JUNHO 2013 «L’Historien N’Est Pas Celui Qui Sait
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SERVIDORES DE DEUS E FUNCIONÁRIOS DE CÉSAR. O CLERO PAROQUIAL COMO «CLASSE» SOCIOPROFISSIONAL (1882-1917) SÉRGIO FILIPE RIBEIRO PINTO TESE DE DOUTORAMENTO EM HISTÓRIA, REALIZADA SOB A ORIENTAÇÃO CIENTÍFICA DO PROF. DOUTOR ANTÓNIO REIS E CO-ORIENTAÇÃO DO PROF. DOUTOR MAURILIO GUASCO FINANCIADA PELA FCT NO ÂMBITO DO QREN JUNHO 2013 «L’historien n’est pas celui qui sait. Il est celui qui cherche.» Lucien Febvre – Le problème de l’incroyance au XVIe siècle (1947) Impressão Digital Os meus olhos são uns olhos, e é com esses olhos uns que eu vejo no mundo escolhos, onde outros, com outros olhos, não vêem escolhos nenhuns. Quem diz escolhos, diz flores! De tudo o mesmo se diz! Onde uns vêem luto e dores, uns outros descobrem cores do mais formoso matiz. Pelas ruas e estradas onde passa tanta gente, uns vêem pedras pisadas, mas outros gnomos e fadas num halo resplandecente!! Inútil seguir vizinhos, querer ser depois ou ser antes. Cada um é seus caminhos! Onde Sancho vê moinhos, D. Quixote vê gigantes. Vê moinhos? São moinhos! Vê gigantes? São gigantes! António Gedeão – Movimento Perpétuo (1956) Para a Ana. In memoriam Custódia Vieira e Justina Ribeiro. Agradecimentos As palavras que se seguem dão forma ao sentimento que me acompanhou durante todo o percurso que a elas conduziu: escritas no fim desta dissertação, só elas poderiam ser o início, e são facilmente reduzidas a uma só – gratidão. Porque se o caminho foi pessoal, como tinha de ser, não foi solitário. Tal como se apresenta, este trabalho não seria o que é sem os inúmeros contributos que recebi, que procurei ser capaz de acolher e corresponder na medida das minhas capacidades. Mesmo se as palavras não possam dizer com inteireza o sentimento que as sustenta, arrisco manifestar a todos eles o meu agradecimento. Em primeiro lugar, ao Prof. Doutor António Reis: ao aceitar orientar a investigação e continuar um percurso já iniciado no mestrado, fê-lo com entusiasmo; acolheu o projecto desde o seu início, foi-o incentivando e estimulando. Recordo agradecido as suas indicações, os comentários decisivos e as correcções oportunas e atentas, além da disponibilidade permanentemente revelada. O Prof. Doutor Maurilio Guasco anuiu à proposta e à ousadia de um desconhecido, que recebeu amigavelmente em Roma, para co-orientar esta dissertação. Agradeço-lhe a generosidade com que me acolheu na sua Alessandria e a disponibilidade para se deslocar por diversas vezes a Lisboa. As ocasiões de diálogo, as suas indicações e críticas foram fundamentais ao longo de todo o trabalho. O Prof. Doutor Luís Salgado de Matos interessou-se por um trabalho que estimulou e aceitou discutir. A sua exigência crítica e a sua análise fina constituíram um permanente desafio para mim. Além das diversas sugestões e comentários, permitindo melhorar muito o trabalho feito, conservo como um exemplo a paciente disponibilidade e a atenção generosa de que me deu inúmeras provas. No final deste trabalho tenho presente a sua génese; esta resultou do desafio lançado pelo Prof. Doutor António Matos Ferreira e sem esse começo nada teria sido possível. Os longos diálogos, a propósito da tese e para lá da tese, foram e têm sido um permanente estímulo a manter e a aprofundar a exigência do rigor e da ousadia – a das perguntas que me questionam. Que tudo isso tenha sido feito na amizade tornou menos penoso o esforço e mais gratificante a recompensa, que é a do próprio trabalho. Além disso, quero agradecer na sua pessoa ao Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa, de que é director. Quero lembrar o incentivo e a generosidade que aí sempre me foram manifestados pelo Prof. Doutor Paulo Fontes e pelo Dr. José António Rocha, agradecendo a quantos nele colaboram e que, de uma ou outra forma, fazem também parte deste trabalho. Foi a disponibilidade e o interesse manifestados pelo Prof. Doutor Luís Espinha da Silveira que possibilitou a inclusão dos elementos cartográficos que constam deste trabalho; os dados destinados a esse fim não teriam sido “transformados” em mapas sem os generosos e especializados esforços do Prof. Doutor Daniel Alves – aqui expresso a ambos a minha gratidão. Ao Guilherme Sampaio: nas vésperas de iniciar o seu doutoramento prescindiu de largas semanas de merecidas férias para me ajudar na recolha de material de arquivo e respectiva transcrição – só a amizade e a sua generosidade o justificam. O seu entusiasmo foi contagiante e as conversas sobre este trabalho abriram-me caminhos novos à reflexão. Qualquer agradecimento será de menos para o tanto de que sou devedor. Ao Nuno Manuel Martins devo, também, uma particular palavra de gratidão e de amizade. As suas interrogações obrigaram-me a ir mais longe. O interesse com que acompanhou a reflexão, aceitou ler, comentar e corrigir todo o texto constituíram um incentivo e um desafio permanente. Como se não bastasse, sem a sua mestria informática e a generosidade com que prescindiu de muito do seu tempo não teria sido possível operacionalizar o Registo da Paroquialidade. Já na fase final do trabalho pude contar com o auxílio precioso do Diogo Roque na recolha e verificação de documentação periódica: o meu obrigado por isso, mas também pelo entusiasmo e pelas discussões frutuosas. Ao Dr. Francisco Roxo agradeço a disponibilização de muito úteis elementos relativos à família de Alfredo Elviro dos Santos. Generoso e paciente foi, também, o contributo do Paulo Alves quando se levantaram os problemas de formatação, a quem tenho de agradecer, além disso, o exemplo de empenho e perspicácia. O trabalho realizado nos arquivos consultados não teria sido frutuoso sem o auxílio dos respectivos técnicos que neles me acolheram; os seus exemplos de prestabilidade, simpatia e profissionalismo foram verdadeiramente modelares e facilitaram em muito a investigação. O meu agradecimento, por isso, aos coordenadores e funcionários da Secção de Reservados da Biblioteca Nacional; aos Dr.s João Paz e Belmiro Costa do Arquivo Episcopal do Porto; ao Dr. Ricardo Aniceto e à Dr.ª Maria Teresa Ponces do Arquivo Histórico do Patriarcado de Lisboa. Sou particularmente devedor aos técnicos do Arquivo Contemporâneo do Ministério das Finanças. À Dr.ª Ana Gaspar e aos Dr.s João Sabino e Paulo Pereira quero expressar o meu profundo agradecimento pelo seu exemplo de profissionalismo modelar, o interesse e a atenção que sempre me dispensaram e a generosidade com que se dispuseram a auxiliar-me. Sem o apoio financeiro que resultou da Bolsa de Doutoramento da FCT de que fui beneficiário este trabalho não teria sido possível. Não teria sido possível, sobretudo, sem a compreensão e sem os afectos da família e dos amigos. Esta aventura intelectual está povoada pela sua grandeza humana – poder partilhar dela é um privilégio inestimável. Ao Jorge e à Maria, ao Carlos e à Carla (e à Maria Rita!), ao Francisco e à Sara (e ao Francisco!), ao Nuno – novamente –, ao André e à Marta, à Rita e ao Zé, ao Luís e à Marta (e à Leonor!) devo um especial agradecimento que é também uma desculpa por não ter tido todo o tempo que sempre me merecem. Aos meus pais, às minhas irmãs e ao Hugo: as minhas palavras nunca poderão dizer inteiramente o quanto vos estou grato por tudo o que em excesso de vós tenho recebido. Tal como à Ana, a quem o dedico e só a quem ele poderia ser dedicado, porque sem ela não teria valido a pena e os obstáculos teriam sido insuperáveis – obrigado pela paciência atenta e pela desmesura da confiança e da ternura. Qualquer erro ou falha que este trabalho revele desmerecerá tantos e tão valiosos contributos mas só poderão ser imputados legitimamente ao seu autor. SERVIDORES DE DEUS E FUNCIONÁRIOS DE CÉSAR. O CLERO PAROQUIAL COMO «CLASSE» SOCIOPROFISSIONAL (1882-1917) Sérgio Ribeiro Pinto Palavras-chave: Clero paroquial, Liberalismo, Secularização, Separação, Pensões, Portugal (séculos XIX-XX). RESUMO O processo de desconfessionalização do Estado foi acompanhado pela desfuncionarização do clero paroquial, o que implicou, para lá das questões de natureza política – partidária ou de regime –, a reformulação da identidade e das funções do pároco. A essa alteração correspondeu uma maior vontade de autonomia e liberdade de actuação eclesiástica nos domínios social e religioso, bem como a afirmação da autoridade episcopal no quadro da romanização, isto é, no sentido de uma articulação da Igreja Católica enquanto corpo autónomo da esfera do Estado e independente das influências partidárias na organização e orientação do clero. Esta dissertação analisa os discursos produzidos pelo clero paroquial, e as instituições por si protagonizadas, em torno de duas problemáticas fundamentais – a sua identidade e a sua sustentação – durante o processo de alteração do seu enquadramento institucional; ou seja, avalia as disputas internas em torno da passagem de uma condição dual – ministro da religião e funcionário civil – à unidade simbólica da sua condição religiosa. SERVANTS OF GOD AND CAESAR’S EMPLOYEES. THE PARISH CLERGY AS A SOCIAL AND PROFESSIONAL «CLASS» (1882-1917) Sérgio Ribeiro Pinto Keywords: Parish clergy, Liberalism, Secularization, Separation of Church and State, Clergy pensions, Portugal (19th and 20th centuries). ABSTRACT Given the social and administrative responsibilities of parish clergymen during the constitutional monarchy, Portugal’s process of deconfessionalization brought about, alongside matters of a political nature, deep changes to the way they defined themselves and their duties. This transformation corresponded to the clergy’s wish for greater autonomy and to the reinforcement of episcopal control in the context of the «Romanization». The Catholic Church saw itself as an independent institution – separate from the State and free from the influence of political parties –, the sole authority in charge of organizing and guiding the clergy. This dissertation examines both the parish priests’ discourses and the institutions they led during this significant change in their institutional framework by focusing on two fundamental issues: their identity and their livelihood.