Identidades Femininas Indígenas Em Movimento Na Poética De Eliane Potiguara Moving Indigenous Female Identities in the Poetic of Eliane Potiguara
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Revista Digital do e-ISSN 1984-4301 Programa de Pós-Graduação em Letras da PUCRS http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/letronica/ Porto Alegre, v. 11, n. 3, p. 361-374, julho-setembro 2018 http://dx.doi.org/10.15448/1984-4301.2018.3.31235 Identidades femininas indígenas em movimento na poética de Eliane Potiguara Moving indigenous female identities in the poetic of Eliane Potiguara 1 Professor do Núcleo de Literatura do Instituto de Carlos Augusto de Melo1 Letras e Linguística (ILEEL) e do Programa de 2 Pós-graduação em Estudos Literários (PPLET) na Heliene Rosa da Costa Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários, Instituto de Letras e Linguística, http://orcid.org/0000-0001-9305-9519 Universidade Federal de Uberlândia. Uberlândia, MG, Brasil E-mail: [email protected] 2 Doutoranda pelo Programa de Pós-graduação em Estudos Literários (PPLET) na Universidade RESUMO: Neste artigo, busca-se compreender de que forma o processo diaspórico em território brasileiro interfere na constituição identitária, Federal de Uberlândia (UFU). http://orcid.org/0000-0002-5138-3430 sobretudo feminina, dos povos originários, a partir da leitura e análise crítico-literária do livro Metade Cara, Metade Máscara (2004), da precursora E-mail: [email protected] escritora indígena brasileira Eliane Potiguara. Sob essa mesma perspectiva analítica, propõe-se investigar também as complexas implicações dessas movimentações migratórias forçadas nas dinâmicas de violência e de silenciamento das vozes e das subjetividades indígenas. Na poética dessa umescritora, texto que,as identidades muitas vezes, têm apoiado sustentação nas perspectivas na prática da teóricas afirmação dos daEstudos memória Culturais, e conhecimentos envolve uma ancestrais, metodologia como de expressãoanálise de dascaráter subjetividades, qualitativo principalmente femininas, de diferentes etnias, constituindo-se lugares de conflitos e de materialização do entrelugar das vozes indígenas. Este é contemporâneas dos Estudos Culturais, como os de diáspora, de desterritorialização, de transculturação, de poética de movimento, à luz dos textos e bibliográfico. Por fim, vale dizer que este trabalho dialoga com importantes conceitos teórico-metodológicos, recorrentes nas discussões Palavras-chave: Literatura indígena; Identidade feminina; Eliane Potiguara; Diáspora indígena. de Stuart Hall, Bhabha, Ette, Ortiz, entre outros. ABSTRACT: Metade Cara, Metade Máscara (2004), by Eliane Potiguara, In this article, we seek to understand, from reading some texts of the work what form(s) the indigenous separation in brazilian territory interfere in the constitution of these people, especially in the female identity. At the same time, we investigated characteristics of the literature of indigenous authorship, based in the author’s poetics, seeing the implication of these forced migrations and yours violence of dynamics and the silencing of indigenous voice and subjectivities. Therefore, we veriefied that the identity is supported by the memory and the ancestral knowledges, besides that we realized that there are aspects of poetic-literary production that appear linked to the movement of these people, motivated by the invasions of the indigenous territories. Besides that, the literature produced by the indigenous intellectuals, as an expression of the subjectivity of the different ethnic groups, become a place of conflicts and the materialization of the indigenous voices, that become this literature an important instrument to the expression and the fortification of yours subjectivities. This is a text that, sometimes supported by the perspective of Cultural Studies, involves a qualitative and bibliographic methodology. Finally, it is worth Keywordsmentioning that this analytical work is in dialogue with important theoretical and methodological concepts, recurrent in the discussions of Cultural Studies, such as diaspora, deterritorialization, transculturation, poetics of movement, according to the works of Stuart Hall, Bhabha, Ette, Ortiz. Exceto onde especificado diferentemente, a matéria publicada neste periódico é licenciada sob forma de uma licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional.: Literature of indigenous; Female identity; Eliane Potiguara; Indigenous separation. http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/ MELO, C. A., COsta, H. R. – Identidades femininas indígenas em movimento na poética de Eliane Potiguara 1 Palavras introdutórias sustentável desses povos, as diásporas forçadas impulsionam a desterri- torialização literatura é lugar de travessias no qual se transitam as mais diferentes provocando 1o empobrecimento material e espiritual dos nativos deslocados, e o afastamento das tradições cultivadas nas florestas, o que afeta negativamente suas subjetividades identitárias e abala as subjetividades. Em sua materialidade linguística, revelam-se vozes noções de pertencimento e de autoimagem. Essas questões ocasionam um de existência e de percepção da realidade bastante distintos em sua verdadeiro ataque aos direitos fundamentais dos povos originários que e modos em movimento, segundo a perspectiva de Ottmar Ette (2016), sofrem irreversíveis fragmentações em suas identidades. paradoxal complexidade e singularidade. Ou seja, literatura é “um saber em A abrem importante espaço para as mais variadas expressões das vozes e das movimento, cuja estrutura multilógica possui significativa importância para As recentes produções literárias escritas dos intelectuais indígenas que subjetividades desses povos possibilitam a percepção desse fenômeno, pois a sobrevivência do mundo do século XXI e o desafio de garantir a convivência Nessa perspectiva, a literatura de autoria indígena no Brasil, como seus textos carregam explícita ou implicitamente as marcas das violências na paz e na diferença” (ETTE, 2016, p. 195). manifestação de um grupo social violentado e silenciado por séculos, problematiza, em constantes movimentos, as diásporas dos múltiplos povos sofridas pelos movimentos diaspóricos. Assim, têm-se textos literários com originários brasileiros, cujos deslocamentos transculturais – impulsionados espirituais que caracterizam os diversos grupos indígenas no Brasil. características muito específicas, atreladas às dinâmicas sociais, culturais e colonização e de neocolonização – desestabiliza(ra)m as identidades dentro ao longo da história a partir da dominação europeia pelos processos de Em artigo a respeito dos povos originários que habitam o vale do Rio e fora de suas comunidades. Entendem-se, aqui, esses processos diaspóricos diáspora indígena foi mais do que uma mera troca de lugar, pois foi forjada Doce, em Minas Gerais, o historiador Lamas (2012, p. 228) esclarece que “a relacionados aos deslocamentos migratórios forçados de indivíduos, cujas por lutas sangrentas que violentavam não somente o próprio corpo indígena, consequências são os devastadores sentimentos de desenraizamento, de silenciamento, de exclusão, de não pertencimento e de constantes em sua pesquisa as múltiplas formas de enfrentamento engendradas por como também sua forma de produção cultural.” O pesquisador examina enfrentamentos identitários pela contingência de se viver em um entrelugar invasores naquela região, em razão da expansão do ciclo das minerações. esses indígenas, popularmente conhecidos como Botocudos, ao avanço dos subjetividades num espaço cultural intersticial que, nas palavras de Homi K. Em sua obra Metade Cara, Metade Máscara (2004), a escritora indígena e de se perceber como o “outro”. Nesse sentido, as diásporas constituem brasileira Eliane Potiguara traz à tona essas problemáticas em torno das movimentações das diásporas e ressalta a ausência de políticas efetivas Bhabha (1998), é o “espaço do além” onde coexistem o passado e o presente. As diásporas dos indígenas brasileiros caracterizam-se pelas migrações colonização, da neocolonização, das invasões e disputas territoriais, do forçadas, nos mais diversos espaços geográficos nacionais, em razão da 1 nos contextos coloniais e pós-coloniais que provocaram movimentos migratórios forçados, de modo extrativismo, do agronegócio, entre outros aspectos. Diferentemente aO esfacelarconceito dea organização desterritorialização de muitas está comunidades relacionado indígenas ao produto e forçar das invasões o deslocamento aos territórios de contingentes indígenas das movências voluntárias, constitutivas das dinâmicas de sobrevivência territórios subtraídos, mas também ao afastamento dos indígenas de seus parentes e de suas tradições. humanos das florestas, realocados em espaços urbanos. Esse fenômeno não está ligado apenas aos Letrônica | Porto Alegre, v. 11, n. 3, p. 361-374, jul.-set. 2018 362 MELO, C. A., COsta, H. R. – Identidades femininas indígenas em movimento na poética de Eliane Potiguara na contenção do êxodo nas comunidades indígenas. Ela evidencia o posicionamento de seu povo e aponta para as medidas necessárias para a família bastante humilde, conseguiu graduar-se em Letras, prosseguiu na carreira docente e se enveredou pelos caminhos da literatura, vindo a ser de autoria indígena no Brasil. resolução desses conflitos: reconhecida como uma das principais precursoras escritoras da literatura Baluarte nas lutas pelos direitos dos povos originários, a intelectual Povos indígenas querem viver dentro do equilíbrio e dar seu testemunho de uma convivência pacífica e não serem vistos na mídia empunhando paternalismos,bordunas ou armas. entreguem Eu clamo as terras aos governantes que são