A Arena E As Regras
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A arena e as regras Silvia Noronha Sarmento SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros SARMENTO, S. N. A arena e as regras. In: A raposa e a águia: J.J. Seabra e Rui Barbosa na política baiana da primeira república [online]. Salvador: EDUFBA, 2011, pp. 55-98. ISBN 978-85-232-1153- 0. Available from: doi: 10.7476/9788523211530.004. Also available in ePUB from: http://books.scielo.org/id/ykf8q/epub/sarmento-9788523211530.epub. All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International license. Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribição 4.0. Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento 4.0. A ARENA E AS REGRAS A Bahia de Rui e Seabra A República inaugurou uma nova dinâmica política no Brasil. A antiga tensão entre centralização e poder local, presente desde a colô- nia, expressou-se, então, na adoção de um modelo de federalismo articu- lado principalmente em torno das províncias, transformadas em estados. Aprofundava-se uma tendência, visível desde o Ato Adicional (1834), de submissão do poder local a um arranjo político regionalizado, processo intensificado com a extinção dos mecanismos centralizadores do Impé- rio (partidos nacionais, nomeação dos presidentes de província, Poder Moderador).1 O federalismo resultou no fortalecimento dos grupos que dominavam o poder estadual, que se tornaram atores fundamentais do jogo político nacional.2 1 Sobre o processo de fortalecimento das elites provinciais, mesmo na vigência das medidas centralizadoras do Império a partir de 1840, ver Dolhnikoff (2003). Acerca da persistente tensão entre centralismo e regionalismo no Brasil, ver os estudos de Israel Pinheiro. 2 A visão do federalismo republicano adotada neste trabalho apoia-se nos estudos de Cláu- dia Viscardi (2001), que renovaram a compreensão do jogo político na Primeira República. A autora questionou a antiga tese de uma aliança estável e duradoura entre São Paulo e Minas Gerais (a “política do café com leite”) chamando a atenção para a complexidade dos arranjos políticos do período. Nesse novo panorama, aparecem como atores principais, não Raposa_Book 5.indb 55 7/12/2011 19:21:39 Muito cedo, os baianos perceberam que estavam em desvantagem nesse novo jogo. Não que a Bahia não tivesse relevância política na Re- pública. Com a segunda maior bancada do Congresso (menor apenas do que a de Minas Gerais e igual à de São Paulo) e o peso da antiga tradição, os dirigentes estaduais ainda tinham um espaço importante nas negociações nacionais. Porém, em comparação com a situação privilegia- da do Império, era evidente o declínio. Ao longo das quatro décadas da Primeira República, a Bahia teve ape- nas um representante na presidência, e ainda assim, de forma temporária: Manuel Vitorino, que assumiu o cargo por motivo de doença do titular, Prudente de Morais. Somente em 1930, outro baiano (Vital Soares) seria elevado novamente à vice-presidência, mas não tomaria posse devido à re- volução ocorrida naquele ano. Nos ministérios republicanos, a presença da Bahia foi discreta, em comparação ao Império: entre 1889 e 1930, apenas treze baianos foram nomeados ministros (Tabela 1), sendo seis militares em pastas relacionadas à defesa e às relações exteriores. Dentre os ministros civis, cuja escolha refletia mais claramente o poder estadual (já que a escolha dos militares atendia também a questões internas da corporação), dois foram interinos. Restam cinco nomes: Rui Barbosa, Seabra, Severino Vieira, Mi- guel Calmon e Otávio Mangabeira, que exerceram influência nacional nas primeiras décadas republicanas. somente os estados mais poderosos (São Paulo, Minas Gerais, mas também Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro), como ainda outros agentes dotados de certa autonomia, como o Exército e o próprio Estado Nacional. 56 Raposa_Book 5.indb 56 7/12/2011 19:21:39 TABELA 1 - Ministros baianos na Primeira República (1889-1930) MINISTROS PERÍODO PRESIDENTE VICE-PRESIDENTE PERMANÊNCIA** PASTA BAIANOS 15/11/1889 a Deodoro da 15.11.1889 a Rui Barbosa*(BA) Rui Barbosa Fazenda 25/02/1891 Fonseca*(AL) 21.01.1891 25.02.1891 a Deodoro da Floriano Peixoto ------- ------- ------- 23.11.1891 Fonseca (AL) Custódio de Melo 23.11.1891 a Marinha, Guerra, Relações (almirante) 30.04.1893 Exteriores (interino) 23.11.1891 a Floriano Peixoto ------- Francisco José 15.11.1894 (AL) 05.01.1894 a Coelho Neto (vice- Marinha 26.06.1894 alm.) Dionísio de Castro 01.09.1896 a Relações Exteriores, Guerra, Viação Cerqueira (general) 15.11.1898 e Obras Públicas (interino) 15/11/1894 a Prudente de Manuel Vitorino Antônio Augusto 08.03.1902 a Indústria, Viação e Obras Públicas 15/11/1898 Morais (SP) (BA) da Silva (interino) 15.11.1902 Carlos Baltazar da 15.11.1898 a Marinha Silveira (almirante) 19.08.1899 15.11.1898 a Severino Vieira Indústria, Viação e Obras Públicas 27.01.1900 15/11/1898 a Antônio Augusto 08.03.1902 a Campos Sales (SP) Rosa e Silva (PE) Indústria, Viação e Obras Públicas 15/11/1902 da Silva (interino) 15.11.1902 Carlos Baltazar da 15.11.1898 a Marinha Silveira (almirante) 19.08.1899 15.11.1902 a Justiça e Negócios Interiores, J. J. Seabra 28.05.1906 Relações Exteriores (interino) 15/11/1902 a Rodrigues Alves Félix Gaspar de 28.05.1906 a Afonso Pena (MG) Justiça e Negócios Interiores 15/11/1906 (SP) Barros e Almeida 15.11.1906 Francisco de Paula 15.11.1902 a Guerra Argolo (marechal) 15.11.1906 15/11/1906 a 15.11.1906 a Afonso Pena (MG) Nilo Peçanha (RJ) Miguel Calmon Indústria, Viação e Obras Públicas 14/06/1909 14.06.1909 14/06/1909 a 14.06.1909 a Nilo Peçanha (RJ) ------- Miguel Calmon Indústria, Viação e Obras Públicas 15/11/1910 18.07.1909 15/11/1910 a Hermes da Fonseca Wenceslau Brás 15.11.1910 a J. J. Seabra Viação e Obras Públicas 15/11/1914 (RS) (MG) 26.01.1912 15/11/1914 a Wenceslau Brás Urbano Santos ------- ------- ------- 15/11/1918 (MG) (MA) 15/11/1918 a Delfim Moreira*** ------- ------- ------- ------- 28/07/1919 (MG) 28/071919 a Epitácio Pessoa Bueno de Paiva ------- ------- ------- 15/11/1922 (PB) (MG) 15/111922 a Artur Bernardes Estácio Coimbra 16.11.1922 a Miguel Calmon Agricultura, Indústria e Comércio 15/11/1926 (MG) (PE) 15.11.1926 15/11/1926 a Washington Luís Fernando de Melo 15.11.1926 a Otávio Mangabeira Relações Exteriores 24/10/1930 (MG) Viana (MG) 24.10.1930 Fonte: Tabela elaborada com dados do site da Presidência da República: www.presidencia.gov.br. * Deodoro da Fonseca e Rui Barbosa, no período inicial da República, não tinham o cargo de presidente e vice-presidente, mas de chefe e vice-chefe do governo provisório. ** Quando o ministro ocupar mais de uma pasta, o tempo de permanência refere-se ao início e fim de sua participação no ministério, sem discriminar por pasta. *** O vice-presidente Delfim Moreira assumiu o cargo até a realização de novas eleições porque o presidente eleito Rodrigues Alves faleceu antes da posse. Raposa_Book 5.indb 57 7/12/2011 19:21:39 GRÁFICO 1. Comércio Exterior da Bahia (1840-1930) 45000000 40000000 35000000 30000000 25000000 20000000 15000000 10000000 5000000 em libras libras em esterlinas 0 1840/44 1845/49 1850/54 1855/59 1860/64 1865/69 1869/74 1875/79 1880/84 1885/89 1890/95 1901/05 1906/10 1911/15 1916/20 1921/25 1926/30 1896/1900 Exportações Importações Fonte: Gráfico elaborado a partir de dados de FUNDAÇÃO CENTRO DE PESQUISAS E ESTUDOS, 1980, p. 113 (tabelas 5 e 6). GRÁFICO 2. Valor da Produção Agrícola em 1920 (em mil réis) São Paulo 1.242.117:402$ Minas Gerais 1.029.516:841$ Rio Grande do Sul 596.111:681$ Bahia 320.165:253$ Pernambuco 266.893:127$ Rio de Janeiro 249.762:925$ Paraná 172.950:238$ Espírito Santo 118.132:051$ Paraíba 108.958:317$ Goiás 100.899:391$ Ceará 99.055:164$ Pará 91.751:129$ Alagoas 91.090:065$ Santa Catarina 90.633:408$ Sergipe 63.322:165$ Maranhão 60.982:234$ Piauí 52.806:320$ Rio Grande do … 49.853:796$ Mato Grosso 39.319:057$ Amazonas 33.597:722$ Território do Acre 18.985:401$ Distrito Federal 3.084:193$ Fonte: BRASIL. Ministerio da Agricultura, Industria e Commercio. Censo de 1920. v. 5, p. 139. 58 Raposa_Book 5.indb 58 7/12/2011 19:21:39 GRÁFICO 3. Participação da Bahia nas Exportações Brasileiras (1889-1930) 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 1889 1891 1893 1895 1897 1899 1901 1903 1905 1907 1909 1911 1913 1915 1917 1919 1921 1923 1925 1927 1929 Bahia Fonte: Gráfico elaborado a partir de dados de FUNDAÇÃO CENTRO DE PESQUISAS E ESTUDOS, 1980, p. 121 (tabela 17). GRÁFICO 4. Valor da Produção Industrial em 1920 (em mil réis) São Paulo 986.110:258$ Distrito Federal 666.275:755$ Rio Grande do Sul 353.749:311$ Rio de Janeiro 184.161:410$ Minas Gerais 172.050:860$ Pernambuco 136.479:306$ Paraná 102.300:429$ Bahia 71.922:935$ Santa Catarina 60.171:253$ Alagoas 40.519:661$ Pará 36.424:408$ Paraíba 33.137:059$ Sergipe 28.827:310$ Ceará 25.908:171$ Maranhão 22.884:132$ Espírito Santo 22.872:353$ Rio Grande do … 20.538:759$ Piauí 7.956:492$ Mato Grosso 6.018:733$ Amazonas 5.701:715$ Goiás 4.955:055$ Território do Acre 197:880$ Fonte: BRASIL. Ministerio da Agricultura, Industria e Commercio.