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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS, AMBIENTAIS E BIOLÓGICAS

A FAUNA DE PEIXES DO RIO JAGUARIPE, BAHIA, NA VISÃO DE PESCADORES ARTESANAIS

DALILA COSTA DANTAS

Bacharel em Biologia

CRUZ DAS ALMAS BAHIA - BRASIL 2018 DALILA COSTA DANTAS

A FAUNA DE PEIXES DO RIO JAGUARIPE, BAHIA, NA VISÃO DE PESCADORES ARTESANAIS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, como parte das exigências do Curso de Graduação de Bacharelado em Biologia, para obtenção do título de Bacharel em Biologia.

Orientadora: Dra. Soraia Barreto Aguiar Fonteles Co-orientadora: Dra. Gislaine Guidelli

CRUZ DAS ALMAS BAHIA - BRASIL 2018

AGRADECIMENTOS

Primeiramente e antes de tudo, agradeço a Deus por ter me permitido a vida. Se não fosse por Ele, não teria conseguido chegar até aqui e foi quem me manteve todos os dias, mesmo naqueles em que minha fé parecia ter falhado. Agradeço também à Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) - campus de Cruz das Almas e ao Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas (CCAAB), por fornecerem a estrutura e o suporte necessários para essa formação. A minha gratidão e o meu muito obrigada à Doutora Gislaine Guidelli, por me acolher em seu laboratório e ter sido a melhor orientadora que poderia conhecer, por todas as horas dedicadas a mim, apoio, conselhos e por ter sido uma amiga nas horas difíceis, quase uma segunda mãe. Também sou muito grata a minha orientadora Doutora Soraia Fonteles, pelo acolhimento em um momento bem difícil da minha caminhada e por ter me recebido de braços abertos, pela sua paciência e bom humor em atender aos meus pedidos, sempre com um sorriso no rosto. O meu muito obrigada a toda a equipe do Laboratório de Estudos da Ictiofauna e aos amigos que contribuíram para essa pesquisa, a todos vocês os meus mais sinceros agradecimentos. Às colônias de pescadores dos municípios de Nazaré e Jaguaripe, Bahia, também agradeço pelo apoio e por terem contribuído para que minha pesquisa pudesse se desenvolver e acontecer, em especial para Jaguaripe, onde fui acolhida com tanto carinho e disponibilidade. Inclusive, meus sinceros agradecimentos aos pescadores que doaram um pouco do seu tempo e conhecimento para que este trabalho fosse desenvolvido, sem vocês nada seria possível. O meu mais especial agradecimento vai para minha família que me apoiou em todos os momentos possíveis. Sem eles essa pesquisa nem teria sido desenvolvida. Agradeço meu pai, Pericio, por todo incentivo, pelas caronas e por todo resto, “mãinha”, Valfrides, pela força, coragem, companhia, otimismo quando tudo parecia perdido e queria desistir. Ao meu irmão, Derlour, por me ajudar de sua maneira bem sutil e única. Ao meu afilhado, Caio, por me fazer rir nos momentos que queria chorar e largar tudo, enfim aos familiares e amigos que contribuíram para que essa etapa chegasse ao fim.

RESUMO

DALILA COSTA DANTAS, Bacharel em Biologia, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Março de 2018. A fauna de peixes do rio Jaguaripe, Bahia, na visão de pescadores artesanais. Orientadora: Dra. Soraia Barreto Aguiar Fonteles. Co-orientadora: Dra. Gislaine Guidelli.

A etnoictiologia é um ramo da etnobiologia, ciência que se ocupa em estudar a percepção da natureza e de seus componentes pelo homem. O conjunto de dados obtido deste conhecimento tradicional a respeito dos peixes tem sido comparado com informações científicas disponíveis na literatura e tem-se verificado concordância consistente entre eles. O estudo da etnobiologia é, muitas vezes, aliado com a ciência da etnoecologia que enfoca na investigação do homem e sua inserção nos ecossistemas. Por isso, o conhecimento tradicional também é considerado uma forma de amparar estratégias de manejo da pesca e estratégias conservacionistas. O presente trabalho visa analisar o conhecimento tradicional de pescadores dos Municípios de Nazaré e Jaguaripe, Bahia, que realizam pesca no rio Jaguaripe, acerca da fauna de peixes desse rio e de alguns aspectos de sua biologia, ecologia e parasitologia. Para a coleta de dados, foram realizadas entrevistas por meio de um questionário semiestruturado. Ao todo foram entrevistados 27 pescadores, sendo 9 pertencentes à Colônia de Pescadores e Aquicultores Z09 do Município de Nazaré e 18 à Colônia de Pescadores e Aquicultores Z-36 do Município de Jaguaripe. Os dados coletados encontram-se depositados no Laboratório de Estudos da Ictiofauna, no Setor de Ciências Biológicas Prof. Elinsmar Adorno da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, onde foram analisados quali e quantitativamente. Os resultados obtidos de ambas as regiões apontam para amplo conhecimento popular sobre os peixes, sobre sua classificação e biologia. Como hipotetizado, houve maior quantidade de informações e rico saber tradicional sobre as espécies mais abundantes e mais importantes para a pesca na região. Concordando ainda com nossas hipóteses foi também verificado um maior conhecimento sobre aspectos mais básicos da vida dos peixes e passíveis de visualização, principalmente alimentação. Confirmou-se a elevada importância e total consistência cultural do robalo para a população estudada. Outras duas espécies, o xaréu e a pescada, figuram entre as espécies importantes. A carapeba também esteve entre as espécies mais lembradas quanto ao uso durante as entrevistas, porém, com mais baixa porcentagem de concordância quanto aos usos principais. A ocorrência do parasitismo foi descrita com frequência por quase todos os pescadores participantes. Os aspectos morfológicos, como a forma do corpo, são usados para a identificação dos parasitas, baseada em semelhanças com outros grupos de animais ou com parasitas de humanos e outros animais de criação. A existência de prejuízos para o peixe em decorrência do parasitismo e os ciclos de vida de parasitas foram descritos com menor detalhamento ou não relatados. Os voluntários desta pesquisa não consideram a possibilidade de parasitas de peixes causarem doenças em humanos. Conclui-se que o conhecimento tradicional de pescadores artesanais sobre os peixes, a biologia desses animais e sua ecologia em ambas as regiões é bastante rico, porém, restrito a espécies comerciais, de valor cultural ou alimentar.

Palavras-chave: Etnobiologia, Etnoecologia, Etnoictiologia, Ictioparasitismo, Recôncavo Sul

ABSTRACT

DALILA COSTA DANTAS, Bachelor of Biology, Federal University of the Recôncavo of Bahia, March 2018. The fish fauna from Jaguaripe River, Bahia, under the view of artisanal fishermen. Advisor: Dra. Soraia Barreto Aguiar Fonteles. Co-advisor: Gislaine Guidelli.

Ethnoichhtyology is a branch of ethnobiology, a science that deals with the study of the perception of nature and its components by man. The dataset obtained from this traditional knowledge about fish has been compared with scientific information available in the literature and there has been consistent agreement among them. The study of ethnobiology is often allied with the science of ethnoecology that focuses on the investigation of man and its insertion into ecosystems. Therefore, traditional knowledge is also considered as a way to support fishing management strategies and conservation strategies. The present work aims to analyze the traditional knowledge of fishermen of the Municipalities of Nazaré and Jaguaripe, Bahia, who fish in the Jaguaripe River, about the fish fauna and some aspects of its biology, ecology and parasitology. For data collection, interviews were conducted through a semistructured questionnaire. A total of 27 fishermen were interviewed, 9 belonging to the Colônia de Pescadores e Aquicultores Z09 of the Nazaré town and 18 to the Colônia de Pescadores e Aquicultores Z-36 of the Jaguaripe town, Bahia. The collected data are deposited in the Laboratory of Studies of Ichthyofauna, in the Sector of Biological Sciences Prof. Elinsmar Adorno of the Federal University of the Recôncavo da Bahia, where they were analyzed, qualitatively and quantitatively. The results obtained from both regions point to wide popular knowledge about the fish, their classification and biology. As hypothesized, there was more information and rich traditional knowledge about the most abundant and important species for fishing in the region. Agreeing also with our hypotheses was also verified a greater knowledge on more basic aspects of the fish´s life and possible of visualization, mainly feeding habits. It was confirmed the high importance and total cultural consistency of sea bass for the studied population. Two other species, jack and weakfish, are also among the important species. Mojarra was also among the most remembered species for use during the interviews, but with a lower percentage of agreement on the main uses. The occurrence of parasitism was frequently described by almost all fishermen involved. Morphological aspects, such as body shape, are used for the identification of the parasites, based on similarities with other groups of animals or with parasites of humans and other farmed animals. The existence of losses to the fish due to the parasitism and the life cycles of parasites were described with less detail or not reported. The volunteers of this research do not consider the possibility of fish parasites causing diseases in humans. It is concluded that the traditional knowledge of fishermen about fish, the biology of these animals and their ecology in both regions is quite rich, but restricted to commercial species of cultural or food value.

Keywords: Ethnobiology, Ethnoecology, Ethnoichthyology, Ichthyoparasitism, Recôncavo Sul

ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO ...... 7 2. REVISÃO DE LITERATURA ...... 9 2.1. As sociedades humanas e o seu conhecimento sobre a Biologia ...... 9 2.2. A ciência Etnoictiologia no Brasil ...... 11 2.3. O conhecimento etnoecológico com ênfase nas relações parasitárias ...... 15 3. JUSTIFICATIVA ...... 17 4. HIPÓTESES ...... 19 5. OBJETIVOS ...... 20 5.1. Objetivo geral ...... 20 5.2. Objetivos específicos ...... 20 6. MATERIAL E MÉTODOS ...... 21 6.1. Área de estudo ...... 21 6.2. Obtenção dos dados etnoictiológicos ...... 22 6.3. Análise dos dados ...... 24 7. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...... 26 7.1. O conhecimento tradicional sobre taxonomia de peixes do rio Jaguaripe ...... 26 7.1.1. Etnocaracteres usados na identificação dos peixes ...... 26 7.1.2. Taxonomia dos peixes ...... 32 7.2. Percepções sobre a introdução de espécies de peixes no rio Jaguaripe ...... 37 7.3. Etnoecologia da fauna íctica ...... 40 7.3.1. Dieta e hábitos alimentares ...... 40 7.3.2. Reprodução ...... 43 7.3.3. Habitat ...... 45 7.4. O parasitismo sob a luz do etnoconhecimento ...... 46 7.4.1. Região de Nazaré ...... 46 7.4.2. Região de Jaguaripe ...... 47 7.4.2.1. Ocorrência e identificação dos parasitas ...... 47 7.4.2.2. Interações peixes-parasitas ...... 52 7.4.2.3. Ciclo de vida dos parasitas ...... 53 7.4.2.4. Zoonoses ...... 54 8. CONCLUSÕES ...... 55 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...... 56 ANEXOS ...... 67

1. INTRODUÇÃO

A etnobiologia é um ramo da ciência que estuda a diversidade e processos biológicos nas percepções culturais sobre a interação do homem com a natureza e o modo pelo qual estas percepções são organizadas por meio da linguagem (POSEY, 1987). A importância, utilização e forma de se relacionar dos animais dependem dos diferentes grupos humanos, o que está atrelado à suas características culturais. Por exemplo, a percepção, os valores e os usos de um mamífero ou de um peixe por parte de um asiático, difere daquelas do europeu. A união e a investigação de todos esses conceitos referentes aos animais compõem um campo da etnobiologia, denominado etnozoologia, que possui diferentes ramificações (SANTOS-FITA e COSTA-NETO, 2007). Os peixes ósseos representam o maior grupo dos vertebrados, estando distribuídos em duas classes atuais: Sarcopterygii e Actinopterygii (NELSON, 2006). Esta última é composta por 26.891 espécies válidas, correspondendo a 49,2% do total de Craniata viventes (SHIBATTA e BENEDITO, 2015). A ictiofauna do Brasil inclui 2.587 espécies exclusivamente de água doce (BUCKUP et al., 2007) e 1.298 espécies marinhas (MENEZES et al., 2003). Entretanto, os dados sobre a diversidade desta fauna permanecem em constante construção e, por conseguinte, é previsível que a riqueza total seja muito maior (BRASIL, 2016a). Anualmente, várias espécies de peixes são descritas no Brasil (LANGEANI et al., 2007), enriquecendo o conhecimento ictiológico. Segundo Nelson (2006) o número de novas espécies de peixes descritas a cada ano supera o de novos tetrápodes. De acordo com Shibatta e Benedito (2015), apesar do grande avanço da taxonomia ictiológica nos últimos 20 anos, o ritmo de degradação ambiental no Brasil sobrepõe a velocidade das pesquisas. Assim, muitas espécies podem se tornar extintas, antes mesmo de serem conhecidas pela ciência. Os peixes são explorados de acordo com os padrões culturais de uma determinada comunidade. O conhecimento, uso e significado da ictiofauna nas distintas sociedades humanas é o objeto de estudo da etnoictiologia, a qual Corneta (2008) define como “a investigação da compreensão da interação do homem com os recursos ícticos, abrangendo-se os aspectos tanto cognitivos quanto comportamentais”. O etnoconhecimento é de grande utilidade nesse campo da zoologia, pois é um ponto inicial no desenvolvimento de estratégias conservacionistas, pautadas no tripé academia-comunidade local-meio natural (SAIKI, 2008; BARROS, 2012). Segundo Clauzet et al. (2007), devido à íntima relação dos pescadores artesanais com o ambiente aquático e seus organismos, estes guardam um conhecimento tradicional exclusivo 7 e abundante sobre a classificação, ecologia e biologia de peixes que é transmitida por gerações e que, geralmente, coincide com o conhecimento científico sobre o tema. Por exemplo, segundo Benevides et al. (2011), os pescadores classificam os peixes em grupos formados por semelhanças ou diferenças, na maioria das vezes através de características morfológicas, o que representa um conhecimento etnotaxonômico. Inúmeras pesquisas realizadas no Brasil, algumas delas em comunidades de pescadores no nordeste e norte do país, corroboram essa afirmação (COSTA-NETO e MARQUES, 2000; MOURÃO e NORDI, 2003; BARBOZA e PEZZUTI, 2011). A informação é comparativamente mais escassa no que se refere a ambientes de água doce. A interação entre academia e pescadores locais é, portanto, bastante útil no sentido de se obter informações sobre a fauna de peixes de uma determinada localidade, incluindo-se fatores que representam pressão sobre a fauna de peixes. Assim, esta proposta de trabalho tem como objetivo interagir com pescadores artesanais do Município de Nazaré e Jaguaripe, Bahia, visando iniciar estudos acerca de seu conhecimento tradicional sobre taxonomia, biologia e ecologia de peixes, enfatizando o conhecimento etnoecológico nas relações parasitárias, representando uma das poucas pesquisas de etnoictiologia em ambientes dulcícolas e estuarinos.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. As sociedades humanas e o seu conhecimento sobre a Biologia A etnobiologia surge como elemento de investigação de antropólogos no começo do século XIX, quando aqueles pesquisadores buscavam entender os indígenas das Américas e também suas formas de se relacionarem com a natureza. Por essa razão, uma das primeiras definições sobre o termo etnobiologia é proveniente de um norte-americano antropólogo denominado Darrel Posey. O cientista publicou, em 1945, a obra Suma Etnológica Brasileira que definia esta ciência como a disciplina que se ocupa em compreender quais são os conhecimentos e as avaliações desenvolvidas em distintas sociedades acerca da biologia. Agregado ao conceito do termo existe sua relação objetiva com a ecologia humana, ressaltando as divisões e apreciações cognitivas da categoria em análise (POSEY, 1987). O prefixo etno apresenta diferentes conceitos de autores distintos, mas, de um modo simplificado, Martin (2001) define como a percepção de um povo. Portanto, todas as vezes em que for utilizado esse prefixo antes de uma matéria clássica como a biologia, significa que os cientistas procuram compreender qual a assimilação de determinado povo sobre um assunto em especifico do meio científico e/ou cultural. A etnobiologia apresenta como seu objetivo principal estabelecer uma relação entre todos os ramos da biologia com as assimilações, convicções e rotulações oriundas de populações que, na maior parte dos casos, possuem percepções de existência e universo distintas das definidas pelo saber científico (ROCHA-COELHO, 2017). Com base em Rocha- Coelho (2017) e na conceituação dessa ciência, fica evidente que a mesma pertence a um ramo interdisciplinar de maneira que, para se desenvolver uma visão cientifica, é preciso dialogar com as ciências sociais e suas técnicas. O ser humano possui diferentes modos de se relacionar com o ambiente natural e seus recursos; por isso e pelas variadas vertentes da Biologia, a etnobiologia também se subdivide em diversos campos, como alguns exemplos: etnobotânica, etnofarmacologia, etnozoologia (ROCHA-COELHO, 2017). As etnociências são abrangentes e inúmeras. Mas dentre elas, a pioneira e que apresenta um número imensurável de pesquisas já concluídas é a etnobotânica (definida como a investigação das interligações entre determinadas sociedades e as plantas, adicionando o objeto cultural para maximizar a interpretação eficaz), enfatizando que a maioria se concentra no ramo de plantas medicinais. Entretanto, as probabilidades de estudos existentes nessa área 9 da botânica são abundantes, pois a matéria prima vegetal pode ter sua utilização para o homem em campos como madeireiro, alimentício, vestuário, ritualístico, dentre outros (ALBUQUERQUE, 2005). A etnofarmacologia em uma descrição ampla é conceituada atualmente como uma análise multidisciplinar/interdisciplinar da atuação fisiológica de animais, plantas e outros elementos utilizados na medicina tradicional pelas diferentes sociedades humanas (ELISABETSKY, 2003). O grande número de pesquisas publicadas nessa área tem como enfoque a vegetação e quais as consequências biológicas e farmacológicas de sua utilização, baseada nos valores designados em eventos internacionais, assim como na observação e no estudo de experimentos sobre o efeito biológico de substâncias presentes nas plantas por meio de abordagens oriundas da etnobotânica, etnoquímica, farmacologia e da toxicologia (DI STASI, 2005). Segundo Marques (2002), a etnozoologia se enquadra como uma área pluridisciplinar das convicções e compreensões, crenças, dos valores afetivos e das ações que permeiam o relacionamento entre as sociedades humanas com diferentes grupos de animais presentes em diversos ecossistemas. Complementando esse conceito, com base em Santos-Fita e Costa-Neto (2007), os animais apresentam relevância, usos, se relacionam e são estudados de modo distinto para cada civilização. Com base nos autores, a ciência não obteve o sucesso da etnobotânica que foi amplamente estabilizada e divulgada; no Brasil, por exemplo, as publicações em etnozoologia são escassas e uma das explicações reside na ausência de subsídios descritivos e essenciais sobre a fauna brasileira, adicionado a isso uma amostragem reduzida. Os animais se enquadram em grupos zoológicos distintos e, em razão disso, a ciência etnozoologia experimenta fragmentações para as diferentes categorias, assim como a própria zoologia. Entre essas classificações se encaixam os peixes, um grupo bastante diverso e abundante que é explorado com base nos padrões culturais de determinada sociedade. O modo como as comunidades humanas irão conhecer, utilizar e quais significados vão associar aos peixes é o elemento de estudo da etnoictiologia, a qual possui como descrição a apuração da percepção de convívio do homem com os recursos ícticos, abordando os fatos tanto intelectuais quanto as atitudes (CORNETA, 2008). O etnoconhecimento é considerado de amplo proveito, pois é a primeira etapa para se desenvolver táticas conservacionistas e também essencial durante o seu percurso (SANTOS et al., 2014). Devido ao convívio dos ribeirinhos com o ecossistema aquático e seus componentes, há um saber tradicional específico e abundante sobre classificação, ecologia e biologia de peixes 10 que é transmitida por gerações e que costuma coincidir com o conhecimento científico sobre o tema (CLAUZET et al., 2007). Conforme Barros (2012) a integração desses dois tipos de conhecimento humano é de extrema importância na construção de planos de manejo de forma compartilhada, valorizando o conhecimento local, desenvolvendo espírito de corresponsabilidade na gestão dos recursos. Pesquisas etnoictiológicas foram realizados no Brasil, muitas em comunidades de pescadores da Bahia, como o trabalho de Costa-Neto e Marques (2000). No entanto, o referencial é mais reduzido no que se refere ao ambiente de água doce, considerando a extensão da costa baiana.

2.2. A ciência Etnoictiologia no Brasil No Brasil, os estudos com enfoques etnoictiológicos foram iniciados na década de 70 pelo antropólogo Tullio Persio Maranhão, que pesquisou um grupo de pescadores do litoral cearense (MARANHÃO, 1975). Por essa razão, na década de 80 é que foram feitos os primeiros trabalhos nessa área, com ênfase para Silva (1988) que descreveu o modo como os pescadores realizam a classificação dos seres vivos, através de uma comparação com os diversos tipos de saberes. No Brasil, a maior parte das pesquisas em etnoictiologia é concentrada no Nordeste e no Sudeste, apesar de existirem registros de trabalhos em várias outras localidades (Figura 1). A figura 1 evidencia que quantidade significativa de pesquisas são desenvolvidas em locais ou regiões litorâneos, apesar de rios e bacias brasileiros formarem, segundo o Portal Brasil, uma das maiores redes fluviais do mundo (BRASIL, 2014). Regiões de extensas bacias hidrográficas, como a Bacia Amazônica, a mais extensa do mundo, com área de 7.008.370 km2, e a Bacia Tocantins-Araguaia de 967.059 km² (BRASIL, 2014), ainda carecem de maior integração entre conhecimento científico e conhecimento tradicional na forma de artigos científicos publicados. Alguns estudos que se destacam na região Norte do Brasil são o de Lima e Batista (2012) na Amazônia Central (Manaus e Manacapuru - AM), o de Silva e Braga (2017) na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns e de Barboza e Pezzuti (2011), ambos no Pará, o estudo de Silvano et al. (2009) no Baixo rio Tocantins (TO) e de Doria et al. (2008) (AM). No Pantanal Mato-grossense, destaca-se o trabalho de Oliveira e Silva (2013), que demonstrou conhecimento ictiológico tradicional não centralizado, mas distribuído entre os pescadores em Cáceres (MT). No Nordeste, trabalhos foram realizados por Marques (1991) em Alagoas, com a 11 comunidade de pescadores do Complexo Lagunar Mundaú-Manguaba e por Souto e Marques (2010) em Manguezal de Acupe, Santo Amaro, Bahia. Moura e Marques (2007) e Moura et al. (2008), enfatizaram a escassez de dados científicos também na região da Chapada Diamantina, Bahia, a despeito da elevada importância ecológica dessa área. Outras pesquisas, de igual relevância, foram realizadas no litoral Sudeste, sobretudo na Ilha de Búzios e Baía de Sepetiba (RJ), por Begossi e Figueiredo (1995), Begossi (1996) e Paz e Begossi (1996).

Figura 1 – Distribuição geográfica de algumas publicações, com diferentes abordagens sobre a Etnoictiologia no Brasil entre 1975 e 2017. Foram considerados apenas artigos completos publicados. Artigos que não indicam uma localidade específica, que tratam de toda a extensão do território brasileiro ou de toda a faixa litorânea do país, tais como Diegues (1999), foram omitidos da figura. Fonte: Elaborado pela autora.

A distribuição geográfica dos estudos etnoictiológicos em solo brasileiro possui ainda diferentes abordagens. Diegues (1999; 2001), fez uma abordagem importante para a antropologia usando dados da costa brasileira como um todo. Com base em Rocha et al. (2012) é possível afirmar a importância dos ecossistemas de mangue para inúmeras espécies marinhas e de água doce, que servem para complementar o sustento de muitas famílias ribeirinhas e costeiras no Ceará. Os 12 autores demonstram também o importante papel de mulheres na pesca e reforça a necessidade de políticas públicas para questões de gênero. O estudo de Doria et al. (2008), por outro lado, teve um objetivo menos exploratório/descritivo e mais aplicado com seus estudos etnoictiológicos: minimizar ou sanar conflitos pesqueiros entre pescadores e órgãos gestores quanto ao período oficial de defeso reprodutivo na região do Guaporé, Amazônia Brasileira (AM). Outra pesquisa, realizada no Estado de São Paulo, aborda o etnoconhecimento para relatar os efeitos de um dos principais riscos para a diversidade biológica na atualidade: a introdução de espécies de peixes exóticos (SAZIMA, 2007). Nessa investigação, analisou-se dados de desembarque pesqueiro nas águas do rio Tietê, comprovando-se que existem espécies exóticas dominando a fauna de espécies nativas, ocasionando uma preocupação com os possíveis efeitos dessa introdução e demais práticas humanas na região (SAZIMA, 2007). Assim, a etnoictiologia pode ser usada como ferramenta para ajudar a explicar o declínio da ictiofauna de uma localidade devido à introdução de espécies exóticas. O levantamento feito por Rosa (2014) no estado do Rio Grande do Norte, corroborou essa hipótese ao analisar os questionários dos pescadores locais confrontando as respostas com a literatura científica. A etologia da ictiofauna, por exemplo, os comportamentos reprodutivos ou de fuga, são descritos por pescadores em diversas regiões como na Chapada Diamantina (MOURA et al., 2008) e no município do Conde (COSTA-NETO e MARQUES, 2000), ambos na Bahia, revelando uma ampla sabedoria por parte dos trabalhadores em conhecer os hábitos dos peixes de sua região. Mourão e Nordi (2003), estudando comunidade de pescadores na Paraíba, destacaram que esses possuem detalhado conhecimento sobre alguns peixes. Sabem dos hábitos alimentares, reprodutivos, habitats, interações tróficas, entre outros. Um exemplo é o relato de peixes “que comem de tudo” que são os oportunistas ou ainda peixes “que chocam na boca” representando o cuidado parental. São abundantes as informações obtidas pela prática do convívio diário com a pesca, logo é imprescindível que essa cultura seja preservada e respeitada pelo seu devido valor. Esse conhecimento prático do ambiente é aplicado em várias situações da vida cotidiana. No caso dos peixes, além dos usos na alimentação e recreação, muitos ribeirinhos relatam um valor medicinal para curar algumas enfermidades, o que se denomina zooterapia, tal como verificado por Andrade e Costa-Neto (2005) na Bahia. Esse conhecimento, segundo os autores, é fundamentado na cultura local e pode despertar o interesse para pesquisadores 13 estudarem a veracidade ou aplicabilidade de tal conhecimento. Para Riva et al. (2010), na planície alagável do rio Paraná existem pescadores que conhecem os peixes e o ambiente no qual vivem; logo o saber empírico, por vezes, é coincidente com o científico, mesmo que essas pessoas possam ser carentes de escolaridade. Isto confirma a importância da vivência na compreensão das questões ambientais. Alguns conhecimentos podem ainda levantar hipóteses sobre aspectos não existentes em literatura científica que dizem respeito aos peixes de uma determinada região, como observou Nunes (2010). Segundo Pinheiro (2004), o conhecimento prático referente à ictiofauna de uma população ribeirinha no estado de Santa Catarina é considerado amplo e se alia ao senso de conservação para o ambiente aquático, pois existe uma vasta compreensão, por parte dos que vivem da pesca, da necessidade de uso sustentável dos recursos. Nunes et al. (2011) destacam, ainda, a necessidade de se levar em conta diferenças culturais entre comunidades de uma mesma região para a preservação da diversidade biológica e manutenção das atividades de exploração, uma vez que encontraram diferenças no conhecimento ecológico local entre duas comunidades pesqueiras no litoral de Santa Catarina. Os autores destacam ainda, a importância do saber popular para o desenvolvimento científico, pois durante seus estudos foram geradas novas informações sobre a reprodução e alimentação de uma espécie de peixe e foram geradas hipóteses para estudos futuros. Assim, os pescadores artesanais, levando-se em consideração todo tipo de variável, podem contribuir de uma maneira significativa para o conhecimento científico, pois, suas observações para a atividade pesqueira geram dados sobre comportamento, ecologia, fisiologia e dentre outros. Com uma breve pesquisa na literatura é possível perceber a escassez que existe em estudos zoológicos da fauna na Bahia, notoriamente sobre os peixes que a compõe. Em um estudo feito por Burger et al. (2011) foram analisadas 16 drenagens da Bacia do Recôncavo Sul com 79 pontos de coleta, usando diferentes aparatos de pesca. Nos resultados foram registradas 41 espécies de peixes de água doce, sendo pertencentes a 6 ordens,12 famílias e 28 gêneros. Dentre esses existem espécies das famílias Characidae e Loricariidae que são esperados para a região, mas também oriundas de lugares bem diferentes como a bacia amazônica ou africanas. De acordo com os autores existem espécies que, até então, não haviam sido descritas, bem como novas descobertas que precisam de uma melhor análise. Os limites relatados para distribuição de alguns gêneros eram desconhecidos, assim como alguns peixes neotropicais esperados não estavam presentes. Algumas endemias foram mencionadas e uma suspeita da descrição de uma nova espécie. A destruição do habitat com o desmatamento da mata ciliar, emissão do esgoto 14 diretamente nos rios e depósitos de lixos nas drenagens, ocorre em toda a bacia. Mas além desses fatores a introdução de espécies exóticas causa imensos prejuízos e ameaças para os espécimes nativas. O trabalho de Burger et al. (2011) salienta a importância da preservação e conservação das águas, pelo esclarecimento sobre sua ictiofauna. Todos os aspectos abordados nessas pesquisas, tais como a pesca predatória, o represamento e assoreamento dos rios, desmatamento da vegetação ciliar e introdução de espécies exóticas que causam diminuição drástica nos recursos pesqueiros, influenciam no modo de vida e cotidiano dos pescadores artesanais e ameaçam tanto a atividade de pesca quanto a transmissão do rico conhecimento, passado de geração a geração (COSTA-NETO et al., 2002). Nesse sentido, a etnoictiologia visa não somente auxiliar no enriquecimento desse conjunto de conhecimentos ainda em crescimento, mas também atuar de forma efetiva e prática juntamente à população ribeirinha, buscando alternativas sustentáveis para a manutenção da relação homem-ambiente.

2.3. O conhecimento etnoecológico com ênfase nas relações parasitárias De acordo com Ramires (2006) a etnoecologia tem grande importância ao impulsionar um estímulo para comprovação das informações de pescadores que não constam na pesquisa científica, além de propor um auxílio para conservação da diversidade ictiofaunística e proporcionar uma interação entre os saberes popular e o da academia. No caso dos parasitas de peixes, averiguar o conhecimento popular a respeito deles, tem ainda um papel fundamental na conscientização sobre zoonoses e cuidados na captura e consumo do pescado, além de ser fonte de levantamento de dados voltados à saúde pública. A maior parte dos estudos sobre conhecimento tradicional de pescadores a respeito dos parasitas de peixes na literatura, quando surgem, são na forma de informações complementares, como no trabalho de Barboza (2006). A etnoparasitologia é considerada uma ciência relativamente nova - foi sugerida pela primeira vez por Gurgel-Gonçalves et al. (2007) - e se encontra dentro da etnobiologia, relacionando-se diretamente com a etnoecologia, uma vez que, por definição, o parasitismo é considerado uma das relações ecológicas entre seres vivos. Nessa área de pesquisa se estuda o conhecimento tradicional sobre a biologia dos parasitos e o modo como as populações humanas compreendem as doenças parasitárias (GURGEL-GONÇALVES et al., 2007). O estudo etnocientífico dos saberes populares, nesse caso em especifico, é importante de ser estudado, documentado e usado como forma de diminuir o percurso da investigação 15 científica que tem em sua finalidade aprender novas técnicas para lidar com as parasitoses e suas maneiras de controle, amparando inovações inclusive nas técnicas médicas (GURGEL- GONÇALVES et al., 2007). A maior parte dos estudos no campo da etnoparasitologia se concentra na área médica, principalmente no que se refere às enfermidades causadas pelos animais invertebrados, como o estudo de Cansi et al. (2012). Os parasitas de peixes comumente descritos por pescadores são os crustáceos isópodes e copépodes, nematoides e alguns platelmintos. Os crustáceos são parasitas comuns na cavidade bucal e branquial de inúmeras espécies de peixes, os nematoides e platelmintos são parasitas intestinais, cujas larvas também costumam ser encontradas encistadas na carne (musculatura esquelética) e órgãos internos, causam extrema repulsa e recusa à comercialização (PAVANELLI et al., 2013). As larvas de Nematoda encontradas nos peixes são, geralmente, parasitas de outros peixes piscívoros ou de outros vertebrados, tais como aves e mamíferos predadores aquáticos (SANTOS et al., 2013). Uma pequena parcela de pesquisadores busca entender a etnoictioparasitologia, que se refere a uma união do conceito da etnoparasitologia com a ictiologia, ou seja, compreensão dos parasitas de um grupo específico, que são os peixes, pelas diferentes comunidades. Nessa vertente se pesquisa como os pescadores percebem a saúde do peixe, como por exemplo, classificando-os como doentes ou se apresentam “bichos” diferentes em seu corpo (PORTUGAL et al., 2008). Isso acontece, pois os que vivem da pesca possuem curiosidades a respeito da ecologia do peixe, sendo que para maioria deles os parasitas fazem parte do ambiente e não causam mal. Entretanto, outros como Pantoja et al. (2015) preferiram investigar com intuito de descobrir se os ditos “vermes” podem ou não ser prejudicais ao consumo e comercialização.

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3. JUSTIFICATIVA

A Bahia possui uma lacuna de pesquisas referentes à ictiofauna e sua ecologia, especialmente em ambientes dulcícolas e estuarinos. De forma exemplificada, o rio Jaguaripe apresenta uma escassez de conhecimento no que se refere ao estudo de sua ictiofauna (BURGER et al., 2011) e nenhum artigo publicado sobre os variados aspectos do peixe, com base na percepção de pescadores e/ou ribeirinhos. Uma possível explicação é a de que na região do Recôncavo Sul da Bahia existem poucos grupos de trabalho no campo da etnobiologia, especificamente voltados para a fauna íctica. Como exemplo de estudo publicado pode-se citar Silva et al. (2014). Por outro lado, os estudos referentes à etnoecologia de peixes são inexistentes na região. É evidente que a etnoictiologia e etnoecologia são ciências relativamente novas no Brasil e no mundo. O presente trabalho justifica-se, primeiramente, pela necessidade de se ampliar a área do conhecimento no país e na região em especial. Justifica-se ainda pela constância/estabilidade do conhecimento tradicional dos pescadores artesanais sobre variados aspectos do peixe, uma vez que o convívio diário desses com o ambiente, os faz perceber padrões e processos que podem passar despercebidos por pesquisas acadêmicas. Um trabalho para conhecimento faunístico acadêmico pode demorar anos para ser concluído e, talvez, algumas espécies já tenham inclusive sido extintas. Por outro lado, diálogos com pescadores, que já convivem há muitos anos com a realidade do local, permitem perceber as pressões sobre determinadas espécies que, por vezes, é apontada como em risco de desaparecer. É possível ainda conscientizar sobre as pressões sobre a biodiversidade que eles próprios desconheçam. Com base nisso, a velocidade de informações obtidas numa pesquisa etnobiológica pode ser fundamental para o desenvolvimento de estratégias protecionistas eficazes. Por estarem no ambiente aquático (atualmente sujeitos ao efeito antrópico danoso), por serem alimento para o homem há milhares de anos e por não terem o apelo carismático que outros animais, como alguns mamíferos e répteis têm, os peixes são organismos extremamente sensíveis aos impactos ambientais, de modo que toda medida que ampare estratégias conservacionistas é extremamente bem-vinda e deve ser acolhida. O presente trabalho também se justifica pela necessidade de ampliar os inventários de espécies de peixes do rio Jaguaripe, amparando-se na etnotaxonomia. Segundo Lopes et al. (2010) a etnotaxonomia, além de fornecer importante inventário de espécies, mostra as similaridades entre a taxonomia popular, a chamada taxonomia folk e a científica, trazendo 17 ainda informações a respeito de sobre-exploração e conservação. Introduções de espécies e seus efeitos também são passíveis de verificação nesses estudos, representando aspecto relevante para a região, dado os inúmeros registros de espécies introduzidas. Sobre o tema específico da etnoparasitologia, a pesquisa justifica-se pela necessidade de se identificar o conhecimento daqueles que usufruem dos recursos naturais da região, sobre aspectos menos aparentes dos processos ocorrentes no ambiente aquático, como as relações parasita-hospedeiro, as transmissões parasitárias e os ciclos de vida dos parasitas, bem como sobre os possíveis riscos à comercialização do pescado e à sua saúde humana. Esse tema é um dos mais sub explorados na literatura etnobiológica.

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4. HIPÓTESES

Trabalhamos com hipóteses distintas e complementares: i) o conhecimento etnoictiológico/etnoecológico/etnoictioparasitológico sobre os peixes do rio Jaguaripe é maior para aquelas espécies mais abundantes, de alto valor comercial, alimentar ou cultural e esses conhecimentos estão sujeitos a menor grau de diferença em relação aos dados científicos; ii) os aspectos ecológicos mais notados e compreendidos pelos pescadores são aqueles mais facilmente reconhecíveis, tais como a alimentação, assim como os parasitas mais notados são aqueles macroscópicos e externos associados a espécies comerciais; iii) os pescadores têm a percepção de alguns padrões e processos nas relações parasita- hospedeiro, como por exemplo, a variação sazonal do parasitismo e as patologias, porém não associam nenhum tipo do parasita ocorrente em peixes às possíveis doenças em humanos, por não reconhecerem aspectos de maior complexidade ecológica, como os ciclos de vida.

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5. OBJETIVOS

5.1. Objetivo geral Analisar o etnoconhecimento de pescadores artesanais de colônias de pescadores dos Municípios de Nazaré e Jaguaripe, Estado da Bahia, que realizam suas atividades de pesca no rio Jaguaripe, visando estudar o seu conhecimento tradicional sobre taxonomia, aspectos ecológicos, introdução de espécies invasoras e relações parasitárias em peixes.

5.2. Objetivos específicos

Conhecer as formas de identificação, classificação e nomenclatura dos peixes do rio Jaguaripe por parte de pescadores dos Municípios de Nazaré e Jaguaripe, integrantes de colônias de pescadores;

Analisar o conhecimento tradicional de pescadores artesanais sobre a ecologia dos peixes do rio Jaguaripe, por meio de informações sobre habitat, alimentação, reprodução e parasitismo;

Averiguar a percepção sobre a ocorrência e impacto de espécies não nativas na região;

Examinar o conhecimento dos pescadores sobre interações peixes-parasitas, visando observar se as diferentes influências dos parasitas sobre os peixes, e os aspectos do parasitismo (por exemplo, a sazonalidade, ciclo de vida), são percebidos por eles;

Descrever como os pescadores relacionam os parasitas de peixes com o ser humano e com possíveis zoonoses;

Verificar a semelhança entre o conhecimento tradicional sobre os aspectos trabalhados e o conhecimento científico, por comparação dos dados obtidos nas entrevistas com o disponível na literatura científica.

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6. MATERIAL E MÉTODOS

6.1. Área de estudo

O rio Jaguaripe é um rio de planalto, resultado da orografia do vale onde se situa sua bacia hidrográfica (Figura 2). Sua nascente se localiza na Serra da Jibóia em Castro Alves, situada a 278 m de altitude, sob as coordenadas geográficas 12º45'56"S - 39º25'42"O e deságua no oceano Atlântico, nas imediações do Município de Jaguaripe. De acordo com a região que atravessa, recebe denominações distintas como rio Fundo entre Onha e Taitinga ou rio Grande em Nazaré (AUGUSTO, 1995).

Figura 2 – Parte da região de abrangência da Bacia do rio Jaguaripe, Bahia, onde estão localizados os Municípios de Nazaré (losango verde) e Jaguaripe (círculo amarelo). Adaptado de www.sei.ba.gov.br/site/geoambientais/mapas/pdf/regional/mesorregiao_geografica/mapa_met ropolitana_de_salvador_1.pdf. Fonte: SEI – Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia.

Os afluentes do Jaguaripe são os rios Icaraí, Mocambo, Sururu, Copioba, Aratuípe, dentre outros de menor porte e sua bacia inclui vários municípios, tais como Aratuípe, Castro Alves, Conceição do Almeida, , Jaguaripe, , Nazaré, Santo Antônio de Jesus, São Felipe e Sapeaçu (TOMASONI e TOMASONI, 2005). De acordo com o IBGE (2017), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, as cidades de Nazaré e 21

Jaguaripe são completamente banhadas pelo rio Jaguaripe e com base em Tomasoni e Tomasoni (2005) essa bacia hidrográfica tem utilização pesqueira para ambas as cidades, tanto no perímetro urbano quanto rural.

6.2. Obtenção dos dados etnoictiológicos A metodologia de obtenção dos dados foi norteada pelas diretrizes estabelecidas pela Resolução 466, de 12 de dezembro de 2012 do CNS a respeito de pesquisas envolvendo seres humanos. A resolução especifica os procedimentos que garantem a eticidade da pesquisa, sendo que essa deve ser submetida à apreciação pelos Comitês de Ética das Instituições de Ensino e Pesquisa. A Plataforma Brasil, sistema de cadastro vinculado ao Ministério da Saúde, é o sistema oficial de lançamento de pesquisas para análise e monitoramento do Sistema CEP/CONEP. Este último é integrado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa - CONEP/CNS/MS do Conselho Nacional de Saúde e pelos Comitês de Ética em Pesquisa – CEP – visando proteger participantes de pesquisa do Brasil, de forma coordenada e descentralizada, por meio de um processo de acreditação (BRASIL, 2016b). Dessa forma, a presente proposta, foi submetida à apreciação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFRB, por meio da Plataforma Brasil, tendo sido aprovado por meio do parecer Número 2.104.193 e sob número de protocolo 53222616.7.0000.0056. Além disso, o projeto também está cadastrado pelo Núcleo de Gestão de Atividade de Pesquisa do Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas sob número 23007.006212/2016-10 e na Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação da UFRB, sob número 1462. A primeira etapa do trabalho consistiu em contato com pescadores da colônia Z09 de Pescadores e Aquicultores de Nazaré e colônia Z-36 de Pescadores e Aquicultores de Jaguaripe, BA – das quais obtivemos prévia autorização, assinada por responsáveis pelas Colônias (Anexos 1 e 2) – para um conhecimento mútuo e explicações sobre a natureza do trabalho, visando o estabelecimento de uma relação de confiança, o que ocorreu com a participação em uma reunião em cada uma das colônias. Nesse momento, a pesquisa foi explicada aos pescadores, que foram convidados a participar. Aqueles que se mostraram disponíveis para participação receberam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) específico para cada colônia (Anexos 3 e 4) para assinatura, conforme determinação da Resolução do Conselho Nacional de Saúde No 466/2012. O termo foi explicado a todos, que receberam também uma cópia. Na ocasião, se esclareceu aos participantes que toda a pesquisa não envolve riscos para sua atividade pesqueira, uma vez 22 que houve uma demonstração do questionário para percepção de que não são perguntas específicas sobre a atividade pesqueira. Também existiu uma explicação, como forma de amenizar qualquer constrangimento por parte do indivíduo, de que a coleta dos dados seria somente em local de sua escolha e preferência, em horários convenientes. Em seguida foi agendado o acompanhamento para a coleta dos dados, o que ocorreu de acordo com a rotina e disponibilidade de cada participante. O total de pessoas que participaram da pesquisa foi de 27, sendo 18 da cidade de Jaguaripe e nove de Nazaré. Todos escolheram um horário adequado entre suas atividades de modo não haver prejuízos em seu cotidiano. Foram entrevistados pescadores maiores de idade, que exercem a atividade de pesca atualmente, dependendo dela como principal fonte de subsistência ou foram aposentados por essa atividade. Seguiu-se metodologia “bola de neve”, ou seja, um pescador reconhecidamente experiente recomenda outros, até que se obtenha um n adequado aos objetivos propostos (BAILEY, 1982). Uma ressalva válida é a de que, durante a pesquisa, houve alguns impedimentos para que o n amostral fosse maior, como períodos de defeso, no qual os pescadores se encontravam ausentes da cidade, ausência de recomendação por parte de alguns pescadores, além de algumas desistências que foram devidamente respeitadas, como é previsto nas pesquisas envolvendo seres humanos. Sobre as desistências em especial, percebemos que, mesmo com todos os esclarecimentos presenciais e no TCLE ainda houve muito receio por parte dos pescadores em participar da pesquisa, talvez por imaginarem algum tipo de impedimento de suas atividades decorrente da pesquisa. Notou-se também durante o estudo, uma disparidade entre as duas comunidades de pescadores, sendo que os voluntários de Jaguaripe foram mais receptivos e disponíveis à pesquisa, o que justifica a diferença de n amostral entre as duas colônias. Os dados sobre a biologia do peixe como a taxonomia, aspectos da ecologia, mais especificamente em relação a reprodução, habitat, alimentação e parasitismo, foram feitas por meio de entrevistas semiestruturadas (VIERTLER, 2002) e abertas (Anexo 5). Estas últimas, visaram manter uma flexibilidade quanto ao direcionamento dos assuntos ao longo da entrevista (ALBUQUERQUE et al., 2010). Este foi respondido, preferencialmente, durante um horário combinado de acordo com a disponibilidade do pescador e escolha do local, geralmente na própria sede da colônia. Para a coleta de dados foram utilizadas 23 fotografias de peixes, anteriormente registradas no rio Jaguaripe por meio de levantamentos da ictiofauna pelo Laboratório de

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Estudos da Ictiofauna da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e relatos de ocorrência também na literatura (Anexos 6 e 7). A utilização de imagens para o desenvolvimento das entrevistas ocorreu com base em Clauzet (2009). Segundo proposto pela autora, uma forma de controle da precisão do conhecimento local é inserir entre as imagens uma espécie de peixe sem ocorrência na região. Portanto, na presente pesquisa se escolheu um animal endêmico de pequenos lagos no Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, Rio de Janeiro e que se pressupõe não reconhecido pelos pescadores (Figura 3). As informações citadas sobre a espécie foram retiradas do site fishbase.org (FROESE e PAULY, 2017).

Figura 3 – Imagem de um espécime de Atlantirivulus jurubatibensis (Costa, 2008) usada como controle durante as entrevistas, para verificar a precisão do conhecimento taxonômico. Fonte: Laboratório de Limnologia da UFRJ – Disponível em https://limnonews.wordpress.com/2016/02/04/uma-poca-de- diversidade/atlantirivuluslq/

O registro dos dados foi feito de forma escrita e também por meio de gravação de voz e registro de imagem, estes últimos com a concordância dos entrevistados. Os dados estão depositados no Laboratório de Estudos da Ictiofauna, no Setor de Ciências Biológicas Prof. Elinsmar Adorno, na UFRB, onde foram analisados qualitativa e quantitativamente.

6.3. Análise dos dados

A análise dos dados foi baseada no modelo de união das diversas competências individuais proposta por Hays (1976), sendo considerada para análise e interpretação, toda informação relativa ao tema de interesse. A partir dos resultados das entrevistas foram feitas abordagens qualitativas e quantitativas.

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A abordagem qualitativa, baseou-se em Marques (2002). Para isso, foram feitas análises e interpretações diretas das respostas dos participantes, cruzando-se os dados do conhecimento científico publicado com o conhecimento dos pescadores sobre aspectos como taxonomia, biologia, ecologia de peixes e parasitismo. A veracidade das respostas foi verificada por metodologia sincrônica, isto é, repetindo-se a pergunta a pessoas diferentes em tempos muito próximos (GECKLER,1976). São apresentadas respostas na íntegra, a partir da transcrição das gravações, sempre que necessário, sendo analisadas pela metodologia de interpretação do contexto. Uma perspectiva quantitativa referente à enumeração e quantificação daquelas respostas e situações mais frequentes foi usada, quando necessário, sendo apresentadas na forma de tabelas e/ ou gráficos, tanto em número absoluto quanto em porcentagens, como sugerido por Rosa e Orey (2014). Visando determinar o nível de importância de dada espécie de peixe – entre as 23 apresentadas - para os pescadores entrevistados, calculou-se de acordo com Friedman et al. (1986)1, os seguintes índices:

i) Nível de Fidelidade (NF) de cada espécie de peixe citada por mais de três voluntários por apresentarem usos, por meio da seguinte equação:

NF = IP x 100/IU

Onde: IP = número de informantes que citaram o uso principal da espécie em questão; IU = número de informantes que citaram qualquer uso para a mesma espécie

ii) Fator de Correção (FC): FC = IU / número de entrevistados a citar a espécie mais citada

iii) Porcentagem de Concordância quanto aos Usos Principais (CUP), usada para neutralizar a maior ou menor popularidade da espécie, da seguinte forma:

CUP = NF x FC

Onde: NF = nível de fidelidade; FC = fator de correção

1 FRIEDMAN et al. (1986) é uma referência que trata do uso em potencial de plantas medicinais, baseado em análise etnofarmacológica, usando o Nível de Fidelidade (%). Diversos autores da área de etnobotânica usaram este indicador, assim como alguns trabalhos em etnozoologia, buscado avaliar a importância relativa do uso dos animais invertebrados, como Montenegro et al. (2014). 25

7. RESULTADOS E DISCUSSÃO

7.1. O conhecimento tradicional sobre taxonomia de peixes do rio Jaguaripe

7.1.1. Etnocaracteres usados na identificação dos peixes Durante a realização do trabalho, observou-se que os pescadores usam aspectos morfológicos e morfométricos como ferramentas para a classificação e identificação ictiológica. Os pescadores elencaram características como formato do corpo, espessura (os termos ictiológicos correspondentes são altura e largura), coloração, comprimento e peso. Segundo Barros (2012), os ribeirinhos têm uma forma própria de dividir o corpo dos peixes, com nomenclatura característica e própria, inclusive reconhecendo parentescos por meio de semelhanças (Figura 4).

Figura 4 – Etnocaracteres usados por pescadores na determinação das espécies de peixes. Fonte: Barros (2012) - “Figura 5 - Etnomorfologia externa de um peixe fictício. Desenho adaptado, feito por um pescador do Riozinho do Anfrísio.”

Esta forma de se referir a partes anatômicas de peixes e usá-las na caracterização e na determinação de parentescos também foram observadas no presente trabalho, tendo sido anotados termos descritivos como “barriga” para a região ventral da parede do corpo, “bolo” para uma protuberância cefálica pós-occipital, “baba” ou “babada” para o muco, “leite” para o esperma, “palitinho” para o clásper dos condrícties. Um dos parâmetros mais utilizados para caracterização de um peixe é o seu tamanho. Os pescadores indicaram comprimento ou peso para caracterizar algumas espécies de peixes, além do aspecto de sua pele. A maioria descreve a mesma espécie com nomes diferentes levando em conta apenas essa variação. Isso ficou notório em relação a peixes importantes para

26 a pesca na região, como a tainha e o robalo, fator este indicado também pelos pescadores. Sobre a tainha (Figura 5), foi relatado o seguinte:

“Aqui é tainha. Tem tainha, tem curimã, tem saúna. A saúna é quando tá pequeninha. Aqui já é tainha que já é maior e a curimã, já peguei, é quando tá com 10kg,12kg e 15kg. Cresce muito e deve ser muitos anos.” “Tainha, tem três termos diferentes: quando pequeno se chama saúna. Tainha é normalmente de meio pra um quilo. Adulto e grande é chamado de curimã, com elevado porte.”

Figura 5 – A espécie Mugil sp., conhecida popularmente como tainha, saúna e dentre outros. Fonte: Imagem da autora.

Sobre o tamanho dos robalos (Figura 6) e sua identificação, os pescadores indicaram:

“...Folha, o barriga mole, o bobó, tem o robalo bobó que é o cacunda, sabe? O cacunda é o que engorda e não cresce, sabe? É robalo gordo...” “...Robalo barriga mole, tem o cambuí é mais difícil aqui é o robalo comprido que parece uma espada, ele é um peixe mais comprido e esse você vê que é mais largo, ele é um peixe de mais largura. Ele só pega peso. Agora o outro é comprido e não engorda muito. O outro dá mais em maré maior e esse dá mais no rio. Porque tem das duas espécies, esse daqui só faz enlarguecer. O outro porém cresce e não chega ao peso desse...” “.... Pra saber que aqui tem, nós chamamos de barriga mole, chamamos de camburi e tal, camburi ele é todo comprido e barriga mole ele é mais forte...” “Porque a gente conhece quando é fino...Esse daqui tudo é camburi que eles é fino. O robalo barriga mole ele é gordo, esse daqui é pequeno, não cresce muito é de 3kg pra baixo. Esse os camburi é filhote, eles cresce de 10kg,12kg,13kg, sabe?”

Figura 6 – Centropomus parallelus Poey, 1860 conhecido como robalo. Fonte: Imagem da autora.

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De fato, mais de uma espécie de robalo é conhecida para a região, entre elas Centropomus paralelus Poey, 1860 e Centropomus undecimalis (Bloch, 1792). Com base nas falas acima, verifica-se que os pescadores reconhecem essas duas espécies em função de suas características morfométricas: o robalo citado como “camburi” se refere ao C. undecimalis, caracterizado como mais comprido e o “barriga-mole” se refere a C. parallelus. Dentre as características usadas na literatura ictiológica, o corpo de C. undecimalis é descrito como alongado e o de C. parallelus (cuja imagem foi utilizada durante as entrevistas) como relativamente comprimido, porém, com altura maior do que a de C. undecimalis. As características morfométricas usadas pelos entrevistados na determinação da nomenclatura “folk” dos robalos concordam, portanto, com os caracteres usados na literatura científica. No entanto, outros caracteres morfológicos são essenciais para a diferenciação das duas espécies de robalos. Em Centropomus undecimalis o segundo espinho da nadadeira anal não é maior que o terceiro, não chegando próximo à base da nadadeira caudal, e as nadadeiras pélvicas que não chegam próximo ao ânus. Sua coloração em geral é branca prateado, com o dorso e o alto da cabeça escurecidos, de cinza a oliváceo. A linha lateral é evidente e de cor preta. Centropomus parallelus, por outro lado, tem o segundo espinho da nadadeira anal ligeiramente maior que o terceiro, mal chegando à base da caudal e nadadeira pélvica tocando ou ultrapassando um pouco o ânus. Sua coloração é prateada, com dorso mais escuro e pigmentação escura esparsa nas nadadeiras dorsal, caudal e anal. Portanto, as diferenças observadas pelos pescadores também podem se referir a diferentes estádios de desenvolvimento, pois, de acordo com Rodrigues (2005), o robalo possui diferentes estádios de desenvolvimento reprodutivo e que apresentam variações quanto ao sexo, podendo ser influenciados por fatores sazonais e outros. Caracteres detalhados das duas espécies podem ser encontradas em Lessa e Nóbrega (2000). A coloração muitas vezes também é usada como complemento de outros caracteres apresentados para diferenciar um morfotipo de outro.

“Esses daqui é os valente, é os camburi da babada amarela,sabe? Esse bichinho é amarelo, sabe? Eles aqui é o próprio robalo...”

Essa adaptação na coloração foi citada por Bemvenuti e Fischer (2010), os quais relacionaram as mudanças em padrões de coloração ao desenvolvimento do peixe. Os autores citaram também que muitos indivíduos da mesma espécie usam a cor como comunicação para o acasalamento ou camuflagem com base no ambiente em que vive. Portanto, a cor é uma

28 característica que vai se modificar de acordo com sua função para o peixe. Outro aspecto que foi apresentado em associação aos vários elementos morfológicos para explicação de determinada nomenclatura, foram aspectos ecológicos dos peixes, ou seja, sua ecologia. Os participantes demonstraram uma percepção da ecomorfologia ao associar o formato do corpo com o ambiente, em classificação de “peixes de fundo” ou “flor da água”. Frequentemente foi estabelecida uma relação entre o habitat e o aspecto morfológico apontado:

“...O xangó é diferente e mais gordinho, ele é menor e mais gordo, por isso fica assim na correnteza que ele é mais flor da água, fica muito no fundo não, porque quando a gente tá passando de canoa dá pra ver ele agora tem um mais comprimidinho e mais fino, parente e chamamos aqui de sapateiro que é peixe de fundo...” “...Temos dois tipos de carapeba a branca e a rajada que é carapeba de mangue e essa dai é a branca que vive no fundo, a diferença é umas linhas na que tem no mangue e essa dai tem esse corpo assim que é bom para nadar, tá vendo? Ela vive no fundo também que a gente só pega ela quando lança a rede pro fundo..” “O formato é diferente da água doce pra salgado na cor também.”

Relação entre forma e habitat é algo notável entre os animais, uma vez que é resultado de processos adaptativos. Entre os peixes, a relação é especialmente importante, sendo a ecomorfologia um dos principais aspectos que norteiam os estudos ictiológicos. Segundo Bemvenuti e Fisher (2010) os peixes apresentam grande diversidade morfológica no que diz respeito à forma, cor e aparato locomotor, o que está relacionado à sua ecologia e, de acordo com Breda et al. (2005), com sua forma de locomoção. Portanto, o conhecimento científico corrobora o conhecimento tradicional dos pescadores. Foram citados também aspectos etológicos e da qualidade da carne, tanto para alimentação quanto para enfermos:

“...Tem também o camburi que é o robalo mais valente que tem....” “...Essas daqui, o de barriga mole, é os de carne mais mole pra doente. Carne boa pra doente. Você olha aí.” “...Aquela que é bom pra doente. Carapeba...”

Os entrevistados associaram uma carne (musculatura esquelética) como boa para doente fornecendo, dessa forma, informação das possíveis diferentes utilizações culturais dos peixes. Segundo Andrade e Costa-Neto (2005), em um estudo feito com os moradores da cidade de São Félix, Estado da Bahia, os peixes são usados para fins medicinais e se enquadram na categoria de medicina tradicional. A relação da utilização dos peixes para esses fins, de acordo com os autores, implica na necessidade de estudos científicos para verificar a existência ou não de compostos biologicamente ativos. Até o momento, no entanto, a maioria esmagadora destas

29 informações continuam tendo caráter empírico. Apenas de algumas poucas espécies de peixes têm sido retirados princípios ativos úteis na fabricação de medicamentos. Por exemplo, a tetrodotoxina (TTX), uma das mais potentes substâncias tóxicas, encontrada em baiacus, segundo Gomes et al. (2011) tem propriedades terapêuticas extensivamente testadas na terapia de dores crônicas, na diminuição de metástases em câncer, terapias dos sistemas muscular e esquelético e nervoso, sendo promissora também para novos tratamentos. Notou-se que alguns pescadores utilizam dos mesmos aspectos morfológicos como indicativos de dimorfismo sexual o que, na maior parte dos casos, corresponde ao registrado cientificamente. O aspecto do dimorfismo sexual é um tema complexo que inspirou uma revisão do conceito por parte de alguns autores como o feito por Costa et al. (2013). Isso foi notado, usando-se a coloração ou o formato do corpo, para classificar um peixe como macho ou fêmea pelos voluntários no presente trabalho. Sobre a tilápia e o acará (Figura 7), respectivamente, os voluntários afirmam:

“...Este daqui é a fêmea que tem uma cor mais escura e quando é o macho ele é mais largo e tem uma cor meio amarelo com branco. Agora todos que tem esse formato e cor é fêmea....” “...Sim, macho cria tipo um limão na cabeça e fica vermelha, fêmea é reta..”

Figura 7 – Peixes da família Cichlidae demonstradas aos pescadores do rio Jaguaripe. A) Tilápia – Oreochromis niloticus e B) Acará - Geophagus sp. Imagens da autora.

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As observações supracitadas concordam com dados existentes na literatura. Câmara et al. (2002), Chellapa et al. (2003), Kullander e Ferreira (2006) destacam que, em alguns peixes Cichlidae - família a que pertencem a tilápia e o acará - machos adultos e maduros, desenvolvem uma protuberância cefálica pós-occipital apenas durante o período reprodutivo. No entanto, cabe destacar aqui que Siqueira-Silva et al. (2009) relataram gibosidade ou protuberância cefálica pós-occipital também em fêmeas, considerando este aspecto não apropriado para diferenciação dos sexos de alguns ciclídeos. Relações de parentesco entre os peixes também foram estabelecidas com base na semelhança de morfologia o que, na maioria das vezes, não corresponde às evidências científicas disponíveis. Isto é facilmente explicável, uma vez que o parentesco ou filogenia de organismos vivos não é explicada apenas pela morfologia, mas também por dados ao nível de ultraestrutura e molecular, aspectos não acessíveis ou desconhecidos pelos pescadores. Porém, em alguns casos como os ciclídeos, os pescadores agrupam pelas semelhanças em conjuntos realmente com valores filogenéticos ou taxonômicos. Dos nove pescadores entrevistados de Nazaré, ao menos três relacionaram o acará como pertencente à mesma família da tilápia. Ambas as espécies pertencem à família Cichlidae (FROESE e PAULY, 2017). Os demais entrevistados não opinaram ou realmente não conheciam. Entre outras observações é perceptível que eles procuram alguma morfologia similar para demonstrar a relação de parentesco:

“..Agora a tilápia pequena dá uma aparência com o acará, ela novinha. Porque acará não cresce do tamanho dela...” “...Parente, parece com o acará...” “...Parente do acará...” “É parente do outro tilape, esse aqui é irmão do outro tilape, agora esse daí é do preto, o de lá é do branco.”

Todos os exemplos anteriores e as transcrições da fala são uma forma de demonstrar que o pescador, além de praticar a pesca como maneira de subsistência acaba por se inserir nesse meio dulcícola de forma cognitiva, ao usar de classificações e apurações dos diferentes elementos como utilização prática para sua vida. Essa construção de bases cognitivas entre o meio popular e o científico foi muito bem apresentada por Marques (1995) em valiosa obra intitulada “Pescando Pescadores”. Nela, é apresentada uma coletânea de pesquisas envolvendo brejeiros (termo usado pelo autor) que, além de demonstrar a importância desse tipo de conhecimento, os auxilia na defesa de seu território.

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7.1.2. Taxonomia dos peixes

Segundo Costa-Neto (2001), em cada região ocorrem nomenclaturas próprias para a fauna, nesse caso, para a ictiofauna. Essa particularidade é colocada pelo autor como etnonome, termo utilizado no presente trabalho para distinguir os nomes das espécies indicados pelos entrevistados. Os termos “nome folk” ou “epíteto folk”, também é amplamente usado por diversos autores (MOURÃO e NORDI, 2002; CLAUZET et al., 2007; DUARTE BARBOZA, 2009; ALVES e FARIAS, 2010; BATISTA et al., 2016; NASCIMENTO et al., 2016). Como supracitado, os pescadores apresentaram classificação com base nos aspectos morfológicos, morfométricos e ecológicos. Diante de suas denominações, em comparação com a literatura científica, foi construída a Tabela 1. Nela são cruzados os etnonomes usados pelos pescadores entrevistados com os nomes correntes na literatura científica, segundo Froese e Pauly (2017). Para sete espécies foram relatados etnonomes totalmente distintos daqueles usados na literatura científica. Isto significa que apenas 30% das espécies apresentadas diferem quanto ao etnonome da literatura científica. Para o peixe rivulus – A. jurubatibensis - (Figura 3) usado para verificar e checar a precisão do conhecimento taxonômico local, os voluntários foram unânimes em confirmar que a espécie não ocorre no rio ou que não a conhecem. De acordo com os mesmos, o peixe “deve ser de outro lugar”. Este resultado demonstra compatibilidade com a teoria proposta por Clauzet (2009) de que este método gera confiança durante a entrevista, tanto para o entrevistador quanto para o entrevistado, na demonstração do conhecimento taxonômico de forma verdadeira e sem falsos testemunhos.

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Tabela 1 – Etnonomes fornecidos pelos pescadores do rio Jaguaripe, nos municípios de Nazaré e Jaguaripe, Bahia, durante entrevistas, seus nomes populares e científicos usados na literatura especializada. 1Espécies ocorrentes no rio Jaguaripe; 2Espécie controle, alóctone, não ocorrente na região; 3Etnonome distinto da literatura.

Etnonome Nome popular Nome científico reconhecido

Robalo-de-barriga-mole, Doutor, Robalo-camburi, Robalo Centropomus parallelus Poey, 18601 Robalo-folha, Robalo-bobó Cabeçudo, Xaréu, Cabeçudinho, Xarelete Xaréu Caranx sp.1 Carapitanga, Dentã, Vermelho, Cioba Vermelho Lutjanus sp.1 Carapeba-de-pedra, Bicuda Carapeba Diapterus sp.1 Pescada-branca, Pescada-amarela, Pescada-de- Pescada Cynoscion sp.1 dente, Conduca Traíra Traíra, Lobó Hoplias malabaricus (Bloch, 1794)1 Xangó, Sapateira, Listrado3 Anchova Anchoa spinifer (Valenciennes,1848) 1 Paru Paru-branco Chaetodipterus faber (Broussonet, 1782)1 Amorea branca3 Gobi do rio Awaous tajasica (Lichtenstein, 1822)1 Amorea preta, Lampreia3 Tuvira Gymnotus carapo Linnaeus, 17581 Acará, Acará de bolo Acará, Cará Geophagus sp.1 Baiacu, Baiacu mirim Baiacu pinima Sphoeroides spengleri (Block, 1785)1 Arraia, Arraia verdadeira Raia, Arraia Dasyatis guttata (Bloch & Schneider, 1801)1 Piau rato, Piau de fundo Piau Leporinus sp 1 Arraia treme treme, arraia viola3 Raia elétrica, Discopyge tschudii (Heckel, 1845)1 Treme-treme Acari, Cascudo e Corcunda3 Acari, Cascudo Hypostomus sp.1 Tainha, Sardinha3, Saúna Parati, Tainha Mugil sp.1 Peixe morcego, peixe voador Peixe Morcego Ogcocephalus vespertilio (Linnaeus, 1758)1 Miroró,miroró verdadeiro, miroró mirim3 Corongo Cynoponticus savanna (Bancroft, 1831)1 Cavalo-marinho, cavalinho-do-mar, cavalo- do-mar Cavalo-marinho Hippocampus reidi Ginsburg, 19331

Tilápia verdadeira, Tilápia Tilápia do Nilo Oreochromis niloticus (Linnaeus, 1758) ¹

Pilaque, Tilápia preta, Pariri Oscar, Apaiari Astronotus ocellatus (Agassiz, 1831)¹

Piranha ou xixaro Piranha, Serrasalmus brandtii Lütken, 1875¹ Pirambeba Nenhum conheceu Rivulus Atlantirivulus jurubatibensis (Costa, 2008)2

Lampreia é o nome vernáculo dado para diferentes espécies de peixes da superclasse Petromyzontomorphi (lat. petros = pedra + myzon = sugador) com formato anguiliforme/serpentiforme e sem maxilas. Segundo Froese e Pauly (2017) são reconhecidas 47 espécies de lampreias no mundo, sendo que apenas quatro delas ocorrem no Hemisfério Sul, porém, apenas no Chile, na Argentina, na Austrália e na Nova Zelândia. As demais 43 espécies têm distribuição restrita ao Hemisfério Norte. Apesar desses peixes não apresentarem distribuição no Brasil, uma das espécies apontadas pelos pescadores é denominada lampreia.

“E este daqui que o povo chama mais de lampreia, também não sei se é o nome especifico dele lampreia ou não. Porque até agora não apareceu outro nome...”

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A espécie assim denominada no rio Jaguaripe é Gymnotus carapo, chamada popularmente de tuvira, sarapó ou morenita na literatura ictiológica. Esta apresenta morfologia corporal também do tipo serpentiforme (FROESE e PAULY, 2017). No entanto, tratam-se de peixes mandibulados da ordem Gymnotiformes, portanto, não relacionados filogeneticamente às verdadeiras lampreias. Segundo Resende et al. (2006), sua morfologia lhe permite viver em ambientes hipóxicos, inóspitos a outros peixes. Segundo o mesmo autor, são vistos na superfície apenas na época reprodutiva, durante inundações. Isso foi relatado pelos pescadores entrevistados, além do fato de serem peixes que conseguem sobreviver durante um bom tempo após a captura, o que favorece sua utilização como isca. Esse fato acontece devido à sua respiração aérea acessória.

“...Amorea preta... E aqui na água doce ela vive mais em esgoto, essas coisas....”

Outras quatro espécies de Gymnotiformes são chamadas de lampreia no Brasil, de acordo com Froese e Pauly (2017): Rhamphichthys rostratus (Linnaeus, 1766); Rhamphichthys marmoratus Castelnau, 1855; Sternopygus obtusirostris Steindachner, 1881 e Sternarchorhynchus oxyrhynchus (Müller & Troschel, 1849). O termo lampreia tem origem obscura, talvez do francês lamproie ou latim lamprēda, ambos significando peixes anguiliformes. Não foi possível determinar com exatidão a origem ou as razões para a denominação folk destes peixes neste trabalho, bem como para os outros gimnotiformes assim denominados no Brasil. O uso do termo vernáculo difere do que é amplamente discutido na literatura ictiológica sobre a distribuição das lampreias verdadeiras. Dada a distribuição das verdadeiras lampreias, supõe-se que o ato de denominar esses peixes de lampreia vem de tempos muito antigos, sendo passado de geração a geração, possivelmente datando da chegada dos Europeus no país:

“...Até pescador antigo da região que chamou assim de lampreia.”

Os entrevistados, de forma unânime, demonstraram ter conhecimento elevado sobre ao menos cinco do total de espécies de peixes apresentadas por meio de imagens. O robalo foi, comprovadamente, o peixe que todos os pescadores demonstraram conhecer e o mais apreciado por eles. O valor comercial desse peixe é alto uma vez que, segundo muitos deles, é o único peixe que vende muito, tem um preço alto e sempre existe procura. Isso se deve ao apreço alimentar que as pessoas parecem demonstrar pela sua carne, considerada de boa qualidade (FROSE e PAULY, 2017). Outro fator demonstrado também é a valorização cultural, ao falar que é um peixe bem limpo pela sua forma de se alimentar. 34

Outras quatro espécies foram também igualmente reconhecidas pela maioria dos entrevistados pelo seu alto valor comercial na região, elas foram Caranx sp., Lutjanus sp. Diapetus sp., Cynoscion sp., com a frequência de citações demonstrada na figura 8. Com base nisso é possível comprovar uma das hipóteses levantadas nesse trabalho de que os animais que mais figuram como objeto de captura são reconhecidos prontamente. Corroborando com o demonstrado por Sonoda (2006) ao classificar a espécie do robalo, por exemplo, em categoria elevada no comércio pesqueiro.

Figura 8 – Número absoluto de pescadores que reconhecem cinco espécies de peixes de maior importância comercial no rio Jaguaripe, Bahia.

Foi observado que a maioria dos peixes apresentados, além dos cinco mais destacados pela importância, são valorizados pelos pescadores voluntários. No entanto, uma pequena parcela representou peixes que são desprezados por eles e não fazem parte de sua rotina, ocasionando, dessa forma, na ausência de observações detalhadas. Essa suposição corrobora com a obtida por Barboza et al. (2014) ao comprovar que os pescadores costumam desprezar ou apreciar certos peixes em sua dieta alimentar. De fato, isso pode ser observado nos participantes por meio dos seguintes relatos:

“... Ninguém gosta dele não e a gente pesca e solta...” “... O povo acha feio, vem na rede e acaba soltando ele...” “... Vender não, a gente acha na rede e solta, eu não como ele, acho e solto, porque ele é estranho...”

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A maior parte dos entrevistados da região de Jaguaripe, associou o cavalo-marinho como sendo útil na fabricação de remédio caseiro, usado na cura da asma e outras enfermidades. Houve inclusive descrições de como se faz a produção da medicação, sempre com a mesma “receita”, envolvendo a torra do animal, bem como relatos de pessoas que foram curadas por sua utilização. Exemplos dessas falas:

“...Isso aí é um santo remédio, pra bucheira, pessoa que tem asma é só torrar ele, pisar bem pisado e tirar o pozinho colocar na água morna e dá pra pessoa beber e a pessoa não pode saber o que é, tenho um filho mesmo que eu peguei dois cavalinhos torrei no sol e depois pisei e coloquei na água e dei 3 vezes pro menino beber e ficou bom...” “...Muitas pessoas usam ele quando as crianças tá cansando, ai pega ele e torra e dá água morna pra criança e aí melhora de cansar...” “...Um animal bonito e o pessoal não mata ele não. Ele serve de remédio pra pessoa que cansa, torra ele, coloca na água morna e coloca pra pessoa beber e aí a pessoa para de cansar...”

Andrade e Costa-Neto (2005), realizaram uma pesquisa com moradores do município de São Félix, Estado da Bahia e nela descreveram peixes utilizados com finalidade medicinal e que se enquadram na categoria de medicina tradicional. O uso dos peixes para esses fins, com base nos autores, sugere que precisam se desenvolver novos trabalhos científicos com intuito de confirmar a presença ou ausência de elementos ativos biologicamente. O cavalo-marinho é ameaçado de extinção devido a ações antrópicas, tais como a exploração e degradação de seu habitat, uma vez que a espécie depende de um equilíbrio no ecossistema para sua sobrevivência e também devido à pesca predatória para comercialização desses animais secos com diversas finalidades (MAI e ROSA,2009). Mas como observado pelo discurso do entrevistado apresentado acima, o peixe em questão tem um apelo visual de beleza que causa certa comoção e proteção por parte dos moradores locais para que não seja pescado. Se, por acaso o peixe cai na rede, logo é solto de volta ao rio. Portanto, sua captura só é realizada sob encomenda para a medicação e esse é um fato de baixa ocorrência de acordo com os entrevistados. Assim, a comoção frente à beleza e fragilidade junto a um uso bastante específico em situações de doenças, pode ser um fator chave para a proteção de algumas espécies em risco, tais como o cavalo-marinho, ou ao menos tem um forte apelo para futuras medidas de conservação. A tabela 2 demonstra o grau de importância, para a população estudada, das cinco espécies mais abundantes na pesca da região, citadas por mais de três voluntários como tendo algum uso, confirmando os dados coletados das entrevistas e discutidos acima. Das cinco espécies analisadas, apenas o robalo apresentou porcentagem de concordância de 100% quanto 36 ao seu uso principal na localidade. O NF calculado para essa espécie foi de 100% e, após correção, a porcentagem de concordância permaneceu 100%, mostrando que toda a amostra da população de pescadores analisada reconhece e faz o mesmo uso dessa espécie de peixe. Valores de NF próximos ou iguais a 100% indicam consistência cultural quanto ao uso da espécie na população entrevistada (JORGE, 2001). A disponibilidade do robalo e seus intensos usos comercial e esportivo nas águas do rio Jaguaripe são amplamente reconhecidos em diferentes meios de comunicação, principalmente em sites e revistas direcionados à pesca esportiva. Andretta (200?) e Fernandes (2015), por exemplo, destaca a abundância dos robalos na região, assim como sua elevada importância no turismo para a pesca esportiva. A Associação Baiana de Pesca Esportiva, considerou Jaguaripe o “santuário da pesca do robalo na Bahia” (ANDRADE, 2017). Assim, com o presente trabalho, corroboramos informações como as de Andretta (200?) sob o ponto de vista da etnoictiologia, confirmando a importância do robalo também para os ribeirinhos que vivem no entorno do rio Jaguaripe. O xaréu e a pescada foram, respectivamente, a segunda e terceira espécies de maior consistência cultural (Tabela 2).

Tabela 2 - Nível de Fidelidade e Porcentagem de Concordância para cinco espécies de peixes mais abundantes e mais citadas durante entrevistas com pescadores de duas colônias do rio Jaguaripe, Bahia. (NF = Nível de Fidelidade; FC = Fator de Correção; CUP = Porcentagem de Concordância; UR = Quantidade de usos relatados; UE = Número de citações de uso da espécie; UP = Uso principal; NUP = Número de citações do uso principal).

Etnonome NF FC CUP UR UE UP NUP Robalo 100 1 100 1 27 1 27 Xaréu 100 0,7 70 2 19 1 19 Pescada 100 0,5 51 2 14 1 14 Carapeba 50 0,4 20 3 12 1 6 Vermelho 100 0,3 30 2 10 1 10

7.2. Percepções sobre a introdução de espécies de peixes no rio Jaguaripe É comum a translocação de espécies para ambientes diferentes daqueles seus de origem. Isso é bastante notório e de fácil ocorrência entre os peixes. Agostinho e Júlio Jr. (1996) destacam esse fenômeno e abordaram os impactos e a sua importância para a integridade dos ecossistemas aquáticos, sendo um dos resultados negativos da sua ocorrência a perda da diversidade biológica local.

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Foi constatado que na região de Nazaré os pescadores reconhecem a introdução de três espécies, consideradas, portanto, alóctones ou invasoras e também oportunistas. Em Jaguaripe, nenhum pescador relatou a ocorrência de espécies alóctones. De acordo com a portaria do IBAMA No145-N/98, espécies nativas são aquelas de origem e ocorrência natural nas águas brasileiras; espécies exóticas têm origem e ocorrência natural somente em águas de outros países, quer tenham ou não já sido introduzidas em águas brasileiras; espécies autóctones são de origem e ocorrência natural em determinada Unidade Geográfica Referencial, enquanto espécies alóctones têm origem e ocorrência natural em águas diferentes da Unidade Geográfica Referencial (IBAMA, 2016). Estas estão listadas no site institutohorus.org.br/iabin/i3n/index.html. O website foi criado justamente para informação das espécies que são documentadas como introduzidas no ambiente natural. Burger et al. (2011) relatou a ocorrência de espécies introduzidas no rio Jaguaripe. As espécies introduzidas observadas no trabalho dos autores foram O. niloticus, oriunda da África e A. ocellatus, segundo Britiski et al. (2007), da Bacia Amazônica. A espécie Poecilia reticulata Peters, 1859 foi relatada como introduzida por Burger et al. (2011) no rio Jaguaripe, mas não houve relato por parte dos pescadores. Ao contrário, os participantes citaram S. brandtii, a pirambeba ou piranha, como introduzida e esta não foi relatada no trabalho dos autores. A espécie é originária da bacia do rio São Francisco (FROESE e PAULY, 2017). Foi feito um levantamento quantitativo da percepção dos pescadores sobre a ocorrência de espécies invasoras no rio Jaguaripe, apresentado como percentual de reconhecimento da existência de espécies invasoras (Figura 9).

Figura 9 – Percentual de entrevistados que reconhecem a existência de espécies alóctones, introduzidas no rio Jaguaripe, região de Nazaré, Bahia.

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A maioria dos entrevistados de Nazaré relatou que no rio ocorrem espécies que não são nativas, destacando também os impactos que a sua presença pode ocasionar no ambiente, por exemplo, a ausência de predador natural causa impacto sobre a ictiofauna autóctone, como o demonstrado pela seguinte transcrição:

“...A piranha não é daqui e nem sei de nenhum tipo de piranha que existia aqui não, não tem muito tempo, de uns poucos anos pra cá....” “...O predador que tem aqui só é a piranha e nenhum peixe come a piranha. Nessa região não foi constatada que nenhum peixe devora a piranha não. Mas foi constatado que a piranha devora todos os outros peixes...”

Algumas vezes, foi indicada a possível origem da introdução:

“...Eu moro na beira do rio há muitos anos, a mais de 20 ou 30 anos por ae. Não existia tilápia. Disse que foi um cara que pegou um casal e soltou aí no rio. Aí... e aqui foi a mesma coisa também. Não tinha no rio também (piranha, apontada em imagem apresentada). Foi tanto que ele prejudicou muita gente que pesca. Com certeza, você tá pescando pra pegar um robalo e joga a linha pra pegar um robalo, quando ela chega os peixes vai embora. Quando ela (piranha, apontada em imagem apresentada) chega eles vão mesmo, o robalo vai embora que senão ela destrói mesmo...”

Todas as espécies alóctones apresentadas aos voluntários foram reconhecidas por um etnonome. Apesar disso, nem todos os entrevistados reconheceram todas estas espécies como introduzidas. A tilápia, por exemplo, por ter longo histórico de introdução no país, como demonstrado por Júnior e Júnior (2008) e, talvez por ter sido há muito introduzida no rio Jaguaripe, seja menos reconhecida pelos pescadores como invasora, ao contrário das outras duas espécies (Figura 10).

Figura 10 – Número de entrevistados que reconhecem as espécies alóctones existentes no rio Jaguaripe, região de Nazaré, Bahia.

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A introdução de espécies exóticas num rio ocasiona um desequilíbrio em todo o ambiente para aquelas nativas, não somente de peixes, podendo inclusive levar a extinção e perda de diversidade, como destacam Agostinho e Júlio Jr. (1996). Os problemas são acarretados pela extensa reprodução dos invasores, intensa competição ou predação dos nativos. Leão et al. (2011), apresentaram as espécies invasoras do Nordeste do Brasil e todos os prejuízos que causam para a diversidade. Entre os citados pelo autor, constam espécies de peixes relatadas pelos pescadores no presente trabalho. Além das espécies alóctones observadas aqui entre as imagens apresentadas aos pescadores, foi ainda citada por alguns pescadores, a ocorrência de outra espécie exótica, o bagre africano, Clarias gariepinus (Burchell, 1822). O peixe é um carnívoro resistente, introduzido no Brasil na década de 80 com a perspectiva de alavancar a piscicultura no país (CEMIG, 2012). Esses peixes foram citados também por moradores ribeirinhos no trabalho de Burger et al. (2011). A convivência do pescador no entorno do rio o faz perceber os efeitos das invasões, relatando suas consequências para a fauna local, concordando com o que foi demonstrado por Marques (1995). Mas assim como os participantes apresentam um elevado conhecimento sobre essas introduções, podem acontecer equívocos. Por exemplo, dois pescadores relataram que a espécie G. carapo não é nativa da região e é uma espécie alóctone, apesar de Froese e Pauly (2017) postularem o contrário. Os demais participantes afirmaram ser espécie nativa. Uma demonstração dessa fala relatada:

“Este daqui é o que nós chamamos de amorea. Este daqui, esse tipo de peixe aqui nesse rio é novo, mas é tanto nome que botam nesse peixe aqui que é difícil a pessoa saber qual o nome especifico dele. Uns dizem que é lampreia, outros já nome de peixe né, dizem que é peixe serrote, esse tipo de peixe é novo na região, neste rio daqui. Ele tem mais ou menos o mesmo tempo que a tilápia apareceu aqui, porque não existia esse peixe aqui não.”

7.3. Etnoecologia da fauna íctica

7.3.1. Dieta e hábitos alimentares

A alimentação foi o aspecto mais observado e citado pelos participantes, confirmando a hipótese deste trabalho, de que processos ecológicos mais básicos dos peixes são passíveis de observação direta pelos voluntários. Estes demonstraram ter conhecimento sobre as interações tróficas dos peixes, bem como sua inserção/posição na teia trófica e seus hábitos alimentares ou dieta. Nossos resultados corroboram com os obtidos por Ramires et al. (2012) que também

40 observaram essas associações em estudos realizados na região Sudeste do Brasil. E com informações disponíveis na literatura sobre alimentação natural de peixes e a participação das espécies de peixes nas cadeias tróficas (AGOSTINHO et al., 1997). Alguns exemplos do conhecimento sobre hábito alimentar e cadeias alimentares, podem ser citados dos seguintes peixes: Xaréu, Garapau, Cabeçudo, Cabeçudinho (C. hippos)

“...Come camarão e outros peixes comem ela, como o mero...” “...É, ele come a pipira. Quanto mais o peixe menor vai procurar aqueles cardumezinho de peixe menor também pra comer, né? Os peixe maior vai comer os cardume maior que nem sardinha, os peixe que nem tubarão vai correr atrás das tainha, esses peixe maior pra comer e... esses peixe que nem o cabeçudo, esses outros peixe menor é... sardinha, pescada, esses peixes assim vai correr atrás daquela pipirazinha, aquelas espumas que dá na água que eles comem, se alimenta, daquilo ali...”

Arenque-da-noite, Xangó (A. spinifer)

“...Come o sulco da água. O peixe é como a gente com o boi a gente não mata o boi pra comer? Não mata a galinha pra comer? Então o peixe também mata um pra comer o outro, aí já serve de ração pra outro peixe, o xareu come ele, a conduca come ele...” “...Eu acho que ele come aquela borrazinha que fica na água, porque as vezes fica uma manchinha na água que dizem que é da lama e ele come isso, o peixe que chama pescada come ele, o paru come, sororoca também come robalo come ele, o xaréu e deve ter mais...”

Cioba, Vermelho, Vermelhinho (Lutjanus sp)

“...Ele come camarão e um serve de alimento pro outro, como que diz? O maior vai engolindo o menor e assim vai, o cação e a arraia tem aqui e para aqui e come ele, o cação se passar até o filho dele ele come, ele mesmo come tudo, a arraia quando nasce todo enroladinho...” “...Ele come outras marcas de peixe também e camarão.O cação mais come eles, outros tipos de peixes também come, os grandes...”

A espécie C. hippos é caracterizada como um predador feroz que se alimenta de outros peixes e presas, os quais foram catalogados por Dias (2016) e a análise da sua dieta coincide com a citada pelos entrevistados. Os pescadores consideram a espécie A. spinifer como sendo muito consumida por outros peixes e esse fato foi confirmado por Krumme et al. (2004) ao caracterizar a espécie como sendo a base alimentar da teia trófica dos peixes do rio Caeté, Norte do Brasil. Uma observação por parte dos colaboradores deste trabalho é de que Lutjanus sp consome bastante camarão e, como fonte secundária de alimentação, outros peixes. Os dados

41 são corroborados por Feitosa e Araújo (2002) ao descrever algumas espécies de Lutjanus sp como sendo carnívoros que se alimentam principalmente de crustáceos. Podem ser citados também os exemplos de predileção alimentar ou dieta descrita por pescadores: Robalo (C. parallelus)

“...Ele come camarão, amoreia, ele gosta de isca viva, tudo que se mexer pra ele é bom e se colocar um besourinho vivo ele come também...” “...Ele ataca qualquer isca viva que passar na frente dele e ele ataca, fez movimento e ele ataca, nem tá com fome, mas passou na frente dele e mexeu e pronto, é um predador mesmo...” “...O peixe mais limpo do rio é o robalo só come coisa viva. Amorea branca e amorea preta, ele só come amorea branca que é racista, não gosta de preto não. Ele só gosta de camarão descascado, ele é cheio de frescura e tem hora pra comer...”

Baiacu (S. spengleri)

“...Ele come mais marisco, a gente pega ele com o siri, porque ele gosta mais de comer os mariscos...” “...Ele come peixe, come siri, o que aparecer na frente dele e ele come, assim ninguém come ele, só se tratar ele pra usar como isca...”

Para as duas espécies acima são percebidos o detalhamento de observações. De acordo com Tonini et al. (2007), robalos C. parallelus são predadores visuais, porque utilizam da visão como sentido principal para encontrar suas presas. Essas são, por consequência, apanhadas vivas ao passar próximas ao peixe, como descrito pelos pescadores. O autor registra que a maior parte dos itens da dieta de robalos é composta por peixes dos gêneros Astyanax; Diapterus e Leporinus e pelas espécies Caranx latus Agassiz, 1831 e Oreochromis niloticus (Linnaeus,1758). Peixes desses gêneros e das duas últimas espécies estão presentes no rio Jaguaripe, encaixando-se na descrição dos pescadores de alimentação predileta. Por esse fator alimentar, os participantes consideram o peixe enjoado para comer ao selecionar sua isca por predileções, como demonstrado por Tonini et al. (2007). Assim, a informação tradicional de que os robalos são predadores visuais e seletivos concorda com a informação científica. No caso do baiacu S. spengleri, a informação foi corroborada por um trabalho de Targett (1978) onde foi feita uma detalhada apreciação estomacal dessa espécie, comprovando a predileção por mariscos mesmo perante outros conteúdos. A observação por parte dos pescadores de que alguns peixes apresentam determinadas preferências alimentares, ou seja, preferem uma isca e desprezam outra, é uma informação valiosa para eles, pois precisam desses dados para que possam realizar uma captura mais

42 eficiente. Esses relatos podem ser originados e repassados por gerações, mas também podem ser oriundos de observações diretas feitas por parte deles, portanto esses elementos são fontes importantes que nem sempre se encontram em literatura científica ictiológica e reforçam a importância de parceria entre os diversos tipos de saberes, conforme afirmam Mourão e Bezerra (2016) e também Nunes et al. (2011) que obtiveram informações adicionais ao saber científico sobre reprodução e alimentação durante pesquisa etnoictiológica, gerando inclusive hipóteses a serem testadas.

7.3.2. Reprodução

Dentre todas as perguntas, o aspecto reprodução foi o menos abordado pelos participantes que pouco explicavam ou nada comentaram. Alguns relataram não se interessar sobre isso e outros, certo constrangimento em relatar sobre diferenças visuais entre macho e fêmea (dimorfismo sexual) ou outros aspectos sexuais. Isso foi observado, em especial, para as arraias (D. guttata), para as quais alguns dos entrevistados percebem a diferença, devido à presença do clásper, mas expuseram certo receio em discursar sobre isto. Citações pelos voluntários da morfologia reprodutiva da espécie (com o clásper descrito mais de uma vez como “dois palitinhos”), bem como uma das formas de desenvolvimento das raias (viviparidade) são corroboradas por Wourms (1977) e Pough et al. (2003).

“...O macho tem dois esporãozinho e a fêmea não tem. Ela desova e os filhotes nasce pequeninho já, nasce nadando já...” “...Tem macho e tem fêmea, que embaixo tem dois palitinho no macho e a fêmea não tem e também o macho não cresce mais de 6kg e a fêmea cresce até uns 100 kg ela vai dessa dai..”

Entretanto, uma minoria dos colaboradores apresenta variados comentários referentes à reprodução de alguns peixes. Um dos aspectos mais observados é baseado nos períodos em que ocorrem os eventos reprodutivos, como os seguintes: Robalo (C. parallelus)

“...Reprodução dele é maio, junho e julho que é o mês período da desova dela, quando a maré enche ele entra pra dentro do mangue que ele desova no mangue...” “...A desova é de ano em ano...”

Arenque-da-noite, Xangó (A. spinifer)

“...Pega ele ovado em qualquer tempo...” “...Eu acredito que no verão ele se reproduza mais rápido...” 43

Os dados apresentados para algumas das espécies se referem, portanto, à sazonalidade de maturação das gônadas ou do período reprodutivo. Segundo Melo (2009), a espécie A. spinifer apresenta uma intensa atividade reprodutiva em períodos secos, portanto corrobora as informações dos participantes. Em relação ao robalo é unanime o conhecimento do período reprodutivo, sendo que todos demonstraram saber e apontaram o mesmo período. O conhecimento rico sobre a reprodução desta espécie também decorre do fato de C. parallelus ser um dos peixes de maior valor comercial na região (SONODA, 2006), fazendo com que haja regulamentação da pesca, baseada no período de reprodução da espécie, que de fato é respeitada e adotada por todos. A PORTARIA IBAMA N° 49-N DE 13 DE MAIO DE 1992 do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) (ICMBIo, 2017) é a responsável por estabelecer um período de defeso para a pesca do robalo, no qual esta fica proibida e os trabalhadores recebem um seguro desemprego, permanecendo afastados da atividade em um período de três meses que equivalem à época citada por eles como de reprodução da espécie. O robalo é um peixe que realmente apresenta ciclos reprodutivos anuais, de acordo com Grier e Taylor (1998). Conhecimentos sobre hábitos migratórios relacionados à reprodução também foram demonstrados: Saúna, Tainha, Ubarana (M. curema)

“...Quando chega época de reprodução vem pra cabeceira do rio, porque existem muitos predadores dela e ai vão pra cabeceira...”

A tainha apresenta hábito migratório durante o seu ciclo de vida que é característico da família Mugilidae, pois realizam a fase de desova no mar, os juvenis procuram o estuário para proteção, alimentação e crescimento; vivem no rio e quando atingem a fase reprodutiva migram para o mar reiniciando esse ciclo novamente (BIZERRIL e COSTA, 2001). Nesse caso em particular, os participantes reconhecem o deslocamento da espécie durante a reprodução, mas não relataram o caminho percorrido do rio para o mar. As táticas e estratégias reprodutivas de peixes são extremamente diversas e, em inúmeras espécies, os machos são responsáveis pela incubação de ovos e larvas. No entanto, de acordo com Marques (1995), a prevalência de uma cultura machista nas comunidades, faz com que predomine a interpretação de que se existe “ova” é uma fêmea, ainda que isso não represente a realidade em todas as situações. Isso foi relatado tanto na comunidade de Nazaré quanto na de Jaguaripe. Com base em Vazzoler (1996), existe um comportamento de incubação

44 dos ovos na cavidade bucal, comum nos bagres Ariidae, que é caracterizado como uma forma de cuidado parental. Essa observação foi citada apenas na comunidade de Nazaré. Portanto, alguns pescadores ao citar fato semelhante, ocorrente em bagres da região de estudo (apesar destes não terem sido apresentados durante as entrevistas), coincide com a literatura científica, tanto a ecológica quanto a etnoecológica:

“...Tem tempo que a fêmea tá ovada e aí a gente conhece a fêmea e o macho (..A fêmea tem ova e o macho não..), o peixe reproduz no mês de agosto, é quando os peixes tudo desova, o único que não desova é a curimã que desova no mês de São João..” “...Ele é peixe de desova, dá ova vai saindo os filhotes e quando chega o mês de agosto vai saindo os filhotes, o bagre é único peixe que sai pela boca...”

O comportamento de cuidado parental por meio de incubação bucal, foi considerado por alguns entrevistados como um ato de “inteligência”.

7.3.3. Habitat

Os entrevistados demonstraram reconhecimento do habitat dos peixes em alguns casos. Essa percepção é corroborada e comentada em outros trabalhos como o de Costa-Neto (2001) e o de Barboza e Pezzuti (2011), onde os autores confirmam a veracidade do conhecimento popular com o científico como sendo coincidentes. Alguns relatos que são exemplificados dessa relação são os seguintes: Carapeba (D. rhombeus)

“...Tem aí em cima também nas cabeceira de rio, que tem os poço e tal...” “...Ela vive no fundo também que a gente só pega ela quando lança a rede pro fundo...”

Paru (C. faber)

“...Ele é peixe de fundo, mas veve na flor da água também...” “...Ele é peixe assim... Voltado mais pra pedra. Eles gostam de pedra, é, aqui pra gente dentro do rio qualquer lugar que tiver pedra a gente passar uma rede e ele vem...”

O habitat da espécie D. rhombeus, de acordo com Denadai et al. (2012) é próprio de lama rasa e fundos de areia, portanto os participantes ao descreveram como sendo tanto no fundo quanto em poços (lugares de lama para eles) é um dado que coincide com a literatura cientifica.

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Chaetodipterus faber apresenta maior variedade em relação ao seu habitat por ser encontrada em pedras de acordo com os entrevistados e isso coincide com Dooley et al. (2015) que elenca também outros locais como destroços e pontes.

7.4. O parasitismo sob a luz do etnoconhecimento

Nas duas comunidades estudadas foram feitos relatos do parasitismo nos peixes. A seguir são apresentados separadamente os resultados para etnoictioparasitologia devido à fauna parasitária ter diferido consideravelmente entre as duas comunidades.

7.4.1. Região de Nazaré Um percentual de 89% do total de entrevistados dessa comunidade demonstrou ter conhecimento sobre a ocorrência do parasitismo nos peixes e a interação do parasita com o peixe, como por exemplo a sazonalidade e patologias, citando que o parasita causa doenças ao animal. Porém, não foi citado sobre conhecimento dos ciclos de vidas dos parasitas ou a possibilidade de causarem zoonoses no ser humano. Outro fator observado foi o de que, entre todas as espécies apresentadas, apenas três são parasitadas, segundo os voluntários. Essas espécies são G. carapo, S. spengleri e H. malabaricus. A maior parte dos relatos sobre parasitismo se concentrou em relatar sobre a ocorrência, sazonalidade e descrever que não causa mal ao homem, como pode ser observado em alguns relatos abaixo:

“...Os peixes que tem verme é a traíra, amoreia, o baiacu, tantos que tem verme, o baiacu nasce uma mancha preta, nasce na carne, a amoreia tem uns que parece que suga o sangue do bicho, em épocas que tem lombriga e outras não. Igual a gente, as vezes tem e outras não. A gente também é assim, tem no intestino e tudo que é lugar...” “....O verme não incomoda nada, é injetada dentro da carne do peixe e não empata nada, tirou e acabou, pode cozinhar e comer. Amorea mesmo em época de São João mesmo tem uns vermes grandes e quem ver assim se assusta. ...” “...Só a amorea que dá nesse São João e a traíra também em mês de São João não pode usar ela, porque elas tem um verminho, sabe? Se dá um verme na carne, aí você ver o verme. ...” “...A traíra tem muita, tem muita doença e muito verme...”

Com o termo “verme da carne” provavelmente os voluntários se referem a larvas de Nematoda, que geralmente encistam na musculatura ou nos órgãos internos (PAVANELLI et al., 2013). Isso se confirma pelo fato de os pescadores se referirem ao parasita como “lombriga” ou “verminho”, morfologia coincidente com o grupo. Esses, por estarem encistados representam formas larvais e são, por exemplo, na maior parte dos casos parasitas de outros 46 peixes piscívoros ou de outros vertebrados que são predadores aquáticos, como algumas aves e mamíferos (SANTOS et al., 2013). No entanto, larvas de nematoides da família Anisakidae são conhecidas por causarem zoonoses (KNOFF et al., 2013). Existem inúmeros registros científicos publicados de larvas da família em diferentes espécies de peixes marinhos e estuarinos no Brasil (SANTOS et al., 2013), porém, com poucos relatos de problemas em humanos. Assim, 100% dos entrevistados demonstraram desconhecimento ou despreocupação sobre a possibilidade de os peixes transmitirem doenças. As percepções sobre parasitoses nos comentários acima abrangem a sazonalidade na ocorrência de parasitas em diferentes espécies. Devido a variações nas condições bióticas e abióticas do ambiente, na densidade das populações de invertebrados hospedeiros intermediários e flutuações temporais de variáveis físicas e químicas da água, os diferentes grupos de parasitas demonstram variação temporal em suas populações, tanto na ocorrência quanto no tamanho (GUIDELLI, 2000).

7.4.2. Região de Jaguaripe

7.4.2.1. Ocorrência e identificação dos parasitas

Os entrevistados, de forma unânime, demonstraram ter conhecimento sobre a ocorrência de parasitismo nos peixes, mas do total de 23 espécies apresentadas somente em 60% foi relatada esse evento. Os outros 40% representam os peixes que são desprezados por eles e não fazem parte de sua rotina, ocasionando dessa forma na ausência de observação. Essa suposição coincide com resultados alcançados por Barboza et al. (2014) ao demonstrar que os pescadores possuem o hábito de menosprezar ou valorizar peixes específicos em sua dieta. A maior parte dos relatos de parasitismo se concentrou naquelas espécies mais valorizadas comercialmente na região ou que são muito consumidas por eles, inclusive com sobreposição nessa porcentagem em alguns casos (Tabela 3). Por exemplo, o conhecimento rico sobre o robalo decorre do fato dele ser um dos peixes de maior valor comercial (SONODA, 2006), em contrapartida as outras que apresentam valores mais baixos se referem aqueles que são menos valorizados para venda, mas ainda assim apreciados no paladar da região por meio das narrações. Dessa forma, confirmamos outra de nossas hipóteses, mostrando que os pescadores percebem parasitas, mas principalmente de peixes de interesse comercial.

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Tabela 3 – Frequência de citações a respeito de parasitismo em peixes, por pescadores artesanais do rio Jaguaripe, Bahia.

Etnonomes das espécies de peixes Frequência de citações parasitadas (%) Cabeçudo, Xaréu 87,5 Robalo 87,5 Vermelho, Carapitanga, Cioba 62,5 Pescada, Pescada branca, Pescada amarela 50,0 Baiacu 50,0 Paru 25,0 Carapeba 25,0 Arraia 12,5

Por outro lado, alguns participantes citaram como comumente parasitada uma espécie que não tem um elevado valor comercial. Esse relato foi feito para espécie S. spengleri conhecida popularmente como baiacu, como é possível observar nos seguintes relatos:

“...Onde acha mais aquelas lombrigas compridinhas é no baiacu..” “...No baiacu fica aquelas pintas pretas e dentro as lombrigas branca...” “...Tem um tipo de peixe chamado baiacu que sempre dá na carne, uma lombrigazinha, mas não sei se faz mal pra ele, tem vários que tem e outros não, aparece mais no inverno....”

Uma possível explicação para a abundância dessas narrações em comparação aos demais peixes subutilizados se deve ao fato dessa espécie, quando tratada para consumo exigir o máximo de atenção, por ser um peixe sarcotóxico. Segundo os próprios pescadores relatam, esse animal poder levar à morte se não retirar o veneno de forma correta. De fato, espécies da família Tetraodontidae apresentam tetrodotoxina concentrada em diferentes regiões como pele, fígado e nas gônadas, ocasionando inclusive um baixo valor econômico no Brasil (ROCHA et al., 2002). Contudo, na região é apreciado na culinária. Em relação à alta incidência de parasitas encontrados, um motivo plausível é de que a espécie é propensa ao parasitismo, como foi demonstrado por Santos et al. (2013), devido a seus hábitos alimentares. Vários pescadores afirmaram ser comum um parasita denominado “barata d´ água”:

“...Barata pega em qualquer peixe...” “...Acho que na maioria dos peixes acha...” “....Tem aquela baratazinha que sempre fica agarrada no, no, no peixe, mas na verdade a gente, na verdade, não sabe porque aquela barata pega...” Com base, nas descrições pressupõe-se que esses parasitas pertençam ao grupo Isopoda que de acordo com Pavanelli et al. (2013), comumente ocorrem em inúmeras espécies

48 de peixes, nas cavidades bucal e branquial, como observado pelos participantes (Tabela 4). Isso mostra que os pescadores fazem algum tipo de relação das características morfológicas dos parasitas com aquelas de outros animais, no caso outros artrópodes. Nenhum fez relação desses animais com algum outro tipo de crustáceo, como camarões, por exemplo.

Tabela 4: Comparação do conhecimento tradicional da população de pescadores artesanais do rio Jaguaripe estudada com informações correspondentes existentes na literatura científica. 1 = LUQUE et al., 2013; 2 = PAVANELLI et al., 2013; 3 = MEJÍA-MADRID e AGUIRRE-MACEDO, 2011; 4 = PINHEIRO, 2011.

Espécie de peixe Dados Dados científicos publicados Etnoictioparasitológicos

Caranx sp. “Na guelra tem uma barata que Isópodes Cymothoa oestrum gruda, ela geralmente dá em (Linnaeus, 1758) e Cymothoa outros peixes também, na carne brasiliensis Schiödte and também acha por fora essa Meinert, 18841 barata” Centropomus “... Dentro da boca e barata Isopoda ocorre na cavidade parallelus acha também...” bucal2 Cynscion sp. “...Na boca do peixe a gente Isopoda ocorre na cavidade chama de baratinha...” bucal2 Chaetodipterus faber “...Barata acha, gosta mesmo Isopoda ocorre na cavidade da guelra...” branquial2 Sphoeroides “...Onde acha mais aquelas Nematoides adultos, spengleri lombrigas compridinhas é no Cucullanus dodsworthi e baiacu...” Capillaria carioca, ambos do intestino3 Xystretrun sp. (Trematoda, Gorgoderidae) 4

Para a espécie de peixe C. hippos, é conhecida a ocorrência dos isópodes Cymothoa oestrum (Linnaeus, 1758) e Cymothoa brasiliensis Schiödte and Meinert, 1884 (LUQUE et al., 2013). Em trabalhos, realizados outrora no rio Jaguaripe pela equipe do Laboratório de Estudos da Ictiofauna, estes crustáceos foram observados com alta frequência (dados não publicados), como pode ser observado na figura 11.

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Figura 11 - Isópodes parasitas de Caranx latus, Lutjanus analis e L. synagris do rio Jaguaripe, Bahia. A) Cymothoa ianuarii aderida à língua de L. analis; B) Telotha sp.; C) C. ianuarii e D) Cymothoa excisa. Fonte: Banco de imagens do Laboratório de Estudos da Ictiofauna.

O outro tipo de morfologia mais comumente citada pelos pescadores pode ser observado nos seguintes relatos:

“...Ele tem uma vermezinha dentro dele...” “...Ele tem aquelas lombriguinhas pretas na boca, tem uns que a gente pega e tem um bocado na boca...” “...Tem vez que fica aquelas vermes compridinhas, daquelas brancas, só na parte das tripas...” “...Tem tempo que ele tá cheio de vermezinho, quando a gente retalha ele ou na cabeça ele tem umas lombrigazinhas que dizem que é da carne dele mesmo, normal, quem gosta tira essas tripazinhas e apronta ele e come, o tempo é outubro e novembro, nos outros meses não tem...” “...Já achei verme dentro dele, tipo uma linhazinha que fica na carne e dentro dele, tem um período que não lembro bem, mas tem época que tem mais e tem época que não tem...” “...As vezes também tá cheio dessas lombriginhas e a carne dele fica com umas pintas pretas, retira e tudo bem..”

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“Lombriguinhas” ou “vermezinho na carne” referidos pelos pescadores, certamente podem ser referir a nematoides encistados na musculatura. No entanto, quando estas são associadas a “pintas pretas”, muito provavelmente se referem a larvas metacercárias de Trematoda. Essas observações foram feitas principalmente para os baiacus. Apesar de larvas de Nematoda e Trematoda serem comuns em diversas espécies de peixes (PAVANELLI et al., 2013) não há registros destes parasitas em baiacus, S. spengleri. Para espécie próxima se conhece nematoide adulto parasitando o intestino (MEJÍA-MADRID e AGUIRRE-MACEDO, 2011) e trematódeo adulto parasitando o sistema urinário (PINHEIRO, 2011). Assim, destaca- se aqui um caso de indicação por parte dos voluntários, sobre fato ainda desconhecido pela ciência. Não se descarta a possibilidade de as “pintas pretas” ou “pulgas” se referirem a crustáceos Copepoda ou Branchiura, também comuns em peixes marinhos (LIMA et al., 2013).

“...Fica aqueles bichinhos pretos na parte da carne ...” “...Fica por debaixo da escama, aquelas pinta preta.. “..Na carne dele tem umas pulgas e quando vai tratando tem que tirar essa pele toda que é onde fica as pulgas, não é todos que tem não...”

Para outras espécies da região, como C. latus já foi observada a ocorrência de larvas de Nematoda na musculatura da parede corporal (dados não publicados) (Figura 12).

Figura 12 – Larva de Nematoda parasitando a parede corporal de Caranx latus do rio Jaguaripe, Bahia. Fonte: Banco de imagens do Laboratório de Estudos da Ictiofauna.

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Os dados dos parasitas observados pelos pescadores, segundo a Tabela 4, não diferem de dados científicos publicados. No entanto, a quantidade de espécies apontadas como parasitadas difere drasticamente do que é apontado na literatura de maneira geral e do que é observado entre os ictioparasitólogos, pois todas as espécies de peixes são parasitadas por pelo menos uma espécie (PAVANELLI et al., 2013). Como suposto no presente trabalho, os parasitas que chamam a atenção e para os quais há dados etnoictioparasitológicos disponíveis são aqueles ectoparasitas de grande tamanho, tais como os Isopoda.

7.4.2.2. Interações peixes-parasitas A maioria dos pescadores relataram a ausência de efeitos nos peixes por parte dos organismos parasitas. Apenas alguns voluntários afirmaram indício de prejuízos causados por esses parasitas, como por exemplo, a capacidade de se prender ao peixe dos Isopoda, devido a existência de modificações dos pleópodos e pereopódos:

“...O cabeçudo gosta de ter tipo uma barata, porque aqui tá dessa cor, mas é branca, o cabeçudo é veseiro em achar isso, dentro da boca e na guelra, ela enterra aquelas unhas assim onde ela tá e não larga assim, só se você garrar assim com a mão e puxar. Faz mal pro peixe, porque se alimenta do sangue no peixe, só pega na boca....” “...Na boca do peixe a gente chama de baratinha, mas é tipo de negócio, nem sei identificar direito, não é uma barata, mas tipo e só dá no mar mesmo, ou no rio. Muitos peixes morrem, porque ele empata o peixe de comer, só acha na boca, sempre que trata tem, acho que não cause nada a gente não, porque é da natureza mesmo, ele veve grudado na boca mesmo, no céu da boca...”

O hábito hematófago dos Isopoda foi destacado por voluntários, o que se confirma cientificamente (RAMESHKUMAR e RAVICHANDRAN, 2010). Trabalhos realizados pela equipe do Laboratório de Estudos da Ictiofauna no rio Jaguaripe têm observado esses parasitas com frequência, assim como a ausência de danos aos peixes ou à sua condição de saúde (dados não publicados). Entretanto, isópodes algumas vezes são relacionados à diminuição do crescimento ou peso de algumas espécies de peixes em cativeiro (LESTER e HAYWARD, 2006). Os participantes relataram também em muitos casos, que os parasitas não ocorrem sempre nos peixes e que existem variações na temporada em que aparecem como pode ser observado nas seguintes falas:

“...Tem época que aparece e outras que não, mas lembrar assim não lembro..” “...Tem tempo que tem mais e tem tempo que tem menos, acho que ele fica mais com isso na parte do verão, deve ser de outros bichos também...” “..Acha mais no inverno, no verão não acha muito assim não, é só dele mesmo...”

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“...Dá essa baratinha de vez em quando...” ”... O tempo é outubro e novembro, nos outros meses não tem..”

As percepções sobre parasitoses nos comentários acima podem demonstrar a sazonalidade na ocorrência dos parasitas em diferentes espécies, respondendo a um dos objetivos propostos neste trabalho. Devido a variações nas condições do ambiente, das populações de invertebrados hospedeiros intermediários e flutuações temporais de variáveis físicas e químicas da água, os diferentes grupos dos parasitas demonstram variação temporal em suas populações, tanto na ocorrência quanto no tamanho das populações (GUIDELLI, 2000).

7.4.2.3. Ciclo de vida dos parasitas Os pescadores não fizeram associações dos parasitas encontrados nos peixes com outros animais e nem com as cadeias alimentares. Na opinião deles os parasitas aparecem ali e são exclusivos de peixes. Portanto, os dados etnoecológicos para esse aspecto da biologia dos parasitas difere do que é amplamente conhecido cientificamente, com alguns parasitas participando e necessitando da teia trófica para completar seus ciclos de vida complexos, como pode ser observado na narração:

“...Por que tem outros peixes do mar que tem também...” “...Ele fica só no peixe...” “...Acho que é cria dela mesmo...” “... Na guelra tem uma barata que gruda, ela geralmente dá em outros peixes também...” “...Barata pega em qualquer peixe, já comi e não tive nada, acho que na maioria dos peixes acha...”

A percepção de que, no ambiente, os seus componentes estão interligados, é mais facilmente percebida em processos mais próximos ao cotidiano dos pescadores. Por exemplo, a relação entre disponibilidade de alimento e maior abundância de uma espécie de peixe. Ao contrário, processos que não são passíveis de observação direta pelos pescadores, como as transmissões parasitárias, são mais dificilmente percebidos. Se um pescador, por não lidar com aves, não viu nelas parasitas semelhantes àqueles que vê nos peixes e com a mesma frequência e sazonalidade, certamente não reconhecerá relação entre eles. Além disso, as formas que são infectantes, em sua maioria, são microscópicas o que dificulta a percepção desse processo. Parte dos objetivos do presente trabalho buscou responder se existe essa percepção e, com os dados coletados, podemos afirmar que essa percepção não esteve presente. 53

7.4.2.4. Zoonoses Todos os pescadores demonstraram desconhecimento ou despreocupação sobre a possibilidade de os peixes transmitirem doenças para o homem. Isto confirma uma das hipóteses propostas neste trabalho, de que os entrevistados não associam parasitas de peixes a possíveis doenças em humanos, ao contrário do que ocorre com parasitas transmitidos por outros animais, como bovinos e suínos. Um exemplo bem claro desse fato pode ser demonstrado por meio das descrições:

“...Eu já comi essa barata, porque sou curiosa e não me fez nada, ela é crocante até, acho que no peixe não causa nada também, só deve incomodar ele, as vezes aparece e outras não...” “...Só a barata na guelra, onde pegar que fica, nem sempre tem, comi uma vez essa barata junto com o robalo e não faz mal nenhum e nenhum abalo, o peixe a gente pega vivo, então não deve fazer mal assim...” “...Época que fica com uns vermezinhos, o xaréu, dá bem aqui por cima do coro dele, uns vermezinhos comprindinho, uma linha escura, fica entre a carne e a pele. Acho que não faz mal não, é tempo mesmo dele pegar aqui ali e nem faz mal nada não, já peguei muito assim, mas a época que ele pega aquele negócio não sabemos não. Faz mal pra gente não que já comi tanto que se tive de ter algum probrema já tinha acontecido...” “...Não sei se faz mal pro peixe e pra gente não, porque a gente come e não sente nada...”

Com base nessas falas é perceptível que independente de qual seja o tipo do parasita encontrado no peixe, os pescadores fazem questão de enfatizar que não são prejudiciais para o homem e alguns, como demonstrado, chegaram a experimentar por curiosidade, usando dessa experiência para provar que não causa prejuízo. Existem algumas larvas de nematoides da família Anisakidae responsáveis por causarem zoonoses (KNOFF et al., 2013), inclusive com muitos relatos de ocorrência das larvas dessa família em distintas espécies de peixes marinhos e estuarinos no Brasil (SANTOS et al., 2013). No entanto os relatos de problemas em humanos são poucos, assim como o conhecimento popular sobre essas zoonoses no país.

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8. CONCLUSÕES

O conhecimento tradicional de pescadores artesanais sobre os peixes, a biologia desses animais e sua ecologia em ambas as regiões é bastante rico, porém, restrito a espécies comerciais, de valor cultural ou alimentar. A pesquisa demonstrou que as informações prestadas pelos participantes por diversas vezes corroboravam com as disponíveis na literatura científica, por exemplo, eles demonstraram sabedoria sobre a ecologia desses animais, principalmente sobre alimentação. Os participantes provaram confiabilidade com os testemunhos repassados e, em consequência disso, consistência nas informações. O robalo foi apresentado de forma unânime como o menos propício a incoerências devido ao seu elevado valor no mercado pesqueiro e para os moradores da região. Além dele, outras espécies se enquadraram nessa categoria. Por outro lado, os animais desprezados por eles não são passiveis de observações minuciosas. A etnotaxonomia dos participantes é ampla e evidenciou que existem certos peixes que causam sentimentos e medidas protecionistas, porque são bonitos e não seriam rentáveis (ao menos para o tipo de pesca que desenvolvem), demonstrando uma abertura para medidas conservacionistas. A introdução de espécies no rio Jaguaripe é um fator reconhecido apenas pela região de Nazaré, enquanto que em Jaguaripe esse é um dado não relatado, pressupondo-se ser desconhecido por esses pescadores. O parasitismo foi relatado em ambas as regiões, mas com detalhes apenas para situações que são visíveis ao olho nu e fazem parte do cotidiano dos colaboradores. Portanto, houve ausência de dados sobre a percepção do ciclo de vida do parasita ou a possibilidade de causarem doenças no homem, uma vez que na região ainda não existem relatos de doenças em humanos causadas por parasitas de peixes. Isso demonstra uma fragilidade nesse aspecto da saúde pública, que deve ser ainda explorado. Conclui-se assim, que o desenvolvimento desse trabalho foi valioso, por apresentar dados ainda não explorados na região, elevando o interesse para o avanço da etnoictiologia.

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SILVANO, R.A. M.; HALLWASS, G.; RIBEIRO, A. R.; HASENACK, H.; JU-RAS, A. A.; LOPES, P. F.; CLAUZET, M.; BEGOSSI, A.; LIMA, R.P.; ZUANO, J. 2009. Pesca, etnoictiologia e ecologia de peixes em lagoas e igarapés do Baixo Rio Tocantins. In: Congresso de Inovação Tecnológica em Energia Elétrica (5. : 2009 jun. 22-24 : Belém, PA) . [Trabalhos apresentados][recurso eletrônico]. Belém : Aneel, 2009.

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SONODA, D. Y. 2006. Demanda por pescado no Brasil entre 2002 e 2003. Tese (Doutorado em Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ) - Universidade de São Paulo, Piracicaba, SP. 117 p.

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TOMASONI, M. A.; TOMASONI, S. M. R.P. 2005. A dimensão geoambiental da Região do Recôncavo Sul- Bahia. In: X Encontro de Geógrafos da Améria Latina, São Paulo, SP.

TONINI, W. C. T.; BRAGA, L. G. T.; VILA NOVA, D. L. D. 2007. Dieta de juvenis do robalo Centropomus parallelus Poey, 1860 no Sul da Bahia, Brasil. Boletim do Instituto de Pesca, v. 33, n. 1, p. 85-91.

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WOURMS, J. P. 1977. Reprodution and development in condrichthyan fishes. American. Zoologist, v. 17, p. 379-410.

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ANEXOS

Anexo 1 – Termo de anuência – Colônia de Pescadores e Aquicultores de Nazaré, BA.

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Anexo 2 – Termo de anuência – Colônia de Pescadores e Aquicultores de Jaguaripe, BA.

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Anexo 3 – Termo de consentimento livre e esclarecido – Colônia de Pescadores e Aquicultores de Nazaré, BA.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS, AMBIENTAIS E BIOLÓGICAS

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você, como pescador artesanal filiado à colônia Z09 de Pescadores e Aquicultores de Nazaré, BA, morador do Município de Nazaré, Bahia, está sendo convidado (a) a participar da coleta de informações para um Projeto de Pesquisa intitulado “A FAUNA DE PEIXES DO RIO JAGUARIPE NA VISÃO DOS PESCADORES ARTESANAIS”. A sua participação será por meio de uma entrevista, que você está sendo convidado (a) a responder. Esta entrevista poderá ser feita na sede da colônia de pescadores após uma despesca, ou em outro lugar que você se sentir mais à vontade, como o local onde realiza a despesca ou desembarque. As respostas serão registradas de forma escrita e, se permitido, gravação de áudio. O objetivo deste trabalho é pesquisar os conhecimentos que os pescadores do Município de Nazaré e que pescam no rio Jaguaripe, têm sobre os peixes, os hábitos desses animais e também os seus vermes. Acreditamos que o conhecimento daquele que vive o dia-a-dia no local seja rico e esclarecedor sobre a realidade do que acontece no ambiente. Este trabalho poderá, portanto, auxiliar na melhor compreensão do ambiente. O projeto será desenvolvido pela estudante Dalila Costa Dantas, estudante do curso de Biologia, com a orientação da professora Gislaine Guidelli, ambas da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, a quem você poderá contatar a qualquer momento que julgar necessário, para garantir esclarecimento sobre a pesquisa. Os resultados obtidos com esta pesquisa serão socializados com os pescadores da colônia e com a comunidade acadêmica por meio da apresentação de um seminário. Esta pesquisa deverá ser iniciada em maio de 2016, terminando em maio de 2017. A sua participação não é obrigatória e durante a aplicação da entrevista, se você se sentir incomodado com as perguntas não será obrigado a respondê-las. Também terá liberdade de desistir da colaboração no momento que desejar, sem necessidade de explicações. Se você aceitar participar da pesquisa, não será identificado na apresentação dos resultados ou no seminário que será apresentado. Sua participação neste trabalho deverá ser de acordo com sua vontade e, como é voluntário, não envolverá incentivo financeiro, pagamento ou qualquer gasto financeiro. A finalidade exclusiva é colaborar com a nossa pesquisa. Sua participação no projeto contribuirá para acrescentar conhecimento sobre os peixes, o seu ambiente e as suas doenças. Informamos que o uso das informações oferecidaspor você será submetidoàs normas éticas de pesquisa envolvendo seres humanos, por Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), que fica situada na Rua Rui Barbosa, 710, Centro, Cruz das Almas/BA, 44.380-000, tel.: (75) 3621-6850. O acesso e a análise dos dados coletados ficarão a cargo apenas da estudante e sua orientadora, somente para esta pesquisa, sendo que seus dados serão guardados por, no mínimo cinco anos. Sendo assim, se você aceitar e concordar com a participação, o fará através da assinatura deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e receberá uma cópia assinada do mesmo, conforme recomendações da Comitê de Ética em pesquisa (CEP) da UFRB.

Nazaré,____ de ______de ______. ______ProfªDrª GISLAINE GUIDELLI DALILA COSTA DANTAS Pesquisadora/Orientadora Estudante da UFRB UFRB - Rua Rui Barbosa, 710 – Centro Membro da Equipe Cruz das Almas/BA - 44.380-000 (75) 981004853

______Assinatura ou impressão dactiloscópica do(a)Pescador(a) Colaborador(a) Voluntário(a)

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Anexo 4 – Termo de consentimento livre e esclarecido – Colônia de Pescadores e Aquicultores de Jaguaripe, BA.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS, AMBIENTAIS E BIOLÓGICAS

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você, como pescador artesanal filiado à colônia Z36 de Pescadores e Aquicultores de Jaguaripe, BA, morador do Município de Jaguaripe, Bahia, está sendo convidado (a) a participar da coleta de informações para um Projeto de Pesquisa intitulado “A FAUNA DE PEIXES DO RIO JAGUARIPE NA VISÃO DOS PESCADORES ARTESANAIS”. A sua participação será por meio de uma entrevista, que você está sendo convidado (a) a responder. Esta entrevista poderá ser feita na sede da colônia de pescadores após uma despesca, ou em outro lugar que você se sentir mais à vontade, como o local onde realiza a despesca ou desembarque. As respostas serão registradas de forma escrita e, se permitido, gravação de áudio. O objetivo deste trabalho é pesquisar os conhecimentos que os pescadores do Município de Jaguaripe e que pescam no rio Jaguaripe, têm sobre os peixes, os hábitos desses animais e também os seus vermes. Acreditamos que o conhecimento daquele que vive o dia-a-dia no local seja rico e esclarecedor sobre a realidade do que acontece no ambiente. Este trabalho poderá, portanto, auxiliar na melhor compreensão do ambiente. O projeto será desenvolvido pela estudante Dalila Costa Dantas, estudante do curso de Biologia, com a orientação da professora Gislaine Guidelli, ambas da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, a quem você poderá contatar a qualquer momento que julgar necessário, para garantir esclarecimento sobre a pesquisa. Os resultados obtidos com esta pesquisa serão socializados com os pescadores da colônia e com a comunidade acadêmica por meio da apresentação de um seminário. Esta pesquisa deverá ser iniciada em outubro de 2016, terminando em maio de 2017. A sua participação não é obrigatória e durante a aplicação da entrevista, se você se sentir incomodado com as perguntas não será obrigado a respondê-las. Também terá liberdade de desistir da colaboração no momento que desejar, sem necessidade de explicações. Se você aceitar participar da pesquisa, não será identificado na apresentação dos resultados ou no seminário que será apresentado. Sua participação neste trabalho deverá ser de acordo com sua vontade e, como é voluntário, não envolverá incentivo financeiro, pagamento ou qualquer gasto financeiro. A finalidade exclusiva é colaborar com a nossa pesquisa. Sua participação no projeto contribuirá para acrescentar conhecimento sobre os peixes, o seu ambiente e as suas doenças. Informamos que o uso das informações oferecidas por você será submetido às normas éticas de pesquisa envolvendo seres humanos, da Comissão Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), que fica situada na Rua Rui Barbosa, 710, Centro, Cruz das Almas/BA, 44.380-000, tel.: (75) 3621-6850. O acesso e a análise dos dados coletados ficarão a cargo apenas da estudante e sua orientadora, somente para esta pesquisa, sendo que seus dados serão guardados por, no mínimo cinco anos. Sendo assim, se você aceitar e concordar com a participação, o fará através da assinatura deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e receberá uma cópia assinada do mesmo, conforme recomendações da Comissão Ética em pesquisa (CEP) da UFRB.

Jaguaripe,____ de ______de ______.

______ProfªDrª GISLAINE GUIDELLI DALILA COSTA DANTAS Pesquisadora/Orientadora Estudante da UFRB UFRB - Rua Rui Barbosa, 710 – Centro Membro da Equipe Cruz das Almas/BA - 44.380-000 (75) 981004853

______Assinatura ou impressão dactiloscópica do(a)Pescador(a) Colaborador(a) Voluntário(a)

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Anexo 5 – Questionário utilizado durante as entrevistas nas colônias de pescadores de Nazaré e de Jaguaripe, BA.

FORMULÁRIO PARA COLETA DE DADOS ETNOICTIOLÓGICOS Informações Gerais sobre o participante como forma de estabelecer confiança e para possíveis dados socioeconômicos futuros: Nome do pescador/Número do entrevistado:______Data:______Idade: ______Quanto tempo pesca: ______Local:______Vive só da pesca: ( ) Sim ( ) Não Qual a forma da pesca? Pesca normalmente quantas vezes por semana?

Questionário: 1. Conhece o peixe? Se sim, qual o nome do peixe? Ele é daqui desse rio? Quais características usam para identificar esse peixe? Dá para diferenciar macho e fêmea? 2. Existe peixe que é parente? Se sim, como você agrupa estes peixes? Porque esses grupos são diferentes? 3. Esse peixe é comestível? Comercializado? Qual a funcionalidade desse peixe? Ele é abundante na região ou raro? 4. Em que parte do rio ele vive? Onde este peixe vive (habitats)? Areia [ ] Pedra [ ] lama [ ] Superfície [ ] Fundo [ ] Outros 5. O que este peixe come? Algum animal ou outro peixe come este peixe? 6. Este peixe forma cardume ou não? 7. Sabe quando reproduz? Sabe alguma coisa sobre a reprodução dessa espécie? 8. Sabe se esse peixe tem algum verme ou doença? Se sim, o que esse verme causa no peixe? 9. Quando/ Qual época ele ocorre? 10.. Sabe como o verme chega até o peixe? 11. Esse verme tem alguma relação com o homem? Causa doenças? 12. Você pode indicar outros pescadores que conhecem têm bastante experiência nesse assunto? OBS para informação extra ou qualquer observação que não se encaixe nas categorias.

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Anexo 6 - Fotografias de peixes usadas durante as entrevistas. A) Centropomus paralelus Poey, 1860, B) Cynoscion sp., C) Lutjanus sp., D) Diapterus sp., E) Dasyatis guttata (Bloch & Schneider,1801), F) Ogcocephalus vespertilio (Linnaeus,1758), G) Sphoeroides spengleri (Block, 1785); H) Gymnotus carapo Linnaeus,1758, I) Awaous tajasica (Lichtenstein, 1822), J) Hoplias malabaricus (Bloch,1794), K) Hypostomus sp. L) Mugil sp. M) Anchoa spinifer (Valenciennes, 1848), N) Cynoponticus savana (Bancroft, 1831), O) Caranx sp., P) Leporinus sp., Q) Chaetodipterus faber (Broussonet,1782), R) Geophagus sp., S) Discopyge tschudii (Heckel,1845) T) Hippocampus reidi Ginsburg, 1933.

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Anexo 7 – Espécies de peixes introduzidas no rio Jaguaripe, região de Nazaré. A) Serrasalmus brandtii Lütken, 1875 - piranha ou pirambeba; B) Oreochromis niloticus (Linnaeus,1758) - tilápia; C) Astronotus ocellatus (Agassiz,1831) – apaiari, conhecido como pilaque, da região de Nazaré.

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