PRODUÇÃO EM FOCO Profissionais Analisam O Atual Cenário Do Cinema Brasileiro E Apontam Perspecitvas Para O Futuro
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A T S I V E R Fa n o 4 |I n o 4 L5 | F e s Mt i v a l d o R i o E| s e t e m b r oB d e 2 0 1 0 PRODUÇÃO EM FOCO Profissionais analisam o atual cenário do cinema brasileiro e apontam perspecitvas para o futuro OS MELHORES OS LONGAS UMA LISTA DE MERCADOS SELECIONADOS 100 TÍTULOS PARA O FILME PARA A PREMIÈRE EM PRODUÇÃO NACIONAL BRASIL 2010 Revista FilmeNO B setemPAÍSBRo 2010 • 1 2 • Revista Filme B setemBRo 2010 Editorial Foto: divulgação Foto: O DESAFIO DE REPETIR O ANO HISTÓRICO Paulo Sérgio Almeida Em setembro de 2003, no seminário do Festival do Rio, um clima de euforia se instalou quando foi anunciada a previsão dos números finais do cinema PREMIÈRE brasileiro para aquele ano: mais de vinte milhões de espectadores, cerca de 20% de market share. Imedia- BRASIL Malu de bicicleta tamente, 2003 virou o “ano histórico”. Para comple- Confira os filmes nacionais04 que tar, tivemos filmes competindo em festivais importan- vão disputar o troféu Redentor tes, três candidatos seguidos ao Oscar, campanhas de do Festival do Rio mídia fortes como nunca. Sabíamos que a produção vivia um momento único, acompanhando um cresci- mento geral do mercado de cinema no Brasil. Mesmo que não houvesse a ilusão de que todos os problemas PRODUÇÃO EM FOCO haviam sido resolvidos, pairava a sensação de que, Profissionais do mercado dali em diante, iríamos caminhar com altos e baixos, 10 analisam o atual momento da mas sempre em frente. produção nacional e apontam O que nos levou àquele ponto? Antes dos resulta- desafios para o futuro dos de 2003, muita coisa foi feita: desde novos inves- Filmagens de Assalto ao timentos em desenvolvimento de roteiros – por meio Banco Central de seminários do Instituto Sundance – até a entrada em cena de novos parceiros, como a Globo Filmes e as MELHORES grandes distribuidoras. Aparentemente, de lá para cá, MERCADOS PARA O outros mecanismos de produção e distribuição foram colocados à disposição. Com isso, estabeleceu-se um CINEMA NACIONAL patamar jamais alcançado anteriormente: por ano, são 24 Uma análise dos resultados das cerca de 300 longas-metragens em diversos estágios cinco produções brasileiras mais de produção, e uma média de R$ 150 milhões apenas vistas no primeiro semestre de Chico Xavier em recursos captados através de leis de incentivo. 2010 revela as melhores praças Apesar disso, ainda não conseguimos repetir os para o cinema nacional resultados de 2003. Há ainda dificuldade em mar- car presença constante na competição dos festivais de grande porte, e estamos cada vez mais distantes FILMES EM PRODUÇÃO do Oscar. Se temos dinheiro, mão de obra e talento Uma lista de 100 longas à disposição, se conseguimos formar público, por que 30 que estão sendo realizados os bons resultados parecem escapar pelos dedos? Será no país que o sucesso caiu no nosso colo ou muita coisa que estava acontecendo não está mais? Será que ainda não Heleno aprendemos a lapidar nossa matéria-prima, os rotei- ros? Ou serão esses tempos apenas de transição, tanto Revista Filme B >>> Diretor: Paulo Sérgio Almeida Editor: Pedro de modelos e fontes de financiamento quanto de reno- Butcher Editor-assistente: Fernando Veríssimo Redatores: Tiago vação de talentos? Na tentativa de responder a tantas Lyra e João Cândido Zacharias Estagiários: Bernardo Siaines e perguntas, ouvimos, para a matéria de capa, roteiris- Joana Medina Comunicação e marketing: Denise do Egito Projeto tas, produtores e distribuidores, que nos ajudaram a gráfico: Cardume Design Diagramação: Ana Soares Pesquisa: Elizabeth Ribeiro Revisão: Leonardo Gandolfi Gráfica: Stamppa desenhar um retrato da atual situação da produção Foto da capa: Shutterstock >>> www.filmeb.com.br cinematográfica nacional. Revista Filme B setemBRo 2010 • 3 PREMIÈRE BRASIL Tapete vermelhoOs nove filmes de ficção e oito documentários selecionados para disputar o troféu Redentor do Festival do Rio Por Tiago Lyra Ano após ano, a Première Brasil oferece ao público do Festival do Rio um instantâneo do que está acontecendo no cinema brasileiro. Nesta edição de 2010, nove longas de ficção, oito documentários e 21 curtas-metragens ganharão sessão de gala na histórica sala do cine Odeon, sede do festival. A Première Bra- sil traz ainda outros 18 longas que serão exi- bidos fora de competição e nas duas mostras paralelas: Novos Rumos, dedicada a jovens diretores, e Retratos, só com documentários sobre personalidades. Para completar, o filme de abertura será o esperado A suprema felici- dade, de Arnaldo Jabor. Mais uma vez, a competição contará com muitos estreantes: dos 17 diretores na disputa pelo troféu Redentor, apenas Flávio Tambelli- ni, com Malu de bicicleta, e Malu de Marti- no, com Como esquecer, integram o time dos veteranos. Tambellini, que já adaptou livros de Rubem Fonseca (Bufo e Spallanzani) e Ce- sário Mello Franco (O passageiro – Segredos Riscado, de Gustavo Pizzi Foto: divulgação Foto: de adultos), leva às telas agora um romance de Marcelo Rubens Paiva. O roteiro é uma colaboração do ator Marcelo Serrado (prota- 4 •4 Revista• Revista Filme Filme B setemB aBRBRil 2010o 2010 gonista e também produtor do filme) versas identidades, se passando por que produzia suas obras em um ma- com Tambellini e o próprio autor do empresário, aviador e até mesmo lí- nicômio, onde viveu por 50 anos. Suas romance. Serrado vive um empresário der de uma facção criminosa. Seu peças labirínticas, construídas por da noite paulistana que, em visita ao mais notório golpe aconteceu quando fios, papelão, lápis de cor e materiais Rio, é atropelado pela bicicleta da es- fingiu ser filho do dono de uma das diversos, foram recriadas para o filme pontânea Malu (Fernanda de Freitas). maiores empresas de aviação do país, por artesãs de Aracaju. Tapete O elenco também traz Maria Manoela, durante um Carnaval em Recife. VIPs MEMÓRIA, EXPERIMENTAÇÃO E ROMANCE Otávio Martins e Marjorie Estiano, em tem produção da O2, de Fernando seu papel de estreia no cinema. Meireles, e roteiro de Thiago Dottori Da Bahia vem Trampolim do Forte, e Bráulio Mantovani (Cidade de Deus, de João Rodrigo Mattos, que mostra DIVERSIDADE EM FOCO Tropa de elite). a infância nos arredores do Forte de Malu de Martino, que misturou fic- Santa Maria, em Salvador. O local é O filme de Toniko Melo é uma ver- ção e documentário em seu primei- um tradicional espaço de lazer para são ficcional (segundo o diretor, adap- ro longa, Mulheres do Brasil, investe a garotada que frequenta a praia do vermelho tada com grandes liberdades) da his- mais uma vez no universo feminino em Porto da Barra, que fazem dos saltos tória de um personagem real, que foi Como esquecer, com Ana Paula Arósio. diários no mar uma válvula de esca- retratado pela primeira vez em um Na trama, a atriz vive Julia, uma pro- pe para a difícil rotina em que vive. livro de Mariana Caltabiano. A pró- fessora de literatura que luta para re- O filme conta com um elenco mirim, pria Mariana também estreia como construir sua vida depois de viver uma preparado em oficinas, além de atores diretora com a adaptação para o cine- intensa e duradoura relação amorosa profissionais como Marcélia Cartaxo, ma de seu livro Histórias reais de um com a enigmática Antônia. Em meio a Luís Miranda, Zéu Britto e Jéssica mentiroso, selecionado para a mostra uma série de conflitos internos da per- Duarte. sonagem, o filme lida abertamente com competitiva de documentários. O fil- No experimental Riscado, do cario- o tema da homossexualidade, tratando me investiga de maneira factual a vida ca Gustavo Pizzi, uma atriz, que vive de forma intensa temas como o amor e e as histórias de Marcelo, utilizando-se de pequenos trabalhos, disputa um a perda. No elenco também estão Mu- de depoimentos, materiais de arquivo papel em uma produção falada em rilo Rosa e Natália Lage. e da repercussão de sua história na imprensa. francês, ao mesmo tempo em que sua A diversidade também é o tema de vida influencia o roteiro do filme em Elvis & Madona, do estreante Marcelo MARGINAIS E ARTISTAS que está atuando. A metalinguagem Laffitte, que conta a história de amor Voltando à ficção, Boca do Lixo, de da ficção chega até a película: os nega- entre uma lésbica e um travesti, inter- Flávio Frederico – diretor do premiado tivos 16mm passaram por um proces- pretados por Simone Spoladore e Igor curta Todo dia todo –, é outra grande so de intervenção, onde riscos, furos e Cotrim. Segundo Laffitte, o filme pre- expectativa. Em uma cuidadosa pro- tinturas permeiam o filme. tende mostrar um outro olhar sobre dução de época, Daniel de Oliveira Fechando a lista de ficções em com- o universo GLBT, e o tom leve, com vive o criminoso Hiroito de Moraes petição está Além da estrada, de Char- elementos de comédia romântica, des- Joanides, conhecido nos anos 60 como ly Braun, cineasta que já percorreu os mistifica o tema polêmico enquanto o Rei da Boca, preso inúmeras vezes principais festivais do país com seus enfatiza as relações cotidianas do ca- e com uma ficha policial de mais de dois curtas, Do mundo não se leva sal. Elvis & Madona foi o único filme 20 metros. Baseado em suas próprias nada (2005) e Quero ser Jack White brasileiro exibido este ano no Tribeca memórias, o filme traça um retrato da (2004). O longa é uma produção total- Film Festival, em Nova York, onde foi vida urbana de São Paulo assim como mente independente, financiada pelo recebido com entusiasmo. de seu submundo – Hiroito dominou próprio diretor e filmada no Uruguai, UM PERSONAGEM PARA DOIS FILMES a área da Boca do Lixo controlando onde dois estrangeiros vivem uma his- Ainda na lista dos estreantes, um o meretrício.