A Delicadeza Na Fruição Estética Do Álbum Pitanga De Mallu Magalhães1
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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016 A Delicadeza na Fruição Estética do Álbum Pitanga de Mallu Magalhães1 Laís Barros Falcão de ALMEIDA2 Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE Resumo Neste artigo se propõem pensar e sentir as materialidades e os afetos do álbum Pitanga, de Mallu Magalhães a partir da noção de delicadeza nos estudos de Estética da Comunicação. E tem como objetivo investigar como os elementos visuais e as músicas do álbum Pitanga conduzem a fruição estética da delicadeza na audição do disco, possibilitam ama experiência de pertencimento na contemporaneidade e nos ajuda a repensar aspectos culturais como a desqualificação da música pop e romântica no Brasil. Para tanto, são identificadas noções como sinceridade, sensibilidade, fragilidade na trajetória da cantora, as sugestões na produção e divulgação do álbum, são analisados as músicas e questionadas as críticas musicais, especificamente gostos e valores hegemônicos baseados em aspectos intelectuais da música e na concepção moderna da arte que busca constantemente inovação e ruptura. Palavras-chave: delicadeza; estética; música pop; música romântica; Mallu Magalhães. A Delicadeza Como Opção Ética e Política na Contemporaneidade Pensando nas minhas experiências ligadas ao sensível desencadeadas quando escuto músicas de artistas contemporâneos, que costumam ser classificados pela crítica musical brasileira como nova MPB3, confesso que sempre fui seduzida pela delicadeza presente nas músicas de Mallu Magalhães, e sua capacidade de me afetar quando consigo imergir em seu ritmo vagaroso e suas questões intimistas, e a partir da escuta, desenvolver o sentimento de sensibilidade e criar uma atmosfera serena que me desloca das atividades cotidianas mais turbulentas como enfrentar o trânsito das cidades de Maceió e Recife, por onde transito de ônibus e de carro sempre ouvindo música. É esse aspecto que me interessa conhecer mais: a fruição estética da delicadeza em produtos midiáticos, especificamente como a delicadeza 1 Trabalho apresentado no GP Comunicação, Música e Entretenimento do XVI Encontro dos Grupos de Pesquisa em Comunicação, evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2 Doutoranda em Estética e Culturas da Imagem e Som no Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (UF PE), bolsista da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe) e integrante do grupo de pesquisa Laboratório de Análise de Música e Audiovisual. E-mail: [email protected]. 3 Nos anos 2000 jornalistas passaram a se referir a um grupo de artistas brasileiros como nova MPB em matérias como: “Chega de Saudade” de Flávio Júnior e Marcio Orsolini, na extinta revista Bravo!, em 2008; “Ninguém é de Ninguém: a Nova Realidade” de Ronaldo Bressane, na Trip, em 2009; e “Artistas Fazem Nova MPB Mesmo Sem Apoio das Grandes Gravadoras” de Marcus Preto, na Serafina, em 2012. 1 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016 atua como fio condutor, isto é, princípio orientador dos ouvintes que se materializa de diferentes formas e garante consistência e potência a Pitanga, terceiro disco solo da cantora e compositora paulista Mallu Magalhães, que foi lançado em 24 de outubro de 2011 no Brasil e em Portugal anos depois, pelo selo Agência de Música em parceria com a gravadora Sony Music. A compreensão estética da delicadeza que tomo como ponto de partida neste trabalho vem dos estudos de Estética da Comunicação que se propõem a pensar e sentir as materialidades e os afetos dos objetos comunicacionais, dos sujeitos e da fruição estética entre eles, e pensa a delicadeza como uma busca de pertencimento na contemporaneidade: “não é portanto, só um tema, uma forma, mas uma opção ética e política, traduzida em recolhimento e desejo de descrição em meio à saturação de informações” (LOPES, 2006, p. 2006), que acontece como fruição estética a partir de percepções particulares do cotidiano e da intimidade, de sentimentos como sensibilidade e amor e valores como sinceridade e autenticidade, e como possibilidade de experiências estéticas em nossos mundos cotidianos (GRUMBRECHT, 2006). A partir dessa visão sobre a delicadeza lanço a questão: como os elementos visuais e as músicas do álbum Pitanga conduzem a fruição estética da delicadeza na audição do disco, possibilitam a experiência estética de pertencimento na contemporaneidade e nos ajuda a repensar aspectos culturais como a desqualificação da música pop e romântica no Brasil? Para desenvolver essa questão, o objetivo do trabalho é analisar o álbum através de duas direções de investigações das experiências mediadas: com a fabricação do real através de relatos e com a descrição da própria experiência dos ouvintes (GUIMARÂES; LEAL, 2008), incluindo a experiência da pesquisadora, questionando os julgamentos de valor e gosto de músicos, produtores, jornalistas. Durante a análise serão consultados a biografia da cantora, a capa, o encarte, a contracapa, o release, os comentários sobre a produção e escuta do disco, assim como reportagens, entrevistas e críticas musicais disponíveis na internet. E com relação às músicas, serão levadas em consideração as letras, a melodia, o ritmo e a harmonia, identificando temáticas, instrumentos musicais, vozes, arranjos e efeitos sonoros, considerando “a música não só como produto cultural e/ou processo comunicacional, mas como uma experiência” (LOPES, 2003, p.87). A Trajetória de Mallu Magalhães Como Estrela Pop Brasileira 2 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016 Mallu Magalhães é uma jovem cantora paulista que ganhou um violão quando tinha nove anos e começou a compor músicas em inglês aos doze anos. Aos 15 anos de idade, cantava suas músicas para os amigos. Em 2007, Mallu registrou suas composições na Biblioteca Nacional, gravou quatro músicas no estúdio Lúcia no Céu, com o dinheiro que ganhou como presente de debutante de seu pai, e depois disponibilizou todas no perfil que havia criado no MySpace. Dentre elas, “Tchubaruba” e “J1”, com letras curtas em inglês, acordes e batidas simples no violão, tornaram-se um sucesso na internet, criando uma comunidade de fãs que interagiam entre si, replicavam e indicavam as músicas e os vídeos de Mallu para outras pessoas4. Antes mesmo de lançar seu primeiro disco e sem ajuda de gravadora, a cantora já possuía 1,9 milhão de acessos no MySpace, fã-clubes, participação no Programa do Jô, Altas Horas e Caldeirão do Hulk na Globo, show no Circo Voador, parceria cantando a música “Janta” com Marcelo Camelo (Los Hermanos) no show do primeiro álbum solo de Camelo, chamado “Sou”, e indicação paras as categorias artista do ano, melhor show e artista revelação para a premiação do Vídeo Music Brasil (VMB) de 2008, organizado pela MTV Brasil. Esse sucesso repentino da cantora foi recebido pela imprensa como acontecimento particular e pouco frequente de criação e prospecção de um artista brasileiro a partir da internet na época, mas também como possibilidade para o futuro da indústria da música no país, por isso sua trajetória foi caracterizada por jornalistas como fenômeno pop e “tão espantosa quanto incerta” (ANTENORE, 2008). Contrariando previsões de que seria um artista-relâmpago, que aparece com uma ou duas músicas que faz sucesso e depois desaparece, Mallu prosseguiu com sua carreira na música lançando Mallu Magalhães (Agência de Música, 2008), DVD Mallu Magalhaes (Agência de Música 2008), Mallu Magalhães (Agência de Música/Sony Music, 2009), Pitanga (Agência de Música/Sony Music, 2011), flertando com o mundo da moda (CIOFFI, 2011; PACCE, 2012) e trabalhando ilustrações (OLIVEIRA, 2014). Mas o que nos interessa na trajetória de Mallu é como ela sempre esteve envolvida “na mística do vocalista enquanto star e no uso da voz como forma de articulação das experiências dos ouvintes, marcando seus cotidianos e suas memórias” (LOPES, 2007, p.166). A mística que envolve Mallu diz respeito ao seu talento precoce, ou como a Revista Rolling Stones anuncia a “Garota Prodígio” (CRUZ, 2008), “Estrela Teen” na revista 4 Biografias de Mallu Magalhães podem ser acessadas no site oficial da cantora (www.mallumusic.com.br) e no site criado pelo selo Agência de Música para divulgar os dois primeiros discos de Mallu (www.agenciademusica.com.br/mallumagalhaes/site/index.php). Acesso em 28 de junho de 2016. 3 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016 Capricho (JÚNIOR, 2009), “Garota da Rede” na revista Quem Acontece (FERLA, 2008), e quanto a sua música “A Adolescente Folk” no jornal O Globo de 2008, “Garota Bossa Nova” na revista Isto É (RANGEL, 2009), “Prodígio da MPB” no Jornal da Tarde em 2009, e representante de uma nova MPB na revista Serafina da Folha de São Paulo (PRETO, 2012). Também está relacionada à exposição de sua vida privada pela imprensa brasileira, principalmente sobre seus relacionamentos amorosos: o rápido namoro com Hélio Flanders, vocalista de Vanguart de quem era fã (GIACOMO, 2008), logo seguido pela polêmica gerada quando ela e Marcelo Camelo, integrante dos Los Hermanos, de quem também era fã, anunciaram