Programa de Estudos Pós- Graduados em Comunicação e Semiótica Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

A instauração do discurso da economia criativa no audiovisual: um diálogo sobre a produção cinematográfica brasileira e argentina.

Linha de Pesquisa Processos de criação na comunicação e na cultura

Orientador: Prof. Dr. José Amálio de Branco Pinheiro

Regina Helena Giannotti Novembro de 2017

Regina Helena Giannotti

A instauração do discurso da economia criativa no audiovisual: um diálogo sobre a produção cinematográfica brasileira e argentina.

Doutorado em Comunicação e Semiótica

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção de título de Doutora em Comunicação e Semiótica, sob orientação do Prof. Dr. José Amálio de Branco Pinheiro.

São Paulo 2017

Banca Examinadora:

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Resumo: a presente tese demonstra que é no entrelaçamento das dimensões políticas, econômicas, sociais, culturais e institucionais o local em que são criados os contratos de comunicação que tornam visíveis determinadas séries culturais. Traçou-se um quadro comparativo entre os contratos de comunicação identificados nas produções cinematográficas brasileira e argentina, de 2009 a 2016, como forma de evidenciar os regimes de (in)visibilidade e a instalação dos discursos da economia criativa na urdidura que é cerzida. Utilizou-se como base metodológica autores que analisam a forma como se dão esses entrelaçamentos, tais como Althusser (1976), Adam Smith (1988), Benhamou (2007), Bourdieu (2005), Pinheiro (2013), Espinosa (2009) e Wagner (2002). A fim de compreender a lacuna que se formou quando a complexidade relacional cerzida entre o homem e a natureza foi rompida, e, de analisar a forma como se deu a transferência da cultura para a economia, utilizou-se como referencial teórico os estudos desenvolvidos por (2008), Pinheiro (2013), Renato Ortiz (2004), Boaventura de Sousa Santos (2010), Morin (2011) e Martin-Barbero (2009). Entretanto, para compreender o problema que se configura quando se identifica a inexistência de limites definidos para o escopo das chamadas "economias criativas", na medida em que funde as fronteiras entre a economia da cultura e do conhecimento, utilizou-se o pensamento defendido por Reis (2006). Para se explicitarem as razões pelas quais os países têm utilizado a cultura como eixo fundante do desenvolvimento econômico, utilizou-se a definição em desenvolvimento do "terceiro espírito capitalista" defendido por Boltanski e Chiapello (2009). Para compreender as diversas forças que impulsionam a esse desenvolvimento, como a organização flexível da produção, a difusão das inovações e conhecimento, a mudança e a adaptação das instituições, utilizou-se o pensamento defendido por Sennet (2012). Para adicionar às reflexões já desenvolvidas outras duas dimensões cruciais quando se fala em desenvolvimento - a cultura e o crescimento econômico - utilizou-se uma base teórica que adota os conceitos e ideias de cultura e de economia defendidos por Celso Furtado (2008); as ideias de cultura defendidas por Roy Wagner (2002) e Amálio Pinheiro (2013) ao analisar as sociedades mestiças treinadas em tradução; e o que postula Richard Sennet (2012), quando aborda a flexibilização da produção mediada pela criatividade e pela inovação. E, finalmente, para analisar os contratos de comunicação e os regimes de (in)visibilidade criados pela instalação do discurso das economias criativas, utilizaram-se os estudos desenvolvidos por Prado (2013). (382 palavras)

Palavras-chave: economia criativa; contratos de comunicação; convocações biopolíticas; processos criativos e cultura; regimes de (in)visibilidade.

Abstract: the present thesis shows that it is in the intertwining of political, economic, social, cultural and institutional dimensions the place in which communication contracts are created that make certain cultural series visible. A comparison was made between the communication contracts identified in the Brazilian and Argentinean film productions from 2009 to 2016 as a way of highlighting the regimes of (in) visibility and the installation of discourses of the creative economy in the warp that is darkened. In the case of one of the most important in the history of mankind, it can be said that, 2002). In order to understand the gap that formed when the complex relational complexity between man and nature was broken and to analyze the way in which the transference of culture to the economy took place, the studies developed by Celso Furtado, (2008), Pinheiro (2013), Renato Ortiz (2004), Boaventura de Sousa Santos (2010), Morin (2011) and Martin-Barbero (2009). However, in order to understand the problem that arises when one identifies the lack of defined limits for the scope of the so-called "creative economies", insofar as it fuses the boundaries between the economy of culture and knowledge, defended by Reis (2006). In order to make explicit the reasons why the countries have used culture as the fundamental axis of economic development, the definition in development of the "third capitalist spirit" defended as Boltanski and Chiapello (2009) was used. To understand the diverse forces that drive this development such as flexible organization of production, diffusion of innovations and knowledge, change and adaptation of institutions used the thinking advocated by Sennet (2012). In order to add to the already developed reflections two other crucial dimensions when speaking in development: culture and economic growth was used a theoretical basis that adopts the concepts and ideas of culture and economy defended by Celso Furtado (2008); the ideas of culture defended by Roy Wagner (2002) and Amalio Pinheiro (2013) in analyzing the mestizo societies trained in translation; and Richard Sennet (2012) when it addresses the flexibilization of production mediated by creativity and innovation. And finally, the studies developed by Prado (2013) were used to analyze the communication contracts and the (in) visibility regimes created by the installation of the discourse of the creative economies.

Keywords: economy-creative; communication contracts; biopolitical calls; creative processes and culture; the (in) visibility regimes.

Resumen: la presente tesis demuestra que es en el entrelazamiento de las dimensiones políticas, económicas, sociales, culturales e institucionales el lugar en que se crean los contratos de comunicación que hacen visibles determinadas series culturales. Se trazó un comparativo entre los contratos de comunicación identificados en las producciones cinematográficas brasileña y argentina de 2009 a 2016 como forma de evidenciar los regímenes de (in) visibilidad y la instalación de los discursos de la economía creativa en la urdimbre que es cerzida. En el caso de que se trate de una de las más importantes de la historia de la humanidad, se puede decir que, 2002). A fin de comprender la brecha que se formó cuando la complejidad relacional cerzida entre el hombre y la naturaleza se rompió y analizar la forma en que se dio la transferencia de la cultura a la economía se utilizó como referencial teórico los estudios desarrollados por Celso Furtado, (2008), Pinheiro (2013), Renato Ortiz (2004), Boaventura de Sousa Santos (2010), Morin (2011) y Martin-Barbero (2009). Sin embargo, para comprender el problema que se configura cuando se identifica la inexistencia de límites definidos para el alcance de las llamadas "economías creativas", en la medida en que funde las fronteras entre la economía de la cultura y del conocimiento se utilizó el pensamiento defendido por Reis (2006). Para explicitar las razones por las cuales los países han utilizado la cultura como eje fundante del desarrollo económico se utilizó la definición en desarrollo del "tercer espíritu capitalista" defendido como Boltanski y Chiapello (2009). Para comprender las diversas fuerzas que lo impulsan ese desarrollo como la organización flexible de la producción, la difusión de las innovaciones y el conocimiento, el cambio y la adaptación de las instituciones se utilizó el pensamiento defendido por Sennet (2012). Para agregar a las reflexiones ya desarrolladas otras dos dimensiones cruciales cuando se habla en desarrollo: la cultura y el crecimiento económico se utilizó una base teórica que adopta los conceptos e ideas de cultura y economía defendidos por Celso Furtado (2008); las ideas de cultura defendidas por Roy Wagner (2002) y Amalio Pinheiro (2013) al analizar las sociedades mestizas entrenadas en traducción; y Richard Sennet (2012) cuando aborda la flexibilización de la producción mediada por la creatividad y la innovación. Y finalmente para analizar los contratos de comunicación y los regímenes de (in) visibilidad creados por la instalación del discurso de las economías creativas se utilizaron los estudios desarrollados por Prado (2013).

Palabras clave: economía-creativa; contratos de comunicación; convocatorias biopolíticas; procesos creativos y cultura; los regímenes de (in) visibilidad.

INTRODUÇÃO 12

CAPÍTULO 1. O CONTEXTO LATINOAMERICANO E A ECONOMIA CRIATIVA 17

1.1 DO SINGULAR AO SIMBÓLICO 18

1.2 DO SIMBÓLICO AO POLÍTICO 22

1.3 DO POLÍTICO AO CRIATIVO 25

1.4 DO CRIATIVO À RESSIGNIFICAÇÃO 31

CAPÍTULO 2: O CAPITALISMO E SEUS MECANISMOS DE APROPRIAÇÃO 38

2.1. A CULTURA E O RESGATE SIMBÓLICO DA POLÍTICA 45

2.2 OS MECANISMOS DE APROPRIAÇÃO DA CULTURA PELA ECONOMIA CAPITALISTA 52

2.3 O NOVO ESPÍRITO DO CAPITALISMO 55

CAPÍTULO 3. POR UMA DEFINIÇÃO DE ECONOMIA CRIATIVA 64

3.1 O POTENCIAL DA ECONOMIA CRIATIVA NO BRASIL 66

3.2 O POTENCIAL DA ECONOMIA CRIATIVA NO CONTEXTO LATINOAMERICANO 72

3.3 POR UM CONCEITO DE ECONOMIA CRIATIVA 75

CAPÍTULO 4. A CULTURA E O DESENVOLVIMENTO 86

4.1. O PARADOXO DO CRESCIMENTO E DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO 86

4.2 A FORMAÇÃO DISCURSIVA DA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO BRASIL 91

4.3 A FLEXIBILIZAÇÃO DA PRODUÇÃO E DAS INSTITUIÇÕES COMO FATOR PREPONDERANTE 94

CAPÍTULO 5 - A PRODUÇÃO CINEMATOGRÁFICA DO BRASIL E DA ARGENTINA 103

5.1 O CINEMA BRASILEIRO E ARGENTINO 107

5.2. METODOLOGIA DE ANÁLISE PARA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DOS FILMES 112

5.3 CONVOCAÇÃO BIOPOLÍTICAS E A INSTALAÇÃO DOS DISCURSOS DAS CHAMADAS "ECONOMIAS CRIATIVAS" 122

5.4. A SELEÇÃO E A ANÁLISE DO CORPORA DE PESQUISA 125

5.4.1. ANÁLISE DO CONTEÚDO DO FILME "É PROIBIDO FUMAR" 131

5.4.2. ANÁLISE DO CONTEÚDO DO FILME "5X FAVELA: AGORA POR NÓS MESMOS" 134

5.4.3 ANÁLISE DO CONTEÚDO DO FILME: MEDIANERAS: BUENOS AIRES NA ERA DO AMOR VIRTUAL 143

5.4.4 ANÁLISE DO CONTEÚDO DO FILME "ELEFANTE BLANCO" 148

5.4.5 ANÁLISE DO CONTEÚDO DO FILME "TRASH: A ESPERANÇA VEM DO LIXO" 157

5.4.6 ANÁLISE DO CONTEÚDO DO FILME "EL ABRAZO DE UNA SERPIENTE" 165

CAPÍTULO 6 OS LIMITES DA ECONOMIA CRIATIVA: USOS POLÍTICOS E CONCLUSÕES 177

BIBLIOGRAFIA CITADA 190

ANEXOS 196

Relação de Tabelas

TABELA 1: ATIVIDADES RELACIONADAS AOS SETORES CRIATIVOS 69

TABELA 2: ATIVIDADES CONTIDAS NOS NÚCLEOS CRIATIVOS DO MODELO DE TEXTOS SIMBÓLICOS 82

TABELA 3: ORGANIZAÇÃO DAS ATIVIDADES CRIATIVAS NO MODELO WIPO 83

TABELA 4: MERCADO AUDIOVISUAL BRASILEIRO - BILHETERIA DE CINEMA 108

TABELA 5: EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE SALAS DE CINEMA NO BRASIL DE 1971 ATÉ 2016 109

TABELA 6: SELEÇÃO DE TÍTULOS BRASILEIROS E ARGENTINOS PARA ANÁLISE 127

TABELA 7: FILMES BRASILEIROS LANÇADOS EM 2009 196

TABELA 8: LANÇAMENTO DE FILMES BRASILEIROS EM 2010 198

TABELA 9: LANÇAMENTOS DE FILMES BRASILEIROS EM 2011 200

TABELA 10: LANÇAMENTOS DE FILMES BRASILEIROS EM 2012 202

TABELA 11: LANÇAMENTOS DE FILMES BRASILEIROS EM 2013 204

TABELA 12: LANÇAMENTOS DE FILMES BRASILEIROS EM 2014 207

TABELA 13: LANÇAMENTOS DE FILMES BRASILEIROS EM 2015 210

TABELA 14: LANÇAMENTOS DE FILMES BRASILEIROS EM 2016 213

TABELA 15: LANÇAMENTOS DE FILMES ARGENTINOS EM 2009 216

TABELA 16: LANÇAMENTOS DE FILMES ARGENTINOS EM 2010 220

TABELA 17: LANÇAMENTOS DE FILMES ARGENTINOS EM 2011 225

TABELA 18: LANÇAMENTOS DE FILMES ARGENTINOS EM 2012 230

TABELA 19: LANÇAMENTOS DE FILMES ARGENTINOS EM 2013 233

TABELA 20: LANÇAMENTOS DE FILMES ARGENTINOS EM 2014 236

TABELA 21: LANÇAMENTOS DE FILMES ARGENTINOS EM 2015 240

TABELA 22: LANÇAMENTOS DE FILMES ARGENTINOS EM 2016 244

RELAÇÃO DE FIGURAS

FIGURA 1: MAPA DAS MEDIAÇÕES SUGERIDO POR MARTIN-BARBERO ...... 48

FIGURA 2: MODELO DOS CÍRCULOS CONCÊNTRICOS ...... 81

FIGURA 3: INDÚSTRIAS CRIATIVAS SEGUNDO MODELO DA UNCTAD ...... 84

FIGURA 4: EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE ESPECTADORES DO CINEMA ARGENTINO DE 2010 A 2016 ...... 111

FIGURA 5: CENA DO FILME É PROIBIDO FUMAR: SEÇÕES DE DEPILAÇÃO ...... 129

FIGURA 6: CENA DO FILME É PROIBIDO FUMAR: COMPORTAMENTOS E QUALIDADES ESPERADOS DE UMA MULHER ...... 130

FIGURA 7: CENA DO FILME É PROIBIDO FUMAR: VÍCIO INCONTROLÁVEL ...... 130

FIGURA 8: 5 X FAVELA: EPISÓDIO ACENDA A LUZ ...... 138

FIGURA 9: 5X FAVELA | EPISÓDIO ACENDA A LUZ ...... 139

FIGURA 10: MULTIDÃO DE MEDIANERAS ...... 141

FIGURA 11: MEDIANERAS: ONDE ESTÁ WALLY? (EM BUSCA DE IDENTIFICAÇÃO EM MEIO À MULTIDÃO) ...... 141

FIGURA 12: MARTIN E MARIANA NAS JANELAS DAS MEDIANERAS ...... 142

FIGURA 13: PADRES JULIÁN E NICOLÁS TENTANDO SALVAR ESTÉBAN ...... 148

FIGURA 14: PAREDES EXTERNAS DA CAPELA DE VILA VIRGEN ...... 151

FIGURA 15: MISSA SENDO CELEBRADA PARA APLACAR A BRIGA ENTRE A COMUNIDADE E OS POLICIAIS ...... 153

FIGURA 16: ELEFANTE BLANCO: O ESQUELETO ...... 154

FIGURA 17: CENA DA PROCISSÃO EM HOMENAGEM AO PADRE JULIÉN ...... 155

FIGURA 18: CENA DO FILME TRASH: A ESPERANÇA VEM DO LIXO | FUNERAL DA FILHA DE JOSÉ ÂNGELO ...... 157

FIGURA 19: PERSONAGENS MIRINS | "VIVER NAS MARGENS ...... 160

FIGURA 20: PRESIDIÁRIO COMBINANDO COM AGENTE CARCERÁRIO A ENTREGA DA BÍBLIA PARA GARDO ...... 160

FIGURA 21: CENA DO FILME TRASH: A ESPERANÇA VEM DO LIXO ...... 161

FIGURA 22: CENA FILME: TRASH: A ESPERANÇA VEM DO LIXO ...... 162

FIGURA 23: KARAMAKATE REFAZENDO A VIAGEM QUE HAVIA FEITO HÁ 40 ANOS ...... 165

FIGURA 24: KARAMAKATE CHEGANDO AO LOCAL EM QUE HÁ OS ÚLTIMOS EXEMPLARES DA YAKRUNA ...... 167

FIGURA 25: BRANCOS E ÍNDIOS EM CONTATO ...... 169

FIGURA 26: KARAMAKATE CURANDO THEODOR VON MARTIUS COM O CONHECIMENTO DAS ERVAS DA

NATUREZA ...... 170

RELAÇÃO DE FICHAS TÉCNICAS DOS FILMES ANALISADOS

FICHA TÉCNICA 1: É PROIBIDO FUMAR ...... 128

FICHA TÉCNICA 2: 5 X FAVELA: AGORA POR NÓS MESMOS ...... 133

FICHA TÉCNICA 3: MEDIANERAS: BUENOS AIRES NA ERA DO AMOR VIRTUAL ...... 139

FICHA TÉCNICA 4: ELEFANTE BLANCO ...... 146

FICHA TÉCNICA 5: TRASH: A ESPERANÇA VEM DO LIXO ...... 156

FICHA TÉCNICA 6: EL ABRAZO DE UNA SERPIENTE ...... 163

RELAÇÃO DE QUADROS DOS FILMES ANALISADOS

QUADRO 1: SÍNTESE DOS ELEMENTOS DAS NARRATIVAS DA CORPORA DE PESQUISA ...... 121

QUADRO 2: QUADRO SINÓPTICO COM A IDENTIFICAÇÃO DA INSTALAÇÃO DOS TEMAS QUE REVESTEM O

DISCURSO DAS ECONOMIAS CRIATIVAS ...... 126

QUADRO 3: RECORTE DO QUADRO SINÓPTICO "É PROIBIDO FUMAR" ...... 131

QUADRO 4: RECORTE DO QUADRO SINÓPTICO : 5X FAVELA: AGORA POR NÓS MESMOS ...... 135

QUADRO 5: RECORTE DO QUADRO SINÓPTICO 1: "MEDIANERAS: BUENOS AIRES NA ERA DO AMOR VIRTUAL" ...... 143

QUADRO 6: RECORTE DO QUADRO SINÓPTICO 1: "ELEFANTE BLANCO" ...... 148

QUADRO 7: RECORTE DO QUADRO SINÓPTICO 1: "TRASH: A ESPERANÇA VEM DO LIXO" ...... 158

QUADRO 8: RECORTE DO QUADRO SINÓPTICO 1: "EL ABRAZO DE UNA SERPIENTE " ...... 165

Introdução Os estudos sobre as chamadas "economias criativas" proliferaram consideravelmente nos últimos anos. Tem-se como primeira referência governamental, um relatório de áreas ligadas à tecnologia e à criatividade, publicado pela primeira-ministra Margareth Thatcher, em 1983. Mais tarde, em 1994, um conjunto de políticas públicas de incentivo à cultura e às artes foi apresentado pelo primeiro ministro da Austrália em um relatório em que se cunhou o termo "Creative Nation1". Em 1996, o assunto foi incorporado à plataforma de governo de Tony Blair. No mesmo ano, a ONU (Organização das Nações Unidas) produzia a primeira Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento, afirmando-o como um direito humano ao mesmo tempo em que é um direito e dever dos Estados. Apesar de haver a intenção de assegurar o direito ao desenvolvimento, o paradoxo entre crescimento e desenvolvimento econômico mantem-se inalterado a despeito dos cenários geopolíticos sofrerem inúmeras modificações do final dos anos 90 até os dias de hoje. A alternância, e a própria dinâmica do poder, impede-nos de realizar uma análise mais detida. O fato é que o modelo de desenvolvimento econômico tal como conhecemos já vem dando sinais de falência há tempos e os primeiros anos do século XXI apenas tornaram mais urgente a necessidade de substituí-lo. A década de 90, e todas as suas (in)certezas, intensificou os debates sobre a necessidade de se encontrar um modelo de desenvolvimento econômico alternativo. Procurando evitar as conceituações e as diferenciações comuns nesse tipo de análise, procurou-se trilhar um percurso em que, sob o pretexto de defender a cultura e suas produções, também se evitasse a lógica da manutenção dos binarismos. Ao contrário, procurou-se evidenciar a trama sobre a qual estão as chamadas "economias criativas" e o quão fácil é incorrer nesses binarismos quando se analisa a cultura e suas produções. Procurou-se demonstrar que é no entrelaçamento das dimensões políticas, econômicas, sociais, culturais e institucionais o local em que são criados os contratos de comunicação que tornam visíveis determinadas séries culturais. Traçou-se um comparativo entre os contratos de comunicação identificados nas produções cinematográficas brasileira e argentina como forma de evidenciar os regimes de (in)visibilidade atribuídos a essas

1 Creative Nation: nação criativa (tradução livre)

12 produções e sua eventual relação com os acontecimentos das cenas política, econômica e social que determinam tais regimes. Para alcançar o objetivo proposto, foi inevitável responder a questionamentos como: qual é a lógica que envolve os processos culturais e o desenvolvimento econômico?; a constituição de novos modelos econômicos exige a construção de novas mentalidades?; em que medida a definição de economia criativa adotada pelo governo federal brasileiro, e vigente no Plano Nacional de Cultura, difere das definições utilizadas pelo governo argentino, por exemplo?; que tipo de educação ou habilidades são necessárias para aproveitar as competências criativas de um país?; qual é a relação entre cultura e criatividade?; por que a cultura é importante para o desenvolvimento humano?; por que a cultura tem sido utilizada como eixo para o desenvolvimento econômico?; como avaliar qualitativamente as produções culturais de uma determinada cultura?; como avaliar os processos culturais e suas produções em contextos como o da América Latina? Essas inquietações todas acabaram por se configurarem no problema de pesquisa em que se investiga: "que mentalidades devem ser construídas no cenário doméstico e internacional para que as chamadas "economias criativas" consolidem-se tanto como uma alternativa ao modelo de desenvolvimento econômico quanto como um dispositivo produtor de sentidos representantes da diversidade cultural do Brasil e da Argentina”. Utiliza-se como corpora de pesquisa as produções audiovisuais fílmicas brasileiras e argentinas dos anos 2009 a 2016. Para demonstrar que há a necessidade de se constituírem novas mentalidades, tanto no cenário doméstico quanto no internacional, tem-se duas hipóteses como proposições testáveis para o problema de pesquisa: a) a de que os poderes instituídos têm criado certos regimes de (in) visibilidade que privilegiam determinadas séries culturais em detrimento de outras; e, b) a de que a criatividade e a inovação, qualidades salientes da cultura, estejam sendo colonizadas pelos interesses de mercado, sem produzir os sentidos que representem a diversidade cultural de ambos países;

No capítulo 1, intitulado "O contexto latinoamericano e a economia criativa", procurou-se compreender o entrelaçamento sobre o qual as chamadas "economias criativas" ganham relevo e adquirem importância política, econômica e cultural em

13 diferentes contextos, em especial no latinoamericano. Utilizou-se como recurso de pesquisa uma revisão bibliográfica que permitisse evidenciar a urdidura que é cerzida quando os campos da cultura e da economia são sobrepostos; e, quando o resultado dessa sobreposição ganha importância política e social. Assim, ao invés de conceituar o termo e explicitar as vantagens e as desvantagens contidas nesse modelo alternativo em relação ao modelo econômico em vigor, procurou-se narrar e compreender o percurso trilhado pela cultura até que fosse utilizada como eixo fundante do desenvolvimento econômico. O primeiro capítulo foi dividido em seções para dar conta de explicitar a trama que se constitui quando o objeto de estudo é a cultura: do singular ao simbólico; do simbólico ao político; do político ao criativo; e, do criativo à ressignificação dos sentidos e dos contextos culturais, pois nos parece que é por meio desse mecanismo que os poderes instituídos têm se apropriado das produções e séries culturais para torná-las (in)visíveis em detrimento das outras, selecionando a audiência e estratificando o consumo. No capítulo 2, intitulado "O capitalismo e seus mecanismos de apropriação", buscou-se: i) compreender a lacuna que se formou quando a complexidade relacional entre o homem e a natureza foi rompida; e, ii) analisar a forma como se deu a transferência da cultura para a economia. Utilizou-se como referencial teórico de suporte os estudos desenvolvidos por Celso Furtado em "Criatividade e dependência na civilização industrial", o pensamento defendido por Amálio Pinheiro (2013), as reflexões sobre "Estudos Culturais" desenvolvidos por Renato Ortiz (2004), o entendimento sobre o "desperdício da experiência" de que fala Boaventura de Sousa Santos (2010), a noção de complexidade de Morin (2011) e o entendimento sobre o contexto latinoamericano de Martin-Barbero (2009). As seções do capítulo 2 dão conta de explicar como se deu o resgate simbólico da política por intermédio da cultura e também explicita quais são os mecanismos de apropriação da cultura utilizados pela economia capitalista. No capítulo 3, intitulado "Por uma definição de economia criativa", apresentam-se as principais distinções, definições e, especialmente, os limites para a atuação da "economia criativa". Como ressalta Reis (2006), ainda que alguns críticos possam fazer ressalvas acerca das definições que emergem, a "economia criativa" é uma economia e, como tal, pressupõe a existência de um mercado e de suas lógicas, além de pressupor que nem sempre ela tende a ser sustentável. Mais que afirmações, a autora evidencia suas preocupações na condução da "economia criativa" como estratégia de política pública. Ela

14 denuncia que não existem limites definidos para o escopo das chamadas "economias criativa", e que isso se configura como um problema que exige reflexão na medida em que funde as fronteiras entre a economia da cultura e do conhecimento. As divisões do mesmo capítulo permitem compreender o potencial das chamadas "economias criativas" tanto no Brasil quanto no contexto latinoamericano. Discute também a miscelânea de conceitos e de literaturas que conformam a atual definição de economia criativa e como ela está organizada no Brasil. Já no capítulo 4, intitulado "A cultura e o desenvolvimento", buscou-se explicitar as razões pelas quais os países têm utilizado a cultura como eixo fundante do desenvolvimento econômico. Como sugerem Boltanski e Chiapello (2009), o terceiro espírito capitalista encontra-se em desenvolvimento e, entre as diversas forças que o impulsionam, encontram-se a organização flexível da produção, a difusão das inovações e conhecimento, a mudança e a adaptação das instituições. A conjugação desses elementos cria setores criativos que diferem em organização e em proporção quando comparados aos setores tradicionais das economias neoliberais. Nesse sentido, a seção 4.1. intitulada "o paradoxo do desenvolvimento e do crescimento econômico" do quarto capítulo objetivou adicionar às reflexões outras duas dimensões cruciais quando se fala em desenvolvimento: a cultura e o crescimento econômico. A base teórica utilizada para essa finalidade adota os conceitos e ideias de cultura e de economia defendidas por Celso Furtado; as ideias de cultura defendidas por Amálio Pinheiro ao analisar as sociedades mestiças treinadas em tradução; e os preceitos de Richard Sennet quando aborda a flexibilização da produção mediada pela criatividade e pela inovação. Utiliza também as ideias defendidas por Bresser-Pereira para tratar do paradoxo entre o desenvolvimento e o crescimento econômico. Tendo como pano de fundo uma compreensão ampliada sobre a trama de relações sobre o qual ancoram-se as chamadas "economias criativas", no capítulo 5, intitulado " A produção cinematográfica do Brasil e da Argentina" explicita-se: primeiro, a razão porque se optou pela produção cinematográfica; segundo, como se pretende realizar a análise proposta; e, por fim, como estabelecer as conexões necessárias para avaliar os regimes de (in) visibilidade que são criados a partir dos acontecimentos da cena política. No mesmo capítulo, apresenta-se a metodologia que será empregada para analisar a seleção de filmes do período, assim como os critérios que foram adotados para a escolha da

15 corpora de pesquisa que seria analisada e, ainda, um levantamento de todos os lançamentos de filmes brasileiros e argentinos, de 2009 a 2016. Por fim, o capítulo 6, intitulado " Os limites da economia criativa: usos políticos e conclusões", apresenta todas as reflexões que o percurso de pesquisa possibilitou realizar. Apresenta também uma análise crítica sobre os limites das convocações biopolíticas e da instalação dos discursos da economia criativa no cotidiano das pessoas e dos países. Discute e valida, ainda, as hipóteses apresentadas como proposições testáveis, constantando que os poderes instituídos têm criado certos regimes de (in) visibilidade que privilegiam determinadas séries culturais em detrimento de outras; por fim propõe que a criatividade e a inovação, qualidades salientes da cultura, estão sendo colonizadas pelos interesses de mercado sem produzir os sentidos que representem a diversidade cultural de ambos países. Espera-se que a presente tese contribua para o adensamento das discussões sobre as economias criativas em seu caráter multisciplinar, mas em especial, na área da comunicação.

16 Capítulo 1. O contexto latinoamericano e a economia criativa O objetivo deste primeiro capítulo é compreender o entrelaçamento sobre o qual as chamadas "economias criativas" ganham relevo e adquirem importância política, econômica e cultural em diferentes contextos, em especial, no que se refere ao latinoamericano. Para tanto, utilizou-se como recurso de pesquisa uma revisão bibliográfica que permitisse evidenciar a urdidura que é tecida quando os campos da cultura e da economia são sobrepostos; e, quando o resultado dessa sobreposição ganha importância política e social. Assim, ao invés de conceituar o termo e explicitar as vantagens e as desvantagens ao modelo econômico em vigor, contidas nesse modelo alternativo, procurou-se narrar e compreender o percurso trilhado pela cultura até que esta fosse utilizada como eixo fundante do desenvolvimento econômico. Um levantamento inicial e superficial sobre o assunto fez emergir um manancial de pressupostos em que, subitamente, a inovação e a criatividade passam a adquirir importância, assim como a cultura e suas produções passam a ser valoradas e abrigam um potencial de inclusão social e de cidadania; ou ainda, o pressuposto de que a diversidade cultural brasileira e a capacidade de acolher a pluralidade são o grande dínamo para um modelo de desenvolvimento econômico alternativo; e, por fim, pressupõe-se que os processos culturais de paisagens excêntricas possam ser aceitas e declaradas como patrimônio cultural imaterial; nesse contexto, o tema "economia criativa" adquire grande visibilidade midiática. Tais pressupostos apenas evidenciam os pilares sobre os quais as chamadas "economias criativas" estão fundadas: o singular, o simbólico e a criatividade. Ao optar por uma abordagem que explicite o quão frágil é a visada econômica quando o assunto é cultura e suas inúmeras variações, evitam-se as generalizações típicas dos binarismos contidos no pensamento ocidental. Como veremos, a trama sobre a qual arvora-se a "economia criativa" é mais complexa que se pode imaginar e não se podem excluir as contribuições das culturas e suas mesclas para a criação de novas séries e produções culturais. Para estudar as "economias criativas", como sugere Pinheiro (2013, p.29), faz-se necessário "substituir a alternativa ou pelo advérbio não totalizante de inclusão também".

17 Em contextos como o latinoamericano, as séries e também as produções culturais que são criadas pela mescla contínua são "contra a ideia de modelos originais de influência por sucessão", conforme sugere Pinheiro (2013, p.27). Por esse motivo, os dados contidos nos diversos levantamentos, tanto governamentais quanto privados, sobre as produções e séries culturais, não são suficientemente amplos a ponto de abrigarem as possibilidades contidas na mescla. Invariavelmente, apenas o potencial econômico das culturas é objeto de destaque nesses levantamentos. Nesse sentido, mesmo que os poderes instituídos queiram reduzir e explorar comercialmente as possibilidades contidas nas contiguidades das paisagens tipicamente barrocas, a cultura é um organismo vivo que não se deixa reduzir ou domar e seu valor imaterial, certamente, prevalecerá. A tentativa de explorar comercial e ideologicamente as possibilidades contidas nas séries e produções culturais são expressas quando são materializadas as relações entre ideologias e instituições. Quando isso ocorre, fica evidente o que se perde, e, como afirma Althusser (1976, p.8), "não é no campo das ideias que as ideologias existem" e sim no conjunto de práticas materiais. Em seu livro intitulado " Aparelhos ideológicos de Estado", o autor tece uma crítica sobre a teoria funcional das instituições e apresenta uma reflexão sobre o mecanismo de sujeição. Para ele, esta não está presente somente nas ideias, mas no conjunto de práticas, de rituais, situados em um conjunto de instituições concretas. Desse modo, para dar manutenção ao mecanismo de sujeição, os aparelhos ideológicos de Estado são utilizados e a cultura é um desses aparelhos. Quando as produções culturais deixam de ser singulares, elas adquirem funções simbólicas e assumem importância política nos mais variados contextos. Ao reduzirem o potencial simbólico, a diversidade e a complexidade também perdem potência. Essas situações serão explicitadas nas seções a seguir.

1.1 Do singular ao simbólico

Até meados do século XVIII, as artes e as produções culturais permaneceram sob o jugo da aristocracia e da igreja, sendo, em grande medida, compreendidas e apreciadas como obras singulares e exclusivas. Diferente do pensamento típico da Revolução Industrial, em que a produção em escala se sobrepunha à produção individual e adquiria vantagem

18 sobre a concorrência, as artes de forma geral eram produzidas sob demanda. Eram classificadas como atividades de lazer cuja precificação esbarrava nos preceitos da escola clássica econômica de Adam Smith e David Ricardo, em que o preço de um bem mantinha relação direta com a quantidade de trabalho que havia sido vertida em sua produção. Nesse contexto, formula-se o questionamento de como calcular a quantidade de trabalho que havia sido empregada para a criação de um afresco ou de uma escultura. Quando aplicada à produção artística, essa lógica econômica tornava-se impraticável; as obras de artes eram singulares, únicas e sem concorrência, o que as excluía dessa lógica. De maneira simples, a teoria do valor do trabalho era o princípio básico da determinação do preço, não aplicando-se às produções de obras de arte da mesma maneira que era aplicada a outros produtos de consumo. Foi somente a partir dos tratados de economia, escritos em 1870, que essa prática foi revista. Nesse sentido, a teoria da utilidade marginal reverteu causa e efeito na medida em que estabeleceu uma conexão direta entre a utilidade de um bem e seu preço para o consumidor. Essa conexão é normalmente explicitada com o paradoxo de valor " água-diamante" utilizado por Adam Smith para revelar o relacionamento existente entre o valor de uso e o valor de troca. Entre outras considerações o autor afirmou que:

não há nada de mais útil que a água, mas ela não pode quase nada comprar; dificilmente teria bens com os quais trocá-la. Um diamante, pelo contrário, quase não tem nenhum valor quanto ao seu uso, mas se encontrará frequentemente uma grande quantidade de outros bens com o qual trocá-lo". (SMITH, 1988, p.33)

O que esse paradoxo demonstrava era a importância da utilidade marginal na decisão do consumidor. Dito de outra forma, era como a água ou o diamante seriam mais ou menos valorados em razão da escassez ou da abundância de sua oferta. As produções artísticas, de forma geral, eram escassas e seus preços, elevados. Entre o final do século XIX e início do século XX, a teoria da utilidade marginal ganhou tanto adeptos quanto diferentes aplicações. Enquanto uma corrente de economistas ingleses trabalhava com a função de utilidade contínua, a corrente de economistas austríacos trabalhava com a escala de valores descontínuas. As diferenças de

19 pensamento entre as correntes apenas nos permitiu definir a utilidade marginal sem assumir a existência de uma utilidade diferencial contínua. No que diz respeito à corrente austríaca, esta também demonstrou uma derivação da lei de utilidade marginal decrescente. Esses economistas postularam que a função da utilidade total aumenta em taxa decrescente enquanto a utilidade marginal diminui, mesmo quando a oferta do bem aumenta. Dito de forma simples, quanto mais um indivíduo ouvia música, por exemplo, mais aumentava seu gosto por ela, fazendo com que o aumento da oferta de música não diminuísse o preço que o consumidor estava disposto a pagar por ela. Para efeitos de mensurabilidade das artes e da cultura, essa teoria constitui-se numa exceção. Como se vê, a simples aplicação das teorias econômicas como tentativa de precificar a cultura e suas produções sugerem o teor negativo e usurpador que ocorre quando a visada econômica se apropria do campo da cultura. Oposto ao que ocorre quando as diferentes culturas são postas em choque ou em conflito: ao invés de ocorrer uma invasão, a exemplo do que se vê na economia, a invasão ocorre com vistas à tradução, em especial, em contextos latinoamericanos. Nessa perspectiva, Pinheiro (2013, p.28) sugere que "as sociedades mestiças ficaram treinadas em tradução: esse gesto sintático de assimilar e incluir o outro em si e o em si no outro". O resultado desse confronto é a incorporação daquilo que é singular, engastando as alteridades, sem qualquer privilégio ou demérito. Mais adiante teremos oportunidade de observar incorporações como as sugeridas por Pinheiro (op.cit), em especial em "El abrazo de una serpiente" em que a trajetória de "karamakate" demonstra como ele, um índio da amazônia colombiana conseguiu incorporar os hábitos dos conquistadores em seu modo de ser, sem deixar de ser um índio, por exemplo. Esses primeiros ensaios, associados a efeitos externos como investimentos de longo prazo, especificidade de remuneração, elemento de incerteza, utilidade marginal crescente e importância da ajuda tanto pública quanto privada são para Benhamou (2007) os precursores dos conceitos que instituíram a base da economia da cultura. A autora também sugere que a importância das artes para a vida econômica tenha sido definida pelos norte- americanos, que a compreendiam como um meio de criar e de fazer circular a informação, ou seja, atribuía-se à cultura o caráter simbólico.

20 Os autores William Baumol, William Bowen, Gary Becker, Alan Peacock e a escola Public Choice também são apontados pela autora (op.cit) como aqueles que abriram caminho para a futura economia da cultura. O reconhecimento institucional, de fato, somente se dá em 1994, com David Throsby e a publicação de um estudo 2 no Journal of Economic Literature, em que se reconhece a passagem do uso simbólico para o uso político da cultura. Para se compreender a passagem do simbólico para o político, é preciso relembrar a distinção proposta por Althusser (1976) a respeito dos aparelhos repressivos e ideológicos do Estado, cujo domínio era público e privado, respectivamente. Com isso, instituições como igrejas, partidos, sindicatos, famílias, escolas, jornais, empresas culturais etc. utilizavam-se das obras de artes como um vetor para distinguir entre o público e o privado, como uma distinção típica do direito burguês. Ao fazê-lo, o conjunto de sanções, de seleções e de exclusões, que emanava dessas classes dominantes, criava as condições de produção e de reprodução dessa ideologia. Tal distinção evidencia como as crenças, os rituais e seus significados são moldados por métodos próprios de sanções, de exclusões ou de seleções dessas instituições. Althusser (1976) afirma que é o duplo funcionamento dos aparelhos ideológicos - repressivo e ideológico - que tecem as combinações sutis em que as sanções, as seleções e as exclusões invadem e interpenetram na vida cotidiana, por exemplo. Esse duplo funcionamento já nos dá indícios das predileções e das preferências por certas séries e produções culturais e de que sua (in) visibilidade esteja diretamente associada às sanções, às exclusões e às seleções desses poderes instituídos. Ainda que a tensão entre os aparelhos de Estado se deem e seus sujeitos possam ser colonizados ou dominados de alguma forma, as coisas da paisagem não o são, como sugere Pinheiro (2013). A cultura é, seguramente, uma dessas coisas da paisagem que não podem ser colonizadas pelos interesses das classes dominantes ou pelos interesses econômicos em vigência. No campo da cultura, em especial a latinoamericana, não há a conhecida oposição entre superior e inferior, melhor e pior, o bom e o ruim. Nesse campo, prevalecem as múltiplas (re) combinações, as mesclas e as produções que delas decorrem.

2 Survey é um método de pesquisa pertinente quando o pesquisador pretende investigar o que, porque, como ou quando se dá uma determinada situação. O método, no entanto, não permite determinar as variáveis dependentes ou independentes. A pesquisa se dá no momento presente ou recente e trata situações reais do ambiente.

21 Essas reflexões permitem-nos compreender por que a cultura é tão importante para o desenvolvimento humano. Supõe-se que talvez porque é na cultura que o sistema de ideias e as representações que dominam o espírito humano ou um grupo social são expressas e é por esse mesmo motivo que elas são utilizadas como um recurso político de legitimação, de sanções, de seleção e de exclusão. A seção a seguir adensa a discussão a respeito da consolidação do caráter político das produções culturais.

1.2 Do simbólico ao político

Na medida em que a cultura e suas produções adquirem importância econômica e política em diferentes contextos, elas também se autonomizam. Quem explica esse processo, ao tratar do mercado de bens simbólicos, é Bourdieu (2005), quando afirma que, a exemplo do que havia ocorrido com o direito e com a política, na medida em que a vida intelectual e artística libertava-se do comando aristocrático e da Igreja, caracterizava-se o processo de autonomização. Esse movimento de libertação tinha por objetivo assumir o papel dominante que essas instituições ocupavam. Tal processo permitiu que o campo da forma e da estética não mais se assujeitassem aos interesses das classes dominantes, permitindo que os artistas passassem a legislar com exclusividade em seu próprio campo. Nesse sentido, o autor ressaltou que esse processo ocorreu em ritmos distintos entre as nações, acelerando-se no período da Revolução Industrial. Durante o processo, houve ampliação e diversificação de público como resultante da generalização do ensino elementar, permitindo às novas classes o acesso ao consumo cultural. Como asseverou o autor, tem-se , assim, os primóridos da indústria cultural. O entrelaçamento que nos interessa destacar é a secessão entre intelectuais e artistas, que instituiu o mercado de obras de arte. Ao constituir-se uma relação entre a imprensa cotidiana e a literatura, passou-se a permitir as produções em série de folhetins e romances, por exemplo. Bourdieu (2005) asseverou que o desenvolvimento do sistema de produção de bens simbólicos deu-se em paralelo a um processo de diferenciação resultante também da diversificação de público a que os produtores passaram a destinar seus produtos. Para o autor, esses produtos

22 constituem realidades com dupla face - mercadorias e significações - cujos valores propriamente cultural e mercantil subsistem relativamente independentes, mesmo nos casos em que a sanção econômica reafirma a consagração cultural" (Bourdieu, 2005, p. 102).

Foi justamente nesse momento que a classe artística tanto afirmou a irredutibilidade da obra de arte ao estatuto de simples mercadoria quanto singularizou a condição intelectual e artística. A transformação das obras artísticas em mercadorias estava relacionada aos interesses de pertencimento a que aspiravam as classes sociais. Os comportamentos sociais, as crenças, os modos de vestir, os modos de comer, a conduta, a moral e todas as representações sociais podiam ser, facilmente, expressas e disseminadas entre todos os estratos sociais. Tem-se, desse modo, mais indícios das sanções e seleções mencionadas anteriormente. Esse processo de afirmação e de singularização foi demasiadamente importante porque dotou essa categoria de independência relativa e de leis próprias, que foram responsáveis pela produção das condições favoráveis à construção de sistemas ideológicos próprios. Como afirmou Althusser (1976), os sistemas ideológicos e suas ideologias não estavam necessariamente ligadas a um passado histórico; ao contrário, as ideologias tinham uma história própria constituída e determinada pela luta de classes. Foi a secessão entre os artistas e os intelectuais o fator determinante para a constituição de uma ideologia própria. Bourdieu (2005) explicitou também que essa possibilidade desenvolveu-se a partir da mesma lógica contida nas chamadas teorias puras, como a economia, a política ou o direito, em que " reproduzem as divisões prévias da estrutura social com base na abstração inicial através da qual elas se constituem" (p.103). Ou seja, com base na própria história. Em outras palavras, a criação de uma teoria pura da arte foi possível primeiro porque se constituiu a obra de arte como mercadoria e segundo porque, em razão dos progressos da divisão do trabalho em andamento no período em tela, também se constituiu uma categoria particular de produtores de bens simbólicos. Essas condições criaram, na verdade, a dissociação entre a fruição desinteressada e irredutível e a mera posse material, ou seja, a cisão produzida por uma intenção meramente simbólica (a arte como pura significação) e aquela destinada à apropriação simbólica (a arte como simples mercadoria).

23 Nessa perspectiva, o autor defende que essa autonomização representou um revide à lógica de mercado que passou a pesar sobre a produção artística, especialmente quando a demanda da clientela selecionada fora substituída pelo público anônimo. Se, por um lado, o consumo de arte como simples mercadoria alterou, de forma significativa, as concepções de mundo dos diferentes públicos consumidores, por outro, as classes dominantes viram-se diante da possibilidade de disseminar os "modos de vida" e os "comportamentos esperados" nas variações das séries culturais. Tem-se , pois, os ditames do consumo postos. Mais adiante veremos como esses ditamos do consumo são expressos na corpora de pesquisa analisada. Apesar de ser observado na maioria dos filmes analisados, em "É proibido fumar" e em "Medianeras" esse mecanismo é bastante perceptível. Mais que um revide, a dissociação entre a fruição e a posse marcou a dissociação entre o campo da produção cultural erudita e o campo da indústria cultural. A lógica de funcionamento de ambos campos além de distinta é também caracterizada pela forma de exclusão (econômica e política) que adquirem em razão da seleção e do distanciamento que mantêm do público: intelecutal e da classe dominante. Essa prática é para Bourdieu (2005) o melhor indicador de autonomia, assegurando-lhes legitimidade cultural e isenção das leis vigentes de mercado. O problema que se configura com essa dissociação é o "não lugar" das produções culturais e artísticas oriundas das ruas. A permanência das produções do "não lugar" nas contiguidades apenas ampliou sua riqueza imaterial e assegurou a mescla. Como o "não lugar" parece ser o pano de fundo das produções culturais latinoamericanas, especialmente, compreendem-se as razões pelas quais elas nunca seguiram os padrões de produção ou de visibilidade impostos pelos poderes instituídos. A marginalidade é o "lugar" que descreve, por exemplo, os ritmos musicais resultantes das traduções das paisagens barrocas, as comidas, as poesias, os ritos religiosos, as festas, as produções fílmicas nacionais, o artesanato, entre outras. Ao mesmo tempo em que autonomizou a produção artística, o processo de dissociação entre o campo da produção erudita e o campo da indústria cultural também gerou desigualdade quando valorizou a distinção e a originalidade, exigindo de seu público o conhecimento e a detenção de um código prévio para decodificação de seu sentido. Excluiu e selecionou quando incorreu na lógica dual, submetendo a produção e a reprodução das produções artísticas à inculcação do sistema de ensino. Ao promover essa separação entre o público que poderia fruir, o campo de produção erudita também combateu as práticas

24 heterodoxas de criação e difusão, excluindo, por consequência, toda a produção cultural típica das ruas e do povo. Atribuiu-se a estas (como cinema, fotografia, jazz e demais produções) o nome de cultura média, conforme afirma Bourdieu (2005). Portanto, é na dimensão social que os aspectos puramente simbólicos da cultura e suas produções perdem importância para assumirem um caráter político; há, desse modo, a determinação dos padrões de consumo. De forma sucinta, Bordieu (2005), em sua obra intitulada "A economia das trocas simbólicas", explicitou o surgimento e a importância da dimensão social criada pela crítica, assim como seu papel na constituição de significados simbólicos e políticos. A seção a seguir adensa essa discussão.

1.3 Do político ao criativo Na seção anterior, explicitou-se a importância política adquirida pela recém-criada dimensão social e seu papel na constituição de significados simbólicos e políticos. Nesse sentido, o ponto de partida que devemos ter em mente nesta seção é que símbolos e pessoas existem em uma relação de mediação mútua e, portanto, constituem mentalidades. Quem nos convida a refletir sobre essa importância de conceber os indivíduos em contexto relacional é Espinosa (2009, p.42) ao falar sobre a "potência" , afirmando que:

se dois se opõem de acordo e juntam forças, juntos podem mais, e consequentemente têm mais direito sobre a natureza do que cada um deles sozinho; e quanto mais assim estreitarem relações, mais direito terão todos juntos.

O autor sugere, pois, a importância da dimensão social afirmando que é impossível pensar os indivíduos como se fossem desapossados daquilo que os constitui: a potência da natureza. A política, segundo Espinosa (2009), apenas pode ser pensada na essência entre esses modos da natureza que são os seres humanos. Assim, quando a crítica cria a secessão entre os intelectuais e os artistas, estes últimos passam a se organizar para fazer valer seus direitos fiando-se na potência da multidão. Espinosa (2009), também sugere que é a ordem das conexões entre os seus modos que fazem de cada uma delas uma teia de efeitos e de afetos que torna esse indivíduo mais ou menos independente ou submisso. Quando essa teia de afetos se dá, a multidão, como ele afirma, já está presente, e começa a emergir no próprio conceito de individualidade.

25 Não por outra razão, o pensar "o político" somente é possível nessa perspectiva. A dinâmica de funcionamento dessa multidão faz com que os indivíduos se reúnam não apenas para aumentar a própria potência, mas também para aumentar o seu bem-estar. O contrário também é verdadeiro; as exclusões e a formação de grupos que vão se opor costumam ser um dos efeitos possíveis da potência das multidões. Ao se constituírem numa dimensão social, esses indivíduos adquirem a capacidade e um horizonte de sobrevivência de uma ordem de grandeza diferentes do que teriam se estivessem isolados. A ideologia se perfaz e se traduz nas práticas cotidianas quando suas condições de construção e de realização estão postas. Assim, a crítica não constituiu apenas uma dimensão social; constituiu também um corpo político que dotou os artistas de um horizonte de sobrevivência diferente da que tinham quando as artes estavam sob o jugo da Igreja e da aristocracia. O que nos interessa relacionar, nesse aspecto, é a importância da cultura para a constituição da dimensão social. Optou-se, assim, por utilizar a ideia defendida por Wagner (2002), de que devemos entender cultura como uma perspectiva para se falar sobre o homem por dois motivos: primeiro porque o entendimento de cultura como uma perspectiva para se falar do homem impede-nos de incorrer em generalizações comuns quando o tema é a cultura; e, segundo, porque, como afirma o autor, jamais se descobriu um método infalível para classificar as diferentes culturas. O autor parte do pressuposto de que todas as dimensões são equivalentes a qualquer outra. Tal pressuposição é denominada relatividade cultural. A ideia de relação, como sugere Wagner (2002), é mais apropriada para conciliar pontos de vista equivalentes. Além disso, o viés de análise adotado por Wagner (2002, p.22) não recai nas dicotomias contidas naquilo que ele chamou de "o ocidente e o resto3,4". O argumento sugerido por ele é que o modo de simbolização diferenciante seja o único regime ideológico capaz de lidar com a mudança, como se verifica ao afirmar que [...] povos descentralizados, não estratificados, acomodam os lados coletivizante e diferenciante de sua dialética cultural mediante a alternância episódica entre estados rituais e seculares; civilizações altamente desenvolvidas asseguram o equilíbrio entre essas necessárias metades da expressão simbólica por meio da interação dialética de classes sociais complementares.

3 Todas as traduções são livres 4 Tradução livre: the west and the rest =o ocidente e o resto.

26

São os atos de diferenciação entre o sagrado e o secular, entre propriedades e prerrogativas, que regulam o todo, ou seja, todas as simbolizações dotadas de significado fiam-se na força da inovação e são expressas em metáforas. Em outras palavras, há processos de tradução ocorrendo de forma contínua e concomitante, construindo metáforas sobre metáforas, diferenciando-as das expressões anteriores e subsumindo-as em novas construções. Wagner (2002) compreendeu esse processo ao experienciar " a religião daribi", o que resultou na criação de um modelo epistemológico denominado "modelo habu5". Utilizou esse modelo para diferenciar os modos de simbolização entre convencional e diferenciante. No modo convencional, costuma-se estabelecer um contraste entre os próprios símbolos e as coisas que elas simbolizam - o contraste contexutal - enquanto no modo diferenciante os símbolos assimilam ou englobam as coisas que simbolizam. O autor chamou esse efeito (o que opera para negar a distinção) de obviação. A segunda contribuição ao modelo habu sugere que o simbolizador utilize um dos modos - convencional ou diferenciante- e, por fim, a terceira contribuição para o modelo habu sugere que toda cultura ou classe cultural significativa favorecerá uma das duas modalidades simbólicas como a área apropriada à ação humana, considerando-se o mundo dado ou o mundo inato. O sucesso para se viver em diferentes contextos depende da capacidade de participação e de comunicação dos indivíduos. Quando um desses suportes é perdido, Wagner (2002) afirma que ocorre o choque cultural. Ao questionar a existência das culturas, esse mesmo autor afirma que a ideia de cultura foi inventada pela Antropologia como uma forma de se falar sobre o homem, uma maneira de se falar sobre as coisas, de compreendê-las e de lidar com elas. Para Wagner, as culturas existem por dois motivos: primeiro por terem sido inventadas e segundo pela efetividade da invenção. Para ele, toda vez que um conjunto de convenções diferente é posto em relação com o sujeito há invenção da cultura. Essa capacidade inventiva é, para o autor, parte do fenômeno mais geral da criatividade humana que transforma mera pressuposição da cultura numa arte criativa. O estudo ou a representação de uma outra cultura não consiste, portanto, em mera descrição do objeto do mesmo modo que uma pintura não descreve meramente o que ela figura. A

5 Habu significa metáfora

27 diferença entre os símbolos está na força de materizalização e na capacidade de convencer (aquisição da qualidade de alegoria: são críveis e reconhecíveis). Assim, o agente que interpreta o objeto coloca seu repertório em contato com o estranho, para compreender e atribuir significado àquilo que vê. Quanto mais crível e reconhecível for a alegoria, mais fácil será seu significado e seu poder de simbolização. Nesse sentido, o que se pode inferir é que a invenção e a criatividade são duas qualidades salientes da cultura. Todavia, questiona-se o que é, afinal cultura. Verifica-se, entretanto, que o termo cultura recebeu diferentes significados ao longo do tempo. Nesse sentido, da noção de "cultivo", Wagner (2002, p.77-78) afirma que a Antropologia

entende cultura como uma equivalência abstrata de noção de domesticação e de refinamento humanos do indivíduo para o coletivo, de modo que pode-se falar de cultura como controle, refinamento, aperfeiçoamentos gerais do homem por ele mesmo, em lugar de conspicuidade de um só homem nesse aspecto. Empregada nesse sentido, a palavra também carrega fortes conotações de concepção de Locke e Rousseau do "contrato social", da moderação dos instintos e desejos naturais do homem por uma imposição arbitrária de vontade. O conceito oitocentista de evolução adicionou uma dimensão histórica a essa noção de criação e moderação do homem por ele mesmo, resultando no conceito otimista de "progresso".

O conceito de cultura adotado pela Antropologia parece-nos apropriado para falar sobre economia criativa no contexto latinoamericano, não apenas pelo entendimento de que haja processos de tradução cultural ocorrendo contínua e concomitantemente, mas pelo fato de que o cerne da cultura é a sua ciência, arte e tecnologia, a soma total das conquistas, invenções e descobertas que definem nossa ideia de civilização. Quando visitamos as "instituições culturais" de uma cidade, como seus museus, bibliotecas, orquestras sinfônicas, universidades, produção cinematográfica, produção artística etc., temos a oportunidade de ter contato com os documentos, registros, relíquias e corporificações das mais altas realizações humanas preservadas. É dessa forma que a arte e a cultura são mantidas vivas. Para Wagner (2002, p. 80), "essas conquistas são preservadas (em instituições), ensinadas (em outras instituições) e ampliadas (em instituições de pesquisa) mediante um processo cumulativo de refinamento."

28 Questiona-se, entretanto, o que isso quer dizer, inferindo-se que a produtividade e a criatividade de nossa cultura é definida pela aplicação, manipulação, reatualização ou extensão dessas técnicas e descobertas. Para Wagner (2002), qualquer tipo de trabalho, seja ele inovador ou produtivo, adquire sentido em relação a essa soma cultural que constitui seu contexto de significação. Qualquer trabalho faz uso de um complexo de descobertas tecnológicas e esforços produtivos interligados. Seu ato adquire sentido como "trabalho" mediante sua integração nesse contexto. Evidencia-se, pois, o entrelaçamento entre cultura x criatividade x economia. As chamadas "economias criativas", ao utilizarem a soma cultural como eixo fundante do desenvolvimento econômico, estão, na verdade, apropriando-se do trabalho dotado de significado produtivo, que é a base do nosso sistema de crédito, de maneira que se possa computá-lo em termos monetários. O tempo, os recursos empregados (oriundos da soma cultural acumulada), o trabalho, os direitos e as obrigações são postos em relação e podem ser monetizados. A renda de bilra pode ser comercializada sem ter valorado, por exemplo, a soma cultural contida no modo de fazer a renda. Os pratos típicos podem ser produzidos e monetizados sem que se considere a soma cultural contida na mescla de ingredientes e no modo de preparo. Não é por outra razão que a cultura representa, para as chamadas economias criativas, o incremento criativo e a produtividade que cria trabalho e conhecimento ao fornecer ideias, técnicas e descobertas. Em última análise, essa tônica contida na soma cultural molda o próprio valor da cultura. Para Wagner (2002), trabalho e produtividade são centrais em nosso sistema de valores e é neles que baseamos nosso sistema de crédito. Dessa forma, a riqueza e o dinheiro são símbolos do trabalho. Embora algumas técnicas sejam patenteadas e algumas fórmulas sejam de propriedade de particulares, " a maior parte de nossa tecnologia, de nossa herança cultural, é de conhecimento público, sendo posta à disposição pela educação pública", Wagner (2002, p. 82). A ideia de patrimônio imaterial, por exemplo, fia-se nesse contexto. Apenas para ilustrar algumas das descobertas históricas que são repassadas nas escolas, o fogo, a roda, o arco etc. representam algumas das invenções decorrentes da soma cultural. O que nos interessa ressaltar é que a cultura emerge como uma acumulação, uma somatória de invenções e de conquistas notáveis. Sabemos que, em diferentes contextos, produção e

29 trabalho adquirem sentidos distintos. Todavia, são as pessoas os elementos mais importantes da soma cultural. Wagner (2002, p. 88) afirma que "são as pessoas e as experiências e significados a ela associados que não se quer perder, mais do que as ideias e as coisas". Enquanto no mundo ocidental há a valorização de livros, de obras de artes e de museus, no contexto latinoamericano valorizamos as pessoas e seus estilos de criatividade e não a economia e sua mecânica de transferência. Assim, se a cultura é a base relativística para a compreensão dos povos, a comunicação é a base para dotá-la de significados. Toda expressão é dotada de significado e toda experiência e todo entendimento são uma espécie de invenção. Esta, dada a sua natureza, requer uma base de comunicações para compartilhar convenções e passar a fazer sentido. Em outras palavras, para que faça sentido, para que seja possível referir-se aos outros e ao mundo deles, bem como dos significados por eles compartilhados, é preciso haver expressão e comunicação de forma interdependente. Os significados compartilhados são criados a partir de contextos comuns. A depender da maneira como criamos e experienciamos diferentes contextos, atribuiremos diferentes significados às coisas. Utiliza-se o termo contexto para buscar uma base ou matriz relacional; é parte da experiência e algo que a nossa experiência constrói. Os elementos de um contexto convencionalmente reconhecidos costumam parecer pertencer mutuamente, assim como o contexto escolar pressupõe a existência de estudantes, professores, salas de aulas etc. Wagner (2002, p. 112) alerta-nos para a inexistência de limites perceptíveis para a "quantidade e a extensão dos contextos que podem existir em uma dada cultura". A ideia do "e" como adição, e não distinção, defendido por Pinheiro (2013), simboliza bem essa noção dos distintos e possíveis contextos em uma mesma cultura. Portanto, novos contextos podem emergir a partir da mescla de outros num movimento contínuo, especialmente na América Latina. Em toda cultura ou empreendimento humano de comunicação, o leque de contextos convencionais gira em torno de uma imagem generalizada do homem e das relações interpessoais humanas, e articula essa imagem, é o que afirma Wagner (2002). Por um lado esses contextos, assevera o autor,

30 definem e criam um significado para a existência e a socialidade humanas ao fornecer uma base relacional coletiva, uma base que pode ser atualizada explicita ou implicitamente por meio de uma infinidade de expressões (Wagner, 2002, p. 117)

Por outro lado, os contextos morais ou convencionais de uma cultura definem e orientam suas expressões significativas e aqueles que as constroem. Ou seja, "juntam os pedaços do mundo", relacionam construções expressivas e "são eles próprios construções expressivas, criando uma imagem e uma impressão de um absoluto em um mundo em que não tem absolutos"( op.cit, p. 117). Os parágrafos anteriores explicam e nos auxiliam a entender como essa ilusão é criada.

1.4 Do criativo à ressignificação

Na seção anterior, demos conta de explicitar a relevância da cultura para a economia: a cultura é o incremento criativo e a produtividade que cria trabalho e conhecimento ao fornecer ideias, técnicas e descobertas. Em última análise, essa tônica contida na soma cultural molda o próprio valor da cultura. As chamadas "economias criativas" fiam-se nessa transferência de ideias, técnicas e descobertas para promover a produtividade e, consequentemente, o desenvolvimento econômico. Nesta seção, pretende-se adensar a discussão sobre o processo de invenção e a (re) siginificação dos sentidos e dos contextos culturais, pois nos parece que é por meio desse mecanismo que os poderes instituídos têm se apropriado das produções e séries culturais para torná-las (in)visíveis em detrimento de outras, selecionando a audiência e estratificando o consumo. Wagner (2002) alerta-nos para um fato: os contextos culturais não são perpetuados pela tradição ou pela educação; ao contrário, para assegurar a mudança cultural, é preciso reinventar as associações simbólicas que as pessoas compartilham continuamente. Essas associações são tão dependentes da contínua reinvenção quanto as idiossincrasias - a maneira pessoal com que cada indivíduo reage à influência de agentes externos. A invenção tem a função de perpetuar o que aprendemos e a regularidade de nossas percepções, pois as características individuais e particulares do mundo só podem ser retidas

31 e reconhecidas como tais quando são filtradas pela malha do convencional. Assim, como afirma Wagner (2002, p. 139), "ordem e desordem, conhecido e desconhecido, a regularidade convencional e o incidente que desafia a regularidade estão atados entre si de maneira inata e estreita." É esse engaste que assegura o processo de invenção. Na cultura humana, "a necessidade da invenção é dada pela convenção cultural e a necessidade da convenção cultural é dada pela invenção", segundo Wagner (2002, p.141). Dessa forma, para o autor, inventamos para sustentar e para restaurar nossa orientação convencional e aderimos a essa orientação para efetivar o poder e os ganhos que a invenção nos traz. O cerne de todas as culturas humanas é a dialética, ou seja, uma tensão e uma alternância, aos moldes de um diálogo entre dois pontos de vista contraditórios e solidários entre si. Pinheiro (2013) chama esse processo dialético de tradução. Como qualquer modo de pensar, a dialética opera explorando as contradições. Nesse sentido, fica evidente como os poderes instituídos reinventam constantemente seu passado e seus heróis para (re) significar o novo. Esse movimento é facilmente identificado nas produções audiovisuais fílmicas do Brasil e da Argentina a partir de 2009. Como já mencionado na seção 1.2 " Do simbólico ao político", os comportamentos sociais, as crenças, os modos de vestir, de comer, a conduta, a moral e todas as representações sociais podem ser facilmente expressas e disseminadas entre todos os estratos sociais. Mais que isso, os sistemas ideológicos e suas ideologias não estão, necessariamente, ligados a um passado histórico. Elas podem e são (re) significadas de acordo com as injunções externas. Na América Latina, como afirma Pinheiro (2013), o espaço de maior inventividade cultural ocorre no "não lugar". A efervescência das produções somada ao constante movimento de ressignificação do contexto cultural assegura às produções latinoamericanas a inventividade e o potencial criativo que parece movimentar as chamadas "economias criativas". Sabemos também que, em função da sintaxe e do bordado, como sugere Pinheiro (2013), que se dão em ambientes culturais do "não lugar", da produção oriunda das ruas, há a criação da exclusão tanto econômica quanto política, em função da seleção e do distanciamento que criam entre os diferentes estratos sociais. O "não lugar" parece ser o pano de fundo das produções culturais latinoamericanas, especialmente porque elas nunca seguiram os padrões de produção ou de visibilidade impostos pelos poderes instituídos. A marginalidade é o "lugar" que descreve, por exemplo,

32 os ritmos musicais resultantes das traduções das paisagens barrocas, as comidas, as poesias, os ritos religiosos, as festas, as produções fílmicas nacionais, o artesanato, entre outros. Não é de se estranhar, portanto, que as grandes grifes estejam interessadas em "incorporar" a renda de bilra às tendências da alta costura; o ritmo do funk das comunidades cariocas às produções musicais pop; a gourmetização de ingredientes típicos e regionais à alta gastronomia. Sob a roupagem e pretexto do mundo sem barreiras, o trabalho e a produtividade que deveriam permanecer com os povos que fazem uso desses elementos acabam sendo absorvidos por economias e culturas outras. O que sabemos é que esse potencial inventivo contido nas somas culturais e em suas constantes (re) significações de contexto convencional exigem, de certa forma, um controle. O homem, em relação com a natureza, cria um ambiente profícuo e este impede, por exemplo, que o poder se estabeleça. A busca pela classificação e pela catalogação ocidental frente à complexidade da natureza expressa bem a necessidade de controle que emergiu a partir das possibilidades de reinvenção; a invenção muda, pois, as coisas e a convenção decompõe essas coisas em um mundo reconhecível. Assim, a classificação e a categorização exemplificam bem a necessidade desse mundo reconhecível. Wagner (2002, p. 150) postula que quando os controles sobre o modo ordinário da atividade séria, o que as pessoas fazem, são relativizadas, a invenção resultante parece falsa, não séria, puramente artificial; quando os controles sobre o modo de ação inverso, a criatividade, arte, pesquisa, ritual, representação ou recreação são relativizados, a invenção parece forçada, comercializada, séria demais ou sacrílega.

O que o autor quer dizer com isso é que a necessidade de invenção consiste no jogo de interação, quer ela ocorra entre invíduos, quer entre outros constructos, como classes e instituições, ou no interior destes. Para os americanos, por exemplo, a dialética entre cultura e natureza precisa ser ampliada para acomodar outros domínios da experiência, a fim de manter a objetividade e evitar a redundância. A partir dessa inferência, é possível compreender a razão pela qual eles utilizam as investidas criativas para restabelecer a ordem e os valores da família americana. Assim, é comum observar nas peças teatrais e na produção cinematográfica americana como os relacionamentos que nos são familiares (amor, maternidade/paternidade, tolerância, democracia) são postos em situações exóticas,

33 históricas, futurísticas e de perigo, tanto para controlar essas situações quanto para dotá-las de significado, bem como para recarregar os próprios relacionamentos. O que se pode concluir é que há a necessidade da invenção. Ela é criada pela dialética e pela interdependência que se impõe em vários contextos da cultura. Quando esgotamos os símbolos no processo de usá-los, torna-se necessário forjar novas articulações simbólicas para reter a orientação que possibilita o próprio significado. A tendência da cultura, assegura Wagner (2002, p. 157) é "manter-se a si própria reinventando-se". Diante da necessidade de criação e recriação de significados, a propaganda desempenha papel fundamental. É ela assim como o jornalismo e o entretenimento que criam os significados e exercem poder sobre a realidade. Como sugere o autor, "boa parte da vida comercial, imaginativa, política e mesmo estética do país se alimenta da transformação interpretativa da ideologia quadrada ou ortodoxa", Wagner (2002, p. 160). No contexto das chamadas "economias criativas", a propaganda torna a tecnologia significativa na forma de produtos especiais, com atributos muito especiais. Interpreta esses produtos ao criar para a sua audiência uma vida que os inclua. Ela o faz objetificando os produtos e suas qualidades por meio do impulso, das situações, dos gostos e das antipatias pessoais. Esse processo de objetificação e sua inserção em um tipo de vida costuma ditar tendências de moda, de alimentação, de moradia, de entretenimento. Se é capaz de ditar estilos de vida, também é capaz de ditar formas de pensar e de agir. O significado dos produtos precisa ser, constantemente, inventado e (re) significado para que as pessoas continuem a comprar; para que outros públicos passem a comprá-los. Ocorre o mesmo com as produções e séries culturais. Quando uma cidade ou uma região decide incrementar o comércio e fomentar o turismo, por exemplo, inicia um processo de (re) significação de sua cultura e de costumes locais, a fim de atrair investimentos e turismo. A tradicional festa do Boi Bumbá do Amazonas é um bom exemplo disso; reconhecida como o local de origem da tradição, a região norte tem angariado investimentos e incrementado o fluxo de pessoas nos meses de celebração. A festa foi registrada pela primeira vez em Pernambuco, mas é mais popular no Maranhão. O boi bumbá maranhense recebeu o título de patrimônio cultural do Brasil do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Entretanto, a festa espalhou- se pelo país e a manifestação adquiriu vários nomes, ritmos, formas de apresentação, indumentárias, personagens, instrumentos, adereços e temas diferentes.

34 Em Pernanmbuco, a festa é chamada de Boi-calemba ou Bumbá; no Maranhão, Rio Grande do Norte, Alagoas e Piauí, é chamada de Bumba Meu Boi; no Ceará, é chamada de Boi de Reis, Boi Surubim e Boi Zumbi; na Bahia, é chamada de Boi Janeiro, Boi Estrela do Mar e Mulinha de Ouro. Já em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, é Bumba ou Folguedo do Boi. Os diferentes nomes, indumentárias, músicas, ritmos etc., pelos quais são identificados, apenas ocorrem porque seu significado é constituído a partir de uma experiência. É o contexto sugerido, ou adicionado, que possibilita a realização de uma festa típica da região norte em outras regiões brasileiras, por exemplo. A propaganda cria e recria os significados e a experiência de vida para sua audiência. Há sempre a inclusão de elementos provocativos, novas associações e novos elementos que recarregam o significado das coisas. Os significados convencionais são substituídos por outros. Utilizando-se de produtos e de séries culturais, por exemplo, as possibilidades de uso que são criadas são muitas, o que confere às chamadas "economias criativas" inúmeras possibilidades de produção e de produtividade. Enquanto para os americanos o uso da tecnologia é uma forma de resolver seus problemas, para povos com menor grau de interação tecnológica ela não será vista como uma forma de resolução de problemas; ao contrário, estes a verão como um elemento estranho e de pouca aplicabilidade. Para além das possibilidades de reinterpretação dos contextos, sobre o que Wagner (2002) nos convida a refletir, é a origem desse manancial de forças e energias que o homem tenta arregimentar utilizando as tecnologias. Para o autor, é da natureza que emana esse poder e ele jamais ocorreria se os seres humanos já não tivessem inventado os meios tecnológicos e culturais pelos quais a apreensão é efetivada. Ao afirmar que "sem a matemática do volume e da velocidade ou a física do calor, da gravitação e da eletricidade, o potencial da água, por exemplo, não poderia ser calculado", Wagner (2002, p.184) sugere que a energia que somos capazes de extrair da queda d'àgua é aquela da criatividade humana: aproveitamos a queda para mover uma roda d'àgua e transformar essa energia em força motriz ou em eletricidade, por exemplo. Para o autor, invenção humana são as técnicas e os procedimentos que são transferidos para a natureza. Essa transferência tecnológica arregimenta o poder contido nos fenômenos da natureza e os emprega (por meio do uso das técnicas e procedimentos) para a resolução de problemas. No entanto, estamos acostumados a atribuir a esses recursos naturais mais valor que aos recursos da inventividade humana.

35 A tecnologia é o meio desenvolvido pelo homem para armazenar essas invenções. Como afirma Wagner (2002, p.181), "[...] nosso arsenal de técnicas produtivas são um conjunto de dispositivos para a invenção de um mundo natural e fenomênico". Dito de outra forma, ao colocarmos a tecnologia como o grande propulsor da inovação, acabamos por mascarar o que de fato criamos. Wagner (2002, p.183) ainda ressalta que "a tecnologia é a sutil arte de combinar mecanismos complexos sobre os quais o evento natural se impõe de maneira a sustentar o funcionamento deles". Ora, se a invenção é uma característica do homem, o que se faz dela é constructo da sociedade. O que fazemos quando aprendemos a usar essas ferramentas é que aprendemos a usar a nós mesmos: como controles, as ferramentas meramente mediam a relação, objetificam nossas habilidades. De forma análoga, é o que as chamadas "economias criativas" fazem da cultura: transformam-na em recurso para a economia; enquanto dispositivos6, as economias criativas fornecem uma convocação para a valorização das práticas culturais. A partir daí, os enunciadores dos setores nucleares criativos capturam os inputs que ditarão moda, tendências e quiçá visibilidade. O que nos resta saber é se essas convocações evidenciam os engastes contidos na complexidade da natureza e da cultura. Os contratos de comunicação que cercam as chamadas "economias criativas" contêm alguns discursos instalados como "ritmo sustentado de crescimento" (Valiati e Fialho, 2017, p.07); "dinamismo no comércio internacional" (ibid); "igualdade de gênero (ibid); " cultura como condição e caminho para o desenvolvimento" (ibid); inserção qualificada dos jovens no mercado de trabalho" (ibid). O questionamento que emerge é que dispositivos são necessários para que esse discurso abra espaço no mundo.

Nesse sentido, a sistematização e a coleta de dados em curso parece-nos um indício do tipo de dispositivo que nos interessa ressaltar. Além da conhecida defasagem brasileira com relação à coleta de dados sobre o impacto dos setores culturais e criativos (SCC) sobre a evolução econômica, os estudos desenvolvidos pelo IBGE( Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e pelo CEGOV (Centro de Estudos Internacionais sobre Governo) reúnem os principais dados sobre as produções dos intitulados "setores culturais e criativos".

6 Dispositivos são entendidos como instituições, regras, leis etc.

36 Segundo os organizadores do Atlas Econômico da Cultura Brasileira, publicado em 2017, os estudos justificam-se por dois motivos: (i) explicitar a importância de um esforço de pesquisa como o Atlas Econômico da Cultura Brasileira, localizando-o na discussão teórica nacional e internacional e apontando especificidades setoriais; e (ii) formular modelos metodológicos voltados aos quatro eixos temáticos do Atlas Econômico da Cultura Brasileira, que são empreendimentos culturais, mercado de trabalho, políticas públicas e comércio internacional.

Além desses volumes iniciais, o CEGOV (Centro de Estudos Internacionais sobre Governo) objetiva a organização de dez estudos setoriais, em torno das atividades econômicas enumeradas ao longo do debate a respeito da conta satélite da cultura (CSC) no Brasil. Diante de tais evidências, pode-se inferir que os dispositivos necessários para que a chamada "economia criativa" abrisse espaço no Brasil, ao menos, estão postos. Nas seções posteriores, os setores culturais e criativos (SCC) do Brasil serão abordados com maior detalhamento.

37 Capítulo 2: O capitalismo e seus mecanismos de apropriação

O capítulo anterior evidenciou a dialética contida no processo de invenção e (re) significação dos sentidos e dos contextos culturais, pois pareceu-nos ser este o meio pelo qual os interesses políticos ou comerciais apropriam-se das produções e séries culturais para estratificar o consumo. Vimos que, na cultura humana, "a necessidade da invenção é dada pela convenção cultural e a necessidade da convenção cultural é dada pela invenção", de acordo com Wagner (2002, p.141). Para o autor, inventamos para sustentar e para restaurar nossa orientação convencional e aderimos a essa orientação para efetivar o poder e os ganhos que a invenção nos traz. Com isso, acabamos por evidenciar o papel desempenhado pela comunicação para tornar a tecnologia significativa e importante para a vida das pessoas. O que pretendemos neste capítulo é: i) compreender a lacuna que se formou quando a complexidade relacional cerzida entre o homem e a natureza foi rompida; e, ii) analisar a forma como se deu a transferência da cultura para a economia. Para tanto, utilizou-se como referencial teórico de suporte os estudos desenvolvidos por Celso Furtado em "Criatividade e dependência na civilização industrial", o pensamento do barroco e da mestiçagem defendidos por Amálio Pinheiro (2013), as reflexões sobre "Estudos Culturais" desenvolvidos por Renato Ortiz (2004), o entendimento sobre o "desperdício da experiência" de que fala Boaventura de Sousa Santos (2010), a noção de complexidade de Morin (2011) e o entendimento sobre o contexto latinoamericano de Martin-Barbero (2009). Furtado, ao afirmar que

quaisquer que sejam as antinomias que se apresentam entre as visões da história que emergem em uma sociedade, o processo de mudança social que chamamos de desenvolvimento adquire certa nitidez, quando o relacionamos com a ideia de criatividade. Furtado (2008, p.111)

O que o autor também sugeriu foi que a inventividade estivesse diretamente ligada à cultura. As sociedades que apresentassem maior capacidade para empregar seu

38 conhecimento e resolver problemas tendiam a produzir um excedente adicional para além das necessidades de defesa ou de adaptação, constituindo-se um desafio à inventividade. Para Furtado (2008), o desenvolvimento somente ocorre quando há novo excedente e impulso criador de novos valores culturais, ou seja, como sugeriu Wagner (2002, p.141), "a necessidade da invenção é dada pela convenção cultural e a necessidade da convenção cultural é dada pela invenção". Para esse autor, inventamos para sustentar e para restaurar nossa orientação convencional e aderimos a essa orientação para efetivar o poder e os ganhos que a invenção nos traz. Nesse sentido, a quantidade de culturas que já surgiram revelam, na verdade, o potencial de inventividade do homem. A história de outras civilizações mostra-nos que a criatividade se faz em espaços descontínuos que se ampliam rapidamente na mesma medida em que se saturam. A inovação se produz nas descontinuidades. A racionalidade é para Furtado (2008) um dos moldes que ordenou e submeteu a criatividade na cultura surgida após a revolução burguesa. Segundo esse autor:

A história da civilização industrial pode ser lida como uma crônica do avanço da técnica, ou seja, da progressiva subordinação de todas as formas de atividade criadora à racionalidade instrumental (ibid, p. 113).

O aspecto relacional do homem e da natureza perdeu-se em meio à racionalidade característica das sociedades burguesas. Nessa perspectiva, as pesquisas científicas tinham como escopo e finalidade avaliar a técnica como meio para buscar maior eficiência do trabalho humano e para a diversificação do consumo. Ao optar pela diversificação, as experiências do mundo sensível, essenciais para que o homem transformasse o mundo, perderam importância: a reflexão filosófica, a meditação mística, a invenção artística e a pesquisa básica, matrizes da atividade criativa, foram subordinadas ao processo de transformação do mundo físico. A lógica inverteu-se: os vínculos da criatividade com a vida humana foram atrofiados enquanto as ligações com os instrumentos que o homem utilizava para transformar o mundo foram potencializados. Entendimento semelhante é apresentado por Morin (2011), ao refletir sobre a complexidade do ambiente em que os processos culturais ocorrem. Quando a lógica se inverteu, a complexidade relacional do homem com a natureza também se perdeu. Nesse sentido, questiona-se por que podemos afirmar que esse ambiente é complexo. Pode-se,

39 então, afirmar que esse ambiente é complexo porque as relações que podem ser articuladas entre o homem e a natureza são múltiplas, tornando difícil a compreensão acerca das relações que podem ser desenvolvidas. Se compreender essas relações, por si só, já é uma tarefa difícil, classificá-las conforme os padrões estabelecidos pelo mundo ocidental ou da pesquisa científica apenas dificulta esse trabalho. Sabe-se que tais processos ocorrem a partir da combinação incessante entre quatro elementos intercomplementares: o cérebro ou corpo, a linguagem, a natureza e a própria cultura. Entre esses elementos não se observa qualquer relação de dominância, pois se houvesse essa tendência, a possibilidade de diálogo seria coibida. Para Morin (2011), a humanidade, ao longo de sua história, optou por soluções fáceis ao invés de compreender a crise instaurada pela complexidade. Desse modo, a combinação incessante dos elementos intercomplementares apenas fomenta essa crise. Os primeiros sinais de complexidade já puderam ser observados a partir das modificações físicas do homo sapiens cuja erotização e sexualidade desenvolveram-se de forma extraordinária. Essas modificações permitiram aos indivíduos verem-se como diferentes; ao observar-se a alteridade, criou-se a possibilidade de diálogo. Verificou-se, portanto, que quanto maior era a necessidade de diálogo tanto maior era a necessidade de comunicação. Observou-se também que eram (e são) as práticas culturais individuais ou grupais as responsáveis tanto pelas diferenças quanto pelas possibilidades de diálogo. O Brasil é um exemplo de variação. Estudá-lo, então, exige um recurso filosófico latino para compreendê-lo. Todavia, questiona-se qual é o problema contido na variação. Segundo Pinheiro (2013), a variação configura-se como um problema, primeiro porque ela significa um desdobramento tradutório daquilo que se pensava uno ou exemplar e, segundo, porque a variação contém em si uma crítica. Em outras palavras, na variação, os processos tradutórios não contêm a essência observada na condição de origem. As ideias nesse contexto podem ser consideradas subespontâneas. E a variação acaba por causar certo desconforto tanto nas pessoas quanto nos poderes instituídos porque exige destes a constante necessidade de interpretação ou reinterpretação. A extrema variação, por exemplo, impede que o poder político se estabeleça, e a América Latina, desde o momento de sua descoberta, além de viver as variações, é também o local em que as soluções totalizantes têm dificuldade de se consolidarem. Não é por outra

40 razão que Santos (2010) afirma que a América Latina é o local em que o "desperdício da experiência" prevaleça. O poder oculto contido nas variações é desperdiçado não apenas pela incapacidade de compreendê-lo, mas porque ele, por si só, tem a característica de não aceitar a sujeição, a dominação como condição inicial. Entender as razões pelas quais não se aproveita o poder oculto (a criatividade) contido nas variações torna-se, portanto, uma obrigação. Para compreender o "desperdício" de que fala Santos (2010), é preciso analisar a condição secundária a que os processos culturais foram relegados. Quem esclarece a questão é Ortiz (2004), em seu texto "Estudos Culturais". Segundo o autor, a temática cultural havia sido estudada a partir de duas perspectivas: uma associada ao dilema da identidade nacional e outra relacionada ao poder. A perspectiva do dilema da identidade nacional havia sido uma preocupação permanente da intelectualidade europeia e americana, pois o processo de consolidação dos Estados-Nação exigia uma reflexão diferenciada e que excedesse os limites estabelecidos pelas ciências sociais e de outras disciplinas. Para Ortiz (2004, p.125) é possível dizer que a tradição marxista, talvez de forma inconsciente, tenha desempenhado certo papel, pois a "superestrutura", como reflexo ou não da "infraestrutura", designava às manifestações culturais uma posição secundária.

Na América Latina, a discussão da cultura não era vista em sua totalidade, mas em recortes segundo temas e disciplinas. Sob a perspectiva da problemática do poder, Ortiz (2004, p. 125) afirma que o dilema da identidade nacional levou a intelectualidade latino-americana a compreender o universo cultural [...]como algo intrinsecamente vinculada às questões políticas. Discutir "cultura" de uma certa forma era discutir política.

Ao fazer tal afirmação, Ortiz (2004) permite-nos compreender o poder oculto atribuído às variações. A temática da identidade explicita bem a necessidade de tornar uno um terreno que, por natureza, apresenta-se como variação. A identidade encerrava todos os dilemas relativos à construção nacional e ilustrava bem a problemática do poder apontada pelo autor. Para além dessa explicação, Althusser (1976), em seu livro "Aparelhos Ideológicos de Estado", já externava sua preocupação acerca das possibilidades de domínio de que

41 dispunham os diversos aparelhos ideológicos de um Estado. Para o autor, entre outras coisas, as igrejas, os partidos, os sindicatos, as famílias, algumas escolas, a maioria dos jornais, as empresas culturais etc. estavam (e estão) sob domínio privado, e, como tal, poderiam (e podem) ser colonizados por interesses alheios aos nacionais. Ainda que se afirme que os processos culturais ocorram independente dos poderes instituídos e dos interesses privados, o risco que os cerca é grande demais para ser deixado de lado. Foucault (2005, 2008) também havia alertado sobre o poder oculto contido nas variações quando apresentou seus estudos sobre as medidas disciplinares. Entre as ponderações feitas por ele, a capacidade de articulação intrínseca das ideologias merece destaque, pois evidencia-se o papel de criação de nexos simbólicos que os aparelhos ideológicos cumprem. Isso explica, em certa medida, a necessidade que os Estados enfrentam para recuperação do nexo simbólico da política. São as instituições políticas, e não o mercado, os agentes capazes de promover tal recuperação, já evidenciava Martin- Barbero (2009). Pinheiro (2013) também assevera que, com o tempo, até mesmo os locais em que a variação prevalece podem tornar-se autoritários. Tal fato ocorre quando se cria uma intelligentsia, ou seja, um discurso ideológico capaz de criar os nexos necessários entre as pessoas e as ideologias. O fato é que as variações exigem aproveitamento via conexões que estão a cargo da linguagem. Os processos tradutórios tornam-se essenciais em contextos como o da América Latina. Segundo Bastide," O sociólogo que quiser compreender o Brasil não raro precisa transformar-se em poeta" (Bastide, 1979, p. 15 in Pinheiro, 2013, p.23). Além da constante necessidade de tradução, explica-se, em grande medida, a razão pela qual a oralidade está presente em áreas periféricas, em oposição à escrita imposta pelo modelo social europeu. O que de fato evidencia-se é a crise de hegemonia a que estamos assistindo no século XXI. Ao relegar os processos culturais à condição secundária, a variação alcança uma envergadura cuja narrativa apresentada e distribuída pela mídia desenvolve certa faceta na estrutura do capitalismo internacional que merece ser estudada detidamente. Todas as tentativas que são observadas tem por objetivo retomar o equilíbrio, pois as coisas diferentes tendem a ser englobadas em uma espécie de cápsula que precisa relacionar-se com algo superior: o uno versus o centro.

42 Nesse sentido, o Ocidente privilegiou o significado, afirma Pinheiro (2013); ao petrificá-lo, criou-se um repertório totalizador. Esse autor ilustra a situação contrária à petrificação dos significados quando apresenta diferentes possibilidades para o termo "mulher": os diferentes significados e implicações sociais que as palavras mulher, esposa, amante, companheira, patroa etc. podem apresentar criam uma multiplicidade de significados que tendem a eclodir em algum momento. Não é por outra razão que o uso de eufemismos seja o recurso utilizado para dar um tom menos erotizado às palavras, além de se apresentar como uma solução una frente às variações. Dessa maneira, entende-se o porquê das palavras de ordem não conterem em si tanta força quanto os comportamentos, pois quanto menor for o vocabulário das instituições (religiosa, militar, profissional) maior é a dominação. A lógica binária cria o duplo vínculo do qual você não é capaz de se livrar. Nessa perspectiva, os processos culturais ocorrem nos objetos da cultura e ainda assim não esgotam a discussão, pois ao se ligarem a grupos ideológicos distintos esses objetos acabam impregnados de impressões e percepções que nem sempre permitem que os analisemos fora da perspectiva do próprio sujeito. É mais fácil para os seres humanos viverem sob os preceitos de uma doxa que enfrentar a realidade. Por medo da complexidade, os seres humanos tendem a bloquear sua capacidade de hipercomplexidade e, como consequência, submetem-se a contextos culturais violentos. Frente a essa realidade, torna-se importante questionar o teor e os interesses que estão por detrás do discurso da "economia criativa": estaria ele pautado por interesses privados em detrimento aos interesses públicos? O adensamento da discussão talvez nos permita compreender melhor os interesses que estão ocultos nesse discurso. O fato é que as pesquisas desenvolvidas nesse terreno sofrem do processo invasivo típico das ciências clássicas. Santos (2010) e Morin (2011) chamam essa invasão de "lógica binária" ou processos de inclusão e exclusão cuja tendência é a de eliminar as variações. Se tomarmos o Brasil como exemplo, já podemos, de partida, observar como as ideias republicanas francesas impregnaram a República brasileira. Tal observação também nos permite inferir a forma como as sociedades desenvolvem seus sistemas de convenção: tendem, em sua maioria, a desenvolver e a organizar catálogos que apontam para obstinação pela essência.

43 Outro exemplo de como os sistemas de convenção contribuem para eliminar as variações pode ser observado com o processo invasivo clássico eclesiástico. O conhecimento vindo da catequese priorizou a escrita em detrimento da oralidade. Independente dos esforços empreendidos pelas missões religiosas, na América Latina, a oralidade migrou para a poesia e para a musicalidade. Como a performance oral é exótica demais para os moldes eclesiásticos, coibi-la era necessário, pois os que dela participavam acabavam por se inflamarem. Em outras palavras, as culturas da oralidade não convinham ao patriarcalismo eclesiástico. Não é por outra razão que a poesia da América Latina é oralizada, pois esta se recusou a fazer parte da organização a partir da escrita. No entanto, qual é a questão sígnica que se coloca? A questão que se coloca é a ideia da separação entre os signos e as coisas do mundo, que fora possibilitada apenas devido à escrita; esta elevou-se para dar um sentido uno às coisas. Mesmo quando a poesia deixa de ser revolucionária e passa a ser reacionária, ou seja, dominada pela elite, o poeta passa, então, a usar frases e linguagem do cotidiano em seus textos. O fato é que as pesquisas desenvolvidas nesse terreno sofrem do processo invasivo típico das ciências clássicas. Santos (2010) e Morin (2011) chamam essa invasão de "lógica binária" ou processos de inclusão e exclusão cuja tendência é a de eliminar as variações. Se tomarmos o Brasil como exemplo, já podemos, de partida, observar como as ideias republicanas francesas impregnaram a República brasileira. Tal observação também nos permite inferir a forma como as sociedades desenvolvem seus sistemas de convenção: tendem, em sua maioria, a desenvolver e a organizar catálogos que apontam para obstinação pela essência. Igualmente importante é observar as estruturas sociais católico-jesuíticas e suas narrativas. A narrativa do pater-família, típica desse tipo de processo invasivo, trouxe a reboque todos os malefícios da masculinidade, desenvolvendo-se e se espraiando para todos os aspectos da vida social. Ao contrário das sociedades jesuíticas, as sociedades mouriscas, por exemplo, estavam pautadas na festa. O poder pátrio familiar foi desenvolvido até as últimas consequências, e os que para cá vieram trouxeram consigo esses modos de vida "pátria", impregnando a república brasileira com tais vícios. Além de impregnar as estruturas sociais, também criam diversos comportamentos que podem ser observados especialmente no

44 vestuário. Pinheiro (2013) ilustra esses comportamentos com algumas figuras caricatas como "o professor abotoadinho", "a esposa recatada" etc. Diante de tais reflexões, é prudente avaliar a estrutura narrativa escolhida pelos poderes instituídos para homogeneizar os grupos. A construção discursiva representada pela "economia criativa" atende bem aos interesses desses poderes quando cria, por exemplo, o "Vale Cultura" como um benefício estendido aos trabalhadores. O discurso do "acesso" à cultura, apesar de simplório, atende bem aos propósitos de dominação, pois na medida em que oferece à maioria trabalhadora uma pequena mostra de entretenimento, ao mesmo tempo em que permite a inclusão social, permite também a dominação. Se, por um lado, há processos invasivos como forma de coibir a variação, por outro, há processos defensivos. A convivência entre tais processos é complexa, especialmente porque as oposições acabam por determinar as pessoas. Tal condição exige que as sociedades sejam interpretadas e reinterpretadas o tempo todo e com recursos filosóficos próprios. Desse modo, explica-se, por exemplo, a razão pela qual as sociedades latinoamericanas têm como fundamento a troca e não a identidade. Outra característica a ser considerada nas sociedades ameríndias é o movimento, em oposição à fixidez típica das sociedades europeias. Somados a essa característica do movimento estão os movimentos de imigração que se fundiram aos hábitos. Os povos que imigraram tinham por objetivo a expansão e não a fixidez. Isso explica, por exemplo, a razão pela qual a América Latina é o continente da superabundância e da variação. Padre Antônio Vieira, por exemplo, foi um dos primeiros a observar a facilidade com que os índios conviviam com as diferentes religiões. Observou também a facilidade com que os índios faziam combinações e estabeleciam paralelos entre as crenças tupis e católicas. As discussões contidas nesta seção auxiliam-nos a compreender a lacuna formada quando a complexidade relacional cerzida entre o homem e a natureza rompeu-se. Resta- nos compreender como se deu a transferência da cultura para a economia. As discussões a seguir adensam o entendimento.

2.1. A cultura e o resgate simbólico da política

A seção anterior demonstrou como os processos invasivos criaram sistemas de convenção distintos e alguns de seus possíveis desdobramentos. É preciso ter em mente que o processo de transferência da cultura para a economia exige que os processos culturais

45 tenham uso político. A crise hegemônica que permeia o século XXI demonstra como se tem exigido da cultura o árduo trabalho de resgate simbólico da política. Sabe-se que os processos identitários, os símbolos nacionais, o patriotismo e outros pertencentes ao ufanismo foram utilizados exaustivamente pelos Estados como forma de criar os vínculos necessários entre os cidadãos. Sabe-se, ainda, que esses elementos estavam assentados sobre premissas cujo teor não é capaz de criar vínculos entre as pessoas. O que se discute, na realidade, são duas coisas: a trama das mediações que a relação entre “comunicação vs cultura vs política” articula, pois o século XXI apresenta, nesse cenário, um imbricamento novo e ainda mais complexo para todos os países; e as condições de construção e de realização de hegemonia discutidas por Laclau (1987). Na trama das mediações articulada pelo debate entre comunicação vs cultura vs política, é a comunicação, como afirma Martin-Barbero (2009, p.13), que age como “o mais eficaz motor de desengate e de inserção de culturas – etnias, nacionais ou locais no espaço/tempo do mercado e das tecnologias globais”. O autor externou sua preocupação pelos elementos que dão coesão à sociedade civil: a cultura e a política. Para ele, quando a Antropologia e a Sociologia interpuseram duas percepções distintas de cultura, foi aberto o precedente para que os interesses do mercado destruíssem a essência da cultura cuja importância assemelha-se ao “magma primordial” em que habitam os primitivos. Ao fazê-lo, os interesses de mercado transformaram a cultura em uma “máquina produtora de bens simbólicos” (Martin-Barbero, 2009, p.13), que se ajustaram aos interesses de seus públicos consumidores – as massas. Ao eliminar o caráter autônomo da produção popular, o povo foi destituído de seu sentido político. Com relação à política, Martin-Barbero (2009, p.14) expressa sua preocupação com a forma como a política se apropriou dos meios de comunicação para “construir uma cena fundamental da vida pública”. Tal apropriação acabou por cooptar o papel que os meios deveriam desempenhar na sociedade: o de traduzir as representações existentes. Não é por outro motivo que o autor nos leva à necessidade de repensar o papel da comunicação como elemento coesivo da sociedade. No entanto, o autor não foi o primeiro a externar a preocupação acerca das consequências que o uso inadvertido da comunicação poderia produzir na sociedade. Pode- se concluir que a apropriação dos meios de comunicação pela política condicionou

46 comportamentos, criou modelos ideais de conduta e eliminou a possibilidade de autonomia da população. A produção era para as massas, e não das massas. Também é por essa razão que Martin-Barbero (2009, p.15) afirma que a comunicação e a cultura são mais que objetos da comunicação; esses elementos compõem o cenário estratégico da atualidade o qual exige que a política recupere sua dimensão simbólica, ou seja, “sua capacidade de representar o vínculo entre os cidadãos, o sentimento de pertencer a uma comunidade – para enfrentar a erosão da ordem coletiva”. Da mesma forma que a política precisa resgatar sua importância no contexto social, as instituições políticas devem entender que são elas, e não o mercado, os agentes capazes de estabelecer “vínculos societários” entre os cidadãos. Tais vínculos, segundo Martin- Barbero (2009), são constituídos e consolidados pelos processos de comunicação de sentido, e não pelo mercado, pois a lógica com a qual o mercado opera está baseada na relação de trocas formais, ou seja, na troca de produtos por certa quantidade de moeda, ou outros recursos utilizáveis nas trocas. Todavia, as trocas formais não são capazes de produzir sentido; apenas os processos de comunicação são capazes de fazê-lo. Assim, diante da necessidade de se resgatar o sentido da política nas sociedades, e considerando a cultura e a comunicação como elementos essenciais nessa retomada, Martin-Barbero (2009) sugere uma releitura e um rearranjo do mapa das mediações, a fim de compreender as novas complexidades existentes nas relações constitutivas entre tais elementos. O propósito, neste espaço, não é analisar esse mapa, mas esboçar o caminho – ou o sentido - que as instituições políticas deveriam considerar para consolidar e gerenciar as chamadas "economias criativas''. O mapa sugerido por ele na figura 1 teria acomodado as "economias criativas" quando se utiliza da tecnicidade para a difusão e para o consumo.

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Figura 1: Mapa das Mediações sugerido por Martin-Barbero

Economias Cria1vas Lógicas de Produção tecnicidade

(Estado) Ins1tucionalidade

Comunicação Matrizes Formatos Cultura Industriais Culturais Polí1ca

Socialidade

(povo)

ritualidade Competências de Recepção

Fonte: Martin-Barbero (2009, p.16)

O mapa das mediações permite evidenciar que a construção discursiva das chamadas "economias criativas" inicia-se nas matrizes culturais e se estende à tecnicidade. Para Martin-Barbero (2009), a institucionalidade tem sido uma mediação densa de interesses e poderes contrapostos, cujo propósito é o de regular os discursos. O Estado está inserido na ideia da institucionalidade, pois tem o propósito também de dar estabilidade à ordem constituída. Nessa perspectiva, apesar de termos observado que os meios de comunicação têm sido os responsáveis pela criação de símbolos, signos e vínculos de pertencimento, o esquema proposto por Martin-Barbero (2009) demonstra, claramente, que é a partir da institucionalidade que os discursos públicos são produzidos. Essa inversão de papéis tem

48 consequências mais preocupantes que se pode imaginar, pois ao atribuir aos meios o papel de criação de símbolos, estes podem ter seus interesses colonizados pelo capital, pelas organizações, e por conseguinte comprometerem a atuação do próprio Estado. Vista a partir da socialidade, a comunicação revela-se como uma questão de fins: da constituição do sentido e da construção e desconstrução da sociedade, como afirma o autor. A sociedade é o amálgama da socialidade, e como tal deve ser considerada nos processos comunicativos. O autor afirma que os movimentos sociais a que estamos assistindo na atualidade nada mais são do que ânsia por novas institucionalidades, capazes de darem forma aos deslocamentos tanto da cidadania para o âmbito cultural quanto do plano da representação para o reconhecimento instituinte. Nesse sentido, as construções discursivas que a economia criativa passa a representar permite-nos inferir que a complexidade e as inúmeras possibilidades combinatórias contidas nos processos culturais possam ser cooptados pelos poderes instituídos. Por outro lado, vista a partir das ritualidades, a mediação nos remete ao nexo simbólico que sustenta toda a comunicação, consoante Martin-Barbero (2009). Nesse sentido, a produção dos discursos deve ser capaz de surtir efeitos nas ritualidades, pois esse nexo representa a ancoragem na memória, os ritmos e formas, os cenários de interação e a repetição. Pode-se afirmar que as reverberações ocorrem nesse cenário e, por esse motivo, devem ser revestidas de nexo simbólico. Dentre os instrumentos utilizados pelo nacionalismo emergente, merece destaque o programa educacional com o objetivo de formar cidadãos patrióticos e virtuosos, pois um sistema educacional único propiciaria a união da pátria e dos cidadãos em torno de símbolos, de crenças e do conjunto de valores comuns, sistema este que impediria qualquer forma de manifestação popular. Reflexão semelhante é proposta por Ernesto Laclau e Chantal Mouffe (2010), ao tratar das condições de construção e de realização de hegemonia. Como se investiga "que mentalidades devem ser construídas no cenário doméstico e internacional para que as chamadas "economias criativas" consolidem-se tanto como uma alternativa ao modelo de desenvolvimento econômico quanto como um dispositivo produtor de sentidos representantes da diversidade cultural do Brasil e da Argentina", foi preciso compreender como essas "mentalidades" são constituídas a partir das construções discursivas representadas pelas chamadas "economias criativas".

49 As hipóteses que sustentam esta tese sugerem que: a) os poderes instituídos têm criado certos regimes de (in) visibilidade que privilegiam determinadas séries culturais em detrimento de outras; e, b) a de que a criatividade e a inovação, qualidades salientes da cultura, estejam sendo colonizadas pelos interesses de mercado, sem produzir os sentidos que representem a diversidade cultural de ambos os países; Assim, compreender como são constituídas as mentalidades torna-se obrigatório. Tanto Laclau e Mouffe (2010) quanto Ianni (1997) afirmam que os conceitos clássicos de soberania e de hegemonia, associados ao Estado-Nação como centro de poder, passam por reformulações em razão de as atuais forças mundiais - sociais internas e externas, nacionalistas e imperialistas, capitalistas e socialistas - estarem dominadas pela economia capitalista de cunho neoliberal, cuja essência reduziu o espaço dos Estados-nação, obrigando-os a reformularem seus projetos nacionais. Nesse sentido, Laclau e Mouffe (1987) examinam a hegemonia como uma categoria central de análise política, estudando sua formulação e seu desenvolvimento. O mundo globalizado e neoliberal explorado mediante essa categoria deixa de ser o único natural e possível, e se apresenta como a expressão de certa configuração das relações de poder. Considerando as transformações do conceito de hegemonia em sua superfície discursiva, faz-se necessário esclarecer o porquê do discurso. Porque além de representar um instrumento técnico, o discurso é um constituidor de realidade, visto que os sujeitos podem ocupar uma multiplicidade de posições na sociedade contemporânea, permitindo, inclusive, que se observe a linguagem materializar a ideologia. O conceito de ideologia contemplado pela análise do discurso deriva do trabalho de Althusser (1983) sobre os Aparelhos Ideológicos do Estado. Este, por sua vez, apropria-se do conceito instituído por Marx. O termo ideologia em Marx foi decisivo para a construção de sua teoria crítica ao sistema capitalista e ao desnudamento da ideologia burguesa. Devemos, portanto, situá-lo dentro do quadro específico ao qual pertence, que é o da ideologia da classe dominante. Nesse sentido, todos os discursos são ideológicos. O discurso é, portanto, o terreno primário em que a realidade forma-se e se conforma. Há o pressuposto de que a linguagem seja a constituidora da realidade, portanto, ela só existe dentro de um discurso que a torna possível. Não por outro motivo, há necessidade de se construírem mentalidades, tanto no contexto doméstico quanto no internacional,

50 para que as chamadas "economias criativas" consolidem-se tanto como uma alternativa ao modelo de desenvolvimento econômico quanto como um dispositivo produtor de sentidos representantes da diversidade cultural do Brasil e da Argentina. Ao analisar o conceito de hegemonia sob a perspectiva da economia, Laclau e Mouffe (2010, p.112) afirmam que "o mesmo processo pode ser visto como a emergência e a expansão de uma nova lógica articulatória e reconstitutiva da hegemonia". Para os autores, o nível econômico deve reunir três condições específicas para desempenhar o papel de constitutividade dos sujeitos e da prática hegemônica: 1) suas leis de movimento devem ser endógenas e excluir toda a indeterminação resultante de intervenções externas; 2) a unidade e a homogeneidade dos agentes sociais constituídos no nível econômico deve resultar das próprias leis do movimento desse nível; 3) a posição desses agentes em suas relações de produção7 devem dotá-los de interesse histórico. Para o marxismo, o trabalho é uma mercadoria. Entretanto, para a economia, essa força de trabalho só tem valor se alguém extrair dela o trabalho. Desse modo, explica-se a necessidade de haver formas de controle e a desqualificação do trabalho, como as observadas na era do Taylorismo, em que os trabalhadores foram reduzidos a meros executores de tarefas. De forma análoga, o trabalho dos setores nucleares criativos tem passado por uma espécie de valorização sem se eximir da necessidade do controle. Dentre as formas de controle, destacam-se a) controle simples baseado na vigilância; b) controle técnico corresponde à subordinação do trabalhador ao ritmo da máquina; c) controle burocrático feito por intermédio da institucionalização do poder hierárquico. Salvo as devidas proporções, os trabalhadores dos setores nucleares criativos estão sob vigilância quando passam a ter sua produção mapeada por secretarias ou órgãos governamentais. O mapeamento é prenúncio do controle técnico a que estarão submetidos os modos de fazer oriundos dos processos culturais e da complexidade relacional homem e natureza. E, por fim, sob o pretexto da valorização e da disseminação das práticas e séries culturais, está o controle burocrático e classificatório a que todos os tipos de produção cultural estarão subordinados. A classificação da produção cultural em setores nucleares criativos é apenas um dos vários indícios do controle que se coloca sobre a cultura. O antagonismo que se apresenta,

7 Relação de produção é um conceito desenvolvido por Marx para tratar as formas como os seres humanos desenvolvem suas relações de trabalho e de distribuição no processo de produção e reprodução de vida material.

51 no entanto, é a incapacidade de o mercado ser o responsável pela criação dos vínculos de pertencimento entre as pessoas. A lógica com que o mercado opera demonstra a incapacidade de fazê-lo. O agente capaz de produzir o vínculo entre as pessoas é a política. Ao afirmar isso, Laclau e Mouffe (2010) remete-nos ao antagonismo inicial proposto: a luta política é uma luta econômica e a luta econômica exige direitos políticos. Como sugerem Laclau e Mouffe (2010) sobre a radicalização da democracia, a lógica democrática, enquanto lógica da eliminação de relações de subordinação e desigualdade, é insuficiente para a formulação de um projeto hegemônico. Ela precisa ser suplementada por uma política da instituição social, de construção de uma nova ordem. A unidade entre ambas deverá ser, no entanto, articulada e, portanto, contingente e situada no espaço das conjunturas históricas. A capacidade de assegurar as condições de manutenção/renegociação dessa unidade é o teste de toda força ou projeto hegemônico. Com as ressalvas de que uma dada formação social constitui-se de mais de um desses espaços hegemônicos e de que nenhuma formação discursiva está em princípio aquém da possibilidade de exercer uma função hegemônica ou excluída dos espaços relevantes de luta hegemônica democrática. O que os autores evidenciam é a ruptura entre massas e classes. Para eles, o limiar que separa ambas não se justapõe (não se coloca lado a lado) à exploração de classe, pois o conceito de classe para Marx está calcado na noção de sua relação de submissão ao capital pelo trabalho assalariado, na dependência dessa relação para sobreviver e, na apropriação do produto do trabalho por terceiros. Então, como sugerem Laclau e Mouffe (2010), ainda que os operários pudessem golpear juntos com os dominantes, em determinadas situações, ambos marchariam separados porque os interesses que uniam tais grupos, em algum momento, divergiam. É, portanto, o desenvolvimento desigual e combinado que permite ao marxismo tornar complexa sua concepção acerca da natureza das lutas sociais.

2.2 Os mecanismos de apropriação da cultura pela economia capitalista

Na seção anterior, evidenciou-se a importância da construção discursiva das chamadas "economias criativas" como maneira de formar e conformar a hegemonia utilizando a cultura e suas produções como forma de resgate simbólico da política. Nesta seção, o foco

52 volta-se para os mecanismos de apropriação da cultura e suas produções pela economia capitalista. Como se sabe, o período posterior à Segunda Guerra Mundial abriu uma nova etapa nas relações centro-periferia e nos construtos ideológicos capazes de explicar as novas questões. A partir de 1945, o pensamento econômico precisou considerar realidades históricas específicas, entre as quais o subdesenvolvimento cujas características exigiam novos instrumentos. Essa mudança no plano das ideias remeteu ao estado de bem-estar social como resposta ao capitalismo. No Brasil, a modernização econômica, política e institucional, conduzidas pelo Estado de 1930 a 1945, experimentou a transformação pela entrada de sujeitos trabalhadores urbanos e rurais, bem como dos setores médios, na cena política, todos mobilizados pelas lutas de reformas de base. A expressão "desenvolvimento" ganha contornos complexos e ambivalentes em função das lutas de classe e do aumento da participação de setores populares na cena política. A diversificação de fontes filosóficas e de pensamento social também revestiram o pensamento de Celso Furtado de especial capacidade de crítica sintetizadora, capaz de explicar a realidade socioeconômica-cultural brasileira para a superação de suas mazelas materiais e democráticas. O pensamento defendido por Furtado é claro, ao afirmar a existência de estruturas responsáveis pela perpetuação de iníquas desigualdades sociais, tais como: concentração de renda e de riqueza; sonegação de direitos sociais; precarização do mundo do trabalho; submissão à divisão do trabalho; e inserção internacional subalterna. Na interpretação do autor, Celso Furtado afirmava que o Brasil vivia a modernização periférica desde o século XIX, carecendo de transformações estruturais que dessem conta de eliminar as desigualdades sociais. Para além de iníquas desigualdades, a posição geopolítica adotada pelo Brasil também é sinalizadora da problemática opção feita pela primarização de nossas exportações, com sinais de desindustrialização e atrelamento crescente ao desempenho da economia chinesa, é o que afirma de Paula (2013). Trazer as circunstâncias históricas da formação nacional brasileira sublinha a decisiva presença da dimensão cultural nos processos de desenvolvimento histórico, visto que é no plano da cultura que são gestados os símbolos-valores destinados a imantar a vida política e cultural da nação. Assim, retomando o conceito de hegemonia política e cultural de Gramsci, de Paula (2013) nos permite compreender a centralidade que a ideia de

53 desenvolvimento (o paradoxo do desenvolvimento), como a grande matriz hegemônica do processo de transformação social do Brasil, contém. Desse modo, explicam-se a construção nacional brasileira calcada na obsessão pelo desenvolvimento e a relevância que a diversidade cultural brasileira adquiriu na cena política e econômica dos últimos tempos: o símbolo-valor gestado passa a ter uso político. De qualquer maneira, ao cunhar o conceito de hegemonia, Gramsci afirmou que ... quanto mais sólida e consistente for a hegemonia política e cultural, isto é, quanto mais capaz de convencer a todos - ao conjunto da sociedade - da legitimidade e da universalidade de suas propostas, de sua visão de mundo, quanto mais se apresentar e convencer como portadora de uma verdade de validade geral, tanto mais sólido e consistente será o domínio de uma classe sobre o conjunto da sociedade. (Gramsci apud de Paula, 2013, p. 17). Como sugere Furtado, (2008, p.115),

na economia capitalista o processo de acumulação marcha sobre dois pés: a inovação, que permite discriminar entre consumidores, e a difusão, que conduz à homogeneização de certas formas de consumo.

O que o autor quer dizer é que nas economias criativas os consumidores assumem um papel passivo, atendendo aos estímulos a que são submetidos. Por um lado, os consumidores que buscam exclusividade e que dispõem de recursos, por exemplo, consomem as inovações, distinguindo-se dos demais. Por outro, estão os consumidores com menor poder de compra para quem o acesso a determinados produtos é restrito. Entre estes configura-se a homogeneização. O mercado cresce acompanhando essa demanda e as leis desse crescimento condicionam a criatividade. Para o autor (op.cit), todo objeto de uso final que não procede da natureza é fruto da invenção humana. Quando a criatividade é reprimida, o papel do homem circunscreve-se àquilo que Furtado (2008) chamou de mimetismo social. Ou seja, a vida como um projeto original tende a ser substituída por estímulos exteriores, sem qualquer relação com a personalidade desse indivíduo. De forma análoga, os itens que o homem passa a adquirir para obter o conforto não têm qualquer vínculo com a personalidade dele. Dessa forma, o autor convida-nos a refletir sobre o fato de que a produção desses objetos está subordinada ao processo de acumulação que encontra na homogeneização dos padrões de consumo uma poderosa alavanca(op. cit, p.116). Dito de outra forma, os objetos

54 adquiridos tornam-se obsoletos com uma velocidade incrível: a contrapartida da inovação é a obsolescência. A perversidade da dinâmica do processo de acumulação desvela a lógica da difusão com que os objetos são criados em modelos, por vezes, menos dispendiosos. Ao fazer isso, a criatividade humana é posta a serviço do processo de acumulação e os meios (a complexidade relacional do homem e da natureza) passam a ser vistos como fins. A ilusão produzida por essa inversão contribui tanto para alienar quanto para liberar o homem. Furtado (2008) afirma que todas as formas de criatividade humana podem ser postas a serviço do processo de acumulação. Como na ciência e na tecnologia, os resultados cumulativos são sempre mais evidentes, eles acabaram por se destacarem na civilização industrial. A expressão utilizada pelo autor (op.cit, p.117), mutatis mutantis, expressa a subordinação da ciência e da tecnologia ao processo de acumulação; a subordinação à lógica dos meios acabou canalizando a energia criativa do homem. Quando a criatividade foi orientada para a produção de resultados, o homem conheceu mais inovações que todo o restante da humanidade. De forma inversamente proporcional, toda criação não cumulativa (como aquela contida nos processos culturais) rareou e as produções artísticas de épocas anteriores foram desconectadas do espírito (e da lógica) que as havia criado conforme as exigências dos processos de difusão. Estava posto, na realidade, um novo tipo de homem, desvinculado da complexidade relacional trazida pela natureza e pelas inúmeras combinatórias possíveis. Nessa perspectiva, questiona-se: que novo homem de que se fala?; que espírito se formava? Boltanski e Chiapello (2009) descrevem o novo homem e o espírito que o preenche. Sobre esse conceito, a seção a seguir adensa a discussão.

2.3 O novo espírito do capitalismo

Preocupados com a degradação da situação econômica e social de um número crescente de pessoas, Boltanski e Chiapello (2009) conceberam o projeto que resultou na publicação do livro "O novo espírito do capitalismo", em 1995. Na época, o papel desempenhado pela crítica no final do século XX denunciava as desigualdades de acesso ao

55 sistema escolar e de uma ascenção social franqueada a todos, enquanto a realidade macroeconômica fiava-se no pleno emprego e "voltava-se para o progresso". Na atualidade, a tônica da realidade macroeconômica do século XXI continua inalterada, apesar de não contar mais com o pleno emprego e bem-estar social. Mantêm-se o mesmo discurso de crescimento econômico e de desenvolvimento sustentável,embora com nova roupagem. As hipóteses de que os poderes instituídos têm criado certos regimes de (in) visibilidade que privilegiam determinadas séries culturais em detrimento de outras, e a de que a criatividade e a inovação, qualidades salientes da cultura, estejam sendo colonizadas pelos interesses de mercado sem produzir os sentidos que representem a diversidade cultural de ambos países, são provas indiscutíveis de que o capitalismo precisa da constituição de novas mentalidades para consolidar as chamadas "economias criativas" como uma alternativa ao modelo de desenvolvimento econômico. Ao fazerem isso, essas economias tanto se consolidam como um dispositivo produtor de sentidos - a indústria cinematográfica brasileira é um exemplo disso -, quanto como um modelo alternativo de desenvolvimento econômico sustentável, sob a alegação de que os setores criativos culturais promovam a inclusão e abriguem a diversidade cultural do Brasil e da Argentina. A clareza da roupagem desse discurso só é perceptível quando entende-se que a estabilidade da dominação capitalista depende, em grande medida, das convocações biopolíticas capitaneadas pela hegemonia vigente. É o que sugerem Boltanski e Chiapello (2009) em seu livro intitulado "O novo espírito do capitalismo". Ao classificarem o capitalismo como um sistema absurdo, em que os assalariados perderam a propriedade do resultado do seu trabalho e a possibilidade de levar uma vida fora da subordinação, os autores apresentam os "espíritos do capitalismo" desenvolvidos pelo sistema ao longo da história. Definido como a ideologia que justifica o engajamento no capitalismo, o espírito deste apresenta não apenas benefícios individuais mas também vantagens coletivas como o bem comum. Para os autores, o primeiro espírito fora descrito no final do século XIX e estava centrado na figura do burguês empreendedor cujas características concentravam-se em elementos heroicos da situação com a tônica no jogo, na especulação, no risco e na inovação. A aventura capitalista encarnava-se na libertação possibilitada pelo desenvolvimento dos meios de comunicação e no trabalho assalariado que propiciavam a emancipação. Entre as características do primeiro espírito, destacavam-se: a avareza ou

56 parcimônia; o espírito poupador; e, a tendência a racionalizar todos os aspectos da vida cotidiana. Houve valorização do desenvolvimento de habilidades contábeis, de cálculo e de previsão, aliados à importância que se atribuiu à família, à linhagem do patrimônio, da castidade de moças, com o objetivo de se evitar casamentos desvantajosos e a dilapidação do patrimônio. O caráter familiar ou patriarcal das relações mantidas com os empregados de firmas pequenas era outro traço importante do primeiro espírito, visto que o destino dos negócios estava demasiadamente associado ao destino das famílias. Atribuiu-se também papel de relevância à caridade como forma de aliviar o sofrimento dos pobres e o bem comum estava dissociado do liberalismo econômico e ligado a uma crença no progresso. O utilitarismo justificava os sacrifícios exigidos pelo progresso. Para Boltanski e Chiapello (2009), o que se evidencia , de fato, é a hipocrisia do espírito burguês, pois sentimentos antagônicos e valores muito diferentes constituíram-se como o amálgama desse primeiro espírito: a "sede de lucro e moralismo; avareza e caridade; cientificismo e tradicionalismo familiar" (op.cit p.50). Pode-se inferir que foi no bojo desse espírito em que se criou o consenso e as subjetividades das mentes que explicam, dentre outras coisas, a importância atribuída ao progresso e ao núcleo familiar americano, por exemplo. Já o segundo espírito fora descrito pelos autores tendo seu desenvolvimento entre os anos 30 e 60 do século XX, quando a tônica migra do individual para a organização. Nesse espírito, o fascínio pelo gigantismo, pela centralização das decisões e pela burocratização eram os elementos de maior importância. A figura do diretor passa a ser fundamental (op.cit. p.50) porque simbolizava as intenções de ampliação dos negócios para uma atuação global (em muitos casos, o interesse dessas pessoas era maior que a dos próprios acionistas). Essa ampliação estava calcada no desenvolvimento de uma produção de massa baseada na economia de escala, na padronização dos produtos, na organização racional do trabalho (hierarquização das atividades e de cargos) e, na ampliação dos mercados consumidores. Dessa forma, nesse espírito valorizava-se o diploma universitário, o desenvolvimento de habilidades específicas tanto para assumir posições de poder quanto para saciar os desejos de consumo. A racionalização e a planificação de longo prazo associados ao gigantismo das organizações acabaram por constituir um ambiente protetor, com

57 capacidade de oferecer às pessoas perspectivas de carreira e a infraestrutura necessária para a vida cotidiana. As pessoas engajadas nesse espírito depositaram muita esperança nas garantias oferecidas pelo bem comum, como aposentadoria, saúde pública, educação, cultura e lazer. Para os autores, esses elementos representam os sinais do "aparecimento de um capitalismo novo, animado por um espírito de justiça social", (Boltanski e Chiapello,2009, p.51). Já o terceiro espírito encontra-se em desenvolvimento para Boltanski e Chiapello (op.cit) porque o quadro de acionistas está mais anônimo que o observado no segundo espírito e as empresas estão cada vez mais globais. Nesse espírito, as tecnologias são a prática reforçando a necessidade de "voltar a dar sentido ao processo de acumulação e de associá-lo a exigências de justiça social e aos interesses capitalistas. Nesse sentido, pensar as chamadas "economias criativas" como um modelo de desenvolvimento econômico alternativo capaz de promover a inclusão social e possibilitar o exercício da cidadania parece-nos não apenas um dispositivo importante como um discurso convincente e capaz de criar novos sentidos ao capitalismo. Todavia, questiona-se o que mudou na lógica capitalista. Sabemos que o capitalismo é capaz de incorporar outros esquemas que não sejam apenas os herdados das teorias econômicas. Esse sistema molda habilidades outras que não se confinam nas habilidades econômicas e sociais tão valorizadas nos espíritos anteriores descritos pelos autores. Para eles o capitalismo é, provavelmente, a única, ou pelo menos a principal, forma histórica ordenadora de práticas coletivas perfeitamente desvinculada da esfera moral, no sentido de encontrar sua finalidade em si mesma (a acumulação do capital como fim em si), e não por referência não só ao bem comum, mas também aos interesses de um ser coletivo, tal como povo, Estado, classe social. (Boltanski e Chiapello ,2009, p. 53)

Assim, para manter ou para aumentar seu poder de mobilização, o capitalismo alimenta-se de seus próprios recursos ou de recursos externos como crenças que possam ter um poder de persuasão importante à criação de figuras de sucesso, que são cunhadas sob a égide neoliberal. A construção da figura do homem atual é valorizada e tem sua identidade constituída a partir de atributos e de positividades. Os mapas cognitivos e os

58 contratos de comunicação que são construídos para abrigar o "Eu S/A" contêm, de forma geral, a modalização das teorias discursivas e verbos como poder, ter, ser, fazer, querer etc. Como na modernidade as figuras de poder vêm perdendo espaço, a antiga sociedade paternalista incorpora os discursos da felicidade e faz migrar as práticas discursivas das sociedades disciplinares para as práticas discursivas das sociedades da auto- responsabilização; daí a figura do "Eu S/A" metaforizada por Prado (2013) ao tratar dos dispositivos comunicacionais utilizados na atualidade. De forma muito hábil, os enunciadores manifestam-se para fornecer os saberes necessários para que as pessoas busquem esse determinado modo de ser e passem a agir conforme esses saberes. O que se observa é que, a partir de 1997, esse movimento de manifestação dos enunciadores têm se intensificado e simplificado as práticas discursivas, tornando-as mais interativas e participativas. De certa forma, parece-nos que essa prática coincide com os primeiros registros de tecnologia e de criatividade de 1983, com o conjunto de políticas públicas de incentivo à cultura e às artes, em que o termo Creative Nation é cunhado em 1994 , a incorporação do assunto à plataforma de governo, bem como a produção da primeira declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento, afirmando-o como um direito humano ao mesmo tempo em que é um direito e dever dos Estados pela ONU ( Organização das Nações Unidas), em 1996. Boltanski e Chiapello (2009, p. 54) ainda afirmam que o capitalismo se transforma para atender à necessidade de justificação das pessoas comprometidas em um dado momento no processo de acumulação capitalista, mas cujos valores e representações recebidos como herança cultural, ainda estão associados a formas anteriores de acumulação, à sociedade tradicional no caso do nascimento do primeiro espírito ou a um espírito precedente, no caso da passagem para os espíritos seguintes do capitalismo. O alvo será tornar sedutoras para tais pessoas as novas formas de acumulação - a dimensão estimulante de todo espírito -, ao mesmo tempo que são levadas em conta as necessidades que tais pessoas têm de autojustificar-se - tomando como apoio a referência a um bem comum - e são construídas as defesas contra aquilo que, nos novos dispositivos capitalistas, elas percebem como capazes de ameaçar a sobrevivência de sua identidade social - a dimensão "garantias".

59 Para as instituições políticas, a questão que o discurso neoliberal coloca é a da governamentalidade. Nesse tipo de lógica, valoriza-se o desempenho otimizado, as práticas culturais, a ideia de liberdade e a falta de regras em contraposição às condutas no sentido de coletivização, visto representarem um empecilho para o desenvolvimento do indivíduo. Não é por outro motivo que o governo da felicidade e o otimismo circunstancial estejam em evidência nos discursos políticos brasileiros. Há migração de tensão do coletivo para o indivíduo e para o espírito empreendedor. O neoliberalismo é em si um dispositivo ou um modo de vida que alimenta o discurso do empreendedor, em que a criatividade e a invenção adquirem importância redobrada. Como não há uma discurso de esquerda capaz de fazer frente a essa ideia enraizada, o hábito e os costumes do autoempreendimento vêm ganhando força e arregimentando sociedades. Junto dele, a cultura e as produções culturais ganham espaço não pelo simbolismo, singularidade ou criatividade que representam, mas pela possibilidade de se converterem em propriedade intelectual ou patrimônio imaterial. Entre os principais atrativos e elementos de sedução das propostas formuladas nos discursos capitalistas dos anos 90, a oferta de libertação é o tema central e termos como a criatividade, a reatividade e a flexibilidade figuram na ordem discursiva empresarial do período. Os projetos empresariais, por exemplo, passam a ser regidos de forma global pelo contato permanente com pessoas e culturas diversas. As relações eletrônicas tornam-se, por vezes, mais sinceras que aquelas que ocorriam face a face. A possibilidade do desenvolvimento pessoal também figura como um dos elementos de sedução do discurso empresarial dos anos 90. A emergência dos coaches 8, além de servirem de mediadores no processo de potencialização das competências e habilidades pessoais, também servem para conscientizar o indivíduo a respeito de sua verdadeira autonomia. Esta está baseada no autoconhecimento e na realização pessoal, afirmam Boltanski e Chiapello (2009). Traduzida para a atualidade, a ânsia das pessoas é a de poder trabalhar em um projeto cujo "propósito" valha a pena. Essa noção de propósito é tão sedutora quanto aquela de libertação e talvez mais perigosa que a ideia de libertação, porque o engajamento que é capaz de promover a libertação pode cegar o indivíduo, fazendo-o crer que é capaz de se

8 treinadores

60 envolver naquela causa, ao mesmo tempo em que tolhe sua capacidade de tecer juízos de valor. Diferente dos atrativos e dos elementos de sedução utilizados pelo capitalismo para renovar o engajamento das pessoas, os temas clássicos como "crescimento econômico associado ao progresso social" já não são tão explorados nos anos 90. O aumento do desemprego em termos globais explica, em certa medida, o desconforto dos autores da atualidade com relação a essa realidade. Por esse motivo, o tema das liberdades assume tanta importância na dias de hoje. Os elementos de veridicção que são adicionados ao discurso empresarial dos anos 90 torna-os mais convincentes e legítimos. Outro elemento importante, que merece destaque no terceiro espírito capitalista, é a proposta de trabalho associada a projetos e não mais à produtividade e eficiência dos anos 60. Associa-se à noção de projeto um propósito e um sentido para a vida das pessoas. E é esse sentido que as engaja e as faz trabalhar por algum propósito, que será compartilhado com outras pessoas. Ao trabalharem por projetos, as antigas posições hierárquicas representadas pelos chefes, por exemplo, perdem força e dão lugar à noção de equipes multidisciplinares, em que o potencial das pessoas envolvidas pode ser empregado para alcançar os objetivos propostos. Para Boltanski e Chiapello (2009), a ausência de critérios claros para avaliar o desempenho do potencial das pessoas no trabalho norteado por projetos ainda carece de maior clareza e definição para torná-los legítimos. A nova lógica proposta pelos autores é batizada de "cidade por projetos", como uma referência ao mundo flexível constituído por projetos múltiplos, dirigidos por pessoas autônomas. Pensando nos elementos de sedução e de engajamento das pessoas presentes no discurso empresarial dos anos 60, no terceiro espírito capitalista, as garantias sociais, apesar de não terem tanto valor como nos anos 60, também não tentarão muita gente: será preciso, por exemplo, criar um substituto à altura das carreiras hierárquicas típicas dos anos 90. A sucessão de projetos é a aposta de Boltanski e Chiapello (2009) a essa garantia social. Nessa lógica, o sucesso das pessoas num dado projeto as habilitará a atuar em projetos mais complexos e, portanto, mais interessantes. O dínamo que envolve as pessoas em novos projetos é a inovação que cada um deles representa, oferecendo possibilidades de enriquecer as competências e habilidades, atuais trunfos, na busca de outros contatos.

61 Tem-se, assim, a "noção de empregabilidade" tão propalada no discurso empresarial típico do terceiro espírito capitalista. Dito de outra forma, quanto mais competências e habilidades um trabalhador mobilizar tanto maior é a possibilidade dele se envolver em projetos mais complexos e interessantes. Não por outro motivo, fala-se na atualidade das competências atitudinais como elementos essenciais nos processos de contratação de pessoas, pois, como se viu, as demais competências e habilidades são avaliadas em razão dos tipos e das quantidades de projetos nos quais esse indivíduo envolveu-se em sua trajetória profissional. Enquanto no primeiro espírito capitalista as pessoas atribuíam valor a uma moral de poupança, no segundo espírito o valor recaía sobre o trabalho e a competência. Já no terceiro espírito, observa-se, porém, uma alteração na relação das pessoas com o dinheiro e com o trabalho. De acordo com Boltanski e Chiapello:

Num mundo em rede [...], não diz mais respeito aos bens materiais, mas ao tempo. Poupar, nesse mundo, é, em primeiro lugar, mostrar-se ávaro de tempo e judicioso naquilo a que ele é dedicado. [...]: não perder tempo é reservá-lo para estabelecer e manter conexões mais lucrativas [...], em vez de desperdiça-lo na relação com pessoas próximas ou com pessoas cujo trato propicia unicamente prazer de ordem afetiva ou lúdica. Mas a boa administração do tempo livre também significa ( e as duas coisas estão frequentemente juntas) acesso à informação e ao dinheiro (Boltanski e Chiapello, 2009, p.189-190).

A conjugação desses elementos cria setores criativos que diferem em organização e em proporção quando comparado aos setores tradicionais das economias neoliberais. Tais setores têm como dínamo o primeiro recurso econômico: a cultura e todas as suas manifestações incluindo as produções culturais dela decorrentes. Em todos esses setores, a base das produções é a criatividade. Nesse novo modelo, a cultura e suas produções assumem o protagonismo na cena econômica e política, muito diferente do papel secundário a que fora relegada nas sociedades capitalistas industriais. Os pressupostos da racionalidade típica de tais sociedades não valorava os processos culturais e suas produções. Ao relegar a cultura a segundo plano, a lógica anterior transformou a riqueza da produção cultural em mera reprodutibilidade das manifestações artísticas, em cultura de massa e naquilo que convencionou-se chamar de indústria cultural. O que de fato estamos assistindo é a uma possível tentativa de mudança nas

62 economias. Diferente da lógica que pautou o pensamento taylorista das sociedades industriais, em que a eficiência produtiva e a lucratividade dependiam de uma mentalidade tecnocrata, do planejamento e da racionalidade, as chamadas economias criativas caracterizam-se pela abundância e não pela escassez, pela sustentabilidade social e não pela exploração de recursos naturais e humanos, pela inclusão produtiva e não pela marginalização de indivíduos e comunidades. As economias criativas parecem ser a alternativa ao modelo econômico neoliberal que vem fracassando, não pelas características que têm mas pela centralidade que atribuem (ou devolvem) à figura do homem. Talvez seja por esse motivo que se tem afirmado que a cultura é (ou talvez seja) o eixo fundante do desenvolvimento econômico. Visto dessa maneira, a cultura e suas produções assumem a função de dispositivo, nos moldes sugeridos por Prado (2013). Nesse contexto, o autor sugere que os dispositivos sejam " uma espécie de formação que em determinado momento histórico tem como sua maior função a resposta a uma urgência" (Prado 2013, p.59).

63 Capítulo 3. Por uma definição de economia criativa

As discussões propostas nos capítulos anteriores tinham o objetivo de apresentar ao leitor a trama de relações que subjaz às chamadas "economias criativas". Neste capítulo, apresentam-se as principais distinções, definições e, especialmente, os limites para a atuação da "economia criativa". Como ressalta Reis (2006), ainda que alguns críticos possam fazer ressalvas acerca das definições que emergem, a "economia criativa" é uma economia e, como tal, pressupõe a existência de um mercado e suas lógicas e, ainda, que nem sempre ela tende a ser sustentável. Mais que afirmações, a autora evidencia suas preocupações na condução da "economia criativa" como estratégia de política pública. Denuncia que não existem limites definidos para o escopo das chamadas "economias criativas", e que isso se configura como um problema que exige reflexão na medida em que funde as fronteiras entre a economia da cultura e do conhecimento. Reis alerta também para a importância demasiada que se tem atribuído ao potencial contido nas economias criativas, em detrimento do entendimento transversal que o setor requer. Esse tipo de economia exige mais que articulação entre pastas, ministérios, governos e municípios; exige que se promova uma articulação com as políticas educacionais para o setor, bem como com as políticas de ciência e tecnologia, com vistas a promover a inclusão dos verdadeiros artífices das produções culturais das paisagens barrocas, conforme veremos nas seções seguintes. Para sustentar-se como um modelo econômico alternativo, os países precisam delinear políticas públicas de forma clara, com metas de longo prazo e que transcendam as políticas governamentais de ocasião. Há também a necessidade de determinarem os territórios criativos e incluírem a inovação nas soluções para os problemas ou na antecipação de oportunidades. Esse processo exige também conexões entre o local e o global, o público e o privado, ou ainda a cultura e a contribuição simbólica que ela representa, bem como o impacto econômico setorial e o valor agregado que podem ser conferidos aos setores não culturais da cadeia produtiva.

64 Por outro lado, Bolaño (2000) relembra-nos o legado deixado pelos pensadores da Escola de Frankfurt e suas ressalvas com relação à reprodutibilidade das produções culturais. É desnecessário revisar todas as armadilhas contidas na lógica com que os modelos econômicos operam de forma geral. Todavia, ressalta-se que, por se tratar de uma realidade, as "economias criativas" devem ser estudadas e entendidas como uma possibilidade de formulação de um projeto nacional em razão de sua peculiaridade cultural e da criatividade pujante, típica da paisagem brasileira. Bolaño (op.cit) convida-nos a refletir sobre a relevância da economia criativa com base no pensamento crítico latinoamericano, em especial sobre a importância que se tem atribuído à diversidade cultural ou à riqueza cultural, isto é, à revolução da produção e do consumo de bens simbólicos que ensejam a reafirmação de identidades, reforço dos saberes locais que podem fornecer alternativas concretas para os projetos de desenvolvimento, assim como para a autonomização da cultura, seja no nível material e suas produções, seja no nível imaterial em seus saberes e formas de expressão. Valendo-se do legado e dos conceitos de cultura e de desenvolvimento defendidos por Celso Furtado, Bolaño (op.cit) também evidencia que a consecução dos objetivos de um projeto nacional pode ser alcançada na medida em que se conceda à criatividade a força necessária para gerar medidas de correção e de prevenção nos processos de excessiva concentração de poder. Sob o ponto de vista da relevância das "economias criativas" para as relações exteriores e da atuação da diplomacia cultural, Novais (2014), em sua dissertação de Mestrado, realizou um mapeamento das ações culturais desenvolvidas pelo Ministério das Relações Exteriores por meio da diplomacia cultural, entre 2003 e 2010. Pode-se observar que entre as ações mais privilegiadas estão a promoção da língua portuguesa, as operações de difusão cultural, os temas educacionais, a coordenação de divulgação e a promoção audiovisual. A pesquisa também evidenciou o nível de concentração de ações entre os continentes e apurou que 60% das ações estavam concentradas na América do Sul, na América Central e no Caribe. Desse modo, entre as áreas reunidas pela Divisão de Operações de Difusão Cultural, o esporte, os espaços culturais, os museus, os organismos multilaterais, o teatro, a educação, a dança, a capoeira, as artes cênicas, o patrimônio cultural, as artes visuais, as atividades multidisciplinares, a memória, a música, as artes plásticas, o audiovisual, a língua,

65 o livro, a leitura, a literatura e os acordos bilaterais e multilaterais foram as mais trabalhadas pela diplomacia cultural no período de 2003 a 2010. Como sugerem as reflexões anteriores, os esforços para estruturação de políticas públicas que consolidem a economia criativa no Brasil dependem da continuidade e da transversalidade com o que a temática cultural é trabalhada no contexto internacional. Dada a riqueza das produções culturais brasileiras, as áreas trabalhadas pela diplomacia cultural ainda são incipientes e insuficientes, ainda que representem um esforço importante para o país.

3.1 O potencial da economia criativa no Brasil

Como sabemos, o Brasil do século XX ocupou-se da substituição do modelo de importações, com a crise da dívida externa, com a urbanização acelerada, com a luta contra a hiperinflação e pela busca do desenvolvimento econômico e social. Chegamos, assim, ao século XXI sem os dados estatísticos e estudos que possibilitassem a compreensão e o desenvolvimento de políticas públicas para os setores das chamadas "economias criativas". As primeiras discussões sobre as chamadas "economias criativas" ocorreram no Brasil em 2004, em especial, durante a XI UNCTAD,9 em um painel de discussões, promovido pela entidade, entre os dias 13 e 18 de junho de 2004. Segundo documentos oficiais (UNCTAD, 2004), o painel intitulado High level panel on creative industries and development tinha por objetivo explorar as oportunidades de comércio e de desenvolvimento, abertas aos países em desenvolvimento por meio de suas indústrias criativas. Intencionava, ainda, encontrar formas de superar os desafios tipicamente enfrentados pelas economias que desejavam desenvolver seus setores criativos e aumentar os benefícios gerados por essas indústrias. O encontro pretendia também identificar um conjunto de recomendações de políticas tanto nacionais quanto internacionais para promover o desenvolvimento e a competitividade das indústrias criativas nos países em desenvolvimento e nos países em transição. A troca e o compartilhamento de experiências sobre as melhores práticas no desenvolvimento de indústrias criativas, com base em estudos de caso, também figuravam entre os objetivos do encontro. Vale esclarecer que termos como "desenvolvimento",

9 Disponível em http://unctad.org/en/pages/MeetingsArchive.aspx?meetingid=18453 , acesso em 26 de fevereiro de 2017.

66 "competitividade" e "compartilhamento de experiências" não se aplicam às produções culturais com o mesmo sentido contido na linguagem da economia. Esperava-se como resultados do encontro a geração de um inventário com as melhores práticas e estudos de caso que pudessem contribuir para a análise de políticas para as indústrias criativas; que resultassem em uma publicação que contivesse os principais documentos preparados para o painel e que este se configurasse como uma ferramenta para incentivar experiências de aprendizagem entre países e redes. Havia, ainda, a expectativa de que o encontro contribuísse para o desenvolvimento de uma base global de dados sobre as indústrias criativas e que abrisse caminhos para uma abordagem de rede para o comércio e as indústrias criativas, com vistas a celebrar uma colaboração estreita entre as Nações Unidas e as suas agências especializadas que trabalham com esse tipo de indústria. Em 2005, a UNCTAD realizou, em Salvador, o I Fórum Internacional de Indústrias Criativas, que resultou numa proposta de criação de um Centro Internacional de Indústrias Criativas, cuja missão era constituir-se como um banco de conhecimento e de espaço para as atividades e programas sobre o tema. Nos anos seguintes, outras iniciativas podem ser relacionadas: em 2006 houve a realização do Fórum Cultural Mundial no Rio de Janeiro; em 2007 houve a realização de eventos específicos em São Paulo, no Espírito Santo e no Ceará; identificou-se também a realização de conferências na BOVESPA -(Bolsa de Valores do Estado de São Paulo), visto que esta é a responsável por 70% do volume total de negócios com ações na América Latina e no BNDES(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), abordando temas sobre a economia criativa. Para Ana Carla Fonseca Reis (2008), a principal razão para a não continuidade e adensamento das discussões deu-se em razão da ausência de pesquisas e de dados que possibilitassem a análise e o desenvolvimento de ações mais específicas sobre essas indústrias no contexto brasileiro. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) publicou recentemente dois relatórios consistentes sobre as atividades culturais: o primeiro em 2013, intitulado "Sistema de Informações e Indicadores Culturais 2007-2010" e o segundo, em 2015, intitulado "Sistema de Informações e Indicadores Culturais 2014". Segundo o Instituto, a publicação desses relatórios possibilitou a abordagem de aspectos relevantes da cultura nas vinte e sete unidades da federação e em mais de 5.570 municipalidades brasileiras. O relatório traz informações relevantes sobre a existência de equipamentos culturais, meios

67 de comunicação, atividades artísticas e artesanais e os pontos de cultura. Aborda também a gestão da política da cultura, a infraestrutura para o cumprimento da função e da capacidade de servidores, além de avaliar a legislação relacionada ao tema, as instâncias de participação, a existência e o funcionamento de Fundos de Cultura. Para o Instituto, o conjunto dessas estatísticas contribui para a construção de um sistema de indicadores sobre a cultura, que poderá fornecer os subsídios necessários para o planejamento e para a formulação de políticas públicas capazes de melhorar a qualidade de vida da população por meio do acesso à cultura e às produções culturais, de atividades culturais, artísticas, sociais e recreativas. No mesmo ano, o IBGE também publicou relatório intitulado " Sistema de Informações e Indicadores Culturais - Inclusão Produtiva", cujo principal objetivo era oferecer aos indivíduos em situação de vulnerabilidade econômica e social o acesso aos mecanismos que possibilitem a inserção formal, seja como empreendedores, seja como empregados, na produção de bens e de serviços. Quando comparado aos demais países, o Brasil ainda não tem uma coleta sistematizada de dados e de indicadores culturais. Em 2011, a Prefeitura do Município de São Paulo, em parceria com a FUNDAP - Fundação do Desenvolvimento Administrativo, realizou um estudo detalhado sobre o potencial da economia criativa na cidade de São Paulo. Para Caiado (2011), apesar das diferentes metodologias utilizadas pela UNCTAD(Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento), pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e pelo próprio Ministério da Cultura, a coleta de dados realizada nessa parceria apurou que o estado de São Paulo ocupa o sexto lugar na oferta de emprego formal em atividades econômicas criativas, em comparação com os demais setores econômicos. No município de São Paulo, por exemplo, há mais de 140 mil empregos formais nos setores criativos, representando 3% do total das vagas formais do município. Os setores contemplados na pesquisa foram a arquitetura, o patrimônio, as artes e antiguidades, as artes performáticas, o artesanato, o design, o design de moda, a editoração eletrônica, a música, a publicidade, o rádio e TV, o software e games, o vídeo, cinema e fotografia. A partir dessa definição de setores, a pesquisa passou a analisar as atividades econômicas de cada um deles, assim como as ocupações ou profissões correlatas. Vale esclarecer que esse tipo de procedimento segue os parâmetros utilizados pela Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), desenvolvida pela Receita Federal,

68 sob orientação do IBGE. O CNAE, por sua vez, está em consonância com a International Standard Classification of all Economic Activities10 (ISIC), coordenada pela ONU. A coleta de dados realizada pela parceria do município de São Paulo trabalha a questão econômica segundo o viés das atividades relacionadas à cultura e à criatividade, de acordo com o organizador do projeto. O estudo também analisou a natureza das atividades econômicas consideradas por diversos estudos como culturais e/ou criativas. A particularidade da economia brasileira e do dinamismo de seus setores criativos também foi contemplada. Tomando como base essa metodologia, os setores nucleares criativos passaram a abrigar as atividades conforme descrito na Tabela 1:

Tabela 1: Atividades relacionadas aos setores criativos

Setor Nuclear Criativo Atividades reunidas

Arquitetura e Design a classe referente aos serviços de arquitetura engloba arquitetura e produção de maquetes. No caso do Design, por impossibilidade de se fazer maior desagregação, foi considerada, para efeito da pesquisa, a classe “design e decoração de interiores”, que reúne as seguintes atividades: design de moda; mobiliário; objetos pessoais; joias; e design industrial. Esse grupo compreende também as atividades desenvolvidas por estilistas e produtores de moda.

Artes Performáticas inclui as atividades ligadas às artes cênicas e circenses e a outros espetáculos realizados ao vivo. Fazem parte dessa categoria não apenas os espetáculos em si, mas também as atividades de gestão dos espaços em que eles acontecem, bem como as atividades das escolas de samba e de organizações associativas de qualquer natureza que se dediquem à cultura e à arte;

Artes Visuais, Plásticas e Escrita abrange as atividades de fotografia e de criação artística, nas quais se incluem a pintura artística, a escultura e a escrita de textos de ficção e não ficção;

10 Padronização internacional da Classificação das atividades econômicas

69 Audiovisual inclui atividades fabris, como a reprodução de materiais gravados (em que se inclui a gravação de CD e DVD) e a fabricação de instrumentos musicais (produzidos tanto artesanalmente como em larga escala). Os serviços ligados à produção, pós- produção e exibição cinematográfica também fazem parte dessa categoria, além das atividades de rádio e televisão, responsáveis pela maior parte dos serviços de difusão de produções audiovisuais;

Edição e Impressão encontram-se nessa categoria as atividades da cadeia de produção de todos os tipos de materiais impressos (livros, jornais, revistas e outros) e as atividades de agências de notícias, responsáveis pela coleta, produção e difusão de conteúdo jornalístico para diversos meios de comunicação. As agências de notícias foram incluídas nesse grupo em razão de sua estreita relação com a produção de materiais impressos e por contar com o mesmo perfil de profissionais que atuam na edição de jornais e revistas;

Ensino e Cultura reúne somente as atividades educativas da área de artes e cultura, como cursos de dança, música, pintura, artesanato e teatro. O ensino de idiomas foi incluído por ser uma importante atividade no que se refere ao contato com diferentes culturas e envolver a língua, um dos elementos básicos pelo qual a cultura se manifesta;

Informática inclui o desenvolvimento de softwares prontos para uso e os feitos sob encomenda, além da produção de jogos eletrônicos (games). Também fazem parte desse grupo, as atividades relacionadas à internet, 25 assim como os serviços de hospedagem de sites, portais e provedores de conteúdo on-line;

Patrimônio abrange as atividades relacionadas à preservação de acervo bibliográfico e museológico, além da exploração comercial de espaços de exibição desses materiais e das atividades de conservação e restauração dos mesmos. Pelo seu significativo papel educacional e por contar com um grande percentual de pesquisadores em seus quadros (responsáveis pela preservação de acervos biológicos), as atividades de jardins botânicos,

70 zoológicos, parques, reservas e áreas de proteção ambiental foram incluídas nesse grupo;

Pesquisa e Desenvolvimento envolve as atividades das instituições de pesquisa e laboratórios em todas as áreas de conhecimento. Embora não haja consenso entre os estudos utilizados quanto à sua inserção, a Fundap optou por incluí-las, uma vez que produzem conhecimento, bens e serviços sobre os quais incide algum tipo de propriedade intelectual, questão essa que permeia toda discussão sobre criatividade;

Publicidade e Propaganda inclui as atividades das agências de publicidade e demais atividades de propaganda, como promoção de vendas e consultoria. Não inclui as atividades relacionadas a venda ou aluguel de espaço publicitário, por não representar uma atividade na qual a criatividade se manifeste. (IBGE, Coordenação de População e Indicadores Sociais, 2015)

Fonte: Adaptado do livro "Economia Criativa de São Paulo: diagnóstico e potencialidades", p. 25-26, 2011.

O panorama apresentado pelo relatório "Sistemas de Informações e Indicadores de Cultura - 2014", publicado pelo IBGE, parece animador quando, por meio da classificação das atividades em setores criativos, apresenta o potencial econômico contido nas produções e séries. Como sabemos, quando se opta pela classificação, incorre-se nas generalizações que não levam em consideração a influência das culturas sobre a organização dos objetos como o descrito no setor nuclear criativo da Arquitetura e do Design; este último parece conter o efeito "gourmetizador" da supervalorização de certos objetos. Ao classificar as atividades performáticas, por exemplo, excluiu-se o arcabouço cultural existente por trás do samba e de suas composições. Ao atribuir importância ao ensino de idiomas, reforça-se a ideia de linguagem franca; e, ao limitar o potencial criativo que prevê o desenvolvimento de softwares, também se determina e controla o ritmo da circulação de informação na internet. Sabemos que há a necessidade de mapear e coletar dados que possam contribuir com o desenvolvimento de políticas públicas, mas a obsessão pelo mapeamento e pela classificação das atividades culturais não se restringiu a esses dois estudos. Em 2017, a Secretaria da Economia da Cultura, com o apoio da gráfica da Universidade Federal do Rio

71 Grande do Sul, lançou a coleção "Atlas econômico da cultura brasileira: metodologia I". Segundo os organizadores, o Atlas "pretende oferecer subsídios teóricos e empíricos à construção de metodologias de avaliação do impacto dos setores culturais e criativos (SCC) sobre a evolução da economia brasileira" (Leandro Valiati e Ana Letícia do Nascimento Fialho, 2017). Os organizadores do mapeamento acreditam que o Atlas cumprirá um duplo papel: i) o de justificar a importância de um esforço de pesquisa, localizando-o na discussão teórica nacional e internacional; e, ii) formular modelos metodológicos voltados aos quatro eixos temáticos do Atlas: empreendimentos culturais, mercado de trabalho, políticas públicas e comércio internacional. Apesar de representarem um esforço importante, os insumos contidos no Atlas e nos demais relatórios disponíveis nos principais órgãos de acompanhamento e planejamento, todos eles incorrem na mesma lógica classificatória e binária de que padecem as ciências de forma geral. Não há nesses relatórios qualquer estudo ou reflexão que nos remeta às variações contidas entre os objetos e o homem e a complexidade que representam não é avaliado. A riqueza e a diversidade cultural de qualquer país ou região, seguramente não estará representada nesses itens classificatórios ou no levantamento de seu potencial econômico. Justo o contrário: quanto mais classificações e divisões houver menor será a percepção acerca do potencial inovador e criativo contido nas somas culturais. Esses relatórios são uma evidência incontestável de que há a necessidade premente de se constituírem novas mentalidades para consolidar as chamadas economias criativas como um modelo de desenvolvimento alternativo ao modelo vigente. Ainda que representem um esforço inicial, os insumos desses relatório servem para o país analisar as informações necessárias e para formular as políticas públicas possíveis para as chamadas "economias criativas". As seções a seguir adensam a discussão.

3.2 O potencial da economia criativa no contexto latinoamericano

Como vimos, o debate sobre as economias criativas tem avançado nos últimos tempos, especialmente em razão do potencial de crescimento econômico que elas podem representar para o crescimento das economias emergentes. Frente a esse embate, vale

72 ampliar o entendimento sobre o potencial desse tipo de economia no contexto latinoamericano. Em 2013, o Banco Interamericano de Desenvolvimento publicou um livro intitulado "La economía naranja: una oportunidad infinita" para debater a oportunidade de desenvolvimento econômico que a América Latina e o Caribe tem diante de si (apesar de os autores alegarem a origem caribenha, sabe-se que as origens das matrizes culturais são, na realidade, africanas). Para Márquez e Restrepo (2013), as ideias chaves e os conceitos que estão no entorno da temática das chamadas "economias criativas" são pouco conhecidos e, por conseguinte, pouco debatidos no contexto latinoamericano. Para os autores, a economia criativa "é uma riqueza baseada no talento, na propriedade intelectual, na conectividade e por consequência na herança cultural da nossa região" (2013, p. 10). Os autores ironizam os economistas ao afirmarem que a economia criativa representou, em 2005, 6,1% da economia global e passou desapercebida pelos radares por eles utilizados. Mantendo-se a projeção desse ano como estável, os autores estimaram que, em 2011, esse tipo de economia produziu mais de US$ 4,3 bilhões de dólares. Segundo o relatório da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento e Comércio, entre 2002 e 2011, as exportações de bens criativos cresceram 134%. Entre os bens criativos, destacam-se as artes visuais e performáticas, o artesanato, a produção audiovisual, os desenhos, os novos meios e, entre os serviços criativos, destacam-se os de arquitetura, de cultura e recreação, de pesquisa e desenvolvimento e de publicidade; é o que afirmam os autores. Em 2011, apurou-se que as exportações de bens e serviços criativos alcançou US$ 646 milhões de dólares. Se fossem adotadas as mesmas classificações utilizadas pelo Centro Internacional de Comércio, os bens e os serviços criativos representariam a quinta mercadoria mais transacionada do planeta. Os autores também afirmam que os setores econômicos criativos são menos voláteis e suscetíveis às crises econômicas que têm solapado as nações. Por não estarem sujeitos à escassez ou à abundância de oferta que pudesse ocasionar a volatilidade de preços, o crescimento das economias criativas tem sido associado, frequentemente, ao uso da conectividade. O BID destaca que o comércio dos serviços criativos cresceu 70% mais rápido que o de bens criativos. Os levantamentos realizados pelos autores também indicam que foram

73 injetados anualmente, pelas indústrias do entretenimento 11 , nas economias mundiais, desde 2012, mais de US$ 2,2 bilhões de dólares. Para se ter uma ideia do volume de produções que o valor injetado representa, foram produzidos mais de quatro mil filmes; mais de vinte e cinco trilhões de músicas foram baixadas com o ITunes desde que fora criado, em 1998; mais de 50 trilhões de aplicativos foram baixados a partir das lojas virtuais como AppStore. Entre os musicais mais famosos da Broadway, quais sejam Cats, Los Miserables, A Bela e a Fera, O rei leão, Mama Mia, Starlight Express, O fantasma da ópera, Wicked, Miss Saigon e os Garotos de Jersey, arrecadaram em bilheteria juntos (Nova York e Londres) a quantia de US$ 26, 9 milhões de dólares. Os índices comparativos, utilizados pelos autores para ilustrar a importância e a relevância da economia criativa, são únicos e alertam para a pouca ou nenhuma atenção dada pelos governos a um setor econômico que reúne cifras tão expressivas. Para Márquez e Restrepo (2013), entre as razões para a secundariedade das chamadas "economias criativas" encontram-se: é difícil conceituar e delimitar o escopo das economias criativas; a relação entre economia e cultura não é evidente para a maioria das pessoas; a parametrização12 e a quantificação das atividades culturais é recente para a maioria dos países latinoamericanos; a coleta e a publicização dos resultados que resultem em indicadores culturais é ainda irregular; as dinâmicas dos processos criativos e sua transformação em bens e serviços culturais são, como descrevem os autores, gasosas e, portanto, voláteis; a ausência de marcos práticos dificulta o desenvolvimento de políticas públicas; e, não há um número expressivo de pessoas envolvidas no debate a fim de imprimir o caráter de relevância e de oportunidade que representa. É a proposição de soluções e ações para atribuir às economias criativas importância que permitirá aos países da América Latina desfrutarem do desenvolvimento social e econômico que se afirma haver nesses setores econômicos. O relatório produzido pelo BID também sugere que a falta de consenso acerca de uma definição e as inúmeras discussões sobre a conceituação, bem como os limites e as implicações das economias criativas propostos pelas diferentes agências multilaterais, como

11 Para os autores, as Indústrias do entretenimento foram compreendidas como o conjunto de atividades culturais e criativas típicas das chamadas "economias criativas". 12 Utilizou-se o termo parametrização como uma alusão crítica ao eufemismo do economês e para dar uma ideia dos quesitos que são utilizados nos processos classificatórios.

74 UNESCO ( Organização das Nações Unidas para a Educação, Cultura e Ciência), UNCTAD (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento), OMPI (Organização Mundial para a Propriedade Intelectual), DMC ( Departamento de Cultura, Meios e Esportes do Reino Unido), e CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe), convergem para três pontos comuns: a criatividade, as artes e a cultura como matéria-prima; a relação com os direitos de propriedade intelectual, em particular com o direito do autor; e a função direta em uma cadeia de valor criativo. A fim de propor uma solução prática e uma aproximação entre as definições propostas pelas agências multilaterais, em setembro de 2007, o Banco Interamericano de Desenvolvimento elaborou um documento intitulado " Las industrias culturales en America Latina y Caribe: retos y oportunidades" em que define as "indústrias culturais como aquelas que compreendem os bens e serviços tradicionalmente associados a políticas culturais, os serviços criativos e esportes", ressaltam os autores Márquez e Restrepo (2013, p. 38). De forma simplificada, as indústrias culturais foram agrupadas e classificadas em três categorias: as indústrias convencionais; outras; e novas. Cada grupo reúne um conjunto de bens e de serviços criativos que representam as indústrias culturais analisadas na América Latina. Longe de esgotar a discussão, a seção a seguir adensa o entedimento acerca da dinâmica das economias criativas.

3.3 Por um conceito de economia criativa

Como afirma Reis (2008), entre as primeiras definições sobre as chamadas "economias criativas" estavam centradas em sua dinâmica econômica e nas indústrias criativas, ou então nas características e nas capacitações dos trabalhadores dessas indústrias. Entre os principais estudiosos estão Richard Caves, John Howkins e Richard Florida. A autora afirma que não há entre eles um consenso a respeito do conceito, pois cada um deles inclui uma perspectiva de análise, alterando o conceito. Antes de iniciar o percurso de pesquisa, a autora desta tese acreditava que a instauração dos mecanismos da economia criativa nos mais variados setores criativos pudesse trazer, de fato, benefícios aos verdadeiros artífices da produção cultural. Entretanto, o decorrer do percurso de pesquisa demonstrou que a conceituação em aberto ou em fase de construção chama a atenção especialmente quando envolve áreas do saber que se pautam pela tecnicidade da

75 administração e pela lógica da economia. Ainda que existam esforços em todas as áreas para desenvolver métricas capazes de mensurar o potencial contido nas economias criativas, a autora (op.cit) sugere que a preocupação deve recair justamente na não elaboração de métodos ou métrica, uma vez que cada contexto sociocultural apresentaria potencial distinto e, portanto, sem possibilidade de mensuração prévia. Dito de outra forma, o que Reis (2008) sugere é que não há possibilidade de valorar todas as séries culturais de um país antecipadamente, especialmente porque o valor que pode ser atribuído a uma série cultural, em detrimento de outra, é inimaginável. Seria o mesmo que tentar valorar o potencial criativo dos senegalezes e tê-los como referência para valorar todos os demais potenciais. Qualquer leitura que assumisse uma referência incorreria em valorações além ou aquém do real. Os estudos mais recentes têm evitado o desenvolvimento de métricas. Assim, a definição proposta por Hurtley (2005, p.5) inclui uma abordagem ampliada da economia, incluindo a tecnologia e a cultura:

... a ideia de indústrias criativas busca descrever a convergência conceitual e prática das artes criativas (talento individual) com indústrias culturais (escala de massa), no contexto das novas tecnologias de mídia (TICs) em uma nova economia do conhecimento, para o uso dos novos consumi- dores-cidadãos interativos.

Esse conjunto de definições faz-nos refletir acerca das transformações e da convergência entre as novas tecnologias e os processos de globalização que servem de substrato para o florecer da economia criativa. Em algumas localidades, os setores das economias criativas crescem a ritmos maiores que nos demais setores manufatureiros ou de serviços tradicionais, contribuindo para o crescimento do PIB de muitos países.

Os trabalhos desenvolvidos pelas agências multilaterais têm importância elevada, pois têm contribuído para adensar o debate em diversos fóruns, além de ampliar e difundir os conceitos e as políticas já existentes. Throsby (2001) assevera que os trabalhos desenvolvidos pela UNESCO (Organização das Nacões Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), em especial, contribuíram para alcançar dois objetivos: delimitar o conceito das indústrias criativas e ampliar a difusão de tal conceito; e promover o alargamento conceitual a partir da convenção da diversidade editado pela agência em 2015.

76 Para fins de conceituação, a definição adotada nesta pesquisa é aquela contida no relatório intitulado "Creative Economy Outlook and country profiles: trends in internacional trade in creative industries", publicado pela UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e o Desenvolvimento), de 2015/2016: A economia criativa aproveita a criatividade, a tecnologia, a cultura e a inovação para promover o crescimento e desenvolvimento econômico inclusivo e sustentado. Os setores da economia criativa incluem artes e ofícios, livros, filmes, pinturas, festivais, músicas, projetos, animação digital e videogames. Eles geram renda por meio de comércio (exportações) e direitos de propriedade intelectual, e criam novos empregos em habilidades ocupacionais mais altas, particularmente para pequenas e médias empresas. Com o avanço da tecnologia, especialmente a revolução digital, educação e inovação, indústrias criativas e baseadas no conhecimento emergiram como setores dinâmicos da economia global, 13 (2015/2016, p. 3) .

Todo o referencial teórico disponível sobre as chamadas "economias criativas" alerta para o entendimento de que não se trata apenas de uma reorganização de setores econômicos em novas categorias (a exemplo do que ocorreu em 1994 na Inglaterra, quando um estudo de tendências apontou os setores criativos como aqueles com potencial de crescimento, mas que careciam de políticas públicas), visto que a criatividade já é reconhecida como matéria-prima da inovação desde sempre. Novo é o entendimento que reside no reconhecimento de que o contexto formado pela convergência de tecnologias e a insatisfação com o cenário socioeconômico mundial da modernidade mundo atribui à criatividade a função de servir de elemento motivador e fundante para novos modelos de negócios, novos processos organizacionais e uma nova arquitetura institucional capaz de estimular os setores e os agentes sociais e econômicos. Do ponto de vista institucional, tanto a UNESCO quanto a UNCTAD apresentam a economia da cultura e a criatividade como alternativas viáveis para o desenvolvimento das economias emergentes; ambos afirmam que as indústrias culturais têm sido uma maneira

13 Tradução livre de: Creative economy leverages creativity, technology, culture and innovation in fostering inclusive and sustained economic growth and development. Creative economy sectors include arts and craft, books, films, paintings, festivals, songs, designs, digital animation and video games. They generate income through trade (exports) and intellectual property rights, and create new jobs in higher occupational skills, particularly for small and medium sized enterprises. With advancement in technology especially the digital revolution, education and innovation, creative and knowledge-based industries have emerged as among the dynamics sectors of the global economy."

77 viável de resposta à desindustrialização. No Brasil, o atual secretário de Economia da Cultura do Ministério da Cultura, Mansur Bassit, ao afirmar que "O Brasil tem pressa, e a economia da cultura pretende ser um dos motores do novo ciclo de crescimento econômico e progresso social" no prefácio do “Atlas Econômico da Cultura Brasileira” , expõe o teor das intenções que cercam os interesses pelas produções e séries culturais. Observa-se que nas diferentes literaturas sobre o assunto a diferença entre as terminologias utilizadas (economia da cultura ou economia criativa) ocorrem porque a cultura é tomada como um bem material (estoque) ou patrimônio material de fácil identificação, uma vez que incorpora uma série de características e atividades de grupos sociais. Ao capturá-la como tal, a cultura passa a ser analisada como um processo cujas relações de poder entre os grupos distintos permitem observar certa hierarquização entre eles, com caráter de dominação. Ao torná-la uma espécie de estoque, também se desestabiliza o inventário cultural de uma sociedade cuja dinamicidade decorre de complexos processos culturais e de relações de poder que contribuam para a materialização de bens tratados como materiais. A falta de consenso sobre a forma como a cultura e suas produções deva ser inserida na economia apenas intensifica o debate acerca das chamadas "economias criativas". Atualmente, a discussão gira em torno de quatro modelos teóricos, com desdobramentos metodológicos e de formulação de políticas públicas, os quais se diferenciam pelo impacto do avanço relativo das indústrias criativas sobre o desempenho econômico e o bem-estar da sociedade. Nesse sentido, o primeiro modelo teórico recai sobre a formulação neoclássica do bem-estar, associado a Baumol e Bowen, na década de 60, pelo qual as indústrias criativas teriam um impacto negativo sobre o desempenho econômico dado que consumiam mais recursos do que produziam. Nesse modelo, era preciso haver o investimento governamental para correção das falhas de mercado com vistas a realocação de renda e de recursos para viabilizar a produção de ativos de valor cultural.

Já o segundo, conhecido como "modelo de competição", encara as indústrias criativas como setores comuns cuja expansão relativa engendra efeitos nulos sobre o crescimento agregado ao bem-estar. Nesse modelo, há uma clara recusa de qualquer tratamento especial, propondo a construção de uma estrutura competitiva de mercado. O modelo de competição opõe-se ao terceiro modelo "de crescimento", o qual associa o

78 avanço relativo das indústrias criativas a um aumento do crescimento agregado, tanto pela criação de novos setores e nichos de mercado quanto pela adoção e retenção de novos meios de inovação nos demais setores. A partir desse momento, as indústrias criativas passam a receber o mesmo entendimento de outros setores industriais. O modelo teórico de "crescimento" é visto como complementar ao "modelo de inovação" , o qual confere protagonismo às indústrias criativas na construção do sistema nacional de inovação, contribuindo para a coordenação das novas ideias e para a formação de um complexo evolucionário que deriva do processo de inovação. No entanto, esse entendimento requer responder ao seguinte questionamento: afinal o que são as indústrias criativas? Para a Comissão Europeia, as indústrias culturais são aquelas que produzem e distribuem bens e serviços que estão relacionados a expressões culturais, independentemente de seu valor comercial. Já as indústrias criativas são aquelas em que a cultura é utilizada como um insumo e que, embora apresentem essa dimensão cultural, têm como propósito principal a fabricação de produtos funcionais, podendo integrar elementos criativos em processos de arquitetura, de design e de moda, por exemplo. Em 2015, a UNESCO agregou as dimensões da cultura e da criatividade ao definir os setores culturais e criativos (SCC) como sendo:

aqueles em que o principal objetivo é a produção ou reprodução, promoção, distribuição ou comercialização de bens, serviços e atividades de natureza cultural, artísticas ou relacionada a herança cultural" Assume-se como ponto de partida a importância da produção dos valores simbólicos que representam a herança comum das distintas culturas e, portanto, expressam a diversidade da experiência criativa humana. (UNESCO, 2015, p.11)

A partir desse relatório, tem-se a distinção entre os conceitos de economias criativas e de economias da cultura: o debate sobre as economias criativas mostram-se como um marco teórico voltado para a formulação de estratégias de desenvolvimento centradas no impacto positivo das indústrias criativas sobre o crescimento econômico e a inovação tecnológica, em um contexto decorrente da desindustrialização e da crise do fordismo; o debate sobre a economia da cultura, por sua vez, representa uma marco teórico voltado para formulação de políticas públicas para a cultura enquanto canal de expressão de signos,

79 símbolos e valores (simbólicos e culturais), os quais também são capazes de gerar valor mercantil. De qualquer forma, nenhuma das definições representa a diversidade da cultura e de suas produções, sejam elas brasileiras ou de qualquer outra nacionalidade.

Idêntica falta de consenso dá-se no processo de mensuração e na criação de indicadores para as produções culturais. A depender do enfoque, há ênfase tanto em questões simbólicas e de expressão cultural quanto na criatividade. Diferente do que defende Reis (2008) sobre a não criação de modelos de mensuração da produção cultural, os organizadores do Atlas Econômico da Cultura Brasileira sugerem três modelos distintos: i) modelos centrados na economia da cultura; ii) modelos centrados na economia criativa; e, iii) modelos-síntese de organismos internacionais.

De acordo com a classificação dos modelos centrados na Economia da Cultura, é o que afirmam os organizadores do Atlas Econômico da Cultura Brasileira, Valiati (2017, p.16). Nesse modelo, as ideias criativas, quando transferidas para uma economia, tendem a diluir- se na medida em que combinam com os demais insumos e incorporam-se em processo mais amplos. Ou seja, a essência criativa passa a ser secundária. Para o teórico que organizou esse modelo (Throsby, 2001, 2008), a distinção entre criatividade científica e a criatividade artística ocorre devido às diferenças entre proporções de valor cultural e de valor econômico de ambas espécies. Nesse modelo, as expressões culturais têm lugar central em comparação ao conhecimento e à inovação.

80 Figura 2: Modelo dos círculos concêntricos

Fonte: Adaptado de Throsby (2008).

De acordo com esse modelo, as indústrias culturais do núcleo concentram a literatura, a música, as artes performáticas e as artes visuais. Com teor cultural relativamente menos concentrado, há o grupo das indústrias criativas centrais, como os filmes, os museus, as galerias, as bibliotecas e as fotografias. As indústrias culturais tidas como "mais amplas" são as de serviço de patrimônio, publicação, gravação de sons, televisão, rádio e jogos digitais. Na última estratificação do modelo dos círculos concêntricos, encontram-se as indústrias culturais cujas ideias criativas estão em processos mais abrangentes, como a publicidade, a arquitetura, o design e a moda; essas indústrias também são conhecidas como indústrias relacionadas. O problema desse modelo, argumenta Throsby (2001, 2008), é que não há uma metodologia definida para calcular a "proporção de valor cultural" de cada setor; essa decisão ocorre de modo ad hoc.14

Segundo a UNCTAD (2010), o modelo de textos simbólicos recai sobre as expressões culturais com ênfase na "alta arte", em oposição à cultura popular. Nesse modelo, o

14 Adhoc significa para essa finalidade; para esse fim. formulado com o único objetivo de legitimar ou defender uma teoria, e não em decorrência de uma compreensão objetiva e isenta da realidade (diz-se de argumento, proposição ou hipótese).

81 objetivo é apresentar o caminho do processo de produção, de disseminação e de consumo dessas expressões e mensagens que desse denominam textos simbólicos. A divisão estrutural proposta pela agência é feita em três grupos: núcleo das indústrias culturais, atividades culturais periféricas e atividades culturais fronteiriças. Desse modo, a tabela 2, apresentada a seguir, evidencia as atividades contidas em cada setor:

Tabela 2: Atividades contidas nos núcleos criativos do modelo de textos simbólicos

Atividades

Núcleo das Indústrias Culturais Publicidade, Filme, Internet, Música, Publicações, Televisão e rádio; vídeo game e jogos de computador.

Atividades Culturais Periféricas Artes Criativas

Atividades Culturais Fronteiriças Aparelhos eletrônicos, moda, software, esporte

Fonte: Adaptado UNCTAD (2010)

Já entre os modelos centrados nas Economias Criativas estão aqueles que levam em consideração atividades ligadas aos direitos autorais, à inovação e ao conhecimento, além das expressões artísticas tradicionais. O modelo utilizado pela World Property Organization (WIPO) representa um desses modelos. Quando há preocupação com os direitos autorais e com a criatividade, o modelo desenvolvido pela WIPO (2015) tende a ser mais utilizado, uma vez que se adequa a arranjos musicais, notas musicais, movimentos e formatos. Para essa organização, essas formas de criatividade devem ser asseguradas de modo a garantir que os produtos oriundos dessas atividades continuem disponíveis na economia em quantidade adequada, encorajando, assim, a permanência dos agentes econômicos nesses mercados e de promoção da eficiência distributiva desses bens e serviços. Nesse modelo, as atividades criativas e culturais organizam-se conforme apresentado na tabela 3 a seguir:

82

Tabela 3: Organização das atividades criativas no modelo WIPO

Núcleo das Indústrias dos Direitos Autorais Imprensa e literatura; museu, teatro e óperas; filme e vídeo; rádio e televisão; fotografia; softwares, base de dados e jogos eletrônicos; artes visuais e gráficas; publicidade e sociedades arrecadadoras de direitos autorais. Indústrias Interdependentes dos Direitos Eletrônicos (televisão, rádio, produtores de som, Autorais aparelhos de DVD), computadores e equipamentos, instrumentos musicais, equipamentos fotográficos e cinematográficos, fotocopiadoras, material para gravação em branco e papel. Indústrias Parciais dos Direitos Autorais Vestuário, calçados e tecidos; joias e moedas; outros artesanatos; móveis, artigos domésticos, cerâmicas e vidro; papéis de parede e tapetes; jogos e brinquedos; arquitetura, engenharia, inspeção e design de interiores. Indústrias de Apoio não Dedicadas Vendas em atacado e varejo; transporte; telefonia e internet;

Fonte: Adaptado UNCTAD (2010)

Quando se parte da ideia dos direitos autorais, já se tem a estratificação das atividades tidas como criativas e a inclusão de áreas como a engenharia, cujo papel da inovação para a área é determinante. Outro modelo ligado às economias criativas é o adotado pelo governo britânico, denominado DCMS. Este parte do princípio de que o trabalhador da indústria criativa seja o mais importante e central em comparação aos demais elementos. Nesse modelo, os trabalhadores são classificados em mais de trinta códigos e nove grupos de atividades. Não nos interessa destacar essas classificações. O que nos interessa ressaltar é que, segundo a WIPO, há uma diferença entre as indústrias culturais e as indústrias criativas: a primeira reproduz em escala algum produto com conteúdo cultural significativo (difícil de imaginar algum conteúdo cultural que não seja significativo); e a segunda tem um escopo mais amplo, incluindo as indústrias dos direitos autorais, as indústrias culturais e qualquer

83 produção tanto artística quanto cultural, incluindo aquelas feitas ao vivo. Para a mesma organização, as economias criativas descrevem o sistema de relações da economia pós- industrial, com base no conhecimento, tendo a criatividade como fator essencial para crescimento econômico. Por fim, os modelos-síntese institucionais propostos pelos organismos internacionais realiza um resumo dos conceitos de cultura e de criatividade em um só modelo. A figura 2 apresentada, a seguir, evidencia a forma como ambos conceitos são tratados pela UNCTAD.

Figura 3: Indústrias Criativas segundo modelo da UNCTAD

Fonte: Unctad (2010).

Segundo esse modelo, as indústrias criativas estão no cruzamento entre as artes, os negócios e as tecnologias. Para a UNCTAD, as indústrias culturais são parte integrante das indústrias criativas. Em qualquer um desses modelos não há qualquer indício de que a complexidade ou a riqueza contida na mescla sejam valoradas de forma a incluir os verdadeiros artífices das produções culturais. Não é estranho, no entanto, que exista uma discussão a respeito do melhor modelo para se classificarem as produções e os processos culturais.

84 O capítulo seguinte introduz à pesquisa a relação entre cultura e desenvolvimento. Outros conceitos, como o de dispositivos biopolíticos e de contratos de comunicação também serão utilizados, ainda que de forma introdutória. A discussão e o aprofundamento desses conceitos serão retomados quando forem analisados os contratos de comunicação da produção cinematográfica das economias criativas brasileiras e argentinas no contexto latinoamericano.

85 Capítulo 4. A cultura e o desenvolvimento

Como sugerem Boltanski e Chiapello (2009), o terceiro espírito capitalista encontra- se em desenvolvimento e, entre as diversas forças que o impulsionam, estão a organização flexível da produção, a difusão das inovações e do conhecimento e, a mudança e a adaptação das instituições. A conjugação desses elementos cria setores criativos, que diferem em organização e em proporção quando comparados aos setores tradicionais das economias neoliberais. Nesse sentido, as seções do quarto capítulo têm o objetivo de adicionar às reflexões feitas outras duas dimensões cruciais quando se fala em desenvolvimento: a cultura e o crescimento econômico. A base teórica utilizada para essa finalidade adota os conceitos e ideias de cultura e de economia, defendidos por Celso Furtado; as ideias de cultura defendidas por Amálio Pinheiro, ao analisar as sociedades mestiças treinadas em tradução; e os pressupostos de Richard Sennet, quando aborda a flexibilização da produção mediada pela criatividade e pela inovação. Utiliza também as ideias defendidas por Bresser-Pereira, ao tratar do paradoxo entre o desenvolvimento e o crescimento econômico. As seções a seguir promovem a discussão.

4.1. O paradoxo do crescimento e do desenvolvimento econômico

Diferente do que se pode imaginar, o crescimento e o desenvolvimento econômico não são sinônimos e não ocorrem de forma concomitante. Nem sempre o desenvolvimento econômico está acompanhado da ampliação do acesso à cultura e às produções culturais, e nem sempre o crescimento econômico possibilita a proliferação de séries culturais. Segundo estudos realizados, Furtado (2013) observou que, na maioria das situações, o que ocorre é o avanço econômico e a degradação do patrimônio cultural. A fim de compreender as diferenças cruciais entre os elementos desenvolvimento e crescimento econômico, utilizou-se o material desenvolvido por Luiz Carlos Bresser-Pereira em "Notas para uso em curso de desenvolvimento econômico da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas", visto que o teor do material atende ao propósito da distinção sugerida nesta pesquisa.

86 Para Bresser-Pereira (2007c, p.2)15, o desenvolvimento econômico pode ser definido como: o processo de sistemática acumulação de capital e de incorporação do progresso técnico ao trabalho e ao capital que leva ao aumento sustentado da produtividade ou da renda por habitante e, em consequência, dos salários e dos padrões de bem- estar de uma determinada sociedade

O autor assevera que, para haver desenvolvimento econômico, é preciso haver um Estado ou um projeto de desenvolvimento capitaneado por um Estado-Nação. De forma simplista, o desenvolvimento é um processo relativamente autossustentado na medida em que os mecanismos de mercado típicos do sistema capitalista criam incentivos para ampliar a acumulação de capital e de progresso técnico. Dificilmente apresenta retrocesso ou regride, porque tanto a acumulação de capital quanto o acúmulo de progresso técnico, típicos de economias competitivas e tecnologicamente dinâmicas, são os elementos essenciais para a sobrevivência das empresas. Vale ressaltar que o desenvolvimento é um objetivo político permanente das sociedades modernas e tem se intensificado desde que o processo de globalização pôs em evidência a questão da concorrência global. O mesmo, todavia, já não se pode dizer do crescimento econômico.

O crescimento econômico, por outro lado, é definido pelo autor com ressalvas, não devendo ser compreendido apenas como o fator que gera aumento de renda per capta, mas não necessariamente de mudanças na estrutura produtiva. Há quem defenda o entendimento de que o crescimento econômico gera apenas concentração de renda e não cria desenvolvimento, porém Bresser-Pereira (2007c) alerta para o fato de haver vários casos de crescimento econômico que trouxeram aumento de renda per capta, crescimento de produtividade e aumento nos padrões de vida etc.

De qualquer maneira, as notas elaboradas pelo autor sugerem que entre os fatores determinantes para maior ou menor aceleração do desenvolvimento capitalista encontra-

15 Bresser-Pereira, Luiz Carlos (2007c) “Crescimento e desenvolvimento econômico”. Notas para uso em curso de desenvolvimento econômico na Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. Disponível em: http://www.bresserpereira.org.br/papers/2007/07.21.ProcessoHistoricoDoDesenvolvEconomico-Agosto23.pdf, acesso em 27 de fevereiro de 2017.

87 se a existência de uma estratégia nacional de desenvolvimento. Quanto mais coesas forem as instituições, e mais dispostos estiverem para competir no cenário internacional, melhor uso esse país fará de seus recursos para crescer. Isso inclui todas as potencialidades: capital humano, inventividade, inovação etc. O crescimento da produtividade de um país depende da acumulação de capital e da incorporação de progresso técnico à produção; ou seja, quanto mais modernos forem os parques industriais, ou mais avançados forem, tanto melhor serão as chances de haver aumento de produção acompanhada de aumento de capacidade competitiva, tanto quantitativa quanto qualitativamente. O investimento e o progresso técnico também dependem da qualidade das instituições formais e informais que cada sociedade nacional estiver adotando. Dito de outra forma, quanto melhores forem as políticas e as leis, assim como as práticas sociais - seus usos e costumes -, tanto melhor serão os investimentos e a incorporação do progresso técnico. Por outro lado, a ideologia do crescimento econômico e as práticas discursivas do desenvolvimento empresarial sustentável parecem estar impregnados de outros significados. Oliveira e de Lara (2017) afirmam que esse desenvolvimento corresponde a uma produção discursiva histórica. Nesse sentido, sabe-se que a corrente dominante do discurso da sustentabilidade está carregada de racionalidade econômica. Resta saber como o desenvolvimento sustentável tornou-se um imperativo moderno. Essa construção discursiva constituiu-se de forma paralela à consecução do plano desenvolvimentista posto em andamento no período posterior à Segunda Guerra Mundial. Para os autores, a primeira fase iniciou-se na década de 1950, com ênfase no crescimento econômico, culminando em 1962, com a escolha do Produto Nacional Bruto (PNB) como referência para determinar quais países eram os pobres e quais eram os ricos. A segunda fase, como demonstraram os autores, mostrou o fracasso dessa métrica quando reconheceu que o crescimento do PNB não estava associado à redução da pobreza. Já a terceira fase, afirmam os autores, iniciada na década de 1980, "foi marcada pela necessidade de atingir o desenvolvimento com a utilização não predatória dos recursos naturais, enquanto condição de sustentação do capital" (op.cit, p. 329).

88 O consenso obtido no Relatório Brundtland Report (1987, p. 41) 16 define desenvolvimento sustentável como "aquele que atende as necessidades do presente, sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades". Na década de 1990, o modelo conhecido como 3BL (Three Botton Line), em que os impactos econômico, social e ambiental das organizações adquirem importância, promove a conciliação entre os extremos que defendem causas sociais, ambientais e econômicas. Do ponto de vista prático, isso significa promover o crescimento econômico de forma conjunta com o desenvolvimento de índices sociais e em harmonia com o meioambiente. Ao que tudo indica, esse equilíbrio ainda não foi alcançado.

Para Oliveira e de Lara (2017), o mais próximo desse ideal de crescimento e desenvolvimento econômicos foram as chamadas economias verdes praticadas pela Alemanha, Japão, Coreia do Sul e China. O paradigma econômico vivido por esses países ainda está profundamente enraizado no capitalismo neoliberal. Nessa abordagem, há a crença de que os recursos naturais poderão ser substituídos por outras formas de capital, em caso de esgotamento. É na esteira desses eventos que o discurso da "responsabilidade social corporativa" ganha importância, pois além de acumular dinheiro, as empresas também devem estar atentas às questões sociais e ambientais; devem demonstrar alto nível de transparência e integridade; e as empresas devem estar comprometidas com o bem- estar social da comunidade.

É também no bojo dessa construção discursiva que as chamadas "economias criativas" incorporam bem esse novo paradigma do desenvolvimento sustentável porque, na medida em que proporcionam a inclusão dos agentes produtores, promovem o bem- estar social da comunidade em que se insere.

Essa prática discursiva é tão ou mais maléfica que o próprio discurso do desenvolvimento sustentável, tão em voga mas práticas empresariais. Como demonstram os autores, (op. cit), o discurso da responsabilidade social também ganhou espaço na bolsa

16 O Relatório, também intitulado "Nosso futuro comum" foi elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento. Esse relatório integra o conjunto de iniciativas, anteriores à Agenda 21, as quais reafirmam uma visão crítica do modelo de desenvolvimento adotado pelos países industrializados e reproduzido pelas nações em desenvolvimento, e que ressaltam os riscos do uso excessivo dos recursos naturais sem considerar a capacidade de suporte dos ecossistemas. O relatório aponta para a incompatibilidade entre desenvolvimento sustentável e os padrões de produção e consumo vigentes.

89 de valores quando prometeu lucratividade com fundos de investimentos de responsabilidade social. Pode-se inferir, portanto, que os discursos de sustentabilidade e de desenvolvimento estão impregnados da racionalidade econômica e estão sendo colonizados pelos interesses corporativos. O fato é que, desde 2005, a Bolsa de Valores e Mercados Futuros de São Paulo, a BM&FBOVESPA conta com o ISE ( Índice de Sustentabilidade Empresarial). E, para atender aos indicadores todos sabemos que práticas podem ser incorporadas.

Mesmo que analisemos a literatura de administração de empresas com o devido cuidado que tal análise requer, é preciso concordar que por meio da linguagem criam-se imagens de mundo e estas são condicionadas pelo contexto de cada época. Nesse sentido, Oliveira e de Lara (2017, p. 332) asseguram que " o ordenamento social instituído pela economia é produto linguístico, cultural e histórico". Foi sob o pretexto da neutralidade da ciência positivista que o argumento de ordenamento social desenvolveu-se. Pode-se, assim, afirmar que a linguagem é ideológica por natureza porque torna o imaginário parte do seu funcionamento. Sabe-se também que é a partir de uma ideologia já constituída no processo de produção da realidade social, o local em que se criam as condições necessárias para a formação discursiva. Pode-se, a partir dessa afirmação, especular que o discurso das chamadas "economias criativas" também representem uma formação discursiva para o desenvolvimento sustentável.

Não por outra razão, o cinema e as produções audiovisuais ganham importância no contexto das economias criativas. A fim de potencializarem os comportamentos esperados e de disseminarem os produtos de consumo, incluindo o consumo da atualização imprescindível para aqueles que desejam sobreviver na realidade das sociedades do século XXI, suas produções podem servir como um reduto de crítica. Como veremos na seção de análise da corpora de pesquisa, todos os filmes selecionados não "vendem o discurso das economias criativas" como esperávamos que o fizessem. Ao contrario, ironizam os comportamentos tidos como modernos ou pertencentes às sociedades da modernidade mundo e delatam todo tipo de desigualdade, seleção e exclusão que podem causar.

90 4.2 A formação discursiva da estratégia de desenvolvimento sustentável no Brasil

A temática do desenvolvimento sustentável, como já discutida em seções anteriores, não é recente. A diferença é que, no Brasil, a constituição dessa formação discursiva está à mercê da cena política e recebe novos direcionamentos na medida em que os interesses privados se sobrepõem aos interesses nacionais. Começando pelo contexto internacional, o tema do desenvolvimento sustentável figurou na pauta das discussões diplomáticas brasileiras durante todo o início do século XXI. O Departamento de Diplomacia Cultural (DC) do Ministério das Relações Exteriores do Brasil (MRE) dedicou boa parte de seus esforços para ampliar a divulgação e a difusão cultural do país no exterior. Entre os esforços que merecem destaque estão os exemplares da revista "Textos do Brasil": uma série com dezenove publicações cujos títulos exploravam, de forma absolutamente rica, a diversidade e o potencial do país nas mais variadas frentes.

Dos títulos editados pelo MRE, merecem destaque: Informações sobre as diferentes regiões; Brasil em ação: investimentos básicos para o desenvolvimento; Informação sobre o setor de comunicação; Exemplo de educação ambiental ao alcance de todos; Informações gerais sobre os aspectos políticos; Direitos Humanos e Diplomacia; Educação para um desenvolvimento humano e social no Brasil; Os desafios da inclusão social; Passos rumo a uma estratégia de desenvolvimento sustentável; Música popular brasileira; Música erudita brasileira; Mestiçagem dos alimentos; Capoeira; Cultura indígena; Moda brasileira etc.

Esse conjunto de títulos era um sinal claro do alinhamento da política externa brasileira com os objetivos contidos na Agenda 21 e da inserção internacional do país em grupos de discussões e decisões sobre questões ambientais e de desenvolvimento. A organização desses objetivos estava em consonância com as ações e com o planejamento da atuação brasileira em diferentes frentes no exterior. O período de 2000 até 2013 foi a época em que mais representações diplomáticas brasileiras foram abertas no exterior. Foi o período em que o país figurou entre as economias emergentes como uma grande esperança de crescimento e de desenvolvimento sustentável. Ao menos, era o que afirmavam os especialistas em política externa.

91 Na atual conjuntura política, o Brasil vem perdendo espaço e credibilidade no contexto internacional, especialmente porque a reputação de um país está muito mais relacionado à imagem que é capaz de constituir no universo midiático que suas reais condições internas. Ainda que com nuances questionáveis, o Brasil tem sido destaque na mídia internacional, mas não pelo seu potencial de desenvolvimento econômico e, sim, pela deflagração de novas etapas da operação anticorrupção conhecida como Lava-Jato e pelos escândalos envolvendo tanto políticos do alto escalão quanto empresários de empresas brasileiras. Com a entrada da banca conservadora no poder e todos os relatos de corrupção que tem assolado o país, a reputação no exterior não guarda resquícios de tempos recentes.

Como se pode constatar, os temas que norteiam o desenvolvimento sustentável alteram-se conforme os interesses políticos da ocasião. Ora o desenvolvimento está calcado na utilização sustentada dos recursos naturais ora calcado na exploração do potencial agrícola do país. Na revista “Textos do Brasil”, de número 9, no item "os passos rumo a uma estratégia de desenvolvimento sustentável", discute-se a forma como esse desenvolvimento deveria ser compreendido por outras nações que estivessem em busca de objetivos semelhantes. Na referida edição, a Diplomacia Cultural (2012, p.15) afirma que

dificilmente países em desenvolvimento poderão encontrar, nos dias de hoje, experiências táo ricas e diversificadas como as que resumem a história do Planejamento brasileiro nos últimos cinquenta anos

Para o MRE, a "terra de contrastes", como havia sugerido Roger Bastide, exerceria seu peso específico na concepção de alternativas viáveis de desenvolvimento. Nesse sentido, o Ministério afirmava que

por um lado, os padrões de consumo próximos aos europeus convivem com níveis de exclusão social só verificado nos países mais pobres do mundo; por outro, uma diversidade cultural que reflete as diferentes contribuições de nossa matriz étnica e os processos adaptativos a condições de produção bastabte diferenciadas; por fim, uma diversidade natural, expressa nos vários ecossistemas que se encontram no espaço nacional, tudo compondo uma vasta extensão territorial recortada por um mosaico de situações refratárias a um tratamento uniforme. Nesse sentido, não se desenvolve em nosso país um planejamento mas, sim, "planajemantos.

92 Para cada recurso, o governo federal brasileiro tinha um planejamento. O conjunto desses "planejamentos" havia colocado o país em posição de protagonismo nos foros de discussão ambiental, por exemplo. Havia planos para: gestão das águas em uma economia globalizada; criação de indicadores ambientais para uma globalização sustentável; a Amazônia: desafios de uma civilização tropical no século XXI; uma política nacional de resíduos sólidos; a importância da educação ambiental na proteção da biodiversidade brasileira; um novo jardim quase 200 anos depois, numa alusão ao Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro; plano piloto para a preservação das florestas tropicais do Brasil; preservação com desenvolvimento: a experiência amazônica no uso industrial da casca de coco; a hora e a vez da biomassa; os desafios e as oportunidades para recuperar a floresta atlântica brasileira; produção de papel reciclado em escala industrial; participação na gestão ambiental: percepções sobre algumas experiências amazônicas ; a década da "Agenda 21"; e para o balanço da atuação da diplomacia brasileira nos foros de discussão ambientais.

Na metade da primeira década do século XXI, os temas que sustentam a formação discursiva do desenvolvimento sustentável voltam-se para o potencial do agronegócio. Com a posse do atual Presidente, Michel Temer, em 31 de agosto de 2016, os contornos do novo direcionamento político, interno e externo, vêm sendo delineados. Ainda que considerado ilegítimo para a maioria dos brasileiros, o atual Presidente deu sinais de claro retrocesso no contexto internacional. Todos os esforços empreendidos na primeira década do século XXI foram reduzidos ao bom e velho incentivo ao agronegócio e à obsessão pelo "progresso". A roupagem é nova: intitulada "Agro: a Indústria-Riqueza do Brasil" e "Agro é Tech, agro é pop", a campanha publicitária capitaneada pela maior emissora de televisão do país, vem veiculando, desde o início de 2016, pequenos vídeos com duração de um minuto, no horário nobre, com o objetivo de consolidar uma marca para o agronegócio, bem como de conectar o consumidor com o produtor rural e, ao mesmo tempo, desmistificar a produção agrícola aos olhos da sociedade urbana. Segundo fontes da própria emissora, a expectativa é de que as veiculações dessa campanha cessem em junho de 2018. Qualquer semelhança com a proximidade das eleições presidenciais é mera coincidência.

Na esteira desses revezes da cena política, o potencial das chamadas "economias criativas" também desponta como sendo um modelo de desenvolvimento econômico

93 sustentado. A retórica de que o agronegócio gere riquezas e que atue no combate à fome não é recente nem exclusividade brasileira. Uma formação discursiva semelhante havia se instalado nos Estados Unidos na década de 50; a chamada "Revolução Verde" trazia a promessa de acabar com a fome no mundo por meio do uso da tecnologia, aumentando a produção de alimentos. Não há dúvidas de que houve aumento na produção de gêneros alimentícios, mas problemas como a fome e a insegurança alimentar e nutricional continuam a assolar mais de 800 milhões de pessoas ao redor do mundo.

Especula-se que o grande legado da chamada "revolução verde" empreendida nos Estados Unidos tenha sido a responsável pela concentração de grandes porções de terras nas mãos de latifundiários, assim como o escoamento de pacotes tecnológicos e de insumos (agrotóxicos e sementes transgênicas) para países com economias emergentes. Tais inferências são publicizadas pelo Observatório Brasileiro de Hábitos Alimentares17, o OBHA, fundado em 2008, com o financiamento do FINEP. Entre os objetivos do OBHA Alimentares (2017)estão: i) valorizar a construção de saberes tanto acadêmicos quanto populares sobre as dimensões simbólicas e cultural da alimentação no Brasil; ii) produzir e disseminar materiais informativos e acadêmicos sobre os temas de alimentação e cultura; e, iii) realizar estudos, pesquisas e eventos, concepções e percepções de hábitos alimentares, comensalidade, saúde e segurança alimentar e nutricional no país.

4.3 A flexibilização da produção e das instituições como fator preponderante

As reflexões feitas até esta fase da pesquisa sugerem que as chamadas "economias criativas", para alcançarem bons resultados, precisam tanto da figura do Estado quanto da criação de políticas públicas específicas para fomentar a produção, a comercialização, a distribuição dos bens e serviços criativos, assim como para assegurar a criação de empregos ou salvaguardar as propriedades intelectuais que possam emergir da incorporação das inovações. Fato é que a criatividade não se assemelha a um fator de produção como outro qualquer sujeito à escassez ou à abundância ou às leis da oferta e da demanda; para florescer, a criatividade exige uma atmosfera favorável, em que se propicie a flexibilidade e a incorporação do novo sem se assujeitar a qualquer outra lógica de mercado que não seja a da inventividade.

17 Disponível em: http://obha.fiocruz.br/index.php/apresentacao/ acesso em 09/09/2017

94 Nesse sentido, Sennett (2012) faz algumas considerações sobre a flexibilização da produção e das instituições em seu livro intitulado " A corrosão do caráter: consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo". Nessa obra, o autor evidencia a necessidade de se manter a conexão com o local de origem das pessoas para conferir o gosto e o sabor das coisas. Enfatizou também que a palavra flexibilidade entrou na língua inglesa no século XV e desde então vem assumindo diferentes sentidos. O termo flexibilidade

designa a capacidade de ceder e recuperar-se da árvore, o teste e a restauração de sua forma. O comportamento humano flexível deve ter a mesma força tênsil: ser adaptável à circunstâncias variáveis, mas não quebrado por elas"(op. cit, p.53).

Ainda que a sociedade busque criar instituições mais flexíveis, o que temos visto é que as práticas da flexibilidade estão muito mais empenhadas em "dobrar as pessoas" que desenvolver nelas a capacidade de adaptação. Esse tipo de flexibilidade vem sendo associado às virtudes empresariais e em nada se assemelha à noção de liberdade pessoal que o termo evocava.

Sennett (2012) faz uma análise de como as práticas da flexibilidade foram incorporadas ao mundo dos negócios. A ideia de se fazer mais com menos provou-se ineficiente; a prática da reengenharia tratava mais de um rompimento com o passado (com a forma antiga de gerenciar os negócios) que um simples rearranjo organizacional. Como a maioria das empresas que adotaram essa prática não foram capazes de romper com o passado, redirecionando seus negócios, o que se observou foi a redução da produção em todos os sentidos: em termos produtivos e em horas trabalhadas. Na operação de mercados modernos, a demolição das organizações tornou-se lucrativa, afirma o autor.

Nessas operações modernas, leva-se em consideração a volatilidade da demanda do consumidor como a premissa básica para a tomada de decisão. Assim, essa volatilidade produz a segunda característica dos regimes flexíveis: a especialização flexível de produção. De forma simplista, a especialização flexível tenta colocar, o mais rápido possível, produtos mais variados no mercado. Trata-se do sistema de "estratégia de inovação permanente: adaptação às mudanças incessante, em vez de esforço para controlá-las", segundo Sennett (2012, p.59). Nesse sistema, as linhas de produção são organizadas em ilhas especializadas de produção, assegurando à organização a possibilidade de flexibilizar as atividades e de

95 acomodar diferentes demandas. Na esteira desse tipo de produção especializada, estão inclusas as possibilidades de flexibilização de horário de trabalho. Os sistemas hoje conhecidos como home-office mais representam a tentativa de dobrar os indivíduos às regras de controle que permitir que eles se adaptem

Os setores culturais criativos têm como dínamo o primeiro recurso econômico: a cultura e todas as suas manifestações, incluindo as produções culturais dela decorrentes. Em todos esses setores, a base das produções é a chamada "criatividade". Nesse novo modelo, a cultura e suas produções assumem o protagonismo na cena econômica e política, muito diferente do papel secundário a que foram relegadas nas sociedades capitalistas industriais. Os pressupostos da racionalidade típica de tais sociedades não valorava os processos culturais e suas produções. Ao relegar a cultura a segundo plano, a lógica anterior transformou a riqueza da produção cultural em mera reprodutibilidade das manifestações artísticas; em cultura de massa e naquilo que se convencionou chamar de indústria cultural. Entretanto, há um limiar muito tênue na esteira da flexibilização especializada de que fala Sennet (2012): a impossibilidade de haver uma "criatividade" superior e outra inferior em diferentes contextos políticos. O que há é o trânsito entre práticas culturais e heterogeneidades que procuram combinatórias. Como se sabe, na diversidade cultural, como em toda expansão cultural, faz-se emergir as diferenças e, onde há diferenças, não há poder ou a possibilidade da governamentalidade. Tal impossibilidade revela a contradição do homo sapiens. O que nos resta saber é se a visibilidade de certas séries possibilita maior controle ou não. Apesar de sabermos que em sociedades combinatórias não deveria haver punição, o que sabemos é que o consumo é estratificado a partir de eixos temáticos, sejam eles capitaneados por um ou por mais setores de atividades. As conexões estabelecidas nas seções anteriores permitem-nos inferir que os eixos temáticos para os quais os enunciadores do capitalismo têm se preparado para construir, e sob os quais as convocações biopolíticas estão assentadas, são: a saúde e o bem-estar; a moda e a beleza; o lazer; a consultoria de carreira; a sexualidade e a sociabilidade. Diferente dos enunciadores que agiam como orientadores, os enunciadores do capitalismo têm se preparado para construí-los. Para Prado (2013), trata-se de analistas simbólicos cuja tarefa é a de indicar o lugar ideal, o modo de ser e as mercadorias que permitam o alcance desse "ser ideal" para as pessoas.

96 As convocações biopolíticas e os regimes de sentidos que se conformam garantem maior visibilidade para alguns comportamentos, ao mesmo tempo em que criam a invisibilidade de outros modos de ser. Tais convocações conformam-se como regimes de programação, de manipulação, de ajustamento, de acidente e até mesmo como regimes hegemônicos. Tais regimes não se assemelham à noção de disciplina típica das sociedades de controle, mas como uma convocação para que os indivíduos participem desses programas de felicidade. Em outras palavras, os enunciadores são capazes de constituir um mapa cognitivo que contenha os elementos necessários para que a modalização desses discursos da cultura do autodesenvolvimento ocorra. Ao criarem esse fluxo emocional positivo, os regimes de autocontrole acabam por favorecer a governamentalidade centrada na otimização do desempenho e no autocontrole. A genialidade da ideologia neoliberal é justamente esta: o combate não se dá por meio da oposição sistemática; a oposição feita por essa lógica infiltra-se nas mais variadas práticas da vida, conferindo aos indivíduos a liberdade e a autonomia de que precisam para culpabilizá-los pelo eventual insucesso. O incentivo aos artífices da produção cultural parece-nos ser uma dessas convocações. Ao fazer isso, o Estado - uma instituição claramente em crise nas sociedades dos dias atuais - exime-se de suas responsabilidades. O governo de si é a lógica econômica subjacente que opera por meio do governo da felicidade. Este, por sua vez, constrói modelos hegemônicos, como a mulher de sucesso e o homem de negócios, por exemplo, que sinalizam os regimes de visibilidade que o mercado vai construir e fazer parecer hegemônico. A instalação desse contrato de comunicação somente foi possível porque os dispositivos necessários para disseminar esses discursos estão sendo moldados. Podemos entender esses dispositivos como as instituições, as regras, as leis etc. que são moldadas pelo espírito capitalista, como sugerem Boltanski e Chiapello (2009). A nova forma de gestão do capitalismo alimenta-se da crítica; a crítica de que falam os autores é a social (que aborda as garantias do bem comum) e a estética (que recai sobre a liberdade, a autonomia, a privação da criatividade e a singularização dos seres humanos). A cada processo de renovação do espírito capitalista, é preciso que os anseios e desejos apresentados pela crítica sejam, de alguma forma, supridos. Tomando esses elementos como base, os autores advertem que a nova gestão empresarial precisou responder às demandas de autenticidade e liberdade, no combate à desigualdade e ao

97 egoísmo. Para atender à demanda de autonomia exigida pelos profissionais da atualidade (pessoas mais qualificados por terem passado mais tempo no sistema de ensino), a nova gestão empresarial precisou elaborar novas formas de controle hierárquico que assegurassem maior liberdade a esses profissionais. A migração de hierarquias verticalizadas são substituídas por estruturas hierárquicas horizontais que garantem maior mobilidade e poder de decisão. O "saber-ser" é o novo dispositivo da gestão empresarial característico do terceiro espirito capitalista. Para atender às demandas contra a massificação, a resposta oferecida pelo terceiro espírito é a produção e a comercialização de produtos renovados (como forma de manter a inovação como um contínuo empresarial). A partir desse olhar, pode-se inferir que os setores nucleares criativos estejam adquirindo importância como demonstram os trechos a seguir: "[...] o reinado quantitativo (em oposição à qualidade), a padronização dos bens de produção em massa, a dominação da aparência, a tirania do status, a enxurrada de objetos inúteis, feios, efêmeros, etc. A resposta do capitalismo a essa variante moderna da crítica estética consistirá, por um lado, em procurar desenvolver a produção e a comercialização de bens incessantemente renovados (a famosa exigência da inovação contínua da gestão empresarial), que, em vista da novidade e da pequena difusão no momento do lançamento, aplacam temporariamente as angústias vinculadas à massificação. Por outro lado, a insistência no serviço personalizado ao cliente, na importância à atenção dada aos seus desejos, no desenvolvimento de relações individualizadas tem em vista introduzir na produção capitalista o autêntico na forma do personalizado [...] Essa mesma preocupação de aproximar-se ao máximo dos desejos pessoais, em escala mais ampla, inspira a passagem da produção de massa para uma produção em pequenas séries de alguma variedade cada vez maior de bens, a produção flexível, característica da segunda guinada industrial". (Boltanski e Chiapello, 2009, p.132)

Vale também destacar que, em 1997, a UNESCO18 criou uma distinção especial para a Educação, a Ciência e a Cultura, com o objetivo de proteger e de reconhecer o patrimônio

18 A missão da UNESCO é contribuir para a "construção da paz", reduzindo a pobreza, promovendo o desenvolvimento sustentável e o diálogo intercultural, por meio da educação, da ciências, da cultura, da comunicação e da informação. A Organização concentra, em particular, duas prioridades globais: a diminuição da taxa de analfabetismo e a igualdade de gênero . Outras prioridades da Organização incluem a busca da qualidade da educação para todos e da educação continuada, buscando novos desafios éticos e sociais, promovendo a diversidade cultural, construindo sociedades de conhecimento inclusivo por meio da informação e da comunicação. Acordadas internacionalmente, incluindo as metas de

98 cultural imaterial, abrangendo as expressões culturais e as tradições que um determinado grupo de indivíduos preserva em respeito à sua ancestralidade para as gerações futuras. Entre as categorias de patrimônio imaterial, encontram-se os saberes, os modos de fazer, as formas de expressão, as celebrações, as festas e danças populares, as lendas, as músicas, os costumes e outras tradições. Entre os países signatários da Convenção de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial empreendeu-se um esforço para classificação e documentação de seus respectivos legados culturais, que culminou com a divulgação da primeira lista de bens inscritos no ano de 2001. Semelhante esforço ocorreu nos anos de 2003 e 2005, perfazendo um total de 90 bens imateriais inscritos. Procurando estabelecer uma relação entre a forma como a cultura foi e é tratada pelas instituições políticas, pode-se inferir que há um mecanismo de escolha, feito por parte dos analistas simbólicos, que escolhem quais séries culturais são mais suscetíveis de gerar consumo em comparação a outras, ou quais delas devem tornar-se "visíveis ou invisíveis" nas economias criativas. Para além disso, que setores nucleares criativos serão ou não postos em evidência a partir dos interesses das instituições políticas. A Convenção de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial configura-se como um dos indícios de quais séries culturais serão ou não privilegiadas. Resta analisar como os contratos de comunicação da economia criativa são constituídos e que elementos são necessários. Mais que um mecanismo de modalização de discurso, o apelo, a convocação da economia criativa, já é por si só um empuxo à interatividade com vistas a uma resposta por parte do consumidor. Os setores nucleares criativos estão estruturados de modo a abrigar o pequeno produtor, aquele que personaliza produtos e prestação de serviços, aquele que permite ao consumidor a interação durante o processo de produção e comercialização dos produtos. As discussões acadêmicas também motivaram outro questionamento: a de que a criação da referida convenção também tenha sido motivada pela alteração ocorrida no sistema de contas nacionais, preconizada pelo Banco Mundial em 1994. Nesse sentido, o novo sistema acrescentou ao processo de mensuração de riqueza dos países - o PIB19 - o papel das pessoas nas economias e na contabilidade social: o chamado IDH 20 . Essa

desenvolvimento do milênio - apoiam todas as estratégias e atividades da UNESCO. 19 Produto Interno Bruto 20 Índice de Desenvolvimento Humano: congrega o valor atribuído às pessoas na nova forma de conciliar as contas nacionais.

99 alteração, aparentemente inofensiva, modificava não apenas a forma como a riqueza das nações era medida, mas como os países eram escalonados segundo a riqueza que produziam. Os novos "ativos" incorporados ao sistema de contas nacionais passaram a incluir: o capital natural; os ativos financeiros; os recursos humanos; e, o capital social. Ao incluí-los, os indicadores de riqueza adquirem contornos políticos. Não é de causar admiração que a UNESCO tenha criado uma distinção especial para o patrimônio imaterial em 1997. Esse novo escalonamento alterou a posição de muitos países; alguns para posições melhores, outros piores. O fato é que essa dança de posições os impactaria de forma certeira enquanto centros de atração de investimentos estrangeiros, em sua credibilidade e em seu potencial para atrair mão de obra qualificada etc. Como forma de mediar essas dificuldades, os países incluíram em suas preocupações a necessidade de gerenciamento de imagem pública. Para além da migração constante de investimentos, as relações de trabalho nos setores nucleares criativos passam a transferir o sucesso ou o insucesso aos trabalhadores e artesãos. O empreendimento individual pautado na pequena produção e no acesso a um mercado que tende a valorizar a personalização em detrimento da produção de massa é a finalidade; o discurso da economia criativa é encarnado por seus partícipes. No Brasil, a prática de catalogação é realizado desde 1973 ,com o IPHAN (- Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Apesar de ter sido criado em 1973, realiza de 2004 até os dias de hoje o papel de documentação e de declaração de bens culturais do Brasil. No entanto, são as possibilidades de desenvolvimento e crescimento econômico representados pelas economias criativas que têm impelido os Estados de desenvolverem políticas públicas e estratégias de ação para catalogação, documentação, declaração de bens culturais, de manutenção e de preservação do patrimônio de suas cidades e de suas gentes. Para se estudar a temática da economia criativa, é preciso fazê-lo sob um quadro teórico de referências multidisciplinares, já que uma de suas características é sua transversalidade. O quadro teórico que é proposto nesta tese de doutoramento inclui as perspectivas de análise da economia, da comunicação e da semiótica, incluindo as teorias culturalistas. Segundo Reis (Economia da Cultura e Desenvolvimento Sustentável - o caleidoscópio da cultura, 2006), estamos diante de uma mudança de paradigma socioeconômico e a

100 criatividade é o principal fator de produção do novo modelo que começa a adquirir contornos. Apesar de criatividade não ser algo novo, o olhar sobre ela tem-se mostrado novo e importante para a constituição de um modelo econômico alternativo ao neoliberal. Assistimos nos anos 90 ao processo de clusterização21 da produção em várias partes do mundo; os produtos passaram a ser produzidos em partes e em parques fabris diversos, espalhados pelo mundo, com o objetivo de alcançarem o máximo de sua capacidade competitiva. O resultado não poderia ser outro exceto a produção de produtos similares. O processo de distinção desses produtos deu-se pelo design, pelas marcas que carregavam, pela imagem que reproduziam e pelo valor agregado que representavam. Somada a essa tendência houve uma modificação importante nos fatores de produção das economias: capital e tecnologia podiam ser transportados de um lado para outro na velocidade de um clique. Há farta discussão de que a criatividade também pudesse ser levada de uma região a outra na mesma velocidade, mas o fato é que não há registros e relatos na história que deem conta de justificar o excessivo potencial competitivo de uma economia em comparação a outra. Dito de outra forma, nenhuma economia reúne tantos talentos criativos a ponto de se distanciar das demais na produção de soluções práticas ou antecipação de oportunidades. O debate em torno do tema tem-se aprofundado nos últimos tempos e servido para propor distinções, definições e limites para a atuação da economia criativa. Reis (Economia da Cultura e Desenvolvimento Sustentável - o caleidoscópio da cultura, 2006) ressalta que ainda que alguns críticos possam fazer ressalvas acerca das definições que emergem, a economia criativa é uma economia e, como tal, pressupõe a existência de um mercado e suas lógicas e que nem sempre ela tende a ser sustentável. Para além de afirmações, a autora evidencia suas preocupações na condução da economia criativa como estratégia de política pública. Ela denuncia que não existem limites definidos para o escopo da economia criativa e que isso se configura como um problema que exige reflexão na medida em que funde as fronteiras entre a economia da cultura e do conhecimento. Alerta também para a importância demasiada que se tem atribuído ao potencial contido nas economias criativas em detrimento do entendimento transversal que o setor requer. A economia criativa exige mais que articulação entre pastas, ministérios, governos

21 cluster: É um grupo de coisas ou de atividades semelhantes que se desenvolvem conjuntamente. Entende-se a ideia de junção, união, agregação, integração

101 e municípios; exige que se promova uma articulação com as políticas educacionais para o setor, com as políticas de ciência e tecnologia, com vistas a promover a inclusão dos verdadeiros artífices das produções culturais das paisagens barrocas. Para se sustentar como um modelo econômico alternativo, os países precisam delinear políticas públicas de forma clara, com metas de longo prazo e que transcendam as políticas governamentais de ocasião. Há também a necessidade de determinar os territórios criativos, incluindo na inovação as soluções para os problemas ou antecipação de oportunidades. Exige também conexões entre o local e o global, o público e o privado, além da cultura e a contribuição simbólica que ela representa, bem como o impacto econômico setorial e o causado pelo valor agregado que podem ser conferidos aos setores não culturais da cadeia produtiva. Preocupação semelhante é declarada por Bolaño (2000) quando nos relembra o legado deixado pelos pensadores da Escola de Frankfurt e suas ressalvas com relação à reprodutibilidade das produções culturais. É desnecessário revisar todas as armadilhas contidas na lógica com que os modelos econômicos operam de forma geral. Todavia, ressalta-se que por se tratar de uma realidade, as economias criativas devem ser estudadas e entendidas como uma possibilidade de formulação de um projeto nacional em razão de sua peculiaridade cultural e da criatividade pujante, típica da paisagem brasileira. O autor convida-nos a refletir sobre a relevância da economia criativa com base no pensamento crítico latinoamericano, em especial, sobre a importância que se tem atribuído à diversidade ou riqueza cultural, a revolução da produção e do consumo de bens simbólicos que ensejam a reafirmação de identidades, o reforço dos saberes locais que podem fornecer alternativas concretas para os projetos de desenvolvimento bem como para a autonomização da cultura, seja no nível material e suas produções, seja no nível imaterial em seus saberes e formas de expressão. Fiando-se no legado de Celso Furtado a respeito das particularidades econômicas do contexto latinoamericano, Bolaño (op.cit) também evidencia que a consecução dos objetivos de um projeto nacional pode ser alcançado na medida em que se conceda à criatividade a força necessária para gerar medidas de correção e de prevenção nos processos de excessiva concentração de poder. Resta-nos saber se esse discurso produzirá efeitos nas produções cinematográficas brasileira e argentina a serem analisadas nos capítulos a seguir.

102 Capítulo 5 - A Produção Cinematográfica do Brasil e da Argentina

Como vimos, as chamadas "economias criativas" parecem ser o modelo alternativo para sustentar o desenvolvimento das economias, em especial, as emergentes. As discussões anteriores permitiram-nos compreender o complexo sistema de transferência dos processos culturais para a economia e todas as implicações que estão por trás dessa transposição. Discutiu-se a temática do desenvolvimento e o progresso como sendo os elementos da lógica da dominação e dos binarismos presentes no pensamento ocidental. Mais do que isso, compreendeu-se como a temática do desenvolvimento concebe uma noção de prosperidade e de felicidade difíceis de serem desfeitas; sabe-se que o modelo de desenvolvimento defendido pelos poderes instituídos tende a acirrar a desigualdade, aprofundar a divisão de classes sociais; de estratificar o consumo e junto dele todas as problemáticas que estão no bojo dessa noção de desenvolvimento, prosperidade e de bem- estar. Tem-se aí, um campo profícuo e perigoso para a instalação de discursos políticos que podem apenas fortalecer a lógica ocidental do desenvolvimento. Sabe-se que o desenvolvimento acabou por fabricar o subdesenvolvimento e, que o desenvolvimento compreendido como uma narrativa contaminou o mundo porque todos o perseguem e querem ter e ser o que é tido como desenvolvido. Como sugerem as reflexões de Silva (2011, p. 108-109) em seu artigo a respeito da patrimonalização da cultura como forma de desenvolvimento:

"o desenvolvimento tornou-se universal, mas não transcultural. O principal defeito das pseudo-definições de desenvolvimento é que elas são baseadas nas maneiras em que as pessoas imaginam as condições ideais de existência [...] o desenvolvimento é uma palavra para caracterizar a soma de virtudes humanas, ele nunca existirá em lugar algum [...] o desenvolvimento tem conotações e impactos econômicos, sociais, políticos, ambientais e culturais. Perseguir o desenvolvimento implica muito mais do que aumentar os índices econômicos; é estar aberto para transformações em todas essas áreas abrangentes que o conceito pode influenciar".

103 Tendo como pano de fundo uma compreensão ampliada sobre a trama de relações sobre o qual ancoram-se as chamadas "economias criativas", o partir desse momento, debruçamo-nos sobre a análise da corpora de pesquisa: a produção cinematográfica brasileira e argentina de 2009 a 2016. O objetivo deste capítulo é esclarecer primeiro porque optou-se pela produção cinematográfica; segundo, como pretende-se realizar a análise proposta; e, por fim, estabelecer as conexões necessárias para avaliar os regimes de (in) visibilidade que são criados a partir dos acontecimentos da cena política. Assim, o primeiro esclarecimento que deve ser feito no início deste capítulo é o da escolha: por que o cinema? Porque, como afirma Gutfreind (2005, p. 48), o cinema:

"representa um fundamental meio de identificação, uma maneira de pensar e aigr. O cinema é apreendido como um espelho, compreendido aqui no sentido lacaniano de unificação do imaginário que age através de uma imagem semelhante, tanto idealizada ou deformada, quanto fiel às aspirações, crenças e aos valores que sedimentam uma determinada cultura". Mais do que isso, quando o cinema é entendido como um suporte para a história da comunicação, ele tem a capacidade de refletir os comportamentos e as orientações de uma determinada sociedade. A autora sugere que para realizar a análise de filmes é preciso, além de adotar uma corrente teórica, compreender um filme ou um realizador levando em consideração a época em que a obra foi criada, as aspirações do momento e as técnicas disponíveis permitindo entender a conjuntura mais ampla que possibilitou que o cineasta desenvolvesse o filme. Do ponto de vista da história da comunicação, o cinema começou a ser percebido como uma fonte de grande riqueza e utilidade dada sua capacidade para registrar os acontecimentos e revelar as diferentes maneiras como uma sociedade se percebe. Observa-se também que o cinema permite falar sobre o real, dar corpo aos desejos e à imaginação e abrir os espaços no infinito. A autora relembra o que havia afirmado Arlette Farde: "não convidamos o cinema, vivemos com ele como com tantos outros campos artísticos que organizam nossa maneira de ser no mundo, logo, de escrever a história"(Farde, 1998, p.125 in Gutfreind 2005, p.48). De forma geral, algumas análises apreendem o cinema como representação da socialidade que, de maneira direta ou indireta, através de histórias mais ou menos prováveis, modelam a forma como percebemos o mundo vivido. A autora sugere que Marc Ferro (1993) e Pierre Sorlin (1977) retomam a abordagem de que o cinema é uma espécie

104 de testemunho que integra as tradições aos dados da mentalidade coletiva. Ferro (op.cit) atribui ao cinema o sentido de testemunho não por aquilo que ele reflete de uma sociedade, mas pelo papel indicador de seus impasses, processos mentais e possibilidades dinâmicas de respostas predominantes. O cinema reflete a realidade em vários níveis, contanto histórias que ressaltam alguns aspectos da existência e escondem outros, devido ao uso da linguagem que revela a forma como um idealizador e seu grupo social abordam temas pertinentes a sua época. Para Sorlin (op.cit), o cinema mostra a realidade sem nunca se constituir em um duplicata, na medida em que o filme seleciona apenas alguns fragmentos, carregando- os de sentido, tornando-os funcionais de maneira a compor uma história. Para Gutfreind (2005, p.49), "o problema não se restringe em saber se o filme se inspira ou não em fatos verdadeiros, mas de que forma o filme é elaborado como narrativa que sustenta uma visão sensível da história" . A ficção é criada, partindo da ideia de falso ou verdadeiro, assumindo-se como tal, e é através de sua difusão que ela encontra uma conexão com o real. Dessa maneira, o filme transcreveria o real através de instrumentos que lhe são próprios. Para compreender essa transcrição, devemos levar em consideração o que o autora chama de “construção fílmica”22, ou seja, o fato de que a realidade apresentada na tela de cinema integra o aspecto apreendido pelas formas de expressão do momento, a escolha do diretor, as expectativas dos espectadores e a própria noção de cinema. Para Sorlin (op.cit), a imagem fílmica é “visível” por uma sociedade quando ela engloba uma determinada forma dada pelo espectador, o que possibilita a este entendê-la, ao mesmo tempo em que o realizador procura criar essa forma para comunicar-se com o público. Os realizadores e os espectadores seriam, então, os grupos sociais imediatamente responsáveis por esse mecanismo e, através deles, toda a sociedade revelaria seus hábitos de percepção, seus esquemas mentais e suas simbolizações míticas. Por fim, a autora afirma que o cinema representa não uma sociedade, mas o que uma sociedade considera representável. O cinema propõe, através de suas imagens: "o que uma sociedade vê dela mesma, distinguindo os não-ditos, os interditos que limitam a percepção de uma determinada época. O cinema

22 Para efeito da análise proposta na presente tese, não serão considerados todos os elementos que compõem a construção fílmica como luz, som, planos de filmagem, recortes da narrativa, etc. Serão considerados o tema e o contexto das produções apenas.

105 revela tudo o que diz respeito à ordem da sensibilidade, as expectativas, os medos, as inquietudes, apresentando diferentes interpretações da sociedade em analogia ao mundo sensível, ou seja, a imagem que a sociedade cria dela mesma (o fictício), mas também a imagem dela mesma". Gutfreind (2005, p. 50) Como constata-se, as imagens utilizadas pelo cinema representam um suporte privilegiado da memória, servindo à construção da história em suas diferentes formas. O cinema é um meio de socialização cuja função é a de constituir uma memória social dividida entre um grande número de pessoas; constitui-se também como também em um fenômeno de memorização de fatos, de personagens e de ideias. Além de funções como a instauração do imaginário social e o testemunho de uma cultura, a imagem cinematográfica tem um papel preponderante na recuperação da memória. O cinema é a memória viva, pois, ao se reproduzir constantemente, remete-nos sem parar ao passado e ao presente. Não por outra razão, optou-se pelo uso da produção cinematográfica para demonstrar os comportamentos e as séries culturais que são postas em evidência tanto no Brasil quanto na Argentina no recorte temporal proposto. Pretende-se como esse recorte, demonstrar quais séries culturais são evidenciadas e em que contextos visto que como discutiu-se até aqui, os significados das produções e séries culturais só se perfazem quando estão em relação com o contexto em que se inserem. Como sugerido na introdução da presente tese, o problema de pesquisa que investiga-se pretende identificar "que mentalidades devem ser construídas no cenário doméstico e internacional para que as chamadas "economias criativas" consolidem-se tanto como uma alternativa ao modelo de desenvolvimento econômico quanto como um dispositivo produtor de sentidos representantes da diversidade cultural do Brasil e da Argentina. Não por outro motivo, o cinema foi escolhido como corpus de pesquisa devido ao fato dele ser capaz de demonstrar o que sociedade vê dela mesma. Para demonstrar que há a necessidade de constituir-se novas mentalidades tanto no cenário doméstico quanto no internacional tem-se duas hipóteses como proposições testáveis para o problema de pesquisa: i) a de que os poderes instituídos têm criado certos regimes de (in) visibilidade que privilegiam determinadas séries culturais em detrimento de outras; e, ii) a de que a criatividade e a inovação, qualidades salientes da cultura, estejam sendo colonizadas pelos interesses de mercado sem produzir os sentidos que representem a

106 diversidade cultural de ambos os países. Resta-nos saber se as produções cinematográficas brasileiras e argentinas do período escolhido para análise renderam-se à essas proposições. Para tanto, as seções a seguir adensam a discussão.

5.1 O cinema brasileiro e argentino

O recorte temporal proposto para análise e testagem das hipóteses sugeridas incorpora uma seleção de produções audiovisuais fílmicas brasileiras e argentinas no período de 2009 a 2016. O recorte temporal justifica-se primeiramente porque as produções cinematográficas brasileiras e argentinas têm emergido, nos últimos tempos, com filmes de alta qualidade tanto estética quanto política além do fato de ter havido interação cada vez mais consistente entre o cinema desses dois países, a partir de acordos de cooperação. Essas circunstâncias podem ser facilmente observados pelo aumento da produção cinematográfica, assim como pela produção nacional e internacional dos filmes, ou ainda pela conquista de importantes premiações e pela maturidade e qualidade adquirida por tais cinematografias. Nesse sentido, um breve levantamento sobre a produção cinematográfica de ambos países demonstra que no final dos anos 90, a produção brasileira vivia um período de baixa visto tendo em vista que na presidência de Fernando Collor o ministério da Cultura havia sido rebaixado para uma Secretaria. Especula-se que o dirigente escolhido na ocasião para conduzir as produções culturais da FUNARTE - Fundação Nacional de Artes e da EMBRAFILMES - Empresa Brasileira de Filmes tenha contribuído para tal redução. Com o impeachment do então presidente e ascensão de Itamar Franco, o cenário começou a mudar. Em 1993 houve a criação da lei de incentivo para a produção audiovisual conhecida como "Lei do Audiovisual". Já em 1994, com a presidência de Fernando Henrique Cardoso há a revisão da Lei Rouanet e sua aplicação efetiva. Portanto, as idas e vindas das políticas públicas de incentivo retardaram a produção audiovisual quando comparada a outras localidades. Por essa razão, fala-se em um período de "retomada do cinema brasileiro" a partir de meados dos anos 90. Segundo dados do Ministério da Cultura, em 1992, houve a produção de apenas três filmes em comparação à produção de 1998 cujo total foi de trinta e três produções.

107 O termo "retomada do cinema brasileiro" é utilizado não apenas para indicar o aumento da produção cinematográfica, mas também para indicar o aumento do público como sugerem as informações da ANCINE (Agência Nacional do Cinema). Entre os filmes de maior sucesso em termos de público, podem ser citados: Carlota Joaquina (1995); O quartilho (1995); e, Central do Brasil (1998). Mais recentemente, os filmes com maior sucesso de público são Cidade de Deus (2002); Carandiru (2003); Tropa de Elite 1 (2007) e 2 (2010), etc. A ANCINE também destaca a volta dos filmes brasileiros aos festivais e às premiações internacionais. Segundo informações do Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual (OCA), criado em 2008 com o objetivo de difundir e de coletar dados e informações qualificadas produzidas pela ANCINE para aprimorar a geração e a disseminação de conhecimento sobre o setor, entre 2012 e 2016, a bilheteria para filmes brasileiros e estrangeiros comportou-se como o explicitado na tabela 4 apresentada a seguir:

Tabela 4: Mercado Audiovisual Brasileiro - Bilheteria de Cinema

Item 2012 2013 2014 2015 2016

Público 146.598.376 149.518.269 155.612.992 173.022.509 184.324.379

Público filmes brasileiros 15.654.862 27.789.804 19.060.705 22.500.245 30.413.419

Público filmes estrangeiros 130.943.514 121.728.465 136.552.287 150.522.264 153.910.960

Participação de público dos filmes 10,68% 18,59% 12,25% 13,00% 16,50% brasileiros

Renda Bruta (R$) 1.614.022.222,83 1.753.200.571,83 1.955.943.572,99 2.351.585.859,32 2.599.251.043,75

Renda filmes brasileiros (R$) 158.105.660,79 297.072.056,07 221.887.005,60 277.808.326,13 362.776.085,95

Renda filmes estrangeiros (R$) 1.455.916.562,04 1.456.128.515,76 1.734.056.567,39 2.073.777.533,19 2.236.474.957,80

Lançamentos 326 397 393 454 457

Lançamentos brasileiros 83 129 114 132 142

Lançamentos estrangeiros 243 268 279 322 315

108 Lançamentos brasileiros sobre 25,46% 32,49% 29,01% 29,07% 31,07% total

Ingressos per capita 0,76 0,74 0,77 0,85 0,89

Preço médio do ingresso 11,01 11,73 12,57 13,59 14,10

Fonte: 2002 a 2008: Filme B. Exceto, números de lançamentos brasileiros: Filme B e Apuração ANCINE - 2009 a 2016: ANCINE / Sistema de Acompanhamento da Distribuição em Salas de Exibição (SADIS). Disponível em: https://oca.ancine.gov.br/mercado-audiovisual-brasileiro, acesso em 17 de setembro de 2017.

Percepção semelhante tem-se quando se avaliam o aumento e a redução do número de salas de cinema ao longo de 46 anos (de 1971 até 2016). A tabela 5 apresentada, na sequência, compila essas informações e nos permite realizar algumas reflexões a respeito ou do aumento ou da redução das salas ao longo do tempo:

Tabela 5: Evolução do número de salas de cinema no Brasil de 1971 até 2016

Ano Salas Ano Salas Ano Salas Ano Salas

1971 2.154 1983 1.736 1995 1.033 2007 2.160

1972 2.648 1984 1.553 1996 1.365 2008 2.278

1973 2.690 1985 1.428 1997 1.075 2009 2.110

1974 2.676 1986 1.372 1998 1.300 2010 2.206

1975 3.276 1987 1.399 1999 1.350 2011 2.352

1976 3.161 1988 1.423 2000 1.480 2012 2.517

1977 3.156 1989 1.520 2001 1.620 2013 2.678

1978 2.973 1990 1.488 2002 1.635 2014 2.833

1979 2.937 1991 1.511 2003 1.817 2015 3.005

1980 2.365 1992 1.400 2004 1.997 2016 3.160

1981 2.244 1993 1.250 2005 2.045

109 1982 1.988 1994 1.289 2006* 2.095

Fonte: Sistema de Registro - ANCINE, Sistema de Acompanhamento da Distribuição das Salas de Exibição (SADIS), IBGE, Filme B e outras fontes secundárias. * Até 2005, dados Filme B. A partir de 2006, dados compilados da ANCINE/SAM

Em 1975 o Brasil, em uma compilação de dados históricos, alcançou 3.276 salas de cinema. Em 2016, foram alcançadas 3.160, 116 salas a menos que 46 anos antes. Observa- se, claramente, que a partir do período que se convencionou chamar de "abertura lenta e gradual para a redemocratização" do país, ou seja dos anos 80 em diante, o número de salas de exibição tendeu a reduzir. A retomada aos mesmos patamares dos anos 70 ocorre apenas entre 2015 e 2016. De acordo com as informações coletadas na OCA (Observatório Brasileiro do Cinema e Audiovisual) na seção intitulada "Cinema", entre 1995 e 2016 houve o lançamento de 1.397 filmes. Inicialmente, o recorte temporal de análise proposto estendia-se dos anos 2000 até os dias atuais. Entretanto, após avaliar a quantidade de lançamentos de filmes brasileiros para o período, isto é, 1293 produções23 segundo o mesmo Observatório, optou-se por reduzir o recorte temporal para o período de 2009 até 2016. Nesse novo recorte temporal, o total de filmes brasileiros lançados perfaz 858 produções. As tabelas 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12 e 13, apresentadas na seção de anexos, reúnem todos os lançamentos de filmes e documentários brasileiros de 2009 a 2016. Na Argentina, a retomada do cinema também ocorreu por meio de políticas nacionais para a cultura e para o audiovisual. Apoia-se também em acordos do Mercosul em que estratégias de proteção, cooperação e integração regional para as indústrias cinematográficas dos países encontram-se em desenvolvimento. Nesse sentido, em 2003, na cidade de Mar del Plata, estabeleceu-se uma reunião especializada com autoridades cinematográficas e audiovisuais do Mercosul e dos países associados (RECAM). O resultado da ação coordenada entre o Brasil e a Argentina foi o nascimento da ANCINE (Agência Nacional do Cinema da República Federativa do Brasil) e do Instituto Nacional de Cine y Artes Audiovisuales da República Argentina (INCAA). Na ocasião, entendia-se que as produções cinematográficas e audiovisuais de ambos países

23 Quantidade total de filmes brasileiros lançados de 1995 a 2016 com recorte temporal de 2000 até 2016. Vide seção de anexos da presente tese para conferir os títulos lançados no período inicial.

110 representava uma dimensão real do maior polo produtivo do século XXI e de bens simbólicos e imateriais que conformavam identidades e soberanias nacionais. A figura 4 apresentada a seguir evidencia o aumento do número de espectadores do cinema argentino no período de 2010 a 2016. Figura 4: Evolução do número de espectadores do cinema argentino de 2010 a 2016

Fonte: Instituto Nacional de Cine y Artes Visuales - Seção de Estatísticas, Gerência de Fiscalização. Disponível em http://fiscalizacion.incaa.gov.ar/index_estadisticas_series_historicas.php, acesso em 17 de setembro de 2017.

No mesmo período, a Argentina lançou 1490 filmes; comparativamente, o Brasil lançou pouco mais da metade (57,58%) de filmes que a Argentina. Na seção de anexos, as tabelas 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20 e 21 apresentam os lançamentos de filmes argentinos de 2009 a 2016. Diante do cenário apresentado e do recorte temporal a ser analisado, discute- se na seção seguinte a metodologia de análise que será utilizada para a leitura e interpretação dos filmes selecionados.

111

5.2. Metodologia de análise para leitura e interpretação dos filmes

Antes de selecionar os títulos que irão compor o corpora de pesquisa é preciso compreender que a produção cinematográfica, seja ela brasileira ou argentina, é constituída por narrativas que como tais devem ser analisar de forma mais detalhada. A fim de adensar a análise e relacioná-la com os aspectos teóricos apresentados até aqui entendeu-se que o corpora de pesquisa deveria ser analisado sob duas perspectivas: do ponto de vista do conteúdo dos filmes e do ponto de vista da narrativa que representam. Ambas perspectivas não são excludentes; ao contrário são complementares especialmente porque esta pesquisa desenvolveu-se no campo da comunicação. Assim, para dar conta dessas duas dimensões e para atender à finalidade da pesquisa, dois estudos foram selecionados: o primeiro apresentado por Manuela Penafria no VI Congresso SOPCOM (Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação) , em abril de 2009 em que a decomposição de um filme permite perceber as articulações entre os elementos e, o segundo, contido nos estudos de Cândida Vilares Gancho em seu livro intitulado "Como analisar narrativas", de 2004, em que os filmes são compreendidos como narrativas visto ser essa uma qualidade imanente dos seres humanos. Segundo Penafria (2009) em seu artigo apresentado no VI Congresso SOPCOM de abril de 2009, analisar um filme é sinônimo de decompô-lo para perceber a articulação entre os elementos. A autora esclareceu que um processo de análise flímica afasta-se da análise contida na crítica, pois nesta última procura-se avaliar a produção com vistas a atribuir um juízo de valor a respeito da produção. A intenção da análise aqui proposta nesta investigação, ao contrário, não é criar um juízo de valor, mas sim identificar a instalação dos discursos da economia criativa e de seus temas nas produções selecionadas. Pretende-se interpretar o conteúdo dessas produções de forma que se identifique a presença dos temas que sustentam as economias criativas. Mais adiante apresentar-se-ão os temas identificados, ao longo do processo de pesquisa, na literatura sobre o assunto. A autora convida-nos a refletir sobre o cinema em sua natureza imagética e sobre as formas como as obras de arte e as produções culturais foram analisadas ao longo do tempo. Ressalta que o cinema não deve ser interpretado apenas no seu conteúdo (história contada e seus diálogos), mas deve levar em conta seus aspectos formais. Penafria (op.cit) enfatiza que apesar da interpretação do conteúdo ser útil quanto ao contexto cultural, político e

112 social, ele não permite distinguir um filme de uma peça. Para ela, as diferenças do meio são diluídas quando se aciona a interpretação do conteúdo. O cinema é, para a autora, o meio que permite a experiência de se compreender o conteúdo via sentido da análise e não "escavando significados ocultos". Penafria (op.cit) também afirma que o processo de análise do cinema não é recente e nasceu com as primeiras projeções de imagens em movimento. Entre os diversos escritos sobre o processo de análise constam as impressões de autores como Ricciotto Canuto, Louis Delluc e Einstein. Para a autora, o primeiro e verdadeiro trabalho de análise foi realizado por Einstein a propósito do filme "O Encouraçado Potemkin" de 1925. Na análise, Einstein, segundo Penafria (2009,p. 4) faz:

uma decomposição de um excerto - mais concretamente de 14 planos retirados do momento em que a população de Odessa saúda os marinheiros do Couraçado e que procede a conhecida cena da chacina na Escadaria Odessa - com vista a fazer face à acusação da sua associação ao Formalismo e em defesa da pureza da linguagem cinematográfica.

A proposição que a análise feita por Einstein enseja é que todo o processo de análise deve ter, a priori, seus objetivos estabelecidos. Deve-se também realizar uma análise rigorosa, atenta e detalhada de, ao menos, alguns planos do filme para poder ratificar e identificar os objetivos propostos. A atividade de investigação detalhada de um filme tem como função aproximar ou distanciar os filmes uns dos outros, oferecendo-nos a possibilidade de caracterizá-lo na sua especificidade. Entre os métodos sugeridos por Penafria (2009) para analisar os filmes, quatro formas são identificadas: i) análise textual; ii) análise de conteúdo; iii) análise poética; e, iv) análise da imagem e do som. Na análise textual, Penafria (op.cit) sugere que o filme seja dividido em segmentos e como um texto. Nesse tipo de exploração, a importância recai sobre os códigos utilizados em cada filme. São três os tipos de códigos utilizados: os perceptivos em que se avalia a capacidade do espectador em reconhecer objetos na tela; os culturais em que a capacidade do espectador de interpretar o que vê nas telas é utilizado recorrendo-se à sua cultura; e, os códigos específicos em que a capacidade do espectador de interpretar o que vê na tela ocorre a partir dos recursos cinematográficos enquanto montagem alternada como indicação de duas relações temporais com que uma mesma história é contada.

113 Já na análise de conteúdo, leva-se em consideração o tema do filme. A identificação de sua temática, auxilia-nos no processo de análise de conteúdo visto que as análises que podem decorrer da identificação do tema também podem enveredar para inúmeras interpretações. Em se tratando de análise poética, por sua vez, o filme é compreendido como uma programação ou criação de efeitos. Para a autora, nesse tipo de análise é preciso haver uma metodologia em que se enumerem os efeitos da experiência fílmica (identificação dos sentimentos e sentidos que um filme é capaz de produzir no momento em que é visto) e, em que, a partir dos efeitos produzidos, chegue-se à estratégia ou ao modo como o efeito produzido foi construído. Por fim, a análise da imagem e do som dos filmes centra-se no próprio espaço fílmico explorando os conceitos cinematográficos propriamente ditos (planos utilizados etc.). Levando-se em consideração as possibilidades e as metodologias de análise de filmes disponíveis, propõem-se que as análises desenvolvidas nesta pesquisa siga o método de análise de conteúdo em que se torne possível a elaboração da seguinte ficha analítica do corpora de pesquisa: i) informações gerais em que a ficha técnica da produção seja constituída (como título em português e original, ano e país de produção, tema do filme e uma sinopse); ii) dinâmica da narrativa; iii) pontos de vistas em que o sentido narrativo seja explicitado; e, iii) conclusões. Penafria (2009), no entanto, sugere que nessa ficha técnica identifique-se a "cena principal" mas, para o objetivo ora proposto qual seja o de identificar a instalação dos temas que revestem o discurso das chamadas economias criativas na produção cinematográfica brasileira e argentina de 2009 até 2016, a identificação da cena principal mostrou-se desnecessária. Considerando que a escolha ou a determinação de uma cena principal, por si só, já implicaria em um juízo de valor optou-se por excluí-la das fichas técnicas. Dessa maneira, as fichas técnicas que serão apresentadas na seção 5.4 "a seleção e a análise do corpora de pesquisa" excluirão a cena principal. Espera-se que, a partir da identificação desses elementos, a recorrência das temáticas observadas na literatura sobre a economia criativa sejam reconhecidos nas produções fílmicas brasileiras e argentinas selecionadas e possam testar as proposições sugeridas nas hipóteses do problema de pesquisa, quais sejam:

a) a de que os poderes instituídos têm criado certos regimes de (in)visibilidade que privilegiam determinadas séries culturais em detrimento a outras; e,

114 b) a de que a criatividade e a inovação, qualidades salientes da cultura, estejam sendo colonizadas pelos interesses de mercado sem produzir os sentidos que representem a diversidade cultural de ambos os países;

Partindo da compreensão de que a capacidade de narrar é uma qualidade imanente dos seres humanos, Gancho (2004) convida-nos a analisar as narrativas a partir de seus elementos formais, ou seja, por meio dos acontecimentos (enredo), dos personagens, do tempo, do espaço e de seu narrador. Segundo a autora, o tema, o assunto ou a mensagem dizem respeito à estória que é narrada. Apesar de não serem elementos intrínsecos da narrativa, dela participam. Por trás de toda estória narrada é possível identificar um tema - sobre o que tratou a estória; um assunto - a maneira como narrativa se desenvolve ou de que maneira o tema é abordado; e, uma mensagem - a conclusão ou o ensinamento que poderá ser extraído ao término da narrativa. Para a autora costuma haver certa confusão entre esses elementos e a fim de eliminar quaisquer entendimentos que pudessem comprometer a interpretação, Gancho (2004) esclarece que o tema é a ideia em torno do qual se desenvolve a história; o assunto apresenta como o tema se desenvolve na história, ou seja, seus elementos materiais; e, a mensagem configura-se como o ensinamento ou conclusão que se pode depreender da história lida, ouvida ou vista. A autora também alertou para a presença de temas primários e secundários: os textos podem trazer um conjunto universo e subconjunto de temas para tratar do assunto principal. Refletindo sobre tais questões e sobre as escolhas do corpora de pesquisa considerou-se que os textos dos tempos modernos, apesar de variados, relacionam-se ao trágico real, um conceito que lida com o mundo sensível e com a vida cotidiana. Assim, a maior parte dos textos dos filmes selecionados tem o trágico real como temas centrais. Tais temas apresentam-se nos enredos - os acontecimentos marginais ou fatos (subconjuntos do conjunto universo) que evoluem ao longo da narrativa. Para a autora (op.cit), cada fato é um acontecimento marginal à parte, mas que se encontra integrado aos demais e é constituinte do conjunto maior do acontecimento principal (conjunto universo). Além do teor dos textos considerou-se também outras duas questões no estudo dos temas dos filmes: sua natureza ficcional (verossimilhança) e as partes que compõem a estrutura. Gancho (2004, p. 10) nos remete às afirmações de Aristóteles sobre a essência dos textos ficcionais: "trata-se por verossimilhança a lógica interna do enredo, que o torna

115 verdadeiro para o leitor;". Dito de outra maneira, os acontecimentos de uma estória não precisam ser verdadeiros no sentido de corresponderem exatamente aos fatos que realmente ocorreram ou à maneira como a realidade opera no mundo sensível. Os fatos devem respeitar a lógica interna do universo em que o enredo se desenvolve. Para ilustrar esse pensamento seria o mesmo que dizer que numa narrativa um animal dialoga com seres humanos. Se não houver a admissão de que esse tipo de situação é possível de existir no enredo, o animal falar com seres humanos será igualmente verdadeiro. O contrário também é verdadeiro. Como sugere a autora: "cada fato da história tem uma motivação (causa), nunca é gratuito e sua ocorrência desencadeia inevitavelmente novos fatos (consequências). [...] A verossimilhança é verificável na relação causal do enredo, isto é, cada fata tem uma causa e desencadeia uma consequência". Gancho (2004, p.10).

Observa-se que os textos de ficção dos filmes que compõem o corpora de pesquisa contêm uma lógica interna em seu enredo que os torna verossímil ao mesmo tempo em que refletem a lógica do mundo sensível. Ou seja, nenhum dos fatos narrados nas obras selecionadas admite, por exemplo, elementos da narrativa fantástica. Para Gancho (2004), com relação a estrutura de um enredo, ele pode ser dividido em três partes principais: a introdução, o desenvolvimento e a conclusão. Na introdução o espectador é situado diante da narrativa. Para a autora, a organização das partes de um enredo, bem como os acontecimentos que o compõem, é determinado pelo conflito - o componente da estória gerador da tensão que faz o enredo evolver e prender a atenção dos espectadores. Na introdução, os personagens são apresentados, os acontecimentos até o momento em que a estória tem início e a situação presente no momento em que a estória se inicia. Muitas vezes, o espaço e o período de tempo em que a estória se passa são apresentados. Nas introduções dos textos tradicionais como os que serão observados, os personagens (seus nomes, seus atributos, a situação presente e de seu núcleo familiar) costumam ser apresentados aos espectadores. No final do período introdutório costuma-se apresentar a "malfeitoria" ou uma falta que é cometida por um dos personagens que geram

116 o conflito ou que obrigam o protagonista a iniciar uma jornada para reparar o mal causado. Ao longo dessa jornada pode haver processos de transição de seus personagens. O desenvolvimento ou compilação é a parte em que a estória toma forma. Costuma ser a parte mais extensão da narrativa a fim de que o conflito (pode haver mais de um ou mais de um enredo em uma mesma narrativa) desenvolva-se e evolva para a resolução. A conclusão é a parte do enredo que apresenta a solução para o conflito. Nessa parte da narrativa costuma haver o clímax (momento culminante da história) segundo Gancho (2004). O clímax, segundo a autora, costuma ser o ponto de referência para o qual convergem todos os componentes do texto. De forma semelhante, no desfecho, além da resolução do conflito, costuma se revelar o destino dos personagens. Nos textos tradicionais, por exemplo, costuma haver a reparação do mal causador do conflito. Esses, por sua vez, podem ter alguns desfechos possíveis como: feliz, surpreendente, trágico, cômico, etc. A respeito da organização dos acontecimentos que compõem o enredo, Gancho (2004, p.13) afirma que eles podem ocorrer de maneira linear ou não linear a depender da sequência temporal em que aconteceram. Tem-se, a partir da organização dos acontecimentos, alguns tipos de enredo: o enredo-ação "em que os acontecimentos equivalem a ações concretas dos personagens [...] e que costumam corresponder ao modo tradicional de narrar". Quando os acontecimentos são organizados de forma não-linear, os enredos psicológicos como chama Gancho (2004) representam o jeito moderno de narrar. Nos enredos não lineares ou enredos psicológicos, os acontecimentos nem sempre são evidentes, uma vez que não correspondem obrigatoriamente a ações concretas dos personagens. Podem remeter, por exemplo, a movimentos internos como a emoções, lembranças, conhecimentos, sentimentos e sensações. Ao narrarem os acontecimentos não há uma ordem cronológica dos acontecimentos. Prevalece a vontade do narrador evolvendo na camada de tempo psicológico. Ao abordar as formas não lineares da narrativa Gancho (2004) adiciona outros dois elementos importantes na análise de narrativas: o tempo, o espaço ou ambiente. A determinação do tempo de uma narrativa deve incluir os diversos tempos que a estruturam como o tempo de chronos24 e o tempo de kairós25; ou o tempo fictício interno à narrativa. A

24 Tempo de Chronos é o tempo cronológico e sequencial; 25 Tempo de Kairós é o tempo oportuno, o tempo em que algo especial acontece;

117 relação do tempo com a narratividade indica que os eventos são marcados por estados que se transformam sucessivamente. O tempo, para Gancho (2004, p.21) é definido como: "no texto narrativo, os eventos passam de um estado a outro. Esse tipo de texto caracteriza-se por apresentar acontecimentos que se sucedem no tempo, ou seja, o acontecimento principal vai se transformando na medida em que um acontecimento marginal é concluído e aquele que o sucede se inicia". A autora também faz menção aos estudos desenvolvidos sobre o tempo por João Batista Cardoso:

"uma sequência de eventos, comporta como elemento estrutural relevante de sua forma de conteúdo a representação do tempo; tempo-cronologia, que marca a sucessão dos eventos; o tempo concreto, do tempo como durée que modela e transforma os agentes; do tempo histórico que subsume o tempo-cronologia e o tempo concreto, que configura e desfigura os indivíduos e as comunidades sociais; do tempo, enfim, como horizonte existencial, físico e metafísico". (Cardoso apud Gancho, 2004, p.21). A definição dos diferentes tipos de tempo nas narrativas pode ser enumerado como o que segue: a) tempo concreto: age sobre os indivíduos do mundo sensível possuindo relação com a obra narrada, mas não com os acontecimentos narrados no enredo; b) tempo cronologia, tempo como durée e tempo psicológico são tempos fictícios, pois são criações internas à narrativa e estão entranhados no enredo; no tempo cronologia transcorre a ordem natural das fatos do enredo, isto é, do começo para o final. c) tempo histórico é aquele tempo maior que contêm os tempos cronologia e o tempo como durée; o tempo histórico é o tempo maior que abarca todos os acontecimentos narrados na História; d) tempo psicológico é mais comum nos textos modernos e é caracterizado pelo tempo que transcorre alterando profundamente os demais personagens e o espaço.

Para falar da importância do espaço Gancho (2004) nos lembra que é ele que tem a função de situar as ações dos personagens e estabelecer com eles uma interação quer seja influenciando suas ações, seus pensamentos ou emoções quer seja sofrendo eventuais

118 transformações provocadas pelos personagens. Costuma-se dizer que o espaço pode ser mais detalhado em textos descritivos, mas é possível caracterizá-lo como espaço aberto ou fechado; rural ou urbano;, etc. Vale ressaltar que o percebemos ou imaginamos em uma narrativa não são os eventos que envolvem o tempo - elemento invisível e sim os espaços - elementos visíveis. Há autores que afirmam que o espaço não se restringe ao local físico, ele pode articular o social com suas características e tradições, usos, costumes, valores morais, artísticos e sentimentais. Gancho (2004), por sua vez, defende a ideia de espaço como sendo o lugar físico onde ocorrem os fatos da história; para designar um "lugar" psicológico, social, econômico a autora emprega o termo ambiente. Para fins dessa pesquisa adotou-se as definições de espaço e de ambiente defendidas pela autora. Assim, para a autora (op.cit), ambiente é: "o espaço carregado de características socioeconômicas, morais, psicológicas em que vivem os personagens. Neste sentido, o ambiente é um conceito que aproxima tempo e espaço, pois é a confluência destes dois referenciais, acrescido de um clima. [...] o conjunto de determinantes que cercam os personagens que poderiam ser resumidas às seguintes condições: socioeconômicas, morais, religiosas, psicológicas. Gancho (2004, p. 24).

Ainda, revela que o ambiente desempenha dois papéis importantes na narrativa: o primeiro de situar as personagens nas condições em que vivem podendo descrevê-lo como agressivo, preconceituoso, machista, etc.; e, o segundo, de fornecer pistas para o andamento do enredo. Igualmente importante é o papel do narrador. Gancho (2004) faz questão de diferenciar o autor do narrador afirmando que o narrador e as personagens são essencialmente seres de papel. Os narradores costumam definir o foco da narrativa: nas personagens, descrevendo suas características e seus motivos ou nos acontecimentos em que a atenção volta-se para o emaranhado de fatos que se inserem no enredo. Há narradores em primeira pessoa podendo ele mesmo ser o protagonista da história ou um narrador testemunha que não costuma ser a personagem principal do enredo. Já os narradores em terceira pessoa podem ser oniscientes e narrarem não apenas os acontecimentos, mas os sentimentos das personagens que compõem a trama ou ainda narradores observadores. Neste último caso, o narrador pode ainda assumir uma postura de

119 neutralidade diante dos acontecimentos que narra ou assumir a postura de um narrador intruso que tece comentários próprios com relação ou não com a estória narrada. Como se sabe, os filmes são narrados visualmente, por imagens e não por palavras. Neste meio narrativo é comum que as informações transmitidas ao espectador limitem-se ao que se vê e ao que se ouve, ao que as personagens fazem ou falam com apenas eventuais e breves intervenções amarrando os acontecimentos. Cabe ao espectador deduzir as significações. As narrativas visuais, como sugere Gancho (2004) costumam ser mais objetivas do que as narrativas verbais, pois as imagens são todas apresentadas de maneira pronta para serem vistas, exigindo menos dos espectadores. O cinema possui uma linguagem própria com sintaxe e repertório já consolidados (planos, cortes, angulações e montagens). Nessa linguagem organizam-se sintaticamente as imagens em sequências que, por sua vez, formam um filme, de maneira análoga à organização dos acontecimentos em um enredo pelo narrador. Assim, por tratar-se de uma sequência de imagens prontas para serem vistas não é correto imaginar que essas sejam neutras. Por trás das imagens do cinema há que se observar o ponto de vista de quem as captura: o olho da câmera, o narrador cinematográfico. A presença do narrador no cinema é percebida pela organização de imagens, cenas e sequências, de modo a relatar a estória ao espectador. O foco narrativo pode ser observado pelas imagens do filme, com seus planos, enquadramentos, posicionamento da câmera e composição da cena. Para a autora, a câmera cinematográfica retirou o ser humano do centro focal. As técnicas de montagem, de colagem, e os efeitos especiais desenvolvidos para o cinema permitem que o olho da câmera desempenhe a função de narrador tão bem ou melhor que o próprio narrador literário. Com o olhar da câmera pode-se apresentar dois acontecimentos de forma simultânea, narrando-os a partir de ângulos de ação e pontos de vista diferentes. Os movimentos de câmera são os responsáveis por atribuir às imagens os sentidos que pretende-se narrar. Nas narrativas visuais há o abandono do foco narrativo de testemunha para tornar-se um observador neutro da ação. A narração do protagonista - por voz-over ou voice-over - relaciona as sequências, com considerações da própria personagem, explicando suas ações e apresentando sua própria personalidade. Denomina-se narrador protagonista aquele que interage com o espectador por voz-over. Assim, a depender do olhar da câmera tem-se um tipo de narrador; este mesmo narrador por mudar de postura ao longo da

120 narrativa visual procurando dar maior ou menor ênfase à realidade do mundo sensível. Como a narração em voz-over pode ser a voz ou o pensamento das personagens que revelam, relatam ou relembram sentimentos e sensações e acontecimentos, esse narrador torna-se um narrador personagem que pode, ocasionalmente, emprestar seu ponto de vista ao olho da câmera; dito de outra maneira, essa seria a perspectiva do "enxergue através dos meus olhos". Com base nessas duas metodologias de análise de filmes apresentadas elaborou-se um quadro (quadro 1) para sintetizar os principais elementos das narrativas que serão analisadas nas seções a seguir.

Quadro 1: Síntese dos elementos das narrativas da corpora de pesquisa

Enredo Personagens Tempo Espaço ou Ambiente Narrador Tipos de Ordem dos Concreto|Histórico Mundo Sensível ou Filmes Personagens 1a. | 3a. Pessoa texto acontecimentos | Fictício Imaginário É proibido fumar ficcional linear Baby e Paulo concreto mundo sensível 1a. Pessoa, onisciente Raphael, Gardo, Rato, Trash: a esperança vem José Angelo, ficcional não linear fictício mundo sensível 3a. Pessoa, intruso do lixo Frederico e Antônio Santos 5X favela: agora por nós ficcional linear vários (5 narrativas) concreto mundo sensível 1a. Pessoa, onisciente mesmos Padre Julién, Padre Elefante Blanco ficcional linear Nicolás, Darín e concreto mundo sensível 3a. Pessoa, intruso Luciana Medianeras: Buenos Aires na Era do Amor ficcional não linear Martin e Mariana fictício imaginário 1a. Pessoa, onisciente Digital El abrazo de una Karamakate, Theodor ficcional não linear fictício imaginário 3a. Pessoa, onisciente serpiente Von Martius

Para nos auxiliar na tarefa do reconhecimento das temáticas que permeiam os discursos das chamadas "economias criativas" faz-se necessário adensar o entendimento sobre como ocorrem as convocações biopolíticas típicas do capitalismo e como se instalam nas produções audiovisuais selecionadas para análise. A seção a seguir explicita a maneira como as convocações biopolíticas do capitalismo global incluem os temas das economias criativas em suas narrativas e construções discursivas.

121 5.3 Convocação biopolíticas e a instalação dos discursos das chamadas "economias criativas"

Para nos auxiliar na tarefa de compreender como as temáticas que permeiam os discursos sobre as chamadas "economias criativas" instalam-se é preciso compreender que o capitalismo, segundo Prado (2013), tem se preparado para construir enunciados sistêmicos e mais complexos. O sistema de mercadorias oferecidos pelos enunciadores do capitalismo delineiam o mundo desejado, os sonhos e as aspirações das pessoas. Os regimes de visibilidade e de interação propostos por esses enunciadores criam uma noção de bem- estar e de bem-viver difíceis de serem substituídos. Essa rede de enunciadores que conformam o capitalismo globalizado convoca os indivíduos para programas específicos, apoiados em atividades e serviços também disponíveis no mercado. Entre os sistemas globalizados encontram-se as grandes construções discursivas como a "responsabilidade ambiental", "a diversidade", "as identidades" etc. "Os discursos embutidos nos dispositivos midiáticos buscam públicos mais ou menos segmentados"(op.cit, pág., 13). Utilizando o exemplo da "Queer theory for the straight guy26", Prado (2013) explicou como os discursos gays são utilizados por diversas publicações segmentadas para convocar o público heterossexual a buscar o refinamento. Nesta seção busca-se compreender quais são os contratos de comunicação das chamadas "economias criativas" e suas convocações. Esses elementos são essenciais para o processo de análise proposto para as produções fílmicas brasileiras e argentinas de 2009 a 2016. As pesquisas desenvolvidas até a atualidade fazem-nos pensar que os contratos de comunicação da economia criativa transformem o "imaterial da cultura" em produtos e séries culturais capazes de incluir aqueles que a consomem. Seus programas, ao revestirem a cultura e suas produções com a roupagem de capital simbólico, ao mesmo tempo valorizam-na da capacidade de servir como elemento homogeneizador. Prado (2013) convida-nos a refletir sobre o contexto maior em que se enquadram estas convocações: a mudança do papel do mercado e da superprodução semiótica do mundo atual. O autor observa que entre as principais mudanças estão as diferenças da vivência do tempo e do espaço e os modos de reconstruir a própria individualidade. A respeito dos ganhos e das

26 Teoria Queer para o olhar heterossexual

122 perdas do século XX, Prado (op.cit) evidenciou como os media27 constroem seus discursos modalizadores biopolíticos destacando entre as perdas: a queda da autoridade paterna, da filosofia do sujeito, do supereu repressivo, da linha de produção fordista, do trabalho como categoria central da sociologia, da cultura como antimercado e da multiplicidade de universais (op.cit, p. 34). E, entre os ganhos destacou:

"o supereu do gozo, as redes, a filosofia da linguagem, a produção on demand, a comunicação como um processo que antecede e orienta a produção, o valor imaterial dos produtos, a superprodução semiótica, o capital simbólico e a existência de um único universal forte: o mercado" (op.cit., pág. 34).

É entre os ganhos que se enquadra a convocação das chamadas "economias criativas": o valor imaterial dos produtos e o capital simbólico que representam as produções e séries culturais servem de base para a construção dos discursos modalizadores biopolíticos. Ao explicar como se exercem as convocações dos subsistemas hegemônicos de comunicação, o autor forneceu-nos os insumos necessários para compreender como esses discursos instalaram-se nos mais variados dispositivos28. O percurso de pesquisa permitiu- nos identificar que nos discursos instalados das economias criativas os temas como: "inovação", "tecnologia", "cultura como eixo de desenvolvimento", "ritmo sustentado de crescimento" , "dinamismo internacional", "igualdade de gênero", "promoção da diversidade cultural", "cultura como condição e caminho para o desenvolvimento", "criatividade", "ressignificação da cultura" e "emoção e colaboração" são recorrentes. Esses temas deixam claro que, na sociedade pós-moderna ou modernidade mundo como preferem alguns autores, a tensão das sociedades disciplinares migra do controle sobre a vida para uma nova dinâmica: para a era das convocações e das experiências. Se, no século XVI o poder soberano vigorava, nos séculos XVII e XVIII o poder disciplinar conduzia as sociedades e no século XIX surge a biopolítica; após a Segunda Guerra Mundial, inicia-se a era das convocações. Ao contrário dos moldes típicos das sociedades disciplinares de até

27 Media: aparelhos de comunicação segundo Prado (2013) 28 Dispositivos serão compreendidos como um conjunto de discursos, instituições, leis, medidas administrativas ou proposições.

123 então, a sociedade do pós-guerra arvora-se em modulações cujas tramas alternam-se continuamente: O sentido do emprego e da empregabilidade se altera da passagem da fábrica (disciplinar) para a empresa (controle), pois a vivência na empresa não é mais como no modelo da linha de produção da fábrica fordista, em que o empregado ficava toda uma vida construindo uma narrativa sediada no trabalho. Agora a empresa é o palco de um jogo em que os microempreendedores constroem seus pequenos cenários produtivos e se autoconstroem ao mesmo tempo em que fazem a empresa crescer. Prado (2013, p. 28) O cerne dessa nova dinâmica (o empreendedor de si mesmo) enquadra-se bem nos moldes sugeridos pelas economias criativas. A ideia de inclusão social e de empoderamento que reveste o discurso e toda a trama de convocações desse novo modelo de desenvolvimento econômico mostra-se mais eficiente do ponto de vista do engajamento que o antigo sistema neoliberal. A modalização dos discursos das economias criativas a tornam mais atraente e difícil de ser substituída. Modalizar segundo Prado (2013, p. 30) significa "motivar o destinatário da comunicação a ser alguém ou a fazer algo a partir de um querer, fornecendo a ele um saber e indicando o dever fazer." Todavia, como é se constrói essa sociedade? O sistema media-marketing- publicidade, para Prado (2013, p.30):

constrói seus textos audioverbovisuais a partir de uma racionalidade semiótico-estratégica, bombeando as formas semânticas e pragmáticas da cultura." A sociedade de controle globalizado fornece os programas mediáticos regados pelo imaginário da publicidade e do marketing guiando os indivíduos para os objetos de consumo. Tais programas constroem os regimes discursivo de visibilidade, fortemente sensorializados, em que certos itens são tornados positivos e podem vir às cenas mediáticas com seus modos de usar e suas receitas de boa vida, enquanto outros são disforizados e relegados ao ostracismo. Sucesso, na sociedade de controle, não é apenas aquisição de muito dinheiro, mas conquista de espaço simbólico, de visibilidade, de prestígio, para o que é necessário ter saberes (como chegar a este lugar? que treinamentos devo fazer? que cultivos do corpo e da mente?) e poderes (capacidades, competências adquiridas, em termos de trânsito nos espaços físicos e simbólicos).

124 O que se sabe é que com essa nova dinâmica, o consumo universalizado constrói regimes de visibilidade distintos. São esses os temas que se pretende identificar na análise fílmica proposta. A seção a seguir ocupa-se dessa análise.

5.4. A seleção e a análise do corpora de pesquisa

Na seção 5.2, em que se apresentaram as possíveis metodologias de análise de filmes, identificou-se que o método de análise de conteúdo seria o mais apropriado para revelar a facticidade da prática e a instalação dos temas que revestem o discurso das chamadas economias criativas na produção cinematográfica brasileira e argentina. Na mesma seção também explicitou-se a razão da escolha das produções fílmicas brasileiras e argentinas de 2009 a 2016 porque para ambos países, o período representa uma "retomada do cinema". Sugeriu-se, ainda, a elaboração de uma ficha analítica do corpora de pesquisa que contivesse: i) informações gerais em que a ficha técnica da produção seja constituída (como título em português e original, ano e país de produção, gênero, duração, tema do filme e uma sinopse); ii) dinâmica da narrativa; iii) pontos de vistas em que o sentido narrativo seja explicitado; e, iii)conclusões. Faltou dizer como se chegou à seleção dos títulos que serão analisados. Para se chegar à escolha dos títulos e à categorização do que seria o corpus a ser analisado, as fases a seguir foram adaptadas e auxiliaram no processo: (i) pré-análise, (ii) exploração, (iii) análise do material e (iv) interpretação da análise do conteúdo. O resultado dessas etapas é expresso a seguir:

a) na fase (i) de pré-análise houve a sistematização das ideias que viabilizaram a formação do corpus: ano do lançamento do filme; gênero do filme (documentário ou longa metragem) e o público (ou bilheteria) acima de 50 mil espectadores;

b) na fase de exploração (ii) procurou-se selecionar obras cujos temas centrais pudessem acomodar o discurso das economias criativas. Nesse sentido, os temas centrais como a vida nas comunidades, a vida nas grandes cidades, a forma de adaptação dos modos de vida segundo os padrões de consumo e de

125 desenvolvimento, a precariedade da vida nas periferias, a violência policial e o reconhecimento da diversidade mostraram-se suficientemente complexos e capazes de acomodar os discursos das economias criativas;

c) na fase de análise do material (iii), após assistir os filmes identificou-se a instalação dos principais temas que revestem o discurso das economias criativas nas obras. Temas como "consumo universalizado"; "empreendedor de si mesmo"; "inovação", "tecnologia", "cultura como eixo de desenvolvimento", "ritmo sustentado de crescimento" , "dinamismo internacional", "igualdade de gênero", "promoção da diversidade cultural", "cultura como condição e caminho para o desenvolvimento", "criatividade", "ressignificação da cultura" e "emoção e colaboração" puderam ser reconhecidos na seleção de filmes. Tais temas, vale ressaltar, foram extraídos a partir do contato com a literatura sobre as economias criativas ao longo do percurso da pesquisa;

d) nessa fase (iv) buscou-se interpretar o conteúdos dos filmes para estabelecer as relações entre os temas e as descobertas que o percurso de pesquisa permitiu reconhecer;

O resultado é expresso no quadro sinóptico 1 apresentado a seguir:

Quadro 2: Quadro Sinóptico com a identificação da instalação dos temas que revestem o discurso das economias criativas

Temas Consumo universalizado Empreendedor de si Inovação Tecnologia Cultura como desenvolvimento Ritmo sustentado de desenvolvimento Igualdade de gênero promoção da diversidade emoção e colaboração

É proibido ¤ ¤ ¤ ¤ ¤ ¤ fumar

126 Trash: a esperança vem ¤ ¤ ¤ ¤ do lixo

5 X favela: agora por nós ¤ ¤ ¤ ¤ ¤ ¤ ¤ mesmos

Elefante Branco ¤ ¤ ¤ ¤ ¤ ¤

Medianeras ¤ ¤ ¤ ¤ ¤ ¤ ¤ ¤

El abrazo de ¤ ¤ ¤ una serpiente Fonte: Elaboradora pela autora

O resultado da escolha dos filmes que serão analisados é expresso na tabela 22 a seguir:

Tabela 6: Seleção de títulos brasileiros e argentinos para análise

Ano de Lançamento País de Origem Título 2009 Brasil É proibido fumar 2010 Brasil 5X Favela: agora por nós mesmos 2011 Brasil Lixo Extraordinário 2011 Argentina Medianeras 2012 Argentina Elefante Blanco 2016 Argentina El abrazo de la serpiente

Fonte: elaborado pela autora

A seguir apresentam-se as fichas técnicas elaboradas pela autora. Ressalta-se que algumas informações reunidas nas fichas técnicas foram extraídas dos principais sites de avaliação de filmes como "Adoro Cinema" e "Guia da Semana", ambos com informações disponíveis para consulta nos endereços https://www.guiadasemana.com.br/cinema e http://www.adorocinema.com. Os acessos foram realizados nos meses de setembro e de outubro de 2017.

127 Ficha Técnica 1: É proibido fumar

Título em português e original: É proibido fumar

Ano e país de produção: 2009, Brasil

Tema do filme: Baby, a personagem central do filme vive no apartamento que herdou da mãe e dá aulas de violão. Retrata a figura da mulher que ficou para "titia".

Sinopse: "Desde que sua mãe morreu, a romântica Baby (Glória Pires) vive sozinha no apartamento que herdou, em São Paulo. Sem grande preocupação com o futuro, ela acaba se tornando apenas uma professora particular de violão, que nem mesmo os alunos se entusiasmam com as aulas, enquanto uma irmã constituiu família e a outra se tornou uma grande empresária. Aguardando um grande amor, Baby se surpreende quando se muda para o apartamento ao lado o músico Max (Paulo Miklos), que acaba de terminar um relacionamento de oito anos. Disposta a conquistar o vizinho, Baby se esforça para agradá- lo de qualquer forma, mas a única coisa que ele pede é que ela pare de fumar. Tendo que escolher entre o cigarro e o amor, a professora decide entrar para um grupo de ajuda e largar de vez o vício. Apesar da vontade de mudar, Baby percebe o quanto será difícil abrir mão de algo que está tão presente em sua vida. Com o decorrer da relação com Max, ela questiona se realmente vale a pena tanto esforço, até o dia em que tem um impactante encontro com Estelinha, a ex-mulher do vizinho.

Dinâmica da narrativa: trata-se de uma narrativa clássica que se preocupa em proporcionar um fechamento para todos os assuntos que foram tratados no filme. Sua ordem é linear e o encadeamento de eventos, em relações de causa e efeito atestam ser uma narrativa onisciente e objetiva. A produção tem um significado sintomático, ou seja, um significado que pode ser inferido mas não atribuído a uma intenção autoral, mas a um contexto mais amplo e naturalizado.

Pontos de vistas em que o sentido da narrativa seja explicitado: a narrativa é contada sob a perspectiva da personagem principal Baby

128

Conclusões: Podemos entender a narrativa de "É proibido fumar" como uma programação típica dos regimes de visibilidade e de interação propostos pelos enunciadores que criam uma noção de bem-estar e bem-viver difíceis de serem substituídos. Em todas as cenas em que a personagem Baby aparece sozinha há sempre uma TV sintonizada no "Mulheres", um programa de variedades exibido desde os anos 80 pela TV Gazeta cuja temática é apresentar às donas de casa (audiência típica do período da tarde) os comportamentos, qualidades esperadas e desejadas para toda mulher que deseja casar-se um dia. A sugestão de comportamentos e de qualidades são, na realidade, as convocações biopolíticas que se tornam visíveis em seu comportamento quando a personagem Baby decide investir na conquista de seu novo vizinho: há seções de depilação, de manicure, de pedicuro, de cabeleireiro, receitas novas e exóticas para preparar o jantar da "conquista" do homem sozinho e de meia idade que acaba de se mudar.

Figura 5: Cena do filme É proibido fumar: seções de depilação

Fonte: É proibido fumar, 2009

129

Figura 6: Cena do filme É proibido fumar: comportamentos e qualidades esperados de uma mulher

Fonte: É proibido fumar, 2009

Até mesmo o hábito incontrolável de fumar dessa mulher é tratado na narrativa como um comportamento socialmente indesejado e politicamente incorreto. A personagem ingressa em um grupo de apoio para fumantes, e este a faz aderir a novos hábitos que prometem afastá-la de seu vício e dos males gerados pelos anos de fumo.

Figura 7: Cena do Filme é Proibido fumar: vício incontrolável

Fonte: É proibido fumar, 2009

130 5.4.1. Análise do conteúdo do filme "É proibido fumar"

O quadro 229, apresentado a seguir, resume os temas identificados na obra.

Quadro 3: Recorte do quadro sinóptico "É proibido fumar"

de si Ritmo Temas gênero Inovação Consumo emoção e Tecnologia diversidade colaboração Igualdade de promoção da Cultura como sustentado de universalizado Empreendedor desenvolvimento desenvolvimento

É proibido ¤ ¤ ¤ ¤ ¤ ¤ ¤ fumar

Houve o reconhecimento de alguns dos temas que revestem os discursos da economia criativa em "É proibido fumar". Ao analisar as cenas em que Baby está sozinha em seu apartamento, e observar o som da tv, sintonizada no programa "Mulheres", tem-se aí a disseminação dos comportamentos sociais, das crenças, dos modos de vestir, de comer, da conduta, da moral de todas as representações sociais esperadas para as mulheres na sociedade. Baby ironiza a maioria desses comportamentos quando submete-se às seções de depilação e quando vai às festas de outras amigas, por exemplo. As atitudes e o comportamento da personagem Baby explicitam o fato de que os sistemas ideológicos e suas ideologias não estão, necessariamente, ligados a um passado histórico. Elas podem e são (re) significadas de acordo com as injunções externas. Nesse caso, as injunções externas estão representadas pela família de Baby: ambas destacaram-se em um dos modos de viver socialmente aceitáveis: uma irmã constituiu família e a outra irmã é bem sucedida profissionalmente. A figura das irmãs bem sucedidas (cada qual a seu modo) serve de elemento de pressão e como forma de induzir Baby a ceder a tais comportamentos e formas de vida. O sentimento de inadequação nutrido pela personagem é aplacado pela frase que ela repete constamente às irmãs: "estou em uma nova fase da minha vida", sugerindo que ela está em busca da superação, de adequação ao ritmo de desenvolvimento; trata-se da noção do consumo da atualização. É, como se a personagem Baby, ao incorporar

29 Os quadros apresentados nas fichas técnicas são recortes do quadro sinóptico 1 em que indica-se o reconhecimento ou não dos temas que revestem o discurso das economias criativas nos filmes.

131 certos comportamentos, promovesse uma atualização com vistas ao enquadramento nesses padrões de comportamento e de consumo. Glória Pires, atriz que protagoniza a personagem Baby torna caricata a figura da mulher esperada pela sociedade não apenas pelo comportamento que ela tenta representar, mas pelas pequenas e grandes trangressões que comete ao tentar enquadrar- se nessa lógica dual que norteia as sociedades ocidentais. Outra evidência do consumo universalizado e da noção de emoção e colaboração podem ser relacionados à frase que o grupo de apoio para deixar de fumar sugere que seus membros repitam incessantemente: "o cigarro não é meu amigo, é meu inimigo". A personagem Baby com todos os seus traços e impasses representa o comportamento às avessas, o lado "b" de uma sociedade que vende o sucesso, a beleza, os amores e uma vida profissional bem sucedida como sendo valores supremos. A emoção e a colaboração que se espera encontrar nos setores nucleares criativos, por exemplo são reconhecidos no filme em seu sentido oposto: Baby é uma professora de violão pouco talentosa que leciona para alunos igualmemte pouco talentosos. Nas pequenas demonstrações de envolvimento com seus alunos, a personagem Baby propõe que eles conheçam medianamente os maiores intérpretes da música popular brasileira; sugerindo que e sejam-lhes peculiares. Como sabemos, apesar de ambos terem sido importantes no movimento da Música Popular Brasileira eles não representam a diversidade cultural brasileira. O personagem vivido por Paulo Miklos, ex-vocalista da banda de rock Titãs, é também músico cuja carreira acabou por limitar-se a apresentações musicais em churrascarias. O local em que a banda do personagem tem contrato limita-se a interpretar o samba durante o rodízio. Na verdade, esse conjunto de samba, rodízio e apresentação de mulatas apenas reforçam o estereótipo do Brasil como o país dos 5S's30: o país do samba, do sexo e do carnaval.

30 Termo utilizado pela autora em sua dissertação de mestrado em que analisou a marca território Brasil e suas peculiaridades. O termo país dos 5S's: sex, soccer, samba, soy beans and sugar cane. País do samba, sexo, cana de açúcar e do futebol é uma delas.

132 Ficha Técnica 2: 5 x Favela: agora por nós mesmos

Título em português e original: Cinco vezes favela: agora por nós mesmos

Ano e país de produção: 2010, Brasil.

Tema do filme: a vida nas comunidades retratada pelos próprios moradores

Sinopse: Muitos filmes já retrataram a favela sob a ótica bandidos, da polícia e da classe média. Em 5X Favela - Agora Por Nós Mesmos é a vez dos moradores do morro apresentarem a sua realidade. Sete jovens cineastas de comunidades do Rio de Janeiro, formados em oficinas profissionalizantes ministradas por profissionais como , Ruy Guerra e , foram os responsáveis pelas histórias que compõem o longa metragem. Baseado em Cinco Vezes Favela, de 1961, quando cinco jovens da classe média subiram os morros para fazer um filme em episódios, o longa foi apresentado em caráter hors concours no Festival de Cannes desse ano. O primeiro episódio apresentado é Fonte de Renda, dirigido por Manaíra Carneiro e Wagner Novais. Com o uso do estilo que conta do fim para o início, o filme retrata a história do jovem Maicon (Silvio Guindane), que sonha com a faculdade; algo muito caro para qualquer família pobre da favela. A história tem a presença de Hugo Carvana, como padrinho do rapaz. Arroz com Feijão, a segunda narrativa, é uma mistura de gêneros feita por Rodrigo Felha e Cacau Amaral. Com um final surpreendente, conta as aventuras do pequeno Wesley (Juan Paiva) que, no dia do aniversário do seu pai, junta-se com seu melhor amigo Orelha (Pablo Vinicius) para conseguir algo raro para o jantar: um pouco de carne para misturar ao arroz e feijão. Luciano Vidigal é o diretor da terceira obra: Concerto Para Violino. Nesta, o tráfico de drogas é abordado diretamente, de maneira ríspida e violenta. O próximo, Deixa Voar, de Cadu Barcelos, surge com um clima de tensão. Flávio é um adolescente de 17 anos que decide enfrentar o medo e ir até a favela rival para recuperar a pipa de seu amigo. Luciana Bezerra assina Acende a Luz, o último da série, que traz a mensagem de que vale a pena debochar da vida. Tudo acontece na véspera de Natal, quando toda vizinhança está pronta para comemorar. No entanto, o morro está sem luz e o que era para ser uma tragédia

133 torna-se cômico em poucos segundos.

Dinâmica da narrativa: em alguns episódios utiliza-se uma narrativa do fim para o início e em outros episódios a narrativa clássica. Sua ordem é linear e o encadeamento de eventos, em relações de causa e efeito atestam ser uma narrativa onisciente e objetiva. A produção tem um significado sintomático, ou seja, um significado que pode ser inferido mas não atribuído a uma intenção autoral, mas a um contexto mais amplo e naturalizado.

Pontos de vistas em que o sentido da narrativa seja explicitado: as narrativas são contadas sob a perspectiva dos moradores das comunidades retratadas no filme. Os temas dos episódios foram escolhidos e filmados pelos próprios participantes das oficinas de produção de filmes de que participaram. Todos os episódios foram narrados sob o ponto de vista dos moradores a fim de se deixar apresentar o olhar deles a respeito de si e de seu cotidiano.

Conclusões: Como as narrativas foram produzidas com o objetivo de mostrar o ponto de vista de quem vive o cotidiano da favela, o complemento do título do filme " agora por nós mesmos", já aponta para o teor da obra e do quão distante ela está da produção de 1962. Na época, os estudantes brancos da classe média haviam subido o morro para delatar as desigualdades sociais e a exploração. Em 2010, os próprios moradores apresentam seu cotidiano e a forma como continuam a lidar com as desigualdades ou com a exploração. Diferente dos intelectuais dos anos 60, os moradores que conduzem as narrativas buscam, na verdade, promover a diversidade, abordar a igualdade de gênero e explicitar as formas de consumo generalizado. Nas relações entre as pessoas, nota-se claramente, uma dose extra de emoção e de colaboração que, em certa medida justifica-se, devido a características da própria comunidade.

5.4.2. Análise do conteúdo do filme "5x favela: agora por nós mesmos"

A exemplo da análise anterior, o quadro 3, apresentado a seguir, explicita os temas que foram reconhecidos no filme "5x Favela: agora por nós mesmos":

134 Quadro 4: Recorte do quadro sinóptico : 5x Favela: agora por nós mesmos

de si Ritmo Temas gênero Inovação Consumo emoção e Tecnologia diversidade colaboração Igualdade de promoção da Cultura como sustentado de universalizado Empreendedor desenvolvimento desenvolvimento

É proibido ¤ ¤ ¤ ¤ ¤ ¤ ¤ ¤ fumar

O primeiro elemento que merece atenção na análise é o complemento do título do filme "agora por nós mesmos". Além de identificar que as narrativas foram desenvolvidas sob o ponto de vista daqueles que vivem nas comunidades, o complemento nos remete à ideia de potência e às reflexões de Espinosa (2009) sobre a importância de conceber os indivíduos em contexto relacional. O autor sugere que "se dois se opõem de acordo e juntam forças, juntos podem mais, e consequentemente têm mais direito sobre a natureza do que cada um deles sozinho; e quanto mais assim estreitarem relações, mais direito terão todos juntos"(op.cit, pg, 42). Espinosa (2009), de fato, convida-nos a refletir sobre dois fatos: o primeiro, em que o autor revela a importância da dimensão social e a impossibilidade de pensar os indivíduos como se fossem desapossados daquilo que os constitui, ou seja, ao narrarem a vida na comunidade por eles mesmos, os moradores das periferias fiam-se na potência das multidões. A depender da ordem das conexões entre os seus modos haverá a criação de uma teia de efeitos e de afetos que tornará esses indivíduos mais ou menos independentes ou submissos. Quanto ao segundo trata-se do fato de que ao agirem e representarem-se como uma multidão, os moradores das periferias e das comunidades farão emergir por meio dessa teia de afetos, a própria individualidade. Ao se constituírem numa dimensão social, esses indivíduos adquirem a capacidade e um horizonte de sobrevivência de uma ordem de grandeza diferente do que teriam se estivessem isolados. Assim, o "agora por nós mesmos", constitui tais sujeitos em um corpo político que dota esses moradores de um horizonte de sobrevivência diferente do que tinham. Em todos os episódios do filme, o que os moradores conseguem é promover a aproximação da periferia com o centro. Essa aproximação é evidenciada quando: o jovem

135 favelado tem o sonho de ingressar na faculdade; quando os dois amigos vão até o asfalto em busca de alguma tarefa que lhes renda R$ 5,00; quando os policiais, em parceria com os traficantes, sobem o morro para exterminar o traficante no poder; quando o funcionário da companhia de eletricidade é deixado no morro pelo colega de trabalho. Em todas essas situações, essa estreitamento entre o centro e a periferia caracteriza o "não-lugar; e este parece-nos ser o pano de fundo das produções culturais latinoamericanas. Vale ressaltar que, em todos os episódios, independente da gravidade das situações que são retratadas, o olhar dos moradores evidencia que a periferia não precisa de um olhar estranho ou benevolente para representá-la. Por esse motivo, as histórias não seguem os moldes de produção ou de visibilidade impostos pelos poderes instituídos. Nesse contexto, a periferia produz sua própria imagem e sua própria perspectiva e, como sabemos, os símbolos e pessoas existem em uma relação de mediação mútua e, portanto, constituem mentalidades. Dessa maneira, quanto mais o olhar dos moradores for disseminado, mais outras mentalidades e outros olhares sobre o "não-lugar" poderão ser constituídos. Não podemos, no entanto, negar a intensificação do preconceito quando os moradores dessas comunidades chegam "ao asfalto". Esse preconceito está calcado no temor e no sentimento de exclusividade que a classe média guarda sobre seus direitos. Dito de outra forma, os moradores da periferia tendem a ser rotulados como bandidos ou como perigosos. O recrudescimento do preconceito é claramente abordado no episódio "Fonte de Renda" em que o sonho do jovem favelado de ingressar em uma faculdade o faz ir até o asfalto evidenciando a aproximação entre os lados opostos de uma mesma cidade. Entretanto, ele somente é visível entre os demais colegas de sala quando passa a traficar drogas para custear seus estudos. Sua inclusão desse indivíduo na sala não se dá pelo mérito, afinal ele acaba por se mostrar um excelente aluno; esta passa a se dá pelo que o jovem passa a representar para os demais alunos da classe média: um vendedor de drogas. A despeito da rotulagem "pobre, favelado e traficante de drogas" que está impregnado no imaginário da sociedade, o episódio procura desconstruí-la mostrando como o tráfico de drogas apoia-se na demanda do consumidor. Percepção semelhante pode observada no episódio "Arroz com Feijão" em que, para presentear o pai de um dos personagens, dois amigos são capazes de se sujeitar a qualquer tarefa que lhes renda R$ 5,00 reais: o valor que precisam pagar para comprar um frango

136 vivo. O que o episódio narra é a questão da ética: mesmo em uma situação de carência alimentar os personagens mirim não deixam de agir de forma correta e encontram uma forma de pagar pelo frango que roubam para presentear o pai de um deles. As cenas evidenciam a intensificação do preconceito, da desigualdade e da exploração deixando claro que os dois amigos precisam manter-se "invisíveis" na sociedade desempenhando tarefas pouco nobres como: limpar e guardar carros na rua, "o flanelinha"; limpar esterco de calçadas. No episódio "Concerto para Violino" o tema do tráfico e da convivência entre traficantes e policiais é retomado. Apesar de a violência explícita ser abordada, é a convivência entre os opostos que chama a atenção na narrativa. No episódio, policiais e traficantes unem-se para eliminar o traficante que domina o morro vizinho. A execução de um dos traficantes líderes do morro traz benefícios não apenas aos demais traficantes, mas aos policiais que podem, por meio da comunidade pacificada e sob o comando de um aliado, lucrar mais. O episódio, na verdade, escancara a corrupção policial e a truculência da polícia com os moradores das comunidades mais carentes. No episódio "Deixa Voar", a retratação do simples ato de empinar pipas pode ser entendido como a aspiração de seus moradores por mais respeito e por liberdade. A letra de funk que embala as cenas reafirmam o discurso do "nós x eles" e dos preconceitos que estão impregnados no imaginário da sociedade: preto, favelado e bandido, como se pode observar:

"Vem comigo! Tá na chuva é pra se molhar Se tá no alto deixa voar A lei da selva é cruel pra quem não sabe julgar Traga luz que reluz o mundo ao meu redor Pra comunidade ter uma passagem de ano melhor O sonho que não morre, tá na vida tá no corre Nível superior vai deixar a coroa feliz Ter orgulho daquele moleque é o que sempre se quis Por um triz, a vida pode ganhar nova direção Tem que ficar esperto, que de perto até o certo é vilão Como um concerto para violinos Ter esperança no olhar de vários meninos,

137 De meninas, nas esquinas, personagens com alta frequência em várias chacinas Filme repetido! Morador tratado como bandido É sem valor a vida! O remetente coloca o endereço do inocente na bala perdida". 5X Favela: Agora por nós mesmos, 2010.

Já, no episódio "Acende a Luz", o tom de esperança é retomado. De forma debochada, os moradores do morro celebram o noite de natal junto do funcionário da fornecedora de eletricidade que é abandonado pelo companheiro de trabalho. O que fica para o espectador é a impressão geral do conjunto e não os episódios individualmente. Por se tratar de um projeto coletivo em que os moradores do morro uniram-se para produzi-lo, o resultado é surpreendente ao mesmo tempo em que apresenta a favela e o cotidiano de seus moradores de forma leve e livre de preconceitos. Nesse episódio, a ausência da presença do Estado, em todos os sentidos, não impede os moradores da favela de celebrarem a vida. A forma divertida com que integram o funcionário da companhia de eletricidade à sua celebração atesta a indiferença daqueles que vivem à margem da sociedade frente à ausência do Estado.

Figura 8: 5 X Favela: Episódio Acenda a Luz

Fonte: Adaptado pela autora |Frame do filme 5 X Favela: Agora por nós mesmos

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Figura 9: 5X Favela | Episódio Acenda a Luz

Fonte: Adaptado pela autora |Foto extraída da cena do filme 5 X Favela: Agora por nós mesmos

Na figura 9, por exemplo, o consumo universalizado é retratado de forma irônica. Dispondo de recursos limitados para a realização de certos tratamentos de beleza, os moradores mostram que o importante não é o resultado desses tratamentos, mas a possibilidade de convivência e de celebração que esses momentos representam. A criatividade, como demonstrou a pesquisa, emerge dos "não-lugares" com maior facilidade como resultante da mescla; a periferia, como demonstrou o filme, é o local o qual reúne os modos de vida que corroboram a economia criativa.

139

Ficha Técnica 3: Medianeras: Buenos Aires na Era do Amor Virtual

Título em português e original: Medianeras : Buenos Aires na Era do Amor Virtual.

Ano e país de produção: 2011, Argentina.

Tema do filme: A vida nas grandes cidades e a forma de adaptação de seus moradores aos moldes do desenvolvimento e de consumo universalizado.

Sinopse: O filme argentino Medianeras - Buenos Aires na Era do Amor Virtual traz a história de Martin e Mariana, cujos desencontros acaba por aproximá-los. O casal relaciona-se via internet e nunca se encontrou pessoalmente, mesmo morando em apartamentos um de frente para o outro. O filme é dirigido por Gustavo Taretto e traz os atores Pilar López de Ayala e Javier Drolas na pele dos protagonistas, que não conseguem ficar juntos no mundo offline. A internet representa para ambos personagens um refúgio especialmente em função dos traços de suas respectivas personalidades. Martin trabalha como web designer e se trata de fobias; aos poucos tenta se livrar do isolamento que o consumiu. Marina , por sua vez, trabalha como vitrinista e acaba de sair de um relacionamento de muitos anos; passa a viver em meio à desorganização refletida em seu apartamento.

Dinâmica da narrativa: narrativa clássica: Trata-se de uma narrativa clássica, em que os pontos de vista pelos quais a trama será explicitada é dada a partir de seus personagens. O olhar dos personagens Martins e Mariana refletem, por vezes, o olhar da multidão; daqueles que não conseguem identificar-se na realidade em que se encontram. A figura 10, apresentada a seguir, ilustra bem o sentimento dos personagens com a sensação de inadequação.

140

Figura 10: Multidão de Medianeras

Fonte: Medianeras, 2011

Figura 11: Medianeras: Onde está Wally? (em busca de identificação em meio à multidão)

Fonte: Medianeras, 2011

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Figura 12: Martin e Mariana nas janelas das Medianeras

Fonte: Frame de Medianeras, 2011.

Conclusões: “Medianeras” é um filme que traça um paralelo entre a "arquitetura" e o "sujeito" em uma sociedade cada vez mais informatizada e individualizada. A obra refere-se àquelas paredes sem janelas dos edifícios, também chamadas de paredes cegas. Geralmente, são paredes laterais do prédio que, por sua proximidade com o edifício vizinho, não permitem "abrir janelas". Muitas vezes, esses espaços são usados para afixar outdoors ou algum tipo de publicidade. Elas são funcionais, pois trazem luminosidade às casas e permitem que as pessoas tenham janela. São proibidas por lei, mas mesmo assim muitos descumprem a ordem, em busca de mais claridade em seus apartamentos. O enredo do filme permite-nos inferir que as janelas abertas pelos personagens, em seus respectivos apartamentos, nada mais representam que a percepção de mundo deles. Ambos personagens transitam pela cidade de Buenos Aires, cada qual com suas particularidades, sem fazer parte do contexto. Esse não pertencimento evidencia a relação sujeito – objeto, possibilitando que os personagens ora sejam interpretados como meros transeuntes, ora como flâneur. Verifica-se que os espaços físicos e virtuais em que os personagens transitam possibilitam o "pertencer não pertencendo". A distância é mantida pelo olhar mediado por objetos: no caso de Martin, pelos sites que ele constrói e, no caso de Mariana, pelas vitrines que ela constrói. Atribui-se a esse fenômeno o nome de "cultura do inquilino", em que a passagem das pessoas pelos lugares é fugaz.

142 5.4.3 Análise do conteúdo do filme: Medianeras: Buenos Aires na Era do Amor Virtual

Tem-se como ponto de partida o quadro 4, apresentado a seguir, no qual os temas que foram reconhecidos no filme "Medianeras" são relacionados. Os parágrafos a seguir identificam como os temas podem ser observados no filme.

Quadro 5: Recorte do quadro sinóptico 1: "Medianeras: Buenos Aires na Era do Amor Virtual"

o

de si Ritmo Temas gênero Inovação Consumo emoção e Tecnologia diversidade colaboração Igualdade de promoção da Cultura como sustentado de universalizado Empreendedor desenvolviment desenvolvimento

Medianeras ¤ ¤ ¤ ¤ ¤ ¤ ¤ ¤

Alguns trechos dos diálogos comprovam como a vida nas grandes cidades é influenciada tanto pelos padrões de desenvolvimento quanto pelos padrões de consumo universalizado. No início do longa-metragem, a complexidade da vida nas urbes é retratado. O diálogo a seguir expressa bem a ideia:

Buenos Aires cresce descontrolada e imperfeita, é uma cidade superpovoada em um país deserto, uma cidade em que se erguem milhares e milhares de edifícios sem nenhum critério. Ao lado de um muito alto, existe um muito baixo, ao lado de um racionalista, um irracional, ao lado de um de estilo francês há outro sem nenhum estilo. Provavelmente estas irregularidades nos refletem perfeitamente, irregularidades estéticas e éticas. Medianeras, 2011

O crescimento nas grandes cidades impede-as de valorizar a riqueza arquitetônica incorporada à paisagem urbana, como decorrência das diversas influências culturais a que a cidade de Buenos Aires recebeu e continua a receber. As irregularidades estéticas e éticas da paisagem definem-nos claramente. Ao explicar como os edifícios diferenciam os homens

143 uns dos outros, o personagem Martin explicita dois temas que revestem as economias criativas: o do consumo universalizado e o ritmo sustentado de desenvolvimento. Desse modo, a estratificação do consumo pode ser observada em várias cenas do filme: pela numeração e classificação dos apartamentos em Buenos Aires, como, por exemplo, andares mais altos, frente ou fundos, letras do alfabeto, vista e claridade, que costumam classificar seus consumidores. Quanto mais alto o andar, tanto melhor será a vista e a claridade do imóvel. Quando mais iniciais forem as letras do apartamento (A e B, por exemplo), melhor localização e tamanho do imóvel indicam . O diálogo a seguir expressa bem essa lógica:

Os privilegiados são identificados pela letra A, às vezes B. Quanto mais à frente no alfabeto, pior o apartamento. Medianeras, 2011.

No trecho a seguir, as noções de tecnologia, inovação e ritmo sustentado de desenvolvimento podem ser observados:

Estes edifícios que se sucedem sem nenhuma lógica demonstram uma total falta de planejamento. Exatamente igual à nossa vida, que vamos construindo sem ter a mínima ideia de como queremos que fique. Vivemos como se estivéssemos de passagem por Buenos Aires. Os edifícios, como quase todas as coisas pensadas pelo homem, são feitos para nos diferenciar uns dos outros. As vistas e a luminosidade são promessas que raramente coincidem com a realidade. O que se pode esperar de uma cidade que dá as costas para o seu Rio? Medianeras, 2011

Ao afirmar que Buenos Aires é uma "cidade que dá as costas para o rio", o personagem de Martin está, na verdade, evidenciando a lacuna que se formou quando a complexidade relacional cerzida entre o homem e a natureza foi rompida. A racionalidade típica contida na ideia de desenvolvimento sustentado impede que a conexão entre o homem e a natureza se mantenha. De forma análoga, a numeração dos apartamentos também remete ao paradoxo do crescimento e do desenvolvimento econômico, representado pela descrição de Buenos Aires em plena expansão. Sob o pretexto de desenvolver a cidade, o homem foi excluído do

144 planejamento; ele acabou por ser confinado às moradias e estas, por suas vez, tornam esses indivíduos (in)visíveis. Por fim, o personagem de Martin, mais sensível aos revezes da modernidade mundo, exprime bem suas impressões sobre a vida nas cidades:

Estou convencido de que as separações e os divórcios, a violência familiar, o excesso de canais de cabo, a falta de comunicação, a falta de desejo, a abulia, a depressão, os suicídios, as neuroses, os ataques de pânico, a obesidade, as contraturas, a insegurança, a hipocondria, o estresse e o sedentarismo são responsabilidade dos arquitetos e empresários da construção. Desses males, exceto o suicídio, eu padeço de todos. Medianeras, 2011

Ao optar pela diversificação, as experiências do mundo sensível, essenciais para que o homem transformasse o mundo, perderam importância, tais como: as reflexões filosóficas, a meditação mística, a invenção artística e a pesquisa básica. Essas matrizes elementares da atividade criativa foram subordinadas ao processo de transformação do mundo físico. Por outro lado, a lógica acabou por se inverter: os vínculos da criatividade com a vida humana foram atrofiados, enquanto as ligações com os instrumentos que o homem utiliza para transformar o mundo foram potencializados. A tecnologia de que ambos personagens valem-se para relacionar-se com o mundo são prova dessa inversão. Nesse trecho, pode-se ainda relacionar o tema de emoção e colaboração que a vida nas grandes cidades elimina. Os habitantes das grandes cidades, por viverem em espaços de passagens, não criam os vínculos afetivos e colaborativos que sustentam o discurso das economias criativas.

145 Ficha Técnica 4: Elefante Blanco

Título em português e original: Elefante Blanco | Elefante Branco

Ano e país de produção: 2012, Argentina.

Tema do filme: Drama que retrata a situação de precariedade da periferia de Buenos Aires

Sinopse: Ricardo Darín vive o padre Julián que luta para ajudar os mais necessitados em um bairro de periferia em Buenos Aires. Ao lado do padre Nicolas e da assistente social Luciana, eles vão entrar em conflito com a igreja, o governo, o narcotráfico e a polícia. O drama argentino se passa numa comunidade carente da periferia de Buenos Aires que tem como pano de fundo o esqueleto de uma obra inacabada dos anos 30. Era um projeto socialista de Alfredo Palacios que chegou a aprová-lo no congresso, mas os revezes políticos interromperam a construção algumas vezes: 20 anos após sua aprovação, a construção do maior complexo hospitalar da América Latina é retomado no governo Perón, mas o golpe de 55 fez a obra parar novamente e permanecer inacabada. A ocupação do espaço teve início nos anos 70 e o esqueleto da estrutura ficou conhecido como o "elefante branco". A paróquia instalada na favela de Vila Virgen é dirigida pelo padre Julián. O início de Elefante Branco trata de mostrar ao espectador as circunstâncias onde Julián conhece o belga Nicolás, o seu escolhido para sucedê-lo na direção da igreja. As razões para que Julián tome tal atitude também são lançadas nos primeiros momentos de projeção.

Dinâmica da narrativa: trata-se de uma narrativa clássica que se preocupa em proporcionar um fechamento para todos os assuntos que foram tratados no filme. Sua ordem é linear e o encadeamento de eventos, em relações de causa e efeito atestam ser uma narrativa onisciente e objetiva.

Pontos de vistas em que o sentido da narrativa seja explicitado: a narrativa é feita sob a perspectiva do Padre Julián que, por vezes, sente-se impotente diante da instituição que representa.

146 Conclusões: A antiga estrutura que abrigaria o maior complexo hospitalar da América do Sul é tomada pelos cidadãos excluídos de Buenos Aires. Por tratar-se de uma estrutura imensa e em meio a paisagem urbana a alcunha de "Elefante Branco" lhe é dada além de delatar os problemas das grandes cidades. Os cidadãos excluídos da lógica do desenvolvimento dos grandes centros urbanos são os que ocupam essa estrutura. Porém, como o esqueleto do antigo projeto é suntuoso demais para passar desapercebido, aqueles que ali vivem também não permanecem desapercebidos. A igreja, presente desde os primórdios da ocupação, por vezes é omissa diante da total ausência do poder público na região. A maioria das cenas ocorre em meio a chuva; como não há asfalto ou saneamento básico, os becos e vielas da ocupação estão sempre em meio a lama. Com a ausência do estado, a localidade torna-se palco ideal para a proliferação da violência e do tráfico de drogas. Liderados pela igreja, os moradores locais são orientados em suas ações de planejamento e de execução de benfeitorias na comunidade. O projeto liderado pelo Padre Julien espera construir moradias populares para todos os assentados. Há um sentimento de emoção e de colaboração presente em todas as obras em andamento nos diversos pontos da comunidade. Em cada viela, em casa beco a colaboração emerge como um fator importante entre os menos favorecidos. Mesmo com todos os esforços dos que nela vivem, há dependência das instituições que podem transformar aquele local em uma comunidade digna. Como esperado, o projeto fracassa ora por conta da incapacidade de articulação entre os diferentes órgãos públicos ora em função da corrupção. Um dos personagens do filme, Estéban, representa a síntese da maioria dos problemas sociais do bairro. Sua luta pessoal contra o vício representa os altos e baixos da própria narrativa do filme assim como os sucessos e fracassos da intervenção da igreja no cotidiano da comunidade carente. A morte do personagem Estéban e do Padre Julián também marca a falência do projeto "Vila Virgen". Nicolás, o escolhido de Padre Julián para dar continuidade ao projeto, apesar de tentar viver longe daquela realidade é dragado de volta à comunidade para a procissão de inauguração da capela de Vila Virgen. Durante a procissão, Padre Julián é aclamado "padre favelado" e seus moradores a intitulam de "Cidade oculta" revelando que a estrutura imponente de uma construção abandonada impede que aquela comunidade seja esquecida.

147 Figura 13: Padres Julián e Nicolás tentando salvar Estéban

Fonte: Elefante Branco, 2012.

5.4.4 Análise do conteúdo do filme "Elefante Blanco"

O ponto de partida para a análise do filme "Elefante Blanco" é o quadro 5 apresentado a seguir em que os temas que foram reconhecidos no filme estão relacionados e passam a ser discutidos.

Quadro 6: Recorte do quadro sinóptico 1: "Elefante Blanco"

de si Ritmo Temas gênero Inovação Consumo emoção e Tecnologia diversidade colaboração Igualdade de promoção da Cultura como sustentado de universalizado Empreendedor desenvolvimento desenvolvimento

Elefante Blanco ¤ ¤ ¤ ¤ ¤ ¤ ¤

A trilha sonora que é utilizada enquanto o Padre Julián apresenta o projeto e a comunidade ao recém chegado padre Nicolás, da banda Intoxicados, chama a atenção não apenas pela letra, mas pelo teor de crítica que se anuncia no filme. A música "Las cosas" embala as cenas mencionadas:

148 Me gustan las chicas, me gustan las drogas me gusta mi guitarra, James Brown y Madonna Me gustan los perros, me gusta mi estéreo me gusta la calle y algunas otras cosas pero lo que más me gusta son las cosas que no se tocan Me gusta el dinero para comprarme lo que quiero me gustan las visitas para matar el tiempo me gusta esta luz, me gusta esta sombra me gustan los grupos que no están de moda me gustan los autos, los trenes, los barcos me gusta que al que espero no tarde más de un rato me gusta el arroz, me gusta el puchero me gusta el amarillo, el rojo, el verde y el negro pero lo que más me gusta son las cosas que no se tocan Por eso me gusta el rock.

Elefante Blanco, 2012.

Ao analisar o recorte da letra da música a seguir pode-se realizar uma analogia entre o crescimento desordenado da comunidade e o ritmo sustentado do desenvolvimento econômico que é pressuposto da economia criativa:

[...] me gusta que al que espero no tarde más de un rato me gusta el arroz, me gusta el puchero me gusta el amarillo, el rojo, el verde y el negro pero lo que más me gusta son las cosas que no se tocan [...] Elefante Blanco, 2012. Como havia sugerido Bresser-Pereira (2007c), apesar de haver um entendimento de que "crescimento econômico" e "desenvolvimento econômico" sejam sinônimos, os conceitos podem significar dois polos de uma mesma moeda. Se, desenvolvimento econômico pressupõe a acumulação sistemática de capital e a incorporação do progresso técnico ao trabalho e ao capital que, por sua vez leva ao aumento sustentado da produtividade ou da renda por habitante e, consequentemente, os salários melhores

149 garantem melhores condições de vida e incremento nos padrões e vida e de bem-estar, na medida em que a comunidade cresce, ela torna-se mais desigual e portanto menos capaz de incluir os recém-chegados ao projeto de moradias populares da igreja. O que se quer dizer com isso é que se não houver a presença forte do Estado, não haverá o desenvolvimento daquela comunidade tampouco se assegurará as condições necessárias para se promover o crescimento econômico de seus moradores. Quando o conflito de interesses entre os desejos da igreja de concluir o projeto de moradia popular se choca com os interesses das instituições públicas, fica claro que enquanto não houver um projeto também por parte dos poderes instituídos, não haverá meios de se incluir aqueles cidadãos na lógica do ritmo sustentado de desenvolvimento. Enquanto a "cidade oculta" mantêm-se à margem e na periferia assegura-se a possibilidade de desenvolvimento daqueles que se beneficiam da acumulação sistemática de capital. A corrupção encontra nessas circunstâncias o cenário ideal para impedir que o crescimento econômico seja estendido àqueles que ali vivem. Outro elemento que merece destaque nessa análise é a presença de três padres pertencentes à teologia da libertação. Trata-se de uma corrente teológica cristã nascida na América Latina cuja premissa sugere que o Evangelho exija de seus praticantes a opção por trabalhar pelos menos favorecidos. Especula-se que o movimento tenha como marco inicial a publicação do livro "A teologia da libertação" de autoria do padre peruano Gustavo Gutiérrez. A teologia da libertação costuma ser descrita como a reinterpretação analítica e antropológica da fé cristã face aos problemas sociais. A crença defendida pelos seus proponentes inclui a unificação das igrejas (ecumenismo) com vistas a busca de uma unidade entre as religiões; inclui também a inculturação da fé, ou seja, a influência recíproca entre o cristianismo e as culturas dos países onde a fé cristã é praticada. Há cenas no filme que sugerem essa influência recíproca: durante o velório dos traficantes, por exemplo, o culto aos mortos mistura-se aos ritos cristãos; as missas que são celebradas na comunidade também acomodam as crenças de curandeiras locais e suas rezas. As curandeiras são tão ou mais respeitadas quanto os padres que celebram as missas. Observa-se também que a parte externa da capela que tem suas paredes grafitadas: de uma lado a imagem da Virgen e do outro a imagem do Padre Carlos Mugica.

150 Figura 14: Paredes Externas da Capela de Vila Virgen

Fonte: Elefante Branco, 2012.

Segundo o portal da Agência de Notícias Europa Press31, em matéria publicada no último dia 11 de maio de 2017 na seção "Notimerica", intitulada " Carlos Mugica, el sacerdeto que defendió a los pobres Argentinos", na data de veiculação da matéria o assassinato do Padre Carlos Mugica completava 43 anos. Segundo o portal, o padre havia sido atacado pela Tripla A - Aliança Anticomunista Argentina - uma organização de direita ironicamente liderada pelo então Ministro do Bem-Estar Social José López Rega. Padre Carlos Mugica era um sacerdote e professor argentino vinculado ao Movimento dos Sacerdotes para o Terceiro Mundo. Foi assassinado no bairro de Matadero em 1974 e seu sacerdócio foi caracterizado por seu trabalho dirigido aos pobres. A maior parte de seu trabalho comunitário foi realizado na Vila 31 de Retiro onde fundou a paróquia Cristo Obrero. Padre Mugica ficou conhecido como "cura villeros", um movimento de sacerdotes da Igreja Católica surgido na Argentina no final da década de 1960 em que seus sacerdotes

31 O portal da Agência de Notícias Europa Press pode ser acessado em http://www.notimerica.com/politica/noticia-carlos-mugica-sacerdote-defendio-pobres-argentinos- 20170511092357.html

151 viviam nas vilas emergenciais ou bairros precários promovendo o compromisso ativo e a ação pastoral com as que pessoas que ali habitam. Dessa maneira, quando os padres apresentam a comunidade como sendo "o projeto" e falam de seus moradores, eles estão falando de um local que acomoda e promove a diversidade; um local em que preserva-se a igualdade de gênero ao mesmo tempo em que lida com a falta, com a exclusão, com a marginalidade e sonha com todos os produtos do consumo universalizado. A narrativa ganha força com a presença dos padres e o envolvimento deles com as diversas situações que adicionam dinamismo à trama. A retórica da aproximação do centro com a periferia é retomada e o discurso do "nós x eles" emerge com força total. A vida nas margens acaba por relegar o futuro de jovens e crianças a uma realidade que os impede de ver além daquela situação. As constantes intervenções policiais apenas agravam o caos que se instaura a cada amanhecer na comunidade. Assim, presos a uma realidade que lhes furta o potencial inventivo e transformador da realidade, os "drogados", os "favelados" e outras nomeações que os impedem de ser vistos de forma distinta, os aprisiona naquela realidade e nos impede de criar oportunidades de integração. O fato é que quando os inscrevemos nesses coletivos típicos da lógica ocidental - dual e binária - a sociedade do entorno se isenta da responsabilidade de reconhecê-los como cidadãos. Acirra-se a noção de que a nós é assegurado o direito de proteção e cidadania enquanto à eles não há qualquer garantia. O acirramento dessa divisão "nós x eles" acaba por justificar a presença truculenta da política, a violência excessiva, as mortes injustificadas e o tratamento impiedoso com todos aqueles que ali vivem. O conflito de interesses torna-se evidente quando há a aproximação entre o centro e a periferia: ao delatarem os abusos praticados na comunidade, os padres Julián e Darín são repreendidos por seus superiores que insistem em afirmar que o alcance da igreja limita-se a algumas ações e não ao problema como um todo. O que de fato se evidencia nessas cenas são as variações; elas por si só configuram-se como problemas primeiro porque significam um desdobramento tradutório daquilo que se pensava uno ou exemplar, ou seja, as mazelas contidas na miséria desdobram-se em desigualdade social e na exploração das pessoas. As variações, como sabemos, acabam por causar certo desconforto tanto nas pessoas quanto nos poderes instituídos porque exige destes a constante necessidade de interpretação ou reinterpretação. Assim, quando os confrontos se intensificam, a igreja emerge como uma

152 espécie de apaziguadora da tensão. A cena retratada na figura 13 explicita bem esse papel (observar os cidadãos carregando fotos do Padre Carlos Mugica): Figura 15: Missa sendo celebrada para aplacar a briga entre a comunidade e os policiais

Fonte: Elefante Branco, 2012.

Figura 15: Elefante Branco: Padres Nicolás e Darín

Fonte: Elefante Branco, 2012.

153

Figura 16: Elefante Blanco: o esqueleto

Fonte: Elefante Branco, 2012.

Por fim, a própria presença de padres da Teologia da Libertação nos permite inferir que em alguma medida há o entendimento de que a cultura seja a base do desenvolvimento. Como mencionado anteriormente, o pensamento defendido por essa corrente ideológica leva em consideração tanto a paisagem em que se insere quanto as produções que dela decorrem. A cena que corrobora tal inferência é uma das finais: após a morte do Padre Julián e de Estéban numa ação policial, Padre Nicolás retira-se da comunidade para restabelecer-se tanto dos ferimentos físicos quanto morais. Quando retoma o projeto deixado por Padre Julián, Padre Nicolás participa de uma procissão organizada pela igreja em homenagem à morte de Julián. Os moradores que seguem a procissão aclamam o padre como o "padre favelado" reiterando a capacidade tradutória contida nas ruas e comunidades. A imponência representada pelo esqueleto abandonado impede que a comunidade seja esquecida ou passe desapercebida na paisagem urbana.

154 Figura 17: Cena da procissão em homenagem ao Padre Julién

Fonte: Elefante Branco, 2012.

155 Ficha Técnica 5: Trash: a esperança vem do lixo

Título em português e original: Trash: a esperança vem do lixo

Ano e país de produção: 2014, Brasil.

Tema do filme: Violência policial, corrupção, situação carcerária, preconceito racial, lixo e a troca de favores entre políticos e instituições

Sinopse: O filme, baseado no livro de Andy Mulligan, acompanha as aventuras de três pré- adolescentes que vivem num lixão do Rio de Janeiro e encontram uma carteira que esconde códigos para a grande fortuna de um político corrupto. Quando se veem em uma aventura que envolve diretamente os personagens José Angelo (Wagner Moura), Frederico (Selton Mello) e Antônio Santos (Stepan Nercessian), os três (Raphael, Gardo e Rato) precisarão lutar contra inimigos poderosos. A corrupção é apenas um dos temas abordados pelo diretor; a troca de favores entre políticos e instituições também é evidenciada na obra: alteram-se os nomes da CBF por ABF e Templo Universal para Igreja Universal.

Dinâmica da narrativa: a narrativa não linear, em que o enredo é tratado do final para o começo.

Pontos de vistas em que o sentido da narrativa seja explicitado: o ponto de vista utilizado é o das vítimas. Os meninos que encontram a carteira no lixão onde trabalham acabam sendo enredados em uma história de corrupção e de mortes, da qual tentam se desvencilhar o tempo todo.

Conclusões: Wagner Moura, cujo rosto estampa o pôster, aparece pouco, mas logo compreende-se o motivo: busca a justiça a qualquer custo (mesmo que por meios errados). Moura representa um fio de esperança em um país sem lei. Quem ganha destaque é Selton Mello, no papel do policial truculento Frederico. Outros nomes conhecidos do público também aparecem, mesmo que por breves instantes: Jesuíta Barbosa, André Ramiro, Nelson Xavier e Gisele Fróes são alguns deles. Quando desvendam o mistério que cerca a

156 carteira que acharam, e resgatam as provas que incriminam policiais, religiosos e instituições, os protagonistas mirins encontram uma maneira de se livrarem da ação da polícia e dos demais interessados na fortuna que José Ângelo havia roubado de um político corrupto. Ao resgatarem o dinheiro da corrupção, os jovens o distribuem aos moradores do lixão sem qualquer ressalva e deixam com o padre e a missionária americana as provas que incriminam todos. Eles tomam um transporte e seguem para uma região litorânea, onde retomam a vida. A delação de todo o esquema de corrupção é tornado público pelas mãos do padre e da missionária americana, que moram na comunidade que se desenvolveu no entorno do lixão. Figura 18: Cena do filme Trash: a esperança vem do lixo | funeral da filha de José Ângelo

Fonte: Filme Trash: a esperança vem do lixo, 2014.

5.4.5 Análise do conteúdo do filme "Trash: a esperança vem do lixo"

A análise do conteúdo de “Trash: a esperança vem do lixo” inicia-se com a identificação dos temas reconhecidos no filme e relacionados no quadro 7, apresentado a seguir:

157 Quadro 7: Recorte do quadro sinóptico 1: "Trash: a esperança vem do lixo"

da

de si Ritmo Temas gênero Inovação Consumo emoção e Tecnologia diversidade colaboração Igualdade de promoção Cultura como sustentado de universalizado Empreendedor desenvolvimento desenvolvimento

Trash: a esperança em ¤ ¤ ¤ ¤ ¤ do lixo

A organização dos acontecimentos de forma não linear de Trash já sugere o teor de crítica do filme. As primeiras cenas são de violência extrema e apresentam o conflito condutor do enredo logo de início. A personagem de José Ângelo é perseguida, torturada e espancada até a morte. Seu corpo é desovado em um lixão da cidade do Rio de Janeiro, de forma que os envolvidos no crime tivessem pouca ou nenhuma possibilidade de serem associados a ele. O problema é que a carteira de José Ângelo, com seus documentos e com os códigos para decifrar o enigma que cercam o filme, estão nesta carteira. Por descuido dos policiais, a carteira não é removida do corpo antes deste ser jogado no lixão, e acaba sendo um rastro do crime no qual Frederico e outros estão envolvidos. Os personagens mirins, Raphael e Gardo, são apenas catadores de lixo como tantos outros que dali extraem seu meio de vida. Entusiasmado com a carteira e com o pouco dinheiro que encontra nela, Raphael decide guardar os documentos e, com o dinheiro, comprar comida para dividir com as pessoas do barraco em que vive. Ao se dar conta da falta de atenção de seus comparsas, Frederico e outros policiais iniciam uma busca incansável à carteira de José Ângelo. É essa sagacidade dos personagens mirins que faz despistar inicialmente a atenção dos policiais, mas desconfiados da compra do frango, o responsável pelo lixão delata Raphael e a perseguição tem início. O menino é capturado por policiais e espancado até se certificarem de que o menino não tinha qualquer informação sobre o crime que fora cometido. Devido à violência policial sofrida, Raphael é levado para a casa do padre e da missionária americana, que vivem na comunidade do entorno do lixão. Ali, começam a especular a missionária sobre o que deveriam fazer para investigar o mistério que estava por trás daquela carteira.

158 Sem dar muita importância aos meninos, a missionária sugere que eles iniciem a busca pela casa do dono da carteira e que reúnam evidências sobre as possíveis causas daquela violência. Os policiais apertam o cerco contra os moradores do lixão até chegarem à missionária e ao padre americano. Ambos negam ter qualquer conhecimento sobre o mistério que envolve a carteira, porém se preocupam com os meninos e seus destinos; afinal, são alunos da igreja, e sempre estiveram naquela comunidade. O enredo evolve-nos de forma a garantir que as pistas sejam, gradualmente, decifradas e os meninos mais próximos descobrirem o paradeiro da fortuna que José Ângelo havia roubado. Frederico, o policial truculento que manda espancar Raphael, passa a ser pressionado pelo político a quem pertence o dinheiro roubado. Ele mesmo decide ficar no encalço dos meninos. Desse moco, as cenas de perseguição evidenciam bem as desigualdades e a exploração a que são submetidos os moradores de comunidades carentes. Para a polícia, os cidadãos pobres e negros têm pouco valor e podem ser submetidos à violência, sem possibilidade desses policiais serem responsabilizados por isso. A tônica do conflito parece-nos ser similar à identificada em "Elefante Blanco" e em "5X Favela: agora por nós mesmos": quando há a aproximação da periferia do centro, instaura-se a lógica do "nós x eles", um coletivo típico da lógica ocidental que se isenta da responsabilidade de reconhecê-los como cidadãos. Nesse sentido, a vida nas margens acaba por tolher o futuro de jovens e crianças que vivem na comunidade do entorno do lixão. Os sonhos de aprenderem a falar inglês com a missionária americana é um dos exemplos de como a vida nas margens tem poucas opções. Situação análoga poder ser observada com a população carcerária também retratada no filme, uma vez que a superlotação, a falta de programas sociais efetivos com vistas à ressocialização e à reintegração dos indivíduos à sociedade relega os internos a condições limitantes.

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Figura 19: Personagens mirins | "Viver nas margens

Fonte: Filme Trash: a esperança vem do lixo, 2014.

Figura 20: Presidiário combinando com agente carcerário a entrega da Bíblia para Gardo

Fonte: Filme Trash: a esperança vem do lixo, 2014.

O conflito de interesses torna-se mais uma vez visível quando há a aproximação entre o centro e a periferia: ao delatarem os abusos praticados na comunidade, os missionários religiosos americanos são repreendidos pelos policiais e têm seus passaportes

160 requisitados. Detidos temporariamente para maiores esclarecimentos, a corrupção das instituições policiais deixa claro que não medem esforços para eliminarem possíveis provas contra elas próprias. O que de fato evidencia-se nessas cenas são as variações; elas por si só configuram-se como problemas, primeiro porque significam um desdobramento tradutório daquilo que se pensava uno ou exemplar, ou seja, as mazelas contidas na miséria desdobram-se em desigualdade social e na exploração das pessoas. As variações, como sabemos, acabam por causar certo desconforto, tanto nas pessoas quanto nos poderes instituídos, porque exige destes a constante necessidade de interpretação ou reinterpretação. De forma semelhante àquilo que foi observado em "Elefante Blanco", quando há intensificação dos confrontos no lixão, a intervenção dos missionários americanos ameniza, temporariamente, as pressões sobre os moradores locais. Quando finalmente desvendam o mistério, os personagens mirins descobrem que a filha de José Ângelo não havia morrido; seu enterro fora uma simulação, um bode expiatório utilizado por José Ângelo para despistar os interessados do local de onde ele havia guardado o dinheiro da corrupção. A filha de José Ângelo une-se a Raphael, Gardo e Rato ,para começarem uma nova vida.

Figura 21: Cena do filme Trash: a esperança vem do lixo

Fonte: Filme Trash: a esperança vem do lixo, 2014.

161

Figura 22: Cena Filme: Trash: a esperança vem do lixo

Fonte: Adaptado pela autora |Foto extraída da cena do filme Trash: a esperança vem do lixo

162 Ficha Técnica 6: El abrazo de una serpiente

Título em português e original: El abrazo de una serpiente | O abraço da serpente

Ano e país de produção: 2016, Argentina.

Tema do filme: a temática central do filme diz respeito ao choque da conquista decorrente do processo de colonização ocidental sobre os povos indígenas.

Sinopse: O Abraço da Serpente relata o choque cultural vivido pelos povos indígenas do norte do Brasil e da Amazônia venezuelana, no início do século XX, quando o contato com o ocidente intensifica-se em decorrência do ciclo da borracha e da presença dos seringueiros. Utilizando os relatos do etnologista e explorador alemão, Theodor Kock-Grunberg, sobre os nativos do Rio Xingu, Japurá, Negro e Orinoco, a trama conduz a um olhar complexo a respeito dos povos nativos do Brasil e do norte da América do Sul. A busca épica pela yakruna, uma erva nativa com alto potencial de cura, faz com que os personagens vivam uma jornada transformadora. Na medida em que o contato com índios de tribos mais isoladas e com os assentamentos religiosos ocorre, Karamakate e Theodor Van Martius, personagens centrais da trama, cada qual com seu olhar, são transformados em suas crenças e visões de mundo. As obras como Começo da Arte na Selva (1902), Dois Anos Entre os Indígenas: Viagens no Noroeste do Brasil (1903/1905) e, principalmente, De Roraima ao Orinoco: Resultados de uma Viagem no Norte do Brasil, além de Na Venezuela nos anos 1911-1913, trouxeram um complexo olhar para os historiadores a respeito dos povos nativos do Brasil e do norte da América do Sul, cujas lendas e costumes relatados por Grunberg foram utilizados na literatura por Mário de Andrade em sua obra Macunaíma (1927). As cenas da trama misturam a viagem feita por Theodor Van Martius (nome fictício para o etnólogo alemão Theodor Kock-Grunberg), 40 anos antes, e a viagem refeita por Richard Evans Schultes, considerado o pai da etnobotânica moderna. A botânica, a biologia, a história e as culturas diferentes dos dois homens mesclam-se às de duas eras indígenas, encontrando e lidando com povos e situações muito distantes da realidade do mundo ocidental. Como resultado do contato entre os povos, da mistura de culturas e do avanço de

163 interesses econômicos no início do século XX, merece destaque o impacto causado pelo ciclo da borracha e dos seringueiros na região. A missão religiosa, e o que isso se tornará alguns anos depois, também nos causa um forte impacto emocional e põe em cena a subtração antropológica da cultura indígena pela catequização, cuja dura crítica vem na segunda parte do filme, pois traz um Messias louco em um lugar quase infernal. É o olhar de um indígena e de um homem que medem a aculturação a longo prazo, não necessariamente como um fato consumado e real. Boa parte da obra entrega-nos à natureza e às coisas por meio de uma percepção espiritual, simbólica ou metafórica, e essa sequência do pseudo-Messias, assim como o desfecho de princípio de vida, é uma excelente representações disso, uma forma de metaforizar e espiritualizar a História, transformando indivíduos animistas/politeístas em loucos cristãos, penitentes, fanáticos e caçadores de uma fé que apenas lhes trouxe ruínas tanto físicas quanto culturais. O desfecho da obra é marcado pelo encontro do espectador com a lenda de renascimento do índio (integrado ao Universo): intimamente ligadas ao propósito final das lendas que sustentam O Abraço da Serpente, ou seja, o cumprimento de uma épica missão para encontrar a si mesmo e, então, ver tudo recomeçar sob uma outra égide, um novo olhar, um novo significado. O filme serve de reflexão sobre dois aspectos bastante diferentes: os impactos humanos, culturais, naturais e antropológicos da colonização e catequização e a forma como nós, indivíduos descendentes dessa tradição, lidamos com isso, em qualquer instância imaginável.

Dinâmica da narrativa: trata-se de uma narrativa com texto ficcional não linear, que mescla cenas do momento atual com a viagem realizada pelo etnologista alemão, 40 anos atrás.

Pontos de vistas em que o sentido da narrativa seja explicitado: o ponto de vista explicitado é o do índio Karamakate, durante a jornada que havia realizado 40 anos antes, e o ponto de vista dele ao refazer a jornada com outro cientista.

Conclusões: trata-se de uma crítica e uma reflexão sobre o choque da conquista causado pelo contato dos povos indígenas com o ocidente e, em especial, com as mazelas trazidas

164 pelo ciclo da borracha e a chegada dos seringueiros à região norte do Brasil e à Amazônia venezuelana. Figura 23: Karamakate refazendo a viagem que havia feito há 40 anos

Fonte: El abrazo de una serpiente, 2016.

5.4.6 Análise do conteúdo do filme "El abrazo de una serpiente"

A análise do conteúdo de "El abrazo de una serpiente" inicia-se com a identificação dos temas reconhecidos no filme e relacionados no quadro 8, apresentado a seguir:

Quadro 8: Recorte do quadro sinóptico 1: "El abrazo de una serpiente "

de si Ritmo Temas gênero Inovação Consumo emoção e Tecnologia diversidade colaboração Igualdade de promoção da Cultura como sustentado de universalizado Empreendedor desenvolvimento desenvolvimento

El abrazo de ¤ ¤ ¤ ¤ ¤ ¤ una serpiente

Para analisar o filme, é preciso esclarecer o que é mestiçagem e o local em que esses processos ocorrem: nos espaços criados pela colonização, as chamadas zonas estranhas. Para Gruzinski (2001), o processo de mestiçagem não é recente e está diretamente relacionado às premissas da globalização econômica, cujo início data da segunda metade do século XVI. Segundo o autor, tanto do ponto de vista da Europa e da América, quanto da Ásia, o século XVI foi, por excelência, o século ibérico. Entretanto, o autor convida-nos a refletir sobre o sentido, os limites e as ciladas que se escondem na metáfora tão cômoda do

165 termo mistura. Sem muitos questionamentos acerca das dinâmicas que o termo pressupõe, quando há a mistura dos seres humanos e dos imaginários, há mestiçagem, afirma o autor. Mais que isso, o autor sugere que algumas associações devam ser evitadas, ao se falar de mestiçagens, pois, para ele, a ideia que remete a [sic] palavra mistura não tem apenas o inconveniente de ser vaga [...] mistura-se o que não está misturado [...] ou seja, elementos homogêneos, isentos de qualquer contaminação (Gruzinski, 2001, p. p. 42).

O mesmo ocorre quando se utilizam as terminologias de mestiçagem biológica e mestiçagem cultural; tanto em uma, quanto em outra, deve haver a pressuposição de que exista algum elemento puro, intocado, que está prestes a ser fundido ou amalgamado com outro. Porém, sabemos que, em ambos casos, não há qualquer elemento puro, pois a própria dinâmica existente nesses processos impede-nos de afirmar a existência de algo puro. Para Gruzinski (2001, p.45), foi o antropólogo mexicano Gonzalo Aguirre Beltrán quem demonstrou que as

mestiçagens são resultado da luta entre a cultura europeia colonial e a cultura indígena [...] os elementos opostos das culturas em contato tendem a se excluir mutuamente, eles se enfrentam e se opõem uns aos outros; mas, ao mesmo tempo, se interpenetram, se conjugam e se identificam. Os projetos de expansão ultramarina, iniciados pelos portugueses e levados a cabo do século XVI até o final do século XIX, com a partilha da África, criaram, ao longo do percurso e dos espaços, inúmeros processos de mestiçagem. Na maioria deles, a lógica que prevalecia era a do dominador, do descobridor, que, sob a pecha de ser mais civilizado, dizimava todo e qualquer traço de cultura local ou resquício de resistência. Assim, como pensa Boaventura Santos (2010, p.181), a dificuldade de se distinguir quem descobre e quem é descoberto sugere uma relação desigual entre poder e saber, pois aquele que “tem mais poder e mais saber possui […] a capacidade para declarar o outro descoberto”. Essa relação desigual permeia o enredo do filme do início ao fim. Nesse jogo de descobertos e descobridores, em especial na América Latina, os processos de mestiçagem, quando ocorreram, criaram dinâmicas novas e mal compreendidas, pois o termo que melhor descrevia tais processos era a mistura; e as misturas, consoante o ideário positivista, era visto como algo inferior – para não dizer

166 trágico. Além disso, não pressupunham a linearidade, ou a ideia de ordem, visto que os processos de mestiçagem ocorrem justamente em contextos de caos e desordem. Apenas na metade do século XX é que a mistura foi vista como algo afortunado e digno de ser explorado – ou melhor – compreendido, pois todas as fórmulas legitimadoras de poder não haviam logrado êxito na América Latina, nem tampouco no Brasil. Entre percepções, inicialmente trágicas e depois afortunadas, Gruzinski (2001) sugere-nos que o grande entrave para se compreender o processo das misturas estava nas definições que o termo “cultura” abarcava. Para os antropólogos, cujo objeto de estudo era a cultura primitiva, esse conceito envolvia tudo: desde ritos, mitos, narrativas, costumes e até artefatos. Já para os sociólogos, cujo objeto de estudo não era a sociedade primitiva, mas sim a sociedade moderna, o conceito de cultura estava restrito às produções que emanavam da própria sociedade. Assim, havia a prevalência de que cultura era apenas aquilo produzido pelas elites, ou, no mínimo, visto como erudito. É desse antagonismo que surge a ideia ou o pensamento mestiço, cuja aderência, por parte de alguns autores como Martin-Barbero contempla a complexidade necessária para se ampliar a visão daquilo que é produzido nos processos de mestiçagem. Enquanto Martin-Barbero (2010) preocupa-se e se ocupa com as mediações nessa abordagem. Tal distinção é importante, porque é a partir dela que se compreende como o imaginário dessas sociedades é formado. Todavia, questiona-se: por que os processos de mestiçagem ocorrem em locais onde a colonização ocorreu? O que há de tão especial nessas “zonas estranhas”? Figura 24: Karamakate chegando ao local em que há os últimos exemplares da yakruna

Fonte: El abrazo de una serpiente, 2016.

167 Como toda descoberta tem algo de imperial, o segundo milênio não poderia ter sido caracterizado de outra forma, senão como sendo o milênio das descobertas e o Ocidente como o mais importante dos descobridores. Entretanto, é necessário esclarecer que a descoberta imperial tinha duas dimensões: a empírica - com o ato da descoberta propriamente dita- e a conceitual, cuja essência assenta-se na ideia que se tem acerca daquilo que se descobre. Nessa perspectiva, indaga-se: que processos de descoberta foram utilizados?; quais foram suas consequências para os colonizados? Para Gruzinski (2001, p.64), as mestiçagens dos tempos modernos dão-se em águas turvas, em leitos de identidades quebradas. Se nem todas as mestiçagens nascem de uma conquista, as desencadeadas pela expansão colonial na América, iniciam-se sobre os escombros de uma derrota.

Tudo aquilo que se seguiu do processo de colonização representava a quebra das identidades locais: estragos da guerra, fome, tirania dos intermediários, extorsões de todos os tipos, escravidão, busca desenfreada de ouro, divisão entre vencedores e aniquilação. Seguramente, o cenário de caos em que os povos primitivos foram lançados foi o responsável pela perda gradual dos laços de pertencimento que esses tinham. As cenas que mais explicitam essa situação de desenraizamento são aquelas em que Karamakate volta ao assentamento jesuíta no meio da floresta amazônica. As situações ali retratadas deixam claro como as formas de catequese foram as responsáveis pelo apagamento da cultura e dos costumes dos povos indígenas. Vale ressaltar que esse processo de aniquilação não se iniciou abruptamente; ele ocorreu ao longo do século XVI até o XIX, momento em que o reino de Portugal preocupou- se em aparelhar politicamente a colônia Brasil. Gruzinski (2001) atribui a esse processo a definição de “choque da conquista”.

168 Figura 25: Brancos e índios em contato

Fonte: El abrazo de una serpiente, 2016.

A referência ao termo “choque da conquista”, feita pelo autor, considera não apenas o impacto que o intercruzamento de conquistadores e populações autóctones viveram, mas também, e especialmente, o resultado do entrave. Para ele, “foi o embate entre imaginários tão distintos que estimulou a capacidade da invenção e da improvisação exigidas pela sobrevivência” (Gruzinski, 2001, p. p. 92). Em seu livro “O Pensamento Mestiço”, apesar de analisar em detalhe como esse choque apareceu na América espanhola, é possível realizar a comparação entre suas reflexões e as observações feitas por Santos (2010) acerca do colonialismo português. A primeira diferença evidenciada por Santos (2010, p.227) com relação ao colonialismo português deve-se ao fato de Portugal ser “desde o século XVII um país semiperiférico no sistema mundial capitalista”. Ao longo dos séculos, suas características fundamentais - como o desenvolvimento econômico intermediário e seu papel de intermediador entre o centro e a periferia da economia mundial- mantiveram-se inalteradas. Segundo as palavras de Santos (2010, p.227), “um Estado, que por ser produto e produtor dessa posição intermediária, nunca assumiu plenamente as características do Estado moderno dos países centrais”. Tanto os processos culturais quanto os sistemas de representação portugueses não se encaixavam bem nos binarismos propostos pela

169 modernidade ocidental, pois Portugal era considerado um país originariamente híbrido. Assim, a condição semiperiférica desse país acabou por se reproduzir em seus domínios coloniais. A condição de subalterno do próprio país colonizador criou, segundo Santos (2010, p.229), a condição de secundariedade e dependência externa em seus domínios territoriais. Todas as “fórmulas” empregadas pelos portugueses já eram contaminadas por esse pensamento e impregnaram as configurações do poder social, político e cultural. Se a cultura portuguesa já é uma cultura fronteiriça, então quais foram os impactos causados na consolidação do poder do próprio Estado em seus domínios? Para o autor, o papel do Estado foi difícil, pois “[...] diferenciou a cultura do território nacional relativamente ao exterior”, ao mesmo tempo em que “promoveu a homogeinização cultural do interior do território nacional, muitas vezes às custas da destruição das culturas mais refratárias à homogeneização”. Como resultado desse embate, o Estado nunca se perfez integralmente no Brasil, bem como não é possível avaliar de que forma as práticas e os discursos típicos do colonialismo português impregnaram os processos identitários nas sociedades de que dele participaram. Não é por outra razão que a identidade nacional brasileira nunca se definiu, já que viveu o processo de “crise” ao longo dos séculos XIX e XX, a qual impediu as instituições políticas reinantes de colocarem em curso seu projeto de poder.

Figura 26: Karamakate curando Theodor Von Martius com o conhecimento das ervas da natureza

Fonte: El abrazo de una serpiente, 2016.

170

Santos (2010) assevera que a condição de periferia portuguesa é dupla: no domínio das práticas e no dos discursos coloniais. No primeiro domínio, a dependência de Portugal à Inglaterra acabou por promover uma conjunção menos direta entre o colonialismo deste e o capitalismo daquele. Isso se evidenciou em tratados internacionais desiguais, entre os quais merecem destaque a abertura dos portos às nações amigas e o tratado dos vinhos e dos tecidos Já no domínio dos discursos coloniais, observa-se o problema de os português se autorrepresentarem, pois a história do colonialismo era escrita em Inglês, e não em Português. Esse problema, pondera Santos (2010, p.231), consistia

na impossibilidade ou dificuldade do colonizado ou chamado Terceiro-Mundo ex- colonizado se representar a si próprio em termos que não confirmem a posição de subalternidade que a representação colonial lhe atribuiu. A especificidade do colonialismo português assenta-se em razões político- econômicas, cujas manifestações não se restringiram somente à esfera econômica, mas envolveram também os planos social, político, jurídico e cultural. Apesar de todos os processos de conquista visarem à imediata ocidentalização, como mencionado anteriormente, espanhóis e portugueses instrumentalizaram-nos de formas distintas. É fundamental esclarecer que o processo de ocidentalização tinha por finalidade realizar a transferência do imaginário europeu para as áreas conquistadas, pois os conquistadores também sofriam com o distanciamento. Em termos práticos, a transferência do imaginário europeu para essas áreas iniciava-se com a construção de cidades, portos, estradas e fortalezas. Em “Raízes do Brasil”, Sérgio Buarque de Holanda descreve em detalhes as consequências desse processo e o compara ao impacto da colonização empreendida por espanhóis e por portugueses. Entre os assuntos abordados no livro citado, Holanda (2007, p.95-96) explica que “para muitas nações conquistadoras a construção de cidades foi o mais decisivo instrumento de dominação que conheceram”. Nessa mesma obra, o autor afirma, ainda, que: “concluída a povoação e terminada a construção dos edifícios, não antes que os governadores e povoadores, com muita diligência e sagrada dedicação, devem tratar de trazer, pacificamente, ao grêmio da Santa Igreja e à obediência das autoridades civis, todos os naturais da terra”.

171

Sabe-se que, nas cidades, eram erguidos os símbolos da supremacia dos vencedores: a igreja, a sede da prefeitura e a do representante do rei. Gruzinski (2001, p.82) é claro quando afirma as consequências nefastas que a era da conquista deixou sobre os derrotados. Para ele, essa era perturbadora influenciaria, de forma duradoura, o modo de vida das sociedades da América Ibérica: “Os adversários abandonam, pela força das circunstâncias, ou perdem, sob o efeito da derrota, parte de suas referências”. Mais que referências, os povos primitivos foram relegados ao estado de prostração, pois o enfraquecimento de suas dinastias, os estragos causados pelas epidemias, a interrupção dos sistemas de ensino tradicionais e a proibição das formas públicas de idolatria fizeram com que esses povos perdessem as conexões simbólicas existentes em seu imaginário. Não por outra razão Karamakate, ao refazer a viagem para encontrar a yakruna, rememora cenas da viagem que havia empreendido 40 anos atrás. Seu isolamento, por exemplo, garantiu que ele alimentasse o conhecimento que possuía sobre o poder de cura das ervas e sobre a própria floresta. Da mesma forma com que os povos indígenas foram prostrados, os escravos negros que os haviam substituído sofreram consequências parecidas em “terras ainda mais desnorteantes que as metrópoles ibéricas” (Gruzinski, 2001, p. p. 82). Entretanto, não foram apenas os índios e os escravos negros que sofreram o processo de desenraizamento, como afirma o autor; também os conquistadores tiveram as conexões simbólicas de seus imaginários alteradas com o choque da conquista. Segundo Grunzinski,

A evolução dos quadros de vida e das tradições, que na Europa era lenta e passava quase desapercebida, sofre de súbito uma aceleração com aprendizados e experiências novas (Gruzinski, 2001, p. p. 83).

Para o autor, tanto negros e índios quanto europeus estavam em luta contra os contextos que transformavam o sentido das coisas e das relações entre os homens. O exemplo que melhor esclarece esse choque da conquista sobre os europeus pode ser observado, no Brasil, entre os bandeirantes. Segundo pensa Holanda (2007), não apenas os codinomes receberam influência tupi-guarani, mas também a vestimenta e as

172 ferramentas utilizadas no desbravamento do interior do Brasil sofreram com o choque da conquista. Gruzinski (2001) declara que, para todos, inclusive para os índios, o fenômeno do distanciamento físico e psíquico foi observado. Esse processo de descontextualização a que ambos grupos estavam submetidos, em consequência do choque da conquista, implicava perda de sentido e de legitimidade. Portanto, quando as minorias veem o Estado como uma instituição alheia a eles, os indivíduos também o são. Ao tentar reproduzir o “Velho Mundo” em áreas conquistadas, os espanhóis procuraram incluir os índios no processo. Nos domínios desses colonizadores europeus, a fé foi utilizada como elemento aglutinador da população indígena, com o fito de criar novas referências, que estivessem em consonância com os objetivos tanto políticos quanto religiosos dos conquistadores, porque, para os europeus do Renascimento, religião e política misturavam-se inexoravelmente. Às instituições religiosas, competia a criação da maior parte das novas referências, tanto é que a educação, a moral, a arte, a sexualidade, as práticas alimentares, as relações de casamentos, os marcadores da passagem do tempo e os momentos fundamentais da vida estavam sob responsabilidade direta dessas instituições. Ainda de acordo com Gruzinski (2001), era preciso primeiramente conquistar seus corpos para, só posteriormente, empreender a conquista de suas almas. Já os jesuítas que desembarcaram no Brasil tentaram desenvolver o mesmo processo, mas não tiveram êxito na tentativa de extirpar as raízes da idolatria. Diferentemente da ordem franciscana espanhola, que procurou preservar a intelligentsia indígena, os jesuítas não foram capazes de preservar o legado indígena, nem mesmo na reprodução da ocidentalização. Da mesma forma que os conquistadores tentavam transferir seus imaginários, os índios aprendiam suas técnicas, reproduziam suas artes e seus utensílios e queimavam suas etapas. A capacidade mimética indígena tanto impressionava os espanhóis e portugueses, como também foi a responsável pela inclusão dos índios na esfera econômica dos domínios da América Espanhola. Ao qualificar a mão-de-obra indígena por meio da transmissão das técnicas de produção de instrumentos e de construção de edifícios, os conquistadores permitiram que a produção desses itens aumentasse em decorrência da produção iniciada

173 pelos índios. Esse aumento de produção também permitiu à população indígena da América Espanhola sobreviver por mais tempo. No Brasil, essa realidade não foi observada. O sentido de trabalho, para as populações autóctones, era outro, pois a produção em escala não fazia parte do processo e da relação do índio com o trabalho. Holanda (2007, p.133) assere que

as qualidades morais que requer naturalmente a vida de negócios distinguem-se das virtudes ideais da classe nobre nisto que respondem, em primeiro lugar, à necessidade de crédito, não à de glória e de fama.

Com base nessa citação, evidencia-se o quão diferente a colonização espanhola era da ibérica, e que conjunto de valores seria mais caro aos colonizadores. Por esse pensamento, é possível compreender como a relação patriarcal consolida-se como princípio no Brasil, pois “quando se quer alguma coisa de alguém, o meio mais certo de consegui-lo é fazer desse alguém um amigo” (Holanda; 2007). O corolário das relações entre patrão e empregado aqui costumam ser mais amistosas que em qualquer outra parte do mundo. É curioso observar que, mesmo diante do processo de ocidentalização imposto pelas sociedades binarizantes, tanto as populações indígenas quanto os negros tenham resistido ao choque da conquista. Sobreviveram não apenas populacional mas também culturalmente, pois esse processo cultural – um organismo vivo capaz de produzir via “fagocitose” 32 novos processos - resistiu ao impacto causado pela conquista e pela mescla dos povos. Independentemente da direção ou do sentido que os sujeitos colonizadores desejassem impor sobre os descobertos, os processos culturais ocorreram. Portanto, pode- se afirmar que não só houve resistência como também ela é, por si só, constitutiva da cultura latinoamericana. Como consolidar o poder em um país cuja essência era mestiça? Como utilizar as mesmas “fórmulas” de poder em uma realidade tão diferente - para não dizer incompreensível - dos padrões europeus? A lógica binária que lastreava os sujeitos colonizadores era travestida de temas, tais como, “identidades” ou “diversidades”, cujo propósito era o de estancar quaisquer assimetrias e entraves à consolidação de poder. Tais “fórmulas”, simplesmente, não funcionavam por aqui. Como afirma Pinheiro (2009, p.10),

32 “É o processo pelo qual uma célula do sistema imune (célula fagicitária) "come" ou destrói qualquer substância invasora do organismo”.

174 caem por terra os binarismos entre centro e periferia, matriz e variante, espírito e matéria, visto que o centro não se coloca mais em totalizações unitárias, mas nos encadeamentos (sintaxe) do bordado ou mosaico.

Tanto as “identidades” quanto as “diversidades” eram soluções totalizantes encontradas pelos colonizadores para eliminar a variação, isto é, aquilo que eles não eram capazes de compreender. Até mesmo porque as variações representam, no campo político, um perigo o qual os primeiros precisavam conter. Essas soluções totalizantes serviam para alimentar os sentimentos de superioridade que os sujeitos colonizadores pudessem ter como forma de manutenção do status quo. As pretensas identidades eram, e são, incompatíveis com a alteridade, característica do Brasil e de outros países da América Latina. Boaventura Santos (2010, p.205) postula que: tal mestiçagem está tão profundamente enraizada nas práticas sociais desses países que acabou por ser considerada como fundamento de um ethos cultural tipicamente latino-americano, que tem prevalecido desde o século XVII até os nosso dias. Em forma de barroco, enquanto manifestações de um exemplo de fraqueza extrema do centro, constitui um campo privilegiado para o desenvolvimento de uma imaginação centrífuga, subversiva e blasfema.

Diante desse impasse para a legitimação de poder, a estratégia mais usual era a de manter distância daquilo que os poderes constituídos não eram capazes de compreender. Esse afastamento também acabou por propiciar um desenvolvimento acelerado dos processos culturais. Conforme Lotman (apud, Pinheiro; 2009, p.11),

[...] as culturas cuja memória torna-se periodicamente objeto de uma saturação massiva com textos provenientes de uma outra tradição, tendem a um desenvolvimento acelerado.

Esse dinamismo peculiar dos processos culturais desenvolvidos na América Latina já havia sido observado por Padre Antônio Vieira, com relação à compreensão indígena acerca da santíssima trindade, pois, ao mesmo tempo em que praticavam o catolicismo, não abandonavam as práticas de seus ritos tribais. A esse processo e dinamismo, atribui-se o nome de “antropofagia cultural”, cuja prática do hibridismo é marca da cultura brasileira.

175 A discussão que se apresenta, na realidade, é o embate entre as premissas contidas no pensamento positivista clássico, jesuíta-eclesiástico e tecno-capitalista, e o pensamento primitivo antropofágico e arábigo-africano. No primeiro, as premissas de dominação estão pautadas na forma e no conteúdo, ou seja, na capacidade de criar-se um ideal capaz de assegurar a posição; afinal, a complexidade não traz poder. Já no segundo, no pensamento antropofágico - que emergiu como forma de oposição e que carrega consigo dinamismos e processos privilegiadores da diversidade e do outro – há um rearranjo e a reformulação de pressupostos comuns em processos de interação contínua. Esse pensamento primitivo antropofágico nada mais é que a própria mestiçagem. E o que se observa na atualidade é um esforço para recuperar a “dignidade da mestiçagem” enquanto defesa ideológica. Independentemente dos esforços empreendidos pelos titulares dos poderes constituídos, os processos culturais tendem a superar as tendências ideológicas, visto que a cultura, segundo a concepção de Lotman (1996), é um órgão inteligente e capaz de se recriar continuamente. Ainda que o gerenciamento político seja incompetente, a riqueza cultural manter-se-á. Considerando que a cultura não se submete às estruturas políticas, nem às “identidades” isoladas capazes de englobar outras, como é possível atribuir às economias criativas tarefa tão complexa quanto a de ser a representante da diversidade cultural brasileira ? Antes de concebê-la, será preciso reconhecer a diferença e a pluralidade que aqui habitam, talvez por isso seja tão complexa a tarefa de fazê-la em contextos como o do Brasil. De que forma organizar o plural? As reflexões apresentadas no capítulo a seguir dão pistas do quão difícil é a tarefa.

176 Capítulo 6 Os limites da economia criativa: usos políticos e conclusões

O objetivo deste capítulo é o de realizar uma reflexão crítica sobre as economias criativas, avaliando as implicações e os limites de seu uso. Pretende também validar as hipóteses propostas para o problema de pesquisa. A primeira admitia que os poderes instituídos estivessem criando certos regimes de (in) visibilidade que privilegiavam determinadas séries culturais em detrimentos de outras, já a segunda hipótese admitia que a criatividade e a inovação, qualidades salientes da cultura, estivessem sendo colonizadas pelos interesses de mercado, sem produzir os sentidos que representassem a diversidade cultural de ambos países. O percurso de pesquisa permitiu validar ambas hipóteses como verdadeiras, pois as economias criativas fiam-se tanto na seleção das séries culturais quanto nos temas instalados nas construções discursivas que representam. No entanto, o que isso quer dizer? Quer dizer que, quando se selecionam as séries culturais e suas produções, apagam- se sua plenitude e sua potência. Se as produções culturais criadas pela mescla contínua são contrárias à ideia de modelos originais de influência por sucessão, claramente, em modelos de exploração comercial, há a redução da diversidade e da pluralidade cultural. Ao perderem sua potência, abre-se o espaço necessário para que os poderes instituídos e as classes dominantes criem as condições tanto de produção quanto de reprodução de suas ideologias e passem a moldar as crenças, os rituais e seus significados, utilizando métodos próprios de sanções, de exclusões e de seleções; ocorre, portanto, a estratificação do consumo e a cultura passa a ter uso político. Ainda que os sujeitos possam ser colonizados, os elementos da paisagem não são e, como se sabe, a cultura é uma dessas coisas da paisagem que não pode ser colonizada nem pelos interesses das classes dominantes nem pelos interesses econômicos. É na cultura que o sistema de ideias e de representações que domina o espírito humano é expresso, e não é de causar espanto que a política queira apropriar-se dele para legitimar-se. Mesmo que a economia criativa e seus setores nucleares criativos pretendam atribuir valor às práticas culturais até então pouco valoradas como, por exemplo, a cestaria indígena, como elas ocorrem nos espaços em que as mesclas se dão - nos "não lugares", essa riqueza cultural

177 nunca estará submetida a qualquer lógica ou mecanismo econômico ou de mercado. O patrimônio imaterial permanecerá na mescla e nesses "não-lugares". Como o "não lugar" parece ser o pano de fundo das produções culturais latinoamericanas, especialmente, compreendem-se as razões pelas quais elas nunca seguiram os padrões de produção ou de visibilidade impostos pelos poderes instituídos. A cultura assume papel crucial na constituição da dimensão social, cuja importância política pressupõe a existência de uma relação de mediação mútua entre pessoas e símbolos. Essa cultura emerge como uma acumulação, uma somatória de invenções e de conquistas notáveis que, associada às pessoas, às experiências e significados a ela atribuídos, conformam-se naquilo que se convencionou chamar de soma cultural. As chamadas "economias criativas", ao utilizarem a soma cultural como eixo fundante do desenvolvimento econômico, estão, na verdade, apropriando-se do trabalho dotado de significado produtivo, que é a base do nosso sistema de crédito, de maneira que se possa computá-lo em termos monetários. E isso nem sempre será justo com todos aqueles que estão direta ou indiretamente ligados às produções e às séries culturais. Se são as pessoas, como afirmou Wagner (2002, p. 88) " e as experiências e significados a ela associados que não se quer perder, mais do que as ideias e as coisas", é preciso rever a lógica que reveste as economias criativas, bem como a sistematização da coleta de informações e de classificação dos setores nucleares criativos, pois em nenhuma das fontes oficiais disponíveis credita-se valor (monetário e imaterial) aos verdadeiros artífices das séries e das produções culturais. A soma cultural configura-se como um manancial inesgotável de insumos para a lógica capitalista na medida em que fornece ideias, técnicas e descobertas. Entretanto, sem as pessoas que dela fazem uso, essas ideias e técnicas não se transformam em produtos com valor simbólico, mas apenas monetário. Diferente do que ocorre quando duas culturas são postas em contato e ocorre a tradução, quando a cultura é invadida pela lógica usurpadora da economia, perde-se o valor imaterial dessas experiências e das pessoas. A cultura torna-se relevante para economia quando há incremento criativo e a produtividade que cria trabalho e conhecimento ao fornecer ideias, técnicas e descobertas. Essa tônica contida na soma cultural molda o próprio valor da cultura e as "economias criativas" precisam fiar-se nessa transferência para promover a produtividade e, consequentemente, o desenvolvimento econômico. Todavia, a questão que se coloca é que apenas a cultura é capaz de forjar novas articulações simbólicas

178 para os símbolos esgotados no processo de uso. Mesmo não sendo capaz de produzir novas articulações simbólicas, a economia e seus mecanismos todos poderá limitar o acesso às invenções decorrentes desse vai e vem tradutório típico das culturas e, em certa medida, poderá atribuir às invenções sentidos distintos daqueles que a sociedade faria. Afinal, a invenção é uma característica do homem e o que se faz dela é um construto da sociedade. A problemática que se coloca é o que se faz das invenções; é o que os interesses dos poderes instituídos poderiam fazer delas que torna a economia criativa, ao mesmo tempo, frágil e poderosa. Os temas como "ritmo sustentado de crescimento", "dinamismo no comércio internacional", "igualdade de gênero, "cultura como condição e caminho para o desenvolvimento", inserção qualificada dos jovens no mercado de trabalho", que contribuem para a constituição de mentalidades que auxiliam na consolidação das economias criativas como um modelo alternativo de desenvolvimento econômico, precisariam ser ressignificados o tempo todo. E, em nenhuma dessas situações, esses discursos agiriam como um dispositivo produtor de sentidos representantes da diversidade cultural brasileira ou argentina. A cultura é complexa demais para permitir que o poder nela se estabeleça. No entanto, porque as economias criativas podem se consolidar em discursos como os citados acima? Porque além de representar um instrumento técnico, o discurso é um constituidor de realidade, visto que os sujeitos podem ocupar uma multiplicidade de posições na sociedade contemporânea, permitindo, inclusive, que se observe a linguagem materializar a ideologia. O discurso é, portanto, o terreno primário em que a realidade forma-se e se conforma. Não se pode negar a importância da construção discursiva das chamadas "economias criativas" como maneira de formar e conformar a hegemonia utilizando a cultura e suas produções como forma de resgate simbólico da política. Mesmo com temas tão potentes quanto os observados na literatura sobre as economias criativas, as séries culturais e as produções decorrentes da cultura parecem permanecer incólumes a esse processo invasivo. As produções cinematográficas analisadas nesta pesquisa mostraram-se muito mais como uma forma de resistência, alardeando as consequências de todo esse processo , do que como comportamentos esperados. Em todos os filmes analisados, as noções de inovação e de criatividade não foram apresentadas de forma a evidenciar seus aspectos positivos ou de melhoria na vida das pessoas. Ao contrário, em todas as situações analisadas demonstrou-se o quão devastador

179 pode ser o processo de estratificação de consumo que pode ocorrer em nome da inovação e da criatividade, especialmente quando são colonizados por interesses outros ou injunções externas. Apesar de estarem ganhando centralidade e importância, as noções de inovação e de criatividade estão longe de acomodar ou apreender o potencial contido nas forças da natureza. Fala-se, na verdade, do desenvolvimento de técnicas que podem em alguma medida solucionar os problemas do homem. Os pretensos avanços tecnológicos que são anunciados são meros meios desenvolvidos pelos homens para armazenar esse potencial. A lógica binária e as soluções totalizantes com que interpretam-se o potencial contido na soma cultural e nas relações do homem com a natureza impede que as ciências dela se beneficiem. A questão que se coloca para os diferentes países e suas respectivas realidades é que as sociedades que apresentarem maior capacidade de empregar seu conhecimento e resolver problemas tenderão a produzir um excedente adicional para além das necessidades de defesa ou de adaptação, constituindo-se num desafio à inventividade. Enquanto as pesquisas voltarem-se para avaliar a técnica como um meio para buscar maior eficiência do trabalho humano e para a diversificação do consumo, as experiências do mundo sensível, essenciais para que se transforme o mundo, continuarão a não ter importância: a reflexão filosófica, a meditação mística, a invenção artística e a pesquisa básica, matrizes da atividade criativa, irão se subordinar ao processo de transformação do mundo físico. A lógica está invertida: os vínculos da criatividade com a vida humana estão atrofiados enquanto as ligações com os instrumentos que o homem utiliza para transformar o mundo estão potencializados. O fato é que as pesquisas desenvolvidas nesse terreno sofrem do processo invasivo típico das ciências clássicas. Santos (2010) e Morin (2011) chamam essa invasão de "lógica binária" ou processos de inclusão e exclusão cuja tendência é a de eliminar as variações. Tal observação também nos permite inferir a forma como as sociedades desenvolvem seus sistemas de convenção: tendem, em sua maioria, a desenvolver e a organizar catálogos que apontam para obstinação pela essência. Diante dessa inversão, da atrofia dos vínculos de criatividade com a vida humana e da potencialização das ligações com os instrumentos que o homem utiliza para transformar o mundo, as instituições como as igrejas, os partidos, os sindicatos, as famílias, algumas escolas, a maioria dos jornais, as empresas culturais etc. estavam (e estão) sob domínio privado, e, como tal, poderiam (e podem) ser colonizados

180 por interesses alheios aos nacionais. Ainda que se afirme que os processos culturais ocorram independente dos poderes instituídos e dos interesses privados, o risco que os cerca é grande demais para ser desconsiderado. O fato é que as economias criativas representam uma construção discursiva capaz de apresentar não apenas benefícios individuais, mas também vantagens coletivas como o bem comum. Apresentar-se como um modelo de desenvolvimento econômico alternativo capaz de promover a inclusão social e de possibilitar o exercício da cidadania torna a economia criativa um dispositivo importante, com um discurso convincente e capaz de criar novos sentidos ao capitalismo. Este, por sua vez, tal como o conhecemos, já não é mais capaz de arregimentar as sociedades; para manter ou para aumentar seu poder de mobilização, o capitalismo alimenta-se de seus próprios recursos ou de recursos externos enquanto crenças que possam ter um poder de persuasão importante à criação de figuras de sucesso, que são cunhadas sob a égide neoliberal. Essas novas figuras de sucesso acomodam-se no contexto das economias criativas e incorporam o discurso da felicidade, fazendo migrar as práticas discursivas das sociedades disciplinares para as práticas discursivas das sociedades da autorresponsabilização. Infelizmente, como não há um discurso de esquerda capaz de fazer frente a essa ideia enraizada, o hábito e os costumes do autoempreendimento vêm ganhando força e arregimentando sociedades. Junto dele, a cultura e as produções culturais ganham espaço não pelo simbolismo, singularidade ou criatividade que representam, mas pela possibilidade de se converterem em patentes e propriedade intelectual ou patrimônio imaterial. Diferente dos atrativos e dos elementos de sedução utilizados pelo capitalismo para renovar o engajamento das pessoas, os temas clássicos como "crescimento econômico associado ao progresso social" já não são tão explorados na atualidade. O aumento do desemprego em termos globais explica, em certa medida, o desconforto dos autores da atualidade com relação a essa realidade. Por esse motivo, o tema das liberdades assume tanta importância nos dias de hoje. Entretanto, o que de fato estamos assistindo é a uma possível tentativa de mudança nas economias. Diferente da lógica que pautou o pensamento taylorista das sociedades industriais, em que a eficiência produtiva e a lucratividade dependiam de uma mentalidade tecnocrata, do planejamento e da racionalidade, as chamadas economias criativas caracterizam-se pela abundância e não pela escassez, pela sustentabilidade social e não pela

181 exploração de recursos naturais e humanos, pela inclusão produtiva e não pela marginalização de indivíduos e comunidades. As economias criativas parecem ser a alternativa ao modelo econômico neoliberal que vem fracassando, não pelas características que têm mas pela centralidade que atribuem (ou devolvem) à figura do homem. E isso as torna frágil na medida em que dependem da articulação dos poderes públicos para se consolidarem. Prova dessa marginalização de indivíduos e comunidades ficou evidente em todos os filmes analisados. Como também não é possível valorar todas as séries culturais de um país antecipadamente, simplesmente porque o valor que pode ser atribuído a elas é inimaginável, o processo de desenvolvimento de modelos com vistas à criação de indicadores torna-se frágil e pode acobertar a dominação. Esse problema só existe porque o conceito e a definição daquilo que é (ou poderiam ser) as economias criativas encontra-se em processo de desenvolvimento. E o que há de novo nessa situação? Outros conceitos não vivem ou viveram o mesmo processo? Novo é o entendimento que reside no reconhecimento de que o contexto formado pela convergência de tecnologias e a insatisfação com o cenário socioeconômico mundial da modernidade mundo atribuem à criatividade a função de servir de elemento motivador e fundante para novos modelos de negócios, novos processos organizacionais e uma nova arquitetura institucional capaz de estimular os setores e os agentes sociais e econômicos. A partir desse momento, as indústrias criativas passam a receber o mesmo entendimento de outros setores industriais. O modelo teórico de "crescimento" é visto como complementar ao "modelo de inovação" , o qual confere protagonismo às indústrias criativas na construção do sistema nacional de inovação, contribuindo para a coordenação das novas ideias e para a formação de um complexo evolucionário que deriva do processo de inovação. Como esse entendimento exige que se responda o que são as indústrias criativas, já se tem aí um desdobramento vivido em épocas anteriores, mas que no cenário atual pode ter contornos que ainda são desconhecidos. É importante observar que a atual discussão sobre os modelos hierárquicos classificatórios dos setores nucleares criativos e das indústrias criativas tem como base uma distinção entre as atividades criativas consideradas puras. Ora, essa mesma discussão já fora vista quando houve a autonomização da produção artística, que dissociou o campo da produção erudita do campo da indústria cultural. Essa dissociação gerou a desigualdade

182 quando valorizou a distinção e a originalidade, exigindo de seu público o conhecimento e a detenção de um código prévio para decodificação de seu sentido. Promoveu a exclusão e a seleção quando incorreu na lógica dual, submetendo a produção e a reprodução das produções artísticas à inculcação do sistema de ensino. Ao promover essa separação entre o público que poderia fruir, o campo de produção erudita também combateu as práticas heterodoxas de criação e difusão, excluindo, por consequência, toda a produção cultural típica das ruas e do povo. As economias criativas e seus setores nucleares, com artes puras ou não, incorre exatamente no mesmo perigo enquanto mantêm seu foco na discussão acerca do melhor modelo que resultaria na criação de indicadores. Como já havia sugerido Bourdieu (2005), atribuiu-se ao cinema, à fotografia, ao jazz e às demais produções o nome de cultura média. Todavia, o setor requer entendimento transversal; esse tipo de economia exige mais que articulação entre pastas, ministérios, governos e municípios; exige que se promova uma articulação com as políticas educacionais para o setor, bem como com as políticas de ciência e tecnologia, com vistas a promover a inclusão dos verdadeiros artífices das produções culturais das paisagens barrocas. Pouco importa se o modelo a ser empregado será o de círculos concêntricos ou centrados na Economia da Cultura. Em qualquer modelo que se adote na definição, as ideias criativas, ao serem transferidas para uma lógica econômica, tenderão a diluir-se e a perder sua potência. A essência criativa, amálgama em que habitam os povos, será secundária e não importa se haverá a distinção entre criatividade científica e/ou artística: a principal diferença de valor entre elas é que uma é puramente material e a outra imaterial. As discussões entre os teóricos podem tornar-se ainda mais preocupantes quando, por exemplo, para se calcular a proporção de valor cultural de cada setor criativo, passássemos a contar com um consultor ad-hoc. Definitivamente, a cultura e sua soma estariam à mercê de interesses alheios.

A construção discursiva representada pelas economias criativas também tem mascarado a discussão do paradoxo entre crescimento e desenvolvimento econômico, além de ter desviado a atenção para o impacto do crescimento econômico. Como se constatou, o crescimento e o desenvolvimento econômico não são sinônimos e nem sempre este último está associado à ampliação do acesso à cultura e às produções dela decorrentes. Ao contrário, na maioria das situações observadas por Furtado (2013), por exemplo, comprovou-se que quanto maior era o avanço econômico, maior era a degradação do

183 patrimônio cultural. Furtado (2013) também já havia alertado para o fato de que o desenvolvimento econômico deveria ser um objetivo político permanente das sociedades modernas e sua consecução tem apenas sido intensificada com o processo de globalização que pôs em evidência a concorrência global. Como o desenvolvimento econômico deveria ser um objetivo político constante, os recursos que servem de base para materializar esse processo costumam variar conforme os interesses políticos de ocasião. Tanto no Brasil quanto na Argentina, os recursos naturais e os fatores de produção necessários para promover o desenvolvimento estão à disposição das políticas públicas para tornarem-se uma realidade. Sabemos que o ocorre, na realidade, não é um desenvolvimento inclusivo que assegure a distribuição de renda para todos; o tipo de desenvolvimento que observamos, calcado no consumo exclusivamente, tende a marginalizar indivíduos e comunidades e acirrar o discurso do "nós x eles". Já o crescimento econômico não depende da vontade política. Esse tipo de crescimento depende objetivamente dos recursos materiais e fatores de produção para ocorrer. O que se tem observado é que a ideologia do crescimento econômico e as práticas discursivas do desenvolvimento empresarial sustentável estão impregnados de outros significados. Há no discurso da sustentabilidade certa racionalidade econômica, mas certamente maior influência política; o modelo conhecido como 3BL (Three Botton Line) cujos impactos econômico, social e ambiental das organizações adquiriram importância, pretende que de forma concomitante ocorra a melhoria dos indicadores sociais, em harmonia com o meio ambiente. Como sabemos, esse equilíbrio ainda não foi alcançado. A melhoria dos indicadores sociais não foi observada em nenhum dos filmes analisados no corpora de pesquisa. Ao contrário, em todos eles delatou-se o alargamento das assimetrias produzidas pelo crescimento econômico e o aumento das iniquidades.

Como se constatou também, essa prática discursiva é tão ou mais maléfica que o próprio discurso do desenvolvimento sustentável, tão em voga nas práticas empresariais. Mesmo que analisemos a literatura de administração de empresas com o devido cuidado que tal análise requer, é preciso concordar que por meio da linguagem criam-se imagens de mundo e estas são condicionadas ao contexto de cada época. Pode-se, assim, afirmar que a linguagem é ideológica por natureza porque torna o imaginário parte do seu funcionamento. Sabe-se também que é a partir de uma ideologia já constituída no processo

184 de produção da realidade social, o local em que se criam as condições necessárias para a formação discursiva. Pode-se, a partir dessa afirmação, especular que o discurso das chamadas "economias criativas" também representem uma formação discursiva para o desenvolvimento sustentável.

Na esteira desses revezes da cena política, o potencial das chamadas "economias criativas" também desponta como sendo um modelo de desenvolvimento econômico sustentado. Temos observado que a retórica de que o agronegócio gere riquezas e que atue no combate à fome não é recente nem exclusividade brasileira. Formação discursiva semelhante foi observada nos Estados Unidos, na década de 50. A chamada "Revolução Verde" trazia a promessa de acabar com a fome no mundo por meio do uso da tecnologia, aumentando a produção de alimentos. Não há dúvidas de que houve aumento na produção de gêneros alimentícios, mas problemas como a fome e a insegurança alimentar e nutricional continuam a assolar mais de 800 milhões de pessoas ao redor do mundo.

Especula-se que o grande legado da chamada "revolução verde" empreendida nos Estados Unidos tenha sido a responsável pela concentração de grandes porções de terras nas mãos de latifundiários, assim como o escoamento de pacotes tecnológicos e de insumos (agrotóxicos e sementes transgênicas) para países com economias emergentes. Qualquer semelhança com a campanha "Agro é Pop, Agro é Tech", veiculada por uma das maiores emissoras privadas do país, é mera coincidência. Para onde quer que direcionemos o olhar, os interesses dos poderes instituídos encontram na esteira das economias criativas o espaço de que precisam para se proliferarem.

Além dos perigos mencionados nos parágrafos anteriores, as chamadas " economias criativas" também carregam em sua dinâmica a possibilidade de flexibilizarem a produção e de torná-la mais especializada. Trata-se, na verdade, de uma tentativa de se lançarem produtos no mercado com maior velocidade e com maiores possibilidades de ajustá-los na medida em que são experimentados pelos consumidores. Tem-se atribuído a essa dinâmica o nome de "iniciativa maker" ou "movimento maker", em que as técnicas para apreender o potencial inovador e criativo que somente as pessoas são capazes de apreender torna-se o meio de criar novos produtos e serviços. Valorizam-se as pessoas, mas não como artífices da

185 produção cultural e sim como meros meios de arregimentar o potencial contido no trânsito entre práticas culturais e heterogeneidades que procuram combinatórias. Como se sabe, na diversidade cultural, como em toda expansão cultural, faz-se emergir as diferenças e, onde há diferenças, não há poder ou a possibilidade da governamentalidade. Apesar de sabermos que em sociedades combinatórias não deveria haver punição, o que sabemos é que o consumo é estratificado a partir de eixos temáticos, sejam eles capitaneados por um ou por mais setores de atividades. O capitalismo tem se preparado para construir produtos e serviços sobre determinados eixos temáticos. Trata-se, na verdade, das convocações biopolíticas que agirão como orientadores que determinarão que produtos e que serviços as pessoas deverão consumir. A saúde e o bem-estar, a moda e a beleza, o lazer, a consultoria de carreira, a sexualidade e a sociabilidade são os principais eixos sobre os quais as soluções de consumo desenvolvem-se. Compete aos analistas simbólicos a indicação dos lugares ideais, o modo de ser e as mercadorias que permitam o alcance desse "ser ideal" para as pessoas. Ao cederem a esses comportamentos e padrões de consumo, as pessoas garantem seu espaço na sociedade. Essas convocações conformam-se como regimes de programação, de manipulação, de ajustamento, de acidente e até mesmo como regimes hegemônicos. Tais regimes não se assemelham à noção de disciplina típica das sociedades de controle, mas como uma convocação para que os indivíduos participem desses programas de felicidade. Em outras palavras, os enunciadores são capazes de constituir um mapa cognitivo que contenha os elementos necessários para que a modalização desses discursos da cultura do autodesenvolvimento ocorra. É o “saber-ser” o novo dispositivo da gestão empresarial característico do terceiro espírito capitalista. Para atender às demandas contra a massificação, a resposta oferecida pelo terceiro espírito é a produção e a comercialização de produtos renovados (como forma de manter a inovação como um contínuo empresarial). A partir desse olhar, pode-se compreender a razão pela qual os setores nucleares criativos estão adquirindo importância. Procurando estabelecer uma relação entre a forma como a cultura foi e é tratada pelas instituições políticas, pode-se inferir que há um mecanismo de escolha, feito por parte dos analistas simbólicos, que escolhem quais séries culturais são mais suscetíveis de gerar consumo em comparação a outras, ou quais delas devem tornar-se "visíveis ou invisíveis" nas economias criativas. Para além disso, que setores nucleares criativos serão ou não

186 postos em evidência a partir dos interesses das instituições políticas. Quando a Convenção de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial incorpora e reconhece como "patrimônio imaterial" alguma prática oriunda da cultura local, configura-se, na realidade, a escolha das séries culturais que serão ou não privilegiadas. Como se sabe, esse reconhecimento configura-se como o sistema de transferência dos processos culturais para a economia e todas as implicações que estão por trás dessa transposição. Sabemos também que a temática do desenvolvimento concebe uma noção de prosperidade e de felicidade difíceis de serem desfeitas, e que esse modelo de desenvolvimento defendido pelos poderes instituídos tende a acirrar a desigualdade, aprofundar a divisão de classes sociais; de estratificar o consumo e junto dele todas as problemáticas que estão no bojo dessa noção de desenvolvimento, prosperidade e de bem-estar. Incorremos no risco de apenas fortalecer a lógica ocidental do desenvolvimento e permitir que o subdesenvolvimento, fruto do próprio desenvolvimento, contamine o mundo com a obsessão por aquilo que é tido como desenvolvido. Como demonstra a história, a busca incessante pelo desenvolvimento pode aprisionar as pessoas e acirrar ainda mais as desigualdades além, de alargar as assimetrias que o processo de desenvolvimento econômico sugere. Tal alargamento é visível nos filmes analisados no corpora de pesquisa. Finalmente, é preciso compreender que o cinema representa um suporte para a história da comunicação, com a capacidade de refletir os comportamentos e as orientações de uma determinada sociedade. Algumas análises apreendem o cinema como representação da socialidade que, de maneira direta ou indireta, por meio de histórias mais ou menos prováveis, modelam a forma como percebemos o mundo vivido. O sentido de testemunho atribuído ao cinema reflete não apenas uma sociedade, mas seus impasses, seus processos mentais e suas possibilidades dinâmicas de respostas predominantes. O cinema constitui-se ele próprio numa crítica que reflete a realidade em vários níveis, contanto histórias que ressaltam alguns aspectos da existência e escondem outros, devido ao uso da linguagem, que revela a forma como um idealizador e seu grupo social abordam temas pertinentes à sua época. O cinema mostra a realidade sem nunca se constituir em uma duplicata, na medida em que o filme seleciona apenas alguns fragmentos, carregando- os de sentido, tornando-os funcionais, de maneira a compor uma história. Conforme se constatou na análise do corpora de pesquisa, as imagens utilizadas pelo cinema representam um suporte privilegiado da memória, servindo à construção da história

187 em suas diferentes formas. Este é um meio de socialização cuja função é a de constituir uma memória social dividida entre um grande número de pessoas; constitui-se também um fenômeno de memorização de fatos, de personagens e de ideias. Além de funções como a instauração do imaginário social e o testemunho de uma cultura, a imagem cinematográfica tem um papel preponderante na recuperação da memória. O cinema é a memória viva, pois, ao se reproduzir constantemente, remete-nos incessantemente ao passado e ao presente. Não por outra razão, optou-se pelo uso da produção cinematográfica para demonstrar os comportamentos e as séries culturais que são postas em evidência, tanto no Brasil quanto na Argentina, no recorte temporal proposto. Após a realização desse processo de pesquisa, podemos concluir que ainda há muitas armadilhas, diferentes usos e poucos limites para as chamadas "economias criativas". Acreditávamos que os verdadeiros artífices da cultura brasileira e argentina poderiam, enfim, ter o reconhecimento e a importância a que tem direito e que esse modelo pudesse ser uma alternativa viável ao modelo econômico vigente. As evidências que emergiam quando desfazia a trama que é formada quando as dimensões políticas, econômicas, sociais e culturais entrelaçam-se impedem-nos de continuar a de defendê-la como uma solução viável. Há, claramente, a necessidade de se constituírem mentalidades tanto no cenário doméstico quanto no internacional, para que as economias criativas consolidem-se tanto como uma alternativa ao modelo econômico quanto como um dispositivo produtor de sentidos representantes da diversidade cultural do Brasil e da Argentina. Quando falamos em mentalidades referimo-nos ao entendimento e às articulações que a soma cultural requer para que seja utilizada como eixo fundante do desenvolvimento econômico. Antes de monetizar a cultura, é preciso apropriar-se de sua complexidade, entendê-la e valorizá-la em sua vastidão imaterial. Como sabemos, o homem está distante dessa realização. Não há dúvidas de que, quando os campos da cultura e da economia são sobrepostos, ganham importância política e social a inovação e a criatividade. Como vimos, os perigos que cercam a cultura e suas produções ainda estão longe de encontrar um lugar seguro no campo da economia criativa. Há que se encontrar soluções para as situações que se colocam e que assegurem à cultura a relevância material e imaterial que possui. A lógica com que a economia criativa opera é a mesma lógica do mercado em que a produtividade e a lucratividade determinam quem consome o que e quem tem acesso a que. Longe de

188 esgotar a discussão espero que as reflexões da tese auxiliem outros pesquisadores na tarefa de conferir à cultura a relevância e a importância que devem assumir na constituição de novas mentalidades.

189 Bibliografia citada

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195 Anexos

Tabela 7: Filmes brasileiros lançados em 2009

Ano de Título Diretor Lançamento 2009 1983.. o Ano Azul Carlos Gerbase e Augusto Mallmann 23 Anos em 7 Segundos: 1977 - o Fim do Jejum 2009 Di Moretti Corinthiano 2009 À Deriva Heitor Dhalia 2009 A Erva do Rato Júlio Bressane 2009 A Festa da Menina Morta 2009 A Ilha da Morte Wolney Oliveira 2009 A Morte Inventada - Alienação Parental Alan Minas 2009 A Mulher Invisível Cláudio Torres 2009 Adagio Sostenuto Pompeu Aguiar 2009 Alô, Alô, Terezinha! Nelson Hoineff 2009 Anabazys Joel Pizzini e Paloma Rocha 2009 Apenas o Fim Matheus Souza 2009 As Cantoras do Rádio Gil Barone e Marcos Avellar 2009 Aventuras do Surf II Roberto Moura 2009 Batatinha Poeta do Samba Marcelo Rabelo 2009 Bela Noite para Voar Zelito Viana 2009 Besouro João Daniel Tikhomiroff 2009 BR3 - A Peça Evaldo Mocarzel 2009 BR3 - O Documentário Evaldo Mocarzel 2009 Budapeste 2009 Cidadão Boilesen Chaim Litewski 2009 Cinderelas, Lobos e um Príncipe Encantado Joel Zito Araújo 2009 Cine Cocoricó: as Aventuras na Cidade Fernando Gomes 2009 Contratempo - uma Valsa da Dor Malu Mader e Mini Kerti 2009 Coração Vagabundo Fernando Grostein Andrade 2009 Corpo do Rio Izabel Jaguaribe e Olívia Guimarães 2009 Divã José Alvarenga Jr. 2009 Do Começo ao Fim Aluizio Abranches 2009 Doce de Coco Penna Filho 2009 É Proibido Fumar 2009 Eliezer Batista - o Engenheiro do Brasil Victor Lopes 2009 Embarque Imediato Allan Fiterman 2009 Entre a Luz e a Sombra Luciana Burlamaqui 2009 Entre os Dedos Tiago Guedes e Frederico Guerra 2009 Estórias de Trancoso Augusto Sevá 2009 Fiel - o Filme Andrea Pasquini 2009 Filmefobia Kiko Goifman 2009 Flordelis - Basta uma Palavra para Mudar Marco Antonio Ferraz 2009 Fumando Espero Adriana Dutra

196 2009 Garapa José Padilha 2009 Herbert de Perto Roberto Berliner e Pedro Bronz 2009 Hotel Atlântico Suzana Amaral 2009 Jean Charles Henrique Goldman 2009 Kfz-1348 Gabriel Mascaro e Marcelo Pedroso 2009 Loki - Arnaldo Baptista Paulo Henrique Fontenelle 2009 Manhã Transfigurada Sérgio de Assis Brasil 2009 Mesa de Bar Onde Tudo Acontece João Uchôa Cavalcanti Netto 2009 Mistéryos Beto Carminatti e Pedro Merege 2009 Moscou 2009 Nada Vai nos Separar Saturnino Rocha Naufrágio - Mistério e Morte na Catástrofe do Príncipe 2009 Edu Sallouti de Astúrias 2009 No Meu Lugar Eduardo Valente 2009 O Contador de Histórias Luiz Villaça 2009 O Diário de Sintra Paula Gaitán 2009 O Fim da Picada Christian Saghaard 2009 O Grilo Feliz e os Insetos Gigantes Walbercy Ribas 2009 O Menino da Porteira Jeremias Moreira 2009 O Milagre de Santa Luzia Sergio Rosenblitz 2009 Os Normais 2 José Alvarenga Jr. 2009 Ouro Negro Isa Albuquerque 2009 Palavra (En)Cantada Helena Solberg 2009 Patativa do Assaré - Ave Poesia Rosemberg Cariri 2009 - o Bem Amado Gracindo Júnior 2009 Praça Saens Peña Vinícius Reis 2009 Quanto Dura o Amor? Roberto Moreira 2009 Salve Geral Sérgio Rezende 2009 Se Eu Fosse Você 2 Daniel Filho 2009 Se Nada Mais Der Certo José Eduardo Belmonte 2009 Sem Fio Tiaraju Aronovich 2009 Senhores do Vento Isabella Nicolas Claudio Manoel, Micael Langer e Calvito 2009 Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei Leal 2009 Som e Fúria Fernando Meirelles e Toniko Melo 2009 Tempos de Paz Daniel Filho 2009 Titãs - a Vida Até Parece uma Festa Branco Mello e Oscar Rodrigues Alves 2009 Topografia de um Desnudo Teresa Aguiar 2009 Um Homem de Moral Ricardo Dias 2009 Um Lobisomem na Amazônia Ivan Cardoso 2009 Um Romance de Geração David França Mendes 2009 Vamos Subir, Leão Marcos Luiz Bittencourt 2009 Velhas Guardas Joatan Berbel 2009 Verônica Maurício Farias 2009 Waldick, Sempre no meu Coração Patrícia Pillar 2009 Xuxa em o Mistério de Feiurinha Tizuka Yamazaki 2009 Zico na Rede Paulo Roscio

197

Fonte: Observatório Brasileiro do Cinema e do audiovisual - Seção Cinema, disponível em https://oca.ancine.gov.br/cinema, acesso em 17 de setembro de 2017.

Tabela 8: Lançamento de filmes brasileiros em 2010

Ano de Título Diretor Lançamento 400 Contra 1 – A História do Comando 2010 Caco Souza Vermelho Luciana Bezerra, Cacau Amaral, Rodrigo Felha, 2010 5X Favela – Agora Por Nós Mesmos Wavá Novais, Manaíra Carneiro, Cadu Barcellos e Luciano Vidigal 2010 A Alma do Osso Cao Guimarães 2010 A Casa Verde Paulo Nascimento 2010 A Falta que me Faz Marília Rocha 2010 A Guerra dos Vizinhos Rubens Xavier 2010 A Suprema Felicidade Arnaldo Jabor 2010 Acácio Marília Rocha 2010 Amor por Acaso Marcio Garcia 2010 Antes que o Mundo Acabe Ana Luiza Azevedo 2010 Ao Sul de Setembro Amauri Tangará 2010 Aparecida, o Milagre Tizuka Yamazaki 2010 As Cartas Psicografadas por Chico Xavier Cristiana Grumbach 2010 As Melhores Coisas do Mundo Laís Bodanzky 2010 B1 - Tenório em Pequim Felipe Braga e Eduardo Hunter Moura 2010 Bellini e o Demônio Marcelo Galvão 2010 Cabeça a Prêmio Marco Ricca 2010 Caro Francis Nelson Hoineff 2010 Chico Xavier Daniel Filho 2010 Cidade de Plástico Yu Lik-wai 2010 Cildo Gustavo Moura 2010 Como Esquecer Malu de Martino 2010 Depois de Ontem, Antes de Amanhã Christine Liu 2010 Doce Brasil Holandês Monica Schmiedt 2010 Tatiana Issa e Raphael Alvarez 2010 Elevado 3.5 João Sodré, Maíra Bühler e Paulo Pastorelo 2010 Elza Izabel Jaguaribe e Ernesto Baldan 2010 Em teu Nome Paulo Nascimento 2010 Eu e Meu Guarda-Chuva Toni Vanzolini 2010 Federal Erik de Castro 2010 Fluidos Alexandre da Silva Carvalho 2010 Grêmio 10X0 Beto Souza 2010 High School Musical - o Desafio Cesar Rodrigues 2010 Histórias De Amor Duram Apenas 90 Minutos Paulo Halm 2010 Insolação Daniela Thomas e Felipe Hirsch 2010 Jards Macalé - um Morcego na Porta Principal Marco Abujamra e João Pimentel 2010 José e Pilar Miguel Gonçalves Mendes

198 2010 Léo e Bia Oswaldo Montenegro 2010 Lula, o Filho do Brasil Fábio Barreto 2010 Luto Como Mãe Luís Carlos Nascimento 2010 Meu Mundo em Perigo José Eduardo Belmonte 2010 Morgue Story - Sangue, Baiacu e Quadrinhos Paulo Biscaia Filho 2010 Muita Calma Nessa Hora Felipe Joffily 2010 Netto e o Domador de Cavalos Tabajara Ruas 2010 Nosso Lar Wagner de Assis 2010 O Abraço Corporativo Ricardo Kauffman 2010 O Amor Segundo B. Schianberg Beto Brant 2010 O Bem Amado Guel Arraes 2010 O Grão Petrus Cariry 2010 O Homem que Engarrafava Nuvens Lírio Ferreira 2010 O Sol do Meio-Dia Eliane Caffé 2010 Olhos Azuis José Joffily 2010 Os Famosos e os Duendes da Morte Esmir Filho 2010 Os Inquilinos Sérgio Bianchi 2010 Pachamama Eryk Rocha Programa Casé – o que a Gente Não Inventa, 2010 Estevão Ciavatta Não Existe 2010 Quincas Berro D'Água Sérgio Machado 2010 Reflexões de um Liquidificador André Klotzel 2010 Rita Cadillac, a Lady do Povo Toni Venturi 2010 Segurança Nacional Roberto Carminati 2010 Só Dez por Cento É Mentira Pedro Cezar 2010 Soberano – Seis Vezes São Paulo Carlos Nader e Maurício Arruda 2010 Solo Ugo Giorgetti 2010 Sonhos Roubados Sandra Werneck 2010 Supremacia Vermelha Fabiano de Souza 2010 Terra Deu, Terra Come Rodrigo Siqueira 2010 Terras Maya Da-Rin 2010 Todo Poderoso: o Filme - 100 Anos de Timão Ricardo Aidar 2010 Tropa de Elite 2 José Padilha 2010 Um Lugar ao Sol Gabriel Mascaro 2010 Uma Noite em 67 Renato Terra e Ricardo Calil 2010 Utopia e Barbárie Silvio Tendler 2010 Viajo porque Preciso, Volto porque te Amo Karim Aïnouz e Marcelo Gomes 2010 Vida sobre Rodas Daniel Baccaro Fonte: Observatório Brasileiro do Cinema e do audiovisual - Seção Cinema, disponível em https://oca.ancine.gov.br/cinema, acesso em 17 de setembro de 2017.

199 Tabela 9: Lançamentos de filmes brasileiros em 2011

Ano de Título Diretor Lançamento 2011 180º Eduardo Vaisman 2011 4 X Timão - a Conquista do Tetra Di Moretti 2011 A Alegria Felipe Bragança e Marina Meliande 2011 A Antropóloga Zeca Nunes Pires 2011 A Casa de Sandro Gustavo Beck 2011 A Falta que Nos Move Christiane Jatahy 2011 A Fuga da Mulher Gorila Felipe Bragança e Marina Meliande 2011 À Margem do Lixo Evaldo Mocarzel 2011 A Última Estrada da Praia Fabiano de Souza 2011 Além da Estrada Charly Braun 2011 Amanhã Nunca Mais Tadeu Jungle 2011 Amor? João Jardim 2011 As Canções Eduardo Coutinho 2011 As Doze Estrelas Luiz Alberto Pereira 2011 As Mães de Chico Xavier Glauber Filho e Halder Gomes 2011 Assalto ao Banco Central Marcos Paulo 2011 Avenida Brasília Formosa Gabriel Mascaro 2011 Bahêa Minha Vida Marcio Cavalcante 2011 Belair Bruno Safadi e Noa Bressane Bollywood Dream – o Sonho 2011 Beatriz Seigner Bollywoodiano 2011 Brasil Animado 3D Mariana Caltabiano 2011 Broder Jeferson De 2011 Bruna Surfistinha Marcus Baldini 2011 Capitães da Areia Cecília Amado 2011 Chantal Akerman, de Cá Gustavo Beck e Leonardo Luiz Ferreira 2011 Cilada.com José Alvarenga Jr. 2011 Corpos Celestes Marcos Jorge e Fernando Severo 2011 Cortina de Fumaça Rodrigo Mac Niven 2011 Corumbiara Vincent Robert Carelli 2011 Crítico Kleber Mendonça Filho 2011 Dawson Isla 10 Miguel Littin 2011 De Pernas pro Ar Roberto Santucci 2011 Desaparecidos David Schürmann Filme coletivo, coordenação do projeto Felipe Bragança e 2011 Desassossego Marina Meliande. 2011 Desenrola Rosane Svartman 2011 Diário de uma Busca Flavia Castro 2011 Domingos Maria Ribeiro 2011 Duas Mulheres João Mário Grilo 2011 E Aí Hendrix? Pedro Paulo Carneiro e Roberto Lamounier 2011 Elvis e Madona Marcelo Laffitte 2011 Embargo António Ferreira

200 2011 Estamos Juntos Toni Venturi 2011 Estrada para Ythaca Guto Parente, Luiz Pretti, Pedro Diógenes e Ricardo Pretti 2011 Estrada Real da Cachaça Pedro Urano 2011 Eu Eu Eu José Lewgoy Claudio Khans 2011 Família Braz – Dois Tempos Dorrit Harazim e Arthur Fontes 2011 Família Vende Tudo Alain Fresnot Filhos de João, Admirável Mundo 2011 Henrique Dantas Novo Baiano 2011 Inversão Edu Felistoque 2011 Jardim das Folhas Sagradas Pola Ribeiro 2011 Leite e Ferro Claudia Priscilla 2011 Lixo Extraordinário João Jardim, Karen Harley e Lucy Walker 2011 Lope 2011 Malu de Bicicleta Flávio Tambellini 2011 Mamonas para Sempre Claudio Khans 2011 Marcha da Vida Jessica Sanders 2011 Meu País André Ristum 2011 Morro do Céu Gustavo Spolidoro 2011 Mulatas! Um Tufão nos Quadris Walmor Pamplona 2011 Não se Pode Viver sem Amor Jorge Durán Não se Preocupe, Nada Vai Dar 2011 Hugo Carvana Certo 2011 Natimorto Paulo Machline 2011 No Olho da Rua Rogério Corrêa 2011 O Céu Sobre os Ombros Sérgio Borges 2011 O Filme dos Espíritos André Marouço e Michel Dubret 2011 O Homem do Futuro Cláudio Torres 2011 O Mineiro e o Queijo Helvécio Ratton 2011 O Palhaço Selton Mello 2011 O Samba que Mora em Mim Geórgia Guerra-Peixe 2011 O Último Voo do Flamingo João Ribeiro 2011 Onde Está a Felicidade? Carlos Alberto Riccelli 2011 Os 3 Nando Olival 2011 Os Monstros Guto Parente, Luiz Pretti, Pedro Diógenes e Ricardo Pretti 2011 Os Residentes Thiago Mata Machado 2011 Pacific Marcelo Pedroso 2011 Palavra Cantada 3D Marcelo Siqueira e Carlos Garcia 2011 Ponto Final Marcelo Taranto Porta a Porta – a Política em Dois 2011 Marcelo Brennand Tempos 2011 Prova de Artista José Joffily 2011 Qualquer Gato Tomas Portella 2011 Quebradeiras Evaldo Mocarzel 2011 Quebrando o Tabu Fernando Grostein Andrade 2011 Rádio Nacional Paulo Roscio 2011 Reidy – a Construção da Utopia Ana Maria Magalhães 2011 Riscado Gustavo Pizzi 2011 Rock Brasília - Era de Ouro Vladimir Carvalho

201 2011 Sequestro Wolney Atalla 2011 Simples Mortais Mauro Giuntini 2011 Solidão e Fé Tatiana Lohmann 2011 Tancredo Neves - a Travessia Silvio Tendler Todo Mundo Tem Problemas 2011 Domingos Oliveira Sexuais Top Models – um Conto de Fadas 2011 Richard Luiz Brasileiro 2011 Trabalhar Cansa Juliana Rojas e Marco Dutra 2011 Transcendendo Lynch Marcos Andrade 2011 Transeunte Eryk Rocha 2011 Um Assalto de Fé Cibele Amaral 2011 Uma Professora Muito Maluquinha André Pinto e Cesar Rodrigues 2011 Vips Toniko Melo Vips - Histórias Reais de um 2011 Mariana Caltabiano Mentiroso 2011 Walachai Rejane Zilles Fonte: Observatório Brasileiro do Cinema e do audiovisual - Seção Cinema, disponível em https://oca.ancine.gov.br/cinema, acesso em 17 de setembro de 2017.

Tabela 10: Lançamentos de filmes brasileiros em 2012

Ano de Título Diretor Lançamento 2012 31 minutos – O filme Pedro Peirano Olate 2012 5 x Pacificação Wagner dos Santos Novais 2012 À Beira do Caminho Breno Silveira 2012 A Música segundo Tom Jobim Dora Jobim 2012 A Novela das Oito Odilon Rocha Antônio Conselheiro – O taumaturgo dos 2012 José Walter Lima sertões 2012 Área Q Gerson Sanginitto Argus Montenegro e a Instabilidade do Tempo 2012 Pedro Lucas Forte 2012 As Aventuras de Agamenon, o Repórter Victor Lopes Astro – Uma fábula urbana em um Rio de 2012 Ana Paula Trabulsi Janeiro mágico 2012 Até que a Sorte nos Separe Roberto Santucci 2012 Billi Pig José Eduardo Belmonte 2012 Boca Flavio Frederico 2012 Brichos II - A floresta é nossa Paulo Munhoz 2012 Cara ou coroa Ugo Cesar Giorgetti 2012 Circular Alysson Silva Muritiba 2012 - Rainha Quelé Werinton Kermes Telles Marsal 2012 Cocoricó conta clássicos Fernando Márcio Gomes Da Silva 2012 Constantino Otavio Haddah Cury 2012 Construção Carolina Sa Vasconcellos 2012 Contos Gauchescos Henrique de Freitas Lima 2012 Coração do samba Thereza Jessouroun

202 2012 Corações Sujos Vicente Amorim 2012 Curitiba Zero Grau Eloi Pires Ferreira 2012 De pernas pro ar 2 Roberto Santucci 2012 Dia de Preto Marcial Renato / Marcos Felipe / Daniel Mattos 2012 Dino Cazzola – Uma filmografia de Brasília Cleisson Vidal Linhares/ Andrea Vianna Prates 2012 Disparos Juliana Wanderley Reis 2012 Dois coelhos Afonso Poyart 2012 E a Vida Continua Paulo Figueiredo 2012 E Aí, Comeu? Felipe Joffily 2012 Era uma vez eu, Verônica Marcelo Gomes 2012 Espia Só Saturnino Antonio da Rocha Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos 2012 Beto Brant Lábios 2012 Expedicionários Otavio Haddah Cury 2012 Febre do Rato Cláudio De Assis Ferreira 2012 Futuro do pretérito: Tropicalismo now! Ninho Moraes 2012 Girimunho Helvécio Neves Marins Jr. 2012 Gonzaga - De Pai para Filho Breno Silveira 2012 Heleno José Henrique Komel Fonseca 2012 Histórias Que Só Existem Quando Lembradas Julia Murat 2012 Hotxuá Leticia Sabatella 2012 Ibitipoca, droba pra lá Felipe Scaldini 2012 Infância Clandestina Benjamin Ávila 2012 Luto em Luta Pedro Serrano Soffer Luz nas Trevas - A Volta Do Bandido da Luz 2012 Helena Ignez Vermelha 2012 Mãe e Filha Petrus Cariry 2012 Marcelo Yuka no Caminho das Setas Daniela Broitman 2012 Marighella Isa Grinspum Ferraz 2012 Menos Que Nada Carlos Gerbase 2012 Muito além do Peso Estela Renner 2012 Mulher à Tarde Affonso Uchôa Alonso Rodrigues 2012 Na Estrada - On The Road Walter Salles Júnior 2012 O contestado – Restos mortais Sylvio Back 2012 O diário de Tati Mauro Chicharo De Farias 2012 O Homem que não Dormia Edgard Navarro 2012 O Liberdade Cíntia Langie 2012 O Manuscrito Perdido José Barahona 2012 Onde a Coruja dorme Marcia Derraik 2012 Os Penetras Andrucha Waddington 2012 Paraísos Artificiais Marcos Prado 2012 Paralelo 10 Silvio Da-Rin 2012 Peixonauta - Agente Secreto da O.S.T.R.A Célia Catunda Serra / Kiko Mistrorigo 2012 Ponto Org Patrícia Moran 2012 Quem se Importa? Mara Mourão 2012 Raul, o Início, o Fim e o Meio Walter Carvalho - Evaldo Mocarzel 2012 Reis e Ratos Mauro Lima

203 2012 Romance de Formação Julia De Simone 2012 Sagrado Segredo André Luiz Oliveira 2012 Santos, 100 Anos de Futebol Arte Lina Chamie 2012 São Paulo Companhia de Dança Evaldo Mocarzel Soberano 2 – A heróica conquista do mundial 2012 Carlos Nader de 2005 2012 Sudoeste Eduardo Nunes 2012 Testemunha 4 Marcelo Grabowsky 2012 Totalmente inocentes Rodrigo Bittencourt Ramos 2012 Tropicália Marcelo Machado 2012 Um homem qualquer Caio Penido Dalla Vecchia 2012 Uma Longa Viagem Lucia Murat 2012 Vale dos Esquecidos Maria Raduan 2012 Violeta Foi Para o Céu Andrés Wood 2012 Virando Bicho Silvia Fraiha / Alexandre da Silva Carvalho 2012 Vou Rifar meu Coração Ana Rieper 2012 Xingu Carlos Império Hamburger Fonte: Observatório Brasileiro do Cinema e do audiovisual - Seção Cinema, disponível em https://oca.ancine.gov.br/cinema, acesso em 17 de setembro de 2017.

Tabela 11: Lançamentos de filmes brasileiros em 2013

Ano de Título Diretor Lançamento 2013 A alma da gente Helena Solberg e David Meyer 2013 A Batalha do passinho Emílio Domingos 2013 A Busca Luciano Moura 2013 A cidade é uma só? Adirley Queiróz 2013 A coleção invisível Bernard Attal 2013 A Floresta de Jonathas Sérgio Andrade 2013 A luz do Tom Nelson Pereira dos Santos 2013 A memória que me contam Lucia Murat A Nave - Uma Viagem com a Jazz Sinfônica de 2013 Luiz Otávio de Santi São Paulo 2013 A sorte em suas mãos Daniel Burman 2013 A Última Estação Marcio Cury 2013 Amazônia Desconhecida Eduardo Rajabally e Daniel Sampaio Augusto 2013 América – Uma história portuguesa João Nuno Pinto 2013 Angie Marcio Garcia Machado 2013 Anita e Garibaldi Alberto Rondalli 2013 Artigas - La redota Cesar Charlone Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã 2013 As hiper mulheres Kuikuro 2013 As horas vulgares Rodrigo de Oliveira e Victor Graize 2013 Até que a Sorte nos Separe 2 Roberto Santucci 2013 Boa sorte, meu amor Daniel Aragão 2013 Bonitinha, mas ordinária Moacyr Goés

204 2013 Caleuche - O Chamado do Mar Jorge Olguín 2013 Carreras Salete Machado 2013 Casa da mãe Joana 2 Hugo Carvana 2013 Chamada a cobrar Ana Luiza Machado da Silva Muilaert 2013 Cidade Cinza Marcelo Mesquita e Guilherme Valiengo 2013 Cine Holliúdy Halder Gomes 2013 Colegas Marcelo Galvão 2013 Coração do Brasil Daniel Solá Santiago 2013 Corda Bamba Eduardo Goldstein 2013 Cores Francisco Garcia 2013 Corpo Presente Paolo Gregori, Marcelo Toledo 2013 Crô - O Filme Bruno Barreto 2013 Cru Jimi Figuairedo 2013 Cuica de Santo Amaro Joel de Almeida e Josias Pires Neto 2013 Doce Amianto Guto Parente e Uriá dos Reis 2013 Doméstica Gabriel Mascaro 2013 Dores de amores Raphael Bethlem Vieira 2013 Dossiê Jango Paulo Henrique Fontenelle 2013 Educação Sentimental Julio Bressane 2013 Elena Petra Costa 2013 Ensaio Tânia Lamarca 2013 Esse amor que nos consome Allan Ribeiro Eu Não Faço a Menor Ideia do que Eu Tô 2013 Matheus Souza Fazendo com a Minha Vida 2013 Faroeste caboclo René Sampaio 2013 Filme Jardim Atlântico William Cubits Capela 2013 Fla x Flu - 40 Minutos antes do Nada Renato Terra 2013 Flores Raras Bruno Barreto 2013 Fora do figurino Paulo Pélico 2013 Fragmentos de Paixão Iara Cardoso 2013 Mariana Brennand Fortes 2013 Giovanni Improtta José Wilker 2013 Habi, A Estrangeira Maria Florencia Alvarez 2013 Hijab, Mulheres de Véu Paulo Halm 2013 Hoje Márcia Lellis de Souza Amaral 2013 - O Filho do Holocausto Sergio Heitor D'Alincourt Ribeiro e Pedro Bial 2013 Juan e a bailarina Raphael Gayer Aguinaga 2013 Kátia Karla Holanda 2013 Laura Fellipe Barbosa 2013 Lira Paulistana e a Vanguarda Paulista Riba de cAstro 2013 Mais uma Canção Rene Goya Filho e Alexandre Derlam 2013 Margaret Mee e a flor da lua Malu de Martinho 2013 Mataram meu Irmão Cristiano Burlan 2013 Mato sem cachorro Pedro Amorim 2013 Meu amigo Claudia Dácio Pinheiro de Andrade 2013 Meu Passado me Condena Julia Rezende 2013 Meu pé de laranja-lima Marcos Bernstein Seixas

205 2013 Minha mãe é uma peça André Pellenz 2013 Minhocas Paulo Conti e Arthur Nunes 2013 Morro dos Prazeres Maria Augusta Ramos 2013 Mulheres africanas - A rede invisível Carlos Nascimbeni 2013 Mundo invisível vários diretores 2013 Na carne e na alma Alberto Salvá Contel 2013 Na quadrada das águas perdidas Wagner Miranda Lima e Marcos Carvalho Guto Parente, Luiz Pretti, Pedro Giogenes e 2013 No lugar errado Ricardo Pretti 2013 Noites de reis Vinícius Reis 2013 Nove crônicas para um coração aos berros Gustavo Galvão 2013 O abismo prateado Karim Ainouz 2013 O Brasil deu certo. E agora? Louise Sottomaior 2013 O Carteiro Reginaldo Faria 2013 O Concurso Pedro Vasconcelos 2013 O dia que durou 21 anos Camilo Galli Tavares 2013 O Exercício do Caos Frederico Machado 2013 O Inventor de Sonhos Ricardo Nauenberg 2013 O País do Desejo Paulo Caldas 2013 O Primeiro Dia de um Ano Qualquer Domingos Oliveira 2013 O que se move Caetano Gotardo 2013 O Renascimento do Parto - O filme Eduardo Henrique Leon Chauvet 2013 O Som ao Redor Kleber de Mendonça Vasconcellos Filho 2013 O Tempo e o Vento Jayme Monjardin 2013 Odeio o dia dos namorados Roberto Santucci 2013 Olhe pra mim de novo Claudia Priscilla e Kiko Goifman 2013 Paixão e Acaso Domingos Oliveira 2013 Paulo Moura - Alma Brasileira Eduardo Escorel 2013 Por que você partiu? Eric Belhassem 2013 Por Trás do Véu Emiliano Ribeiro de Almeida 2013 Pra lá do mundo Roberto Studart 2013 Pulmão da Arquibancada Pedro Von Krüger e Marcel Costa 2013 Qualé o teu Negócio? Sério Gagliardi 2013 Quase um tango Sérgio Roberto Silva 2013 Raça Joel Zito Araújo e Megan Mylan 2013 Rânia Roberta Marques Gary Gananian, Cassiana Dher Haroutiounian, 2013 Rapsódia Armênia Cesar Augusto Gananian 2013 Repare Bem Maria de Medeiros 2013 Réquiem para Laura Martin Luiz Rangel e Paulo Duarte Eduardo Piñero, Pablo Fernández e Alejandro 2013 Reus Pi Thiago Di Fiore, Fábio Di Fiore e Adolfo 2013 Santo Marcos, Goleiro de Placa Rosenthal 2013 São Silvestre Lina Chamie Daniel Gaggini, Fausto Noro, Otavio Whately 2013 Satyrianas, 78horas em 78 min Pacheco 2013 Se puder...dirija! Paulo Fontenelle

206 2013 Segredos da tribo José Padilha 2013 Serra Pelada Heitor Dhalia 2013 Serra pelada – A lenda da montanha de ouro Victor Lopes 2013 Simone Juan Zapata 2013 Sobral - o Homem que Não tinha Preço Paula Fiuza 2013 Solidões Oswaldo Montenegro 2013 Somos tão jovens Antonio Carlos da Fontoura 2013 Sorria, Você esta na Barra Izabel Jaguaribe 2013 Super Nada Rubens Rewald 2013 Tabu Miguel Gomes 2013 Tainá - A Origem Rosane Svartman 2013 Tatuagem Hilton Lacerda 2013 Tokiori - Dobras do Tempo Paulo Pastorelo 2013 Trampolim do Forte João Rodrigo Mattos 2013 Uma história de amor e fúria Luiz Bolognesi 2013 Vai que dá certo Maurício Farias 2013 Vazio Coração Alberto Araújo 2013 Vendo ou alugo Betse de Paula 2013 Xico stockinger Frederico Mendina Fonte: Observatório Brasileiro do Cinema e do audiovisual - Seção Cinema, disponível em https://oca.ancine.gov.br/cinema, acesso em 17 de setembro de 2017.

Tabela 12: Lançamentos de filmes brasileiros em 2014

Ano de Título Diretor Lançamento

12 de Junho de 1993 - O Dia da Paixão 2014 Jaime Queiroz, Mauro Beting Palmeirense 2014 A Balada do Provisório Felipe David Rodrigues 2014 A Casa Elétrica Gustavo Fogaça 2014 A Farra do Circo Roberto Berliner/PEDRO BRONZ 2014 A Grande Vitória Stefano Capuzzi Lapietra 2014 A História do Homem Henry Sobel André Bushatsky 2014 A Noite da Virada Fábio Mendonça 2014 A Oeste do Fim do Mundo Paulo Nascimento A Onda da Vida – Uma História de Amor & 2014 José Augusto Costa Henriques Surf 2014 A Pelada Damien Chemin A Primeira Missa ou Tristes Tropeços, 2014 Ana Carolina Teixeira Soares Enganos e Urucum 2014 À Queima Roupa Theresa Jessouroun 2014 Alemão José Eduardo Belmonte 2014 Alguém Qualquer Tristan Aronovich 2014 Amazônia Thierry Ragobert

207 2014 Amazônia Eterna Belisario França 2014 Aos Ventos que Virão Hermano Penna 2014 Apneia Mauricio Eça 2014 As Aventuras do Avião Vermelho Frederico Pinto, José Maia 2014 Até que a Sbórnia nos Separe Otto Guerra, Ennio Torresan Jr. 2014 Avanti Popolo Michael Wahrmann 2014 Bernardes Gustavo Gama Rodrigues e Paulo de Barros 2014 Boa Sorte Carolina Jabor 2014 Brincante Walter Carvalho 2014 Castanha Davi Pretto 2014 Causa e Efeito André Marouco 2014 Confia em Mim Michel Tikhomiroff 2014 Confissões de Adolescente - o Filme Daniel Filho e Cris D’Amato 2014 Copa de Elite Vitor Brandt 2014 Coração de Leão Marcos Carnevale 2014 Cuba Libre Evaldo Mocarzel 2014 De Menor Caru Alves de Souza 2014 Democracia em Preto e Branco Pedro Asbeg 2014 Do Lado de Fora Alexandre Carvalho 2014 Joaquim Castro, Eduardo Nazarian e Mariana Aydar 2014 Eles Voltam Marcelo lordello 2014 Em busca de Iara Flavio Frederico 2014 Em Busca de um Lugar Comum Felippe Mussel 2014 Entre Nós Paulo Morelli 2014 Entre Vales Philippe Barcinsk 2014 Esse Viver Ninguém me Tira Caco Ciocler 2014 Estação Liberdade Caíto Ortiz 2014 Futebol de várzea Marc Dourdin 2014 Gata Velha Ainda Mia Rafael Primot 2014 Getúlio João Jardim 2014 Hélio Oiticica Cesar Oiticica Filho 2014 Hoje eu quero voltar sozinho Daniel Ribeiro 2014 Ilegal Raphael Erichsen, Tarso Araujo 2014 Insônia Beto Souza 2014 Irmã Dulce Vicente Amorim 2014 Isolados Tomas Portella 2014 Jardim Europa Mauro Baptista Vedia 2014 Jogo das Decapitações Sérgio Bianchi 2014 Jogo de Xadrez Luis Antonio Pereira 2014 Julio Sumiu Roberto Berliner 2014 Junho João Wainer 2014 La Playa D. C. Juan Andrés Arango 2014 Lascados Vitor Mafra 2014 Latitudes Felipe Braga 2014 Made in China Estevão Ciavatta 2014 Mão na Luva José Joffily, Roberto Bomtempo 2014 Mar negro Rodrigo Aragão

208 2014 Meninos da Vila - A Magia dos Santos Kátia Lund 2014 Meninos de Kichute Luca Amberg 2014 Mentiras Sinceras Pedro Asbeg 2014 Minutos Atrás Caio Sóh 2014 Muita calma nessa hora 2 Felipe Joffily 2014 Na Quebrada Fernando Andrade Não Pare na Pista: A Melhor História de 2014 Daniel Sampaio Augusto Paulo Coelho 2014 O Candidato Honesto Roberto Santucci 2014 O Casamento de Gorete Paulo Vespúcio 2014 O Grande Kilapy Zézé Gamboa 2014 O Homem das Multidões Cão Guimarães e Marcelo Gomes 2014 O Lobo Atrás da Porta Fernando Coimbra 2014 O Menino e o Mundo Alê Abreu 2014 O Menino no Espelho Guilherme Fiúza 2014 O Mercado de Notícias Jorge Furtado 2014 O Segredo dos Diamantes Helvécio Ratton 2014 O Senhor do Labirinto Geraldo Motta, Gisella de Mello 2014 O Último Lance do Leilão Orides Vicente da Silva e Fabrício Cavalcanti 2014 O Vento Lá Fora Marcio Debellian 2014 Olho Nu Joel Pizzini 2014 Operários da Bola Virna Smith 2014 Os Amigos Lina Chamie Os Caras de Pau em o Misterioso Roubo do 2014 Felipe Joffily Anel 2014 Os Dias com Ele Maria Clara Escobar Os Homens são de Marte... E é para lá que 2014 Marcus Baldini eu vou 2014 Ozualdo Candeias e o Cinema Eugenio Puppo 2014 Pau Brasil Fernando Belens 2014 Praia do Futuro Karim Aïnouz 2014 Quando Eu Era Vivo Marco Dutra 2014 Remar é... Valerio Martins da Fonseca 2014 Rio em Chamas Daniel Caetano 2014 Rio, Eu te Amo Vários 2014 Riocorrente Paulo Sacramento 2014 Ritos de Passagem Francisco Liberato de Mattos 2014 S. O. S. Mulheres ao Mar Cris D'Amato 2014 Sem Pena Eugenio Puppo 2014 Sementes do Nosso Quintal Fernanda Heinz 2014 Setenta Emília Silveira 2014 Sobre Sete Ondas Verdes Espumantes Bruno Polidoro, Carlos Nazário 2014 Sobrevivente Urbano José Claudio Silva 2014 Sobrevivi ao Holocausto Caio Cobra e Marcio Pitliuk 2014 Sopro Marcos Pimentel 2014 Tarja Branca Cacau Rhoden 2014 Tim Lopes – História de Arcanjo Guilherme Azevedo 2014 Tim Maia Mauro Lima

209 2014 Trash - A Esperança vem do Lixo Stephen Daldry 2014 Trinta Paulo Machline 2014 Uma Dose Violenta de Qualquer Coisa Gustavo Galvão 2014 Uma Passagem para Mário Eric Loiola 2014 Ventos de Agosto Gabriel Mascaro 2014 Vermelho Brasil Sylvain Archambault 2014 Vestido pra Casar Gerson Sanginitto Fonte: Observatório Brasileiro do Cinema e do audiovisual - Seção Cinema, disponível em https://oca.ancine.gov.br/cinema, acesso em 17 de setembro de 2017.

Tabela 13: Lançamentos de filmes brasileiros em 2015

Ano de Título Diretor Lançamento

2015 #Garotas Alessandro Tulio Medeiros Gustavo Spolidoro, Ana Rieper, Camilo Cavalcante, 2015 5x Chico - O Velho e Sua Gente Eduardo Goldenstein, Eduardo Nunes 2015 A casa de Cecília Clarissa Appelt 2015 A esperança é a última que morre Calvito Pereira Leal 2015 A Estrada 47 Vicente Ferraz 2015 A Floresta que se Move Vinícius Coimbra 2015 A História da Eternidade Camilo Cavalcante 2015 A hora e a vez de Augusto Matraga Vinícius Coimbra 2015 A Lei da Água André Vilela D´elia 2015 A Nação que não Esperou por Deus Lucia Murat e RODRIGO HINRICHSEN 2015 A Viagem de Yoani Peppe Siffredi, Raphael Bottino 2015 A Vida Privada dos Hipopótamos Maíra Bühler, Matias Mariani 2015 Alucinados Roberto Santucci 2015 Amor, Plástico e Barulho Renata Pinheiro 2015 Anna K. José Roberto Aguilar 2015 Aprendi a Jogar com Você Murilo Salles 2015 Aqui Deste Lugar Sérgio Machado e Fernando Coimbra 2015 Até que a casa caia Mauro Giuntini 2015 Até que a sorte nos separe 3 Roberto Santucci; Marcelo Braz 2015 Ato, atalho e vento Marcelo Sá Moreira Masagão André Lorenz Michiles, Diogo Martins, Fábio 2015 Através Bardella 2015 Ausência Gustavo Pereira da Silva Teixeira 2015 Batguano Otavio Teixeira de Carvalho Neto 2015 Beira-mar Filipe Matzembacher/ Marcio Reolon 2015 Bem Casados Aluízio Abranches 2015 Betinho - A Esperança Equilibrista Victor Lopes 2015 Branco Sai Preto Fica Adirley Queirós 2015 Califórnia Marina Person 2015 Caminho de volta José Joffily/Pedro Rossi

210 2015 Campo de Jogo Eryck Rocha 2015 Carrossel, O Filme Alexandre Boury, Mauricio Eça 2015 Casa Grande Fellipe Barbosa 2015 Cássia Eller Paulo Henrique Fontenelle 2015 Cativas - presas pelo coração Joana Nin 2015 Cauby - Começaria Tudo Outra Vez Nelson Hoineff 2015 Chatô - O Rei do Brasil Guilherme Fontes 2015 Chico - Artista Brasileiro Miguel Faria Jr. 2015 Cidade de Deus - 10 Anos Depois Cavi Borges / Luciano Vidigal 2015 Circo Voador - A Nave Tainá Menezes Marcos DeBrito / 2015 Condado Macabro André de Campos Mello 2015 Damas do samba Susanna Lira 2015 De Gravata e Unha Vermelha Miriam Chnaiderman 2015 Depois da Chuva Cláudio Marques, Marília Hughes 2015 Depois de Tudo João Araujo 2015 Divã a 2 Paulo Fontenelle 2015 Dois Casamentos Luiz Rosemberg Filho 2015 Dromedário no Asfalto Gilson Vargas 2015 Eduardo Coutinho, 7 de Outubro Carlos Nader 2015 Em Três Atos Lúcia Murat 2015 Entrando numa roubada André Torres Moraes 2015 Entre Abelhas Ian Samarão Brandão Fernandes (Ian SBF) 2015 Estranhos Paulo César Santana de Alcântara Filho 2015 Eu nunca Kauê Telloli 2015 Fala Sério! Augusto Sevá 2015 Filme sobre um bom fim Boca Migotto 2015 Guitarra Baiana: A Voz do Carnaval Daniel Talento 2015 Hamlet Cristiano Burlan da Silva 2015 Hermógenes, Professor e Poeta do Yoga Bárbara de Oliveira Tavares 2015 Hipóteses para o amor e a verdade Rodolfo García Vázquez 2015 Homem comum Carlos Nader 2015 Hysteria Ava Rocha ; Evaldo Mocarzel 2015 Ídolo Ricardo Calvet 2015 Infância Domingos Oliveira 2015 Insubordinados Edu Felistoque 2015 Iván Guto Pasko 2015 Jia Zhang-ke, um homem de Fenyang Walter Salles 2015 Linda de morrer Cristiane D´Amato Los Hermanos: Esse é só o Começo do Fim 2015 Maria Ribeiro da Nossa História 2015 Loucas pra Casar Roberto Santucci Meia hora e as manchetes que viram 2015 Angelo Defanti manchete Alfredo Sternheim, Clery Cunha, José Mojica 2015 Memórias da Boca Marins, Mário Vaz Filho, Diomédio Piskator, Tony Ciambra, Diogo Gomes dos Santos, Valdir Baptista 2015 Metanóia Luís Henrique Miguel de Melo

211 2015 Meu Passado Me Condena 2 Julia Rezende 2015 Meus Dois Amores Luiz Henrique Rios 2015 Muitos Homens num Só Mini Kerti 2015 Mulheres no poder Gustavo Acioli Ninguém Ama Ninguém por Mais de Dois 2015 Clovis Mello Anos 2015 No Meio do Rio, Entre as Árvores Jorge Bodanzky 2015 O Amuleto Jeferson Rodrigues de Rezende Luiz Felipe Fernandes de Oliveira Filho / Cristiano 2015 O Dia do Galo Torres Azzi 2015 O Duelo Marcos Jorge 2015 O Fim de Uma Era Bruno Safadi, Ricardo Pretti 2015 O Fim e os Meios Murilo Salles 2015 O Gorila José Eduardo Belmonte 2015 O Rio nos Pertence Ricardo Pretti 2015 O Uivo da Gaita Bruno Safadi 2015 O último cine drive-in Iberê Carvalho Ferreira Santos 2015 O Último Poema Mirela Kruel 2015 O Vendedor de Passados Luiz Buarque de Hollanda 2015 Obra Gregorio Gaziosi 2015 Onde Borges Tudo Vê Taciano Valério Alves da Silva 2015 Operações Especiais Tomas Portella 2015 Oração do amor selvagem Chico Faganello 2015 Orestes Rodrigo Siqueira 2015 Órfãos do Eldorado Guilherme Coelho 2015 Os Maias - Cenas da Vida Romântica João Botelho 2015 Os Tubarões de Copacabana Rosario Teresa Boyer 2015 Os Últimos Cangaceiros Wolney Oliveira Vandré Fernandes, Ana Petta, Fábio Bardella, 2015 Osvaldão André Michiles 2015 Ouro, suor e lágrimas Helena Sroulevich 2015 Passarinho lá de Nova Iorque Murilo Salles 2015 Pauê – O Passo de um Vencedor Fábio Cappellini, Alessandra Pereira Gustavo Godinho/Marco André/Leonardo 2015 Paysandu 100 anos de Payxão Edde/Priscilla Brasil/Eduardo Albergaria 2015 Pequeno dicionário amoroso 2 Sandra Werneck, Mauro Farias 2015 Periscópio José Henrique Goifman 2015 Permanência Leonardo Lacca 2015 Piadeiros Gustavo Rosa de Moura 2015 Ponte Aérea Júlia Rezende 2015 Qualquer Gato Vira-lata 2 Roberto Santucci Filho / Marcelo Antunes Braz 2015 Quase Samba Ricardo Targino 2015 Que horas ela volta? Ana Luiza Machado da Silva Muylaert 2015 Real Beleza Jorge Furtado 2015 Rio Cigano Julia Zakia 2015 Romance Policial Jorge Duran 2015 S.O.S Mulheres ao mar 2 Cristiane D´Amato 2015 Samba & Jazz Jefferson Mello

212 2015 Sangue Azul Lírio Ferreira 2015 Se Deus Vier que Venha Armado Luis Dantas 2015 Sorria, Você Está Sendo Filmado - O Filme Daniel Filho 2015 Superpai Pedro Amorim 2015 Surfar é Coisa de Rico Guga Sander 2015 Território Do Brincar Renata Meirelles / DAVID JOSEPH REEKS 2015 HÉLIO GOLDSTEJN 2015 Tudo por amor ao cinema José Aurélio Michelis 2015 Tudo que aprendemos juntos Sérgio Machado 2015 Tudo que Deus Criou André da Costa Pinto 2015 Últimas Conversas Eduardo Coutinho 2015 Um filme francês Cavi Borges 2015 Um Sonho Intenso José Mariani de Sá Carvalho 2015 Vai que Cola - O Filme Cesar Eduardo Rodrigues 2015 Vai Vai: 80 Anos nas Ruas Fernando Capuano 2015 Zirig Dum Brasília André Luiz da Silveira Oliveira Fonte: Observatório Brasileiro do Cinema e do audiovisual - Seção Cinema, disponível em https://oca.ancine.gov.br/cinema, acesso em 17 de setembro de 2017.

Tabela 14: Lançamentos de filmes brasileiros em 2016

Ano de Título Diretor Lançamento 2016 1976 - O Ano da Invasão Corinthiana Ricardo Aidar, Alexandre Boechat 2016 82 minutos Nelson Hoineff 2016 A Bruta Flor do Querer Andradina Azevedo; Dida Andrade 2016 A Despedida Marcelo Galvão 2016 A frente fria que a chuva traz Neville de Almeida 2016 A Loucura entre Nós Fernanda Vareille 2016 A Luneta do Tempo Alceu Valença 2016 A Morte de J.P. Cuenca João Paulo Cuenca 2016 A Vizinhança do Tigre Affonso Uchôa 2016 Abaixando a Máquina 2 – No Limite da Linha Guillermo Daniel Planel Rossielo 2016 Amor em Sampa Carlos Alberto Riccelli 2016 Amores Urbanos Vera Egito 2016 Apaixonados - O Filme Paulo Fontenelle 2016 Aquarius Kleber Mendonça Filho 2016 Arminda Lopes — A Estética Além da Dor Luzimar Batista Stricher 2016 Através da Sombra Walter Lima Junior 2016 Big Jato Claudio Assis 2016 Boi neon Gabriel Mascaro 2016 BR 716 Domingos de Oliveira 2016 Brasil Rico - Uma Discussão Sobre Prosperidade Louise Sottomaior; Maílson da Nóbrega 2016 Brasil S/A Marcelo Pedroso 2016 Brasil: DNA África MÔNICA AMORIM MONTEIRO 2016 Campo Grande Sandra Kogut 2016 Canção da Volta Gustavo Rosa de Moura

213 2016 Carrossel 2 - O Sumiço de Maria Joaquina Mauricio Eça 2016 Charlote SP Frank Mora 2016 Cícero Dias, o Compadre de Picasso Vladimir Carvalho 2016 Cinema Novo Eryk Rocha 2016 Coragem Sebastião Braga 2016 Curumim Marcos Prado 2016 De Onde Eu Te Vejo Luiz Villaça 2016 Deixe-me viver Clovis Vieira 2016 Dentro da Caixinha Guilherme Reis 2016 Desculpe o transtorno Tomas Portella 2016 Do Pó da Terra Maurício Nahas 2016 É fada! Cris D'Amato 2016 Ela volta na quinta André Novais Oliveira 2016 Elis Hugo Prata 2016 Em Nome da Lei Sergio Rezende 2016 Entre Idas e Vindas José Eduardo Belmonte 2016 Epidemia de Cores Mário Eugênio Saretta 2016 Espaço Além - Marina Abramovic e o Brasil Marco Del Fiol 2016 Estive em Lisboa e lembrei de você José Barahona 2016 Eu sou Carlos Imperial Renato Terra / Ricardo Calil 2016 Exilados do Vulcão Paula Gaitán 2016 Fome Cristiano Burlan 2016 Futuro Junho Maria Augusta Ramos 2016 Galinha Pintadinha Mini na Telona Marcos Luporini; Juliano Prado 2016 Geraldinos Pedro Asbeg; Renato Martins 2016 Glauco do Brasil Zeca Brito 2016 Hector Edu Felistoque 2016 Henry Kayath: O Homem e Seu Tempo Regina Sueli Bouhid Jehá 2016 Hestórias da Psicanálise - Leitores de Freud Francisco Ronald 2016 Histórias de Alice Oswaldo Caldeira 2016 Invasores Marcelo Freitas Toledo de Melo 2016 Jaime Lerner - Uma História de Sonhos Carlos Deiró 2016 Jonas Sonia Politi 2016 Lua em Sagitário Márcia Paraíso 2016 Mãe só há uma Anna Muylaert 2016 Magal e os Formigas Newton Cannito; Michael Namur Mais Forte que o Mundo - A História de José 2016 Afonso Poyart Aldo 2016 Maresia Marcos Guttmann Pedro Junqueira Caldas; Alexandre Miranda de 2016 Marginal Freitas 2016 Marias Joana Mariani 2016 Mate-me por favor Anita Rocha da Silveira 2016 Menino 23 - Infâncias Perdidas no Brasil Belisario Franca 2016 Meu Amigo Hindu Hector Babenco 2016 Meu Nome é Jacque Angela Zoé 2016 Miller & Fried - As Origens do País do Futebol Luiz Ferraz

214 2016 Minha mãe é uma peça 2 César Rodrigues Muleque Té Doido 2: A Lenda de Dom 2016 Erlanes Duarte Sebastião 2016 Mundo Cão Marcos Jorge 2016 Mundo Deserto de Almas Negras Ruy Veridiano 2016 Nascida de Novo Maria da Graça Hughes 2016 Nervos de Aço Maurice Capovilla 2016 Nise - O Coração da Loucura Roberto Berliner 2016 No Vermelho Marcelo Reis 2016 Nós duas descendo a escada Fabiano de Souza 2016 Nos Passos do Mestre André Marouço 2016 O Amor de Catarina Gilberto Baroni 2016 O amor no divã Alexandre Reinecke 2016 O Ardor Pablo Fendrik 2016 O Caseiro Julio Santi 2016 O Começo da Vida Estela Renner 2016 O diabo mora aqui Dante Vescio; Rodrigo Gasparini 2016 O Escaravelho do Diabo Carlo Milani 2016 O Filho Eterno Paulo Machline 2016 O Gigantesco Imã Petrônio Freire de Lorena; Tiago Scorza 2016 O Mestre e o Divino Tiago Campos 2016 O Outro Lado do Paraíso André Ristum 2016 O Roubo da Taça Caito Ortiz 2016 O Shaolin do Sertão Halder Gomes 2016 O Signo das Tetas Frederico Machado 2016 O Silêncio do Céu Marco Dutra 2016 O Touro Larissa Figueiredo 2016 O Último Virgem Rilson Baco; Felipe Bretas 2016 O Vendedor de Sonhos Jayme Monjardim 2016 Olympia 2016 Rodrigo Mac Niven 2016 Os dez mandamentos - O filme Alexandre Avancini 2016 Os Inimigos Da Dor Arauco Hernández 2016 Os Outros Sandra Werneck 2016 Os Senhores da Guerra Tabajara Ruas Os Sonhos de um Sonhador - A História de 2016 Caco Milano Frank Aguiar 2016 Palmeiras, o Campeão do Século Mauro Betting, Kim Teixeira 2016 Para Minha Amada Morta Aly Muritiba 2016 Paratodos Marcelo Mesquita 2016 Paulina Santiago Mitre 2016 Pequeno Segredo David Schurman 2016 Ponho a Mão no Fogo André Amado 2016 Ponto Zero José Pedro Goulart 2016 Porta dos Fundos - Contrato Vitalício Ian SBF 2016 Precisamos Falar do Assédio Paula Sacchetta 2016 Prova de Coragem Roberto Gervitz

2016 Quanto Tempo o Tempo Tem Adriana L. Dutra

215 Nelli Sampaio; Rodrigo Vander Put; Neliselma 2016 Quem Você Quer Ser Nessa História? Sampaio dos Santos 2016 Ralé Helena Ignez 2016 Reza a Lenda Homero Olivetto 2016 Rondon, o desbravador Marcelo Santiago; Rodrigo Piovezan 2016 São Paulo em Hi-Fi Lufe Steffen São Sebastião do Rio de Janeiro - A Formação 2016 Juliana de Carvalho de uma Cidade 2016 Sinfonia da Necrópole Juliana Rojas 2016 Sob Pressão Andrucha Waddington 2016 Tamo junto Matheus Souza 2016 Teobaldo Morto, Romeu Exilado Rodrigo de Oliveira 2016 Teresinha Victor Ribeiro 2016 Tô ryca! Pedro Antônio 2016 Toro Edu Felistoque 2016 Trago comigo Tata Amaral 2016 Travessias Salete Paulina Machado Sirino 2016 Turbulência Tiago Venâncio 2016 Um Homem Só Cláudia Jouvin 2016 Um namorado para minha mulher Júlia Rezende 2016 Um Suburbano Sortudo Roberto Santucci 2016 Uma Loucura de Mulher Marcus Ligocki Júnior 2016 Uma Noite em Sampa Ugo Giorgetti 2016 Vai que dá certo 2 Maurício Farias 2016 Vampiro 40º Marcelo Santiago 2016 Vidas Partidas Marcos Schetchman 2016 Xingu Cariri Caruaru Carioca Beth Formaggini 2016 Yorimatã Rafael Saar 2016 Zé de Julião, Muito Além do Cangaço Hermano Penna 2016 Zoom Pedro Morelli

Fonte: Observatório Brasileiro do Cinema e do audiovisual - Seção Cinema, disponível em https://oca.ancine.gov.br/cinema, acesso em 17 de setembro de 2017.

Tabela 15: Lançamentos de filmes argentinos em 2009

216 Ranking de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47

Ranking Titulo Fecha Estreno Origen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 1 EL SECRETO DE SUS OJOS 13/08/2009 Nac 2.457.396 34.679.195 2 IMAX VARIAS PELICULAS EXHIBIDAS 02/01/2009 Fest,Muestras.. 769.090 24.922.646 3 LAS VIUDAS DE LOS JUEVES 10/09/2009 Nac 541.279 7.330.014 4 PAPA POR UN DIA 06/08/2009 Nac 480.568 6.421.516 5 ESPERANDO LA CARROZA 2 02/04/2009 Nac 380.780 4.884.439 6 MUSICA EN ESPERA 19/03/2009 Nac 241.007 3.052.389 7 EL RATON PEREZ 2 01/01/2009 Nac 231.477 2.529.113 8 CUESTION DE PRINCIPIOS 24/09/2009 Nac 166.523 2.081.840 9 FELICITAS 11/06/2009 Nac 131.788 1.731.316 10 ANITA 27/08/2009 Nac 126.902 1.522.784 11 100 % LUCHA 2, EL AMO DE LOS CLONES 16/07/2009 Nac 123.656 1.535.390 12 BOOGIE EL ACEITOSO 22/10/2009 Nac 96.460 1.691.603 13 EL CORREDOR NOCTURNO 29/10/2009 Nac 96.290 1.258.276 14 EL NIÑO PEZ 08/04/2009 Nac 54.973 595.968 15 XXIV FESTIVAL DE CINE INTER MAR DEL PLATA 07/11/2009 Fest,Muestras.. 48.520 238.980 16 CINE NUCLEO 01/03/2009 Fest,Muestras.. 37.403 25.167 17 POEMA DE SALVACION 19/11/2009 Nac 25.965 318.950 18 EDICION XI DEL FESTIVAL INTERNAC DERHUMALC 27/05/2009 Fest,Muestras.. 22.449 358.807 19 AMOROSA SOLEDAD 05/03/2009 Nac 20.986 223.230 20 EL ARTISTA 28/05/2009 Nac 20.923 372.464 21 CARTAS PARA JENNY 10/12/2009 Nac 20.135 364.553 22 CICLOS PROGRAMADOS P/ JUNIO - JULIO 2009 01/06/2009 Fest,Muestras.. 17.830 77.826 23 MUNDO ALAS 26/03/2009 Nac 17.273 146.477 24 LA VENTANA 12/03/2009 Nac 17.166 142.241 25 DOCUMENTAL MUSICAL DE BARCELONA-IN-EDIT 24/01/2009 Fest,Muestras.. 14.636 105.206 26 NUNCA ESTUVISTE TAN ADORABLE 08/10/2009 Nac 14.633 298.950 27 LA SANGRE BROTA 14/05/2009 Nac 14.296 125.746 28 APARECIDOS 03/12/2009 Nac 14.041 194.709 29 TRES DESEOS 05/11/2009 Nac 13.900 178.427 30 TIERRA SUBLEVADA , ORO IMPURO 10/09/2009 Nac 11.206 82.059 31 EL HOMBRE QUE CORRIA TRAS EL VIENTO 03/09/2009 Nac 9.862 135.451 32 EL ULTIMO VERANO DE LA BOYITA 27/08/2009 Nac 9.848 94.689 33 CICLOS PROGRAMADOS FEBRERO - MARZO 2009 01/02/2009 Nac 9.590 29.770 34 UNA SEMANA SOLOS 11/06/2009 Nac 8.981 77.628 35 TODA LA GENTE SOLA 18/06/2009 Nac 8.429 88.677 36 HOMERO MANZI, UN POETA EN LA TORMENTA 24/09/2009 Nac 8.084 68.888 37 EL ULTIMO APLAUSO 03/12/2009 Nac 7.676 78.603 38 DIAS DE MAYO 25/05/2009 Nac 7.623 72.716 39 CINE NUCLEO GAUMONT 2009 01/01/2009 Fest,Muestras.. 7.552 6.026 40 LO SINIESTRO 22/10/2009 Nac 6.900 133.489 41 MENTIRAS PIADOSAS 20/08/2009 Nac 6.510 76.818 42 FANTASMA DE BUENOS AIRES 26/11/2009 Nac 6.414 78.222 43 VECINOS 02/07/2009 Nac 6.414 68.175 44 HORIZONTAL VERTICAL 22/10/2009 Nac 6.268 67.122 45 FESTIVAL IN-EDIT BUENOS AIRES 10/12/2009 Fest,Muestras.. 6.206 51.332 46 CICLO "ACTUALIDAD DEL CINE JAPONES" 29/01/2009 Fest,Muestras.. 5.939 37.614 47 CICLOS " VARIOS FILMS MALBA ENERO-09" 08/01/2009 Fest,Muestras.. 5.439 42.732 48 X EDICION DEL FESTIVAL DE TERROR Y FANTASTI.. 29/10/2009 Fest,Muestras.. 5.438 41.739 49 LA TIGRA CHACO 24/09/2009 Nac 5.383 44.678 50 XI FESTIVAL INTERNAC DE C INDEPENDIENTE 25/03/2009 Nac

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4R9anking LTAit uTlIoGRA CHACO 2Fe4c/0h9a /E2s0t0r9eno NOraicgen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 50 XI FESTIVAL INTERNAC DE C INDEPENDIENTE 25/03/2009 Nac 5.249 32.446 51 HAROLDO CONTI 04/06/2009 Nac 5.211 27.459 52 MUESTRA "LOS AMIGOS DEL MAL" 04/06/2009 Fest,Muestras.. 5.031 35.357 53 SANGRE DEL PACIFICO 12/11/2009 Nac 5.020 45.006 54 CICLOS"LOS JUEGOS DE LA SEDUCCION" 20/01/2009 Fest,Muestras.. 4.576 30.050 55 VII EDICION DEL FESTIVAL INTERNACIONAL DE C .. 05/11/2009 Fest,Muestras.. 4.548 73.519 56 IX FESTIVAL DE CINE ALEMAN 10/09/2009 Fest,Muestras.. 4.453 68.852 57 MUESTRA "MORBO EN MALBA" 01/10/2009 Fest,Muestras.. 4.096 28.747 58 IX FESTIVAL INTERN CINE DE " TEMATICA SEXUA.. 10/09/2009 Fest,Muestras.. 4.046 24.443 59 CICLO " CINE CUBANO ENERO 2009" 09/01/2009 Fest,Muestras.. 3.794 17.183 60 MANUEL DE FALLA, MUSICO DE DOS MUNDOS 04/05/2009 Nac 3.777 23.783 61 MUESTRA " ROCKN ROLL" 05/11/2009 Fest,Muestras.. 3.716 22.582 62 EL ASALTANTE 09/04/2009 Nac 3.221 38.065 63 VIL ROMANCE 29/01/2009 Nac 3.127 19.620 64 LA LEY DEL DESEO 05/03/2009 Nac 3.013 21.961 65 EL BAZAR DE LAS SORPRESAS 09/04/2009 Fest,Muestras.. 2.922 11.265 66 ALICIA & JOHN EL PERONISMO OLVIDADO 12/11/2009 Nac 2.909 16.377 67 II CINE FEST BRASIL- BUENOS AIRES 23/04/2009 Fest,Muestras.. 2.886 30.968 68 NORMA ARROSTITO LA GABY 22/01/2009 Nac 2.808 20.275 69 MUESTRA "LA VIOLENCIA ESTA EN NOSOTROS" 03/12/2009 Fest,Muestras.. 2.510 23.602 70 VS CORTOS MALBA FEBRERO 2009 01/02/2009 Fest,Muestras.. 2.504 18.882 71 MUESTRA " CLASICOS DE ESTRENO XIV " 06/08/2009 Fest,Muestras.. 2.455 14.312 72 HISTORIAS BREVES (CINE GAUMOUNT) 01/04/2009 Fest,Muestras.. 2.438 11.793 73 HUMO (NO FUMAR ES UN VICIO COMO CUALQUIE.. 14/12/2009 Nac 2.247 54.610 74 MUESTRA "SUPERACCION" 02/07/2009 Fest,Muestras.. 2.226 15.301 75 PARADOR RETIRO 11/06/2009 Nac 2.167 13.731 76 LA INVENCION DE LA CARNE 19/11/2009 Nac 2.080 10.738 77 HIELOS MITICOS 19/03/2009 Nac 1.946 20.255 78 OPERAS PRIMAS 01/09/2009 Fest,Muestras.. 1.926 17.376 79 SILENCIOS 17/12/2009 Nac 1.914 17.830 80 IMAGEN FINAL 06/08/2009 Nac 1.727 9.949 81 EL TORCAN 15/10/2009 Nac 1.695 11.491 82 LA EXTRANJERA 05/11/2009 Nac 1.672 11.981 83 CAMPO CEREZO 12/09/2009 Nac 1.644 8.303 84 EL SUEÑO DEL PERRO 18/09/2009 Nac 1.481 9.162 85 LOS ANGELES 15/10/2009 Nac 1.463 19.731 86 LOS OJOS CERRADOS 02/04/2009 Nac 1.458 8.657 87 CICLOS PROGRAMADOS MES DE OCTUBRE 2009 01/10/2009 Fest,Muestras.. 1.444 974 88 MUESTRA "SUPERACION 2" 02/07/2009 Fest,Muestras.. 1.393 8.818 89 REGRESO A FORTIN OLMOS 05/03/2009 Nac 1.378 9.248 90 MUESTRA "BANFF MOUNTAIN FILM FESTIVAL" 26/08/2009 Fest,Muestras.. 1.342 57.578 91 RETURN TO BOLIVIA 02/07/2009 Nac 1.309 16.980 92 MERCADO CINEMATOG "VENTANA SUR" 26/11/2009 Fest,Muestras.. 1.283 22.113 93 PIANO MUDO 15/10/2009 Nac 1.246 15.490 94 CABEZA DE PESCADO 20/03/2009 Nac 1.237 5.623 95 UNIDAD 25 15/10/2009 Nac 1.170 9.508 96 ME ROBARON EL PAPEL PICADO 28/05/2009 Nac 1.143 5.775 97 ALGUN LUGAR EN NINGUNA PARTE 06/08/2009 Nac 1.031 7.060 98 XI EDICION DEL FESTIVAL INTER DERHUMALC 27/05/2009 Fest,Muestras.. 988 5.208 99 NOSOTRAS QUE TODAVIA ESTAMOS VIVAS 10/12/2009 Nac

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9R8anking XTiIt EuDloICION DEL FESTIVAL INTER DERHUMALC 2Fe7c/0h5a /E2s0t0r9eno FOersigte,Mn uPeeslitcrualsa.. Entradas Total Precio Venta Total 99 NOSOTRAS QUE TODAVIA ESTAMOS VIVAS 10/12/2009 Nac 946 3.778 100 GOLPES BAJO, LA RAULITO 17/09/2009 Nac 893 4.115 101 CAJA CERRADA 05/02/2009 Nac 777 5.246 102 PUENTES 10/12/2009 Nac 754 4.741 103 LOS CHICOS DESAPARECEN 03/09/2009 Nac 743 3.194 104 MUESTRA LES AVANT PREMIERES 13/03/2009 Nac 737 5.402 105 FANTASMAS DE LA NOCHE 15/10/2009 Nac 718 2.853 106 V FESTIVAL DE CINE INUSUAL DE BS AS 01/10/2009 Fest,Muestras.. 691 4.345 107 EL AMARILLO 03/12/2009 Nac 654 3.845 108 GALLERO 06/05/2009 Nac 647 4.092 109 TESTIMONIO DE UNA VOCACION 12/03/2009 Nac 645 6.161 110 LOS CIEN DIAS QUE CONMOVIERON AL MUNDO 28/05/2009 Nac 638 3.871 111 VIII FESTIVAL INTER DE CINE "NUEVA MIRADA" .. 03/09/2009 Fest,Muestras.. 637 3.962 112 POROTOS DE SOJA 11/06/2009 Nac 623 3.778 113 A QUIEN LLAMARIAS 18/12/2009 Nac 560 3.640 114 DE BOLIVAR A CHAVEZ, HACIA LA 2DA INDEPEND.. 20/10/2009 Nac 544 3.358 115 CICLO "GRANDES DIRECTORES" 01/12/2009 Fest,Muestras.. 520 3.869 116 EL ULTIMO MANDADO 08/10/2009 Nac 509 3.073 117 CICLO "PASADO Y PRESENTE C POLITICO Y SOC A.. 19/09/2009 Fest,Muestras.. 420 878 118 HUMOR DE LA TARDE 05/02/2009 Nac 409 3.013 119 SEMANA DEL CINE DOCUMENTAL ITALIANO 26/11/2009 Fest,Muestras.. 409 4.410 120 FESTIVAL INTERN ANIMACION EXPOTOONS 2009 26/11/2009 Fest,Muestras.. 391 946 121 SEMANA DE CINE BRASILEÑO 2009 20/11/2009 Fest,Muestras.. 387 4.068 122 MIRA VOS 25/09/2009 Fest,Muestras.. 350 350 123 MARINOS DEL PUEBLO 02/04/2009 Nac 340 2.203 124 SEMANA DEL CINE VENEZOLANO 02/04/2009 Fest,Muestras.. 315 1.508 125 EL TIGRE 17/03/2009 Fest,Muestras.. 300 300 126 MUESTRAS " ENCUENTROS CINES COREANO Y .. 01/09/2009 Fest,Muestras.. 293 1.904 127 UNA ROSA SOBRE EL PIANO 29/10/2009 Nac 287 1.552 128 ELLOS SON LOS VIOLADORES 05/12/2009 Nac 278 3.966 129 MUESTRA "EL CINE QUE NO VEMOS" 01/07/2009 Fest,Muestras.. 270 1.964 130 VIGILIA DE CINE -GAUMOUNT Y SUIPACHA 2009 16/04/2009 Fest,Muestras.. 239 1.157 131 CARTAS A MALVINAS 19/03/2009 Nac 234 1.549 132 ROSA PATRIA 05/10/2009 Nac 232 1.440 133 CICLOS DE ABRIL 01/04/2009 Fest,Muestras.. 219 950 134 LOS ULTIMOS 26/03/2009 Nac 215 1.345 135 MAREA DE ARENA 01/10/2009 Nac 205 2.887 136 HOME, LA TIERRA VISTA DESDE EL CIELO 06/08/2009 Fest,Muestras.. 204 2.678 137 MISERIAS 15/10/2009 Nac 191 1.017 138 GRANDES POLICIALES 01/05/2009 Nac 158 1.124 139 CICLO "EL CINE QUE NO VEMOS" 01/06/2009 Fest,Muestras.. 139 811 140 MUESTRA "PREESTRENOS DE CINE CHILENO" 03/09/2009 Fest,Muestras.. 122 1.220 141 PROGRAMACION VS FILMS 01/11/2009 Fest,Muestras.. 101 398 142 LEGION, TRIBUS MOTORIZADAS 03/09/2009 Nac 76 909 143 LA ASAMBLEA 05/10/2009 Nac 73 479 144 SEMANA DEL CINE FRANCES -CINE CLUB S FE 25/04/2009 Fest,Muestras.. 66 264 145 MUESTRAS "EL CINE QUE NO VEMOS" 01/11/2009 Fest,Muestras.. 64 328 146 FESTIVAL MAR DEL PLATA ITINERANTE (ESPACIO.. 14/05/2009 Fest,Muestras.. 57 187 147 IRAQUI 04/06/2009 Nac 48 171 148 DESTERRADOS 08/10/2009 Fest,Muestras..

219 Ranking de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47

1R4a7nking ITRitAuQloUI 0Fe4c/0h6a /E2s0t0r9eno NOraicgen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 148 DESTERRADOS 08/10/2009 Fest,Muestras.. 30 300 149 CICLO "ROBERTO ROSSELLINI" 16/05/2009 Fest,Muestras.. 29 171 150 CICLO ALAIN RESNAIS 27/03/2009 Fest,Muestras.. 25 84 151 MUESTRA ITINERANTE 06/12/2009 Fest,Muestras.. 21 243 152 LA SANTA CRUZ REFUGIO DE RESISTENCIA 14/09/2009 Nac 20 63 153 SALAMANDRA 03/10/2009 Fest,Muestras.. 19 133 154 MONOAMBIENTE 30/07/2009 Fest,Muestras.. 12 7 155 CICLO "EL GRITO SAGRADO" DIC/08 12/12/2009 Fest,Muestras.. 10 32 156 CLON 18/03/2009 Nac 7 105

Fonte: Instituto Nacional de Cine y Artes Visuales - Seção de Estatísticas, Gerência de Fiscalização. Disponível em http://fiscalizacion.incaa.gov.ar/index_estadisticas_series_historicas.php, acesso em 17 de setembro de 2017.

Tabela 16: Lançamentos de filmes argentinos em 2010 Ranking de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47 Ranking Titulo Fecha Estreno Origen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 1 IGUALITA A MI 12/08/2010 Nac 849.429 14.071.478 2 CARANCHO 06/05/2010 Nac 626.251 9.824.354 3 DOS HERMANOS 01/04/2010 Nac 474.209 7.143.992 4 GATURRO 09/09/2010 Nac 428.949 8.472.699 5 CUENTOS DE LA SELVA 22/07/2010 Nac 155.858 1.843.323 6 EL HOMBRE DE AL LADO 02/09/2010 Nac 143.808 2.179.254 7 PAJAROS VOLANDO 05/08/2010 Nac 139.559 2.232.994 8 SIN RETORNO 30/09/2010 Nac 133.444 2.086.031 9 "BUENOS AIRES 12º FESTIVAL INTERN C INDEPE.. 07/04/2010 Fest,Muestras.. 132.139 1.189.869 10 NI DIOS, NI PATRON NI MARIDO 23/09/2010 Nac 123.018 1.304.513 11 PLUMIFEROS 18/02/2010 Nac 89.257 810.129 12 PACO 18/03/2010 Nac 74.828 917.702 13 MISS TACUAREMBO 15/07/2010 Nac 49.325 631.226 14 "25" FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINE MDP 13/11/2010 Fest,Muestras.. 42.039 293.944 15 CHE, UN HOMBRE NUEVO 07/10/2010 Nac 38.083 589.951 16 EL MURAL 20/05/2010 Nac 37.040 528.582 17 PELICULAS "SALA EL JARDIN DE LAS DELICIAS" 08/02/2010 Fest,Muestras.. 16.872 66.580 18 PELICULAS "SALA EL JARDIN DE LAS DELICIAS" 01/03/2010 Fest,Muestras.. 4.859 18.464 19 LA MIRADA INVISIBLE 19/08/2010 Nac 21.000 339.499 20 POR TU CULPA 03/06/2010 Nac 19.931 201.816 21 EVA Y LOLA 13/05/2010 Nac 19.638 295.411 22 EL RATI HORROR SHOW 16/09/2010 Nac 17.917 299.758 23 FRANCIA 17/06/2010 Nac 15.191 136.365 24 DANZA CONTEMPORANEA X GRANDES CINEAST.. 30/08/2010 Fest,Muestras.. 12.277 91.416 25 ZENITRAM 20/05/2010 Nac 12.111 202.660 26 LENGUA MATERNA 05/08/2010 Nac 12.061 151.106 27 FAMILIA PARA ARMAR 15/10/2010 Nac 11.755 108.692 28 ANDRES NO QUIERE DORMIR LA SIESTA 04/02/2010 Nac 10.412 75.520 29 ROMPECABEZAS 29/04/2010 Nac 10.101 90.774 30 BOCA DE FRESA 11/11/2010 Nac 10.076 109.500

31 MUESTRA "DUELO DE TITANES" 04/02/2010 Fest,Muestras.. 9.754 74.255 32 CICLO "FESTIVAL DE FESTIVALES" 05/07/2010 Fest,Muestras.. 9.422 70.530 33 COMPLICES DEL SILENCIO 17/06/2010 Nac 9.162 142.770 34 CICLO "NOTICIAS DE LA ANTIGÜEDAD IDEOLOGI.. 20/08/2010 Fest,Muestras.. 7.620 58.888 35 AMOR EN TRANSITO 02/12/2010 Nac 7.495 77.082 36 SALA "EL JARDIN DE LAS DELICIAS" 01/09/2010 Fest,Muestras.. 7.269 33.059 37 UN FUEGUITO: LA HISTORIA DE CESAR MILSTEIN 11/03/2010 Nac 7.186 56.526 220 38 CICLOS PROGRAMADOS NOVIEMBRE-DIC-2010 24/11/2010 Fest,Muestras.. 7.039 57.813 39 LA VIEJA DE ATRÁS 21/10/2010 Nac 6.355 46.459 40 11 VA. EDICION DEL FESTIVAL DE CINE DE TERRO.. 03/11/2010 Fest,Muestras.. 6.131 57.969 41 UN BUEN DIA 18/11/2010 Nac 5.956 88.612 42 SEMANA DEL CINE FRANCES 18/03/2010 Fest,Muestras.. 5.760 65.768 43 CICLO "ENCICLOPEDIA ILUSTRADA DEL FILM NOI.. 20/05/2010 Fest,Muestras.. 5.468 35.632 44 GIGANTE 14/10/2010 Nac 5.290 54.533 45 PANTALLA PINAMAR 2010 06/03/2010 Fest,Muestras.. 5.248 24.560 46 AWKA LIWEN, REBELDE AMANECER 09/09/2010 Nac 5.124 34.682 47 10º FESTIVAL DE CINE ALEMAN DE BS AIRES 23/09/2010 Fest,Muestras.. 4.854 87.591 48 FESTIVAL INTERNACIONAL DE C JUDIO DE ARG 04/11/2010 Fest,Muestras.. 4.834 91.379 49 LA MOSCA EN LA CENIZA 25/03/2010 Nac 4.563 51.232 50 AGUAS VERDES 22/04/2010 Nac Ranking de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47

Ranking Titulo Fecha Estreno Origen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 1 IGUALITA A MI 12/08/2010 Nac 849.429 14.071.478 2 CARANCHO 06/05/2010 Nac 626.251 9.824.354 3 DOS HERMANOS 01/04/2010 Nac 474.209 7.143.992 4 GATURRO 09/09/2010 Nac 428.949 8.472.699 5 CUENTOS DE LA SELVA 22/07/2010 Nac 155.858 1.843.323 6 EL HOMBRE DE AL LADO 02/09/2010 Nac 143.808 2.179.254 7 PAJAROS VOLANDO 05/08/2010 Nac 139.559 2.232.994 8 SIN RETORNO 30/09/2010 Nac 133.444 2.086.031 9 "BUENOS AIRES 12º FESTIVAL INTERN C INDEPE.. 07/04/2010 Fest,Muestras.. 132.139 1.189.869 10 NI DIOS, NI PATRON NI MARIDO 23/09/2010 Nac 123.018 1.304.513 11 PLUMIFEROS 18/02/2010 Nac 89.257 810.129 12 PACO 18/03/2010 Nac 74.828 917.702 13 MISS TACUAREMBO 15/07/2010 Nac 49.325 631.226 14 "25" FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINE MDP 13/11/2010 Fest,Muestras.. 42.039 293.944 15 CHE, UN HOMBRE NUEVO 07/10/2010 Nac 38.083 589.951 16 EL MURAL 20/05/2010 Nac 37.040 528.582 17 PELICULAS "SALA EL JARDIN DE LAS DELICIAS" 08/02/2010 Fest,Muestras.. 16.872 66.580 18 PELICULAS "SALA EL JARDIN DE LAS DELICIAS" 01/03/2010 Fest,Muestras.. 4.859 18.464 19 LA MIRADA INVISIBLE 19/08/2010 Nac 21.000 339.499 20 POR TU CULPA 03/06/2010 Nac 19.931 201.816 21 EVA Y LOLA 13/05/2010 Nac 19.638 295.411 22 EL RATI HORROR SHOW 16/09/2010 Nac 17.917 299.758 23 FRANCIA 17/06/2010 Nac 15.191 136.365 24 DANZA CONTEMPORANEA X GRANDES CINEAST.. 30/08/2010 Fest,Muestras.. 12.277 91.416 25 ZENITRAM 20/05/2010 Nac 12.111 202.660 26 LENGUA MATERNA 05/08/2010 Nac 12.061 151.106 27 FAMILIA PARA ARMAR 15/10/2010 Nac 11.755 108.692 28 ANDRES NO QUIERE DORMIR LA SIESTA 04/02/2010 Nac 10.412 75.520 29 ROMPECABEZAS 29/04/2010 Nac 10.101 90.774 30 BOCA DE FRESA 11/11/2010 Nac 10.076 109.500 31 MUESTRA "DUELO DE TITANES" 04/02/2010 Fest,Muestras.. 9.754 74.255 32 CICLO "FESTIVAL DE FESTIVALES" 05/07/2010 Fest,Muestras.. 9.422 70.530 33 COMPLICES DEL SILENCIO 17/06/2010 Nac 9.162 142.770 34 CICLO "NOTICIAS DE LA ANTIGÜEDAD IDEOLOGI.. 20/08/2010 Fest,Muestras.. 7.620 58.888 35 AMOR EN TRANSITO 02/12/2010 Nac 7.495 77.082 36 SALA "EL JARDIN DE LAS DELICIAS" 01/09/2010 Fest,Muestras.. 7.269 33.059 37 UN FUEGUITO: LA HISTORIA DE CESAR MILSTEIN 11/03/2010 Nac 7.186 56.526 38 CICLOS PROGRAMADOS NOVIEMBRE-DIC-2010 24/11/2010 Fest,Muestras.. 7.039 57.813 39 LA VIEJA DE ATRÁS 21/10/2010 Nac 6.355 46.459 40 11 VA. EDICION DEL FESTIVAL DE CINE DE TERRO.. 03/11/2010 Fest,Muestras.. 6.131 57.969 41 UN BUEN DIA 18/11/2010 Nac 5.956 88.612 42 SEMANA DEL CINE FRANCES 18/03/2010 Fest,Muestras.. 5.760 65.768 43 CICLO "ENCICLOPEDIA ILUSTRADA DEL FILM NOI.. 20/05/2010 Fest,Muestras.. 5.468 35.632 44 GIGANTE 14/10/2010 Nac 5.290 54.533 45 PANTALLA PINAMAR 2010 06/03/2010 Fest,Muestras.. 5.248 24.560 46 AWKA LIWEN, REBELDE AMANECER 09/09/2010 Nac 5.124 34.682 47 10º FESTIVAL DE CINE ALEMAN DE BS AIRES 23/09/2010 Fest,Muestras.. 4.854 87.591 48 FESTIVAL INTERNACIONAL DE C JUDIO DE ARG 04/11/2010 Fest,Muestras.. 4.834 91.379 R4a9 nkingLA dMeOS PCAe ElNic LAu ClEaNsIZA 25/03/2010 Nac 4.563 51.232 D5a0tos actualiAzaGdUoAs Sa lV:1E5R/0D9E/S2017 09:02:4 7 22/04/2010 Nac 4R9anking LTAit uMloOSCA EN LA CENIZA 2Fe5c/0h3a /E2s0t1r0eno NOraicgen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 50 AGUAS VERDES 22/04/2010 Nac 4.558 37.201 51 CICLO "PRESTON STURGES, BRUEGHEL DE HOLL.. 27/03/2010 Fest,Muestras.. 4.391 28.670 52 MUESTRA "TERROR -GOTICO Y MODERNO 01/07/2010 Fest,Muestras.. 4.339 46.932 53 MUESTRA DOCUMENTALES "CAMINAR SOBRE HI.. 22/01/2010 Fest,Muestras.. 4.200 32.019 54 MUESTRA "MADRIDCINE 2010" 22/06/2010 Fest,Muestras.. 4.102 19.312 55 CICLOS PROGRAMADOS ABRIL 2010 31/03/2010 Fest,Muestras.. 4.055 20.385 56 UN TREN A PAMPA BLANCA 02/12/2010 Nac 4.014 55.930 57 LAS HERMANAS L 25/11/2010 Nac 3.972 39.223 58 LOS VIAJES DEL VIENTO 11/02/2010 Nac 3.885 21.716 59 ERNESTO SABATO, MI PADRE 25/03/2010 Nac 3.848 24.710 60 PECADOS DE MI PADRE 22/04/2010 Nac 3.804 31.411 61 EL PERSEGUIDOR 09/12/2010 Nac 3.782 27.629 62 ISIDRO VELAZQUE, LA LEYENDA DEL ULTIMO SAP.. 02/12/2010 Nac 3.682 20.704 63 MIS DIAS CON GLORIA 16/09/2010 Nac 3.616 36.487 64 DILETANTE 06/05/2010 Nac 3.570 30.210 65 SOLOS EN LA CIUDAD 19/10/2010 Nac 3.507 48.696 66 VILLA 02/09/2010 Nac 3.341 54.682 67 EL ULTIMO REFUGIO 07/10/2010 Nac 3.310 82.982 68 MATAR A VIDELA 07/01/2010 Nac 3.305 1.103.096 69 MUESTRA "CINE CENTRO DEL CINE" 07/01/2010 Fest,Muestras.. 3.298 35.342 70 LA CANTANTE DE TANGO 04/11/2010 Nac 3.240 27.408 71 "GREEN FILM FEST 2010" 12/08/2010 Fest,Muestras.. 3.197 51.990 72 LOS SANTOS SUCIOS 02/07/2010 Nac 3.158 22.621 73 CICLOS "DOCA Y OTROS" 01/09/2010 Fest,Muestras.. 3.145 20.676 74 VIKINGO 04/11/2010 Nac 3.109 22.121 75 MUESTRA"GENERACION VH S 2" 05/08/2010 Fest,Muestras.. 2.949 32.150 76 TIEMPO DE CINE 03/09/2010 Fest,Muestras.. 2.782 27.163 2.762 61.033 77 KLUGE, EL ARREGLADOR 07/10/2010 Nac 78 MUESTRA "GENERACION VHS" 04/03/2010 Fest,Muestras.. 2.665 21.941 79 MUESTRA "MISTERIOS DE LA FILMOTECA + OTR.. 04/11/2010 Fest,Muestras.. 2.602 11.797 80 EXCURSIONES 08/01/2010 Nac 2.581 21.267 81 ACNE 07/01/2010 Nac 221 2.571 12.885 82 ADOPCION 25/02/2010 Nac 2.487 11.337 83 EL AMBULANTE 22/04/2010 Nac 2.373 17.666 84 OTRO ENTRE OTROS 19/08/2010 Nac 2.337 16.066 85 BUEN PASTOR, UNA FUGA DE MUJERES 10/06/2010 Nac 2.310 19.970 86 CICLO "REENCUENTRO CON ISABELLE HUPPERT" 15/06/2010 Fest,Muestras.. 2.307 16.608 87 RITA Y LI 28/10/2010 Nac 2.298 12.199 88 VI EDICION FESTIVAL "DIVERSA FEST INTER DE C.. 03/06/2010 Fest,Muestras.. 2.293 14.827 89 2º FESTIVAL NACIONAL DE CINE Y VIDEO RIO NE.. 01/09/2010 Fest,Muestras.. 2.209 11.045 90 PROGRAMACION PELICULAS MAYO 2010 01/05/2010 Fest,Muestras.. 2.120 7.532 91 FESTIVAL DOCBSAS 15/10/2010 Fest,Muestras.. 2.073 16.670 92 UN MUNDO SEGURO 14/10/2010 Nac 2.053 25.576 93 LA MADRE 25/02/2010 Nac 2.039 8.277 94 MUESTRA "DIAS DE FIESTA CON JACQUES TATI" 05/05/2010 Fest,Muestras.. 2.025 13.057 95 TE EXTRAÑO 12/08/2010 Nac 1.988 11.949 96 ESMA, MEMORIAS DE LA RESISTENCIA 01/07/2010 Nac 1.911 10.243 97 NINGUN AMOR ES PERFECTO 07/10/2010 Nac 1.884 31.615 98 FRANZIE 21/10/2010 Nac 1.880 10.790 99 LA SANGRE Y LA LLUVIA 29/07/2010 Nac Ranking de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47

4R9anking LTAit uMloOSCA EN LA CENIZA 2Fe5c/0h3a /E2s0t1r0eno NOraicgen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 50 AGUAS VERDES 22/04/2010 Nac 4.558 37.201 51 CICLO "PRESTON STURGES, BRUEGHEL DE HOLL.. 27/03/2010 Fest,Muestras.. 4.391 28.670 52 MUESTRA "TERROR -GOTICO Y MODERNO 01/07/2010 Fest,Muestras.. 4.339 46.932 53 MUESTRA DOCUMENTALES "CAMINAR SOBRE HI.. 22/01/2010 Fest,Muestras.. 4.200 32.019 54 MUESTRA "MADRIDCINE 2010" 22/06/2010 Fest,Muestras.. 4.102 19.312 55 CICLOS PROGRAMADOS ABRIL 2010 31/03/2010 Fest,Muestras.. 4.055 20.385 56 UN TREN A PAMPA BLANCA 02/12/2010 Nac 4.014 55.930 57 LAS HERMANAS L 25/11/2010 Nac 3.972 39.223 58 LOS VIAJES DEL VIENTO 11/02/2010 Nac 3.885 21.716 59 ERNESTO SABATO, MI PADRE 25/03/2010 Nac 3.848 24.710 60 PECADOS DE MI PADRE 22/04/2010 Nac 3.804 31.411 61 EL PERSEGUIDOR 09/12/2010 Nac 3.782 27.629 62 ISIDRO VELAZQUE, LA LEYENDA DEL ULTIMO SAP.. 02/12/2010 Nac 3.682 20.704 63 MIS DIAS CON GLORIA 16/09/2010 Nac 3.616 36.487 64 DILETANTE 06/05/2010 Nac 3.570 30.210 65 SOLOS EN LA CIUDAD 19/10/2010 Nac 3.507 48.696 66 VILLA 02/09/2010 Nac 3.341 54.682 67 EL ULTIMO REFUGIO 07/10/2010 Nac 3.310 82.982 68 MATAR A VIDELA 07/01/2010 Nac 3.305 1.103.096 69 MUESTRA "CINE CENTRO DEL CINE" 07/01/2010 Fest,Muestras.. 3.298 35.342 70 LA CANTANTE DE TANGO 04/11/2010 Nac 3.240 27.408 71 "GREEN FILM FEST 2010" 12/08/2010 Fest,Muestras.. 3.197 51.990 72 LOS SANTOS SUCIOS 02/07/2010 Nac 3.158 22.621 73 CICLOS "DOCA Y OTROS" 01/09/2010 Fest,Muestras.. 3.145 20.676 74 VIKINGO 04/11/2010 Nac 3.109 22.121 75 MUESTRA"GENERACION VHS 2" 05/08/2010 Fest,Muestras.. 2.949 32.150 76 TIEMPO DE CINE 03/09/2010 Fest,Muestras.. 2.782 27.163 77 KLUGE, EL ARREGLADOR 07/10/2010 Nac 2.762 61.033 78 MUESTRA "GENERACION VHS" 04/03/2010 Fest,Muestras.. 2.665 21.941 79 MUESTRA "MISTERIOS DE LA FILMOTECA + OTR.. 04/11/2010 Fest,Muestras.. 2.602 11.797 80 EXCURSIONES 08/01/2010 Nac 2.581 21.267 81 ACNE 07/01/2010 Nac 2.571 12.885 82 ADOPCION 25/02/2010 Nac 2.487 11.337 83 EL AMBULANTE 22/04/2010 Nac 2.373 17.666 84 OTRO ENTRE OTROS 19/08/2010 Nac 2.337 16.066 85 BUEN PASTOR, UNA FUGA DE MUJERES 10/06/2010 Nac 2.310 19.970 86 CICLO "REENCUENTRO CON ISABELLE HUPPERT" 15/06/2010 Fest,Muestras.. 2.307 16.608 87 RITA Y LI 28/10/2010 Nac 2.298 12.199 88 VI EDICION FESTIVAL "DIVERSA FEST INTER DE C.. 03/06/2010 Fest,Muestras.. 2.293 14.827 89 2º FESTIVAL NACIONAL DE CINE Y VIDEO RIO NE.. 01/09/2010 Fest,Muestras.. 2.209 11.045 90 PROGRAMACION PELICULAS MAYO 2010 01/05/2010 Fest,Muestras.. 2.120 7.532 91 FESTIVAL DOCBSAS 15/10/2010 Fest,Muestras.. 2.073 16.670 92 UN MUNDO SEGURO 14/10/2010 Nac 2.053 25.576 93 LA MADRE 25/02/2010 Nac 2.039 8.277 94 MUESTRA "DIAS DE FIESTA CON JACQUES TATI" 05/05/2010 Fest,Muestras.. 2.025 13.057 95 TE EXTRAÑO 12/08/2010 Nac 1.988 11.949 96 ESMA, MEMORIAS DE LA RESISTENCIA 01/07/2010 Nac 1.911 10.243 97 NINGUN AMOR ES PERFECTO 07/10/2010 Nac 1.884 31.615 R98ankinFgR AdNeZI EPeliculas 21/10/2010 Nac 1.880 10.790 D9a9tos actualLizAa SdoAsN aGl:R15E/ Y09 L/A20 L1L7U 0V9IA:02:47 29/07/2010 Nac 9R8anking FTRitAuNloZIE 2Fe1c/1h0a /E2s0t1r0eno NOraicgen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 99 LA SANGRE Y LA LLUVIA 29/07/2010 Nac 1.784 10.062 100 EL RECUENTO DE LOS DAÑOS 01/07/2010 Nac 1.776 12.680 101 HUELLAS Y MEMORIAS DE JORGE PRELORAN 30/09/2010 Nac 1.774 10.044 102 COMO BOLA SIN MANIJA 11/11/2010 Nac 1.723 10.188 103 PLAN B 18/11/2010 Nac 1.712 10.847 104 III CINE FEST BRASIL-BUENOS AIRES 21/10/2010 Fest,Muestras.. 1.708 18.935 105 MUESTRA "POLAR: CINE POLICIAL FRANCES" 06/05/2010 Fest,Muestras.. 1.694 15.388 106 ORQUESTA ROJA 07/10/2010 Nac 1.686 10.843 107 ELEGIA DE ABRIL 28/10/2010 Nac 1.659 8.974 108 SOFIA CUMPLE 100 AÑOS 16/09/2010 Nac 1.536 5.991 109 FLORES DE SEPTIEMBRE 16/09/2010 Nac 1.499 7.173 110 H.M.S. SWIFT, DOS SIGLOS BAJO EL MAR 08/07/2010 Nac 1.404 12.230 111 1RA. EDICION FESTIVAL INTERNAC DE FORM CIN.. 22/09/2010 Fest,Muestras.. 1.400 1.037 112 CICLO "CINE POR LA INTEGRACION" 03/06/2010 Fest,Muestras.. 1.399 1.497 113 LA 21, BARRACAS 19/08/2010 Nac 1.387 8.801 114 CRONICAS DE LA GRAN SERPIENTE 14/10/2010 Nac 1.337 11.470 115 DIOSES 27/05/2010 Nac 1.319 5.886 116 DE PRINCIPIO A FIN 08/10/2010 Nac 1.302 26.384 117 MUESTRA "DOCA -DOCUME NTALISTAS ARGENTI.. 27/11/2010 Fest,Muestras.. 1.240 9.141 118 LINIERS, EL TRAZO SIMPLE DE LAS COSAS 03/06/2010 Nac 1.233 10.979 119 MUESTRA "LO QUE EL CIEL O NOS DA" 03/06/2010 Fest,Muestras.. 1.222 10.026 120 MUESTRA "ELOGIO DEL AR TE IMPURO" 02/12/2010 Fest,Muestras.. 1.184 12.272 121 MUESTRA "CLASICOS DE ESTRENOS XV" 01/04/2010 Fest,Muestras.. 1.181 11.644 122 GORRI 02/09/2010 Nac 1.168 6.761 123 MUESTRA "DOCUMENTAL EN MALBA" 07/10/2010 Fest,Muestras.. 1.162 11.110 124 PERON, APUNTES PARA UNA BIOGRAFIA 18/11/2010 Nac 1.128 7.157 222 125 LA MUESTRA 25/03/2010 Nac 1.125 5.067 126 OCTUBRE PILAGA, RELATOS SOBRE EL SILENCIO 07/10/2010 Nac 1.091 6.147 127 CRISALIDAS 15/04/2010 Nac 1.079 4.419 128 MI HIJA (MA FILLE) 21/10/2010 Nac 998 5.459 129 8VA MUESTRA ITINERANTE BAFICI ROSARIO 18/08/2010 Fest,Muestras.. 994 7.818 130 ALMAFUERTE 06/06/2010 Nac 989 4.571 131 CRIADA 22/04/2010 Nac 949 6.610 132 LOS 9 PUNTOS DE MI PADRE 20/04/2010 Nac 908 5.819 133 CICLOS PROGRAMADOS MES DE JULIO 2010 07/07/2010 Fest,Muestras.. 891 7.917 134 PADRES DE LA PLAZA, 10 RECORRIDOS POSIBLES 14/10/2010 Nac 862 5.672 135 VI FESTIVAL DE CINE INUSUAL DE BS AS 30/09/2010 Fest,Muestras.. 862 4.784 136 SEXO, DIGNIDAD Y MUERTE 12/08/2010 Nac 859 7.119 137 CINE DIOSES Y BILLETES 13/05/2010 Nac 843 4.316 138 LA HORA DE LA SIESTA 06/05/2010 Nac 805 4.703 139 LAS AVENTURAS DE NAHUEL 13/05/2010 Nac 796 6.376 140 CICLO "NUEVO ENCUENTRO CON EL CINE AUSTR.. 13/05/2010 Fest,Muestras.. 751 5.163 141 LUCHO AND RAMOS 12/08/2010 Nac 707 7.975 142 VILLASORO 21/10/2010 Nac 694 9.906 143 ADOLFO PEREZ ESQUIVEL, OTRO MUNDO ES POS.. 07/10/2010 Nac 676 3.238 144 FRAGMENTOS DE UNA BUSQUEDA 02/09/2010 Nac 646 4.246 145 O CORPO DO RIO 21/10/2010 Nac 631 8.886 146 CICLO "INEDITO EN CONSTITUCION" 03/06/2010 Fest,Muestras.. 597 3.177 147 VENTANA SUR-SEMANA CINE DOCUMENTAL ITA.. 03/12/2010 Fest,Muestras.. 596 3.604 148 EL HADA BUENA 02/06/2010 Nac Ranking de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47

9R8anking FTRitAuNloZIE 2Fe1c/1h0a /E2s0t1r0eno NOraicgen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 99 LA SANGRE Y LA LLUVIA 29/07/2010 Nac 1.784 10.062 100 EL RECUENTO DE LOS DAÑOS 01/07/2010 Nac 1.776 12.680 101 HUELLAS Y MEMORIAS DE JORGE PRELORAN 30/09/2010 Nac 1.774 10.044 102 COMO BOLA SIN MANIJA 11/11/2010 Nac 1.723 10.188 103 PLAN B 18/11/2010 Nac 1.712 10.847 104 III CINE FEST BRASIL-BUENOS AIRES 21/10/2010 Fest,Muestras.. 1.708 18.935 105 MUESTRA "POLAR: CINE POLICIAL FRANCES" 06/05/2010 Fest,Muestras.. 1.694 15.388 106 ORQUESTA ROJA 07/10/2010 Nac 1.686 10.843 107 ELEGIA DE ABRIL 28/10/2010 Nac 1.659 8.974 108 SOFIA CUMPLE 100 AÑOS 16/09/2010 Nac 1.536 5.991 109 FLORES DE SEPTIEMBRE 16/09/2010 Nac 1.499 7.173 110 H.M.S. SWIFT, DOS SIGLOS BAJO EL MAR 08/07/2010 Nac 1.404 12.230 111 1RA. EDICION FESTIVAL INTERNAC DE FORM CIN.. 22/09/2010 Fest,Muestras.. 1.400 1.037 112 CICLO "CINE POR LA INTEGRACION" 03/06/2010 Fest,Muestras.. 1.399 1.497 113 LA 21, BARRACAS 19/08/2010 Nac 1.387 8.801 114 CRONICAS DE LA GRAN SERPIENTE 14/10/2010 Nac 1.337 11.470 115 DIOSES 27/05/2010 Nac 1.319 5.886 116 DE PRINCIPIO A FIN 08/10/2010 Nac 1.302 26.384 117 MUESTRA "DOCA -DOCUMENTALISTAS ARGENTI.. 27/11/2010 Fest,Muestras.. 1.240 9.141 118 LINIERS, EL TRAZO SIMPLE DE LAS COSAS 03/06/2010 Nac 1.233 10.979 119 MUESTRA "LO QUE EL CIELO NOS DA" 03/06/2010 Fest,Muestras.. 1.222 10.026 120 MUESTRA "ELOGIO DEL ARTE IMPURO" 02/12/2010 Fest,Muestras.. 1.184 12.272 121 MUESTRA "CLASICOS DE ESTRENOS XV" 01/04/2010 Fest,Muestras.. 1.181 11.644 122 GORRI 02/09/2010 Nac 1.168 6.761 123 MUESTRA "DOCUMENTAL EN MALBA" 07/10/2010 Fest,Muestras.. 1.162 11.110 124 PERON, APUNTES PARA UNA BIOGRAFIA 18/11/2010 Nac 1.128 7.157 125 LA MUESTRA 25/03/2010 Nac 1.125 5.067 126 OCTUBRE PILAGA, RELATOS SOBRE EL SILENCIO 07/10/2010 Nac 1.091 6.147 127 CRISALIDAS 15/04/2010 Nac 1.079 4.419 128 MI HIJA (MA FILLE) 21/10/2010 Nac 998 5.459 129 8VA MUESTRA ITINERANTE BAFICI ROSARIO 18/08/2010 Fest,Muestras.. 994 7.818 130 ALMAFUERTE 06/06/2010 Nac 989 4.571 131 CRIADA 22/04/2010 Nac 949 6.610 132 LOS 9 PUNTOS DE MI PADRE 20/04/2010 Nac 908 5.819 133 CICLOS PROGRAMADOS MES DE JULIO 2010 07/07/2010 Fest,Muestras.. 891 7.917 134 PADRES DE LA PLAZA, 10 RECORRIDOS POSIBLES 14/10/2010 Nac 862 5.672 135 VI FESTIVAL DE CINE INUSUAL DE BS AS 30/09/2010 Fest,Muestras.. 862 4.784 136 SEXO, DIGNIDAD Y MUERTE 12/08/2010 Nac 859 7.119 137 CINE DIOSES Y BILLETES 13/05/2010 Nac 843 4.316 138 LA HORA DE LA SIESTA 06/05/2010 Nac 805 4.703 139 LAS AVENTURAS DE NAHUEL 13/05/2010 Nac 796 6.376 140 CICLO "NUEVO ENCUENTRO CON EL CINE AUSTR.. 13/05/2010 Fest,Muestras.. 751 5.163 141 LUCHO AND RAMOS 12/08/2010 Nac 707 7.975 142 VILLASORO 21/10/2010 Nac 694 9.906 143 ADOLFO PEREZ ESQUIVEL, OTRO MUNDO ES POS.. 07/10/2010 Nac 676 3.238 144 FRAGMENTOS DE UNA BUSQUEDA 02/09/2010 Nac 646 4.246 145 O CORPO DO RIO 21/10/2010 Nac 631 8.886 R1a4n6 kingC IdCLeO "PINeElDiIcTOu ElaN sCONSTITUCION" 03/06/2010 Fest,Muestras.. 597 3.177 Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47 147 VENTANA SUR-SEMANA CINE DOCUMENTAL ITA.. 03/12/2010 Fest,Muestras.. 596 3.604 1R4a17n4k8ing VTiEtNuL lTHoAANDAA SBUURE-NSAEMANA CINE DOCUMENTAL ITA.. 0Fe30c/21h/2a0 /6E2/s02t10r0e1n0o FOeNrsiagtce,Mn uPeeslitcrualsa.. Entradas Total Precio Venta Total 148 EL HADA BUENA 02/06/2010 Nac 569 2.606 149 NINA 02/01/2010 Nac 552 2.906 150 CICLO "CINE PALESTINO" 18/11/2010 Fest,Muestras.. 549 0 151 FESTIVAL DE CINE CONT SUDAFRICANO 10/11/2010 Fest,Muestras.. 487 370 152 FORTALEZAS 29/04/2010 Nac 483 2.555 153 MUESTRA "GRANDES DIRECTORES" 01/10/2010 Fest,Muestras.. 481 2.631 154 FESTIVAL CINE UNDER ROSARIO 04/11/2010 Fest,Muestras.. 478 602 155 LOS JOVENES MUERTOS 14/10/2010 Nac 478 3.205 156 LOS RESISTENTES 04/05/2010 Nac 465 2.172 157 CICLO "CINE INUSUAL" 01/07/2010 Fest,Muestras.. 435 2.190 158 DESOBEDIENCIA DEBIDA 07/07/2010 Nac 425 1.913 159 EL COLOR DE LOS SENTIDOS 08/10/2010 Nac 394 1.126 160 SEGUIR REMANDO 28/04/2010 Nac 385 2.206 161 EL RETRATO POSTERGADO 04/03/2010 Fest,Muestras.. 382 3.866 162 FUNDACION CINEMATEVA EXHIBIC VS PELICULAS 11/11/2010 Fest,Muestras.. 376 984 163 CUENTO CHINO CLASISTA Y COMBATIVO 26/08/2010 Nac 371 1.765 164 LA LLEGADA DE UN GATO 19/05/2010 Fest,Muestras.. 354 201 165 CICLO "CINE VENEZOLANO EN ARGENTINA" 29/07/2010 Fest,Muestras.. 348 1.790 166 CICLO "DOCA" 01/07/2010 Fest,Muestras.. 317 1.612 167 EL VUELO DE ATI 19/05/2010 Fest,Muestras.. 308 2.795 168 9VO FESTIVAL INT. DE CINE "NUEVA MIRADA" P.. 02/09/2010 Fest,Muestras.. 295 1.998 169 RICARDO BECHER, LA RECTA FINAL 03/06/2010 Nac 282 1.539 170 EL CHANCHO Y LA LUNA 19/05/2010 Fest,Muestras.. 259 201 171 MAYTLAND 25/11/2010 Nac 244 1.150 172 CEFERINO NAMUNCURA EL CAMINO A LA SANTID.. 26/08/2010 Nac 223 241 1.565 173 OPCIONES REALES 30/09/2010 Nac 237 2.875 174 EL BOSQUE 04/11/2010 Nac 235 908 175 08:05 19/05/2010 Fest,Muestras.. 234 201 176 CICLO "GENEALOGIAS DE CINE" 28/04/2010 Fest,Muestras.. 234 1.679 177 CICLO "GRANDES OBRAS DEL CINE RUSO-SOVIET.. 01/08/2010 Fest,Muestras.. 234 1.634 178 ARGENTINA FUTBOL CLUB 02/09/2010 Nac 231 2.161 179 1ER FESTIVAL DE CINE Y MUJER POR LA EQUIDAD 05/05/2010 Fest,Muestras.. 226 172 180 PASADO Y PRESENTE EN EL CINE SOCIAL Y POLIT.. 01/09/2010 Fest,Muestras.. 217 839 181 CINES DE PUEBLO 19/05/2010 Fest,Muestras.. 215 78 182 FESTIVAL DE C Y MUSICA DE SAN ISIDRO 27/11/2010 Fest,Muestras.. 201 1.390 183 CICLO "GRANDES DIRECTORES" 01/03/2010 Fest,Muestras.. 200 1.584 184 SEPTIMA EDICION DEL CINEVOX 2010 28/10/2010 Fest,Muestras.. 195 1.110 185 THE FLOWER 19/05/2010 Fest,Muestras.. 193 582 186 CICLOS "CORTOMETRAJES" 04/06/2010 Fest,Muestras.. 186 910 187 MUERTES INDEBIDAS 22/07/2010 Nac 179 1.435 188 PAJAROS MUERTOS 15/10/2010 Nac 179 1.202 189 CRIATURA SAGRADA 19/05/2010 Fest,Muestras.. 177 198 190 CICLOS "EL CINE ALEMAN CONTEMPORANEO" 01/05/2010 Fest,Muestras.. 175 1.197 191 4 3 2 UNO 22/07/2010 Nac 163 730 192 MUESTRA "PRE ESTRENOS DOCUMENTALES AD.. 09/09/2010 Fest,Muestras.. 163 553 193 LA TORRE DE GUIDO 19/05/2010 Fest,Muestras.. 161 78 194 FESTIVAL LATINOAMERICANO DE VIDEO DE ROS.. 10/09/2010 Fest,Muestras.. 159 816 195 TEATRO COLON: MUSICA, PALABRAS, SILENCIO 21/10/2010 Nac 155 766 196 FILM "GENE, EN ESCENA" 08/04/2010 Fest,Muestras.. 149 538 197 KAPANGA TODO TERRENO 26/03/2010 Nac Ranking de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47

1R4a7nking VTiEtNulToANA SUR-SEMANA CINE DOCUMENTAL ITA.. 0Fe3c/1h2a /E2s0t1r0eno FOersigte,Mn uPeeslitcrualsa.. Entradas Total Precio Venta Total 148 EL HADA BUENA 02/06/2010 Nac 569 2.606 149 NINA 02/01/2010 Nac 552 2.906 150 CICLO "CINE PALESTINO" 18/11/2010 Fest,Muestras.. 549 0 151 FESTIVAL DE CINE CONT SUDAFRICANO 10/11/2010 Fest,Muestras.. 487 370 152 FORTALEZAS 29/04/2010 Nac 483 2.555 153 MUESTRA "GRANDES DIRECTORES" 01/10/2010 Fest,Muestras.. 481 2.631 154 FESTIVAL CINE UNDER ROSARIO 04/11/2010 Fest,Muestras.. 478 602 155 LOS JOVENES MUERTOS 14/10/2010 Nac 478 3.205 156 LOS RESISTENTES 04/05/2010 Nac 465 2.172 157 CICLO "CINE INUSUAL" 01/07/2010 Fest,Muestras.. 435 2.190 158 DESOBEDIENCIA DEBIDA 07/07/2010 Nac 425 1.913 159 EL COLOR DE LOS SENTIDOS 08/10/2010 Nac 394 1.126 160 SEGUIR REMANDO 28/04/2010 Nac 385 2.206 161 EL RETRATO POSTERGADO 04/03/2010 Fest,Muestras.. 382 3.866 162 FUNDACION CINEMATEVA EXHIBIC VS PELICULAS 11/11/2010 Fest,Muestras.. 376 984 163 CUENTO CHINO CLASISTA Y COMBATIVO 26/08/2010 Nac 371 1.765 164 LA LLEGADA DE UN GATO 19/05/2010 Fest,Muestras.. 354 201 165 CICLO "CINE VENEZOLANO EN ARGENTINA" 29/07/2010 Fest,Muestras.. 348 1.790 166 CICLO "DOCA" 01/07/2010 Fest,Muestras.. 317 1.612 167 EL VUELO DE ATI 19/05/2010 Fest,Muestras.. 308 2.795 168 9VO FESTIVAL INT. DE CINE "NUEVA MIRADA" P.. 02/09/2010 Fest,Muestras.. 295 1.998 169 RICARDO BECHER, LA RECTA FINAL 03/06/2010 Nac 282 1.539 170 EL CHANCHO Y LA LUNA 19/05/2010 Fest,Muestras.. 259 201 171 MAYTLAND 25/11/2010 Nac 244 1.150 172 CEFERINO NAMUNCURA EL CAMINO A LA SANTID.. 26/08/2010 Nac 241 1.565 173 OPCIONES REALES 30/09/2010 Nac 237 2.875 174 EL BOSQUE 04/11/2010 Nac 235 908 175 08:05 19/05/2010 Fest,Muestras.. 234 201 176 CICLO "GENEALOGIAS DE CINE" 28/04/2010 Fest,Muestras.. 234 1.679 177 CICLO "GRANDES OBRAS DEL CINE RUSO-SOVIET.. 01/08/2010 Fest,Muestras.. 234 1.634 178 ARGENTINA FUTBOL CLUB 02/09/2010 Nac 231 2.161 179 1ER FESTIVAL DE CINE Y MUJER POR LA EQUIDAD 05/05/2010 Fest,Muestras.. 226 172 180 PASADO Y PRESENTE EN EL CINE SOCIAL Y POLIT.. 01/09/2010 Fest,Muestras.. 217 839 181 CINES DE PUEBLO 19/05/2010 Fest,Muestras.. 215 78 182 FESTIVAL DE C Y MUSICA DE SAN ISIDRO 27/11/2010 Fest,Muestras.. 201 1.390 183 CICLO "GRANDES DIRECTORES" 01/03/2010 Fest,Muestras.. 200 1.584 184 SEPTIMA EDICION DEL CINEVOX 2010 28/10/2010 Fest,Muestras.. 195 1.110 185 THE FLOWER 19/05/2010 Fest,Muestras.. 193 582 186 CICLOS "CORTOMETRAJES" 04/06/2010 Fest,Muestras.. 186 910 187 MUERTES INDEBIDAS 22/07/2010 Nac 179 1.435 188 PAJAROS MUERTOS 15/10/2010 Nac 179 1.202 189 CRIATURA SAGRADA 19/05/2010 Fest,Muestras.. 177 198 190 CICLOS "EL CINE ALEMAN CONTEMPORANEO" 01/05/2010 Fest,Muestras.. 175 1.197 191 4 3 2 UNO 22/07/2010 Nac 163 730 192 MUESTRA "PRE ESTRENOS DOCUMENTALES AD.. 09/09/2010 Fest,Muestras.. 163 553 193 LA TORRE DE GUIDO 19/05/2010 Fest,Muestras.. 161 78 194 FESTIVAL LATINOAMERICANO DE VIDEO DE ROS.. 10/09/2010 Fest,Muestras.. 159 816 19R5ankinTEgAT dROe C POLeOlNi:c MuUlSaICsA, PALABRAS, SILENCIO 21/10/2010 Nac 155 766 Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47 196 FILM "GENE, EN ESCENA" 08/04/2010 Fest,Muestras.. 149 538 191R79a6nking KAFTIPitLAuMNlo "GGAE TNOED, OEN T ERSCRENAO" 20F6e8/c/00h34a/ /2E20s01t1r00eno NFOearscigte,Mn uPeeslitcrualsa.. Entradas Total Precio Venta Total 197 KAPANGA TODO TERRENO 26/03/2010 Nac 146 550 198 EL SUEÑO SUECO 02/12/2010 Fest,Muestras.. 143 429 199 CURAPALIGUE 23/08/2010 Nac 139 514 200 CICLO "CINE Y LITERATURA" 01/07/2010 Fest,Muestras.. 120 890 201 CICLO "MAESTRO DEL CINE RUSO-SOVIETICO" 01/04/2010 Fest,Muestras.. 116 783 202 LA ULTIMA 09/12/2010 Fest,Muestras.. 114 570 203 EL ANGEL LITO 22/02/2010 Nac 113 338 204 FESTIVAL INTERNAC DEL CORTOMETRAJE FIC 10/04/2010 Fest,Muestras.. 111 555 205 CICLO: EL CINE QUE NO VEMOS (MUSEO DEL MAR) 01/09/2010 Fest,Muestras.. 107 810 206 ARROZ CON LECHE 15/10/2010 Nac 99 792 207 CICLO "EL CINE QUE NO VEMOS" 01/12/2010 Fest,Muestras.. 98 800 208 EL VIAJE DE AVELINO 22/07/2010 Nac 91 844 209 " FESTIVAL INTERNACIONAL DE ARTE AUD INDE.. 29/09/2010 Fest,Muestras.. 85 425 210 CICLO "ANARCOCINEMA-LA ESCUELA R BECHER" 05/06/2010 Fest,Muestras.. 83 407 211 POSADAS 02/12/2010 Fest,Muestras.. 76 0 212 CINE POR LA MEMORIA LA VERDAD Y LA JUSTICIA 01/03/2010 Fest,Muestras.. 73 240 213 COPACABANA 23/07/2010 Nac 62 942 214 CICLO "UN PASO MAS EN LA BATALLA" 01/07/2010 Fest,Muestras.. 60 348 215 SUDEN 15/01/2010 Nac 57 285 216 II FESTIVAL "HECHO X MUJERES 2010" 26/11/2010 Fest,Muestras.. 54 312 217 PARTENER 21/10/2010 Nac 51 764 218 1RA MUESTRA DEL NUEVO CINE CORDOBES 27/01/2010 Fest,Muestras.. 49 200 219 CICLO DE CINE Y POESIA 23/09/2010 Fest,Muestras.. 45 225 220 URITORCO 10/12/2010 Nac 43 120 221 INEDITO ARTECINEMA Y OTROS 01/08/2010 Fest,Muestras.. 41 169 222 CICLO "FILMOTECA CANAL 7" 01/07/2010 Fest,Muestras.. 224 32 136 223 JEVEL KATZ Y SUS PAISANOS 01/12/2010 Nac 22 220 224 "10 CORTOS DE PAULO PECORA" 01/07/2010 Fest,Muestras.. 18 81 225 EDUARDO FALU, CANTO AL PAISAJE SOÑADO 07/10/2010 Fest,Muestras.. 17 255 226 CAICARAS, HOMBRES QUE CANTAN 06/09/2010 Nac 15 69 227 TROMBON 09/09/2010 Nac 12 72 228 FILMATRON 02/01/2010 Nac 10 0 229 CICLO "PRESENTADA POR SU AUTOR" 08/06/2010 Fest,Muestras.. 8 44 230 AUNQUE ME CUESTE LA VIDA 12/08/2010 Nac 2 20 231 ALICIA 09/12/2010 Fest,Muestras.. 0 0 232 ARBOL 09/12/2010 Fest,Muestras.. 0 0 233 CINCO VELITAS 02/12/2010 Fest,Muestras.. 0 0 234 CORAL 02/09/2010 Fest,Muestras.. 0 0 235 ROSA 09/12/2010 Fest,Muestras.. 0 0 236 TELEFERICOS 09/12/2010 Fest,Muestras.. 0 0 237 FESTIVAL DE CINE Y MEDIO AMBIENTE DE BARC.. 10/11/2010 Fest,Muestras.. -1 -8 Ranking de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47

1R9a6nking FTIitLuMlo "GENE, EN ESCENA" 0Fe8c/0h4a /E2s0t1r0eno FOersigte,Mn uPeeslitcrualsa.. Entradas Total Precio Venta Total 197 KAPANGA TODO TERRENO 26/03/2010 Nac 146 550 198 EL SUEÑO SUECO 02/12/2010 Fest,Muestras.. 143 429 199 CURAPALIGUE 23/08/2010 Nac 139 514 200 CICLO "CINE Y LITERATURA" 01/07/2010 Fest,Muestras.. 120 890 201 CICLO "MAESTRO DEL CINE RUSO-SOVIETICO" 01/04/2010 Fest,Muestras.. 116 783 202 LA ULTIMA 09/12/2010 Fest,Muestras.. 114 570 203 EL ANGEL LITO 22/02/2010 Nac 113 338 204 FESTIVAL INTERNAC DEL CORTOMETRAJE FIC 10/04/2010 Fest,Muestras.. 111 555 205 CICLO: EL CINE QUE NO VEMOS (MUSEO DEL MAR) 01/09/2010 Fest,Muestras.. 107 810 206 ARROZ CON LECHE 15/10/2010 Nac 99 792 207 CICLO "EL CINE QUE NO VEMOS" 01/12/2010 Fest,Muestras.. 98 800 208 EL VIAJE DE AVELINO 22/07/2010 Nac 91 844 209 " FESTIVAL INTERNACIONAL DE ARTE AUD INDE.. 29/09/2010 Fest,Muestras.. 85 425 210 CICLO "ANARCOCINEMA-LA ESCUELA R BECHER" 05/06/2010 Fest,Muestras.. 83 407 211 POSADAS 02/12/2010 Fest,Muestras.. 76 0 212 CINE POR LA MEMORIA LA VERDAD Y LA JUSTICIA 01/03/2010 Fest,Muestras.. 73 240 213 COPACABANA 23/07/2010 Nac 62 942 214 CICLO "UN PASO MAS EN LA BATALLA" 01/07/2010 Fest,Muestras.. 60 348 215 SUDEN 15/01/2010 Nac 57 285 216 II FESTIVAL "HECHO X MUJERES 2010" 26/11/2010 Fest,Muestras.. 54 312 217 PARTENER 21/10/2010 Nac 51 764 218 1RA MUESTRA DEL NUEVO CINE CORDOBES 27/01/2010 Fest,Muestras.. 49 200 219 CICLO DE CINE Y POESIA 23/09/2010 Fest,Muestras.. 45 225 220 URITORCO 10/12/2010 Nac 43 120 221 INEDITO ARTECINEMA Y OTROS 01/08/2010 Fest,Muestras.. 41 169 222 CICLO "FILMOTECA CANAL 7" 01/07/2010 Fest,Muestras.. 32 136 223 JEVEL KATZ Y SUS PAISANOS 01/12/2010 Nac 22 220 224 "10 CORTOS DE PAULO PECORA" 01/07/2010 Fest,Muestras.. 18 81 225 EDUARDO FALU, CANTO AL PAISAJE SOÑADO 07/10/2010 Fest,Muestras.. 17 255 226 CAICARAS, HOMBRES QUE CANTAN 06/09/2010 Nac 15 69 227 TROMBON 09/09/2010 Nac 12 72 228 FILMATRON 02/01/2010 Nac 10 0 229 CICLO "PRESENTADA POR SU AUTOR" 08/06/2010 Fest,Muestras.. 8 44 230 AUNQUE ME CUESTE LA VIDA 12/08/2010 Nac 2 20 231 ALICIA 09/12/2010 Fest,Muestras.. 0 0 232 ARBOL 09/12/2010 Fest,Muestras.. 0 0 233 CINCO VELITAS 02/12/2010 Fest,Muestras.. 0 0 234 CORAL 02/09/2010 Fest,Muestras.. 0 0 235 ROSA 09/12/2010 Fest,Muestras.. 0 0 236 TELEFERICOS 09/12/2010 Fest,Muestras.. 0 0 237 FESTIVAL DE CINE Y MEDIO AMBIENTE DE BARC.. 10/11/2010 Fest,Muestras.. -1 -8

Fonte: Instituto Nacional de Cine y Artes Visuales - Seção de Estatísticas, Gerência de Fiscalização. Disponível em http://fiscalizacion.incaa.gov.ar/index_estadisticas_series_historicas.php, acesso em 17 de setembro de 2017.

RanTabela king d17e: Lançamentos de filmes argentinos em 2011 Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47

Ranking Titulo Fecha Estreno Origen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 1 UN CUENTO CHINO 24/03/2011 Nac 917.139 17.963.252 2 VIUDAS 18/08/2011 Nac 397.131 8.099.389 3 REVOLUCION, EL CRUCE DE LOS ANDES 07/04/2011 Nac 303.331 4.757.843 4 MI PRIMERA BODA 01/09/2011 Nac 302.088 6.297.537 5 LOS MARZIANO 14/04/2011 Nac 221.573 4.298.329 6 XIII FESTIVAL INTERNAC DE CINE INDEPENDIENTE 06/04/2011 Fest,Muestras.. 132.611 1.447.700 7 DON GATO Y SU PANDILLA 13/10/2011 Nac 116.962 2.877.795 8 HERMANITOS DEL FIN DEL MUNDO 14/07/2011 Nac 86.455 1.610.615 9 SUDOR FRIO 03/02/2011 Nac 82.541 1.612.576 10 UN AMOR 10/11/2011 Nac 69.984 1.382.723 11 VERDADES VERDADERAS: LA VIDA DE ESTELA 17/11/2011 Nac 67.921 1.570.881 12 JUAN Y EVA 15/09/2011 Nac 67.227 1.128.983 13 MEDIANERAS 06/10/2011 Nac 64.990 1.368.943 14 EL GATO DESAPARECE 21/04/2011 Nac 48.884 874.245 15 ABALLAY, EL HOMBRE 23/06/2011 Nac 40.571 558.011 16 FASE 7 03/03/2011 Nac 38.825 669.657 17 LAS ACACIAS 13/10/2011 Nac 37.283 517.624 18 DE CARAVANA 02/05/2011 Nac 35.289 515.670 19 GUELCOM 04/08/2011 Nac 33.579 620.617 20 QUERIDA VOY A COMPRAR CIGARRILLOS Y VUEL.. 05/05/2011 Nac 31.423 517.609 21 LA PLEGARIA DEL VIDENTE 13/10/2011 Nac 27.006 625.793 22 EL TUNEL DE LOS HUESOS 16/06/2011 Nac 24.640 439.734 23 EL DEDO 26/05/2011 Nac 24.228 346.589 24 VIOLETA SE FUE A LOS CIELOS 27/10/2011 Nac 21.746 281.653 25 LA MALA VERDAD 13/10/2011 Nac 19.732 281.430 26 MIA 10/11/2011 Nac 16.892 162.460 27 EL ESTUDIANTE 20/10/2011 Nac 16.668 235.749 28 CRUZADAS 21/04/2011 Nac 16.017 265.705 225 29 JUNTOS PARA SIEMPRE 16/06/2011 Nac 15.790 229.542 30 TIERRA ADENTRO 18/08/2011 Nac 15.500 177.536 31 ROAD JULY 20/10/2011 Nac 15.324 269.695 32 CERRO BAYO 18/08/2011 Nac 13.646 192.949 33 NORBERTO APENAS TARDE 14/10/2011 Nac 11.776 90.133 34 DOCBUENOSAIRES 13/10/2011 Fest,Muestras.. 11.618 109.371 35 CICLO "CINE FRANCES INEDITO X 3" 29/08/2011 Fest,Muestras.. 9.166 95.678 36 XXII EDICION "FESTIVAL DE CINE DE TERROR" 27/10/2011 Fest,Muestras.. 8.136 87.485 37 VAQUERO 29/09/2011 Nac 8.055 101.228 38 DESBORDAR, POR UNA SOCIEDAD SIN MANICOM.. 02/06/2011 Nac 7.889 88.006 39 HIPOLITO 1935 18/04/2011 Nac 6.979 66.653 40 MUESTRA "NUEVO ENCUENTRO CINE NORUEGO 15/02/2011 Fest,Muestras.. 6.918 55.097 41 DOMINGO DE RAMOS 10/02/2011 Nac 6.251 80.717 42 INDUSTRIA ARGENTINA 13/10/2011 Nac 6.169 68.628 43 LA VIDA NUEVA 22/09/2011 Nac 6.125 108.424 44 MUESTRA "CINE Y DIVERSIDAD" 02/06/2011 Fest,Muestras.. 6.122 96.281 45 SCHAFHAUS, CASA DE OVEJAS 25/08/2011 Nac 5.612 95.751 46 REHEN DE ILUSIONES 27/10/2011 Nac 5.353 64.835 47 CICLO "MASASHIRO SHINODA" 18/07/2011 Fest,Muestras.. 5.235 45.181 48 LA PATRIA EQUIVOCADA 27/10/2011 Nac 5.159 75.589 49 CICLO "OLIVIER ASSAYAS X Y" 21/06/2011 Fest,Muestras.. 5.034 41.923 50 EVA DE LA ARGENTINA 20/10/2011 Nac Ranking de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47

Ranking Titulo Fecha Estreno Origen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 1 UN CUENTO CHINO 24/03/2011 Nac 917.139 17.963.252 2 VIUDAS 18/08/2011 Nac 397.131 8.099.389 3 REVOLUCION, EL CRUCE DE LOS ANDES 07/04/2011 Nac 303.331 4.757.843 4 MI PRIMERA BODA 01/09/2011 Nac 302.088 6.297.537 5 LOS MARZIANO 14/04/2011 Nac 221.573 4.298.329 6 XIII FESTIVAL INTERNAC DE CINE INDEPENDIENTE 06/04/2011 Fest,Muestras.. 132.611 1.447.700 7 DON GATO Y SU PANDILLA 13/10/2011 Nac 116.962 2.877.795 8 HERMANITOS DEL FIN DEL MUNDO 14/07/2011 Nac 86.455 1.610.615 9 SUDOR FRIO 03/02/2011 Nac 82.541 1.612.576 10 UN AMOR 10/11/2011 Nac 69.984 1.382.723 11 VERDADES VERDADERAS: LA VIDA DE ESTELA 17/11/2011 Nac 67.921 1.570.881 12 JUAN Y EVA 15/09/2011 Nac 67.227 1.128.983 13 MEDIANERAS 06/10/2011 Nac 64.990 1.368.943 14 EL GATO DESAPARECE 21/04/2011 Nac 48.884 874.245 15 ABALLAY, EL HOMBRE 23/06/2011 Nac 40.571 558.011 16 FASE 7 03/03/2011 Nac 38.825 669.657 17 LAS ACACIAS 13/10/2011 Nac 37.283 517.624 18 DE CARAVANA 02/05/2011 Nac 35.289 515.670 19 GUELCOM 04/08/2011 Nac 33.579 620.617 20 QUERIDA VOY A COMPRAR CIGARRILLOS Y VUEL.. 05/05/2011 Nac 31.423 517.609 21 LA PLEGARIA DEL VIDENTE 13/10/2011 Nac 27.006 625.793 22 EL TUNEL DE LOS HUESOS 16/06/2011 Nac 24.640 439.734 23 EL DEDO 26/05/2011 Nac 24.228 346.589 24 VIOLETA SE FUE A LOS CIELOS 27/10/2011 Nac 21.746 281.653 25 LA MALA VERDAD 13/10/2011 Nac 19.732 281.430 26 MIA 10/11/2011 Nac 16.892 162.460 27 EL ESTUDIANTE 20/10/2011 Nac 16.668 235.749 28 CRUZADAS 21/04/2011 Nac 16.017 265.705 29 JUNTOS PARA SIEMPRE 16/06/2011 Nac 15.790 229.542 30 TIERRA ADENTRO 18/08/2011 Nac 15.500 177.536 31 ROAD JULY 20/10/2011 Nac 15.324 269.695 32 CERRO BAYO 18/08/2011 Nac 13.646 192.949 33 NORBERTO APENAS TARDE 14/10/2011 Nac 11.776 90.133 34 DOCBUENOSAIRES 13/10/2011 Fest,Muestras.. 11.618 109.371 35 CICLO "CINE FRANCES INEDITO X 3" 29/08/2011 Fest,Muestras.. 9.166 95.678 36 XXII EDICION "FESTIVAL DE CINE DE TERROR" 27/10/2011 Fest,Muestras.. 8.136 87.485 37 VAQUERO 29/09/2011 Nac 8.055 101.228 38 DESBORDAR, POR UNA SOCIEDAD SIN MANICOM.. 02/06/2011 Nac 7.889 88.006 39 HIPOLITO 1935 18/04/2011 Nac 6.979 66.653 40 MUESTRA "NUEVO ENCUENTRO CINE NORUEGO 15/02/2011 Fest,Muestras.. 6.918 55.097 41 DOMINGO DE RAMOS 10/02/2011 Nac 6.251 80.717 42 INDUSTRIA ARGENTINA 13/10/2011 Nac 6.169 68.628 43 LA VIDA NUEVA 22/09/2011 Nac 6.125 108.424 44 MUESTRA "CINE Y DIVERSIDAD" 02/06/2011 Fest,Muestras.. 6.122 96.281 45 SCHAFHAUS, CASA DE OVEJAS 25/08/2011 Nac 5.612 95.751 46 REHEN DE ILUSIONES 27/10/2011 Nac 5.353 64.835 47 CICLO "MASASHIRO SHINODA" 18/07/2011 Fest,Muestras.. 5.235 45.181 R4a8nkingLA d PeAT PRIeA EliQcUuIVlOaCsADA 27/10/2011 Nac 5.159 75.589 Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47 5.034 41.923 49 CICLO "OLIVIER ASSAYAS X Y" 21/06/2011 Fest,Muestras.. 4R9a5n0king CTiIEtCuVLlAOo D"EO LIAV AIERRG AESNSTAINYAS X Y" 2F2e10c/0h/16a0 /E2/s20t01r11e1no FONersaigtce,Mn uPeeslitcrualsa.. Entradas Total Precio Venta Total 50 EVA DE LA ARGENTINA 20/10/2011 Nac 4.979 74.259 51 FESTIVAL INTERNAC. CINE JUDIO EN ARGENTINA 01/11/2011 Fest,Muestras.. 4.897 129.874 52 CICLOS "VARIAS PELICULAS" 02/08/2011 Fest,Muestras.. 4.766 39.111 53 CICLO "CINE Y MEMORIA" 14/03/2011 Fest,Muestras.. 4.553 37.430 54 LA CAMPANA 15/12/2011 Nac 4.354 59.713 55 MUESTRA "GINGER Y FRED" 19/04/2011 Fest,Muestras.. 4.113 34.620 56 LA INOCENCIA DE LA ARAÑA 15/12/2011 Nac 4.055 68.849 57 BUEN DIA, DIA 13/01/2011 Nac 4.020 36.138 58 CARNE DE NEON 20/10/2011 Nac 3.866 86.285 59 VIENEN POR EL ORO, VIENEN POR TODO 06/01/2011 Nac 3.858 27.007 60 EL INVIERNO DE LOS RAROS 04/04/2011 Nac 3.845 31.080 61 ANTES DEL ESTRENO 03/11/2011 Nac 3.748 27.104 62 EL AGUA DEL FIN DEL MUNDO 22/04/2011 Nac 3.730 46.314 63 VERANO MALDITO 03/11/2011 Nac 3.663 71.617 64 TATA CEDRON, EL REGRESO DE JUANCITO CAMI.. 01/12/2011 Nac 3.632 51.242 65 FESTIVAL INTERNAC DE CINE POLITICO EN ARG 25/03/2011 Fest,Muestras.. 3.545 2.617 66 AUSENTE 11/08/2011 Nac 3.485 23.718 67 FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINE AMBIENTAL 25/08/2011 Fest,Muestras.. 3.470 71.359 68 UNO 06/10/2011 Nac 3.458 42.042 69 YATASTO 24/11/2011 Nac 3.375 29.654 70 MUESTRA "CINE MUDO, MUSICA EN VIVO" 01/09/2011 Fest,Muestras.. 3.372 26.465 71 AGUA Y SAL 06/10/2011 Nac 3.314 30.087 72 LAS VOCES 20/10/2011 Nac 3.305 57.146 73 TIEMPOS MENOS MODERNO S 08/12/2011 Nac 3.208 21.298 74 MUESTRA "DISTOPIAS" 05/08/2011 Fest,Muestras.. 3.011 42.501 75 MUESTRA "GENERACION VHS 3" 03/03/2011 Fest,Muestras.. 2.843 35.317 2.812 41.217 76 14 DE JUNIO. LO QUE NUNCA SE PERDIÓ 04/04/2011 Nac 226 77 CICLO "PAKA PAKA EN EL CINE" 14/07/2011 Fest,Muestras.. 2.812 3.143 78 MUESTRA "DEMASIADO EGO" 06/10/2011 Fest,Muestras.. 2.644 27.302 79 MUESTRA "NUEVOS DIRECTORES FRANCESES" 31/01/2011 Fest,Muestras.. 2.566 22.704 80 CAÑO DORADO 13/10/2011 Nac 2.500 24.032 81 MUESTRA "MISTERIOS DE LA FILMOTECA" 03/11/2011 Fest,Muestras.. 2.483 14.829 82 RETROSPECTIVA FRITZ LANG 05/05/2011 Fest,Muestras.. 2.346 40.939 83 JUDIOS POR ELECCION 15/12/2011 Nac 2.323 14.429 84 MUESTRA "HOMERO ALSINA THEVENET" 06/01/2011 Fest,Muestras.. 2.312 26.626 85 FESTIVAL "DIVERSIDAD SEXUAL Y GENERO" 24/11/2011 Fest,Muestras.. 2.300 12.166 86 VENTANA SUR "SEMANA DE CINE EUROPEO 201.. 29/11/2011 Fest,Muestras.. 2.091 14.599 87 HACERME FERIANTE 05/02/2011 Nac 1.811 12.259 88 FERROVIARIOS 06/12/2011 Nac 1.796 17.411 89 FESTIVAL "DE TURISMO DE RESPONSABLE" 03/11/2011 Fest,Muestras.. 1.786 978 90 EL DERROTADO 14/04/2011 Nac 1.780 12.565 91 LA SUBLEVACION 20/10/2011 Nac 1.740 27.182 92 LOS LABIOS 05/05/2011 Nac 1.714 10.739 93 EL CIELO ELEGIDO 13/10/2011 Nac 1.677 21.244 94 CIPRIANO, YO HICE EL 17 DE OCTUBRE 10/08/2011 Nac 1.669 8.241 95 "II EDICION DEL FESTIVAL INTERNACIONAL Cine.. 14/09/2011 Fest,Muestras.. 1.624 44 96 MUESTRA "ESTAR EN EL MISTERIO" 01/12/2011 Fest,Muestras.. 1.583 22.031 97 FESTIVAL INTERNAC DEL CORTOMETRAJE FIC 25/08/2011 Fest,Muestras.. 1.582 1.109 98 MUESTRA "DUELO DE TITANES" 03/02/2011 Fest,Muestras.. 1.575 17.563 99 EL RETRATO POSTERGADO 14/07/2011 Nac Ranking de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47

4R9anking CTiItCuLlOo "OLIVIER ASSAYAS X Y" 2Fe1c/0h6a /E2s0t1r1eno FOersigte,Mn uPeeslitcrualsa.. Entradas Total Precio Venta Total 50 EVA DE LA ARGENTINA 20/10/2011 Nac 4.979 74.259 51 FESTIVAL INTERNAC. CINE JUDIO EN ARGENTINA 01/11/2011 Fest,Muestras.. 4.897 129.874 52 CICLOS "VARIAS PELICULAS" 02/08/2011 Fest,Muestras.. 4.766 39.111 53 CICLO "CINE Y MEMORIA" 14/03/2011 Fest,Muestras.. 4.553 37.430 54 LA CAMPANA 15/12/2011 Nac 4.354 59.713 55 MUESTRA "GINGER Y FRED" 19/04/2011 Fest,Muestras.. 4.113 34.620 56 LA INOCENCIA DE LA ARAÑA 15/12/2011 Nac 4.055 68.849 57 BUEN DIA, DIA 13/01/2011 Nac 4.020 36.138 58 CARNE DE NEON 20/10/2011 Nac 3.866 86.285 59 VIENEN POR EL ORO, VIENEN POR TODO 06/01/2011 Nac 3.858 27.007 60 EL INVIERNO DE LOS RAROS 04/04/2011 Nac 3.845 31.080 61 ANTES DEL ESTRENO 03/11/2011 Nac 3.748 27.104 62 EL AGUA DEL FIN DEL MUNDO 22/04/2011 Nac 3.730 46.314 63 VERANO MALDITO 03/11/2011 Nac 3.663 71.617 64 TATA CEDRON, EL REGRESO DE JUANCITO CAMI.. 01/12/2011 Nac 3.632 51.242 65 FESTIVAL INTERNAC DE CINE POLITICO EN ARG 25/03/2011 Fest,Muestras.. 3.545 2.617 66 AUSENTE 11/08/2011 Nac 3.485 23.718 67 FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINE AMBIENTAL 25/08/2011 Fest,Muestras.. 3.470 71.359 68 UNO 06/10/2011 Nac 3.458 42.042 69 YATASTO 24/11/2011 Nac 3.375 29.654 70 MUESTRA "CINE MUDO, MUSICA EN VIVO" 01/09/2011 Fest,Muestras.. 3.372 26.465 71 AGUA Y SAL 06/10/2011 Nac 3.314 30.087 72 LAS VOCES 20/10/2011 Nac 3.305 57.146 73 TIEMPOS MENOS MODERNOS 08/12/2011 Nac 3.208 21.298 74 MUESTRA "DISTOPIAS" 05/08/2011 Fest,Muestras.. 3.011 42.501 75 MUESTRA "GENERACION VHS 3" 03/03/2011 Fest,Muestras.. 2.843 35.317 76 14 DE JUNIO. LO QUE NUNCA SE PERDIÓ 04/04/2011 Nac 2.812 41.217 77 CICLO "PAKA PAKA EN EL CINE" 14/07/2011 Fest,Muestras.. 2.812 3.143 78 MUESTRA "DEMASIADO EGO" 06/10/2011 Fest,Muestras.. 2.644 27.302 79 MUESTRA "NUEVOS DIRECTORES FRANCESES" 31/01/2011 Fest,Muestras.. 2.566 22.704 80 CAÑO DORADO 13/10/2011 Nac 2.500 24.032 81 MUESTRA "MISTERIOS DE LA FILMOTECA" 03/11/2011 Fest,Muestras.. 2.483 14.829 82 RETROSPECTIVA FRITZ LANG 05/05/2011 Fest,Muestras.. 2.346 40.939 83 JUDIOS POR ELECCION 15/12/2011 Nac 2.323 14.429 84 MUESTRA "HOMERO ALSINA THEVENET" 06/01/2011 Fest,Muestras.. 2.312 26.626 85 FESTIVAL "DIVERSIDAD SEXUAL Y GENERO" 24/11/2011 Fest,Muestras.. 2.300 12.166 86 VENTANA SUR "SEMANA DE CINE EUROPEO 201.. 29/11/2011 Fest,Muestras.. 2.091 14.599 87 HACERME FERIANTE 05/02/2011 Nac 1.811 12.259 88 FERROVIARIOS 06/12/2011 Nac 1.796 17.411 89 FESTIVAL "DE TURISMO DE RESPONSABLE" 03/11/2011 Fest,Muestras.. 1.786 978 90 EL DERROTADO 14/04/2011 Nac 1.780 12.565 91 LA SUBLEVACION 20/10/2011 Nac 1.740 27.182 92 LOS LABIOS 05/05/2011 Nac 1.714 10.739 93 EL CIELO ELEGIDO 13/10/2011 Nac 1.677 21.244 94 CIPRIANO, YO HICE EL 17 DE OCTUBRE 10/08/2011 Nac 1.669 8.241 95 "II EDICION DEL FESTIVAL INTERNACIONAL Cine.. 14/09/2011 Fest,Muestras.. 1.624 44 96 MUESTRA "ESTAR EN EL MISTERIO" 01/12/2011 Fest,Muestras.. 1.583 22.031 R97ankinFgE SdTIeVA PL IeNlTiEcRuNAlaC DsEL CORTOMETRAJE FIC 25/08/2011 Fest,Muestras.. 1.582 1.109 1.575 17.563 D9a8tos actualMizaUdEoSsT aRl:A1 5"/D09U/E2L0O17 D 0E9 T:0I2T:A4N7ES" 03/02/2011 Fest,Muestras.. 99 EL RETRATO POSTERGADO 14/07/2011 Nac 9R8anking MTitUuEloSTRA "DUELO DE TITANES" 0Fe3c/0h2a /E2s0t1r1eno FOersigte,Mn uPeeslitcrualsa.. Entradas Total Precio Venta Total 99 EL RETRATO POSTERGADO 14/07/2011 Nac 1.567 8.900 100 FONTANA, LA FRONTERA INTERIOR 27/10/2011 Nac 1.483 11.328 101 LA CASA POR LA VENTANA 26/05/2011 Nac 1.411 9.407 102 TIERRA SUBLEVADA II: ORO NEGRO 13/10/2011 Nac 1.393 37.190 103 LA PALABRA EMPEÑADA 26/05/2011 Nac 1.389 8.854 104 CICLO DE CINE INDEPENDIENTE 17/11/2011 Fest,Muestras.. 1.372 12.252 105 FESTIVAL "CINE ESCANDINAVO" 29/09/2011 Fest,Muestras.. 1.335 35.408 106 UN MUNDO MISTERIOSO 05/08/2011 Nac 1.308 15.972 107 EL CIRCUITO DE ROMAN 20/10/2011 Nac 1.305 17.154 108 XIII FESTIVAL INTERNACIONAL DE DERECHOS HU.. 19/05/2011 Fest,Muestras.. 1.290 9.587 109 LA ULTIMA MIRADA 22/12/2011 Nac 1.275 17.631 110 HITCHCOCK SEGUN CHABROL Y ROHMER 21/04/2011 Fest,Muestras.. 1.240 14.957 111 POLONIO 17/11/2011 Nac 1.198 7.924 112 "IX MUESTRA ITINERANTE BAFISI 2011" 24/08/2011 Fest,Muestras.. 1.184 9.998 113 CICLOS PROGRAMADOS FEBRERO Y MARZO 2011 01/02/2011 Fest,Muestras.. 1.127 6.541 114 DULCE ESPERA 06/02/2011 Nac 1.097 8.094 115 CHAPADMALAL 03/03/2011 Nac 1.024 5.434 116 MUESTRA "BANFF MOUNTAIN FILM FESTIVAL" 12/09/2011 Fest,Muestras.. 1.010 40.742 117 EXHIBICION DE PELICULAS DE CICLOS 01/06/2011 Fest,Muestras.. 1.008 3.208 118 LA INFINITA DISTANCIA 23/06/2011 Nac 979 16.267 119 SEMANA DE CINE ARABE EN ARGENTINA 23/06/2011 Fest,Muestras.. 964 17.673 120 EL FIN DEL POTEMKIN 28/07/2011 Nac 956 6.267 121 HACHAZOS 11/08/2011 Nac 934 6.633 122 CICLO "CINECLUB KM3. CO MUNIDAD CINEFILA" 01/08/2011 Fest,Muestras.. 914 549 123 QUE CULPA TIENE EL TOM ATE 02/06/2011 Nac 892 5.062 124 UN REY PARA LA PATAGON IA 20/10/2011 Nac 884 5.227 125 SECUESTRO Y MUERTE 05/05/2011 Nac 849 11.911 126 HOMBRES DE IDEAS AVANZADAS 30/06/2011 Nac 835 11.606 127 EL HEROE DEL MONTE, DOS HERMANAS 14/04/2011 Nac 822 3.773 128 VII FESTIVAL DE CINE INUSUAL DE BUENOS AIRES 06/10/2011 Fest,Muestras..227 814 5.359 129 MOSCONI, ABRIENDO LOS CAMINOS DE LA DIGNI.. 18/08/2011 Nac 789 4.556 130 AU3 AUTOPISTA CENTRAL 03/03/2011 Nac 763 7.450 131 XV SEMANA DE CINE ARGENTINO EN SALTA 15/12/2011 Fest,Muestras.. 751 9.629 132 DIA NARANJA 22/09/2011 Nac 744 4.383 133 D-HUMANOS 22/09/2011 Nac 713 3.941 134 CICLO "CINE EN LA MUSICA" 21/06/2011 Fest,Muestras.. 470 2.085 135 CICLO "CINE EN LA MUSICA" 04/07/2011 Fest,Muestras.. 196 1.263 136 EL DIA QUE CAMBIO LA HISTORIA 13/10/2011 Nac 630 2.217 137 POMBERO, LA LEYENDA 04/08/2011 Nac 615 3.690 138 TITO EL NAVEGANTE 01/09/2011 Nac 607 4.030 139 CEREMONIAS DE BARRO 18/08/2011 Nac 584 3.070 140 EL JEFE 03/11/2011 Nac 568 3.289 141 VIII FESTIVAL DE CINE AUROPEO 11/08/2011 Fest,Muestras.. 566 566 142 1º FESTIVAL DE CINE PUNK 01/12/2011 Fest,Muestras.. 529 1.379 143 ORILLAS 10/11/2011 Nac 525 11.454 144 RETORNOS 09/06/2011 Nac 525 9.514 145 SIDRA 20/01/2011 Nac 525 8.946 146 EL ULTIMO HOMBRE 16/05/2011 Nac 520 2.595 147 COCINA 06/10/2011 Nac 490 2.947 148 MONTANDO AL ZORRO 01/09/2011 Nac Ranking de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47

9R8anking MTitUuEloSTRA "DUELO DE TITANES" 0Fe3c/0h2a /E2s0t1r1eno FOersigte,Mn uPeeslitcrualsa.. Entradas Total Precio Venta Total 99 EL RETRATO POSTERGADO 14/07/2011 Nac 1.567 8.900 100 FONTANA, LA FRONTERA INTERIOR 27/10/2011 Nac 1.483 11.328 101 LA CASA POR LA VENTANA 26/05/2011 Nac 1.411 9.407 102 TIERRA SUBLEVADA II: ORO NEGRO 13/10/2011 Nac 1.393 37.190 103 LA PALABRA EMPEÑADA 26/05/2011 Nac 1.389 8.854 104 CICLO DE CINE INDEPENDIENTE 17/11/2011 Fest,Muestras.. 1.372 12.252 105 FESTIVAL "CINE ESCANDINAVO" 29/09/2011 Fest,Muestras.. 1.335 35.408 106 UN MUNDO MISTERIOSO 05/08/2011 Nac 1.308 15.972 107 EL CIRCUITO DE ROMAN 20/10/2011 Nac 1.305 17.154 108 XIII FESTIVAL INTERNACIONAL DE DERECHOS HU.. 19/05/2011 Fest,Muestras.. 1.290 9.587 109 LA ULTIMA MIRADA 22/12/2011 Nac 1.275 17.631 110 HITCHCOCK SEGUN CHABROL Y ROHMER 21/04/2011 Fest,Muestras.. 1.240 14.957 111 POLONIO 17/11/2011 Nac 1.198 7.924 112 "IX MUESTRA ITINERANTE BAFISI 2011" 24/08/2011 Fest,Muestras.. 1.184 9.998 113 CICLOS PROGRAMADOS FEBRERO Y MARZO 2011 01/02/2011 Fest,Muestras.. 1.127 6.541 114 DULCE ESPERA 06/02/2011 Nac 1.097 8.094 115 CHAPADMALAL 03/03/2011 Nac 1.024 5.434 116 MUESTRA "BANFF MOUNTAIN FILM FESTIVAL" 12/09/2011 Fest,Muestras.. 1.010 40.742 117 EXHIBICION DE PELICULAS DE CICLOS 01/06/2011 Fest,Muestras.. 1.008 3.208 118 LA INFINITA DISTANCIA 23/06/2011 Nac 979 16.267 119 SEMANA DE CINE ARABE EN ARGENTINA 23/06/2011 Fest,Muestras.. 964 17.673 120 EL FIN DEL POTEMKIN 28/07/2011 Nac 956 6.267 121 HACHAZOS 11/08/2011 Nac 934 6.633 122 CICLO "CINECLUB KM3. COMUNIDAD CINEFILA" 01/08/2011 Fest,Muestras.. 914 549 123 QUE CULPA TIENE EL TOMATE 02/06/2011 Nac 892 5.062 124 UN REY PARA LA PATAGONIA 20/10/2011 Nac 884 5.227 125 SECUESTRO Y MUERTE 05/05/2011 Nac 849 11.911 126 HOMBRES DE IDEAS AVANZADAS 30/06/2011 Nac 835 11.606 127 EL HEROE DEL MONTE, DOS HERMANAS 14/04/2011 Nac 822 3.773 128 VII FESTIVAL DE CINE INUSUAL DE BUENOS AIRES 06/10/2011 Fest,Muestras.. 814 5.359 129 MOSCONI, ABRIENDO LOS CAMINOS DE LA DIGNI.. 18/08/2011 Nac 789 4.556 130 AU3 AUTOPISTA CENTRAL 03/03/2011 Nac 763 7.450 131 XV SEMANA DE CINE ARGENTINO EN SALTA 15/12/2011 Fest,Muestras.. 751 9.629 132 DIA NARANJA 22/09/2011 Nac 744 4.383 133 D-HUMANOS 22/09/2011 Nac 713 3.941 134 CICLO "CINE EN LA MUSICA" 21/06/2011 Fest,Muestras.. 470 2.085 135 CICLO "CINE EN LA MUSICA" 04/07/2011 Fest,Muestras.. 196 1.263 136 EL DIA QUE CAMBIO LA HISTORIA 13/10/2011 Nac 630 2.217 137 POMBERO, LA LEYENDA 04/08/2011 Nac 615 3.690 138 TITO EL NAVEGANTE 01/09/2011 Nac 607 4.030 139 CEREMONIAS DE BARRO 18/08/2011 Nac 584 3.070 140 EL JEFE 03/11/2011 Nac 568 3.289 141 VIII FESTIVAL DE CINE AUROPEO 11/08/2011 Fest,Muestras.. 566 566 142 1º FESTIVAL DE CINE PUNK 01/12/2011 Fest,Muestras.. 529 1.379 143 ORILLAS 10/11/2011 Nac 525 11.454 144 RETORNOS 09/06/2011 Nac 525 9.514 145 SIDRA 20/01/2011 Nac 525 8.946 R1a46nkingEL dULeTI MPOe HliOcMuBlRaEs 16/05/2011 Nac 520 2.595 D1at4o7s actualiCzaOdCoIsN aAl:15/09/2017 09:02:47 06/10/2011 Nac 490 2.947 148 MONTANDO AL ZORRO 01/09/2011 Nac 1R4a7nking CTiOtuClIoNA 0Fe6c/1h0a /E2s0t1r1eno NOraicgen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 148 MONTANDO AL ZORRO 01/09/2011 Nac 481 3.271 149 OJO AL PIOJO "FESTIVAL CORTOMETRAJES PAR.. 07/07/2011 Fest,Muestras.. 474 2.370 150 AMOR AMOR AMOR: CAPITULO I 29/09/2011 Nac 469 6.673 151 EL PILOTO DE PERON 15/09/2011 Nac 449 2.519 152 FESTIVAL INTER.DE C TEMATICA SEXUAL 23/08/2011 Fest,Muestras.. 448 224 153 AMATEUR 09/06/2011 Nac 444 2.744 154 CICLO "EL CINE QUE NO VEMOS" 01/01/2011 Fest,Muestras.. 425 3.540 155 EXHIBICION "EL PREMIO" 17/12/2011 Fest,Muestras.. 419 2.150 156 "FESTIVAL DE CINE UNDER" 06/10/2011 Fest,Muestras.. 411 2.005 157 DE ARTISTAS Y DE LOCOS 12/05/2011 Nac 409 2.244 158 CICLOS VS PELICULAS 01/07/2011 Fest,Muestras.. 408 4.739 159 LO QUE MAS QUIERO 07/07/2011 Nac 402 7.342 160 FESTIVAL "NUEVA MIRADA PARA LA INFANCIA Y .. 01/09/2011 Fest,Muestras.. 391 1.532 161 CAUSAS, HISTORIA LATINOAMERICANA 10/03/2011 Nac 379 3.272 162 EL HOMBRE DE LOS GUANTES 26/05/2011 Nac 357 5.074 163 SMO EL BATALLON OLVIDADO 03/11/2011 Nac 344 2.920 164 CICLOS PROGRAMADOS JULIO 2011 01/07/2011 Fest,Muestras.. 342 1.197 165 EMPLEADAS Y PATRONES 04/08/2011 Nac 314 1.631 166 "FESTIVAL INTERNAC DE CINE JUDIO EN MENDO.. 19/09/2011 Fest,Muestras.. 311 6.456 167 SOI CUMBIO 08/09/2011 Nac 296 1.606 168 PELICULAS "SALA EL JARDIN DE LAS DELICIAS" 01/05/2011 Fest,Muestras.. 295 1.141 169 18 FESTIVAL LATINOAMERICANO DE VIDEO Y AR.. 01/09/2011 Fest,Muestras.. 289 1.734 170 UN DIA EN CONSTITUCION 29/09/2011 Nac 280 1.079 171 QUE PAREZCA UN ACCIDENT E 15/09/2011 Nac 266 1.632 172 COSI FAN TUTTE 01/05/2011 Fest,Muestras.. 265 8.060 173 CINE DEBATE 2011 01/11/2011 Fest,Muestras.. 263 2.724 174 TIERRA DE MUJERES 05/05/2011 Nac 257 1.337 175 TANKE P.A.P.I. 16/05/2011 Nac 253 3.263 176 CICLO "FRANCOIS TRUFFAUT" 06/10/2011 Fest,Muestras.. 228 224 2.000 177 CICLO "INUSUALES COTIDIANOS" 08/09/2011 Fest,Muestras.. 108 533 178 CICLO "INUSUALES COTIDIANOS" 08/12/2011 Fest,Muestras.. 101 400 179 1º FESTIVAL INTERNACIONAL DE CORTOS DE AN.. 02/11/2011 Fest,Muestras.. 202 3.030 180 EXHIBICION VARIAS PELICULAS 01/05/2011 Fest,Muestras.. 193 1.944 181 FAMILIA TIPO 26/05/2011 Nac 180 1.221 182 LA CONFESION 20/10/2011 Nac 169 2.667 183 MUESTRA "CINE Y ECOLOGIA ROSARIO" 06/10/2011 Fest,Muestras.. 157 314 184 CINE-DEBATE 01/09/2011 Fest,Muestras.. 156 1.704 185 , LA CANTORA 10/03/2011 Nac 153 975 186 ENCUENTRO CON EL CINE COREANO 03/04/2011 Fest,Muestras.. 140 1.170 187 DOCUMENTAL "SALIDA DE EMERGENCIA" 28/10/2011 Fest,Muestras.. 139 70 188 EL CAJON 07/07/2011 Nac 125 1.250 189 LINIERS 06/10/2011 Fest,Muestras.. 115 1.227 190 EL HEREJE, ALFREDO MOFFAT SIN PLATA Y SIN P.. 31/03/2011 Nac 104 501 191 CICLO "EL CINE DE VANGUARDIA LATINOAMERIC.. 01/06/2011 Fest,Muestras.. 102 534 192 ENCUENTRO INTERNAC DE HISTORIETAS DE ROS.. 11/06/2011 Fest,Muestras.. 98 490 193 EXHIBICION VARIAS PELICULAS -MUSEO DEL MAR 01/08/2011 Fest,Muestras.. 98 996 194 EXHIBICION PELICULAS: "CINE DEBATE" 01/10/2011 Fest,Muestras.. 90 900 195 PROGRAMACION CINE MOVIL FEBRERO 2011 01/02/2011 Fest,Muestras.. 90 50 196 HOY NO TUVE MIEDO 03/11/2011 Nac 88 1.088 197 CICLO "EL CINE DE MATIAS PIÑEIRO" 01/06/2011 Fest,Muestras.. Ranking de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47

1R4a7nking CTiOtuClIoNA 0Fe6c/1h0a /E2s0t1r1eno NOraicgen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 148 MONTANDO AL ZORRO 01/09/2011 Nac 481 3.271 149 OJO AL PIOJO "FESTIVAL CORTOMETRAJES PAR.. 07/07/2011 Fest,Muestras.. 474 2.370 150 AMOR AMOR AMOR: CAPITULO I 29/09/2011 Nac 469 6.673 151 EL PILOTO DE PERON 15/09/2011 Nac 449 2.519 152 FESTIVAL INTER.DE C TEMATICA SEXUAL 23/08/2011 Fest,Muestras.. 448 224 153 AMATEUR 09/06/2011 Nac 444 2.744 154 CICLO "EL CINE QUE NO VEMOS" 01/01/2011 Fest,Muestras.. 425 3.540 155 EXHIBICION "EL PREMIO" 17/12/2011 Fest,Muestras.. 419 2.150 156 "FESTIVAL DE CINE UNDER" 06/10/2011 Fest,Muestras.. 411 2.005 157 DE ARTISTAS Y DE LOCOS 12/05/2011 Nac 409 2.244 158 CICLOS VS PELICULAS 01/07/2011 Fest,Muestras.. 408 4.739 159 LO QUE MAS QUIERO 07/07/2011 Nac 402 7.342 160 FESTIVAL "NUEVA MIRADA PARA LA INFANCIA Y .. 01/09/2011 Fest,Muestras.. 391 1.532 161 CAUSAS, HISTORIA LATINOAMERICANA 10/03/2011 Nac 379 3.272 162 EL HOMBRE DE LOS GUANTES 26/05/2011 Nac 357 5.074 163 SMO EL BATALLON OLVIDADO 03/11/2011 Nac 344 2.920 164 CICLOS PROGRAMADOS JULIO 2011 01/07/2011 Fest,Muestras.. 342 1.197 165 EMPLEADAS Y PATRONES 04/08/2011 Nac 314 1.631 166 "FESTIVAL INTERNAC DE CINE JUDIO EN MENDO.. 19/09/2011 Fest,Muestras.. 311 6.456 167 SOI CUMBIO 08/09/2011 Nac 296 1.606 168 PELICULAS "SALA EL JARDIN DE LAS DELICIAS" 01/05/2011 Fest,Muestras.. 295 1.141 169 18 FESTIVAL LATINOAMERICANO DE VIDEO Y AR.. 01/09/2011 Fest,Muestras.. 289 1.734 170 UN DIA EN CONSTITUCION 29/09/2011 Nac 280 1.079 171 QUE PAREZCA UN ACCIDENTE 15/09/2011 Nac 266 1.632 172 COSI FAN TUTTE 01/05/2011 Fest,Muestras.. 265 8.060 173 CINE DEBATE 2011 01/11/2011 Fest,Muestras.. 263 2.724 174 TIERRA DE MUJERES 05/05/2011 Nac 257 1.337 175 TANKE P.A.P.I. 16/05/2011 Nac 253 3.263 176 CICLO "FRANCOIS TRUFFAUT" 06/10/2011 Fest,Muestras.. 224 2.000 177 CICLO "INUSUALES COTIDIANOS" 08/09/2011 Fest,Muestras.. 108 533 178 CICLO "INUSUALES COTIDIANOS" 08/12/2011 Fest,Muestras.. 101 400 179 1º FESTIVAL INTERNACIONAL DE CORTOS DE AN.. 02/11/2011 Fest,Muestras.. 202 3.030 180 EXHIBICION VARIAS PELICULAS 01/05/2011 Fest,Muestras.. 193 1.944 181 FAMILIA TIPO 26/05/2011 Nac 180 1.221 182 LA CONFESION 20/10/2011 Nac 169 2.667 183 MUESTRA "CINE Y ECOLOGIA ROSARIO" 06/10/2011 Fest,Muestras.. 157 314 184 CINE-DEBATE 01/09/2011 Fest,Muestras.. 156 1.704 185 MERCEDES SOSA, LA CANTORA 10/03/2011 Nac 153 975 186 ENCUENTRO CON EL CINE COREANO 03/04/2011 Fest,Muestras.. 140 1.170 187 DOCUMENTAL "SALIDA DE EMERGENCIA" 28/10/2011 Fest,Muestras.. 139 70 188 EL CAJON 07/07/2011 Nac 125 1.250 189 LINIERS 06/10/2011 Fest,Muestras.. 115 1.227 190 EL HEREJE, ALFREDO MOFFAT SIN PLATA Y SIN P.. 31/03/2011 Nac 104 501 191 CICLO "EL CINE DE VANGUARDIA LATINOAMERIC.. 01/06/2011 Fest,Muestras.. 102 534 192 ENCUENTRO INTERNAC DE HISTORIETAS DE ROS.. 11/06/2011 Fest,Muestras.. 98 490 193 EXHIBICION VARIAS PELICULAS -MUSEO DEL MAR 01/08/2011 Fest,Muestras.. 98 996 194 EXHIBICION PELICULAS: "CINE DEBATE" 01/10/2011 Fest,Muestras.. 90 900 R19a5nkinPgR OdGeR APMeAlCiIOcNu ClaINsE MOVIL FEBRERO 2011 01/02/2011 Fest,Muestras.. 90 50 D1a9t6os actualHizOadYo Ns Oal :T1U5/V0E9 /M20IE1D7 O09:02:47 03/11/2011 Nac 88 1.088 197 CICLO "EL CINE DE MATIAS PIÑEIRO" 01/06/2011 Fest,Muestras.. 1R9a6nking HTiOtuYl oNO TUVE MIEDO 0Fe3c/1h1a /E2s0t1r1eno NOraicgen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 197 CICLO "EL CINE DE MATIAS PIÑEIRO" 01/06/2011 Fest,Muestras.. 85 315 198 TRANSITO PESADO 20/10/2011 Nac 84 398 199 PRE-ESTRENO: LIBERELUN 06/11/2011 Fest,Muestras.. 82 249 200 CICLO "CINE INUSUAL" 01/08/2011 Fest,Muestras.. 80 394 201 INSEGUROS 22/09/2011 Nac 78 94 202 EL PREDIO 24/03/2011 Nac 77 955 203 RESTROSPECTIVA RAYMUNDO GLEIZER 05/05/2011 Fest,Muestras.. 70 620 204 DOCUMENTAL "CLAUDIA" 07/03/2011 Fest,Muestras.. 69 345 205 ULTIMA MUERTE 15/12/2011 Nac 60 241 206 EL VISITANTE 10/11/2011 Fest,Muestras.. 56 800 207 EXHIBICION "OTRAS PAMPAS" 23/12/2011 Fest,Muestras.. 56 28 208 FESTIVAL "LGBT CINE VOX ROSARIO 2011" 20/10/2011 Fest,Muestras.. 53 265 209 EL COMPROMISO 29/09/2011 Nac 48 1.056 210 UN OVNI SOBRE MI CAMA 01/09/2011 Nac 48 216 211 LA RISA 02/05/2011 Fest,Muestras.. 43 241 212 FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINE INDEPENDIE.. 25/05/2011 Fest,Muestras.. 33 165 213 CICLO "DOCA" 01/08/2011 Fest,Muestras.. 32 157 214 CICLO "EL LADO OSCURO DEL CINE CORDOBES" 10/12/2011 Fest,Muestras.. 30 219 215 MUESTRA "HECHO X MUJERES 2011 EN ROSARI.. 25/11/2011 Fest,Muestras.. 26 130 216 CLAUDIA 02/05/2011 Nac 14 36 217 FESTIVAL DE CINE "ANTES DEL ESTRENO" 13/10/2011 Fest,Muestras.. 14 140 218 EN EL UMBRAL 13/10/2011 Nac 12 116 219 ALFREDO LI GOTTI, UNA PASION CENEFILA 20/10/2011 Nac 11 220 3 21 220 OCIO 25/11/2011 Nac Fonte: Instituto Nacional de Cine y Artes Visuales - Seção de Estatísticas, Gerência de Fiscalização. Disponível em http://fiscalizacion.incaa.gov.ar/index_estadisticas_series_historicas.php, acesso em 17 de setembro de 2017.

229 Tabela 18: Lançamentos de filmes argentinos em 2012

Ranking de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47

Ranking Titulo Fecha Estreno Origen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 1 DOS MAS DOS 16/08/2012 Nac 1.004.288 26.868.724 2 ELEFANTE BLANCO 17/05/2012 Nac 773.155 18.517.149 3 ATRACO 02/08/2012 Nac 568.983 15.190.525 4 PETER CAPUSOTTO Y SUS 3 DIMENSIONES 26/01/2012 Nac 274.205 8.886.628 5 NESTOR KIRCHNER- LA PELICULA 22/11/2012 Nac 204.954 7.153.546 6 INFANCIA CLANDESTINA 20/09/2012 Nac 201.705 4.519.830 7 LA SUERTE EN TUS MANOS 29/03/2012 Nac 193.242 4.287.578 8 EXTRAÑOS EN LA NOCHE 05/04/2012 Nac 155.485 3.626.729 9 TODOS TENEMOS UN PLAN 30/08/2012 Nac 134.173 3.283.360 10 ESPERANDO LA CARROZA 25/10/2012 Nac 109.651 2.891.801 11 LA MAQUINA QUE HACE ESTRELLAS 30/08/2012 Nac 103.438 3.609.011 12 DIAS DE VINILO 27/09/2012 Nac 93.365 2.260.650 13 EL ULTIMO ELVIS 26/04/2012 Nac 88.476 1.889.204 14 LA PELEA DE MI VIDA 06/09/2012 Nac 83.509 2.944.341 15 SOLEDAD Y LARGUIRUCHO 05/07/2012 Nac 72.019 1.500.719 16 PIÑON FIJO Y LA MAGIA DE LA MUSICA 27/12/2012 Nac 61.120 1.590.597 17 SELKIRK, EL VERDADERO ROBINSON CRUSOE 02/02/2012 Nac 58.832 1.112.824 18 FUERA DE JUEGO 14/06/2012 Nac 38.694 946.164 19 NI UN HOMBRE MAS 08/11/2012 Nac 37.593 970.070 20 OTRO CORAZON 01/11/2012 Nac 37.449 1.140.123 21 NO TE ENAMORES DE MI 10/05/2012 Nac 33.318 723.347 22 DIAS DE PESCA 15/11/2012 Nac 32.509 768.171 23 EL CAMPO 03/05/2012 Nac 26.815 458.342 24 CORNELIA FRENTE AL ESPEJO 04/10/2012 Nac 19.051 467.035 25 EL VAGONETA EN EL MUNDO DEL CINE 22/03/2012 Nac 17.966 582.996 26 EL POZO 19/04/2012 Nac 17.810 344.032 27 PENUMBRA 02/02/2012 Nac 16.467 366.249 28 ABRIR PUERTAS Y VENTANAS 31/05/2012 Nac 15.746 233.469 29 MASTERPLAN 25/10/2012 Nac 14.144 318.394 30 EL AMIGO ALEMAN 04/10/2012 Nac 13.187 271.989 31 AMOR A MARES ( UNA HISTORIA EN CUBIERTA ) 15/11/2012 Nac 11.625 295.110 32 ANIMA BUENOS AIRES 03/05/2012 Nac 11.171 142.478 33 TOPOS 13/09/2012 Nac 10.840 201.780 34 UNA CITA, UNA FIESTA Y UN GATO NEGRO 24/05/2012 Nac 8.551 187.789 35 EL ETNOGRAFO 14/09/2012 Nac 7.995 67.557 36 LA ARAÑA VAMPIRO 04/10/2012 Nac 7.405 135.676 37 BOXING CLUB 07/12/2012 Nac 6.551 197.657 38 DORMIR AL SOL 15/03/2012 Nac 6.337 95.516 39 ACORRALADOS 07/06/2012 Nac 5.848 90.545 40 POMPEYA 05/07/2012 Nac 5.494 40.216 41 LA REVOLUCION ES UN SUEÑO ETERNO 17/05/2012 Nac 5.405 33.689 42 DIABLO 06/12/2012 Nac 5.321 83.492 43 UNA MUJER SUCEDE 02/11/2012 Nac 5.284 99.513 44 EL GRAN RIO 31/05/2012 Nac 5.230 45.694 45 LA DESPEDIDA 23/08/2012 Nac 4.690 96.382 46 DULCE DE LECHE 29/11/2012 Nac 4.550 96.544 47 LAS MUJERES LLEGAN TARDE 18/10/2012 Nac 4.393 67.369 48 NOSILATIAJ, LA BELLEZA 06/09/2012 Nac 4.266 67.757 49 DESMADRE 14/06/2012 Nac 4.189 46.363 50 BEIRUT-BUENOS AIRES-BEIRUT 22/10/2012 Nac

230 Ranking de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47

4R9anking DTiEtSulMoADRE 1Fe4c/0h6a /E2s0t1r2eno NOraicgen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 50 BEIRUT-BUENOS AIRES-BEIRUT 22/10/2012 Nac 3.641 30.931 51 EL SEXO DE LAS MADRES 01/11/2012 Nac 3.508 28.493 52 "3" 05/07/2012 Nac 3.496 35.511 53 A LA DERIVA 06/09/2012 Nac 3.337 67.968 54 EL NOTIFICADOR 18/10/2012 Nac 3.293 59.397 55 LA SOMBRA AZUL 03/05/2012 Nac 3.238 26.031 56 HISTÓRIAS QUE SÓ EXISTEM QUANDO LEMBRAD.. 23/08/2012 Nac 3.214 20.822 57 TIERRA DE LOS PADRES 05/07/2012 Nac 2.932 18.964 58 PARAPOLICIAL NEGRO 14/06/2012 Nac 2.870 20.829 59 MOACIR 02/02/2012 Nac 2.673 20.965 60 EL ARBOL DE LA MURALLA 03/07/2012 Nac 2.618 18.272 61 OTROS SILENCIOS 08/11/2012 Nac 2.559 45.905 62 PECADOS 24/05/2012 Nac 2.555 54.743 63 MEMORIA PARA REINCIDENTES 15/03/2012 Nac 2.521 19.010 64 BICHOS CRIOLLOS 17/05/2012 Nac 2.504 54.470 65 GRISEL, UN AMOR EN TIEMPO DE TANGO 29/11/2012 Nac 2.408 18.436 66 NOSOTRAS SIN MAMA 05/04/2012 Nac 2.405 20.690 67 LAS MALAS INTENCIONES 29/11/2012 Nac 2.389 28.698 68 NICARAGUA, EL SUEÑO DE UNA GENERACION 19/07/2012 Nac 2.370 14.184 69 EL OTRO FUTBOL 09/08/2012 Nac 2.176 21.945 70 LAS CARACAS 25/10/2012 Nac 2.061 10.937 71 CIRQUERA 04/07/2012 Nac 2.036 13.692 72 BLAKIE- UNA VIDA EN BLANCO Y NEGRO 06/12/2012 Nac 2.018 14.592 73 VIVAN LAS ANTÍPODAS 06/09/2012 Nac 2.009 17.205 74 LA CACERIA 11/10/2012 Nac 2.000 61.045 75 UN AMOR DE PELICULA 15/11/2012 Nac 1.942 31.824 76 SAL 06/09/2012 Nac 1.871 16.237 77 LA COLA 13/09/2012 Nac 1.841 21.160 78 EL CAMINO DEL VINO 02/08/2012 Nac 1.821 20.671 79 NOVIAS, MADRINAS, 15 AÑOS 23/02/2012 Nac 1.766 9.777 80 EL IMPENETRABLE 29/11/2012 Nac 1.702 10.968 81 EL MAL DEL SAUCE 19/01/2012 Nac 1.672 13.382 82 FAMILIAS POR IGUAL 04/10/2012 Nac 1.513 12.872 83 EL SOL 02/08/2012 Nac 1.451 20.490 84 EL CUARTO DE LEO 01/11/2012 Nac 1.421 8.661 85 TUPAC AMARU 12/04/2012 Nac 1.397 11.291 86 PUTOS PERONISTAS 31/05/2012 Nac 1.374 9.352 87 CUENTAS DEL ALMA 09/08/2012 Nac 1.278 7.750 88 BUSCANDO AL HUEMUL 06/12/2012 Nac 1.222 10.167 89 MARADONA, MEDICO DE LA SELVA 20/09/2012 Nac 1.164 8.007 90 EL DECIMO INFIERNO 06/12/2012 Nac 1.148 4.879 91 FOTOS DE FAMILIA - LA HISTORIA DE PUJADAS 08/03/2012 Nac 1.144 7.386 92 75 HABITANTES, 20 CASAS, 300 VACAS 04/05/2012 Nac 1.143 12.598 93 PORFIRIO 01/11/2012 Nac 1.072 6.489 94 MALON 05/07/2012 Nac 1.058 6.096 95 EL SILENCIO DEL PUENTE 26/07/2012 Nac 1.033 5.721 96 EL VERANO DEL CAMOATI 24/05/2012 Nac 972 6.326 97 DARIO SANTILLAN: LA DIGNIDAD REBELDE 26/04/2012 Nac 969 5.131 98 CIVILIZACION 20/12/2012 Nac 966 7.140 99 ALUMBRANDO EN LA OSCU RIDAD 18/10/2012 Nac

231 Ranking de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:4 7 9R8anking CTiItVuIlLoIZACION 2Fe0c/1h2a /E2s0t1r2eno NOraicgen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 99 ALUMBRANDO EN LA OSCURIDAD 18/10/2012 Nac 960 4.119 100 LA LLAMADA 25/10/2012 Nac 941 4.450 101 LAS PUERTAS DEL CIELO 12/07/2012 Nac 940 17.205 102 LOS SALVAJES 04/10/2012 Nac 900 9.138 103 ERRANTES 18/10/2012 Nac 894 4.081 104 CENTRO 01/03/2012 Nac 883 4.832 105 LA CARRERA DEL ANIMAL 23/02/2012 Nac 878 5.459 106 ELSA Y SU BALET 06/12/2012 Nac 809 4.074 107 OSTENDE 06/09/2012 Nac 788 8.564 108 TIEMPO MUERTO 31/05/2012 Nac 751 4.628 109 DE LOS BARRIOS, ARTE 15/11/2012 Nac 702 3.876 110 MONTENEGRO 04/10/2012 Nac 673 4.430 111 LA CASA 08/11/2012 Nac 662 5.237 112 BOXEO EN CONSTITUCION 13/12/2012 Nac 616 3.683 113 ARRIEROS 12/07/2012 Nac 599 4.571 114 RAWSON 10/07/2012 Nac 588 4.247 115 HOMBRE BEBIENDO LUZ 23/08/2012 Nac 529 3.680 116 MENSAJERO 20/09/2012 Nac 507 5.350 117 PASTORA, EL ENIGMA DEL MONTE ALBORNOZ 05/01/2012 Nac 480 4.519 118 ACCIDENTES GLORIOSOS 07/06/2012 Nac 479 3.510 119 AQUI ESTOY 06/09/2012 Nac 472 4.049 120 EL RASCACIELOS LATINO 01/07/2012 Nac 399 2.578 121 EL PROVOCADOR 10/05/2012 Nac 393 2.801 122 LAS MUCHACHAS 15/03/2012 Nac 368 2.119 123 PLAGA ZOMBIE: REVOLUCION TOXICA 29/03/2012 Nac 367 2.622 124 EL ESPACIO ENTRE LOS DOS 15/11/2012 Nac 318 5.651 125 PLAGA ZOMBIE: ZONA MUTANTE 29/03/2012 Nac 266 2.856 126 EL CIRCULO 25/10/2012 Nac 259 2.858 127 NOCTURNOS 25/08/2012 Nac 248 3.653 128 EL PERIODISTA 13/09/2012 Nac 199 2.663 129 SOLO UN MOMENTO 05/04/2012 Nac 195 4.322 130 LUJAN 15/05/2012 Nac 156 2.255 131 CHACU 02/02/2012 Nac 155 647 132 EL PRECIO DE LA LEALTAD 02/07/2012 Nac 135 755 133 HABANO Y CIGARRILLOS 14/06/2012 Nac 123 1.715 134 LOS ACTOS COTIDIANOS 15/05/2012 Nac 95 1.360 135 EL EXTERIOR 10/02/2012 Nac 94 670 136 UNA POR UNA , TRATANDO QUE NO SE BORRE 06/09/2012 Nac 79 862 137 ENSAYO FRAGMENTOS 28/06/2012 Nac 75 461 138 UTEROS: UNA MIRADA SOBRE ELSA PAVON 07/06/2012 Nac 66 528 139 AL FINAL LA VIDA SIGUE IGUAL 15/05/2012 Nac 63 915 140 DESPLAZAMIENTOS 25/10/2012 Nac 53 954 141 LA PELICULA DE BATATO 04/10/2012 Nac 44 440 142 LA MAREA 31/05/2012 Nac 41 366 143 LA PINTURA 15/11/2012 Nac 36 360 144 BASICAMENTE UN POZO 26/07/2012 Nac 33 330 145 MUSICA CAMPESINA 22/06/2012 Nac 27 174 146 EN EL FUTURO 07/06/2012 Nac 15 93 Fonte: Instituto Nacional de Cine y Artes Visuales - Seção de Estatísticas, Gerência de Fiscalização. Disponível em http://fiscalizacion.incaa.gov.ar/index_estadisticas_series_historicas.php, acesso em 17 de setembro de 2017.

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RTabela ankin19g: Lançamentos de filmes argentinos em 2013 de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47

Ranking Titulo Fecha Estreno Origen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 1 METEGOL 18/07/2013 Nac 2.139.476 78.090.884 2 CORAZON DE LEON 15/08/2013 Nac 1.746.345 60.068.984 3 TESIS SOBRE UN HOMICIDIO 17/01/2013 Nac 1.047.017 31.093.581 4 SEPTIMO 05/09/2013 Nac 972.594 32.796.885 5 WAKOLDA 2 D 05/09/2013 Nac 423.683 13.561.862 6 VINO PARA ROBAR 01/08/2013 Nac 180.007 5.704.660 7 PUERTA DE HIERRO, EL EXILIO DE PERON 11/04/2013 Nac 178.463 3.075.697 8 LA RECONSTRUCCION 28/03/2013 Nac 102.412 3.203.729 9 NK 14/11/2013 Nac 98.104 5.092.626 10 CAIDOS DEL MAPA 26/09/2013 Nac 90.357 2.684.158 11 UN PARAISO PARA LOS MALDITOS 04/11/2013 Nac 40.817 1.773.618 12 CONDENADOS 24/10/2013 Nac 33.562 1.797.775 13 PENSE QUE IBA A HABER FIESTA 09/05/2013 Nac 32.928 885.377 14 RODENCIA Y EL DIENTE DE LA PRINCESA 28/02/2013 Nac 31.712 1.155.073 15 MALA 14/02/2013 Nac 29.619 931.898 16 20.000 BESOS 03/10/2013 Nac 25.989 700.010 17 TEENANGELS EL ADIOS 3D 23/05/2013 Nac 21.319 892.036 18 DESIERTO VERDE 07/11/2013 Nac 20.652 686.286 19 MERCEDES SOSA :LA VOZ DE LATINOAMERICA 06/06/2013 Nac 18.725 308.958 20 CUANDO YO TE VUELVA A VER 23/05/2013 Nac 18.289 729.599 21 OMISION 18/11/2013 Nac 17.739 517.305 22 LA MEMORIA DEL MUERTO 14/03/2013 Nac 17.098 494.512 23 SOLA CONTIGO 14/11/2013 Nac 16.143 382.108 24 SOLO PARA DOS 12/09/2013 Nac 16.049 520.444 25 ROUGE AMARGO 23/05/2013 Nac 14.339 337.331 26 MATRIMONIO 21/03/2013 Nac 13.637 270.179 27 MIKA, MI GUERRA DE ESPAÑA 14/11/2013 Nac 13.130 397.124 28 POR UN TIEMPO 25/04/2013 Nac 12.486 249.516 29 DIAGNOSTICO ESPERANZA 18/07/2013 Nac 10.605 74.822 30 HABI, LA EXTRANJERA 22/08/2013 Nac 10.338 218.721 31 VENIMOS DE MUY LEJOS, LA PELICULA 05/09/2013 Nac 10.131 144.507 32 LA BOLETA 03/10/2013 Nac 8.489 202.507 33 ¿QUIEN MATÓ A MARIANO FERREYRA? 04/04/2013 Nac 8.154 162.224 34 VOYAGE, VOYAGE 08/08/2013 Nac 7.713 145.394 35 SAMURAI 06/06/2013 Nac 7.229 120.398 36 CAITO 17/10/2013 Nac 6.673 85.898 37 HERMANOS DE SANGRE 06/06/2013 Nac 6.607 179.774 38 ESCLAVO DE DIOS 12/12/2013 Nac 6.519 140.591 39 DESTINO ANUNCIADO 24/10/2013 Nac 6.411 144.431 40 EL GRAN SIMULADOR 02/05/2013 Nac 6.219 72.970 41 VILLEGAS 28/02/2013 Nac 5.845 102.233 42 VISIONES 14/11/2013 Nac 5.841 137.149 43 LA HUELLA DEL DR. ERNESTO GUEVARA 06/06/2013 Nac 5.824 40.561 44 SIMON HIJO DEL PUEBLO 02/05/2013 Nac 5.800 54.498 45 "5-5-5" 14/02/2013 Nac 5.773 94.652 46 DESHORA 12/09/2013 Nac 5.348 54.023 47 BOMBA 02/05/2013 Nac 4.964 99.062 48 VACACIONES CON FIDEL 24/10/2013 Nac 4.725 29.588 49 OLVIDAME 31/10/2013 Nac 4.603 119.948 50 LA CHICA DEL SUR 07/02/2013 Nac

233 Ranking de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:4 7 4R9anking OTiLtVuIloDAME 3Fe1c/1h0a /E2s0t1r3eno NOraicgen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 50 LA CHICA DEL SUR 07/02/2013 Nac 4.524 60.971 51 MARIA Y EL ARAÑA 10/10/2013 Nac 4.513 52.620 52 DE MARTES A MARTES 03/10/2013 Nac 4.509 59.967 53 QUIERO MORIR EN TUS BRAZOS 25/04/2013 Nac 4.442 81.044 54 LA PAZ 03/10/2013 Nac 4.133 40.142 55 LA VIDA ANTERIOR 18/04/2013 Nac 4.075 91.858 56 GRABA 31/01/2013 Nac 4.067 82.477 57 PATERNOSTER 29/09/2013 Nac 4.066 148.043 58 ABRIL EN NUEVA YORK 10/10/2013 Nac 3.789 31.646 59 AMAR ES BENDITO 25/07/2013 Nac 3.784 47.076 60 PIES EN LA TIERRA 09/05/2013 Nac 3.409 68.296 61 ESOS COLORES QUE LLEVAS 18/07/2013 Nac 3.280 22.490 62 MALDITOS SEAN 03/01/2013 Nac 3.224 31.602 63 LA GUAYABA 31/10/2013 Nac 3.052 47.317 64 UNA FAMILIA GAY 05/12/2013 Nac 3.044 87.101 65 GERMANIA 21/02/2013 Nac 2.739 30.032 66 ANTES 07/03/2013 Nac 2.650 43.310 67 PAISAJES DEVORADOS 04/07/2013 Nac 2.558 21.753 68 IMAGENES PAGANAS 22/08/2013 Nac 2.550 21.768 69 ESCUELA NORMAL 03/01/2013 Nac 2.524 17.848 70 MORENO 20/06/2013 Nac 2.521 21.795 71 FANGO 05/12/2013 Nac 2.493 22.130 72 HUELLAS 12/12/2013 Nac 2.455 14.520 73 DIARIO DE ANA Y MIA 19/12/2013 Nac 2.385 14.163 74 MUJER CONEJO 10/10/2013 Nac 2.333 44.847 75 LUNAS CAUTIVAS 25/07/2013 Nac 2.252 16.622 76 SOLO PARA PAYASOS 25/07/2013 Nac 2.241 16.249 77 LA PASION DE MICHELANGELO 20/06/2013 Nac 2.237 41.570 78 ROMPER EL HUEVO 03/10/2013 Nac 2.048 34.515 79 EL OTRO MARADONA 14/11/2013 Nac 1.963 11.835 80 CHACARERA 03/10/2013 Nac 1.863 11.761 81 ESCUELA DE SORDOS 28/11/2013 Nac 1.681 15.439 82 EL BORDE DEL TIEMPO 12/09/2013 Nac 1.629 8.307 83 SOLO 17/10/2013 Nac 1.583 9.550 84 P3ND3JO5 20/06/2013 Nac 1.568 18.297 85 LEONES 09/05/2013 Nac 1.565 22.345 86 EL CHANTAJE DE UN HOMBRE SOLO 05/12/2013 Nac 1.553 18.071 87 MAR DEL PLATA 07/11/2013 Nac 1.552 8.061 88 LA HISTORIA INVISIBLE 23/05/2013 Nac 1.546 10.672 89 YO ABORTO. TU ABORTAS. TODXS CALLAMOS 07/11/2013 Nac 1.543 10.979 90 CASSANDRA 03/10/2013 Nac 1.509 10.428 91 INACAYAL 01/10/2013 Nac 1.456 8.512 92 LA MULTITUD 14/02/2013 Nac 1.425 10.172 93 FORAJIDOS DE LA PATAGONIA 30/01/2013 Nac 1.049 7.348 94 FORAJIDOS DE LA PATAGONIA 31/01/2013 Nac 358 360 95 AIRE DE CHACARERA 15/08/2013 Nac 1.324 6.802 96 MADAME BATERFLAI 15/11/2013 Nac 1.279 7.051 97 CALLES DE LA MEMORIA 04/07/2013 Nac 1.243 11.528 98 LA CARPA INVISIBLE , FAMILIA DE CIRCO 28/11/2013 Nac 1.237 7.016 99 TLATELOLCO, VERANO DEL 68 10/10/2013 Nac

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Ranking de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47 9R8anking LTAit uClAoRPA INVISIBLE , FAMILIA DE CIRCO 2Fe8c/1h1a /E2s0t1r3eno NOraicgen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 99 TLATELOLCO, VERANO DEL 68 10/10/2013 Nac 1.227 20.085 100 UN DIA GRIS,UN DIA AZUL. IGUAL AL MAR 05/12/2013 Nac 1.170 6.676 101 EL PROBLEMA CON LOS MUERTOS ES QUE SON I.. 17/10/2013 Nac 1.155 7.996 102 CUERPOS DE AGUA 22/11/2013 Nac 1.145 15.180 103 SALSIPUEDES 27/06/2013 Nac 1.144 9.512 104 PARA LOS POBRES PIEDRAS 23/05/2013 Nac 1.134 7.492 105 MAL DEL VIENTO 25/07/2013 Nac 1.096 7.702 106 DIXIT 31/10/2013 Nac 1.060 7.850 107 A LA CANTABRICA 15/08/2013 Nac 1.033 9.080 108 MEMORIAS CRUZADAS 28/11/2013 Nac 1.013 8.682 109 TORINO 23/10/2013 Nac 1.011 7.697 110 SIP OHI EL LUGAR DEL MANDURE 15/08/2013 Nac 977 6.179 111 LOS BOYS 31/10/2013 Nac 963 60 112 TANGO EN EL TASSO 12/12/2013 Nac 963 5.247 113 PLANETARIO 16/05/2013 Nac 865 4.288 114 PRINCIPE AZUL 26/09/2013 Nac 862 7.285 115 LOS QUIERO A TODOS 10/10/2013 Nac 828 8.631 116 EL LORO Y EL CISNE 31/10/2013 Nac 783 16.695 117 EN OBRA 05/09/2013 Nac 755 7.091 118 EL COPAMIENTO 10-08-74 26/12/2013 Nac 743 6.015 119 ROA 18/04/2013 Nac 710 21.705 120 EL JARDIN SECRETO 10/03/2013 Nac 703 11.403 121 NORITA, NORA CORTIÑAS 11/07/2013 Nac 695 3.571 122 CRACKS DE NACAR 07/02/2013 Nac 670 5.721 123 LA GENTE DEL RIO 29/08/2013 Nac 668 3.671 124 MASAMADRE 18/07/2013 Nac 662 4.853 125 CINE A LA INTEMPERIE 21/03/2013 Nac 657 7.739 126 LOS DIAS 07/03/2013 Nac 641 5.949 127 OBSERVANDO AL OBSERVADOR 28/11/2013 Nac 594 2.671 128 BARQUITO DE PAPEL EL DIARIO DE LA GENTE 12/09/2013 Nac 563 2.481 129 CAMILA DESDE EL ALMA 16/05/2013 Nac 529 3.255 130 ANTE LA LEY. EL RELATO PROHIBIDO DE CARLOS .. 21/11/2013 Nac 497 4.474 131 CHAU 12/12/2013 Nac 488 21.223 132 RIO SECO 23/05/2013 Nac 488 3.177 133 LA TOMA 24/10/2013 Nac 487 2.916 134 EN BUSCA DE LA CIUDAD PERDIDA 21/11/2013 Nac 455 2.262 135 EL SECO Y EL MOJADO 26/09/2013 Nac 432 4.044 136 CAMPO DE BATALLA, CUERPO DE MUJER 24/10/2013 Nac 421 4.268 137 COPA HOMBRENUEVOUNA PELICULA DE FUTBOL 30/05/2013 Nac 404 3.138 138 T. VES? 24/10/2013 Nac 395 4.025 139 EL TRAMO 04/05/2013 Nac 394 2.060 140 FIESTA CON AMIGXS 01/08/2013 Nac 376 2.301 141 TV UTOPIA 30/05/2013 Nac 337 1.968 142 KARTUN, EL AÑO DE SALOME 04/07/2013 Nac 320 5.181 143 EL LUGAR DEL HIJO 27/03/2013 Nac 309 5.822 144 PALOS EN LA RUEDA 18/04/2013 Nac 307 469 145 LA GUERRA DEL FRACKING 10/10/2013 Nac 303 7.962 146 BUSCADORES DE IDENTIDADES ROBADAS 19/09/2013 Nac 296 1.776 147 MATAR AL CHE 07/03/2013 Nac 273 1.422 148 CANTATA DE LA TIERRA NUESTRA 04/07/2013 Nac

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Ranking de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:4 7 1R4a7nking MTitAuTlAoR AL CHE 0Fe7c/0h3a /E2s0t1r3eno NOraicgen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 148 CANTATA DE LA TIERRA NUESTRA 04/07/2013 Nac 246 1.254 149 EL OLIMPO VACIO 03/10/2013 Nac 221 0 150 ALEXANDER PANIZZA SOLO PIANO 13/06/2013 Nac 196 3.028 151 HOSPITAL DE DIA 06/05/2013 Nac 189 1.675 152 EL FRUTO 31/01/2013 Nac 174 323 153 EL PROVINCIAL, RECORRIDO DE UN TREN SIN VI.. 07/11/2013 Nac 139 748 154 NOS HABIAMOS RATONEADO TANTO 26/09/2013 Nac 118 445 155 FABRICANTES DE MUNDOS 26/09/2013 Nac 90 2.150 156 LA SENSIBILIDAD 25/05/2013 Nac 84 956 157 ALAS 31/10/2013 Nac 80 1.625 158 COMPADRES LA VIDA Y LA OBRA DE ARMANDO T.. 15/08/2013 Nac 79 554 159 INACAYAL, LA NEGACION DE NUESTRA IDENTIDAD 14/11/2013 Nac 79 790 160 LOS DEGOLLADORES 28/11/2013 Nac 78 156 161 MUSICA CALLADA 25/04/2013 Nac 59 58 162 LA MUERTE CONOCE TU NOMBRE 01/03/2013 Nac 58 399 163 NUBLADO 23/05/2013 Nac 41 410 164 LA CORTESIA DEL VERDUGO 07/06/2013 Nac 31 725 165 NATAL 07/02/2013 Nac 30 133 166 LOS POSIBLES 23/05/2013 Nac 18 155 167 ALAS DEL CENTENARIO-PIONEROS 28/11/2013 Nac 14 420 168 EL NOTIFICADOR 30/05/2013 Nac 12 120 169 IMAGENES DEL TIO SAM 03/08/2013 Nac 1 25

Fonte: Instituto Nacional de Cine y Artes Visuales - Seção de Estatísticas, Gerência de Fiscalização. Disponível em http://fiscalizacion.incaa.gov.ar/index_estadisticas_series_historicas.php, acesso em 17 de setembro de 2017. Tabela 20: Lançamentos de filmes argentinos em 2014 Ranking de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:4 7 Ranking Titulo Fecha Estreno Origen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 1 RELATOS SALVAJES 21/08/2014 Nac 3.986.362 178.914.582 2 BAÑEROS 4 LOS ROMPEOLAS 10/07/2014 Nac 936.024 41.999.175 3 EL MISTERIO DE LA FELICIDAD 16/01/2014 Nac 614.037 22.822.870 4 SOCIOS POR ACCIDENTE 17/07/2014 Nac 565.627 24.826.680 5 MUERTE EN BUENOS AIRES 15/05/2014 Nac 484.893 19.102.496 6 EL INVENTOR DE JUEGOS 03/07/2014 Nac 292.206 13.429.568 7 BETIBU 03/04/2014 Nac 284.773 10.632.960 8 VIOLETTA : EL CONCIERTO 03/04/2014 Nac 120.340 4.599.937 9 LAS INSOLADAS 18/09/2014 Nac 107.390 4.403.644 10 DELIRIUM 02/10/2014 Nac 97.290 4.164.961 11 UN AMOR EN TIEMPOS DE SELFIES 23/10/2014 Nac 68.202 2.921.395 12 GATO NEGRO 10/04/2014 Nac 66.317 2.228.996 13 EL ULTIMO MAGO O BILEMBAMBUDIN 27/11/2014 Nac 65.599 3.395.646 14 ARREBATO 11/09/2014 Nac 60.889 2.384.186 15 AIRE LIBRE 22/05/2014 Nac 56.101 1.927.844 16 EL ARDOR 04/09/2014 Nac 44.360 2.273.213 17 EL CRITICO 17/04/2014 Nac 41.767 1.321.459 18 AMAPOLA 05/06/2014 Nac 38.275 1.332.433 19 REFUGIADO 30/10/2014 Nac 34.773 1.235.824 20 2 DE NOVIEMBRE - DIA DE LOS MUERTOS 20/11/2014 Nac 23.998 1.906.822 21 FERMIN 24/04/2014 Nac 22.739 493.853 22 LOS NADIES 07/08/2014 Nac 17.193 1.010.864 23 NECROFOBIA 02/10/2014 Nac 236 15.031 706.574 24 EL AMOR Y OTRAS HISTORIAS 16/10/2014 Nac 14.237 514.925 25 POR UN PUÑADO DE PELOS 16/01/2014 Nac 13.560 367.005 26 LA SEGUNDA MUERTE 13/03/2014 Nac 12.934 447.120 27 LA TERCERA ORILLA 13/03/2014 Nac 12.599 265.291 28 JAUJA 27/11/2014 Nac 12.176 311.690 29 EL OTRO 13/11/2014 Nac 11.897 327.748 30 BIENVENIDO LEON DE FRANCIA 16/10/2014 Nac 10.125 170.174 31 MOTIN EN SIERRA CHICA 20/03/2014 Nac 9.538 519.328 32 ALGUNOS DIAS SIN MUSICA 27/03/2014 Nac 9.352 260.658 33 SERE MILLONES 04/09/2014 Nac 9.086 74.829 34 LOS DUEÑOS 17/04/2014 Nac 8.927 172.907 35 EL DIA TRAJO LA OSCURIDAD 01/05/2014 Nac 8.766 288.031 36 DOS DISPAROS 09/10/2014 Nac 8.547 228.130 37 HUMANO, SUDAMERICA RENACE 13/02/2014 Nac 8.199 82.591 38 EL SECRETO DE LUCIA 03/04/2014 Nac 7.969 194.474 39 EL CERRAJERO 25/09/2014 Nac 7.607 170.468 40 LA CORPORACION 27/02/2014 Nac 6.931 132.419 41 EL VERANO SIGUIENTE 06/03/2014 Nac 6.920 198.678 42 EL PERRO MOLINA 18/12/2014 Nac 6.176 98.797 43 LOCURA QUE ENAMORA MI CIUDAD 01/05/2014 Nac 5.617 226.577 44 INEVITABLE 13/03/2014 Nac 5.348 136.809 45 BOCA DE POZO 08/05/2014 Nac 4.764 137.319 46 EL HIJO BUSCADO 04/12/2014 Nac 4.746 65.028 47 LOS DIOSES DE AGUA 04/09/2014 Nac 4.357 282.892 48 SEÑALES 10/04/2014 Nac 4.351 55.007 49 HISTORIAS DE CRONOPIOS Y DE FAMAS 14/08/2014 Nac 4.231 61.281 50 EL KARMA DE CARMEN 09/10/2014 Nac Ranking de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47

Ranking Titulo Fecha Estreno Origen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 1 RELATOS SALVAJES 21/08/2014 Nac 3.986.362 178.914.582 2 BAÑEROS 4 LOS ROMPEOLAS 10/07/2014 Nac 936.024 41.999.175 3 EL MISTERIO DE LA FELICIDAD 16/01/2014 Nac 614.037 22.822.870 4 SOCIOS POR ACCIDENTE 17/07/2014 Nac 565.627 24.826.680 5 MUERTE EN BUENOS AIRES 15/05/2014 Nac 484.893 19.102.496 6 EL INVENTOR DE JUEGOS 03/07/2014 Nac 292.206 13.429.568 7 BETIBU 03/04/2014 Nac 284.773 10.632.960 8 VIOLETTA : EL CONCIERTO 03/04/2014 Nac 120.340 4.599.937 9 LAS INSOLADAS 18/09/2014 Nac 107.390 4.403.644 10 DELIRIUM 02/10/2014 Nac 97.290 4.164.961 11 UN AMOR EN TIEMPOS DE SELFIES 23/10/2014 Nac 68.202 2.921.395 12 GATO NEGRO 10/04/2014 Nac 66.317 2.228.996 13 EL ULTIMO MAGO O BILEMBAMBUDIN 27/11/2014 Nac 65.599 3.395.646 14 ARREBATO 11/09/2014 Nac 60.889 2.384.186 15 AIRE LIBRE 22/05/2014 Nac 56.101 1.927.844 16 EL ARDOR 04/09/2014 Nac 44.360 2.273.213 17 EL CRITICO 17/04/2014 Nac 41.767 1.321.459 18 AMAPOLA 05/06/2014 Nac 38.275 1.332.433 19 REFUGIADO 30/10/2014 Nac 34.773 1.235.824 20 2 DE NOVIEMBRE - DIA DE LOS MUERTOS 20/11/2014 Nac 23.998 1.906.822 21 FERMIN 24/04/2014 Nac 22.739 493.853 22 LOS NADIES 07/08/2014 Nac 17.193 1.010.864 23 NECROFOBIA 02/10/2014 Nac 15.031 706.574 24 EL AMOR Y OTRAS HISTORIAS 16/10/2014 Nac 14.237 514.925 25 POR UN PUÑADO DE PELOS 16/01/2014 Nac 13.560 367.005 26 LA SEGUNDA MUERTE 13/03/2014 Nac 12.934 447.120 27 LA TERCERA ORILLA 13/03/2014 Nac 12.599 265.291 28 JAUJA 27/11/2014 Nac 12.176 311.690 29 EL OTRO 13/11/2014 Nac 11.897 327.748 30 BIENVENIDO LEON DE FRANCIA 16/10/2014 Nac 10.125 170.174 31 MOTIN EN SIERRA CHICA 20/03/2014 Nac 9.538 519.328 32 ALGUNOS DIAS SIN MUSICA 27/03/2014 Nac 9.352 260.658 33 SERE MILLONES 04/09/2014 Nac 9.086 74.829 34 LOS DUEÑOS 17/04/2014 Nac 8.927 172.907 35 EL DIA TRAJO LA OSCURIDAD 01/05/2014 Nac 8.766 288.031 36 DOS DISPAROS 09/10/2014 Nac 8.547 228.130 37 HUMANO, SUDAMERICA RENACE 13/02/2014 Nac 8.199 82.591 38 EL SECRETO DE LUCIA 03/04/2014 Nac 7.969 194.474 39 EL CERRAJERO 25/09/2014 Nac 7.607 170.468 40 LA CORPORACION 27/02/2014 Nac 6.931 132.419 41 EL VERANO SIGUIENTE 06/03/2014 Nac 6.920 198.678 42 EL PERRO MOLINA 18/12/2014 Nac 6.176 98.797 43 LOCURA QUE ENAMORA MI CIUDAD 01/05/2014 Nac 5.617 226.577 44 INEVITABLE 13/03/2014 Nac 5.348 136.809 45 BOCA DE POZO 08/05/2014 Nac 4.764 137.319 46 EL HIJO BUSCADO 04/12/2014 Nac 4.746 65.028 47 LOS DIOSES DE AGUA 04/09/2014 Nac 4.357 282.892 R48ankinSgE ÑdAeLE SPeliculas 10/04/2014 Nac 4.351 55.007 D4a9tos actualHizIaSdToOsR aIlA:1S5 /D0E9 /C2R01O7N 0O9P:0I2O:S4 7Y DE FAMAS 14/08/2014 Nac 4.231 61.281 50 EL KARMA DE CARMEN 09/10/2014 Nac 4R9anking HTiItSuTloORIAS DE CRONOPIOS Y DE FAMAS 1Fe4c/0h8a /E2s0t1r4eno NOraicgen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 50 EL KARMA DE CARMEN 09/10/2014 Nac 4.224 48.282 51 CIENCIAS NATURALES 18/08/2014 Nac 4.091 135.273 52 EL TERCERO 03/07/2014 Nac 4.010 44.647 53 MARAVILLA , LA PELICULA 29/05/2014 Nac 3.824 96.783 54 LUNA EN LEO 06/03/2014 Nac 3.501 67.280 55 PLANTA MADRE 06/11/2014 Nac 3.400 92.160 56 YARARA 25/10/2014 Nac 3.325 163.600 57 RAMON AYALA 15/05/2014 Nac 3.231 46.809 58 ERRATA 20/02/2014 Nac 3.167 24.049 59 EL ARBITRO 25/12/2014 Nac 3.101 109.520 60 EL GRITO EN LA SANGRE 17/04/2014 Nac 3.037 72.576 61 TANGO DE UNA NOCHE DE VERANO 27/11/2014 Nac 2.989 28.250 62 DE SUS QUERIDAS PRESENCIAS 25/09/2014 Nac 2.923 21.540 63 LAS CHICAS DEL TERCERO 09/10/2014 Nac 2.827 28.266 64 HISTORIA DEL MIEDO 22/05/2014 Nac 2.789 25.763 65 EL OJO DEL TIBURON 06/02/2014 Nac 2.696 19.268 66 LA BALLENA VA LLENA 07/08/2014 Nac 2.560 49.561 67 UNA NOCHE SIN LUNA 11/12/2014 Nac 2.559 49.292 68 LUMPEN 05/06/2014 Nac 2.506 23.568 69 EL ESCARABAJO DE ORO 18/10/2014 Nac 2.484 72.758 70 EL BUMBUN 28/08/2014 Nac 2.482 50.070 71 LA FORMA EXACTA DE LAS ISLAS 03/04/2014 Nac 2.435 21.546 72 AL FIN DEL MUNDO 22/05/2014 Nac 2.309 18.653 73 ATLANTIDA 02/10/2014 Nac 2.288 48.097 74 LA CARCEL DEL FIN DEL MUNDO 25/06/2014 Nac 2.260 13.225 75 SOY RINGO 17/08/2014 Nac 2.169 16.089 76 CARTA A UN PADRE 08/05/2014 Nac 2.162 38.890 237 77 EL NEXO 26/06/2014 Nac 2.107 12.654 78 TIRO DE GRACIA 07/08/2014 Nac 2.092 15.058 79 AÑOS DE CALLE 04/12/2014 Nac 2.056 12.111 80 MUJER LOBO 04/09/2014 Nac 1.874 16.805 81 EL OBJETO DE MI AMOR 22/05/2014 Nac 1.871 11.503 82 ME PERDI HACE UNA SEMANA 10/07/2014 Nac 1.842 11.169 83 PICHUCO 02/10/2014 Nac 1.827 12.958 84 EL ULTIMO PASAJERO ( LA VERDADERA HISTORI.. 09/10/2014 Nac 1.817 15.046 85 TENEMOS UN PROBLEMA ERNESTO 30/10/2014 Nac 1.732 55.229 86 LOS DESECHABLES 13/02/2014 Nac 1.729 10.159 87 TUNTEYH O EL RUMOR DE LAS PIEDRAS 14/08/2014 Nac 1.684 10.484 88 EL MEJOR DE NOSOTROS 13/03/2014 Nac 1.638 10.019 89 EL CIELO OTRA VEZ 22/05/2014 Nac 1.629 10.616 90 ROSA FUERTE 16/10/2014 Nac 1.545 10.728 91 EL ALMANAQUE 06/02/2014 Nac 1.533 10.487 92 EL GRILLO 13/11/2014 Nac 1.519 22.204 93 ZANAHORIA 11/12/2014 Nac 1.494 26.525 94 EL MUERTO Y SER FELIZ 13/11/2014 Nac 1.488 28.151 95 HELENA 13/11/2014 Nac 1.392 8.867 96 NACIDOS VIVOS 20/03/2014 Nac 1.389 11.313 97 MAKINGOFF SANGRIENTO -MASACRE EN EL SET .. 31/07/2014 Nac 1.385 9.693 98 A B 10/07/2014 Nac 1.382 8.570 99 DE TRAPITO A BACHILLER, TRES AÑOS QUE CON.. 20/02/2014 Nac Ranking de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47

4R9anking HTiItSuTloORIAS DE CRONOPIOS Y DE FAMAS 1Fe4c/0h8a /E2s0t1r4eno NOraicgen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 50 EL KARMA DE CARMEN 09/10/2014 Nac 4.224 48.282 51 CIENCIAS NATURALES 18/08/2014 Nac 4.091 135.273 52 EL TERCERO 03/07/2014 Nac 4.010 44.647 53 MARAVILLA , LA PELICULA 29/05/2014 Nac 3.824 96.783 54 LUNA EN LEO 06/03/2014 Nac 3.501 67.280 55 PLANTA MADRE 06/11/2014 Nac 3.400 92.160 56 YARARA 25/10/2014 Nac 3.325 163.600 57 RAMON AYALA 15/05/2014 Nac 3.231 46.809 58 ERRATA 20/02/2014 Nac 3.167 24.049 59 EL ARBITRO 25/12/2014 Nac 3.101 109.520 60 EL GRITO EN LA SANGRE 17/04/2014 Nac 3.037 72.576 61 TANGO DE UNA NOCHE DE VERANO 27/11/2014 Nac 2.989 28.250 62 DE SUS QUERIDAS PRESENCIAS 25/09/2014 Nac 2.923 21.540 63 LAS CHICAS DEL TERCERO 09/10/2014 Nac 2.827 28.266 64 HISTORIA DEL MIEDO 22/05/2014 Nac 2.789 25.763 65 EL OJO DEL TIBURON 06/02/2014 Nac 2.696 19.268 66 LA BALLENA VA LLENA 07/08/2014 Nac 2.560 49.561 67 UNA NOCHE SIN LUNA 11/12/2014 Nac 2.559 49.292 68 LUMPEN 05/06/2014 Nac 2.506 23.568 69 EL ESCARABAJO DE ORO 18/10/2014 Nac 2.484 72.758 70 EL BUMBUN 28/08/2014 Nac 2.482 50.070 71 LA FORMA EXACTA DE LAS ISLAS 03/04/2014 Nac 2.435 21.546 72 AL FIN DEL MUNDO 22/05/2014 Nac 2.309 18.653 73 ATLANTIDA 02/10/2014 Nac 2.288 48.097 74 LA CARCEL DEL FIN DEL MUNDO 25/06/2014 Nac 2.260 13.225 75 SOY RINGO 17/08/2014 Nac 2.169 16.089 76 CARTA A UN PADRE 08/05/2014 Nac 2.162 38.890 77 EL NEXO 26/06/2014 Nac 2.107 12.654 78 TIRO DE GRACIA 07/08/2014 Nac 2.092 15.058 79 AÑOS DE CALLE 04/12/2014 Nac 2.056 12.111 80 MUJER LOBO 04/09/2014 Nac 1.874 16.805 81 EL OBJETO DE MI AMOR 22/05/2014 Nac 1.871 11.503 82 ME PERDI HACE UNA SEMANA 10/07/2014 Nac 1.842 11.169 83 PICHUCO 02/10/2014 Nac 1.827 12.958 84 EL ULTIMO PASAJERO ( LA VERDADERA HISTORI.. 09/10/2014 Nac 1.817 15.046 85 TENEMOS UN PROBLEMA ERNESTO 30/10/2014 Nac 1.732 55.229 86 LOS DESECHABLES 13/02/2014 Nac 1.729 10.159 87 TUNTEYH O EL RUMOR DE LAS PIEDRAS 14/08/2014 Nac 1.684 10.484 88 EL MEJOR DE NOSOTROS 13/03/2014 Nac 1.638 10.019 89 EL CIELO OTRA VEZ 22/05/2014 Nac 1.629 10.616 90 ROSA FUERTE 16/10/2014 Nac 1.545 10.728 91 EL ALMANAQUE 06/02/2014 Nac 1.533 10.487 92 EL GRILLO 13/11/2014 Nac 1.519 22.204 93 ZANAHORIA 11/12/2014 Nac 1.494 26.525 94 EL MUERTO Y SER FELIZ 13/11/2014 Nac 1.488 28.151 95 HELENA 13/11/2014 Nac 1.392 8.867 96 NACIDOS VIVOS 20/03/2014 Nac 1.389 11.313 R9a7 nkingMA dKIeN GPOeFFl SicANuGlRaIEsNTO -MASACRE EN EL SET .. 31/07/2014 Nac 1.385 9.693 D9a8tos actualiAz aBdos al:15/09/2017 09:02:47 10/07/2014 Nac 1.382 8.570 99 DE TRAPITO A BACHILLER, TRES AÑOS QUE CON.. 20/02/2014 Nac 9R8anking ATi tBulo 1Fe0c/0h7a /E2s0t1r4eno NOraicgen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 99 DE TRAPITO A BACHILLER, TRES AÑOS QUE CON.. 20/02/2014 Nac 1.361 8.051 100 EL COLOR QUE CAYO DEL CIELO 17/07/2014 Nac 1.358 50.516 101 RAMBLERAS 25/09/2014 Nac 1.329 28.565 102 OCHENTAISIETE 16/10/2014 Nac 1.325 19.156 103 A VUELO DE PAJARITO 18/07/2014 Nac 1.235 21.068 104 MAREA BAJA 31/07/2014 Nac 1.218 8.722 105 MUJERES CON PELOTAS 08/05/2014 Nac 1.196 9.228 106 APROX 21/08/2014 Nac 1.179 7.851 107 VIAJE A TOMBUCTU 22/05/2014 Nac 1.165 18.361 108 LA CASCARA ROTA 24/04/2014 Nac 1.139 7.522 109 EL CASAMIENTO 04/12/2014 Nac 1.131 18.974 110 FLORES DE RUINA 25/12/2014 Nac 1.130 7.486 111 EN LA PUNA 27/03/2014 Nac 1.129 5.332 112 TAN CERCA COMO PUEDAS 27/03/2014 Nac 1.129 8.482 113 LA PASION DE VERONICA VIDELA 04/09/2014 Nac 1.094 30.078 114 MALKA 18/09/2014 Nac 1.075 11.062 115 REGRESO A TI 12/06/2014 Nac 1.042 62.370 116 AMANCIO WILLIAMS 14/08/2014 Nac 1.028 9.741 117 EL ROSTRO 03/07/2014 Nac 1.022 15.445 118 ¿ QUE VES ? 11/09/2014 Nac 990 6.475 119 OSVALDO BAYER : LA LIBERTA 04/12/2014 Nac 987 4.075 120 UNA FLOR PARA LAS TUMBAS SIN NOMBRE 20/03/2014 Nac 970 15.031 121 LOS ELEGIDOS 30/10/2014 Nac 962 5.305 122 TRES D 09/10/2014 Nac 962 10.720 123 I AM MAD 29/05/2014 Nac 915 5.563 124 BARROCO 23/10/2014 Nac 890 7.978 125 ENSAYO DE MEDIOLAZA 13/11/2014 Nac 238 883 10.405 126 BEATRIZ PORTINARI, UN DOCUMENTAL SOBRE .. 20/02/2014 Nac 878 5.572 127 COMO LLEGAR A PIEDRA BUENA 01/05/2014 Nac 866 5.767 128 EL ESTADO DE LAS COSAS 06/11/2014 Nac 858 5.645 129 EL TRIANGULO ROSA Y LA CURA NAZI PARA LA H.. 30/10/2014 Nac 837 19.390 130 LOS TENTADOS 24/04/2014 Nac 831 4.778 131 SALVAR AL NIÑO 13/03/2014 Nac 775 4.343 132 JUSTICIA PROPIA 02/10/2014 Nac 771 21.214 133 UAHAT 09/10/2014 Nac 767 5.532 134 CORTENLA 11/09/2014 Nac 736 5.213 135 NAVIDAD 05/06/2014 Nac 706 29.908 136 TOTEM 22/05/2014 Nac 699 5.539 137 LAS ASPAS DEL MOLINO 18/09/2014 Nac 688 4.340 138 SIN PATRON , UNA REVOLUCION PERMANENTE 04/12/2014 Nac 657 4.141 139 KAJIANTEYA 30/10/2014 Nac 647 4.319 140 ENSAYO DE UNA NACION 30/10/2014 Nac 619 3.316 141 SONATA EN SI MENOR 20/03/2014 Nac 615 3.698 142 LOS OJOS ABIERTOS DE AMERICA LATINA 12/06/2014 Nac 599 3.846 143 BORRANDO A PAPA 02/10/2014 Nac 578 3.564 144 TRAS LA PANTALLA 23/10/2014 Nac 569 8.771 145 REY MILO 15/05/2014 Nac 551 3.516 146 CASAS, LA MAQUINA PARA VIVIR 11/09/2014 Nac 538 3.688 147 RICARDO BAR 25/09/2014 Nac 535 3.216 148 DIAMANTE 16/10/2014 Nac Ranking de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47

9R8anking ATi tBulo 1Fe0c/0h7a /E2s0t1r4eno NOraicgen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 99 DE TRAPITO A BACHILLER, TRES AÑOS QUE CON.. 20/02/2014 Nac 1.361 8.051 100 EL COLOR QUE CAYO DEL CIELO 17/07/2014 Nac 1.358 50.516 101 RAMBLERAS 25/09/2014 Nac 1.329 28.565 102 OCHENTAISIETE 16/10/2014 Nac 1.325 19.156 103 A VUELO DE PAJARITO 18/07/2014 Nac 1.235 21.068 104 MAREA BAJA 31/07/2014 Nac 1.218 8.722 105 MUJERES CON PELOTAS 08/05/2014 Nac 1.196 9.228 106 APROX 21/08/2014 Nac 1.179 7.851 107 VIAJE A TOMBUCTU 22/05/2014 Nac 1.165 18.361 108 LA CASCARA ROTA 24/04/2014 Nac 1.139 7.522 109 EL CASAMIENTO 04/12/2014 Nac 1.131 18.974 110 FLORES DE RUINA 25/12/2014 Nac 1.130 7.486 111 EN LA PUNA 27/03/2014 Nac 1.129 5.332 112 TAN CERCA COMO PUEDAS 27/03/2014 Nac 1.129 8.482 113 LA PASION DE VERONICA VIDELA 04/09/2014 Nac 1.094 30.078 114 MALKA 18/09/2014 Nac 1.075 11.062 115 REGRESO A TI 12/06/2014 Nac 1.042 62.370 116 AMANCIO WILLIAMS 14/08/2014 Nac 1.028 9.741 117 EL ROSTRO 03/07/2014 Nac 1.022 15.445 118 ¿ QUE VES ? 11/09/2014 Nac 990 6.475 119 OSVALDO BAYER : LA LIBERTA 04/12/2014 Nac 987 4.075 120 UNA FLOR PARA LAS TUMBAS SIN NOMBRE 20/03/2014 Nac 970 15.031 121 LOS ELEGIDOS 30/10/2014 Nac 962 5.305 122 TRES D 09/10/2014 Nac 962 10.720 123 I AM MAD 29/05/2014 Nac 915 5.563 124 BARROCO 23/10/2014 Nac 890 7.978 125 ENSAYO DE MEDIOLAZA 13/11/2014 Nac 883 10.405 126 BEATRIZ PORTINARI, UN DOCUMENTAL SOBRE .. 20/02/2014 Nac 878 5.572 127 COMO LLEGAR A PIEDRA BUENA 01/05/2014 Nac 866 5.767 128 EL ESTADO DE LAS COSAS 06/11/2014 Nac 858 5.645 129 EL TRIANGULO ROSA Y LA CURA NAZI PARA LA H.. 30/10/2014 Nac 837 19.390 130 LOS TENTADOS 24/04/2014 Nac 831 4.778 131 SALVAR AL NIÑO 13/03/2014 Nac 775 4.343 132 JUSTICIA PROPIA 02/10/2014 Nac 771 21.214 133 UAHAT 09/10/2014 Nac 767 5.532 134 CORTENLA 11/09/2014 Nac 736 5.213 135 NAVIDAD 05/06/2014 Nac 706 29.908 136 TOTEM 22/05/2014 Nac 699 5.539 137 LAS ASPAS DEL MOLINO 18/09/2014 Nac 688 4.340 138 SIN PATRON , UNA REVOLUCION PERMANENTE 04/12/2014 Nac 657 4.141 139 KAJIANTEYA 30/10/2014 Nac 647 4.319 140 ENSAYO DE UNA NACION 30/10/2014 Nac 619 3.316 141 SONATA EN SI MENOR 20/03/2014 Nac 615 3.698 142 LOS OJOS ABIERTOS DE AMERICA LATINA 12/06/2014 Nac 599 3.846 143 BORRANDO A PAPA 02/10/2014 Nac 578 3.564 144 TRAS LA PANTALLA 23/10/2014 Nac 569 8.771 1R4a5 nkinRgEY d MeIL OPeliculas 15/05/2014 Nac 551 3.516 146 CASAS, LA MAQUINA PARA VIVIR 11/09/2014 Nac 538 3.688 Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47 147 RICARDO BAR 25/09/2014 Nac 535 3.216 11R44a87nking DRTIiItACuMAloRADNOT EBAR 2F1e56c//0h19a0 //E22s00t11r4e4no NONraaicgcen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 148 DIAMANTE 16/10/2014 Nac 496 3.053 149 BRONCE 25/09/2014 Nac 462 10.470 150 EL MANTO DE HIEL 25/09/2014 Nac 461 6.212 151 LA PAZ EN BUENOS AIRES 20/11/2014 Nac 453 1.955 152 EN LOS OJOS DE LA MEMORIA 11/12/2014 Nac 410 3.936 153 MAXI KOSTEKI, CONSTRUCTOR DE CAMINOS 26/06/2014 Nac 408 2.856 154 POLVAREDA 16/08/2014 Nac 390 6.653 155 JARDIN DE SUEÑOS 19/06/2014 Nac 365 9.057 156 UNA BALA PARA EL CHE 24/04/2014 Nac 360 180 157 RECONSTRUYENDO A CYRANO 11/12/2014 Nac 327 2.021 158 FANTASMAS DE LA RUTA 14/07/2014 Nac 295 2.865 159 SANTA LUCIA 23/04/2014 Nac 280 1.678 160 AL CIELO 08/05/2014 Nac 266 3.350 161 HABITARES 04/12/2014 Nac 255 3.762 162 ULISES UN ALMA DESBORDADA 06/11/2014 Nac 249 1.375 163 EL DIA FUERA DEL TIEMPO 14/08/2014 Nac 224 1.412 164 SIN SEÑAL 11/09/2014 Nac 224 1.602 165 ISMAEL VIÑAS TESTIGO DE UN 20/03/2014 Nac 190 0 166 8 JINETES 17/07/2014 Nac 183 2.061 167 EL ARTE DE COMUNICAR , EL PERIODISTA 07/08/2014 Nac 166 1.904 168 PIEDRAS 05/03/2014 Nac 162 5.670 169 LA ROSA AZUL 13/03/2014 Nac 159 5.435 170 EL AMOR A VECES 16/10/2014 Nac 82 1.640 171 UNASUR EN HAITI, REFLEJOS DE UNA ARGENTIN.. 11/12/2014 Nac 73 443 172 EL ULTIMO VERANO 13/11/2014 Nac 30 390 173 EL ZURDO 16/10/2014 Nac 13 96 174 LOS EXPERTOS 01/12/2014 Nac 0 0

239 Ranking de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47

1R4a7nking RTiItCuAloRDO BAR 2Fe5c/0h9a /E2s0t1r4eno NOraicgen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 148 DIAMANTE 16/10/2014 Nac 496 3.053 149 BRONCE 25/09/2014 Nac 462 10.470 150 EL MANTO DE HIEL 25/09/2014 Nac 461 6.212 151 LA PAZ EN BUENOS AIRES 20/11/2014 Nac 453 1.955 152 EN LOS OJOS DE LA MEMORIA 11/12/2014 Nac 410 3.936 153 MAXI KOSTEKI, CONSTRUCTOR DE CAMINOS 26/06/2014 Nac 408 2.856 154 POLVAREDA 16/08/2014 Nac 390 6.653 155 JARDIN DE SUEÑOS 19/06/2014 Nac 365 9.057 156 UNA BALA PARA EL CHE 24/04/2014 Nac 360 180 157 RECONSTRUYENDO A CYRANO 11/12/2014 Nac 327 2.021 158 FANTASMAS DE LA RUTA 14/07/2014 Nac 295 2.865 159 SANTA LUCIA 23/04/2014 Nac 280 1.678 160 AL CIELO 08/05/2014 Nac 266 3.350 161 HABITARES 04/12/2014 Nac 255 3.762 162 ULISES UN ALMA DESBORDADA 06/11/2014 Nac 249 1.375 163 EL DIA FUERA DEL TIEMPO 14/08/2014 Nac 224 1.412 164 SIN SEÑAL 11/09/2014 Nac 224 1.602 165 ISMAEL VIÑAS TESTIGO DE UN 20/03/2014 Nac 190 0 166 8 JINETES 17/07/2014 Nac 183 2.061 167 EL ARTE DE COMUNICAR , EL PERIODISTA 07/08/2014 Nac 166 1.904 168 PIEDRAS 05/03/2014 Nac 162 5.670 169 LA ROSA AZUL 13/03/2014 Nac 159 5.435 170 EL AMOR A VECES 16/10/2014 Nac 82 1.640 171 UNASUR EN HAITI, REFLEJOS DE UNA ARGENTIN.. 11/12/2014 Nac 73 443 172 EL ULTIMO VERANO 13/11/2014 Nac 30 390 173 EL ZURDO 16/10/2014 Nac 13 96 174 LOS EXPERTOS 01/12/2014 Nac 0 0

Fonte: Instituto Nacional de Cine y Artes Visuales - Seção de Estatísticas, Gerência de Fiscalização. Disponível em http://fiscalizacion.incaa.gov.ar/index_estadisticas_series_historicas.php, acesso em 17 de setembro de 2017.

Tabela 21: Lançamentos de filmes argentinos em 2015 Ranking de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47 Ranking Titulo Fecha Estreno Origen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 1 EL CLAN 13/08/2015 Nac 2.647.854 156.082.323 2 ABZURDAH 04/06/2015 Nac 808.547 43.683.720 3 SIN HIJOS 14/05/2015 Nac 507.978 26.082.610 4 PAPELES EN EL VIENTO 08/01/2015 Nac 397.288 18.942.006 5 TRUMAN 24/09/2015 Nac 393.097 22.104.899 6 BOCA JUNIORS 3D 27/08/2015 Nac 272.209 19.811.815 7 LOCOS SUELTOS EN EL ZOO 09/07/2015 Nac 225.750 12.867.578 8 SOCIOS POR ACCIDENTE 2 02/07/2015 Nac 177.564 9.757.866 9 EL ESPEJO DE LOS OTROS 03/09/2015 Nac 165.181 8.850.775 10 LA PATOTA 18/06/2015 Nac 144.252 7.384.959 11 KRYPTONITA 03/12/2015 Nac 119.814 6.142.112 12 VOLEY 12/03/2015 Nac 112.443 4.997.358 13 TUYA 02/04/2015 Nac 76.370 3.538.434 14 INDIO Y LOS FUNDAMENTALISTAS DEL AIRE ACO.. 19/08/2015 Nac 68.264 9.052.987 15 ZONDA FOLCLORE ARGENTINO 28/05/2015 Nac 57.665 3.891.373 16 FRANCISCO EL PADRE JORGE 10/09/2015 Nac 54.401 2.854.459 17 EL DESAFIO 29/01/2015 Nac 53.744 3.375.378 18 EL PATRON RADIOGRAFIA DE UN CRIMEN 26/02/2015 Nac 52.696 1.934.315 19 BAIRES 08/10/2015 Nac 48.888 2.293.811 20 TOKIO 21/05/2015 Nac 37.799 1.817.676 21 TERAPIA PARA DOS 12/11/2015 Nac 33.084 2.082.536 22 SHOWROOM 30/04/2015 Nac 28.342 981.778 23 PISTAS PARA VOLVER A CASA 05/03/2015 Nac 26.193 1.009.540 24 EL ALMUERZO 29/10/2015 Nac 22.610 1.368.120 25 EL 5 DE TALLERES 26/03/2015 Nac 22.483 816.775 26 LA CALLE DE LOS PIANISTAS 11/06/2015 Nac 17.834 1.022.006 27 PASAJE DE VIDA 28/05/2015 Nac 17.392 536.110 28 MI AMIGA DEL PARQUE 17/09/2015 Nac 15.763 469.612 29 CURA BROCHERO 12/11/2015 Nac 15.140 1.018.413 30 UN TANGO MAS 10/12/2015 Nac 12.219 562.961 31 LEON, REFLEJOS DE UNA PA SION 22/04/2015 Nac 11.631 675.186 32 COMO FUNCIONAN CASI TO DAS LAS COSAS 12/11/2015 Nac 11.410 365.752 33 LA MEMORIA DEL AGUA 27/09/2015 Nac 10.560 520.089 34 TESTIGO INTIMO 19/11/2015 Nac 9.450 517.334 35 LA PARTE AUSENTE 16/04/2015 Nac 8.825 391.902 36 EL INCENDIO 28/05/2015 Nac 8.315 209.820 37 NATURALEZA MUERTA 05/03/2015 Nac 7.733 328.022 38 EL ACTO EN CUESTION (recalificaciòn) 30/04/2015 Nac 7.640 325.999 39 ARREO 10/12/2015 Nac 240 7.299 253.254 40 COMO GANAR ENEMIGOS 15/10/2015 Nac 7.242 267.868 41 LOS DEL SUELO 20/08/2015 Nac 7.043 361.097 42 LA MUJER DE LOS PERROS 03/09/2015 Nac 6.372 139.565 43 EVA NO DUERME 05/11/2015 Nac 6.220 192.879 44 LULU 27/12/2015 Nac 6.016 132.071 45 MARIPOSA 06/08/2015 Nac 5.986 114.151 46 FRANCISCO DE BUENOS AIRES 05/03/2015 Nac 5.932 150.271 47 UNO MISMO 17/09/2015 Nac 5.925 203.590 48 LA VIDA DESPUES 07/05/2015 Nac 5.482 119.449 49 DOLARES DE ARENA 23/07/2015 Nac 5.218 107.130 50 CHOELE 07/05/2015 Nac Ranking de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47

Ranking Titulo Fecha Estreno Origen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 1 EL CLAN 13/08/2015 Nac 2.647.854 156.082.323 2 ABZURDAH 04/06/2015 Nac 808.547 43.683.720 3 SIN HIJOS 14/05/2015 Nac 507.978 26.082.610 4 PAPELES EN EL VIENTO 08/01/2015 Nac 397.288 18.942.006 5 TRUMAN 24/09/2015 Nac 393.097 22.104.899 6 BOCA JUNIORS 3D 27/08/2015 Nac 272.209 19.811.815 7 LOCOS SUELTOS EN EL ZOO 09/07/2015 Nac 225.750 12.867.578 8 SOCIOS POR ACCIDENTE 2 02/07/2015 Nac 177.564 9.757.866 9 EL ESPEJO DE LOS OTROS 03/09/2015 Nac 165.181 8.850.775 10 LA PATOTA 18/06/2015 Nac 144.252 7.384.959 11 KRYPTONITA 03/12/2015 Nac 119.814 6.142.112 12 VOLEY 12/03/2015 Nac 112.443 4.997.358 13 TUYA 02/04/2015 Nac 76.370 3.538.434 14 INDIO Y LOS FUNDAMENTALISTAS DEL AIRE ACO.. 19/08/2015 Nac 68.264 9.052.987 15 ZONDA FOLCLORE ARGENTINO 28/05/2015 Nac 57.665 3.891.373 16 FRANCISCO EL PADRE JORGE 10/09/2015 Nac 54.401 2.854.459 17 EL DESAFIO 29/01/2015 Nac 53.744 3.375.378 18 EL PATRON RADIOGRAFIA DE UN CRIMEN 26/02/2015 Nac 52.696 1.934.315 19 BAIRES 08/10/2015 Nac 48.888 2.293.811 20 TOKIO 21/05/2015 Nac 37.799 1.817.676 21 TERAPIA PARA DOS 12/11/2015 Nac 33.084 2.082.536 22 SHOWROOM 30/04/2015 Nac 28.342 981.778 23 PISTAS PARA VOLVER A CASA 05/03/2015 Nac 26.193 1.009.540 24 EL ALMUERZO 29/10/2015 Nac 22.610 1.368.120 25 EL 5 DE TALLERES 26/03/2015 Nac 22.483 816.775 26 LA CALLE DE LOS PIANISTAS 11/06/2015 Nac 17.834 1.022.006 27 PASAJE DE VIDA 28/05/2015 Nac 17.392 536.110 28 MI AMIGA DEL PARQUE 17/09/2015 Nac 15.763 469.612 29 CURA BROCHERO 12/11/2015 Nac 15.140 1.018.413 30 UN TANGO MAS 10/12/2015 Nac 12.219 562.961 31 LEON, REFLEJOS DE UNA PASION 22/04/2015 Nac 11.631 675.186 32 COMO FUNCIONAN CASI TODAS LAS COSAS 12/11/2015 Nac 11.410 365.752 33 LA MEMORIA DEL AGUA 27/09/2015 Nac 10.560 520.089 34 TESTIGO INTIMO 19/11/2015 Nac 9.450 517.334 35 LA PARTE AUSENTE 16/04/2015 Nac 8.825 391.902 36 EL INCENDIO 28/05/2015 Nac 8.315 209.820 37 NATURALEZA MUERTA 05/03/2015 Nac 7.733 328.022 38 EL ACTO EN CUESTION (recalificaciòn) 30/04/2015 Nac 7.640 325.999 39 ARREO 10/12/2015 Nac 7.299 253.254 40 COMO GANAR ENEMIGOS 15/10/2015 Nac 7.242 267.868 41 LOS DEL SUELO 20/08/2015 Nac 7.043 361.097 42 LA MUJER DE LOS PERROS 03/09/2015 Nac 6.372 139.565 43 EVA NO DUERME 05/11/2015 Nac 6.220 192.879 44 LULU 27/12/2015 Nac 6.016 132.071 45 MARIPOSA 06/08/2015 Nac 5.986 114.151 46 FRANCISCO DE BUENOS AIRES 05/03/2015 Nac 5.932 150.271 47 UNO MISMO 17/09/2015 Nac 5.925 203.590 R48ankingLA dVIeDA P DeESlPicUEuSlas 07/05/2015 Nac 5.482 119.449 D4a9tos actualiDzaOdLoAsR aEl:S1 5D/E09 A/2R0E1N7A 09:02:47 23/07/2015 Nac 5.218 107.130 50 CHOELE 07/05/2015 Nac 4R9anking DTiOtuLlAoRES DE ARENA 2Fe3c/0h7a /E2s0t1r5eno NOraicgen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 50 CHOELE 07/05/2015 Nac 4.730 126.399 51 MUJER ENTERA 25/09/2015 Nac 4.724 138.893 52 SORDO 08/01/2015 Nac 4.560 49.541 53 CONTRASANGRE 26/11/2015 Nac 4.518 156.309 54 HORTENSIA 19/11/2015 Nac 3.818 66.849 55 EL GURI 19/03/2015 Nac 3.680 65.397 56 EL DESIERTO 09/04/2015 Nac 3.598 108.479 57 SOY TAMBOR 03/12/2015 Nac 3.473 27.091 58 LOS OJOS DE AMERICA 20/08/2015 Nac 3.336 23.692 59 LA MISION ARGENTINA 29/01/2015 Nac 3.320 54.916 60 JUSTO EN LO MEJOR DE MI VIDA 15/10/2015 Nac 3.300 121.435 61 SALGAN Y SALGAN 01/10/2015 Nac 3.040 59.911 62 LA PRINCESA DE FRANCIA 06/08/2015 Nac 2.887 36.219 63 ALIAS MARIA 26/09/2015 Nac 2.754 46.755 64 LIBRE DE SOSPECHA 22/01/2015 Nac 2.711 15.898 65 LA HIJA 17/09/2015 Nac 2.695 76.024 66 NOSOTROS ELLOS Y YO 20/08/2015 Nac 2.674 87.618 67 CUARENTA BALAS - EL CASO FISCHER BUFANO 26/03/2015 Nac 2.664 22.018 68 LO QUE NO SE PERDONA 22/10/2015 Nac 2.562 75.976 69 LA VIDA DE ALGUIEN 02/07/2015 Nac 2.542 43.710 70 DAMIANA KRYYGI 21/05/2015 Nac 2.479 27.929 71 LA CEREMONIA 13/08/2015 Nac 2.465 20.955 72 EL MOVIMIENTO 24/09/2015 Nac 2.425 73.191 73 MERELLO X CARRERAS 21/05/2015 Nac 2.417 25.257 74 BRISAS HELADAS 12/11/2015 Nac 2.366 86.756 75 LAS ENFERMERAS DE EVITA 19/03/2015 Nac 2.362 17.407 76 FAUSTO TAMBIEN 31/12/2015 Nac 2.308 25.005 77 EL CAMINO DE SANTIAGO 03/12/2015 Nac 2.289 16.521 78 LLEGAR A ALASKA 15/10/2015 Nac 2.271 29.536 79 LA SALADA 11/06/2015 Nac 2.116 84.004 80 PLACER Y MARTIRIO 02/07/2015 Nac 2.110 56.691 81 VERGUENZA Y RESPETO 01/10/2015 Nac 2.107 26.629 82 ESO QUE LLAMAN AMOR 24/09/2015 Nac 2.074 17.999 83 EL PRISIONERO IRLANDES 25/06/2015 Nac 2.053 85.358 84 327 CUADERNOS 10/09/2015 Nac 2.031 30.353 85 EL NIDO URBANO 06/08/2015 Nac 241 1.977 14.528 86 NOCHE DE PERROS 24/09/2015 Nac 1.959 46.109 87 NO SOY LORENA 30/04/2015 Nac 1.851 68.139 88 LOS BESOS 16/07/2015 Nac 1.844 16.168 89 EL CRAZY CHE 19/11/2015 Nac 1.834 27.152 90 ICAROS 02/07/2015 Nac 1.828 31.374 91 YO SE LO QUE ENVENENA 01/10/2015 Nac 1.826 40.882 92 CUERPO DE LETRA 22/06/2015 Nac 1.753 21.729 93 LOS HONGOS 22/10/2015 Nac 1.673 36.558 94 PREGUNTAS A UN OBRERO QUE LEE 03/12/2015 Nac 1.633 18.632 95 LA HUELLA EN LA NIEBLA 28/08/2015 Nac 1.628 30.587 96 STROMATA 06/08/2015 Nac 1.594 19.840 97 ALUNIZAR 28/05/2015 Nac 1.592 11.916 98 LA PARTE POR EL TODO 08/10/2015 Nac 1.542 11.625 99 INVASION 05/03/2015 Nac Ranking de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47

4R9anking DTiOtuLlAoRES DE ARENA 2Fe3c/0h7a /E2s0t1r5eno NOraicgen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 50 CHOELE 07/05/2015 Nac 4.730 126.399 51 MUJER ENTERA 25/09/2015 Nac 4.724 138.893 52 SORDO 08/01/2015 Nac 4.560 49.541 53 CONTRASANGRE 26/11/2015 Nac 4.518 156.309 54 HORTENSIA 19/11/2015 Nac 3.818 66.849 55 EL GURI 19/03/2015 Nac 3.680 65.397 56 EL DESIERTO 09/04/2015 Nac 3.598 108.479 57 SOY TAMBOR 03/12/2015 Nac 3.473 27.091 58 LOS OJOS DE AMERICA 20/08/2015 Nac 3.336 23.692 59 LA MISION ARGENTINA 29/01/2015 Nac 3.320 54.916 60 JUSTO EN LO MEJOR DE MI VIDA 15/10/2015 Nac 3.300 121.435 61 SALGAN Y SALGAN 01/10/2015 Nac 3.040 59.911 62 LA PRINCESA DE FRANCIA 06/08/2015 Nac 2.887 36.219 63 ALIAS MARIA 26/09/2015 Nac 2.754 46.755 64 LIBRE DE SOSPECHA 22/01/2015 Nac 2.711 15.898 65 LA HIJA 17/09/2015 Nac 2.695 76.024 66 NOSOTROS ELLOS Y YO 20/08/2015 Nac 2.674 87.618 67 CUARENTA BALAS - EL CASO FISCHER BUFANO 26/03/2015 Nac 2.664 22.018 68 LO QUE NO SE PERDONA 22/10/2015 Nac 2.562 75.976 69 LA VIDA DE ALGUIEN 02/07/2015 Nac 2.542 43.710 70 DAMIANA KRYYGI 21/05/2015 Nac 2.479 27.929 71 LA CEREMONIA 13/08/2015 Nac 2.465 20.955 72 EL MOVIMIENTO 24/09/2015 Nac 2.425 73.191 73 MERELLO X CARRERAS 21/05/2015 Nac 2.417 25.257 74 BRISAS HELADAS 12/11/2015 Nac 2.366 86.756 75 LAS ENFERMERAS DE EVITA 19/03/2015 Nac 2.362 17.407 76 FAUSTO TAMBIEN 31/12/2015 Nac 2.308 25.005 77 EL CAMINO DE SANTIAGO 03/12/2015 Nac 2.289 16.521 78 LLEGAR A ALASKA 15/10/2015 Nac 2.271 29.536 79 LA SALADA 11/06/2015 Nac 2.116 84.004 80 PLACER Y MARTIRIO 02/07/2015 Nac 2.110 56.691 81 VERGUENZA Y RESPETO 01/10/2015 Nac 2.107 26.629 82 ESO QUE LLAMAN AMOR 24/09/2015 Nac 2.074 17.999 83 EL PRISIONERO IRLANDES 25/06/2015 Nac 2.053 85.358 84 327 CUADERNOS 10/09/2015 Nac 2.031 30.353 85 EL NIDO URBANO 06/08/2015 Nac 1.977 14.528 86 NOCHE DE PERROS 24/09/2015 Nac 1.959 46.109 87 NO SOY LORENA 30/04/2015 Nac 1.851 68.139 88 LOS BESOS 16/07/2015 Nac 1.844 16.168 89 EL CRAZY CHE 19/11/2015 Nac 1.834 27.152 90 ICAROS 02/07/2015 Nac 1.828 31.374 91 YO SE LO QUE ENVENENA 01/10/2015 Nac 1.826 40.882 92 CUERPO DE LETRA 22/06/2015 Nac 1.753 21.729 93 LOS HONGOS 22/10/2015 Nac 1.673 36.558 94 PREGUNTAS A UN OBRERO QUE LEE 03/12/2015 Nac 1.633 18.632 95 LA HUELLA EN LA NIEBLA 28/08/2015 Nac 1.628 30.587 96 STROMATA 06/08/2015 Nac 1.594 19.840 R97ankinAgL UdNeIZ APReliculas 28/05/2015 Nac 1.592 11.916 Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47 98 LA PARTE POR EL TODO 08/10/2015 Nac 1.542 11.625 9R98a9nking LTIANit VuPlAoSRITOEN POR EL TODO 0Fe85c/1h00a3 /E2s0t1r5eno NOraicgen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 99 INVASION 05/03/2015 Nac 1.493 16.902 100 EL PARAMO 06/08/2015 Nac 1.470 27.096 101 LA LLUVIA ES TAMBIEN NO VERTE 23/07/2015 Nac 1.422 11.012 102 PAJAROS NEGROS 15/10/2015 Nac 1.347 25.947 103 VALDENSES 03/12/2015 Nac 1.322 27.307 104 ELLOS TE ELIGEN 03/09/2015 Nac 1.292 12.717 105 SU REALIDAD 04/06/2015 Nac 1.288 13.012 106 SILO, LA LEYENDA 17/09/2015 Nac 1.257 11.587 107 EL PIRU UN FRANCISCANO A CONTRAPELO 26/11/2015 Nac 1.234 7.867 108 PROYECTO MARIPOSA 09/07/2015 Nac 1.210 8.810 109 A PURO GESTO 30/07/2015 Nac 1.152 7.101 110 ENTRE RIOS, TODO LO QUE NO DIJIMOS 17/09/2015 Nac 1.144 9.551 111 PUERTO PATICUA 05/02/2015 Nac 1.136 7.109 112 ALFONSINA 04/06/2015 Nac 1.126 20.233 113 PARAISO, UNA HISTORIA DE HETERONIMOS 26/11/2015 Nac 1.119 7.793 114 MARGARITA NO ES UNA FLOR 28/05/2015 Nac 1.106 7.225 115 DESPUES DE SARMIENTO 10/09/2015 Nac 1.003 6.930 116 CONGRESO 13/08/2015 Nac 993 6.958 117 EL VALS DE LOS INUTILES 29/01/2015 Nac 972 21.284 118 LLAMAS DE NITRATO 12/03/2015 Nac 972 6.728 119 CABEZA DE RATON 27/08/2015 Nac 910 5.393 120 MAURO 16/07/2015 Nac 909 10.561 121 EL TIEMPO ENCONTRADO 23/07/2015 Nac 902 6.507 122 SOLO 02/07/2015 Nac 881 15.211 123 BRONCES EN ISLA VERDE 07/05/2015 Nac 868 9.669 124 SILENCIO ROTO 26/03/2015 Nac 865 5.560 125 ESCUCHAR A DIOS 26/02/2015 Nac 854 5.455 126 LA UTILIDAD DE UN REVISTERO 29/11/2015 Nac 851 8.369 127 YENU KADE, CRISTIANO BUENO 29/10/2015 Nac 844 4.795 128 REFUGIADOS EN SU TIERRA 16/07/2015 Nac 834 5.641 129 AGUAS ABIERTAS 23/07/2015 Nac 830 6.031 130 MARIPOSAS NEGRAS 03/12/2015 Nac 820 4.759 131 AMOR , ETC 10/12/2015 Nac 788 5.179 132 POR EL CAMINO DE MODES TO 17/12/2015 Nac 776 4.435 133 HAMDAN 05/03/2015 Nac 771 10.747 134 ARRIBA LOS QUE LUCHAN, LA VIDA DE JORGE MA.. 26/11/2015 Nac 748 4.920 135 DESPIERTA 17/12/2015 Nac 748 5.108 242 136 SE ACABO LA EPICA 26/02/2015 Nac 731 4.068 137 BELGRANO, UNA PELICULA PIRATA 18/06/2015 Nac 716 22.284 138 LOS ANCONETANI 20/07/2015 Nac 693 4.561 139 LOS RULOS DE LULU 08/09/2015 Nac 634 9.169 140 ESA MIRADA, MUJERES DOCUMENTALISTAS 08/10/2015 Nac 632 3.507 141 MIS SUCIOS 3 TONOS 26/03/2015 Nac 624 4.629 142 UN ENEMIGO FORMIDABLE 26/11/2015 Nac 621 4.042 143 LA LAGUNA 25/06/2015 Nac 158 10.115 144 LA LAGUNA 17/09/2015 Nac 456 2.997 145 CASTORES, LA INVASION DEL FIN DEL MUNDO 11/06/2015 Nac 610 5.870 146 RELÁMPAGO EN LA OSCURIDAD 02/07/2015 Nac 592 6.296 147 LOS CUADROS AL SOL 30/07/2015 Nac 570 5.543 148 COMO DIOS NOS TRAJO 10/12/2015 Nac Ranking de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47

9R8anking LTAit uPlAoRTE POR EL TODO 0Fe8c/1h0a /E2s0t1r5eno NOraicgen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 99 INVASION 05/03/2015 Nac 1.493 16.902 100 EL PARAMO 06/08/2015 Nac 1.470 27.096 101 LA LLUVIA ES TAMBIEN NO VERTE 23/07/2015 Nac 1.422 11.012 102 PAJAROS NEGROS 15/10/2015 Nac 1.347 25.947 103 VALDENSES 03/12/2015 Nac 1.322 27.307 104 ELLOS TE ELIGEN 03/09/2015 Nac 1.292 12.717 105 SU REALIDAD 04/06/2015 Nac 1.288 13.012 106 SILO, LA LEYENDA 17/09/2015 Nac 1.257 11.587 107 EL PIRU UN FRANCISCANO A CONTRAPELO 26/11/2015 Nac 1.234 7.867 108 PROYECTO MARIPOSA 09/07/2015 Nac 1.210 8.810 109 A PURO GESTO 30/07/2015 Nac 1.152 7.101 110 ENTRE RIOS, TODO LO QUE NO DIJIMOS 17/09/2015 Nac 1.144 9.551 111 PUERTO PATICUA 05/02/2015 Nac 1.136 7.109 112 ALFONSINA 04/06/2015 Nac 1.126 20.233 113 PARAISO, UNA HISTORIA DE HETERONIMOS 26/11/2015 Nac 1.119 7.793 114 MARGARITA NO ES UNA FLOR 28/05/2015 Nac 1.106 7.225 115 DESPUES DE SARMIENTO 10/09/2015 Nac 1.003 6.930 116 CONGRESO 13/08/2015 Nac 993 6.958 117 EL VALS DE LOS INUTILES 29/01/2015 Nac 972 21.284 118 LLAMAS DE NITRATO 12/03/2015 Nac 972 6.728 119 CABEZA DE RATON 27/08/2015 Nac 910 5.393 120 MAURO 16/07/2015 Nac 909 10.561 121 EL TIEMPO ENCONTRADO 23/07/2015 Nac 902 6.507 122 SOLO 02/07/2015 Nac 881 15.211 123 BRONCES EN ISLA VERDE 07/05/2015 Nac 868 9.669 124 SILENCIO ROTO 26/03/2015 Nac 865 5.560 125 ESCUCHAR A DIOS 26/02/2015 Nac 854 5.455 126 LA UTILIDAD DE UN REVISTERO 29/11/2015 Nac 851 8.369 127 YENU KADE, CRISTIANO BUENO 29/10/2015 Nac 844 4.795 128 REFUGIADOS EN SU TIERRA 16/07/2015 Nac 834 5.641 129 AGUAS ABIERTAS 23/07/2015 Nac 830 6.031 130 MARIPOSAS NEGRAS 03/12/2015 Nac 820 4.759 131 AMOR , ETC 10/12/2015 Nac 788 5.179 132 POR EL CAMINO DE MODESTO 17/12/2015 Nac 776 4.435 133 HAMDAN 05/03/2015 Nac 771 10.747 134 ARRIBA LOS QUE LUCHAN, LA VIDA DE JORGE MA.. 26/11/2015 Nac 748 4.920 135 DESPIERTA 17/12/2015 Nac 748 5.108 136 SE ACABO LA EPICA 26/02/2015 Nac 731 4.068 137 BELGRANO, UNA PELICULA PIRATA 18/06/2015 Nac 716 22.284 138 LOS ANCONETANI 20/07/2015 Nac 693 4.561 139 LOS RULOS DE LULU 08/09/2015 Nac 634 9.169 140 ESA MIRADA, MUJERES DOCUMENTALISTAS 08/10/2015 Nac 632 3.507 141 MIS SUCIOS 3 TONOS 26/03/2015 Nac 624 4.629 142 UN ENEMIGO FORMIDABLE 26/11/2015 Nac 621 4.042 143 LA LAGUNA 25/06/2015 Nac 158 10.115 144 LA LAGUNA 17/09/2015 Nac 456 2.997 145 CASTORES, LA INVASION DEL FIN DEL MUNDO 11/06/2015 Nac 610 5.870 R14a6nkinRgE LdÁeM PPAGeOli EcNu LlAa OsSCURIDAD 02/07/2015 Nac 592 6.296 Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47 147 LOS CUADROS AL SOL 30/07/2015 Nac 570 5.543 1R14a47n8king LTCOiOtSuM lCoOU ADDIORSO NS OASL STROALJO 3F1e00c/0/h17a2 /E2/2s0t01r15e5no NONraaicgcen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 148 COMO DIOS NOS TRAJO 10/12/2015 Nac 558 3.713 149 SALUD RURAL 08/10/2015 Nac 532 3.210 150 SALDAÑO, EL SUEÑO DORADO 26/03/2015 Nac 507 11.123 151 SILVIA 14/10/2015 Nac 503 4.688 152 UN PAISAJE DE ESPANTO 23/04/2015 Nac 501 4.587 153 BOLISHOPPING 11/06/2015 Nac 479 11.879 154 LOS ADIOSES 11/06/2015 Nac 446 2.746 155 EBER LUDUEÑA Y EL PUNTAPIE FINAL 03/09/2015 Nac 433 5.824 156 DE MUJERES ARGENTINAS COMO LA LOLA 07/05/2015 Nac 417 2.492 157 VICTORIA 01/10/2015 Nac 406 4.544 158 CITIES OF RAIN ( CIUDADES DE LLUVIA ) 12/02/2015 Nac 404 1.218 159 LA JUGADA DEL PEON 01/10/2015 Nac 384 2.765 160 REIMON 06/09/2015 Nac 349 2.496 161 EL ORIGEN DEL PUDOR 20/08/2015 Nac 348 6.300 162 SI ESTOY PERDIDO NO ES GRAVE 24/09/2015 Nac 334 2.112 163 EL DOCUMENTAL EN MOVIMIENTO 06/08/2015 Nac 323 1.749 164 TIERRA ABRASADA 05/11/2015 Nac 311 847 165 KOAN 03/12/2015 Nac 285 896 166 GULE, GULE, CRONICAS DE UN VIAJE 16/04/2015 Nac 279 388 167 ARTESANOS DEL MAR, BUZOS MARISQUEROS DE.. 02/04/2015 Nac 229 8.385 168 SUEÑOS ACRIBILLADOS 19/11/2015 Nac 226 1.488 169 LA SECTA 27/08/2015 Nac 219 1.019 170 REFLEJO NARCISA 01/10/2015 Nac 207 5.462 171 VIAJE AL CENTRO DE LA PRODUCCION 07/05/2015 Nac 184 1.127 172 TODO EL TIEMPO DEL MUNDO 13/08/2015 Nac 183 3.375 173 UN IMPORTANTE PREESTRENO 29/10/2015 Nac 162 810 174 EL DESCONCIERTO 20/08/2015 Nac 157 4.150 175 LA SOMBRA 19/11/2015 Nac 149 4.753 176 MIRAMAR 07/05/2015 Nac 111 2.735 177 WALSH ENTRE TODOS 05/11/2015 Nac 101 662 178 DROMOMANOS 17/09/2015 Nac 89 1.610 179 INVASION ALIEN 04/06/2015 Nac 67 409 180 FAVULA 12/11/2015 Nac 47 1.519 181 ENTRENAMIENTO ELEMEN TAL PARA ACTORES 07/11/2015 Nac 46 1.830 182 COSANO : LA VIDA SECRETA DE UN VESTIDO 05/02/2015 Nac 45 426 183 RAGAZZI 12/11/2015 Nac 35 1.177 184 LA BANDA DEL GALPON 30/04/2015 Nac 26 150 185 UN ENSAYO ELISA Y EL MURO 02/07/2015 Nac 243 25 330 186 PACHAKUTI 2012, EL CAMBIO 06/08/2015 Nac 20 149 187 AL OESTE DEL FIN DEL MUNDO 11/09/2015 Nac 1 30 188 LOS EXPERTOS 2 10/11/2015 Nac 0 0 Ranking de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47

1R4a7nking LTOitSu lCoUADROS AL SOL 3Fe0c/0h7a /E2s0t1r5eno NOraicgen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 148 COMO DIOS NOS TRAJO 10/12/2015 Nac 558 3.713 149 SALUD RURAL 08/10/2015 Nac 532 3.210 150 SALDAÑO, EL SUEÑO DORADO 26/03/2015 Nac 507 11.123 151 SILVIA 14/10/2015 Nac 503 4.688 152 UN PAISAJE DE ESPANTO 23/04/2015 Nac 501 4.587 153 BOLISHOPPING 11/06/2015 Nac 479 11.879 154 LOS ADIOSES 11/06/2015 Nac 446 2.746 155 EBER LUDUEÑA Y EL PUNTAPIE FINAL 03/09/2015 Nac 433 5.824 156 DE MUJERES ARGENTINAS COMO LA LOLA 07/05/2015 Nac 417 2.492 157 VICTORIA 01/10/2015 Nac 406 4.544 158 CITIES OF RAIN ( CIUDADES DE LLUVIA ) 12/02/2015 Nac 404 1.218 159 LA JUGADA DEL PEON 01/10/2015 Nac 384 2.765 160 REIMON 06/09/2015 Nac 349 2.496 161 EL ORIGEN DEL PUDOR 20/08/2015 Nac 348 6.300 162 SI ESTOY PERDIDO NO ES GRAVE 24/09/2015 Nac 334 2.112 163 EL DOCUMENTAL EN MOVIMIENTO 06/08/2015 Nac 323 1.749 164 TIERRA ABRASADA 05/11/2015 Nac 311 847 165 KOAN 03/12/2015 Nac 285 896 166 GULE, GULE, CRONICAS DE UN VIAJE 16/04/2015 Nac 279 388 167 ARTESANOS DEL MAR, BUZOS MARISQUEROS DE.. 02/04/2015 Nac 229 8.385 168 SUEÑOS ACRIBILLADOS 19/11/2015 Nac 226 1.488 169 LA SECTA 27/08/2015 Nac 219 1.019 170 REFLEJO NARCISA 01/10/2015 Nac 207 5.462 171 VIAJE AL CENTRO DE LA PRODUCCION 07/05/2015 Nac 184 1.127 172 TODO EL TIEMPO DEL MUNDO 13/08/2015 Nac 183 3.375 173 UN IMPORTANTE PREESTRENO 29/10/2015 Nac 162 810 174 EL DESCONCIERTO 20/08/2015 Nac 157 4.150 175 LA SOMBRA 19/11/2015 Nac 149 4.753 176 MIRAMAR 07/05/2015 Nac 111 2.735 177 WALSH ENTRE TODOS 05/11/2015 Nac 101 662 178 DROMOMANOS 17/09/2015 Nac 89 1.610 179 INVASION ALIEN 04/06/2015 Nac 67 409 180 FAVULA 12/11/2015 Nac 47 1.519 181 ENTRENAMIENTO ELEMENTAL PARA ACTORES 07/11/2015 Nac 46 1.830 182 COSANO : LA VIDA SECRETA DE UN VESTIDO 05/02/2015 Nac 45 426 183 RAGAZZI 12/11/2015 Nac 35 1.177 184 LA BANDA DEL GALPON 30/04/2015 Nac 26 150 185 UN ENSAYO ELISA Y EL MURO 02/07/2015 Nac 25 330 186 PACHAKUTI 2012, EL CAMBIO 06/08/2015 Nac 20 149 187 AL OESTE DEL FIN DEL MUNDO 11/09/2015 Nac 1 30 188 LOS EXPERTOS 2 10/11/2015 Nac 0 0

Fonte: Instituto Nacional de Cine y Artes Visuales - Seção de Estatísticas, Gerência de Fiscalização. Disponível em http://fiscalizacion.incaa.gov.ar/index_estadisticas_series_historicas.php, acesso em 17 de setembro de 2017.

RTabela ankin22g : Lançamentos de filmes argentinos em 2016de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47

Ranking Titulo Fecha Estreno Origen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 1 ME CASÉ CON UN BOLUDO 17/03/2016 Nac 2.026.917 142.910.561 2 GILDA, NO ME ARREPIENTO DE ESTE AMOR 15/09/2016 Nac 953.310 73.678.581 3 EL HILO ROJO 19/05/2016 Nac 714.738 49.750.994 4 EL CIUDADANO ILUSTRE 08/09/2016 Nac 664.305 52.897.203 5 INSEPARABLES 11/08/2016 Nac 363.387 28.272.541 6 CIEN AÑOS DE PERDÓN 03/03/2016 Nac 358.671 23.551.644 7 PERMITIDOS 04/08/2016 Nac 355.922 27.163.506 8 KOBLIC 14/04/2016 Nac 309.221 21.093.205 9 AL FINAL DEL TÚNEL 21/04/2016 Nac 283.189 18.561.391 10 UNA NOCHE DE AMOR 25/02/2016 Nac 220.072 13.959.134 11 LA ÚLTIMA FIESTA 06/10/2016 Nac 115.650 9.101.326 12 EL REY DEL ONCE 11/02/2016 Nac 65.015 3.028.631 13 RESURRECCION 07/01/2016 Nac 63.057 4.137.826 14 EL ENCUENTRO DE GUAYAQUIL 07/07/2016 Nac 47.287 2.549.485 15 CAMINO A LA PAZ 07/01/2016 Nac 40.230 1.830.345 16 EL ABRAZO DE LA SERPIENTE 18/02/2016 Nac 40.123 2.163.795 17 OPERACION MEXICO,UN PACTO DE AMOR 17/11/2016 Nac 31.836 2.128.950 18 CAÍDA DEL CIELO 12/05/2016 Nac 28.481 1.834.229 19 SANGRE EN LA BOCA 25/08/2016 Nac 19.709 1.150.875 20 LUCHA, JUGANDO CON LO IMPOSIBLE 21/04/2016 Nac 19.153 753.063 21 ATAÚD BLANCO: EL JUEGO DIABÓLICO 01/12/2016 Nac 19.086 1.521.798 22 CHICAS NUEVAS 24 HS. 05/05/2016 Nac 18.704 1.448.061 23 LA LUZ INCIDENTE 01/09/2016 Nac 18.167 1.069.065 24 HIJOS NUESTROS 12/05/2016 Nac 17.464 708.249 25 EL JUGADOR 17/11/2016 Nac 15.075 988.318 26 LA TIERRA ROJA 08/12/2016 Nac 12.665 587.769 27 AMATEUR 24/11/2016 Nac 11.797 751.493 28 LAS INESES 13/10/2016 Nac 10.946 458.150 29 LA LARGA NOCHE DE FRANCISCO SANCTIS 15/09/2016 Nac 10.740 482.273 30 EL INVIERNO 06/10/2016 Nac 10.334 428.482 31 EL MUERTO CUENTA SU HISTORIA 22/09/2016 Nac 9.549 746.701 32 EL LIMONERO REAL 01/09/2016 Nac 9.008 322.644 33 PIBE CHORRO 09/06/2016 Nac 8.750 82.930 34 RARA 23/06/2016 Nac 8.741 187.275 35 FUGA DE LA PATAGONIA 01/12/2016 Nac 8.328 388.694 36 LA HELADA NEGRA 07/07/2016 Nac 7.407 106.311 37 8 TIROS 14/01/2016 Nac 7.323 261.499 38 PINAMAR 06/10/2016 Nac 7.058 320.445 39 EL ESLABÓN PODRIDO 16/06/2016 Nac 6.854 125.101 40 ALMA 16/06/2016 Nac 244 6.698 58.203 41 ANGELITA LA DOCTORA 28/04/2016 Nac 6.566 122.484 42 TIEMPO MUERTO 12/05/2016 Nac 5.908 227.320 43 DOLORES 18/08/2016 Nac 5.571 216.990 44 MECANICA POPULAR 28/04/2016 Nac 5.562 140.103 45 PAULA 26/05/2016 Nac 5.492 66.736 46 LO QUE NUNCA NOS DIJIMOS 15/12/2016 Nac 5.237 181.714 47 GUARANÍ 07/04/2016 Nac 5.216 148.611 48 EL LEGADO ESTRATÉGICO DE JUAN PERÓN 25/02/2016 Nac 5.197 92.160 49 LOS INOCENTES 29/09/2016 Nac 5.032 280.049 50 SOLEADA 03/03/2016 Nac Ranking de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47

Ranking Titulo Fecha Estreno Origen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 1 ME CASÉ CON UN BOLUDO 17/03/2016 Nac 2.026.917 142.910.561 2 GILDA, NO ME ARREPIENTO DE ESTE AMOR 15/09/2016 Nac 953.310 73.678.581 3 EL HILO ROJO 19/05/2016 Nac 714.738 49.750.994 4 EL CIUDADANO ILUSTRE 08/09/2016 Nac 664.305 52.897.203 5 INSEPARABLES 11/08/2016 Nac 363.387 28.272.541 6 CIEN AÑOS DE PERDÓN 03/03/2016 Nac 358.671 23.551.644 7 PERMITIDOS 04/08/2016 Nac 355.922 27.163.506 8 KOBLIC 14/04/2016 Nac 309.221 21.093.205 9 AL FINAL DEL TÚNEL 21/04/2016 Nac 283.189 18.561.391 10 UNA NOCHE DE AMOR 25/02/2016 Nac 220.072 13.959.134 11 LA ÚLTIMA FIESTA 06/10/2016 Nac 115.650 9.101.326 12 EL REY DEL ONCE 11/02/2016 Nac 65.015 3.028.631 13 RESURRECCION 07/01/2016 Nac 63.057 4.137.826 14 EL ENCUENTRO DE GUAYAQUIL 07/07/2016 Nac 47.287 2.549.485 15 CAMINO A LA PAZ 07/01/2016 Nac 40.230 1.830.345 16 EL ABRAZO DE LA SERPIENTE 18/02/2016 Nac 40.123 2.163.795 17 OPERACION MEXICO,UN PACTO DE AMOR 17/11/2016 Nac 31.836 2.128.950 18 CAÍDA DEL CIELO 12/05/2016 Nac 28.481 1.834.229 19 SANGRE EN LA BOCA 25/08/2016 Nac 19.709 1.150.875 20 LUCHA, JUGANDO CON LO IMPOSIBLE 21/04/2016 Nac 19.153 753.063 21 ATAÚD BLANCO: EL JUEGO DIABÓLICO 01/12/2016 Nac 19.086 1.521.798 22 CHICAS NUEVAS 24 HS. 05/05/2016 Nac 18.704 1.448.061 23 LA LUZ INCIDENTE 01/09/2016 Nac 18.167 1.069.065 24 HIJOS NUESTROS 12/05/2016 Nac 17.464 708.249 25 EL JUGADOR 17/11/2016 Nac 15.075 988.318 26 LA TIERRA ROJA 08/12/2016 Nac 12.665 587.769 27 AMATEUR 24/11/2016 Nac 11.797 751.493 28 LAS INESES 13/10/2016 Nac 10.946 458.150 29 LA LARGA NOCHE DE FRANCISCO SANCTIS 15/09/2016 Nac 10.740 482.273 30 EL INVIERNO 06/10/2016 Nac 10.334 428.482 31 EL MUERTO CUENTA SU HISTORIA 22/09/2016 Nac 9.549 746.701 32 EL LIMONERO REAL 01/09/2016 Nac 9.008 322.644 33 PIBE CHORRO 09/06/2016 Nac 8.750 82.930 34 RARA 23/06/2016 Nac 8.741 187.275 35 FUGA DE LA PATAGONIA 01/12/2016 Nac 8.328 388.694 36 LA HELADA NEGRA 07/07/2016 Nac 7.407 106.311 37 8 TIROS 14/01/2016 Nac 7.323 261.499 38 PINAMAR 06/10/2016 Nac 7.058 320.445 39 EL ESLABÓN PODRIDO 16/06/2016 Nac 6.854 125.101 40 ALMA 16/06/2016 Nac 6.698 58.203 41 ANGELITA LA DOCTORA 28/04/2016 Nac 6.566 122.484 42 TIEMPO MUERTO 12/05/2016 Nac 5.908 227.320 43 DOLORES 18/08/2016 Nac 5.571 216.990 44 MECANICA POPULAR 28/04/2016 Nac 5.562 140.103 45 PAULA 26/05/2016 Nac 5.492 66.736 46 LO QUE NUNCA NOS DIJIMOS 15/12/2016 Nac 5.237 181.714 47 GUARANÍ 07/04/2016 Nac 5.216 148.611 R48ankinEgL LdEeGA PDOe ElSicTRuAlTaÉGsICO DE JUAN PERÓN 25/02/2016 Nac 5.197 92.160 Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47 49 LOS INOCENTES 29/09/2016 Nac 5.032 280.049 50 SOLEADA 03/03/2016 Nac 4R9anking LTOitSu lIoNOCENTES 2Fe9c/0h9a /E2s0t1r6eno NOraicgen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 50 SOLEADA 03/03/2016 Nac 5.010 183.412 51 LA INOCENCIA 14/07/2016 Nac 4.908 32.325 52 MALDITO SEAS WATERFALL 20/10/2016 Nac 4.802 310.494 53 5 A.M. CINCO ANTE LOS MIEDOS 20/10/2016 Nac 4.652 351.918 54 LA GUARDERÍA 07/04/2016 Nac 4.477 75.371 55 LA NIÑA DE TACONES AMARILLOS 31/03/2016 Nac 4.373 105.516 56 CONTRA PARAGUAY 26/05/2016 Nac 4.247 30.241 57 LA ILUSIÓN DE NOEMÍ 23/06/2016 Nac 3.927 26.166 58 SUCIO Y DESPROLIJO: EL HEAVY METAL EN ARGE.. 28/04/2016 Nac 3.765 62.102 59 LOS CUERPOS DOCILES 04/08/2016 Nac 3.699 40.683 60 BLUE LIPS 17/03/2016 Nac 3.511 24.690 61 EL PADRE 22/09/2016 Nac 3.487 81.193 62 HIJA ÚNICA 10/11/2016 Nac 3.462 208.469 63 PRIMAVERA 01/09/2016 Nac 3.444 138.509 64 RESENTIMENTAL 27/10/2016 Nac 3.425 182.175 65 AGOSTO FINAL 06/10/2016 Nac 3.308 152.136 66 MAGALLANES 10/03/2016 Nac 2.880 52.560 67 EXPEDIENTE SANTISO 18/02/2016 Nac 2.867 82.906 68 CAMPAÑA ANTIARGENTINA 15/09/2016 Nac 2.859 135.604 69 EL FRANCESITO. UN DOCUMENTAL (IM)POSIBLE .. 28/07/2016 Nac 2.801 142.623 70 JUANA A LOS 12 07/04/2016 Nac 2.765 22.451 71 NO ME MATES 18/08/2016 Nac 2.536 64.743 72 UNA NOVIA DE SHANGAI 29/09/2016 Nac 2.499 66.573 73 70 Y PICO 01/09/2016 Nac 2.490 66.874 74 TAEKWONDO 18/08/2016 Nac 2.394 37.085 75 VIGILIA 13/10/2016 Nac 2.333 44.046 76 ECUACIÓN LOS MALDITOS DE DIOS 20/10/2016 Nac 2.311 125.395 77 LA VISITA 03/03/2016 Nac 2.228 29.088 78 PUNTO CIEGO 31/03/2016 Nac 2.222 18.995 79 MONUMENTO 04/08/2016 Nac 2.182 14.107 80 NO HAY TIERRA SIN MAL 07/04/2016 Nac 2.171 15.454 81 SUBTE POLSKA 10/03/2016 Nac 2.104 50.951 82 DANZAR CON MARIA 21/04/2016 Nac 2.090 16.627 83 ALGUNAS CHICAS 26/05/2016 Nac 2.035 50.930 84 MALCRIADOS 29/09/2016 Nac 2.014 39.723 85 2001: MIENTRAS KUBRICK ESTABA EN EL ESPACIO 20/10/2016 Nac 1.959 58.242 86 EL PEOR DÍA DE MI VIDA 22/09/2016 Nac 1.935 74.982 87 LOCAS Y SANTAS 26/05/2016 Nac 1.853 55.038 88 IL SOLENGO 26/05/2016 Nac 1.851 40.984 89 EL SABLE 02/06/2016 Nac 1.840 12.512 90 EL SACRIFICIO DE NEHUÉN PUYELLI 01/12/2016 Nac 1.824 55.907 91 CAMINO DE CAMPAÑA 25/02/2016 Nac 1.799 18.252 245 92 COMO UNA NOVIA SIN SEXO 10/11/2016 Nac 1.787 67.143 93 EL HIJO DE DIOS 27/10/2016 Nac 1.753 66.475 94 PRIMERO ENERO 12/05/2016 Nac 1.731 45.189 95 AGÁRRESE COMO PUEDA. QUE DICEN LOS CUERP.. 07/07/2016 Nac 1.730 10.854 96 OJALÁ VIVAS TIEMPOS INTERESANTES 20/10/2016 Nac 1.715 52.588 97 FAVIO: CRÓNICA DE UN DIRECTOR 03/11/2016 Nac 1.658 64.036 98 LA CONSTRUCCIÓN DEL ENEMIGO 02/06/2016 Nac 1.655 10.724 99 AVANT 08/09/2016 Nac Ranking de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47

4R9anking LTOitSu lIoNOCENTES 2Fe9c/0h9a /E2s0t1r6eno NOraicgen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 50 SOLEADA 03/03/2016 Nac 5.010 183.412 51 LA INOCENCIA 14/07/2016 Nac 4.908 32.325 52 MALDITO SEAS WATERFALL 20/10/2016 Nac 4.802 310.494 53 5 A.M. CINCO ANTE LOS MIEDOS 20/10/2016 Nac 4.652 351.918 54 LA GUARDERÍA 07/04/2016 Nac 4.477 75.371 55 LA NIÑA DE TACONES AMARILLOS 31/03/2016 Nac 4.373 105.516 56 CONTRA PARAGUAY 26/05/2016 Nac 4.247 30.241 57 LA ILUSIÓN DE NOEMÍ 23/06/2016 Nac 3.927 26.166 58 SUCIO Y DESPROLIJO: EL HEAVY METAL EN ARGE.. 28/04/2016 Nac 3.765 62.102 59 LOS CUERPOS DOCILES 04/08/2016 Nac 3.699 40.683 60 BLUE LIPS 17/03/2016 Nac 3.511 24.690 61 EL PADRE 22/09/2016 Nac 3.487 81.193 62 HIJA ÚNICA 10/11/2016 Nac 3.462 208.469 63 PRIMAVERA 01/09/2016 Nac 3.444 138.509 64 RESENTIMENTAL 27/10/2016 Nac 3.425 182.175 65 AGOSTO FINAL 06/10/2016 Nac 3.308 152.136 66 MAGALLANES 10/03/2016 Nac 2.880 52.560 67 EXPEDIENTE SANTISO 18/02/2016 Nac 2.867 82.906 68 CAMPAÑA ANTIARGENTINA 15/09/2016 Nac 2.859 135.604 69 EL FRANCESITO. UN DOCUMENTAL (IM)POSIBLE .. 28/07/2016 Nac 2.801 142.623 70 JUANA A LOS 12 07/04/2016 Nac 2.765 22.451 71 NO ME MATES 18/08/2016 Nac 2.536 64.743 72 UNA NOVIA DE SHANGAI 29/09/2016 Nac 2.499 66.573 73 70 Y PICO 01/09/2016 Nac 2.490 66.874 74 TAEKWONDO 18/08/2016 Nac 2.394 37.085 75 VIGILIA 13/10/2016 Nac 2.333 44.046 76 ECUACIÓN LOS MALDITOS DE DIOS 20/10/2016 Nac 2.311 125.395 77 LA VISITA 03/03/2016 Nac 2.228 29.088 78 PUNTO CIEGO 31/03/2016 Nac 2.222 18.995 79 MONUMENTO 04/08/2016 Nac 2.182 14.107 80 NO HAY TIERRA SIN MAL 07/04/2016 Nac 2.171 15.454 81 SUBTE POLSKA 10/03/2016 Nac 2.104 50.951 82 DANZAR CON MARIA 21/04/2016 Nac 2.090 16.627 83 ALGUNAS CHICAS 26/05/2016 Nac 2.035 50.930 84 MALCRIADOS 29/09/2016 Nac 2.014 39.723 85 2001: MIENTRAS KUBRICK ESTABA EN EL ESPACIO 20/10/2016 Nac 1.959 58.242 86 EL PEOR DÍA DE MI VIDA 22/09/2016 Nac 1.935 74.982 87 LOCAS Y SANTAS 26/05/2016 Nac 1.853 55.038 88 IL SOLENGO 26/05/2016 Nac 1.851 40.984 89 EL SABLE 02/06/2016 Nac 1.840 12.512 90 EL SACRIFICIO DE NEHUÉN PUYELLI 01/12/2016 Nac 1.824 55.907 91 CAMINO DE CAMPAÑA 25/02/2016 Nac 1.799 18.252 92 COMO UNA NOVIA SIN SEXO 10/11/2016 Nac 1.787 67.143 93 EL HIJO DE DIOS 27/10/2016 Nac 1.753 66.475 94 PRIMERO ENERO 12/05/2016 Nac 1.731 45.189 95 AGÁRRESE COMO PUEDA. QUE DICEN LOS CUERP.. 07/07/2016 Nac 1.730 10.854 96 OJALÁ VIVAS TIEMPOS INTERESANTES 20/10/2016 Nac 1.715 52.588 R97ankinFgAV dIOe: C RPÓeNlICicA uDEl aUNs DIRECTOR 03/11/2016 Nac 1.658 64.036 Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47 98 LA CONSTRUCCIÓN DEL ENEMIGO 02/06/2016 Nac 1.655 10.724 9R98anking ALTAVit AuCNlOoTNSTRUCCIÓN DEL ENEMIGO 00F8e2/0c/0h96a/2 /E20s01t16r6eno NNOacraicgen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 99 AVANT 08/09/2016 Nac 1.639 49.617 100 LA NOCHE 01/12/2016 Nac 1.635 68.677 101 KOMBIT 10/03/2016 Nac 1.631 10.787 102 PALESTINOS GO HOME 30/06/2016 Nac 1.548 15.876 103 VICTIMAS DE TANGALANGA - 1RA. PARTE 04/08/2016 Nac 1.498 125.928 104 LOS PIBES 01/09/2016 Nac 1.497 23.972 105 MISS 27/10/2016 Nac 1.496 60.536 106 LA ISLA DEL VIENTO 08/09/2016 Nac 1.477 36.871 107 TRIADA 13/10/2016 Nac 1.464 51.454 108 LA CUENTA 09/06/2016 Nac 1.415 9.387 109 LA DEL CHANGO 25/08/2016 Nac 1.314 27.491 110 EL BOSQUE DE KARADIMA 28/04/2016 Nac 1.288 52.221 111 EXILIO DE MALVINAS 14/04/2016 Nac 1.274 7.642 112 LOS AUSENTES 08/09/2016 Nac 1.273 23.817 113 ARRIBEÑOS 04/02/2016 Nac 1.265 20.938 114 MUJERES DE LA MINA 27/10/2016 Nac 1.255 23.665 115 LA NOCHE DEL LOBO 06/10/2016 Nac 1.230 23.268 116 SAUDADE 11/02/2016 Nac 1.186 8.866 117 EL CIELO ESCONDIDO 18/08/2016 Nac 1.183 51.559 118 EL DESEO DE DOMINGO 24/11/2016 Nac 1.167 28.680 119 REEMPLAZO INCOMPLETO 07/07/2016 Nac 1.152 4.545 120 CADA 30 HORAS 24/11/2016 Nac 1.148 20.715 121 PANTANAL 25/02/2016 Nac 1.146 9.219 122 PARABELLUM 10/03/2016 Nac 1.138 8.119 123 EL (IM)POSIBLE OLVIDO 10/11/2016 Nac 1.113 37.181 124 ONIX 27/10/2016 Nac 1.106 23.765 125 EL RETORNO DE DON LUIS 28/07/2016 Nac 1.082 6.014 126 ARMONÍAS DEL CAOS 06/10/2016 Nac 1.074 82.454 127 GUIDO MODELS 10/11/2016 Nac 1.019 30.327 128 HUEMUL LA SOMBRA DE UNA ESPECIE 14/07/2016 Nac 1.017 10.157 129 HOTEL DE LA AMISTAD 15/09/2016 Nac 1.006 19.377 130 EL AIRE 04/02/2016 Nac 998 7.566 131 PEGAR LA VUELTA 18/08/2016 Nac 993 12.741 132 RODOLFO WALSH LA REVELACION DE LO ESCON.. 17/11/2016 Nac 992 22.938 133 OSCURO ANIMAL 25/08/2016 Nac 989 26.327 134 COSQUIN ROCK XV, EL ROCKUMENTAL 28/04/2016 Nac 980 22.784 135 EL CRUCE DE LA PAMPA 08/12/2016 Nac 935 13.997 136 MURALES. EL PRINCIPIO DE LAS COSAS 03/11/2016 Nac 931 32.015 137 CRESPO (LA CONTINUIDAD DE LA MEMORIA) 02/06/2016 Nac 903 16.803 138 LA BIRRILATA, UNA VUELTA EN TREN 29/09/2016 Nac 902 25.305 139 GRETE, LA MIRADA OBLICUA 28/04/2016 Nac 896 6.398 140 OLVIDALOS Y VOLVERAN POR MAS 22/09/2016 Nac 865 16.907 141 ÁBACO 211 23/06/2016 Nac 853 4.816 142 PONER AL ROCK DE MODA 19/05/2016 Nac 836 3.625 143 NEWEN 08/09/2016 Nac 831 14.921 144 NOSOTRAS/ELLAS 13/06/2016 Nac 799 10.607 145 ESTACIÓN DARÍO Y MAXI, EX AVELLANEDA 01/09/2016 Nac 246 797 10.442 146 UN HOMBRE QUE NO SUPO A DONDE IR 15/12/2016 Nac 708 13.462 147 ORQUESTA EL TAMBO, LA MÚSICA EN BUENAS M.. 29/09/2016 Nac 697 12.907 148 MECHITA, ENTRE EL CIELO Y LA TIERRA 30/04/2016 Nac Ranking de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47

9R8anking LTAit uClOoNSTRUCCIÓN DEL ENEMIGO 0Fe2c/0h6a /E2s0t1r6eno NOraicgen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 99 AVANT 08/09/2016 Nac 1.639 49.617 100 LA NOCHE 01/12/2016 Nac 1.635 68.677 101 KOMBIT 10/03/2016 Nac 1.631 10.787 102 PALESTINOS GO HOME 30/06/2016 Nac 1.548 15.876 103 VICTIMAS DE TANGALANGA - 1RA. PARTE 04/08/2016 Nac 1.498 125.928 104 LOS PIBES 01/09/2016 Nac 1.497 23.972 105 MISS 27/10/2016 Nac 1.496 60.536 106 LA ISLA DEL VIENTO 08/09/2016 Nac 1.477 36.871 107 TRIADA 13/10/2016 Nac 1.464 51.454 108 LA CUENTA 09/06/2016 Nac 1.415 9.387 109 LA DEL CHANGO 25/08/2016 Nac 1.314 27.491 110 EL BOSQUE DE KARADIMA 28/04/2016 Nac 1.288 52.221 111 EXILIO DE MALVINAS 14/04/2016 Nac 1.274 7.642 112 LOS AUSENTES 08/09/2016 Nac 1.273 23.817 113 ARRIBEÑOS 04/02/2016 Nac 1.265 20.938 114 MUJERES DE LA MINA 27/10/2016 Nac 1.255 23.665 115 LA NOCHE DEL LOBO 06/10/2016 Nac 1.230 23.268 116 SAUDADE 11/02/2016 Nac 1.186 8.866 117 EL CIELO ESCONDIDO 18/08/2016 Nac 1.183 51.559 118 EL DESEO DE DOMINGO 24/11/2016 Nac 1.167 28.680 119 REEMPLAZO INCOMPLETO 07/07/2016 Nac 1.152 4.545 120 CADA 30 HORAS 24/11/2016 Nac 1.148 20.715 121 PANTANAL 25/02/2016 Nac 1.146 9.219 122 PARABELLUM 10/03/2016 Nac 1.138 8.119 123 EL (IM)POSIBLE OLVIDO 10/11/2016 Nac 1.113 37.181 124 ONIX 27/10/2016 Nac 1.106 23.765 125 EL RETORNO DE DON LUIS 28/07/2016 Nac 1.082 6.014 126 ARMONÍAS DEL CAOS 06/10/2016 Nac 1.074 82.454 127 GUIDO MODELS 10/11/2016 Nac 1.019 30.327 128 HUEMUL LA SOMBRA DE UNA ESPECIE 14/07/2016 Nac 1.017 10.157 129 HOTEL DE LA AMISTAD 15/09/2016 Nac 1.006 19.377 130 EL AIRE 04/02/2016 Nac 998 7.566 131 PEGAR LA VUELTA 18/08/2016 Nac 993 12.741 132 RODOLFO WALSH LA REVELACION DE LO ESCON.. 17/11/2016 Nac 992 22.938 133 OSCURO ANIMAL 25/08/2016 Nac 989 26.327 134 COSQUIN ROCK XV, EL ROCKUMENTAL 28/04/2016 Nac 980 22.784 135 EL CRUCE DE LA PAMPA 08/12/2016 Nac 935 13.997 136 MURALES. EL PRINCIPIO DE LAS COSAS 03/11/2016 Nac 931 32.015 137 CRESPO (LA CONTINUIDAD DE LA MEMORIA) 02/06/2016 Nac 903 16.803 138 LA BIRRILATA, UNA VUELTA EN TREN 29/09/2016 Nac 902 25.305 139 GRETE, LA MIRADA OBLICUA 28/04/2016 Nac 896 6.398 140 OLVIDALOS Y VOLVERAN POR MAS 22/09/2016 Nac 865 16.907 141 ÁBACO 211 23/06/2016 Nac 853 4.816 142 PONER AL ROCK DE MODA 19/05/2016 Nac 836 3.625 143 NEWEN 08/09/2016 Nac 831 14.921 144 NOSOTRAS/ELLAS 13/06/2016 Nac 799 10.607 145 ESTACIÓN DARÍO Y MAXI, EX AVELLANEDA 01/09/2016 Nac 797 10.442 R1a46nkingU Nd HeO MPBeRlEi QcUuEl NaOs SUPO A DONDE IR 15/12/2016 Nac 708 13.462 Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47 697 12.907 147 ORQUESTA EL TAMBO, LA MÚSICA EN BUENAS M.. 29/09/2016 Nac 148 MECHITA, ENTRE EL CIELO Y LA TIERRA 30/04/2016 Nac 1R4a7nking OTiRtuQlUoESTA EL TAMBO, LA MÚSICA EN BUENAS M.. 2Fe9c/0h9a /E2s0t1r6eno NOraicgen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 148 MECHITA, ENTRE EL CIELO Y LA TIERRA 30/04/2016 Nac 681 18.015 149 TIERRA GOLPEADA 07/05/2016 Nac 663 4.342 150 LAS NUBES DE PARÍS 17/03/2016 Nac 611 5.454 151 CÁNCER DE MÁQUINA 19/05/2016 Nac 548 3.409 152 LA FIDELIDAD 15/09/2016 Nac 529 10.888 153 VICTIMAS DE TANGALANGA - 2DA. PARTE 13/10/2016 Nac 519 45.545 154 ULTIMA CARTA DESDE LA REVOLUCION 10/11/2016 Nac 515 9.034 155 BIEN DE FAMILIA, UNA PELÍCULA MUSICAL 08/12/2016 Nac 500 7.290 156 JESS & JAMES 11/08/2016 Nac 460 9.068 157 LOS FANTASMAS DE LOSADA 19/05/2016 Nac 441 2.505 158 VIVIR PARA CONTARLO 24/11/2016 Nac 436 3.997 159 LA COOPERATIVA 01/12/2016 Nac 374 3.630 160 SIETE MARES 22/12/2016 Nac 340 18.080 161 FAMILIA CANTORA, LOS PACHECO 22/09/2016 Nac 334 4.935 162 INTERNET JUNKIE 17/03/2016 Nac 329 18.895 163 PIRAY 18 07/07/2016 Nac 308 4.853 164 EVARISTO 01/09/2016 Nac 302 5.504 165 INTERIORES 24/11/2016 Nac 300 18.000 166 LA PIEL MARCADA 08/12/2016 Nac 290 4.403 167 FULBOY 17/11/2016 Nac 278 5.799 168 VIVIRE CON TU RECUERDO 13/10/2016 Nac 252 18.908 169 CON LOS PIES SOBRE LA TIERRA (RECALIFICACIO.. 08/12/2016 Nac 250 20.000 170 KM O FICCIONES URBANAS 09/06/2016 Nac 218 3.886 171 UN ARTESANO 27/10/2016 Nac 216 2.780 172 FASCINACION 15/09/2016 Nac 186 2.567 173 VIENTOS DE ALBARDON 29/09/2016 Nac 186 6.307 174 EL NACIMIENTO DEL MAL 11/08/2016 Nac 175 1.148 175 ¿DONDE ESTÁS, NEGRO? 04/08/2016 Nac 134 1.681 176 HARD COP, VIVIR Y DEJAR MATAR 09/06/2016 Nac 132 1.548 177 POSTAS DE LA MEMORIA 06/10/2016 Nac 116 2.320 178 TRAPO VIEJO 07/04/2016 Nac 108 1.000 179 NO SABÉS CON QUIÉN ESTÁS HABLANDO 14/10/2016 Nac 100 7.730 180 LUGAR DEL MIEDO 07/04/2016 Nac 97 654 181 NACIDO PARA MORIR 16/06/2016 Nac 90 4.245 182 EL MALTRECHO 04/08/2016 Nac 73 435 183 CANCIÓN PERDIDA EN LA NIEVE 23/06/2016 Nac 70 1.684 184 EL ROBO 10/03/2016 Nac 62 739 185 S.C. RECORTES DE PRENSA 07/07/2016 Nac 51 2.550 186 LA MUERTE JUEGA A LOS DADOS 17/11/2016 Nac 50 1.010 187 LISA 11/02/2016 Nac 46 343 188 LA GRACIA DEL MUERTO 24/11/2016 Nac 45 278 189 LAS TRES ÚLTIMAS DE ESTA NOCHE 14/07/2016 Nac 43 258 190 TIERRA DE PATAGONES 10/11/2016 Nac 33 3.300 191 GRANADA Y AL PARAÍSO 01/09/2016 Nac 31 1.050 192 TL2 - LA FELICIDAD ES UNA L EYENDA URBANA 15/09/2016 Nac 25 1.000 193 NECROMANCIA 07/07/2016 Nac 24 480 194 BUSCANDO LA ESFERA DEL PODER 15/09/2016 Nac 23 920 195 LA ULTIMA PALABRA 01/12/2016 Nac 17 544 196 MUNDO LIMPIO 01/12/2016 Nac 247 11 213 197 CORAZÓN MUERTO 17/11/2016 Nac Ranking de Peliculas Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47

1R4a7nking OTiRtuQlUoESTA EL TAMBO, LA MÚSICA EN BUENAS M.. 2Fe9c/0h9a /E2s0t1r6eno NOraicgen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 148 MECHITA, ENTRE EL CIELO Y LA TIERRA 30/04/2016 Nac 681 18.015 149 TIERRA GOLPEADA 07/05/2016 Nac 663 4.342 150 LAS NUBES DE PARÍS 17/03/2016 Nac 611 5.454 151 CÁNCER DE MÁQUINA 19/05/2016 Nac 548 3.409 152 LA FIDELIDAD 15/09/2016 Nac 529 10.888 153 VICTIMAS DE TANGALANGA - 2DA. PARTE 13/10/2016 Nac 519 45.545 154 ULTIMA CARTA DESDE LA REVOLUCION 10/11/2016 Nac 515 9.034 155 BIEN DE FAMILIA, UNA PELÍCULA MUSICAL 08/12/2016 Nac 500 7.290 156 JESS & JAMES 11/08/2016 Nac 460 9.068 157 LOS FANTASMAS DE LOSADA 19/05/2016 Nac 441 2.505 158 VIVIR PARA CONTARLO 24/11/2016 Nac 436 3.997 159 LA COOPERATIVA 01/12/2016 Nac 374 3.630 160 SIETE MARES 22/12/2016 Nac 340 18.080 161 FAMILIA CANTORA, LOS PACHECO 22/09/2016 Nac 334 4.935 162 INTERNET JUNKIE 17/03/2016 Nac 329 18.895 163 PIRAY 18 07/07/2016 Nac 308 4.853 164 EVARISTO 01/09/2016 Nac 302 5.504 165 INTERIORES 24/11/2016 Nac 300 18.000 166 LA PIEL MARCADA 08/12/2016 Nac 290 4.403 167 FULBOY 17/11/2016 Nac 278 5.799 168 VIVIRE CON TU RECUERDO 13/10/2016 Nac 252 18.908 169 CON LOS PIES SOBRE LA TIERRA (RECALIFICACIO.. 08/12/2016 Nac 250 20.000 170 KM O FICCIONES URBANAS 09/06/2016 Nac 218 3.886 171 UN ARTESANO 27/10/2016 Nac 216 2.780 172 FASCINACION 15/09/2016 Nac 186 2.567 173 VIENTOS DE ALBARDON 29/09/2016 Nac 186 6.307 174 EL NACIMIENTO DEL MAL 11/08/2016 Nac 175 1.148 175 ¿DONDE ESTÁS, NEGRO? 04/08/2016 Nac 134 1.681 176 HARD COP, VIVIR Y DEJAR MATAR 09/06/2016 Nac 132 1.548 177 POSTAS DE LA MEMORIA 06/10/2016 Nac 116 2.320 178 TRAPO VIEJO 07/04/2016 Nac 108 1.000 179 NO SABÉS CON QUIÉN ESTÁS HABLANDO 14/10/2016 Nac 100 7.730 180 LUGAR DEL MIEDO 07/04/2016 Nac 97 654 181 NACIDO PARA MORIR 16/06/2016 Nac 90 4.245 182 EL MALTRECHO 04/08/2016 Nac 73 435 183 CANCIÓN PERDIDA EN LA NIEVE 23/06/2016 Nac 70 1.684 184 EL ROBO 10/03/2016 Nac 62 739 185 S.C. RECORTES DE PRENSA 07/07/2016 Nac 51 2.550 186 LA MUERTE JUEGA A LOS DADOS 17/11/2016 Nac 50 1.010 187 LISA 11/02/2016 Nac 46 343 188 LA GRACIA DEL MUERTO 24/11/2016 Nac 45 278 189 LAS TRES ÚLTIMAS DE ESTA NOCHE 14/07/2016 Nac 43 258 190 TIERRA DE PATAGONES 10/11/2016 Nac 33 3.300 191 GRANADA Y AL PARAÍSO 01/09/2016 Nac 31 1.050 192 TL2 - LA FELICIDAD ES UNA LEYENDA URBANA 15/09/2016 Nac 25 1.000 193 NECROMANCIA 07/07/2016 Nac 24 480 194 BUSCANDO LA ESFERA DEL PODER 15/09/2016 Nac 23 920 1R95ankinLAg U dLTeIM PA ePAliLcABuRlAas 01/12/2016 Nac 17 544 Datos actualizados al:15/09/2017 09:02:47 196 MUNDO LIMPIO 01/12/2016 Nac 11 213 11R99a76nking CMTOitURuNAloDZÓON L IMMUPEIORTO 0F1e17c//1h2a1 //E2s0t11r6e6no NONraaicgcen Pelicula Entradas Total Precio Venta Total 197 CORAZÓN MUERTO 17/11/2016 Nac 10 200 198 DURAZNO 24/11/2016 Nac 10 600 199 ENTRE ELLAS EL TIEMPO 15/09/2016 Nac 10 200 200 PESCADO RABIOSO UNA UTOPIA INCURABLE 01/06/2016 Nac 5 75

Fonte: Instituto Nacional de Cine y Artes Visuales - Seção de Estatísticas, Gerência de Fiscalização. Disponível em http://fiscalizacion.incaa.gov.ar/index_estadisticas_series_historicas.php, acesso em 17 de setembro de 2017.

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