«Os Chãos Dos Biafadas» - Memória, Território E Posse Da Terra Em Quinara, Sul Da Guiné-Bissau
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Departamento de Sociologia «Os chãos dos biafadas» - memória, território e posse da terra em Quinara, sul da Guiné-Bissau Manuel Portugal Almeida de Bivar Abrantes Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Estudos Africanos Orientador: Doutor José da Silva Horta, Professor Auxiliar, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Co-orientadora: Doutora Marina Padrão Temudo, Investigadora Auxiliar com Agregação, Instituto de Investigação Científica Tropical Setembro, 2011 i Agradecimentos A Sara Portugal pelo apoio constante em tudo. A Marina Temudo que me mostrou a Guiné pela primeira vez, por partilhar todo o seu conhecimento ao longo dos últimos três anos e por me convencer a não desistir de fazer investigação (seja lá o que isso for). E também por me ter pago uma viagem de avião para a Guiné prescindindo das suas ajudas de custo. A Quebá Indjai por me ter acompanhado em parte do trabalho de campo, por estar sempre disponível, por me ajudar em traduções, e por ter paciência para me aturar. À Fundação Kasahorow por ter financiado o Quebá Indjai, o que permitiu que eu tivesse acesso a traduções de cantigas e contos biafadas. Ao Professor José Horta por ter aceitado orientar este trabalho, por aceitar as mudanças constantes, e pelos muitos úteis comentários que fez num curto espaço de tempo. A Joana Sousa pela discussão constante sobre a Guiné e sobre tudo. A Fernando Sousa por ter partilhado comigo uma bolsa. A Sara Guerreiro, Miguel Carmo, Suleimane Mané, Suleimane Indjai, Mpórté, Fácé, Djassiu Mané, Henrique Tomé, Malan Sani, Honório, Secuna Biai, Iaia Indjai, Ansumane Indjai, Mussa Sanha, e muitas outras pessoas, por me terem recebido nas suas casas de Bissau, Susana e Quinara, sem o seu apoio não seria possível fazer esta tese. A toda a gente de Quinara que se dispôs a contar a história dos seus antepassados. À Fundação Portugal-África por me ter pago uma viagem de avião Lisboa-Bissau-Lisboa. ii Resumo Pretendeu-se entender de que forma os territórios, ou «províncias de espíritos», em que Quinara, região do sul da Guiné-Bissau, está dividida, evoluíram ao longo dos últimos séculos. Como se relacionaram e relacionam uns com os outros, como dentro deles está organizado o poder, e perceber a influência de mudanças religiosas, políticas, agrícolas e comerciais não foram como são geridos. E também entender qual o papel das histórias contadas sobre estes territórios para legitimar a sua posse. Palavras-Chave Guiné-Bissau, Quinara, biafadas, território, posse da terra, floresta, autoridades tradicionais. Abstract The aim of this work is to understand how the territories or "provinces of spirits" in which Quinara, a Southern Guinea-Bissau region, is divided, have evoluted during the last centuries. How is the power organized within them, how religious, political and agricultural changes had change it. Key Words Guinea-Bissau, Quinara, biafada, territory, land tenure, forest, agriculture, traditional authorities. iii Índice Introdução.................................................................................................................................................1 Metodologia .............................................................................................................................................5 Capítulo 1. «A história que não interessa» e Iangalbainala, a criação de Quinara...................................9 Capítulo 2. Os chãos de Quinara – «a história que interessa»................................................................21 2.1. O chão foi comprado e é nosso...........................................................................................21 2.2. O chão importa nomear ......................................................................................................26 2.3. Rios, pedras, e árvores – a fronteira, e eu cheguei primeiro...............................................29 2.4. Chãos do século XXI, reinos dos séculos XVI e XVII.......................................................35 Capítulo 3. Água, mato, fogo, caça, agricultura itinerante, e produtos do mato ....................................47 Capíttulo 4. Islão e chão.........................................................................................................................59 4.1. Islão em Quinara.................................................................................................................59 4.2. «Agora somos muçulmanos» - islão e mato em Quinara ...................................................65 4.3. Islão é religião, o resto não.................................................................................................73 Capítulo 5. Régulos sem chão, ou porque não é preciso reinventar ou inventar a tradição ...................79 Capítulo 6. «O nosso chão e o chão do estado» .....................................................................................91 6.1. Em Quinara o chão nunca foi vendido ...............................................................................91 6.2. Uma ocupação colonial que não ocupou chão....................................................................96 6.3. A primeira expropriação...................................................................................................102 6.4. «O nosso chão e o chão do estado» ..................................................................................111 Epílogo. Mama Sigramagulano – «agora até o beduíno corre sozinho»..............................................117 Fontes de Arquivo ................................................................................................................................126 Bibliografia...........................................................................................................................................129 Curriculum Vitae...................................................................................................................................... I iv Índice de Figuras Figura 1.1. Os farinados mandingas de Braço e do Cabo e as terras Biafadas........................................9 Figura 1.2. O mapa aqui representado de 1899 mostra territórios biafadas para lá do Geba................14 Figura 1.3. Almami Cassamá, um dos três únicos tocadores de cora ...................................................19 Figura 2.1. Sentada, com argolas nas orelhas, Tida Mané, de Buduco.................................................26 Figura 2.2. Os actuais chãos, ou gundi, de Quinara ..............................................................................35 Figura 2.3. Os reinos biafadas descritos nos séculos dezasseis e dezassete..........................................37 Figura 2.4. Distribuição geográfica dos quatro dialectos Biafadas.......................................................41 Figura 3.1. O mato de Quinara – Quedâ................................................................................................53 Figura 3.2. Áreas ardidas.......................................................................................................................56 Figura 4.1. Mamadu Djola ....................................................................................................................63 Figura 4.2. Em Março de 2011 na aldeia de Gantchima .......................................................................70 Figura 4.3. O terreno de Malam com os troncos de Pteurocarpus erinaceus cortados.........................72 Figura 5.1. Vestindo a t-shirt preparada para o empossamento do régulo de Fulacunda......................88 Figura 6.1. Excerto da carta de Pedro Ignácio de Gouveia ...................................................................93 Figura 6.2. Limite das concessões de terras agrícolas inscritas nos serviços de cadastro...................102 Figura 6.3. A zonagem apresentada para o PNLC em 1997 ...............................................................104 Figura 6.4. Mapa da Reserva de Caça da Cufada................................................................................106 Figura 6.5. É sempre impressionante passar por um campo acabado de queimar ..............................108 Figura 6.6. De notar o discurso utilizado nesta reportagem sobre o PNLC ........................................110 Figura 6.7. Mandanem, cego, na sua varanda .....................................................................................114 Figura E.1. Em Janeiro a limpar a vegetação que cresceu nos pomares de cajueiro ..........................121 Figura E.2. O chão de Bárria por Suleimane Indjai ............................................................................124 Figura E.3. O chão de Farancunda por Papiss Iaora ...........................................................................124 v INTRODUÇÃO Em 2008 quando pela primeira vez fui a Quinara, região do sul da Guiné-Bissau, recolher dados para uma tese de licenciatura, li um sem fim de relatórios sobre agricultura, floresta, solos, pedras, e plantas. Li sobre os problemas ambientais da região, as queimadas descontroladas, os efeitos nefastos da agricultura itinerante sobre a floresta. Textos do período colonial, relatórios do período pós- colonial. Discursos semelhantes sobre agricultores incapazes de gerir os seus recursos e o seu território de forma «equilibrada», «sustentável», e «racional». O trabalho de campo não correu bem. Corri Quinara numa enorme anarquia, com vergonha de tirar o caderno e escrever o que me contavam, falta de método e de disciplina, o que resultou