI, ganha o mundo dentro de cinco Recentemente, a Coreia do Sul também anos o PIB per foi destaque em notícias sobre cultura e capita da Coreia entretenimento. O rapper Psy, com o do Sul deve hit “Gangnam Style”, chegou ao topo ultrapassar o do das paradas britânicas, tornando-se o Japão primeiro artista sul-coreano a alcançar o feito. Antes disso, o clipe do cantor O resultado pode ser visto nos pro- alcançou a marca de 600 milhões de dutos ofertados pelas empresas do país visualizações no YouTube. É o vídeo mais asiático. Além das duas citadas pelo visto e curtido da história da rede social, embaixador, muitas outras são as mar- com mais de 3,2 milhões de likes. cas sul-coreanas que cairam no gosto do Os filmes sul-coreanos também consumidor. Celulares, eletrônicos e auto- móveis exportados estão a cada dia mais estão na moda. Em Cannes, O gosto do ganhando bolsos, salas, cozinhas e gara- dinheiro, de Sang-Soo Im, e In another gens do mundo inteiro. country, de Sang-Soo Hong, foram as únicas obras orientais na disputa Coreia do Sul x Japão – Segundo as pre- pela Palma de Ouro. O prêmio, visões do Fundo Monetário Internacional (FMI), dentro de cinco anos o PIB per entretanto, veio no Festival de capita da Coreia do Sul, considerando Veneza. Pietá, de o índice dos custos de vida, deve ultra- Kim Ki-Duk, passar o do Japão. “É ótimo ouvir isso e ganhou o saber que estamos perto e que podemos Leão de passá-los, mas acho que vai demorar Ouro e se mais um pouquinho para isso aconte- cer”, salienta o embaixador Koo. tornou a Apesar disso, Bon-Woo reconhece as boas primeira avaliações feitas sobre a República da Coreia. produção da “O que podemos dizer é que precisamos República da manter esse crescimento de forma contínua. Google Coreia do Sul a Trabalhar para que tanto o governo quanto a população coreana mantenham o interesse e conquistar um o conhecimento. Isso, aliado a constantes e prêmio máximo cada vez mais fortes investimentos nas áreas em grandes de educação e pesquisa, vai garantir o desen- festivais. volvimento”, finaliza.

10 | B oletim da A D B Artigo É hora de pensar nos desafios pós Rio+20 Rodrigo Rollemberg Senador pelo PSB/DF e presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado

iz parte da delegação que nacionais o uso do capital natural. Tenho convicção de que o Bra- representou o Senado na Depois de três dias de discussão, sil terá cada vez mais destaque no FConferência das Nações nós, parlamentares de 85 nações, cenário internacional. Nosso desa- Unidas para o Desenvolvimento firmamos o Protocolo da 1ª Cúpula fio é crescer aliando preservação Sustentável. A Comissão de Meio Mundial de Legisladores, entregue ambiental, erradicação da pobre- Ambiente do Senado, que tenho a por mim ao Secretário Geral da ONU za e redução das desigualdades honra de presidir, realizou audiên- para a Rio+20, Sha Zukang. sociais, e o Brasil tem conseguido cias públicas que antecederam a Apesar de tantas expectativas conciliar esses fatores. Acredito Rio+20, quando debatemos a con- frustradas, a Rio+20 foi importan- que o País precisa ter posição de ferência sob vários aspectos. Foi te no avanço da conscientização e liderança no cenário internacional unânime a opinião de que preci- da mobilização da opinião pública e participar da interlocução entre sávamos traçar metas práticas de mundial, o que pressionará gover- as nações em desenvolvimento e desenvolvimento sustentável, com nos pela adoção de uma agenda as desenvolvidas, para conciliar os compromissos claros. mais ousada de desenvolvimento interesses que dificultam um enten- Avaliamos que muitas metas tra- sustentável. Além de ter sido uma dimento global em torno das ques- çadas na Rio´92 deixaram de ser oportunidade de repensarmos os tões ambientais. alcançadas pela falta de atuação modos de produção e consumo. dos Poderes Legislativos. Para suprir Gostaria de ter visto na conferên- esta lacuna, a Globe International, cia decisões como a criação de um que reúne parlamentares compro- fundo abastecido por países ricos metidos com a preservação do para financiar o desenvolvimento de meio ambiente, realizou a 1ª Cúpula países mais pobres, além do forta- Mundial dos Legisladores, no Rio de lecimento do Programa das Nações Janeiro, antecedendo a Rio+20. Unidas para o Meio Ambiente. Entre-

O encontro reuniu parlamentares tanto, os resultados concretos Waldemir Barreto do mundo inteiro e teve três grandes da Rio+20 só serão conhe- objetivos. O primeiro foi estabelecer cidos no futuro, a par- um mecanismo para monitorar os tir dos compromissos trabalhos dos governos em relação assumidos pelos ao que foi assumido na Rio+20. O 193 países. segundo, destacar o papel dos par- lamentares na elaboração e aprova- ção de leis e orçamentos. E o ter- ceiro foi conceituar nas economias B oletim da A D B | 11 Entrevista O encanto da Tailândia

esta entrevista ao Boletim da ADB, o embaixador da Tailândia no Brasil, Tharit Charungvat, no cargo desde fevereiro deste ano, fala sobre a relação entre os dois Npaíses, iniciada na década de 1960. Ele também revela que a seleção brasileira é a preferida dos tailandeses em eventos como a Copa do Mundo da Fifa e faz um convite para os brasileiros apreciarem o 2º Festival de Gastronomia Sabor da Tailândia, que ocorre neste mês de dezembro na capital federal.

Brasil e Tailândia têm pouco mais te, incluindo algumas visitas reais damente a interação internacional de 50 anos (mais exatamente, para o Brasil. entre os dois países. 53) de relações diplomáticas. Quando o Brasil sediou a Con- Além das relações bilaterais, Quais são os principais destaques ferência das Nações Unidas sobre os dois países também comparti- nessa relação? o Meio Ambiente e o Desenvolvi- lham vários interesses comuns nos O Brasil é um dos primeiros paí- mento (ECO-92), em 1992 no Rio fóruns internacionais, tais como as ses da América Latina com os quais de Janeiro, Sua Majestade, o Rei questões de mudanças climáticas, a Tailândia estabeleceu relações Bhumibol Adulyadej da Tailândia, direitos humanos, luta contra o diplomáticas. Iniciou quando o Bra- nomeou a Professora Doutora Sua tráfico de drogas e de seres huma- sil enviou uma missão comercial Alteza Real Princesa Chulabhorn nos, desenvolvimento sustentável e para a Tailândia em 1959, o Mahidol para ser a representante segurança humana e alimentar. que depois levou à abertu- do governo e também a represen- ra de nossa Embaixada no tante pessoal da Sua Majestade no A Tailândia é o principal parceiro Rio de Janeiro, em evento. Foi também ela que chefiou comercial do Brasil entre os mem- 1964. Desde então, a delegação tailandesa da CNU- bros da Associação de Nações há troca de visitas MAD (a Rio+20) no Rio de Janeiro do Sudeste Asiático (Asean). O de alto nível em 2012. comércio bilateral foi de US$ regularmen- O povo tailandês conhece bem 4,2 bilhões em 2011, registrando o Brasil e sempre torceu para o aumento de cerca 523% desde time brasileiro na Copa do Mundo da Fifa. Para os brasileiros, o muay thai é um esporte muito popular. Esses dois esportes favorecem DCWG/SXC uma ligação interpessoal e que ajudaram a aumentar rapi-

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2003. No ano passado, as expor- treinamento e um programa de visi- Como a Tailândia está enfren- tações brasileiras totalizaram tas de estudo, chamado Buakaew tando a crise financeira mundial, US$ 1,8 bilhão; e as importações, Roundtable International, para os especialmente a crise do conti- US$ 2,4 bilhões. De que forma se participantes do Brasil e de outros nente vizinho, o europeu? dá essa parceria e quais são os países da América Latina. Os cur- A Tailândia passou por uma principais produtos comercializa- sos são anuais e têm o objetivo crise semelhante em 1997, e as dos entre os dois países? de promover a conectividade inter- lições foram aprendidas. Nós nos A Tailândia é o maior parcei- regional e o compartilhamento de ajustamos. A nossa economia tor- ro comercial do Brasil na Asean, experiências sobre as questões de nou-se mais robusta, com maior e o Brasil é nosso maior parcei- interesse mútuo. As visitas de estu- diversificação das exportações. ro comercial na América Lati- do são concebidas para compar- Nossos maiores parceiros comer- na. Nosso comércio bilateral é tilhar as experiências da Tailândia ciais são os países da Asean e baseado em produtos de ori- e as melhores práticas de ativida- não só o Japão, os EUA ou a Euro- gem doméstica (home-grown pro- des de desenvolvimento em vários pa. Nós estendemos nossa rela- ducts). Por exemplo, a Tailân- domínios, que podem ser aplicadas ção comercial para novos países dia exporta borracha, peças de a seus respectivos países. e criamos novos produtos, que automóvel, mariscos enlatados e Esses programas de coopera- variam desde os alimentos até ingredientes alimentares para o ção técnica são supervisionados produtos industriais. Portanto, a Brasil, enquanto o Brasil exporta pela Tailândia Agência de Coo- Tailândia tem larga base no comér- minério de ferro, soja e petróleo peração Internacional (Tica). Em cio internacional e hoje pode lidar bruto para a Tailândia. agosto, durante a visita do minis- com o problema. Naturalmente, a Outro recente produto industrial tro das Relações Exteriores tai- crise na Europa é inevitável e afeta de origem doméstica da Tailândia é landês ao Brasil, o Memorando de nosso volume de exportações. a colheitadeira de cana, devido ao Entendimento sobre a Cooperação Porém, o efeito não é tão grave seu baixo preço e alta qualidade. O Trilateral entre a Tailândia e o Bra- porque temos experiência e esta- Brasil já começa a importá-la. sil foi assinado. Este documento mos bem preparados. Estamos satisfeitos com os estabelece diretrizes para nossos Uma informação interessante é números do comércio bilateral, pois países ao oferecer a cooperação que neste ano mais turistas da Zona são maiores do que os comércios conjunta em algumas atividades do Euro visitaram a Tai- bilaterais entre o Brasil e alguns de desenvolvimento para países lândia do que no ano de seus países vizinhos. A Tailân- terceiros. A Tica e a Agência Bra- anterior. O motivo é dia estabeleceu uma meta entre as sileira de Cooperação (ABC), sua provavelmente por- agências tailandesas para aumentar parceira brasileira, estão pensan- que os europeus o volume total do comércio bilateral do em oferecer a cooperação con- gostariam de ser feli- para U$ 12 bilhões em 2016. A nossa junta para Mianmar ou Timor-Leste zes antes de entrar no Embaixada no Brasil não só promove e pode estender-se a países da período de austeridade. o comércio tailandês para o Brasil, África no futuro. DCWG/SXC mas também apoia os brasileiros Também esperamos futura coo-

que queiram fazer negócios com tai- peração em áreas como: turismo, Embaixada Tailândiada landeses. Agimos como binóculos no qual o Brasil está muito interes- para identificar produtos e serviços sado, além de estarmos negocian- de qualidade de ambos os lados. do o Memorando de Entendimento sobre turismo; pesquisa e desen- Embaixador Tharit Atualmente existe algum progra- volvimento nas áreas de energia Charungvat ma de cooperação entre Brasil e alternativa; e esportes, com a troca Tailândia? Em que áreas? de experiência de treinadores tai- Desde 2005, a Tailândia tem landeses de muay thai com os téc- promovido cursos internacionais de nicos de futebol do Brasil.

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Alguns deles estão desempregados, e um pouco amargo. Os ingredien- sa com a comida baiana, por mas escolheram visitar a Tailândia tes também são uma das caracte- causa de seu sabor picante e do porque a nossa fama sobre o “melhor rísticas mais conhecidas da nossa uso de leite de coco. Descobri valor para o dinheiro” e a hospitali- herança culinária, principalmente o que a moqueca baiana comparti- dade garantem aos turistas gastar uso de ervas e especiarias. Além de lha alguma semelhança com um menos, recebendo serviços de qua- oferecer sabores, essas ervas pos- prato tailandês. E já que há vários lidade e, consequentemente, sendo suem benefícios médicos e terapêu- pratos e tipos de comida na gas- mais felizes. ticos em diferentes graus. Alguns tronomia tailandesa, acredito que estudos até sugerem que a magre- os brasileiros que experimenta- A embaixada da Tailândia é apoia- za do povo tailandês está ligada à rem a comida pela primeira vez dora do 2º Festival de Gastrono- nossa culinária. ficarão impressionados com os mia Sabor da Tailândia, que ocor- No festival, acredito que aqueles diferentes sabores que a culinária re em dezembro em Brasília. Por que nunca experimentaram a comi- tailandesa oferece. que a gastronomia tailandesa é da antes gostarão. E àqueles que uma ferramenta de “encantamen- já são fãs de comida tailandesa, Os brasileiros não precisam de to” para outros povos? sugiro que não percam a chance de visto para visitar, como turista ou A gastronomia tailandesa é uma visitar o festival. a negócios, a Tailândia. Há dados das culinárias favoritas do mundo, de quantos brasileiros visitam o segundo pesquisas independentes Pode-se esperar alguma seme- país anualmente? de vários institutos. Há uma série de lhança entre as iguarias da gastro- Em 2011, a Tailândia recebeu 26 pratos indicados como os melhores nomia tailandesa com a brasileira? mil brasileiros. Esperamos que esse pratos do mundo. Talvez as razões O que, em sua opinião, os brasilei- número aumente 20% nos próxi- para esta popularidade sejam os ros vão apreciar mais no festival? mos anos, porque há brasileiros na sabores, pois a cozinha tailandesa Nossas gastronomias compar- classe média que estão procuran- é bem conhecida por seus cinco tilham algum patrimônio comum do novos destinos para passar suas sabores fundamentais em cada de Portugal. Alguns brasileiros férias. Além da cultura diferente prato: picante, azedo, doce, salgado comparam a comida tailande- que atrairia turistas brasileiros, a Tailândia é conhecida por sua bele- Arquivo Embaixada da Tailândia za natural, a qualidade de bens e serviços, bem como a boa hospita- lidade. Este ano, fomos premiados como “o melhor destino” de uma Apresentação famosa revista de viagens. de credenciais do Tharit Charungvat E o contrário, sobre visitantes tailandeses, a Embaixada tem dados? De modo geral, como o Brasil é visto pelo povo tailandês? Estamos tentando atrair mais turistas tailandeses para o Bra- sil, porém, o custo da viagem ainda é muito alto. Como o Brasil será sede da Copa do Mundo em 2014, acredito que o evento gera- rá mais visitantes da Tailândia porque o time de futebol brasilei- ro sempre é o time de coração do povo tailandês.

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Em se plantando, tudo dá Tecnologia de ponta responderá por um acréscimo de 32,3 milhões de toneladas à produção brasileira em dez anos

projeção do potencial plo, no segmento bovino e briga formuladores de políticas públicas agrícola brasileiro para os para alcançar o topo de vendas no quanto às tendências dos principais A próximos dez anos só con- segmento de aves. Em 2022, a ten- produtos do agronegócio. firma a tendência de liderança do dência é que o aumento dessa pro- De acordo com o coordenador segmento no cenário internacio- dutividade, incluindo a carne suína, de Planejamento Estratégico do nal. Neste período, o país alcança- chegue a 10,9 milhões de tonela- Ministério da Agricultura, Pecuária rá um acréscimo de 32,3 milhões das. Um salto de 43,2 % em relação e Abastecimento, José Gasques, de toneladas à produção atual, à produção atual. os números revelam a predisposi- que hoje é de 153,3 milhões para As projeções fazem parte de ção do país para ultrapassar outros as culturas de milho, soja, trigo, um estudo anual publicado pelo gigantes da produtividade, como arroz e feijão. Ou seja, 21% a mais Ministério da Agricultura intitulado Estados Unidos, Europa e Índia. de grãos in natura destinados aos Projeções do Agronegócio – Brasil “O país ainda tem muito para estoques mundiais. 2011/12 a 2021/22. O documento escoar. Principalmente, se avaliar- Na mesma tendência segue a traça um panorama do segmento mos o decréscimo da produtivida- produção de carnes. O país já é agropecuário com projeções vol- de mundial de grãos ao longo dos líder absoluto há anos, por exem- tadas para os mercados interno e anos. Dados do Departamento de externo com o objetivo de apon- Agricultura de um dos maiores tar soluções no desenvolvimento produtores – os Estados Unidos – do setor e fornecer subsídios aos mostram que a taxa anual média de produtividade dos grãos mais con- sumidos no mundo, que são arroz, milho, trigo e soja, foi maior nos últimos 50 anos do que hoje. Eu atribuo isso ao pouco investimento

Petr Kovar

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O Brasil ainda tem muito para escoar. ces de produção de países concor- Principalmente, se avaliarmos o rentes. Além do investimento tec- nológico, vale ressaltar outro item decréscimo da produtividade mundial que contribui para essa pujança no de grãos ao longo dos anos. O setor, que é a disponibilidade de Departamento de Agricultura dos EUA, terras”, observa o coordenador de um dos maiores produtores, Assuntos Internacionais da Confe- Carlos Silva mostra que a taxa anual deração de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Thiago Masson. média de produtividade dos grãos mais Novos ares – A observação do consumidos no mundo técnico da CNA vai ao encontro foi maior nos últimos 50 dos dados da pesquisa de Gas- anos do que hoje. ques. A alta tecnologia, aliada à utilização de novos espaços terri- José Gasques, coordenador toriais, está dando uma nova rea- de Planejamento Estratégico lidade a áreas antes inapropriadas do Ministério da para o plantio e que hoje já res- Agricultura pondem por 10,4% da produção brasileira de soja, por exemplo. É o caso de regiões situadas no em pesquisa e tecnologia. Não é o 44,9 milhões de toneladas contri- Maranhão, no Tocantins, no Piauí caso do Brasil”, disse o especia- buirão para os estoques dos prin- e na Bahia. Com terras planas e lista, que coordenou o estudo do cipais importadores de produtos extensas, disponibilidade de água Ministério da Agricultura. brasileiros: 10,8 milhões de tonela- e clima propício com elevada A agricultura de precisão, a ado- das a mais em relação à quantidade intensidade de sol, essas áreas de ção da tecnologia de informação exportada em 2011/12. Para tanto, expansão agrícola são a aposta baseada no princípio da variabilidade a produção neste período deve- para atender a demanda dos mer- de solo e clima, e o investimento em rá ser de 88,9 milhões de tonela- cados interno e externo. maquinários tem sido a fórmula do das ou 17,8 milhões a mais do que As projeções do Ministério da Brasil para a garantia de tais resulta- nesta safra. Agricultura indicam que, em dez dos, na concepção de Gasques. “A produção dentro da anos, a produção nessas re- Uma prova dos resultados pode porteira tem índices de giões será em torno de 20 ser observada no aumento cons- competividade extre- milhões de toneladas de tante das exportações de soja em mamente relevantes grão, o mais importante item da quando compa- pauta agrícola nacional. Em 2022, rada aos índi-

16 | B oletim da A D B Capa grãos (aumento de 27,6%) e que a área plantada chegará ao total de PESQUISA SOB NOVO COMANDO sete milhões a dez milhões de hec- Ascom da Embrapa tares. No caso da principal commo- dity nacional, a soja, a expansão será de 4,8 milhões de hectares. “Essas eram áreas de Cerra- do praticamente abandonadas e historicamente dedicadas a pas- tagens naturais. Hoje, elas corres- pondem a níveis de produtividade acima das regiões tradicionais”, lembra Gasques. O pesquisador está percorrendo várias localida- des do país desde o início do ano para constatar as potencialidades Ao assumir o cargo em outubro, o presidente da Empre- de cada região. sa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Mau- A expansão da fronteira agrí- rício Antônio Lopes, deixou clara a intenção de expandir cola é a resposta do setor não internacionalmente as pesquisas da entidade. “A coope- só para o mercado tradicional, ração técnica internacional é importante para desenvol- ver pesquisas voltadas ao aumento da produtividade no mas também para os novos mer- campo. O treinamento dos nossos profissionais em outros cados. A cada ano, a venda para países permitiu que o Brasil mantivesse estreitas relações países árabes, China e África tem com pesquisadores no exterior”, lembra. alcançado números expressivos na O novo presidente tem expertise no assunto. Em 23 balança comercial. anos de Embrapa, já atuou como pesquisador em genética “Enquanto o mercado europeu e melhoramentos; incorporou o cargo de diretor de Pes- registrou uma queda considerável quisa e Desenvolvimento; liderou o programa de melhora- de importações anuais de produtos mento de milho; chefiou o Núcleo de Pesquisa e Desenvol- do Brasil, os chamados novos mer- vimento da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas, MG) e foi cados registram taxas relativamente articulador internacional da Embrapa Recursos Genéticos e crescentes. Ou seja, o perfil geográ- Biotecnologia (Brasília-DF). fico dos destinos das exportações Durante sua apresentação à imprensa, Lopes lembrou brasileiras está mudando. Em época os primeiros desafios da entidade e falou das futuras de crise na Europa e de déficit ações. “Nas décadas de 1960 e 1970, nosso país não era público norte-americano, vimos considerado seguro, do ponto de vista alimentar. Dependí- amos da importação de alimentos básicos e havia carência diversificando o nosso portfólio de conhecimentos para fazer uma agricultura competitiva. em termos de destino, e assim E a Embrapa surgiu com papel relevante nesse momento. reduzindo a vulnerabilidade exter- Hoje, às vésperas dos seus 40 anos, a empresa vive um na, sem perder a partici- momento de mudança de paradigmas, como o da economia pação nos mercados verde e das mudanças ambientais e climáticas, e se prepa- tradicionais”, disse ra, assim como fez décadas atrás, para manter sua missão Masson. com responsabilidade.”

B oletim da A D B | 17 CapaCultura Museu do Inhotim: uma nova experiência a cada visita

Pedro Motta

No interior de Minas Gerais, arte contemporânea e amostras da flora dos biomas Cerrado e Mata Atlântica são abrigadas em um dos maiores museus do país

preciar obras de arte ao ar livre e em contato com a Anatureza. Tudo ao mesmo tempo. Essa é a experiência por que passa quem visita o Museu do Inhotim, localizado na cidade de Brumadinho (MG), a 60 quilômetros de Belo Horizonte. Considerado um dos maiores museus ao ar livre do mundo, com uma área de 110 hec- tares de jardins, no local podem ser encontradas várias espécies da flora brasileira e obras de arte de artistas nacionais e estrangeiros. As obras estão espalhadas por Jardim de narcisos 18 galerias, que abrigam exposi- de Yayoi Kusama ções permanentes e temporárias. O museu tem um acervo de mais

18 | B oletim da A D B Cultura de 500 obras de artistas brasilei- ros consagrados, como os escul- Curiosidades sobre o Inhotim tores e desenhistas Tunga e Cildo • Para percorrer os 110 hectares de área de visitação e apreciar Meireles, o pintor e escultor Hélio todo o acervo do Museu do Inhotim, o visitante vai precisar de, pelo Oiticica e a artista plástica Adria- menos, dois dias. na Varejão, entre outros. Artistas • Mensalmente, cerca de 20 mil pessoas visitam o local. internacionais como a escultora • Se o visitante sentir fome durante a visita, opções não faltam. O colombiana Doris Salcedo, o pintor museu tem dois restaurantes, três lanchonetes, uma banca de cachor- e escultor argentino Victor Grippo e ro-quente, um bar, uma cafeteria e uma pizzaria. o múltiplo artista norte-americano • Como não poderia faltar em todo local turístico, os visitantes tam- Matthew Barney, que faz trabalhos bém têm a opção de comprar variados tipos de lembrança do museu. O em escultura, fotografia, desenho e dinheiro arrecadado com as vendas é revertido para os projetos sociais filme, também têm obras expostas da instituição. • Entre as pessoas famosas que já conheceram o Inhotim estão permanentemente no Inhotim. o atual ministro da Defesa, Celso Amorim; o artista plástico indo- Para as exposições temporá- britânico Anish Kapoor; o apresentador Serginho Groisman; o chefe de rias, há quatro espaços – chama- cozinha Alex Atala; o músico Marcos Viana e as atrizes Maria Fernanda dos de Lago, Fonte, Praça e Mata Cândido e Deborah Secco. –, que medem aproximadamente • 1,2 mil funcionários trabalham no museu. mil metros quadrados cada um, projetados em grandes vãos. Esses Mais informações espaços, segundo a direção do O Museu do Inhotim é aberto à visitação de terça-feira a sexta-feira, museu, permitem melhor aproveita- das 9h30 às 16h30. Aos sábados, domingos e feriados, o local funciona mento para apresentação de obras de 9h30 as 17h30. A entrada é gratuita às terças-feiras. em vídeo, de pinturas, de escul- Saindo de Belo Horizonte, a viagem até Brumadinho dura cerca de turas ou da forma escolhida pelo 1h30. O acesso é pelo KM 500 da BR-381 (sentido Belo Horizonte- artista para se expressar. São Paulo). Também se chega ao museu pela BR-040 (sentido Belo As múltiplas possibilidades de Horizonte-Rio de Janeiro). No site www.inhotim.org.br o visitante também encontra todas as apresentação de obras de arte informações sobre o museu, até mesmo dicas de hospedagem. permitem não só uma constan- Eduardo Eckenfels te transformação do museu, mas também uma experiência nova a cada visita. A diretora executiva do Inhotim, Roseni Sena, explica que a formação dos espaços é um processo contínuo e, por isso, diretoria e curadores estão sempre trabalhando em novidades para oferecer ao público. “Neste momento, estamos em contato com importantes artis- tas como Olafur Eliasson, Claudia Andujar e Anish Kapoor, que em breve terão obras em nossa expo- sição. Queremos oferecer uma visi- ta espetacular e única para nosso público. Para isso, incrementamos

Bisected Triangle Interior B oletim da A D B | 19 Curve, de Dan Graham Pedro Motta

Cultura

nossa programação cultural e esta- mos em processo de execução do primeiro Hotel Boutique”, informa.

Jardim Botânico – Além de obras de arte, o Museu do Inhotim é conhecido por seu extenso acervo de plantas. O Jardim Botânico tem uma das maiores coleções de plan- tas vivas do Brasil, com mais de 4,2 mil espécies. A área total do Jardim está distribuída em dois acervos: a Reserva Natural, com 300 hecta- res de mata nativa conservada; e a Desvio para o vermelho Área de Visitação, com 100 hecta- de Cildo Meireles res de jardins ornamentais e cinco lagos que, juntos, somam 3,5 hec- o resgate, a ampliação e a manu- da qualidade de vida na região”, tares de área. tenção de coleções botânicas; o informou Sena. Somado aos jardins ornamen- emprego de técnicas sustentáveis tais, está disponível para visitação de manejo e o desenvolvimento de Responsabilidade Social – Admi- o Viveiro do Educador, com área programas socioambientais. nistrado pelo Instituto Inhotim, uma de 25 mil metros quadrados, onde organização não governamental, o está a maior parte da coleção botâ- O surgimento do Museu – O museu é capacitado e mantido pelo nica do museu, com mais de 4,8 mil Inhotim surgiu a partir do desejo do fundador e por parcerias. Os proje- espécies, distribuídas em 167 famí- empresário Bernardo Paz de possuir tos de inclusão social vão desde a lias, entre as quais se destacam a um jardim em sua fazenda. Com a formação da equipe de funcioná- Arecaceae (família das palmeiras), a ajuda do famoso paisagista Roberto rios com preferência para mora- Araceae (imbés, antúrios, copo-de- Burle Marx, o local se transformou dores da cidade de Brumadinho leite) e a Orchidaceae (orquídeas). em um dos maiores museus a céu e entorno até o desenvolvimento aberto do mundo. A diretora execu- de projetos voltados para inclusão Pesquisa – A conservação e a tiva do museu, Roseni Sena, explica social e educação. manutenção das espécies não são que, com o passar do tempo, Paz Entre esses projetos, há o que apenas para fins turísticos. Os começou a colecionar arte contem- possibilita a visitação gratuita de imensos jardins também servem porânea e não demorou muito para crianças, jovens, adultos e idosos, como fonte de pesquisas e cata- que a paixão pela natureza e pela integrantes de programas sociais, logação de espécies botânicas, arte passasse a ocupar toda a área associações, grupos comunitários sem mencionar que são utilizados da fazenda e a ser dividida com o e escolares ao museu. O Instituto para educação ambiental e para público em geral. Inhotim também promove ações de sensibilização dos visitantes e de “Em 2006, o Inhotim foi aberto capacitação voltadas para outras toda a população de Brumadinho à visitação. E hoje, este belo espa- organizações não governamentais sobre a importância da preserva- ço vai muito além do que era no iní- com dificuldades para acessar e ção da biodiversidade. De acordo cio. Além de Arte Contemporânea gerenciar fontes de recursos. Além com a direção, são prioridades do e Jardim Botânico, também desen- disso, o instituto desenvolve ações local a conservação de remanes- volvemos projetos educativos e nas áreas de educação ambiental, centes florestais pertencentes aos participamos ativamente da formu- arte e pesquisas científicas, estas biomas Cerrado e Mata Atlântica; lação de projetos para a melhoria já anteriormente citadas.

2 0 | B oletim da A D B Relatório Jurídico Relatórios judiciais ADB

Processo 2002.34.00.032643-7 apelações da ADB e da União Fede- gos de Declaração, que foram (reajuste residual de 3,17%) ral. Atualmente, está redistribuído respondidos pela ADB. Em 29 de A ação exitosa, transitou em jul- por sucessão à desembargadora julho, a Turma acolheu em parte gado e se encontra em fase de exe- federal Ângela Maria Catão Alves. os Embargos da Fazenda Nacional, cução de sentença. sem efeitos modificativos, apenas Processo 2002.34.00.032906- para esclarecer que a prescrição Processo 2002.34.00.032644-0 2 (MP 2.048/2000 – VPNI – atingiu apenas as parcelas ante- (GDAD – aposentados e pensio- forma de cálculo) riores ao decênio que precede o nistas – direito à gratificação) O processo, cuja sentença é ajuizamento da ação. Foram inter- O processo possui sentença desfavorável à ADB, foi atribuído postos, então, recursos Especial favorável à ADB e, em 29 de maio ao juiz federal Mark Yshida Bran- e Extraordinário pela União Fede- de 2009, foi redistribuído para a dão para julgamento da Apelação. ral, devidamente respondidos pela juíza federal convocada Anamaria O juiz considerou que a sentença ADB. Em 10 de agosto, ao analisar Reys Resende, do Tribunal Regional não merecia reparos, e manteve a a admissibilidade dos recursos, o Federal da 1ª Região. O processo improcedência dos pedidos. A ADB, vice-presidente do TRF/1ª Região foi levado a julgamento no dia 29 então, opôs embargos de decla- verificou que há recursos no STF e de julho de 2009. Por ser o primeiro ração, com a finalidade de sanar no STJ sobre a mesma matéria, e processo em que se aprecia o paga- omissões e viabilizar a interposição que foram submetidos ao rito dos mento da GDAD, a desembargadora de recursos aos tribunais superio- recursos repetitivos. Foi ordenado, federal Neuza Maria decidiu suscitar res. Os embargos foram rejeitados por essa razão, o sobrestamento incidente de inconstitucionalidade pela Turma do Tribunal. Interpôs- do processo até que o STJ julgue da gratificação, que será julgado se, então, Recurso Especial, cuja o Recurso Especial nº 1.230.957/ pela Corte Especial. Após decisão admissibilidade será analisada pela RS e o STF, os Recursos Extra- da Corte Especial, o processo retor- Presidência do TRF/1ª Região. ordinários nº 565.160/SC e nº nará à 2ª Turma para que se proce- 593.068/SC. Após o julgamento, da ao julgamento definitivo. Processo 2002.34.00.032907- caberá ao TRF/1ª Região aplicar 6 (Contribuição previdenciária o entendimento firmado nos Tribu- Processo 2002.34.00.032645-4 sobre diárias e adicional de nais Superiores. (Ofício circular 19) férias) O processo possui sentença O processo havia sido senten- Processo 2002.34.00.032908- que julgou o pedido da ADB pro- ciado desfavoravelmente à ADB, 0 (Contribuição previdenciária cedente em parte. Enviado, em que apelou para o Tribunal Regio- sobre DAS e demais funções seguida, para o Tribunal Regional nal Federal da 1ª Região. Em 26 de Federal da 1ª Região, foi distribuído outubro de 2010, a Oitava Turma ao Desembargador Federal Antônio do Tribunal deu provimento à Ape- Sávio de Oliveira Chaves, da Primei- lação da ADB. O acórdão foi publi- ra Turma, para o julgamento das cado e a União apresentou Embar-

B oletim da A D B | 21 Relatório Jurídico

não incorporáveis aos proven- convocado Rodrigo Navarro de Oli- Turma do egrégio Tribunal Regional tos de aposentadoria) veira e mais uma vez redistribuído Federal da 1ª Região, manteve-se O processo, que possui senten- ao juiz federal convocado Marcos o pronunciamento favorável quanto ça favorável à ADB, foi remetido Augusto de Sousa. Recentemente, ao mérito. Entretanto, a apelação ao Tribunal Regional Federal da 1ª o processo em tela foi redistribuído da ADB, quanto à prescrição, não Região em virtude da Apelação da por sucessão ao recém-empossa- foi provida. O acórdão foi publicado União. Em 7 de outubro de 2010, do desembargador Federal Kássio em 4/12/2008 e, em face deste, foi negado provimento ao recurso Marques. Atualmente, aguarda-se o a ADB e a União opuseram embar- da União e mantida a sentença. O julgamento das apelações da ADB gos de declaração, os quais foram recurso da União teve provimento e da União Federal. rejeitados. Em agosto, o acórdão negado e o processo transitou em foi publicado e em face dele foram julgado. Em breve, o processo será Processo 2004.34.00.005985-3 interpostos dois Recursos Espe- remetido à origem para que se ini- (Indenização por danos mate- ciais, pela ADB e pela União, todos cie a execução. riais decorrentes da omissão do respondidos pela parte oponen- Executivo. Art. 37, X, CF) te. O vice-presidente do TRF/1ª Processo 2002.34.00.033451-0 O processo, que conta com Região não admitiu os recursos. (GDAD – Cálculo sobre o maior sentença desfavorável à ADB, foi Por essa razão, a ADB, assim como vencimento básico da carreira) redistribuído, em setembro de a União, interpôs recursos de agra- A apelação interposta pela ADB, 2009, à juíza Mônica Sifuentes, da vo de instrumento. em face de sentença desfavorável, Segunda Turma do Tribunal Regio- Os agravos remetidos ao STJ foi julgada improcedente pela Pri- nal Federal da 1ª Região. A 2ª tiveram seguimento denegado e meira Turma do Tribunal Regional Turma do Tribunal Regional Federal não foram interpostos recursos. Federal em 27 de janeiro de 2010. também denegou os pedidos. Con- Com isso, o processo transitou em O acórdão foi publicado no dia 10 tra esse acórdão foram opostos julgado. Foi inicida agora, a execu- de março de 2010 e transitou em embargos de declaração, com o ção dos valores. julgado em 5 de julho. fim de viabilizar eventuais recursos aos tribunais superiores. Processo 2004.34.00.005987-0 Processo 2003.34.00.007822-2 (Incorporação de quintos. Acu- (Reajuste de 28,86% - pagamen- Processo 2004.34.00.005986-7 mulação de vantagens da reda- to dos atrasados) (Licença-prêmio. Conversão em ção original do art. 62 e do art. O processo, cuja sentença é pecúnia) 192, II, Lei 8.112/90) favorável à ADB, havia sido inicial- Em 1ª grau, foi proferida sen- O processo, cuja sentença aco- mente distribuído ao Desembar- tença favorável à ADB. A Associa- lheu o pedido da ADB parcialmente, gador Federal Luiz Gonzaga ção recorreu da sentença foi redistribuído, em setembro de Barbosa Moreira, redistribu- no tocante à questão 2009, para a juíza federal Convoca- ído ao Desembarga- da prescrição. No julga- da Mônica Sifuentes, da Segunda dor Federal Carlos mento, cuja relatora foi Turma do Tribunal Regional Federal Olavo, novamente a desembargadora fede- da 1ª Região. Uma nova redistribui- redistribuído ao ral Neuza Maria Alves ção ocorreu no dia 31 de agosto de Juiz Federal da Silva, da Segunda 2012: o responsável pelo julgamen-

2 2 | B oletim da A D B Relatório Jurídico to agora é o juiz federal Convocado Federal. Recentemente, a ação foi Processo 2005.34.00.022147-4 Murilo Fernandes de Almeida. remetida para a chamada área de (Auxílio alimentação. Reajuste. triagem Mutirão Judiciário em Dia. Isonomia entre os servidores Processo 2004.34.00.006123-6 O processo foi redistribuído ao juiz ativos) (EC 41: contribuição previdenci- federal convocado Miguel Ângelo O processo em apreço, que ária sobre inativos) que, no dia do julgamento, retirou conta com sentença contrária à O processo conta com sentença o processo de pauta para que a ADB, foi distribuído ao desembar- contrária à ADB. Foi redistribuído Autora pudesse melhor provar sua gador federal Francisco de Assis ao desembargador federal Reynal- legitimidade ativa. A ADB peticio- Betti, da Segunda Turma do Tribu- do Soares da Fonseca e aguarda nou para incluir no processo outros nal Regional Federal da 1ª Região, julgamento da Apelação. Recente- documentos com esse fim e, em e está com o relator para o julga- mente, a ação foi remetida para a seguida, o processo foi remetido mento da apelação da ADB. chamada área de triagem Mutirão à Advocacia da União, de que se Judiciário em Dia. O processo foi espera manifestação. Processo 2005.34.00.034739-0 atribuído ao juiz federal convoca- (EC 41. Cobrança retroativa de do Leão Aparecido Alves. Em 15 de Processo 2005.34.00.022146-0 contribuição previdenciária para fevereiro de 2012, a Turma negou (Incorporação de quintos/déci- aposentados e pensionistas) provimento à apelação da ADB e o mos) Foi prolatada sentença, que jul- processo transitou em julgado. O processo julgou procedentes gou o pedido da ADB improceden- todos os pedidos formulados. Em te. A ADB recorreu da sentença. segunda instância, foi dado parcial No Tribunal Regional Federal da 1ª Processo 2004.34.00.011213-0 provimento à apelação da União, Região, o processo foi distribuído (GDAD – Lei 10.479/02 – apo- para reconhecer a prescrição quin- ao desembargador federal Reynal- sentados e pensionistas – direi- quenal e alterar os valores anterior- do Fonseca, da Sétima Turma. A to à gratificação) mente fixados a título de honorá- Procuradoria da República já se Trata-se da segunda ação com rios e a taxa de juros moratórios. pronunciou e o processo se encon- o mesmo objeto para os novos filia- O Tribunal Regional Federal da 1ª tra no Gabinete do relator, onde dos, que possui sentença favorável Região manteve o entendimento de aguarda relatório e voto. à ADB e inicialmente havia sido dis- que as incorporações de quintos/ tribuído ao desembargador fede- décimos são devidas aos substitu- Processo 2006.34.00.012579- ral Luiz Gonzaga Barbosa Morei- ídos da ADB na presente ação. A 1 (Contribuição previdenciária ra, redistribuído ao desembargador União, então, apresentou Embar- de aposentados e pensionistas. federal Carlos Olavo, novamente gos de Declaração, que foram Ausência de lei regulamentado- redistribuído para o juiz federal con- rejeitados. Inconformada, interpôs ra. Lesão aos princípios da lega- vocado Rodrigo Navarro de Oliveira, Recurso Especial, que, por deter- lidade tributária e da noventena) e mais uma vez distribuído ao Juiz minação do Vice-presidente do Foi proferida sentença na qual Federal convocado Marcos Augus- TRF 1ª Região, ficará sobrestado o juiz extinguiu o processo sem jul- to de Sousa, da Primeira Turma até o julgamento de três recursos gamento do mérito, por entender do Tribunal Regional Federal da 1ª especiais pelo Superior Tribunal de equivocadamente que há litispen- Região, e aguarda o julgamento Justiça, que servirão de paradigma dência. A ADB interpôs recurso de das apelações da ADB e da União sobre o tema. apelação. No TRF da 1ª Região, os

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autos foram distribuídos à desem- teria havido perda de objeto. Incon- o juízo julgou improcedente o pedi- bargadora federal Maria do Carmo formada com essa sentença, a ADB do da ADB. A Associação, então, Cardoso e aguardam julgamento. apresentou recurso de Apelação. O apresentou recurso de apelação. A recurso, respondido pela União, foi União manifestou-se em suas con- Processo 2007.34.00.043330-6 remetido ao Gabinete da Desem- trarrazões e os autos, então, foram (Licença-prêmio. Conversão em bargadora Federal Neuza Alves, remetidos ao TRF 1ª Região, onde pecúnia) que deverá proferir relatório e voto foram distribuídos à Desembarga- O processo foi distribuído ao em breve. dora Federal Ângela Catão. juiz de primeiro grau da 17ª Vara da Justiça Federal. No dia 02 de Processo 2009.34.00.013799- Processo 2009.34.00.023036- abril foi prolatada sentença que 2 (Remuneração por subsídios. 1 (Contribuição Previdenciária. julgou procedentes os pedidos da Absorção da parcela comple- Conversão da aposentadoria ADB. No entanto, o Juízo da 17ª mentar) proporcional em integral) Vara declarou a prescrição do direi- O processo foi distribuído ao O processo em questão foi dis- to dos associados relacionados no juiz de primeiro grau da 22ª Vara tribuído ao juiz de primeiro grau feito que se aposentaram no quin- da Justiça Federal. O juiz, após a da 3ª Vara da Justiça Federal e a quênio anterior à propositura da manifestação da União, indeferiu União, citada, já apresentou sua ação. A ADB e a União apelaram da o pedido de liminar e determi- contestação. O Ministério Públi- sentença: a primeira, em relação à nou que as partes apresentassem co também se manifestou, assim prescrição apontada pelo juiz do suas razões finais, o que foi rea- como a ADB, que já apresentou primeiro grau; a segunda, quanto lizado. Em 2 de agosto, foi prola- sua réplica. Atualmente, aguarda- ao mérito da questão. As apelações tada sentença que julgou impro- se prolação de foram respondidas e o processo cedentes os pedidos da ADB. sentença. remetido ao Tribunal Regional Fede- Em 20 de agosto, foi interpos- ral da 1ª Região. Recentemente, o ta apelação dessa sentença. Os processo redistribuído por suces- autos foram remetidos ao TRF 1ª são ao recém-empossado Desem- Região. Recentemente, o bargador Federal Kássio Marques. processo foi redistribuído por sucessão ao recém- Processo 2008.34.00.006072-9 empossado Desembargador (GDAD – Direito à gratificação. Federal Kássio Marques. Aposentados e Pensionistas) O processo em questão foi dis- Processo 2009.34.00.013800- tribuído ao eminente Juiz de Pri- 7 (Revisão geral dos servidores meiro Grau da 8ª Vara da Justiça públicos. CF, art. 37, X. Incorpora- Federal. A União apresentou sua ção dos 13,23%) contestação e a ADB, sua réplica. O processo em questão foi dis- Em seguida, manifestou-se o MPF tribuído ao juiz da 15ª Vara da Jus- sobre o pedido. Em julho de 2007, tiça Federal. A seu pedido, a ADB foi prolatada sentença, que extin- emendou a inicial. A União foi, guiu o processo, sem julgamento então, citada e apresentou contes- de mérito, ao fundamento de que tações. Em prolação de sentença,

2 4 | B oletim da A D B Assembleia ADB Momento de renovação Assembleia é marcada pela eleição da nova diretoria e pela grande presença de jovens diplomatas

Rafael Nascimento

19ª Assembleia Geral mais experientes da entidade, que dente da instituição, bem como aos Ordinária da Associação apostam suas fichas nas ideias diretores Carlos Augusto Loureiro Ados Diplomatas Brasilei- inovadoras e no ímpeto desses de Carvalho, Adriano Silva Pucci, ros elegeu, em novembro, a nova jovens diplomatas. Pedro Paulo Hamilton e João Frede- diretoria para o biênio 2013-2014, Os secretários Fabrício Araú- rico Abbott Galvão Junior. A posse e dois diplomatas da nova geração jo Prado e Pedro Alexandre Penha será em fevereiro de 2013. agora fazem parte do corpo dire- Brasil, ambos de 31 anos, se jun- A ADB passou por ciclos ins- tor da ADB. A renovação é vista tam ao embaixador Guy M. de Cas- titucionais ao longo dos 21 anos com bons olhos pelos integrantes tro Brandão, reeleito como presi- de existência e agora vislumbra a

B oletim da A D B | 2 5 Assembleia ADB

possibilidade de absorver cada vez “Estou disposto a entender como mais jovens diplomatas no seu qua- funciona a associação e com ímpe- dro. O momento é de aliar a vivên- to de discutir aspectos fundamentais cia dos profissionais mais antigos para todos os diplomatas brasileiros. com a vontade dos representantes dessa nova geração de diplomatas. Precisamos ir além das conversas nos “A incorporação de jovens no traba- corredores e participar um pouco mais lho da ADB é um evento auspicioso. das discussões” Eles terão três décadas ou mais pela frente para construir algo positivo e Fabrício Araújo, diretor recém-eleito da ADB renovador para a categoria”, avalia o ministro Paulo Roberto de Almeida. a postura dos jovens diplomatas O embaixador Cláudio de Sote- que se ofereceram para participar ro Caio concorda com o presidente Jovens diplomatas – Fabrício da diretoria da entidade. “Estou da ADB. “Antes, era um punhado Araújo Prado, um dos novos dire- muito feliz por ver jovens colegas de aposentados na ativa quem par- tores da ADB, destacou como com esse ímpeto. Vocês podem ticipava das assembleias. Agora, pretende atuar pelos próximos fazer mais do que nos fizemos, no é de se louvar a presença des- dois anos em defesa dos interes- sentido de ação conjunta. Podem ses jovens diplomatas aqui, com ses da categoria. “Estou dispos- aumentar o coeficiente de conver- ideias novas e posturas inovado- to a entender como funciona a gência entre nós”, declara. ras”, parabeniza. associação e com ímpeto de dis- A composição da diretoria ani- cutir aspectos fundamentais para mou o embaixador Guy M. de Cas- Assuntos deliberados – Além todos os diplomatas brasileiros. tro Brandão. O presidente da ADB de eleger os representantes da Precisamos ir além das conversas considerou histórica a assem- ADB para os próximos dois anos, a nos corredores e participar um bleia, não só pelo fato de haver assembleia também discutiu outros pouco mais das discussões”, diz. integrantes da nova geração de assuntos de interesse da categoria. O outro novato na diretoria, o diplomatas na diretoria, mas em Os diplomatas presentes na sessão secretário Pedro Alexandre Penha decorrência da participação ativa votaram a favor de que se fosse Brasil, acredita que com o diálogo de jovens profissionais na reu- impetrada ação judicial referente permanente pode convencer os nião, fato que não acontecia há à não incidência do Imposto de novos diplomatas a ingressar na pelo menos 12 anos. Renda sobre o terço constitucional ADB. “A associação representa a “Como Presidente reeleito da de férias. categoria muito bem. Como mais ADB, não poderia eu”, disse o Outro ponto aprovado na reunião de 40% dos diplomatas são de tur- Embaixador Guy Brandão, ”ter foi o mandado de injunção para a mas dos últimos dez anos, é uma melhor presente de Ano Novo, que revisão geral anual dos vencimentos bela oportunidade de fazer essa ver realizada uma de minhas princi- e proventos. renovação acontecer”, projeta. pais metas, quando eleito em 2010: O último assunto deliberado foi O embaixador Oscar Soto a de passar a nossa Associação a sobre a equiparação da remunera- Lorenzo Fernandes, presidente do contar com a progressiva colabora- ção entre ministros de segunda e Conselho Fiscal da ADB, valorizou ção de jovens diplomatas”. primeira classes no quadro especial.

2 6 | B oletim da A D B Memorial O HISTORIADOR HÉLIO JAGUARIBE

Sérgio F. G. Bath Embaixador

élio Jaguaribe (de Mat- condicionadas por circunstâncias devem ter perguntado: “Este Jagua- tos) nasceu no Rio de especiais ou se fatores semelhantes ribe é alemão? Francês? America- HJaneiro em 1923 e com- produzem consequências equivalen- no?” Devem ter achado estranho pletará 90 anos em 2013. Todos tes em diferentes civilizações e perí- que um brasileiro escrevesse sobre o conhecemos como sociólogo e odos históricos”. Recorreu à Unes- história universal. cientista político, mas se formou co, cujo diretor-geral, o espanhol Conhecendo de perto o valor do em Direito pela Pontifícia Univer- Federico Mayor, com seu prestígio livro, durante alguns anos o procu- sidade Católica (PUC) do Rio de e visão ecumênica, apoiou plena- rei em vão nas boas livrarias. Janeiro e, creiam-me, é um histo- mente o empreendimento. O texto Em que consiste esse valor? riador. Melhor dito, um filósofo ou contou com a colaboração de espe- Passo a palavra ao professor Jean sociólogo da história. cialistas na África, nas Américas Bottéro, estudioso da Mesopotâmia, Tem uma só obra nesse campo, pré-Colombo, no Islã, na Índia e no que com outros especialistas comen- porém corpulenta: os dois volu- Renascimento europeu. tou o sucesso do empreendimento mes de Um estudo crítico da his- Ao me convidar para transpor nas avaliações (algumas restritivas) tória (Paz e Terra, 2001) abrangem esse extenso material para a língua que constam do segundo volume: 1.472 páginas. portuguesa, Jaguaribe qualificou “Não há dúvida de que longas Prudente, o leitor pode chegar a modestamente a sua perícia na exposições históricas como esta este ponto com certa dúvida, que redação inglesa, dizendo que tinha são indispensáveis aos leitores se adensará quando eu disser: sei usado uma forma moderna de espe- sérios [...]. Até mesmo os espe- o que estou dizendo, porque esses ranto – o “United Nations English”. cialistas [...] sentem uma necessi- dois volumes foram traduzidos por Na verdade, redatores profissionais dade real dessas sínteses. Porque, mim. Como, traduzir Jaguaribe? revisaram o texto, e poucos tradu- pela sua atitude profissional eles Será uma insinuação à complexida- tores terão tido a minha sorte, pois só veem as coisas que conhecem de da sua linguagem? ao longo de quase um ano contei bem [...]. Por isso é salutar [...] des- Explico-me: em 1994, Jaguaribe com a colaboração pronta do autor, viar os olhos para deter-se diante decidiu escrever uma “sociologia da que, no Rio de Janeiro ou em Petró- dos quadros de um horizonte mais história” – um amplo projeto, que polis, analisava e discutia com tole- amplo [...]. Podem assim, como levaria alguns anos e precisaria de rância minhas sugestões. todos os outros leitores, reviver apoio técnico e material. O objetivo Publicada em 2001 a obra não e renovar menos os seus conhe- seria, nas suas palavras, “elucidar foi um sucesso de livraria. Como cimentos pontuais do que a sua os principais fatores e condições previsto, de modo geral os historia- visão geral das coisas, percebendo, que têm influenciado a emergência, dores patrícios não se entusiasma- nesses grandes afrescos coloridos, o desenvolvimento e possível deca- ram com o recém-chegado à sua o esquema integral do progres- dência de 16 civilizações principais, área. E os estrangeiros, que por- so interminável do país onde se e determinar se as civilizações são ventura dela tenham tido notícia, encontram, imersos no trabalho.”

B oletim da A D B | 2 7 Artigo Renato Mendonça: um intelectual na diplomacia

Paulo Roberto de Almeida Vice-presidente executivo da ADB

Casa do Penedo, fundação Logo após ingressar na carrei- alagoana que homenageia ra consular, tendo vários anos de AFrancisco Inácio de Carva- regência de português no Colé- lho Moreira, o Barão do Penedo – gio Pedro II, Renato Mendonça ministro do Brasil em Washington, publicou, em 1936, O Português em 1852, e depois, por várias déca- do Brasil: Origens, Evolução, Ten- das, em Londres, a partir de 1855, dências (premiado pela Acade- até o final do Império – organizou, mia Brasileira de Letras), a que se em outubro de 2012, em Maceió, seguiram diversos trabalhos sobre um seminário acadêmico que feste- a cultura africana do Brasil. Em jou os cem anos de nascimento de 1937 organizou um volume dos Renato Firmino Maia de Mendonça, Anais do Itamaraty, com a docu- diplomata nascido igualmente em mentação relativa à Guerra do Alagoas, mas em Pilar, em 23 de Paraguai e um estudo diplomático dezembro de 1912, autor da clássica sobre a Missão Paranhos no Prata biografia de Carvalho Moreira, publi- (1879-1870); esse trabalho sobre cada originalmente em 1942. o Visconde lhe permitiu introduzir Na ocasião, o presidente da a biografia que o Barão fez do pri- Funag, embaixador José Vicente Ciências e Letras (1931) – tendo meiro Rio Branco (Rio de Janeiro, Pimentel, lançou a quinta edição do obtido, em 1935, o de bacharel em 1944). A essa altura, ele já tinha primeiro livro de Renato Mendonça, Ciências Jurídicas pela Faculdade voltado de seu primeiro posto, a A Influência Africana no Português de Direito do Rio de Janeiro –, Rena- embaixada em Tóquio, e partido do Brasil, publicado em 1933 (ver to Mendonça já destacava o impac- novamente para o México, onde Prata da Casa), quando o jovem to da cultura negro-africana na for- se encontrava quando foi publi- autor de 21 anos ainda não tinha mação social do Brasil. Publicou cado Um Diplomata na Corte de ingressado no serviço exterior. Ele duas dezenas de obras, geralmente Inglaterra (O Barão do Penedo e o fez em 1934, como “cônsul de 3ª em temas históricos e diplomáti- sua época), integrando a prestigio- classe”, mediante concurso no qual cos, com incursões na linguística sa coleção Brasiliana. foi também admitido João Guima- e na antropologia. A Funag planeja A biografia de Carvalho Moreira rães Rosa (nascido em 1908). Rena- republicar sua História da Política constitui o magnum opus de Renato to Mendonça se aposentou no final Exterior do Brasil (1500-1822): do Mendonça, hoje em terceira edição de 1977, após 43 anos de serviços Período Colonial ao Reconhecimento pelo Senado Federal (2006). O autor contínuos, e veio a falecer no Rio de do Império, cuja única edição ocor- reconhece que “talvez se tenha Janeiro, em 25 de outubro de 1990. reu no México, em 1945, pelo Ins- excedido em transcrições documen- Ao conquistar, pelo Colégio D. tituto Pan-Americano de Geografia tárias”, mas justifica o fato pela exis- Pedro II, o título de bacharel em e História. tência de “correspondência vastís-

2 8 | B oletim da A D B Artigo

sima”, examinada ao longo de qua- De volta ao Brasil, trabalhou, ao publicou, em 1959, Brésil, Pages tro anos de manipulação de “mais longo de 1954, em temas vincula- d’Histoire) e no consulado em Ams- de trezentos maços e pacotes” no dos à Escola Superior de Guerra: terdam, quando deu início a uma Arquivo Penedo do Itamaraty. daí resultou seu último grande livro: coleção de mapas e de peças car- Na mesma época em que era Fronteira em Marcha. O trabalho, tográficas de arte. Serviu ainda na publicada essa obra, Renato Men- enviado anonimamente para um embaixada em Santiago e no con- donça começou a dar aulas de Por- concurso promovido pelo Ministé- sulado em Valparaíso. tuguês e de Literatura Brasileira na rio da Guerra, combinava diferentes No período final de sua carreira Universidade Nacional do México, vertentes da pesquisa acadêmica: a serviu como embaixador na Índia fundando ali a Cátedra de Literatura história diplomática, desde as anti- (1965) e em Gana (de 1970 a 1971). Brasileira. Aproveitou para publicar gas lutas entre os impérios espa- Desde 1972, de retorno ao Brasil, dois outros livros: um de sua auto- nhol e português na América do Sul; foi colocado à disposição do Minis- ria exclusiva, sobre a história do a geopolítica regional, com a proble- tério da Educação e Cultura, no Rio Brasil – Pequeña Historia de Brasil mática da abertura dos rios interna- de Janeiro, onde continuou impul- (1944) – e um outro, sobre a cultura cionais; e política internacional, de sionando projetos educacionais e brasileira, elaborado em coautoria forma mais conjuntural. A obra foi culturais. Aposentou-se em dezem- com intelectuais mexicanos e bra- agraciada em 1955 com o Prêmio bro de 1977, na idade limite então sileiros. Ainda no México, vieram a Tasso Fragoso, tendo conhecido estabelecida para a compulsória: público uma antologia em espanhol duas edições imediatas. 65 anos; mas permaneceu como de escritos de Ruy Barbosa e o já Fronteira em Marcha represen- assessor especial do MEC até 1978. citado primeiro tomo do que seria tava, segundo o autor, “a concre- Viveu seus últimos anos de vida em uma trilogia sobre história da políti- tização de vários anos de estudo seu apartamento da Lagoa, cercado ca exterior do Brasil. em torno dos problemas da política de livros, vindo a falecer em 1990, Dois meses depois de sua pro- exterior do Brasil e da solução geo- aos 78 anos de idade. moção a primeiro secretário, em política, encontrada pelo Império Foi membro da Sociedade Bra- dezembro de 1945, era removido durante o período vital da formação sileira de Direito Internacional, da para o Consulado no Porto: sua brasileira”. Dividida em três partes, Academia Carioca de Letras, do Pen Pequena História do Brasil foi então a obra cuida primeiro das “origens”, Club, sócio efetivo do Instituto His- editada em Portugal. Mas já no ou seja da formação da América tórico e Geográfico Brasileiro, sócio segundo semestre de 1948, Renato Portuguesa e da América Espanho- honorário do Instituto Histórico e Mendonça seguia para a Embaixada la, passando pela delimitação de Geográfico de Alagoas e membro em Madri: em abril de 1950 foi con- 1750 (desfeita pouco tempo depois, correspondente da Real Academia vidado para dar um curso de verão mas preservada na prática nas de História da Espanha, ademais sobre o Brasil na Universidade de dimensões quase atuais do Brasil) e de ter sido agraciado com numero- Santiago de Compostela; três meses traçando um paralelo entre os colo- sas outras honrarias diplomáticas e depois, foi eleito para a Real Acade- nizadores espanhóis e lusitanos. intelectuais. Por todas essas razões mia de História, uma das instituições A segunda parte trata da projeção pode-se saudar, no ano de seu cen- de maior tradição e prestígio cultural continental do Império do Brasil, de tenário de nascimento, a persona- na Espanha. Ao mesmo tempo, era 1828 a 1853, e a terceira aborda lidade de Renato Mendonça como editado em Madri, em nova versão, sobretudo questões de segurança um diplomata accompli, um dedica- sob o título de Breve historia del Bra- estratégica, nos planos mundial e do homem de letras e um grande sil, o pequeno manual publicado no continental, refletindo posturas da historiador self-learned, o que, no México em 1944. Em 1951, integrou Guerra Fria, como o tradicional ali- conceito de muitos, poderia aproxi- o jurado dos prêmios “Cultura His- nhamento com os EUA. má-lo daquela categoria de intelec- pânica” em Sociologia do Instituto Foi em seguida para dois pos- tuais que os ingleses chamam de de Cultura Hispânica. tos na Europa: em Bruxelas (onde Renaissance man.

B oletim da A D B | 2 9 Prata da Casa

MENDONÇA, Renato. A influência africana no português do Brasil. Bra- sília: Funag, 2012, 195 p. ISBN 978-85-7631-399-1.

Quinta edição de obra publicada em 1933, quando seu autor, um jovem de apenas 21 anos, passava no concurso para cônsul de ter- ceira classe. Comemorando os cem anos de seu nascimento, a obra tem apresentação do embaixador Alberto da Costa e Silva e prefácio da professora Yeda Pessoa de Castro, especialista na área. O livro ganhou o prêmio Erudição da Academia Brasileira de Letras, tendo sido prefaciado por Rodolfo Garcia, da Biblioteca Nacional. Metade do texto é uma incursão, hoje datada, pela etnografia e linguística africana, seguida de uma breve história do tráfico, da identificação dos povos importados e da fonética e da morfologia do Quimbundo, ademais de estudos sobre a influência africana na língua, no folclore e na literatura; a outra metade é o vocabulário, propriamente dito. Uma bibliografia rica completa este trabalho que marcou época.

MARQUES, Renato L. R. Duas décadas de Mercosul. São Paulo: Adua- neiras, 2011, 371 p. ISBN 978-85-7129-581-0.

Segunda edição de obra publicada pessoalmente pelo autor, em 2010, cobrindo os anos 1989-1999, e que agora vem ampliada com capítulo ini- cial, elaborado em 2011, fazendo uma síntese da trajetória do Mercosul, nos seus primeiros vinte anos. Mais do que uma reconstituição histórica, trata-se do depoimento de um negociador que teve papel destacado na conformação do que foi o Mercosul comercial, até o bloco ser desvia- do para objetivos mais políticos a partir de 2003. O texto de síntese introdutória oferece, em suas 90 páginas, um relato das diversas etapas vencidas, das dificuldades enfrentadas e das razões pelas quais o Mer- cosul adotou o seu formato de união aduaneira incompleta, de natureza intergovernamental. Obra essencial para todo historiador que pretenda escrever a história real, não alguma fábula ideal, sobre o Mercosul em sua verdadeira essência.

3 0 | B oletim da A D B Prata da Casa

MENEZES, Adolpho Justo Bezerra de. O Brasil e o mundo ásio-africano. Brasília: Funag, 2012, 372 p. ISBN 978-85-7631-387-8.

Publicado originalmente em 1956 e legítimo predecessor da atual política Sul-Sul, o livro em questão foi a primeira – e durante muitos anos a única – análise das duas regiões do ponto de vista da diploma- cia brasileira, não apenas circunscrita às realidades coloniais então predominantes nos continentes africano e asiático, uma vez que tam- bém trata das primeiras conferências (Colombo, Bogor, Bandung) que marcariam a era pós-colonial. Reconhece a liderança americana, mas fala de uma futura liderança brasileira, propondo medidas para a atua- ção diplomática brasileira nas duas regiões, inclusive no que se refere a uma comunidade luso-brasileira, antecipando também, portanto, os esforços atuais em torno da CPLP. São transcritos trechos de docu- mentos oficiais, mas também testemunhos recolhidos pessoalmente pelo autor, o que converte o livro, na prática, em fonte primária.

MARIZ, Vasco. Depois da glória: ensaios históricos sobre personalida- des e episódios controvertidos da história do Brasil e de Portugal. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012, 376 p. ISBN 978-85-200-1058-7.

Conhecido historiador, fino analista e alto vulgarizador da música, da cultura e da diplomacia do Brasil, o autor teve uma carreira diplomática exemplar, desde 1945, em postos importantes, nos quais sempre divulgou as coisas do país, para dentro e para fora. A oito anos de seu centenário, Vasco Mariz nos brinda com ensaios já publicados em revistas e com con- ferências em torno do que fizeram 18 personagens escolhidas (de Cabral a Nabuco) depois que alcançaram fama e prestígio públicos. Muitos deles são nossos velhos conhecidos, portugueses, brasileiros ou estrangeiros (como Estácio de Sá, Vieira ou Nassau), mas alguns são relativamente ignotos, como o general italiano Giovanni di Sanfelice, Conde de Bagnuoli, que sal- vou a Bahia dos holandeses de Nassau, justamente, mas a serviço da coroa espanhola. Sabem os baianos que ele chegou a ser designado governador provisório de Salvador? Vasco Mariz nos revela essa e outras criosidades.

B oletim da A D B | 31 Prata da Casa

SILVA, Silvio José Albuquerque. As Nações Unidas e a luta internacional contra o racismo. 2a ed. Brasília: Funag, 2011, 292 p. ISBN 978-85- 7631-338-0.

O multilateralismo contemporâneo foi transitando gradualmente dos grandes temas interestatais para assuntos humanitários, entre eles o do racismo. Esta tese de CAE analisa os resultados da conferência de Durban (2001) sobre o racismo e a xenofobia, com ênfase na atuação diplomática brasileira, antes, durante e depois, até a conferência de revisão, quase uma década após. Esse período correspondeu à aceleração das próprias políti- cas nacionais de caráter afirmativo, com intensa mobilização dos militantes negros, num ativismo emulado pelo grupo africano no plano multilateral, ambos pretendendo algum resgate de “dívidas históricas”. José Augusto Lindgren Alves, especialista na questão e favorável às medidas especiais, acredita que essas demandas, se postuladas de forma exagerada, podem causar uma sucessão de cobranças de uns povos contra outros, para a maior infelicidade de todos. O racismo tem muitas faces, sem dúvida.

BEZERRA, Gustavo Henrique Marques. Da revolução ao reatamento: A política externa brasileira e a questão cubana (1959-1986). Brasília: Funag, 2012, 376 p. ISBN 978-85-7631-381-6.

Poucos temas diplomáticos, ou políticos, foram, e são, tão passionais, no espectro ideológico, interno e externo, quanto a revolução cubana e as reações do Brasil em relação aos rumos do único regime marxista do hemisfério. Cuba é, ao mesmo tempo, um assunto diplomático e de polí- tica interna, com todas as paixões associadas a esse dossiê, que começa em 1959 e vem aos nossos dias. Esta tese de CAE, revista e ampliada, segue o relacionamento bilateral e as implicações da revolução cubana durante a Guerra Fria, desde o ano inaugural da revolução até o reata- mento em 1986, passando pelas crises de 1962 (suspensão de Cuba da OEA e crise dos mísseis soviéticos) e pelo rompimento, em 1964. Modelo de pesquisa histórica, e de apresentação de documentos diplomáticos, a nova obra é metodologicamente impecável, perfeita no plano redacional e excepcional no desenvolvimento do argumento.

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Diretoria da ADB Embaixador Guy M. de Castro Brandão – Presidente Ministro Paulo Roberto de Almeida – Vice–presidente executivo Ministro Carlos Augusto Loureiro de Carvalho – Diretor Conselheiro Adriano Silva Pucci – Diretor Secretário Rômulo Milhomem Freitas Figueira Neves – Diretor

Conselho Fiscal Embaixador Oscar Soto Lorenzo Fernandez - Presidente Conselheiro Francisco Hermógenes de Paulo Conselheiro Murillo Basto Júnior

Secretariado da ADB Gerente administrativo: Térsio Arcúrio Assistente administrativa: Jacqueline Francisca da Cruz

ADB Boletim da Associação dos Diplomatas Brasileiros Ano XIX – nº 79 Edição Outubro/Novembro/Dezembro 2012 – ISSN 0104–8503

Conselho Editorial Guy M. de Castro Brandão Paulo Roberto de Almeida Adriano Silva Pucci Carlos Augusto Loureiro de Carvalho Rômulo Milhomem Freitas Figueira Neves

Reportagem Ciléia Pontes, Danielle Santos, João Paulo Biage e Rafael Nascimento

Edição Patrícia Cunegundes e Adriana Mendes

Revisão Joíra Coelho

Projeto Gráfico Fabrício Martins e Wagner Ulisses

Capa Alex Amorim

diagramação Fabrício Martins

Impressão Athalaia Gráfica e Editora

Tiragem 3 mil exemplares

Diretora responsável Patrícia Cunegundes (61) 3349 2561 ADB – Associação dos Diplomatas Brasileiros Ministério das Relações Exteriores – Esplanada dos Ministérios Palácio do Itamaraty, Anexo I, 3º andar, sala 329–A 70170–900 – Brasília – Brasil Fones: (61) 2030 6950 e 3224 8022 Fax: (61) 3222 0504 www.adb.org.br – e–mail: [email protected]