DEODORO a Espada Contra O Império
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DEODORO a Espada contra o Império * VOLUME II O GALO NA TÔRRE (do destêrro em Mato Grosso à fundação da República) BIBLIOTECA PEDAGÓGICA BRASILEIRA SÉRIE 5.• * BRASILIANA * VoL. 12-A (GRANDE FORMATO) Direção de AMl!:RICO JACOBINA LACOMBE Exemplar 2271 1957 Obra executada nas oficinas da São Paulo Editora S/A . - São Paulo, Brasil "" , R. MAGAl \.ES JUNIOR (da'" • ·f Brasileira) DEODORO a Espada contra o Império VOLUME II O GALO NA TÔRRE li (do destêrro em Mato Grosso à fundação s da República) EDIÇÃO ILUSTRADA COMPANHIA EDITORA NACIONAL SÃO PAULO > INDICE Pág. A Viagem de Volta .. .. .. ....... _ . 7 O Inicio da Conspiração. 18 "Que Leve a Breca a Monarquia!" . 31 A Proclamação da República. 56 O Destino da Família Imperial. 83 A República se Organiza .. ... .. .. ........ .... 101 "Generalíssimo" por Aclamação. 122 A Primeira Crise do Govêrno Provisório .............. 142 Da "Embaixada de Ouro" à Deportação dos Qapoeiras. 167 Declinio de Benjamin Constant e Ascensão de Floriano 193 Sob a Constituição Provisória ... .. .... .. ..... 207 Instala-se o Congresso Constituinte. 227 O Assalto à Redação de "A Tribuna". 238 O Inicio do Ano Crítico. 258 lnl:!,ugura-se o "Ministério dos Áulicos" . 272 A Eleição para a Presidência . .. ... ... ...... 283 O "Consulado" do Barão de Lucena . ..... .... 310 O Golpe de Estado. 327 • Deodoro Renuncia ao Poder ........... ........... .. 359 Agonia e Morte do Marechal Deodoro. 376 Apêndice ..... ...... .... ... .. ... .. .. .. 393 Memória para meus filhos (Princesa Isabel) ..... ... 395 Cartas de Deodoro da Fonseca a Rui Barbosa ... 404 Cartas de Rui Barbosa a Deodoro da Fonseca .. 406 Bibliografia . 409 Índice Onomástico ... .. .. ... ..... .. .. ... ........ 4~3 Índice Ideográfico . .. , .. ....... ... .... ... .. .. ... 431 A Viagem de Volta Objetivos políticos do gabinete Ouro Prêto - M aracaju propôe baronatos e condecoraçôes - A derrama de títulos nobiliárquicos - Rui Barbosa critica veementemente a "fidal guia de cabala" - Insistentes boatos s6bre a preparação da Guarda Nacional para substituir o Exército - Reação de Deodoro d nomeação de Cunha Matos para a presidência de Mato Grosso - O resultado das eleições - Rui Barbosa e a CO.mara quase und nime - "Ouro Prêto procriou uma fera" - Declarações do marechal, em Santos - O galo ·na t6rre. ' o VISCONDE DE OURO PRÊTO tem a realizar, no domínio político, um plano de ação que consiste, principalmente, em duas coisas: primeira, fazer eleger uma Câmara tão maciçamente liberal quanto possível, impe dindo, a todo custo, que aumente, dentro dela, a influência do elemento republicano; segunda, promover a reconciliação do poder civil com os militares, fazendo a êstes certas con cessões, de sorte a obter um apoio que isolasse, o mais pos sível, os elementos rebeldes do Exército. Tendo exposto ao Visconde de Maracaju êsse plano, o ministro da Guerra imediatamente apresentou uma sugestão: a de que a cada marechal-de-campo fôsse concedido, indistintamente, o título de barão e a cada brigadeiro uma dignitaria da Ordem da Rosa, bem como outras condecorações, de menor relêvo, aos coronéis. - Não convém generalizar, - discordou Ouro Prêto. - Distribuir assim tais mercês seria tirar-lhes o valor. Não me oponho, no entanto, a que sejam -distinguidos, oportu namente, todos os que tenham mérito assinalado. E que Ouro Prêto, de nobreza recente, - o decreto que lhe dera o título de visconde com grandeza trazia a data, ainda fresca, de 13 de junho de 1888, - deliberara 8 R. MAGALHÃES JÚNIOR distribuir honrarias aos militares tendo em vista não só o merecimento profissional como a lealdade política. Se fôssem devotados à monarquia, ao seu gabinete, seriam agraciados. E assim foram: o brigadeiro Inocêncio Veloso Pederneiras, com o título de Barão de Bojuru, por decreto de 13 de julho de 1889; o brigadeiro Hermenegildo Pôrto-Carrero, com o título de Barão do Forte de Coimbra, na mesma data; o brigadeiro Antônio Maria Coelho, com o título de Barão de Anhambi, com grandeza(*), e o marechal-de-campo Manuel de Almeida da Gama Lôbo d'Eça com o título de Barão de Batovi, com grandeza, ambos por decreto de 28 de agôsto daquele ano. O vice-almirante Luís Maria Piquet, veterano da campanha do Paraguai, por decreto de 20 de agôsto, recebeu o título de Barão de Santa Marta. Ao tenente general Luís José Pereira de Carvalho foi dado o título de Barão de São Sepé. Enquanto isso, nada menos de 35 coronéis e tenentes-coronéis da Guarda Nacional recebiam também de suas mãos títulos de barão. Eram os barões de Abadia, Açu da Tôrre, Cabo Verde, Camaquã, Campo Místico, Caxangá, Cristina, Cimbres, Dores de Guaxupé, Dourado, Goretuba, Guandu, Itapecerica, Jacareí, Jequitaí, Juruá, Lamin, Palmeira dos Índios, Patrocínio, Pedra Negra, Pereira de Barros, Piaçubuçu, Piracicamirim, Pouso Frio, Ribeirão Fundo, Ribeirão Vermelho, Rio Novo, Rio Pomba, Santa Filomena, Santo Antônio da Barra, São José da Lagoa, São Romão, Sincorá, Timbaúba e Uruçu! "NolYreza feita à mão", como pitorescamente dissera algum tempo antes Tobias Bar reto. O Império parecia querer escorar-se em muralhas de papel, em colunas de pergaminhos nobiliárquicos! Só de 1888 até a proclamação da República foram distribuídos mais de 180 títulos de nobreza. Barões passaram a viscondes, fazen deiros, banqueiros e comissários de café passaram a barões ... Quando o caso se tornara escandaloso, Rui Barbosa escre veu, nas colunas do "Diário de Notícias", um dos seus magistrais artigos, "Estamos todos marqueses", de crítica veemente à inflação nobiliárquica presidida por Ouro Prêto, verdadeira legião de "fidalgos baratos", que outra coisa não era "uma tal aristocracia,. castrada para formar sopranos e (*) Tal como o Barão do Rio Apa, o de Anhambi repudiou o título, após o 15 de Novembro. DEODORO - SEGUNDO VOLUME 9 contraltos de uma côrte senil ... " Via Rui, com grande acuidade, uma prova de "estar a coroa, entre nós, reduzida a uma peça desdentada e perra na entrosagem constitucional", "nessa profusão de graças repartidas em matulagem entre os que comem e bebem no alguidar oficial". E concluía, pito rescamente, num rasgo de verdadeiro panfletário: "Esta nobiliarquia de cabala, esta fidalguia de baiúca eleitoral mostra, por mais um sintoma, que se não estamos no Baixo Império, como os liberais vociferavam ainda ontem, cami nhamos para a Nápoles do rei Bomba. Sômente, aqui, o soberano eclipsou-se, e é ao presidente do Conselho que cabe chegar à janela de São Cristóvão, e dizer para a gente da farândula: Tutti son jatti marchesi". Como Rui, os repu blicanos ridicularizavam tal derrame de títulos de nobreza, como exemplo de corrupção e de subôrno. Havia, por outro lado, rumores de que Ouro Prêto pretendia apoiar-se 11a Guarda Nacional, fazendo dela o sustentáculo da monarquia. Reorganizada, com armamentos modernos e largos recursos orçamentários, podia a monarquia nela firmar-se, diminuindo os efetivos do Exército, minado pela indisciplina, e talvez mesmo dissolvendo-o. Em face dos boatos sôbre a Guarda Nacional, coman dada pelo Barão do Rio Apa, Rui Barbosa tampouco a poupou. Distribuiu-lhe boas bordoadas, protestando contra aquilo que os jornais já haviam caracterizado como a "coronelização" . em massa, para fins políticos. Onde quer que o govêrno de Ouro Prêto procurasse usar de um artifício para ampliar o seu prestígio, lá estava, infatigável, atento, diabólico, impla cável, o adversário indômito e indormido. Escrevia Rui que essa "instituição tão perniciosa nos seus planos, quanto ridícula no seu estado atual, é a cultura organizada dêsse sentimento pequenino, depressor, subserviente, que converte bons cidadãos em bonecos do executivo, a trôro da posição airosa, a que os rebaixa, de soldadinhos de chumbo". E acres centa: "A vaidade, "se não alui tôdas as virtudes, pelo menos a tôdas combale". E o que não teria esquecido por interêsses passageiros um govêrno, sinceramente liberal". Afirma ;Rui que "uma farda com um decreto de ministro não basta para formar um soldado, nem um miliciano. E preciso que o povo sinta pulsar sob o peito boleado e ponteado pelos botões de 10 R. MAGALHÃES JÚNIOR ouro o sentimento da profissão, a bravura guerreira, ou o espírito do civismo armado". Declara que o povo do Rio de Janeiro riu, - riu em rega-bofe, em cascalhadas de arre bentar os rins e partir as ilhargas, riu como nunca se rira coletivamente nesta terra, - em face de uma parada espe taculosa, em que se exibira desajeitadamente a Guarda Nacio nal, e arremata êsse veemente artigo, intitulado "A Patetice Nacional", com o seguinte fecho: "Acabemos, em todo o caso, por confessar que se "tudo o que distrai, e faz rir, é excelente", como queria Diderot, a Guarda Nacional é a excelência por excelência ... " O que importava, em artigos como êsses, que Rui publi cava no "Diário de Notícias", e os de "0 País" e do "Correio do Povo", no mesmo sentido, era menos a nota de ridículo, lançada contra a instituição que Ouro Prêto preparava, para n~la arrimar;-se, do que a afirmação, tantas vêzes repetida, de que se destinava a ser o "outro Exército", a "nova fôrça armada", a "tropa leal à monarquia", que se substituiria à outra, a antiga, a tradicional, mas tocada pelo gérmen da rebeldia e da indisciplina ... * * * Os objetivos de Ouro Prêto seriam, talvez, simplêsmente políticos, mas no ambiente de agitação pré-revolucionário, quaisquer que fôssem os pretextos e os boatos, eram sempre bons quando atingiam aos seus fins. Administrador de capa cidade já anteriormente comprovada, homem público de ina tacável honradez, -de uma probidade a tôda prova, Ouro Prêto se perdia, no entanto, pela intransigência, pela infle xibilidade, pelo espírito rigorista. Não era homem pa,ra momento tão difícil, para tão aguda crise. Suas tentativas para ser hábil resultavam sempre em desastre. Perseguia-o a má sorte, empenhada em virar-lhe os planos pelo avêsso. Exemplo disso foi a escolha de Cunha Matos, indicado, como vimos, para exercer a presidência da Província de Mato Grosso. A intenção de Ouro Prêto, - êle o confessaria, mais tarde, em seu manifesto, - era chamar Deodoro de seu destêrro, fazendo-o regressar, prestigiado, à Côrte.