O Esporte Clube Noroeste Em Busca Do Orgulho Perdido
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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” CURSO JORNALISMO – DIURNO Marcelo Ribeiro Ricciardi De Volta aos Trilhos: o Esporte Clube Noroeste em busca do orgulho perdido BAURU 2006 Marcelo Ribeiro Ricciardi De Volta aos Trilhos: o Esporte Clube Noroeste em busca do orgulho perdido Projeto Experimental apresentado como exigência parcial para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo, ao Departamento de Comunicação Social da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, campus de Bauru (SP), atendendo à resolução 002/84 do Conselho Federal de Educação, sob orientação do Professor Dr. Ângelo Sottovia Aranha. Bauru 2006 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” CURSO JORNALISMO – DIURNO Marcelo Ribeiro Ricciardi Relatório De Volta aos Trilhos: o Esporte Clube Noroeste em busca do orgulho perdido BAURU 2006 Índice 1. Um Sábado Qualquer 1 2. Fazendo História 8 3. Idas e Vindas 25 4. A Cartolagem 35 5. A Crise 43 6. Considerações 53 1. Apresentação O ano de 2006 foi especial para a cidade de Bauru, interior do estado de São Paulo. Seu nome ecoou por todo a país com a viagem ao espaço do primeiro astronauta brasileiro, nascido nesse município. Mas se em Março deste ano Marcos Pontes levou a bandeira da cidade até o espaço, antes disso outro símbolo bauruense deixou a cidade em euforia e também foi lembrado no espaço: o Esporte Clube Noroeste. O clube foi fundado no dia 1o. de Setembro de 1910, inicialmente como uma representação esportiva da estrada de ferro Noroeste do Brasil, a NOB. A partir do momento em que ascendeu pela primeira vez à divisão principal do Campeonato Paulista em 1954, as rivalidades com outros clubes da cidade, como Luzitânia (depois BAC) e Smart se diluíram para darem lugar às rixas com os principais times do estado e outros do interior do estado também. O Noroeste se tornou a maior representação esportiva de Bauru. A disputa do campeonato paulista era a grande razão da existência do Noroeste, assim como de todos outros clubes na primeira metade do século. O futebol já estava consolidado como esporte favorito da maior parte da população, principalmente por aceitar atletas negros e oriundos de classes mais baixas financeiramente, e as partidas disputadas em estádios que comportavam até mais de cinqüenta mil pessoas tinham grande potencial de eventos sociais, e, por que não, até políticos. Durante as décadas de 50 e 60, os campeonatos estaduais tiveram seu ápice, sobretudo os campeonatos paulista e carioca. A grande maioria dos jogadores campeões pela Seleção Brasileira nas Copas do Mundo de 58, 62 e 70 ganhou destaque e projeção nessas duas competições. O Santos de Pelé e o Botafogo de Garrincha eram seus maiores expoentes e serão lembrados para sempre. Torneios nacionais como a Taça Brasil e Taça Roberto Gomes Pedrosa já eram realizados, mas não envolviam tantas equipes e tinham menor duração. Somente a partir de 1971, a antiga CBD (Confederação Brasileira de Desportos, que deu lugar á atual CBF, Confederação Brasileira de Futebol)(X) resolveu assumir oficialmente a realização do Campeonato Brasileiro. A partir daí o calendário futebolístico nacional se dividiria em dois semestres, um dedicado aos regionais e outro ao nacional. Assim foi por mais de trinta anos, até que a partir de 2003 o Brasileirão (como é usualmente tratado pela mídia e por torcedores o Campeonato Brasileiro) passou a adotar a fórmula de disputa por pontos corridos. Com esse regulamento as equipes devem jogar todas contra todas dentro e fora de seus domínios, o que demanda um maior número de datas para que todas as rodadas da tabela possam acontecer. A prioridade da CBF, clubes da primeira divisão e pelas redes de televisão (principais financiadoras dos times com os pagamentos de cotas de transmissão) passou a ser o campeonato nacional. Aos estaduais (27 no total, com cada estado da federação tendo o seu próprio campeonato) foi reservado no calendário um espaço pouco maior do que três meses. A importância dos estaduais passou a ser cada vez menor. As médias de público se reduzem ano após ano e os chamados clubes grandes, os com maiores números de títulos e maiores torcidas, sobretudo os de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, passaram a dar prioridade para outras disputas como a Copa do Brasil (segundo maior torneio de nível nacional) e a Taça Libertadores da América (grande competição com times de todos os países do continente), que são jogadas no mesmo período. Paralelamente a tudo isso, o futebol nacional passa por sua maior crise financeira, resultado das constantes más administrações dos dirigentes que não sabem controlar financeiramente as agremiações e que afastaram gradualmente grandes investidores. A adoção da Lei Pelé (que essencialmente acabou com o chamado “passe” dos atletas) vem sendo turbulenta também. O maior poderio econômico dos países europeus passou a contratar os talentos brasileiros em ascensão ainda em idades de formação, e sem oferecer uma contrapartida compensatória aos clubes formadores. O Noroeste também sentiu todos os efeitos dessas crises já ao longo da década passada. Em 1993 foi rebaixado da divisão principal (Série A-1) do Paulistão e a partir daí chegou até mesmo a ter que jogar no terceiro pelotão (a Série A-3, imediatamente abaixo da Série A-2). O Campeonato Brasileiro só chegou a ser disputado pelo clube em 1978, mas somente graças a um convite dos dirigentes da confederação de então. Nas oportunidades em que tentou os campeonatos de acesso as campanhas foram insuficientes. Os times de 2004 e 2005 conduziram de novo o futebol de Bauru ao principal torneio do estado. As comemorações das campanhas de acesso foram grandes e geraram expectativa, ainda mais sabendo-se que outros clubes de estatura semelhante ao Noroeste nunca conseguiram se estabilizar com segurança depois de conseguida a vaga na divisão principal. Com base nesses questionamentos e dilemas que envolvem a administração de um desses clubes do interior e reconhecendo o futebol como meio de legítima compreensão das relações sociais humanas, e aspecto marcante na construção da identidade coletiva no cenário brasileiro, me propus a escrever um livro-reportagem que abordasse toda a campanha do Esporte Clube Noroeste durante o Campeonato Paulista de 2006. As dificuldades e peculiaridades típicas de um clube da sua posição, as soluções encontradas pelos dirigentes em sua condução e os resultados conseguidos dentro de campo são meus objetivos. O dia 25 de Março de 2006, véspera do jogo contra a Portuguesa Santista, serve como ponto de partida para toda uma série de reflexões sobre a situação noroestina, no primeiro capítulo da obra. As perspectivas para o futuro do clube, um pouco de sua história e inclusive um questionamento maior sobre a viabilidade da realização dos próprios campeonatos estaduais completam suas páginas. Com esse fio condutor e em conjunto com o professor Ângelo Sottovia Aranha produzi este livro-reportagem. 2. Fundamentação Teórica 2.1 Fundamentação teórica do objeto O futebol é hoje o esporte mais praticado no mundo. Conseqüentemente, é um dos que mais movimenta enormes quantias monetárias (ficando atrás da Fórmula-1 e do basquete norte-americano da NBA) com seus contratos publicitários e direitos de transmissão, e serve até a interesses políticos (vide o envio da Seleção Brasileira com seu time titular para um amistoso ao Haiti em 2004, numa ação conjunta do governo nacional com a ONU). Resumidamente, é um esporte disputado em um gramado com onze jogadores para cada lado, em que dez desses atletas não podem usar as mãos ao tocar na bola, com exceção do goleiro ou guarda-metas. Ganha o time que mais marcar gols na meta adversária. Seus jogos são disputas de considerável imprevisibilidade em que nem sempre a equipe com os melhores jogadores ou a que joga melhor acaba vencendo, o que talvez explique seu tamanho sucesso em todos os continentes. Cada país tem a sua própria federação, que se reúne com as demais em federações continentais (a Conmebol na América do Sul ou a Uefa na Europa, como exemplos) e que são filiadas no cenário mundial à Fifa (sigla para Federação Internacional de Futebol Associado). A Fifa, em conjunto com a International Board, é quem elabora as regras universais para o esporte, além de ser a principal organizadora da Copa do Mundo, disputada a cada quatro anos com as seleções nacionais dos países melhor classificados. No âmbito nacional, a CBF, Confederação Brasileira de Futebol, é a principal entidade do futebol brasileiro, e nos seus quadros constam 27 federações (dos 26 estados mais o Distrito Federal). Uma delas, a FPF, Federação Paulista de Futebol, organiza o Campeonato Paulista, considerado pela crítica o campeonato estadual de melhor nível técnico e o mais competitivo entre todos os outros. Por ser um clube do interior do estado de São Paulo, o Esporte Clube Noroeste disputa o Campeonato Paulista, também chamado de Paulistão. Disputou em 2006, depois de mais de dez anos ausente a Série A-1, com os principais times do estado, direito adquirido após ter sido vice-campeão da Série A-2 em 2005. Assim como outros clubes do interior, passou por períodos de crise financeira em sua trajetória, sobretudo nos últimos quinze anos. Embora hoje esteja numa situação financeira relativamente tranqüila, sobretudo graças à participação e apoio do empresário Damião Garcia na sua administração, seu futuro a curto e longo prazo não pode ser chamado de confortável, consideradas as profundas transformações que atingem esse esporte como um todo. Sendo a campanha do Paulistão 2006 o principal momento da agremiação na temporada, esta servirá como objeto de abordagem e estudo neste trabalho de conclusão na forma de livro-reportagem. 2.2 Fundamentação teórica da linguagem Antes de definir a pauta do livro-reportagem, é preciso que se saiba o que é uma reportagem em si.