A Televisão No Espírito Santo – Trajetória Histórica E Conexões
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A Televisão no Palabras clave: Televisión, Historia, Espírito Santo. Espírito Santo – Introdução Trajetória histórica A televisão chegou atrasada às terras do Espírito Santo. E isso depois de aportar em terras brasileiras com e conexões retardo bastante efetivo com relação aos centros desen- volvidos do mundo daqueles meados do século XX que socioeconômicas e assistiram ao nascimento da TV. Chegada TV Tupi nas terras tupiniquins em 18 políticas do modelo de setembro de 1950, pelas mãos de empresário Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados, um gigantes- José Antonio MARTINUZZO1 co grupo midiático do século XX no Brasil, o negócio Resumo: O artigo reúne informações sobre a histó- televisivo se desenvolveu sem parar. ria da televisão aberta no Estado do Espírito Santo, dos Cresceu em linha sempre ascendente, partindo primórdios, na década de 1960, à atualidade. A emissão da necessidade de se importar algumas dezenas de apa- televisiva chegou às terras capixabas com um delay de 12 relhos para garantir audiência nos primórdios da Tupi, anos com relação à inauguração da TV no País, ocorrida passando pela criação de redes nacionais, ainda nos anos em 1950, e vem marcando uma trajetória de íntima co- 1950, chegando à presença obrigatória na quase totalida- 2 nexão com as estruturas de poder político-econômico. A de dos lares brasileiros , com um negócio que abocanha 3 TV comercial no Estado desempenha quase fielmente o a maior fatia publicitária no País . papel de retransmissora das emissoras nacionais, sedia- As redes nacionais de TV, que passariam a con- tar com a Globo nos anos 60, e o SBT e Bandeirantes das em São Paulo e no Rio de Janeiro, com limitada pro- 21 dução local. Reverbera o padrão nacional de concentra- nos anos seguintes, estiveram na origem do negócio de ção e vinculação a grupos historicamente hegemônicos. televisão no Espírito Santo. Perifericamente antenada a Palavras-chave: Televisão; História; Espírito Santo. 2 Segundo dados da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2008, no Brasil, 95,1% da população tinha Resumen: El documento presenta información sobre equipamento de TV nos domicílios. O Estado do Espírito Santo apresentava índice superior, com a presença de aparelhos de televisão la historia de la televisión comercial en el estado del Espí- em 97% das residências particulares permanentes. Cf. www.ibge.gov. rito Santo, de los comienzos, en la década de 1960, hasta br. Acesso 23 mar 2012. el presente. La transmisión llegó a la tierra capixaba con 3 Em 2011, o mercado publicitário brasileiro movimentou R$ 39,03 un retraso de 12 años con respecto a la inauguración de bilhões, um crescimento de 8,5% em relação ao resultado de 2010. Os dados foram divulgados, em 03 de março de 2012, pelo grupo Meio & la televisión en el país, en 1950, y está marcando un ca- Mensagem (M&M) e a consultoria PricewaterhouseCoopers. O setor mino de íntima conexión con las estructuras de poder cresceu mais que o PIB do ano passado, que ficou em 3%. A expec- político y económico. La televisión comercial capixaba és tativa é que o mercado publicitário cresça 9% neste ano. Os investi- repetidora de cadenas nacionales, con sede en São Paulo mentos em mídia somaram R$ 31,6 bilhões no ano passado, sendo o restante consumido com produção comercial. A televisão aberta y Rio de Janeiro, con la producción local limitada. Rever- ampliou em 9,2% sua receita publicitária e se manteve em 2011 como bera la norma nacional de concentración e vinculación a o meio de comunicação que mais recebeu recursos de anunciantes no los grupos históricamente hegemónicos. Brasil. Ao todo, as emissoras levaram 63,3% do bolo publicitário. O jornal foi o segmento com a segunda maior participação, 11,8% do total. O maior crescimento nos investimentos publicitários entre os 1 Professor do Curso de Comunicação Social da Universidade Federal meios foi na internet. A verba publicitária nos veículos on-line subiu do Espírito Santo. Doutor em Comunicação pela UFF. Mestre em 19,6% em 2011 e elevou a participação de mercado do segmento para Comunicação, Imagem e Informação (UFF). Coordenador e pesqui- 5,1% do total. Cf. https://conteudoclippingmp.planejamento.gov. sador do grupo Sociedade Midiatizada e Práticas Comunicacionais br/cadastros/noticias/2012/3/5/mercado-publicitario-brasileiro- Contemporâneas (UFES). [email protected], martinuzzo@hot- cresce-8-5. Acesso 23 mar 2012. mail.com Revista Brasileira de História da Mídia (RBHM) - v.1, n.2, jul.2012 / dez.2012 - ISSN 2238-3913 (versão impressa) 2238-5126 (versão online) cadeias nacionais, o empreendimento televisivo fez as e progresso”, o Estado pôde avançar pouco. Realizações primeiras emissões nas terras capixabas em 1962. um pouco mais relevantes se registram apenas nas pri- Mas antes de chegar a esse tópico central, é pre- meiras décadas do século XX, principalmente após 1908, ciso mapear as terras capixabas e perceber que atraso pa- com a convergência de interesses das elites político-eco- rece ser uma marca de seu processo de desenvolvimento, nômicas locais. ainda que, ou exatamente por isso, esteja localizado no Durante a República Velha, os esforços se de- Sudeste, vizinho dos maiores centros do País. ram em torno do adensamento populacional do interior; Após a demarcação da trajetória da TV no Es- da oferta de infra-estrutura para escoamento da produ- pírito Santo, procede-se a uma análise dessa caminhada ção; da modernização da economia, com instalação de a partir de conceitos como “hegemonia” e “sociedade indústrias; e da urbanização da capital, no intuito de tor- civil”, no âmbito da “sociedade midiatizada”. ná-la efetivamente o centro político-administrativo do Estado. Delay capixaba Dos anos 30 até a década de 60, o Estado viveu Apesar de encravado estrategicamente no litoral dias de alternância entre privilégio à agricultura e à indus- brasileiro, na Região Sudeste, o Estado do Espírito Santo trialização, com essa polarização explicitada nas disputas tem uma trajetória pontuada pelo desenvolvimento tar- políticas entre grupos ligados às elites de origem agrária dio em vários aspectos importantes da história nacional, e às de lastro urbano. como na área das comunicações/imprensa. Por determinantes nacionais e internacionais, Estabelecido Capitania em 1535, o Espírito San- nos anos 1960, o Estado experimentou uma mudança no to experimentou, durante o período colonial/imperial, eixo da economia. Promoveu-se a erradicação dos cafe- um tempo de desterro. Barreira verde para proteção das zais – 180 milhões de pés foram sacrificados, ou 54% do Minas Gerais, de 23 de maio de 1535 até meados do sé- total plantado. É nessa década que a TV faz a primeira aproximação com o Estado. 22 culo XIX, o Estado foi, por séculos, basicamente terra ignorada. Os governadores biônicos foram os respon- Varnhagen, citado por Bueno (1999), escreveu sáveis pela chamada “’Grande Virada’, em que de uma em 1854 que, “apesar de tão boas terras, com um porto economia predominantemente agrícola, passamos a uma excelente e rios navegáveis, a Capitania ainda permanecia essencialmente industrial e urbana”, afirma Schayder (p. sem desenvolver-se, e reduzida a uma população que não 116). medra e a um solo cujas matas-virgens estão quase to- Os grandes projetos industriais, localizados es- das sem romper-se”. Até 1880, anuncia Schayder (2002), sencialmente na Grande Vitória, transformaram o perfil “não havia ocorrido a efetiva interiorização da coloniza- socioeconômico do Estado. Com incentivos fiscais, os ção do Espírito Santo”. A ocupação “arranhava o lito- investimentos privados foram potencializados, levando à ral”. modernização da indústria e à movimentação do setor de A República, antecedida, entre outros fatos, pelo prestação de serviços e comércio. fim da escravidão e pelo estabelecimento da política de A industrialização trouxe grandes complexos de ocupação por mão de obra imigrante, trouxe uma nova infra-estrutura, especialmente portos, e uma capacidade conjuntura ao Estado, iniciando-se uma nova era da his- logística que são hoje fatores decisivos para qualquer tória espírito-santense. estratégia de comércio exterior do Brasil. A industriali- Apesar de o regime republicano ter-se instalado zação do Espírito Santo foi tardia, mas chegou com o sem mobilização popular e estar devotado aos interesses foco estratégico para o momento histórico mundial da da elite – o outro nome da República Velha (1889/1930) globalização: o comércio exterior em bases competitivas. pode ser República dos Coronéis –, mudanças existiram. Esse movimento econômico dissemi- Por exemplo, pela primeira vez, depois de séculos, o Es- nou uma nova cultura de planejamento e organiza- pírito Santo seria governado por um capixaba. ção produtiva e comercial que acabou alcançando Na nascente República brasileira, com projetos a agricultura, que, mais adiante, experimentou um de “liberdade, igualdade e fraternidade”, além de “ordem grande processo de modernização e diversificação. Revista Brasileira de História da Mídia (RBHM) - v.1, n.2, jul.2012 / dez.2012 - ISSN 2238-3913 (versão impressa) 2238-5126 (versão online) A vocação para o comércio, com o fortaleci- se teve notícia do primeiro jornal em 1840, com O Esta- mento do Espírito Santo pelo investimento em infraes- feta, que ainda por cima só publicou um único número. trutura e atividades comerciais acabou por estabelecer-se Alguma regularidade só mesmo em 1849, com O Correio na segunda metade do século XX, dando ao Estado ca- da Vitória. pixaba know-how e logística nacionalmente privilegiados Com 32 anos de atraso na cronologia dos perió- com relação à economia mundializada. dicos pioneiros em todo o País, o Estado só fica na fren- A caminhada no século XX deu ao Espírito te de Amazonas e Paraná, que se tornaram províncias Santo personalidade econômica, posição de destaque nas do Império somente em 1850 e 1853, respectivamente relações comerciais nacionais com o mundo, seja no co- (GONTIJO, 2004). mércio exterior, seja na produção de commodities que Como assinalado, esse é mais um capítulo da fazem girar a indústria mundial, seja na logística disponí- história capixaba a comprovar que o Estado experimenta vel.