Uma Narrativa Sobre A
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Uma narrativa sobre a RTP COI téc Anarrative on portuguese television RTP intI ain Maria Érica de Oliveira Lima SOl Doutora em Comunicação Social, Universidade Metodista de São Paulo. Membro do Núcleo "Mídia ent Regional ao Global'; sob a coordenação da profa. Anamaria Fadul, Umesp. RT E-mail.·[email protected] pOl cor Resumo tele Relato que apresenta a RTp, grupo estatal português. numa narrativa conceituai construída a exc partir da "demissão em bloco da Directoria de Informação", novembro de 2004. Técnicas: Histórico• da descritiva e bibliográfica. Ogrupo RTP e sua relação com o poder, à imagem enquanto pauta na aC<J mídia portuguesa eainvestigação por parte da Alta Autoridade para aComunicação Social (AACS) cor são alguns dos pontos abordados neste relato de pesquisa. Conclusões: maior conhecimento por parte do receptor, cidadão e contribuinte da RTP e o desfecho do caso por parte da MCS como exercício de uma democracia social e midiática. Cál Palavras-chave: Mídia, Televisão. RTp, Diretoria de Informação, Portugal. Lis Cal Introdução particularidades e complexidades, Pre também nos é distante. ver Escrever um artigo sobre o grupo Sob uma narrativa, tendo como intI de mídia estatal português, RTP, não pano de fundo a RTP e o caso da poi é tarefa fácil. Entender o contexto da demissão em bloco dos jornalistas oel mídia em Portugal, seu histórico, sua José Rodrigues dos Santos, Judite de e a cultura de nascimento e suas Sousa, Miguel Barroso, Manuel da cal' influências políticas e econômicas, Costa e Maria José Nunes, logo após a e: nos faz mergulhar num universo rico o resultado de um concurso interno 19~ e ao mesmo tempo, complexo. para correspondentes no estrangeiro, Em Julho de 2004, por conta da a RTP teve sua imagem estampada efe bolsa concedida pelo Programa nos principais órgãos de imprensa no ton AlBan - Programa de Bolsa de Alto país, desencadeando uma discussão go' Nível da União Europeia para a sobre poder, política, serviço público pri América Latina - na condição de e protecionismo. ten Doutorado Sandwich, na Se! Universidade Fernando Pessoa, na A Televisão em Portugal pnJ cidade do Porto, sob a orientação do RT prof. Dr. Jorge Pedro Sousa foi Enquanto muitos outros países• POI possível atravessar o atlântico, Estados Unidos e Grã-Bretanha a 4 participar de perto desta experiência foram os precursores - avançaratn me e reflexão. Através da história, nas tecnologias, Portugal, em plena pri transformações, evolução, ditadura, "caminhava" a passos eXI perspectivas futuras, podemos dizer lentos nesse rumo. Em 1953 o PO] que a mídia em Portugal, seja ela governo Salazarencarrega Francisco trai impressa, televisiva, radiofônica, Bordado Machado, então (20 publicitária, vem despertando, ao responsável pelo Gabinete de Estudos foi longo dos anos, uma aproximação e Ensaios da Emissora Nacional, de de2 entre os pesquisadores brasileiros, elaborar um relatório, projeto que Ma universidades e centros de pesquisa. conduzisse à instalação de uma pe! Nossa primeira intenção é entender emissora de televisão no país Co este país que pensamos ser tão (CÁDIMA, 1996, p.26). Emjulho de Por próximo, mas por suas 1954 é concluído este relatório, cujo das 90 Maria Érica de Oliveira Lima. Uma narrativa sobre o RTP. Comunicação eInformação, V9, nO 1: pág 90-102 - jan/jun. 2006. conteúdo visa além do caráter técnico, também econômico. A introdução da televisão em Portugal ainda iria caminhar a passos lentos. Somente no final de 1955 surge, então, a escritura dos estatutos da RTP - uma entidade que iria assumir, por decisão governamental, a concessão do serviço público de televisão. O grande detalhe: em T\l exclusividade. Mas toda a estrutura da televisão pública seria acompanhada pelo poder Executivo, com regras muito bem definidas. O pesquisador Francisco Rui Cádima, da Universidade Nova de Lisboa, nos aponta que Marcello Caetano, na época, Ministro da Presidência, foi o responsável a Londres. vencer as resistências de Salazar à Contudo, somente em 1957, as introdução da televisão em Portugal, emissões passam a ser regulares, mas pois ficou com a tarefa de conceber precisamente, em 7 de março. o edificio que deveria ocupar a RTP Enquanto isso, segundo Coelho: e a constituição da Sociedade, de Salazar, o presidente do capitais mistos, que iria compor toda Conselho, pennanece divorciado a estrutura da emissora (CÁDIMA, do novo meio, Marcello Caetano, 1996, pp.27-26). o ministro da Presidência e Ainda a passos lentos, o projeto grande impulsionador da efetivo de uma televisão começou televisão, aproxima-se cada vez tomar forma em 1956. Em 1957 o mais, aproveitando todas as governo autorizou a compra dos virtualidades da televisão para primeiros equipamentos e dos estabelecer com a Nação uma terrenos para a instalação da RTP. 'intimidade' cada vez mais forte Segundo, Pedro Manuel Coelho, as (2003, p. 46). primeiras emissões experimentais da RTP foram de 1956, na Feira Como aponta o pesquisador Rui Popular, Lisboa. A primeira ocorreu Cádima, Marcello Caetano, "grande a 4 de setembro. Até final deste adepto da personalização do poder", mesmo mês, a data em que cessa o compreendeu, desde logo, a força do primeiro bloco de emissões meio e da forma como essa força experimentais a partir da Feira poderia ser utilizada, inclusive, por Popular, foram produzidas 24 interesses contrários ao que o Estado transmissões, em cerca de 50 horas pregava. O ministro da Presidência (2003, p. 46). Essa fase experimental achava a televisão "fortemente foi retomada em 1956, 3 de corruptível e presa fácil de dezembro, jáem estúdios, no Lumiar. aventureiros e charlatões" Mas, como bem lembram os (COELHO, 2003, p. 47)-confissão pesquisadores portugueses em que revela em 1977, três anos depois Comunicação, a televisão em da queda da ditadura e 20 anos sobre Portugal se dá 30 anos após o início o início das emissões regulares. das emissões regulares da BBC de Segundo Coelho, citando o Maria Érica de Oliveira Lima. Uma narrativa sobre o RTP. 91 Comunicação e Informação, V9, nO 1: pág 90-102 - jan/jun. 2006. pesquisador Rui Cádima, o então objetivo era fazer uso de todo o seu ministro na época, Marcello Caetano "saber comunicacional". afirmou que: Estabeleceu com o telespectador uma aliança, "pacto coloquial" Fui o primeiro membro do apontando, a seguinte colocação na governo a utilizar a TV para primeira transmissão: expor o país, em Junho de 1957, problemas de interesse geral. Pareceu-me conveniente que, Não oculto que segui os sobretudo no período que primeiros passos da estamos a viver, houvesse Radiotelevisão Portuguesa com possibilidade de contactos profundo interesse e entusiasmo freqüentes entre os que têm a até. Não imaginava que, anos responsabilidade do poder e o depois, como chefe do governo, comum dos portugueses. (...) Os ela me seria de tanta utilidade actuais meios de comunicação para o estabelecimento de uma permitem conversar directamente corrente de comunicação entre com as pessoas, sem formalismos, mim e o povo português. Mas sem solenidades, sempre que seja sabia, desde o início, que era um julgado oportuno ou necessário. instrumento ideal para o É essa conversa em família que governo se tornar popular ... se vou tentar estabelecer de vez em o merecesse (CÁDIMA, 1996, quando através da rádio e da p.35). televisão (CÁDIMA, 1996. 213). A história em Portugal revela muito bem o conhecimento do então Foi esse o panorama de ministro Marcello Caetano com nascimento e desenvolvimento da relação a TV. Em 7 de setembro de RTP. O grupo carrega esta marca 1968, após a "'queda' de Salazar histórica que vai contribuir para da 'cadeira', na residência de Verão sua condição ao longo dos anos. do Presidente do Conselho, no Estoril" (COELHO, 2003, p. 47), Para entender a RTP o então ministro o sucede, Raio X do grupo estatal português nüturalmente, ao poder. E ao contrário do que pensava o Criação da holding Rádio e antecessor - pois se dizia que não Televisão de Portugal SGPS. era bom orador, portanto, difícil Para além das funções de holding manter uma comunicação com o (controlo e serviços de suporte), país através da televisão - o comuns a todo o grupo, a Rádio Presidente Marcello Caetano não e Televisão de Portugal SGPS só utilizava a televisão para seus gere 4 áreas operacionais: pronunciamentos, "diálogo cara a Rádio e Televisão de Portugal cara", como também colocou a (RTP) - RTP 1, a dois, RTP televisão ao serviço do governo. Açores, RTP-Madeira, RTP A televisão em Portugal, sob o Internacional, RTP-África, domínio do governo Marcello RTPN, RTP Memória. Caetano, vai tomando forma. O Radiodifusão Portuguesa pesquisador Rui Cádima aponta (RDP): Antena 1, Antena 2, que em 1969 é o ano "em que a Antena 3, RDP Internacional, informação televisiva se centrará RDP África, RDP Açores, RDP na figura televisiva de Marcello Madeira. Caetano". Começou o programa RTP - Meios de Produção; "Conversas em Família", cujo MediaParque. 92 Maria Érica de Oliveira Lima. Uma narrativa sobre o RTP. Comunicação e Informação, V 9, nO 1: pág 90-102 - jan/jun. 2006. Cenas do próximo capítulo BARROSO, 2004, p. 53). A colocação do correspondente Desde o dia 15 de novembro de estrangeiro fez parte de um concurso 2004 até O1 de dezembro de 2005 realizado pela RTP para atribuição foram dias tumultuados para o grupo de lugares em algumas delegações, de mídia RTP. A Direcção de tais como: Madrid, Guiné-Bissau e Informação anunciou no dia 15/11 Moçambique. Na época, o júri do um comunicado oficializando a concurso foi presidido por Rodrigues demissão em bloco. A partir da dos Santos, que teve sua decisão divulgação, a notícia começou a alterada pelo CA da empresa pública. circular e no dia seguinte tomou-se De acordo com os trâmites principal manchete nos jornais de internos da própria RTP, após uma Portugal. demissão o nome de substituição Em princípio da noite do próprio depende de um parecer da Alta dia 15/11 foi confirmada pelo grupo Autoridade para a Comunicação de mídia RTP a demissão da Social (AACS), neste exemplo, Direcção, nas quais não foram dadas exigiu tempo oportuno para a as justificativas para o sucedido.