A Transição Do Jornalismo Partidário Para O Jornalismo De Informação E a Formação Dos Impérios Midiáticos No Brasil

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A Transição Do Jornalismo Partidário Para O Jornalismo De Informação E a Formação Dos Impérios Midiáticos No Brasil DOI: 10.5102/uc.v11i1.2594 A transição do jornalismo partidário para o jornalismo de informação e a formação dos impérios midiáticos no Brasil The transition from partisan journalism to journalism information and the outcome of media empires in Brazil Henrique Moreira1 Resumo O presente artigo tem por objetivo discutir aspectos da construção de grandes conglomerados midiáticos no Brasil, principalmente o surgimento de empresas jornalísticas economicamente viáveis, no início do século XX. Com isso, buscamos recuperar de que maneira o jornalismo brasileiro evo- luiu de atividade subordinada a forças políticas para empreendimento de ca- ráter empresarial, e o papel desempenhado por Assis Chateaubriand e Rober- to Marinho na construção dos mais destacados impérios midiáticos de nossa história. O artigo trata, ainda, da influência do modelo norte-americano para o estabelecimento de um jornalismo empresarial e de que como essa mudan- ça se deu no Brasil. Palavras-chave: Jornalismo. História do Jornalismo. Impérios Midiáticos. Abstract The purpose of this article is to propose a reflection on the role of Baroque while autonomous language based on image able to, through the stylistic components, sense of order and concept, configure the cultural iden- tity of 21ST-century Brazil. Doctrinal content, Baroque art was used as a communicational device, a strategic tool of subjectivation of the individual who would later become the Brazilian, taking into account the objectives Eu- ropean settlers, having as reference the experience promoted by the Catholic Church during the Counter-reformation. Keywords: Journalism. History of Journalism. Media Empire. 1 Manoel Henrique Tavares Moreira. Jornalista, Mestre e Doutorando em Comunicação pela Universidade de Brasília. Professor de História do Jornalismo do Curso de Graduação em Jor- nalismo do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB) e Coordenador dos Cursos de Jor- nalismo e Publicidade e Propaganda da mesma instituição. Henrique Moreira 1 Introdução e os absurdos cometidos em nome do progresso e da ci- Buscamos, com este artigo, chamar a atenção para vilização. a necessidade de aprofundarmos uma leitura analítica De olho na rua e, ao mesmo tempo, nos salões, da história do jornalismo brasileiro no século XX, espe- João do Rio se mostrava atento aos contrastes de uma reurbanização eufórica, que perseguia, cifi camente dos aspectos até então não esclarecidos da a partir do modelo francês de civilização, o construção dos mais importantes impérios midiáticos de caminho para o progresso a qualquer custo e desconsiderava uma parcela marginalizada da nosso País e que ocupam, sem dúvida, lugar de destaque população, compulsoriamente expulsa do cen- na história universal do jornalismo. tro, rumo aos subúrbios e aos morros, onde ia Essas são questões importantes para o entendi- construir sua habitação, formando o gérmen das atuais favelas cariocas. (LEVIN, 2010, p. 13) mento das transformações por que passou o jornalismo no Brasil, a partir da segunda metade do século XIX, e de Essa aproximação da mídia com os problemas do seu papel fundamental para a construção e consolidação cidadão comum, reduzindo o espaço dedicado às intrigas de nossas instituições sociais e políticas, sua capacidade palacianas e aos conchavos políticos, levando o repórter de entender e de se deixar infl uenciar pelas profundas a “mergulhar com uma incrível curiosidade investigativa mudanças por que passava a sociedade naquele momen- nas misérias e nos prazeres palpitantes da vida comum” to, “um processo complexo, no qual estão engendradas (LEVIN, 2010), revela que os ventos de mudança que so- relações sociais, culturais, falas e não ditos, silêncios que pravam na Europa e nos Estados Unidos fi nalmente che- dizem mais do que qualquer forma de expressão” (BAR- gavam (ainda que como uma suave brisa) às redações da BOSA, 2004). Avenida Central e da Rua do Ouvidor. Essa abordagem histórica permitirá, ainda, recu- A literatura internacional dedicada à história perar o desenvolvimento do jornalismo no Brasil e enten- da imprensa costuma sublinhar fatores demo- gráfi cos e sociais para justifi car tal mudança. A der sua transição de atividade subordinada às forças que urbanização acelerada, o crescimento e a pau- dominavam o cenário político para um empreendimento perização da população residente em cidades, a concentração de homens pobres e pouco esco- de caráter empresarial, que trata a notícia como produto larizados em transportes coletivos morosos, o que precisa ser comercializado com lucro, ou seja, des- interesse dessa população por notícias sensacio- velando como se deu a mudança de um “jornalismo de nalistas seriam, enfi m, fatores que justifi cariam a emergência de um tipo novo de jornal – mais opinião” para “um jornalismo de informação” (BRIN; barato, redigido de forma simples e recheado de CHARON; BONVILLE, 2007). informações sobre crimes e esportes. (CARVA- LHO, 2012, p. 39) Em princípio, a proclamação da República, em 1889, pouco mudou no jornalismo brasileiro. Aliás, as Apesar dos novos cenários político e social ain- primeiras três décadas do novo regime pouco alteraram da estávamos longe das condições que fi zeram com que a vida do país. As instituições republicanas ainda traziam o jornalismo se constituísse numa atividade lucrativa, a certo ranço do período monárquico. Muitos dos privi- exemplo do que já ocorrera na Europa e na América do légios do velho regime continuavam em vigor e para o Norte, fazendo com que a “a imprensa opinativa ‘de par- cidadão comum as coisas praticamente não se alteraram. tido’, progressivamente, deixasse de ter expressão merca- Ainda éramos um país rural, com a economia ba- dológica”. (SOUSA, 2008, p. 144) seada numa agricultura pouco diversifi cada e nas mãos O objetivo dos novos veículos nos países centrais de uma “aristocracia” que lutava desesperadamente para passa a ser, claramente, ganhar dinheiro. E isso implicava manter o que lhe restava de poder e de dignidade. em aproximar-se do cidadão comum, afastar-se da luta De qualquer maneira, a chegada de um novo sécu- político-partidária, usar uma linguagem mais acessível, lo traz consigo ventos de mudança, tanto para a socieda- saciar a curiosidade do homem comum sobre o avanço da de quanto para o jornalismo. O Rio de Janeiro, capital da ciência, explorar o interesse pelas aberrações, pelos cri- república e cidade mais importante do país, busca se mo- mes e por outros assuntos sensacionais, além de melhorar dernizar, derrubando, literalmente, os entraves urbanos o processo de produção e aumentar as tiragens para ga- que lhe impediam de crescer, de se tornar cosmopolita. nhar com o aumento da venda avulsa. Universitas: Arquitetura e Comunicação Social, v. 11, n. 1, p. 49-57, jan./jun. 2014 11, n. 1, p. v. Social, e Comunicação Arquitetura Universitas: Os jornalistas acompanham, com muito interesse, Northclliff e [Lord] é uma das grandes fi guras 50 essa metamorfose desregrada e apontam as incoerências da história. Seu império é o primeiro da mídia A transição do jornalismo partidário para o jornalismo de informação e a formação dos impérios midiáticos no Brasil populista. Tem o toque (ajuda Joseph Pulitzer e ainda incipiente empuxo cívico, ao mesmo a criar a famosa versão tabloide do World, que tempo em que consolidava sua face mercantil surge em 1 de janeiro de 1901, e alguns anos (CARVALHO, 2012, p. 43). mais tarde lança o tabloide londrino Daily Mirror) e o modelo de negócios: jornalismo de Meio século separa os momentos em que o jorna- massa. “Um jornal deve ser feito para se pagar. lismo norte-americano e o jornalismo brasileiro buscam Deixe-o tratar do que interessa às massas. Dei- xe-o dar ao público o que ele deseja”, pronuncia se fi rmar como atividade econômica. Enquanto nos Esta- Northcliff e, para a grande e abrangente conde- dos Unidos os jornais populares já haviam consolidado nação de intelectuais. (WOLFF, 2009, p. 59) um novo modelo de informação lançando mão de notí- cias centradas no interesse humano, construídas numa 2 A infl uência do jornalismo norte-americano linguagem mais clara e objetiva, no Brasil nossos veículos Ainda na primeira metade do século XIX, o jor- ainda estavam presos aos interesses político-partidários, nalismo norte-americano passou a servir de modelo para mergulhados nos conchavos, nos ataques pessoais anôni- a imprensa em boa parte do mundo. A solidez das ins- mos, onde o que prevalecia era o desejo dos que manti- tituições políticas, a garantia da liberdade de expressão nham o jornal. sustentada pela primeira emenda constitucional e as con- Coube a um francês, Max Leclerc, correspondente dições econômicas favoráveis, com o surgimento de uma de um jornal parisiense que veio ao Brasil acompanhar os classe média interessada em notícias e novidades, abri- acontecimentos que se seguiram ao 11 de novembro de ram caminho para uma imprensa comercial nos Estados 1889, traçar um perfi l da imprensa brasileira naqueles úl- Unidos. Esse tipo de empresa está nitidamente preocupa- timos anos do século XIX, conforme reproduz Werneck do com o lucro, equidistante das correntes ideológicas e Sodré: pronta a incorporar toda e qualquer novidade tecnológi- A imprensa em conjunto não procura orientar a ca que lhe garantisse tiragens maiores com melhor quali- opinião por um caminho bom ou mau; ela não é um guia, nem compreende sua função educa- dade de impressão. tiva; ela abandona o povo à sua ignorância e à Nos Estados Unidos [...] logo na década de sua apatia. Os dois maiores jornais brasileiros, o trinta do século XIX surgiram jornais predomi- Jornal do Comércio e a Gazeta de Notícias, rea- nantemente noticiosos, baratos, politicamente lizam excelentes negócios: têm tantos anúncios independentes, com um discurso acessível, di- que, não lhes bastando a terceira e quarta pági- recionados para as pessoas comuns, encarados nas, dedicam-lhes um suplemento. (LECLERC, essencialmente como negócio empresarial, que 1942 apud SODRÉ, 1999, p. 253) começaram a competir com os jornais de elite dominantes. Esses jornais são a primeira gera- Outra diferença signifi cativa entre a imprensa ção de jornais populares.
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