Panderia Beaumonti (Rouault, 1847) Da Formação Cabeço Do Peão Do Berouniano Médio (Ordovícico Superior, Portugal)
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Versão online: http://www.lneg.pt/iedt/unidades/16/paginas/26/30/185 Comunicações Geológicas (2014) 101, Especial I, 537-541 IX CNG/2º CoGePLiP, Porto 2014 ISSN: 0873-948X; e-ISSN: 1647-581X Panderia beaumonti (Rouault, 1847) da Formação Cabeço do Peão do Berouniano Médio (Ordovícico Superior, Portugal) Panderia beaumonti (Rouault, 1847) of the Cabeço do Peão Formation of Middle Berounian (Upper Ordovician, Portugal) S. Pereira1*, A. A. Sá2,3, C. Marques da Silva1, N. Vaz2,3 Artigo Curto Short Article © 2014 LNEG – Laboratório Nacional de Geologia e Energia IP Resumo: O estudo de 52 fósseis de trilobites Panderiidae Romão et al. (1995). Posteriormente Guy & Lebrun (2010) provenientes de uma jazida clássica do Membro Queixoperra figuraram pela primeira vez os panderídeos desta unidade. (Formação Cabeço do Peão, Ordovícico Superior, Mação, Os autores admitiram que morfologicamente os exemplares Portugal), cuja identidade específica era duvidosa, permitiu identificar Panderia beaumonti no Berouniano Médio português. A de Panderia de Mação são muito similares a P. beaumonti espécie é pela primeira vez descrita e figurada em Portugal e o seu (Rouault, 1847) do Ordovícico Médio espanhol, deixando registo em Mação é o mais recente documentado para a espécie na contudo em suspenso a pergunta: “serão mesmo?” Península Ibérica. No decurso do nosso trabalho, cujos resultados agora Palavras-chave: Panderia, Membro Queixopêrra, Berouniano se apresentam, foram estudados 52 espécimes de Panderia Médio, Ordovícico, Portugal. provenientes de uma jazida clássica do Membro Queixopêrra em Mação. Estes foram atribuídos à espécie Abstract: Fifty two Panderiidae trilobite fossils from a classical site of the Queixoperra Member (Cabeço do Peão Formation, Upper Panderia beaumonti, já conhecida há mais de 150 anos no Ordovician, Mação, Portugal) with dubious specific assignment were Dobrotiviano de França, Espanha e, pouco depois, studied. This study allowed us to identify Panderia beaumonti on the Portugal (Rouault, 1847; Verneuil & Barrande, 1856; Middle Berounian of Portugal. The species is described and figured Delgado, 1892, respetivamente). Contudo, este é o registo for the first time in Portugal. This is the youngest record of Panderia mais recente da espécie na Península Ibérica, embora não beaumonti in the Iberian Peninsula. seja a primeira vez que P. beaumonti é identificada em Keywords: Panderia, Queixoperra Member, Middle Berounian, níveis do Berouniano Médio. Kerforne (1901) apresentou Ordovician, Portugal. como Illaenus beaumonti um toracopigídeo incompleto 1 proveniente da Formação Kermeur (Veryac’h, França). Departamento de Geologia e Centro de Geologia, Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa, Campo Grande 1749-016 Lisboa (Portugal). Porém, esse exemplar nunca foi figurado e, 2Departamento de Geologia, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, posteriormente, não foi encontrado na coleção do autor Quinta de Prados 5000-801 Vila Real (Portugal). (Lebrun, 1995). Contudo, há fortes indícios de que a 3 Centro de Geociências, Universidade de Coimbra, Largo Marquês de Pombal, espécie está efetivamente presente no grés da Formação 3000-272 Coimbra (Portugal). Kermeur uma vez que há informação não publicada *Autor correspondente / Corresponding author: [email protected] (Lemeur, 2007) de que existem exemplares em coleções privadas de entusiastas locais. 1. Introdução O estudo paleontológico do Membro Queixopêrra (Formação Cabeço do Peão, Berouniano Médio, Ordovícico Superior – Zona Centro-Ibérica) iniciou-se há mais de um século, com a recolha de dezenas de fósseis numa campanha em Agosto de 1902, encomendada por Nery Delgado. A jazida de Delgado, designada “500 m a N52ºE do Pereiro”, situa-se a cerca de 1500 metros daquele que é hoje um dos lugares-chave para a recolha de fósseis do Membro Queixopêrra, um lugar conhecido por cientistas, Fig.1. Localização geográfica da jazida clássica do Membro Queixopêrra colecionadores e habitantes de Mação (Fig. 1). perto da aldeia do Pereiro, Mação. O género Panderia Volborth, 1863, comum nos depósitos do Membro Queixopêrra, foi pela primeira vez Fig.1. Geographic location of the classic Queixopêrra Member outcrop near Pereiro village, Mação. referido em Portugal na Formação Cabeço do Peão por 538 S. Pereira et al. / Comunicações Geológicas (2014) 101, Especial I, 537-541 No que respeita a Portugal, refira-se que não foram (1995, Fig. 1), proveniente do Darriwiliano da Formação encontrados exemplares de Panderia provenientes do Traveusot, Ille-et-Villaine (Maciço Armoricano francês). Membro Queixopêrra nas extensas coleções de Nery Designado por Lebrun (1995), pertence à coleção Rouault Delgado. Contudo, é provável que os espécimes (Instituto de Geologia de Rennes). identificados por Delgado (Delgado, 1908, p. 80) nesses níveis como Illaenus sp. correspondam a exemplares de Material. Três carapaças enroladas (moldes internos: Panderia, dado que Delgado deixou etiquetas com esta MGUTAD15008b; MGUTAD15010; CMP0003; designação em exemplares de P. beaumonti provenientes CMP0009/ molde externo MGUTAD15008a); 11 do Darriwiliano de Valongo. carapaças completas (moldes internos: PMGT00123; PMGT013103; MGUTAD15001a; MGUTAD15011a; 2. Paleontologia sistemática CMP0005; CMP0007a; CMP0013; CMP0016a; CMP0023; CMG0002/moldes externos: PMGT0123bis; Os termos morfológicos utilizados na descrição são os CMP0016b; MGUTAD15001a; MGUTAD15011b; propostos por Bruton (1968), Lebrun (1995), Whittington CMP0007b; MGUTAD15011b; CMP0024); 19 carapaças (1997) e Klikushin et al. (2009). O material estudado está incompletas e/ou desarticuladas (moldes internos: transitoriamente depositado na Faculdade de Ciências da PMGT0233; PMGT0123 - 2 espécimes; PMGT014-9; Universidade de Lisboa e pertence às coleções do Museu PGMT0122; MGUTAD15002a; MGUTAD15007; Geológico Fernando Real da Universidade de Trás-os- CMP0001; CMP0002a; CMP0006; CMP0008; CMP0011; Montes (MGUTAD) e às coleções privadas de Miguel Pires CMP0012; CMP0015a; CMP0017a; CMP0019a; (CMP), de Pierre-Marie Guy (PMGT) e de Armando CMP0020; CMP0021/ moldes externos: PMGT0123bis – Marques Guedes (CMG). 2 espécimes; MGUTAD15002b; CMP0002b; CMP0015b; CMP0017b; CMP0019b; CMG0001); seis cranídeos Classe TRILOBITA Walch, 1771 (moldes internos: PMGT0233-3; PMGT0233-5; Ordem CORYNEXOCHIDA Kobayashi, 1935 CMP0014; MGUTAD15012; MGUTAD15035; Subordem ILLAENINA Jaanusson, 1959 MGUTAD15042/moldes externos: PMGT0233-3); quatro Superfamília ILLAENOIDEA Hawle & Corda, 1847 toracopigídeos incompletos (molde interno: CMP0004; ?Família PANDERIIDAE Bruton, 1968 CMP0018; CMP0022a/molde externo: CMP0010; Género Panderia Volborth, 1863 CMP0022b); nove pigídios (moldes internos: PMGT0233- 4; MGUTAD15011; MGUTAD15003; MGUTAD15004; Espécie-tipo. Panderia triquetra Volborth, 1863, do MGUTAD15006; MGUTAD15009; MGUTAD15013; Darriwiliano (Andar Kunda - unidade cronostratigráfica MGUTAD15039; MGUTAD15041a/moldes externos: regional da Baltoscandinávia) da Íngria, Província ou PMGT0233-4; MGUTAD15041b). Oblast de Leninegrado, Rússia. Ocorrência. Formação Cabeço do Peão – Membro Distribuição estratigráfica e geográfica. Ordovícico (do Queixopêrra (estrada de Mação para Aboboreira, Tremadociano? ao Hirnantiano) de Portugal, Espanha, coordenadas 39°34'57.64"N e 8° 1'33.33"W). O material França, Alemanha, Bélgica, País de Gales, Inglaterra, estudado ocorre na Biozona de extensão Crozonaspis Suécia, Noruega, Estónia, Letónia, Marrocos, Rússia, dujardini-Deanaspis seunesi, estando o Membro Mongólia, Irão, Cazaquistão, Uzbequistão, Tailândia, Queixopêrra enquadrado estratigraficamente no Índia, China e Estados Unidos da América. Berouniano Médio (andar regional) que se correlaciona com o Sandbiano terminal-Katiano basal da escala Panderia beaumonti (Rouault, 1847) cronoestratigráfica global (essencialmente com a fatia Figura 2 (A-N) temporal Ka1). *1847 Nilaeus Beaumonti Rouault, p. 321, est. 3, fig. 2. 1892 Illaenus Beaumonti, Rou. – Delgado, p. 14. 1901 Illaenus beaumonti (Rouault) – Kerforne, pp. 185-186. Descrição. Forma micropígica. Cefalão mais largo ? 1908 Illaenus sp. – Delgado, p. 80 (transversalmente) que comprido (sagitalmente), com v 1908 Illaenus cf. beaumonti Rou. (¿ an sp. n.) – Delgado, p. máxima largura ao nível do ponto ε. Contorno semicircular 106 em vista palpebral e elíptico em vista dorsal. Glabela 1954 Panderia beaumonti (Rouault) – Jaanusson, p. 565 muito convexa (ângulo cranidial próximo de 90°) e larga 1968 Nileus Beaumonti Rouault – Bruton, p. 6. (60% da largura máxima cefálica), não definida 1989 Panderia beaumonti (Rouault, 1947) – Rábano, est. 42, anteriormente. Em vista lateral, a glabela eleva-se no terço figs. 1-12. posterior do seu comprimento, decaindo anteriormente. Os 1995 Panderia beaumonti – Lebrun, fig. texto. 1, 5-A, 6, 7; est. 1, figs. 1-3; est. 2, figs. 1-2; est. 3, figs. 1-3. sulcos dorsais distinguem-se bem no bordo posterior, v 1995 Panderia sp. – Romão et al., p. 124. desenvolvendo um pequeno apódema no contacto com o v 2010 Panderia beaumonti (Rouault 1847) – Guy & Lebrun, pp. tórax (moldes internos); tornam-se indistintos a partir da 56-57. zona intermédia dos lóbulos palpebrais. O seu traçado é sub-retilíneo (ligeiramente divergente na sua metade Lectótipo. Uma carapaça (molde interno IGR2278a) posterior) e paralelo à linha sagital. A superfície glabelar é figurada por Bézier (1907, p. 119, Fig. C1) e por Lebrun lisa. Quando esfoliados, os bordos posteriores apresentam Panderia beaumonti no Berouniano Médio português 539 um aparente sulco transversal (S0/L0