Artigos O destino indelével do desejo: o sonho do amor plural entre anarquistas libertários Maria Bernardete Ramos Flores1 0000-0002-9438-031X 1Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil. 88.040-900 –
[email protected] Resumo: O artigo aborda o tema do amor livre e da liberdade sexual contemplado pelo anarquismo libertário, nos anos de 1920 e 1930. Um debate revelador deu-se na revista espanhola Estudios, sob o protagonismo da brasileira Maria Lacerda de Moura. Ela combateu a camaraderie amoureuse proposta por Émile Armand, e defendeu o ‘amor plural’, mais fraternal que sensual, seguindo o neo-estoicismo de Han Ryner. A causa em comum foi o combate ao casamento indissolúvel, razão da posse, do exclusivismo sexual, do ciúme, da dominação masculina e da escravização da mulher. A exigência da monogamia era tida como prejudicial ao indivíduo, cerceado no direito natural ao prazer e na livre expansão do desejo. A ideia de amor livre e de liberação sexual apontou para uma nova sensibilidade amorosa e novos acordos éticos. O desafio geral: aliar a natureza biológica do sexo aos deslocamentos incessantes do desejo. Palavras-chave: amor livre; liberdade sexual; anarquismo libertário; feminismo. Desire and its Indelible Destiny: The Dream of Plural Love among Libertarian Anarchists Abstract: The article deals with the theme of free love and sexual liberation as contemplated by libertarian anarchism in the nineteen twenties and thirties. A revealing debate took place in the Spanish magazine Estudios, under the leadership of the Brazilian writer Maria Lacerda de Moura. She condemned the camaraderie amoureuse proposed by Émile Armand, and defended the more fraternal than sensual ‘plural love’, following Han Ryner’s neo-stoicism.