A ÉTICA AMBIENTAL NOS FILMES DE ANIMAÇÃO: REFLEXÕES SOBRE “RIO” E “RIO 2”1 Rivanna Maria Figueredo De Matos2 RESUMO
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RELICI A ÉTICA AMBIENTAL NOS FILMES DE ANIMAÇÃO: REFLEXÕES SOBRE “ RIO ” E “ RIO 2 ” 1 Rivanna Maria Figueredo De Matos 2 RESUMO O presente trabalho objetiva analisar alguns aspectos sobre a representação da natureza nos filmes Rio e Ri o 2, animações que abordam temáticas ambientais importantes, tais como o tráfico de animais silvestres e o desmatamento na floresta amazônica. Salienta - se a importância das animações na conscientização ambiental, atribuída ao seu alca nce aos mais diversos públicos. Palavras - chave : F ilmes de animação; Ética ambiental; T ráfico de animais; D esmatamento. ABSTRACT The present work aims to analyze some aspects on the representation of the nature in the movies Rio and Rio 2, animated films that board important environmental themes, such as the traffic of wild animals and the deforestation in the Amazonian forest. The importance of the animated films is pointed out in the environmental awareness attributed to their re ach to the most different people . Key words : Animated films ; E nvir onmental ethics; A nimals traffic; D eforestation. INTRODUÇÃ O Os filmes de animação integram uma indústria cinematográfica cada vez mais sofisticada e lucrativa, principalmente se tratando das produções norte - americanas. Além do faturamento advindo das salas de cinema, tornou - se comum a venda de suvenires (roupas, sapatos, brinquedos, artigo s para festa, papelaria, 1 Recebido em 26/07/2018. 2 Universidade Estadual De Santa Cruz . E - mail: [email protected]. Revista Livre de Cinema, v. 6 , n. 1 , p. 1 22 - 135 , jan - abr , 201 9 ISSN: 2357 - 8807 RELICI 123 móveis , etc.) inspirados nos filmes de grande sucesso e que se tornam objetos de desejo de crianças e adolescentes. Ao mesmo tempo, considerand o o alcance dos filmes aos mais diversos telespectadores, algumas produções podem constituir fe rramen tas eficientes para fomentar a discussão de temas importantes, mas que ainda carecem do interesse d o grande público, tais como a relação homem - natureza , aspectos socioculturais, o tráfico de animais silvestres, o desmatamento e a conservação da biodiversidade . O cinema hoje está presente na vida das crianças e dos jovens, assim como de toda faixa etária, portanto, ele não pode ser simplesmente desconsider ado e abolido do sistema educativo, principalmente porque se consolida com o um forte elemento politizador (CAVALCANTE , 2013, p. 12 ) . Dois exemplos desse tipo de ferramenta são o s filmes de animação “ Rio ” (Carlos Saldanha, 2011) que concorreu na categoria melhor canção original no Oscar de 2012 e “ Rio 2 ” (Carlos Saldanha, 2014), ambas grandes produções em computação gráfica da 20th Century Fox e Blue Sky Studios . A pesar de terem sido produzidos nos Estados Unidos, o diretor, Carlos Saldanha é brasileiro nascido na capital carioca, que encontrou nos dois f ilmes a oportunidade de retratar o seu país de origem para os estrangeiros, e ao mesmo tempo abordar de forma lúdica algumas temáticas socioambientais contemporâneas e de apel o global. Considerando a importância dessa abordagem nas animações como instrumento de reflexão e conscientização, assim como o sucesso e alcance significativo das produções, o presente ensaio busca analisar os principais aspectos socio culturais e ambientais retratados nos filmes Rio e Rio 2, além de associar o enredo e os personagens com a ética ambiental e a relação homem - natureza. O objetivo do presente trabalho não é desqualificar os filmes como produções artísticas, tampouco fazer críticas c ontundentes aos famosos clich ês associados aos filmes estrangeiros que retratam o Brasil; ademais, nó s próprios , Revista Livre de Cinema, v. 6 , n. 1 , p. 1 22 - 1 35 , jan - abr, 2019 ISSN: 2357 - 8807 RELICI 124 brasileiros , co m o nosso potencial turístico e a típica hospitalidade em relação aos estrangeiros, temos o hábito de reforçar essa ideia, mostrando sempre os traços culturais mai s marcantes no país, tais como o futebol, o folclore, a musicalidade e os festejos (samba, carnaval, réveillon de Copacabana) , belezas naturais (fl orestas, praias, biodiversidade , etc.) e mai s recente mente, a valorização cultural das comunidades cariocas, por meio da difusão de ritmos como o funk e a realização de visita s guiadas. Assim, o trabalho s e divide em três seções: a primeira traz um breve resumo do enredo dos dois filmes, descrevend o os principais pontos das histórias; a segunda faz uma avaliação dos aspectos relacionados à produção do s filmes e o imaginário estrangeiro sobre o Brasil; e a terceira seção traz uma análise mais apurada, relaciona ndo a mensagem passada pelos dois filmes e seus personagens com questões culturais, ética ambiental e a relação homem - natureza. DA F LORESTA DA TIJUCA À AMAZÔNIA SELVAGEM O filme Rio começa com o personagem central, o Blu, uma ararinha - azul que foi capt urada por traficantes de animais e retirada da floresta da Tijuca no Rio de Janeiro ainda filhote. Já no exterior, é acidentalmente deixada para trás pelo caminhão que a transportava e encontrada por Linda, uma criança que a adota como animal de estimação. Passado algum tempo, Blu e Linda já adultos compartilham uma rotina típica dos norte - americanos, em uma cidadezinha fria, limpa e organizada no estado de Minessota. A ave, totalmente adaptada ao ambiente doméstico, possui brinquedos, utiliza objetos elet rônicos e não sabe voar. Linda é proprietária de uma livraria, e Blu passa seus dias tomando chocolate quente com marshmallo ws , feliz na sua gaiola e zombando dos pássaros da rua, que não tê m a mesma “sorte” que ele. Revista Livre de Cinema, v. 6 , n. 1 , p. 1 22 - 1 35 , jan - abr, 2019 ISSN: 2357 - 8807 RELICI 125 Tudo muda quando o ornitólogo Tulio aparece na livraria afirmando que o Blu é o último da sua espécie e pedindo que Linda leve - o até o Brasil com a missão de evitar a extinção da espécie de araras ( Cyanopsitta spixii ) . O cientista trabalha numa tentativa de reprodução com a Jade, fêmea resg atada e mantida em cativeiro com o objetivo de perpetuar a espécie. Chegando ao Brasil, Blu e Linda se deparam com o carnaval do Rio de Janeiro , e a ave, uma “estrangeira carioca” fica ao mesmo tempo encantada e aterrorizada com a cidade. Por conta de um descuido, as aves são capturadas do cativeiro por Fernando, criança em situação de rua aliciada pelos traficantes de animais silvestres. Assim, a trama se desenvolve em torno da fuga das ararinhas e os demais pássa ros ameaçados pelo tráfico e por Nigel, uma cacatua maldosa e temperamental criada pelos criminosos. Seguindo o mainstream hollywo odiano , a história tem um final feliz: o herói Blu salva seus amigos e sua parceira Jade do tráfico de an imais, aprende a voar e constrói uma família de ararinhas - azuis num santuário na floresta da Tijuca, instituído por Túlio e Linda, que se casam e adotam Fernando. O cinema se apropriou dessa fórmula e, em geral, um filme de narrativa clássica conta a história de um herói, que busca um objetivo e tem que sair de sua cidade, numa jornada para procurar aquilo que necessita. Nesta jornada, ele vai fazer aliados, encontrar com seu mentor e lutar contra seu inimigo, transformando algo dentro de si mesmo, buscando o que precisava e voltando para sua terra, onde será rec onhecido ( GUEDES , 2013, p. 190) . Em Rio 2, d ando sequência ao primeiro filme, o Blu, Jade e seus filhotes decidem viajar até o Amazonas para encontrar Tulio e Linda, que estão numa expedição e descobrem a presença de arari nhas - azuis na região. A maior parte da pr o dução se passa na floresta amazônica, e desta vez, o desafio do Blu não será apenas lutar contra o desmatamento, mas também se adaptar ao ambiente “selvagem” da Amazônia, se r aceito pela família da Jade e fugir das armadilhas do Nigel, que o pe rsegue em busca de vingança. Revista Livre de Cinema, v. 6 , n. 1 , p. 1 22 - 1 35 , jan - abr, 2019 ISSN: 2357 - 8807 RELICI 126 Assim como o seu antecessor, Rio 2 também tem seu final feliz, quando o empresário responsável pelo desmatamento é derrotado, o Blu e sua família passam a viver na floresta amazônica protegida graças a Tulio e Linda, aceito p ela família de Jade e livre do Nigel, que passa o resto dos seus dias tentando se livrar de uma rã apaixonada. ALGUNS ASPECTOS SOBRE O ENREDO A história contada no primeiro fil me tem como principal tema uma das principais atividades ilícitas do mundo: o tráfico de animais silvestres, que não poderia ser melhor ambientada, senão no Brasil, que por conta da sua biodiversidade, é um alvo importante para esse tipo de comércio , que ameaça a perpetuação de dive rsas espécies e movimenta milhares de dólares todos os anos (RENCTAS, 2001). Mes m o tratando o te m a de for m a sutil, é bastante perceptível ao longo do fil m e a intenção de conscientizar o telespectador acerca do comércio ilegal de animais silvestres . Alé m disso , a representação das ararinhas - azuis (Cyanopsitta spixii) co m o protagonista s reforça essa intenção já que as m es m as já fora m extintas na natureza, havendo atualmente m enos de 100 e x e m plares criado s e m cativeiro no m undo. No entanto o fil m e co m ete al g uns erros (visivelmente intencionais) em relação à origem das espécies retratadas, já que nenhuma del as é endêmica do Rio (LISBOA , 2012 ) . A Cyanopsitta spixii , inclusi ve, ocorria em al g u m as áreas da re g ião nordeste. Tal equi v oco apesar de bastante sutil pode pro v ocar certa confusão, já que u m a outra espécie de arara m uito parecid a co m a retratado no fil m e m as que não está e x tinta ocorrendo e m di versas regiões do Brasil : a arara - azul - g rande (Anodorhynchus hyacinthinus ) (RENCTAS, 2001) .