A Pobreza Em Rima Rica Nas Canções De João Bosco E Aldir Blanc/ Alexandre Felipe Fiuza
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ALEXANDRE FELIPE FIUZA Entre cantos e chibatas: a pobreza em rima rica nas canções de João Bosco e Aldir Blanc SÃO PAULO 2001 Dissertação defendida junto ao Mestrado em Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas, sob orientação da Prof. ª Dr. ª Ernesta Zamboni, contando como Comissão Julgadora o Prof. Dr. Milton José de Almeida (FE/ UNICAMP) e o Prof. Dr. Arnaldo Daraya Contier (Dep. História/ USP), em fevereiro de 2001. CATALOGAÇÃO NA FONTE ELABORADA PELA BIBLIOTECA DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO/ UNICAMP Bibliotecário Rosemary Passos – CRB – 8 ª / 5751 FIUZA, Alexandre Felipe. F586e Entre cantos e chibatas: a pobreza em rima rica nas canções de João Bosco e Aldir Blanc/ Alexandre Felipe Fiuza. -- Campinas, SP: [s.n.], 2001. Orientadora: Prof. ª Dr. ª Ernesta Zamboni Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação. 1. Bosco, João. 2. Blanc, Aldir. 3. Música. 4. História. 5. Política. 6. Cultura. I. Zamboni, Ernesta. II.Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Educação. III. Título. 2 RESUMO Tal trabalho tem como eixo central a reflexão acerca da música popular brasileira por meio da análise dos diversos elementos que compõem a canção e a sua relação com a indústria fonográfica, com os meios de comunicação e com o consumo. No entanto, não foram esquecidos seus nexos com outras linguagens: historiográfica, poética, cinematográfica, teatral, televisiva e, claro, musical. Para tanto, optamos pela análise da obra da dupla João Bosco e Aldir Blanc, situada no período que vai de 1969 a 1985 que, por sinal, coincide com a decretação do AI-5 (1968) e com o fim do regime militar. As composições da dupla foram escolhidas devido tanto à sua constante referência a movimentos políticos e sociais, quanto pela opção de ambos em compor a partir de uma visão de mundo comumente atribuída às classes populares, além, é claro, da beleza com que retratam a história e o cotidiano. Esta dissertação não se constitui num modelo, mas apresenta um percurso das múltiplas possibilidades do trabalho com a canção no ensino de história. ABSTRACT This work has as a central axe the reflection about the música popular brasileira by the analysis of the various elements that compose the song, as well as its relationships with phonographic industry, with other languages (historiographic, poetic, cinematographic, theatrical, television and of course, musical) haven't been forgotten. For that reason, we've opted for the analysis of the pair João Bosco and Aldir Blanc, situated in the period that starts in 1969 and finishes in 1985 and that coincides with the declaration of the AI-5 (1968) and with the end of the military regime. The compositions of the pair have been chosen because of their constant reference to the social and political movements, as well as the option of both of then to compose from a viewpoint usually attributed to the popular classes, besides, the beauty with that they show the history and the quotidian, of course. This thesis is not a model, but presents a way of the multiple possibilities of the work with songs in the history teaching. 3 SUMÁRIO INTRODUÇÃO...............................................................................................................05 CAPÍTULO 1: Tira a poeira das reminiscências...........................................................30 1.1 A música e seus usos..................................................................................30 1.2 Música e indústria cultural..........................................................................34 1.3 Música e letra .............................................................................................49 1.4 O processo de criação ................................................................................57 CAPÍTULO 2: O tempo vence toda a ilusão...................................................................59 2.1 Nos tempos do rádio ...................................................................................60 CAPÍTULO 3: Meu samba é casa de marimbondo........................................................82 CAPÍTULO 4: Essa é sua vida: visões do cotidiano....................................................135 CAPÍTULO 5: E o passado volta a desfilar: as relações entre canção e o ensino de História.......................................................................................................157 CONSIDERAÇÕES FINAIS: A quem a história não esqueceu...................................164 DISCOGRAFIA............................................................................................................167 BIBLIOGRAFIA...........................................................................................................171 I. Específica da Música................................................................................171 II. Geral.........................................................................................................177 III. Teses e Dissertações não publicadas.......................................................188 PERIÓDICOS................................................................................................................189 DICIONÁRIOS.............................................................................................................203 FILMOGRAFIA...........................................................................................................203 EDITORAS DAS CANÇÕES.......................................................................................204 LISTAS DAS CANÇÕES.............................................................................................205 ANEXOS.......................................................................................................................211 4 INTRODUÇÃO: No palco um pouco escuro só guarda-chuvas e sombrinhas abertas. Ao fundo, algumas estrelas prateadas como que projetando um céu límpido, o início de uma bela noite. A música instrumental de fundo é triste, não combinando com o cenário. Uma voz insegura interpreta: Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada. A música triste dá lugar ao som da caixinha de música da canção1 O bêbado e a equilibrista, de João Bosco e Aldir Blanc. Neste momento, entra um bêbado trajando luto como o personagem de Charles Chaplin (1889-1977), o Carlitos. Este não entende a razão de ser daquelas sombrinhas e guarda-chuvas abertos e, em sua mão, um fechado. Esquece a dúvida e dança em homenagem àquele céu e à vida. Afinal, caía a tarde feito um viaduto, algo comum no tipo de engenharia tupiniquim. A despreocupação dá lugar ao medo: quem seria aquele homem com uma capa escura que lhe arranca o seu guarda-chuva e o abre junto aos outros no chão? Chupavam manchas torturadas e o bêbado com chapéu-côco começa a entender o que acontecia, se desespera e chora Marias e Clarisses, até que a dor pungente dá lugar à esperança: o palco é atravessado por uma equilibrista, portando uma sombrinha, como se ali tivesse uma corda bamba. Ela pega o guarda-chuva e entrega-o ao 1 Toda vez que for utilizada, terá o significado de "música com letra". 5 bêbado que, após relutar em fazê-lo, decide pegá-lo e atravessar a corda, mesmo sabendo que, naquela linha, pode se machucar. Os dois vão saindo do palco, quando chega um grupo de homens e mulheres com bagagens. Todos se abraçam, como se fossem velhos amigos, e comemoram a volta, pois, a esperança equilibrista sabe que o show de todo artista tem que continuar. Com aquela mesma música da introdução ao fundo, cada um vai apanhando seu respectivo guarda- chuva e sombrinha e vão saindo do palco até que, ao olharem para trás, percebem que muitos continuam ali abertos... Este quadro narrado acima foi montado pelo grupo de teatro do qual participei. O texto que o acompanha trata-se de um trecho do poema intitulado No caminho, com Maiakóvski, de Eduardo Alves da Costa. Este poema, devido ao título, foi por várias vezes atribuído ao poeta Maiakovski (1893-1930) e transformou-se "numa das bandeiras da luta contra a ditadura", como afirmou seu verdadeiro criador. A canção foi feita pela dupla Bosco/ Blanc e interpretada por Elis Regina (1945-1982), com um arranjo que, na introdução e no final, inclui um tema de acordeón que imita o som de uma caixinha de música. Foi lançada em 1979, no LP "Elis, essa mulher", "dedicado à ausência do Tenório Jr.", pianista da banda de Vinícius de Moraes (1913-1980) que estava desaparecido na Argentina. Não demorou para que esta canção se transformasse no "hino da anistia" e, talvez, no maior êxito da dupla. Este esquete foi encenado em 1990, como parte do resultado de uma pesquisa sobre as ditaduras latino-americanas realizada nas aulas de História, quando ainda era aluno no Ensino Médio. Este fato demonstra o quanto a opção pela dupla Bosco/Blanc vem de longa data e reflete experiências ligadas à escola. A escolha do tema não foi circunstancial. Ao optar pela pesquisa sobre as relações entre música popular brasileira e história, estava seguindo um caminho mais amplo que é a identificação com a Educação. Logo, esta perspectiva de trabalhar com a música não é nova. Deste modo, a escolha do tema de pesquisa no mestrado se deu pela confluência destas experiências: