Padrão (Template) Para Submissão De Trabalhos Ao
Total Page:16
File Type:pdf, Size:1020Kb
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Salto - SP – 17 a 19/06/2016 A Personagem Negra Na Telenovela Brasileira: “Viver a Vida” e a Primeira Protagonista Negra No Horário Nobre da Globo1 Samara Araújo da Silva2 Universidade Federal de Ouro Preto, Mariana, MG Resumo A telenovela é um agente de construção da memória social e identidade cultural de um país. É de extrema relevância o fato da ficção seriada das novelas influenciar nas concepções sociais, atingindo diretamente a visão de si e também do outro. Questiona-se até que ponto a escolha de uma atriz negra como protagonista em horário nobre na Globo tenha sido de fato uma conquista. Até que ponto a personagem teve “destaque”, se realmente teve e como foi representada. O presente trabalho tem intenção de discutir como a mulher negra é representada na teledramaturgia com foco na primeira protagonista negra em horário nobre, Taís Araújo na novela “Viver a Vida”. Palavras-chave: Mulher negra; Racismo; Telenovela; Representação. Introdução A representação da negritude brasileira no produto televisivo teve avanços, contudo, ainda reforça estereótipos. O negro continua no papel subalterno, realizando ofício braçal, envolto ao sexismo, reforçando a ideia de uma inferioridade intelectual o que enaltece o embranquecimento. Taís Araújo foi a escolhida pelo escritor Manoel Carlos para interpretar uma de suas “Helenas” na novela “Viver a Vida”, 2009. Torna-se necessária a discussão do racismo “embutido”, posição, intensão da emissora na representação e escolha do personagem no período em que o movimento negro lutava para a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial no Congresso Nacional. Através da análise da trama e um estudo comparativo com as demais “Helenas” do autor, conclui-se que a personagem foi uma protagonista secundária e que sua representação foi inferiorizada e estereótipada. 1 Trabalho apresentado no DT 04 – Jornalismo do XXI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste realizado de 17 a 19 de junho de 2016. 2 Estudante de Graduação 6º. semestre do Curso de Jornalismo da UFOP, email: [email protected] Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Salto - SP – 17 a 19/06/2016 A mulher negra na telenovela O negro quando representado na teledramaturgia em grande maioria é tido como apto para interpretar papéis subalternos, negativos, subordinados a pessoas brancas, empregados, com baixa renda, má índole e tendo seu corpo em destaque com aspectos de sensualidade e demais estereótipos. É notável o aumento de negros que interpretam personagens com poder aquisitivo e fora dos seguimentos citados, contudo, se comparado ao número de personagens interpretados por atores e atrizes de pele branca, ainda existe uma imensa discrepância. O escritor Joel Zito Araújo em seu livro “A negação do Brasil” realiza um estudo sobre a presença e representação do negro na trajetória da telenovela no Brasil levantando uma série de dados e depoimentos de atores que sentiram na pele o preconceito e o ideal de branqueamento. Em poucos trabalhos identificamos atores negros nos papéis principais, de protagonistas ou antagonistas. [...] Se o personagem criado pelo autor não receber, na sinopse, referências sobre o seu pertencimento racial, o ator branco tende a ser escolhido. O afro- descendente só terá a sua oportunidade assegurada se existirem rubricas que evidenciem a necessidade de um ator negro. Se na construção do personagem for destacado um tratamento estereotipado, recorrendo aos arquétipos da subalternidade na sociedade brasileira, aumenta a possibilidade de construção para o ator negro. De um modo geral, ao ator afro-brasileiro estão reservados os personagens sem, ou quase sem, ação, os personagens passageiros, decorativos, que buscam compor o espaço da domesticidade, ou da realidade das ruas, em especial das favelas. (ARAÚJO, 2004) A novela pode contribuir na contrução da realidade, memória e identidade social.. A mulher negra na novela é em sua maioria mostrada de maneira inferior exercendo profissões de valor social pouco reconhecido ou como símbolo de um hipersexualismo. “A exposição constante a imagens estereótipadas da realidade leva à construção de algumas representações mentais da realidade igualmente estereotipadas”. (FERRRÉS, 1998,p.140) É possível afirmarmos que a telenovela no Brasil, ao longo de seus 50 anos de existência, conquistou reconhecimento público como produto artístico-cultural e ganhou visibilidade como agente central do debate sobre a cultura brasileira e a identidade do país. Ela também pode ser considerada um dos fenômenos mais representativos da tardia modernidade brasileira, por combinar o Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Salto - SP – 17 a 19/06/2016 arcaico e o moderno, por fundir dispositivos narrativos anacrônicos e imaginários modernos e por ter a sua história fortemente marcada pela dialética nacionalização-comunicação de massa dentro do Brasil (IMMACOLATA, 2014, p.2). A mulher negra sofre uma espécie de rejeição, ela raramente é vista em representações midiáticas, revistas, novelas, comerciais que quase sempre são estampados por mulheres loiras, brancas nos “padrões” sociais mais aceitos dentro da cultura do embranquecimento. Seu corpo possui uma carga histórica da escravidão que ainda prevalece. O corpo negro é tido como exótico, pecaminoso, “Da cor do pecado”, diferente, ligado ao sexo e ao racismo que as classifica como proibidas para monogamia ou matrimônio. No último Censo, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010, dados sobre a mulher negra brasileira chamaram a atenção. O levantamento apontava que, à época, mais da metade delas – 52,52% – não vivia em união, independentemente do estado civil. E ainda que o ideal de branqueamento articulado em fins do século XIX e no principio do século XX como proposta concreta para o desenvolvimento da nação e constituição de sua identidade nacional tenha fracassado como projeto – uma vez que os negros não desapareceram nem estão em vias de; seu ideal permanece fortemente arraigado na cultura brasileira, dificultando a formação de identidades coletivas baseadas na negritude e na mestiçagem (MUNANGA, 1999, p.50). O autor Manoel Carlos é um importante escritor de novelas e minisséries da Rede Globo de televisão. No inicio de sua carreira, atuou na teledramartugia nacional e consequentemente seguiu dirigindo e produzindo programas televisivos de entretenimento, shows de humor e de cunho musical. Sua estréia nas telenovelas veio por meio da trama “Maria Maria” em 1978, teve parte de sua carreira percorrida na Rede Bandeirantes e Manchete. Posterior a esse período, Manoel adquire uma particularidade muito questionada ao autor. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Salto - SP – 17 a 19/06/2016 Suas novelas trouxeram uma protagonista mulher que curiosamente recebia o nome de “Helena”. As Helenas que receberam esse nome segundo o autor por referência a Helena de Tróia. Suas protagonistas possuem perfis parecidos, sempre destemidas, lindas, capazes de tudo pelo amor, fortes e donas de suas histórias. O autor reunirá em diversas crônicas a cotidianeidade das mulheres contemporâneas, retratando seus diversos conflitos e tensões sociais. Irá discutir as relações humanas a partir do terreno da afetividade que se desenvolve em uma metrópole contemporânea, o Rio de Janeiro, privilegiando as questões do amor, da família, da paixão e da sexualidade. [...] Manoel Carlos tratou o texto de suas telenovelas de forma cada vez mais centralizada na perspectiva feminina. [...] Os homens aparecem mais frágeis dependentes das mulheres, experimentam uma incompletude diante da vida, principalmente nos personagens protagonistas. Todos procuram por um amor ideal e nenhum se satisfaz, no final se confrontam com a possibilidade de uma mulher com defeitos, ambiguidades morais e capazes de atitudes cruéis e egoístas, mesmo evocando um altruísmo e renúncia. (SANTOS, 2008) Os homens exercem um papel secundário nas tramas. Além dos nomes que se repetem as obras de Manoel Carlos possuem outra particularidade que é de se passarem no Leblon, Rio de Janeiro. Interpretadas em sua maioria por famosos atores consagrados que se repetem durante suas obras. A primeira Protagonista negra no horário nobre e a Helena de “Viver a Vida”. A novela “Viver a Vida” de Manoel Carlos foi produzida pela Rede Globo e foi ao ar no horário das 21 horas no período 14 de setembro de 2009 ao dia 14 de maio do ano de 2010. Fora dos padrões onde os negros são sempre representados de forma subalterna ou marginalizada, a novela Viver a Vida poderia ter sido um presente para os movimentos raciais que discutiam no congresso a aprovação do estatuto de igualdade racial e também todos que criaram esperanças com o anúncio da primeira protagonista negra em horário nobre. A escolhida para interpretar a primeira protagonista negra em horário nobre e consequentemente uma das Helenas de Manoel Carlos foi a atriz Taís Araújo. Taís Bianca Gama de Araújo Ramos, se faz presente na telinha desde muito cedo. Protagonizou com Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste