DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMENTAÇÃO DA MARINHA

REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

(Editada desde 1851)

v. 133 n. 04/06 abr./jun. 2013

FUNDADOR COLABORADOR BENEMÉRITO

Sabino Elói Pessoa Luiz Edmundo Brígido Bittencourt Tenente da Marinha – Conselheiro do Império Vice-Almirante

R. Marít. Bras. Rio de Janeiro v. 133 n. 04/06 p. 1-320 abr. / jun. 2013 A Revista Marítima Brasileira, a partir do 2o trimestre de 2009, passou a adotar o Acordo Ortográfico de 1990, com base no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras – Decretos nos 6.583, 6.584 e 6.585, de 29 de setembro de 2008.

Revista Marítima Brasileira / Serviço de Documentação Geral da Marinha. –– v. 1, n. 1, 1851 — Rio de Janeiro: Ministério da Marinha, 1851 — v.: il. — Trimestral.

Editada pela Biblioteca da Marinha até 1943. Irregular: 1851-80. –– ISSN 0034-9860.

1. MARINHA — Periódico (Brasil). I. Brasil. Serviço de Documentação Geral da Marinha.

CDD — 359.00981 –– 359.005 COMANDO DA MARINHA Almirante de Esquadra Julio Soares de Moura Neto

SECRETARIA-GERAL DA MARINHA Almirante de Esquadra Eduardo Monteiro Lopes

DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMENTAÇÃO DA MARINHA Vice-Almirante (Refo-EN) Armando de Senna Bittencourt

REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA Corpo Editorial Capitão de Mar e Guerra (Refo) Milton Sergio Silva Corrêa (Diretor) Capitão de Mar e Guerra (RM1) Carlos Marcello Ramos e Silva Jornalista Deolinda Oliveira Monteiro Jornalista Manuel Carlos Corgo Ferreira

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Apoio Administrativo e Expedição Suboficial-CN Maurício Oliveira de Rezende Suboficial-MT João Humberto de Oliveira Artífice de Artes Gráficas Ilda Lopes Martins

Impressão / Tiragem MCE Gráfica e Editora Ltda / 8.700 A REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA é uma publicação oficial daMARINHA DO BRASIL desde 1851, sendo editada trimestralmente pela DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMEN- TAÇÃO DA MARINHA. A opinião emitida em artigo é de exclusiva responsabilidade de seu autor, não refletindo o pensamento oficial daMARINHA . As matérias publicadas podem ser reproduzidas. Solicitamos, entretanto, a citação da fonte.

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8 NOSSA CAPA – EDITORIAL 9 A ESQUADRA EM 2012 Eduardo Bacellar Leal Ferreira – Almirante de Esquadra Rodrigo de Araujo Cid Santa Rita – Capitão de Corveta Principais atividades e acontecimentos nos Comandos de Superfície, de Submari- nos e Aeronaval, nas Divisões e em outras OM. Visão do ex-Comemch. Novos programas para o século XXI

18 OS DESAFIOS DA BUSCA DE UM PODER NAVAL NO SÉCULO XXI Reginaldo Gomes Garcia dos Reis – Contra-Almirante (Refo) Análise do mapa geopolítico mundial. Papel do Poder Marítimo/Poder Naval no século XXI. Avanços da tecnologia afetando processos para tomada de decisão. Crises afetando nações e exigindo novas estratégias. Contínuo vínculo com o mar

33 REFLEXOS DA CRIAÇÃO DA 2a ESQUADRA E DA 2a FORÇA DE FUZILEIROS DA ESQUADRA NA ESTRUTURA DO SETOR OPERATIVO DA MARINHA DO BRASIL Eduardo Italo Pesce – Professor Transformação do Poder Naval – investimento – duplicação do núcleo. Implan- tação da 2a Esquadra. Obtenção de meios operativos – aprestamento e emprego. Escolha da localização da sede

  

48 A FORÇA DOS MILITARES NA AMAZÔNIA Dráuzio Varella – Médico, cientista, escritor Pelotões de fronteira do Exército na Amazônia. Indígenas de diversas etnias inte- grados para a proteção da soberania na Região Norte do País

51 A BUSCA DE GRANDEZA – (IX) – Conhecimento, Experiência e Programas Navais (Parte 2) Elcio de Sá Freitas – Vice-Almirante (Refo) Submarinos e base logística do Reino Unido. Dificuldades do Programa Astute. Atuação do governo – contrato, dificuldades e negociações. Lições do Programa

78 A DEVASTAÇÃO AMBIENTAL E OS DESAFIOS DO SÉCULO Mucio Piragibe Ribeiro de Bakker – Contra-Almirante (Refo) A caça e a coleta – início da agricultura – devastação do meio ambiente. Implan- tação e ambivalência da agricultura. Transformações sociais – população. Maiores desafios do século

86 JOHN KNOX LAUGHTON: um Historiador Naval com “tato, habilidade e bom humor” Francisco Eduardo Alves de Almeida – Capitão de Mar e Guerra (RM1) Resumo biográfico do historiador – anos de formação – docente no King’s College de Londres. Importância na história naval. Ligação com Mahan 100 O CASO COSTA CONCORDIA Carlos Norberto Stumpf Bento – Capitão de Mar e Guerra (RM1) Rafael Barbosa Silva – Aspirante João do Amaral Araújo – Aspirante Thiago Luiz Frota Soares – Aspirante Relato sobre o acidente do navio de turismo. Colisão – avarias – abandono do navio – vítimas. Ensinamentos obtidos

108 CORVETAS SUCESSORAS DA BARROSO: Comparação de dois tipos de obtenção René Vogt – Engenheiro Requisitos de Estado-Maior – comentários. Navios de referência – custos, prazos, desempenho. Barroso modernizada – evoluções I e II. Comparação entre as configurações

130 A IMPORTÂNCIA DA FÍSICA BÁSICA NA FORMAÇÃO DO OFICIAL DE MARINHA DIANTE DAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA CARREIRA MILITAR Neide Gonçalves – Professora Breve histórico sobre física moderna. Implicações na carreira do oficial diante da técnica e da inovação tecnológica. Escola Naval é a base da Marinha – competência profissional alcançada por estudante academicamente bem formado

137 NAVEGANDO EM ÁGUAS BRASILEIRAS – Algumas considerações sobre a tributação dos cruzeiros marítimos na costa brasileira Fernando Vaisman – Advogado André de Almeida – Advogado Resumo sobre navegação de cabotagem ou de cruzeiros marítimos. Serviços e mercadorias à disposição nas viagens – atuação da Receita Federal. Impostos a aplicar

141 BRASILEIROS NA CONQUISTA DO PRÊMIO NOBEL DA PAZ DE 1988 Ivo de Albuquerque – Tenente-Coronel (Refo-EM) As operações de manutenção da paz – antecedentes, fundamentação e formas de atuação. Prêmio Nobel – concessão em 1988: testemunhos, reconhecimento internacional e repercussão no Brasil

155 NAVIO-MUSEU BAURU: Expressão da história naval recente (Parte 3 – final) Roseane Silva Novaes – Museóloga Depoimentos: a) vivência na Segunda Guerra – comboios – sonar e o ataque – Ma- rinha na Guerra – Base Naval de Natal – exposição no Bauru; b) justificativas de monumento histórico; c) musealização do navio em face da exposição em 1982; d) restauração do Bauru entre 2007 e 2010 para a exposição atual

175 INTERCÂMBIO NA UNITED STATES NAVAL ACADEMY (USNA) Guilherme Trindade Vilela – Aspirante Leandro Ribeiro dos Santos Montenegro – Aspirante (IM) Missão da Academia Naval dos EUA. As instalações. Formação do aspirante – valores morais acima de qualquer outro ensinamento

179 30 ANOS DE OPERANTAR Victor Corrêa de Souza – Aspirante Lineker da Silva Rodrigues – Aspirante As Operações Antárticas – primeiras expedições. Adversidades da região. Reco- nhecimento internacional pelo trabalho desenvolvido na Antártica 186 ARTIGOS AVULSOS 186 O MAL-ESTAR NO TRABALHO CONTEMPORÂNEO Adriana Gomes de Souza – Professora Análise do trabalho e o conceito no contexto social de perpetuação e desenvolvi- mento da cultura. A psicanálise considera o trabalho como forma de sublimação; o capita- lismo apela para a produtividade, a eficácia e a eficiência

187 CARTA DOS LEITORES Texto enviado pela Escola Naval com pronunciamento de Cláudia Serpa Osório de Castro na inauguração do busto de seu pai, Almirante Ivan da Silveira Serpa, ex-ministro da Marinha

189 NECROLÓGIO

192 DOAÇÕES À DPHDM

195 LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL Brekelé e os Fabinhos Adalberto Burlamaqui Lopes (in memoriam) – Cadete da Escola da Aeronáutica No jogo de basquete entre as Escolas Naval e da Aeronáutica, no ginásio do Flu- minense, com grande público, o mascote Brekelé é “roubado” por cadetes

198 ACONTECEU HÁ CEM ANOS Seleção de matérias publicadas na RMB há um século. O que acontecia em nossa Marinha, no País e em outras partes do mundo

210 REVISTA DE REVISTAS Sinopses de matérias selecionadas em mais de meia centena de publicações rece- bidas do Brasil e do exterior

224 NOTICIÁRIO MARÍTIMO Coletânea de notícias mais significativas da Marinha do Brasil e de outras Marinhas, incluída a Mercante, e assuntos de interesse da comunidade marítima NOSSA CAPA

EDITORIAL

As três últimas edições da Revista Marítima Brasileira abordaram como matéria de capa temas de interesse dos leitores e, ousamos dizer, de nosso país. Constituíram conjunto de artigos que interagiram e se complementaram para expor ideias e ideais de ontem e para os dias atuais e futuros. Esses artigos convidaram os brasileiros a meditar sobre o desenvolvimento da técnica e da tecnologia da energia nuclear, sua aplicação no cenário nacional e na Marinha – a legítima aspiração da propulsão nuclear para submarino. Na opinião da RMB, há que ampliar também para o navio de superfície, como já acontece em outros países. Trataram de assunto cultural, demonstrando a evolução para apresentação ao pú- blico, tal como se tem praticado em exposições, museus e casas dedicadas à arte e à cultura. Importa resgatar o passado para servir ao futuro, educando e formando intelectos, sem a influência de ideologias, para estabelecer uma consciência marítima. Induziram sentimentos de brasilidade, esperança, orgulho, sonho e realização, imaginando condições para a geração de um “tsunami verde-amarelo” que recobrisse o País de ponta a ponta. Rememorou-se a nossa potencialidade. Reconheceram-se os avanços na agricultura e na tecnologia de ponta. Afirmou-se imprescindível integrar Forças Armadas, universidades e indústrias. Concluindo, agora, um ano de publicações temáticas, imaginou-se trazer aos leitores o corpo principal da Marinha – a sua razão de ser –, do qual o Brasil dependeu e dependerá para confirmar soberania e presença entre as nações. Assim, a Esquadra em 2012 – atividades, realizações, dificuldades, avanços e projetos – é apresentada pelo seu último comandante em chefe. O Corpo Editorial sente-se honrado e agradecido ao Almirante Leal Ferreira por sua deferência, e reconhece o valor que o artigo agrega à nossa publicação. O Almirante Reis (Prêmio RMB em 2007) escreve sobre as Forças Navais do sé- culo XXI, em análise do quadro geopolítico mundial e considerações de nível estratégico. Conclui a respeito do indispensável emprego da Esquadra para atender à crescente inserção político-estratégica do Brasil na cena mundial. Completando o tema, o Professor Italo Pesce (Prêmio RMB em 2001 e 2004) discorre sobre as transformações do Poder Naval a serem implementadas com a criação e a obtenção de meios para a 2a Esquadra no Norte do País. A ESQUADRA EM 2012

Uma Esquadra pronta é instrumento imprescindível para a manutenção da paz, para a garantia dos nossos direitos e para a proteção dos interesses brasileiros na “Amazônia Azul”.

EDUARDO BACELLAR LEAL FERREIRA* Almirante de Esquadra RODRIGO DE ARAUJO CID SANTA RITA** Capitão de Corveta

SUMÁRIO

Introdução Comando da Força de Superfície (ComForSup) Comando da Força de Submarinos (ComForS) Comando da Força Aeronaval (ComForAerNav) As Divisões da Esquadra As demais Organizações Militares subordinadas Considerações finais: visões de um ex-ComemCh

INTRODUÇÃO Nascia, assim, a Esquadra, criada para com- bater as forças navais portuguesas que se opu- m 10 de novembro de 1822, ano da nham à independência do País. Atuando de EIndependência, o Pavilhão Nacional forma decisiva na consolidação da soberania, foi içado pela primeira vez em um navio de participou posteriormente das campanhas do guerra brasileiro, a Nau Martim de Freitas, Império, com destaque na Guerra da Tríplice posteriormente rebatizada de Nau D. Pedro I. Aliança e nas duas grandes guerras mundiais.

* Exerceu o cargo de Comandante em Chefe da Esquadra de abr/2012 a abr/2013. Comandou o AvIn Aspirante Nascimento, a F. Bosísio, o 2o Esquadrão de Escolta, o Centro de Instrução Alte. Alexandrino, a Escola Naval e o 7o Distrito Naval. Foi diretor de Portos e Costas e atualmente é o comandante da Escola Superior de Guerra. ** Serviu na CV Purus, no NV Aratu, na F. Defensora, no NVe Cisne Branco; foi imediato do RbAm Alte. Gui- lhem e assistente do comandante da Escola Naval e do Comandante-em-Chefe da Esquadra. Designado para assumir o comando do NTrFlu Paraguassú em julho/2013. A ESQUADRA EM 2012

Passados 190 anos, podemos afirmar COMANDO DA FORÇA DE que sua existência torna-se cada vez mais SUPERFÍCIE (COMFORSUP) importante para o País. Temos a convicção de que uma Esquadra pronta é instrumento Tem como subordinados o Navio-Aeró- imprescindível para a manutenção da paz, para dromo (NAe) São Paulo; o Navio-Escola a garantia dos nossos direitos e para a proteção (NE) Brasil; o Navio-Veleiro (NVe) Cisne dos interesses brasileiros na “Amazônia Azul”. Branco; o 1o Esquadrão de Escolta, com As vantagens econômicas trazidas pelas seis fragatas classe Niterói; o 2o Esquadrão descobertas de abundantes reservas de de Escolta, com três fragatas classe Gre- petróleo na plataforma continental, pelo enhalgh, quatro corvetas classe Inhaúma crescente comércio internacional realizado e a Corveta Barroso; e o 1o Esquadrão de por via marítima e pelo intenso desenvolvi- Apoio, com dois navios-tanque, três navios mento da atividade pesqueira nas águas ju- de desembarque de carros de combate e um risdicionais brasileiras só serão plenamente navio de desembarque-doca. aproveitadas se tivermos a capacidade de Ao longo do último ano, o Comando conhecer, explorar e cuidar do que é nosso. da Força de Superfície realizou grande es- A Esquadra contribui decisivamente para forço logístico para manter uma adequada esse fim. disponibilidade de nossos navios, a maioria O Comando em Chefe da Esquadra deles com muitos anos de atividades. Mar- (Comemch), organização responsável por co nesse apoio foi a criação do Escritório preparar e empregar expressiva parcela do de Ligação do Abastecimento com a Es- Poder Naval, tem como subordinados dire- quadra (Elesq), iniciativa da Diretoria de tos cinco Comandos de Força (Superfície, Abastecimento da Marinha. Instalado nas Submarinos, Aeronaval e as 1a e 2a Divisões dependências da Força de Superfície, o es- da Esquadra), o Centro de Adestramento Al- critório vem se constituindo em importante mirante Marques de Leão (CAAML), a Base ferramenta para agilizar o fornecimento dos Naval do Rio de Janeiro (BNRJ), o Centro sobressalentes para os navios, e os resulta- de Apoio a Sistemas Operativos (Casop) e dos obtidos por essa integração sinalizam o Centro de Manutenção de Embarcações o acerto da decisão de criá-lo. Miúdas (CMEM). São 12.091 militares Ainda no campo logístico, o Núcleo (aproximadamente 18% do efetivo da Ma- de Licitações e Contratos do Comando da rinha do Brasil) e 151 civis, distribuídos Força de Superfície (ComForSup) foi ati- em 55 organizações militares que incluem vado em 2013, fruto de sugestão do grupo 24 navios de superfície, cinco submarinos e de estudo criado para propor melhorias na seis esquadrões de aeronaves. gestão. O Núcleo prestará assessoria na O presente artigo apresenta um resumo condução das licitações e certames, otimi- das principais atividades e acontecimentos zando processos e reduzindo o tempo das ocorridos no âmbito da Esquadra entre aquisições. abril de 2012 e abril de 2013, período em Para enfrentar os desafios da manuten- que os autores serviram na Esquadra, um ção do NAe São Paulo, foi criado o Grupo como comandante em chefe e o outro como de Planejamento e Supervisão do Período assistente, dando continuidade ao trabalho de Manutenção Intermediário (PMI), com- daqueles que os antecederam. Experiência posto por oficiais da Armada, engenheiros, inesquecível, com inúmeros momentos que praças e técnicos, subordinados ao diretor merecem ser citados. do Arsenal de Marinha, que estão dedica-

10 RMB2oT/2013 A ESQUADRA EM 2012 dos exclusivamente às tarefas de planejar, teriormente, ainda nos EUA, participou da preparar e delinear os serviços que serão comissão Fleetex, com diversos países da realizados no PMI que ocorrerá em 2014. Organização do Atlântico Norte (Otan), O NAe tem enorme valor estratégico e é sendo o Brasil a única Marinha não per- imprescindível à preservação e ao desen- tencente à Otan a integrar o Grupo-Tarefa. volvimento da nossa capacidade de operar Ao fim da comissão, podemos afirmar que aeronaves de asa fixa. Mantê-lo operando é os mais de quatro meses de afastamento da uma das maiores prioridades do ComemCh. sede, sob intensas demandas logísticas e O NE Brasil e o NVe Cisne Branco operativas, permitiram à fragata vivenciar vêm realizando com sucesso seus Perío- inestimáveis experiências que certamente dos de Manutenção na Base Naval do Rio serão disseminadas para os demais navios de Janeiro, o que permite a realização de da Esquadra. comissões de longa Relevante também duração sem óbices, foi o aprendizado tra- mostrando nossa ban- Manter o NAe São Paulo zido com o regresso deira nos diversos pa- operando é uma das da Fragata União, após íses visitados. quase nove meses de As fragatas classe maiores prioridades do comissão integran- Niterói continuaram ComemCh do, como capitânia, a sendo empregadas nas Força-Tarefa Marítima mais diversas tarefas e (FTM) da Força Interi- operações, no Brasil e no exterior. na das Nações Unidas no Líbano (Unifil). A Fragata Independência participou A FTM-Unifil é o primeiro componente de exercícios na costa leste dos Estados naval, organizado como força-tarefa, a Unidos da América (EUA), integrando participar de uma missão de manutenção o Grupo de Escolta do navio-aeródromo de paz da Organização das Nações Unidas de propulsão nuclear USS Dwight D. (ONU). É constituída por navios do Brasil, Eisenhower (CVN 69), que se preparava da Alemanha, de Bangladesh, da Turquia, para um deployment de longa duração. da Indonésia e da Grécia e, desde 2011, é Nesse rigoroso programa de treinamentos, comandada por um almirante brasileiro. chamado Comptuex (Composite Training Os conhecimentos obtidos, decorrentes Unit Exercise), foram realizados diversos dessa inédita participação, não só permi- exercícios e simulações de combate. Pos- tiram o aprimoramento no preparo dos navios e tripulações que a sucederam no Líbano, como também estão trazendo uma renovação em inúmeros procedimentos de nossa Esquadra. Dessa forma, assistimos a mudanças e aperfeiçoamentos na condução da manutenção preventiva, na sistemática de fornecimento de sobressalentes em áreas afastadas da sede, na elaboração e adoção de regras de comportamento operativo, nas comunicações, nos procedimentos de Fragata Independência operando com o porta-aviões defesa contra ameaças assimétricas e na USS Dwight D. Eisenhower capacidade de realizar reparos de maior

RMB2oT/2013 11 A ESQUADRA EM 2012

bem como da sua modernização, realizada nos anos 2000. O ano de 2012 também consolidou o conceito da Corveta Barroso como um navio eficaz e confiável e, também, um aperfeiço- amento bem-sucedido das corvetas classe Inhaúma. O navio participou de diversas comissões no Brasil, destacando-se em todas, e na costa africana, onde realizou as operações multinacionais Atlasur IX, com as Fragata Liberal e Fragata Jean Bart, durante o Marinhas da África do Sul, da Argentina e do evento Passex, por ocasião do regresso da Operação Uruguai, e Ibsamar III, envolvendo unidades Líbano II, durante trânsito de Beirute (Líbano) para da África do Sul e da Índia. Regressou ao Rio Civitavecchia (Itália) de Janeiro, após dois meses, com muito bom desempenho na comissão e tendo cruzado o envergadura com grupos de apoio que se Oceano Atlântico sem necessidade de rea- deslocam para os navios em aeronaves da bastecimento. Cabe citar também o sucesso Força Aérea Brasileira. Atenção especial do lançamento do primeiro míssil Exocet foi dada à seleção dos militares para a mis- MM-40 com motorização nacional, realizado são e aos aspectos psicossociais envolvidos, pela corveta em abril de 2012. com um apoio consis- Na fase final de um tente aos familiares e Período de Manuten- minucioso acompa- A confiabilidade das ção Geral encontra-se nhamento médico e fragatas classe Niterói a Fragata Rademaker, psicológico do pessoal cujo retorno à Esquadra embarcado. comprova o acerto de todo representará um signi- Atualmente, en- o projeto de construção ficativo incremento na contra-se no Líbano a capacitação da Força Fragata Constituição, e recebimento dessas Pronta, já que as fraga- nossa terceira fragata a fragatas, bem como da sua tas classe Greenhalgh realizar a missão, ten- modernização, realizada têm se mostrado navios do rendido a Fragata fortes, marinheiros, com Liberal. Em fase final nos anos 2000. excelentes sensores e de preparação, a Fra- O ano de 2012 também grande confiabilidade. gata União retornará Os Navios de De- ao Líbano em breve, consolidou o conceito da sembarque de Carros suspendendo da BNRJ Corveta Barroso como um de Combate (NDCC) em junho de 2013. navio eficaz e confiável Almirante Saboia e A confiabilidade Garcia D’Avila, este das fragatas classe Ni- último reconduzido à terói demonstrada pelo êxito no cumpri- fase operativa após dois anos em manuten- mento de tão exigentes missões, apesar de ção, realizaram duas viagens logísticas para sua longevidade operativa, mais uma vez o Haiti, em apoio ao contingente brasileiro comprova o acerto de todo o projeto de componente da Missão de Estabilização das construção e recebimento dessas fragatas, Nações Unidas no Haiti (Minustah), co-

12 RMB2oT/2013 A ESQUADRA EM 2012 missões essenciais para a continuidade das operações de paz realizadas naquele país. O NDCC Almirante Saboia foi empre- gado, ainda, no recebimento de munição nos EUA; no exercício de Força de Em- prego Rápido, ocorrido inopinadamente no mês de setembro; no transporte de tropas de Fuzileiros Navais para o porto de Santos, em exercício de Garantia da Lei e da Ordem (GLO); no reabastecimento do Posto da Ilha da Trindade (Poit); e em diversas comissões em Grupo-Tarefa (GT). NT Marajó em fase III de adestramento – Ao longo de sua curta, porém intensa, vida Transferência de óleo no mar pelo método Stream operativa na Marinha do Brasil (MB), os NDCC tornaram-se indispensáveis ao apoio O Navio de Desembarque-Doca (NDD) logístico móvel e transporte de tropas, jus- Ceará tem previsão de retornar ao setor tificando plenamente sua aquisição. operativo no segundo semestre de 2013, após concluídos seus períodos de manuten- ção e inspeções, aumentando a capacidade para realização de Operações Anfíbias, transporte de tropas e material.

COMANDO DA FORÇA DE SUBMARINOS (COMFORS)

Não foram poucas as conquistas da For- ça de Submarinos em 2012, quando meios a ela subordinados fizeram-se presentes na América do Norte, nos mares Antárticos e NDCC Almirante Saboia transportando material para o contigente brasileiro da Minustha no Mar Mediterrâneo, reafirmando nossa condição de Marinha de “águas azuis”. O Navio-Tanque Marajó retornou ao A participação do Submarino Tikuna na setor operativo após um longo período de comissão Deployment Sub-12 deu prosse- imobilização para manutenção e revitali- guimento a um intercâmbio que se repete zação, iniciado em outubro de 2009, sob desde 2007. Durante aproximadamente a coordenação da Empresa Gerencial de cinco meses, o submarino operou com Projetos Navais (Emgepron) e o controle da a Marinha dos EUA e outras Marinhas Diretoria-Geral do Material da Marinha. O amigas na área marítima compreendida sucesso alcançado mostrou o potencial de entre os EUA e Porto Rico, comprovando contribuição da Emgepron na condução do a capacitação da ForS de realizar operações reparo de alguns de nossos meios, de forma afastadas do Rio de Janeiro. Em 2013, esta- que essa empresa está gerenciando também mos representados pelo Submarino Tapajó. o Período de Modernização de Meio do O Navio de Socorro Submarino (NSS) NDCC Mattoso Maia, com previsão de Felinto Perry participou da Operação término no final deste ano. Antártica (Operantar XXXI), destinada ao

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recebidos até 2015, foram os grandes des- taques de 2012. Essas aeronaves foram adquiridas junto à empresa Sirkosky, mediante um acordo ce- lebrado em maio de 2008 com o governo dos EUA, e substituíram os SH-3A/B Seaking, que por mais de 40 anos prestaram bons serviços à MB. A aquisição dos MH-16 re- presenta grande avanço tecnológico, pois seu projeto, equipamentos aviônicos, sensores e armamentos são de última geração. As novas Submarino Tikuna durante a aeronaves pertencerão ao 1o Esquadrão de Operação Deployment Sub-12 Helicópteros Antissubmarino (EsqdHS-1) e desmonte e à retirada de peças da antiga serão empregadas em proveito das nossas for- Estação Antártica Comandante Ferraz ças navais para realizar as tarefas de detecção, (EACF) e à colocação de 29 módulos localização, acompanhamento, identificação antárticos emergenciais que, atualmente, e ataque a alvos de superfície e submarinos, dão suporte às pesquisas brasileiras na além de ações de busca e salvamento. Antártica. Foi a segunda ida do navio ao continente gelado, após uma viagem para abastecimento da base brasileira de com- bustível, em outubro de 2010. Com vistas ao recebimento dos novos submarinos convencionais e do nuclear, foi iniciada a preparação do Centro de Instrução e Adestramento Almirante Áttila Monteiro Aché (Ciama) para capacitar o pessoal que os guarnecerá. Além disso, está sendo dada continuidade à implantação do Helicóptero SeaHawk (MH-16) projeto de Gestão por Competência, que passará a orientar o preparo e a qualificação dos submarinistas. Por fim, marcando a presença da Força de Submarinos no Mar Mediterrâneo, tive- mos um destacamento de Mergulhadores de Combate a bordo do navio brasileiro componente da Unifil, pronto para ser em- pregado em ações de retomada e resgate.

Aeronave MH-16 realizando HIFR com a COMANDO DA FORÇA Fragata Liberal – Operação Aderex I/2013 AERONAVAL (COMFORAERNAV) O 1o Esquadrão de Helicópteros de O recebimento e a incorporação à MB Esclarecimento e Ataque (EsqdHA-1) des- dos quatro primeiros helicópteros MH-16 tacou-se pela busca incessante da prontidão Seahawk, de um total de seis que serão de suas aeronaves Super Lynx, sobretudo

14 RMB2oT/2013 A ESQUADRA EM 2012 para as missões de longa duração, como no O 1o Esquadrão de Aviões de Inter- Líbano (Unifil), Unitas, Comptuex, JTFex ceptação e Ataque (EsqdVF-1) manteve e Atlasur. Para a missão de paz da ONU, a preparação para o retorno das operações houve a necessidade também de adaptação aéreas a bordo da NAe São Paulo e realizou na estrutura da aeronave, com a instalação diversos voos de adestramento e qualifica- de uma metralhadora calibre .50. ção de pilotos em seus aviões AF-1/1 A, O Esquadrão de Helicópteros de Ins- conhecidos como “Falcões”. O contrato trução (EsqdHI-1), que opera as aeronaves assinado entre a Marinha e a Embraer, IH-6B Bell Jet Ranger, completou 50 anos que prevê a modernização de 12 dessas em junho de 2012, tendo formado 760 aeronaves até julho de 2015, representará oficiais desde sua criação. Atualmente, um importante incremento na capacidade o EsqdHI-1 vem dedicando-se a atender de combate aéreo, além do alcance visual, a crescente demanda para formação de para a defesa aérea das Forças Navais e oficiais aviadores navais, decorrente da maior precisão no emprego de armamento aquisição de novos meios. ar-superfície. O 1o Esquadrão de Helicópteros de Em- prego Geral (EsqdHU-1), primeira unidade AS DIVISÕES DA ESQUADRA aérea operativa da Marinha do Brasil, come- morou, no dia 1o de junho de 2012, seu 51o Cabe aos 1o e 2o Comandos das Di- aniversário. Os helicópteros Esquilo mono e visões da Esquadra planejar, executar e biturbinas (UH-12/13), além de participarem analisar operações navais, atualizando os das principais comissões da Esquadra, reali- conhecimentos operacionais em conjunto zaram outras operações, como a Operantar com os outros Comandos de Força subor- XXXI, o reabastecimento do Poit, transportes dinados, além de subsidiar o ComemCh administrativos e missões de busca e salva- com informações para o desenvolvimento mento, destacando-se pela sua versatilidade, e o aprimoramento de procedimentos e fazendo jus ao conhecido lema: “In omnia operativos. paratus” – Preparado para tudo. Dentre as operações realizadas nos anos O 2o Esquadrão de Helicópteros de Em- de 2012 e 2013, destacam-se, além das já prego Geral (EsqdHU-2), com aeronaves citadas, a Aspirantex 2013, que visitou o Super Puma, realizou, entre outras missões, porto de Montevidéu; a Fraterno XXX, com o transporte de tropas de Fuzileiros Navais, a Armada Argentina; a Atlântico-III, opera- missões de busca e salvamento, evacuações ção conjunta coordenada pelo Ministério da aeromédicas e transportes administrativos Defesa; a Unitas-LIII, conduzida na Flórida de autoridades, com destaque para o fre- e no Caribe com as Marinhas do Canadá, quente apoio à Presidência da República. da Colômbia, dos EUA, da Grã-Bretanha, Desde 2011, o Esquadrão também pode do México e da República Dominicana; a contar com a aeronave UH-15 Super-Cou- Cobra 2012, com a Armada da Colômbia; gar, com uma concepção mais moderna, as operações Passex com as Marinhas da prática e segura de aviação. Até 2017, há a França e do Canadá; e a tradicional Tro- previsão de entrega de 16 aeronaves, sendo picalex, para o Nordeste do País. oito UH-15, na versão básica, e oito UH-15 Destaca-se a presença brasileira na A, na versão mais completa, equipada com operação Panamax-2012, que foi sediada modernos sensores e armamentos específi- na cidade norte-americana de Jacksonville, cos para a guerra naval. com a participação de cerca de 900 milita-

RMB2oT/2013 15 A ESQUADRA EM 2012

res e civis de 17 países diferentes, entre os detecção, conduzindo a análise de exercí- quais 23 militares da MB. O Brasil exerceu cios operativos (Exop) e a reconstrução de pela primeira vez o Comando do Compo- exercícios táticos, empregando alvos aéreos nente Marítimo das Forças Combinadas teledirigidos (drones) nos exercícios de (CFMCC), tarefa atribuída ao Comando da tiro A/A, guarnecendo e mantendo Raia de 2a Divisão. O exercício foi desenvolvido, Tiro no Arquipélago de Alcatrazes. Além na forma de jogo de guerra, em um cenário dessas tarefas, consideradas tradicionais, fictício, em que o Conselho de Segurança desenvolveu uma série de projetos, como o das Nações Unidas instituiu uma Força Tilt Test eletrônico, que tem como objetivo Multinacional, composta por Comandos permitir a determinação da inclinação das Combinados com vertentes terrestres, aére- bases dos sensores e armas sem a necessi- as, de operações especiais e marítimas, para dade de o navio estar escorado no dique, impedir que grupos armados interferissem o que resultará na economia dos recursos na operação segura do Canal do Panamá, envolvidos com a docagem do meio. Outro garantindo a estabilidade regional e a se- projeto desenvolvido no Centro, de grande gurança da navegação naquela importante importância para a Esquadra, é a raia vir- área marítima. tual, uma alternativa para o tiro indireto Outro excelente acontecimento no ano de Apoio de Fogo Naval realizado na Ilha que passou foi o início da participação em de Alcatrazes. Também merece destaque, operações conjuntas das aeronaves P-3AM como atividade do Casop em 2012, a par- Orion da Força Aérea, um dos vetores de ceria firmada com o Instituto de Pesquisas patrulha mais modernos da atualidade. da Marinha (IPqM) para o desenvolvimento do Centro de Integração de Sensores para AS DEMAIS ORGANIZAÇÕES Navegação Eletrônica (Cisne), que dotará MILITARES SUBORDINADAS a MB de um sistema para leitura de cartas eletrônicas vetoriais. O projeto já possui Com sua origem remontando ao ano protótipos instalados em alguns navios e de 1943, quando foi criado o Centro de permitirá integrar funcionalidades de na- Instrução de Guerra Antissubmarino vegação com análises táticas de exercícios (Cigas), embrião do que é hoje o Centro operativos da Esquadra. de Adestramento Almirante Marques de A Base Naval do Rio de Janeiro desem- Leão, assim chamado desde 1951, vem penhou todas as tarefas típicas de apoio, cumprindo o propósito de sua missão de atendendo às diversas demandas dos navios contribuir para a capacitação de pessoal da Esquadra, Distritais, da Diretoria de Hi- para o exercício de cargos e funções pre- drografia e Navegação (DHN) e da Escola vistos nos meios navais da MB. Em 2012, Naval. Realizou a docagem de 35 navios ministrou 49 cursos, com 351 turmas e e conduziu oito períodos de manutenção 8.969 alunos e 1.634 adestramentos. Além geral. Adquiriu novos equipamentos, me- disso, realizou as Inspeções Operativas da lhorou sua infraestrutura de apoio para o Fragata Constituição, do Navio-Escola combate a sinistros, como incêndios e ala- Brasil e do NT Marajó. gamentos, e fortaleceu o convênio existente O Centro de Apoio a Sistemas Ope- com a Petrobras voltado para prevenção e rativos (Casop) esmerou-se em prestar o combate da poluição por óleo na Baía de apoio técnico aos navios, provendo suporte Guanabara, adequando-se às modernas aos alinhamentos de sistemas de armas e demandas ambientais.

16 RMB2oT/2013 A ESQUADRA EM 2012

CONSIDERAÇÕES FINAIS: VISÕES A par da renovação dos meios, é impor- DE UM EX-COMEMCH tante prosseguir no aperfeiçoamento dos processos de gestão e dos processos decisó- A demanda e os convites para que o rios, bem como do emprego racional da mão Brasil participe de exercícios e operações de obra, em consequência das evoluções multinacionais, algumas sob a égide da introduzidas pela tecnologia de informação, ONU, são crescentes. Tais operações per- pelas comunicações, cada vez mais rápidas mitem um relevante aprendizado operativo, e intensas, e também da nova moldura legal o aprimoramento profissional e cultural das que baliza a administração pública. tripulações e dão a percepção de estarmos Por fim, cabe ressaltar que as ações cumprindo plenamente nossa destinação. descritas no presente artigo são apenas Surge, no entanto, como efeito colateral uma parcela de tudo o que foi realizado no a maior dificuldade em realizar os tradi- período de 2012/2013. Para executá-las, cionais exercícios de inúmeras dificuldades grande envergadura foram enfrentadas e em GT, característicos Diversos programas estão óbices superados, mer- de uma Força do porte sendo desenvolvidos ou cê do profissionalismo, da Esquadra brasileira, do engajamento pessoal que constam do Pro- propostos pela MB para e da dedicação de todos grama de Adestramen- adequar nossa Esquadra às os subordinados à Es- to Anual. Esta é uma quadra, bem como pelo realidade que temos exigências do século XXI e apoio incondicional dos que enfrentar com so- ao protagonismo brasileiro demais setores da MB. luções criativas, tais no cenário internacional Enfatizo, sobretudo, como o uso intensivo o desempenho dos co- de simuladores. mandantes, que, fruto Diversos programas estão sendo desen- de sua competência pessoal, sempre deram volvidos ou propostos pela MB para adequar ao ComemCh a tranquilidade e a certeza nossa Esquadra às exigências do século XXI de que todas as missões seriam cumpridas. e ao protagonismo brasileiro no cenário Realmente, constituíram excelente “safra” internacional. Dentre eles, cabe citar o Pro- de líderes que souberam se superar com grama de Desenvolvimento do Submarino criatividade e persistência. (Prosub), em andamento; o Programa de Foi uma grata satisfação conviver com Obtenção de Meios de Superfície (Prosu- militares e civis de primeira linha, motiva- per); a retomada da construção das corvetas dos, responsáveis e com entusiasmo con- da classe Barroso; e a aquisição de diversas tagiante, que mantêm o propósito maior da aeronaves. Tais programas adquirem cres- nossa missão, simbolizado pelo Lema “IN cente importância considerando a idade da CLASSE REGNUM MARIS NOSTRI” – maioria de nossos navios e aeronaves. “Na Esquadra, a soberania de nosso mar”.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Marinha do Brasil; Esquadra;

RMB2oT/2013 17 OS DESAFIOS DA BUSCA DE UM PODER NAVAL NO SÉCULO XXI

“Aquele que controla o mar controla o comércio; aquele que controla o comércio mundial controla as riquezas do mundo e, consequentemente, o mundo em si.” Sir Walter Raleigh (1552 – decapitado em 29 de outubro de 1618, na Torre de Londres)

REGINALDO GOMES GARCIA DOS REIS* Contra-Almirante (Refo)

SUMÁRIO

Introdução O ponto de partida para uma concepção estratégica naval Uma breve visão contemporânea. O contexto Os sonhos e as realidades – Conclusão INTRODUÇÃO e Elizabeth I, em especial após a derrota da Invencível Armada, no fortalecimento do frase acima, que dá início a este breve Poder Marítimo e, por consequência, do Po- Aartigo, produto de alguém que, além de der Naval. Acrescente-se que Raleigh atuou escritor, poeta, cortesão, oficial e explorador como corsário às ordens de Elizabeth I. inglês, participou do projeto de colonizar A leitura do texto de Raleigh remete pelo a América do Norte, com a fundação, em menos a textos bem similares de autoria de 1584, do estabelecimento da Virgínia, dá Mackinder e, posteriormente, de Spykman. uma boa dimensão da concepção estratégica Tal curiosidade histórica abre o caminho para que aflorou com as ações de Henrique VIII que surja uma indagação: dentro das forças

* Chefe do Departamento de Ensino da EGN, exerceu comandos nos diversos postos da carreira. Serviu no Comando em Chefe da Esquadra (Operações) e no CAAML (chefe do Departamento de Instrução). Foi vice-diretor da EGN e instrutor de Planejamento Militar e Jogos de Guerra. Autor de trabalhos para revistas especializadas e capítulos em livros sobre estratégia; defesa e segurança; e relações internacionais. Recebeu o Prêmio Revista Marítima Brasileira, em 2007. OS DESAFIOS DA BUSCA DE UM PODER NAVAL NO SÉCULO XXI

geopolíticas que se confrontam, pode-se ver a atenção para que a abordagem das forças tal constatação como uma constante? Será profundas geopolíticas deixem de ser uma efetivamente o século XXI eminentemente sistemática oposição entre “Continentali- marítimo em sua característica principal? dade” e “Maritimidade”. Qual a interferência da globalização e do pa- A história do pensamento geopolítico e pel dos novos atores que emergem no século estratégico mostra como as visões precisam XXI para tal processo de maritimização? Em estar integradas. A cada dia configura-se a sendo constatada tal evidência, como irão ser dependência do mar, antes como caminho impactadas as concepções estratégicas, em do descobrimento e difusão de ideias. especial, a marítima e a naval? Posteriormente, com a sua marca indelével É claro que não se podem esperar todas nos campos político, econômico, social, as respostas neste simples texto. Entretan- científico/tecnológico e militar. Uma ca- to, deseja-se suscitar a reflexão e a crítica racterística atual pode ser simbolizada no para pensar-se em um ponto de partida no contêiner como uma evidência empírica processo de conceber os meios e a estrutura da “extensão do Poder Marítimo” como organizacional, por um vetor decisivo e meio dos quais o ver- influente nas questões dadeiro acionador dos A cada dia configura-se mundiais. processos, as pessoas Por tais evidências por trás das estrutu- a dependência do mar, empíricas, alguns ana- ras materiais, possa antes como caminho do listas estratégicos têm conduzir os planos e descobrimento e difusão de se preocupado em iden- projetos. Esta ideia tificar qual será o papel assume papel crucial ideias. Posteriormente, com do Poder Naval, como para o nosso Brasil, a sua marca indelével nos ponto de sustentação do diante dos desafios que Poder Marítimo, diante lhe estão reservados, campos político, econômico, dos desafios que se am- de forma independente social, científico/tecnológico plificaram desde o al- de desejar participar e militar vorecer do século XXI. ou não dos destinos O grau de instabilidade das relações interna- crescente aumentou a cionais. Não há evidências claras sobre o incerteza e levou a uma condição de in- futuro que desconhecemos. Mas a dinâmica segurança que se apresenta no formato da história do mundo recomenda que se bus- de crises e de conflitos. Os analistas de que no seu âmago algum tipo de conselho curto prazo deixam de verificar que as para entendermos os desafios do século XXI “novas ameaças” não fizeram desaparecer quanto aos temas de segurança e estratégia. as “velhas ameaças”. As “novas” ganham impulso ao usarem o avanço tecnológico O PONTO DE PARTIDA PARA para praticarem os efeitos danosos que UMA CONCEPÇÃO ESTRATÉGICA sempre objetivaram. NAVAL A leitura dos textos dos analistas con- temporâneos permite identificar pontos em A mudança do mapa geopolítico mun- comum que, de um modo sintético, abrem dial, brevemente suscitada em alguns um caminho para buscar o delineamento de exemplos contemporâneos, permite chamar um Poder Naval. Este breve artigo não poderá

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explorar cada um dos componentes que cons- cia Naval, antigamente conhecida como tituem a proposta de um método. Entretanto, Emprego Político do Poder Naval. dará ensejo a discutir se o ponto de partida A separação em níveis de condução dos de uma concepção estratégica naval guarda conflitos em seus quatro elementos (polí- similaridades com os atributos históricos tico, estratégico, operacional e tático) não que ensejaram ao ser humano enfrentar os significa tratá-los de forma isolada. A visão desafios da imensidão dos oceanos. integrada da manobra de crises acentua o A trajetória da proposta de método tem papel das Marinhas como instrumento de em comum entre as análises estratégicas política externa. Hoje, alguns analistas o seguinte roteiro: identificar o contexto cunharam a expressão “Gestão de Caos” geopolítico e as tendências decorrentes das para enquadrar os problemas derivados influências dos diversos atores, estatais e das “novas ameaças” (HENROTIN, 2011 não estatais, no tabuleiro de xadrez inter- – COUTEAU-BÉGARIE, 2010) no e externo; em seguida, contextualizar A definição de um Poder Naval calcada os fundamentos conceituais e verificar somente em argumentos baseados na estru- suas continuidades e descontinuidades tura de plataformas em constante evolução e, em decorrência, a devido às inovações atualidade das estra- tecnológicas atende so- tégias marítima e na- A visão integrada da mente ao debate entre val, especialmente em manobra de crises acentua as correntes dos “tec- função das inovações nofobos” e os “tecnófi- tecnológicas. Estas o papel das Marinhas como los”. Ambas perdem de evoluem hoje em dia instrumento de política vista as peculiaridades em ciclos cada vez externa da interrelação da es- mais curtos. tratégia naval com a A chegada no ponto estratégia marítima e acima irá conduzir a discussão e a análise dessa com a grande estratégia. Até aqui, dos fundamentos da guerra naval desde pode-se observar como é difícil e complexo as suas raízes históricas, para identificar incorporar em uma concepção estratégica o esboço de uma estratégia naval atual. todas as variáveis, com seus diversos graus Esta obrigará a rever as diversas formas de impacto, na busca de um Poder Naval. de estruturar organizacionalmente o Poder A estratégia naval ainda se ressente Naval, com apoio nos aspectos qualitativos de uma teorização plena que vá além de e quantitativos. Desse modo, surgirá uma correlacionar as suas funções com os tipos inexorável vinculação entre as plataformas de operações militares. Talvez a forte in- desejadas e as operações a serem executa- terligação com o Poder Marítimo (a força das, sejam conjuntas ou não. conceitual do termo Sea Power criado por A gama de operações passíveis de atrair Mahan) leve a uma zona de conforto com o a presença do Poder Naval é, contempo- que se chama de tarefas clássicas do Poder raneamente, crescente, mesmo em tempo Naval. Este é um elemento diferenciador vi- de paz, com a presença na mediação de tal, com base histórica, em relação às forças conflitos ou em crises humanitárias. Neste armadas terrestres e aéreas. Vislumbra-se, aspecto, as Marinhas acentuam as suas assim, uma narrativa encadeada que tem diferenças com as demais forças no que se como ponto de partida o uso do mar, no convenciona hoje denominar de Diploma- decorrer dos ciclos longos do tempo, pelo

20 RMB2oT/2013 OS DESAFIOS DA BUSCA DE UM PODER NAVAL NO SÉCULO XXI

homem no decorrer da história. É o que Estratégia Naval não foi plenamente definida Geoffrey Till denomina e apresenta como pelos autores clássicos. Mas tal aspecto os quatro atributos do mar. não impede que se tenha uma concepção A manobra, o choque e o poder de fogo estratégica para o emprego do Poder Naval. são três aspectos que sempre estiveram e Nesta altura, não é demais aduzir como estão presentes na atuação de um Poder a concepção estratégica ligada às lides do Naval no nível tático para atender às exi- mar está umbilicalmente ligada a ciência, gências dos interesses nacionais, em especial tecnologia e inovação. Não se quer dizer aos condicionados pelo Poder Marítimo. É que as outras forças não sejam impactadas assim que a projeção de poder, o controle ou pelas evoluções tecnológicas. Entretanto, domínio dos mares, as ações de guerra naval nenhuma outra força conheceu tanta evo- nos níveis táticos e estratégicos e as ações de lução técnica como as forças navais. Um bloqueio e embargo até a guerra no litoral rápido passeio histórico no que diz respeito, permeiam a história naval e continuam a por exemplo, à propulsão leva-nos dos bar- estar presentes no emprego político do Poder cos a remo, passando pela vela e o vapor Naval. (COUTEAU-BÉGARIE, 2010) até ao uso da propulsão nuclear. Os atributos visualizados em razão do As mudanças tecnológicas impactaram, uso do mar, acoplados de forma integral e ainda continuarão a fazê-lo, explorando com as tarefas clássicas do Poder Naval, e ampliando a multidimensionalidade constituem uma abordagem funcional. das ações de guerra naval. Tal liberdade Entretanto, faz-se necessário expressar os dimensional responde às demandas da reflexos dos atos dos atores estatais e não concepção estratégica, e, assim, cresce a estatais, que vão levar a pôr em execução as capacidade de influir estrategicamente, em visões geopolíticas. Pode-se dizer, como nos qualquer cenário, pelo emprego do Poder demonstrou Couteau-Bégarie (Tratado de Naval. Isso leva a modificar as estruturas Estratégia), que são poucos os estrategistas das forças navais em termos de meios para navais. Encontram-se muitos analistas de permitir adequação às áreas de atuação estratégia. Os próprios Mahan e Corbett ti- consentâneas com a especificidade do meio veram, por seu turno, influências não ligadas ambiente marítimo. diretamente ao Poder Marítimo e ao Poder As Esquadras, termo que simboliza a Naval. Mahan apreciava Jomini, um teórico estruturação de força naval com ênfase na da guerra terrestre. Corbett apoiava-se em aplicação do “poder”, sempre buscaram Clausewitz, que nem sequer pensou sobre a a diversificação e o aproveitamento da guerra no mar. (HENRONTIN, 2011) evolução tecnológica. A sua capacidade de Do aspecto acima apontado, surge a adaptação foi, e continuará a ser, a forma razão de que a integração dos atributos e de conciliar a estratégia de meios com as das funções possa definir as características exigências relacionadas ao Poder Marítimo do Poder Naval, conhecidas como sendo a e aos interesses nacionais do Estado. Um mobilidade, a flexibilidade, a versatilidade simples exemplo de tal assertiva é o aumen- e, em especial, a permanência. Esta, espe- to do deslocamento dos navios para que, cialmente, reforça a diferença de atuação no ciclo de vida, eles possam acomodar os da força naval, por razões da Estratégia ciclos mais curtos das evoluções tecnológi- Marítima impactando a Estratégia Naval, cas do material, em especial os sistemas de com suas peculiaridades em relação às for- armas e sensores e a demanda de energia. ças terrestres e aéreas. Pode-se dizer que a (NORMAN FRIEDMAN, 2001)

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Um breve exemplo de incorporarem-se O mar como recurso é auto explicativo modismos, sem a prudência de análises desde a busca por alimentos há milhares de mais profundas, diz respeito à criação de anos. Continuará sendo, apesar das ações nomenclaturas como guerra de quarta gera- predadoras na pesca por parte de alguns ção e, até mesmo, a incorporação do termo países. Além disso, outros recursos natu- guerra cibernética, apesar do inegável valor rais começam a ser extraídos do mar para desta sobre os sistemas em que se apoiam as atender às demandas das economias em diversas atividades do mundo atual. Não se desenvolvimento de países como China, pode esquecer que a definição dos conflitos Índia e outros emergentes. A tendência é também compreende lidar com aspectos de que haja um aumento na competição subjetivos, como a psicologia coletiva, por recursos primários, cuja escassez faz além de que o atingir dos objetivos políticos com que se tornem mais valiosos. A expe- compreende usar ações de presença física, riência histórica mostra como ciclos eco- como exemplificam nômicos semelhantes as inconclusivas in- tiveram um papel im- tervenções no Iraque O mar como meio de portante na ocorrência e no Afeganistão no transporte e intercâmbio de diversos conflitos. início deste século. Hoje, analistas interna- Não se deve esque- não trata só de produtos, cionais apontam para cer que, no início do mas, como no passado, de o surgimento de um século XX, todos os propagação de ideias novo triângulo do “ouro cabos submarinos de negro”, cujos vértices comunicações eram estão localizados no controlados pelos britânicos. Graças a Golfo do México, no Golfo da Guiné e na isso, ao início da Primeira Guerra Mundial “Amazônia Azul” nos campos do pré-sal os britânicos tinham quebrado os códigos brasileiro (fonte: http://estudiosdelaener. alemães, o que lhes proporcionou grande blogspot.com.br/2010/07/perforacion-en- vantagem. (NORMAN FRIEDMAN, 2001) aguas-profundas-el.html). Quais são os atributos do mar? Segundo O mar como meio de transporte e intercâm- Geoffrey Till, a figura abaixo dá uma per- bio não trata só de produtos, mas, como no feita visualização da sua integração com o passado, de propagação de ideias. As rotas do Poder Naval. comércio estão presentes de forma crescente na atividade de qualquer país. Pode-se até, no caso do Brasil, afiançar que a influência das linhas de comunicações marítimas atravessam as porteiras das fazendas. O contêiner fornece o incremento do transporte marítimo até mesmo para cargas que antes não se valiam do seu uso, como, por exemplo, soja, carnes e seus derivados. A globalização, sem qualquer juízo de valor sobre ela, estabelece um grau cada vez mais acentuado de interdependência entre uma ampla gama de países. Fonte: (Seapower: A guide for the Twenty First As rotas comerciais começam a ser Century, p. 24) afetadas pelas mudanças climáticas. Não

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se pode descartar a influência geopolítica outros valores culturais começam a se de tal fato nos interesses dos mais diversos propagar. Foi também, e ainda é, um meio países. O Ártico é um bom exemplo da atu- para propagar certas doenças até de caráter alidade desse atributo. No passado, muitos epidêmico. Hoje, o transporte aéreo acelera a conflitos ocorreram em função do Canal de disseminação. Um outro exemplo reside nos Suez e do Canal Panamá, só para citar dois atuais desafios emanados pela proliferação casos que sustentam a argumentação. É a de espécies não naturais trazidas de uma força de ação da geoeconomia. (ALVES determinada região para outro ponto do DE ALMEIDA e VIDIGAL, 2009) planeta pelas águas de lastro. No passado, foi A própria competição comercial pode a forma de levar o cultivo de determinadas ser vista como uma forma de conflito entre commodities para outras regiões do planeta. fornecedores rivais, por exemplo, ao dispu- Outro aspecto ligado ao terceiro atributo tar mercados clientes. A defesa desses inte- continua a ser a busca do conhecimento resses buscou historicamente apoiar-se nas sobre a imensidão marítima que ocupava Marinhas. Há pelo menos duas razões que quase ¾ do planeta. No passado, as nave- correlacionam o comércio marítimo com os gações da Escola de Sagres e as expedições conflitos. A primeira é que a prosperidade de James Cook e, mais tarde, de Darwin dão econômica, por consequência o desenvol- um resumo do que Geoffrey Till sintetiza vimento de um país, não se faz de forma como as motivações para conhecer o mar: a independente do comércio marítimo. Daí pesquisa científica de alto nível, o interesse a concentração do transporte marítimo em comercial e o interesse estratégico. Com as tão poucas empresas, que se digladiam em três motivações estão postas razões para tempo de paz. Historicamente, nas guerras, ocorrer tanto a cooperação como o conflito. as linhas de comunicações marítimas são (GEOFFREY TILL, 2004) objeto de ações ofensivas. O mar continua a ser o incentivador para Uma segunda razão deriva da primeira. pesquisas em suas profundezas, pois se co- Nas suas análises, Mahan alertou sobre vul- nhece pouco do que lá se oculta. Por outro nerabilidade e sensibilidade do sistema de lado, ele muito tem de influência sobre as comércio marítimo mundial. Desse modo, condições climáticas, tema que hoje levanta requer ser protegido, função primordial das sérias dúvidas sobre a perenidade da vida Marinhas. A maior parte dos choke points humana neste planeta. Percebe-se, assim, (pontos focais) atuais foram enumerados que por muito tempo o mar continuará a por Mahan ao analisar o Poder Marítimo ser um desafio para a busca de informação, do Império britânico. Era assim que tinham a outra face da moeda da difusão. Hoje a chave para abrir e fechar a passagem em em dia grande parte da difusão de ideias vários pontos estratégicos no mundo. Tal propaga-se pelo oceano virtual da internet. aspecto faz um vínculo direto com o quarto Isto não substitui a necessidade de conhecer atributo do mar, quando a expansão do mer- a face escura dos oceanos. cantilismo demonstra historicamente como O quarto atributo, o mar como domínio, o complexo sistema de comércio marítimo vincula-se aos demais, em especial ao se- pode ter o seu lado negativo. gundo. A ideia força deste atributo percebe- O terceiro atributo enseja entender o se, de modo bem claro, no texto atribuído a mar como meio de informação e difusão Walter Raleigh, que abre este artigo. de ideias. No início leva a intercambiar Os atributos do mar são o ponto de temas ligados ao comércio, mas depois partida para definir as funções clássicas

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do Poder Marítimo, na sua essencial ca- se sucedem nas lides do mar. É a imagem racterística em ser relativo, uma vez que simbólica das Esquadras que permite a ele é percebido em relação a algum outro continuidade da força que emana do mar. oponente possuidor de potencial marítimo. As plataformas poderão cambiar indivi- Assim, desenvolve-se uma concepção dualmente nos seus arranjos de sistemas estratégica, marítima e naval que vai materiais, mas a unidade doutrinária, sem determinar a natureza das forças a serem cair na armadilha do dogma, para usufruir empregadas nas operações marítimas. É o dos atributos do mar permanecerá assenta- alcance dessas atividades que condiciona a da na atuação das Esquadras. estrutura organizacional e as delegações de “Esquadras não se improvisam”, aler- comando. Isto enfatiza as suas característi- tou-nos uma vez Ruy Barbosa. cas especiais e a diversidade no que tange às demais forças. UMA BREVE VISÃO A aplicação da concepção vale-se da CONTEMPORÂNEA. O CONTEXTO doutrina para passar do campo teórico aos desafios do mundo real. Entretan- A análise do mais complexo fenômeno to, a doutrina terá que multifacetado que é a ser permanentemente guerra foi, é e conti- adaptável, preferen- A forma de manter a nuará a ser um grande cialmente quanto às unidade e a transmissão de desafio para todos os novas possibilidades campos do conheci- oferecidas pelas inova- conhecimento na busca de mento. Não tem sido ções tecnológicas e aos propósitos comuns dentro diferente o início do câmbios dos cenários das Marinhas foi e continua século XXI. A dinâmi- geopolíticos. Isto pode ca do mundo real está gerar diversidades de sendo as Esquadras. sempre a surpreender especializações dentro É a imagem simbólica das os que acreditam em das Marinhas, com a determinismos, com ameaça de fragmen- Esquadras que permite a base em modelos aca- tações. A forma de continuidade da força que dêmicos que fragmen- manter a unidade e a emana do mar tam os estudos arraiga- transmissão de conhe- dos em seus domínios cimento na busca de específicos. As grandes propósitos comuns dentro das Marinhas foi linhas de força das relações entre os atores e continua sendo as Esquadras. Foi neste estatais e não estatais irão representar uma tipo de estrutura organizacional que os pa- múltipla e diferenciada intensidade dos íses, desejosos de afirmar os seus interesses vetores políticos, sociais, militares, econô- no cenário geopolítico, assentaram as suas micos, científicos, tecnológicos e culturais. bases de poder. Não se vislumbra substituto A última década do século XX, fruto do a curto e médio prazos para tal forma de colapso da ex-União Soviética e da queda organização. A contínua percepção pelos do Muro de Berlim, primou pela ligeireza homens do mar do enlace permanente do de análises conclusivas sobre o futuro das Poder Marítimo com o papel a ser desempe- relações internacionais. A cada momento nhado pelo Poder Naval precisa ser mantida éramos comunicados que o fim da história nos corações e nas mentes das gerações que havia chegado. Os experts dos países peri-

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féricos agarraram-se a tal verdade absoluta, O autor demonstra em seus estudos que sem sequer ponderar sobre a possibilidade não há lugar para escapismos, como o mito dos erros das visões de curto prazo que não do bom selvagem legado por Rousseau. A consideram a linha de tempo do longo prazo bondade natural não resiste aos aspectos da geo-história. encontrados nos trabalhos arqueológicos e As alterações de perspectivas que surgem antropológicos. Havia uma teoria desligada da emergência de crises precisam ser valida- das comprovações fruto de evidências. O das pelo mundo real. Não se trata de fazer trabalho aponta que as guerras tribais eram apologia dos conflitos, mas de reconhecê- em realidade, ao seu modo, guerras totais. los como presentes na nossa realidade. Os Evidentemente que os recursos e meios mo- desejos conflitantes fazem parte intrínseca bilizados não se aproximam da escala das da natureza dos seres humanos. Esta é a guerras e conflitos ocorridos nas guerras realidade das evidências históricas, plenas de modernas. Entretanto, Keeley mostra, por riscos, ganhos e perdas. Clausewitz mostra meio de gráficos estatísticos, os variados que há em todo o processo do conflito o níveis de letalidade das guerras tribais e “nosso lado”, praticante de atos violentos das guerras das “civilizações”. O resultado por uma causa que irá aglutinar e mobilizar é surpreendente. Não poderia ser de outro toda uma sociedade. É factível questionar se modo quando a luta é pela sobrevivência. tal atitude não está mais presente em nossas A argumentação de Keeley sobre a sociedades? (COLIN GRAY, 2005) discussão da guerra antes da civilização O mundo convive com Estados em níveis acaba por concluir que apenas chegamos bem diferentes do que se entende como ao lugar em que começamos, com um catá- desenvolvimento. Há reconhecidamente logo muito conhecido de mortes, estupros, um abismo de desigualdades entre os atores saques, destruição e terror... O conflito estatais, como também no interior de cada so- armado primitivo e histórico foi tão terrível ciedade. A violência interna em cada Estado e eficaz quanto as suas versões históricas é, por vezes, conhecida como um indicador e civilizadas. A guerra é o inferno, inde- da chamada paz social. Deve ser enfatizado pendentemente de ser lutada com lanças que tal indicador não pode ser, de forma de madeira ou napalm. Aduz, ainda, entre simplista, analisado apenas do ponto de vista outras lições, que devemos considerar o de interesses exclusivamente econômicos. comércio como uma fonte especialmente Cabe aqui buscar uma citação de Law- produtiva de conflitos violentos e tratar rence H. Keeley na sua obra A guerra antes nossos parceiros comerciais mais próximos da civilização: o mito do Bom Selvagem: com cuidado especial. Relembrem-se as as- “A guerra sempre foi um tópico inte- sertivas de Raleigh, Mackinder e Spykman. ressantíssimo. Ela concentra e intensi- O auxílio da análise geográfica e histó- fica algumas das nossas emoções mais rica que a multidisciplinaridade da geopolí- fortes: coragem e medo, inspiração e tica oferece-nos enseja a oportunidade para pânico, egoísmo e abnegação, ambição dar um salto no tempo e buscar o contexto e generosidade, patriotismo e xenofobia. contemporâneo. O estímulo da guerra incitou seres hu- A atual crise econômica e financeira manos a criar prodígios de engenhosida- teve como marco simbólico a falência do de, inspiração, cooperação, vandalismo Lehman Brothers em 15 de setembro de e crueldade.” (LAWRENCE KEELEY, 2008. Em 11 de setembro de 2001, ocorreu 2011) um ataque terrorista ao centro do coração

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do poder político e econômico dos EUA. porém mantendo de forma indelével os O epicentro dos dois graves acontecimen- seus impactos. tos está no mesmo local geográfico. Uma A visão acima obriga a que se revisite infeliz coincidência até no mês. brevemente os anos de 1980 e 1990. Eles A dinâmica própria do mundo real foram notórios pela disseminação de “ver- incumbe-se de criar eventos, inesperados dades” que hoje os fatos contestam. É um ou não, que alteram o mapa geopolítico. alerta sobre os modismos. Muitos estarão É assim que pode ser visualizada a crise lembrados da “dúvida” que era semeada, que nasceu com os títulos do subprime, no inclusive no Brasil, quanto à necessidade financiamento de imóveis dentro dos EUA. de despender recursos com as Forças Ar- Esta crise chegou em todos os lugares do madas. Uma série de outras ideias contra- planeta, em razão da interdependência e da ditórias foi aceita sem grandes e profundas globalização. Estas são alavancadas pela reflexões: o papel do Estado colocado sob evolução da Tecnologia de Informação e dúvida, a dolarização da economia e outros Comunicações (TIC), que faz “encurtar” as temas afins. Não se deseja o Estado centra- distâncias e acelera os processos de tomada lizador e decisor de tudo, mas sim aquele de decisão. Estaria o mundo atual com suas que atue para que sejam asseguradas as três faces real e virtual coexistindo simultanea- autonomias, buscadas por qualquer nação: mente? Isto criaria um novo paradigma: a alimentar, energética e militar. “cronogeografia”? A ideia-chave é que antes de a crise do Foi a questão do subprime somente eco- subprime ter a dimensão atual, o desafio nômica e financeira? A resposta é não. Com já estava lançado, consentâneo com a era o benefício da análise pós-acontecimentos, do conhecimento, que leva a uma quebra pode-se reforçar a ideia de que o mundo de paradigmas. Neste contexto, vicejam a real é multidisciplinar. A crise desencadeou interdependência e a globalização. uma onda de problemas sociais que foi se O lado real é o cenário dos 3I, com a somar a outros conflitos que se desenvol- crise desencadeada em 2008, reforçando a vem por muitos anos. Afloram as crises e instabilidade, a incerteza e a insegurança. É os conflitos, que por vezes estavam apenas o medo do desconhecido com o redesenho adormecidos ou hibernando. do mapa geopolítico mundial. Como é ele Cresce a intensidade do entrechoque afetado, por exemplo, pela dinâmica resul- das forças profundas nos campos político, tante do crescimento da China e da Índia? psicossocial e militar. Como exemplos, As notícias recebidas por qualquer tipo podem-se citar, entre outros, o aspecto de mídia mostram a convulsão em que se demográfico e as atitudes diante das migra- encontra o mundo após o irromper da crise ções; o acirramento de posições protecio- de 2008. Ao verificar a situação dos países nistas no comércio internacional e a volta tradicionais da Europa, hoje integrados na da discussão do papel do Estado, atuando União Europeia (UE), temos uma boa visão como elemento de última instância no sal- da dimensão impactante do econômico no vamento de grandes grupos econômicos e político e social. financeiros. As mais recentes estimativas divulgadas Os eventos geopolíticos de curto prazo pelo Fundo Monetário Internacional sobre precisam ser interligados com as forças que a zona do euro – relembrando que nem se manifestam em uma dinâmica mais lenta, todos os países que integram a UE têm o comportando-se quase como constantes, euro como moeda – transmitem um quadro

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real da desesperança. Até mesmo a política autoritários não trouxe flexibilização, e os de austeridade econômica, defendida como governos, quando existem, são instáveis e solução pela Alemanha, a maior economia pressionados por forte oposição. Os casos da Europa, é posta sob fortes ataques. Al- da Líbia e da Tunísia são paradigmáticos. guns números são assustadores, uma vez O grande arco de instabilidade que se que de janeiro a março de 2013 houve uma inicia na África e avança pelo Oriente contração na zona do euro de 0,2%. A zona Médio até os confins da Ásia continua a ser do euro (17 países) sentiu a contração eco- um grande desafio sobre a efetividade do nômica pelo sexto semestre consecutivo. A Conselho de Segurança da Organização das dívida pública continua crescente. (Jornal Nações Unidas (ONU). As respostas dadas Valor, 17/5/2013) por esse fórum de discussão não consegui- A correlação positiva da economia ram atender às exigências da sociedade in- com o social aparece nas elevadas taxas ternacional. O caso da guerra civil da Síria é de desemprego: França (11,18%), Gré- um exemplo de como os atores externos, ao cia (26,99%), Itália (12,04%), Portugal tentarem influenciar o desenrolar das ações, (18,25%), Espanha (27%), e Irlanda acabaram por produzir eventos paradoxais, (14,24%). É interessante notar que a Ir- contribuindo para fortalecer naquela área de landa era apontada, antes de 2008, como decisão grupos que se opõem aos financia- um exemplo a ser seguido. (Jornal Valor dores externos, que interferem no conflito. – Caderno Eu e Fim de Semana, 17/5/13, São adversários em outros pontos do mapa pp. 4 a 12). geopolítico mundial. Aos dados acima, agrega-se o fato rele- Os conflitos derivados da “Primavera vante de que a taxa de desemprego entre os Árabe”, em conjunção com a crise econô- jovens em alguns países ultrapassa os 50%, mica na UE, têm protagonizado uma série mesmo quando eles possuem nível de edu- de ações na UE para impedir a entrada de cação superior, como é o caso da Espanha migrantes. Nos EUA, a promessa feita (52,4%) e da Grécia (54,2%). Estes dados na campanha pela reeleição por Barack constam de um relatório da Organização Obama não se transformou em atos legais Internacional do Trabalho (OIT) – Ten- concretos no seu segundo mandato. A de- dências Mundiais do Emprego Juvenil portação de imigrantes continua, inclusive 2013 – e aduzem que a taxa de desemprego de brasileiros. mundial entre jovens cresce. As estimativas O terrorismo se espalha em diversas indicam que será de 12,8% em 2018. Mais regiões. O Iraque não encontrou a sua desesperança e falta de confiança no futuro condição de segurança, com crescentes significam as sementes de conflitos. embates internos. Os acontecimentos da O ano de 2011 trouxe as lufadas de ventos Maratona de Boston mostraram como a fortes em uma área já conhecida por instabi- ameaça de atuações isoladas pode desmon- lidades. Foi a chamada “Primavera Árabe”, tar em pouco tempo as estruturas criadas quando, mais uma vez, analistas ocidentais para monitorar e impedir ações tão nefastas. “enxergaram” sinais de mudança de rumo A relação restrita de problemas a serem para caminhos democráticos, pautados em enfrentados não pode deixar de incluir as um modelo ocidental baseado na partici- atitudes da Coreia do Norte levando todo pação popular. Hoje percebe-se que, em um clima de insegurança a uma ampla alguns países, o que ocorreu foi um “Forte e região do Pacífico, com base na sua capa- Impiedoso Inverno”. A queda dos governos cidade, por vezes não confirmada por ana-

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listas externos, de lançar vetores de longo A crise de 2008 não levou somente alcance com carga nuclear. O “equilíbrio à procura de outros locais para importa- do terror”, tão discutido durante a Guerra ção de petróleo e gás. A necessidade da Fria, agora se espraia pela possibilidade retomada econômica faz com que outras do seu uso por um grupo maior de países, fontes de energia sejam buscadas. Tal em especial dentro do arco de instabilidade aspecto é reforçado também pelo desafio anteriormente configurado. das mudanças climáticas, com a agenda do A rápida passagem por pontos do arco “desenvolvimento sustentável”. Deseja-se de instabilidade leva a citar o contínuo uma economia de “baixo carbono”, fruto embate dos EUA e outros países com de energias renováveis. Entretanto, os in- relação às atitudes desenvolvidas pelo Irã, teresses econômicos, reforçados pela crise este protagonista de crises nos anos de iniciada em 2008, demandam respostas 1970, quando, logo após a derrubada do de curto prazo, e um dos exemplos mais governo e a chegada ao poder dos aiatolás, característicos de tal assertiva é o shale gas sucessivos embates defrontaram este país (gás de xisto). com os EUA. A invasão da Embaixada dos O Jornal Valor (12/12/2012, página EUA nos anos 1970 é um exemplo desse B-10) publicou matérias em que apresenta- fato. Logo após, nos anos 1980, uma guerra va o acirrado debate sobre a séria ameaça ao ocorreu com o Iraque. Recentemente, o Irã meio ambiente proveniente da extração do viu-se alvo de ações de embargo decretadas gás de xisto nos EUA pelo método fracking pelo Conselho de Segurança da ONU em (fratura hidráulica). Há contaminação de face do desenvolvimento de um programa águas de rios e poços artesianos. Apesar nuclear, visto principalmente pelos EUA disso, há uma década o xisto representava e por Israel como sendo de característica 1% da produção de gás natural norte-ameri- não pacífica. Entre outras respostas que o cano. Hoje, chega a quase 29%. A indústria Irã tem dado, deve-se relembrar a ameaça siderúrgica na Pensilvânia retomou suas de fechar o Estreito de Ormuz. Mais uma atividades e hoje produz competitivamente vez a geopolítica do petróleo fez rufar graças ao baixo custo do insumo gás na sua os tambores da guerra, uma vez que por estrutura de produção. Ormuz passa uma quantidade significativa As estimativas indicam que os EUA de petróleo e gás que servem de fonte de possuem 14 trilhões de metros cúbicos energia para diversos países. em reservas de gás de xisto. Estas podem Não é por acaso que durante os últimos durar cem anos. A perspectiva em relação 20 anos os EUA buscam mitigar a sua de- ao xisto nos EUA é grande, pois não só pendência de petróleo e gás daquela região. o preço do gás é inferior ao do mercado Não só como China e Índia, também os internacional, como também o crescimento EUA têm aumentado sua importação dos da sua participação na matriz energética países africanos produtores de petróleo, contribui para diminuir significativamente localizados no Golfo da Guiné. Alguns ana- a dependência das fontes no exterior. Não listas visualizam em futuro o surgimento de custa relembrar que nos anos 1970 o Brasil um novo triângulo do “ouro negro” com- iniciou, na formação de Irati (Paraná até o preendendo o Golfo do México, o Golfo da Rio Grande do Sul), um projeto para obter Guiné e, como outro vértice, os campos do petróleo e gás de xisto. Com o avançar das pré-sal brasileiros, como a nova área que irá novas tecnologias, tal área pode vir a ser saciar a demanda por esse recurso. novamente de interesse.

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O fato principal é que a América do mais ao alcance das novas tecnologias, Norte (EUA e Canadá), segundo relatório levando a que atores não pertencentes a da Exxon Mobil, poderá tornar-se exporta- determinadas regiões geográficas venham dora de petróleo e gás até 2025. O estudo explorar tais riquezas. concorda com as estimativas feitas pela Em 1o de janeiro de 2013, o Jornal Va- Agência de Informação sobre Energia (EIA lor publicou (página B-11) matéria do The – sigla em inglês), do governo dos EUA. Wall Street Journal com o título “Pesca Percebe-se que alterações profundas no Chinesa gera conflito em outros países”. As setor de geração de energia irão ocasionar tensões não se restringem a seus vizinhos mudanças significativas no campo econô- por pesca ilegal no Mar Amarelo em águas mico e, em decorrência, na geopolítica. reclamadas pela Coreia do Sul. Embates Não se pode esquecer que China e Índia também têm ocorrido com o Vietnã. Há continuarão a pressionar a demanda global problemas, ainda, com a Argentina e na por combustíveis, para a qual se espera um África Ocidental. A China pretende expan- incremento no mundo de 35%, de 2010 a dir o número de embarcações para pesca em 2040. (Jornal Valor, 12/12/2012, p. A-15, águas longínquas, até o fim de 2015, para e 4/4/2013, p. B-16) aproximadamente 2.300 barcos. A ideia acima alinhada não se restringe Os litígios por reservas minerais e de somente aos aspectos da geopolítica do gás na disputa pela jurisdição, com base petróleo. O aumento da demanda por re- na aplicação da Lei do Mar, têm sido cursos naturais e alimentos, intensificado crescentes em diversos locais do planeta. com o crescimento chinês e indiano, ainda Foi assim que, em agosto de 2012, China sofre a influência do avanço de outros e Japão elevaram o nível de confronto pelo países emergentes, em que pese a desace- arquipélago, chamado de Senkaku pelo leração econômica dos chamados países Japão e de Diaoyu na China, zona com desenvolvidos. A escassez leva então a grande potencial de gás e petróleo. Como refletir sobre a Lei do Mar, nascida ainda sempre, a linha de referência geo-histórica na Guerra Fria. A convenção das Nações de longo prazo marcou o ocorrido. A ida de Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM) um grupo de chineses às ilhas para hastear fez surgir para 119 países, em dezembro de a bandeira da China deu-se em 15 de agos- 1982, um regime legal sobre as águas que to, o dia que marcou a rendição do Japão envolvem a superfície terrestre. (Revista na Segunda Guerra Mundial. As velhas Diplomatie, 2012) feridas oriundas da ocupação japonesa do A visão positiva sobre a convivência território chinês entre 1937 e 1945 voltaram internacional com um regime legal sobre os a se expor. mares, dentro do direito internacional, não Não se pode continuar o breve périplo era e ainda não é compartilhada por outros do cenário contemporâneo sem fazer uma países. Na visão negativa, vê-se como um menção aos aspectos do meio ambiente e cerceamento que contraria a ideia do mare das mudanças climáticas. Há um exemplo liberum. Os desafios do século XXI quanto marcante da conjunção dos seus efeitos: à escassez de recursos materiais contribuem a abertura de rotas marítimas, de forma decisivamente para aumentar a tensão dos permanente, através do Oceano Ártico. A conflitos. Hoje, a pesca superexplorada, revista The Economist (fevereiro de 2013, os impactos das mudanças climáticas e as p. 49) chama a atenção para tal ocorrên- riquezas minerais marinhas estão cada vez cia. O fato que motivou a reportagem foi

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o pedido de Cingapura em querer ser um empresa fretou o navio-tanque na Grécia. observador permanente do Conselho do Ár- Os preços, no momento, do afretamento tico, uma vez que a ausência de um tratado são baixos. Também utilizou um navio para aquela região fez os países próximos quebra-gelo para preceder o Ob River. Sem ao Ártico criarem tal órgão para que, em dúvida, o encurtamento da viagem oferece condomínio, tentem ajustar a ação dos boas perspectivas do ponto de vista econô- países que possuem interesses no Ártico. mico. (Jornal Valor, 3/12/2012, p. A-15). Se a atitude de Cingapura parece inusi- Tudo isso deixa claro a razão da US Navy tada pela sua distância real geográfica da ter criado uma Task Force Climate Change área, o impacto fica claro quando se toma (força-tarefa para a mudança do clima). conhecimento do maior uso da rota que Encerrar a breve viagem pelo cenário cresceu em 2013, um terço a mais do que contemporâneo faz com que regressemos em 2011. Isso pode afetar a participação ao ponto de partida: a crise de setembro do porto de Cingapura no tráfego maríti- de 2008. Percebe-se como ela acelerou a mo global. Além disso, o degelo na região ascensão da China, antecipando a sua posi- pode vir a causar modificações territoriais ção de segunda maior economia do mundo. em Cingapura, pela elevação do nível do Começa a se delinear no horizonte o dese- mar. Acrescente-se nho de um novo mapa que outros atores, es- geopolítico mundial. tatais e não estatais, O século XXI será um Uma grande síntese desejam ter assento do conturbado início à mesa do Conselho: período de grande do século XXI e das China, Índia, Japão, influência do Poder crises sem fim que têm Itália, União Euro- Marítimo. Os fluxos do proliferado é retratada peia e Greenpeace. A na recente convulsão plataforma continen- sistema de comércio social que irrompeu tal do Ártico guarda internacional precisarão ser entre 18 de maio e 24 grandes reservas de de maio do corrente petróleo, gás e recur- protegidos ano na Suécia. O que sos minerais. (Revista ocorreu com um país Diplomatie, no 10) visto como modelo social? A resposta passa Os movimentos acima indicam que há pela desigualdade social, que se acentuou um crescente interesse geopolítico pelo com a crise econômica e financeira. Há descongelamento no Ártico. Mais um fato um alto desemprego entre os jovens, em exemplifica tal atitude. Em dezembro de especial os imigrantes. Planta-se a semente 2012, no dia 4, o navio Ob River levou da desesperança e colhem-se as crises. Não um carregamento de gás norueguês para o faz muito tempo, a França, em 2005, viveu Japão passando pelo Ártico. A viagem foi crise de intensidade semelhante no seu realizada em menor tempo (menos três se- banlieue (subúrbio). manas) do que a derrota que é normalmente É com base nos cenários que se conse- utilizada passando, via Mar Mediterrâneo, gue pensar no longo prazo, não no sentido pelo Canal de Suez e contornando a Ásia. de previsão do futuro, mas para alinhar e Quem organizou o projeto foi a Gazprom ordenar os fatores que vão dar sentido às Marketing and Trading, empresa russa, concepções da grande estratégia, e, em que busca aumentar o seu mercado. Esta consequência disso, refletir e procurar

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buscar as linhas orientadoras para o campo des marítimas ao influenciar as concepções marítimo e naval. Em princípio não parece estratégicas. restar dúvida quanto ao significado de um A equação montada para responder novo mapa geopolítico para um mundo ao crescente papel das Marinhas, no que com atores geograficamente distantes, tange ao emprego político do Poder Naval mas interconectados e interdependentes (a Diplomacia Naval), continua a enfrentar especialmente pelos fluxos demandados por um desafio histórico. Como suprir com recursos naturais e alimentos. As linhas de qualidade e quantidade o número de plata- comunicação marítimas vão crescer cada formas adequadas para cumprir as funções vez mais de importância. O século XXI será clássicas do Poder Naval? um período de grande influência do Poder Ao problema acima, de como levar os Marítimo. Os fluxos do sistema de comér- sonhos ao mundo real, acrescenta-se a in- cio internacional precisarão ser protegidos. corporação de inovações tecnológicas, de custo elevado, complicando a resolução da OS SONHOS E AS REALIDADES – secular equação que desafia as Marinhas. CONCLUSÃO O importante é que o cenário atual apre- Este artigo não tem A esquadra brasileira senta a permanência a pretensão de preen- dos Estados em pro- cher as lacunas de co- estará pronta a dar curar, em função da nhecimento sobre tão respostas, como já o fez sua relação com o mar, relevante e vasto tema. no passado? A sociedade enquadrarem-se nas O propósito é suscitar categorias de Marinhas o aprofundamento do brasileira detém em sua com maior ou menor debate tanto no campo mão um grande patrimônio, relevância no cená- teórico quanto nas de- rio internacional. Os mandas reais do dinâ- a “Amazônia Azul”, e a ela conflitos que ocorrem mico cenário geopolí- compete dar o apoio ao seu contemporaneamente tico. Com a discussão, Poder Naval indicam a continuada pode-se tentar trazer emergência de crises, visões adequadas ao sejam elas oriundas de papel que o Brasil terá pela frente no trato atores estatais ou não estatais. A proteção dos atributos do mar. Identificado o nosso dos interesses no mar e na terra e a “gestão papel, conceber que ações das funções do caos”, exemplificadas, por vezes, nas clássicas do Poder Naval serão passíveis ações de ajuda humanitária, continuarão a de serem atendidas. demandar a presença do Poder Naval, de A globalização é um fato inegável, e forma isolada, em conjunto com as demais os seus aspectos geoeconômicos crescem forças armadas do seu país ou em coalizões de forma ininterrupta. Em consequência, internacionais. o Poder Marítimo continua, como fez A passagem da concepção estratégica historicamente, a influenciar a vida em para o mundo real continuará a valer-se da terra. Isto pode ser atestado ao confrontar Doutrina, que não poderá ser estática, ou os quatro atributos do mar com o cenário seja, dogmática. E a forma de criar e transmi- contemporâneo. O século XXI mantém a tir as orientações de uma visão marítima co- característica de proeminência das ativida- mum aos diversos integrantes das Marinhas

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far-se-á por meio da estrutura organizacional perceber as implicações das forças geopo- consagrada para dar unidade no emprego: a líticas. A esquadra brasileira estará pronta Esquadra, símbolo do Poder Naval. a dar respostas, como já o fez no passado? No Brasil, permanece a necessidade de, A sociedade brasileira detém em sua mão a cada dia, mostrar o seu indelével vínculo um grande patrimônio, a “Amazônia Azul”, com o mar. O Poder Marítimo faz-se pre- e a ela compete dar o apoio ao seu Poder sente no mais longínquo interior brasileiro, Naval, com representatividade semelhante seja pelo mar ou por águas interiores, em à almejada para o Brasil no cenário geopo- especial as hidrovias. Cabe entender e lítico internacional.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Poder Nacional; Estratégia; Poder Marítimo; Poder Naval; Forças Armadas; Crise;

REFERÊNCIAS

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32 RMB2oT/2013 REFLEXOS DA CRIAÇÃO DA 2a ESQUADRA E DA 2a FORÇA DE FUZILEIROS DA ESQUADRA NA ESTRUTURA DO SETOR OPERATIVO DA MARINHA DO BRASIL(*)

“O crescimento não é solução para tudo, mas sem crescimento não há solução para nada.” Paulo Nogueira Baptista Jr., “Crescer ou crescer”, O Globo de 22/12/2012

EDUARDO ITALO PESCE Professor (**)

SUMÁRIO

Introdução Transformação do Poder Naval brasileiro Duplicação do núcleo do Poder Naval Implantação da 2a Esquadra Obtenção dos meios operativos Localização da sede da 2a Esquadra Aprestamento e emprego dos meios Uma visão pessoal Conclusão Anexo

INTRODUÇÃO tos foram encarados na década anterior foi totalmente revertida. Entretanto, já última década foi marcada por mudan- começamos a observar alguns resultados A ças importantes na maneira de encarar positivos para o setor. No futuro imediato, os assuntos ligados à Defesa Nacional no os desafios serão manter o impulso reno- Brasil. Ainda não podemos afirmar que a vador e garantir os recursos necessários à perspectiva negativa sob a qual tais assun- transformação das Forças Armadas.

(*) Trabalho submetido à Revista Marítima Brasileira em 31/12/2012. Revisão final pelo autor em 15/4/2013. (**) Especialista em Relações Internacionais, professor no Centro de Produção da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Cepuerj), colaborador permanente do Centro de Estudos Político-Estratégico da Escola de Guerra Naval (Cepe/EGN) e colaborador assíduo da RMB, da revista Segurança & Defesa e do jornal Monitor Mercantil. Recebeu o Prêmio Revista Marítima Brasileira em 2001 e 2004. REFLEXOS DA CRIAÇÃO DA 2a ESQUADRA E DA 2a FORÇA DE FUZILEIROS DA ESQUADRA NA ESTRUTURA DO SETOR OPERATIVO DA MARINHA DO BRASIL

Sem prejuízo de sua capacitação para a Anual (LOA) para este ano2. A dotação guerra naval clássica, o Poder Naval bra- inicial do Ministério da Defesa, que era de sileiro deve estar apto a atuar nos conflitos R$ 66,37 bilhões na Proposta de Lei Orça- assimétricos do século XXI, nos quais o mentária (PLO), passou a ser de R$ 67,82 “inimigo” pode não ser um Estado orga- bilhões no texto aprovado (autografado) nizado. Nos períodos de paz, deve ainda da LOA 2013. Já o Comando da Marinha, garantir a presença do Brasil nas águas que contava com R$ 17,86 bilhões na PLO jurisdicionais que constituem a “Amazônia 2013, deve ficar com R$ 17,93 bilhões, Azul”, assim como em outras áreas marí- segundo a LOA 20133. timas de interesse nacional, dissuadindo O Orçamento da União para 2013 foi ameaças e atuando na segurança marítima sancionado sem vetos pela Presidenta da ou em apoio à política externa. República em 4/4/2013 e publicado no O Brasil já possui a maior Marinha do Diário Oficial da União no dia seguinte4. Hemisfério Sul e, dentro de suas possi- A dotação orçamentária inicial do Minis- bilidades, tende a expandi-la no futuro1. tério da Defesa, que tinha sido de R$ 64,7 O presente trabalho procura examinar bilhões na LOA 2012, deve ser de R$ 67,8 algumas dificuldades para implantação de bilhões este ano, o que representa um au- uma segunda Esquadra e de uma segunda mento de 4,7% em relação ao ano passado5. Força de Fuzileiros da Esquadra (FFE), O Plano de Articulação e Equipamento com sede no litoral Norte/Nordeste, bem de Defesa (Paed) consolida os projetos como possíveis reflexos de tal iniciativa estratégicos das Forças Armadas para o na estrutura do setor operativo da Marinha período 2012-31, segundo metas de curto do Brasil. O texto baseia-se em fontes e (2012-15), médio (2016-23) e longo prazo bibliografia ostensivas, sendo as opiniões (2024-31). Os investimentos totais de R$ de caráter estritamente pessoal. 557,73 bilhões incluem R$ 143,72 bilhões destinados à articulação e R$ 414,01 TRANSFORMAÇÃO DO PODER bilhões ao equipamento. Os projetos da NAVAL BRASILEIRO Marinha representam R$ 211,68 bilhões, sendo R$ 37,92 bilhões para articulação e Com a aprovação do texto pelo Senado R$ 173,76 bilhões para equipamento. Al- Federal em 12/3/2013, o Congresso Nacio- guns projetos excedem o período até 2031 nal concluiu a votação da Lei Orçamentária ou já estavam em andamento6.

1 Cf. Eduardo Italo Pesce, “A Marinha do Brasil no contexto estratégico do Hemisfério Sul”, Revista Marítima Brasileira 132 (10/12): 115-132 – Rio de Janeiro, out./dez. 2012. Cf. também Eduardo Italo Pesce, “Projetos da Marinha do Brasil no Plano de Articulação e Equipamento de Defesa (Paed)”, Revista Marítima Brasileira 133 (1/3): 57-71 – Rio de Janeiro, jan./mar 2013. 2 Cf. “Congresso conclui votação do Orçamento para 2013”, Portal do Orçamento (13/3/2013). Notícia disponi- bilizada em http://www9.senado.gov.br/. Acesso em 25/3/2013. 3 Congresso Nacional, Orçamento da União para 2013 – Despesa Elaboração – Por Órgão e UO (dados atualizados até 25/3/2013). Planilhas disponibilizadas em http://www9.senado.gov.br/. Acesso em 25/3/2013. 4 Cf. Congresso Nacional, Lei nº 12.798 de 4/4/2013 – Estima a receita e fixa a despesa da União para o exercício financeiro de 2013 (Brasília, 4 abr. 2013). Texto disponibilizado em http://www2.camara.leg.br/. Acesso em 12/4/2013. 5 Cf. Felipe Néri, “Saiba como variou o orçamento dos ministérios entre 2012 e 2013”, G1 Política (7/4/2013). Notícia disponibilizada em http://g1.globo.com/politica/noticia/. Acesso em 12/4/2013. 6 Cf. Pesce, “Projetos da Marinha do Brasil no Paed”, Op. cit. Cf. também Ministério da Defesa, Livro Branco de Defesa Nacional (Brasília, 2012) – Anexo III, pp.246-253. Disponibilizado em http://www.defesa.gov. br/. Acesso em 25/7/2012.

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À Recuperação da Capacidade Operati- Com a construção dos novos terminais va do Poder Naval estão destinados R$ 5,37 de alta capacidade, parte das exportações bilhões em 2009-25; ao Programa Nuclear do agronegócio, que hoje sai pelos portos da Marinha, R$ 4,2 bilhões em 2009-31; do Sul e do Sudeste, poderia ser transferida à Construção do Núcleo do Poder Naval, para os do Norte e do Nordeste, quando R$ 175,22 bilhões em 2009-47; ao Sistema estes estivessem integrados por via hidrovi- de Gerenciamento da Amazônia Azul (Sis- ária e ferroviária ao Centro-Norte9. Além de GAAz), R$ 12,02 bilhões em 2013-24; ao solucionar o problema do atual “gargalo” Complexo Naval da logístico das exporta- 2a Esquadra/2a Força ções brasileiras, o au- de Fuzileiros da Es- Além de solucionar mento da importância quadra (2a FFE), R$ o problema do atual econômica dos por- 9,14 bilhões em 2013- tos situados no Norte/ 31; à Segurança da “gargalo” logístico das Nordeste pode contri- Navegação, R$ 0,63 exportações brasileiras, o buir para viabilizar a bilhão em 2012-31; aumento da importância duplicação do núcleo e ao Pessoal – Nosso operativo principal do Maior Patrimônio, econômica dos portos Poder Naval brasileiro. R$ 5,02 bilhões em situados no Norte/Nordeste O saliente nordesti- 2010-317. no forma uma “cunha”, pode contribuir para apontada em direção à DUPLICAÇÃO viabilizar a duplicação do África, e as duas áreas DO NÚCLEO DO núcleo operativo principal marítimas com que PODER NAVAL se defronta o litoral do Poder Naval brasileiro brasileiro têm carac- A ampliação do terísticas geopolíticas Canal do Panamá, com conclusão prevista dissimilares. A área setentrional (ao norte para 2014, a um custo de US$ 5,25 bilhões de Natal) defronta-se com o Atlântico Norte pode favorecer os portos brasileiros ainda e a extremidade sudeste do Caribe, situados nesta década. Diversos portos do litoral no Hemisfério Norte, enquanto que a área Norte/Nordeste, como Itaqui (MA), Pecém meridional (ao sul de Natal) está voltada (CE) e Suape (PE), já estão preparados ou para o Atlântico Sul e o Hemisfério Sul10. se equipando para receber supernavios do Embora suas origens remontem à época tipo “Pós-Panamax”8. da Independência11, a ideia de criação de

7 Ibidem. 8 Cf. “Expansão do Canal do Panamá deve favorecer portos brasileiros”, Terra – Transporte & Logística (11/3/2013). Notícia disponibilizada em http://transporteelogistica.terra.com.br/. Acesso em 4/4/2013. Cf. também “Porto de Itaqui: Logística do agronegócio brasileiro muda do sul para o norte”, Ponto a Porto (8/11/2012). Notícia disponibilizada em http://pontoaporto.blogspot.com.br/. Acesso em 4/4/2013. 9 Ibidem. Cf. também Luiz Antonio Fayet, “Corredor de Exportação dos Sistemas Portuários de Belém e São Luís – Centro-Norte/Nordeste”, Revista Marítima Brasileira 133 (01/03): 35-44 – Rio de Janeiro, jan./mar. 2013. 10 Cf. Pesce, “A Marinha do Brasil no contexto estratégico do Hemisfério Sul”, Op. cit. Cf. também Eduardo Italo Pesce, “Articulação do Poder Naval brasileiro: dúvidas e comentários”, Revista Marítima Brasileira 130 (10/12): 50-61 – Rio de Janeiro, out./dez. 2010. 11 Cf. Fernando Manoel Fontes Diégues, “A Estratégia da Independência”, Revista Marítima Brasileira 133 (01/03): 20-33 – Rio de Janeiro, jan./mar. 2013.

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uma segunda Esquadra no litoral Norte/ dras provavelmente seriam integradas por Nordeste foi cogitada pela Marinha durante meios de superfície e aeronavais15. a década de 70 do século passado, tendo O início das obras da Base Naval da permanecido dormente por 40 anos, até ser 2a Esquadra está previsto para a primeira “ressuscitada” em 200812. Como ocorreu etapa do Paed (2012-15), ficando os demais com outros planos no passado, é possível subprojetos para a segunda fase (2016-23). que uma parte dos projetos da Marinha A capacitação brasileira em obras de enge- que constam do Paed jamais se concretize. nharia civil e o custo moderado do projeto Contudo, é razoavelmente positiva a pers- indicam que sua execução não apresentaria pectiva de que a duplicação da Esquadra nenhuma dificuldade insuperável. A obten- e da FFE possa sair do papel por volta de ção dos meios, porém, certamente levaria 2031 ou pouco depois disso. mais tempo. Ao projeto denominado “Complexo A construção de um complexo naval Naval da 2a Esquadra/2a Força de Fuzilei- no Norte/Nordeste do Brasil, para apoiar ros da Esquadra” estão destinados R$ 9,14 a 2a Esquadra e a 2a FFE, também está bilhões no período 2013-3113. Este inclui prevista no Plano Plurianual (PPA) para sete subprojetos, com os seguintes prazos o período 2012-15, aprovado pela Lei no de execução: Base Naval da 2a Esquadra 12.593, de 18/1/2012. Os programas, os (2013-25); Comandos e Centros de Instru- objetivos e as iniciativas que constam do ção (2016-25); 2a Força de Fuzileiros da Es- PPA 2012-15 estão detalhados no Anexo I quadra (2016-25); Base de Abastecimento daquele plano16. (2016-24); Próprios Nacionais Residenciais O Programa 2058, denominado “Política e Área de Expansão (2016-?); Centro de Nacional de Defesa”, prevê investimentos Mísseis e Paióis de Munição (2016-24); totais de R$ 54,15 bilhões até 2015, sendo e Base Aérea Naval e Comando da Força R$ 12,98 bilhões em 2012 e R$ 41,17 em Aeronaval da 2a Esquadra (2016-24)14. 2013-15. O Objetivo 0524 deste programa Não são explicitamente mencionados a é “adequar a infraestrutura das instalações Base de Submarinos e o Comando da Força terrestres para o suporte dos meios opera- de Submarinos da 2a Esquadra. Numa pers- tivos da Marinha”. pectiva futura, talvez venha a ser construída A fim de alcançar esse objetivo, as uma segunda base para apoio a tais meios, metas para 2012-15 incluem “construção no litoral Norte/Nordeste. No entanto, é e recuperação de 101 instalações terrestres possível que, pelo menos durante algum previstas no Plano de Articulação e Equi- tempo, a Marinha pretenda centralizar a pamento da Marinha do Brasil (Paemb)”. operação de seus submarinos a partir de Tais metas estão desdobradas em duas Itaguaí (RJ). Neste caso, as 1a e 2a Esqua- iniciativas. A Iniciativa 01ZT é “Adequa-

12 Cf. Pesce, “A Marinha do Brasil no contexto estratégico do Hemisfério Sul”, Op. cit. Cf. também Pesce, “Pro- jetos da Marinha do Brasil no Paed”, Op. cit. 13 Cf. Ministério da Defesa, LBDN, Op.cit. – Anexo II, p. 248. 14 Ibidem. 15 Ibidem. Cf. também Pesce, “Projetos da Marinha do Brasil no Paed”, Op. cit. Cf. ainda José Augusto Abreu de Moura, “O Prosub é só o começo”, Revista Marítima Brasileira 133 (01/03): 73-88 – Rio de Janeiro, jan./mar. 2013. 16 Cf. Congresso Nacional, Lei no 12.593, de 18/1/2012 – Institui o Plano Plurianual para o período de 2012 a 2015 (Brasília, 18 jan. 2012) – Anexo I, pp. 279-280. Lei disponibilizada em http://www.planalto.gov.br/. Anexo I disponibilizado em http://www.planejamento.gov.br/. Acesso em 25/3/2013.

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ção de arsenais, bases, estações navais e A justificativa da emenda iniciativa que demais instalações terrestres”, enquanto incluiu a implantação da 2a Esquadra no que a Iniciativa 04C5 é “Implantação da PPA 2012-15 afirma que a criação desta Segunda Esquadra”17. Esquadra atende à recomendação constante da Estratégia Nacional de Defesa (END), IMPLANTAÇÃO DA 2a ESQUADRA que previa a criação de um segundo núcleo operativo de Poder Naval, com sede no O projeto de implantação do Comple- litoral Norte/Nordeste do Brasil, em área xo Naval da 2a Esquadra e da 2a FFE foi próxima à foz do Rio Amazonas21. incluído no PPA 2012-15 por emendas O texto ressalta os benefícios econô- de parlamentares. A Emenda Iniciativa no micos e sociais para a região em que tal 50200001, de 25/11/2011, cuja ementa é infraestrutura for implantada e assinala “Implantação da Segunda Esquadra”, é de que o propósito da 2a Esquadra seria a autoria da Comissão de Relações Exterio- “realização de operações e ações de guerra res e de Defesa Nacional (CREDN). Esta naval no Atlântico, com prioridade para o emenda (ver Anexo) tem idêntico teor ao litoral N/NE, visando garantir a defesa em de duas outras, uma delas proveniente da profundidade da foz do Rio Amazonas”22. Câmara dos Deputados e a outra do Senado O dimensionamento e o organograma Federal18. da 2a Esquadra tomam por referência a A iniciativa teria como data ini- estrutura da atual Esquadra, composta cial 1/1/2012 e como data de término por diversos órgãos operativos e de apoio 31/12/2014. O custo total proposto foi de logístico, técnico e administrativo. A rela- R$ 133 milhões: R$ 10 milhões em 2012, ção de componentes apresentada é similar R$ 80 milhões em 2013 e R$ 42 milhões à existente no Rio de Janeiro, incluindo o em 201419. Como comparação, no texto Comando em Chefe da 2a Esquadra e os aprovado (autografado) da LOA 2013, a comandos da Força de Superfície, da Força modernização e a revitalização de organiza- Aeronaval e de duas Divisões operativas, ções militares terrestres da Marinha devem assim como a Base Naval e as diversas contar com um total de R$ 14,84 milhões organizações militares (OM) de apoio. para investimentos e R$ 10,46 milhões No documento, não são mencionados para despesas correntes, mas os recursos a Base de Submarinos e o Comando da para implantação da 2a Esquadra seriam Força de Submarinos da 2a Esquadra. A de apenas R$ 5,34 milhões, em desacordo Base Aérea Naval não aparece na lista das com o PPA 2012-1520. OM, mas é mencionada mais abaixo, nas

17 Ibidem. 18 Cf. Congresso Nacional, 0029/2011 – Plano Plurianual – Emenda Iniciativa 50200001, de 25/11/2011, de autoria da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN). Cf. também Congresso Nacional, Op. cit. – Emenda Iniciativa 17730001, de 25/11/2011, de autoria do Deputado . Cf. ainda Con- gresso Nacional, Op. cit. – Emenda Iniciativa 32620001, de 25/11/2011, de autoria do Senador José Richa. Emendas disponibilizadas em http://www.camara.gov.br/. Último acesso em 25/3/2013. 19 Ibidem. 20 Congresso Nacional, Orçamento da União para 2013, Op. cit. 21 Cf. Congresso Nacional, 0028/2011 – Plano Plurianual – Emenda Iniciativa 50200001, de 25/11/2011, Op. cit. Cf. também Ministério da Defesa. Estratégia Nacional de Defesa – Revisão da estratégia aprovada pelo Decreto no 6.703, de 18/12/2008. Apresentada ao Senado Federal em 17/7/2012. Texto disponibilizado em http://www.defesa.gov.br/. Acesso em 25/7/2012. 22 Cf. Congresso Nacional, Op. cit.

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finalidades. O documento faz breve menção implantação seriam realizados por fases, de à 2a Força de Fuzileiros da Esquadra (à qual acordo com a disponibilidade de recursos26. ainda se refere como 2a Divisão Anfíbia), mas não entra em maiores detalhes sobre OBTENÇÃO DOS MEIOS sua estrutura. OPERATIVOS A finalidade da iniciativa é “dotar a Marinha do Brasil de um projeto de Em 18/2/2013, a Marinha do Brasil delineamento para a implantação da 2a contava com 102 navios em serviço, dos Esquadra na Região Norte/Nordeste”23. A quais 29 (inclusive cinco submarinos) in- Base Naval, na qual estariam sediados os tegravam a Esquadra e outros 73 estavam comandos, teria a infraestrutura necessária subordinados às Forças Distritais, à Dire- ao estacionamento de navios e submarinos toria de Hidrografia e Navegação (DHN) e à manutenção de 2o e 3o escalões dos ou à Escola Naval27. Com a entrada em meios da 2a Esquadra. operação de novos meios, o total de uni- Por sua vez, a Base Aérea Naval apoia- dades navais deve chegar a 106 até o final ria as aeronaves de asa fixa e rotativa que deste ano. Das 98 aeronaves em carga nas operariam com os navios da 2a Esquadra unidades aéreas, parte encontrava-se em e com as unidades de fuzileiros navais da modernização ou não estava em serviço. 2a FFE (2a Divisão Anfíbia), integrando o A incorporação de novas aeronaves deve Corredor de Manutenção Norte e prestando prosseguir em 201328. manutenção de 2o e 3o escalões aos meios Está prevista a obtenção pela Marinha, aéreos da 2a Esquadra e dos esquadrões até 2047, de um total de 220 navios e 56 distritais dos 3o, 4o e 9o Distritos Navais. embarcações de desembarque de grande Para apoio de suprimentos e serviços, seria porte, além de 188 aeronaves de diferentes criada a Base de Abastecimento da Marinha tipos e de material para o Corpo de Fuzi- junto à 2a Esquadra24. leiros Navais (CFN). Apenas 71 unidades Em linhas gerais, os aspectos e com- navais (21 submarinos e 50 navios de super- ponentes abordados no texto da emenda fície) seriam típicas de Esquadra, sendo as correspondem aos subprojetos que constam 169 demais destinadas às Forças Distritais, do Paed25. No projeto de delineamento a à DHN ou à instrução na Escola Naval29. ser elaborado, estariam contidos os estudos Seriam necessários 31 navios de super- técnicos necessários à definição dos locais fície para recompletar e ampliar o quanti- e dos custos envolvidos, para a construção tativo de unidades da Esquadra atual, mais das instalações que constituiriam o Com- outros 19 para implantar uma segunda plexo Naval da 2a Esquadra. Os projetos de Esquadra30. Com exceção dos submarinos,

23 Ibidem. 24 Ibidem. 25 Cf. Ministério da Defesa, LBDN, Op.cit. – Anexo II, p.248. 26 Cf. Congresso Nacional, Op. cit. 27 Cf. relação de meios operativos atualizada até 18/2/2013, disponibilizada em http://www.mar.mil.br/. Último acesso em 31/3/2013. 28 Cf. Pesce, “Projetos da Marinha do Brasil no Paed”, Op. cit. 29 Ibidem. 30 Cf. Eduardo Italo Pesce, “Realismo orçamentário e renovação do Poder Naval”, Revista Marítima Brasileira 132 (07/09): 57-74 – Rio de Janeiro, jul./set. 2012. Cf. também Pesce, “Articulação do Poder Naval brasileiro: dúvidas e comentários”, Op. cit.

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porém, o que temos visto nos últimos anos ciso assegurar estabilidade, regularidade e é a obtenção de meios navais de custo mo- previsibilidade do orçamento de Defesa33, desto, tais como navios-patrulha e diversos o que talvez só seja plenamente viável tipos de unidades auxiliares. A obtenção de quando o Orçamento da União tiver caráter meios aéreos e de fuzileiros navais também impositivo. tem sido limitada pela disponibilidade de recursos31. LOCALIZAÇÃO DA SEDE DA Simultaneamente à obtenção de meios, a 2a ESQUADRA Marinha deve ampliar progressivamente o seu efetivo de pessoal No decorrer da pri- militar. Desde 2010, meira metade deste está autorizada por Se persistir o atual quadro século, parte substan- lei a expansão de tal cial da Marinha poderá efetivo de 59,6 mil de carência de recursos migrar para o litoral para 80,5 mil, mas o orçamentários, o ritmo da Norte/Nordeste do total poderá chegar a obtenção de meios pode não Brasil, em função da 115,3 mil até 2031, a nova realidade estra- fim de atender às de- acompanhar o da evolução tégica, resultante da mandas decorrentes do efetivo de pessoal duplicação do princi- do Paed. Em 2012, pal núcleo operativo de a Marinha do Brasil nosso Poder Naval. A contava com um efetivo de 62,5 mil oficiais fim de cumprir o cronograma de projeto, a e praças, para pouco mais de cem navios32. futura localização do Complexo Naval da Se persistir o atual quadro de carência 2a Esquadra/2a FFE deveria ser decidida de recursos orçamentários, o ritmo da ob- em breve34. tenção de meios pode não acompanhar o da A Baía de São Marcos, em São Luís evolução do efetivo de pessoal. A Marinha (MA), vem sendo apontada como o local do Brasil estaria, assim, correndo o risco mais adequado para sediar a 2a Esquadra35, de, no futuro, em lugar de dispor de 220 embora exista proposta alternativa favo- navios e de um efetivo de 115,3 mil oficiais rável à Baía de Marajó, próxima a Belém e praças, ficar com um número de unidades (PA). A profundidade e as características do pouco superior ao atual, para um efetivo porto favoreceriam a opção pelo Maranhão, até 80% maior. enquanto que a infraestrutura logística pré- A fim de minimizar tal risco, o aumento existente indicaria a conveniência do Pará. progressivo e proporcional do efetivo deve A distância por mar entre os portos de São ser condicionado pela efetiva disponibili- Luís e Belém é de 415 milhas marítimas zação dos recursos necessários à obtenção (769 km), enquanto que a distância por dos meios operativos. Para isso, será pre- rodovia é de 806 km36.

31 Cf. Pesce, “Projetos da Marinha do Brasil no Paed”, Op. cit. Cf. também Pesce, “Realismo orçamentário e renovação do Poder Naval”, Op. cit. 32 Ibidem. 33 Cf. Ministério da Defesa, LBDN, Op. cit. – Capítulo 6, p. 221. 34 Cf. Pesce, “Projetos da Marinha do Brasil no Paed”, Op. cit. 35 Ibidem. 36 Cf. Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), Anuário Estatístico Portuário 2004. Tabelas dispo- nibilizadas em http://www.antaq.gov.br/. Acesso em 2/4/2013.

RMB2oT/2013 39 REFLEXOS DA CRIAÇÃO DA 2a ESQUADRA E DA 2a FORÇA DE FUZILEIROS DA ESQUADRA NA ESTRUTURA DO SETOR OPERATIVO DA MARINHA DO BRASIL

Um moderno e amplo Complexo Naval Ao ComemCh estão subordinados os capaz de apoiar unidades de Esquadra, no comandos de duas Divisões operativas litoral Norte/Nordeste do Brasil, teria valor (ComDiv-1 e ComDiv-2) e de três forças- estratégico inestimável. Contudo, se nossa tipo: Força de Submarinos (ComForS), Marinha não dispuser de meios suficientes Força Aeronaval (ComForAerNav) e Força para guarnecer tal complexo, o Brasil pode- de Superfície (ComForSup). Ao ComFFE ria vir a sofrer pressões no sentido de ceder estão subordinados os comandos da Divi- seu uso a potências estrangeiras37. são Anfíbia (ComDivAnf), da Tropa de Outra possível dificuldade seria a rei- Reforço (ComTrRef) e da Tropa de De- vindicação, por grupos de indígenas ou sembarque (ComTrDbq)40. “quilombolas”, de direitos históricos sobre As Forças Navais, Aeronavais e de a área do futuro Complexo Naval da 2a Es- Fuzileiros Navais respondem simultanea- quadra, como já ocorreu com o Centro de mente a duas cadeias de comando distintas. Lançamento de Alcântara (CLA), no Mara- Para fins administrativos, é utilizada uma nhão. Recentemente, problema similar foi organização por tipos de plataforma, de criado em área adjacente à Base Naval de caráter permanente, visualizável em orga- Aratu (BNA), na Bahia38. nogramas. Para fins de emprego operativo, em caráter temporário, enquanto durarem APRESTAMENTO E EMPREGO as operações ou os exercícios, utiliza-se a DOS MEIOS organização por tarefas. O aprestamento dos meios e o ades- O setor operativo da Marinha do Brasil tramento inicial das unidades (Fases I e constitui o Comando de Operações Navais II do ciclo operativo) são atribuições das (ComOpNav). Ao comandante de Opera- forças-tipo subordinadas ao ComemCh e ções Navais (CON), que acumula o cargo dos componentes orgânicos subordinados de diretor-geral de Navegação (DGN) e ao ComFFE. Já o adestramento avança- tem pelo menos 14 subordinados diretos, do e operativo (Fase III) é realizado por subordinam-se atualmente 394 das 493 Forças-Tarefa (FT) ou Grupos-Tarefa (GT) OM existentes na estrutura do Comando integrados por meios navais de superfície e da Marinha39. aeronavais, assim como por Grupamentos Ao ComOpNav se subordinam, além Operativos de Fuzileiros Navais (GptO- do Comando em Chefe da Esquadra pFuzNav)41. (ComemCh) e do Comando da Força de O emprego dos submarinos, porém, Fuzileiros da Esquadra (ComFFE), nove difere do emprego dos meios navais de su- comandos de Distritos Navais (ComDN) e perfície e aeronavais. Enquanto tais meios alguns outros componentes. A Esquadra e operam normalmente em conjunto, para a FFE, sediadas na área do Rio de Janeiro, mútua proteção, os submarinos em patrulha constituem o principal componente opera- atuam de forma independente, subordina- tivo do Poder Naval brasileiro. dos à autoridade de controle de submarinos

37 Cf. Pesce, “Articulação do Poder Naval brasileiro: dúvidas e comentários”, Op. cit. 38 Cf. Antonio Fernando Monteiro Dias, “Uma base naval sob risco na Bahia”, O Globo, Rio de Janeiro, 16/1/2013, p.15 (Opinião). 39 Cf. organograma completo, disponibilizado em http://www.mar.mil.br/. Último acesso em 31/3/2013. 40 Ibidem. Cf. também Eduardo Italo Pesce, “De costas para o Brasil”: A Marinha oceânica do Século XXI (Rio de Janeiro: ed. autor, 2002), p.54. 41 Cf. Pesce, Op. cit., pp.54-55 e 86-87.

40 RMB2oT/2013 REFLEXOS DA CRIAÇÃO DA 2a ESQUADRA E DA 2a FORÇA DE FUZILEIROS DA ESQUADRA NA ESTRUTURA DO SETOR OPERATIVO DA MARINHA DO BRASIL

(ACoSub). Esta autoridade subordina-se, No Brasil, devido à ênfase maior por sua vez, a um Comando Operacional nas operações conjuntas, decorrente da em nível de Teatro de Operações (TO). legislação revista em 2010, os comandos No âmbito da Estrutura Militar de Defe- da Marinha, do Exército e da Aeronáu- sa, o emprego de elementos das três forças tica passariam, a partir de então, a ter singulares, em operações conjuntas, deve suas atribuições voltadas principalmente ficar subordinado ao comandante de um para o preparo das respectivas forças, TO marítimo ou terrestre, assessorado por embora o emprego isolado de elementos um estado-maior conjunto. A legislação de uma só força ainda possa ocorrer em pertinente em vigor, revista em 2010, não situações especiais45. Dessa maneira, o torna obrigatória a existência permanente papel e a estrutura do setor operativo de Comandos Operacionais conjuntos ou da Marinha e das outras duas forças singulares em tempo de paz42. A ausência singulares provavelmente teriam que de hipóteses de conflito claramente defi- ser reavaliados. nidas poderia levar à criação de encargos Na visão deste autor, o ComOpNav burocráticos adicionais, a fim de justificar poderia ser acrescido de componentes a existência de tais comandos. adicionais (que tornariam sua estrutura ainda maior) ou ser substituído por dois UMA VISÃO PESSOAL comandos de área autônomos: o Comando Naval Meridional (Coname), com sede no Embora em escala muito menor, a plane- Rio de Janeiro (RJ), e o Comando Naval Se- jada expansão do Poder Naval brasileiro seria tentrional (Conase), possivelmente sediado análoga à expansão da Marinha dos EUA, em São Luís (MA) ou em Belém (PA). resultante do Two-Ocean Navy Act, de 194043. As denominações aqui empregadas são A estrutura daquela Marinha passou então a meramente ilustrativas. O autor optou pelos incluir as grandes Esquadras do Atlântico e termos “meridional” e “setentrional” a fim do Pacífico, subdivididas em forças-tipo para de evitar mencionar pontos cardeais ou o aprestamento dos meios e em Esquadras regiões do Brasil, já que a abrangência de componentes (numbered fleets) para o seu tais comandos incluiria mais de uma região. emprego. Tal estrutura foi modificada a partir O critério geopolítico adotado pressupõe de 2001, com a transformação da Esquadra do que as duas grandes áreas oceânicas com Atlântico no U.S. Fleet Forces Command44. que se defronta o litoral brasileiro (ao sul

42 Cf. Ministério da Defesa, LBDN, Op. cit. – Capítulo 3, pp.153-156. Cf. também Presidência da República, Decreto no 7.276, de 25/8/2010 – Aprova a Estrutura Militar de Defesa e dá outras providências (Brasília, 25 ago. 2010). Revoga o Decreto no 8 (Reservado), de 17/1/1980. Cf. ainda Congresso Nacional, Lei Com- plementar no 97, de 9/6/1999 – Dispõe sobre as normas gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas (Brasília, 9 jun. 1999). Alterada pela Lei Complementar no 117, de 2/9/2004, e pela Lei Complementar no 136, de 25/8/2010. 43 Cf. “Two-Ocean Navy Act” – Wikipedia, the free encyclopedia. Texto disponibilizado em http://en.wikipedia. org/wiki/Two-Ocean_Navy_Act. Acesso em 20/1/2013. 44 Cf. “United States Fleet Forces Command” – Wikipedia, the free encyclopedia. Texto disponibilizado em http:// en.wikipedia.org/wiki/United_States_Fleet_Forces_Command. Acesso em 20/1/2013. Cf. também James R. Homes, “A Two-Ocean Navy No More?”, The Diplomat (19 Dec. 2011). Texto disponibilizado em http:// thediplomat.com/2011/12/19/a-two-ocean-navy-no-more/. Acesso em 20/1/2013. 45 Cf. Presidência da República, Decreto no 7.276, de 25/8/2010, Op. cit. Cf. também Congresso Nacional, Lei Complementar no 97, de 9/6/1999, Op. cit.

RMB2oT/2013 41 REFLEXOS DA CRIAÇÃO DA 2a ESQUADRA E DA 2a FORÇA DE FUZILEIROS DA ESQUADRA NA ESTRUTURA DO SETOR OPERATIVO DA MARINHA DO BRASIL

e ao norte de Natal-Dacar) possuem carac- depois que as forças existentes dispuserem terísticas distintas e poderiam, em caso de de meios operativos modernos, nas quan- conflito envolvendo o Brasil, vir a constituir tidades necessárias ao cumprimento das dois TO marítimos com seus respectivos missões previstas, poderemos expandir tais componentes46. forças e o escopo de suas missões50. Ao Coname estariam subordinadas a 1a Esquadra e a 1a FFE, além dos 1o, 2o, CONCLUSÃO 5o, 6o, 7o e 8o Distritos Navais. O Conase incluiria a 2a Esquadra, a 2a FFE e os 3o, Os projetos estratégicos da Marinha 4o e 9o Distritos Navais. A mesma divisão no Paed totalizam investimentos de R$ por áreas é mencionada nas emendas ao 211,68 bilhões. Entre tais projetos está a PPA 2012-1547. Os submarinos poderiam duplicação do principal núcleo operativo ser integrados às duas Esquadras ou cons- do Poder Naval brasileiro, pela implantação tituir um comando de força autônomo, da 2a Esquadra e da 2a FFE no litoral Norte/ sediado em Itaguaí (RJ)48. Os submarinos Nordeste do Brasil. As necessidades futuras de propulsão nuclear e convencional da Marinha até 2047 incluem a obtenção de constituiriam um elemento dissuasório 276 navios e embarcações, 288 aeronaves fundamental, contra adversários que dis- e vários tipos de armamento, além de ma- ponham de meios navais muito superiores terial diversificado para o CFN. aos do Brasil49. Para assegurar o cumprimento de tais Enquanto o atual quadro de restrições metas, será preciso manter o fluxo dos orçamentárias não se alterar, nossa Marinha recursos necessários à execução de todos terá que manter uma Esquadra e uma FFE os projetos, o que talvez só seja possível razoavelmente completas e bem dimen- quando o Orçamento da União no Brasil se sionadas, contando com bases de apoio ao tornar impositivo. Se a quantidade e o ritmo longo de todo o litoral brasileiro e até no de obtenção dos meios forem inferiores às exterior. Tais forças devem ser capazes previsões do Paed, a Marinha poderá ter de destacar, periodicamente, elementos que adiar ou rever a meta de duplicação da para a realização de operações em áreas Esquadra e da FFE. distantes de suas bases principais, como A iniciativa de implantação do Comple- ocorre atualmente no Caribe (Haiti) e no xo Naval da 2a Esquadra/2a FFE foi incluída Mediterrâneo (Líbano). no PPA 2012-15, mas conta com recursos Enquanto não for implantado o Com- limitados na LOA 2013. Segundo o texto plexo Naval da 2a Esquadra/2a FFE, a das emendas apresentadas ao PPA, o di- infraestrutura existente no litoral Norte/ mensionamento e a estrutura dessas forças Nordeste permitiria, com algumas adapta- tomariam como referência a Esquadra e a ções, estacionar naquela área, em caso de FFE sediadas no Rio de Janeiro. A estrutura necessidade, uma força pronta da Esquadra de apoio e operação dos submarinos ficaria e um grupamento operativo da FFE. Só provavelmente centralizada na futura base

46 Cf. Pesce, “Articulação do Poder Naval brasileiro: dúvidas e comentários”, Op. cit. Cf. também Pesce, “A Marinha do Brasil no contexto estratégico do Hemisfério Sul”, Op. cit. 47 Cf. Congresso Nacional, 0028/2011 – Plano Plurianual – Emenda Iniciativa 50200001, de 25/11/2011, Op. cit. 48 Cf. Pesce, “Realismo orçamentário e renovação do Poder Naval”, Op. cit. 49 Cf. Moura, “O Prosub é só o começo”, Op. cit. 50 Cf. Pesce, Op. cit.

42 RMB2oT/2013 REFLEXOS DA CRIAÇÃO DA 2a ESQUADRA E DA 2a FORÇA DE FUZILEIROS DA ESQUADRA NA ESTRUTURA DO SETOR OPERATIVO DA MARINHA DO BRASIL de Itaguaí (RJ), uma vez que a Base de dois comandos de área, como foi sugerido Submarinos e a Força de Submarinos da neste trabalho. Tal estrutura estaria voltada 2a Esquadra não são mencionadas no PPA principalmente para o aprestamento das nem tampouco no Paed51. Forças Navais, Aeronavais e de Fuzileiros Caso se concretizasse a perspectiva de Navais. No âmbito da Estrutura Militar de criação da 2a Esquadra e da 2a FFE, o atual Defesa52, o emprego de elementos das três ComOpNav poderia continuar desempe- forças singulares, em operações conjuntas nhando suas atribuições, acrescido de com- no Atlântico Sul, deve ficar subordinado ao ponentes adicionais, ou ser substituído por comandante de um TO marítimo.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Marinha do Brasil; Esquadra; Fuzileiros Navais; Organização;

REFERÊNCIAS

BATISTA JR., Paulo Nogueira. “Crescer ou crescer”. O Globo, Rio de Janeiro, 22/12/2012, p.15 (Opinião). BRASIL. Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). Anuário Estatístico Portuário 2004. Tabelas disponibilizadas em http://www.antaq.gov.br/. Acesso em 2/4/2013. Congresso Nacional. Lei no 12.798 de 4/4/2013. Estima a receita e fixa a despesa da União para o exercício financeiro de 2013 (Brasília, 4 abr. 2013). Texto disponibilizado em http://www2. camara.leg.br/. Acesso em 12/4/2013. _____. Congresso Nacional. Orçamento da União para 2013 – Despesa Elaboração – Por Órgão e UO (dados atualizados até 25/3/2013). Planilhas disponibilizadas em http://www9.senado.gov. br/. Acesso em 25/3/2013. _____. Congresso Nacional, Lei no 12.593, de 18/1/2012 – Institui o Plano Plurianual para o período de 2012 a 2015 (Brasília, 18 jan. 2012) – Anexo I, pp. 279-280. Texto da lei disponibilizado em http://www.planalto.gov.br/. Anexo I disponibilizado em http://www.planejamento.gov. br/. Acesso em 25/3/2013. _____. Congresso Nacional. 0029/2011 – Plano Plurianual – Emenda Iniciativa 17730001, de 25/11/2011, de autoria do Deputado Jair Bolsonaro. Emenda disponibilizada em http://www. camara.gov.br/. Último acesso em 25/3/2013. _____. Congresso Nacional. 0029/2011 – Plano Plurianual – Emenda Iniciativa 32620001, de 25/11/2011, de autoria do Senador José Richa. Emenda disponibilizada em http://www.camara. gov.br/. Último acesso em 25/3/2013. _____. Congresso Nacional. 0029/2011 – Plano Plurianual – Emenda Iniciativa 50200001, de 25/11/2011, de autoria da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN). Emenda disponibilizada em http://www.camara.gov.br/. Último acesso em 25/3/2013. _____. Congresso Nacional. Lei Complementar no 97, de 9/6/1999 – Dispõe sobre as normas gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas (Brasília, 9 jun. 1999). Alterada pela Lei Complementar no 117, de 2/9/2004, e pela Lei Complementar no 136, de 25/8/2010.

51 Cf. Congresso Nacional, 0028/2011 – Plano Plurianual – Emenda Iniciativa 50200001, de 25/11/2011, Op. cit. Cf. também Ministério da Defesa, LBDN, Op.cit. – Anexo II, p.248. Cf. ainda Moura, Op. cit. 52 Cf. Presidência da República, Decreto no 7.276, de 25/8/2010, Op. cit.

RMB2oT/2013 43 REFLEXOS DA CRIAÇÃO DA 2a ESQUADRA E DA 2a FORÇA DE FUZILEIROS DA ESQUADRA NA ESTRUTURA DO SETOR OPERATIVO DA MARINHA DO BRASIL

_____. Ministério da Defesa. Estratégia Nacional de Defesa. Revisão da estratégia aprovada pelo Decreto no 6.703, de 18/12/2008. Apresentada ao Senado Federal em 17/7/2012. Texto dispo- nibilizado em http://www.defesa.gov.br/. Acesso em 25/7/2012. _____. Ministério da Defesa. Livro Branco de Defesa Nacional (Brasília, 2012). Disponibilizado em http://www.defesa.gov.br/. Acesso em 25/7/2012. _____. Presidência da República. Decreto no 7.276, de 25/8/2010. Aprova a Estrutura Militar de Defesa e dá outras providências (Brasília, 25 ago. 2010). Revoga o Decreto no 8 (Reservado), de 17/1/1980. “CONGRESSO conclui votação do Orçamento para 2013”. Portal do Orçamento (13/3/2013). Notícia disponibilizada em http://www9.senado.gov.br/. Acesso em 25/3/2013. DIAS, Antonio Fernando Monteiro. “Uma base naval sob risco na Bahia”. O Globo, Rio de Janeiro, 16/1/2013, p.15 (Opinião). DIÉGUES, Fernando Manoel Fontes. “A Estratégia da Independência”. Revista Marítima Brasileira 133 (01/03): 20-33. Rio de Janeiro, jan./mar. 2013. “EXPANSÃO do Canal do Panamá deve favorecer portos brasileiros”. Terra – Transporte & Logís- tica (11/3/2013). Notícia disponibilizada em http://transporteelogistica.terra.com.br/. Acesso em 4/4/2013. FAYET, Luiz Antonio. “Corredor de Exportação dos Sistemas Portuários de Belém e São Luís – Centro- Norte/Nordeste”. Revista Marítima Brasileira 133 (01/03): 35-44. Rio de Janeiro, jan./mar. 2013. HOLMES, James R. “A Two-Ocean Navy No More?” The Diplomat (19 Dec. 2011). Texto disponibili- zado em http://thediplomat.com/2011/12/19/a-two-ocean-navy-no-more/. Acesso em 20/1/2013. MOURA, José Augusto Abreu (de). “O Prosub é só o começo”. Revista Marítima Brasileira 133 (01/03): 73-88. Rio de Janeiro, jan./mar. 2013. NÉRI, Felipe. “Saiba como variou o orçamento dos ministérios entre 2012 e 2013”. G1 Política (7/4/2013). Notícia disponibilizada em http://g1.globo.com/politica/noticia/. Acesso em 12/4/2013. PESCE, Eduardo Italo. “Projetos da Marinha do Brasil no Plano de Articulação e Equipamento de Defesa (PAED)”. Revista Marítima Brasileira 133 (01/03): 57-71. Rio de Janeiro, jan./mar 2013. _____. “A Marinha do Brasil no contexto estratégico do Hemisfério Sul”. Revista Marítima Brasileira 132 (10/12): 115-132. Rio de Janeiro, out./dez. 2012. _____. “Realismo orçamentário e renovação do Poder Naval”. Revista Marítima Brasileira 132 (07/09): 57-74. Rio de Janeiro, jul./set. 2012. _____. “Articulação do Poder Naval brasileiro: dúvidas e comentários”. Revista Marítima Brasileira 130 (10/12): 50-61. Rio de Janeiro, out./dez. 2010. _____. “De costas para o Brasil”: A Marinha oceânica do século XXI (Rio de Janeiro: ed. autor, 2002). “PORTO de Itaqui: Logística do agronegócio brasileiro muda do sul para o norte”. Ponto a Porto (8/11/2012). Notícia disponibilizada em http://pontoaporto.blogspot.com.br/. Acesso em 4/4/2013. SÍTIO OFICIAL da Marinha do Brasil em http://www.mar.mil.br/. Último acesso em 31/3/2013. “TWO-OCEAN Navy Act.” Wikipedia, the free encyclopedia. Texto disponibilizado em http:// en.wikipedia.org/wiki/Two-Ocean_Navy_Act. Acesso em 20/1/2013. “UNITED STATES Fleet Forces Command.” Wikipedia, the free encyclopedia. Texto disponibilizado em http://en.wikipedia.org/wiki/United_States_Fleet_Forces_Command. Acesso em 20/1/2013.

44 RMB2oT/2013 REFLEXOS DA CRIAÇÃO DA 2a ESQUADRA E DA 2a FORÇA DE FUZILEIROS DA ESQUADRA NA ESTRUTURA DO SETOR OPERATIVO DA MARINHA DO BRASIL

ANEXO

CONGRESSO NACIONAL COMISSÃO MISTA DE PLANOS, ORÇAMENTOS E FISCALIZAÇÃO SISTEMA DE ELABORAÇÃO DE EMENDAS ÀS LEIS ORÇAMENTÁRIAS

0029/2011 – Plano Plurianual Data: 25/11/2011

ESPELHO DE EMENDA INICIATIVA

AUTOR DA EMENDA Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN)

EMENDA 50200001

EMENTA Implantação da Segunda Esquadra

PROGRAMA 2058 – Política Nacional de Defesa

OBJETIVO 0524 – Adequar a infraestrutura das instalações terrestres para o suporte aos meios operativos da Marinha

INICIATIVA NOVA – Implantação da Segunda Esquadra

CUSTO TOTAL DATA INÍCIO DATA TÉRMINO VALOR CUSTO VALOR CUSTO PROPOSTO PROPOSTA PROPOSTA PRIMEIRO ANO DEMAIS ANOS 133.000.000 1/1/2012 31/12/2014 10.000.000 123.000.000

JUSTIFICATIVA

A criação da 2a Esquadra trata-se de um evento de magnitude estratégica para o País e atende à recomendação constante da Estratégia Nacional de Defesa (END), que prevê o estabelecimento de uma Esquadra na região Norte/Nordeste do País, próximo da foz do Rio Amazonas. Ressalta-se que a criação trará em seu bojo os seguintes benefícios para a região: desenvolvimento econômico e social; geração de empregos diretos e indiretos; incremento da arrecadação de impostos; e contribuição para a redução do “Custo Brasil”, na medida em que se aumenta a segurança do comércio exterior, por via marítima, na região. A Base Naval da 2a Esquadra (BN2aEsq) será a principal Organização Militar (OM) de Apoio Logístico Fixo e sede da 2a Esquadra, devendo possuir toda infraestrutura de apoio

RMB2oT/2013 45 REFLEXOS DA CRIAÇÃO DA 2a ESQUADRA E DA 2a FORÇA DE FUZILEIROS DA ESQUADRA NA ESTRUTURA DO SETOR OPERATIVO DA MARINHA DO BRASIL

necessária para o funcionamento das OM operativas, proporcionando condições para o estacionamento de navios e submarinos, além de prover a manutenção de 2o e 3o escalões dos meios da 2a Esquadra. O propósito da 2a Esquadra consiste na realização de operações e ações de guerra naval no Atlântico, com prioridade para o litoral N/NE, visando garantir a defesa em profundidade da foz do Rio Amazonas. Para a definição do dimensionamento e organograma da 2a Esquadra, foi tomada como referência a estrutura da Esquadra no Rio de Janeiro, a qual deverá ser composta dos seguintes órgãos operativos e de apoio logístico, técnico e administrativo: Comando em Chefe da 2a Esquadra; Comando da Força de Superfície; Comando da Força Aeronaval; Comando da 1a Divisão da Esquadra; Comando da 2a Divisão da Esquadra; Base Naval; Base de Abasteci- mento; Centro de Apoio a Sistemas Operativos; Centro de Manutenção de Sistemas; Centro de Mísseis e Armas Submarinas; Serviço de Sinalização Náutica; Centro de Formação de Oficiais e Centros de Instrução de Praças; Centro de Manutenção de Embarcações Miúdas; Hospital Naval; e Vila de Próprios Nacionais Residenciais de Oficiais e Praças. O detalhamento das instalações das OM e o custo de construção de cada edificação permitirão que os projetos de implantação sejam realizados por fases, de acordo com a disponibilidade de recursos. O custo de elaboração do projeto alcança o valor de R$ 133 milhões, destinados a investigações, levantamentos e projetos, os quais, em face da sua alta complexidade, exigem variada gama de serviços de engenharia e requerem sólida estrutura gerencial. Estimado o prazo de três anos para o delineamento do projeto (2012 – R$ 10 milhões; 2013 – R$ 80 milhões; e 2014 – R$ 43 milhões).

DESCRITORES DA AÇÃO ORÇAMENTÁRIA “DELINEAMENTO DA IMPLANTAÇÃO DA 2a ESQUADRA”

BASE LEGAL Constituição Federal, art. 142; Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999; Lei no 10.683, de 28 de maio de 2003; Decreto no 4.735, de 11 de junho de 2003; e Decreto no 6.703, de 18 de dezembro de 2008.

FINALIDADE Dotar a Marinha do Brasil de um projeto de delineamento para a implantação da 2a Esquadra na Região Norte/Nordeste. A criação da 2a Esquadra atende à diretriz constante da Estratégia Nacional de Defesa (END), no tocante à reestruturação das Forças Armadas, que prevê o estabelecimento de uma Esquadra na região Norte/Nordeste do País, próximo da foz do Rio Amazonas. A Base Naval da 2a Esquadra será a principal Organização Militar (OM) de Apoio Lo- gístico Fixo e sede da 2a Esquadra, devendo possuir toda infraestrutura de apoio necessária para o funcionamento das OM operativas, proporcionando condições para o estacionamento de navios e submarinos, além de prover a manutenção de 2o e 3o escalões dos meios da 2a Esquadra. Para apoio às aeronaves que operarão com os meios de superfície da 2a Esquadra e com as unidades de fuzileiros navais da 2a Divisão Anfíbia, será criada a Base Aérea Naval da 2a Esquadra, que também será a principal OM de Apoio Logístico Fixo para aeronaves de asa fixa e rotativa do Corredor de Manutenção Norte, sendo responsável pela manutenção

46 RMB2oT/2013 REFLEXOS DA CRIAÇÃO DA 2a ESQUADRA E DA 2a FORÇA DE FUZILEIROS DA ESQUADRA NA ESTRUTURA DO SETOR OPERATIVO DA MARINHA DO BRASIL

de 2o e 3o escalões das aeronaves da 2a Esquadra e dos esquadrões distritais dos 3o, 4o e 9o Distritos Navais. Para o apoio de suprimentos e de serviços administrativos e financeiros às Organizações Militares a serem instaladas no Complexo Naval da 2a Esquadra, será criada a Base de Abastecimento da Marinha da 2a Esquadra.

DESCRIÇÃO Elaboração do Projeto de Delineamento, contendo os estudos técnicos visando à definição dos locais e custos envolvidos para a construção das instalações militares, Próprios Nacionais Residenciais e demais facilidades que permitam a atracação, manutenção e apoio aos meios navais, aeronavais e de fuzileiros navais, bem como aos militares e seus dependentes, que constituirão o Complexo Naval da 2a Esquadra.

ESPECIFICAÇÃO DO PRODUTO Delineamento da implantação.

PRODUTO Sistema estruturado

UNIDADE DE MEDIDA % de execução

RMB2oT/2013 47 A FORÇA DOS MILITARES NA AMAZÔNIA

DRÁUZIO VARELLA*

erfilados, os soldados aguardaram em ombro, e iniciou a oração do guerreiro Pposição de sentido, sob o sol do meio- da selva, no idioma natal. No fim, o dia. Eram homens de estatura mediana, grito de guerra dos pelotões da fronteira: pele bronzeada, olhos “Selva!” amendoados, maçãs O segundo a re- do rosto salientes e Ouvir indígenas cantando o petir o texto foi um cabelo espetado. soldado da etnia De- O observador de- Hino Brasileiro no meio da sana, seguido de um savisado que lhes floresta trouxe à flor da pele Baniua, um Curipa- analisasse os traços sentimentos de brasilidade co, um Cubeu, um julgaria estar na Ásia. Ianomâmi, um Ta- No microfone, a pala- que eu julgava esquecidos riano e um Hupda. vra de ordem do capi- Todos repetiram o tão: “Soldado Souza, ritual do passo à etnia Tucano”. frente e da oração nas línguas de seus Um rapaz da primeira fila deu um povos; em comum, apenas o grito final: passo adiante, resoluto, com o fuzil no “Selva!”

* N.R.: Dráuzio Varella é médico oncologista e cientista, formado pela Universidade de São Paulo. É conhecido por popularizar a medicina no Brasil por meio de programas de rádio e TV. Também é premiado escritor. Entre seus livros, destacam-se Estação Carandiru (que conta sobre seu trabalho de médico no presídio do Carandiru e que inspirou filme do diretor Hector Babenco),Nas ruas do Brás e Florestas do Rio Negro. A FORÇA DOS MILITARES NA AMAZÔNIA

Depois, o pelotão inteiro cantou o Hino Querari, Tunuí-Cachoeira, São Joaquim, Nacional em português, a plenos pulmões. Maturacá e Cucuí. Ouvir aquela diversidade de indígenas, ca- Anteriormente formados por milita- racterística das 22 etnias que habitam o ex- res de outros estados, os pelotões hoje tremo noroeste da Amazônia brasileira há recrutam soldados nas comunidades 2 mil anos, cantando das redondezas. Essa nosso Hino no meio da opção foi feita por ra- floresta trouxe à flor Não fosse a presença zões profissionais: “O da pele sentimentos soldado do sul pode de brasilidade que eu militar, seria uma região ser mais preparado julgava esquecidos. entregue à própria sorte. intelectualmente, mas Para chegar à Ca- Ou, pior, à sorte alheia na selva ninguém se beça do Cachorro é iguala ao indígena”. preciso ir a Manaus, Na entrada dos quar- viajar 1.146 quilômetros Rio Negro aci- téis, uma placa dá ideia do esforço para ma até avistar São Gabriel da Cachoeira, construí-los naquele ermo: “Da primeira a maior cidade indígena do País. De lá, tábua ao último prego, todo material em- até as fronteiras com a Colômbia e a pregado nessas instalações foi transportado Venezuela, pelos rios nas asas da Força Aérea Uaupés, Tiquié, Içana, Brasileira, a FAB”. Cauaburi e uma infini- O pelotão é chefiado Os pelotões atraí- dade de rios menores, por tenente, obrigado ram as populações in- só Deus sabe. dígenas de cada rio à A duração da via- a exercer o papel de beira do qual foram gem depende das chu- comandante, prefeito, juiz instalados: por causa da vas, das corredeiras de paz, delegado, gestor escola para as crianças e da época do ano, e porque em suas ime- porque na bacia do de assistência médico- diações circula o bem Rio Negro o nível das odontológica, administrador mais raro da região: águas pode subir mais salário. de dez metros entre de programas e o que mais Para os militares e a vazante e o pico da for necessário assumir suas famílias, os in- cheia. É um Brasil nas comunidades das dígenas conseguem perdido no meio das vender algum artesa- florestas mais preser- imediações, esquecidas nato, trocar farinha e vadas da Amazônia. pelas autoridades federais, frutas por gêneros de Não fosse a presença primeira necessidade, militar, seria uma re- estaduais e municipais produtos de higiene e gião entregue à própria peças de vestuário. No sorte. Ou, pior, à sorte alheia. quartel existe possibilidade de acesso à O Comando dos Pelotões de Fronteira assistência médica, ao dentista, à internet está sediado em São Gabriel. De lá partem e aos aviões da FAB, em caso de acidente as provisões e o apoio logístico para as ou doença grave. unidades construídas à beira dos principais Cada pelotão é chefiado por um rios fronteiriços: Pari-Cachoeira, Iauaretê, tenente com menos de 30 anos, obri-

RMB2oT/2013 49 A FORÇA DOS MILITARES NA AMAZÔNIA

gado a exercer o papel de comandante Os quartéis são de um despojamento militar, prefeito, juiz de paz, delegado, espartano. As dificuldades de abastecimen- gestor de assistência to, os atrasos dos voos médico-odontológi- causados por adversida- ca, administrador do Esses militares anônimos, des climáticas e avarias programa de inclu- mal pagos, são os únicos técnicas e o orçamento são digital e o que minguado das Forças Ar- mais for necessário responsáveis pela defesa madas tornam o dia a dia assumir nas comu- dos limites de uma dos que vivem em pleno nidades das ime- região conturbada pela isolamento um ato de diações, esquecidas resistência permanente. pelas autoridades proximidade das Forças Esses militares anô- federais, estaduais Armadas Revolucionárias nimos, mal pagos, são e municipais. Tais os únicos responsáveis serviços, de respon- da Colômbia (Farc) e pelas pela defesa dos limites sabilidade de minis- rotas do narcotráfico. Não de uma região contur- térios e secretarias estivessem lá, quem estaria? bada pela proximidade locais, são prestados das Forças Armadas pelas Forças Arma- Revolucionárias da Co- das sem qualquer dotação orçamentária lômbia (Farc) e pelas rotas do narcotráfico. suplementar. Não estivessem lá, quem estaria?

Lema do soldado da Amazônia

“Senhor, tu que ordenastes ao guerreiro de selva, sobrepujai todos os vossos oponentes, dai-nos hoje da floresta a sobriedade para resistir, a paciência para emboscar, a perseverança para sobreviver, a astúcia para dissimular, a fé para resistir e vencer, e dai-nos também senhor a esperança e a certeza do retorno, mas, se, defendendo essa brasileira Amazônia, tivermos que perecer, oh Deus, que façamos com dignidade e mereçamos a vitória. Selva!!!”

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Exército do Brasil; Amazônia; Espírito de Corpo; Patriotismo;

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“Knowledge is the only instrument of production that is not subject to diminishing returns” J. M. Clark

ELCIO DE SÁ FREITAS** Vice-Almirante (Refo -EN)

SUMÁRIO

Introdução Submarinos e Base Logística de Defesa no Reino Unido Origem das dificuldades no Programa Astute Atuação do Governo na obtenção de submarinos, antes da classe Astute Mudança na atuação do Governo O Programa Astute antes da assinatura do contrato Da formulação dos requisitos até a seleção do contratado principal Negociações de contrato Disposições básicas do contrato Primeiros anos após o contrato Causas das dificuldades nos primeiros anos do contrato Dificuldades Renegociações do contrato Estado atual Apoio Logístico Integrado Lições do Programa Astute Apêndice: Marcos cronológicos do Programa Astute

* Continuação da série publicada no 3o trim./2006; no 2o trim./2007; nos 1o, 2o, 3o e 4o trim./2011; e nos 2o, 3o e 4o trim./2012. ** Serviu na Diretoria de Engenharia Naval de dezembro de 1981 a agosto de 1990, tendo sido seu diretor de abril de 1985 a agosto de 1990. A BUSCA DE GRANDEZA – (IX) – Conhecimento, Experiência e Programas Navais (Parte 2)

INTRODUÇÃO submarinos britânicos da classe Astute, desta vez apoiados na referência [4], o artigo precedente desta série [9], ostensiva, também da Rand Corporation, Nressaltamos a importância de conheci- elaborada para o Ministério da Defesa do mento e experiência em programas navais. Reino Unido. Apresentamos condicionantes e princípios básicos sobre obtenção, acumulação e SUBMARINOS E BASE LOGÍSTICA utilização de experiência. Falamos da trans- DE DEFESA NO REINO UNIDO formação de experiência em conhecimento. Ressaltamos a importância de aprender Em 2011 o Reino Unido tinha cerca de com experiências alheias, principalmente 64 milhões de habitantes. Segundo o World quando forem escassas as oportunidades Bank, possuía então o sétimo produto na- de acumular experiência própria. E consi- cional bruto e a 34a renda per capita. Foi deramos todos esses aspectos no importante a potência dominante no século XIX. Há programa de obtenção dos submarinos quase 200 anos mantém-se entre os países australianos da classe Collins. Nossa prin- de vanguarda em ciência, tecnologia, indús- cipal fonte foi a referência [5], ostensiva, tria e poder militar. Sua Base Logística de elaborada pela Rand Corporation para o Defesa tem permanecido sólida, poderosa, Ministério da Defesa da Austrália. Dela ex- abrangente e em constante evolução, sus- traímos e comentamos lições sobre direção tentada por sucessões contínuas de progra- e gerência em grandes programas navais. mas de defesa e exportações. Com o mesmo propósito de obter lições Na tabela a seguir convém examinar a práticas mediante o estudo de experi- sequência de classes de submarinos nucle- ências em outros países, examinaremos ares britânicos projetados e construídos até brevemente o programa de obtenção dos o ano de 2010:

Classe Tipo e no Tempo entre Inícios da Comissionamento Tempo entre o Tempo entre Comissionamento de Navios o Início de Produção do do Primeiro Comissionamento o Início da do Último da Classe Produção Primeiro e Submarino da do Primeiro Produção e o Submarino da da Classe e do Último Classe da Classe e o Comissionamento Classe2 o Início de Submarino da Comissionamento do Primeiro Produção Classe 1 do Primeiro da Submarino da da Classe Classe Precedente Classe Precedente Dreadnought SSN 1 – 1959 1963 – 4 anos – Valiant SSN 5 2 anos 1961/1966 1965 2 anos 4 anos 1970 Resolution SSBN 4 2 anos 1964/1965 –/1967 2 anos 4 anos 1968 Swiftsure SSN 6 5 anos 1968/1976 1972 5 anos 4 anos 1980 Trafalgar SSN 7 10 anos 1978/1986 1983 11 anos 5 anos 1991 Vanguard SSBN 4 8 anos 1986/1992 1993 10 anos 7 anos 1999 Astute SSN 15 anos 2001/– 2010 17 anos 9 anos – 1+3+4

1 Início da produção é provavelmente o início da construção. Até chegar-se a esse ponto decorrem alguns anos, como se torna claro neste artigo. 2 Todas as datas desta tabela baseiam-se na referência [4], com aproximação de mais ou menos seis meses.

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Projeto, construção e manutenção de é indispensável ter uma cadeia especial de submarinos requerem uma Base Logística fabricantes de sistemas, equipamentos e de Defesa altamente especializada e em materiais, bem como provedores de serviços constante atividade. Nela se destacam vá- específicos para submarinos, além de centros rios sistemas que interagem, mas cada um de pesquisa, experimentação e avaliação. voltado para funções específicas: projeto; Todas essas pessoas e organizações são parte construção, testes e provas; segurança; sis- da Base Logística de Defesa. tema de combate; integração da plataforma Até 1985, o Reino Unido já projetara e e do sistema de combate; avaliação opera- construíra mais de 30 classes de submari- cional e de engenharia; apoio, manutenção nos convencionais e cinco de submarinos e descarte; e um arquissistema técnico- nucleares. Vários estaleiros britânicos ha- gerencial-administrativo-financeiro que viam construído submarinos de propulsão impele e articula os demais. Essa complexa diesel, dos quais os últimos foram os da estrutura forma-se em classe Upholder. Porém décadas de contínuo o estaleiro da Vickers processo de desen- Projeto, construção e em Barrow construíra volvimento e defesa. manutenção de submarinos 24 dos 27 submarinos Resulta de constan- nucleares, e os três res- te interação gover- requerem uma Base tantes couberam ao es- namental de defesa Logística de Defesa taleiro Cammel Laird. com o setor técnico- A partir de 1970, todos científico-industrial. altamente especializada os submarinos nuclea- Ainda que venha a e em constante atividade. res britânicos passaram atingir elevado nível, Essa complexa estrutura a ser construídos no como no Reino Unido, estaleiro da Vickers em descontinuidades ou forma-se em décadas Barrow. Com naciona- súbitas reestruturações de contínuo processo de lizações e posteriores poderão enfraquecê- desnacionalizações na la. Em países desen- desenvolvimento e defesa década de 1980 e uma volvidos, essas per- série de fusões e aquisi- turbações logo são percebidas e corrigidas. ções, o estaleiro de Barrow mudou de dono Nos demais, poderão ser longas, causadoras pelo menos oito vezes, mas sempre asso- de retrocessos e extremamente danosas. ciado à Vickers. Em 1995 a GEC Marconi “Para projetar e construir submarinos adquiriu a Vickers e o estaleiro de Barrow. convencionais ou nucleares, as modernas E em 1999 ele passou a pertencer à BAE Marinhas e estaleiros precisam de pessoas Systems, resultante da fusão da British e organizações habilitadas, com conheci- Aerospace com a GEC Marconi. mentos únicos e especiais. Submarinos estão Quanto às instalações de nucleares de entre os sistemas mais complexos que os produção de vapor para a propulsão de países produzem, e o pessoal técnico, pro- submarinos (nuclear steam raising plant, jetistas e gerentes de programas que neles abreviadas como NSRP), a Rolls-Royce trabalham são um acervo de conhecimentos tornou-se o seu único provedor para os que requerem anos para serem obtidos, e que submarinos britânicos. Além disso, a não podem ser reproduzidos ou substituídos Rolls-Royce era e é a responsável pela facilmente ou rapidamente.” [4] Além disso, manutenção das NSRPs dos submarinos

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em serviço, incluindo o reabastecimento marino4. O sucesso de um programa, em de combustível nuclear na metade da vida termos de custos, prazos e desempenho, útil dos submarinos. Até 1985, o reabas- depende da experiência e do conhecimento tecimento de combustível nuclear e os previamente acumulados no Governo e na reparos principais de submarinos nucleares Base Logística de Defesa, mas também cabiam exclusivamente ao estaleiro da dos condicionantes político-econômicos Marinha Real (RN) em Devonport, depois vigentes. privatizado. As principais dificuldades no Programa Portanto, na década de 1980, era amplo Astute parecem ter-se originado nos con- e sólido o conhecimento e a experiência da dicionantes político-econômicos anteriores Base Logística do Reino Unido para pro- ao contrato de projeto e construção. Eles jetar, construir e manter submarinos. Mas determinaram mudanças nos requisitos fatores político-econômicos são também iniciais; reduziram a ação técnico-gerencial fundamentais num programa naval. do Ministério da Defesa do Reino Unido Quando se iniciaram os estudos para (MOD); causaram grande hiato entre a o Programa Astute, na década de 1980, classe Astute e a imediatamente precedente, 20 submarinos nucleares do Reino Unido a Vanguard; enfraqueceram temporaria- já haviam sido construídos ou estavam mente a base logística dedicada a subma- em construção. Não se previam grandes rinos; e supuseram que riscos, atribuições dificuldades. Mas grandes dificuldades e responsabilidades até então concentrados surgiram. Causaram hiato excessivo entre no MOD pudessem ser assumidos rápida e o início da construção do primeiro subma- vantajosamente pelo setor privado. Essas rino da classe Astute e o primeiro da classe ações e suposições determinaram todo o anterior, a Vanguard. Ele durou 15 anos. processo que levou ao contrato de projeto Outras dificuldades surgiram, resultantes e construção dos três primeiros submarinos ou não desse hiato. No entanto, como país da classe Astute5, assinado em março de desenvolvido, o Reino Unido não tardou 1997, cerca de dez anos após os estudos a identificá-las e vencê-las3. Os prejuízos iniciais para uma classe de submarinos em custos e prazos ainda foram aceitáveis e sucessora da Trafalgar. incidiram principalmente sobre o primeiro Nos condicionantes político-econômi- submarino da classe. As lições foram logo cos mencionados, destacam-se a mudança aproveitadas. no cenário de ameaças resultante do fim da Guerra Fria e a ascensão do neoliberalismo ORIGEM DAS DIFICULDADES NO econômico, propugnador da redução do PROGRAMA ASTUTE papel dos governos em favor de um setor privado menos regulamentado e mais Num programa de obtenção de submari- eficiente, supostamente apto até mesmo a nos em países desenvolvidos, normalmente assumir vantajosamente várias funções e decorriam oito a 12 anos entre a declaração riscos de defesa tradicionalmente gover- formal da necessidade de uma nova classe namentais. Buscava-se reduzir as despesas e o comissionamento do seu primeiro sub- militares e os gastos com as funções de

3 O contrato para projeto e construção do Astute foi assinado em março de 1977. A dimensão dos problemas e seu impacto sobre o programa começaram a emergir em meados de 2002 [4]. 4 Esse período de tempo tem crescido após 1990. 5 A classe Astute é de submarinos nucleares de ataque (SSNs). Os três primeiros são o Astute, o Ambush e o Artful.

54 RMB2oT/2013 A BUSCA DE GRANDEZA – (IX) – Conhecimento, Experiência e Programas Navais (Parte 2) governo e, ao mesmo tempo, aumentar a prazos, bem como detalhar os planos de eficiência das atividades no País. construção, realizar a construção, efetuar testes e provas e prover os demais serviços ATUAÇÃO DO GOVERNO NA necessários à obtenção de um submarino OBTENÇÃO DE SUBMARINOS, que viesse a cumprir todos os requisitos de ANTES DA CLASSE ASTUTE segurança e operação. Concluídas as especificações de con- Até o programa de obtenção da classe trato, o Procurement Executive Office7 Vanguard, o arquissistema técnico- no MOD também iniciava contratos com gerencial-administrativo-financeiro vários fabricantes de sistemas e equipamen- que impelia e articulava os demais na tos principais, para fornecê-los ao estaleiro base logística de projeto e construção construtor sob o título de Government de submarinos compunha-se do MOD Furnished Material (Material Fornecido com a RN. pelo Governo). Era a RN que estabelecia os requisitos Com todas essas ações, o MOD atuava para uma nova classe de submarinos, como autoridade de projeto (design autho- baseada em prospectivas missões neces- rity)8 e contratado principal9. Até esse pon- sárias e conceitos de operação. A partir to, o estaleiro construtor tinha muito pouca daí, desencadeava-se um intenso processo atuação no processo decisório. “Apesar de o técnico-operativo-gerencial no MOD e na MOD procurar, para construir o submarino, RN, sob a direção do director general of um estaleiro especialista em arquitetura submarines (DGSM), realizado por enge- naval e em sistemas e estruturas da platafor- nheiros e arquitetos navais do Governo, ma de submarinos, o MOD e a RN tinham envolvendo o setor operativo de submari- centenas de engenheiros e projetistas de- nos e outras organizações. A referência [4] senvolvendo os sistemas iniciais e desenhos descreve as linhas gerais desse processo. de arranjo que constituíam a base para o Pode-se concluir que ele equivalia a todas contrato e o projeto de detalhamento da as fases que, em nossa Marinha, denomi- construção.” [4] Havia então, no Governo, namos como exequibilidade, concepção e significativa especialização técnica, com preliminar e contrato. Sua finalidade era grande amplitude e profundidade. O Royal produzir um projeto e respectivas espe- Corps of Naval Constructors (RCNC) e os cificações que seguramente permitissem oficiais engenheiros da RN suplementavam ao contratado principal6 prever custos e os recursos técnicos do MOD.

6 Neste artigo empregaremos a expressão contratado principal para designar o que na língua inglesa se denomina prime contractor. Ele é a entidade que assina um contrato de grande envergadura e se responsabiliza quase totalmente pela sua execução. Para isso, contrata outros participantes e por eles se responsabiliza. Até a classe Vanguard, inclusive, havia dois contratados principais do MOD para construir submarinos nucleares: um estaleiro (a partir de 1970, sempre a Vickers em Barrow) e a Rolls-Royce . Esta última fornecia a instalação nuclear geradora de vapor (NSRP). 7 O Procurement Executive Officer foi estabelecido em 1971 como a única agência de obtenção de material militar do MOD. 8 “A Joint Service Publication 430 definedesign authority como uma organização com competência profissional e autoridade para especificar requisitos, realizar tarefas de projeto, aplicar gerência de configuração a projetos e documentações associadas, e ao mesmo tempo monitorar a eficácia dessas atividades para um dado estado do material.” [4] Uma outra definição dedesign authority encontra-se adiante. 9 No caso, o MOD atuava como contratado principal do próprio governo britânico.

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O estaleiro realizava o projeto de de- apto para o serviço. O processo era visível talhamento e a construção, mas com boa a todas as partes interessadas, tanto do dose de supervisão do MOD. A equipe de governo como do estaleiro.” [4] projeto do MOD, juntamente com várias “O MOD tinha uma ação muito forte equipes especialistas em equipamentos e durante todo o processo de projeto e cons- seções de peritos dentro do MOD, fornecia trução. Ele assumia a responsabilidade total informações para o projeto de detalhamento pelos aspectos principais de desempenho e e aprovava decisões técnicas. A equipe do fornecia a maior parte dos sistemas e equi- Principal Naval Overseer (PNO), apoiada pamentos para o estaleiro. Assumia todos por organizações que supervisionavam a os riscos e os administrava por atuação fabricação de itens críticos, tinha aproxima- direta. Uma equipe de custos no estaleiro damente 50 pessoas permanentemente no colhia dados sobre o projeto e a construção, estaleiro, para supervisionar a qualidade do usando-os para ajudar a informar o estado produto e as atividades de construção, testes dos custos dos programas em andamento, e comissionamento. “Utilizando o PNO, o assim como para estimar custos de futuros MOD tinha um mecanismo para assegurar submarinos.” [4] independentemente que um submarino nu- Em resumo, antes da classe Astute, o clear tivesse o seu projeto de construção de MOD e a RN tinham grandes recursos acordo com as especificações de contrato e técnicos e desempenhavam papel princi- fosse construído obedecendo a esse projeto, pal como projetista inicial, integrador de pronto para aceitação final. O PNO podia sistemas e autoridade de projeto. Durante aprovar pequenas alterações e fornecer uma esse período, o estaleiro Barrow construiu avaliação profunda de prazos e custos.” [4] 24 submarinos nucleares. “Os testes dos componentes, subsis- temas e sistemas do submarino eram MUDANÇA NA ATUAÇÃO DO realizados por uma organização composta GOVERNO de membros do estaleiro, da tripulação do submarino e do MOD. Ela preparava as Até a classe Vanguard, inclusive, o agendas de testes e os critérios de aceita- governo do Reino Unido empregou uma ção, realizava os testes e documentava os grande infraestrutura administrativa e téc- resultados. Quando se aproximava a data de nica para obter um novo submarino. A RN entrega do submarino, o submarine e o MOD realizavam o projeto preliminar acceptance (CSMA) fazia inspeções inter- do submarino e especificavam claramente mediárias e, na inspeção final, verificava se os padrões técnicos para seu projeto de a qualidade geral era suficiente para permi- detalhamento e construção. Em todo o pro- tir que o submarino fosse para o mar. Nesse cesso, o MOD mantinha as funções design processo era necessário que o diretor-geral authority e technical authority10. Com essa de Submarinos declarasse que os detalhes estrutura governamental e o setor privado, do contrato haviam sido cumpridos e que o Reino Unido conseguiu projetar e cons- o CSMA afirmasse que o submarino estava truir seis classes de submarinos nucleares,

10 Em projeto e construção de navios de guerra, é importante o conceito e a designação de autoridade de projeto e autoridade técnica. Há várias autoridades num programa novo. A Marinha americana, por exemplo, faz distinção entre autoridade de projeto e autoridade técnica. O papel da autoridade de projeto é estabelecer para o projetista as especificações ou regras. Essas geralmente se baseiam no conceito de submarino que foi selecionado nos estudos de concepção que prece-

56 RMB2oT/2013 A BUSCA DE GRANDEZA – (IX) – Conhecimento, Experiência e Programas Navais (Parte 2) num total de 26 navios, entre 1959 e 1994. funções do MOD e que a competição para Certamente foi um feito notável. o papel de contratado principal levaria à Com a ascensão do neoliberalismo eco- inovação e redução de custos. nômico durante a década de 1980, o gover- Nas ciências físicas e naturais, não se no britânico procurou reduzir seu tamanho aplica generalizadamente uma teoria sem e transferir muitas de suas responsabilida- que ela tenha sido comprovada sistemati- des para o setor privado. Certamente, o camente. Não sucede o mesmo em ciências propósito foi diminuir os custos do governo sociais. Aí, novas ideias podem tornar-se e aumentar a eficiência e a competitividade artigos de fé e excederem seu apropriado nacionais. Iniciaram-se reformas governa- campo de aplicação. Só após insucessos mentais para tais fins. Elas abrangeram até é que são corrigidas ou limitadas. Isso mesmo o Ministério da Defesa e a obtenção ocorreu no Programa Astute, como adiante de submarinos nucleares. se verá. “Dentro da comunidade de submarinos, Com o MOD pressionado a reduzir as mudanças de diretrizes eliminaram orga- muito seus recursos de projeto e a transferir nizações inteiras, incluindo a de PNO e a para o setor privado muitas das suas respon- de CSMA, que haviam possibilitado a ne- sabilidades, ele passou a tratar do projeto e cessária supervisão do projeto e construção da construção do Astute segundo a diretriz de todas as classes precedentes de submari- de “observar, mas não tocar” (“eyes on, nos nucleares. Além disso, o RCNC, uma hands off”) [4]. organização-chave de supervisão, cessou O projeto do submarino deveria agora o recrutamento de novos membros.” [4] ser realizado por um contratado principal “Em se tratando de submarinos nuclea- do setor privado, que passaria a ser a au- res, o governo tinha que reter responsabi- toridade de projeto. E o MOD teria que lidades em questões-chave de segurança formular requisitos e especificações que em operações, e também experiência para não viciassem a competição entre uma or- prover supervisão e orientação.” [4] ganização experiente em projeto de subma- “Até a classe Vanguard, o MOD serviu rinos (a Vickers Shipbuiding Engineering como contratado principal. Tinha um forte Limited) e outros competidores bem menos papel no projeto e na construção. Assu- experientes. Mas o MOD também deveria mia total responsabilidade pelos aspectos assegurar que o submarino resultante cum- principais de desempenho e fornecia ao prisse os propósitos da RN. Daí surgiram estaleiro os projetos preliminares e a maior grandes dificuldades. parte dos equipamentos.” [4] No entanto, Para assegurar bons resultados para passou-se a acreditar que um poderoso con- um projeto de navio de guerra, suas fases tratado principal no setor privado poderia iniciais, até as de concepção e preliminar, realizar melhor, e a um custo menor, essas requerem interações essenciais da orga-

dem o projeto propriamente dito. A autoridade de projeto deve ser consultada e aprovar, ou não, quaisquer mudanças na especificação do projeto. A autoridade técnica é a especialista em várias áreas, tais como casco, engenharias mecânica e elétrica, segurança do submarino e projeto e engenharia do navio. Ela é responsável por estabelecer padrões técnicos em cada área e avaliar o risco, se durante o projeto e a construção houver desvios desses padrões. Para serem eficazes, a autoridade de projeto e a autoridade técnica precisam de pessoal capaz e expe- riente, cuja especialidade seja predominantemente técnica e de engenharia [4]. Há países em que só existe a autoridade de projeto, com todas as atribuições mencionadas acima.

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nização de projeto com as de operação e on, hands off ” do Governo na condução manutenção da Marinha. Esta é a princi- do programa. O MOD retomou seu papel pal razão de todas essas fases terem sido de autoridade de projeto e assumiu a maior realizadas dentro das próprias Marinhas parte do risco, especialmente do risco finan- de guerra até 1980. Transferir as fases de ceiro. Também se restabeleceu a presença concepção e preliminar para um contra- da equipe do PNO no estaleiro. Em suma, tado principal cria uma grande barreira o MOD agora assegura continuamente que de comunicação técnico-operativa, quase o processo de projeto e construção cumpre intransponível se for adotada a diretriz de os requisitos de contrato. Chegou-se a um “eyes on, hands off” após a contratação. meio-termo entre a antiga e a nova atuação O MOD tinha que superar esse obstáculo, do Governo na obtenção de submarinos maior ainda diante de potenciais contra- nucleares. tados principais sem notável experiência em projeto e construção de submarinos. O PROGRAMA ASTUTE ANTES DA Certamente foi essa a razão de ter incluído ASSINATURA DO CONTRATO 15 requisitos de alto nível e 13 mil requi- sitos técnicos no contrato do Astute. Por Além da mudança da atuação governa- outro lado, esse extraordinário número de mental para obter submarinos nucleares requisitos contratuais criava um problema após a classe Vanguard, o Programa As- inédito: o contratado principal teria que tute teve outros condicionantes anteriores demonstrar, e o MOD verificar, que eles à assinatura do seu contrato original em foram cumpridos, além de garantir que o março de 1997. submarino estaria seguro para a operação. Os primeiros estudos para a classe As- Após algum tempo, esse problema levou tute ocorreram na década de 1980, ainda a reduzirem-se para 3 mil o número de durante a Guerra Fria. Ela seria a sucessora requisitos no contrato original para os da classe Trafalgar, derivada da Swiftsure. três primeiros submarinos. Ainda assim, Pretendia-se que a classe Astute, então a documentação necessária para aceitação designada por SSN20, tivesse capacidade desses submarinos foi extraordinária. operativa muito superior à da Trafalgar, Ocorreram atrasos e custos excessivos para opor-se aos avanços soviéticos em nos primeiros anos do contrato para os guerra antissubmarino e em capacidade três primeiros submarinos. Em dezembro submarina de lançamento de mísseis balís- de 2003 ele foi modificado. Seis anos ticos. O projeto da SSN 20 seria não evolu- haviam decorrido desde a sua assinatura. tivo11. Teria melhor instalação propulsora E “os contratos para os quatro últimos nuclear, muito maior poder de fogo, suíte submarinos da classe Astute baseiam-se de sonar integrada, casco resistente maior nas especificações de projeto estabelecidas e com novo aço, melhores características durante o desenvolvimento do projeto dos de ocultação, e superfícies de controle três primeiros, e não num conjunto de re- modificadas para prover maior agilidade. O quisitos.” [4] Nesses contratos, um aspecto custo não era então um limitador principal, principal é a cessação da atitude de “eyes mas as primeiras estimativas mostraram

11 Projeto não evolutivo é aquele que inclui grandes alterações em relação aos projetos das classes imediatamente anteriores, seja pela sua própria concepção geral ou por incorporar novas tecnologias ainda não comprovadas em extenso serviço no mar. Geralmente é de alto risco.

58 RMB2oT/2013 A BUSCA DE GRANDEZA – (IX) – Conhecimento, Experiência e Programas Navais (Parte 2) que seria bem superior ao das classes de na área de defesa com o mesmo rigor com SSNs precedentes. que eram aplicados no setor civil. Modifi- Quase ao final dos estudos de exequibi- caram-se processos regulatórios, tanto do lidade, caiu o Muro de Berlim (novembro NII (Nuclear Installations Inspectorate, de 1989). Com isso, mudaram os requisitos. do Health and Safety Executive) como do Os estudos foram reiniciados em 1990, CNNRP (Chairman Naval Nuclear Regu- agora sob o título de Batch 2 Trafalgar latory Panel, designado pelo MOD como o Class (B2TC). Controle de custos passou seu regulador). Mais tarde, a BAE Systems a ser o principal objetivo. O Projeto B2TC argumentou que as pressões regulatórias seria evolutivo, derivado da Trafalgar, da década de 1990 aumentaram muito os mas com um novo sistema tático de armas custos para desenvolver os processos de em desenvolvimento para atualização das segurança e a respectiva documentação. classes Swiftsure e Trafalgar, e com a Para detalhes, consulte-se a referência [4]. NSRP da Vanguard. Não seriam introduzi- Da formulação das outras alterações, Considerou-se que o dos requisitos até a exceto as exigidas por seleção do contratado modernos requisitos programa seria de baixo principal de segurança e contra risco. No entanto, o obsolescência. A nova Em 1992 prova- classe usaria sistemas propósito inicial de o novo velmente o MOD já e módulos de classes projeto ser um avanço concluíra pelo menos em serviço. “Conside- modesto em relação ao uma versão dos requi- rou-se que o programa sitos contratuais para seria de baixo risco. da classe Trafalgar foi o B2TC, renomeado No entanto, o propó- demasiadamente otimista classe Astute, pois ad- sito inicial de o novo judicou estudos de con- projeto ser um avanço trato a potenciais con- modesto em relação ao da classe Trafalgar tratados principais. Eles eram: 1) a VSEL foi demasiadamente otimista: os requisitos (Vickers Shipbuilding Engineering Limi- iniciais levariam a um deslocamento de 7 ted); 2) a GEC Marconi; 3) a Rolls-Royce mil toneladas, em vez das 5.200 toneladas and Associates; e 4) a British Aerospace. do Trafalgar. Além disso, a estimativa Desses, somente a VSEL tinha experiência inicial de que somente quatro dos 13 siste- em projeto e construção de submarinos nu- mas principais requereriam novos projetos cleares, tendo construído quase todos eles subestimou o impacto dos requisitos para em seu estaleiro de Barrow-in-Furness. E a o B2TC e superestimou a disponibilidade Rolls-Royce sempre fora a contratada única dos sistemas existentes, pois dez dos 13 do MOD para fornecer e manter as NSRP sistemas tiveram que ser novos ou exten- de todos os submarinos nucleares. samente modificados.” [4] A partir dessa solicitação de estudos aos Requisitos regulatórios nucleares an- quatro potenciais contratados principais, teriores e posteriores ao contrato também decorreram quase cinco anos até a assi- influíram no programa, em cujos primeiros natura de contrato com a GEC Marconi, anos houve grande insistência em aplica- em março de 1997. Para isso certamente rem-se requisitos regulatórios nucleares influíram a drástica mudança de atuação

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do Governo para obter submarinos e o final requisitos e era mais realista quanto a cus- da Guerra Fria. tos, como se comprovaria depois. No contrato a ser assinado, previa-se não Em junho de 1995, seis meses antes do somente a construção dos três primeiros término da competição pelo Astute, a GEC submarinos da classe, mas também serviços adquiriu da VSEL o estaleiro de Barrow, que para seu apoio durante vários anos. construíra a maioria dos submarinos nucleares. Em outubro de 1993 e julho e 1994 Em dezembro de 1995 o MOD selecionou ocorreram, respectivamente, a solicitação a GEC Marconi como contratante principal inicial e a final para apresentação de pro- preferido para projeto e construção dos três postas. Para essa fase, os quatro potenciais primeiros submarinos da classe Astute. contratados principais que participaram dos estudos iniciais formaram duas equipes: a Negociações de contrato GEC Marconi com a British Aerospace, e a VSEL com a Rolls-Royce. Apesar de a proposta da GEC ter sido a O MOD começou a avaliar detalhada- de menor custo, o MOD não a considerou mente as propostas para decidir qual seria aceitável. Diretrizes do Governo requeriam o contratado principal preferido. O custo que seus custos fossem suportáveis antes teve grande peso. A proposta da GEC Mar- de assinar-se um contrato. Iniciou-se uma coni pareceu inovadora, além de ser a de negociação em que o MOD baseou-se menor custo. Prometia utilizar construção em dados de custo da classe Vanguard e modular, montando grandes conjuntos que informações de seus especialistas. Contu- seriam deslizados para dentro dos anéis do, havia duas áreas sem dados anteriores do casco resistente. Este seria construído de custo: a construção modular e o uso em seções, fabricadas em vários estaleiros de software 3D CAD no projeto. Tanto do norte da Inglaterra, onde havia alto de- o MOD como a GEC supunham que elas semprego, e transportadas para o estaleiro reduzissem muito os custos de projeto e de Devonport. Aí ocorreriam a montagem construção. A experiência mostrou que final e o abastecimento do reator nuclear. tal suposição foi exagerada. Além disso, No estaleiro de Devonport, quase todos a suposição de que apenas quatro dos 13 os submarinos nucleares eram mantidos e sistemas principais seriam os mesmos de reabastecidos de combustível nuclear. A outras classes também não se concretizou, construção modular utilizava-se na Suécia pois dez desses sistemas tiveram que ser e vinha progredindo nos Estados Unidos, novos ou muito modificados. onde também progredira o projeto auxi- Em março de 1997, após longas nego- liado por computador, em três dimensões ciações, o MOD assinou contrato com a (3D-CAD), também incluído na proposta GEC a um preço de 2,4 bilhões de libras, da GEC Marconi. Dessas duas inovações, bem menor do que o da proposta original esperavam-se reduções em prazos e custos. da GEC e também menor do que o estimado A proposta da VSEL pareceu menos pelo MOD [4]. favorável. Era mais cara e mais conser- vadora quanto a riscos de custos. Incluía DISPOSIÇÕES BÁSICAS DO um esperado aumento de custo da base de CONTRATO fornecedores, pois havia muitos anos não se projetava uma nova classe de submarinos. A referência [4] cita certas disposições Contudo, a proposta da VSEL atendia aos básicas do contrato:

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1 – Preço máximo fixo, e preço-alvo argumentar sobre mudanças no projeto do (target cost) e incentivos para o contratante submarino. Quaisquer mudanças poderiam reduzir custos. Quaisquer aumentos acima resultar em riscos ou aumento de custos, do preço máximo seriam absorvidos pelo que se deveriam evitar. contratado. Os eventos de pagamento ligados a volu- 2 – As mesmas configurações para os mes de produção foram contraproducentes. três primeiros submarinos, visando reduzir O estaleiro procurou instalar tubulações, custos (a prática recente havia sido a de cabos e condutos antes de concluir-se o incorporar sucessivas mudanças). projeto. Assim, muitos tiveram que ser 3 – Serviços de apoio logístico para oito retirados e reinstalados. submarinos/ano garantidos ao contratado Até a assinatura do contrato, o estalei- (supunha-se que assim o contratado faria ro de Barrow ficou isolado dos detalhes estudos de alternativas no projeto, para da proposta e das negociações da GEC identificar as que reduzissem os custos de Marconi. Quando os viu, percebeu que a apoio em serviço sem deixar de atender os equipe da GEC Marconi não entendeu requisitos). perfeitamente a magnitude do problema 4 – Atribuição formal de autoridade que enfrentava e que seria difícil cumprir de projeto à GEC Marconi. No entanto, o os termos do contrato. MOD continuou a ser a ultimate authority Com o contrato assinado, o MOD trans- in nuclear safety (autoridade mais alta em feriu para um contratado principal do setor segurança nuclear). privado – a GEC Marconi Major Prime 5 – Baixa fração do preço-alvo para ser- Contracts (GEC MPC) – a maior parte dos vir como reserva de contingência diante de riscos e das tarefas que até então assumira problemas imprevistos durante o projeto e como contratante principal dos projetos a construção dos submarinos. A reserva era e construções de submarinos para a RN. agora de apenas 133 milhões de libras, em O propósito principal dessa drástica mu- vez dos 453 milhões de libras da proposta dança era reduzir custos e o envolvimento original da GEC Marconi. do Governo em processos de obtenção. O 6 – Cláusulas de pagamento determi- contratado principal, GEC MPC, situado nadas por eventos de produção, tais como nas cercanias de Londres, passou a ter como quantidade instalada de tubulações para o seus contratados o estaleiro de Barrow e B2TC, renomeado classe Astute, cabos e até mesmo a Rolls-Royce, única projetista condutos. e fabricante de NSRPs para os submarinos 7 – Seguro dos submarinos contra per- britânicos, e até então contratante principal das, danos ou responsabilidades para com do MOD. A categoria de Materiais Forne- terceiros basicamente atribuídos ao MOD, cidos pelo Governo passou a restringir-se assim como a responsabilidade de pagar a unidades de equipamentos classificados. pelos custos de atualizações requeridas Todos os demais deveriam ser obtidos di- pelas autoridades reguladoras. retamente pelo contratado principal. A atribuição formal de autoridade de Para essa transferência inédita de tare- projeto à GEC Marconi e o preço máximo fas, responsabilidades e riscos do MOD fixo reduziram muito a capacidade de o para um contratante principal do setor MOD influenciar no projeto do submarino, privado, certamente supunha-se que este pois agora o MOD tinha pouca autoridade último pudesse exercer a indispensável e para impor certos detalhes de projeto ou competente supervisão e orientação de seus

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contratados. Porém isso requer experiência, o MOD dos problemas enfrentados pelo tempo e dinheiro. Um processo gradual de contratado principal. transferência seria mais seguro. Transfe- 8 – Tanto o MOD como o contratado rência rápida provavelmente causaria riscos principal subestimaram o impacto do longo maiores, soluções mais difíceis, grandes hiato entre o projeto do Vanguard e o do dispêndios e dilações de prazos, como Astute. realmente viria a ocorrer. 9 – As taxas de inflação foram superiores às estimadas no contrato. PRIMEIROS ANOS APÓS O 10 – A BAE Systems superestimou o vo- CONTRATO lume de trabalhos em navios de superfície, no estaleiro de Barrow, causando aumento Causas das dificuldades nos primeiros nas taxas de overhead incidentes no Astute. anos do contrato 11 – O MOD e a BAE Systems su- bestimaram os riscos de custos e prazos A referência [4] cita as seguintes causas inerentes ao projeto do Astute e não se que dificultaram o progresso do programa aprovisionaram apropriadamente para os nos primeiros anos após o contrato: enfrentar. 1 – Não se planejou a transferência de Tentando cumprir os requisitos de responsabilidades do MOD para o contra- prazos, o contratado principal iniciou a tado principal. construção quando muito pouco do pro- 2 – Muitos especialistas em projeto e jeto se concluíra, causando ainda maiores construção de submarinos estavam atin- dilações. Em agosto de 2002, já com cinco gindo a idade de aposentadoria e deixando anos de contrato, é que se determinou que o MOD e o setor privado. o programa atrasara três anos e estava al- 3 – A administração do contratado prin- gumas centenas de milhões de libras acima cipal mudou quando a British Aerospace do orçamento. comprou a GEC Marconi em novembro de 1999, criando a BAE Systems. Dificuldades 4 – A separação física e as diferenças culturais entre o escritório do contratado A grande mudança na atuação do go- principal e o estaleiro causaram falta de verno para obter submarinos nucleares cooperação e coordenação. afetou uma complexa estrutura logística de 5 – As pessoas que deixavam a comuni- obtenção formada em décadas de contínuo dade de submarinos e a mudança na admi- processo de desenvolvimento e defesa, com nistração do contratado principal causaram vários sistemas setoriais, impulsionados e muitas trocas de liderança no contratado liderados por um conhecedor e experiente principal e no estaleiro. arquissistema técnico-gerencial-adminis- 6 – Foram subestimados os problemas trativo-financeiro, que era o MOD. Dessa inerentes ao uso, pela primeira vez, de mudança poderiam surgir benefícios. Mas um complexo software para projetar um surgiram no início grandes dificuldades. submarino. Houve dificuldades no projeto. Pensava- 7 – A atribuição formal de autoridade de se apenas numa atualização da classe projeto a um contratado do setor privado Trafalgar, mas o projeto teve que ser mais resultou numa atitude de “observar, mas extenso e complexo. O reator da classe não tocar (eyes on, hands off)”, que isolou Vanguard requeria um casco de maior

62 RMB2oT/2013 A BUSCA DE GRANDEZA – (IX) – Conhecimento, Experiência e Programas Navais (Parte 2) diâmetro e mais longo. A maioria dos programa da classe Vanguard. Além disso, sistemas e equipamentos de classes em operadores e mantenedores experientes da serviço não se pôde aproveitar. A comple- RN pouco se envolveram no projeto. “No xidade da integração de sistemas superou cômputo geral, o MOD estava rapidamente as expectativas. A dificuldade se agravou perdendo sua capacidade de ser um cliente pela escassez de especialistas experientes. bem informado e inteligente.” [4] Suposições demasiadamente otimistas Houve perda de capacidade de trabalho e fatores imprevistos também causaram especializado de estaleiro em submarinos problemas na fase inicial do projeto. nucleares. Quase 20 anos haviam passado Houve dificuldades em ter especialistas desde o início do projeto do Vanguard, experientes. Supunha-se que a redução e alguns anos desde que o último dessa de pessoal do governo e a transferência classe fora entregue. Além da retração de de responsabilidades para o setor privado especialistas do MOD, comentada acima, resultassem em migração desses recursos o único estaleiro que projetara e construíra humanos para o setor privado. Tal não submarinos nucleares desde 1978 – o de aconteceu, pois muitos se aposentaram Barrow-in-Furness – reduzira de 13 mil ou iniciaram outras para 3 mil sua força carreiras. de trabalho. Artífices, Houve dificulda- A presença do MOD no técnicos, projetistas e des no contratado engenheiros aposen- principal: rotativida- estaleiro reduziu-se a taram-se ou migraram de excessiva de sua somente quatro pessoas, para outras carreiras. direção e gerência no Barrow procurou pre- programa; distancia- em vez das 50 existentes encher o vácuo dei- mento físico do esta- durante o programa da xado pelo hiato após leiro; tensões com o classe Vanguard a classe Vanguard estaleiro; não inclusão, dedicando-se a navios na equipe de projeto de superfície. Quando do Astute, de projetistas experientes que se assinou o contrato do Astute, Barrow trabalharam no Vanguard. tinha projetos para um novo navio-tanque A instabilidade no contratado principal e navios anfíbios, muito menos complexos deu-se quando a British Aerospace comprou que submarinos nucleares. E os poucos a GEC Marconi menos de três anos após especialistas em submarinos que ainda o contrato, o que fez com que gerentes de ficaram no estaleiro tiveram que se distri- projeto experientes deixassem o estaleiro. buir nesses projetos e no Astute. Assim, houve perda de conhecimento Houve perda de capacidade de tra- técnico e experiência no MOD. Na atitude balho especializado no restante da base de eyes on, hands off do MOD, supunha- industrial de submarinos. O longo hiato se que o contratado principal fosse capaz entre a classe Vanguard e a Astute gerou de entregar um submarino projetado e uma interrupção de demanda na cadeia de construído para cumprir os requisitos fornecedores de equipamentos e serviços e especificações, sem a supervisão e a especializados em submarinos nucleares, orientação do MOD. A presença do MOD certamente com efeitos semelhantes aos no estaleiro reduziu-se a somente quatro que houve no estaleiro de Barrow. Muitos pessoas, em vez das 50 existentes durante o dos equipamentos das classes Trafalgar e

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Vanguard que se pretendia utilizar na As- com a BAE Systems. E designou-se uma tute não mais estavam disponíveis. “Muitos pessoa da Electric Boat como diretor do Pro- fornecedores aprovados haviam deixado a jeto Astute da BAE Systems no estaleiro de indústria quando as encomendas cessaram. Barrow, responsável por todos os aspectos Reestabelecer uma base apropriada de for- na entrega do submarino. necedores demandou tempo e causou novos “Mediante as interações com a Electric atrasos no projeto do Astute.” [4] Boat, o crescente conhecimento especia- Houve descoordenação. “O projeto lizado do contratado principal e o maior ocorreu quase sem envolvimento dos plane- envolvimento do MOD, a fase de projeto do jadores operativos da RN, dos construtores Programa Astute começou a progredir.” [4] no estaleiro e dos mantenedores nas bases. Houve entraves na construção, resultan- As interações entre operadores, construtores tes do conjunto de dificuldades menciona- e projetistas que existiram nos programas das acima. O hiato de quase 20 anos entre precedentes de submarinos faltaram comple- os projetos das classes Vanguard e Astute tamente nos estágios iniciais do Astute.” [4] não resultou apenas em redução da força de Houve falta de planejamento e controle. trabalho especializada em submarinos: cau- “Um plano-mestre integrado para projetar sou também desatualização, pois as práticas e construir o submarino nunca chegou a ser de produção não evoluíram tanto como nos desenvolvido completamente, e não houve Estados Unidos e em outros países. Além nenhum processo para rastrear o progresso. disso, “o conhecimento sobre a adminis- A falta de um plano-mestre causou descone- tração e gerência do complexo processo de xões no processo de projeto e levou à decisão construção e dos processos para assegurar de iniciar a construção do submarino muito sua qualidade se dissipou.” [4] E as vanta- antes de o projeto estar completamente ama- gens de usar o 3D CAD não foram inicial- durecido. A falta de um sistema para rastrear mente aproveitadas na produção, onde os o progresso significou que ninguém podia trabalhadores ainda estavam condicionados entender bem o que tinha sido realizado e pelos métodos tradicionais de desenhos de quão atrasado estava o programa.” [4] construção em duas dimensões e mock ups. Houve otimismo excessivo e falta de co- O início da construção ressentiu-se da falta nhecimento e experiência num caso notável: de sistemas necessários para monitorar o a utilização de software 3D CAD no projeto. progresso em todos os setores do programa, A referência [4] examina detalhadamente ainda em desenvolvimento. “Esses sistemas esta dificuldade. Ela resultou em aumento melhoraram muito pela aplicação de conhe- de custos, em vez da redução esperada por cimento e experiência dos Estados Unidos”, ambas as partes durante as negociações de [4] com o desenvolvimento do plano- contrato. E só foi superada mediante assis- mestre integrado. O início da construção tência da General Dynamics Electric Boat, algo descoordenado, antes da conclusão um dos dois projetistas e construtores de dos desenhos detalhados, requereu novos submarinos nucleares dos Estados Unidos. trabalhos e aumentou os custos e os atrasos. A assistência da Electric Boat ocorreu em Houve dificuldades nos testes e no 2003, seis anos após o contrato, por soli- comissionamento. “Barrow não testara e citação do MOD e mediante um acordo de comissionara um submarino nuclear em vendas militares com os Estados Unidos. quase dez anos, e em quase 17 anos não tes- Aproximadamente cem experientes proje- tara e comissionara um primeiro submarino tistas e gerentes da Electric Boat interagiram nuclear de uma classe.” [4] O impacto desses

64 RMB2oT/2013 A BUSCA DE GRANDEZA – (IX) – Conhecimento, Experiência e Programas Navais (Parte 2) hiatos causou problemas e atrasos. Não se para seu projeto e sua construção da classe elaborou um programa eficaz de testes e Astute. comissionamento quando se estabeleceram Embora abalada momentaneamente, a os requisitos de projeto para a plataforma, base logística de obtenção de submarinos e não havia ligação entre cada requisito e o nucleares do Reino Unido ainda se manteve modo de testá-lo. Antes do Astute, a RN e vigorosa. Começou a recuperar-se com a o MOD eram os responsáveis pelos testes e modificação do contrato original, seis anos pelo comissionamento. No Astute, esse papel e meio após sua assinatura, e com o resta- foi transferido para o contratado principal. belecimento parcial das antigas responsa- Mas este estava mal preparado para exercê- bilidades, autoridade e atuação do MOD. lo. Provavelmente, as dificuldades de testes e comissionamento poderiam ser ameni- RENEGOCIAÇÕES DO CONTRATO zadas se o pessoal da Devonport Manage- “Uma revisão dos 12 ment Limited tivesse Em suma, a complexa problemas do programa participado. Devonport levou a reconhecer- operava o estaleiro em estrutura logística se que tanto o MOD Plynout, que fazia o re- de obtenção de como a indústria ti- abastecimento nuclear nham subestimado as e grandes reparos de submarinos nucleares, dificuldades de trans- todos os submarinos formada em décadas de ferir a autoridade de britânicos. “A falta de contínuo processo de projeto para um contra- um programa estrutu- tado inexperiente, espe- rado de testes resultou desenvolvimento e defesa, cialmente com tantas em atrasos e dificul- desarticulou-se e atrofiou- mudanças no MOD e dades depois que o na indústria. O MOD submarino foi lançado, se no longo hiato entre as percebeu que precisava em junho de 2007.” classes Vanguard e Astute reassumir alguns dos Em suma, a com- riscos que transferira plexa estrutura logís- para o contratado prin- tica de obtenção de submarinos nucleares, cipal e mudar o seu nível de supervisão e formada em décadas de contínuo processo envolvimento no programa”. [4] Trabalhou de desenvolvimento e defesa, desarticulou- então com a BAE Systems para estabelecer se e atrofiou-se no longo hiato entre as clas- novas condições contratuais. ses Vanguard e Astute. A causa primária foi Uma primeira modificação contratual imporem-se radicalmente a essa estrutura ocorreu em dezembro de 2003, seis anos doutrinas político-econômicas que exorbi- e meio após assinar-se o contrato original. taram seu campo de aplicação apropriado. Ela manteve as condições de custo-alvo A causa secundária foi a mudança nos mais taxa de incentivo para o primeiro sub- requisitos para a classe Astute, decorrente marino, porém adotou condições baseadas do fim da Guerra Fria, que provavelmente em custo real para o segundo e terceiro atrasou em mais de cinco anos o contrato submarinos, ainda com taxas de incentivo

12 A maior parte do Devonport Shipyard foi privatizada, passando a denominar-se Devonport Management Limited, mais tarde comprada pela Babcok. Com a privatização, especialistas experientes passaram a fazer parte de uma empresa privada.

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à redução de custos pelo contratado. Além modificações nos requisitos de contrato e disso, o MOD arcou com mais 430 milhões dão ao MOD informações sobre o estado do de libras, e o contratado mais 250 milhões. programa. “O MOD está agora totalmente Outras modificações foram feitas, resti- integrado com a equipe do contratado prin- tuindo ao MOD a autoridade de projeto e cipal e desempenhando um papel de tomada reconfigurando suas relações com o contra- de decisão quando surgem questões durante tado e as bases para os contratos de cada um o projeto e a construção.” [4] dos quatro últimos submarinos da classe. A administração da cadeia de fornece- Em 2007 ocorreu outra modificação, dores também melhorou muito, com ações adicionando-se 580 milhões de libras ao pre- periódicas e conjuntas do MOD, BAE Sys- ço do contrato, para levar em conta aumentos tems e fornecedores, visando à solidez dos em custos inflacionários e suposições de fornecedores, ao compartilhamento das me- prazo não cumpridas no estaleiro de Barrow, lhores práticas para reduzir custos, ao exame além de outras disposições incidentes sobre geral de futuros programas e os desafios a o segundo e terceiro submarinos. superar. Dez fornecedores abrangem 70 por Em vários aspectos, cento do valor material retornou-se à forma do submarino. prevalecente nos con- O MOD e a BAE tratos de submarinos Dez fornecedores abrangem Systems também tra- nucleares que prece- 70 por cento do valor balharam juntos para deram a classe Astute. material do submarino reduzir os custos dos quatro últimos dos sete ESTADO ATUAL submarinos, aprovei- tando as lições obtidas no Programa Vir- “A construção dos submarinos da classe ginia, da Marinha dos EUA. Astute melhorou mediante várias iniciativas Em 27 de agosto de 2010, o Astute de direção e gerência implementadas pelo foi comissionado na RN, embora sem MOD e a BAE Systems.” [4] Houve várias ter concluído todos os testes e provas, e providências no processo produtivo. E com algumas questões ainda não resolvi- houve também no papel dos trabalhadores das13. O Ambush, segundo da classe, foi peças-chave para reduzir o total de homens/ lançado em janeiro de 2011. Estão sendo hora necessários. construídos o terceiro, o quarto e o quinto “Reconhecendo que não podia transferir submarinos, com encomendas para equi- muitos riscos para o contratado principal e pamentos de longo prazo de entrega para que teria de assumir uma atitude de ‘mão o sexto submarino. na massa’, em 2003 o MOD aumentou sua presença de supervisão no estaleiro de APOIO LOGÍSTICO INTEGRADO Barrow.” [4] Agora ali existem 30 pessoas do MOD no Programa Astute. Elas inte- Até a classe Vanguard, a Base Naval ragem com os projetistas e construtores em Faslane (Escócia) e os estaleiros de do estaleiro , ajudam a tomar decisões em Devonport (Plymout) e Rosyth (Escócia)

13 Segundo a referência [4], pessoas entrevistadas consideram que ainda existem questões não solucionadas e que algumas lições decorrentes do projeto e construção do primeiro submarino não estão sendo incorporadas nos submarinos seguintes.

66 RMB2oT/2013 A BUSCA DE GRANDEZA – (IX) – Conhecimento, Experiência e Programas Navais (Parte 2) faziam a manutenção dos submarinos da mento dos elementos de custos associados RN. Faslane executava reparos moderados, com Apoio Logístico Integrado (ALI). E e os estaleiros realizavam os reparos maio- na renegociação do contrato, em 2003, res e o reabastecimento de combustível removeu-se a cláusula sobre apoio em ser- nuclear. Atualmente, só Devonport faz o viço, porque “o contratado principal ainda reabastecimento de combustível nuclear. A não era capaz (ou não desejava) quantificar partir da década de 1980, a administração o risco e oferecer um preço.” [4] Voltou-se, dos estaleiros e, depois, a propriedade, então, à abordagem tradicional de apoio a passaram para o setor privado, mas “as vá- submarinos em serviço, e o foco do projeto rias organizações envolvidas no apoio aos Astute foi o de sua produção ter o menor submarinos em serviço desenvolveram co- custo possível. Além disso, durante o pro- nhecimento especializado e experiência em jeto, a BAE Systems interagiu pouco com manutenção de submarinos, tendo o MOD os mantenedores de submarinos (Babcock, como participante principal em manutenção proprietária do estaleiro de Devonport) e a de submarinos. O estaleiro construtor em Rolls-Royce, não se beneficiando do seu Barrow prestava pouco ou nenhum apoio conhecimento e experiência14. aos submarinos em serviço.” [4] Mesmo voltando à abordagem anterior No contrato da classe Astute, procurou- de manutenção de submarinos em serviço, o se mudar a abordagem tradicional de MOD tem desafios para seu planejamento e apoio em serviço. Nele se incluiu apoio execução. É necessário que a BAE Systems para vários submarinos/ano pelo estaleiro transmita eficazmente os dados necessários construtor, esperando-se que esse apoio às organizações de apoio. Só o tempo é se prolongasse e que, assim, o submarino que poderá permitir comparar os custos fosse projetado para reduzir seus custos de manutenção da classe Astute com os de manutenção. O contratado principal das classes precedentes. “Uma vantagem demonstraria a confiabilidade dos vários será a vida prolongada do núcleo do reator sistemas e descreveria o plano de manu- nuclear, que evitará um reabastecimento tenção e os resultantes custos de apoio em longo e dispendioso.” [4] serviço. “O foco em custos totais do sub- A manutenção em serviço de todos marino até sua baixa do serviço ativo era os submarinos do Reino Unido deve ser importante porque os custos em serviço de melhorada pela SEPP (Submarine Enter- um submarino nuclear geralmente excedem prise Performance Programme), associação em muito seu custo inicial de obtenção”. [4] proposta entre o MOD, a Babcock, a BAE Tal como costuma acontecer em muitos Systems e a Rolls-Royce. programas, o foco predominante acabou sendo o controle dos custos de obtenção. LIÇÕES DO PROGRAMA ASTUTE Além disso, ao contratante principal falta- vam conhecimentos especiais para entender A referência [4], elaborada para o Mi- completamente os requisitos, riscos e cus- nistério da Defesa do Reino Unido, iden- tos do apoio em serviço. Assim, quando o tificou várias lições no Programa Astute. contrato original entrou em vigor, em 1997, Ao enunciá-las, referiu-se frequentemente concordou-se em postergar o estabeleci- ao MOD. Muitas dessas lições aparecem

14 Ainda assim, “várias pessoas entrevistadas sugeriram que o Astute terá uma ”pacote” de manutenção melhor do que os de submarinos precedentes.” [4]

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no texto abaixo e também serão úteis a importantes responsabilidades e riscos. ministérios da Defesa de países com pro- Entre as responsabilidades transferidas, a gramas navais de grande complexidade. principal foi a de autoridade do projeto. Por isso, relatando-as e comentando-as, Entre os riscos, avultaram os financeiros usaremos a expressão Ministério da Defesa num contrato de preço fixo mais incentivos. para denotar sua aplicação a vários países, Quase sete anos mais tarde, diante de maus reservando a abreviatura MOD apenas resultados, teve que reassumir a função de quando a observação aplicar-se somente autoridade do projeto e compartilhar riscos ao Ministério da Defesa do Reino Unido. financeiros ao renegociar o contrato. Outros riscos são compartilhados pelo Lições estratégicas de alto nível Governo e pelo contratado principal. No entanto, o Governo deve fazer tudo ao seu 1 – O Ministério da Defesa deve ser um alcance para manter custos e prazos nos cliente inteligente e bem informado. limites prescritos. Para isso, deverá moni- Um cliente inteligente e bem informado torar o desempenho do contrato, interagir entende as implicações de várias deci- com o contratado e incentivá-lo a cumprir sões, conhece o estado do programa e as os marcos de prazos e custos. ocasiões e setores em que são necessárias O contratado também enfrenta riscos. correções. Não deve deixar-se influenciar No entanto, mesmo que ele vá à falência, por exposições com slides que prometam o Ministério da Defesa continua a ser o grandes vantagens de novos processos ou responsável pela defesa da nação. Quanto sistemas, mas que requeiram conhecimen- à segurança, embora o contratado enfrente tos especializados e não disponíveis para riscos, o Ministério da Defesa sempre será avaliá-los bem. o responsável pela saúde e pelo bem-estar Comentário: Antes do Programa Astute, dos seus marinheiros. Para o Astute e os o MOD era um cliente bem informado, submarinos precedentes, o MOD é a au- com toda a estrutura técnica e gerencial toridade final de aprovação para todos os necessária, construída em décadas de su- casos de segurança do produto [4]. cessivos projetos e construções de classes Pelo menos as seguintes responsabilida- de submarinos não nucleares e nucleares. des devem ser assumidas pelo Ministério Sob pressão para reduzir os gastos do go- da Defesa: verno e seu envolvimento com a indústria, a) Estabelecer os requisitos operacio- essa estrutura parcialmente se desfez, até nais, trabalhando com a indústria, a sua Ma- que seis anos de maus sucessos levaram a rinha e com outras entidades participantes. reconstruída. b) Avaliar as questões técnicas e de 2 – Devem ser delineados os papéis segurança. A diretriz do MOD é manter e as responsabilidades do Ministério da os riscos de segurança tão baixos quanto Defesa, do contratado principal e dos sub- possível. contratados. c) Supervisionar e monitorar o processo Certos riscos são de responsabilidade de projeto, para assegurar que os requisitos única do Ministério da Defesa. Aí se in- e padrões sejam atendidos e, quando ne- cluem os que se referem à obtenção do cessário e possível, conceder concessões desempenho militar desejado e à segurança nesses requisitos. Os padrões devem ser de operações. No Programa Astute, o MOD revistos regularmente, e o contratado deve inicialmente transferiu para o setor privado concordar com eles no início do programa.

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d) Supervisionar e monitorar o processo longo prazo da força de submarinos e da de construção, para assegurar a entrega base logística de defesa. dentro do prazo e custo previstos. “Um programa específico é somente um e) Assegurar a qualidade e a aceitabili- degrau na formação de uma capacidade dade da construção, desenvolvendo um pro- militar bem-sucedida e da base logística cesso de testes, provas, comissionamento de defesa necessária para prover e manter e aceitação que assegure a entrega do sub- essa capacidade.” [4] marino segundo os requisitos do projeto. Comentário: Nessa visão estratégica, avul- f) Assegurar a segurança, a manutenção ta a questão de longos hiatos entre projetos e o controle do projeto após a entrega do de classes consecutivas, já mencionada em submarino. comentário acima, mas que se estende, em- 3 – Deverá haver pessoas com o necessá- bora amenizada, à manutenção em serviço e rio conhecimento especializado e experiên- à modernização de sistemas de submarinos. cia em posições de direção, gerência, super- visão e apoio técnico, tanto no Ministério Estabelecimento de requisitos da Defesa como no operacionais contratado principal e nos subcontratados. É “Um programa específico As decisões iniciais importante haver con- num programa naval in- tinuidade nas lideran- é somente um degrau fluem muito no seu risco ças e nas composições na formação de uma tecnológico e na probabi- de equipes. lidade de sucesso. Nes- Comentário 1: A capacidade militar bem- sas decisões destacam-se preparação de pessoas sucedida e da base logística os requisitos operacio- para essas posições de defesa necessária para nais, que se transformam consiste em formação em especificações de adequada e partici- prover e manter essa desempenho e resultam pação em complexos capacidade” nas escolhas de tecno- programas navais pre- logias para cumprir os cedentes. Como estes requisitos. “Os requisitos são raros em países de desenvolvimento operacionais também influem no planejamen- retardado, neles a preparação é problemá- to do apoio logístico integrado, especialmente tica, ou mesmo impossível. a disponibilidade desejada.” [4] Comentário 2: A dificuldade de haver No caso do Programa Astute, os pro- pessoas com conhecimento e experiência blemas pouco se relacionaram com os em projetos de submarinos para ocuparem requisitos operacionais. Resultaram prin- posições num projeto seguinte está sendo cipalmente da radical mudança na atuação antevista nos EUA e no Reino Unido, onde do governo para a obtenção de submarinos um longo hiato já existe ou se prevê entre a e da evolução no cenário de ameaças decor- última classe projetada (Virginia e Astute, rente do fim da Guerra Fria. Ainda assim respectivamente) e as seguintes. Consulte-se a referência [4] alinha as lições seguintes: a referência [10], elaborada pela Rand Cor- 5 – Os requisitos operacionais devem poration para a Marinha dos Estados Unidos. ser estabelecidos claramente, como uma 4 – O Ministério da Defesa e sua Ma- combinação de requisitos básicos de de- rinha devem ter uma visão estratégica de sempenho e padrões técnicos. Mudanças de

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requisitos no decorrer de um programa po- A direção e a gerência do programa de- dem causar aumentos de custo e de prazos. vem ser apoiadas por uma equipe técnica, No Astute, devido à mudança da atua- operativa e administrativa especializada, ção do Governo para obter submarinos, o principalmente para estabelecer os requi- MOD teve que tornar a competição pelo sitos no início do programa. Aí entram contrato acessível a possíveis concorrentes as missões e capacidades requeridas pela sem experiência em projeto e construção Marinha, as informações de especialistas desse tipo de navio. Mas precisou garantir em manutenção sobre a influência de re- a segurança e o desempenho requeridos. quisitos operativos nos custos de apoio e Certamente por isso, os requisitos acabaram as informações de projetistas e construtores sendo uma combinação de objetivos de experientes sobre dificuldades e custos para alto nível com uma miríade de requisitos cumprir certos requisitos operativos. técnicos. Porém, essa atitude cautelosa Comentário: Tudo isso pressupõe causou dificuldades e consequentes atrasos existir uma Base Logística de Defesa bem e custos. Foi depois amenizada. Com o desenvolvida. Na sua ausência, grandes projeto já adiantado, pôde ser substituída obstáculos existem. Só por um processo na renegociação do contrato, em 2003. gradual e constante serão superados. Comentário: Contratar o projeto e a 7 – A direção e a gerência do programa construção de um submarino utilizando devem entender o estado corrente da tecno- apenas alguns requisitos de alto nível e logia nas áreas aplicáveis aos seus progra- padrões técnicos parece viável se já houver mas e o impacto dos requisitos operacionais um bom projeto de concepção/exequibili- sobre os riscos e custos tecnológicos. dade e potenciais contratados principais Comentário: Para isso, ela precisará que sejam conhecedores experientes de apoiar-se numa estrutura técnico-operativa- projeto e construção de submarinos. Tal gerencial atualizada e experiente, formada não foi o caso do Astute. Dos potenciais em sucessivos e complexos programas de contratados principais, somente a VSEL projeto e construção de navios de guerra, era conhecedora e experiente. Além da parte da Base Logística de Defesa. VSEL, o conhecimento e experiência se 8 – A cada requisito operacional especi- concentravam no MOD, na RN e nas bases ficado, deverá corresponder a especificação e estaleiros mantenedores de submarinos, de como será testado para verificar-se o seu além da Rolls-Royce para a parte nuclear. cumprimento. Diante disso, a dificuldade inicial de esta- “A atitude de hands off do MOD durante belecer os requisitos para o Astute era quase os primeiros anos do Programa Astute foi insuperável. Após assinar-se o contrato causa (ou consequência) da desativação ou da original, a diretriz de eyes on, hands off redução das organizações técnicas do MOD do MOD tornou mais problemáticos os e da RN que haviam supervisionado os testes primeiros anos do programa. Supomos que e comissionamentos de todos os submarinos eyes on, hands off tenha sido coerente com nucleares precedentes do Reino Unido.” [4] orientação geral de retração do Governo e Sem esse conhecimento especializado, os máximo envolvimento do setor privado, testes e provas não foram devidamente focali- mais tarde amenizada. zados durante as negociações de contrato e os 6 – O estabelecimento dos requisitos primeiros anos do programa. O planejamento operacionais deve envolver todas as orga- de testes e comissionamento só começou cer- nizações apropriadas. ca de cinco anos após a assinatura do contrato.

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Estabelecimento do contrato ao contratado os riscos sob seu controle (índices salariais, produtividade, custos de 9 – Deve-se cogitar a realização do pro- material, etc.) e que atribua ao governo os jeto de detalhamento e a construção por um demais riscos. contratado principal experiente. “Os riscos técnicos devem ser identifi- “Se uma única empresa realizar todo cados ainda cedo.” [4] o projeto de detalhamento (baseada nos 11 – Devem ser feitas estimativas estudos de concepção e exequibilidade realistas de custo para projetar um novo realizados pelo Ministério da Defesa) e submarino e construí-lo segundo o projeto. também a construção do submarino, haverá Comentário: Essas estimativas realistas vantagens para integrar todo o processo de são muito difíceis para países que rara- projeto com o de construção, e reduzir más mente, ou nunca, projetaram e construíram interpretações. Porém, no caso do Astute, submarinos. o problema nas primeiras fases resultou 12 – Decisões sobre os equipamentos a da inexperiência do contratado principal e serem fornecidos pelo Governo e sobre os da falta de integração entre as equipes de que serão obtidos pelo contratado principal projeto e de construção.” [4] devem basear-se em vários fatores. Comentário: Veja-se o comentário à Um dos fatores mais importantes é a lição 5 acima. identificação da parte contratante – Go- 10 – Deve-se usar uma estrutura contra- verno ou contratado principal – que estará tual com cláusulas apropriadas para tratar em melhor situação para gerenciar o sub- dos riscos no programa. contratado de cada equipamento e sua inte- “Tentando evitar custos crescentes, o gração no submarino. No caso da NSRP da MOD conseguiu que o contratado principal classe Astute, seria vantajoso para o MOD concordasse em assinar um contrato de fornecê-la, dado o volume financeiro de preço máximo fixo. Infelizmente, o MOD contratos de longa duração do MOD com e o contratado principal subestimaram os a Rolls-Royce e da experiente interação riscos do longo hiato entre o Programa dessas duas partes contratantes. Para o Astute e o seu predecessor, bem como o MOD, haveria vantagens na obtenção das risco da transferência de responsabilidades NSRPs e também no apoio aos submarinos para o contratado principal. Além disso, em serviço. superestimaram as reduções em custo e a 13 – Deve-se formular um processo para eficiência do software 3D CAD e do pro- minimizar e administrar mudanças. cesso de construção modular. Daí resultou “Para controlar custos, O MOD procu- um programa irrealizável pelo preço do rou minimizar mudanças durante o Progra- contrato original.” [4] ma Astute. Mas ocorreram mudanças até “Contratos de preço fixo são apropria- mesmo em fases adiantadas. Além disso, dos quando pequenos são os riscos e as a transferência da autoridade do projeto do incertezas, e poucas mudanças se esperam MOD para o contratado principal e a atitude durante o projeto e a construção.” [4] Ainda de eyes on, hands off do MOD tornaram que o governo tente atribuir todos os riscos mais difícil minimizar e administrar mu- a um contratante mediante um contrato de danças. Mesmo assim, no Programa Astute preço fixo, é sobre o governo que recairão identificaram-se mudanças essenciais, mas todos os riscos em última instância. É bem elas não puderam ser implementadas da melhor uma estrutura contratual que atribua maneira mais oportuna.” [4]

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“Ocorrem mudanças durante qualquer bem definida. Deverá haver recursos para programa. Elas podem incidir sobre o enfrentar dificuldades que possam aparecer. desempenho esperado para a platafor- Comentário: Entre os requisitos de even- ma, sobre os sistemas e equipamentos tos de pagamento, incluem-se os de entrega utilizados para conseguir o desempenho, de documentação técnica aprovada. Muitos sobre a programação do projeto e sobre as contratados relutam em cumpri-los. responsabilidades das organizações nele 15 – No contrato deve-se incluir um ade- envolvidas, na construção e nos testes e quado fundo de reserva para contingências. provas. Mudanças podem afetar o custo, os “No Astute, não houve fundos de con- prazos e a capacidade militar.” [4] tingência adequados para administrar os É importante que a direção e gerência riscos e mudanças no programa. Um projeto do programa compreendam todo o im- normalmente complexo teria um fundo de pacto que mudanças propostas poderão contingência de 10 a 15 por cento, ou ainda causar e que tenham um procedimento para maior. No Astute, ele era de 5 por cento.” [4] aprová-las ou rejeitá-las e também para Quanto maiores forem os riscos, maiores implementar as aprovadas nas ocasiões deverão ser os fundos de contingência. mais oportunas. “Para entender o efeito de mudanças Projeto e construção do submarino propostas, é necessário contar com pesso- as especializadas em engenharia e custos, 16 – Do processo de projeto, deverão além de contratados.” participar construtores, mantenedores, Comentário: Como regra geral, quanto operadores, fornecedores-chave e a comu- mais tardias forem as mudanças, maior será nidade técnica. seu impacto sobre custos e prazos. “É importante considerar a equipe de 14 – Deve-se estabelecer um mecanismo projeto do submarino como uma colabora- de monitoramento do progresso do contrato ção de projetistas e engenheiros com profis- e de eventos de pagamento, bem como um sionais que deverão construir o submarino processo completo de tomada de decisões. e depois operá-lo e mantê-lo.” [4] Esta “Durante os primeiros anos do Programa colaboração deverá estender-se enquanto Astute, não houve mecanismos eficazes o programa durar. para monitorar o progresso do projeto e da Durante todo o projeto e a construção, construção do submarino. Isso impossibi- é preciso lembrar que o apoio logístico litou o MOD, e até mesmo o contratado integrado do submarino deverá ser eficaz, principal, de reconhecer os crescentes mas de custo suportável. problemas do programa.” [4] Tal situação 17 – As margens de projeto especifica- começou a mudar quando o MOD e o con- das para o submarino devem ser adequadas tratado principal, com assistência da Elec- e bem controladas durante o projeto e a tric Boat dos EUA, instalaram um sistema construção. denominado earned value management Esta lição, como quase todas as outras, (administração de valor ganho). Este, po- aplica-se a praticamente todos os navios rém, precisa ser projetado adequadamente de guerra. As margens referem-se a peso, para produzir resultados realmente úteis. estabilidade, potência, condicionamento de Os eventos de pagamento devem estar li- ar e largura de banda. Elas são consumidas gados a marcos técnica e fisicamente impor- durante o projeto, a construção e a vida útil tantes do programa, numa progressão física do navio. São importantes para o desempe-

72 RMB2oT/2013 A BUSCA DE GRANDEZA – (IX) – Conhecimento, Experiência e Programas Navais (Parte 2) nho do navio desde o comissionamento, e “Um aspecto que dificultou que o MOD também para sua modernização. No Astute, percebesse os problemas de programação não foram causa de problemas. do Astute foi a falta de um preciso plano- 18 – O projeto deve prever espaços e mestre integrado.” [4] Uma programação rotas para remoção de equipamentos ava- global e integrada deve detalhar as tarefas, riados ou obsoletos. os eventos e os produtos gerados durante o “A vida útil de um submarino é tipica- projeto e a construção do submarino. Deve mente mais longa do que as de algumas mostrar a ordem das tarefas e dos eventos tecnologias incorporadas no projeto, princi- e suas inter-relações. E pode indicar o palmente as de equipamentos de comando, caminho crítico para realizar o programa e controle, comunicações, computadores e o impacto de atrasos em quaisquer tarefas inteligência (C4I). Para esses equipamen- sobre os prazos deste. tos, o projeto deve incorporar modularidade O plano-mestre integrado deve listar as e interoperabilidade.” [4] múltiplas tarefas necessárias à realização “As arquiteturas de dados e informações de um evento e considerar as tarefas e devem ser desenvolvidas para permitir a eventos para o contratado principal e tam- instalação de equipamentos eletrônicos bém para os subcontratados de sistemas em fases tão mais avançadas da construção e equipamentos principais. Ele deve ser quanto possível, para obterem-se benefícios continuamente atualizado. de rápidas mudanças em tecnologia de in- O desenvolvimento e gerenciamento do formações. Arquiteturas abertas serão úteis plano-mestre integrado requer recursos e na integração de equipamentos e em futuros verbas. Ele é o primeiro passo para enten- esforços de modernização.” [4] der-se o estado do programa. Para gerenciar 19 – Antes de iniciar-se a construção, a o progresso do programa, é necessário um maioria dos desenhos deverá estar concluída. segundo passo, alvo da lição seguinte. Tentativas de começar a construção 21 - Deve-se ter um sistema de geren- com pequena fração dos desenhos conclu- ciamento para monitorar o progresso do ída resultam em perdas de trabalho e em projeto e da construção. ineficiências. A maioria dos modelos de “Durante os primeiros anos do Programa produtos gerados por software 3D CAD Astute, não houve um sistema eficaz para mo- deverá estar concluída. Esses modelos de nitorar o progresso do projeto e da construção. produtos facilitam o projeto e a construção, Mais tarde, passou-se a usar o sistema EVM mas precisam estar concluídos para auxilia- (‘gerenciamento do valor ganho’). Porém o rem os fabricantes a encomendar materiais uso do EVM foi uma mudança cultural para o e fazer download de dados de fabricação em estaleiro. Às vezes, os trabalhadores achavam máquinas de controle numérico. A conclu- difícil alocar os dados apropriados no projeto são dos modelos de produto tridimensionais ou tarefa corretos.” [4] assegura que todas as peças se ajustem e Um sistema de contabilidade de custos minimiza dispendiosos retrabalhos. Uma preciso é um pré-requisito necessário para boa regra aproximada é ter-se 80 por cento um significativo EVM. ou mais do modelo de produto eletrônico Seja qual for o sistema de medição do concluído ao iniciar-se a construção. progresso que se use, é importante que ele 20 – Deve-se desenvolver um plano- seja eficaz para monitorar o progresso e mestre integrado para sequenciar os even- prever custos e o estado do progresso do tos de projeto e construção. programa.

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22 – É necessário assegurar supervi- orientar o estabelecimento de instalações, são suficiente do Ministério da Defesa no contratos e procedimentos que serão capa- estaleiro durante o projeto e a construção. zes de assegurar a disponibilidade desejada “No início do Programa Astute, a supervi- para o submarino. são do MOD no estaleiro de Barrow reduziu-se Em geral, os custos de operação e apoio muito, resultante do movimento de controle de durante toda a vida útil do submarino são gastos do Governo. Essa falta de supervisão muito superiores ao custo inicial de sua impediu o MOD de perceber os problemas obtenção. Ainda assim, este último costuma de projeto e construção que estavam surgindo ser o foco de atenções. durante os primeiros anos do programa.” [4] 24 – Deve-se estabelecer um plano es- Desde então, o MOD passou a ter aproxima- tratégico de ALI durante a fase de projeto damente 30 pessoas no estaleiro, em vez de de um novo programa. dois oficiais de Marinha e dois civis. O plano de ALI começa com a formula- A forte supervisão do Ministério da ção do Conceito de Operação e Manutenção Defesa no estaleiro destina-se a garantir do submarino, envolvendo operadores e que a construção não se desvie do projeto, mantenedores. Nele se deve reconhecer a a assegurar conformidade com os procedi- necessidade de períodos para manutenções mentos de qualidade e testes e a manter o preventiva, corretiva e modernizações Ministério da Defesa informado dos desa- de equipamentos. Daí deverá resultar um fios que o programa enfrenta. ciclo periódico de treinamento, operações Os representantes do Ministério da De- e manutenção que se repetirá durante toda fesa no estaleiro devem ser experientes nos a vida útil do submarino. aspectos técnicos e gerenciais da geração e Um plano estratégico de ALI deve entrega de um submarino. Também devem basear-se nos seguintes princípios: ter alguma capacidade de tomar decisões, – máxima padronização possível de para facilitar concessões em desvios que equipamentos; tenham somente pequeno impacto sobre – testes de confiabilidade de equipa- custo, prazos e desempenho. mento, como base para a disponibilidade 23 – Deve-se desenvolver um completo desejada; e e adequado programa de testes e provas. – facilidade de acesso para manutenção. Este assunto já foi abordado na Lição 8. Para formular um plano de manutenção, Os procedimentos de testes e provas deve- é necessário bom entendimento de confiabi- rão ser formulados durante o período de pro- lidade e manutenibilidade de equipamentos jeto. Nos testes e provas deverão envolver-se e de controle de corrosão do casco. Isto as organizações de projeto e de construção, implica interações frequentes da autorida- a comunidade técnica e a Marinha. de de projeto com os fabricantes originais de equipamentos, para obterem-se dados. Planejamento do apoio logístico Estes devem originar-se de competentes integrado bases de dados. Os dados de manutebilidade e confiabili- Um submarino geralmente é comissio- dade de equipamentos devem ser avaliados nado após dez anos ou mais do início de diante do perfil de missões do submarino. seu projeto. No entanto, o planejamento do Quando equipamentos e sistemas forem apoio logístico precisa ocorrer bem cedo, comuns a vários submarinos, essa avaliação para influenciar o projeto e a construção e será mais fácil.

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O plano estratégico de ALI deve indicar marinos dessa classe sucessora, origi- os períodos e locais de realização de treina- nalmente designados por SSN20, seriam mentos, manutenções e modernizações, e as não evolutivos, com inovações e outros organizações que realizarão tais atividades. recursos que lhes dariam capacidade As épocas de manutenção dependerão da operativa muito superior ao da classe confiabilidade dos equipamentos. Trafalgar. É importante incluir modernizações no Pouco antes de novembro de 1989 – plano de ALI. Alguns equipamentos terão Término dos estudos de exequibilidade que ser atualizados durante a vida útil do da SSN20. submarino, particularmente os eletrônicos. Novembro de 1989 – Cai o Muro de Estabelecendo-se atualizações periódicas Berlim. O final da Guerra Fria mudou o para hardware e software, determina-se cenário de ameaças, e um novo conjunto um ritmo para modernizações no programa. de requisitos foi estabelecido sob o título Comentário: Tudo isso requer a existência de Classe Trafalgar, Lote 2 (B2TC). de uma equipe estável de ALI com formação 1990 – Reinício de estudos para o sub- adequada, que atue durante as fases de proje- marino B2TC. to, construção, avaliações e comissionamento Junho de 1991 – Iniciam-se os estudos do submarino. Após o comissionamento, de exequibilidade para a o B2TC, evoluti- parte dessa equipe deverá dedicar-se à ma- vo, derivado da Trafalgar. nutenção e ao aperfeiçoamento do ALI para 1992 – Adjudicação de estudos de con- a classe de submarinos em serviço. trato para potenciais contratados principais 25 – Devem-se prover e manter fundos para o B2TC. Eles eram: 1) VSEL (Vickers adequados para desenvolver um plano de ALI. Shipbuilding Engineering Limited); 2) É importante que haja fundos adequados GEC Marconi; 3) Rolls-Royce and Asso- para desenvolver e manter o plano de ALI. ciates; 4) British Aerospace. Eles devem ser protegidos durante o projeto 1993 – O Reino Unido anuncia planos e a construção dos submarinos. para reduzir sua força de submarinos para Comentário: A tendência é não prover 16 submarinos nucleares. fundos adequados e, além disso, desviá- Fevereiro de 1993 – Batimento de quilha los para outras necessidades de projeto do HMS Vengeance, último submarino da e construção que deveriam ser atendidas classe Vanguard. por fundos de contingência entre 5% e Outubro de 1993 – Solicitação inicial de 10% do valor do contrato de obtenção do propostas para o B2TC. submarino. Daí resultam problemas crôni- Julho de 1994 – Solicitação final de cos de ALI e, consequentemente, redução propostas para projeto e construção dos da disponibilidade e da confiabilidade do primeiros três submarinos da classe, com submarino, além de possível aumento dos opção para mais dois. seus custos de operação e manutenção. Julho de 1994 a junho de 1995 – Com- petição entre a GEC Marconi e a VSEL APÊNDICE: MARCOS para construir a classe Astute. CRONOLÓGICOS DO PROGRAMA Maio de 1995 – A GEC Marconi se re- ASTUTE organiza, dissolvendo a Naval Systems and Marconi Radar and Control. A companhia Anos 80 – Estudos iniciais para uma cria uma nova divisão: Marconi Major classe sucessora da Trafalgar. Os sub- Prime Contracts.

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Junho de 1995 – A GEC Marconi adquire 2003 – O MOD aumenta sua presença a VSEL e passa a operá-la como GEC Marine. de supervisão no estaleiro em Bath. Dezembro de 1995 – A GEC é identifi- Fevereiro de 2003 – O MOD e a BAE cada como o licitante preferido do MOD. Systems chegam a um acordo sobre um Novembro de 1996 – A GEC reduz novo contrato. seu preço em várias centenas de milhões Outubro de 2003 – Batimento de quilha de libras. do Ambush. Março de 1997 – O contrato para cons- Dezembro de 2003 – O MOD e a BAE truir os três primeiros é assinado com a Systems assinam uma emenda sobre novas GEC, ao preço de 2,4 bilhões de libras. linhas básicas para o contrato. 1998 – A Strategic Defence Review Março de 2005 – Batimento de quilha anuncia uma redução para 14 submarinos do Artful. até 2006 (dez SSNs e quatro SSBNs). 2007 – Nova modificação no contrato, para Setembro de 1998 – Lançamento do incorporar aumento em custos inflacionários. Vengeance no estaleiro de Barrow. Maio de 2007 – O MOD adjudica à Novembro de 1999 – Comissionamento BAE Systems um contrato para começar do Vengeance. a construir o quarto submarino da classe, Novembro de 1999 – A British Aeros- o Audacious. pace e a Marconi Electronic Systems se Junho de 2007 – Lançamento do Astute. fundem para se tornarem a BAE Systems. Outubro de 2007 – O Astute faz seu Janeiro de 2001 – Batimento de quilha primeiro mergulho. do Astute. Novembro de 2009 – O Astute deixa 2002 (meados) – Começam a emergir Barrow para sua base operacional de Fasla- sinais da extensão dos problemas no con- ne, após cumprir com êxito a primeira fase trato e seu efeito sobre custos e prazos. das provas de mar. Estimaram-se um atraso de pelo menos três Março de 2010 – O MOD autoriza a anos, e custo de várias centenas de milhões BAE Systems a iniciar a construção do de libras acima do orçamento. quinto submarino da classe e a procurar os 2003 – O Defence White Paper reduz o itens de longo prazo de entrega para o sexto. súmero de SSNs para oito. Agosto de 2010 – Comissionamento 2003 – O MOD solicita a ajuda da Ge- do Astute. neral Dynamics Electric Boat, mediante Janeiro de 2011 – Lançamento do um “military sales agrément” com os EUA. Anbush.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Escola Naval; Escola Naval chinesa; Visita à China;

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REFERÊNCIAS

[1] Estratégia Nacional de Defesa – 2a Edição -– Ministério da Defesa – Brasil – dezembro de 2008. [2] Learning from Experience, Volume I: Lessons from the Submarine Programs of the United States, United Kingdom and Australia – John F. Schank, Robert E. Murphy, Mark V. Arena, Gordon T. Lee – Rand Corporation – National Defense Research Institute – 2011 [3] MG-1128/2 – NAVY, Learning from Experience, Volume II: Lessons from the U. S. Navy Ohio’s, Seawolf and Virginia Submarine Programs. [4] MG-1128/3 – NAVY, Learning from Experience, Volume III: Lessons from the United Kingdom’s Astute Submarine Program [5] MG-1128/4 – NAVY, Learning from Experience, Volume IV: Lessons from Australia’s Collins Submarine Program [6] “A Busca de Grandeza V” – Vice-Almirante (Refo-EN) Elcio de Sá Freitas – Revista Marítima Brasileira – 3o trimestre de 2011. [7] “A Busca de Grandeza VI” – Vice-Almirante (Refo-EN) Elcio de Sá Freitas – Revista Marítima Brasileira – 4o trimestre de 2011. [8] “A Busca de Grandeza VII” – Vice-Almirante (Refo-EN) Elcio de Sá Freitas – Revista Marítima Brasileira – 2o trimestre de 2012. [9] “A Busca de Grandeza IX” – Vice-Almirante (Refo-EN) Elcio de Sá Freitas – Revista Marítima Brasileira – 4o trimestre de 2012. [10] Sustaining U.S. Nuclear Submarine Design Capabilitites – Schank, John F. et al – Rand Corpo- ration , MG-608-NAVY, 2007.

RMB2oT/2013 77 A DEVASTAÇÃO AMBIENTAL E OS DESAFIOS DO SÉCULO

“Nas coisas grandes e duvidosas, a maior dificul- dade está no princípio.” Cervantes (1547-1616)

MUCIO PIRAGIBE RIBEIRO DE BAKKER* Contra-Almirante (Refo)

SUMÁRIO

Apresentação Introdução A caça e a coleta; o início da agricultura A devastação do meio ambiente A implantação da agricultura A ambivalência da agricultura As transformações sociais A população humana Os maiores desafios do século APRESENTAÇÃO população mundial de mais de 7 bilhões de pessoas, e sempre em crescimento, vêm proximadamente a partir da década se agravando significativamente. Ade 70 do século passado, começa- Segundo estimativas da Organização mos a perceber com bastante clareza a das Nações Unidas (ONU), um grupo existência de sérios problemas ambien- estimado em cerca de 3 bilhões de pessoas tais no mundo moderno, os quais, com possui um padrão de consumo muito alto, o desenvolvimento acelerado e com uma apropriando-se de quase todos os benefí-

* O autor é conferencista, escritor e colaborador da RMB. Comandou o Navio-Hidrográfico Argus e o Navio- OceanográficoSaldanha , foi diretor da Escola de Guerra Naval, secretário da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar e diretor de Hidrografia e Navegação da Marinha. A DEVASTAÇÃO AMBIENTAL E OS DESAFIOS DO SÉCULO

cios materiais, enquanto cerca de 4 bilhões Também o aumento constante da popu- vivem na pobreza, e, destes, mais de 1 lação mundial – praticamente duplicando bilhão na mais absoluta miséria. a cada 40 anos – fará com que logo alcan- A previsão populacional para o ano de cemos o limite biológico de crescimento, 2050 é de mais de 10 bilhões de pessoas, quando os recursos limitados do planeta, es- todas precisando de alimentos, de água e de pecialmente os situados em áreas continen- energia para sobreviver. O planeta estará tais, começarão a faltar. Nessas condições, bem mais quente e o clima mudando. a utilização plena dos recursos do mar, de O presente trabalho é um rápido resumo seu solo e subsolo, tornar-se-á a solução do que ocorreu com a humanidade desde imperativa para evitar que aquelas pers- a Revolução Agrícola, terminando com pectivas sombrias possam se concretizar. mais um apelo para que o Brasil comece a se preparar decisivamente para integrar A CAÇA E A COLETA; O INÍCIO à vida nacional os recursos do oceano. A DA AGRICULTURA Fundação Oceano é o caminho indicado. Durante milhares de anos, nossos ances- INTRODUÇÃO trais eram seres migratórios que viviam em grupos – talvez de 30 a 40 indivíduos apro- Atualmente, quando observamos as ximadamente, entre machos adultos, fême- grandes queimadas da vegetação natural as e filhos – percorrendo vários ambientes, para a abertura de áreas mas sem se fixarem em destinadas à agricul- um local predetermina- tura, não imaginamos A atividade humana que do por algum tempo. que esta prática tenha mais devastou o meio Andavam por vários se iniciado há mais pontos, colhendo frutos de 1 milhão de anos, ambiente foi a agricultura, e raízes que achavam quando o nosso ances- que provocou o extermínio pelos caminhos e ca- tral, o Homo erectus, çando animais para a nas suas caçadas, to- de inúmeras espécies de sua subsistência. cava fogo na mata, no animais, pela destruição de Era um estilo de vida sentido de orientar ou seus habitats primitivo, denominado conduzir a manada de de “caça e coleta” – caça para um pântano que persiste ainda hoje ou um precipício, onde pudesse cercá-la em algumas comunidades africanas (os e abater alguns animais. Era, ainda, uma boxímanes da Namíbia, por exemplo) –, agressão modesta ao meio ambiente – nosso com caça de animais selvagens e coleta ancestral, naquela época, não dispunha de de plantas silvestres. Como as plantas não ferramentas que lhe permitissem derrubar eram cultivadas e quase nada era armaze- árvores –, mas representa a origem de um nado, a luta por alimentos era uma faina processo que está na raiz das grandes altera- incessante, que recomeçava a cada dia, ções ambientais posteriormente provocadas com o propósito de se conseguir o que co- pelo homem, as quais poderão transformar mer e evitar a fome. Nesse estilo primitivo de modo significativo os parâmetros res- de vida, a caça, inclusive a de animais de ponsáveis pelo clima da Terra, com con- grande porte, cabia aos machos, enquanto sequências desastrosas para a humanidade. as fêmeas colhiam plantas, frutos e raízes

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e cuidavam da infância prolongada da do homem na Terra, mas também na origem espécie ou se dedicavam à maternidade. da extrema desigualdade social e sexual, Com a experiência acumulada, verifica- das doenças e do despotismo que afligem ram quais vegetais eram mais adequados à a existência humana moderna. alimentação, quais os venenosos e quais podiam tratar doenças. Da mesma forma, A DEVASTAÇÃO DO MEIO descobriram as plantas alucinógenas – o AMBIENTE ópio, a coca, a maconha, o haxixe – e aprenderam a fazer bebidas alcoólicas pela Plantações precisam de espaço e água. fermentação de elementos vegetais. Ob- Portanto, para preparar a terra era ne- servaram, então, que cessário cortar várias era possível aumentar áreas florestais ou so- a produtividade da na- Com o sucesso da terrar mangues para tureza concentrando, cultivá-las. Era também em plantações, árvo- agricultura, sobrevieram o necessário direcionar res frutíferas e outros acúmulo de bens, a riqueza, enormes quantidades vegetais. Assim, em a propriedade, a ociosidade, de água para suprir vez de irem atrás da as plantações e seus comida, passaram a as trocas comerciais, acréscimos. viver em torno dela1. os negócios, a moeda, a A atividade humana Era o início da pas- que mais devastou o sagem da civilização ganância, as disputas, os meio ambiente foi a de coleta àquela da crimes, os conflitos e até agricultura, que pro- exploração agrícola, as guerras entre grupos vocou o extermínio de quando começaram inúmeras espécies de as primeiras culturas oponentes e rivais animais, pela destrui- de trigo e de outras ção de seus habitats. gramíneas e leguminosas e a domesticação As florestas originais foram derrubadas e e criação de animais (o cão, os bovídeos, o substituídas por plantações que, quando porco, o carneiro, a cabra). Assim aconte- abandonadas, eram usadas como pastos. ceu, provavelmente, na região do Crescente Há 10 mil anos, as florestas cobriam dois Fértil, no Oriente Médio, há cerca de 10 terços do planeta; hoje, esse número caiu mil anos. pela metade. Mas não foi apenas a agricul- Essa transição do comportamento hu- tura. As florestas também foram abatidasa mano está não apenas na raiz do profundo fim de fornecer lenha para queimar madeira impacto ecológico causado pela presença para construções e para dar lugar a áreas de

1 Alguns arqueólogos afirmam que os grupos humanos parecem ter primeiro se reunido em assentamentos densos e só depois – em parte, como consequência dessa aglomeração – ter desenvolvido o plantio e a criação de animais. Pelo menos é o que indica um sítio arqueológico localizado na margem sudoeste do Mar da Galileia, em Israel. Por outro lado, é possível que o sentimento comum que levou esses grupos a se juntarem tenha sido basicamente o medo, principalmente das forças radicais da natureza – vulcanismos, terremotos, tempes- tades, raios, trovões etc. –, que eles não compreendiam. Então, o sentimento do medo, do imponderável, do intranscendente, do inexplicável, deve ter sido o fator aglutinador para as reuniões cerimoniais e religiosas desses grupos e, certamente, constitui o embrião da religiosidade humana. O poeta latino Estácio – Publius Papinius Statius, Nápoles, 40-96 –, em uma de suas obras, escreveu: “Primus in orbe deos fecit timor”, isto é, “foi o medo que primeiro fez os deuses no mundo”.

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pastagens e criação de animais, sobretudo por bilhões de anos foi irreversivelmente bovídeos – em estudo realizado por espe- rompido pelo desenvolvimento da civili- cialistas da Agência de Impacto Ambiental zação humana. da Holanda, a área ocupada pela criação de A construção das primeiras cidades, a animais em todo o mundo ultrapassa cerca intensificação do processo de civilização, de 15 milhões de quilômetros quadrados. a existência de vida urbana e o desenvol- Depois que as florestas da Europa desa- vimento de sociedades mais complexas pareceram, o homem continuou a derrubada e menos justas e igualitárias devem ter de florestas em outras regiões: China, Índia, provocado uma mudança significativa no Indonésia e, durante a colonização, Améri- modo de vida do homem, inclusive no cas e Austrália. seu comportamento, no qual se inserem as manifestações agressivas inatas da espécie. A IMPLANTAÇÃO DA No decorrer da vida urbana foram surgindo AGRICULTURA as tensões e os problemas sociais: roubo, assassinato, prostituição, estupro, desvios A transição da caça e coleta para a de sexualidade – vícios e virtudes que com- agricultura tem sido põem a personalidade considerada como um humana –, evidencian- marco decisivo no pro- A maioria das principais do a necessidade do es- gresso da humanida- tabelecimento de regras de, quando finalmente doenças infecciosas e ou normas de conduta passamos a contar com parasitoses humanas para a convivência hu- estabilidade alimentar, provavelmente apareceram mana. O abuso de dro- o que nos permitiu dis- gas e o uso de bebidas por de tempo e ócio, com a implantação da alcoólicas constituem condições básicas para agricultura, porque são outras práticas culturais estudos e pesquisas tipicamente humanas, que nos levaram não males que só ocorrem que surgiram no decor- só a grandes conquis- com um ajuntamento rer do processo civiliza- tas da civilização mo- populacional excessivo, cional, como também o derna, mas também à genocídio e o extermí- expansão dos nossos entre pessoas desnutridas, nio em massa de outras traços culturais, nos sedentárias, sem noção de espécies (até hoje, a quais sobressai a arte, matança de animais como a mais nobre higiene, que se contaminam como mero esporte ou invenção humana. com o próprio esgoto apenas distração ainda Com o sucesso da existe, de forma lícita agricultura, sobrevie- ou ilícita, permitindo, ram o acúmulo de bens, a riqueza, a para a vaidade de seus autores, a exibição propriedade, a ociosidade, as trocas comer- das cabeças dos animais mortos como ciais, os negócios, a moeda, a ganância, as troféus). Há bebidas alcoólicas nativas, disputas, os crimes, os conflitos e até as praticamente no mundo todo, e a cocaína e guerras entre grupos oponentes e rivais. o ópio já eram usados em algumas socieda- Por outro lado, o equilíbrio dinâmico que des. O mais antigo código de leis que existe, havia definido a existência da vida na Terra o do rei babilônio Hamurabi (1792-1750

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a.C.), já continha certa regulamentação para de classes exacerbou a desigualdade social os estabelecimentos onde se bebia. e sexual. Apareceu o trabalho escravo, e as mulheres foram excessivamente exploradas A AMBIVALÊNCIA DA no trabalho agrícola – como ocorre ainda AGRICULTURA hoje entre algumas populações de países asiáticos – e se exauriam em gestações A implantação da agricultura, no entan- frequentes, uma vez que não precisavam to, foi um acontecimento ambivalente. Os mais espaçar o nascimento dos filhos, como paleopatologistas – cientistas que pesqui- ocorria entre os caçadores-coletores. sam sinais de doenças em povos antigos A população humana cresceu, cidades – verificaram que o advento da agricultura foram construídas e exércitos organizados. teria ocasionado vários problemas para a Começaram as guerras, os extermínios, os saúde humana, os quais não existiam entre genocídios, a escravidão. os caçadores-coletores. A maioria das No mundo animal, essas duas caracte- principais doenças infecciosas e parasitoses rísticas da civilização humana – o cultivo humanas provavelmente apareceram com do seu próprio alimento e a guerra – só a implantação da agricultura, porque são existem em certas espécies de formigas, males que só ocorrem com um ajuntamento mesmo estando elas muito distantes da populacional excessi- nossa linhagem ances- vo, entre pessoas des- O aumento da população tral direta. As formigas nutridas, sedentárias, cortadeiras cultivam sem noção de higiene, humana é assustador. determinadas espécies que se contaminam Os problemas da de fungos em câmaras com o próprio esgoto. especiais, dentro dos Surgiram a tuber- superpopulação humana, seus próprios formi- culose, a lepra e a có- do aquecimento global, gueiros. Outras espé- lera; depois a varíola, da produção de alimentos cies, mais agressivas, a peste bubônica e o possuem exércitos re- sarampo. Os índices de e da distribuição de água gulares, com tarefas mortalidade aumenta- representam os maiores definidas para cada ram em todas as faixas pelotão, e promovem etárias, principalmente desafios que a humanidade verdadeiras matanças na infância, com as terá que enfrentar ainda de grupos rivais. gestantes e lactantes neste século Mas nem mesmo severamente subnu- entre as formigas guer- tridas e os bebês des- reiras existe algo equi- mamados morrendo de desnutrição e de valente ao genocídio, ao assassinato maciço doenças infecciosas. de outro grupo da mesma espécie, como ocorreu com os judeus na última guerra AS TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS mundial e com as bombas atômicas lança- das sobre o Japão. Só mesmo o homem é A sociedade dividiu-se em classes, com capaz disso em todo o reino animal. Des- uma elite dominante. Apareceram os líde- de a Pré-História, ele utiliza o progresso res, os chefes, os reis, os déspotas, e muitos tecnológico para aperfeiçoar o seu poder foram explorados no trabalho. A formação de matar.

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A POPULAÇÃO HUMANA Podemos encarar isso não com desespero, mas como uma oportunidade especial para O aumento da população humana é nos corrigirmos, estabelecendo as ações assustador. Estima-se que, no início da políticas indispensáveis à garantia de nossa Revolução Agrícola, a população aproxi- sobrevivência e à proteção da biodiversi- mada da Terra fosse por volta de 5 milhões dade do planeta. de pessoas, inferior, portanto, à população Nessas condições, torna-se absoluta- da cidade do Rio de Janeiro. No ano 1000, mente imprescindível que as negociações cresceu para cerca de 300 milhões e, no diplomáticas sobre o corte nas emissões de ano de 1900, alcançou a marca de 1,7 poluentes, os quais contribuem para o fenô- bilhão de pessoas. O considerável aumen- meno do aquecimento global, apresentem to de 57% em 900 anos certamente foi um resultado satisfatório, porque o mundo consequência da tecnologia de produção não espera e continua caminhando para de alimentos, da medicina e da extração concentrações cada vez mais altas de gases de energia. do efeito estufa na atmosfera. Atualmente, a população mundial Por outro lado, no que se refere ao cres- já ultrapassa 7 bilhões. Em 113 anos, cimento da população humana, parece-me quadruplicou. As estimativas para 2050 extremamente necessária a adoção, talvez giram em torno de mais de 10 bilhões de em nível internacional, de ações políticas pessoas, todas precisando de alimentos, para o controle da natalidade ou para o de água, de energia e de moradia. Com planejamento familiar. No caso do Brasil, tal aumento, logo alcançaremos o limite essas ações poderiam também enfatizar biológico do crescimento, quando os re- a necessidade de se evitar a paternidade cursos do planeta poderão se esgotar. As irresponsável e a gravidez precoce. disputas por alimentos, provavelmente, Outro aspecto importante a considerar levarão a saques e a toda ordem de con- diz respeito às cidades, às aglomerações flitos, violências e agressões. Estaremos urbanas, cujo crescimento desordenado caminhando para um mundo como foi o sempre acontece sem a menor preocupa-

da época do Eoceno, com níveis de CO2 ção com as questões ambientais e sociais. na atmosfera atingindo índices alarmantes, As cidades não devem ser consideradas os quais poderão provocar o aquecimento como se fossem apenas um conjunto de dos oceanos e liberar milhões de toneladas edificações que servem somente para do metano congelado existentes no fundo, residências ou escritórios e construídas e que, alcançando a atmosfera, certamente segundo as leis do mercado imobiliário. acarretarão ondas de aquecimento de con- Elas devem atender também tanto aos sequências imprevisíveis. aspectos sociais requeridos para a mo- radia familiar quanto aos comunitários, OS MAIORES DESAFIOS DO que se traduzem nos espaços abertos, SÉCULO como ruas e praças, com as inserções possíveis de áreas verdes. Ações gover- Os problemas da superpopulação huma- namentais são, ainda, necessárias para na, do aquecimento global, da produção de controlar e disciplinar a expansão urbana, alimentos e da distribuição de água repre- promovendo ações ecológicas dentro das sentam os maiores desafios que a humani- próprias cidades, nas suas periferias e dade terá que enfrentar ainda neste século. nas estradas de acesso, como a inclusão

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de mais áreas verdes, a recuperação de em consequência, no longo trabalho que áreas degradadas, a arborização de ruas publicamos sobre este assunto na Revista e o reflorestamento e a construção de Marítima Brasileira (v. 132, no 01/03, parques no interior do próprio espaço jan/mar 2012), quando, então, enfatiza- urbano – o Parque do Flamengo, a Quinta mos exaustivamente a necessidade de da Boa Vista, o Jardim Botânico, a Praça criação de uma fundação – a Fundação da República e o Parque Madureira são Oceano –, que teria como objetivo maior exemplos na cidade do Rio de Janeiro. a promoção de estudos técnicos, econô- Uma ampla discussão de todos esses as- micos e políticos necessários à integração pectos, em nível nacional, seria, talvez, dos recursos dos oceanos à vida nacional. o caminho mais adequado para que se A Fundação, por meio de seu Instituto possa estabelecer, consensualmente, as de Recursos do Mar, entre várias outras diretrizes de desenvolvimento urbano atividades, cuidaria especificamente com maior sustentabilidade e, portanto, daquelas relativas à utilização dos ma- com um mínimo de agressão ao meio res e das águas interiores como fontes ambiente. de recursos alimentares, promovendo a Por outro lado, as perspectivas de realização das pesquisas necessárias com esgotamento dos recursos continentais, essa finalidade. tanto pelo aumento significativo da Diante da possibilidade de ocorrência de produção industrial como das necessi- fome e sede em vista do alarmante cresci- dades de alimentação de uma população mento da população humana, o aumento humana em constante crescimento, nos da oferta de alimentos de origem marinha levam imediatamente a pensar no apro- e a construção de usinas de dessalinização veitamento dos recursos dos oceanos e, da água do mar2 constituem, sem dúvida,

2 Para minorar ou anular os efeitos da seca no sertão nordestino, problema secular que afeta aquela região, o Governo planejou transportar as águas do Rio São Francisco para irrigá-lo, obra (idealizada nos tempos do Império) que ainda não conseguiu levar água a nenhum lugar, e cujo impacto ecológico sobre a vazão do rio não é muito conhecido. Para se ter uma ideia do que pode ocorrer com essa obra, a barragem de Sobradi- nho, que foi planejada para regularizar a vazão do rio, por causa das hidroelétricas instaladas à sua jusante, modificou profunda e definitivamente o seu regime à jusante: alterando a fauna e inviabilizando a pesca comercial e de subsistência; provocando o fim do alagamento sazonal de áreas marginais e da formação de lagoas, inviabilizando as atividades agrícolas tradicionais, como o cultivo de arroz; afetando a fauna estua- rina, com reflexos na pesca fluvial e marítima, pela regressão dos bancos de sedimentos na foz; entre outras consequências importantes. Por outro lado, existe um gasoduto para o fornecimento de gás da Bolívia para o Brasil, e, recentemente, a imprensa noticiou que a Petrobras pretende construir um gasoduto de mais de 300 quilômetros ligando a Bacia de Santos (SP) à Praia de Jaconé (Maricá-RJ), para receber o gás natural do pré-sal que será produzido nos campos daquela bacia. Por que, então, não construir um aqueduto para levar a água do mar para o sertão nordestino e, depois, dessalinizá-la? Não seria interessante estudar a viabilidade de um projeto como esse, que resolveria em definitivo o problema da seca nordestina? Atualmente, existem 7.500 usinas de dessalinização em operação no Oriente Médio, na Espanha, em Malta, na Austrália e no Caribe, convertendo, por ano, 4,8 bilhões de metros cúbicos de água salgada em água doce. O custo está em torno de 2 dólares o metro cúbico. A maior usina está situada ao norte da cidade de Hadera, em Israel, que usa a água do Mediterrâneo, com a expectativa de produzir 127 milhões de metros cúbicos de água doce por ano. No Brasil, a empresa Aquamase desenvolveu a tecnologia Aqua, para a purificação da água do mar para consumo humano. Essa tecnologia é vendida para os Estados Unidos desde 2008, mas no Brasil isso só aconteceu no início de 2011. A dessalinização da água salgada ou salobra dos açudes e dos poços pode ser a solução definitiva para a seca nordestina, pois a transposição do São Francisco, pelo impacto ambiental que certamente provocará na vazão do rio, não é uma solução adequada.

84 RMB2oT/2013 A DEVASTAÇÃO AMBIENTAL E OS DESAFIOS DO SÉCULO as principais providências que devem ser preparado não só para enfrentar os desafios tomadas em curto prazo. No mais, a cria- do século, mas sobretudo para participar de ção da Fundação Oceano se impõe, como seus principais eventos, os quais, inevita- a medida de maior alcance estratégico, velmente, ocorrerão nos oceanos. Não há para que o Brasil possa estar devidamente mais tempo a perder.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Política para o meio ambiente; Água; Alimentação; Ecologia; Agricultura;

REFERÊNCIAS

Bakker, Mucio P. R. de – “A evolução cultural do homem”. Revista Marítima Brasileira, vol. 132, no 04/06, abr/jun 2012. Bakker, Mucio P. R. de – “A Terra, o oceano e a atmosfera. O clima e o aquecimento global (Apon- tamentos sobre)”. Revista Marítima Brasileira, vol. 131, no 01/03, jan/mar 2011. Bakker, Mucio P. R. de – “O mar e seus recursos”. Revista Marítima Brasileira, vol. 132, no 01/03, jan/mar 2012. Diamond, Jared – O terceiro chimpanzé. Editora Record, Rio de Janeiro-São Paulo, 2010. Gleiser, Marcelo – “Sede humana”. Seção Ciência. Folha de São Paulo, 31/8/2008. Howell, F. Clark – O homem pré-histórico. Biblioteca da Natureza Life, Livraria José Olympio Edi- tora, Rio de Janeiro, 1969.

RMB2oT/2013 85 JOHN KNOX LAUGHTON: um Historiador Naval com “tato, habilidade e bom humor”

FRANCISCO EDUARDO ALVES DE ALMEIDA1 Capitão de Mar e Guerra (RM1)

SUMÁRIO

Os anos de formação na carreira do historiador Docente no King’s College de Londres Os últimos anos de vida

professor Andrew Lambert, titular da história naval como uma parte reconhecida O cadeira de História Naval do Depar- da nova profissão de historiador. Era ele, tamento de Estudos de Guerra do King’s de qualquer prisma, um homem notável”2. College de Londres, afirmou que Sir John Esse reconhecimento de Lambert, um co- Knox Laughton foi “uma pessoa rara, nhecido historiador naval do século XXI, um educador com energia e lógica para indica a perenidade das ideias e do legado convencer uma força armada a aceitar as de Laughton para aqueles profissionais que ideias que defendia e segui-lo em novos trabalham com temas de história naval na caminhos. No processo, desenvolveu a atualidade.

1 Professor de Estratégia e História Naval, Escola de Guerra Naval. Graduado, mestre e doutor em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 2 LAMBERT, Andrew. The Foundations of Naval History. John Knox Laughton, the and the Historical Profession. London: Chatham, 1998, p. 11. JOHN KNOX LAUGHTON: um Historiador Naval com “tato, habilidade e bom humor”

Laughton foi um produto da revolução Presume-se que Liverpool tenha saltado historiográfica do século XIX, com aperfei- de 75 mil para 400 mil pessoas entre 1801 çoamentos na crítica historiográfica, cujo e 18516. grande arquiteto foi Leopold Von Ranke. John Knox era filho de James Laughton, Por meio de suas aulas de história no Royal comerciante de vinhos e um ex-marinheiro Naval College3 (RNC) e no King’s College da Marinha Mercante, e de Ann Laughton. e de seu engajamento na organização dos Criado na fé luterana, John possuía três arquivos navais no Reino Unido e na fun- irmãos: James Brotherson, mais velho, e dação do Naval Records Society (NRS)4, duas mais novas, Margaret e Ann. Em razão Laughton deixou sua marca. da prosperidade de seu pai no comércio de O que se pretende discutir neste artigo vinhos, a família mudou-se para a Ilha de é a trajetória pessoal e profissional desse Man, onde John Knox frequentou a Forester historiador que influenciou a maneira School, entre 1841 e 1843. como a história naval devia ser abordada Após retornar a Liverpool, ele cursou e sua percepção de como ela deveria ser a prestigiosa Royal Institution School nos analisada e escrita. dois anos seguintes, até 1845, quando então entrou em um curso preparatório para a OS ANOS DE FORMAÇÃO NA universidade em Cambridgeshire. Na In- CARREIRA DO HISTORIADOR glaterra vitoriana, era totalmente estranha a concepção de que a instrução constituía John Knox Laughton nasceu na cidade um direito da cidadania, como formulada de Liverpool, na Inglaterra, no Dia de São na França revolucionária no final do sécu- Jorge, 23 de abril de 1830, em plena Pax lo XVIII. Era a família inglesa burguesa Britannica5, no auge do poderio social, abastada que proporcionava as condições econômico, militar e político do Reino necessárias para seus filhos entrarem nos Unido. Liverpool era uma cidade que cres- melhores colégios disponíveis e em seguida cia em razão da Revolução Industrial e do nas tradicionais e elitistas Universidades de consequente influxo de grandes parcelas de Oxford e Cambridge. Ao estado britânico população rural atraídas para essa cidade não competia tal ação e tampouco ele in- pelo emergente mercado de empregos. terferia nesse processo de entrada7. No dia

3 O Royal Naval College foi fundado em 1733 na cidade de Portsmouth, sendo transferido para Greenwich em 1873. Essa unidade de ensino foi responsável pelo aperfeiçoamento dos oficiais da Marinha Real. Fonte: LAMBERT, Andrew. “History is the sole foundation for the construction of a sound and living common doctrine: The Royal Naval College, Greenwich and doctrine development down to BR 1806”. In: DORMAN, Andrew; SMITH, Mike Lawrence; UTLEY, Matthew. The Changing Face of Maritime Power. London: Mac Millan Press, 1999, p. 35. 4 O Naval Records Society (NRS) foi fundado por Laughton em 1893. Serão discutidas neste artigo as razões e as consequências de sua criação. 5 Termo cunhado por Joseph Chamberlain em 1893 para caracterizar as consequências da dominação britânica na Índia. A expressão rapidamente definiu uma era a partir de 1815, quando esse Estado, graças a seu poderio naval, tornou-se a maior das grandes potências de então. Fonte: GOOCH, John. “The weary titan: strategy and policy in Great Britain, 1890-1918”. In: MURRAY, Williamson; KNOX, MacGregor; BERNSTEIN, Alvin. The Making of Strategy, rulers, states and wars. Cambridge: Cambridge University Press, 1994, p. 278. 6 LESSA, Antonio Carlos. História das Relações Internacionais. A Pax Britannica e o mundo do século XIX. Petrópolis: Vozes, 2005, p. 62. 7 CHASTENET, Jacques. A Vida Quotidiana em Inglaterra no começo da Era Vitoriana (1837-1851). Lisboa: Edição Livros do Brasil, s/d. p. 145.

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28 de fevereiro de 1848, John Knox foi diria que “em nenhuma outra época da his- admitido no Caius College, da Universida- tória um poder dominou tão completamente de de Cambridge, no curso de Matemática, os oceanos do mundo como os britânicos o graduando-se em 1852 com méritos. Ao fizeram na metade do século XIX. A Rainha sair da universidade, John decidiu se can- Vitória tinha bons motivos para se sentir didatar a uma vaga de instrutor embarcado8 segura perto do mar”.10 na Marinha da Inglaterra. Sua primeira comissão como instrutor Em 1853, ano de sua entrada na carreira foi no encouraçado a vapor HMS Royal naval, a Marinha Real britânica (RN) era a George11, sob o comando do Capitão de mais poderosa do mundo. Seis anos depois, Mar e Guerra12 Henry Codrington, filho em 1859, ela contava com 68 navios de mais novo do Almirante Sir Edward Co- linha, 74 fragatas e outros 563 navios de drington, vencedor da Batalha Naval de diversas classes. Suas responsabilidades Navarino13 e que no futuro alcançaria o eram globais e sua tarefa principal era a posto de almirante de esquadra. proteção das linhas de comércio entre o Em 1856 Laughton foi designado para Reino Unido e as colônias em seu vasto outro navio, o HMS Calcutta14, que seguia império. Como função secundária, a RN para a China. Nesse vaso de guerra, Lau- tinha a missão de suprimir a pirataria e o ghton participou de ações bélicas na Segun- comércio de escravos no Atlântico, Índico, da Guerra do Ópio. Foi também instrutor Mediterrâneo e no Mar da China. Exis- de diversos oficiais que mais tarde alcan- tiam bases navais e de abastecimento em çariam o almirantado15 e o reconheceriam Porto Royal (Jamaica), , Halifax, como um “instrutor de primeira classe”16. Porto Mahon (Ilha de Minorca), Malta, Em 1860 foi recolocado no Encouraçado Trincomalee, Ilhas Falklands, Aden, Hong HMS Algiers,17 que pertencia à Esquadra Kong, Bermuda, Cingapura, Lagos, Chipre, do Canal da Mancha, ainda como instrutor Alexandria, Mombasa, Zanzibar e We-hai- de guardas-marinha18. Nesse navio teve a wei9. O historiador inglês Niall Ferguson oportunidade de conhecer o então Capitão-

8 A função de instrutor embarcado foi criada pela Marinha Real em 1836 para substituir a antiga função de mestre- escola a bordo dos navios, contratando-se docentes com qualificação universitária para ensinar aspirantes e guardas-marinha em assuntos referentes à navegação e assuntos técnicos matemáticos. 9 GEORGE MODELSKI; WILLIAM THOMPSON. Sea Power in global politics, 1494-1993. Seattle: University of Washington Press, 1988, p. 209. 10 FERGUSON, Niall. Império. Como os britânicos fizeram o mundo moderno. São Paulo: Planeta, 2010, p. 184. 11 O HMS Royal George era um encouraçado a vapor com 120 canhões. Fonte: LAMBERT, Andrew. The Foun- dations of Naval History. op. cit. p. 18. 12 Na Marinha britânica, o posto era captain. Serão usadas as designações traduzidas para o português correla- cionadas aos postos da Marinha do Brasil. 13 A Batalha Naval de Navarino teve como a principal característica ter sido a última batalha naval inteiramente combatida por navios a vela. 14 O HMS Calcutta era um navio de guerra a vela com 84 canhões. Fonte: Ibidem. p. 19. 15 Dentre eles se destacariam o Comodoro James Graham Goodenough, os Almirantes Sir Arthur Knyvet Wil- son, Sir Edward Hobart Seymour, Sir Richard Vessey-Hamilton, Sir William Robert Kennedy, Sir Harry Holdsworth Rawson, Sir Michael Culme-Seymour e Sir Thomas Sturges-Jacques. Todos alcançariam altos postos na Marinha britânica. Fonte: Idem. 16 Idem. 17 O HMS Algiers era um encouraçado a vapor com 90 canhões. Fonte: Ibidem, p. 20. 18 Na Marinha Real no meio do século XIX, guarda-marinha era , posto existente na época de Nelson.

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Tenente19 Cyprian Bridge,20 que viria a ser da Balística, como também questões de um dos mais respeitados estrategistas da Astronomia, Oceanografia e Meteorologia. Armada Real e um dos seus mais chegados Em razão de sua distinção nessas áreas, foi amigos até o falecimento de Laughton, indicado para membro do Royal Geogra- em 1915. phical Service no ano de 1869. Em 1863 foi transferido para o HMS Data desse período o início de seu Trafalgar21 e no ano seguinte para o HMS interesse profissional pela história naval. Prince Consort22, sempre na instrutoria de Eram comuns na era vitoriana as discussões Navegação e Matemática para os guardas- de assuntos relativos a literatura, religião, marinha embarcados. Sua reputação como história, ciência, política e guerra em pe- professor já alcançava riódicos de circulação os círculos externos à geral, em detrimento da esquadra, sendo con- Laughton distinguiu-se em própria publicação de siderado um educador sua tarefa docente de modo livros, bem mais caros e por muitos almirantes com circulação restrita. em função de coman- destacado, discutindo não Laughton, assim, escre- do. Dessa forma, sua só a Matemática básica veu breves resenhas de escolha para servir livros relativos à guerra como professor no para o estudo da Balística, no mar, além de discutir RNC, localizado em como também questões de estratégia e história na- Portsmouth, em 1866, Astronomia, Oceanografia e vais em revistas como foi natural e esperada. Fortnightly Review, O RNC tinha como Meteorologia Edinburgh Review, tarefa básica o treina- Journal of the Royal mento de até 25 oficiais que se encontras- United Services Institution e Quarterly sem em trânsito para novas comissões. As Review, de grande circulação no Reino disciplinas ministradas no colégio incluíam Unido. A ideia principal desses veículos a Matemática, a Balística e a Artilharia. O de comunicação era informar e instruir a RNC contava com um pequeno plantel de população em assuntos diversos. docentes, no entanto dotados de grande O primeiro texto analítico de Laughton talento23. Laughton distinguiu-se em sua ta- sobre história naval foi escrito em 1870, e refa docente de modo destacado, discutindo seu título foi “Sketches in Naval History,” não só a Matemática básica para o estudo publicado no periódico St Paul Magazine.

19 Na Marinha Real do século XIX, capitão-tenente era , posto existente na época de Nelson. 20 O futuro Almirante Cyprian Bridge seria um renomado intelectual e historiador naval do final do século XIX e início do XX. Foi o autor de inúmeros livros, dentre os quais se destacaram The Art of Naval Warfare, de 1907, e Sea Power and Other Studies, de 1910. Veio a falecer em 1924. Fonte: ALMEIDA, Francisco Edu- ardo Alves de. O Poder marítimo sob o ponto de vista estratégico entre 1540-1945: uma comparação entre as concepções de Alfred Thayer Mahan e Herbert William Richmond. 2009. 308 f. Dissertação (Mestrado em História Comparada) – Programa de Pós-Graduação em História Comparada, Universidade Federal do Rio de Janeiro. 21 O HMS Trafalgar foi um encouraçado de aço com 90 canhões. Fonte: LAMBERT, Andrew. The Foundations of Naval History. op. cit. p. 21. 22 O HMS Prince Consort foi uma fragata mista (a vela e a motor) lançada ao mar em 1862, deslocando 6.830 toneladas e armada com sete canhões de 7 polegadas. Fonte: ARCHIBALD, E.H.H The Metal Fighting Ship in the Royal Navy 1860-1970.New York: Arco Publishing, 1971, p. 3. 23 LAMBERT, Andrew. The Foundations of Naval History. op. cit., p. 23.

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Disse ele que o que ocorreu no passado po- debate para oficiais de Marinha e do Exér- deria ocorrer novamente no presente, e isso cito interessados em assuntos militares. No era exatamente o que constituía a pesquisa início da existência da Rusi, os assuntos histórica. Muitas passagens instrutivas apresentados eram de natureza tecnológi- sobre a história poderiam ser encontradas ca, no entanto conferências sobre táticas e em fatos comuns, tanto na exploração ma- estratégia foram, depois de certo tempo, rítima como na guerra no mar.24 Nesse ano, proferidas27. Laughton teve a oportunidade de conhecer Em 1874 Laughton proferiu a palestra e trocar ideias sobre estratégia e história “The Scientific Study of Naval History” naval com o Capitão de Mar e Guerra Ste- no Rusi, que se tornaria clássica. Nela ele phen Luce, da Marinha norte-americana, estabeleceu a história naval como a base que viria a ser o fundador do Naval War para o desenvolvimento da doutrina, além College (NWC) dos EUA, em 1884.25 de considerar que a metodologia de estudos Em 1869, o Hospital Naval de Greenwich utilizada nas teorias de circulação oceânica foi fechado, permitindo que suas belas ins- e atmosférica poderia ser útil para a histó- talações fundadas após a Batalha Naval de ria. A partir dessa conferência, suas pales- La Hogue, em 1692, ficassem disponíveis. tras passaram a ser concorridas. Um novo O acanhado prédio campo se abria para o onde se localizava o professor Laughton: a RNC, em Portsmouth, Para Laughton, a história história naval científica. necessitava de reparos naval devia ser analisada Em suas palestras urgentes, o que im- posteriores, ele reco- pedia a acomodação em profundidade, por nhecia que a história dos corpos docente e conter lições de grande naval devia ser aborda- discente. O Almiran- da cientificamente. Em tado britânico perce- importância no campo da sua concepção, a his- beu a necessidade de estratégia e da tática tória, até ali, tinha sido expandir o número de estudada pelos oficiais alunos e aperfeiçoar os de uma forma român- currículos de ensino. Em fevereiro de 1873, tica, inacurada e inútil. Para ele, a história o RNC foi transferido para Greenwich e com naval devia ser analisada em profundidade, ele veio Laughton, que assumiu o Depar- por conter lições de grande importância no tamento de Meteorologia e Oceanografia. campo da estratégia e da tática. Além da Laughton, com a reputação em alta, foi profundidade de suas palestras, Laughton convidado a ministrar palestras de história foi um excelente comunicador, que conven- naval, seu campo de interesse recente, em cia os alunos com suas conclusões claras e diversos institutos de pesquisa, em especial convincentes. Aos poucos a história naval o Royal United Services Institute (Rusi)26. ia substituindo as ciências matemáticas em Essa sociedade inglesa foi fundada em seu universo. Paulatinamente Laughton 1831, com o propósito de ser um local de tornava-se um historiador.

24 LAMBERT, Andrew. The Foundations of Naval History. op. cit., p. 29. 25 Stephen Luce foi o primeiro presidente do Naval War College (NWC) dos EUA e responsável pelo convite a Alfred Thayer Mahan para ministrar aulas de Estratégia e História Naval. 26 A Rusi existe até hoje na Inglaterra, sendo uma sociedade muito importante nas discussões dos assuntos de defesa. 27 SCHURMAN, Donald. The Education of a Navy. London: Cassell, 1965, p. 8.

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Apesar de todo esse prestígio pessoal, com 55 anos de idade, Laughton preferiu Laughton não conseguiu influenciar a solicitar sua transferência para a reserva, cúpula naval da importância do RNC para afastando-se da sua amada Marinha Real. a Marinha Real. O Almirantado decidiu Pelo menos poderia tentar novos caminhos diminuir as atividades do colégio. Por como professor, de modo a engordar os ser de caráter essencialmente voluntário seus parcos vencimentos na inatividade. para os oficiais e não ser um requisito de Foi exatamente isso o que ocorreu. carreira para a promoção aos postos supe- riores, o número de candidatos reduziu-se DOCENTE NO KING’S COLLEGE sobremaneira. DE LONDRES Em dezembro de 1884, o Almirante Em maio de 1885, Luard, presidente do o professor de Histó- RNC, convocou Lau- ria Moderna no King’s ghton a seu gabinete College, Samuel Raw- e lhe participou que, son Gardiner, resignou “apesar da satisfação de sua função docente dos lordes do Almi- para aceitar uma cadeira rantado com os seus de pesquisa na Univer- serviços”, sua função sidade de Oxford, abrin- docente seria descon- do uma vaga importante tinuada. Ele poderia a ser completada e a ser redesignado para chance de Laughton uma função embarca- engordar seus parcos da como instrutor, um recursos na inatividade. rebaixamento, ou per- O posto aberto por Gar- manecer em disponibi- diner no King’s College lidade, sem função do- não era, no entanto, dos cente, em casa.28 Como mais prestigiosos29. consolação, Laughton Em julho de 1885, seria mantido como Laughton enviou ao docente de História John Laughton Colegiado do King’s Naval no colégio em College uma proposta tempo parcial, o que não aliviaria sua para assumir o posto de Gardiner. O salário situação financeira. Pode-se imaginar a oferecido aos professores do colégio não frustração e a decepção de Laughton com era dos mais atrativos, no entanto Laughton essa decisão. Pai de quatro filhos com poderia complementar os vencimentos pro- idades variando entre 10 e 16 anos, viúvo venientes da Marinha. A grande vantagem recente, com cerca de 30 anos de serviço e dessa função docente era permitir a troca e o

28 Essa situação era chamada de “half pay”, por não existir função a ser completada na lista de atividade. O professor, assim, recebia metade do que na ativa e ficava disponível para novas designações. Essa situação podia ser breve, no entanto nada a garantia. Dessa maneira, os vencimentos eram diminuídos bruscamente, afetando o orçamento do docente. Essa situação também existia para os oficiais de Marinha, que podiam também ficar em half“ pay”. 29 LAMBERT, Andrew. Letters and papers of Professor Sir John Knox Laughton. op. cit., p. 31.

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contato com outros historiadores britânicos, grandes navios, mas de grandes mudanças com suas pesquisas e grupos de estudos, estruturais. Laughton percebia que essas dos quais se destacavam Oscar Browning, mudanças eram necessárias e somente Charles Yonge e Charles Hadfield Firth30. com uma mudança na educação naval e Laughton, no entanto, fez questão de man- no modo como a profissão era percebida ter o seu posto de professor de História se poderiam reverter algumas percepções Naval no RNC, em tempo parcial, com no seio da Armada. suas seis palestras anuais para os cursos Durante as suas aulas de História Mo- regulares. A Marinha, apesar de tudo, ainda derna e Contemporânea no King’s College, o atraía. Logo depois, no final de julho de Laughton transmitia aos seus alunos as 1885, a Congregação aceitou a indicação ideias de pesquisa e crítica historiográfica de Laughton como professor de História formuladas por Leopold Von Ranke. An- Moderna do King’s College. drew Lambert afirmou que, em 1885, os Em 1887 Laughton lançou o seu primei- historiadores britânicos ainda não tinham ro livro exclusivamente de história naval, se transformado em profissionais, “incertos Studies in Naval History31. O propósito sobre qual método de estudo”35 deveria ser desse livro foi publicar breves biografias utilizado no estudo da História. Poucos de heróis navais, não necessariamente historiadores universitários, para Lambert, britânicos, a partir de diferentes fontes eram efetivamente acadêmicos originais, pesquisadas por ele, inclusive “documentos “evitando questões desafiadoras”36, sendo que foram gentilmente permitidos consultar preferencialmente docentes ao invés de pelo Almirantado”.32 Os heróis escolhidos pesquisadores historiadores. por Laughton foram Jean de Vienne, Jean Dois historiadores britânicos tiveram Baptiste Colbert, Abraham Du Quest, Pier- grande influência sobre Laughton em sua re André de Suffren Saint-Tropès, Wilhelm percepção do que era história. O primeiro Von Tegetthoff, Fortunatus Wright, Geor- foi Sir John Seeley, que era professor de ge Walker, Jean Bart, Du Guay-Trouin, História em Cambridge desde 1869. See- François Thurot, John Paul Jones e Robert ley era um positivista que acreditava que Surcouf.33 o valor da história moderna servia para Iniciou-se, logo em seguida, um período ensinar política aos políticos. Uma visão chamado de “navalismo”34, que iria desem- de Seeley, que conformou o pensamento bocar na construção de grandes navios, de Laughton, foi sua desconfiança com a como o Encouraçado HMS Dreadnought, democracia de massa, aproximando-se, no início do século XX, e no interesse assim, das ideias de Edmund Burke, que do público com os assuntos navais. A afirmava que a democracia degenerava Marinha Real não necessitava apenas de facilmente em tirania. Diria Burke que o

30 Idem. 31 LAUGHTON, John Knox. Studies in Naval History. London: Longmans, 1887. 32 Ibidem, p. i. 33 Mahan seguiria os seus passos anos depois, publicando Types of Naval Officers drawn from the History of the British Navy, especificamente com oficiais britânicos. 34 Navalismo era uma teoria estratégica que estabelecia que quem dispusesse de uma grande Marinha oceânica obteria o atributo essencial para se tornar uma grande potência mundial. Seu principal representante foi Alfred Thayer Mahan. Fonte: KEEGAN, John. The Price of the Admiralty. London: Penguim Books, 1988, p. 333. 35 LAMBERT, Andrew. The Foundations of Naval History. op. cit. p. 83. 36 Ibidem, p. 84.

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Estado sofreria opressão se permitisse que Gardiner viria a falecer em 1902, no entanto pessoas como cabeleireiros ou fabricantes seus filhos continuaram a frequentar a família de velas governassem37. Esse espírito era Laughton e sua viúva se mudou para uma casa comum no período vitoriano. próxima de John, em Wimbledon. A segunda grande influência sobre Lau- A reputação de Laughton como historia- ghton foi Samuel Rawson Gardiner, seu an- dor e pesquisador crescia. Outros colegas já tecessor no King’s College. Esse historiador, o percebiam como “a” autoridade intelec- agora ligado à Universidade de Oxford, era tual em História Naval. Seu companheiro e um grande seguidor das ideias de Leopold grande influenciador Sir John Seeley diria Von Ranke e da Escola Alemã de história. que o trabalho de Laughton era importante Gardiner apregoava a visão rankeana de que e que os historiadores ingleses desejavam a crítica de documen- exatamente um escritor tação primária seria o que pudesse congregar, modo “científico” de Entre 1889 e 1896 Laughton como ele, as qualidades escrever a história. Ele de historiador com as incentivava também a escreveu três clássicos sobre de especialista em as- publicação de material o seu grande herói, Horatio suntos navais.40 primário em compên- Lorde Nelson Entre 1889 e 1896 dios editados e apoiou Laughton escreveu três diversos historiadores clássicos sobre o seu e pesquisadores que se aventuravam nesse grande herói, Horatio Lorde Nelson. O campo. Gardiner, ao mesmo tempo em que primeiro, de 1889, foi Nelson,41 na série participou com Laughton do Dictionary English Men of Action, cujo propósito era of National Biographies38, convenceu-o a disseminar a importância da RN ao público editar as memórias manuscritas de Lord doméstico em geral e a trajetória de seu Torrington. Esse manuscrito original cobria principal expoente e herói Horatio Nelson. a carreira do Almirante Sir George Byng39 O seu segundo livro sobre Nelson foi até 1705, tendo sido adquirido pelo Museu The Story of Trafalgar,42 uma descrição da Britânico em 1882. Batalha de Trafalgar publicada por Griffin O rigor crítico documental de Gardiner em 1891 e que não teve grande repercussão. veio a sedimentar as convicções de Laughton O terceiro livro foi The Nelson Memorial com relação à abordagem científica da his- (Nelson and his Companions in Arms),43 tória, na qual Ranke foi a grande referência. de 1896.

37 HIRSCHMAN, Albert. A Retórica da Intransigência. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 25. 38 Compêndio que incluía as biografias dos principais personagens do Reino Unido. 39 O Almirante George Byng (1663-1733) foi um conhecido oficial da Marinha Real que derrotou uma força naval espanhola na Batalha do Cabo Passaro, em 1718. Esse combate foi considerado um dos mais significativos e decisivos na história naval inglesa no século XVIII. Ele não deve ser confundido com seu filho John Byng, que foi executado em 1757 por ter falhado em reconquistar a Ilha de Minorca. George Byng recebeu o título de Visconde Torrington em 1721 e foi primeiro lorde do Almirantado entre 1727 e 1733, falecendo no posto. Fonte: WILSON, Alastair; CALLO, Joseph. Who is Who in Naval History. London: Routledge, 2004, p. 28. 40 Carta de John Seeley para John Knox Laughton escrita em 10 de junho de 1890. Fonte: LAMBERT, Letters and papers of Professor Sir John Knox Laughton. op. cit., p. 66. 41 LAUGHTON, John Knox. Nelson. “English Men of Action”. London: MacMillan, 1889. 42 LAUGHTON, John Knox. The Story of Trafalgar. Porstmouth: Griffin & Co, 1891. 43 LAUGHTON, John Knox. The Nelson Memorial (Nelson and his Companions in Arms). London: George Allen, 1896.

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Em 1893, Laughton, em conversa com Comandante Caspar Goodrich; e Lorde Cyprian Bridge, na ocasião diretor da Inteli- Northbrook vieram a compor os quadros gência Naval e seu grande amigo, imaginou da NRS. Enfim, em 13 de junho de 1893, criar uma sociedade que fosse capaz de edi- na Rusi, a sociedade foi oficialmente criada tar e posteriormente publicar documentação com o propósito de “publicar trabalhos primária sobre a história naval britânica raros ou manuscritos de interesse naval, que estivesse arquivada no Almirantado. de modo a permitir o acesso de documen- A associação com a Inteligência Naval tação de [nossa] história naval e elucidar seria fundamental, de modo a selecionar questões de arqueologia naval, construção, aquilo que poderia ser publicado ou não. administração, organização e vida social Laughton, devidamen- [da Marinha]”44. Os te autorizado, vinha principais membros da há muito levantando a Em 1893, Laughton, em diretoria foram o Earl45 documentação do Al- conversa com Cyprian Spencer, primeiro lorde mirantado e temia que do Almirantado, presi- essa fonte de memória Bridge, na ocasião diretor dente; Alfred Ernest, naval fosse ou perdida da Inteligência Naval, Duque Saxe-Coburg e ou indisponibilizada Gotta, segundo filho da aos pesquisadores. imaginou criar uma Rainha Vitória; e Geor- Bridge e Laughton sociedade que fosse capaz ge Frederick, Duque de mantinham uma ami- de editar e posteriormente York, filho da Rainha zade havia 30 anos e Vitória e futuro Rei Ge- se preocupavam com publicar documentação orge V, patronos da so- o destino dessa docu- primária sobre a história ciedade. Laughton foi mentação. A fundação eleito secretário e Sir de uma sociedade in- naval britânica que Henry Frances Yorke, dependente parecia a estivesse arquivada no servidor do Almiran- solução final. Almirantado tado, como tesoureiro. Os seis primeiros Muitas coleções de ma- membros dessa socie- nuscritos e documentos dade, que levou o nome de Naval Records familiares foram doados à sociedade, que Society, foram Laughton; Bridge; o Capitão continua até hoje a editar documentação de Fragata Charles Napier Robinson, seu referente à história naval britânica. Lau- conhecido da Exibição Naval Real, realiza- ghton, que foi o grande mentor do NRS e da em 1891; os seus velhos companheiros secretário até 1912, disse em 1896: “Aque- almirantes Fanshawe e Hornby; e o corres- les de vocês [membros] que estiverem pondente naval do periódico The Times, Sir aqui daqui a 50 anos poderão dizer a seus James Thursfield. Aos poucos foram outros netos ou bisnetos que o que eles souberem membros sendo agregados à sociedade. da arte da guerra no mar e das glórias de Nomes como o Duque de Norfolk; o adi- nossa Nação será em razão da existência do naval dos Estados Unidos da América, do NRS”.46

44 SCHURMAN, op. cit. p. 93. 45 Earl é correspondente a conde. 46 Ibidem, p. 94.

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O NRS trouxe a história naval para PRO, sem as peias de caso a caso, obtendo, os estudos históricos, tendo sido um dos depois de certo tempo, autorização para centros de difusão e pesquisa histórica no que outros historiadores também tivessem Reino Unido, além de ser o local onde se acesso a essa vasta documentação ainda discutiam as políticas navais e se disse- inexplorada, principalmente para os docu- minava a importância que o mar adquiriu mentos anteriores a 1793. para a sobrevivência da nação. A sociedade O trabalho dos últimos meses de 1894 proporcionou também uma simbiose entre trouxe, em paralelo, para Laughton uma historiadores profissionais e oficiais de -Ma perda progressiva de um dos olhos, moti- rinha, que tiveram a oportunidade de trocar vada por uma inflamação não controlada ideias e editar novos volumes de história da íris. Pode-se imaginar a aflição e a pre- naval. A criação dessa sociedade trouxe, ocupação do velho mestre com a perda de ao mesmo tempo, apoio ao Reino Unido, visão, um de seus instrumentos de trabalho que lutava por maiores orçamentos em um por ser historiador.47 período de corrida armamentista no final do Aos poucos o NRS foi se estabele- século XIX e por auxiliar a causa naval no cendo como uma sociedade produtiva de Parlamento. Muitas personalidades impor- documentação primária da história naval tantes do período viriam a se afiliar ao NRS, britânica, em parte pelo esforço pessoal de tais como Joseph Chamberlain e Rudyard Laughton. Apesar desse trabalho lhe ser Kipling, além de muitos jornalistas que se agradável, Laughton, como secretário do interessavam em assuntos de defesa. NRS, precisou recorrer a colegas e promis- Ao mesmo tempo em que Laughton cria- sores pesquisadores para lhe auxiliar nessa va o NRS, ele se aventurava nos arquivos tarefa de compilação. Dentre os diversos ainda intocáveis do Public Records Office colaboradores com quem Laughton contou (PRO) relativos à história naval britânica, e aos quais incentivou nesse período, dois inacessíveis, até aquele momento, pelo se distinguiram em especial, tanto como Almirantado por razões de segurança. A historiadores navais competentes como política de disponibilidade dos documen- formuladores de estratégias e concepções tos navais por parte do Almirantado até ali teóricas que teriam perenidade nos estudos determinava que o pesquisador solicitasse estratégicos. Foram eles os conhecidos com antecipação quais documentos seriam estrategistas Sir Julian Stafford Corbett e lidos, havendo então uma triagem do que Sir Herbert William Richmond. poderia ser disponibilizado ou não, o que No dia 22 de janeiro de 1901, a Rainha demandava tempo e requeria um conhe- Vitória faleceu, depois de reinar por 64 cimento pessoal com algum membro do anos48. Laughton tinha 7 anos de idade Almirantado para obter autorização para quando Vitória assumiu o trono. Sua impor- o PRO liberá-lo. Cada caso era analisado tância na história britânica foi tal que esse independentemente. Laughton, aprovei- período foi chamado de Era Vitoriana, uma tando sua amizade com o primeiro lord do época de prosperidade para a população do Mar, Almirante Sir , Reino Unido e de benefícios advindos das conseguiu a autorização para pesquisar a colônias e da Revolução Industrial, que teve documentação do Almirantado guardada no nesse estado um amplo desenvolvimento. A

47 LAMBERT, Andrew. The Foundations of Naval History. op. cit., p. 119. 48 O reinado mais longo, até o momento, na história britânica.

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população da Inglaterra aumentara consi- estimulando jovens pesquisadores como deravelmente, passando de 17 milhões em Julian Corbett e Herbert Richmond. Sua 1851 para 30 milhões em 190149, época do reputação na RN era grande, e muitos dos falecimento da monarca. O termo vitoriano oficiais generais que vieram a comandar não designou apenas um período temporal, essa força foram seus alunos, muitos se mas também significou um modo de ser, tornando seus amigos. Seus grandes amigos uma postura, um comportamento. Segundo por toda a vida foram Sir Cyprian Bridge, o Oxford English Dictionary, o adjetivo Sir Geoffrey Hornby, Samuel Gardiner, Sir “vitoriano” apareceu pela primeira vez em John Seeley, Sir Phillip Colomb e Alfred 1839, isto é, dois anos depois da ascensão Mahan. Em essência, acreditava convicta- de Vitória ao trono, mente que a monarquia adornando moedas, era o melhor sistema medalhas, carruagens Laughton quis também de governo para o Rei- e outros itens50. no Unido, pois vira Laughton era um que a história naval fosse com alegria a multidão vitoriano austero que apreendida pelos oficiais que compareceu para prezava sua reputa- de Marinha, que poderiam, festejar o Jubileu de ção, sem afetação. Seu Diamantes da Rainha comportamento era, a partir de sua análise, Vitória em 1897 e, em com certeza, moralista, retirar importantes lições 1902, o Rei Eduardo e ele se identificava VII abrir as atividades com a classe privi- táticas e estratégicas no Parlamento sob os legiada, procurando acordes pujantes do evitar escândalos que viessem a denegrir “God Save the King”.51 sua reputação. Laughton quis também que a história Suas cartas apontavam para um homem naval fosse apreendida pelos oficiais de que não era dado a grandes demonstrações Marinha, que poderiam, a partir de sua de afeto, embora mostrasse preocupação análise, retirar importantes lições táticas com o bem-estar de seus amigos e de sua e estratégicas. Dessa forma, suas aulas família. Normalmente possuía bom humor, no RNC tinham o propósito de “educar” embora contido. Laughton era um homem os seus alunos por meio da história naval, voltado para a família, para a RN e para o sendo que Horatio Lorde Nelson lhe servia desenvolvimento da história naval na Ingla- de exemplo de como combater no mar. A terra e no mundo de língua inglesa. Tinha genialidade de Nelson era descrita por ele grande preocupação com a preservação da com naturalidade, procurando não endeusá- documentação naval, procurando estabele- lo como um exemplo a ser seguido em todas cer e consolidar a profissão de historiador as circunstâncias. Possuía um refinado tato naval no Reino Unido, congregando e para tratar com seus pares e uma grande

49 JEFFERIS, Julie. Focus on People and Migration. Texto sobre a população do Reino Unido no passado, presente e futuro, 2005, p. 3. Disponível em: www.statistics.gov.uk/downloads/theme_compendia/fom2005/01_fopm_ population.pdf. Acesso em 12 de agosto de 2010. 50 GAY, Peter. Guerras do Prazer. A experiência burguesa da Rainha Vitória a Freud. V.5. Trad: Rosaura Ei- chemberg. São Paulo: Companhia das Letras, 2001, p. 29. 51 LAUGHTON, John Knox. Lecture Series Lent 1902. Fonte: LAMBERT, Andrew. Letters and papers of Pro- fessor Sir John Knox Laughton. op. cit. p. 213.

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racionalidade e se considerava um gentle- Laughton temia a perda de poder do Reino man. Sua preocupação com os detalhes era Unido no mundo, embora considerasse que grande e se esforçava em analisar um fato essa alteração de poder custaria a ocorrer. A histórico em todas as suas contingências. O RN seria um elemento que poderia impedir NRS foi uma realização importante na vida essa perda de prestígio, imaginava Lau- de Laughton, e a essa sociedade dedicou ghton. Ao mesmo tempo, ele não percebia muitos anos de sua vida, assim como ao a emergência de novos poderes navais, King’s College e ao RNC. como os Estados Unidos da América e o Politicamente, Laughton era um conser- Japão, como ameaças à Marinha Real no vador e crente no papel histórico do Reino Pacífico.54 Como imperialista, Laughton Unido no mundo, sendo a RN a ponta de não via com bons olhos qualquer mudança lança civilizacional de seu amado império. política em seu Reino Unido, da mesma Tinha plena consciência no papel civiliza- forma que não admitia que grupos nacio- dor do Reino Unido e nais dentro do império considerava que seu buscassem autonomia e país tinha uma tarefa Os últimos anos de sua independência, e men- sagrada de “civilizar” vida foram de intensa cionava explicitamente os menos desenvol- correspondência o caso dos habitantes vidos. Ele via com da Ilha de Malta, parte admiração a difusão com Alfred Mahan, integrante do império. da língua inglesa no principalmente pelo Para ele, os malteses mundo, em rincões não eram historicamen- como América do interesse de ambos por te provenientes da ilha Norte, África do Sul, Nelson e, assim, não tinham Austrália, Índia, sem * * * “a menor pretensão de contar as ilhas domi- Laughton iniciou uma direitos políticos de nadas pelo Reino Uni- qualquer espécie”.55 do, agindo como uma campanha para estabelecer Mesmo não sendo forma de colonização um departamento religioso, era ligado e disseminação do es- formalmente à Igreja pírito do povo inglês, de história naval na da Inglaterra, um dos embora reconheces- Universidade de Londres requisitos para entrar no se que a colonização King’s College, embora francesa foi superior seguisse os fundamen- à inglesa52. Concordava, dessa forma, com tos moralistas calvinistas56. Da mesma as ideias de Joseph Chamberlain, que o his- maneira que os seus contemporâneos da toriador Niall Ferguson considerou o “pri- classe alta inglesa, Laughton viria a atingir meiro político imperialista genuinamente 85 anos de idade. Como diria o próprio autoconsciente”.53 Como Chamberlain, Laughton, ser instrutor naval como ele

52 Ibidem, p. 214. 53 FERGUSON, Niall. Império. op. cit. p. 264. 54 SCHURMAN, Donald. The Education of a Navy. op. cit. p. 102. 55 LAUGHTON, John Knox. “Hardman´s History of Malta”. Edinburgh Review. Edinburgh, 1910, p. 214 apud Idem. 56 LAMBERT, Andrew. Letters and papers of Professor Sir John Knox Laughton. op. cit. p. 103.

RMB2oT/2013 97 JOHN KNOX LAUGHTON: um Historiador Naval com “tato, habilidade e bom humor”

requeria “tato, habilidade e bom humor”57. sociado na University College, em Londres. Era certamente um homem de tato, habili- Nesse mesmo ano de 1907, Laughton foi de- dade e bom humor. clarado cavaleiro da Ordem do Banho pelo rei da Inglaterra, Eduardo VII, em razão de OS ÚLTIMOS ANOS DE VIDA suas realizações no campo da história naval. Em 1910, Laughton se aproximou dos Os últimos anos de sua vida foram de in- 80 anos de vida e começou a diminuir suas tensa correspondência com Alfred Mahan, atividades acadêmicas. Nesse ano recebeu a principalmente pelo interesse de ambos Medalha de Ouro Chesney do Rusi por suas por Nelson. A Universidade de Londres, atividades no NRS e em consideração por suas naquele início de século, incorporou o “valiosas contribuições na literatura naval”58. King’s College, fazendo com que Laughton Em 1912, em razão da idade, resignou de se agregasse a seu corpo docente como sua cadeira no King’s College, ao mesmo professor de história imperial, o campo da tempo em que se afastou da secretaria de seu história que estudava o Reino Unido e sua querido NRS, mantendo, no entanto, contato interseção com a história naval. A partir com a Universidade de Londres como pales- da fundação dessa cadeira universitária, trante eventual. A partir daí, o NRS passou a Laughton estabeleceu uma tradição que se ser dirigido por Sir Julian Corbett, Reginald estende até hoje no King’s College, uma Custance e Graham Greene. cadeira voltada exclusivamente para o Laughton, embora afastado das atividades estudo da história naval no Reino Unido, executivas e docentes do NRS e do King’s batizada como Sir John Knox Laughton College, continuou a incentivar a publica- Chair of Naval History, estando ocupada na ção de documentos primários e a proferir atualidade pelo professor Andrew Lambert. palestras especiais sobre história naval. Em Em verdade, Laughton iniciou uma cam- 1913 ministrou palestra sobre a historiografia panha para estabelecer um departamento de naval britânica no Congresso Internacional de história naval na Universidade de Londres, Ciências Históricas em Londres, alertando contando com o apoio do conhecido professor os historiadores a estudarem a história naval Albert Pollard, dessa universidade, responsá- britânica, em razão da própria importância vel pelos cursos de pós-graduação. Pollard, da Marinha Real na história do Reino Unido. em sua palestra inaugural no curso de história No início da Grande Guerra, Laughton já no ano de 1904, diria que “o primeiro e mais estava afastado das atividades, embora con- importante assunto é o estudo da história tinuasse a acompanhar as ações militares e naval”. O propósito de Laughton com esse navais da guerra. Em dezembro daquele ano, departamento era preparar historiadores navais tomou conhecimento da morte de seu grande no Reino Unido, no nível de pós-graduação, amigo Alfred Mahan, adiantando-se para em resposta ao aumento das atividades da RN. escrever um obituário que acabou não sendo Em 1902, seu grande amigo Samuel Gar- publicado. Sua saúde estava debilitada em ra- diner, depois de um severo derrame cerebral, zão de sua avançada idade (viria a comemorar faleceu, o que o deixou muito abatido. Dois 85 anos de idade em 23 de abril de 1915). anos depois, Laughton recebeu o título de Em setembro de 1915, Laughton fale- doutor honoris causa pela Universidade de ceu, deixando viúva e nove filhos, sem ver Oxford e, em 1907, foi feito pesquisador as- realizar-se o seu sonho: a criação do depar- 57 LAMBERT, Andrew. The Foundations of Naval History. op. cit. p. 18. 58 Ibidem, p. 204.

98 RMB2oT/2013 JOHN KNOX LAUGHTON: um Historiador Naval com “tato, habilidade e bom humor” tamento de história naval no King’s College. Rio Tâmisa, a bordo do Encouraçado HMS Em obediência a seus desejos, Laughton foi Conqueror, da Marinha Real, sua grande cremado dois dias depois de sua morte, e suas paixão. Ele realmente foi um historiador cinzas foram lançadas ao mar no estuário do naval “com tato, habilidade e bom humor”. 1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; História marítima; História naval; Historiador;

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RMB2oT/2013 99 O CASO COSTA CONCORDIA*

CARLOS NORBERTO STUMPF BENTO** Capitão de Mar e Guerra (RM1) RAFAEL BARBOSA SILVA Aspirante JOÃO DO AMARAL ARAÚJO Aspirante THIAGO LUIZ FROTA SOARES Aspirante

SUMÁRIO

Introdução Antecedentes A colisão As avarias O abandono do navio Ensinamentos obtidos

INTRODUÇÃO de outros setores de ensino de navegação da Marinha do Brasil. Dentre os vários as­ m 13 de janeiro de 2012, o Navio de suntos que foram apresentados e discuti- EPassageiros Costa Concordia sofreu dos, com farto conteúdo sobre Liderança, um acidente quando nave­gava ao largo da o presente artigo abordará somente os costa italiana, tendo o fato repercutido in- julgados de maior relevância, relacio- ternacionalmente, com acompanhamento nados com alguns fundamentos navais, em tempo real pela internet. O estudo do a navegação, a pro­pulsão, o controle de caso, em vista das suas implicações na avarias, o abandono do navio, e atribui- segurança da navegação, foi motivo da ções e responsabilidades do comandante, realização de um seminário na Escola além de alguns aspectos não enfocados Naval (EN), o qual contou com a presença no Seminário.

* Matéria publicada na Revista Villegagnon de 2012. ** O CMG Norberto é instrutor de Navegação da Escola Naval. O CASO COSTA CONCORDIA

navio e navegar próximo ao pequeno porto de Giglio. A aproximação de águas restritas e a baixa visibilida­de noturna decorrente da inexistência de sinalização náutica lumino- sa no local1, e mesmo de alguma ilu­minação urbana, contribuíram para que o navio, que se aproximava de terra na velocidade de 16 nós, efetuasse, segundo o próprio coman- dante, uma guinada tardia, vindo a colidir com uma rocha que aflorava à superfície. Durante a colisão, o navio sofreu uma drás- Figura 1 – Esquema da situação tica redução de velocidade para 6 nós e teve uma ruptu­ra de mais de 50 metros de extensão ANTECEDENTES no seu casco, arrancando do fundo marinho um pedaço de rocha, que pode ser vista incrustada O Costa Concordia, que já vinha reali- na carena2 do navio na foto central da figura 2. zando cruzeiros­ turísticos pelo Mar Medi- Mais tarde, o comandante desembarcaria terrâneo por seis anos, possuía comprimen- em terra, alegando que já havia realizado to de 293 metros, desloca­ mento de aproximadamente 114 mil toneladas, calado de 8,2 metros e transportava em suas 1.500 cabines um total de 4.890 pessoas. O navio desatracou do porto de Civitavecchia, Itália, às 19 horas do dia 13 de janeiro de 2012, e se dirigia para a locali- dade de Savona, num rotineiro Figura 2 – Deriva do navio com o vento e corrente, e o encalhe na Ilha de Giglio cru ­zeiro pelo Mediterrâneo, quando, nas proximidades da Ilha de Giglio, saiu da derrota costumeira e demandou aquela ilha, onde pretendia efetuar uma manobra de ­nominada inchino, que consistia em passar com o navio ao largo da pequena cidade de Giglio e saudar um ex-tripulante do navio que residia naquela locali­dade (figura 1). Figura 3 – Trecho da animação elaborada na EN, A COLISÃO que reconstitui por meio de um modelo 3D de um navio de passageiros genérico,­ a cinemática do acidente, com base nos dados fornecidos pelo Às 21h35 do mesmo dia, o comandante AIS (Automatic Identification System). (Vídeo assumiu o controle manual para manobrar o disponível em http://youtu.be/j6HeYQXJHWo)

1 Existia apenas um farolete situado na entrada do porto de Giglio (figura 6 – direita). 2 Carena – Parte do casco que fica total ou quase totalmente imersa. É um termo empregado muitas vezes em lugar de obras vivas, mas significa com mais propriedade o invólucro do casco nas obras vivas (Arte Naval – Vol. I)

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manobra semelhante por três ou quatro ve- zes e que a rocha não estaria re­presentada na carta náutica, no que foi logo desmenti­do por um exemplar da carta náutica afixado em uma parede de uma dependência do porto de Giglio.

AS AVARIAS Figura 4 – Esquema da avaria no sistema de propulsão azipod e no sistema Após a colisão, o de geração de energia a bordo navio foi perdendo ainda mais ve­locidade e adquirindo uma possível inclinação, como a que ocorreu pequena banda3 para bom­bordo. Na ten- no encalhe e prejudicou o arriamento de tativa de compensar tal inclinação, o co­ balsas e embarcações de salvatagem (de- mandante decidiu dar este mesmo bordo talhe central da figura 3), como veremos para o vento, guinando para boreste e se mais adiante, além da perda de vidas por afastando de terra, o que também diminuiria afogamento, aqueles que estives­sem na a probabilidade de outra colisão. Pouco água, cuja temperatura era de 14o C, teriam tempo depois, o navio ficou à matroca4 e, uma sobrevida6 de no máximo três horas, apesar de o comandante alegar que usou com 50% de probabilidade de perda de os hélices de proa (bow-thrusters) – figura consciência, resultando possivelmente em 8/foto 2 –, que ainda funciona­vam, para morte em cerca de uma hora. aproximar-se da ilha e encalhar, evitando O Costa Concordia contava com um com isso o naufrágio em águas profundas, moderno sistema de propulsão azimutal sabe-se que esse equipamento por si só não denominado azipod diesel-elétrico, que possui capacidade para tal, tendo sido o consiste de um motor elétrico ex­terno navio efetivamente levado para terra pela acoplado ao casco do navio, e que tem a ação do vento e de correntes reinantes na capaci dade­ de girar 360o em torno de seu área (figu­ra 2), os mesmos fatores que eixo vertical. Dessa forma, tal sistema possivelmente podem ter contribuído para elimina a necessidade de leme, já que o a colisão durante a guinada (figura 3). hélice faz o seu papel. Além disso, ao se Neste ponto, cabe destacar que, se o manobrar com o azipod, também se dire- navio tivesse soçobrado5 em águas pro- ciona o fluxo de água. Esse conjunto leme- fundas e a situação fosse agravada por uma hélice, além de vantagens como redução de

3 Banda ou adernamento – é a inclinação para um dos bordos. O navio pode estar adernado, ou ter banda para boreste ou para bombordo. A banda é medida em graus (Arte Naval – Vol. I). 4 À matroca – à deriva. Quando o navio é levado por vento, maré ou corrente, sem arrastar as âncoras ou a amarra, o navio não está à garra; diz-se que vai à tona, ou à matroca (Arte Naval –Vol. II). 5 Soçobrar – Afundar, naufragar (Dicionário Aurélio). 6 Tabela de sobrevida em água gelada. (http://www.tc.gc. ca/eng/marinesafety/tp-tp13822-section3-1433.htm).

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Figura 5 – Fotos do Seminário Caso Costa Concórdia apre­sentado pelos aspirantes Barbosa Silva, Frota e Amaral no Auditório Greenhalgh, Escola Naval

peso a bordo e economia de combustível, dois minutos, o navio apagou e perdeu a dispensa de uso de engrenagens redutoras, propulsão e o governo. eixos pro­pulsores, motores de combustão principais, máquina do leme, mancais de O ABANDONO DO NAVIO escora etc., substitui o leme con­vencional e confere excepcional manobrabilidade ao O efeito das rajadas de vento de cer- navio mesmo em situ- ca de 20 nós sobre a ações de emergência área vélica7 do Costa (figura 4). Em cerca de dois minutos, Concórdia empurrou O navio contava o navio apagou e perdeu a o navio lentamente em também com seis gera- direção à ilha. Com a dores a die­sel, cada um propulsão e o governo força do vento e, pro- tão grande quanto um vavelmente, devido ao micro-ônibus, e que geravam uma potência efeito de superfície livre8, toda a água que combinada de aproximadamente­ 100.000 estava a bombordo se deslocou para bores- cavalos-vapor. Tais geradores alimentavam te, causando uma banda permanente para dois grandes motores elétricos que, por sua este bordo, que foi se acentuando durante vez, acionavam­ os propulsores azipod. a deriva do navio em direção à ilha. Às No entanto, uma vulnerabilidade desse 22h44, o navio encalhou em umas pedras sistema foi sentida naquele acidente, por nas proximidades do porto de Giglio. ser o mesmo totalmente dependente da A dimensão e a extensão do rasgo no energia fornecida pelos geradores elétri­ casco, abaixo da linha-d´água, condenaram cos, os quais, por questão de estabilidade o navio ao naufrágio. Se­gundo os próprios do navio, se localizavam abaixo da linha- engenheiros projetistas do Costa Concordia, d’água, coincidentemente próximos do ele seria capaz de flutuar com no máxi­mo dois local onde ocorreu a ruptura do casco, o compartimentos estanques alagados, e o rasgo que contribuiu para o alagamento inicial efetivamente permitiu o alagamento de três do compartimento­ dos geradores e grada- a quatro. Além disso, devido à pane elétrica, tivamente de todo o navio. Em cerca de não foi possível iso­lar todos os compartimen-

7 Área vélica – termo oriundo da navegação a vela, que indica a área exposta à ação do vento (nota do autor). 8 Superfície livre – efeito que surge quando a superfície da água em um compartimento estiver livre para se mo­ vimentar de um bordo para o outro, prejudicando a estabilidade do navio. (http://www.mar.mil.br/caaml/ passadi­co/2006/11osefeitos.pdf)

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Figura 6 – Fase final do abandono noturno e situação final do navio encalhado (Fontes: Guarda Costeira Italiana e Portal Naval)

tos, visto que as portas estan­ques possuíam nham do porto. No entanto, tal adernamento travas elétricas automáticas acionadas por continuou a se acentuar até atingir aproxi- sensores de alagamento, mas que não funcio- madamente 70 graus, com o navio já par- naram após o “apagão” do navio. cialmente afundado na posição final em que O comandante, mesmo assessorado por permaneceu depois do acidente (figura 6), membros da tripulação, sem a noção exata sendo interrompido completamente o res- da gravidade da situação, retardou muito gate daqueles que ain­da restavam a bordo. em determinar o abandono do navio, o que Outro aspecto relevante é que, em diver- somente foi feito quando o mesmo encalhou sos navios de passageiros, o treinamento na Ilha de Giglio e começou a adernar acen- para abandono é nor­malmente feito no tuadamente. Segundo a segundo dia de viagem. mídia italiana, a ordem Como o acidente foi no de “abandonar o na- A ordem de “abandonar o primeiro dia, não hou- vio” foi dis­seminada ve o adestramento­ dos mais de uma hora navio” foi dis­seminada mais passageiros para tal tipo após a colisão com a de uma hora após a colisão de emergência, o que, rocha. Às 23h15 (17 aliado à acentuada in- minutos após o iní- com a rocha clinação do navio, pre- cio do abandono), o judicou muito o resgate. Costa Concordia, já encalhado, começou Diversos jornais divulgaram que o a adquirir banda crescente para boreste, comandante teria omitido da tripulação conforme declarado por um passageiro. informações sobre a exis­tência da avaria no Ao atingir 20 graus de inclinação, todos os casco e a gravidade da situação, informando botes e balsas salva-vidas de bombordo se se tratar apenas de um problema elétrico tornaram inutilizáveis, o que reduziu pela (no princípio, a única avaria percebida metade a velocidade do desembarque dos pelos passagei­ros foi uma pane do sistema passageiros (detalhe central da figura 3). elétrico). O desconhecimento­ da situação Por outro lado, o adernamento do navio em pelos passageiros contribuiu ainda mais deter ­minado momento aproximou um dos para o agravamento da situação. conveses abertos do mar o suficiente para A omissão de informações prestadas à que vários passageiros fossem resgatados Capitania dos Portos sobre a real situação do por pequenas embarcações que iam e vi- navio, sobre o fato de que o comandante não

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se encontrava mais a bordo, sobre o número costado, permitindo o término do resgate de pessoas ainda a bordo, o número de mortos dos passageiros às escuras durante a ma- etc. concorreu para que o capitão dos portos, drugada (figura 6 – esquerda). que era o comandante da cena de ação, tivesse Ao todo foram contabilizadas 32 mortes, dificul ­dade em avaliar adequadamente as cir- sendo que dois corpos ainda continuam cunstâncias e conduzir as ações necessárias. desaparecidos. O abandono prematuro do navio pelo comandan ­te, com a alegação do mesmo ENSINAMENTOS OBTIDOS de que estaria dessa for­ma coordenando melhor a faina de abandono a bordo de O estudo do caso motivou, além da cria- uma pequena embarcação, perdeu sentido ção da animação reconstituindo a cinemática Figura 6 – Fase final do abandono noturno e situação final do navio encalhado (Fontes: Guarda Costeira Italiana e Portal Naval) quando ele desembarcou na ilha e se dirigiu do acidente, a reconstituição de uma manobra a um hotel, enquanto grande parte dos tripu- tardia no simulador de avisos de instrução lantes ainda permanecia­ em risco a bordo. da Escola Naval, obtendo um resultado si- Em diversos depoimentos prestados a milar ao ocorrido com o Costa Concor­dia, jornais e programas de televisão, vários demonstrando mais uma vez a importância passageiros afirmaram que haviam perdido desse tipo de ferramenta de ensino na forma- a esperança ao perceberem a situação em ção de aspirantes da EN (figura 7). que se encontravam. Felizmente, em meio O navio era equipado com o Sistema de a ações de heroísmo de alguns tripulantes, Apresenta ­ção de Cartas Eletrônicas e Infor- uma escada de quebra­peito foi instalada mações (Ecdis9), um moderno sistema que pelos conveses inclinados e lançada pelo possui a capacidade de integrar diversos

Figura 7 – Tomadas da simulação do acidente feita no Simulador de AvIn da EN (Vídeo disponível em http://youtu.be/WHpI7kmEov0)

9 Ecdis (Electronic Chart Display and Information System) – O equipamento é obrigatório para novos navios de passageiros (com deslocamento superior a 500 ton.) desde julho de 2012 e será obrigatório para os atuais navios de passageiros até julho de 2014. (Regulamento V19 da SOLAS – Convenção Internacional para Salvaguarda da Vida Humana no Mar).

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sensores e equipamentos do navio, como o O acompanhamento em tempo real do radar, a agulha giroscópica e o AIS, e que acidente só foi possível em virtude dos da- visa auxiliar o navegan­te no planejamento dos do AIS estarem disponíveis na internet e na execução da derrota. Além disso, o (a figura 1 exibe alguns navios sendo acom- sistema é dotado de alarmes de alerta na panhados). Provavelmente as empresas de ocorrência de situações perigosas à nave- navegação passarão a usar tal ferramenta, gação. Quando o comandante assumiu o não só para monitorar seus na­vios, mas controle manual do governo do navio, os também para interferir em decisões de des­ alar ­mes do Ecdis foram desligados, junta- vios de derrota não previstos. mente com o pilo­to automático, passando Outro aspecto que pode vir a ser ava- o comandante a rea­lizar uma navegação liado pelas su­pracitadas empresas seria visual, inadequada para a situação. uma determinação para que o comandante Ao se analisar a manobra de aproxima- que se encontre em situação semelhante ção, percebe­mos que, a despeito dos anos procure avaliar rapidamente a possibili- de experiência embar- dade de varar10 logo cado do comandante o navio, abicando em e de o mesmo já ter O comandante que se uma praia, diminuin- realizado mano-bras encontre em situação do a probabilidade semelhantes, ficaram de perdas de vidas. evidentes a falta de semelhante deve avaliar Essas perdas, no caso uma pre­paração espe- rapidamente a possibilidade em questão, só não cial para aproximação de varar logo o navio, foram mais numero- de águas restritas; a sas graças aos fatores imprudente dispensa abicando em uma praia, ambientais. de modernos equipa- diminuindo a probabilidade Caso o Costa Con- mentos de navegação; cordia não tivesse a desconsideração em de perdas de vidas conseguido chegar em relação aos perigos de águas rasas, não pode- uma navegação visual com baixa visibi- mos deixar de fazer um paralelo com o epi- lidade noturna; e o desconhecimento dos sódio do naufrágio do RMS Tita ­nic, ocorrido fatores ambientais reinantes. há cem anos, que foi também motivado por O acima exposto demonstra a impor- uma colisão no casco com alagamento de tância de tais equipamentos e dos proce- vários compartimentos, abandono caótico dimentos adotados em nos­sa Marinha, e afundamento com acentuada inclinação, onde, além da preparação e dos cuidados no caso, para a proa. Talvez as únicas que antecedem uma navegação em águas diferenças fossem um afundamento com restritas, inclui­-se o prévio fechamento de forte in­clinação para boreste e o efeito que compartimentos, vital em caso de alaga- o mesmo teria sobre o número de pessoas a mento e incêndio a bordo. Além disso, em bordo, que era mais que o dobro do Titanic, locais onde não haja praticagem, procurar o que muito possivelmente repetiria, no entender as características físicas e os fato- início de outro século, aquela inesquecível res ambien­tais da área torna-se crucial para tragédia da navegação, superando-a em um mínimo conhecimento­ do local. número de vítimas.

10 Varar – Varar o navio é fazer encalhar, pôr em seco o navio. (Arte Naval – Vol.II)

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Figura 8 – Tomadas em sequência de vídeo filmado a bordo do Navio-EscolaBrasil no porto de Civitavecchia (XVI VIGM) (Vídeo disponível em http://youtu.be/UVC9ozL0a1E) Quanto à propulsão azipod, suas van- a exigir pro­cedimentos obrigatórios de tagens são muito superiores à propulsão fechamento dos comparti­mentos quando convencional, a qual, em face da gravida- navegando em águas restritas. de da colisão, também seria gravemente Sobre o abandono do navio, avalia-se comprometida. As sequências de vídeo que possivel­mente surja alguma norma capturadas da figura 8 demonstram a alta determinando que os ades­tramentos de capacidade de manobra de embarcações abandono sejam realizados antes mesmo da equipadas com a propulsão a hidro­jato, desatracação do navio e que sejam revistos ideal para uso em águas rasas. Da mesma procedi ­mentos e equipamentos de aban- forma, a propulsão azipod, combinada com dono baseados nas iné­ditas dificuldades hélices de proa, possui a mesma capacidade enfrentadas nesse acidente marítimo. e é empregada em áreas mais profundas, Por último, talvez o mais importante permitindo que seja dispensado o au­xílio de ensinamen ­to: a necessidade permanente de rebocadores na atracação e na desatracação uma formação ade­quada e de uma constante do navio (detalhe central da figura 8). atualização profissional daqueles oficiais O fechamento automático de portas que, do passadiço de seus navios, tomam estanques por meio de sensores de alaga- decisões que possam vir a comprometer mento e travas elétricas, por ser dependente a se­gurança de seu navio, a segurança da de energia elétrica, foi inútil nesse tipo navegação, a salvaguarda da vida humana de acidente, sendo provável que se passe no mar e a preservação do meio ambiente.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Acidente marítimo; Avaria grossa; Marinha mercante da Itália; Direito Internacional Marítimo; Segurança da navegação;

RMB2oT/2013 107 CORVETAS SUCESSORAS DA BARROSO: Comparação de dois tipos de obtenção

RENÉ VOGT* Engenheiro

SUMÁRIO

Introdução Possíveis Requisitos de Estado-Maior (REM) Comentários sobre os REM Navios de referência Considerações sobre a obtenção das novas corvetas Custos, prazos e desempenho Concepções iniciais Configuração 1 – Projeto Conservador,Barroso modernizada Configuração 2 – Projeto Evolutivo I daBarroso Configuração 3 – Projeto Evolutivo II daBarroso Comparação entre as três configurações Custos de obtenção Prazos de obtenção Características de desempenho Disponibilidade, confiabilidade e apoiabilidade Conclusão final Apêndice A – Cálculos geradores das Configurações 1, 2 e 3 (Disponíveis mediante solicitação ao autor) Apêndice B – Siglas, símbolos, abreviações e definições

INTRODUÇÃO desempenho operativo, disponibilidade, apoiabilidade e confiabilidade. Na ob- ste é um estudo inicial. Seu propósito tenção do tipo conservador, considera-se Eé comparar preliminarmente dois pos- uma possível configuração de navio com síveis tipos de obtenção de corvetas: um o mesmo casco da Barroso, mas com conservador e um evolutivo. A comparação atualizações recomendáveis para alguns será feita sob os aspectos de custo, prazo, de seus sistemas e equipamentos. Na ob-

* Engenheiro civil, empresário e membro da Sociedade Amigos da Marinha de São Paulo (Soamar-SP). É segundo- tenente RM2-CA. CORVETAS SUCESSORAS DA BARROSO – Comparação de dois tipos de obtenção

tenção do tipo evolutivo, consideram-se será indispensável que a equipe de projeto duas possíveis configurações para um novo consulte exaustivamente a documentação navio derivado da Barroso, porém maior, existente e a experiência operativa, anali- tecnologicamente evoluído, militarmente sando o que se passou e tirando conclusões mais capaz e moderno. que deverão ser aplicadas no novo projeto. Recentemente, a Marinha do Brasil Para dar um mínimo grau de credibili- (MB) anunciou oficialmente a intenção de dade ao presente estudo, o autor escolherá construir quatro novas corvetas evoluídas alguns equipamentos cujas informações se da classe Barroso, sem prejuízo do projeto encontram disponíveis na literatura osten- de novos escoltas do Programa de Obten- siva. Todos os nomes, marcas ou modelos ção de Meios de Superfície (Prosuper). Se mencionados são uma opção do autor e de a intenção concretizar-se, será um grande sua livre escolha, sendo que as opiniões passo para reativar as equipes técnico-ge- aqui colocadas não representam a opinião renciais-operativas das quais dispúnhamos oficial da Marinha do Brasil. no período de 1980 a 1990. Naquela época, projetamos e construímos as quatro corve- POSSÍVEIS REQUISITOS DE tas classe Inhaúma, que na realidade era ESTADO-MAIOR (REM) uma série de quatro navios-protótipo (Ref. 42). Estas apresentaram alguns problemas Na medida do possível, o autor coletou que foram corrigidos no projeto da nova informações que permitissem especular classe Barroso, que, por vários motivos, sobre os possíveis Requisitos de Estado- teve seu projeto e sua construção muito Maior (REM) para a obtenção de uma nova demorados, incorporando-se à Esquadra classe de corvetas para a Marinha do Brasil. somente em 2008, cerca de 14 anos após Seguindo uma tendência mundial, a nova seu batimento de quilha. corveta deverá ser um meio razoavelmente A nova classe a ser projetada e constru- multifuncional, ou seja, uma plataforma ída poderá ser de um navio igual à Barroso capaz de realizar vários tipos de missões em com algumas modificações, se seguirmos águas territoriais com suas peculiaridades uma linha de projeto conservador. Con- de operações em litorais. tudo, haveria razões para se pensar num Em tempos de paz ou Operations Other projeto evolutivo, usando-se a Barroso Than War (OOTW), missões típicas para projetar um meio pouco maior, com incluem patrulhamento da Economical maior capacidade operativa e tecnologias Exclusive Zone (EEZ), restrição a contra- mais modernas. Tal poderia não ser risco bando e tráfico de drogas e armas, proteção demasiado em termos de custo-prazo- da riqueza mineral e pesqueira, controle desempenho. Contudo, provavelmente da poluição, Busca e Salvamento (SAR – pouco da experiência pessoal acumulada na Search And Rescue) e ajuda humanitária. Barroso será usada, pois a equipe técnico- Nas situações de crise em vários graus de gerencial que a gerou desfez-se no longo intensidade ou mesmo de guerra, a variedade hiato desde o projeto da Barroso. Pode-se de missões inclui, por exemplo, vigilância e dizer quase o mesmo da equipe do Arsenal reconhecimento, ataque com mísseis contra de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ) que navios e instalações costeiras inimigas, defesa detalhou o projeto e realizou a construção. contra operações anfíbias inimigas e apoio a Para o novo programa de projeto e operações anfíbias aliadas, guerra antissub- construção das quatro corvetas propostas, marino (ASW – Anti-Submarine Warfare),

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ações contra submarinos pequenos e silencio- c) Autonomia de mantimentos para sos utilizados na infiltração de comandos ou cerca de 25 dias. operações de minagem ofensiva, escolta de d) Raio de ação: Maior que 6.000 milhas meios navais de grande porte e de suprimento com velocidade de 18 nós (fuel endurance e proteção da navegação comercial aliada. = 15 dias de mar) e maior que 8.000 milhas Sendo um meio que opera essencialmente com velocidade de 15 nós (fuel endurance próximo às costas e em ambientes ruidosos = 25 dias de mar). com uma variedade de interferências (relevos, e) Velocidade máxima: 28 nós. nuvens, chuva e trovoadas, marés, radiofre- f) Disponibilidade: Disponibilidade de quência, navegação costeira, aves e animais 70% ou 256 dias/ano, com um mínimo marinhos), o conjunto de sensores eletrônicos de 150 dias de mar sem restrições, isto é, deve ser adequado a este ambiente, deman- com100% da propulsão e dos equipamen- dando tempos de reação extremamente curtos tos, sensores e armamentos plenamente para uma defesa eficaz contra vários tipos operacionais. Nos demais 106 dias de de ataques-surpresa, inclusive assimétricos. disponibilidade, pode-se aceitar algumas Entretanto, a corveta deverá ter caracte- restrições, desde que não comprometam a rísticas que lhe confiram boas qualidades segurança da tripulação e do navio. náuticas em alto-mar, pois o Brasil não tem g) Capacidade para abrigar e operar dois mares confinados, e sim o Oceano Atlântico helicópteros do porte igual ao Lynx Mk-21 e uma longa costa. A corveta deverá ser (MB), Super Lynx 300, AW-159 Wild Cat um meio naval com boa capacidade militar ou similar, mas hangaragem para somente para complementar ou substituir os escoltas um helicóptero. Espaço adicional e condições de grande porte em missões para as quais para a operação de um drone de asa rotativa estes não sejam de emprego adequado, da classe do Camcopter S-100 ou similar. possibilitando um dispêndio mais racional h) Sistemas eletrônicos de Electronic das verbas públicas na aquisição dos meios Support Measures (ESM), Electronic de superfície, obtendo um número maior Counter Measures (ECM), Electronic de meios com um bom equilíbrio bélico Intelligence (Elint), Signals Intelligence e melhor presença dissuasiva nos mares. (Sigint). Comunicações criptografadas na Pelo que foi exposto acima, supomos principais frequências (Satcom), capacida- que os seguintes REM possam ser desejá- de CEC (Cooperative Engagement Capa- veis para as novas corvetas: bility) e Network Centric Warfare (NCW). a) Missões: Essencialmente vigilância Despistadores de mísseis. e reconhecimento, defesa das águas terri- i) Radar 3-D phased array de busca/vi- toriais e EEZ, escolta de meios navais de gilância/rastreamento de alvos e direção de maior porte e navios mercantes, patrulha tiro, Radares 2-D phased array para busca de rotas de navegação e operações mili- de superfície e navegação, 1 diretora de ra- tares essencialmente no papel de defesa e diofrequência, 1 diretora optrônica, sistema vigilância. Capacidade de ataque limitada à Interrogation Friend-or-Foe (IFF) e sistema ação defensiva de curto raio de ação. Infra-Red Search and Track (IRST). b) Dimensões principais: Porte compa- j) Sonar de casco ativo/passivo de baixa/ tível com as qualidades náuticas exigidas. média frequência de tamanho e alcance Dimensões que permitam demandar qual- compatível com o porte do navio. quer porto nacional e ser docado na maioria k) Armamentos: Artilharia principal dos diques disponíveis em nosso território. multiemprego 1 de 114 mm ou 76 mm,

110 RMB2oT/2013 CORVETAS SUCESSORAS DA BARROSO – Comparação de dois tipos de obtenção

2 reparos de 40 mm ou 30 mm, Close-In Comentários sobre os REM Weaopon System (CIWS) e 2 de 30 mm anti-alvos assimétricos. Possibilidade de Item a) A corveta é um meio militar- montar vários reparos de calibres 7,62 mente capaz, mas com uma envergadura mm ou 12,7 mm operados manualmente, menor do que um escolta de grande porte. mísseis AAeW ou defesa de ponto, mísseis Este tem missões ofensivas em alto-mar, antinavio e alvos em terra. Torpedos leves embora também tenha capacidade para ope- ASW 2 reparos duplos internos. rar em litorais. No entanto, a corveta vem l) Sistema de Combate: Versão mais re- a ser o complemento para missões menos cente do Sistema de Controle Tático (Sicon- ambiciosas, sobretudo costeiras e litorais, ta) por ocasião da construção do primeiro da com missões de patrulha, escolta e defesa, classe. Deverá ter uma dimensão adequada para as quais o emprego do escolta maior ao perfil de missões da nova corveta. seria um desperdício de recursos. m) O conjunto de armas deve seguir uma Item b) As dimensões devem contem- tendência mundial para navios-escolta des- plar boas qualidades náuticas, permitindo ta classe. Deve haver uma flexibilidade de à corveta navegar em alto-mar, pois a costa emprego para cada tipo de missão, dentro brasileira tem características de mar aberto. do conceito fitted for but not with. O porte é importante para se obter uma n) Nacionalização: Terão prioridade boa autonomia, raio de ação, capacidade todos os itens que já são ou serão fabricados militar e qualidades náuticas. Contudo, e suficientemente apoiados no Brasil na tais dimensões devem também respeitar época em que forem iniciados os projetos a manutebilidade e a capacidade de apoio de concepção e apoio logístico integrado ao longo da costa brasileira, permtindo-lhe dos novos meios. Contudo, este critério demandar qualquer porto e navegação sem deverá contemplar o Custo de Obtenção dos restrições e poder ser docada e reparada no navios em função dos prazos e número de maior número possível de diques e oficinas. meios a serem obtidos pela MB. Itens c) , d) e e) Definem parcialmente o) Prazos: Para o primeiro da classe, sua capacidade operativa. após o término dos estudos de exequibilida- Item f) O requisito de disponibilidade de, concepção, preliminar e detalhamento, do navio implica a confiabilidade de utili- prevê-se um prazo de 36 meses para a zação do meio. Esta confiabilidade é obtida construção e 18 meses para testes de cais, mediante uma manutenção preventiva e mar e integração de sistemas. Antes de programada, chamada de Manutenção iniciar a construção do segundo da classe, Centrada na Confiabilidade ou, em inglês, o primeiro deverá passar ainda por mais 12 Reliability Centered Maintenance. meses de testes de avaliação operacional e Esse tipo de manutenção requer, desde de engenharia. Os demais três da classe de- o início do projeto do navio, a elaboração vem se suceder em intervalos de 18 meses. de apoio logístico integrado, que deverá p) Custos de obtenção: A nova corveta, prosseguir, reajustando-se, durante toda devidamente equipada com sensores e ar- a vida útil do navio, desde a incorporação mamentos, deverá ter um custo entre US$ até à baixa e o sucateamento. Ela se chama 260 milhões e US$ 300 milhões, segundo integrada porque integra todos os elemen- o padrão internacional corrente para esta tos de apoio e está intrinsecamente ligada classe de navio. Este custo não inclui o ou integrada ao projeto do navio, que leva helicóptero, drone ou outros acessórios. em conta a escolha dos equipamentos, os

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procedimentos adequados e a frequência de meio deve ser capaz de realizar mais do que manutenção preventiva para todos os com- apenas uma missão dedicada. ponentes do navio e baseados, também, nas No presente estudo, a Barroso moder- informações dos fabricantes/fornecedores nizada continua sendo equipada com o sobre os respectivos Mean Time Between armamento atual: canhão principal de 114 Failures (MTBF), Mean Time Between mm e secundário de 40 mm, embora nas Overhauls (MTBO) e Mean Time Between versões mais modernas, Mk-8 Mod. 1 e Replacement (MTBR), todos estes fatores Mk-4 da BAe Systems, respectivamente, decisivos na estimativa da Disponibilidade como fator simplificador e não suscitar Operacional do meio. polêmicas improdutivas num momento No escopo do apoio logístico integra- de urgência de obtenção dos novos meios. do, deve-se seguir uma tendência atual Item l) O índice de nacionalização deve de incluir os fornecedores escolhidos na ser contemplado com certo cuidado para logística, obrigando-os a assumir contra- não se impactar o custo de obtenção das tualmente a responsabilidade por todas corvetas. Antes de mais nada, devem ser as informações fornecidas sobre seus definidos o número de corvetas a serem equipamentos, a manutenção regular com obtidas e seus prazos de construção e co- pessoal especializado próprio, assistência missionamento. Em segundo lugar, avaliar aos técnicos de Bases Navais e do AMRJ todos os itens que já são produzidos no e a disponibilização tempestiva de so- País. Terceiro, verificar quais produtos bressalentes, ou apoiabilidade, em prazos não são produzidos nacionalmente, mas especificados contratualmente. cujos fabricantes estão estabelecidos no Fundamental para definir o nível de Brasil. E, finalmente, os produtos e itens disponibilidade do navio é a elaboração de que precisam ser comprados no exterior uma escala de prioridades para os diversos de firmas sem representação no Brasil, equipamentos a bordo segundo seus MTBF, com maior rigor contratual sob a ótica do fornecidos pelos respectivos fornecedores. apoio logístico integrado. O número de Esta escala de prioridades deve definir os meios previstos será crucial neste balanço sistemas e equipamentos que impedem o de nacionalização versus custo de obtenção. navio de suspender e quais permitem ao na- Finalizando, um item deve ser cláusula vio suspender com restrições. Além disso, pétrea do projeto “corveta”, independente- o cruzamento das informações dos MTBF mente do custo a ser incorrido: a aplicação de cada equipamento nesta escala de priori- continuada do sistema Siconta. Se uma dades indicará entre eles o menor intervalo avaliação sugerisse que o Siconta fosse de tempo, que será o fator decisivo para incompatível ou inferior à aptidão exigida determinar os intervalos de manutenção para operar os sistemas escolhidos acima, preventiva para o navio como um todo. ele deveria ser aperfeiçoado para equipar Itens h) a m) O novo escolta deverá apre- pelo menos os últimos navios da série e ser sentar uma característica de flexibilidade depois introduzido nos primeiros, durante operacional compatível com seu porte e as primeiras atualizações. custo de aquisição. Atualmente, em todas as Marinhas do mundo há uma busca de NAVIOS DE REFERÊNCIA redução de custos operacionais e número de meios, pois os orçamentos militares O autor resume o resultado da coleta de estão encolhendo. Desta forma, cada novo informações mais detalhadas sobre os meios

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a serem comparados, sendo que na mídia namos uma gama de meios atuais de várias especializada aparecem somente aqueles Marinhas e procedências, cujas dimensões dados que são os mais óbvios e menos estudaremos para comparar com aquelas que comprometedores. Na tabela no 1, relacio- melhor nos convêm.

Tabela no 1: COMPARATIVA DOS PARÂMETROS DE CORVETAS MODERNAS

01 02 03 04 05 06 DADOS BARROSO K-130 MEKO MEKO MEKO 100 LEKIU (Alemanha) A-100 TYPE 621 KEDAH RMN (Alemanha) (Polônia) (Malásia) (Malásia) LOA (m) 103,4 89,1 91,1 95,2 91,1 106,0 LWL (m) n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. BWL (m) 11,4 13,2 11,8 13,1 12,6 12,8 T (m) 4,0 3,4 4,4 3,6 3,4 3,1 LWL/BWL n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. Desl.Max ( t) 2.350 1.840 1.650 2.035 1.850 2.270 Vel.Max(kts) 25+ 26+ 22+ 30 22+ 28 Auton. (dias) n.d. 7 n.d. n.d. 10 n.d. Raio A. (nm) 4.000/n.d. 2.500/15 6.000/15 4.000/15 6.000/12 5.000/n.d. Propulsão Codog Codad Codad Codad Codad Codad 14,8 MW 11,0 MW 11,0 MW 29,6 MW Tripulação 154 65 78 + 15 74 78 146 Artil. Princ. 1 x114 mm 1 x 76 mm 1 x 76 mm 1 x 76 mm 1 x 76 mm 1 x 57 mm Artil. Sec. 1 x 40 mm 2 x 27 mm 1 x 30 mm 2 x 35 mm 1 x 30 mm 2 x 30 mm AAeW 2 x RAM 1 x RAM 1 x RAM 16 x SeaWolf ASuW 8 x MM40 4 x RBS-15 8 x MM40 8 x RBS-15 8 x MM40 ASW 2 x LWT 2 x LWT Helicóptero He 1 x Lynx 1 x Lynx 1 x SH70B 1 x Lynx 1 x Lynx ou 1 x Lynx c/ Hangar s/ Hangar 1 x SH70B Drone S-100

07 08 09 10 11 12 DADOS FLORÉAL OPC USCG BAM SIGMA MILGEM KHAREEF (França) (USA) (Espanha) (Holanda) (Turquia) (Oman) LOA (m) 93,5 108,0 93,9 105,1 99,6 99,0 LWL (m) n.d. 96,0 n.d. n.d. n.d. n.d. BWL (m) 14,0 n.d. 14,2 13,0 14,4 14,6 T (m) 4,3 n.d 4,2 3,8 3,9 4,1 LWL/BWL n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. Desl.Max ( t) 2.950 n.d. 2.500 2.400 2.300 2.660 Vel.Max(kts) 20 25 20+ 30 30 25 Auton. (dias) n.d. 10 10 Raio A. (nm) 10.000/15 7.500/ 8.700/ 4.000/18 3.500/15 4.500/ Propulsão Codad Codag Codoe Codad Codag Codad 25,9 MW 18,5 MW 31,6 MW Tripulação 88 75 35 + 35 100 + 20 93 + 13 100 Artil. Princ. 1 x 100 mm 1 x 57 mm 1 x 76 mm 1 x 76 mm 1 x 76 mm 1 x 76 mm Artil. Sec. 2 x 20 mm 2 x 25 mm 1 x 30 mm 2 x 12,7 mm 2 x 30 mm AAeW RAM/ESSM 12 Mica VL ASuW 8 x MM40 8 x Harpoon 8 x MM40 ASW 2 x LWT He 1 x Panther SH70B 1 x NH-90 1 x Lynx S-70B 1 x Lynx c/Hangar c/Hangar c/Hangar c/Hangar c/Hangar c/Hangar RMB2DroneoT/2013 UAV 113 CORVETAS SUCESSORAS DA BARROSO – Comparação de dois tipos de obtenção

Os preços informados pela mídia espe- imperfeições de projeto ou construção que cializada (http://newwars.wordpress.com/ prejudiquem o desempenho e a apoiabili- warship-costs/ e Naval Forces [Ref. 44 e dade), antes da incorporação da nova cor- 45] referem-se aos navios completos com veta. Mas, dependendo do prazo previsto armamentos, mas sem mísseis, torpedos, para a incorporação do primeiro da classe, munições e helicópteros orgânicos ou reduzem-se as chances de evoluir para um drones. novo projeto mais moderno, limitando-nos a uma mera (ainda que melhorada) reprodu- Considerações sobre a obtenção das ção da Barroso. Leitura recomendada: “A novas corvetas Busca da Grandeza V” do VA (Refo-EN) Elcio de Sá Freitas (Ref. 50). Devido ao intervalo de mais de 20 anos Os custos de obtenção e do ciclo de até hoje decorrido desde o início do projeto vida dos navios serão definidos por requi- da Barroso, e de mais de seis anos desde sitos operacionais, número total de meios seu comissionamento, a experiência obtida a serem adquiridos, prazos de construção com o programa de construção das corve- de cada navio, prazo para a incorporação tas Inhaúma e Barroso foi possivelmente do primeiro da classe, intervalos entre as perdida, salvo o conhecimento devida- construções sucessivas e custos de manu- mente documentado e ainda recuperável. tenção e modernização. As plataformas Esta descontinuidade nos fez perder a seriam idênticas em todos os navios da oportunidade de continuamente atualizar e classe, bem como os sistemas de combate renovar as equipes técnico gerenciais for- e armas. Os perfis das missões da corveta madas durante aquele programa. Somente não demandam configurações diferencia- trabalhos contínuos com novos projetos e das, sendo que uma única configuração de construções de meios navais asseguram a sistema de combate e armamento atenderia experiência, a consolidação e a atualização ao conjunto de requisitos operacionais. dos conhecimentos. Como parte do projeto, deve ser formu- Mesmo com a documentação técnica lado o Apoio Logístico Integrado. Como disponível sobre as classes Inhaúma e Bar- base inicial, os candidatos a fornecedores roso, o bom senso aponta na direção de um deverão incluir em suas propostas dados so- projeto inovador, aproveitando-se a evolu- bre confiabilidade, manutebilidade e apoia- ção da tecnologia nestes últimos 20 anos. bilidade de seus sistemas e equipamentos, Assim, uma nova corveta será na realidade sob a condição de serem eles mantidos e um novo protótipo evolutivo, ou seja, evo- expandidos antes da assinatura do contrato. luído de meio(s) idêntico(s) anterior(es). O autor recomenda a leitura dos artigos Como tal, o primeiro da classe demandará “O Processo de Obtenção de Sistemas de o tempo necessário para as diversas etapas Defesa”, do CMG (RM1) Paulo Rui de clássicas de projeto (exequibilidade, con- Menezes Capetti (Ref. 48), e “A Busca da cepção, preliminar, contrato e construção), Grandeza VI”, do VA (Refo-EN) Elcio de o tempo de construção propriamente dito, Sá Freitas (Ref. 49). as provas de cais e de mar, quando serão Todo o processo de fornecimento para realizados os testes para integração de sis- construção e manutenção durante a vida útil temas, avaliação operacional (verificação do meio deverá ser estudado sob o ponto dos requisitos operacionais) e avaliação de vista estratégico, levando em conta o de engenharia (verificação de falhas ou perfil e a nacionalidade dos fornecedores,

114 RMB2oT/2013 CORVETAS SUCESSORAS DA BARROSO – Comparação de dois tipos de obtenção

suas instalações e parcerias no Brasil, se Devido à falta de novos projetos, a in- existirem ou não. A apoiabilidade depen- dústria, na maioria dos países, sofre com de de muitos fatores, mas existem alguns a contínua redução de recursos. Nenhuma fundamentais. O primeiro é o de haver indústria que depende do lucro para so- firmas no Brasil capazes de prover apoio breviver pode se dar ao luxo de manter significativo, associadas ou não a firmas uma capacidade e competências altamente estrangeiras. O segundo, serem essas fir- especializadas, apenas com a vaga espe- mas, se vencedoras de licitações, declaradas rança de receber uma pequena encomenda preferenciais para futuras manutenções dos a cada dois anos ou um grande pedido a sistemas que fornecerem. cada década. Sumamente importante será planejar Como consequência inevitável, muitas um programa de construção naval de longo áreas de trabalho e especialidades poderão prazo, com construções distribuídas ao lon- ser encerradas, ou mesmo firmas inteiras go do tempo e sem a preocupação de obter poderão ser fechadas. No futuro, nem um lote maior inicialmente. Desta forma, mesmo a mera manutenção de sistemas seria possível perenizar a ocupação da obsoletos encontrará um suporte industrial. indústria fornecedora, ocupando e fazendo Mas, ainda assim, numa tentativa de evitar evoluir a Base de Logística de Defesa, com estas consequências nefastas, o caminho dispêndios financeiros distribuídos equili- dos grandes projetos individuais que com bradamente ao longo do tempo. Na esteira grandes intervalos de tempos exigem o de um programa de longo prazo, temos máximo em recursos industriais deve ser adicionalmente os ciclos de modernizações abandonado. Em seu lugar devem entrar e reformas dos navios, que manteriam os projetos perenes, mais frequentes e menos estaleiros e as indústrias fornecedoras ocu- ambiciosos, com dispêndios equilibrados, padas, fechando um círculo virtuoso. Mas, que possibilitem uma contínua ocupação para realizar um projeto de longo prazo que da base industrial (Ref. 51). possa trazer os benefícios associados, seria imprescindível a provisão dos recursos or- Custos, prazos e desempenho çamentários e financeiros necessários. Os benefícios de tal programa são tangíveis. Custos, prazos e desempenho em pro- Um programa bem engendrado poderá gramas de projeto e construção de navios rapidamente aumentar o ritmo de construção de guerra dependem essencialmente de das novas corvetas, com o intuito de, num conhecimento e experiência. Para acu- segundo passo, acelerar a desincorporação mular experiência e transformá-la em das corvetas atuais, padronizando a classe conhecimento, é necessário um processo e sua manutebilidade/apoiabilidade e redu- sistemático e contínuo. Esse processo tem zindo os custos de obtenção e ciclo de vida. sido bloqueado por longas descontinui- A disponibilidade de uma Base Logísti- dades impostas aos programas navais da ca de Defesa eficiente e de alto desempenho Marinha do Brasil. como requisito para a manutenção de uma No caso das novas corvetas, existe o elevada apoiabilidade material dos meios conhecimento documentado da classe navais desempenha um papel importante Inhaúma e da Barroso. Mas as equipes de e, mesmo assim, sofre com os cortes con- projeto e construção desses navios quase tínuos dos orçamentos militares atuais em totalmente se desfizeram no hiato de 20 nível global. anos desde o início do projeto da Barroso.

RMB2oT/2013 115 CORVETAS SUCESSORAS DA BARROSO – Comparação de dois tipos de obtenção

Há novos engenheiros, técnicos e operários gramas de outros países mais evoluídos, com boa formação. Porém só num novo e o segundo da classe só deveria ter sua programa naval eles se tornarão experien- construção iniciada cinco anos após o ba- tes. Esta afirmação também se aplica ao timento de quilha do primeiro da classe, se segmento técnico-gerencial-operativo da tudo correr bem e não faltar verba. equipe de direção e gerência técnica do A construção do primeiro navio da clas- programa. se só deverá ser iniciada quando a maioria No caso de sistemas de combate e armas, dos desenhos estiver pronta, para evitar o lógico e sensato será continuar desen- perdas de tempo e dinheiro em retrabalhos. volvendo e aplicando o Siconta, sendo a Será essencial elaborar os planos de testes integração do sistema de combate com o ar- de avaliação de engenharia e desempenho mamento e com o controle da plataforma a ainda durante a fase de projeto do primeiro parte mais difícil e demorada. Em qualquer da classe. Essa avaliação indicará altera- destas situações, havendo dúvidas, deve- ções de projeto a implementar nos navios remos buscar uma consultoria estrangeira seguintes, cuja construção deverá ser pro- específica. Entretanto, a corveta não tem o gramada para que essas sejam introduzidas nível de complexidade de um escolta maior, no momento apropriado. mas seu projeto e sua construção nacionais As principais diferenças de prazos de já pavimentariam o caminho da experiência projeto e construção entre um projeto para a futura construção dos escoltas. O conservador e inovador residem na fase de autor sugere a leitura do artigo “A Busca da projeto e testes de um modelo em tanques Grandeza IX”, na RMB 4ot/2012 (Ref. 46). de prova, o que já não seria necessário no O cuidadoso e minucioso estudo dos caso do projeto conservador, reproduzindo- projetos de engenharia de exequibilidade se o casco da Barroso com mínimas alte- e concepção será fundamental para mini- rações como, por exemplo, um eventual mizar possibilidades de problemas futuros bulbo de proa. relativos à operação e à engenharia da A construção e o out-fitting propriamen- corveta, problemas estes que certamente te ditos seriam mais ou menos equivalentes alongam prazos de construção e testes nas três opções, Barroso modernizada, e aumentam os custos gerais. Portanto, CV-2600 e CV-3000. Contudo, na fase correções ou modificações devem ter suas seguinte, os testes de cais e de mar repre- necessidades reconhecidas o mais cedo sentariam um desafio maior no caso do possível. projeto inovador, demandando mais tempo Comparando com os meios listados na para os testes. tabela no 1, construídos por estaleiros ex- A desvantagem dos estaleiros nacionais perientes, podemos prever para o primeiro em relação aos estrangeiros mencionados navio da classe um prazo de três a quatro neste trabalho é a falta de experiência anos para projeto e construção e dois anos acumulada, que certamente demandará de testes de cais, mar, integração de siste- prazos mais dilatados, que podem ser mas, avaliação operacional e de engenharia, compensados ou mitigados com uma con- no caso de um projeto conservador. Esses sultoria estrangeira adequada. A rigor, a prazos longos são consequência do último construção de cada navio só deveria ser e longo hiato em programa de projeto e iniciada se as experiências adquiridas com construção de navios de guerra no Brasil. os antecessores tiverem sido aprovadas. Os prazos se alongam em relação aos pro- Mas, com a premência do setor operativo,

116 RMB2oT/2013 CORVETAS SUCESSORAS DA BARROSO – Comparação de dois tipos de obtenção

CRONOGRAMA DE PROJETO E CONSTRUÇÃO DAS CORVETAS CV-2600 OU CV-3000

talvez seja necessário acelerar o processo Observação: Na tabela no 2, a coluna da construindo um número maior de navios Configuração 1 corresponde aos dados cal- simultaneamente, mas, neste caso, dever- culados para as características da Barroso se-ia dispender mais tempo nas fases de atual, devido à falta de maiores informa- projeto e avaliação dos desenhos. O crono- ções. Os mesmos dados são adotados pelo grama acima esboça o programa de cons- autor para as outras versões. trução das novas corvetas mais ajustado à Com os dados disponíveis na tabela no realidade brasileira. 2, e referindo-nos à construção das corvetas Para uma Barroso modernizada, o listadas na tabela no 1, estimamos por compa- cronograma acima seria diferente no to- ração que o custo de obtenção de uma corveta cante aos prazos. Se for meramente uma inteiramente nova como as CV-2600 ou CV- repetição de projeto, o prazo será ainda 3000, ou seja, a plataforma completa mas sem mais reduzido. acessórios como, por exemplo, o helicóptero, Deste ponto em diante, vamos esclare- pode-se situar entre US$ 240 milhões e US$ cer e definir as opções consideradas pelo 310 milhões, dependendo da propulsão, sis- autor e que estão na tabela no 2 da página tema de combate e armamentos escolhidos. seguinte, a saber: O custo de uma mera repetição da Bar- a) Barroso modernizada – a mera roso, ou seja, de uma Barroso modernizada, reprodução do navio atual com mínimas não tem como ser estimado no presente modificações e aperfeiçoamentos; trabalho, mas poderia ser sensívelmente b) Barroso Configuração 1 – mesmas menor do que um projeto inteiramente dimensões, porém com a superestrutura novo, categoria na qual também enquadra- modificada e aperfeiçoamentos mais abran- mos uma Barroso Configuração 1. gentes, inclusive possível modificação da Optaremos pelo custo maior por segu- propulsão; rança. Contudo, deve-se avaliar os custos c) Barroso Configuração 2 – equivale industriais específicos da realidade bra- à CV-2600, mas com o mesmo projeto do sileira. Simultaneamente, será necessário navio da Configuração 1 e novas dimensões; desenvolver o estudo do Apoio Logístico d) Barroso Configuração 3 – equivale à Integrado e prever o custo de ciclo de vida CV-3000, mesmo comentário do item c); do novo meio naval (Ref. 48).

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TABELA No 2: COMPARAÇÃO DOS DADOS CALCULADOS NO APÊNDICE A:

CARACTERÍSTICAS BARROSO (*) CV-2600 CV-3000 Configuração 1 Configuração 2 Configuração 3

L over-all (m) 103,40 115,00 118,00 L water-line (m) 96,30 105,00 108,00 B water-line (m) 11,40 13,00 13,50 B max (m) Flare 7,5° : 12,70 15,00 15,50 T (m) 4,00 4,00 4,30 D (m) 6,75 8,70 9,00 L/B (wl) 8,45 8,08 8,00 Lwl/D 14,27 12,07 12,00 T/D 0,59 0,49 0,48 Cb 0,53 0,48 0,48 Cp long. 0,67 0,622 0,622 Peso leve 1.710 1.815 2.030 Peso leve+Res.Proj.(ton) 1.813 1.924 2.152 DWT (tons) 418 589 728 Desloc. máx. (tons) 2.231 2.513 2.880 Desl. Máx. + SLA (tons) 2.388 2.690 3.085

B/D 1,69 1,494 1,500 S plano d’água (m2) 1.029 1.057 1.133 S seção mestra (m2) 36,12 40,14 44,82 GM (m) 1,70 1,68 1,68 T roll (seg) 6,97 7,99 8,30 T pitch (seg) 5,19 5,40 5,48

S área molhada (m2) 1.215 1.348 1.463 Propulsão (modo) (**) Codog/Codad Codad/Codoe Codad/Codoe PB max (MW) Veloc 15 kts : 1,994 22,03 23,79 Raio de ação (n.m.)/15 4.000 9.330 10.660 Raio de ação (n.m.)/18 xxx 7.070 8.011 Fuel endurance (dias)/15 11 26 30 Fuel endurance (dias)/18 xxx 16 19 Autonomia (dias) ( *** ) 30 25 35 Tripulação (pessoas) 150 100 + 20 100 + 20 Velocidade máx. (nós) 27 28 28 SLR Vmax 1,415 1,405 1,386 No de Froude 0,452 0,449 0,442 Hélice (dia/rpm/28 kts) xxx 3,50m / 5 pás / 285 RPM 3,50 m /5 pás / 292 RPM Geração Elétrica (kW) 2.600 3.240 kW + 408 kW 3.240 kW + 408 kW

Canhão principal BAe 114 mm Mk- Oto Melara 76 mm SP Oto Melara 76 mm SP Canhão secundário Bofors 40 mm Mk-3 2 x Bofors 40 mm Mk-4 2 x Bofors 40 mm Mk-4 Metralhadoras Mísseis ASuW 8 x Exocet SSM40 Bl 3 8 x Exocet SSM40 Bl 3 8 x Exocet SSM40 Bl 3 Mísseis AAW ESSM/Umkhonto ESSM/Umkhonto Torpedos ASW 2 x III Raytheon Mk-46 2 x II ...... 2 x II .... Helicóptero 1 x Lynx / AW 159 1 x Lynx / AW 159 1 x Lynx / AW 159

Custo Inicial Obtenção US$ 290 milhões US$ 310 milhões US$ 310 milhões Custo Ciclo de Vida US$ 592 milhões US$ 633 milhões US$ 633 milhões 35 anos Tempo Comissionamento 6 anos ( **** ) 8 anos ( **** ) 8 anos Primeiro da Classe

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(*) As características listadas na coluna da Configuração 1 (desenho) correspondem também às da Barroso atual (calculadas pelo autor) e à da Barroso modernizada. (**) A propulsão da Barroso atual é Combination Diesel or Gas (Codog), e a mesma propulsão seria adotada para a Barroso modernizada, mera reprodução da corveta atual. Entretanto, para a Barroso Configuração 1 seria adotada a propulsão Combination Diesel and Diesel (Codad). A propulsão Combination Diesel or Eletric (Codoe) não seria considerada devido às limitações de peso e volume. (***) O autor questiona esta autonomia, que é supostamente a quantidade de mantimentos para 150 tripulantes para 30 dias, incompatível com o calculado para as opções “2” e “3”, estas com apenas 2/3 do número de tripu- lantes, em que definimos expressamente como sendo o número de dias e a respectiva quantidade de mantimentos. (****) A título comparativo, a Corveta Milgem (Turquia) demandou sete anos (custo inicial de obtenção = US$ 250 milhões), incluindo o tempo de projeto, como considerado no nosso caso para as CV-2600 e CV-3000. Já no caso da K-130 (Alemanha), o prazo desde o batimento de quilha até a incorporação foi de quatro anos (custo inicial de obtenção = US$ 310 milhões), mas não temos informação sobre o prazo de projeto. A diferença no custo entre as duas deve-se ao fato da K-130 ser muito mais bem equipada com sensores e armamentos, embora menor.

Desenho da CV-2600

O estudo do Apoio Logístico Integrado industrial integrada (fornecimento de equi- (ALI) será um motor de desenvolvimento pamentos e peças, sobressalentes, serviços (sugerimos a leitura da pág. 89 da Ref. industriais de fornecedores e estaleiros) 46) da indústria nacional de defesa e o e logística operacional (suprimento de regulador do fornecimento de empresas consumíveis, como combustível, munição, estrangeiras, estabelecidas ou associadas mantimentos etc.) e logística de pessoal e no Brasil ou não. apoio (apoio ao pessoal embarcado, como Extraímos de um artigo (Ref. 53) um or- assistência médica e familiar, vestuário, ganograma, de Stephan Deucker, da TKMS treinamento etc.), manutenção de rotina e (ver página seguinte), o qual exemplifica a modernizações de meia-vida, fechando na distribuição do custo de ciclo de vida de desmobilização e no sucateamento. corvetas, fragatas e destróieres, dadas as Para navios das classes de destróieres, características semelhantes destes meios fragatas e corvetas, considera-se um ciclo navais, mesmo diferindo em tamanho e de vida de 30 a 35 anos e uma moderniza- deslocamento. ção abrangente de meia-vida. No entanto, Modernamente, o custo de obtenção de com a evolução cada vez mais rápida de um meio naval deve refletir o custo total sistemas eletrônicos, e eventuais subsititui- do ciclo de vida do navio. Este custo cobre ções de equipamentos por razões de defei- projeto, construção, operação, logística tos ou obsolescência prematura, é certo que

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devido à sua escassez. Além disso, é sabido que a produtividade dos americanos e euro- peus é superior à nossa por causa da tradição, sem mencionar a disponibidade de tecnologia avançada e automação, o que também não temos em nosso atual estado de atraso e obso- lescência. A nacionalização de itens também custará além do desejado, mas deve ser vista como investimento em tecnologia e obtenção de escala industrial nacional. Somente como exemplo a respeito do nosso atraso e consequentes custos ele- vados em construção naval no Brasil, a média nacional de produtividade é de 130 homens x hora por tonelada (HH/ton) de aço trabalhado, enquanto que na Coreia esta média é de apenas 22 HH/ton de aço, o que demonstra o nível de automação e eficiência dos coreanos e o nosso atraso a recuperar (Ref. 47). Sejam quais forem as razões, vamos supor aqui meramente como um exercício os navios ora em fase de projeto venham especulativo, mas razoavelmente realista, a passar por mais algumas modernizações que a construção no Brasil da CV-2600 além daquela de meia-vida. custe US$ 310 milhões, o maior valor Segundo dados do Congressional Bud- encontrado entre as referências. get Office (USA) do FY-2010, a construção Como as informações do CBO (Congre- de cada navio de escolta da classe DDG- tional Budget Office – US) praticamente 51 série flight II-A deverá custar cerca de coincidem com as informações do organo- US$ 1,484 bilhão = 49% do seu respectivo grama da TKMS (Thyssen Krupp Marine custo de ciclo de vida. O custo de operação Systems), podemos inferir, com uma regra anual da classe DDG-51 monta a US$ 42,4 de três, que o custo do ciclo de vida da nova milhões, o que, extrapolado para um ciclo corveta seria de cerca de US$ 633 milhões de vida de 35 anos, representa um total de para 35 anos de vida útil. US$ 1.486 milhões. Somados os custos de Comparando o custo de um escolta, construção e operacional, temos um total como o estudado pelo autor (Ref. 43), e aproximado de US$ 3.042, cerca de 48% a corveta, esta tem um custo estimado em do custo total do ciclo de vida do meio, aproximadamente 1/3 do custo de obtenção podendo os 3% restantes serem adjudicados do escolta F-6000M1 (Ref. 1), o que confe- aos custos de projeto. re com a opinião de Milan Vego (Ref. 44) Avaliar quanto custaria uma CV-2600 e Massimo Annati (Ref. 45). construída no Brasil é bastante difícil neste Quanto ao desempenho, o autor chama a estudo. Embora se diga que nossos custos são atenção para os resultados listados na tabela menores, hoje nossa mão de obra especiali- no 2 comparativa. Naturalmente, um navio zada rivaliza com a estrangeira, mormente maior oferece melhores qualidades náuticas

120 RMB2oT/2013 CORVETAS SUCESSORAS DA BARROSO – Comparação de dois tipos de obtenção e maior volume interno. Assim consegue- zada ou da Barroso Configuração 1. Como se melhor estabilidade e capacidade de as qualidades náuticas, características sobrevivência, capacidade militar superior hidrodinâmicas e estabilidade da Corveta e melhor desempenho do sistema de armas, Barroso foram aprovadas em serviço, e maior raio de ação e autonomia e, final- tratando-se de uma obtenção quase emer- mente, maior conforto para a tripulação. O gencial, compreende-se que não se queira desempenho relativo entre as três corvetas modificar o casco. comparadas depende fundamentalmente Porém vale a pena estudar a adoção de do seu tamanho ou deslocamento máximo, um bulbo de proa, segundo uma tendência DWT e reservas. dos meios modernos, sendo que pelo menos três navios da tabela no 1 apresentam esta CONCEPÇÕES INICIAIS característica, a saber: K-130 (Alemanha), Buque de Acción Marítima (Espanha) e Configuração 1 – Projeto Conservador, Milgem (Turquia). Barroso modernizada No desenho apresentado no trabalho, o autor sugere algumas modificações das Passados cerca de 25 anos desde o seu linhas da Barroso atual, resultando na projeto e com a rápida evolução dos crité- Barroso Configuração 1, pois a Barro- rios de projeto e tecnologia neste período so modernizada seria mera reprodução para os navios da mesma classe, a sua do navio atual. Entre outros detalhes, a aparência reflete uma defasagem inequí- adoção da tecnologia stealth para a Bar- voca. Embora seja um navio novo, devido roso Configuração 1 esbarra no quesito às circunstâncias, a Corveta Barroso não é de uma boca relativamente pequena e que um navio moderno. demandaria a adoção de um flare do casco Talvez não seja aconselhável moderni- com aproximadamente 7,5° e, a partir do zar apenas seu sistema de combate e alguns convés principal, a mesma inclinação para outros menos impactantes, conservando-se a superestrutura, com algumas penalidades o mesmo casco, pois os custos de obtenção em termos de espaço. e de ciclo de vida provavelmente não serão O desenho sugere a Barroso Configura- muito menores (da ordem de 25% a 35%) ção 1, com as dimensões da Corveta Barro- do que os correspondentes a um projeto so atual, Barroso modernizada. Exatamente novo como os das Configurações 2 e 3, as mesmas linhas ou lay out se aplicam às derivadas da Barroso, que teriam muito corvetas CV-2600 e CV-3000, com novas maior capacidade operativa. medidas gerais, como comprimentos, boca Mas como projetos evolutivos, deriva- e calado, ajustando-se as demais medidas e dos da Barroso, os riscos das configura- os volumes internos adequadamente. ções 2 e 3 não serão grandes. Além disso, Devido à escassez de dados, o autor o projeto das Configurações 2 e 3 seria partiu das poucas informações dispo- um passo importante na acumulação de níveis e de um desenho na literatura conhecimento e experiência para a futura ostensiva, procurando determinar para- construção de escoltas maiores, já prevista metricamente algumas características da nos planos da Marinha. Barroso atual. Resumindo, estas foram No entanto, para as Configurações 2 e calculadas pelos mesmos critérios de 3, os prazos de obtenção é que serão mais cálculo das CV-2600 e CV-3000, e rela- longos do que o de uma Barroso moderni- cionadas na tabela no 2. CORVETAS SUCESSORAS DA BARROSO – Comparação de dois tipos de obtenção

No que tange a propulsão, a adoção do fabricante, a redução de peso do armamento modo Codad para substituir o Codog seria deverá reverter opcionalmente em maior quan- importante para simplificar a instalação, tidade de munição embarcada, acréscimo de reduzir peso e diminuir o custo, inclusive novos armamentos, como mísseis de defesa de com duas chaminés menores laterais per- ponto, ou outros itens indispensáveis. mitindo um melhor arranjo dos conveses Vemos que a limitação do tamanho e des- superiores (weather deck). Se os requisitos locamento, incluindo as reservas de projeto e enfatizarem as missões ASW e a redução da SLA (Service Life Allowances), tornarão o assinatura acústica, então seria necessário trabalho de balanço (off-trade) do que deve examinar-se a opção da propulsão Codoe, ser eliminado, modificado e acrescentado com propulsão elétrica até cerca de 15 nós bem difícil. Portanto,vale a pena analisar as e, acima desta, com propulsão diesel. duas outras opções aqui propostas, operati- Entre as medidas a serem tomadas no vamente mais capazes, mas que demanda- caso das novas corvetas, temos as novas riam um projeto totalmente novo, com riscos exigências da IMO-Marpol (Internatio- e custos adicionais de obtenção moderados, nal Maritime Organization – Maritime e com prazo adicional que talvez não atenda Pollution), que demanda a instalação de a urgências operativas. equipamento para tratamento dos efluen- tes de bordo, o que comprometará ainda Configuração 2 – Projeto Evolutivo I da mais o pouco espaço e a reserva de peso Barroso disponíveis na Barroso modernizada ou na Configuração 1. Especial atenção de- Esta foi a primeira opção de um projeto verá ser dada ao estudo para a redução da evolutivo estudada pelo autor. Esta Con- tripulação em 33%, seguindo o padrão dos figuração 2 seria um projeto inteiramente navios mais modernos da mesma classe. novo, porém com o emprego das experiên- Se em princípio mantivermos o mesmo cias adquiridas e documentadas das classes escopo de armamentos e sensores, não esca- Inhaúma e Barroso. Mesmo sendo um pro- pa ao observador mais atento que algumas jeto relativamente conservador, tratar-se-ia modificações se fazem necessárias, inclusi- a rigor de um novo projeto com algumas ve com um pequeno aumento do convoo e incertezas inerentes, demandas por estudos do hangar. Além de tudo que já foi mencio- de exequibilidade e concepção, provas em nado nas linhas acima, vemos que a mera tanque, mas com a vantagem de possibilitar reprodução da Corveta Barroso demandará a incorporação de novas tecnologias desde um trabalho de engenharia apreciável. No o início dos trabalhos e a elaboração de final das contas, o novo navio deverá ser um Apoio Logístico Integrado (ALI) mais mais moderno e diferente do atual. eficaz. Entretanto, como as configurações 2 A conclusão é que uma classe de navios e 3 são iguais, diferindo apenas no tamanho, sucessores da Barroso, com o mesmo casco vamos passar ao item logo abaixo. (Barroso modernizada ou Barroso Confi- guração 1), será mais moderna que a atual, Configuração 3 – Projeto Evolutivo II mas continuará com as limitações relativas à da Barroso autonomia, ao raio de ação, a regulamentos ambientais e ao número de missões do heli- A configuração do Projeto Evolutivo cóptero. Adotando-se o mesmo armamento de II segue as mesmas linhas das duas con- 114 mm e 40 mm mais moderno do mesmo figurações anteriores. O autor manteve

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propositalmente o mesmo design, pois, no SWBS300, mas esta opção não está sendo caso, não faz sentido “inventar” desenhos considerada no presente caso. Porém o diferentes para um mesmo navio, mas de autor ainda aguarda algumas informações tamanhos diferentes. solicitadas à Renk e à VEM para detalhar A diferença fundamental está nas dimen- esta opção a posteriori. sões, sendo o Projeto Evolutivo II o maior II) Seja qual for a decisão da Marinha das três versões. Justamente para se obter com relação à escolha do modelo das no- uma boa base de comparação, mantiveram- vas corvetas a serem construídas, o custo se os mesmos sistemas de combate, sensores de projeto dos novos navios não deve ser e armamentos, e também a propulsão. um óbice para o programa de obtenção destes meios navais. O conhecimento e a COMPARAÇÃO ENTRE AS TRÊS experiência adquiridos nestes casos serão CONFIGURAÇÕES muito mais valiosos do que os cerca de 3% do custo total de ciclo de vida gastos com Na tabela no 2 estão relacionadas as con- o projeto propriamente dito. clusões dos cálculos para as três opções de III) Considerando o SWBS 100 (Ship corvetas sucessoras da Barroso, rigorosa- Weight Break-down System) relativo ao mente segundo o mesmo método. Contudo, peso do casco, a Barroso conta com 870 estes resultados são apenas o início de um toneladas (a confirmar) e a CV-3000 com longo roteiro de verificações para uma 1.120 toneladas, e temos 250 toneladas a segunda fase do estudo de exequibilidade. mais de aço a ser cortado, soldado e pintado Vamos às comparações: ou +28,7%. I) Definindo-se que a propulsão Codad Na proporção direta devido ao aumento (SWBS 200), os sensores (SWBS 400) e o do volume interno, consideremos o mesmo armamento (SWBS 700) serão iguais nas aumento de custo para o out fitting. Como o três propostas (Config. 1, 2 e 3), e a elétrica casco somado ao out fitting consome cerca (SWBS 300) será cerca de 35% maior nas de 10% do custo total de construção (30% CV-2600 e CV-3000, ficará mais fácil ana- propulsão, 60% armas e sistemas), segundo lisar as vantagens da CV-3000 comparada critérios correntes, o aumento do custo rela- às outras duas em termos de uma relação tivo do SWBS 100 da CV-3000 em relação custo/benefício com estes parâmetros. a uma nova Barroso Configuração 1 seria Nos cálculos do Apêndice A, a propul- 0,10 x 1,287 = 12,87%. são será a mesma nos três casos, sendo Como a soma dos SWBS 200 e que, obviamente, a Barroso Configuração SWBS300 correspondem a cerca de 30% 1 disporá da maior reserva de propulsão e do custo de obtenção do navio e consi- a CV-3000 ficará numa situação limítrofe, derando que a propulsão representa um na combinação das piores condições possí- volume financeiro maior, embora o material veis, o que nem sempre ocorre. A geração elétrico seja caro, estimamos uma divisão elétrica não será igual nos três casos na de valores de respectivamente 17% e 13%. opção Codad, sendo 35% maior nas Con- Então o aumento por conta do SWBS 300 figurações 2 e 3. será igual a 0,13 x 1,35 = 17,6%. Entretanto, se as CV-2600 ou CV-3000 Como arbitramos que a propulsão Co- fossem providas de uma propulsão Codoe, dad, os sensores e os armamentos serão a planta de geração seria diferente, alteran- idênticos nas três versões, somado ao fato do o balanço entre os grupos SWBS200 e de a diferença do SWBS300 ser da ordem

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de 35% entre a Configuração 1 e as outras da Barroso atual, vemos que a CV-3000 é duas, inferimos que aproximadamente 77% uma corveta militarmente muito mais capaz do investimento na obtenção é igual nas três por um custo adicional relativamente mo- versões da nova corveta. desto. Portanto, a conclusão do autor é de Como o custo inicial de obtenção re- que a CV-3000 é sem dúvida a opção mais presenta cerca de 48% do custo de ciclo de vantajosa das três comparadas. vida, este estimado em US$ 592 milhões para a Barroso modernizada ou Barroso Custos de obtenção Configuração 1 e inicialmente US$ 633 milhões para a CV-3000 ou CV-2600, os Como explicado, passa-se a colocar 30,5% de aumento de custo de construção como nova meta um custo de US$ 395 da CV-3000 elevaria seu custo a US$ 284,2 milhões para o primeiro navio da classe milhões x 1,305 = US$ 370,9 milhões, aos da Corveta CV-3000, a maior dentre as quais teriam que ser somados os custos de três opções aqui estudadas. Seu projeto e projeto de aproximadamente 3% do custo sua construção estarão naturalmente asso- de ciclo de vida da CV-3000 estimado ini- ciados a uma série de incertezas, inerentes cialmente, resultando em US$ 19 milhões. a novos projetos, que poderão levar a um Donde o custo de obtenção da CV-3000 alongamento de prazos do cronograma de poderia se situar no entorno de US$ 389,9 obtenção das quatro corvetas anunciadas milhões, e o custo de ciclo de vida passaria pelo Comando da Marinha. a ser US$ 812,3 milhões para 35 anos de Entretanto, a opção de se projetar e vida útil. construir navios totalmente novos traria Concluindo, para a Barroso Configu- grandes benefícios e know-how para a ração 1 teríamos um custo de construção engenharia nacional, num processo gra- estimado de US$ 284 milhões e para a dual de recomposição de nossas equipes CV-3000 cerca de US$ 389,9 milhões ou + técnico-administrativas-operacionais. Mas 37,2%. Não faremos aqui a comparação da esta opção certamente esbarra na urgência CV-2600 por ficar entre as duas e, se fosse operacional da MB, donde é lícito supor feita a opção por uma corveta totalmente que o Comando da Marinha optará pela inovadora, então sem sombra de dúvida que repetição da Barroso, restando, ainda, a a CV-3000 seria a escolha mais vantajosa. opção de se fazer uma reengenharia da mes- IV) Para corroborar a conclusão ime- ma, resultando na Barroso modernizada. diatamente acima e comparando os dois Calcular o custo de uma Barroso mo- projetos inovadores propostos, a CV-3000 dernizada igual à atual ou o de uma Bar- tem as seguintes vantagens sobre a CV- roso Configuração 1 foge ao escopo deste 2600: Diesel Naval + 20,6%, que aumenta trabalho, e o autor não dispõe de recursos o raio de ação a 15 e 18 nós em cerca de e informações necessárias para calculá-lo. 14%; JP-5 + 20%, aumentando o número Se o setor operativo da MB precisar impor de missões do helicóptero Super Lynx prazos de obtenção menores para o con- 300 de 30 para 36 missões; Água + 50%; junto de quatro novas corvetas, então será Mantimentos + 75%; Mísseis + 50%; tor- necessário alongar-se a fase de estudos para pedos, decoys e munições + 60%, que por mitigar riscos e custos. Mas, certamente, sua vez já é significativamente maior do estas duas opções custarão menos do que que a atual Barroso. Se compararmos estas navios inteiramente novos, como as CV- características da CV-3000 em relação às 2600 ou CV-3000.

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Seja qual for a opção escolhida pela brasileiro, as distâncias e a vida útil dos no- Marinha, a redução de custos de obtenção vos navios, deve-se aceitar um custo maior das quatro corvetas planejadas estará liga- e prazos mais dilatados para projetar uma da à escala de produção e à elaboração do nova corveta segundo o critério evolutivo Apoio Logístico Integrado, que norteará os baseado na Barroso atual. gastos futuros com as compras de sobres- As vantagens operacionais da CV-2600 salentes, manutenções e reformas de maior e da CV-3000 são tangíveis e superam os abrangência. Requisitos de Estado-Maior (REM) propos- tos no início deste estudo, que não seriam Prazos de obtenção satisfeitos pela Barroso Configuração 1. Contudo, os requisitos oficiais fogem ao Os prazos foram estimados e demons- escopo do presente trabalho, e o autor trados no cronograma para navios novos não dispõe de informações que pudessem como a CV-3000. Eles dependerão essen- sugerir qual seria uma possível decisão do cialmente das demandas da MB e dos riscos Estado-Maior da Armada. que se queira assumir. Mas certamente o Com velocidades similares e arma- primeiro da classe não será incorporado mentos, sensores e sistemas de combate antes de oito anos do início dos trabalhos iguais nas três versões, as novas propostas com os estudos. inovadoras têm maior capacidade militar, No caso de se repetir a Barroso atual, maior raio de ação e melhores qualidades construindo uma nova corveta minima- náuticas. mente modificada, os estudos demandarão, Embora sejam concebidas para o pa- talvez, em torno de um ano, e a construção, trulhamento do litoral e escolta de navios levando-se em conta a situação atual da aliados, elas devem ser capazes de integrar construção naval militar no Brasil, cerca forças-tarefa com navios maiores sem de três anos, e mais dois anos no mínimo grandes restrições, o que demanda um para o out-fitting, a integração de sistemas desempenho superior somente obtenível e provas de cais e de mar, culminando na com as dimensões maiores, principalmente incorporação do novo navio em aproxi- a Configuração 3. madamente seis anos a partir do início dos estudos. Disponibilidade, confiabilidade e apoiabilidade Características de desempenho Um Apoio Logístico Integrado bem Como ficou demonstrado nos cálculos elaborado é essencial para uma boa dis- do Apêndice A (disponíveis mediante soli- ponibilidade dos meios. Indispensável citação ao autor), salvo quaisquer erros ou para a disponibilidade especificada é uma enganos, fica evidente a superioridade da manutenção preventiva focada na confiabi- CV-3000 sobre as duas primeiras opções, lidade, que demanda uma boa organização embora com um aumento no custo de dos estaleiros privados e do AMRJ com a construção realísticamente aceitável, como indústria fornecedora. já exposto acima. Os fornecedores devem ser escolhidos Na opinião do autor, levando-se em con- segundo uma série de critérios, mas, adicio- ta as demandas operacionais atribuíveis às nalmente, pela apoiabilidade oferecida com novas corvetas, particularidades do litoral o tempestivo fornecimento de sobressalen-

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tes e serviços. Atualmente é prática corrente Um projeto conservador derivado direta- contratarem os serviços de manutenção e mente da Barroso provavelmente reduzirá assistência técnica de forma privilegiada prazos, mas, talvez, não os custos, função com os fornecedores da fase de constru- da situação atual dos estaleiros nacionais ção. Esta estrutura técnico-comercial deve e do AMRJ. Um projeto evolutivo de uma ser organizada desde o início dos estudos corveta nova como a CV-3000 implica e dividida em três grupos: fornecedores riscos e incertezas e prazos maiores de pro- nacionais, fornecedores estrangeiros jeto e construção, sendo que a construção radicados no Brasil e os estangeiros não propriamente dita não diferirá significati- radicados no País. vamente no dois casos. Claro que a disponibilidade é função Mas como neste estudo partiu-se da pre- da confiabilidade e, esta, da apoiabilidade. missa de comparar as três corvetas, Barroso Um programa perene e bem engendrado Configuração 1, CV-2600 e CV-3000, com motivará o desenvolvimento da indústria mesmo armamento, sistemas de armas e fornecedora nacional, seja por fabricação propulsão, três itens que somam cerca de local ou parcerias e manutenção de equipes 90% dos custos de obtenção, as diferenças de técnicos dos fornecedores estrangeiros e de custo final entre os três modelos não são estoques de sobressalentes no Brasil. exorbitantes e podem claramente justificar a escolha por um dos dois projetos evoluti- CONCLUSÃO FINAL vos, CV-2600 e CV-3000, obtendo-se uma corveta militarmente muito mais moderna Considerando-se a situação atual da Es- e capaz. quadra, a demanda operacional da MB será O Programa de Articulação e Equipa- certamente o principal fator determinante dos mento da Marinha do Brasil (Paemb) preco- prazos de obtenção das quatro novas corvetas niza a obtenção de 30 navios de escolta da já anunciadas. Estes prazos provavelmente se classe de 6 mil toneladas de deslocamento, estenderão além do desejado devido ao estado mas a situação orçamentária do Governo atual da construção naval militar no Brasil, Federal nos deixa francamente céticos ensejando, possivelmente, a contratação de quanto à consecução desta meta. assistência estrangeira para se reduzir prazos Como ponderado pelo autor em seu tra- de obtenção e mitigar riscos. balho publicado na RMB (Ref. 52), seremos Não houvesse acontecido o desmantela- seguramente obrigados a rever esta meta e mento das equipes formadas e experientes recompô-la com uma combinação (high- do início da década de 1990, hoje estaría- low mix) de escoltas e corvetas. Donde estas mos usufruindo do conhecimento acumu- corvetas deverão necessáriamente apresen- lado para projetar nossos navios de forma tar características operacionais compatíveis contínua e perene, sem as urgências e hiatos com escoltas maiores, levando-nos a mais que forçam a MB, às vezes, a lançar mão este argumento em favor de corvetas de compras de oportunidade, dificultando inovadoras com o maior deslocamento e encarecendo a operação e a manutenção. realisticamente possível.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Marinha do Brasil; Corveta; Construção Naval do Brasil;

126 RMB2oT/2013 CORVETAS SUCESSORAS DA BARROSO – Comparação de dois tipos de obtenção

Apêndice “B”: siglas, símbolos, abreviações e definições

AAW : Anti Air Warfare AEW : Air Early Warning AIM : Advanced Induction Motor APM : Advanced Propulsion Motor APOIABILIDADE (suportability) : Conjunto de fatores que viabilizam o apoio logístico ao navio ASNE : American Society of Naval Engineers ASROC : Anti-Submarine ROCket ASW : Anti Submarine Warfare ASuW : Anti Surface Warfare AUTONOMIA DO NAVIO: refere-se ao tempo de mar para se consumir o estoque de mantimentos, água potável, consumíveis em geral e estocagem de rejeitos biológicos tratados. BWB – Bundesamt für Wehrtechnik und Beschaffung: órgão do Ministério da Defesa da Alemanha responsável pelo desenvolvimento de tecnologia e compra de material de defesa. CEC : Cooperative Engagement Capability CIWS : Close-In Weapon System Codad : Combination Diesel and Diesel Codog : Combination Diesel Or Gas Codag : Combination Diesel And Gas Cogog : Combination Gas Or Gas Cogag : Combination Gas And Gas Codlag : Combination Diesel eLectric And Gas CSG : Carrier Strike Group DISPONIBILIDADE : período em que o meio se encontra plenamente operacional e à disposição da Esquadra. ECM : Electronic Counter Measures ELINT : Electronic Intelligence ESM : Electronic Support Measures ESSM : Evolved Sea Sparrow Missile FREMM : Frégatte Européenne Multi-Mission G & E : General & Electric Company HST : High Speed Turn HTSC . High Temperature Super Conductor I E P : Integrated Electric Propulsion IMM : Integrated Mast Module IMO : International Maritime Organization I T T C : International Towing Tank Conference. IRST : Infra Red Search and Track LWT : Light Weight Torpedo MANUTEBILIDADE (maintainability) : Conjunto de fatores que viabilizam e otimizam os serviços de manutenção do navio MARPOL : Maritime Pollution MTU : Motoren und Turbinen Union NAVSEA : Naval Sea Systems Command, USN NCW : Network Centric Warfare PDMS : Point Defense Missile System RAIO DE AÇÃO: alcance do navio em milhas náuticas para uma dada velocidade, correspondendo em cada caso à “fuel endurance” ou dias de mar. Ram : Rolling Airframe Missile

RMB2oT/2013 127 CORVETAS SUCESSORAS DA BARROSO – Comparação de dois tipos de obtenção

Rem : Requisitos de Estado Maior RHIB : Rigid Hull Inflatable Boat RN : Royal Navy, UK R & R : Rolls & Royce Satcom : Satellite Communications SIGINT : Signals Intelligence SLA : Service Life Allowances SLR : Speed to Length Ratio. SM : Standard Missile SNAME : The Societey of Naval Architects & Marine Engineers SWBS : Ship Weight Breakdown System TBO : Time Between Overhauls TKMS : Thyssen Krupp Marine Systems USN : United States Navy VDS : Variable Depth Sonar VLS : Vertical Launch System

REFERÊNCIAS

1) “Estudo e Proposta de um Navio de Escolta para a Marinha do Brasil”, René Vogt, RMB 2°T/2011 pag. 69 2) “Practical Ship Design”, D.G.M. Watson 3) “Modern Naval Vessel Design Evaluation Tool”, obtido na internet: www.mnvdet.com “Modern Naval Vessel Design Evaluation Tool”, capítulo “Margins & Allowances Estimation”, baseado no documento chamado “NAVSEAINST 9096.6B – Policy for Weight and Vertical Center of GravityAbove Bottom of Keel (KG) Margin for Surface Ships” 4) “Naval Architecture for the Salvage Engineer”, U.S. Navy Ship Salvage Manual S0300-A8- HBK-010, NAVSEA Code 55W. 5) “Flexibility in Early Stage Design of UD Navy Ships: An Analysis of Options”, Jonathan Page, Lt. Eng. USN, B.S.Systems Engineering , US Naval Academy 2002 6) “Hydrodynamics in Ship Design”, Harold Saunders, SNAME 7) “Principles of Naval Architecture”, John P. Comstock, The SNAME 8) NAFO IV/2004 pg. 68 “Naval Marine Gear Systems”, Karl-Heinz Merck 9) NAFO III/2005 pg. 51 “The Combining Force”, David J. Bricknell 10) NAFO V/2007 pg. 90 “An Agony of Choice, Propulsion Systems for Modern Warships”, Mal- colm Philips 11) NAFO II/2008 pg. 82 “Propulsion Gears for Naval Vessels”, Franz Hoppe 12) NAFO II/2011 pg. 26 “Combined Powerplants for Warships”, Peter Donaldson 13) Material informativo obtido no website da MTU. 14) Material informativo obtido no website da General & Electric 15) Material informativo obtido no website da Rolls & Royce 16) Die AEGIS- Zerstörer Klassen DDG-51 - Terzibaschitsch, Stefan, Leonberg 17) Material informativo obtido no website e da própria THALES-NL. 18) NAFO I/2012 pg. 8 – Norman Friedman “Running out of Ammunition ?” 19) Material Técnico obtido a DEERBERG GmbH, Alemanha. 20) NAFO III/2004 pg. 118 – Eden-Ehrbrecht, Ingo “The sea is no Garbage Dump”, Deerberg Systems 21) NAFO II/2008 pg. 66 – Eule, Klaus “Water Treatment and Waste Management for Enduring Operations” 22) International Defence Revue 2/1988 pg. 171, Kehoe, Brower & Serter “Estudos Comparativos de Cascos de Destróiers e Fragatas”

128 RMB2oT/2013 CORVETAS SUCESSORAS DA BARROSO – Comparação de dois tipos de obtenção

23) International Coatings Ltd. 2003 ( Paint Supplier ) 24) An Evaluation of Propulsors of Several Navy Ships”, Mark A. Hugel, USN Academy. 25) Marine Forum 11/2005, pg.8, Timm Becker, Blohm & Voss 26) Marine Forum 10/2006, pg.12, CF Andreas Jedlicka, Estado-Maior da Marinha da Alemanha 27) Marine Forum 12/2007, pg.14, Karlheinz Lippitz, jornalista 28) Marine Forum 09/2008, pg.12, Wolfgang Bohlayer, Jens Ballé, Patrick Kaeding, Blohm & Voss 29) Arte Naval Vol. I e II, Maurílio Fonseca, Serviço de Documentação da Marinha 30) Resistance and Propulsion of Ships, S.A. Harvald, 1983 31) Introduction to Naval Architecture, Eric Tupper, fourth edition. 32) Intact Stability Criteria for Naval Ships, Frédéric Deybach, M.I.T. 1997. 33) Surface Warships, Dr. P.J. Gates, Brassey’s Sea Power, UK. 34) Ship Design for Efficiency and Economy, Schneekluth & Betram 35) The Impact of Producibility on Cost and Performance in Naval Combatant Design, Capt. Alan Brown,Cdr.John Barentine, US Naval Construction and Engineering Program, Massachussets Institute of Technology. 36) Practical Ship Hydrodynamics, Volker Bertram 37) Towards a Rational Intact Stability Criteria for Naval Ships, Capt. A.J. Brown USN (Ret) & Lt. F. Deybach, DCN 38) Parametric Design, Chapter 11, Michael Parsons 39) Ship Dynamics for Maritime ISAR Imaging, Armin Doerry, Sandia National Laboratories, Al- buquerque, New Mexico. 40) Paper do Instituto Superior Técnico, Portugal, Prof. Manuel Ventura, site: 41) Future Research Directions To Understand Factors Influencing Advanced High Temperature Materials, David Shifler, Office of Naval Research, Naval Materials Division, USNavy 42) “A Busca da Grandeza” capítulos II e V, V.A.(Refo-EN) Elcio de Sá Freitas, publicados na Revista Marítima Brasileira. 43) “O Futuro e os Novos Meios Navais da Marinha do Brasil”, René Vogt, publicado na RMB 1oT/2012 44) “Corvette Programs – A World Wide Survey”, Milan Vego, Nafo VI/2012 pg. 54 45) “Corvettes – An Alternative to More Sophisticated and Expensive ?”, Massimo Annati, Nafo V/2010 pg. 42. 46) “A Busca da Grandeza IX”, V.A.(Refo-EN) Elcio de Sá Freitas, RMB 4°T/2012. 47) 24° Congresso Nacional de Transporte Aquaviário, Construção Naval e Off-Shore – Projeto de um Estaleiro para Construção em Larga Escala de Navios de Apoio Marítimo : Thiago Pontin Tancredi, Paulo Cezar de Azevedo Junior, Camil de Andrade Issisaki, José Ermete Rabello Leite Filho, Dept. Eng. Naval e Oceânica da USP. 48) “O Processo de Obtenção de Sistemas de Defesa”, Partes 1 (RMB 1/2012) e 2 (RMB 2/2012), de Paulo Rui de Menezes Capetti. 49) “A Busca da Grandeza VI”, V.A.(Refo-EN) Elcio de Sá Freitas, RMB 4/2011. 50) “A Busca da Grandeza V”, V.A.(Refo-EN) Elcio de Sá Freitas, RMB 3/2011. 51) “A Modernização de Navios de Superfície – Proteção de Investimentos ou Desperdício de Recursos Públicos?” Publicado em Marine Forum n° 05/2011, escrito por Christian Peters: Trabalhava no BWB no Departamento de Meios de Superfície. Com a nova organização do BWB transformado no BAAINBw, trabalha no Departamento de Planejamento do Ministério da Defesa – PA-S (Projekt Abteilung – See), colaborador regular de Marine Forum, ocupando-se intensamente com a tecnologia e história marítima. 52) “O Futuro e os Novos Meios Navais da Marinha do Brasil”, René Vogt, RMB 1oT/2012. 53) “Surface Vessel Technology”, Stephan Deucker, TKMS, NAFO Special Issue 2006 Vol. XXVII.

RMB2oT/2013 129 A IMPORTÂNCIA DA FÍSICA BÁSICA NA FORMAÇÃO DO OFICIAL DE MARINHA DIANTE DAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA CARREIRA MILITAR*

NEIDE GONÇALVES Professora-Doutora**

SUMÁRIO

Introdução Um breve histórico sobre a Física Moderna A Física do século XX e suas implicações na carreira do oficial de Marinha Conclusões INTRODUÇÃO que ele abraçou, e preparo físico e conduta moral excelentes. A tarefa da Escola Naval abemos da importância da formação do não é simples e seu compromisso a coloca Soficial de Marinha ser multidisciplinar, em constante alerta em relação às mudanças pois se espera dele: liderança sobre seus que se tornam necessárias em seu currículo comandados, uma formação cultural que se escolar, para que possa cumprir sua meta, destaque e se contraponha ao senso comum, que é formar um exímio oficial de Marinha. o domínio da língua pátria e de pelo menos Um dos desafios atuais é preparar o um idioma estrangeiro, uma formação téc- aspirante para ser capaz de enfrentar as nica sólida dentro da área ou especialidade constantes inovações tecnológicas que

* Artigo encaminhado pela Diretoria de Ensino da Marinha por ter sido selecionado em 1o lugar no IV Concurso de Artigos Técnicos e Acadêmicos e de redação do Sistema de Ensino Naval, em 2012, na categoria oficiais e civis assemelhados. ** Professora de Física 2 da Escola Naval desde 1993. Doutora pela UFRJ, em convênio com Institut de Physique Nucléaire de Lyon – France, em 1988. A IMPORTÂNCIA DA FÍSICA BÁSICA NA FORMAÇÃO DO OFICIAL DE MARINHA DIANTE DAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA CARREIRA MILITAR

a todo o momento se apresentam como disse o Almirante Nevin Carr, chefe de relevantes no cotidiano militar. Essa habi- Pesquisa Naval. Esta distância é quase lidade somente pode ser obtida quando o 20 vezes maior que a capacidade dos indivíduo alcança relativa independência canhões atualmente embarcados. para a aquisição de novos conhecimentos. O novo canhão tem dois trilhos de metal Para tanto, na área tecnológica, isto só irá sobre os quais é colocado o projétil. O acontecer se este possuir uma base cientí- disparo ocorre por meio da passagem de fica sólida, que por sua vez é alcançada, uma forte corrente elétrica pelos trilhos. inicialmente, quando o aspirante é apre- Não é utilizada pólvora ou qualquer sentado a conteúdos que estão na linha de outra propulsão química. frente das aplicações tecnológicas mais recentes. De posse desse conteúdo, no No ciclo profissional da Escola Naval domínio dos conceitos científicos básicos, (EN) temos a disciplina BSA (Balística é que o oficial de Marinha estará apto a e Sistema de Armas), que entre outros compreender e dominar qualquer inovação conteúdos, apresenta ao aspirante o fun- tecnológica que surgir. cionamento de canhões convencionais Vejamos um exemplo bastante recente, e de obuseiros com propulsão química. que trata do desenvolvimento de um canhão Será que o nosso oficial de Marinha, agora de propulsão eletromagnética pela Marinha fora da EN, é capaz também de entender dos Estados Unidos. Em nota divulgada o princípio de funcionamento desse novo em 20 de dezembro de 2010, o governo canhão? Podemos garantir que, após uma americano anunciou o sucesso no teste rápida passagem de olhos em suas antigas desse canhão (ISAPE 2010) (figura abaixo). notas de aula de Física, nenhuma dificulda- Um “canhão eletromagnético”, que de ele terá. O princípio de funcionamento atinge alvos a 200 km de distância e desse canhão se baseia na Lei de Indução dispara projéteis a “Mach 5”, ou cinco de Faraday-Lenz, conteúdo exaustivamente vezes a velocidade do som, foi testado trabalhado na Física 2, disciplina do 2o ano com sucesso nesta sexta-feira nos Esta- letivo. Além do desenvolvimento matemá- dos Unidos, informou a Marinha. tico formal, utilizamos equipamento para “O teste do canhão eletromagnético” demonstração do conceito da indução, e revela “que a Marinha pode disparar uma prática envolvendo este conteúdo é projéteis a uma distância de, ao me- realizada no laboratório. Em particular, nos, 110 milhas náuticas (200 km)”, nosso laboratório didático, cujo projeto

RMB2oT/2013 131 A IMPORTÂNCIA DA FÍSICA BÁSICA NA FORMAÇÃO DO OFICIAL DE MARINHA DIANTE DAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA CARREIRA MILITAR

apresentamos em dezembro de 1999 era contínua e sim quantizada, isto é, que (GONÇALVES, 1999), com o início de existem “pacotes” com uma quantidade sua montagem em fevereiro de 2001, tem mínima de energia, um dos conceitos mais se mostrado um recurso didático essencial importantes da Física – precisamente o e bastante eficiente, facilitando a compre- de energia – sofre uma alteração radical ensão de vários conceitos físicos. com profundas consequências para toda Assim como a Lei da Indução de a história da humanidade. Assim, muitos Faraday-Lenz, diversos conceitos básicos, historiadores da Ciência consideram que associados ao que chamamos atualmente a Física Moderna tenha começado no ano de Física Clássica, são trabalhados for- de 1900. Claro está que antes dessa data malmente em sala de aula, e num grande diversas descobertas associadas a conceitos número de casos utilizamos demonstrações da futura Física Moderna já estavam sendo e práticas no laboratório. Alguns integran- exploradas. A data 1900 se reveste, por- tes da equipe de Física estão atualmente tanto, de um simbolismo que talvez esteja envolvidos na utilização de softwares para mais ligado ao início de um novo século (o a geração de simulações, com objetivo de último do milênio) do que ao nascimento de auxiliar ainda mais a compreensão dos uma nova teoria ou visão da Física, pois o conceitos apresentados (DARGAM, 2012). desenvolvimento científico não é passível Portanto, no que tange aos conteúdos de ser dicotomizado de forma tão restrita. fundamentais da Física Clássica, estamos Alguns autores (OSTERMANN, 1999) fazendo um recorte didático bem amplo chegam até a chamar a Física desenvolvida e diversificado, que contempla aulas após os anos 40 do século passado de Física expositivas, aulas práticas e simulações Contemporânea, considerando, neste caso, computacionais. A partir daí, a pergunta os grandes desenvolvimentos na exploração que devemos fazer é: Será que a formação do núcleo do átomo, com a criação de armas científica básica do nosso oficial de Mari- nucleares e um conjunto muito grande de nha está suprindo as necessidades para a pesquisas catapultadas pela Guerra Fria e compreensão das inovações tecnológicas pela corrida espacial entre a então União que possam surgir? No que tange aos con- Soviética e os Estados Unidos. teúdos da chamada Física Clássica, sim. A Física Moderna nasceu da incapacida- Mas e aos da Física Moderna, esta Física de de serem explicados diversos fenômenos desenvolvida no século XX, que já é base que eram observados desde o final do sé- de várias aplicações e inovações tecno- culo XIX, entre eles: a radiação de corpo lógicas que permeiam o cotidiano civil e negro, a estabilidade atômica, o valor finito militar? Acreditamos que não. e invariante da velocidade da luz, a emissão de energia estelar etc. Duas grandes teorias UM BREVE HISTÓRICO SOBRE A formaram as bases para os desenvolvimen- FÍSICA MODERNA tos posteriores da nova Física: a Teoria da Relatividade, de Albert Einstein, e a Teoria Não existem limites bem definidos, do dos Quanta, de Max Planck. A partir dessas ponto de vista cronológico, que possam duas teorias, diversos fenômenos puderam fixar datas que separem a chamada Física ser explicados, entre eles o efeito fotoelé- Clássica da Física Moderna. Entretan- trico, a emissão e absorção de energia nos to, com a hipótese formulada por Max gases e a própria estabilidade dos átomos. Planck, em 1900, de que a energia não Diversas controvérsias filosóficas também

132 RMB2oT/2013 A IMPORTÂNCIA DA FÍSICA BÁSICA NA FORMAÇÃO DO OFICIAL DE MARINHA DIANTE DAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA CARREIRA MILITAR

apareceram a partir dessa nova forma de mais com equipamentos que utilizam como se encarar o universo, em particular o princípio de funcionamento elementos e conceito de espaço-tempo, a questão da conceitos dessa “nova” Física. Entretanto, simultaneidade de eventos e a interpreta- devido ao fato de os conteúdos de Física ção probabilística dos fenômenos naturais Moderna (FM) não estarem contemplados levantada pela então recém-nascida Mecâ- no programa de ensino da EN, o estudo das nica Quântica. É importante, neste ponto, aplicações que dela dependem fica preju- ressaltar que, mesmo com o advento dessas dicado. Atualmente, vários equipamentos novas teorias, a Física Clássica nunca per- cuja tecnologia depende de conceitos da deu o status de base elementar e primordial FM já são utilizadas pela Marinha do Bra- dentro do desenvolvimento tecnológico sil; assim, essa lacuna no nosso programa moderno, apenas foram restringidos seus de ensino (que apenas discute elementos limites de aplicação. Isso implica que, para muito superficiais sobre o assunto) se mos- se construir um edifício ou uma fragata, tra temerária e com profundas consequên- necessitamos das Leis de Newton e das cias negativas para uma visão, por parte do de Arquimedes, mas atualmente também futuro oficial, das inovações tecnológicas precisamos cada vez mais da Física Mo- que ele deve conhecer. Alguns exemplos derna e das inovações tecnológicas a ela podem ser rapidamente encontrados. associadas. Exemplos até bem mais comuns, como o GPS, o transistor, as lâmpadas com acio- A FÍSICA DO SÉCULO XX E SUAS namento fotoelétrico, entre outros tantos, IMPLICAÇÕES NA CARREIRA DO dependem do conhecimento de conceitos OFICIAL DE MARINHA de FM para que possam ser assimilados e compreendidos corretamente. Devido à Fundamentos teóricos e aplicações grande abrangência e à facilidade ao aces- tecnológicas da Física que denominamos so à informação, torna-se cada vez mais de Moderna, criada e desenvolvida no sé- comum pessoas fazerem indagações do culo XX, são cada vez mais frequentes em tipo: De onde vem a energia das estrelas? nosso dia a dia, inclusive no cotidiano do Quais são os perigos e utilidades da ener- oficial de Marinha, que se depara cada vez gia nuclear? Como funciona um submarino

A mira laser (Fonte: Imagens Google)

O visor noturno (Fonte: Imagens Google)

RMB2oT/2013 133 A IMPORTÂNCIA DA FÍSICA BÁSICA NA FORMAÇÃO DO OFICIAL DE MARINHA DIANTE DAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA CARREIRA MILITAR

A propulsão nuclear (Fonte: Imagens Google)

O sistema Navstar (Fonte: Imagens Google)

com propulsão nuclear? Qual a importância que a todo momento ele poderá ser cobrado das descobertas de Einstein para nossa vida nesse sentido, uma vez que, tradicional- cotidiana? Do que trata mente, a imagem dos a Teoria das Cordas? egressos da EN está O que vem a ser o Bó- Tradicionalmente, associada a uma pos- son de Higgs? Fora a imagem dos egressos da tura de elegância, de diversas outras curio- EN está associada a uma respeito às tradições sidades envolvendo e principalmente a um a radioatividade e os postura de elegância, nível cultural e intelec- supercondutores e as de respeito às tradições tual acima da média, descobertas abrangen- num amplo espectro do a nanotecnologia. e principalmente a um de relações dentro do Assim sendo, temos nível cultural e intelectual imaginário da socieda- que considerar que, acima da média de brasileira. além da importância de Não é, obviamen- conhecer os fundamen- te, apenas nas escolas tos da FM na sua vida profissional, o oficial militares que se faz necessária e urgente a de Marinha deve dar respostas à altura da revisão dos programas com o objetivo de sua condição sociocultural, pressupondo se discutir e estudar mais intensamente os

134 RMB2oT/2013 A IMPORTÂNCIA DA FÍSICA BÁSICA NA FORMAÇÃO DO OFICIAL DE MARINHA DIANTE DAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA CARREIRA MILITAR

conceitos da FM. Em 2006, no Congresso “A base de toda a Marinha é a Escola Brasileiro de Ensino em Engenharia (Co- Naval. O comandante da Marinha cur- benge), a Professora Aline Pâmela Perfoll sou a Escola Naval. O chefe do Estado- apresentou pesquisa feita sobre a ausência Maior da Armada, que é o segundo da Física Moderna nos currículos da maio- na hierarquia da Marinha, cursou a ria das escolas de Engenharia do Brasil Escola Naval. Todos os membros do e defendeu sua implementação diante da almirantado também. Ou seja, a Escola necessidade do domínio, pelos profissionais Naval é a base de tudo. É onde se inicia formados, dos conceitos básicos desta Física a carreira daqueles que comandarão do século XX que já estava presente em a Marinha. Temos um compromisso várias inovações tecnológicas (PERFOLL, muito grande de curto, médio e longo 2006). Passados seis anos, observamos que prazos, uma vez que os que formamos, diversas instituições de ensino superior estão daqui a 50 anos, estes oficiais serão suprindo essa defasagem no currículo, pois os comandantes da Marinha. Conse- uma boa parte das escolas de Engenharia já quentemente, eles serão melhores ou possui na sua grade curricular a disciplina de piores, dependendo da origem deles. Física Moderna no ciclo básico, inclusive as Por isso, nosso compromisso aqui é engenharias das escolas militares. com a excelência. Não serve, aqui, o muito bom. A Marinha almeja, um dia, CONCLUSÕES construir o submarino nuclear; almeja também, de acordo com a Estratégia Como membro do Corpo Docente da Nacional de Defesa, ampliar seus Escola Naval, comprometido com a tarefa efetivos, sua frota. Para isso, preci- de preparar o aspirante para sua vida profis- samos de competência profissional, sional, defendo aqui que só de posse de uma que só pode ser alcançada se nossos formação básica sólida, continuamente re- estudantes são academicamente muito novada e atenta às recentes tecnologias que bem formados.” o mundo contemporâneo incorpora todo o Comandante da Escola Naval, Contra- tempo, é que o nosso oficial de Marinha es- Almirante Antônio Fernando Monteiro tará efetivamente preparado para enfrentar Dias, lembra da importância da insti- as inovações tecnológicas que ao longo de tuição para a formação dos militares sua vida profissional irá presenciar. Para brasileiros. tanto, além dos incrementos de recursos didáticos, como laboratórios e simulações, Diante das palavras do hoje Vice-Al- que auxiliam a assimilação dos conceitos mirante Antônio Monteiro Dias, fica clara básicos da Física Clássica, já inclusa em a importância da formação do oficial de nosso currículo, defendemos a necessidade Marinha e o que cada aspirante da Escola da introdução da Física Moderna. Naval significa para este País.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Escola Naval; Formação de oficial; Física; Ciência; Estudo;

RMB2oT/2013 135 A IMPORTÂNCIA DA FÍSICA BÁSICA NA FORMAÇÃO DO OFICIAL DE MARINHA DIANTE DAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA CARREIRA MILITAR

REFERÊNCIAS

DARGAM, T.G., “Ensino de Física: tendências e desafios”. Trabalho a ser apresentado no Epesm/2012. GONÇALVES, N. e SILVA, L. Projeto para a inclusão de laboratório didático na disciplina de Física. 1999. ISAPE Instituto sul-americano de política e estratégia, nota divulgada em 2010, disponível em HTTP:// isape.wordpress.com. Acesso em 23 agosto 2012. MARINHA. Entrevista à Folha Dirigida do Contra-Almirante Antônio Dias, disponível em http:// www.mar.mil.br/menu_h/noticias/en/formacao_na_marinha/materia_folha_dirigida.pdf. Acesso em 23 agosto 2012. OSTERMANN, F. “Tópicos de Física Contemporânea em Escolas de Nível Médio e na Formação de Professores de Física”. 1999. 433f. Tese de Doutorado em Ciências, Instituto de Física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. PERFOLL, A.P. e REZENDE Jr., M.F. “A Física Moderna e Contemporânea e o Ensino de Engenharia: Contexto e Perspectivas”. Anais do XXXIV Cobenge. 2006

136 RMB2oT/2013 NAVEGANDO EM ÁGUAS BRASILEIRAS Algumas considerações sobre a tributação dos cruzeiros marítimos na costa brasileira

FERNANDO VAISMAN* Advogado ANDRÉ DE ALMEIDA** Advogado

ão é de hoje que existem empresas que dade em questão teria começado a ganhar Nexploram a atividade de navegação corpo apenas nos anos 60. de cabotagem (também conhecida como No final dos anos 90, com a expressa atividade de cruzeiros marítimos) na costa previsão constitucional de permissão à ex- brasileira. Embora os relatos sejam os mais ploração dessa atividade por empresas es- diversos, o que se verifica é que, histori- trangeiras1, com a inauguração do terminal camente, há notícias de que os primeiros marítimo de passageiros no porto de Santos cruzeiros que circularam no País datariam e com um cenário econômico favorável dos longínquos anos 20, sendo que a ativi- que se instaurava no País, criou-se, defini-

* Fernando Vaisman é advogado especializado em Direito Tributário, com atuação em Consultivo e Contencioso Tributário. É mestre em Direito Tributário pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). ** André de Almeida é bacharel em Direito pela PUC/MG. Extensão em Corporate Law na Georgetown Univer- sity, Washington D.C. e na PUC/SP. Foi presidente da Federação Interamericana de Advogados e é membro da Comissão de Relações Internacionais do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), diretor de Relação Internacional do Instituto dos Advogados de São Paulo (IASP) e membro do Conselho da Câmara-e.net. 1 A Emenda Constitucional no 07/95 alterou o texto do Artigo 178 da Constituição Federal, que passou a vigorar com a seguinte dicção: “Art. 178. A lei disporá sobre a ordenação dos transportes aéreo, aquático e terrestre, devendo, quanto à ordenação do transporte internacional, observar os acordos firmados pela União, atendido o princípio da reciprocidade. Parágrafo único. Na ordenação do transporte aquático, a lei estabelecerá as condições em que o transporte de mer- cadorias na cabotagem e a navegação interior poderão ser feitos por embarcações estrangeiras.” (g.n.) Para muitos, foi essa alteração legislativa que legitimou a exploração desta atividade por empresas não nacionais. NAVEGANDO EM ÁGUAS BRASILEIRAS – Algumas considerações sobre a tributação dos cruzeiros marítimos na costa brasileira

tivamente, espaço para o desenvolvimento instrução normativa por parte da Secretaria desse mercado no Brasil. da Receita Federal que, em linhas gerais, Obviamente, o clima agradável, as belas regulamenta a tributação não só do resulta- paisagens litorâneas, a não coincidência do do operacional das empresas que exploram período de verão com o da Europa e dos essa atividade, mas também a tributação Estados Unidos, aliados ao aumento do incidente sobre a importação dos produtos poder aquisitivo do brasileiro nas últimas que serão revendidos a bordo enquanto duas décadas, tornaram nosso país um estiverem os navios em território nacional. importante mercado-alvo para as empresas Com a edição da Instrução Normativa que exploram essa modalidade de negó- no 137 de 1998, instaurou-se o regime de cio, o que faz com que, entre novembro e tributação aplicável atualmente às empresas março, importantes embarcações visitem a que exploram a cabotagem turística no País. costa brasileira. Por esse diploma infralegal, tem-se que os Se não é segredo para ninguém que navios propriamente ditos, bem como as os grandes players internacionais dessa mercadorias que já se encontram a bordo atividade veem no Brasil uma importante quando do ingresso no País, serão objeto oportunidade de negócios, o que poucos de regime aduaneiro especial, chamado de sabem é que grande parte da receita dessas admissão temporária, pelo qual, inicialmen- empresas não advém diretamente da venda te, todos os tributos federais incidentes na de cabines propriamente dita, mas sim da importação encontram-se suspensos até o venda de bens e serviços a bordo. momento da saída definitiva do navio do Assim, além do transporte de passagei- território nacional naquela temporada. ros propriamente dito, tantas outras rela- Assim, muito embora o próprio navio, ções comerciais instauram-se dentro dos bem como as mercadorias já existentes a navios de cruzeiro, como a prestação dos bordo, juridicamente, sejam importadas mais variados serviços (spa, massagens, ainda que de forma temporária, sobre essa academia etc.) e venda dos mais diversos operação não há, num primeiro momento, produtos nos bares e lojas on board, o que a sujeição a nenhum tributo alfandegário. demonstra que a atividade em questão é Primeiramente, dispõe a regra fiscal bem mais complexa do que se pode ima- que o armador estrangeiro deverá consti- ginar inicialmente. tuir representante legal no País, que será Atento a esse contexto, o fisco brasileiro, responsável, na condição de mandatário, a: enxergando nesse ramo uma potencial fonte I - promover a importação de mercado- de recursos, não se manteve alheio a essa rias estrangeiras; realidade e tratou a voltar seus olhos às em- II - requerer a concessão de regimes presas que a cada temporada exploram tal aduaneiros especiais; serviço, produzindo legislação específica III - proceder ao despacho para consumo a respeito do tema, com vistas a regular o das mercadorias estrangeiras comercializa- tratamento tributário desse microuniverso das a bordo do navio; que é um navio de cruzeiro. IV - promover a aquisição de merca- No âmbito federal, até 1998, ressentia dorias nacionais para abastecimento do o ordenamento brasileiro de norma que navio; e regulamentasse de forma específica a tribu- V - na qualidade de responsável tributá- tação da atividade de cabotagem turística na rio, calcular e pagar os impostos e contri- costa brasileira. Naquele ano, foi publicada buições federais devidos, decorrentes das

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atividades desenvolvidas a bordo do navio Documentos de Arrecadação de Receitas ou a ele relacionadas, no período em que Federais (Darfs) de pagamento de todos os permanecer em operação de cabotagem em tributos aplicáveis a essa atividade. águas brasileiras. Nesse sentido, lembramos que, para as Ainda de acordo com a Instrução mercadorias importadas que sejam comer- Normativa (IN) em questão, no momento cializadas no navio durante a temporada, do ingresso da embarcação no País, o co- devem-se recolher os tributos incidentes mandante do navio entregará à autoridade sobre a importação, ou seja, o Imposto de aduaneira, em três vias, um registro de Importação (II) e o Imposto Sobre Produtos inventário de todas as mercadorias a bor- Industrializados (IPI), bem como o Progra- do destinadas à comercialização, além da ma de Integração Social (PIS)/Contribuição Declaração Simplificada de Importação. para o Financiamento de Seguridade Social Para fins de controle, o comandante do (Cofins)-Importação. Contudo, é importan- navio manterá, ainda, registro do estoque te destacar que as mercadorias destinadas diário de mercadorias estrangeiras a bordo ao uso e ao consumo da tripulação e dos que possa identificar o movimento ocorrido passageiros na embarcação estrangeira, e no período (saldo inicial, entradas, saídas não à comercialização a bordo, não estão e saldo final). suscetíveis à tributação incidente sobre a Em caso de ressuprimento do navio importação, entendimento este, inclusive, durante o período em que se encontrar com eco na jurisprudência administrativa em águas brasileiras, duas possibilidades que vem se formando ao redor do tema. podem ocorrer: (i) em caso de mercadoria Daí a importância de realizar-se, no de origem estrangeira, a mesma será trans- registro de inventário, uma descrição ferida do porto de entrada ao navio sob o extremamente minuciosa acerca de quais regime de trânsito aduaneiro, aplicando-lhe mercadorias são destinadas ao consumo dos a suspensão de tributos aduaneiros tal como passageiros e tripulantes e quais são desti- se tais mercadorias tivessem adentrado no nadas à comercialização dentro do navio. país juntamente com o navio; e (ii) em Vale mencionar, ainda, e fugindo-se um caso de mercadoria de origem nacional, o pouco da esfera federal, que, no âmbito embarque será acompanhado apenas e tão estadual, no momento, não é exigido o somente da nota fiscal de venda, sendo que, pagamento do ICMS-Importação, muito nesse caso, a venda a navio operante na embora haja rumores de que alguns fiscos costa brasileira não se equipara a uma ope- estaduais estariam se mobilizando com vis- ração de exportação, não sendo aplicável, tas a instituir essa modalidade de tributação. portanto, a imunidade tributária inerente Além dos tributos incidentes na importa- às exportações para o fornecedor nacional ção das mercadorias que serão comerciali- dessas mercadorias, inclusive no tocante ao zadas on board, a regra fiscal determina que Imposto sobre Circulação de Mercadorias o resultado operacional dessas empresas e Prestação de Serviços (ICMS). estrangeiras seja tributado no país pelo A saída definitiva naquela tempora- PIS/Cofins, pelo Imposto de Renda Pessoa da da embarcação fica condicionada à Jurídica (IRPJ) e pela Contribuição Social apresentação de relatório atualizado das sobre o Lucro Líquido (CSLL). mercadorias existentes a bordo, com a in- Nesse sentido, em relação ao IRPJ e à dicação dos bens que foram consumidos e CSLL, aplica-se a modalidade do lucro pre- comercializados no período, bem como dos sumido, justamente pelo fato dessas embar-

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cações não possuírem escrituração contábil a sujeição do resultado operacional das que permita a apuração pelo Lucro Real. embarcações à incidência do PIS/Cofins, do Assim, aplicando-se os percentuais de IRPJ e da CSLL, tal incidência, a nosso ver, 9,6% (venda de mercadorias) e 38,4% mostra-se questionável, eis que o fato de (prestação de serviços) para o IRPJ e 14,4% explorar atividade de cabotagem turística (venda de mercadorias) e 38,4% (prestação no País não confere à embarcação o status de serviços) para a CSLL sobre a receita de residente fiscal para fins de tributação, auferida pelas embarcações, chega-se à sendo certo que o representante legal exi- sua lucratividade presumida, alcançando- gido pela legislação atua tão somente como se o quantum devido pelos navios a título mandatário da empresa internacional de desses dois tributos. transporte marítimo. Por fim, sobre a receita bruta operacio- Diante disto, vemos com bons olhos a nal, aplica-se, ainda, o percentual de 3,65% discussão acerca da não incidência do IRPJ, para o cálculo do PIS/Cofins devido. Em- da CSLL e do PIS/Cofins sobre a atividade bora a regra fiscal seja clara ao determinar em questão.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Navio Mercante; Navio de Turismo; Impostos;

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IVO DE ALBUQUERQUE** Tenente-Coronel (Refo-EM)

SUMÁRIO

Introdução Operações de manutenção de paz Antecedentes Fundamentação Formas de atuação Caracterização do Prêmio Nobel O Nobel da Paz de 1988 Testemunhos Reconhecimento internacional Repercussão no Brasil Conclusão

INTRODUÇÃO das quais o Brasil participa desde 1948, emprestando valiosa colaboração à causa ano de 2013 assinala o transcurso da paz mundial. O do 25o aniversário de concessão do Apesar do alto significado de que se re- Prêmio Nobel da Paz de 1988 às Forças veste o fato de militares brasileiros de todos de Manutenção da Paz das Nações Unidas, os níveis hierárquicos, de oficiais generais

* Ver no Noticiário Marítimo a matéria do Dia Internacional dos Mantenedores da Paz da ONU. ** Associado Titular do Instituto Histórico de Petrópolis, Sócio Honorário da Academia Petropolitana de Letras. BRASILEIROS NA CONQUISTA DO PRÊMIO NOBEL DA PAZ DE 1988

a soldados, haverem integrado oito das 14 volveu Operações de Manutenção de Paz missões internacionais de paz sob a égide como um de seus principais instrumentos a da Organização das Nações Unidas (ONU) serviço dos vários meios de solução pacífica no período abrangido pela concessão da- de controvérsias, quais sejam: negociação, quela láurea, pouco ou nenhum realce tem inquérito, mediação, arbitragem, solução ju- sido até aqui emprestado ao evento. dicial, recurso a entidades, acordos regionais O presente trabalho visa, assim, es- ou ainda qualquer meio pacífico. sencialmente, contribuir para o resgate da Reportando-nos às origens daquelas memória do fato histórico representado atividades, assinalamos haverem elas se pela contribuição militar brasileira à con- iniciado e desenvolvido a partir de 1948, quista do Prêmio Nobel. Propõe-se, ainda, durante os anos da Guerra Fria, período a estimular pesquisas e acrescentar novos extremamente crítico, caracterizado pelo dados às raras informações e referências confronto ideológico entre as duas superpo- divulgadas pelos veículos de comunicação tências que emergiram da Segunda Guerra – oficiais e particulares – a respeito de tão Mundial, os Estados Unidos da América relevante assunto. e a extinta União da A inspiração do Repúblicas Socialistas tema selecionado de- As Nações Unidas Soviéticas (URSS), e corre da necessidade criaram as Operações de que iria perdurar até o de serem preservados final da década de 80. e difundidos feitos Manutenção de Paz como Ao longo de 40 notáveis de patrícios um de seus principais anos de apreensões, nossos, militares em em meio a um clima de sua quase totalidade, instrumentos para a solução tensão generalizada e e que se revestem de pacífica de controvérsias de antagonismos entre especial significância aqueles dois blocos para a projeção de nos- empenhados em obter so país e de nossas Forças Armadas, como a hegemonia e a dominação dos povos por pessoas, povo e Nação. Para tanto, iremos eles liderados, o mundo viveu sob risco proceder à abordagem daqueles feitos à luz permanente de uma potencial guerra nu- dos valores éticos, morais, e essencialmente clear. Nesse contexto, graças às Operações humanos de que os mesmos se revestem, de Paz, a ONU passou a se fazer presente tendo como objetivo contribuir para o res- no terreno dos conflitos, separar as forças gate da importância militar brasileira na beligerantes, monitorar o cumprimento de conquista do Prêmio Nobel da Paz de 1988. cessar-fogo e gerar a confiança necessária às partes litigantes. Sua conceituação, OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO publicada em maio de 2003 pelo Departa- DE PAZ mento de Informação Pública das Nações Unidas, estabelece que a atividade de Antecedentes manutenção da paz “é um meio pelo qual a comunidade internacional pode encorajar A Organização das Nações Unidas, cria- o estabelecimento de paz sustentável em da pela Carta das Nações em 26 de junho de locais e situações sob ameaça de conflito 1945 e cuja entrada em vigor se deu a 24 de ou onde este tenha sido recentemente outubro do mesmo ano, idealizou e desen- subjugado”.

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Fundamentação armamento leve e recorram a medidas de força em grau mínimo e unicamente em As Operações de Manutenção de Paz legítima defesa. se caracterizam pela forma de intervenção Nos casos em que países confla- não violenta, voluntária, executada com o grados não aceitaram a intervenção de consentimento das partes interessadas e terceiros em seus territórios, o Conselho revestidas de absoluta imparcialidade – sua de Segurança autorizou alguns Estados- arma mais poderosa. Membros a adotarem todas as medidas Como não possuem Forças Armadas necessárias – inclusive a força – para se próprias, as Nações Unidas planejam cada alcançar um objetivo específico. Esses operação em função das necessidades tipos de ações coercitivas por meio de específicas da nova situação. O desenca- operações bélicas conjuntas são denomi- deamento é autorizado pelo Conselho de nadas Operações de Imposição de Paz, Segurança, a quem dirigidas por um país incumbe fixar-lhe os ou grupo de países. objetivos gerais, a am- A presença das Forças de plitude e o calendário Manutenção de Paz permite Formas de atuação próprio. São, assim, os Estados-Membros que que atividades políticas e As Operações de integram o Conselho diplomáticas continuem Manutenção da Paz, a de Segurança – e não o a ser encaminhadas ditas de 1 Geração secretário-geral – que ou Clássicas, desde decidem sobre quando para alcançar uma paz seu início se desen- e para onde enviar duradoura volveram e foram forças de manutenção evoluindo no período de paz, as quais não da Guerra Fria sob a podem atuar onde não exista paz alguma constante ameaça de um potencial con- a ser mantida. fronto nuclear. Os integrantes dessas forças, conhecidos A forma tradicional de atuação con- mundialmente como “Capacetes Azuis”, sistia no desdobramento de pessoal, fun- representam a presença mais notória das damentalmente militar, de uma série de Nações Unidas nas zonas de conflito. países, sob o comando das Nações Unidas, Isso desde maio 1948, quando o primeiro com a finalidade de auxiliar no controle grupo de observadores militares chegou e na solução de conflitos armados entre ao Oriente Médio para supervisionar uma facções hostis. precária trégua durante a primeira guerra Os objetivos visados eram basicamente: entre árabes e israelenses. reduzir tensões, criar condições necessárias A presença das Forças de Manutenção às negociações de paz e verificar a execução de Paz permite que atividades políticas do previsto em acordos negociados. e diplomáticas continuem a ser encami- As operações envolviam duas cate- nhadas para alcançar uma paz duradoura. gorias principais: Missões de Observa- Por outro lado, a eficácia das ações ao seu dores Militares, compostas por número cargo é facilitada pela autoridade de que as relativamente pequeno de oficiais de- mesmas dispõem para abrir fogo em caso sarmados, encarregados de monitorar e de ataque, embora sejam equipadas com supervisionar um cessar-fogo, patrulhar

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fronteiras ou zonas desmilitarizadas e Nobel representa a maior láurea com que supervisionar a retirada de tropas e a são agraciados aqueles que se destacam separação de forças; e Forças de Paz, pela prestação de serviços que tenham compostas por contingentes de tropas trazido grande benefício à humanidade. nacionais levemente armadas, desdobra- É concedido anualmente, desde 1901, das para conduzir tarefas similares às dos às entidades e personalidades que hajam observadores e, com frequência, atuar desenvolvido trabalhos de projeção nos como um elemento neutralizador entre campos considerados pelo instituidor como os adversários, mantendo a integridade de vital importância para a espécie huma- territorial, a lei e a ordem. na, a saber: Promoção da Paz, Fisiologia No período de 1948 a 1987 foram e Medicina, Física, Química e Literatura. criadas 14 operações de manutenção de Os recursos para o Prêmio são oriundos paz, com a participação de pessoal de 58 de um fundo proveniente da fortuna aufe- países-membros. rida por Nobel com suas invenções, com a Os resultados das intervenções da ONU fabricação de explosivos e com os negócios refletiram, principal- da família na exploração mente, o nível de en- de petróleo na Rússia. gajamento das grandes No período de 1948 a 1987 Os investimentos desse potências nos diferentes foram criadas 14 operações fundo são controlados cenários e a vontade das pela Fundação Nobel, partes de alcançarem de manutenção de paz, com cujos estatutos estabele- uma solução para os a participação de pessoas cem como encarregadas conflitos. Essas condi- de 58 países-membros. de eleger os premiados cionantes foram respon- (indivíduos ou equipes) sáveis pela coexistência Brasileiros estiveram em 8 as seguintes entidades: de operações bem-su- missões de paz – Academia Real cedidas (Congo, Suez, Sueca de Ciência, para Irian Ocidental, Índia/ os campos de Física e Paquistão), com outras de resultado ques- Química; tionável (Iêmen e Líbano) e com aquelas – Real Instituto Carolíngeo Sueco de que ainda persistem no Oriente Próximo, Medicina e Cirurgia, para os campos da na Cachemira e em Chipre. Medicina e Fisiologia; A presença brasileira se verificou em – Academia Sueca de Letras, para o oito das 14 missões de paz Clássicas ou campo de Literatura; e de 1a Geração então desenvolvidas pela – Comitê de cinco membros do Parla- ONU, conforme especificação do quadro mento norueguês, para o Prêmio da Paz, da folha a seguir. que, excepcionalmente, é concedido a organizações. CARACTERIZAÇÃO DO PRÊMIO Registro especial merece o fato de haver NOBEL sido interesse inicial de Alfred Nobel o estabelecimento de um prêmio apenas para Instituído pelo testamento de Alfred ações que contribuíssem para o avanço da Bernhard Nobel (1833 – 1896), químico e paz, ideia essa ampliada pela adição dos engenheiro sueco que inventou a dinamite outros quatro campos que ele dispôs em e outros importantes explosivos, o Prêmio seu testamento.

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PARTICIPAÇÃO BRASILEIRA EM MISSÕES DE MANUTENÇÃO DE PAZ DAS NAÇÕES UNIDAS PERÍODO DE 1948 A 1988 (1)

MISSÃO MANDATO (EXTRATO) PAÍSES DURAÇÃO EFETIVO ATUAÇÃO

UNSCOB Observar a possível interferência dos países GRÉCIA Mai 48 3 oficiais (Mar. Observadores militares (Comissão Especial vizinhos – Albânia, Bulgária e Iugoslávia – na a Ex. e Aer.) das Nações Unidas nos guerra civil grega Mar 51 Balcans) (2)

UNEF-1 Monitorar o armistício de 1948 entre o recém- EGITO Jan 57 2 Gen Div Cmt UNEF (1a Força de Emergência criado Estado de Israel e os países árabes (Península do a das Nações Unidas) (3) (4) vizinhos Sinai e Faixa de Set 67 6300 Of e Pr EM/UNEF Gaza) (Ex) F PAZ (Btl SUEZ)

ONUC Garantir a integralidade territorial e a CONGO Jul 60 69 Of Pilotos de avião de (Operações das Nações independência política do Congo; evitar a guerra a transporte (C-47) e Unidas no Congo) civil Jun 64 helicópteros (5) 110 Pr (Aer) Pessoal de apoio de terra

UNTEA/UNSF Verificar o cumprimento do acordo de cessar- NOVA Ago 2 Of (Ex) Observadores militares (Força de Segurança das fogo entre forças da Holanda e da Indonésia nas GUINÉ/IRIAN a Nações Unidas) (6) lutas pela posse da Nova Guiné/Irian Ocidental OCIDENTAL Nov 62

UNYOM Supervisionar e implementar o acordo de YEMEN Set 1 Of (Ex) EM Pessoal do Cmt da (Missão de Observação desengajamento entre a Arábia Saudita e a a Força (Ajc) das Nações Unidas no República Árabe Unida Nov 63 Yemen) (7)

UNFCYP Prevenir hostilidades entre as comunidades CHIPRE Mar 1 Gen Bda Cmt Interino da Força (Força das Nações Unidas grega e turca; cooperar na manutenção da lei e a em Chipre) (8) da ordem Abr 64 1 Of EM Pessoal do Cmt da (Ex) Força (Ajc)

DOMREP Observar a situação referente à violação do REPÚBLICA Mai 65 1 Of Observador militar (Missão do Representante cessar-fogo entre os dois governos que se DOMINICANA a (Ex) do Secretário-Geral autodenominavam legítimos Out 66 da ONU na República Dominicana)

UNIPOM Supervisionar o cumprimento do acordo de ÍNDIA E Set 65 10 Of Observadores militares (Missão de Observação das cessar-fogo e da retirada das tropas para as PAQUISTÃO a (2 Mar. 6 Ex. e Nações Unidas na Índia e respectivas fronteiras ao Sul da Cachemira Mar 66 2 Aer) no Paquistão) (9) OBSERVAÇÕES: (1) O período de 1948 a 1988 se caracterizou por: Prevalecer a ocorrência de conflitos interestatais e operações de manutenção de paz “clássicas” uo de 1a geração. Abranger as 14 missões consideradas para a concessão do Prêmio Nobel da Paz de 1988 às Forças de Manutenção de Paz das Nações Unidas, aí incluídas as 8 de que o Brasil participou até 1967. (2) A UNSCOB, embora não relacionada como Força de Manutenção de Paz, possuía características próprias das missões de observação. Seus integrantes eram considerados representantes dos respectivos países e se reportavam diretamente à Assembléia Geral e não ao Secretário-Geral da ONU. Sua atuação estabeleceu precedente e gerou uma série de ensinamentos, aproveitados pelas Nações Unidas para definir as técnicas e regras das primeiras missões de observação nascidas nos anos de Guerra Fria: a da Palestina (UNTSO), em Jun 48 e a da Cachemira (UNMOGIP), em Jan 49. Além dos três militares citados, integraram a UNSCOB dois diplomatas: Ministros Vasco Leitão da Cunha e Silvio Rangel de Castro, que foram, sucessivamente, os chefes da delegação brasileira junto à Comissão Balcânica. (3) O Comando da UNEF-I foi exercido pelos GenDiv Carlos Flores Paiva Chaves (Jan a Ago 64) e Syseno Sarmento (Jan 65 a Jan 66). (4) De Fev 57 a Set 67 o contingente brasileiro (Btl Suez) teve os seguintes comandantes: a. Ten Cel Iracílio Ivo de Figueiredo Pessoa – de 2 Fev 57 a 14 Set 58; b. Ten Cel Ruy José da Cruz – de 14 Set 58 a 2 Nov 59; c. Ten Cel Luiz Dantas de Mendonça – de 2 Nov 59 a 20 Fev 61; d. Ten Cel Fernando Soter da Silveira – de 20 Fev 61 a 10 Jan 62; e. Ten Cel Darcy Lázaro – de 10 Jan 62 a 7 Jan 63; f. Ten Cel Thiago Torres – de 7 Jan 63 a 30 Jan 64; g. Ten Cel José Alberto Pinheiro da Silva – de 30 Jan 64 a 6 Fev 65; h. Ten Cel Sylvio Christo Miscow – de 6 Fev 65 a 14 Fev 66; i. Ten Cel Cid Olive Ferreira – de 14 Fev 66 a 1 Abr 67; j. Ten Cel Wilson Figueiroa Nepomuceno da Silva – de 1 Abr 67 a 25 Set 67. (5) O Ten Cel Av. Francisco Bachá, Comandante do 3o contingente brasileiro, exerceu o Comando do Esquadrão de Transporte da Missão (ANV C-47) de Jan a Set 62. (6) Oficiais da UNEF-1 desdobrados em missão avançada da nova Força de Paz. (7) Atuação eventual como observador militar, devido à carência de oficiais. (8) Em face da urgência da criação da nova Força, o GenDiv Carlos Flores Paiva Chaves, Comandante da UNEF-1, foi designado pelo Secretário-Geral da ONU para exercer, interinamente, o Comando da UNFCYP, na ausência do comandante nomeado, que se encontrava na Índia. Coube-lhe recepcionar os contingentes de tropas e dar início à organização da Força. O Embaixador Carlos Alfredo Bernardo atuou como representante especial do Secretário-Geral da ONU em Chipre (Set 64 a Jan 67) (9) O Ten Cel Osmar Pinheiro Paranhos, oficial mais antigo da delegação brasileira, chefiou no período de Dez 65 a Mar 66 o Quartel General junto ao Exército Indiano, segundo posto em importância na Missão.

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Cabe ressalvar que em 1968, foi insti- sua escolha sobre as Forças de Manutenção tuída pelo Banco da Suécia (Sveriges Riks de Paz das Nações Unidas, por representa- Bank) uma premiação de Ciências Econô- rem elas “a vontade manifesta da comuni- micas em memória de Alfred Nobel, a qual dade das Nações Unidas de alcançar a paz tem sido incorretamente referida como um por meio de negociações e porque elas, dos Prêmios Nobel. A referida premiação mediante sua presença, deram, em muitos é custeada pelo banco que a criou e não casos, uma contribuição decisiva para a pela Fundação Nobel, iniciação das negocia- e não pode ser consi- ções”. Assinalou, ain- derada como Prêmio Em 29 de setembro de da, a citação daquele Nobel, conforme vem 1988, o Comitê Norueguês Comitê haver sido tal acontecendo, pelo fato contribuição prestada de não haver sido in- Nobel anunciava haver “sob condições ex- cluída formalmente no recaído sua escolha sobre tremamente difíceis”. testamento de Nobel. Tais aspectos valori- O tema tem sido objeto as Forças de Manutenção zam, sobremaneira, a de contestações por de Paz das Nações Unidas, atuação dos integrantes seus descendentes e já por representarem elas das referidas Forças. ensejou a proibição dos Cabem aqui al- mesmos quanto ao uso “a vontade manifesta da guns esclarecimentos do nome Nobel para comunidade das Nações por conta de dúvidas, criação de quaisquer suscitadas até recen- outras eventuais “ho- Unidas de alcançar a paz temente, sobre como menagens” do gênero. por meio de negociações...” situar o alcance e os As seleções dos destinatários daquela vencedores do Prêmio premiação. Nobel são baseadas em trabalhos realizados O primeiro ponto a destacar é que os durante os anos antecedentes à concessão brasileiros em geral, inclusive uma con- a cada um dos laureados, que recebe uma siderável parcela de militares de várias expressiva quantia em dinheiro (um milhão gerações, desconhecia até pouco tempo de coroas suecas em 1998), um diploma e atrás a história de nossa participação na uma medalha de ouro, assumindo, ainda, o conquista de uma das maiores láureas da compromisso de publicar, no prazo de seis era contemporânea. meses, um trabalho sobre o assunto que lhe As razões desse desconhecimento podem proporcionou a distinção. ser identificadas em sua origem, pois estão Os Prêmios Nobel são valiosos não associadas ao período, já por demais longo, apenas sob o ponto de vista financeiro, mas, de manifestações hostis e revanchistas para sobretudo, pelo que representam em termos anulação de tudo quanto possa contribuir de prestígio e reconhecimento e como para exaltar ou favorecer a classe militar. atestado de excelência a seus ganhadores. Incompreensíveis, porém, se tornam a omissão, o silêncio e até o desvirtuamento O NOBEL DA PAZ DE 1988 do alto significado daquela participação por parte de autoridades e personalidades a Em 29 de setembro de 1988, o Comitê quem caberia zelar pela projeção favorável Norueguês Nobel anunciava haver recaído de nossas instituições militares.

146 RMB2oT/2013 Integração com a população local em Fazilka – Índia

O então ministro da Guerra, General Costa e Silva, em visita ao Batalhão Suez em 1966, acompanhado do comandante da Unef I, General Syzeno Sarmento, cumprimenta o Capitão Jorge B. Ribeiro, integrante do Batalhão

Delegação Brasileira após cerimônia de Condecoração com a Medalha da ONU pelo General Bruce F. McDonald, comandante da Missão (Lahore, Paquistão, 3 Março 1996

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Testemunhos seguidos pela persistência e dedicação da Organização, durante muitos anos, às Como resposta a esse tipo de dúvidas e atividades em favor da paz.” a outras porventura ainda hoje existentes, 4. O destaque também efetuado pelo oferecemos os seguintes testemunhos, secretário-geral da ONU em seu discurso na frutos dos trabalhos de pesquisa que vimos Cerimônia de Premiação na Universidade realizando há mais de 15 anos, a saber: de Oslo: 1. As referências extraídas da alocução “...Os senhores estão também distin- do presidente do Comitê Nobel, Egil Aar- guindo os soldados da paz, cerca de meio vik, por ocasião da cerimônia solene de milhão de jovens homens e mulheres de o entrega da premiação, em 1 de dezembro 58 países...” de 1988, na Universidade de Oslo: 5. A referência constante da revista “Na seleção do laureado com o Prêmio Verde Oliva, do Centro de Comunicação da Paz deste ano, o Comitê Nobel atribuiu Social do Exército, no 152, de nov/dez 96, grande importância ao papel das pessoas sob o título “Prêmio Nobel é dos Soldados jovens nas Forças de Manutenção de Paz da Paz”: das Nações Unidas. É precisamente a con- “O Prêmio Nobel da Paz concedido em tribuição da juventude que torna possível a Oslo (Noruega) às Forças de Manutenção realização dos objetivos das Nações Unidas da Paz, reconhece o conjunto das missões num sentido positivo.” enviadas a 14 cenários bélicos nos últimos “Assim é que os vencedores do Prê- 40 anos, integradas tanto por forças militares mio podem hoje levantar sua bandeira (Capacetes Azuis), com armamento leve, das Nações Unidas e responder com as quanto por observadores (Boinas Azuis).” palavras desse poema feito por um dos Oportuno se faz, a nosso ver, lembrar o nossos próprios jovens tombados: ‘Essa é pensamento do grande historiador medieva- a espada que você deve usar em sua luta. lista francês Marc Bloch, que enraíza mais Fé na sua vida e no direito do homem dado profundamente a História na verdade e na por Deus’...” moral. Diz ele, acerca da investigação his- 2. As referências expressas pelo Depar- tórica, que “ela deve se voltar de preferên- tamento de Informação Pública das Nações cia para o indivíduo ou para a sociedade”. Unidas na publicação ‘Nações Unidas – 40 anos’, alusiva à homenagem: Reconhecimento internacional “Ao conceder o Prêmio… o Comitê No- rueguês Nobel destacou as pessoas jovens Coube ao Governo da Noruega, res- de muitas nações que, movidas por seus paldado pela autoridade que lhe confere ideais, se engajam voluntariamente num a condição de responsável pela indicação serviço exigente e arriscado pela causa dos laureados na categoria de Preservação da paz.” da Paz, o preenchimento dessa lacuna, por 3. As declarações do então secretário- meio do reconhecimento oficial da parti- geral da ONU, Javier Perez de Cuellar, cipação de seus soldados na conquista do perante a Assembleia Geral em Nova York, Prêmio Nobel de 1988. Com esse elevado a respeito da outorga do Prêmio: propósito, veio de ser criada a condecora- “Os recentes êxitos das Nações Unidas ção “The Nobel peace prize medal 1988”. não foram súbitos e nem fortuitos, mas Instituída em 1995 por iniciativa da representam resultados duramente con- Associação Norueguesa de Veteranos da

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ONU, destinava-se, inicialmente, a con- templar os membros daquela entidade que integraram as Forças de Manutenção de Paz das Nações Unidas até a data de concessão do Prêmio. A posterior classificação como insígnia oficial internacional, aprovada pela Comis- são de Medalhas do Ministério da Defesa da Noruega e pela Associação do Prêmio Nobel, veio possibilitar sua concessão, já sob a denominação de “The international Diploma Nobel da Paz de 1988 (Reprodução) peace prize 1988”, a veteranos da ONU de outras nacionalidades, desde que devida- mente habilitados mediante comprovação documental dos serviços prestados e aten- dimento às demais disposições reguladoras. A outorga da condecoração e de seus complementos pelas autoridades norue- guesas vem contribuir de forma marcante para resgatar a importância do fato histó- rico representado pela efetiva participação de militares brasileiros de todos os níveis hierárquicos – de soldados a generais – na conquista do Prêmio Nobel da Paz de 1988. Acompanham a medalha uma repro- dução do diploma original da premiação, que se encontra na sede da ONU em Nova York, e um certificado individualizado de Certificado de Participação (Individual) participação nas Forças laureadas com aquela distinção. A primeira cerimônia de imposição solene da condecoração a veteranos brasi- leiros já habilitados perante as autoridades norueguesas foi realizada no Palácio Ita- maraty, Rio de Janeiro, em 29 de maio de 2002, como parte das comemorações do Dia Internacional dos Guardiães da Paz, recentemente instituído por Resolução da Assembleia Geral da ONU “para render tributo a todos os homens e mulheres que serviram e continuam a servir às Operações de Manutenção de Paz das Nações Unidas, por seu alto grau de profissionalismo, de- dicação e coragem, bem como para honrar a memória daqueles que perderam a vida Medalha Internacional Prêmio da Paz 1988 pela causa da paz”.

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Centenário da instituição dos Prêmios Nobel no Palácio Itamaraty

Mesa Diretora de Solenidade no Clube Militar (orador é o autor do artigo)

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Repercussão no Brasil 2001, ambas da Consultoria Jurídica do Ministério da Defesa, verbis: “...Entretanto, A inexistência de qualquer símbolo, ato segundo consta, até hoje não se previu o ou documento oficial do Brasil que registre, reconhecimento da colaboração brasileira de forma específica, o reconhecimento na- por meio da criação de um certificado cional à participação de militares brasilei- honorífico individualizado destinado a ros naquela conquista constitui, ainda hoje, esses militares (...) Preliminarmente, em uma dupla lacuna – histórica e de justiça – à face da realidade apresentada, o que com- luz de seus valores que norteiam a cultura pete a esta Consultoria Jurídica analisar, institucional de nossas Forças Armadas, encontra-se no âmbito da legalidade, não notadamente aquela voltada para a justa havendo óbice jurídico à criação do título valorização de fatos e de reconhecimento da feitos. colaboração brasileira Visando sanar tal de- às Forças de Manuten- ficiência, foram por este ção de Paz das Nações autor encaminhadas a Unidas, observada a diversas autoridades, legislação pertinente...” desde 1998 até 2001, Ocorre que, no curso sucessivas propostas da tramitação do proces- objetivando a expe- so respectivo no âmbito dição de um singelo do Ministério da Defesa, certificado, símbolo co- seguida de encaminha- memorativo a ser confe- mento aos comandos das rido aos ex-integrantes três Forças Singulares, brasileiros das Opera- foi atribuída conotação ções de Manutenção diferente ao enunciado de Paz abrangidas pela original da Proposta, concessão do Prêmio posto que dela foi retira- Nobel da Paz de 1988. Intróito da Carta da ONU da a expressão definidora A nosso ver, suas pro- da real destinação do Cer- posituras estariam respaldadas pela identifi- tificado, qual seja, aos ex-integrantes das cação com medida adotada pelo Ministério Forças de Manutenção de Paz ditas de 1a da Defesa da Noruega, país concessionário Geração ou Clássicas, que atuaram durante do Prêmio Nobel da Paz, e fortalecidas o período da Guerra Fria (1948 a 1988), pelas referências de apreço, de estímulo e, em meio a crises de extrema gravidade e, mais ainda, por informações sobre enca- como já aqui mencionado, passíveis de gerar minhamentos e consultas a outros órgãos, embates de dimensões imprevisíveis. As 14 “andamento para estudo de caráter urgente Forças de Manutenção de Paz da ONU des- pelo mérito”, reconhecimento “quanto à le- dobradas durante aqueles 40 anos de tensão galidade” e de receptividade por parte de au- permanente contaram, conforme também já toridades destinatárias e/ou interlocutórias. dito, com a participação de 6.500 oficiais Cumpre aqui assinalar o relato constan- e praças, de soldados a generais, em oito te da Informação no 132/Conjur-2000, de 9 missões integradas por tropas e observadores de agosto de 2000, transcrito na Informação militares, para os quais está sendo postulado no 005/Conjur-2000, de 6 de janeiro de o devido reconhecimento nacional.

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CONCLUSÃO que o conhecimento de sua ocorrência está fundamentado em provas documentais e A presença brasileira nas Operações testemunhos da maior credibilidade. de Manutenção de Paz das Nações Unidas O reconhecimento oficial à contribuição abrangidas pela concessão do Prêmio No- de nossos soldados, aviadores e marinhei- bel da Paz de 1988 não constitui um fato ros para aquela conquista memorável e efêmero, isolado por natureza, mas sim per- honrosa se situa no campo da História como tence ao domínio dos ciência moral, cujo ob- fatos históricos, posto jetivo material são os que adquiriu sentido Nunca é tarde demais atos humanos, essen- por suas relações de para se reparar atos que cialmente individuais, causa e efeito com contrariam testemunhos concretos e únicos. fatos posteriores. Impõe-se, assim, Tal participação, irrefutáveis desmistificar atitudes em todos os detalhes tendentes a omitir, des- que a valorizam, se conhecer ou rejeitar o reveste do critério de verdade, representado fato histórico da participação de nossos por seus aspectos de evidência objetiva militares na conquista do Prêmio Nobel da e certeza. Tais atributos lhe conferem a Paz de 1988. Imperativo se torna também condição de verdade histórica, uma vez admitir com isenção, humildade e elevado

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senso de justiça que a interpretação adequa- os registros e testemunhos alusivos a sua da do referido fato deixou de se consumar ocorrência. à época da concessão daquela láurea talvez Em síntese, a participação efetiva de em virtude de não haverem sido considera- cerca de 6.500 militares brasileiros em dos, em seus devidos termos e amplitude, oito das 14 Forças de Manutenção de

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Paz das Nações Unidas (Observadores e omiti-lo, desvirtuando-lhe o extraordinário Tropas) que vieram a ser laureadas com significado. a conquista do Prêmio Nobel da Paz em Sua evocação favorece o caráter de 1988 é um fato verdadeiro e comprovado do historicidade de que o mesmo se reveste! qual não se pode fugir, diante de eventuais Nunca é tarde demais para se reparar atos argumentos e procedimentos passíveis de que contrariam testemunhos irrefutáveis.

“O essencial é invisível aos olhos... de adultos atropelados pelo tempo, pres- sionados pela velocidade da vida. De repente, retornam os sonhos. Reaparece a lembrança de questionamentos, desvelam-se as incoerências acomodadas, quase já imperceptíveis na pressa do dia a dia. Voltam ao coração escondidas recordações. O reencontro, o homem menino...” Antoine de Saint-Exupéry

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; ONU; Missão de Paz; Forças Armadas do Brasil; Prêmio Nobel;

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, Ivo. “Presença Militar Brasileira na conquista do Prêmio Nobel da Paz de 1988”, in Revista do Exército Brasileiro. Rio de Janeiro, vol. 106, p. 46-49, 4o trim de 1999. ALMEIDA, José Jobson de A. “História Moderna e Contemporânea”. Editora Ática, 7a edição, p. 366 a 368. DA SILVA, Alberto Martins. “Operações de Paz das Nações Unidas”. Pesquisa Histórica. Brasília – DF, s/d. EXÉRCITO BRASILEIRO. Centro de Comunicação Social. Revista Verde Oliva no 28, 55, 80, 152, 166 e 168. ______“Operação de Manutenção de Paz: Projetando o Poder Nacional”, Noticiário do Exército no 9.122, Brasília – DF, jun 1966. FONTOURA, Paulo Roberto Campos Tarrisse. “O Brasil e as Operações de Paz das Nações Unidas”, Curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco. Brasília, Fundação Alexandre de Gusmão, 1999, 409 p. MESQUITA, Henrique Augusto de Araujo. “A ONU e sua experiência de Segurança Coletiva e Internacional”. Rio de Janeiro, Escola Superior de Guerra, no T-103-73,1973. NOBEL, PRÊMIOS. Nova Barsa, V. 10, 1999, p. 339. PARANHOS, Osmar Pinheiro.” Participação da Delegação de Observadores Militares Brasileiros no Conflito India – Paquistão”,Revista Militar Brasileira, Rio de Janeiro, p. 51-60, no 209, 2o semestre, 1996. REVISTA DO CLUBE MILITAR. “A presença brasileira em organismos internacionais – A busca da Paz”. Rio de Janeiro, no 310 mar/abr 1993, p. 26 a 28. UNITED NATIONS PEACE KEEPING. Information Notes – Update: December 1994. WANDERLEY Clovis Filho. “Observadores da ONU na Nova Guiné” – Revista de Cultura Militar. Rio de Janeiro, no 187/188, p. 199-206, mai-jun 1964.

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ROSEANE SILVA NOVAES* Museóloga

SUMÁRIO

Depoimento: Vivência como oficial da Marinha do Brasil durante a Segunda Guerra Mundial e o Navio-Museu Bauru Comboios Sonar e o ataque Marinha no período da Segunda Guerra Mundial Base Naval de Natal Possível exposição no Navio-Museu Bauru Depoimento sobre as razões que justificaram a atribuição de Monumento Histórico ao Navio Bauru Depoimento sobre a musealização do Navio Bauru e sobre a concepção e montagem da exposição em 1982 Depoimento sobre a restauração sofrida pelo Navio-Museu Bauru entre 2007 e 2010 e a exposição em suas dependências

1 Entrevistas realizadas pela autora e apresentadas como apêndice à dissertação de Mestrado em Museologia e Patrimônio da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – Unirio e Museu de Astronomia e Ciências Afins – Mast, Rio de Janeiro, março de 2011. * A autora atuou como consultora e coordenadora de vários projetos de museologia na Marinha: projetos da Ilha Fiscal e de revitalização do Museu Naval, da Reserva Técnica da Ilha Fiscal, de implantação do Centro Cul- tural da Marinha em São Paulo e de revitalização do Museu do Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira. Foi chefe do Departamento de Museologia do então Serviço de Documentação da Marinha (2001 a 2003) e professora substituta na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Atualmente trabalha no Departamento de Gestão Cultural da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. NAVIO-MUSEU BAURU: Expressão da história naval recente (Parte 3 – final)

DEPOIMENTO: VIVÊNCIA COMO O navio da escolta rodeava a formatura OFICIAL DA MARINHA DO BRASIL do comboio a 3 mil, 4 mil metros de dis- DURANTE A SEGUNDA GUERRA tância, fazendo um zigue-zague, para cobrir MUNDIAL E O NAVIO-MUSEU grande área de vigilância, com velocidade BAURU maior do que a do comboio, de forma que o avanço dos dois fosse o mesmo. Entrevistado: Vice-Almirante (Refo) Os escoltas mantinham operando um Helio Leoncio Martins equipamento submarino chamado sonar Historiador e escritor especialista em (veremos adiante o que seja), que podia História Naval brasileira. Veterano da detectar submarino a 3 mil metros de dis- Segunda Guerra Mundial tância. Quando havia esse contato, partia Data: 7 de dezembro de 2009 para atacá-lo com bomba de profundidade, no entanto não devia ficar afastado muito Comboios tempo de sua posição, pois o submarino poderia aproveitar a brecha. A defesa principal dos navios mercan- Nossa atitude era chamada de passiva tes contra os submarinos foi juntá-los em porque tinha prioridade a defesa do com- comboios. Os navios mercantes, viajando boio e não a destruição do submarino. isoladamente, ficavam muito vulneráveis, Os submarinos mergulhados desloca- assim os comboios deviam ser defendidos vam-se muito lentamente naquela época. por uma escolta. A quantidade de navios na Tomavam posição adiante do comboio escolta dependia do tamanho do comboio para lançar seus torpedos. Se eram obri- e do perigo que se previa na área. Contra gados a se deslocar para evitar as bombas, os submarinos eram utilizados os caça- perdiam essa posição favorável e deixavam submarinos, as corvetas e os contratorpe- o comboio passar. Assim, fazê-lo passar deiros de escolta, todos navios de rápida sem perdas já era uma vitória. Às vezes construção e baratos. os submarinos eram apenas avariados, e, Havia linhas de comboios permanentes. vindo à superfície, poderiam ser destruídos Nossa linha, a que nos coube proteger, era por aviões. de Trinidad até o Rio de Janeiro e do Rio de No Atlântico Sul, os submarinos ope- Janeiro até Trinidad. Todos os navios que ravam sozinhos. No Atlântico Norte, vinham para o sul se reuniam em Trinidad. formavam o que chamavam de matilha de Organizavam-se em comboios (chamados lobos, atacando ao mesmo tempo. Seus TJ) que iam descendo e deixando ou rece- alvos eram os comboios importantíssimos, bendo navios em Belém, Recife, Salvador, transportando tropas ou suprimentos dos até o Rio de Janeiro, como um trem que Estados Unidos para a Europa. fosse largando ou recebendo seus vagões. Os mais perigosos comboios da guerra E vice-versa (os JT). Do Rio de Janeiro, eram os que levavam armas e suprimentos da pequenos comboios iam até Florianópolis. Inglaterra para Murmansk, no norte da Rús- Os TJ duravam 12 dias de viagem, e os sia, acompanhando a costa da Noruega, então JT oito, devido às correntezas. Sua velo- dominada pela Alemanha. Eram atacados por cidade era de acordo com a do navio mer- submarinos, aviões e navios, obrigando suas cante mais lento, normalmente oito milhas escoltas a incluir até encouraçados. marítimas por hora [uma milha marítima é Normalmente um dos escoltas, colocado igual a 1.852 metros]. na retaguarda dos comboios, era encarrega-

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do de socorrer os náufragos dos mercantes recorder. Sabia-se, assim, em qual direção afundados. E isso não só por razões huma- e com que velocidade o submarino (se fosse nitárias; pretendia-se também diminuir as este) estava indo. perdas de marinheiros. Navio se faz em um Isso até um determinado ponto, pois ano, gente leva mais tempo. Havia dois mais ou menos a 300 metros de distância, tipos de náufragos que não eram socorri- quando o submarino entrava em zona de dos: os dos comboios para e de Murmansk, escurecimento, fora do feixe da frequência pois na água gelada ninguém sobrevivia sonar, desaparecia. Daí em diante, o ataque mais de um minuto; e os tripulantes dos era feito por estimativa. navios-tanque de gasolina de aviação, pois Para compensar os possíveis erros dessa não havia sobreviventes da explosão. Por estimativa, lançavam-se bombas de profundi- acaso, assisti a uma dessas. Quando um dade em número maior ou menor, conforme a navio-tanque foi torpedeado na costa de certeza do ataque, em diversas profundidades Trinidad e Tobago, a noite virou dia. e distâncias, formando uma figura chamada Os navios operavam em conjunto com “padrão” cobrindo área na qual poderia estar aviões. Os contactos com submarinos o submarino. Esse era o ataque. mergulhados só os navios faziam, mas Depois de as bombas explodirem, a confu- os aviões chegavam rapidamente quando são das camadas térmicas do mar impediam o havia aviso da existência de um submarino contato sonar durante algum tempo. A fim de em certa área ou quando os avistavam de permitir que o ataque continuasse, os navios longe. Os submarinos só ofereciam perigo dispunham de dois tipos de foguetes que po- quando estavam perto dos alvos, isto é, do diam ser lançados quando se perdia o contato inimigo, podendo atingi-los. sonar. Estes só detonariam se atingissem o submarino. Se não o fizessem, a tranquilidade Sonar e o ataque das térmicas permitiam que o sonar continuas- se. O acerto dos foguetes era pequeno, e nem O sonar era o centro do navio. Constava sempre era aconselhável utilizá-los. de um projetor de som no casco, na proa, com controle no passadiço. Emitia uma Marinha no período da Segunda Guerra frequência sonora de cinco em cinco graus, Mundial girando 360 graus dia e noite. Fazia um ruído como um pássaro (daí o chamarem Houve uma modificação da Marinha de de “araponga”), ouvido pelo controlador e antes da guerra para a de depois da guerra. repetido dia e noite, noite e dia. Saí da Escola Naval antes da guerra, em Quando encontrava um obstáculo, que 1935. A Marinha estava inteiramente des- poderia ser uma baleia ou um submarino, preparada, tanto em termos de material como dava um eco. Era preciso que o operador de conhecimentos em relação ao tipo de ope- do sonar tivesse um treinamento de ouvido rações que nos esperava. Estava parada. Nos muito bom para distinguir um som de outro. anos 30, com a guerra já se aproximando de Nesse momento iniciava-se um ataque. O nós, o Ministro Guilhem decidiu construir navio aproava para o eco. Procurava-se no Brasil uma Marinha – medida correta em apontar o sonar para os dois extremos do outra situação – com recursos puramente eco (esperando-se que fosse do submarino). navais – quando a indústria nacional era As direções e distâncias do eco eram regis- praticamente inexistente. A Marinha passou tradas em outro equipamento, o chemical a dispor de muito bem organizadas fábricas

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de canhões, torpedos, munição e aviões e assim, conseguiu manter 24 navios antis- a estimular a construção de navios, mas submarinos operando continuamente com estes não dos tipos de que iríamos precisar pouquíssimos recursos. Deve-se isso à na guerra antissubmarinos. Com os desen- liderança e à capacidade do Almirante Ary volvimentos da Segunda Guerra Mundial e Parreiras1, que a construiu e comandou. O as dificuldades de importação, as fábricas trabalho era exaustivo. Se houvesse neces- navais tiveram que ser fechadas, mas fo- sidade de terminar o serviço em navios que ram extremamente úteis como padrões e estavam esquematizados para operar, era suprimento de pessoal habilitado quando possível em um sábado receber-se o aviso do desenvolvimento da indústria nacional de que o dia seguinte era “segunda-feira” no pós-guerra, e os navios varredores de – ou que a Base não encerrava seu dia de minas que haviam sido construídos foram serviço. E o prestígio do Almirante – que transformados em corvetas. era também um grande trabalhador – fazia Mas realmente foi um “corre-corre” para com que isso fosse aceito como normal, obtermos o material de que não dispúnha- todos trabalhando satisfeitos. mos, e que ficou urgente. Conseguimos O Almirante de Natal [Ary Parreiras] adaptando tudo de que dispúnhamos para queria preparar recrutas. Fiquei quatro navios antissubmarinos e recebendo outros meses em Natal, encarregado de instalar o dos Estados Unidos. Centro de Treinamento (primitivo, em um Nós entramos na guerra em agosto. O cortume desapropriado) e transformá-los estado de guerra foi declarado dia 22. Dia em marinheiros. Foi uma tarefa diferente 23, fui para o mar embarcado em um contra- de tudo o que havia feito na Marinha. O torpedeiro construído em 1908, queimando Almirante os chamava de “Cossacos de carvão. Quando você ingressa na vida Natal”, porque usavam calções e camise- militar, uma das cláusulas que pesam no tas, o que era novidade na Marinha. Isto contrato com a Nação é que o risco de vida devido a haver pouca roupa disponível e faz parte da carreira. Você não tem o direito ser uma maneira de verificar se tinham mo- de reclamar. Mas risco de vida não quer dizer léstias de pele. Muitos andavam descalços. imolação! Não é arriscar vidas lutando sem Deviam ter vermes. Com a impossibilida- possibilidades de reagir, como era o caso de de verificar isso em exames, decidiu-se quando embarcamos num destróier de 1908. que todos tomariam vermífugos. Isto em Era risco de vida indefeso. Nós tínhamos 600 homens foi uma “prova de Hércules”. dois canhões 101 mm, e só. Não dispúnha- Desfaleciam, prostrados na cama. Da cama mos de bombas de profundidade, nem de para o banheiro, do banheiro para a cama. equipamento de guerra antissubmarino. Isso até as 4 horas da tarde. Depois das 4, demos-lhes uma canja, e começaram Base Naval de Natal a andar. Viraram marinheiros, mas com tantos acontecimentos que mereceram A Base Naval de Natal foi praticamente uma crônica com o nome de “Cossacos construída durante a guerra, mas, mesmo de Natal”.

1 O Contra-Almirante Ary Parreiras foi responsável pela instalação e a operação da Base Naval de Natal durante a Segunda Guerra Mundial – “Um líder respeitado por todos os marinheiros, com capacidade técnica apurada. [...] Em abril de 1945 deixou o cargo, sendo promovido a vice-almirante em seguida. Em julho do mesmo ano faleceu, com apenas 55 anos de idade.” BONO Especial No 745/2009 da Dctim.

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Possível exposição no Navio-Museu Data: 29 de junho de 2010 Bauru Pergunta: Como teve início sua parti- Atualmente existem no Navio-Museu cipação no processo de musealização do Bauru algumas fotos e objetos da guerra. Bauru? Não acho o bastante. O visitante seria mais Resposta: Houve uma cerimônia junto bem instruído se lhe fosse mostrado como ao tal Monumento aos Pracinhas – eu não o navio operava, isto é, seu posicionamente aceito esse nome, tanto que não vou mais lá. na escolta, como detectava os submarinos O comandante do 1o Distrito Naval (1o DN) e como os atacava. era o Maximiano2, e eu, trocando ideias com O posicionamento poderia ser mostrado ele, falei sobre o Bauru. Ele disse: “Faz um por meio de um modelo reproduzindo, em expediente para o ministro da Marinha via 1o miniatura, a formatura dos mercantes e o DN”. No dia seguinte, “lasquei” o documento. posicionamento dos escoltas. P: Em que ano foi isso? Quanto à detecção e ao ataque, creio R: Meu expediente inicial foi de 25 de que haja meios de, montando o controle junho de 1976. [Nesse momento ele apre- do sonar no passadiço, fazer-se uma boa sentou uma pasta com vários documentos3]. simulação de seu funcionamento, com o Tem tudo até o 5o despacho, em que o minis- som sendo ouvido, assim como um eco e, tro aprova a proposta de transformar o navio daí, prosseguir o ataque, terminando com em monumento histórico/navio-museu. o lançamento das bombas, com som, e uma [O Almirante passa a ler o despacho do reprodução fotográfica das explosões sendo ministro.] “Participo a V. Exa. [chefe do mostrada em um telão. Estado-Maior] que aprovo a sugestão des- Pôsteres podem explicar o que está se se Estado-Maior, devendo ser aguardada passando. E o “show” é repetido a cada hora. ocasião mais oportuna para decisão final sobre o assunto.” DEPOIMENTO SOBRE AS Tempos depois, quem assume a pasta RAZÕES QUE JUSTIFICARAM A da Marinha? O Almirante Maximiano ATRIBUIÇÃO DE MONUMENTO Eduardo da Silva Fonseca. Peço a ele uma HISTÓRICO AO NAVIO BAURU audiência para tratar de outro assunto. Quando me recebeu, ele disse: “Já sei, vens Entrevistado: Vice-Almirante (Refo-IM) falar do Bauru”. Estanislau Façanha Sobrinho “Não. Você que é o ministro. Eu não Veterano da Segunda Guerra Mundial. tenho mais nada o que dizer do Bauru. Quando segundo-tenente intendente, serviu Ministro, eu queria o navio preservado e embarcado no Cruzador Bahia e no Contra- queria que ficasse ao lado do monumento torpedeiro Marcílio Dias durante o conflito [dos Pracinhas, na Marina da Glória, Rio e foi o responsável pelo início do processo de Janeiro].” de musealização do Navio-Museu Bauru. Porque a minha intenção era ofuscar o E, como declarado por ele, acompanha monumento. E foi conseguido. O museu todas as ações que incidem sobre o navio. despertou muito mais curiosidade!

2 Almirante de Esquadra Maximiano Eduardo da Silva Fonseca. Nasceu em 6 de novembro de 1919 e faleceu em 3 de abril de 1998. Foi ministro da Marinha no governo do Presidente João Figueiredo (1979-85). 3 Posteriormente, esses documentos foram doados à autora da dissertação.

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Fizeram um negócio para fazer a amar- R: Não. Mas a transformação do navio ração. Depois disso, viram que o local não em navio-museu se deve a uma iniciativa era bom e transferiram. E hoje ele está no minha. Eu sou o autor disso. cais do Espaço Cultural da Marinha [Praça [Passou a comentar os artigos de jornais XV, Centro, Rio de Janeiro]. que anunciavam a inauguração do navio- Naquele momento, o que eu queria era museu] ofuscar o monumento. E isso eu consegui. P: O senhor estava na ativa nessa época Agora está aí. [1982]? P: Em 1976 o senhor já tinha pensado R: Não. Fui para a reserva em 1977. no Bauru, ou poderia ser qualquer navio P: O senhor participou da elaboração da da guerra? exposição? Foi consultado? R: Não. Porque ele era o único da guerra. R: Não. Era sobra da guerra, um sobrevivente. O P: Qual foi a sua participação depois, Bauru é um sobrevivente. Eu não me con- quando ele virou museu? formava. Em pouco tempo estaria virando R: Nenhuma. O que eu queria era a ideia sucata. O Maximiano me deu grande força: do museu. “Faz o despacho.” Eu fiz o expediente, e ele P: O senhor participou da abertura? deu todo o apoio. R: Não. Nunca mais fui lá. Ele está em [Nesse momento o Almirante passou a reparo. Precisando trocar as chapas [de comentar as cópias dos expedientes que ele aço da estrutura]. Mas eu tomo conta dele. havia levado para a entrevista.] Estou de olho. O primeiro despacho é do 1o DN. Tem P: O senhor, então, é o padrinho do a opinião do Serviço de Documentação navio-museu? [Geral] da Marinha; e depois o segundo R: Eu sou pai, padrinho, sou tudo. Depois despacho, que é do Maximiano, que diz: disso a Marinha aprendeu comigo. Aí colocou “Face ao exposto, este comando é favorável um submarino5; aliás, fui eu o oficial que rece- a que o AvOc4 Bauru, pela sua importância beu esse submarino no cais. Agora colocaram histórica, seja preservado, após sua baixa um helicóptero.6 Eu não me conformava. Não do serviço ativo, nos termos da proposta se conservava na Marinha. Ainda tentei outro apresentada no ofício inicial”. [ofício do [navio], o Cruzador Tamandaré. Almirante Façanha] P: O Bauru é da Segunda Guerra Mun- Eu sempre tinha a mania de escrever dial. Está sendo preservado por conta disso? mensagens. O navio [Bauru] completava R: Sim. qualquer data, e eu fazia uma mensagem. P: O senhor queria um símbolo da Se- Esta é da passagem dele de contratorpe- gunda Guerra preservado? Era essa a sua deiro de escolta para aviso oceânico. [O intenção? Almirante passou a ler partes da mensa- R: [Meneio de cabeça positivo.] Há gem]: “Mensagem ao comandante, oficiais coisas com as quais não me conformo. e praças do AvOc Bauru. O nome dos oito Sou assinante da revista Forças Armadas navios da classe do Bauru...” em Desfile, que publicou: “Homenagem do P: O senhor serviu nele? Congresso Nacional aos ex-combatentes”.

4 Navio aviso oceânico – navio auxiliar em missões de pesquisa e hidrografia. 5 Submarino-Museu Riachuelo – também atracado e aberto para visitação no cais do Espaço Cultural da Marinha. 6 Helicóptero-Museu – pousado em área do estacionamento do Espaço Cultura da Marinha.

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Aí aparecem lá os caras de boinas azuis perguntou, e eu sempre negando. Eu disse da FEB [Força Expedicionária Brasileira]. que iria ao serviço de pessoal militar me Depois, os comentários só falam em FEB... informar das intenções deles em relação a Fui nomeado segundo-tenente em 8 de mim. “Nossa intenção é lhe mandar para fevereiro de 1943 e logo depois já estava um DE.” Me empolguei! Os DE estavam pedindo para embarcar no Cruzador Bahia, chegando. O Bahia era um navio veterano o navio que viria a explodir. Fui embarcado da Primeira Guerra Mundial. Estava todo no Bahia 19 meses! Desembarquei porque quebrado. Não tinha nada. Mas eu estava fui tapeado! Por que eu pedi para embarcar feliz da vida! Eu queria era estar embarcado. no Cruzador Bahia? O comandante foi Aí eu não aguentei. Disse ao comandante meu imediato. Era espetacular. O chefe do Bahia: “Eles querem me mandar para de Armamento tinha sido meu instrutor um DE. Vou desembarcar”. O comandante na Escola Naval. E o navio tinha cinco disse: “Desembarca porque quer. Se não segundos-tenentes que haviam sido da quiser não desembarca”. Eu desembarquei. turma do Maximiano. E eu sempre gostei Apresentei-me à Diretoria de Pessoal dessa turma. Por isso fui bater lá. Militar: “O senhor vai para a DHN.”8 Eu: Quando recebi ofício com ordem de “Mas comandante, eu não quero ficar em desembarcar, o comandante me chamou: terra.” Estava com 20 anos! “Mas o senhor “Você quer desembarcar?” “Não senhor.” vai descansar um pouco”. “Mas eu não estou Então não desembarcava. Aí, ficamos um cansado!” “Descansa um pouquinho. Depois novo guarda-marinha e eu. Mas guarda- eu lhe embarco.” Realmente ele cumpriu. marinha não é gente... Fiquei cinco meses na DHN, e ele me em- Bom, os destroyer escort (DE)7 come- barcou no Contratorpedeiro Marcílio Dias.9 çaram a chegar ao Brasil em princípio de Novinho. Tinha acabado de ser construído 1944. Aí, chegou ao Cruzador Bahia uma aqui no Arsenal da Marinha. Quando estava mensagem solicitando um segundo-tenente. com oito meses lá, aconteceu a explosão no Então tinha que sair um. O comandante me Bahia.10 Dos 18 oficiais, morreram 17.

7 Contratorpedeiros de escolta (destroyers-escort) da Marinha americana. In: DAL.Piero Fabrizzio B. Os Contratorpedeiros. Disponível em: http://www.oocities.com/ ganjos/ artigo23.htm?20102. Acesso em 2/9/2010. 8 DHN – Diretoria de Hidrografia e Navegação, nessa época com sede na Ilha Fiscal, Rio de Janeiro. 9 Navio de guerra, contratorpedeiro, foi o terceiro navio a ostentar esse nome na Marinha do Brasil, em homenagem ao Imperial Marinheiro Marcílio Dias, herói das Batalhas de Payssandu e Riachuelo, na Guerra do Paraguai. In: NAVIOS DE GUERRA BRASILEIROS. Disponível em:. Acesso em 1/9/2010.

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Ontem [25 de junho], eu chorei. Peguei P: A participação da Marinha do Brasil uma revista velha. Fui ler o diário de um foi importante porque senão não entravam suboficial que foi sobrevivente. Ele falou víveres nas cidades costeiras e não saíam do cachorro que era o mascote. Aí eu não os produtos de exportação. aguentei... [pausa – o almirante se emociona] R: Imprescindível! Mas foi assim que eu saí, com essa ta- P: O Almirante Bittencourt disse-me peação [desembarque do Bahia]. Então eu que a ida da FEB para a Itália foi um ato tenho 19 meses no Cruzador Bahia e um de vontade. ano no Contratorpedeiro Marcílio Dias. R: Estava quase deserto lá. Nem da For- P: Mas o Marcílio Dias fez escolta? ça Aérea precisava. Porque inclusive nem R: Não. O Bahia era escolta de comboio. havia alemães naquele front. Eu queria ver O Marcílio não. Andava muito com um nosso primeiro grupo de caça enfrentar, por cruzador americano e fazia patrulha oce- exemplo, no mar, um veterano da Luftwa- ânica, vigilância de costa, tudo isso. Mas ffe.12 Esse cara teve 200 aviões abatidos. não participou de comboio. Eles [FEB e FAB] fizeram o que na P: Então o senhor participou de escolta Europa? Bombardeio de estrada de ferro... no Bahia? Não desmereço as glórias de ninguém. O R: Quarenta e um comboios. Fiquei 19 que eu não aceito é ser relegado e não ser meses. Tenho 23 meses e dez dias de ope- lembrado. Por quê? Não precisava de avião ração de guerra! Por isso fico emocionado nosso lá e nem de tropa. Agora, navio aqui também. Quando o primeiro avião da FAB precisava para manter a rota de navegação. foi para a Itália, eu já tinha 180 dias de mar Para meus conterrâneos não morrerem de em operação de guerra. fome no Nordeste. Tanto tinha que manter a rota de navegação que os americanos mandaram a 4a Esquadra para cá. A Força Naval do Nordeste nasceu com dez navios: os dois cruzadores da Primeira Guerra Mundial (Bahia e Rio Grande do Sul), seis navios mineiros construídos aqui que foram transformados em corveta, dois caça- submarinos. Essa era a Força Naval do Nordeste. Éramos analfabetos em campanha antis- submarino. Começamos assim. P: O Almirante Leôncio disse que fize- ram um curso intensivo nos EUA. R: Mandaram gente para os EUA e, no final, recebemos oito caça-submarinos Ilustração 4711 de ferro e oito destróieres. Depois incor- O Cruzador Bahia fotografado por dirigível em 1o poraram os três [contratorpedeiros] classe de julho de 1945, três dias antes de explodir Marcílio Dias. E perdemos dois na guerra:

11 Fonte: US Navy NGB. Navios de Guerra Brasileiros. Disponível em: . Acesso em 9/9/2010. 12 Força Aérea alemã.

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o Bahia, que explodiu, e a Camaquã,13 que P: A localização de submarino era visu- emborcou. Então chegamos aqui no dia 6 al? Como se fazia essa ‘identificação’ de de novembro de 1945 com 34 navios. E um submarino? doutores em guerra antissubmarino. Tanto R: Se houvesse um ruído qualquer, se que eu não aceito esse negócio de dizer: “Dia desconfiava. Fora disso não tinha como. da Vitória: 6 de maio”. Estive em operação Quando embarquei no Cruzador Bahia, de guerra até julho! A Marinha tem mais em 9 de abril de 1943, o navio estava no tempo de guerra! Porque quando terminou a dique, colocando o aparelho de sonar. Foi guerra na Europa os americanos começaram muito depois... a mandar seus aviões que estavam na frente P: O Almirante Leôncio diz que foi a italiana regressarem via Dacar/Natal, e, grande inovação. então, a Marinha brasileira mantinha o que R: Mas sabe onde a tripulação dormia se chamava de estação. Havia quatro esta- no Bahia? No chão. Não havia condições ções. Para quê? Para dar apoio a qualquer nem no rancho15. O navio era da Primeira incidente ou qualquer necessidade desses Guerra Mundial. aviões americanos. Um chegou. Caiu. E o P: Qual era tripulação do Bahia? gringo salvou. Então com isso o Bahia ficou R: Nessa comissão ele estava com 400 até 4 de julho. Tinha acabado o conflito na homens a bordo. Havia uns dez dias que Europa. Tinha acabado não! Eu recebi ter- ele estava na estação, e depois ele viria ao ço de campanha14 até novembro. Terço de Rio. Então tinha muita gente que estava campanha na Avenida Rio Branco. em Recife de férias a bordo, de modo que P: Desfilando na Avenida Rio Branco? somavam 400 homens. R: É. De modo que fico numa revolta P: Para desembarcar aqui, no Rio? danada com esse 6 de Maio! Já disse, não R: 272 chegaram a abandonar o navio. quero tirar a glória de ninguém. Eu quero é Aí foram morrendo de sede, de loucura e que se lembrem da gente. Quem foram os por aí afora. Do Bahia sobraram 35. maiores heróis da Segunda Guerra Mundial? P: O senhor viu a exposição montada Na minha opinião, os brasileiros da Marinha quando se imaginou o Navio-Museu Bauru? Mercante. Porque antes de o Brasil entrar na R: Acho que não fui. Não me lembro. guerra, estavam levando torpedo e morrendo. P: A exposição lhe atende? O senhor Mas com toda bandeira no costado [o Brasil acha que ela conta essa história? assumiu posição de neutralidade], não adian- R: Eu tenho que ir lá. tou. O submarino alemão não dispensava. P: Digo a da época da inauguração. P: O Almirante Leôncio disse que a R: Aquilo é do tempo do Max. Então grande inovação da guerra naval foi o sonar eu não tenho dúvida de que estava um que identificava o submarino. primor. R: É... Mas, quando nós começamos, P: O Almirante Leoncio disse que a não tínhamos nada. A Marinha começou Base Naval de Natal se deve ao Almirante cega, surda e muda. Parreiras.

13 Navio-mineiro construído no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, e que, com o advento da Segunda Guerra Mundial, foi transformado em corveta de escolta. Afundou em Pernambuco, próximo à Ilha de Itamaracá, por causa de mau tempo, em 1944. 14 Terço de campanha militar – pagamento para militar em operações de guerra. 15 Alimentação.

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R: Esse homem é fabuloso. Morreu por mas passou a ser uma comissão nacional, conta da construção daquela base. Acabou com chefiada pelo ministro Magalhães Pinto17, a saúde dele ali. Tudo ladeira. Só subia a pé. das Relações Exteriores. P: Como surgiu essa comissão? DEPOIMENTO SOBRE A R: O presidente do Instituto Histórico MUSEALIZAÇÃO DO NAVIO e Geográfico Brasileiro (IHGB) era o BAURU E SOBRE A CONCEPÇÃO E Embaixador Macedo Soares18. E eu não MONTAGEM DA EXPOSIÇÃO EM tinha nada a ver com museologia, com 1982 serviço de documentação. Fui convidado a participar de uma conferência de histó- Entrevistado: Contra-Almirante (Refo) ria da cartografia em Londres.19 Estava Max Justo Guedes preparando minha comunicação para essa Vice-diretor e, posteriormente, diretor conferência. Na Marinha só existiam duas do Serviço de Documentação da Marinha, coleções portugalia de Documentas Car- quando da transformação em navio- tográficas: uma na Ilha Fiscal, na DHN20, museu do Contratorpedeiro de Escolta outra na Escola Naval. Então, na hora do Bauru – 1968 a 1982 – e, posteriormente, almoço – eu servia na Diretoria, na Subdi- até 1997, quando assumiu a Diretoria retoria de Obras Civis –, aproveitava e ia à de Patrimônio Histórico e Cultural da Ilha Fiscal21 para consultar os portugalia. Marinha, função em que permaneceu até Um dia eu estava trabalhando lá quando 2006. Historiador e escritor especialista chegou um oficial da DHN, que me disse: em História Naval. “Comandante, têm dois senhores que são Data: 17 de junho de 2010 ‘meio pancadas’ porque estão procuran- do a Ilha do Conde de Gestart, e a Ilha Pergunta: Em 1982, quando o Navio- do Conde de Gestart não existe, porque Museu Bauru foi aberto à visitação pública, eu trabalhei na última edição da carta no o senhor era diretor do Serviço de Docu- 1.810, que é a carta náutica da Baía de mentação Geral da Marinha? Guanabara, e não existe Ilha de Gestart Resposta: Eu fui para o SDM16 em nenhuma”. Eu respondi: “Não tem, mas já 1968. Nesse ano, fomos a Portugal para as teve. A Ilha do Conde de Gestart é a Ilha comemorações do 5o centenário de Pedro do Viana22. Porque o Conde de Gestart Álvares Cabral. Houve uma enorme comis- era ministro plenipotenciário da França são. A princípio era uma comissãozinha, no Brasil e tinha uma casa lá”.

16 Serviço de Documentação da Marinha, nessa época Serviço de Documentação Geral da Marinha. 17 José de Magalhães Pinto – Ministro de Estado no governo de Costa e Silva, no período entre 15/3/1967 e 31/8/1969. 18 José Carlos de Macedo Soares. 19 O Almirante Max Justo Guedes é especialista em História Naval Brasileira e História da Cartografia. Sua formação tem estreita ligação com os estudos do historiador português Jaime Cortesão, que esteve no Brasil entre 1940 e 1957, com quem teve aulas em um curso promovido pelo IHGB. In: Pequena Biografia. Max Justo Guedes. Disponível em: . Acesso em 7/9/2010. 20 Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha. 21 Onde estava instalada a Diretoria de Hidrografia e Navegação. Permaneceu lá até 1998, quando deu lugar a mais um museu do Serviço de Documentação da Marinha. 22 Ilha onde atualmente está situado o Estaleiro Renave, na Baía de Guanabara, próxima à Ilha da Conceição, em Niterói. Latitude-22.866, Longitude-43.134. In: INSTITUTO BAÍA DE GUANABARA/Baía em dados. Disponível em: . Acesso em 24/6/2010.

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O oficial então me perguntou: “Será vai ser comemorado o 5o centenário de que o senhor pode dizer isso a esses dois Pedro Álvares Cabral. O senhor poderia velhinhos?”. “Pois não”, disse eu. Então nos ajudar na preparação das comemora- fui lá e expliquei a eles. E eu tinha escrito ções?” Eu respondi: “Pois não”. As reu- o primeiro livro do Descobrimento do Bra- niões no instituto eram, como são ainda, sil. Escrevi na época da renúncia do Jânio às quartas-feiras. Na quarta-feira seguinte, Quadros, em 1961. Nós estávamos numa eu preparei um PERT, um cronograma que prontidão que não acabava mais. Não tinha havia naquela época. Levei aquilo para o nada para fazer porque – eu era encarregado Silogeu, a sede do Instituto Histórico. O da eletrônica do Barroso23 – não podia ligar Silogeu era no mesmo lugar onde é hoje o nada. Não tinha nada para ler. A única coisa Instituto Histórico e a Academia de Letras. que podia fazer era um livro que precisava O Silogeu (ilustrações 48 e 49) foi um dos de quatro documentos: a Carta de Pero Vaz prédios da Exposição de 1922.24 Caminha, a Carta de Mestre João, a Relação do Piloto Anônimo e as Instruções de Vasco da Gama. Foi facílimo fazer aquilo. Porque o resto era Marinha. Eram a carta piloto e rota de navegação. Então escrevi e entre- guei à DHN para publicar. E esqueci do livro. Quando voltei de Alagoas, em 1965, a DHN avisou que meu livro estava pronto: “Que livro?”, perguntei. “Aquele livro do Descobrimento do Brasil!” Deram-me os livros e ficaram com uma parte para eles. E em 1968, quando desse questioamento Ilustração 48 sobre a Ilha do Conde de Gestart, o oficial Silogeu – detalhe do mapa “Rio de Janeiro: Central 25 perguntou se poderia dar um livro meu para Monumental”, de Carlos Aenishanslin, 1915 os senhores. Respondi: “Esses daí são da DHN. São de vocês”. Então ele deu um Depois o entregaram ao Instituto His- livro para cada um. Uns dez dias depois o tórico e à Academia de Letras [Academia diretor de Hidrografia me procurou: “Max, de Medicina e Instituto dos Advogados]. o Embaixador Macedo Soares quer falar Depois a Academia Brasileira de Letras com você com urgência”. mudou-se para onde está hoje,26 também Então telefonei e marquei uma audi- um prédio da Exposição de 1922. Quando ência. E fui falar com o embaixador que eu fui lá para levar o cronograma, só tinha era presidente do IHGB. Ele disse: “Co- “cobra”. Pensei: “O que é que estou fa- mandante, descobrimos pelo seu livro que zendo no meio dessas ‘sumidades’ todas?”

23 Cruzador Ligeiro Barroso da MB. DIRETORIA DE PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMENTAÇÃO DA MARINHA/HISTÓRIA MARÍTIMA E NAVAL//Histórico dos navios. Disponível em: . Acesso em 24/6/2010. 24 Exposição Internacional Comemorativa do Centenário da Independência do Brasil na Esplanada do Castelo, Centro da cidade do Rio de Janeiro. O prédio do Silogeu não fora construído para a exposição. Disponível em: . Acesso em: 10 out. 2010. 25 Fonte: MAPAS ANTIGOS. HISTÓRIAS CURIOSAS. Disponível em:. Acesso em 10/10/2010. 26 Av. Presidente Wilson, 203, Castelo, Rio de Janeiro.

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Abri o PERT e disse: “Trouxe o PERT e para o IHGB, porque o Silogeu estava caindo minhas sugestões para as comemorações”. aos pedaços. Foi criada a comissão nacional, Alguém perguntou: “PERT de onde?” e a presidência foi dada ao Magalhães Pinto. Então eu pensei: “Ih, meu Deus do céu...” Este combinou com o ministro das Relações Mas começamos a pensar nas comemora- Exteriores de Portugal que iria uma comis- ções. O embaixador Macedo Soares foi ser são brasileira para aquele país e que viria embaixador em Haia, e o Pedro Calmon, que uma portuguesa para cá. E, nessa comissão era o vice, assumiu a presidência do Institu- brasileira, eu iria pelo Instituto Histórico. to. Tudo para ele tinha que ser grande. Ele Quando o Rademaker soube, disse: “Nega- me pediu: “Max, você pode me arranjar uma tivo! Você vai na minha comitiva”. audiência com o Almirante Rademaker?”27 Iriam os três ministros militares – a época Ele era o Ministro da Marinha. Eu disse; era a da Revolução – e o Magalhães Pinto, “Pois não”. Falei então com o Rademaker que era ministro das Relações Exteriores. e ele disse: “Traz o doutor Calmon para al- Fomos para Portugal. O Pedro Calmon moçar aqui.” Fomos lá e ele falou em fazer pediu ao Costa e Silva um empréstimo para uma comissão nacional e pediu uma audi- construir o prédio do Instituto Histórico. ência ao Presidente da República, o Costa e Este mandou a Caixa Econômica emprestar Silva, que estava veraneando no Palácio Rio o dinheiro. Quando saímos da reunião, eu Negro, em Petrópolis. Todos os presidentes disse: “Mas como vamos pagar esse em- veraneavam lá. O Rademaker arranjou a au- préstimo?” Nessa época eu já havia sido diência e subimos para Petrópolis, o Calmon, nomeado sócio do IHGB. Um dia cheguei o Américo Lacombe e eu. O Calmon disse lá e Pedro Calmon disse: “O importante é que era preciso fazer uma comissão nacional arranjar o empréstimo. Como pagar, vamos porque era uma data importantíssima, o 5o pensar depois”. centenário do descobridor do Brasil. Além Constituída a comissão, fomos para Por- disso, era preciso construir uma nova sede tugal. E, de Portugal, iríamos para a Holanda. Porque o Estaleiro Verolme, que restaurou o Encouraçado Minas Gerais, nos convidou para passarmos três dias no país, e a rainha28 nos convidou para passarmos outros três. Fomos o Rademaker, dona Ruth, a filha, o Fragelli29 e eu. Enquanto isso, o Vladimir Palmeira, que hoje é deputado, liderava a Passeata dos Cem Mil30 no Rio de Janeiro. O chefe do Estado-Maior pediu ao Rademaker para voltar. Saímos da Holanda, fomos para Ilustração 49 – Silogeu Madrid e, de Madrid, num avião, para o Bra-

27 Almirante de Esquadra Augusto Hamann Rademaker Grünewald (1905-1985). Foi ministro da Marinha e da Viação e Obras Públicas nos primeiros dias do governo de Castello Branco e voltou a ter o título de ministro da Marinha na gestão de Costa e Silva (1967-1969). Disponível em: . Acesso em 26/6/2011. 28 Juliana Emma Louise Wilhelmina van Oranje-Nassau. (1909-2004). 29 Almirante de Esquadra José Alberto Accioly Fragelli. 30 Passeata realizada em 26 de junho de 1968. “É considerada a manifestação popular mais importante da resistên- cia contra a ditadura militar. É o ponto alto do movimento estudantil e o início de sua derrocada.” PREITE SOBRINHO. Wanderley.

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sil. Na volta, o Rademaker me disse: “Você be Naval, que o passou para a Marinha para vai fazer o museu para a Marinha. Eu vou ser o Museu Naval, que ficou instalado ali iniciar a restauração dos meios flutuantes31, até 1922, quando Gustavo Barroso o fechou o projeto das fragatas. A Marinha está muito (assim como fechou o Museu do Exército) desmotivada. Precisa de um museu.” para fazer o Museu Histórico Nacional. O Respondi: “Ministro, acho que eu já prédio da Dom Manuel ficou abandonado até visitei todos os museus do mundo – exce- que a Marinha o emprestou para o Ministério to os da Cortina de Ferro, mas eu não sei de Indústria e Comércio que, por sua vez, fazer nada de museu não! Visitar museu é passou para o Ministério da Justiça. uma coisa, fazer museu é outra coisa”. Ele Então começamos a restauração. Quando retrucou: “O problema é seu”. estava se aproximando a data da inauguração, Quando ele deu a ordem para que eu o museu não tinha acervo, que estava todo fizesse o museu, eu já estava no Serviço de no Museu Histórico Nacional. E estava todo Documentação da Marinha, que funcionava quebrado. Consegui trazer os modelos, os no 3o andar do Edifício Almirante Tamanda- armamentos – tudo quebrado. Chamei um ré32 (prédio do então Ministério da Marinha), pessoal do Arsenal de Marinha para restau- ao lado do gabinete do ministro. Em uma rar. Certo dia, o Kelvin36 veio me pedir se eu ala estava o gabinete do diretor do SDM (o deixaria que ele ajudasse na restauração dos Paiva Meira) e a biblioteca. Embaixo tinha modelos. Consegui que ele fosse contratado o arquivo. O Serviço de Documentação pela Marinha e começasse antes de 1972 – o Geral da Marinha começou como uma di- prédio foi inaugurado em agosto desse ano. visão do Estado-Maior da Armada. Então Antes disso ele trabalhava com o pessoal do conseguimos o prédio da Rua D. Manuel33. Arsenal no material que veio de volta do Mu- Mas o dinheiro para a recuperação do prédio seu Histórico Nacional. Fizemos um projeto: e instalação do museu não saía. Não saía o museu ficaria no o1 andar; no 2o andar, de porque o Rademaker foi ser vice-presidente um lado, a biblioteca, do outro lado era o da República, e o ministro da Marinha que gabinete do Paiva Meira. O arquivo histórico entrou me disse: “Max, eu não passo na sua continuou no Edifício Almirante Tamandaré, porta porque você vai me botar na vitrine”. num buraco do antigo Ministério, no subso- Mas afinal de contas nós conseguimos. O Al- lo, e só depois foi para a Dom Manuel. O mirante Ricart34 e o Almirante Aarão Reis35, Adalberto Nunes, aquele que falou que não que era o secretário-geral da Marinha, deram passava na minha porta, não foi à inaugu- o dinheiro. Começamos a restaurar o prédio, ração. Quem inaugurou foi o Rademaker, que era da Marinha. Ele foi feito para o Clu- vice-presidente da República.37 E ficamos lá

31 Navios. 32 Prédio situado na entrada do complexo do 1o Distrito Naval, em frente à Rua Visconde de Inhaúma, no Centro da cidade do Rio de Janeiro. 33 Rua Dom Manuel, 15, Centro, Rio de Janeiro, onde está hoje o Museu Naval. 34 Arthur Ricart da Costa, Almirante de Esquadra – Foi Chefe do Estado-Maior da Armada. 35 Levy Penna Aarão Reis. 36 Kelvin Duarte – Modelista naval que, além de colaborar com a reabertura do Museu Naval, desenvolveu projetos de modelos navais para o Museu do Mar, em São Francisco do Sul, SC. 37 Augusto Hamann Rademaker Grünewald integrou a junta militar que presidiu o país de 31 de agosto a 30 de outubro de 1969, após a morte do Presidente Costa e Silva. Posteriormente foi eleito vice-presidente na chapa encabeçada pelo General Emílio Garrastazu Médici, entre 30 de outubro de 1969 e 15 de março de 1974. (Informações do entrevistado)

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até 1982. Estava tudo muito apertado. Não era do Encouraçado São Paulo, e os outros havia lugar para nada. Um dia, o Almirante navios também tinham alguma coisa de Maximiano me telefonou e disse: “Você quer prata. Eu recolhi tudo. o prédio da Odontoclínica?”38. No 3o andar do Ministério havia um [Nesse momento o telefone toca e a “negócio” que eles chamavam de museu. gravação é interrompida. Recomeçamos Tinha vitrines com alguma coisa: prataria, quando o Almirante passa a dar seu teste- louça e aquela louça do Encouraçado São munho sobre o Navio-Museu Bauru.] Paulo.42 P: Para a criação e produção da expo- sição inaugural no Navio-Museu Bauru, o DEPOIMENTO SOBRE A senhor contava com museólogas (os) em RESTAURAÇÃO SOFRIDA PELO sua equipe? NAVIO-MUSEU BAURU ENTRE R: A Vera Pacheco e a Nice Mandarino 2007 E 2010 E A EXPOSIÇÃO EM estavam na equipe da exposição do Bauru SUAS DEPENDÊNCIAS em 1981/1982. P: E o museólogo Fernando Moura? Entrevistado: Vice-Almirante (Refo) R: Quando comecei a fazer a Dom Armando de Senna Bittencourt Manuel, o Moura tinha feito um curso de Engenheiro Naval formado pela Uni- restauração com o Edson Motta39 e depois versidade de São Paulo, com mestrado em fez o Curso de Museologia. Depois que Arquitetura Naval pela Universidade de estava lá [no Museu Naval], ele trabalhava Londres e Curso de Política Estratégica na montagem da exposição. Chegava às 5 pela Escola Superior de Guerra. Diretor do horas da madrugada e saía 6/7 horas da Patrimônio Histórico e Documentação da noite. Marinha (DPHDM), organização militar P: Na exposição do Bauru, o senhor foi responsável técnico-administrativa pelo o autor e o curador. Quem fez a seleção do Navio-Museu Bauru acervo? Vi a lista do acervo. Vi que havia Data: 5 de maio de 2010 quadros e prataria do próprio Bauru e de Missão da Diretoria de Patrimônio outros navios. Tinha prataria? Histórico e Documentação da Marinha R: Na guerra, o Encouraçado São Paulo40, que foi buscar o rei e a rainha da A DPHDM tem o propósito de pre- Bélgica, levou uma baixela espetacular. O servar e divulgar o patrimônio histórico governo de São Paulo doou uma bandeja e cultural da Marinha, contribuindo para que foi colocada na Ilha Fiscal41. Mas tudo a conservação de sua memória e para o

38 Prédio localizado na Ilha das Cobras, com acesso pelo 1o Distrito Naval, Centro, Rio de Janeiro. 39 Edson Motta (1910-1981). Pintor, restaurador e professor. Inicia estudos de pintura com seu tio, o artista Cesar Turatti. 40 O Encouraçado São Paulo foi o segundo navio a ostentar esse nome na Marinha do Brasil, em homenagem ao estado e à cidade de São Paulo. O São Paulo foi construído pelo Estaleiro Vickers Sons and Maxim em Barrow-in-Furness, Inglaterra. In: NGB – Navios de Guerra Brasileiros. Disponível em: . Acesso em 7/9/2010. 41 Aqui o Almirante se refere ao Projeto Ilha Fiscal, que transformou o prédio neogótico da ilha em museu e local de recepções institucionais e privadas, a partir de 1997-98. Uma de suas salas está ambientada como uma sala de jantar onde se encontra o centro de mesa que fazia parte da prataria do Encouraçado São Paulo, à qual o Almirante se refere. 42 Peças que estavam depositadas no Museu Naval em 1995.

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desenvolvimento da consciência marítima Brasil, de fato significou uma participação brasileira.43 brasileira em algo maior, que a imprensa Pergunta: O Navio Bauru transformou- chamou de “Batalha do Atlântico”, mas se em museu em 1982. Qual a temática que, do ponto de vista militar, seria mais deste museu? correto ser chamada “Campanha do Atlân- Resposta: O Bauru é o único navio res- tico”. Foi a campanha mais longa da guerra, tante no Brasil que participou da Segunda na qual morreu uma quantidade enorme Guerra Mundial. Foi muito importante a de pessoas e foi afundada uma quantidade participação da Marinha brasileira nessa enorme de navios, incluindo submarinos. guerra. E, posso dizer, inevitável. Nós Mas se não fosse esse esforço de fazer os tínhamos as matérias-primas tropicais de comboios, de manter o tráfego marítimo no que ambos os lados [Eixo e Aliados] preci- litoral brasileiro, teria sido para as cidades savam, porque as fontes de matérias-primas brasileiras um horror. Não seria possível tropicais do lado asiático estavam ocupadas manter o suprimento de alimentos, com- pelos japoneses e nós possuíamos matérias bustíveis e tudo o mais para essas cidades. tropicais essenciais para o esforço de guerra Bem como para os aliados, era fundamental aliado. Já que havíamos negado o mar para receber algumas matérias-primas tropicais, os alemães, não havia navios de superfície, tais como borracha, cera de carnaúba e mais mercantes alemães, que pudessem levar uma série de coisas de que se precisava. nossos produtos. Sem isso não se faz guerra também. Portanto, a nossa situação como país Então o Bauru representa, digamos, um neutro ficou extremamente difícil, porque monumento a todo esse esforço que foi feito só um lado podia usufruir dos benefícios durante a Segunda Guerra Mundial. Sim- das matérias-primas tropicais necessárias boliza algo de que não havia como escapar. para o esforço de guerra. Sem desmerecer o papel da FEB na Itá- A estratégia alemã foi negar o suprimen- lia – sempre que se fala de Segunda Guerra to aos países ocidentais. Com isso, começa- Mundial, se fala em FEB –, ali foi um ato de ram a afundar navios nossos também. Com vontade. Ou seja, o Brasil decidiu participar o afundamento de navios na nossa costa, da guerra na Europa mandando um corpo era inevitável nossa participação na guerra. expedicionário. Podia não ter mandado. Não Esse esforço no mar foi muito impor- era vital para o Brasil. Foi uma participação. tante para o Brasil, porque nessa época Uma participação importante. Não desmereço praticamente não havia estradas, ou as o imenso trabalho que eles fizeram. Muito que existiam eram de péssima qualidade. pelo contrário. Mas não que fosse preciso. Já a Então os suprimentos das nossas cidades Segunda Guerra Mundial na costa brasileira... dependiam de transporte marítimo. O Brasil O esforço da Marinha, da Aeronáutica e tam- não tinha combustíveis. O carvão de boa bém, de certa forma, de pessoas do Exército, qualidade e o petróleo vinham do exterior. que eram transferidas de um lado para outro A ação da Marinha foi apoiada pela Aero- da costa – muitos soldados morreram nesses náutica e, de certa forma, pelo Exército. afundamentos – era fundamental para a exis- A Segunda Guerra Mundial, no litoral do tência do Brasil. Vital para o Brasil.

43 Diretoria de Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha. Missão. Conarq – Arquivo Nacional. Disponível em:. Acesso em 29/4/2010.

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P: Então, este é o tema: Segunda Guerra A corrosão começa de dentro para fora em Mundial e a participação da Marinha do geral nos navios. A ferrugem não é nada Brasil? contagiosa, não é uma doença do metal, é R: O navio era um navio de escolta de um processo eletrolítico. Oxidação em aço, origem americana que comboiava, fazia em geral acontece em altas temperaturas. escolta dos comboios de navios mercantes Normalmente, é corrosão eletrolítica, às que, protegidos por esses navios de guerra vezes entre duas partes da própria chapa, do tipo do Bauru, caça-submarinos, alcan- que estão em condições diferentes. çavam seu destino. Com isso, manteve-se P: O Navio-Museu Bauru, na sua gestão, o suprimento aliado e, de certa forma, o sofreu grandes reparos? abastecimento de nossas cidades. R: O Bauru sofreu um grande processo P: O senhor estava falando sobre a cons- de manutenção. Um processo de manu- trução do Bauru... tenção que foi necessário, inclusive, na R: Como eu disse, é um navio de origem parte da estrutura interna, que já estava americana, e uma das coisas notáveis da corroída, velha. Mas o fato é que ele Segunda Guerra Mundial foi o esforço de foi muito bem recuperado, refiro-me ao guerra norte-americano, em que eles cons- casco e à parte estrutural. E vai precisar truíram centenas de navios iguais ao Bauru. de manutenção sempre. Mas, além disso, Muitas vezes, partes do navio, seções de precisamos recuperar a exposição. E já casco, eram construídas no interior dos existe um projeto “montado”. É uma ques- EUA, vinham de trem e eram montadas em tão de captação de recursos. Acreditamos estaleiros do litoral, mas num ritmo incrí- que precisamos de uns R$ 500 mil para vel, numa velocidade de produção enorme. recuperar os espaços internos, decorá-los Assim, devemos dizer, não era um navio e receber a “montagem” da exposição. É maravilhosamente bem construído. Foi uma nova exposição, com um conceito construído para a guerra, para cumprir uma moderno, por uma museologia moderna, missão que ele cumpriu plenamente. Mas mantendo o tema. Não estamos colocando preservar um navio construído na década a exposição antiga. de 1940 até os dias de hoje, ou seja, 70 anos P: O senhor assistiu a alguma visitação depois, é, realmente, um esforço enorme. de jovens? Gasta-se muito dinheiro para um navio ser R: Eu mesmo visitei. Fui um visitante preservado. E não é apenas do ponto de incógnito. vista da corrosão do casco que está dentro P: E como visitante, o que achou da d’água. Isso é até fácil de proteger, porque exposição? o casco é liso. Coloca-se o navio num R: Achei que, naquela época, o Bauru dique, limpa-se e, se por acaso tiver uma cumpria sua missão, ou seja, tinha uma chapa corroída, troca-se. E usando uma boa exposição. Mas não existe exposição tinta, é fácil preservar. É muito mais difícil permanente. Era uma exposição de longa preservar de dentro para fora. E, na verda- duração que perdeu seu longo prazo. E, de, o navio velho acaba-se de dentro para realmente, em termos museológicos mais fora. É o cantinho que fica embaixo de uma modernos, uma exposição deve conter ob- máquina. É o cantinho na estrutura difícil jetos que estão lá para contar uma história, de limpar, e ali se inicia um processo de cor- e não serem vistos como objetos. rosão. E esse processo de corrosão, quando P: O senhor assistiu, observou alguma se vai ver, furou. Furou de dentro para fora. visitação de jovens?

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R: Assisti no Bauru, continuo assistindo. A tecnologia do sonar era tão avançada que Aproveito e acompanho turmas de escolas, os alemães, que começaram essa Campanha que são inúmeras. A Marinha tem ônibus do Atlântico com uma vantagem enorme, que vão buscar turmas de escolas públicas com o desenvolvimento tecnológico do municipais para visitarem o Museu Naval, sistema de sonar começaram a perder. os navios-museus e tudo o mais. A minha Tanto que, no final, a probabilidade de um impressão dos alunos é excelente. São submarino alemão que saía em campanha crianças, em geral, curiosas, interessadas. de guerra voltar era diminuta. Era quase A impressão dos professores não é tão boa. uma missão suicida para os marinheiros P: Mas elas se interessam pela exposição alemães. Foi a campanha militar de maior ou pelo navio? duração durante a Segunda Guerra Mun- R: Elas se interessam pelo que está dial. Nela os submarinos nazifacistas afun- sendo mostrado para elas. Agora, o fato daram mais de 2.600 navios mercantes no de estarem num navio Atlântico e 175 navios e de ele estar flutuando de guerra aliados, prin- é muito importante, A estratégia da Marinha, cipalmente no Norte. porque a exposição é o que o Bauru simboliza No Sul, a campanha próprio navio. Porque foi menos intensa. Em eles realmente sentem. muito bem, foi formar contrapartida, só os O navio se mexe, o comboios de navios alemães perderam, na navio se movimenta. Batalha do Atlântico, A exposição mostra mercantes e protegê-los. 784 submarinos e, com o ambiente do navio, Importante lembrar que, eles, 28 mil homens de o que também é um dos 3.164 navios mercantes suas tripulações – mais dos seus propósitos de 78% do total recru- – criar um ambiente aliados em 575 comboios tado para sua arma sub- da narrativa histórica. realizados, não houve marina. Essa ligação Então, o fato de ter da guerra na costa do uma exposição dentro navios afundados Brasil com a Campanha do navio ajuda muito, do Atlântico eu passei porque o ambiente é o próprio navio. Por a fazer porque ela aparece sutilmente. No exemplo, temos lá um armário da década de entanto, é fato, nós participamos de uma 1940, com objetos expostos e outras coisas campanha enorme no Atlântico, chamada que remetem a pessoa àquele passado e a Batalha do Atlântico, em que a estratégia determinados fatos do passado e a ajudam a alemã era não deixar os aliados terem tráfi- imaginar como era a vida naquele momen- co marítimo. Mas nossos produtos precisa- to. Há espaços separados, como a cozinha, vam chegar. Até do ponto de vista de país, a barbearia e outros que instigam a ima- nós tínhamos que comerciar. Senão cessaria ginação. Também há uma exposição que o comércio no Brasil. E a economia, iria mostra como era a luta com os submarinos, para onde? Importante lembrar que não o sistema de som que captava o submarino havia estradas entre as cidades nessa época. e como esse som era interpretado, como se Operavam na costa do Brasil 27 sub- formava o comboio para proteger os navios marinos alemães e dez italianos. Eles mercantes e outras coisas que eu acho que afundaram 17 navios mercantes e um não podem ser perdidas da nossa memória. navio de guerra – o Vital de Oliveira – da

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Marinha brasileira. Isso na costa do Brasil. companheiro ferido. É a mesma coisa o No Mar Mediterrâneo e em outros lugares, navio avariado: por si só ele deve procurar considerando toda a guerra, a Marinha o porto mais próximo. Mercante brasileira sofreu 33 ataques, P: E a mulher? perdendo 982 vidas humanas, inclusive R: A mulher, numa guerra, teria que ser pessoas do Exército que estavam mudando deixada para trás, se ferida. Mas isso é um de cidade, na costa brasileira. A Marinha problema para os homens, tão forte é o seu do Brasil perdeu três de seus navios instinto de proteger a mulher. Essa é uma de guerra, totalizando 476 marinheiros das razões de os americanos não aceitarem mortos. Estamos contando, inclusive, os a mulher em combate. Uma mulher ferida acidentes que ocorreram no mar – com a não é deixada para trás. Ela se torna mais Camaquã e o Cruzador Bahia. Realmente importante que a missão. Se um grupo for a estratégia da Marinha, que o Bauru sim- aprisionado, na possibilidade de abuso boliza muito bem, foi formar comboios sexual, para a mulher isso é muito mais de navios mercantes e protegê-los com suportável do que para o grupo masculino navios de escolta e com equipamentos de que está com ela. Para os homens, é psi- detecção e ataque a submarinos. Então cologicamente insuportável ver a mulher o que fizemos realmente foi comboiar do grupo ser abusada sexualmente. Então 3.164 navios mercantes aliados em 575 não é por causa da mulher que eles não a comboios realizados entre 1942 e 1945. querem em combate, mas sim por causa Importante lembrar que, dos navios que deles próprios. Não é dizer que mulheres estavam em comboio, não houve navios são mais fracas, pois há mulheres mais afundados. Mas quando o navio quebrava fortes do que muitos homens. e não conseguia acompanhar o comboio P: Qual a similaridade entre o navio era deixado para trás. Eram os desgarra- Bauru, vaso de guerra em serviço comba- dos, os navios que os submarinos alemães tente, e um navio-museu? afundavam, em geral. Eles afundavam os R: A manutenção do navio-museu é navios que eles apanhassem sozinhos, igual e caminhando para pior. Agora ele principalmente. Não tinha jeito. Ficar não tem missão de guerra. esperando conserto? O comboio depende P: Ele tem tripulação? de uma série de navios de escolta em volta R: Ele tem tripulação para mantê-lo. de um núcleo de navios mercantes. Não se E não é só manter do ponto de vista de podia prejudicar a missão de transportar as manutenção de equipamentos. É também mercadorias por causa de navio quebrado. cuidar que ele esteja devidamente atracado, P: E a tripulação do navio quebrado? cuidar que não seja invadido... R: Deveria procurar o porto mais pró- P: Mas essa tripulação tem comandante ximo, com o navio. É a guerra... Um dos a bordo? problemas de ter mulheres em combate R: Não. Ele vira uma seção administrati- é que existe uma necessidade enorme do va, só que flutuante. Há um encarregado dos homem, do instinto do homem, de proteger navios-museus. É preciso fazer a segurança a mulher. Isso é um comportamento obtido do navio pelo fato de, como um “ser” mo- com a própria evolução. Quando a mulher é vente, ele estar atracado. Amarrado, o navio ferida, então acabou a missão, todo mundo tem uma amarreta para mantê-lo afastado se concentra em protegê-la. Muitas vezes do cais, para ele não se estourar no cais etc. a missão exige que você deixe para trás o Então, por isso há um pessoal de serviço o

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tempo inteiro, olhando isso dia e noite. O brasileiros, a fim de mostrar a importância navio que está no porto, pela mesma razão, que aquele poder naval teve para manter tem pessoas a bordo que estão zelando o País que ele herdou dos antepassados: pela segurança dele. E durante sua “vida um país grande, muito rico em recursos inteira”, o navio terá pessoas trabalhando naturais e com muita possibilidade de ter para sua manutenção. Uma parte dessa um bom futuro. E que esse poder naval manutenção é feita pela própria tripulação, foi importante para formar esse país, para uma parte mais fácil, mas não menos traba- manter essa herança. E que, no futuro, ele lhosa. E há uma parte que só um estaleiro vai ser muito importante para manter os especializado pode fazer. interesses nacionais, como, por exemplo, Então, manter o Bauru significa que ele o petróleo que existe no mar – embora isso vai ter, de cinco em cinco anos, que raspar o seja completamente assegurado. casco, tirar a craca – organismos marinhos Queremos passar a informação de que – que agarrou no casco, pintar... Se alguém a existência do Poder Marítimo do qual a pensa em colocar uma tinta muito veneno- Marinha do Brasil faz parte é extremamente sa contra organismos marinhos aderidos, importante, pois, “sim, fizemos nosso papel deve atentar que ela é também poluente e no passado”. Ou seja, mantivemos as cida- que atualmente existem muitos problemas des supridas, pelo comboio, pelo enorme com essas tintas antiincrustantes, que são esforço de um grupo de pessoas que passou venenosas e transmitem o seu veneno para esse tempo de guerra, boa parte dele longe os organismos marinhos. de suas casas, longe de suas famílias, dia e P: Então, a diferença entre um e outro noite, de serviço, alerta, combatendo sub- navio é exatamente a questão da tripulação? marinos, muitas vezes com risco da própria R: A tripulação do navio-museu é reduzi- vida para proteger os navios mercantes que da porque ele não vai para o mar, não estará levavam os suprimentos. operativo, não estará pronto para a guerra, Não só é importante passar uma noção como é função das forças armadas. As forças do passado, como também a compreensão armadas têm a função de estar permanente- de que o presente do cidadão se fez de um mente se preparando para uma guerra. Se esforço. Assim a pessoa percebe que ela essa preparação for muito bem feita, a guerra também é responsável, que o que ela está nunca vai acontecer. As guerras acontecem fazendo no presente vai repercutir no seu quando o país não consegue permanecer futuro. dissuadindo outros países [capacidade Sobre a nova exposição, o assunto não dissuasória] e os interesses de outro. Então mudou, mas sim a forma de apresentar o outro país resolve respaldar seus interesses assunto. A história não muda ao longo do conflitantes por meio da força. tempo, mas a forma de abordar vai sofrendo P: Qual a mensagem que a Marinha alterações conforme progride a museologia: do Brasil quer passar ao público por meio os objetos vão ser apresentados para contar do Navio-Museu Bauru? E qual é esse a história, os ambientes vão colocar o su- público? jeito naquela época para ele poder sonhar/ R: Um museu militar quer falar prin- imaginar. As ferramentas de apresentação cipalmente com o seu próprio povo, o melhoram profundamente, agora se pode que não impede que ele seja visitado por ter som, imagens... turistas. Mas o importante é que ele esteja P: Em sua opinião, como deveria ser voltado para o seu público, no caso para os uma exposição no Bauru?

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R: Uma exposição em que a pessoa claro que os turistas estrangeiros vão vi- entre num espaço que a remeta à época do sitar o museu, mas não é o propósito. O navio e que ela possa entender, no tempo turista estrangeiro até pode perceber que o presente, o que foi feito no passado ou país visitado tem força, portanto que não como era feito no passado para conseguir deve incentivar seu país no uso de força o que se conseguiu. em interesses conflitantes. Mas não é esse Outro detalhe: um museu militar deve o propósito. Em uma cidade pequenina pretender atingir o público do próprio país, onde há muitos turistas nós conseguiremos e inclusive nós não cobramos entrada para ter um público de 200 mil pessoas, como facilitar isso. Se um museu é colocado o que temos aqui no complexo cultural? numa cidade de turistas estrangeiros, é Dificilmente.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Museu; História da Marinha do Brasil;

174 RMB2oT/2013 INTERCÂMBIO NA UNITED STATES NAVAL ACADEMY (USNA)*

GUILHERME TRINDADE VILELA Aspirante LEANDRO RIBEIRO DOS SANTOS MONTENEGRO Aspirante (IM)

SUMÁRIO

Missão da Academia Instalações Formação do Midshipman Conclusão

MISSÃO DA ACADEMIA INSTALAÇÕES

visita às instalações da Academia Como estrutura para apoiar a formação A Naval dos Estados Unidos da América dos futu­ros oficiais, a Academia dispõe de (EUA), em Annapolis, por si só prenuncia a diversas construções,­ como os prédios dos grandiosidade da maior Marinha do mundo. camarotes e das salas de aula, os laborató- Com um campus cuja área equivale a 200 rios, a biblioteca, o refeitório, as ins­talações campos de futebol, a Academia entrega à esportivas e uma marina. Marinha dos Estados Unidos cerca de mil A Brigade, como é conhecido o Corpo aspirantes a cada ano, sendo sua missão de Aspi­rantes da Academia, é composta por desenvolver os aspiran­tes moral, mental e 4.400 aspirantes que habitam cerca de 1.700 fisicamente e imbuí-los dos mais elevados camarotes localizados em um conjunto de ideais de honra e lealdade com o intuito prédios interligados conhecido como Ban- de formar líderes para a carreira naval e croft Hall, cujo nome homenageia o secretário também para a nação estadunidense. da Marinha dos EUA responsável pela fun-

* Matéria publicada na Revista Villegagnon de 2012. Os autores eram, em 2012, os primeiros alunos dos Corpos da Armada e de Intendentes da Marinha. INTERCÂMBIO NA UNITED STATES NAVAL ACADEMY (USNA)

com mais de 600 mil títulos. Tão grandiosa quan- to a estrutura acadêmi- ca, a es­trutura esportiva dispõe de diversas ins- talações, como arena de atletismo indoor; par- que aquático climatiza­ do; quadras de squash, tênis e basquete; cam- pos de futebol, lacrosse e golfe; salas de muscu- lação; e marina.

FORMAÇÃO DO MIDSHIPMAN Academia Naval dos EUA em Annapolis O midshipman, ter- dação da Aca­demia. No Bancroft Hall e ao mo equivalente a aspirante na Academia Naval longo de seus dez qui­lômetros de corredores, dos EUA, tem sua formação alicer­çada no os aspirantes são distribuídos em camarotes desenvolvimento moral, mental e físico. Pode­ de acordo com suas respectivas Compa­nhias. -se dizer que a área moral é a mais explorada. Há também salas do Sendo trabalhada a cada Comando das Compa- situação ao longo dos nhias e de recreação. Os midshipmen são quatro anos de curso na O King Hall, refei- Academia, a construção tório dos aspirantes, constantemente do caráter se dá a cada tem capa­cidade para relembrados de que suas dia a partir de vivências atender todos os as- integridade e honra são no campus, nas salas pirantes de uma só de aula, no Bancroft vez nas três refeições algo que nunca poderá lhes Hall, nos momentos de diárias oferecidas pela ser retirado licença e nas atividades Academia. Embora físicas, profissionais e seja grande o desafio militares. Os midship- de servir a tantos, o King Hall cumpre sua men são constantemente relembrados de que missão com sucesso a partir de um sistema suas integridade e honra são algo que nunca logístico terceirizado. poderá lhes ser retirado e que o desenvolvi- A estrutura de ensino da Academia mento moral é im­portantíssimo para aqueles também mere­ce destaque devido ao gran- que em breve terão de tomar decisões impor- de número e à diversidade de laborató- tantes sob a pressão do combate. rios, dotados de equipamentos modernos Além disso, o oficial de Marinha nos e didáticos, e aos recursos instrucionais dias de hoje deve ser capaz de pensar cri- disponíveis nas salas de aula. Além disso, ticamente, desenvolvendo habilidades para a Academia conta com uma biblioteca lidar com pessoas e solucionar pro­blemas.

176 RMB2oT/2013 INTERCÂMBIO NA UNITED STATES NAVAL ACADEMY (USNA)

Aspirantes com o comandante da Usna, Vice-Almirante Michael H. Miller Deve estar apto a compreender a tecnologia líderes para servirem à nação, cujos maiores de uma Marinha do século XXI, a partir de exemplos são o Presidente James E. “Jimmy” fun ­damentação teórica e experimentação Carter, 24 membros do Con­gresso, 14 embai- prática sólidas. Tais competências compõem xadores e dois vencedores do Prêmio Nobel. o desenvolvimento men­tal do midshipman. Ao final do segundo semestre na Aca- Como terceira dimensão da formação, demia, os midshipmen fazem a opção do o desen­volvimento físico visa ao preparo, curso que realizarão nos três anos seguintes. por meio de treinos e competições, do futu- Essa opção pode ser realizada­ entre as 22 ro oficial para a luta no campo de batalha. graduações existentes, como: Oceanogra- Dessa forma, as quadras e arenas esporti­vas fia, Física, Matemática, Chinês, Inglês, são ótimos lugares para que o midshipman Árabe, Engenharia Elétrica, Aeroespacial apren ­da lições de trabalho em equipe, lidere e Mecânica, Economia e Ciências Políticas seu time e me­lhore seu preparo físico. Na e da Computação. Essa opção definirá as Academia, são oferecidas inúmeras opor- matérias que o midshipman cursará obriga- tunidades e condições para a prática de ati- toriamente e as que poderá escolher. vidades físicas. Além das aulas obrigatórias Já próximo à formatura, no início do último de Edu­cação Física, há treinamento para se ­mestre do curso, é realizada a opção de Cor- equipes e atividades físicas de lazer. po pelos midshipmen, escolha que os acompa- O Curso de Graduação da Academia Na- nhará por toda sua carreira naval. De acordo val dos EUA tem a duração de quatro anos em com suas aptidões, eles podem escolher entre regime de inter­nato. O processo seletivo se Superfície, Submarino, Avia­ção, Fuzileiros dá por indicação baseada em uma análise de Navais e Forças Especiais. Há ainda a possi- currículo, cabendo ao Presidente, Congresso bilidade de optar pelo Corpo de Intendentes ou e secretário da Marinha essa escolha de forma pelo Corpo de Saúde, porém os midshipmen a contemplar candidatos de todos os Estados. só pode­rão enveredar por tais caminhos em Como já foi dito anteriormente, a missão caso de restrições de saúde que os impeçam da Acade­mia inclui, ainda, a formação de de optar pelos Corpos ante­riormente citados.

RMB2oT/2013 177 INTERCÂMBIO NA UNITED STATES NAVAL ACADEMY (USNA)

Imediatamente após a conclusão do A Academia funciona de forma que tudo curso em Annapolis, os recém-formados venha a convergir para a melhor formação oficiais que optaram por Aviação, Inten- do midshipman, que é preparado para guar- dência, Submarino, Fuzileiros e Forças necer o que existe de mais moderno den- Especiais seguem para tre os meios navais. as Academias de Aper­ Apesar de valorizar o feiçoamento de acordo Apesar de valorizar o estudo, pode-se per- com as especificidades estudo, pode-se perceber ceber que os valores de seus Corpos. Essa morais estão acima de complementação se que os valores morais estão qualquer outro ensina­ faz necessária, já que acima de qualquer outro mento. A “disciplina apenas os seis meses ensina­mento consciente” é o guia após a opção em Anna- de cada um, deixa de polis não seriam sufi- ser um compromisso cientes para prepará-los a desempenhar suas com os outros e se torna um compromisso funções em suas respectivas áreas. Já os que de cada um consigo mesmo. optaram por Superfície são encaminhados Por fim, a importância da Academia para os navios que escolheram para servir. pode ser percebida­ a partir da valorização da United States Na­val Academy por parte CONCLUSÃO da sociedade estadunidense, que, reconhe- cendo tal importância, sempre se mostra A grandiosidade da Academia Naval presente nas atividades promovidas pela dos EUA revela a importância da Marinha instituição, prestigiando-a e enaltecendo norte-americana no cenário internacional. sua missão.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Escola Naval; Academia Naval de Anápolis;

178 RMB2oT/2013 30 ANOS DE OPERANTAR*

VICTOR CORRÊA DE SOUZA Aspirante LINEKER DA SILVA RODRIGUES Aspirante

SUMÁRIO

Introdução Operações Antárticas 1a Expedição Operantar II Adversidades da região Conclusão

INTRODUÇÃO petência de acompanhar os resultados e sugerir alterações na execução do Programa esde a expedição que levou o primeiro Antártico Bra­sileiro (Proantar), este ativado Dbrasileiro à Antártica, Durval Rosa pelo então Presidente da República, João Borges, membro da Sociedade Geográ- Baptista de Oliveira Figueiredo. fica Brasileira, durante o Ano Ge­ofísico Com a primeira expedição antártica, or- Internacional, nos anos de 1957 e 1958, ganizada no verão de 1982/83, a Operantar o Brasil vem aumentando gradativamente I, as ações brasi­leiras foram consolidadas suas atividades­ no continente gelado. Com no continente, quando, finalmente, nosso o consenso de que o País deveria se tornar país foi aceito como membro con­sultivo do membro consultivo do Tratado Antártico, Tratado Antártico. Na operação seguinte, a foi atribuída à Comissão In­terministerial Operantar II, foi fundada a Estação Antár- para os Recursos do Mar (Cirm) a com- tica Comandante Ferraz (EACF).

* Matéria publicada na Revista Villegagnon de 2012. 30 ANOS DE OPERANTAR

OPERAÇÕES ANTÁRTICAS científicos e as condi­ções de habitabilidade nas que eram guarnecidas per­manentemente, 1a Expedição e pelo Mar de Weddell, para conhecer a navegação e a costa da Princesa Martha e vi- A Operantar I ocorreu no verão de sitar a estação alemã Georg von Neumayer. 1982/83 e teve o apoio de dois navios: o Assim, pela pri­meira vez depois da criação Navio de Apoio Oceanográfico Barão de do Tratado Antártico, o Brasil mostrou sua Teffé, que havia sido adquirido pela Ma- bandeira no continente austral. rinha do Brasil por US$ 3,5 milhões em Na época, a operação teve grande maio de 1982, na Dina- cobertura da imprensa, marca, com 88 pessoas visto que o continen- a bordo entre militares, te gelado sempre cria cientistas, jornalistas e uma mística e provoca convi­dados; e o Navio curiosidade em todos. Oceanográfico Profes- Logo após essa primei- sor Wladimir Besnard, ra expedição, o País da Universidade de São foi reconhecido como Paulo, que levou a bor- Parte Consultiva do do 28 pesquisadores e Tratado Antártico. Este uma tripulação com- havia sido assinado em posta por cem homens. 1959 por 12 países que Essa primeira aventura man ­tinham bases na pela Penín­sula Antár- região e entrado em tica teve o propósito vigor em 1961. Eram de realizar um reco­ eles: África do Sul, nhecimento inicial da região, a fim de Argentina, Austrália, Bélgica, Chile, contribuir para a escolha do local da futura Estados Unidos, França, Japão, Nova Ze- estação, além de dar início às primeiras lândia, Noruega, Reino Unido e a antiga pesquisas. União Soviética. Seus membros se com- O Barão de Teffé, sob o comando do Ca- prometeram a suspender suas preten­sões pitão de Mar e Guerra (CMG) Fer­nando José territoriais pelo período inicial de 30 anos Andrade Pastor Almeida, deveria navegar (até 1991) e permitir a liberdade de explo- pela Península Antártica, visitando bases ração científica do continente antártico, de outros países para conhecer os estudos em regime de cooperação in­ternacional.

NAOc Barão de Teffé NOc Professor Wladimir Besnard

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Operantar II

Os trabalhos para a segunda expedição foram ini­ciados durante a primeira, com a coleta de informa­ções, as mais variadas pos- síveis, que pudessem ser ob­tidas nas diversas bases e estações que foram visitadas por ela, além de fornecer um primeiro contato entre o continente e aqueles que iriam projetar, construir e ins­talar a nossa, na época, so- nhada estação. A ideia ini­cial era montar um acampamento sem grandes luxos para um pequeno grupo passar uma semana sentindo as peculiaridades da região e realizar estudos sobre o terreno. O “camping austral” acabou evoluindo a par­tir da base alemã Georg Von Neumayer, que utilizava shelters (contêine- res adaptados). O trabalho necessá­rio para criar uma estação pioneira capaz de suprir 12 pessoas durante um período de 30 dias em um ambien­te extremo era enorme e não Carta Naútica da Baía do Almirantado permitia erros. Todos os preparativos foram iniciados: selecionar e treinar seu pessoal, Em seus relatos, o Almirante Adrião projetar, licitar e construir os primeiros mó­ comenta que, antes da comissão, o navio dulos, calcular a quantidade de suprimentos, apresentou um problema nas máquinas e, realizar a única experiência do material em por muito pouco, não foi aberto um inquéri- uma abicagem na Ilha Grande, entre outros. to, que poderia atrasar os planos da viagem. Com a missão de: Graças ao apoio do ministro da Marinha, “transportar os módulos da Estação An­ Almirante Maximiano Eduardo da Silva tártica Comandante Ferraz; selecionar Fonseca, que autorizou o diretor-geral do e cartografar, na Península Antártica, Material, Almirante Raphael de Azevedo o lo­cal adequado para desembarcar Branco, a adquirir todos os sobressalentes e instalar a Estação; transportar os ne ­cessários para os reparos do navio, não pesquisadores engajados e apoiar as houve atrasos para o início da viagem. pesquisas progra­madas pela Cirm, a Outra pendência a ser sanada antes da fim de estabelecer a primeira estação partida era como fazer a cartografia, pois brasileira na Antártica e contribuir não havia muitas car­tas disponíveis e con- para o desenvolvimento do Proantar” fiáveis. O Barão de Teffé tinha disponível (Adrião, 2005: 65), somente uma lancha-empurrador, adapta­da para empurrar a chata que transportaria os a tripulação do Barão de Teffé, que, módu ­los da estação. Além de outras tarefas na época, estava sob o comando do CMG importantes a realizar, ela não era adequada Paulo Cezar de Aguiar Adrião, hoje contra- para fazer sondagens. O problema foi solu- almirante reformado, partia para um grande cionado quando souberam que a Diretoria desafio. de Hidrografia e Navegação (DHN) estava

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construindo novas lanchas hidrográficas para equipe de navegação recebia constantemente o Navio HidrográficoSirius , e que uma delas as atuali­zações das condições meteoroló- se encontrava pron­ta. Devido à necessidade, gicas e o motor estava respondendo acima com a colaboração do vice­-diretor na época, o das expectativas, com velocidade média de CMG Fernando Coelho Bruzzi, o então CMG 9 nós. Contudo, no dia 13 registraram-se 2 Adrião conseguiu adquirir a lancha de que nós negativos em virtude de um mau tem- tanto precisava para a faina. Comentou ele: po, mar 9, vento de proa de 90 km/h, com ... “ ‘roubamos’ a referida lancha, ‘cri- rajadas de até 120 km/h, havendo melhora me’ que, imagino, já esteja prescrito. depois de dois dias. Com as Ilhas Malvinas Sem ela não teríamos realizado adequa- a 40 milhas, no dia 15, o Barão de Teffé foi damente o levantamento hidrográfico da sobrevoado por um helicóptero Sea King Baía do Almirantado, que deu origem in ­glês; e no dia 18, avistou-se o primeiro ice- a nossa pri­meira carta da Antártica berg. No dia 19, o Barão de Teffé fundeou na (nº 25.121), a primeira também fora Baía de Maxwell em frente às bases chilena do Território Na­cional baseada em e soviética na Ilha Rei Jorge. levantamento genui­namente brasileiro” Com um cronograma que dependia do (Adrião, 2005: 66). verão an­tártico, começou a corrida contra o tempo para tomar a primeira decisão, a Concluídos os preparativos, o Barão de escolha do local da estação que deveria Teffé desatra­cou do Cais Norte da Ilha das contemplar uma série de características Cobras em 3 de janeiro de 1983, iniciando a de terreno, gelo e um fundeadouro seguro. Operantar II. Correu tudo muito bem durante Depois de serem visitados alguns lugares a travessia: não houve nenhum problema e com o tempo cada vez mais apertado, o com os equipamentos, o conforto era bom, a local escolhido acabou por surgir de uma conversa entre o Almirante Adrião e um oficial ar­gentino que estava embarcado: a Enseada Martel, na Ilha Rei Jorge, que era a de quinta prioridade na lista da Cirm. “O descarregamento dos componentes da base – totalizando 54 toneladas – foi completado ontem. Uma operação bas ­tante complicada, que mobilizou cerca de 30 homens durante três dias, trabalhan­do cerca de 15 horas por dia, numa tem­peratura que variou entre zero e 15 graus negativos.”

Esse comentário da reportagem do jornalista Hermano Henning (O Globo, 26/1/83) demonstra o nível de dificuldade encontrado pelos nossos exploradores. Apesar da grande quantidade de trabalho braçal, do clima desgastante e do pouco tempo de descanso, todo o trabalho de Noticiários da Operantar II em 1984 montagem foi terminado em 11 dias.

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Esta ­ção Antártica Co- mandante Ferraz, que passou a ser ocupada permanentemente a partir da Operantar IV, em 1986, e possuía 62 módulos.

ADVERSIDADES DA REGIÃO

Alguns problemas causados pelo clima extremo da região são de constante preocupa- ção para os habitan­tes da base: o vento, a neve e o fogo. A neve não chega a ser um problema tão grande, visto que na área da Localização da EACF estação o risco de ava- lanche é quase nulo, e À inauguração compareceram os po- o pro­blema com vento, que pode chegar loneses de Arctowski, os chilenos de a 200 km/h, foi contornado com técnicas March, os russos de Bellin­ghausen, os de engenharia – levantar os módulos do argentinos de Jubani e os navios Piloto chão, para que o vento passe por cima e Pardo e Alcazar do Chile, além do nosso por baixo dos módulos; ter uma superfície com ­patriota Prof. W. Besnard. Na ocasião, de rece­bimento de vento menor possível, o então Comandante Adrião deu posse ao que é obtida com telhados planos, rentes primeiro chefe da base, o Capitão de Cor- ao teto dos módulos; e o uso de estruturas veta (FN) Edison Nascimento Martins, e, muito pesadas, que faz com que os módulos no dia seguinte, partiu com seu navio para funcionem como os ferros dos navios. reabastecer e trocar pesquisadores em Punta Contra o fogo não é tão simples, pois Arenas e só regressaria um mês depois. o ar na região é muito seco e ajuda a A base contava com oito comparti- propagar qualquer incêndio. Além disso, mentos (dois alojamentos­ de seis homens existem materiais inflamáveis em alguns cada, uma sala de comando/comunicações, postos da estação, oriundos de itens ne- pesquisa e lazer, um banheiro/lavanderia,­ cessários para a continuidade das diversas uma cozinha, uma unidade geradora, uma pesquisas ou escolhi­dos para proporcionar despen ­sa e uma oficina), uma caixa de co- conforto de certas áreas (sofá, cortina, leta de água/derre­timento de neve ou gelo e carpete, madeira), visto que pessoas uma área externa coberta entre os módulos. ficarem em um ambiente isolado, todo Nesse período de 28 dias, foram desen- em inox, durante um ano, seria muito volvidos sete projetos, nascendo, assim, a desconfortável para todos. Em um Plano

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mentos de combate de avarias, de modo a as- segurar a vida de to­dos os civis que estavam na estação. Lamenta- velmente, os esforços para apagar o incêndio não surtiram o efei­ to desejado, somente permanecendo intoca- das as es­truturas mais afastadas da estação – módulos isolados para o caso de emer- gência; os laboratórios Criosfera 1 de meteo­rologia, de química e de estudo da de Revitalização da Estação que ocorreu alta atmosfera; os tanques de combustíveis; entre os anos de 2005 e 2007, a arquiteta dois módulos de captação de água doce; a Cristina Engel de Alvarez, coordenadora Estação Rádio de Emergência e o helipon­ do Laboratório de Planeja­mento e Projetos to. Em consequência, a MB está envidando da Universidade Federal do Espírito Santo, esforços para prontificar a Estação, que foi a responsável pela parte arquitetônica sofreu sérias avarias. e to­mou algumas medidas para evitar os Em novembro, quando começar o verão problemas com fogo. antárti co,­ a Marinha deve iniciar a retirada Os alojamentos e os geradores foram dos escombros*. Entretanto, as pesquisas colocados de lados opostos da estação continuarão enquanto a nova estação não de forma proposital e, em torno dos ge- fica pronta. Elas contarão com o apoio do radores, foi deixada uma área vazia com Navio Polar Almirante Maximiano, com cerca de quatro metros, pois em um caso os laboratórios que não foram afetados extremo po­deria absorver parte de uma pelo aci­dente em ilhas, estações de outros explosão. Lugares consi­derados de risco, países na região e no interior do continente como a sala de geradores e a cozinha, onde foi instalado, na últi­ma operação, um tinham revestimento de metal e inox, módulo autônomo equipado com aparelhos respectivamente. que coletam dados meteorológicos e me­ Apesar de toda a segurança, por volta de dem a composição química da atmosfera 1 hora da manhã do dia 25 de fevereiro de da região: o Criosfera 1, a 500 km do ponto 2012, um incêndio na praça de máquinas mais meridional da Terra, que funciona sem se iniciou e rapidamente se espa­lhou para a presença humana, enviando seus dados outras partes da estação. Quando detectado, por satélite para o Instituto Nacional de todos os militares deram início aos procedi- Pesquisas Espaciais.

* N.R.: Como este artigo foi escrito em 2012, ainda não havia ocorrido a retirada dos escombros. Ver Noticiário desta esdição: Regressos do NApOc Ary Rongel, do NPo Almirante Maximiano, do NM Germania além do apoio do CAAML à Operação e também sobre o projeto da nova estação.

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CONCLUSÃO Brasil, em conjunto com a Polônia, propôs a criação da primeira Área Antártica Especial- Depois de mais de três décadas de mente Gerenciada (AAEG) – área da Baía Programa Antár­tico, o País é reconhecido do Almirantado que abrange as estações internacionalmente por seu sério trabalho de Brasil, Chile, Polônia e Peru, além de desenvolvido na Antártica, realizado com refúgios americanos e do Equador –, tendo o sacrifício de inúmeros brasileiros que se em vista que a vida dos seres nativos da propuseram a ficar ausentes de seus lares região é muito frágil e pode ser prejudicada para o progresso das pesquisas científicas que por qualquer mu­dança global. Assim, foram ajudam a entender melhor o nosso plane­ta. O tomadas medidas com o intuito de minimizar Proantar está trabalhando agora em Módulos qualquer possível interferência e promo­ver Antárticos Emergenciais que irão funcionar a cooperação entre as Partes Consultivas. provisoria ­mente, enquanto a nova Estação Espera ­-se que a nova base seja concluída Antártica Comandante Ferraz estiver sendo em 2018, contando com investimentos do planejada e, futuramente, construída com governo orçados em 40 milhões de reais. técnicas mais modernas que estão sendo utili- Que o trabalho e a vida desses brasilei- zadas em estações de outros países na região. ros que representam esta nação sirvam de Seguindo as recomendações do Protocolo estímulo para au­mentar ainda mais os in- ao Tra­tado da Antártica sobre Proteção ao teresses deste projeto nacional, que possui Meio Ambiente (Protocolo de Madri), o paralelos de diversas outras nações.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Estação Antártica Comandante Ferraz; Operação;

REFERÊNCIAS

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RMB2oT/2013 185 ARTIGOS AVULSOS

Esta seção divulga os artigos que não puderam ser publicados – na íntegra – na RMB e que passarão a fazer parte do acervo da Biblioteca da Marinha. Aqui são apresentados o título, o autor, posto ou título, número de páginas do trabalho completo, classificação para índice remissivo e o resumo do artigo.

O MAL-ESTAR NO TRABALHO CONTEMPORÂNEO

ADRIANA GOMES DE SOUZA Professora*

Número de páginas: 18 Identificação:AV 052/13 – # 2063 – RMB 2o/2013 CIR: ; Psicanálise; Comportamento; Obediência; Princípios;

O texto apresenta análise do trabalho das pessoas e discute o conceito trabalho no contexto social de perpetuação e desenvolvimento de cultura. Acrescenta que embora a psicanálise considere o trabalho como forma de sublimação, o capitalismo apela para a produtividade, a eficácia e a eficiência dos sujeitos, sustentando-se no consumismo como garantia de produção. Por outro lado comenta que a psicanálise demonstra como o indivíduo se constitui como sujeito do desejo, com as diversas modalidades de gozo cabíveis.

* Mestre, doutoranda em psicanálise, saúde e sociedade. Professora da Fundação de Estudos do Mar (Femar). CARTA DOS LEITORES

CARTAS DOS LEITORES

Esta seção destina-se a divulgar ideias e pensamentos e incentivar de- bates, abrindo espaço ao leitor para comentários, adendos esclarecedores e observações sobre artigos publicados. As cartas deverão ser enviadas à Revista Marítima Brasileira, que, a seu critério, poderá publicá-las parcial ou integralmente. Contamos com sua colaboração para realizar nosso propó- sito, que é o de dinamizar a RMB, tornando-a um eficiente veículo em be- nefício de uma Marinha mais forte e atuante. Sua participação é importante.

A RMB recebeu o texto da Escola Naval com o pronunciamento da Sra. Claudia Serpa Osório de Castro, por ocasião da cerimônia de inauguração do busto em homenagem ao Almirante Ivan da Silveira Serpa, seu pai, realizada em 22 de dezembro de 2012 na Escola Naval. Naquela mesma data, foi atribuído o nome do Almirante Serpa ao Auditório da Escola, antes denominado Auditório Greeenhalgh.

“Papai faria 80 anos dia 30 de no- coitado, já estava sem ideias. Como úl- vembro próximo. Quando eu tinha uns timo recurso explicativo, e referindo-se 11 anos, havíamos voltado dos Estados a uma tia dele que havia falecido, papai Unidos. Como estava atrasada na matéria, saiu-se com esta: papai me explicava português. Eu não – São tipos de tempo que a gente usa para conseguia empregar bem certos tempos falar, por exemplo, de alguém que já morreu, verbais, em especial o imperfeito e o con- fulano era..., fulano seria, se; sicrano fazia, dicional. Acostumada com a simplicidade sicrano faria, se; beltrano estava; beltrano e a falta de sutilezas verbais do inglês, estaria, se... me debatia com este nosso lindo mas – Mas a gente pode dizer fulano foi, infernal idioma e relutava em aprender. sicrano fez e beltrano esteve (sobre gente Diante da minha dificuldade de entender morta) – disse eu, sem entregar os pontos. a diferença entre os pretéritos, papai, Papai retrucou, certeiro:

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– É, mas a gente usa para se referir a coi- completo de todos os seus contemporâneos, sas que a pessoa fazia quando foi ‘interrom- mais modernos e mais antigos. Até hoje pida’ (pela morte) e, por isso, sua ação não sabemos dos professores que (estes sim!) foi finalizada, não teve tempo de concluir. sabiam ensinar. Muitas saudades e muitas A explicação foi poderosa, e nunca mais histórias dos anos que passou aqui. Tinha esqueci. A lembrança da aula de português muito orgulho de lembrar que voltara à de 1969 me veio quando papai morreu. Escola Naval em várias ocasiões na car- Passei a usar o verbo no imperfeito para reira. Foi comandante do Corpo de Alunos, falar dele! Muito estranho. Papai não foi vice-diretor, comandante da Escola Naval, uma pessoa do imperfeito, mas do perfeito, diretor de Ensino. Creio que seu sentimento e aplicá-lo a ele seria reiterar algo por fazer, pela Escola Naval tenha também contagia- coisas inacabadas. E não foi assim. Apesar do os oficiais que serviram diretamente com da falta e da saudade, sentimos que ele teve ele, hoje e sempre grandes amigos. uma vida plena e muito feliz, conosco e na Por isto, agradecemos, especialmente, carreira, absolutamente realizado. ao Almirante de Esquadra Julio Soares de A historinha da minha infância vem a Moura Neto, comandante da Marinha, e propósito do que nos traz aqui hoje. Sua ao comandante da Escola Naval, Contra- vida, interrompida no mundo, se afirma, em Almirante Antonio Carlos Guerreiro. Aos muitos aspectos, nesta solenidade. oficiais e amigos presentes a esta maravi- Não há honra maior para o meu pai que lhosa homenagem que a Marinha faz ao ser lembrado na Escola Naval. Esta Escola papai, lembramos a pessoa que ele foi e o foi o lugar que lhe trazia as melhores lem- exemplo que ele deixou, sem condicional, branças da juventude e dos anos de forma- sem imperfeito. Este passa a ser, agora, ção como oficial e como pessoa. Falava também seu lugar, completamente perfeito, sempre do seu ‘camarote’, da Turma, com no mundo dos homens. grande admiração dos amigos e colegas. Ti- Papai fará 80 anos dia 30 de novembro nha o ‘tico-tico’ de cor; lembrava do nome próximo. Viva o Brasil! Viva a Marinha!”

188 RMB2oT/2013 NECROLÓGIO

A RMB expressa o pesar às famílias pelo falecimento dos seguintes colaboradores e assinantes:

CA Décio de Oliveira Guimarães  09/04/1922 † 20/01/2013 CMG Ivan Dantas Costa  12/10/1943 † 01/03/2013 CMG (MD) Mário Wilfart Hermanson  25/02/1942 † 15/03/2013 CF (EN) Mario Cezar Pereira Augusto  25/06/1946 † 07/02/2013

Nascido em Minas Gerais, filho de Mário Carneiro Guimarães e de Gersyna de Oliveira Guimarães. Promoções: a segundo-tenente em 06/01/1944; a primeiro-tenente em 24/08/1945; a capitão-tenente em 09/03/1951; a capitão de corveta em 22/09/1954; a capitão de fragata em 14/05/1960; a capitão de mar e guerra em 16/09/1966 e a contra-almirante em 30/05/1972. Foi transferido para a reserva em 11/06/1976. Em sua carreira exerceu quatro coman- dos: Corveta Angostura; Contratorpedeiro Pará; 1o Esquadrão de Contratorpedeiros e Força Aeronaval. Comissões: Cruzador-Ligeiro Tamandaré; Navio de Transporte Custódio de Mello; Esco- la de Guerra Naval; Navio-Aeródromo Ligeiro Minas Gerais; Comissão de Recebimento de DÉCIO DE OLIVEIRA GUIMARÃES Contratorpedeiros (presidente);Estado-Maior o Contra-Almirante da Armada; Comando do 1 Distrito Naval; NECROLÓGIO

Escola de Guerra Naval (vice); Comando-em- Guerra – 2 Estrelas; Medalha da Força Naval Chefe da Esquadra (chefe do Estado-Maior) e do Nordeste – Bronze; Ordem do Mérito Escola Superior de Guerra. Naval – Grande-Oficial; Ordem do Mérito Em reconhecimento aos seus serviços, Militar – Comendador; Medalha Militar e recebeu inúmeras referências elogiosas Passador Ouro – 3o Decênio; Medalha do e as seguintes condecorações: Medalha Mérito Tamandaré; e Medalha do Mérito Naval do Mérito de Guerra-Serviços de Santos Dumont.

CONTRA-ALMIRANTE DÉCIO DE OLIVEIRA GUIMARÃES

Na sua apresentação no Contratorpedei- não largava a manobra, pois cada uma era ro Pará (Fletcher) para assumir o comando, oportunidade rara e deveria ser saboreada a impressão causada foi decorrente da di- com todo fervor. ferença de fisionomias entre Sylvio Caielle Minha sorte é que Décio era um oficial de Siqueira, comandante passando, com supernavegado e por isso não sofria dessa sorriso fácil, para Décio, bem mais sério. sofreguidão. Décio não tinha cara de sorrisos, era Dois exemplos vividos por mim com ele sisudo, estava sempre em faina, mas, com marcaram a minha vida naval e me torna- o passar dos tempos, foi mostrando a sua ram seu admirador e amigo. Amizade que verdadeira personalidade: afável, simpá- se manteve por muito tempo, até mesmo tico, justo e um senhor marinheiro, muito quando éramos almirantes na Reserva. navegado. Certa ocasião, provavelmente 11 de Eu era imediato e tinha me dado muito junho ou 13 de dezembro, recebemos or- bem com o “Siqueirinha”, como era ca- dem de, com inúmeros outros navios, nos rinhosamente chamado pela oficialidade. dirigirmos para a Enseada de Botafogo, e Com Décio, que eu não conhecia pessoal- lá fundearmos no posto designado. Décio mente, também foi fácil o relacionamento virou-se para mim e disse: conduza o comandante-imediato. Pena que a convi- navio para o ponto de fundeio. E lá fui eu vência não durou muito, ao contrário do ordenando ajustes de rumos orientado pelo que eu desejaria, pois o rodízio de oficiais Centro de Informações de Combate (CIC), imposto pelas regras da Diretoria do Pes- chefiado pelo colega e amigo Mourão soal tinha que prevalecer. (Wilson Mourão dos Santos), em quem eu Inteligente, sagaz, esperto, Décio não tinha toda confiança, pois sua competência conseguia ser muito paciente com os me- já tinha sido sobejamente comprovada. nos dotados, embora nunca os tratasse com Fui tenente do CIC do Cruzador-Ligeiro menosprezo ou tomasse outra qualquer Barroso e era entusiasmado pelos radares, atitude inamistosa ou injusta. Mas o su- acho que até demais, a ponto de, no caso bordinado tinha que redobrar sua atenção em questão, ser traído pelo esquecimento ao serviço. de práticas marinheiras simples e eternas. Naquele tempo, em meados dos anos É aí que Décio entra em cena. Atento ao 1960, o comando de um contratorpedeiro, que passava em torno dele (ele passava a principalmente um classe Pará, era algo manobra, jamais o comando, lógico, mas dificílimo de ser alcançado e, quando o estava sempre atento para intervir se neces- capitão de fragata se via no passadiço de sário), virou-se para mim e me esclareceu, um deles, pelo entusiasmo do comando, com seu jeito de emérito gozador, que eu

190 RMB2oT/2013 NECROLÓGIO deveria abandonar as teorias do CIC e aquela manobra. Décio deixou que eu conti- apenas navegar em cima de uma linha de nuasse com a manobra e, assim, conduzisse marcação até que enchesse a outra, e aí o querido Pará para o novo rumo. estaríamos no ponto. Simples, não é? Mas Hoje, acho que as manobras de rotina da Décio me deixou apanhar da manobra para Esquadra são muito mais complicadas do que a lição não fosse esquecida jamais... o que a simples mudança de rumo (graças aos que aconteceu. mais antigos que souberam se modernizar De outra feita, estávamos em manobra e tornar rotineiros alguns tabus). integrando força-tarefa que executava uma Décio era assim, não era em absoluto passagem de carga leve. ciumento das suas oportunidades de mano- Décio, mais uma vez, passou a manobra brar, era um homem do mar muito vivido de manutenção do posto para mim. Então, neste nosso ambiente. de surpresa, veio a ordem de mudar o Foi um grande professor e mais tarde rumo de uns 30 graus (não me lembro mais amigo. Inesquecível. exatamente) para os dois navios com a aparelhagem passada. Na minha memória, Luiz Edmundo Brígido Bittencourt era a primeira vez que a Marinha iria fazer Vice-Almirante (Refo)

RMB2oT/2013 191 DOAÇÕES À DPHDM MARÇO A MAIO DE 2013

DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECA DA MARINHA

DOADORES Almirante de Esquadra Mauro César Rodrigues Pereira Vice-Almirante Armando Fernandes de Carlos Capitão de Mar e Guerra Edina Laura Costa Nogueira da Gama Sr. Edivaldo M. Boaventura Sra. Lais Ottoni Barbosa Ferreira Escola Naval Clube Naval Odontoclínica Central da Marinha Centro de Comunicação Social da Marinha Diretoria de Administração da Marinha Estado Mayor General de la Armada Argentina Marinha Portuguesa Armada del Ecuador Ministério de Educación y Cultura do Uruguay Academia de Marinha Lisboa Fundação Alexandre de Gusmão Ministério Público de Minas Gerais Confederação Nacional do Transporte Odebrecht Sociedade Brasileira de Engenharia Naval (Sobena) Museu Histórico Nacional Casa da Palavra Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica Grupo Editorial Spagat Biblioteca Nacional Fundação Roberto Marinho Adler Editora Ltda Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan-RJ Fundação Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro – FBN Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo Con-Fine Edizioni (BO) Ministério Público do Estado de Minas Gerais Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) Instituto Oceanográfico da USP Tecnologia e Defesa Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) Museu Nacional DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDOS

LIVROS E PERIÓDICOS RECEBIDOS

ARGENTINA La Ilustration Sud-Americana (Brasil Edicion Especial 1900) Revista de Publicaciones Navales – (Periódico no 172)

BOLÍVIA Eduardo de Martino da Ufficiale de Marina a Pittore de Corte (Livro 2012)

EQUADOR História Marítima del Ecuador (livro – Tomo II – Periodo prehispanico) Instituto de História Marítima (Armada del Ecuador v. 27 no 51 dezembro/2012)

ESTADOS UNIDOS A Scape to Bermuda (Livro 1991)

PORTUGAL Revista da Armada (v. 42 no 473 abr/2013) A Viagem de Pedro Álvares Cabral e o Descobrimento do Brasil (1500-1501) Livro 2003

SUÍÇA Switzerland Through the Eyes of Others (Livro 1992)

URUGUAI Mi Tierra Uruguay (Livro 1997) Cartografia y Navegación del Portulano a la Carta Esférica del siglio XII a Comienzos del Siglio XIX (Livro 2007)

BRASIL Cadernos do CHDD – v. 11 no 21 (periódico) De Jure Revista Jurídica do Ministério Público de Minas Gerais – no 19 vol. II (periódico) CNT Transporte Atual – v. 18 no 209 O Mosteiro de São Bento da Bahia – (livro 2011) Barão do Rio Branco e a Caricatura (Coleção e memória) – (Livro 2012) Coleções e Colecionadores (A polissemia das práticas) – (Livro 2012) Um Mergulho no Rio (100 anos de moda e comportamento na praia) – (Livro 2012) Revista Síntese (Direito Previdenciário) – (periódico jan/fev 2013) Ideias em Destaque – no 39 set/dez 2012 (periódico) Rio Cidade – Paisagem – (Livro 2012) A Tua Marinha – (Livro 1956) Escola de Formação de Oficiais das Forças Armadas do Brasil – 1792-1987(informativo) Gravuras Selecionadas 1819-1820 Rio Chamberlain – (informativo) A Quarta Parte do Mundo – (Livro 2009) Rio de Imagens, uma paisagem em construção – (Livro 2013) Presença Portuguesa em São Paulo – (Livro 2006)

RMB2oT/2013 193 DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDOS

Os Cardeais 1o grupo de Aviação Embarcada/4o/7o Grupo de Aviação Jardins do Rio – (Livro 2012) Nossa História (Vale do Rio Doce) – (Livro 2012) Submerso – Brasil Oceânico – (Livro 2006) Baía de Guanabara – Biografia de uma Paisagem – (Livro 2005) Palácio São Clemente – (Livro 2005) 500 Anos Giorgio Vasari, a Invenção do Artista Moderno – (Livro 2012) Cidades Históricas que mudaram o Brasil – (Livro 2012) O Rapto Ideológico da Categoria Subúrbio (Rio de Janeiro 1858/1945 – (Livro 2011) Escritos de Euclides da Cunha (Política, Ecopolítica, Etnopolítica) – (Livro 2009) Oswald Brierly – Diários de viagens ao Rio de Janeiro 1842-1867 – (Livro 2006) Panorama do Segundo Império – (Livro 1998) Bondinho do Pão de Açúcar – Sugar Loaf – (Livro 2008) Revista de História da Biblioteca Nacional – 3 Ex. v. 7 no 81 jun/2012 v. 8 no 90 mar/2013 v. 8 no 91 abr/2013 – v. 7 no 81/2012; v. 8 no 91/2013 e v. 8 no 90/2013 Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo – no 14/2013; no 15/2013; no 21/2013 Revista de Villegagnon Os Ottoni Descendentes e Colaterias – (Livro 1998) Na Trilha de Pedro Calmon – (Livro 2010) Técnicas de Alimentação – Noções Básicas – (Livro) Relíquias Navais do Brasil – (Livro 1983) Brasil – a Costa – (Livro 1983) Revista do Ministério Público do Estado de Minas Gerais – periódico fev/2013) 11a Semana de Museus – Museus (Memória + Criatividade = Mudança Social) Prof. W. Besnard – 40 anos de navio ao mar Prof. Wladimir Besnard (1o de setembro de 1890 – 11 de agosto de 1960) Revista do Clube Naval – v. 212 no 365 jan/fev/mar 2013 (periódico) Arquivos Brasileiros de Medicina Naval – vol. 69 no 1 jan/dez 2008; vol. 72 no 1 jan/dez 2011; vol. 71 no 1 jan/dez 2010; vol. 70 no 1 jan/dez 2009; vol. 63/64 no 1 jun 2002/2003; A. 47 no 3 out/dez 1996; (periódicos) Revista Tecnologia e Defesa – v. 30 no 132/2013 (periódico) Transportes Aquaviários no Brasil Bicentenário da Partida da Família Real para o Basil História, Pesquisa e Biodiversidade do Monumento Natural das Ilhas Cagarras Esponjas das Ilhas Oceânicas Brasileiras

194 RMB2oT/2013 O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL

As histórias aqui contadas reproduzem, com respeitoso humor, o que se conta nas conversas alegres das praças-d’armas e dos conveses. Guardadas certas liberdades, todas elas, na sua essência, são verídicas e por isso caracterizam várias fases da vida na Marinha. São válidas, também, histórias vividas em outras Marinhas. Contamos com sua colaboração. Se desejar, apenas apresente o caso por carta, ou por e-mail ([email protected]).

BREKELÉ E OS FABINHOS

Todos os anos, como era costume, fazía- antigas músicas carnavalescas adaptadas mos com os mariscos um jogo de basquete para a ocasião. Do lado de “lá”, acontecia no Ginásio do Fluminense, e este dia era o mesmo, de modo que o barulho esperado por todos com muita ansiedade, com a cantoria era infernal, e ainda mais pela presença do elemento fe- nós, os cadetes, e “eles”, os minino, que era considerável! aspirantes, misturados com Os dois times preparavam-se cuidado- as respectivas galeras fe- samente para a “peleja”, e, num determi- mininas, nos divertíamos nado domingo, íamos nós todos a valer, enquanto, dentro para o Fluminense, pois era da cancha, os dois times se obrigatória a presença, ain- digladiavam! da mais que, logo após o Acontece que este jogo jogo, de ônibus, voltávamos a que estou me referindo para as nossas respectivas não seria igual aos outros, escolas. realizados em anos ante- Algumas semanas antes, riores. Durante alguns dias, ensaiávamos, no cinema, as um grupo de cadetes da 3a músicas que iríamos cantar esquadrilha e outros “com- para animar os jogadores parsas” se empenharam em e “cutucar” os “mariscos”, organizar uma operação que e, nessas horas, apareciam verdadeiras foi chamada “o roubo”, sem especificar o obras-primas de gozação, hinos e uso de objeto ou o que seria roubado. O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL

Era tradicional, na Escola Naval, o Foi um Deus nos acuda! Como os “mariscos” desfile do ganso Brekelé na frente do gru- não usavam gravata e nós sim, no escuro, para pamento de aspirantes. Os “bichos” tinham se descobrir quem era o inimigo para bater, até que fazer continência, nas dependências segurava-se a túnica na altura do pescoço: se da Escola, quando por ele cruzavam. Em não tivesse gravata, pau nele! Por outro lado, cada competição esportiva, lá estava o “eles” faziam a mesma coisa conosco! Brekelé, com uma capa azul sobre as asas, Enquanto isso, era aquela gritaria das a qual de cada lado tinha as letras E e N, meninas e uma confusão tremenda, que só além de um gorro de marisco. acabou quando as luzes foram acesas e aí No famoso dia do nosso jogo, antes do se puderam ver os estragos! Eram luvas, mesmo iniciar, o Brekelé desfilava pela quepes, bolsas e tudo o que se pode imagi- cancha, acompanhado por dois fiéis guar- nar espalhados pelo chão da quadra e nas diães: dois aspirantes que eram os encar- arquibancadas, enquanto os oficiais, dos regados de levá-lo e guardá-lo. Após esse dois lados, tentavam acalmar a bagunça. tradicional desfile, tremendamente vaiado Os ânimos estavam realmente exaltados e pela nossa turma, o bichinho foi levado, não foi fácil ir retirando do recinto as duas como de costume, para um dos vestiários do partes e levá-las para os respectivos ônibus. clube, onde ficaria até o término do jogo, O mulherio, ainda sob forte emoção dos mas sempre com pelo menos um aspirante acontecimentos, foi se retirando, sem que de guarda. nem elas nem nós pudéssemos nos despe- O jogo foi iniciado e estávamos perden- dir. Não é preciso dizer que, após a partida do feio quando lá pela metade do segundo dos nossos ônibus em direção a Marechal tempo iniciou-se, do lado “deles”, uma Hermes, o Brekelé apareceu num deles. A gritaria e um início de invasão da quadra. “operação”, que tinha sido muito ensaiada, No entrevero que se seguiu, soube-se que dera certo, pois o “sequestro” fora feito com o Brekelé havia sumido! Bem, daí para toda a “limpeza”, – enquanto um dos nossos diante ninguém segurou ninguém, e de distraía o aspirante-guarda do ganso, dois repente as luzes do ginásio se apagaram. outros o pegaram pelo pescoço e o levaram

Brekelés em família passeando na Ilha de Villegagnon

196 RMB2oT/2013 O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL

para dentro do ônibus, cujo motorista já Nesta época, um primo meu, que havia estava devidamente instruído. ingressado na Escola Naval, no Curso Chegamos tarde à Escola, os encarrega- Prévio, como eu, nos Afonsos, quase dos da operação trataram de guardar o bicho brigou comigo por causa desse fato. A e fomos todos dormir. No dia seguinte, verdade é que, passados mais alguns dias, ao chegarmos ao ginásio para a educação nosso comandante do Corpo de Cadetes, física, lá estava, muito lampeiro, o Breke- Major Jacinto Pinto de Moura, que era lé, nadando no lago, ao lado da piscina. originário da Aviação Naval, começou a Durante alguns dias, ele, super bem tratado, insistir com o pessoal para a devolução foi ficando, enquanto os cadetes do o3 ano do Brekelé. Não é preciso dizer que, da tiravam fotos de uma galinha branca, tendo noite para o dia, o bichinho sumiu da suas penas arrancadas como se do ganso Escola. Honestamente, não sei até hoje fossem. Uma vez reveladas, as fotos eram que fim deram a ele, mas o fato é que encaminhadas à Escola Naval via aérea, aconteceu e isso faz parte das nossas his- isto é, quando alguém tinha que pousar no tórias dos gloriosos tempos dos Afonsos. Calabouço, atirava, na decolagem ou na aterragem, um embrulho com as fotos no Adalberto Burlamaqui Lopes* pátio da Naval. (in memoriam)

* Foi cadete do Curso Prévio da Escola de Aeronáutica em 1945 e frequentou o 1o ano da Escola em 1946. Foi assíduo colaborador do site Reservaer. Publicou várias obras, entre as quais destacam-se A Quarta Esquadrilha (romance em dois volumes sobre a vida no Campo dos Afonsos). Matéria enviada a RMB, por cortesia, do CMG (FN-Refo) Gil Cordeiro Dias Ferreira, do Coronel Aviador (Refo) Pedro Paulo Rocha e do Contra-Almirante (MD-RM1) Roberto Becman.

RMB2oT/2013 197 ACONTECEU HÁ 100 ANOS

Esta seção tem o propósito de trazer aos leitores lembranças e notícias do que sucedia em nossa Marinha, no País e noutras partes do mundo há um século. Serão sempre fatos devidamente reportados pela Revista Marítima Brasileira. Com vistas à preservação da originalidade dos artigos, observaremos a grafia então utilizada.

RELATÓRIO DA MARINHA (RMB, mai./1913, p. 651-679)

Com a mais viva satisfação publicamos nas “Exmo. Sr. presidente da Republica – De primeiras paginas desta revista, como aliás te- conformidade com o art. 51 da Constituição, mos feito em annos anteriores, o relatorio do venho apresentar-vos o relatorio das principaes ministro da Marinha, sr. vice-almirante Bel- occurrencias do Ministerio a meu cargo, pas- fort Vieira, apresentado ao sr. presidente da sadas no anno findo, e bem assim o meu juizo Republica. sobre as medidas que se me afiguram dignas É um trabalho consciencioso do qual se de vossa esclarecida attenção afim de collocar destaca claramente em exposição nitida e suc- a Marinha em posição de corresponder a seus cinta, sem o menor favor, o esforço empregado altos deveres. pelo titular da pasta da Marinha para a com- (...) pleta e proveitosa organisação dos multiplos e Rio de Janeiro, 30 de abril de 1913. – Ma- importantes serviços da Marinha Nacional. nuel Ignacio Belfort Vieira, vice-almirante.”

SERVIÇO DE ARTILHARIA (IDÉAS PARA UM REGULAMENTO) (RMB, mai./1913, p. 733-750)

Não ha negar que todo navio promp- de maneira que em 24 horas possa sahir to deve ter uma guarnição capaz de o para uma campanha e enfrentar galhar- manter sempre em estado de efficiencia, damente o inimigo. ACONTECEU HÁ CEM ANOS

Essa condição satisfeita traz a vantagem tará a situação para nós outros, si não dispu- de conservar folgadamente o material, ao mes- zermos de gente exercitada, de canhões e de mo tempo que permitte o preparo de pessoal munições de reserva. sem soluções de continuidade, movimentando- Dest’arte saibamos cuidar dos homens en- se regularmente os complicados apparelhos que tregues á nossa competencia e boa vontade, dizem respeito ao armamento. supprindo as lacunas que forem apparecendo Comquanto traga serios inconvenientes o para que a responsabilidade que pesa sobre facto de andarem desfalcados os navios, toda- nossos ombros seja minima. via não justifica o abandono da instrucção de Uma guarnição deficiente implica indu- artilharia. Si uma torre bitavelmente uma serie exige quarenta homens Um navio sem preparo enorme de contrarieda- para sua efficacia, um des, taes como accumu- numero inferior, de cer- para a guerra não passa de um lo de encargos, falta de to, acarretaria lamenta- simples paquete, porquanto estimulo, irregularidade vel confusão, visto uns o que o caracterisa militarmente na instrucção, abandono se occuparem dos deve- do material, etc., além do res de outros, quando é o gráo de efficiencia do pessoal que decorre para o servi- em combate, fim exclu- que o tripula ço interno de bordo. Mas sivo para que são traça- um navio sem preparo dos os “”, cada qual attenderia ao para a guerra não passa de um simples paque- seu proprio. te, porquanto o que o caracterisa militarmente Fosse possivel a previsão mathematica do é o gráo de efficiencia do pessoal que o tripula. momento de contacto com o inimigo e de algum Na impossibilidade, pois, de pormos em ac- modo estariamos a salvo de surpresas dolo- ção toda a nossa artilharia, procuremos guar- rosas, pois desde já iniciariamos o ensino dos necer o maior numero de canhões e assim nos nossos apontadores. Infelizmente ainda não desobrigamos com rigor e patriotismo da tarefa chegámos a uma tal perfeição, nem nos é dado que nos incumbe, de fórma a enviarmos para o aguardar o antagonista de zona antipoda, de mar, quando isso for preciso, um nucleo capaz fórma a vel-o alguns mezes depois da decla- e homogeneo. ração de rompimento, o que daria tempo para (...) recuperarmos o perdido. Luiz Autran de Alencastro Graça – Capi- Ao contrario, seremos atacados dentro de tão-tenente, encarregado da artilharia do cou- quarenta e oito horas e bem triste se apresen- raçado São Paulo.

UTILISAÇÃO MILITAR DOS NAVIOS MERCANTES (RMB, mai./1913, p. 781-789) Augusto Vinhaes

Noticia ha dias inserta em jornaes desta almirantado inglez, a bordo do Aragon, da capital relativa á collocação de canhões, pelo Royal Mail, suggeriu-nos a idéa de fazer rapi-

RMB2oT/2013 199 ACONTECEU HÁ CEM ANOS do estudo sobre a utilisação militar dos navios cantes direitos de, em tempo de paz, policiar os mercantes outr’ora e hoje. mares territoriaes escoimando-os dos piratas. É grande a mésse onde respigar e copiosa a (...) legislação referente a este interessante assumpto. Em certos paizes, o Estado póde-se apro- Segundo programma desta Revista não me esten- priar de navios mercantes para necessidades derei em citações de leis e restricções impostas por militares, quer em virtude de contratos quer em alguns governos ás cartas de corso e ás isenções vista de disposições legaes. dadas aos temerarios ecumeurs dos mares. Eis em rapido e incompleto esboço o que ha Hoje a utilisação desses recursos acha-se so- sobre este interessante assumpto. Basta, po- bremodo modificada, quer pelo lado material, rém, para mostrar quanto é complexa a questão quer pelo lado juridico. da boa utilisação dos variados recursos que se Era pequena em tempos idos a differença encontram em uma frota commercial conside- material entre o navio mercante e o de guerra, e rada como auxiliar na marinha de guerra. facil transformar o primeiro em vaso de guerra. A historia nos revela que esta questão pre- As leis e costumes de então facilitavam a occupou desde muito os poderes publicos. Hoje sua admissão entre os combatentes. A princi- deve preoccupal-os ainda mais, pois os dados pio os soberanos outorgavam aos navios mer- do problema modificaram-se de modo notavel.

NAVIO ENCANTADO (RMB, jun./1913, p. 947-962) A. Livramento

Poucos de nossos leitores conhecerão de porém, todo mysterio é, pela propria signifi- certo o caso de brigue norte-americano Marie cação do termo, essencialmente inexplicavel Celeste, de que nos dá noticia a The Nautical ou insoluvel, pareceu-nos, quiçá sem muita Magazine de abril proximo findo. razão, que incidiriamos em pleonasmo tra- Achamol-o a um tempo tão singular, tão duzindo esse titulo ao pé da lettra. Dahi a mysterioso e tão emocionante que não resisti- liberdade que tomámos de substituil-o pelo mos ao desejo de immedidamente transmittil-o que encima estas linhas, sem comtudo querer aos que usualmente nos fazem o favor de ler, de modo algum irrogar com isso a menos cri- na idéa de lhes proporcionar assim, a par do tica ou censura ao autor do alludido artigo, conhecimento de um dos episodios mais ex- cujo nome sentimos não poder citar aqui por traordinarios da vida maritima, uma ligeira extenso, por se ter elle assignado apenas com diversão á fadiga resultante de suas diuturnas as iniciaes J. S. C. Tal não é nossa intenção, leituras e lucubrações technicas, profissionaes tanto mais que, tudo bem considerado, um ou simplesmente scientificas, as quaes para facto a principio mysterioso pode posterior- mais fructuosas se tornarem carecerão natural- mente vir a deixar de ser, desde que as causas mente, como todo trabalho, quer physico quer ou circumstancias determinantes sejam por mental, de intercalados repousos. fim desvendadas; e, assim sendo, pode-se sob Esse caso vem na citada revista encabeça- esse ponto de vista admittir como inteiramen- do pelo titulo An Unsolved Mystery; como, te acceitavel a qualificação de insoluvel, ou

200 RMB2oT/2013 ACONTECEU HÁ CEM ANOS antes de insolvido, dada pelo autor a um mys- sortilegio de algum máo genio e até a produzir terio de que jamais se poude achar a explica- aos menos impressionaveis um certo calafrio ção. Não obstante, e em todo caso, para desde de pavor, como se deu com os que encontra- já nos eximirmos de quaesquer observações ram esse brigue abandonado a si mesmo a 300 identicas ás que estamos fazendo, por parte milhas de terra e que ao penetrarem nelle se de algum leitor, igualmente meticuloso e, ou- sentiram subitamente trasidos ante o silencio trosim, para darmos desde logo aos que nos tumular que alli reinava e o espectaculo real- folhearem uma idéa mais concreta, ou menos mente apavorante de um navio novo, perfei- vaga do assumpto de que se vai tratar, prefe- tamente apparelhado, de velas soltas ao ven- rimos, como ficou dito, epigraphar a presente to, cruzando mudo e sombrio os altos mares traducção com o suggestivo titulo acima. sem uma só pessoa a bordo! Alias, o qualificativo se nos afigura per- Mas, contemos o caso adstringindo-nos feitamente adequado. quanto possivel á nar- Navios que desappare- rativa da The Nautical cem, sem que jamais se Que desappareçam de bordo de um Magazine. É possivel consiga saber que fim navio em alto mar nada menos de que nossa impaciencia levaram, é o que se vê não nos permitta seguir todos os dias. treze pessoas constitue na verdade sempre rigorosamente o Ainda o anno pas- um acontecimento tão estupendo original inglez; o bene- sado, segundo acaba- que chega a fazer crer em algum volo leitor nos revelará mos de ler no Shipping encantamento por certo. Illustrated de fevereiro (...) ultimo, perderam-se O artigo do The 36 navios, alguns dos quaes se sumiram no Nautical Magazine que acima procurámos vasto pelado oceanico sem se saber onde, nem reproduzir finalisa com um resumo dessa como, nem quando. E isto é o que se dá to- narrativa, a que, segundo nos diz o seu au- dos os annos. Em 1905 essa perda foi ainda tor, soube Conán Doyle emprestar tal cunho muito mais avultada, attingindo o numero de verossimilhança que um jornal de Boston de 52 unidades. O facto é pois, infelizmen- reimprimiu como sendo a decifração muito te, commum e por assim dizer quotidiano. presumivel do mysterioso caso. Não pas- Que desappareçam, porém, de bordo de um sando, porém, afinal de contas, tal narrati- navio em alto mar, nas condições do Marie va de uma ficção, embora engenhosa, o seu Celeste, nada menos de treze pessoas e des- resumo, parece-nos, pouco poderia interes- vaneçam para sempre, sem deixar atraz de si sar ao leitor, de cuja attenção tambem não o mais leve indicio do motivo que a isso as queremos abusar. Por isso o supprimimos. A compelliu nem da maneira por que se realisou triste realidade é que nunca se pode fazer a a sua retirada de bordo, isto é o que constitue minima luz sobre esse incomprehensivel de- na verdade, um acontecimento tão estupendo, sapparecimento, só sendo de presumir que, tão assombroso, tão fóra e acima do huma- como até hoje, jamais se conseguirá arrancar namente possivel que chega a fazer crer aos do tenebroso oceano o segredo do destino dos mais incredulos em algum encantamento ou desditosos tripulantes do malfadado brigue.

RMB2oT/2013 201 ACONTECEU HÁ CEM ANOS

A NAVEGAÇÃO AEREA E A DEFESA DAS NOSSAS COSTAS E PORTOS (RMB, jun./1913, p. 963-975) Ribas Cadaval

Na guerra aerea, tanto é necessario o di- nautica” no vernaculo, que tem, pelo menos, o rigivel como o aeroplano. – Como se torna valor de ser o primeiro livro sobre navegação insustentavel um bloqueio ou um desembar- aerea escripto por brazileiro. que do inimigo. – Fabulosas economias que No meu livro esforcei-me por dar uma cer- resultarão do emprego da navegação aerea ta feição nacional, estudando Bartholomeu de como arma defensiva. – De que modo um só Gusmão, Julio Cesar, Santos Dumont e mesmo aeroplano ou um dirigivel aereo pode inu- Augusto Severo, atravez os seus inventos ae- tilisar, pôr fora de acção muitas das mais ronauticos e as suas conquistas, descrevendo e poderosas unidades de combate naval. – O analysando tambem os tres typos de engenhos mais temivel inimigo dos submarinos. aeronauticos até o presente utilisados. Si o aerostato propriamente dito, tão ge- Ainda ha bem poucos annos atraz, a ae- nialmente concebido desde o seu nascimento, ronautica parecia vegetar, entorpecida pelo não logrou fazer na actualidade importantes abandono, pela indifferença dos pensadores, progressos technicos, suas applicações têm sido quando surgiu Santos Dumont em pleno Paris, aperfeiçoadas ao ponto de nos ser dado hoje o com a sua rara habilidade, o seu heroismo e a – aeronauta – dirigivel aereo que, a não ser na sua imperturbavel tenacidade! qualidade do gaz livre empregado, parece que Os rebuscadores dos mysterios aereos ti- nada mais se poderá nelle modificar para melhor. nham cahido em plena indifferença e os ulti- Todos os mais importantes exercitos do mos resultados adquiridos e utilisaveis não ha- mundo inteiro já admittiram a arma nova com viam, portanto, dado logar sinão a applicações o dirigivel e o aeroplano e taes são a regulari- que, com as obtidos por Lilienthol com os seus dade e a constancia dos successos que para a planeurs, não pareciam de importancia. navegação aerea está positivamente assegu- Á custa de ingentes esforços a semente ger- rado um logar á parte na historia das grandes minou quando mais parecia esteril e de repente applicações da sciencia moderna. nos deu os fructos que hoje todo o universo co- O quadro surprehendente que apresenta lhe, menos o . hoje a aeronautica de guerra procurei esboçar Nos dois annos que passei na Europa, taes em largos traços, com a maior imparcialidade foram as experiencias a que tive ensejo feliz de possivel, de modo a poder escapar a qualquer apreciar de perto, que me assoberbou o enthu- censura de parti-pris, que infelizmente para siasmo de escrever um repositorio de indicações mim tem sido reconhecida pelos bons juizes. aeronauticas, que pudesse trazer para o Brazil Para certos fanaticos do aeroplano, tenho os conhecimentos technicos da sciencia nova e sido encarado como um sectario do dirigivel, ao mesmo tempo desenvolver na mocidade pa- embora seja uma verdadeira injustiça que só tricia o enthusiasmo pelo novo problema. me póde fazer quem nunca me leu. Consegui o meu desideratum, fazendo Nada terei que accrescentar ao que disse do publicar em Antuerpia um “Tratado de Aero- dirigivel quanto ás suas applicações guerreiras

202 RMB2oT/2013 ACONTECEU HÁ CEM ANOS e até penso que entrei um tanto forte no papel Neste caso, apresentarei ao povo brazileiro, eminente que elle deverá representar nos con- nas pessoas dos seus legitimos representantes, flictos futuros. isto é, enviarei ao Congresso para que seja sub- Considero o aeronauta, isto é, o balão di- mettida á sua sabedoria a minha organisação rigivel, como um factor essencial no resultado geral dos serviços aereos de guerra, o regula- final, sem fallar das differentes applicações mento instructor destes serviços e os meus in- utilitarias e scientificas, ás quaes o dirigivel ventos de apparelhos aereos de guerra e outros parece mais particularmente apto, como sejam: correspondentes. a cartographia pelo meu methodo topo-photo- Si, a despeito deste meu exhaustivo esforço aereo, a repressão do contrabando, o salva- e dispendio de dinheiro, que é sangue, durante mento maritimo, a descoberta e conducção dos tantos annos e das provas, embora ainda nem feridos nos campos de acção, etc. todas provadas, da minha aptidão e competen- (...) cia no assumpto, não for levado em conta o Si apoz a publicação deste artigo hajam meu desideratum e desprezados os meus sacri- passados trinta dias sem que tenha appareci- ficios, então não me restará sinão desertar com do pela imprensa desta Capital, venha de onde armas e bagagens, deixando que os fabricantes vier, uma prova, uma critica, uma analyse de roupa feita que chegarem por ultimo se locu- qualquer contra estas minhas asserções, reser- pletem e gozem o caminho desbravado que dei- var-me-ei o direito de consideral-as irrespondi- xei nestas infindas planicies do infinito aereo veis, inconsussas e, por isso, aceitas. em beneficio da – DEFESA NACIONAL.

REVISTA DE REVISTAS

ABRIL – 1913 temente utilisar o conjunto constituido pelos mastros e chaminés que somente offerecem nos OS HOLOPHOTES A BORDO DOS modernissimos navios posições desimpedidas e NAVIOS DE GUERRA – Encontramos na elevadas; chegou-se, em quasi todas as mari- Rivista Marittima Italiana: nhas, a uma solução que não satisfaz comple- “O numero e a posição dos holophotes nos tamente, isto é, a construcção de plataformas navios de guerra parece não se terem podido nos flancos das chaminés. estabelecer ainda sobre base e criterio precisos, Por varias razões os holophotes devem ser já em relação ao seu emprego bem determinado cobertos, em posição protegida durante o dia; o para tão precioso meio de defesa, já em relação meio pelo qual se consegue isso, dadas as syste- ás posições que devem occupar as estações de matisações actuaes dos holophotes, possúe ca- visada, as fixas e as eventuaes da artilharia racteres eminentemente marinheiros; esta ma- anti-torpedica. nobra deve ser feita todas as manhãs e todas O problema sempre foi assim pósto, até ao as noites e é de temer que, com a continuação presente, em termos que obrigavam a aprovei- da manobra, os holophotes, que são assaz deli- tar tudo que existia a bordo para melhor deter- cados, sujeitos a semelhante tratamento diario, minar a posição dos holophotes. acabem por se avariar; este estado de cousas Dada essa restricção, procurava-se eviden- tende cada vez mais a se aggravar, comtudo

RMB2oT/2013 203 ACONTECEU HÁ CEM ANOS faz crer, por isso, que os holophotes augmen- de torpedeiros, argumento este muito discutido tarão de numero e de dimensões a bordo dos e sobre o qual se pode deduzir que toda gente futuros navios. concorda com as seguintes conclusões: Por outro lado, quando os holophotes são a) o melhor modo para fugir aos ataques dos manobrados para entrar em funccionamento torpedeiros é manter o navio completamente no ficam sempre expostos ao tiro inimigo e aos da- escuro; mnos causados pelo abalo da propria artilharia b) quando o fundeadouro permittir, uma de grosso calibre, sobretudo os sóccos que a elles força naval providenciará em relação á sua servem de indispensavel apoio. Corre-se o risco, segurança, ficando inteiramente na escuridão pois, de salvar talvez os holophotes sem saber o ancoradouro, sabiamente escolhido, fazendo onde os collocar no combate diurno. illuminar algumas zonas por navios menores e Na escolha da posição para os holopho- de pouco valor militar, convenientemente sepa- tes, seria muito util não ficarem elles ligados rados uns dos outros, afim de que se obtenha a qualquer ponto do navio afim de se conse- o angulo favoravel de visibilidade em relação guir approximar, quanto possivel, do angulo aos outros navios similares que, sendo preciso, de sensibilidade favoravel, observando-se que farão entrar em acção as suas baterias anti- é geralmente admittido que a posição mais torpedicas. conveniente a um holophote, em relação á Afasta-se muito do intuito modesto deste bateria a que elle serve, é aquella que permit- estudo considerar quaes os outros meios de que te approximar o mais possivel de um angulo se podem lançar mão para a defesa de navios de 30º entre a direcção do tiro e a direcção do ancorados; feixe luminoso que visa o alvo sobre o qual se c) os navios deverão ter um perfeito ser- atira. Será evidentemente impossivel alcançar viço de policia ao largo; a tal respeito não por complete este requisito a bordo dos navios se comprehende bem como, dada a grande e será necessario limitar-se a ter as estações dos importancia deste serviço para o caso de in- holophotes o mais longe possivel das baterias sidiosos ataques nocturnos de torpedeiros, se anti-torpedicas. julgue ainda que qualquer marinheiro sem A bordo, como em terra, convem manter preparo algum seja capaz de bem desempe- bem distinctas as funcções dos holophotes, se- nhal-o. Parece, no emtanto, necessario ins- gundo o objectivo que se quer alcançar; occor- tituir uma categoria especial marinheiros rerá, portanto, no estudo da organisação desse vigias, escolhidos entre os recrutas de opti- serviço levar em conta a necessidade de haver ma vista, exercitando-os exclusivamente na duas categorias de holophotes: a de descoberta, descoberta dos torpedeiros. para explorar o horizonte com movimento len- Os vigias prestarão serviços dois a dois em to e uniforme e com inclinação fixa, e a de tiro, posições adequadas convenientemente grupa- destinada essencialmente a illuminar um alvo dos em dois postos protegidos das intemperies, já descoberto. afim de assegurar a melhor condição de visibi- O problema de melhor systematisação dos lidade. O posto principal, no qual se apoiarão holophotes a bordo dos navios de guerra está outros e todos os elementos de manobra dos essencialmente ligado ao modo relativo como holophotes, será commandado por um capitão- elles devem ser empregados em caso de ataques tenente com a faculdade de pôr em acção os

204 RMB2oT/2013 ACONTECEU HÁ CEM ANOS holophotes sem ordem superior, avisando, por do sector assignalado em algum projector, meio de campainhas electricas, aos grupos de o proprio arco do horizonte com um angulo artilharia anti-torpedica situados em posição fixo de depressão, tambem convenientemen- conveniente para entrar immediatamente em te calculado, segundo sua altura, afim de acção. conseguir que todos os torpedeiros inimigos É certamente grande a faculdade que se sejam descobertos, ficando o mais distante lhe concede, porém é imposta pela suprema possivel sob o fogo da artilharia de peque- exigencia de se não perder um instante siquer no e medio calibre, antes de chegarem a um nos momentos criticos quaes os que se referem á alcance util de lançamento, emquanto os descoberta de torpedeiros inimigos. projectores de tiro illuminarão os que forem Descoberto o torpedeiro, convirá feril-o de sendo descobertos nos sectores assignalados. modo fulminante com o feixe de um projector. Com um emprego semelhante dos projecto- Para isto servirá admiravelmente o holophote res, ver-se-á como, em caso de ataques envol- manobravel á distancia; ventes, será em geral insufficiente o numero de d) a primeira descoberta de torpedeiros pro- projectores dos navios de guerra. vavelmente será uma negaça porque o ataque Em relação á altura que na pratica é mais decisivo virá de outra parte. conveniente aos holophotes, parece que ge- Os vigias poderão por isso ser instruidos ralmente está admittida a de 8 a 12 metros relativamente ao caso, não se deixando nunca para os holophotes de descoberta e de 30 a distrahir da importantissima missão que lhes 35 para os de tiro. Considerando as grandes foi confiada e fixando a sua attenção nos sec- velocidades dos torpedeiros modernos, não tores que estão especialmente a seu cargo; se deverá conceder a um holophote de des- e) descoberto o torpedeiro inimigo pelo feixe coberta sector de exploração de amplitude de um holophote, os commandantes dos grupos maior de 45º. de artilharia anti-torpedica, convenientemen- Admittido que os holophotes devem ser te situados, iniciarão logo o fogo sem esperar usados pelo modo succintamente exposto, ordem. deduz-se que para o serviço de descoberta se- Muito preciosos, repito, são esses instantes rão necessários oito holophotes, emquanto que para a salvação de um navio para que se perca para os holophotes de tiro exigencias de varias tempo esperando ordens; naturezas obrigam a diminuir-lhes o numero, o f) um dos holophotes de tiro tomará o logar qual, entretanto, não deve ser nunca inferior a do de descoberta, illuminando o torpedeiro que quatro, um para cada sector de 90º. já soffre o fogo, voltando o holophote de desco- Considerando a importancia do navio mo- berta á sua funcção de exploração; derno de grande deslocamento, pensamos que g) si o navio se sente realmente descober- se pode e se deve dar uma grande parte do to pelo torpedeiro inimigo, o commandante, navio aos holophotes, que, em substancia, re- com um simples signal convencional, orde- presentam, na obscuridade da noite, os olhos nará o emprego simultaneo dos projectores do colosso, cujo calcanhar de Achilles está po- de descoberta, os quaes, neste caso, explo- sitivamente na fraqueza contra as armas sub- rarão de maneira uniforme e lenta, oppor- marinas. tunamente calculado, segundo a amplitude (...)

RMB2oT/2013 205 ACONTECEU HÁ CEM ANOS

ESTADO ACTUAL DA APPLICAÇÃO dade litteraria do autor do que conhecimentos DO MOTOR DIESEL NA MARINHA. – technicos do problema que estuda. Extrahimos da Revista General de Marina: (...) Por motivo da importantissima gréve oc- corrida nas minas de carvão na Inglaterra, o O FIM TRAGICO DE UMA EXPEDI- conhecido publicista Willian Stead, victima ÇÃO POLAR – L’Illustration narra-nos as- da catastrophe do Titanic, chamou a attenção sim as emocionantes peripecias da mallograda do seu paiz para o supposto perigo para a su- expedição Scott: premacia naval ingleza com a applicação de Quando se esperava a todo momento rece- motores Diesel. ber a noticia da feliz chegada á Nova Zelandia Os artigos do sr. Stead fizeram muito ba- da expedição polar do explorador Scott, eis que rulho; foram transcriptos, citados e commenta- em logar de uma boa nova o telegrapho annun- dos por muitas revistas e jornaes. cia uma catastrophe. Com o seu brilhante e pittoresco estylo, Depois de attingido, um mez apoz Amund- dizia entre outras cousas: “É symptomatica sen, o Polo Sul, o chefe da expedição e seus quatro a coincidencia da gréve negra com a chega- companheiros morrem de fome e de frio na volta, das ás aguas inglezas do Zeelandia, navio no momento em que iam chegar a salvamento. de 5.000 ts. da East Asiatic Company, com (...) motores a petroleo.” “O Zeelandia representa o cavallo de Troya MAIO – 1913 que leva ao sólo britannico o terrivel inimigo, uma vez que o petroleo é o formidavel concur- AS AMBIÇÕES DA TRIPLICE rente do carvão de pedra, custando menos, oc- ALLIANÇA NO MEDITERRANEO. – cupando menos espaço e desenvolvendo maior Extrahimos de La Vie Maritime et Fluviale: força motriz. As ambições da Italia e da Austria-Hun- Dahi se deprehende: gria no Mediterraneo tornam-se patentes. Es- 1º , o desthronamento do rei-carvão, monar- sas duas nações preparam-se para nos disputar cha em cujo throno se cimenta a prosperidade a supremacia. da Grã-Bretanha; Apezar do seu enfraquecimento pela guerra 2º , o descredito dos dreadnoughts; contra a Turquia, a Italia não cogita em dimi- 3º , a destruição de um dos principaes ele- nuir as despezas com a frota projectada. O seu mentos da Grã-Bretanha para o dominio dos quinto superdreadnought acaba de ser lançado mares.” n’agua. Outras unidades ainda mais poderosas E mais adiante: “Deve-se reflectir ap- vão ser começadas. A peninsula tem sonhos prehensivamente que justamente no momen- grandiosos! to em que os operarios das minas obtêm um Um especialista de marinha, Frederico di triumpho sem precedentes, a industria que Palma, redactor-chefe da Rivista Nautica e lhes dá a vida recebe a noticia da sua con- deputado, annuncia em todos os numeros de demnação.” sua publicação que a Italia deverá ser um dia a Os artigos continuam no mesmo tom, em senhora incontestada do Mediterraneo. estylo alarmante, que melhor revelam a habili- (...)

206 RMB2oT/2013 ACONTECEU HÁ CEM ANOS

MISCELLANEA

MAIO – 1913 Essas redes são de gaze de seda, como as das peneiras usadas nos moinhos de farinha. OS PLANKTONS – Sob a denominação A sua fórma é a de um tronco conico, que se de plankton, que os oceanographos admitti- arrasta na superficie da agua com uma veloci- ram e adoptaram, é conhecida a especie de dade moderada. materia viva e fluida que fluctua na superfi- cie do mar, verdadeira germinação de larvas, O PETROLEO NA NAVEGAÇÃO – de embryões, de ovas de peixe, de micro-orga- O motor Diesel goza presentemente de uma nismos, que as correntes arrastam e movem enorme voga, sobretudo nos paizes onde o incessantemente. petroleo e seus derivados são vendidos a Os peixes disso fazem a sua nutrição e os baixo preço. Existe já uma concurrencia homens tambem podem comer o plankton, que real entre a machina a vapor e o motor a constitue uma fauna pelagica. oleo bruto. Duzentos e cincoenta navios Para o colher, empregam-se redes especia- tiram sua força de propulsão do motor es, cujos typos diversos foram indicados pelos Diesel, especialmente adaptado a esta ap- oceanographos Sigsbee, de Guerne, Chun e o plicação. Póde-se crer que seu successo se principe de Monaco que as utilisaram nas suas affirmará ainda mais. varias expedições scientificas. (...)

NOTICIARIO MARITIMO

ABRIL – 1913 MARINHAS ESTRANGEIRAS

MARINHA NACIONAL ARGENTINA

RADIOTELEGRAPHIA – Foi publi- AS MINAS DE PETROLEO – O gover- cado no dia 14 de abril o decreto que ap- no argentino resolveu explorar officialmente as prova o projecto que organisa o serviço da minas de petroleo de Commodoro Rivadavia, rede radiotelegraphica nacional e respectiva adquirindo os elementos necessarios. planta, sujeito á administração da Reparti- Pretende assim o governo ir se preparando ção Geral dos Telegraphos. para mais tarde dispor com franqueza e facili- As estações serão classificadas em prin- dade do combustivel liquido necessario á sua cipaes, de 1ª, 2ª e 3ª classes e insulares; as esquadra. primeiras terão, no minimo, a energia on- O Lloyd Argentino, tratando deste as- dulatoria de 25 kw.; as segundas, a de 10 sumpto, insinua a inconveniencia da inicia- kw., até menos de 25; as terceiras a de 5, até tiva governamental, preferindo que a empre- menos de 10 kw. zas particulares coubesse o emprehendimento (...) progressista.

RMB2oT/2013 207 ACONTECEU HÁ CEM ANOS

Mas si, como parece, o petroleo é o com- todo o territorio da Republica dos Estados bustivel do futuro e os navios modernos já Unidos do Brasil. consomem delle quantidades consideraveis, Art. 2º . O territorio da Republica fica divi- a providencia do governo argentino deve dido, no que diz respeito á hora legal, em qua- ser acatada como de grande descortino e tro fusos distinctos: sabedoria. a) o primeiro fuso, caracterisado pela hora de Greenwich, menos duas horas, comprehende MAIO – 1913 o archipelago Fernando de Noronha e a ilha da Trindade; MARINHA NACIONAL b) o segundo fuso, caracterisado pela hora de Greenwich, menos tres horas, comprehende todo NAVEGAÇÃO MARITIMA E FLU- o litoral do Brazil e os Estados interiores (menos VIAL – Do relatorio do sr. ministro da viação Matto Grosso e Amazonas) bem como parte do transcrevemos o seguinte: Estado do Pará delimitado por uma linha que, A situação da marinha mercante, demons- partindo do monte Crevaux, na fronteira com a trando sensivel desenvolvimento do respectivo Guyana Franceza, vá seguindo pelo alveo do serviço de cabotagem, não deixa, entretanto, de rio Pecuary até o Javary, pelo alveo deste até o sentir-se da crise por que têm passado as praças Amazonas e ao sul pelo leito do Xingú até entrar commerciaes do Norte, divido principalmente á no Estado de Matto Grosso; baixa no preço da borracha. c) o terceiro fuso, caracterisado pela hora Para minorar as difficuldades e onus oriun- média de Greenwich, menos quatro horas, dos de dispositivos regulamentares, seriam pre- comprehenderá o Estado do Pará a L da li- cisas medidas convenientes que já mereceram a nha precedente, o Estado de Matto Grosso e a attenção do Congresso Nacional, sendo nesse parte do Amazonas que fica a L de uma linha sentido formulado um projecto de lei, que já foi (circulo maximo) que partindo de Tabatinga vá encaminhado pela Camara ao Senado, de cuja a Porto Acre; resolução depende. d) o quarto fuso, caracterisado pela hora de (...) Greenwich, menos cinco horas, comprehenderá o territorio do Acre e os cedidos recentemente JUNHO – 1913 pela Bolivia, assim como a area de L da linha precedentemente escripta. MARINHA NACIONAL Art. 3º . Ficam revogadas as disposições em contrario. A HORA LEGAL – Por decreto n. 2.784 de 18 de junho, o presidente da Re- MARINHAS ESTRANGEIRAS pública sanccionou a resolução do Congresso Nacional que determina a hora legal, nos INGLATERRA seguintes termos: Art. 1º . Para as relações contratuaes in- O USO DE ROUPA Á PAIZANA – O ternacionaes e commerciaes, o meridiano de almirantado acaba de resolver que os sub- Greenwich será considerado fundamental em officiaes e marinheiros de excellente comporta-

208 RMB2oT/2013 ACONTECEU HÁ CEM ANOS mento poderão vestir-se á paizana em terra, em Weymouth, Douvres, Harwich, Queensferry, determinados portos. Dundee, Pembroke e Queenstown. Esta concessão está sujeita a regras estabe- O bilhete de licença dos marinheiros deve lecidas pelo almirantado, podendo os comman- ter a nota “pode vestir-se á paizana”. dantes, livremente, conceder ou cassar essas Nenhuma peça do uniforme militar pode- regalias quando e onde lhes aprouver. rá ser usada com outras de roupa civil. Os portos privilegiados são os seguintes: Os sub-officiaes e marinheiros não poderão Portsmouth, Devenport, Nore, Portland, sahir ou entrar a bordo á paizana.

RMB2oT/2013 209 REVISTA DE REVISTAS

Esta seção tem por propósito levar ao conhecimento dos leitores matérias que tratam de assuntos de interesse marítimo, contidas em publicações recebidas pela Revista Marítima Brasileira e pela Biblioteca da Marinha. As publicações, do Brasil e do exterior, são incorporadas ao acervo da Biblioteca, situada na Rua Mayrink Veiga, 28 – Centro – RJ, para eventuais consultas.

SUMÁRIO (Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)

APOIO ABASTECIMENTO GNL: Combustível naval do presente ou do futuro? (212)

ARTES MILITARES ESTRATÉGIA Cooperação estratégica: todos ganham (212)

CIÊNCIA E TECNOLOGIA (C&T) INOVAÇÃO TECNOLÓGICA Imprima um cruzador para mim! (213)

CONGRESSOS EXPOSIÇÃO Tecnologia Militar – Laad Defence & Security 2013 (214)

FORÇAS ARMADAS COMANDO DA MARINHA Os comandantes respondem (215) MARINHA DA RÚSSIA As forças submarinas estratégicas da Rússia em 2012 (216) PODER NAVAL Marinhas do mundo em revista (217) REVISTA DE REVISTAS

GUERRAS GUERRA A ciberguerra. Gênese e evolução (218) GUERRA DAS MALVINAS/FALKLANDS Fatores geopolíticos relativos ao Conflito do Atlântico Sul (218)

HISTÓRIA HISTÓRIA O mistério da história (219) MUSEU Tragam os navios históricos de volta para a esquadra (220)

PESSOAL SERVIÇO Uma mudança naval nos quartos de serviço (221)

PODER MARÍTIMO PESQUISA Guarneçam as trincheiras! Argumentando pela exploração do oceano mais profundo (222)

POLÍTICA PODER NACIONAL O novo status internacional do Brasil. Um desafio (223)

RMB2oT/2013 211 REVISTA DE REVISTAS

GNL: COMBUSTÍVEL NAVAL DO PRESENTE OU DO FUTURO? António Balcão Reis* (Revista de Marinha, Portugal, no 972, março, abril 2013, p. 52)

Segundo este artigo, o Gás Natural Conclui que o GNL reduz significativa- Liquefeito (GNL) é a alternativa mais pro- mente as emissões para a atmosfera, permi- missora aos combustíveis líquidos navais tindo o cumprimento de todos os requisitos tradicionais, como o óleo pesado, o diesel da IMO (International Maritime Organiza- e o gasóleo. tion), e que a tecnologia dos motores a GNL O autor analisa sucintamente fatores está desenvolvida, com elevada eficiência como disponibilidade, logística, con- energética. Aduz, porém, que existe ne- cepção, percepção e regulamentação, cessidade de desenvolvimento no que diz destacando que a abundância do GNL e respeito a armazenamento e manuseio do sua dispersão geográfica, muito superior gás, buscando-se soluções que reduzam o à do petróleo, lhe conferem “segurança requisito de volume de armazenamento, no acesso, com menor dependência de que chega a ser de duas a três vezes superior conflitos energéticos”. ao dos combustíveis tradicionais.

COOPERAÇÃO ESTRATÉGICA: TODOS GANHAM Contra-Almirante (EUA) Michael E. Smith** (Proceedings, EUA, março/2013, p. 56-61)

A importância geográfica e estratégica ge um arco desde os mares Mediterrâneo e do Oriente Médio e da Ásia, área que abran- Vermelho, e o Golfo Pérsico, e se estende até o oeste do Pacífico, impõe uma dependên- cia extrema das forças navais como núcleo de quaisquer estratégias de defesa futuras para os Estados Unidos da América (EUA). Sobre esse tema, o autor questiona: es- tamos destinados a uma era na qual as nossas estratégias ma- rítimas e as de nossos aliados estarão funda- mentalmente supera- das? Estarão nossos

* Engenheiro construtor naval, presidente da Seção de Transportes da Sociedade de Geografia de Lisboa (SGL). ** Oficial da ativa da Marinha dos EUA. Diretor da Divisão de Estratégia e Política do Comando de Operações Navais.

212 RMB2oT/2013 REVISTA DE REVISTAS compromissos globais acima de nossos Felizmente, responde Smith, “não orçamentos cada vez mais reduzidos? necessariamente”. E, para justificar sua Como solução, devemos adotar estratégias resposta, busca, ao longo de seu texto, de- menos ambiciosas, por via, por exemplo, monstrar o porquê, indicando que, por meio da diminuição da presença avançada ou de abordagem pragmática de colaboração e da redução de investimentos em certas cooperação com aliados, podem-se alcan- capacidades navais, com o consequente çar benefícios estratégicos, mesmo neste incremento de riscos para o país e interes- momento de austeridade fiscal pelo qual ses comuns com outros países? passam vários países, inclusive os EUA.

IMPRIMA UM CRUZADOR PARA MIM! Tenente (Reserva, Marinha dos EUA) Scott Cheney-Peters* e Tenente (j.g., Marinha dos EUA) Matthew Hipple** (Proceedings, EUA, abril/2013, p. 52-57)

Este artigo é o resultado da evolução dos campo, afirmam os tenentes Cheney-Peters textos de uma série de postagens realizadas e Hipple, “mas não deterão o desenvol- pelos autores em seu blog no Center for vimento e as oportunidades oriundas das International Maritime Security1 e do seu impressoras 3D”. artigo “As impressoras 3D estão aqui, os serviços navais estão sa- bendo aproveitá-las?”. O texto identifica diversos em- pregos já existentes para as impres- soras tridimensionais (3D), o que inclui a impressão de Vant (Veículo Aéreo Não Tripulado), exceto o seu motor, e busca perscrutar seus efei- tos na cadeia logística da Marinha dos Estados Unidos da América. Segundo os próprios autores, a maioria das ideias por eles abor- dadas são “visões do futuro”, em alguns casos exageradas se vierem a ser colocadas em prática algum dia. A Marinha e a indústria levarão Para os autores, assim como a invenção da prensa móvel no século anos, provavelmente décadas, para XV, a impressão 3D promoverá mudanças dramáticas globais na superar os desafios existentes nesse produção, no comércio e nos desafios de segurança

* Oficial de Superfície da Reserva da Marinha dos EUA e diretor-fundador do Center for International Maritime Security. Graduado pela Georgetown University e pelo U.S. Naval War College, integra equipe de exploração do uso de impressão 3D na esquadra americana. ** Imediato do Navio-Patrulha Crew Índia e diretor do blog Nextwar, do Center for International Maritime Security. Graduado pela Georgetown’s School of Foreign Service. 1 Endereço na internet: http://cimsec.org/category/future-tech/3d-printing-future-tech/

RMB2oT/2013 213 REVISTA DE REVISTAS

TECNOLOGIA MILITAR – LAAD DEFENCE & SECURITY 2013 (Tecnologia Militar, no 1/2013, ano 35)

Esta edição da Tecnologia Militar, por material das Forças Armadas brasileiras. meio da publicação de vários artigos de Apresenta características de equipamentos diferentes autores, dedica-se principal- e armamento e localização de bases e sedes mente a levar ao conhecimento de seus de comandos, em alguns casos. leitores a situação de Segurança e Defesa - “O Brasil e sua Estratégia Nacional na América do Sul. de Defesa (END)”. O artigo busca abordar A abrangência dos temas e a profundida- os temas mais importantes da END por de com que alguns são abordados, inclusive meio de entrevista ao General de Exército por meio de entrevista com os respectivos José Carlos Nardi, chefe do Estado-Maior autores, indicam sua Conjunto das Forças leitura por pesqui- Armadas do Brasil. sadores e interessa- - “Projetos e Pro- dos pelos assuntos de gramas do Exército Defesa. Destacam-se do Brasil”. Trata-se de abaixo alguns dos ar- entrevista feita ao co- tigos publicados: mandante do Exército - “Emgepron: As- Brasileiro, General de sociações com a base Exército Enzo Martins industrial de defesa Peri, que apresenta vi- do Brasil e compa- são atualizada da força. nhias estrangeiras”. - “A Marinha do Trata-se de entrevista Brasil e o seu amplo abordando, principal- programa de moder- mente, o crescimento nização”. O artigo da empresa em época aborda assuntos como de reduções de orça- segurança e proteção mentos de defesa. de área marítima, pro- - “Capacidades de gramas e projetos em projeção marítima de andamento, preparo poder na América do de pessoal, construção Sul”. De José Higue- e aquisição de navios e ra, jornalista e especialista em Política e equipamentos, submarino com propulsão Segurança Internacional pela Universidade nuclear e outros, em entrevista com o Al- de Bradford. Analisa detalhadamente as mirante de Esquadra Julio Soares de Moura capacidades de lançamento de ofensivas a Neto, comandante da Marinha do Brasil. partir do mar dos seguintes países: Brasil, - “A Força Aérea Brasileira e as suas Chile, Argentina, Peru e Venezuela. perspectivas”. Entrevista com o Tenente- - “As Forças Armadas do Brasil – um Brigadeiro Juniti Saito, comandante da resumo da atualidade”. Por Expedito Aeronáutica, que busca apresentar um Carlos Stephani Bastos, correspondente panorama atual da Força Aérea do País. da Tecnologia Militar no Brasil. Detalha - “A indústria de defesa brasileira na quantitativo, tanto de pessoal como de atualidade”. Entrevista com Sami Hassuani,

214 RMB2oT/2013 REVISTA DE REVISTAS

presidente da Associação Brasileira das In- D. Konrad, jornalista especializado em as- dústrias de Material de Defesa e Segurança suntos de Defesa e Segurança, expõe visão (Abimde). Aborda crescimento, transfe- geral do Grupamento de Mergulhadores rências de tecnologias, possibilidades, de Combate (Grumec), suas atuações e limitações e iniciativas dessa importante possibilidades. Apresenta o quadro “Como indústria. se tornar um Mergulhador de Combate”, no - “O terceiro ciclo: Projetos e Programas qual detalha duração e estruturas dos cursos de Defesa no Brasil”. Também de autoria relativos a essa especialidade. de Expedito Stephani, analisa histórico e - “Guerra fluvial irregular na América do atualidade da Defesa no Brasil. Sul”. Por Francisco Javier Alvarez Laita, - “Grumec: As Forças Especiais da consultor e analista naval, que trata de ce- Marinha do Brasil”. De autoria de Kaiser nários de confronto entre países ribeirinhos.

OS COMANDANTES RESPONDEM (Proceedings, EUA, março/2013, pág. 16-29)

“Enquanto as economias continuam seguintes países: Alemanha, Austrália, se contraindo ao redor do mundo, Mari- Canadá, Chile, Croácia, Espanha, Finlân- nhas, Exércitos e Forças Aéreas recebem dia, França, Grã-Bretanha, Gana, Grécia, ordens de ‘fazerem mais com menos’ ou Itália, Japão, Líbano, Nigéria, Noruega, de ‘fazerem o mesmo com menos’, pelo Peru, Portugal, República Dominicana, Sri menos”. Essa é a afirmativa que abre Lanka, Suriname e Turquia. este artigo. O tema foi abordado pela conceituada revista norte- americana Proceedings, que pediu aos comandantes de serviços navais ao redor do mundo que indicassem quais ações inovadoras fo- ram implementadas ou estão considerando implementar para melhorar a prontidão de suas forças. As respostas dos coman- dantes, ao todo 22, estão listadas neste artigo, e sua leitura permite identificar a abrangência e os problemas comuns pelos quais passam as forças navais de vários países. Responderam ao questionamento os coman- dantes das Marinhas dos

RMB2oT/2013 215 REVISTA DE REVISTAS

AS FORÇAS SUBMARINAS ESTRATÉGICAS DA RÚSSIA EM 2012 Luis V. Pérez Gil (Revista General de Marina, Espanha, janeiro-fevereiro 2013, Tomo 264, p.37-42)

As Forças Subma- rinas Estratégicas são um dos três compo- nentes que integram a força de dissuasão nuclear da Rússia. Os outros dois são as Forças de Mísseis Estratégicos (RVSN) e a Aviação de Longo Alcance (DA), mes- mo sendo também integrantes da Arma- da russa. Este artigo busca demonstrar que, ape- K-117 Bryansk e K-84 Ekaterinburg Gadhzievo sar de redução drás- tica de sua capacidade de combate desde Oriente e que “atuará por si mesma quando 1991, as Forças Submarinas se converteram necessário, recorrendo inclusive ao uso da em força homogênea, modernizada e em força”. Além disso, Rússia e Estados Uni- pleno processo de renovação, por meio da dos da América (EUA) buscarão manter o ativação de nova geração de submarinos equilíbrio regional, dentro de uma grande estratégicos (SSBN) e de novos mísseis estratégia de contenção da China, de inte- lançados de submarino (SLBM), vindo a resse dos EUA. permitir o reinício de patrulhas regulares Aborda também a política nuclear do oceânicas de combate. país, que prevê a manutenção de uma força O autor detalha o quantitativo e a organi- de dissuasão nuclear com credibilidade zação operacional das Forças de Submari- para bater qualquer alvo em escala global, nos Estratégicos russas com dados de 2012, com vista à segurança nacional, mas tam- indicando também a situação referente a bém à responsabilidade autoimposta de modernizações e reequipamentos em anda- garantir a ordem mundial. mento. Ele ressalta a renovação acelerada A manutenção do equilíbrio estratégico da Frota do Pacífico, que indica a intenção é um dos fundamentos da relação da Rússia do poder político russo de desempenhar com os EUA, assevera o autor, acrescentan- papel de grande potência no denominado do que seus requisitos estão plasmados na “grande jogo de poder no Oceano Pacífico”. Doutrina Militar da Rússia, aprovada pelo Segundo Pérez Gil, dessa forma é passa- Presidente Medvédev em 5 de fevereiro de da mensagem para China e Japão de que a 2010. Em suas considerações finais, Pérez Rússia está disposta a exercer controle nos Gil aborda ainda o Programa Estatal de espaços de soberania territorial no Extremo Armamentos 2011-2020.

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MARINHAS DO MUNDO EM REVISTA Eric Wertheim* (Proceedings, EUA, março/2013, p. 42-54)

Eric Wertheim apresenta neste artigo, que publica anualmen- te, uma visão global de atividades e desen- volvimentos de várias Marinhas do mundo. Em sua análise introdutória, o autor observa que enquanto Ásia, África, Oriente Médio e América do Sul desenvolvem pro- gramas de aquisição de navios, submarinos e aeronaves, fenôme- no oposto ocorre na América do Norte e na Europa. Nestas duas últimas regiões, segundo sua opinião, as Marinhas seguem que quatro submarinos da classe Scorpène reduzindo orçamentos com o propósito estão planejados para entrega até 2017. de proteger suas economias domésticas, Aborda o recebimento dos navios-patrulha enfraquecidas por recessão. oceânicos, Amazonas, Apa e Araguari, origi- O texto está organizado por regiões, nalmente construídos para Trinidad-Tobago, com cada Marinha analisada em ordem todos operacionais até o final de 2013. alfabética em sua área, dividindo-se nos Ainda sobre o Brasil, cita os navios- tópicos: Austrália/Ásia (18 países), Europa patrulha da classe Macaé que vêm sendo (18 países), Oriente Médio/África (21 pa- recebidos e ativados, e cuja construção íses) e Américas (10 países), nesta ordem. doméstica segue prevista; os upgrades que Sobre o Brasil, Wertheim cita que o pro- vêm sendo realizados em várias aeronaves, grama do submarino nuclear brasileiro foi os EC-725 de transporte e os S-70 de patrulha formalmente iniciado em 2012, com assis- marítima; e o recebimento de seis S-70B tência francesa. Segundo o texto, a entrega Seahawk (MH-16, no Brasil), que substituirão do primeiro SSN (submarino nuclear) está os SH-3 Sea King antissubmarinos. Finaliza a planejada para 2025, e até seis submarinos análise sobre o País indicando que estão em de ataque com propulsão nuclear poderão andamento aquisições de veículos de assalto entrar em serviço até 2047. Indica também anfíbio para o Corpo de Fuzileiros Navais.

* Consultor de Defesa em Washington, D.C. Autor do The Naval Institute Guide to Combat Fleets of the World, 16a edição, em fase de lançamento pela Naval Institute Press.

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A CIBERGUERRA. GÊNESE E EVOLUÇÃO Vice-Almirante (Reserva – Espanha) Julio Albert Ferrero (Revista General de Marina, Espanha, janeiro-fevereiro 2013, Tomo 264, p. 81-97)

O Almirante Albert Ferrero trata, neste Oriente Médio, em que se descobriu um artigo, da evolução dos ataques que ocor- dos malwares mais danosos, o Flame ou rem no ciberespaço, a ciberguerra. Para Skywiper, que, se especula, foi desenhado tanto, faz definição de conceitos funda- especificamente para ciberespionagem, mentais, aborda a situação atual no âmbito podendo roubar documentos, capturar militar, internacional e na Organização do telas de computadores infectados e gravar Tratado do Atlântico Norte (Otan) e rela- conversas de serviços de mensagens. Ele ciona os ciberataques mais importantes dos afetou Irã, Israel, Sudão, Líbia, Arábia últimos tempos. Saudita e Egito. Segundo a agência russa O autor trata o ciberespaço como um Karpersky, seu desenvolvimento deve ter território passível de dominação como custado cerca de 100 milhões de dólares, terra, mar, ar e alta atmosfera (os Global evidenciando ser obra de um Estado e não Commons) e afirma que ele será usado em de cibercriminosos comuns. todas as guerras futuras, sendo empregado Em suas conclusões, o Almirante Albert tanto como arma militar como para espio- Ferrero destaca a ausência de fronteiras nagem. Ele ressalva, entretanto, que sua geográficas no ciberespaço, a assimetria, dominação, como a do mar, será relativa. complexidade e frequência da ciberguerra, e a É a arma do fraco, como a mina, e, mesmo ineficiência de medidas de dissuasão. Cita que sem identidade física, sua influência é cada o novo conceito estratégico da Otan destaca vez mais importante, afirma Albert Ferrero. a necessidade de incrementar a capacidade Dentre os ataques citados no artigo, de ciberdefesa, que a Organização carece de destacam-se o de 2003, no Iraque, por meio capacidade orgânica de impedir ciberataques do qual os norte-americanos impediram e que a ciberdefesa, em nível internacional, a decolagem da aviação iraquiana; o de deve ser incluída nas estratégias de defesa co- 2010, no Irã, por meio do qual foi realizado letiva. Finaliza afirmando que a superioridade ataque às centrífugas do seu programa de militar tradicional não proporciona recurso enriquecimento de urânio; e o de 2012, no contra esse tipo de guerra.

FATORES GEOPOLÍTICOS RELATIVOS AO CONFLITO DO ATLÂNTICO SUL Ivan Witker Barra* (Revista Política y Estrategia, Chile, no 119 janeiro-junho/2012, p. 69-88)

Segundo o autor, a “Guerra dos 73 dias”, gerando um cenário que nem o presidente ocorrida entre a Argentina e o Reino Unido argentino, General Galtieri, nem a primeira- pelas Ilhas Malvinas/Falklands em 1982, ministra britânica, Margaret Thatcher, derivou para um conflito inteiramente novo, vislumbraram em seu tempo.

* Cientista político, formado em jornalismo pela Universidade do Chile. PhD pela Universidade Karlova, da Repú- blica Tcheca. Graduado pelo CHDS/NDU, Washington, EUA. Foi, ao longo de 20 anos, analista de assuntos latino-americanos da BBC World Service. Autor de inúmeros textos sobre terrorismo, segurança internacional e conflitos. É professor de Relações Internacionais na Anepe e na Universidade Alberto Hurtado, Chile.

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A escalada do conflito no Atlântico A questão que o autor busca respon- Sul redefiniu sua própria natureza, afirma der é se essas opções têm sido adotadas Witker Barra, identificando três fatores por opção ou por falta de recursos no geopolíticos que contribuem para a com- setor de Defesa. Ele aponta que os preensão integral do que fatores fundamentais hoje ocorre nesta região para a compreensão da do planeta: disputa por natureza do novo mo- recursos naturais, es- mentum dessa disputa pecialmente o petróleo, podem ser encontrados e, em menor medida, por meio de análise do a riqueza ictiológica; projeto reivindicati- projeção antártica; e vo adotado pela atual controle dos espaços mandatária argentina, territorial, aéreo e marí- Cristina Kirchner, e da timo das ilhas. linha reativa escolhida O texto analisa a por David Cameron, escalada do conflito, primeiro-ministro bri- salientando a diferença tânico. Destaca-se que dos lados em disputa: Witker Barra anexou ao o britânico, com capacidades políticas, seu trabalho uma tabela na qual aponta diplomáticas e militares, e o argentino, cuja de forma simples, clara e prática os fatos opção tem sido de uma política externa de mais relevantes associados ao conflito do Defesa de caráter pacifista. Atlântico Sul, desde 1975 até 2012.

O MISTÉRIO DA HISTÓRIA Gregory J. Martin* (Proceedings, EUA, fevereiro/2013, p. 56-61)

Nesse extenso texto, o autor busca que tecnologia ou material, o recurso mais analisar e responder à seguinte questão, importante é o conhecimento coletivo, e a colocada ao seu início: “Por que a Marinha, “história é o contexto dentro do qual todo e somente ela dentre os demais serviços, é o conhecimento opera”. Deve-se, porém, tão desinteressada do passado? Ela é crucial reconhecer a diferença entre a criação e para obtenção de insights do presente e para disseminação do conhecimento histórico o planejamento do futuro”. com o propósito de educar ou de apoiar Martin afirma perceber que a Marinha decisões na Marinha e o papel que a tra- dos Estados Unidos da América (EUA), dição histórica desempenha na criação e como instituição, aparenta encarar com manutenção da cultura institucional. normalidade trabalhar num “vácuo histó- Além de investigar cuidadosamente as rico”, no qual apenas o presente e o futuro causas do problema que identifica, Gregory importam. Entretanto, para ele, mais do Martin as analisa e apresenta sugestões prá-

* Trabalha no Comando de História Naval e Tradições, em Washington, D.C, EUA. Formou-se pela Academia Naval dos EUA em 1978, tendo servido como piloto de helicóptero SH-60 de 1983 a 1991. Na Reserva, trabalhou como executivo por 20 anos. Possui diplomas em Negócios e História dos EUA.

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ticas referentes à estrutura administrativa naval com a finalidade de contribuir para a reversão desse quadro. “A história é o contexto no qual molda- mos nosso entendimento do mundo” e “A Marinha precisa encorajar seus oficiais e marinheiros a integrarem melhor conheci- mento histórico e análise com planejamen- to, tomada de decisão e desenvolvimento de doutrina, além de promover intensamente a busca de uma educação que enfatize a natureza crítica do conhecimento histórico. Se ela não o fizer, poderá estar aceitando a mediocridade na paz e arriscando-se à catástrofe na guerra”, são as afirmativas finais do autor.

TRAGAM OS NAVIOS HISTÓRICOS DE VOLTA PARA A ESQUADRA Capitão de Fragata (Reserva, EUA) David F. Winkler* (Proceedings, EUA, fevereiro/2013, p. 62-67)

De acordo com o autor, o Porta-Aviões milhão em 12 meses) maior percepção do Midway, que aparece na foto, após a sua poder naval e da maritimidade nacionais. baixa, está vivendo É esse o tema cen- sua “segunda vida” tral deste artigo, no como navio-museu qual Winkler cita a em San Diego, Ca- existência de museus lifórnia, Estados navais em 29 estados Unidos da América de seu país, dos quais (EUA), e mantém for- 58 são navios que ti- tes elos com o serviço veram passagem pela ativo, tendo já sido ativa da Marinha dos realizados a bordo EUA. Ele explicita mais de 300 eventos custos envolvidos e militares. a forma como são Para David Wink- angariados recursos ler, apesar de esses para manutenção des- eventos poderem ter ses navios históricos, sido feitos em insta- o History’s Support lações em terra, suas realizações a bordo System, integrado por fundações e de um navio histórico impõem aos partici- instituições sem fins lucrativos e pela pantes e ao público visitante (mais de um própria Marinha.

* Diretor de Programas da Naval Historic Foundation. Serviu à Marinha dos EUA como oficial de Superfície por dez anos, é formado pelo Naval War College e autor de livros relacionados ao poder naval.

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Ao final de seu texto, David Winkler conjunturais e advoga que essas iniciativas apresenta sugestões de parcerias que pos- aumentariam a visibilidade do papel vital sam abrandar os problemas de recursos e desempenhado pela Marinha tanto para a verbas impostos por questões econômicas economia como para a segurança nacional.

UMA MUDANÇA NAVAL NOS QUARTOS DE SERVIÇO Capitão de Mar e Guerra (EUA) John Cordle*, com a Doutora Nita Shattuck** (Proceedings, EUA, janeiro/2013, p. 34-39)

Este importante artigo busca indicar O fator fadiga/resistência humana é que a adoção de novos conceitos para a um dos componentes importantes para a rotina a bordo de navios de guerra pode prontidão operativa e contribui para cerca aumentar a eficiência sem implicar neces- de 80% dos incidentes navais e, diferen- sariamente maior investimento de tempo temente da comunidade da aviação, em ou de dinheiro. Autor que o descanso da tri- e coautora apresentam pulação é considerado suas óticas da questão Dias de trabalho longos, importante, na comu- a partir de aproxima- nidade de superfície ções distintas, uma rotações de serviço prevalece a mentalida- científica e a outra sob tradicionais em três quartos de de considerá-lo um o prisma das opera- e manobras táticas especiais “luxo”, e a quantidade ções navais. de horas que se perma- Para posicionar o resultam, muitas vezes, nece acordado é usada leitor sobre o pro- em dias com 18 horas de como uma “medalha blema, o Comandan- de honra”. te Cordle, oficial de trabalho e em quatro ou É dentro desse qua- guerra de superfície menos horas de sono para dro que os articulistas de carreira (surfa- os marinheiros a bordo examinam resistência, ce warfare officer, sono e prontidão ope- SWO), afirma, ao iní- rativa. São apresen- cio do artigo, ter passado grande parte tados dados estatísticos de experiências de seu tempo de trabalho em navios em realizadas em navios da Marinha dos EUA estado de fadiga. Segundo ele, “dias e os resultados obtidos. Cordle pede aos de trabalho longos, rotações de serviço SWOs (oficiais de superfície) interessados tradicionais em três quartos e manobras nessas questões que se dispam de noções táticas especiais resultam, muitas vezes, pré-concebidas e que perseverem na leitura em dias com 18 horas de trabalho e em do artigo por considerar que os conceitos quatro ou menos horas de sono para os que aborda poderão promover mudança marinheiros a bordo”. em suas vidas.

* Chefe do Estado-Maior do Comando das Forças Navais de Superfície do Atlântico. Recebeu o Prêmio John Paul Jones da Liga Naval de 2010 e o Prêmio 2010 do Bureau of Medicine Epictetus por Liderança Inovadora em reconhecimento aos seus esforços para reduzir a fadiga a bordo. ** Membro do Departamento de Pesquisa de Operações na Escola de Pós-Graduação Naval em Monterrey, Cali- fórnia, onde leciona fatores humanos e sistemas humanos de integração. Estudou o desempenho humano e a fadiga em ambientes operacionais por quase toda sua carreira no Ministério da Defesa dos EUA.

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GUARNEÇAM AS TRINCHEIRAS! ARGUMENTANDO PELA EXPLORAÇÃO DO OCEANO MAIS PROFUNDO Don Walsh* (Proceedings, EUA, março/2013, p. 88)

“Muitos peritos afirmam que menos de 10% do Oceano Mundial foram ade- quadamente explo- rados. Isso implica que serão necessá- rios grandes inves- timentos nacionais para ajudar a raça humana a tão somen- te compreender esta maior característica Sistemas de trincheiras nos fundos oceânicos são os locais mais profundos do geográfica de nosso planeta; ocorrem onde as placas colidem em processo geológico contínuo planeta”, assegura o autor deste inte- mente ao longo de sistema de cordilheira ressante artigo, por meio do qual busca centro-oceânica, que possui mais de 40 incentivar maior conhecimento de nossos mil milhas de comprimento, constituindo fundos oceânicos. o maior conjunto de montanhas do planeta. Muitos aprenderam aspectos básicos O sistema consiste basicamente de duas de placas tectônicas e seus movimentos cordilheiras paralelas separadas por um em colégios. Entretanto, há apenas seis vale/fratura. É nesse vale que o novo fundo décadas tudo não passava de teoria, (crosta) oceânico está sendo criado – os com pouca realidade. Hoje, as ciências segmentos mais rápidos se movem a até associadas ao estudo dessas placas con- seis polegadas por ano, velocidade muito tribuem para a compreensão de como o alta em termos geológicos. sistema geofísico planetário funciona, Como o planeta não está aumentando afirma Don Walsh. E leciona que a super- de tamanho, explica Walsh, ocorre um fície da Terra é composta por oito placas processo compensador (subduction, em principais e por várias outras menores inglês) que consome a crosta excedente que compõem os fundos oceânicos e as nas extremidades de algumas placas dos massas continentais terrestres. fundos oceânicos. “O tempo entre a cria- Segundo Walsh, as continuadas pesqui- ção e a destruição de placas é de cerca sas geofísicas realizadas vêm revelando de 200 milhões de anos”, assegura o au- aspectos mais detalhados. O movimento tor, acrescentando que, como as crostas dessas placas se dá devido à injeção de continentais são menos densas do que o novo material de crosta (magma) no fundo fundo oceânico, elas flutuam acima das marinho. Essa atividade ocorre primaria- convergências. Na medida em que o fundo

* Consultor marítimo. Oficial de Marinha da reserva e oceanógrafo. Serviu, ao longo de sua carreira naval, em sub- marinos e, em terra, em tarefas relacionadas à pesquisa e ao desenvolvimento de assuntos relativos aos oceanos.

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é forçado para baixo, ele é derretido e se necessidade de se aprofundar os estudos transforma em magma novamente. dessas trincheiras, já que considera que, Em seu texto, Don Walsh prossegue até que isso seja feito, não se conseguirá explicando, ainda, a formação de atividades entender os fundamentos dos processos que vulcânicas, as localizações das maiores governam os movimentos da superfície ex- fossas ou trincheiras, suas descobertas e terna da Terra. “Como proposto por alguns, denominações, e as dificuldades existentes está na hora de uma missão espacial interna para sua exploração. Finaliza afirmando a para o planeta Terra”, conclui.

O NOVO STATUS INTERNACIONAL DO BRASIL. UM DESAFIO Cristián Garay Vera* Diego Hernández Alvarado** (Revista Política y Estrategia, Chile, no 119, janeiro-junho/2012, p. 34-68)

Este artigo busca analisar a posição dentro do conceito de potência. Entre outros internacional do Brasil por meio de con- inúmeros aspectos, abordam a história do ceitos que se relacionam diretamente com a Brasil, fatores geopolíticos e a aspiração do identidade de países, tais como tecnologia, País a ser membro permanente do Conselho defesa, energia e economia. Ele foi adapta- de Segurança da ONU. do de parte de um projeto de estudo com- Em suas conclusões, Garay Vera e Alva- parado de planejamento e desenvolvimento rado concluem que o Brasil é uma potência na Espanha, no Brasil e no Canadá feito média, o que se respalda no desenvolvimen- pelo autor principal e, também, de trabalho to de relações constantes com os Estados apresentado pelo coautor em conferência pertencentes ao nível superior da escala sub-regional, em julho de 2011. hierárquica mundial. A política exterior Além dos temas acima citados, os au- brasileira opera mediante a externalização, tores abordam o reconhecimento do Brasil e seu trabalho em bloco com outros países como potência regional dentro do sistema de aspirações semelhantes (Brics) remete político internacional e a dificuldade que sua atuação além da área de influência se encontra para hierarquizar um Estado própria – América do Sul e África.

* Doutor em Estudos Americanos pela Universidade de Santiago do Chile (Usach). Possui licenciatura e mestrado pela Universidade do Chile. É professor do Instituto de Estudos Avançados (Idea) da Usach e da Universi- dade Central do Chile. ** Licenciado em Ciências Políticas pela Universidade Central do Chile. Mestrando em Estudos Internacionais pela Usach. Professor da Universidade Los Leones, do Chile.

RMB2oT/2013 223 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Esta seção destina-se a registrar e divulgar eventos impor- tantes da Marinha do Brasil e de outras Marinhas, incluída a Mercante, dar aos leitores informações sobre a atualidade e permitir a pesquisadores visualizarem peculiaridades da Marinha. Colaborações serão bem-vindas, se possível ilustradas com fotografias.

SUMÁRIO (Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)

ADMINISTRAÇÃO AQUISIÇÃO Brasil e Senegal assinam Declaração de Intenções para aquisição de navios-patrulha (228) CFN adquire 195 viaturas (228) ATIVAÇÃO Ativação do Comando do Desenvolvimento Doutrinário do Corpo de Fuzileiros Navais (229) BATIMENTO DE QUILHA Batimento da quilha do NHoFlu Rio Branco (231) BATISMO MSC Preziosa é batizado em Gênova (232) COMEMORAÇÃO 68o Aniversário do Dia da Vitória (233) Aniversário da Batalha Naval do Riachuelo – Data Magna da Marinha (234) Dia Internacional dos Mantenedores da Paz da ONU (238) Dia Meteorológico Mundial (239) Reencontro na Eamce após 40 anos de formatura (240) CONDECORAÇÃO Militares da MB são agraciados com a Medalha Mérito Desportivo Militar (240) CONTRATO Petrobras aprova contratação de 23 novas embarcações de apoio (241) NOTICIÁRIO MARÍTIMO

DESATIVAÇÃO Desativação do Depósito de Material de Eletrônica da Marinha no RJ (241) FISCALIZAÇÃO 5o DN intensifica fiscalização em rios no sul do País (242) Apreensão de entorpecentes e armas com ajuda de cães farejadores (243) NPa Guanabara apreende contrabando (243) Operação conjunta MB/Ministério da Pesca e Aquicultura (244) Inaugurado o Centro de Formação de Fluviários em Manaus (245) LANÇAMENTO AO MAR Eisa lança o graneleiro Log-In Tucunaré (246) POSSE Assunção de cargos por almirantes (247) Passagem da Cogesn (249) Passagem de comando da ESG (253) Passagem dos cargos de comandante de Operações Navais e de diretor-geral de Navegação (254) Transmissão do cargo de chefe do Estado-Maior da Armada (260) Transmissão do cargo de comandante-geral do Corpo de Fuzileiros Navais (266) Transmissão do cargo de diretor-geral do Pessoal da Marinha (273) PRÊMIO Oficial de Marinha “Faz Diferença” em missões de paz e é premiado pelo jornal O Globo (277) Prêmio Quality Brasil 2013 (279) PROMOÇÃO Promoção de almirantes (279) VISITAÇÃO Primeira almirante brasileira visita Marinha dos EUA (280)

APOIO CENTRAL ELÉTRICA CIAW terá autonomia em geração de energia elétrica (281)

ÁREAS ANTÁRTICA Anunciado o vencedor do concurso Estação Antártica Comandante Ferraz (281) CAAML apoia comissionamento dos Módulos Antárticos Emergenciais (282) Marinha termina obra de estação brasileira provisória na Antártica (283) Navio Polar Almirante Maximiano regressa da Antártica (284) NM Germania chega ao RJ com escombros da EACF (285) Regresso do NApOc Ary Rongel encerra a 31a Operantar (286)

ATIVIDADES MARINHEIRAS BUSCA E SALVAMENTO Capitania do Amapá e NB Tenente Castelo apoiam buscas em Santana (287) NP Babitonga resgata veleiro argentino (287) Resgate de tripulantes do BP Lion de Lamer (288)

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OCEANOGRAFIA Navios japoneses participam de exposição e de programa de geologia marinha (288) SALVAMENTO Marinha dos EUA “fatia” e retira navio encalhado nas Filipinas (290) SINALIZAÇÃO NÁUTICA Termo de Cooperação do Tramo Norte do Rio Paraguai – 3o Termo Aditivo (291)

CIÊNCIA E TECNOLOGIA (C&T) ENERGIA NUCLEAR Marinha testa combustível nuclear na Noruega (292) ENGENHARIA MB assina Acordo de Cooperação Técnica e Científica com empresa de defesa nacional (292) ESTUDO IAE realiza trabalho em conjunto com a MB (293) INOVAÇÃO TECNOLÓGICA Brasil adquire equipamento inédito para projeto do setor portuário (293) TECNOLOGIA APP Portonave é o primeiro aplicativo multifuncional do gênero no País (294) Beltship implanta Fleetbroadband Unlimited para Vale (294) Novidade para o setor de offshore chega ao Brasil (295) Tecnologia alemã anticorrosão é lançada no País (295)

CONGRESSOS CONFERÊNCIA IX Conferência Interamericana de Telecomunicações Navais (296) CONGRESSO III Congresso Mares da Lusofonia (297) EXPOSIÇÃO Rio Boat Show 2013 gera R$ 276 milhões em negócios (297) FEIRA Aviões brasileiros em feira nos Estados Unidos (298) Intermodal South America 2013 (299) Marinha participa da maior feira de defesa e segurança da América Latina (301) SIMPÓSIO II Workshop de Acústica Submarina (302) DHN é sede de workshop da Comissão Oceanográfica Intergovernamental (302)

EDUCAÇÃO COLÉGIO NAVAL Colégio Naval se destaca na Olimpíada Brasileira de Física (303) CURSO 2o DN realiza Curso Especial de Defesa Nuclear, Biológica, Química e Radiológica (304) Brasil e ONU organizam Curso de Preparação de Instrutores para Oficiais de Estado- Maior em Missões de Paz (304) ESCOLA NAVAL Aspirante da EN participa da XVI Conferência Internacional de aspirantes e cadetes no Japão (305)

226 RMB2oT/2013 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA Comandante da Marinha profere aula para o Curso Superior de Defesa (306) ESPORTE Comandante de Operações Navais fala sobre Copa das Confederações (306) EN será base de treinamento para atletas olímpicos brasileiros (308) Resultados esportivos (309)

FORÇAS ARMADAS AERONAVE MH-16 Seahawk será avaliado com o Sispres 5.0 (310) EXERCÍCIO MILITAR Exercício de desembarque ribeirinho (311) Primeiro exercício de comunicações acústicas submarinas digitais (312) Tropicalex-2013 (312) MARINHA DA RÚSSIA Navio russo atrai atenção na Feira da Indústria de Defesa em Istambul (313) PATRULHA NAVAL 4o DN apoia Ibama durante a Patrulha Naval Atlântico Sul (314) SUBMARINO NUCLEAR Seções do novo submarino brasileiro embarcam na França (315) VEÍCULO AÉREO NÃO-TRIPULADO Casop e BRVant celebram início da operação de plataforma aérea (315)

PODER MARÍTIMO CONSTRUÇÃO NAVAL Petroleiros: Zumbi dos Palmares entra em operação e Anita Garibaldi é lançado ao mar (316) LINHA DE NAVEGAÇÃO Linha da MSC estreitará comércio com a Ásia (317) PORTO Fiesc busca no Panamá cooperação para os portos de SC (318) TRABALHO MARÍTIMO Convenção sobre o Trabalho Marítimo (MLC 2006) entrará em vigor em agosto (318)

PSICOSSOCIAL ASSISTÊNCIA SOCIAL “Lanchas Sociais” são entregues ao MDS (319)

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BRASIL E SENEGAL ASSINAM DECLARAÇÃO DE INTENÇÕES PARA AQUISIÇÃO DE NAVIOS-PATRULHA

Em cerimônia realizada em 10 de abril último, foi assinada a Declaração de Inten- ções para a aquisição, pela República do Senegal, de um navio-patrulha da classe Macaé e de um navio-patrulha da classe Grajaú. O documento foi firmado entre o ministro da Defesa, Celso Amorim, e o ministro das Forças Armadas da República do Senegal, Augustin Tine, na presença do comandante da Marinha, Almirante de Ministro das Forças Armadas do Senegal (E) e ministro da Defesa (D) assinam Declaração de Intenções de Aquisição de Navios-Patrulha

Esquadra Julio Soares de Moura Neto; do comandante da Aeronáutica, Juniti Saito; e do diretor-presidente da Empresa Ge- rencial de Projetos Navais (Emgepron), Vice-Almirante (RM1) Marcelio Carmo de Castro Pereira. O evento ocorreu durante a Feira de De- fesa e Segurança da América Latina (Laad), a maior do ramo no continente, realizada Ministro das Forças Armadas do Senegal, ministro no Riocentro, cidade do Rio de Janeiro. da Defesa, comandante da Marinha e comandante da Aeronáutica (Fonte: www.mar.mil.br)

CFN ADQUIRE 195 VIATURAS

O Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) adquiriu 195 viaturas não especializadas de 5 toneladas 4x4 1725/42, da Mercedes Benz do Brasil. As aquisições fazem parte do Programa de Aceleração do Cresci- mento (PAC) do Governo Federal, para o fortalecimento da Indústria Nacional de Defesa. Em abril, o Comando do Material de Fuzileiros Navais realizou a entrega téc- nica de 34 dessas viaturas, sendo três para o Centro de Instrução Almirante Sylvio Viaturas novas 4x4 de 5 toneladas do CFN

228 RMB2oT/2013 NOTICIÁRIO MARÍTIMO de Camargo (RJ), 14 para o Grupamento trução Almirante Milcíades Portela Alves de Fuzileiros Navais de Rio Grande (RS), (RJ) e 15 para o Batalhão de Engenharia uma para a Base Aérea Naval de São Pedro de Fuzileiros Navais (RJ). da Aldeia (RJ), uma para o Centro de Ins- (Fonte: www.mar.mil.br)

ATIVAÇÃO DO COMANDO DO DESENVOLVIMENTO DOUTRINÁRIO DO CORPO DE FUZILEIROS NAVAIS

Foi realizada em 16 de abril último, na go de vários anos, as linhas doutrinárias Ilha da Marambaia (Rio de Janeiro-RJ), a predominantes no CFN. Mais tarde criou cerimônia de Mostra de Ativação do Co- também a Comissão Permanente para o Es- mando do Desenvolvimento Doutrinário do tudo do Detalhamento Doutrinário, órgão Corpo de Fuzileiros Navais (CDDCFN). de assessoramento direto do comandante- Na mesma ocasião, aconteceram tam- geral do CFN. bém a Transferência de Subordinação do Por ocasião do estabelecimento da Centro de Avaliação da Ilha da Maram- Doutrina Básica da Marinha pelo Estado- baia (Cadim) e a Assunção de Cargo da Maior da Armada, considerando o amplo nova OM. A cerimônia foi presidida pelo espectro de tarefas, básicas ou subsidiárias, comandante-geral do Corpo de Fuzileiros atribuídas à Marinha, simultaneamente o Navais, Almirante de Esquadra Marco CFN iniciou a formulação do detalhamento Antonio Corrêa Guimarães, e assumiu o doutrinário de Fuzileiros Navais, o que CDDCFN, cumulativamente com os cargos demonstra sua absoluta integração à visão que já exerce, o Contra-Almirante (FN) estratégica da Marinha do Brasil. Nélio de Almeida. Quando, em dezembro de 2008, foi Transcrevemos a seguir a Ordem do Dia lançada a Estratégia Nacional de Defesa, alusiva à data, expedida pelo Almirante afirmando que ‘para assegurar sua capa- Guimarães: cidade de projeção de poder, a Marinha “Há 16 anos, no exercício da Direção possuirá, ainda, meios de Fuzileiros Navais, Setorial das atividades peculiares e espe- em permanente condição de pronto empre- cíficas aos Fuzileiros Navais, o Comando- go’ e que ‘o Corpo de Fuzileiros Navais Geral e a Marinha do Brasil criaram o consolidar-se-á como força de caráter ex- Comando do Pessoal de Fuzileiros Navais pedicionário por excelência’, o Comando- (CPesFN) e o Comando do Material de Geral já visualizava a necessidade de, Fuzileiros Navais (CMatFN). Com esta tempestivamente, iniciar a estruturação do medida, esses dois ramos técnicos do segmento doutrinário. E ainda que fosse Preparo, Pessoal e Material passaram a ter necessário manter o foco na demanda de tratamento diferenciado e especializado. recursos humanos e no aumento de efetivo, No que se refere especificamente à visando mobiliar as unidades de Fuzileiros Doutrina, o Comando-Geral, no âmbito Navais, já se verificava a importância de um interno, instituiu uma estrutura ternária que embasamento doutrinário suficientemente contemplou um Departamento de Recursos consolidado, que fosse capaz de suprir as Humanos, um Departamento de Material e necessidades dos estabelecimentos do Sis- um Departamento de Pesquisa e Doutrina, tema de Ensino Naval e desonerar o setor tendo este estudado e direcionado, ao lon- operativo de tal atribuição.

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Esta cerimônia de Mostra de Ativação Recolocação Profissional do CFN e o Pro- do Comando do Desenvolvimento Dou- grama de Orientação e Acompanhamento trinário do Corpo de Fuzileiros Navais à Carreira (oficiais e praças), também sig- (CDDCFN), cuja criação foi aprovada nificativas, e ganha o Corpo de Fuzileiros pela Portaria no 53/2012-MB, e da qual Navais ao ver o nosso Centro de Avaliação hoje participamos, concretiza uma antiga, alçado a um patamar efetivo de avaliação planejada e esperada expectativa do CFN, de Grupamentos Operativos de Fuzileiros equiparando e potencializando os três se- Navais, quer no seu grau de aprestamento, tores de competência do Comando-Geral: quer no emprego de novos equipamentos, Recursos Humanos, Material e Doutrina. inaugurando, aqui na Marambaia, um uno A bem da verdade, a ousadia dessa e grande Comando de Doutrina e Avalia- inovação vai além da simples formulação ção e, ainda mais, comandado, no presente doutrinária, já que aponta para o desen- momento, por um almirante. volvimento de capacidades operacionais, A ativação do Comando Doutrinário que orientarão o preparo, e para o Sistema do CFN, que hoje presenciamos, só foi de Gestão do Conhecimento do Corpo de possível graças ao incondicional apoio Fuzileiros Navais, que a aprimorará, de recebido pelo seu Núcleo de Implantação acordo com a evolução dos sistemas de e pelo imprescindível legado que nossos armas, das formas de se combater e da antecessores, ex-comandantes-gerais, complexidade dos ambientes operacionais, ex-comandantes do Cadim e suas antigas e com os resultados de experimentações tripulações nos deixaram: a utilização e validações. da Ilha da Marambaia pelos Fuzileiros Por essas razões, as atividades desen- Navais. É, pois, por dever de lealdade, volvidas pelo Centro de Avaliação da Ilha que registro a valorosa contribuição pres- da Marambaia (Cadim) o aproximam ainda tada pelo Comando do Pessoal, Batalhão mais do aprimoramento das capacidades Naval, Centro Tecnológico do Corpo de operacionais dos Grupamentos Operativos Fuzileiros Navais, Base de Fuzileiros de Fuzileiros Navais, por meio do apoio Navais da Ilha do Governador, Base de ao adestramento e das atividades de ex- Fuzileiros Navais do Rio Meriti, Batalhão perimentação. Desta forma, identificou-se Tonelero, Batalhão Humaitá, Batalhão mais uma necessidade de reorganização Paissandu, Batalhão de Blindados de no âmbito do Comando-Geral, desta vez Fuzileiros Navais e, de forma destacada, gerando uma transferência de subordina- pelo Centro de Avaliação da Ilha da Ma- ção, na qual o Cadim deixa de ser unidade rambaia, que, sob a orientação segura de subordinada ao Comando do Pessoal de seu comandante, superou todos os óbices Fuzileiros Navais e passa à subordinação do oriundos das dificuldades de acesso à Comando do Desenvolvimento Doutrinário Ilha, acolhendo, com profissionalismo, do Corpo de Fuzileiros Navais. Não perde harmonia e fidalguia, os militares do espaço o Comando do Pessoal de Fuzileiros Núcleo de Implantação e concluindo Navais, já que, nos últimos anos, ganhou importantes obras, das quais destaco: a uma extensa gama de novas incumbências, reforma do Alojamento de Cabos, Sol- destacando-se a gerência dos inativos e dos dados e Marinheiros; a ativação de uma dependentes de todos os Fuzileiros Navais, sala de musculação; a modernização do além de outros programas, como o Progra- Espaço do Pescador; a ampliação do Hotel ma de Leitura Profissional, o Programa de de Trânsito de Praças; as modificações na

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área de lazer; a conservação de PNR e as Navais. Estou plenamente seguro de que reformas da Divisão de Saúde e do Paiol o timão da mais nova OM do CFN estará de Mantimentos. em muito boas mãos. Por fim, formulo sinceros votos de Que, firmado em nossos valores funda- sucesso ao Contra-Almirante (FN) Nélio mentais – honra, competência e determi- de Almeida, comandante do Desenvolvi- nação – e com as bênçãos do Criador, o mento Doutrinário do Corpo de Fuzileiros Comando do Desenvolvimento Doutrinário Navais, oficial de reconhecidos e inques- inicie sua singradura, consciente do impor- tionáveis conhecimentos profissionais, tante significado deste momento na história competência e incansável dedicação, que do nosso Corpo de Fuzileiros Navais. prontamente aceitou o desafio de ativar Bons Ventos! Adsumus!” e gerenciar os processos que tratam da (Fontes: Bono no 265, de 15/4/2013, e Doutrina Anfíbia do Corpo de Fuzileiros Bono Especial no 268, de 16/4/2013)

BATIMENTO DA QUILHA DO NHoFlu RIO BRANCO

Foi realizada em 23 de abril último, em xação era feita por pregos e que representa Fortaleza (CE), a cerimônia de Batimento o “nascimento” da embarcação. da Quilha do Navio Hidroceanográfico A construção do NHoFlu está inserida Fluvial (NHoFlu) Rio Branco. O evento no Projeto de Cartografia da Amazônia, ocorreu nas dependências da Indústria Na- realizado em parceria com o Exército val do Ceará (Inace), estaleiro construtor, Brasileiro, a Força Aérea Brasileira e o e foi presidido pelo Serviço Geológico do diretor-geral do Ma- Brasil, sob coorde- terial da Marinha, Al- nação do Censipam, mirante de Esquadra órgão subordinado ao Arthur Pires Ramos. Ministério da Defesa. Estiveram pre- O projeto tem como sentes o comandante propósito realizar o do 3o Distrito Naval Levantamento Estra- (Natal-RN), Vice-Al- tégico Integrado para mirante Bernardo José a Amazônia, visando Pierantoni Gambôa; o cobrir os “vazios car- diretor de Engenharia tográficos” da região. Batimento da quilha do NHoFlu Rio Branco Naval, Vice-Almi- na Inace A Marinha do Brasil, rante (EN) Francisco por meio da Diretoria Roberto Portella Deiana; o diretor-pre- de Hidrografia e Navegação, coordena sidente da Inace, Antônio Gil Fernandez o Subprojeto de Cartografia Náutica, de Bezerra; e o diretor-geral do Centro Gestor modo a apresentar, como produto final dos e Operacional do Sistema de Proteção da trabalhos, cartas náuticas da Bacia Amazô- Amazônia (Censipam), Rogério Guedes. nica atualizadas na escala de 1:100.000. A Ao diretor-geral do Material da Marinha Marinha apresentou a necessidade de novos coube executar o simbólico “martelar” a navios para execução dos levantamentos quilha, herança dos tempos em que esta fi- hidrográficos e foi contemplada com recur-

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sos para a obtenção de cinco meios, sendo O contrato para a construção NHoFlu quatro avisos hidroceanográficos fluviais e Rio Branco foi assinado em 5 de dezembro um navio hidroceanográfico fluvial. do ano passado entre o Estaleiro Inace e a Ao NHoFlu Rio Branco serão atribuídas Marinha, esta representada pela Diretoria as tarefas de levantamentos hidroceano- de Engenharia Naval. Este foi o primeiro gráficos, as coletas de dados ambientais, navio integralmente projetado pelo Centro atualizações contínuas de cartas e as publi- de Projetos de Navios da Força. O Rio cações náuticas. O meio naval poderá atuar Branco ficará sediado em Manaus (AM) também em apoio aos órgãos governamen- e subordinado ao Com9oDN. Sua entrega tais na Defesa Civil, em ações de socorro e está prevista em 18 meses. ações cívico-sociais. (Fonte: www.mar.mil.br)

MSC PREZIOSA É BATIZADO EM GÊNOVA

O navio de passageiros MSC Preziosa, Após a inauguração, o Preziosa partiu da MSC Cruzeiros, foi batizado em 23 de para um roteiro de sete noites para Nápoles/ março último, em cerimônia no porto de Pompeia e Messina/Taormina (Itália), La Gênova, Itália. A festividade reuniu mais Goulette/Tunis (Tunísia), Barcelona (Es- de 2 mil convidados, incluindo autoridades panha) e Marselha (França). O novo navio internacionais, a atriz Sophia Loren (madri- virá para o litoral brasileiro na próxima nha de toda a frota da companhia), o cantor e temporada, a partir de novembro deste ano, compositor Gino Paoli e várias celebridades. quando realizará roteiros rumo ao Nordeste Na ocasião, o maestro Ennio Morrico- e também pelas ilhas tropicais do Sudeste. ne regeu uma orquestra com 55 músicos, O transatlântico se integrou à classe e o bailarino clássico Roberto Bolle, Fantasia, a mais luxuosa da armadora, acompanhado dos integrantes do Genoa completando sua frota. O MSC Preziosa Russian Ballet College, representou cenas tem 333 metros de comprimento, 38 metros de “O Lago dos Cines”, dirigidas por Irina de largura e peso de 140 mil toneladas. Kashkova. Bolle, também embaixador da Sua velocidade máxima é de 23 nós e tem Boa Vontade do Unicef, reforçou a impor- capacidade para 4.345 hóspedes. Com 27 tância da parceria entre a armadora italiana mil m2 de áreas comuns, oferece 18 decks; e o órgão internacional, pela qual a MSC 20 bares e lounges; cinco piscinas, sendo já arrecadou mais de 2 milhões de euros para crianças caren- tes do Brasil, com o projeto “Embarque em prol das crianças”. Ao final do evento, o navio abriu suas por- tas e os convidados foram recepcionados a bordo para um jantar de gala. O MSC Preziosa

232 RMB2oT/2013 NOTICIÁRIO MARÍTIMO uma de teto retrátil e outra para o MSC parte do extenso parque aquático Doremi Yacht Club; solário; 12 hidromassagens; Castle. O Preziosa exigiu investimentos de boutiques e joalherias; cassino; teatro para 550 milhões de euros da empresa italiana. mais de 1,6 mil pessoas; simulador de Fór- A MSC Cruzeiros é a empresa líder mula 1; boliche; e Spa de 1,7 mil m2. Entre mundial de cruzeiros no Mediterrâneo e nos as inovações em cruzeiros, destaca-se no mercados sul-africano e brasileiro e opera novo navio o Vertigo, o maior tobogã do ao redor do mundo. Sua moderna frota é mundo a bordo de um transatlântico que, composta por 12 navios. em alguns trechos, sai da área do navio, (Fonte: Máquina Comunicação Corpo- passando por cima do mar. A novidade faz rativa Integrada)

68o ANIVERSÁRIO DO DIA DA VITÓRIA

Foi realizada, em 8 de maio último, no Monumento aos Mortos na Segunda Guerra Mundial, na cidade do Rio de Ja- neiro, a cerimônia do 68o aniversário do Dia da Vitória. A solenidade teve como propósito rememorar os principais feitos Cerimônia do Dia da Vitória das Forças Armadas Brasileiras durante aquele conflito. O mi- Uma Guarda de Honra, formada pelo nistro da Defesa, Celso Amorim, presidiu grupamento das Forças Armadas e da Ma- a cerimônia, que teve a coordenação da rinha Mercante, desfilou em continência Marinha do Brasil. ao ministro da Defesa. Além da guarda, Na ocasião, o Ministério da Defesa um Grupamento de Ex-combatentes da concedeu a Medalha da Vitória, que Segunda Guerra Mundial e de Veteranos homenageia os ex-combatentes, à Força da Força Expedicionária Brasileira parti- Expedicionária Brasileira e às instituições cipou do desfile, em viaturas pertencentes e aos cidadãos que contribuíram para a ao Clube de Veículos Militares Antigos do difusão de suas ações. Foram agraciadas Rio de Janeiro. 331 personalidades. (Fonte: www.mar.mil.br)

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ANIVERSÁRIO DA BATALHA NAVAL DO RIACHUELO – DATA MAGNA DA MARINHA

Protegendo nossas riquezas Cuidando da nossa gente

Foi comemorado, em 11 de junho últi- ainda maior. Nossa estratégia de defesa mo, o 148o aniversário da Batalha Naval na América do Sul é a cooperação, mas do Riachuelo, Data Magna da Marinha. Na devemos estar prontos a dissuadir ame- ocasião, foi realizada, ainda, a cerimônia aças e agressões originadas em qualquer de imposição da Comenda da Ordem do quadrante do globo. Mérito Naval. A Presidenta da República, Para tanto, é essencial a atuação de Dilma Rousseff, enviou mensagem à Mari- nossos marinheiros e fuzileiros navais, nha e o comandante da Marinha, Almirante profissionais que se dedicam diuturnamente de Esquadra Julio Soares de Moura Neto, a vigilância e proteção de nossas extensas expediu Ordem do Dia alusiva à data. águas jurisdicionais e da Amazônia Azul, em atividades como a salvaguarda da vida MENSAGEM DA PRESIDENTA DA humana no mar; a segurança do tráfego REPÚBLICA aquaviário; ações de patrulha, sobretudo junto às bacias petrolíferas marítimas; “É com satisfação que me dirijo à Mari- vigilância de hidrovias e águas interiores; nha do Brasil por ocasião da comemoração a assistência médico-hospitalar prestada de sua Data Magna e do aniversário da às populações ribeirinhas da Amazônia e Batalha Naval do Riachuelo. do Pantanal pelos ‘Navios da Esperança’; Há 148 anos, brasileiros valorosos, e o constante preparo visando à defesa da como o Almirante Barroso, o Guarda-Ma- Pátria e à garantia de nossos interesses. rinha Greenhalgh e o Marinheiro Marcílio Ressalto, ainda, o destacado papel que cabe Dias, escreveram, nesta data, uma página à Marinha nas Operações Ágata, no âmbito importante na história de nossa Pátria. Des- do Plano Estratégico de Fronteiras, e nos de então, reverenciamos em 11 de junho a grandes eventos realizados em nosso País. dedicação e o profissionalismo com que os A Marinha vem contribuindo decisiva- homens e mulheres da Marinha, militares mente para a projeção pacífica do Brasil e civis, cumprem seus deveres em defesa no mundo. Nossos navios têm participado da Nação. de exercícios conjuntos com Marinhas sul- Temos hoje com nossos vizinhos uma americanas e intensificado a cooperação convivência de paz e harmonia que se com nações amigas na África. No Haiti, aproxima de completar um século e meio, um grupamento de Fuzileiros Navais aju- e que desejamos que se estenda por período da a Missão de Estabilização das Nações

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Unidas a preservar a segurança, manter a ORDEM DO DIA DO COMANDANTE estabilidade e promover o desenvolvimento DA MARINHA daquela nação. Desde 2011, a Marinha tam- bém integra e comanda o componente naval “A vitória na Batalha Naval do Riachuelo, da Força das Nações Unidas no Líbano. ocorrida em 11 de junho de 1865, concorreu A amplitude e a complexidade de todas definitivamente para o desfecho favorável essas tarefas confirmam a importância de aos aliados na Guerra da Tríplice Aliança, o País contar com uma Marinha moderna, sendo uma das passagens mais importantes tecnologicamente atualizada e permanen- da nossa história. Ao relembrarmos as cir- temente capacitada para contribuir com a cunstâncias e os fatos inseridos no contexto crescente inserção político-estratégica do daquele confronto, temos a oportunidade não Brasil na cena mundial. só de exaltar os feitos dos homens corajosos É nesse contexto estratégico que estão que lá lutaram, mas também de procurar inseridos os esforços para o reaparelhamen- compreender o significado daquele aconte- to do Poder Naval. Destaco o significativo cimento, que hoje comemoramos por ocasião avanço do Programa de Desenvolvimento da nossa Data Magna. de Submarinos, o Prosub, que, respaldado Em 1864, quando tivemos o território pelo bem-sucedido Programa Nuclear da invadido e fomos obrigados a reagir a tão Marinha, resultará na construção de um grave agressão, o inimigo de então dispu- submarino a propulsão nuclear e outros nha de meios apropriados a uma campanha quatro de propulsão convencional. fluvial, na qual, muitas das vezes, é ne- Em março passado, tive a satisfação de cessário navegar em águas com pequenas presidir a cerimônia de inauguração da Uni- profundidades. A nossa Marinha, ao con- dade de Fabricação de Estruturas Metálicas, trário, não estava preparada para aquele em Itaguaí, no Rio de Janeiro. Testemunhei tipo de operação, pois as suas belonaves o progresso que a Marinha tem feito rumo possuíam calados maiores e eram voltadas à consecução de suas metas no Prosub. às ações em mar aberto. Além do mais, cabe Progresso que contribui diretamente para considerar que deveríamos atuar a grandes o fortalecimento da nossa indústria de distâncias das bases de apoio. defesa, gerando empregos e estimulando Ao chefe de Divisão Francisco Manoel o desenvolvimento científico e tecnológico Barroso da Silva foi atribuída a tarefa de em nosso país. realizar o bloqueio dos rios Paraguai e Parabenizo as senhoras e os senhores Paraná, a fim de impedir o fluxo logístico agraciados com a Comenda da Ordem do do adversário. Na manhã do dia 11 de Mérito Naval, na certeza de que serão pro- junho, os oito navios sob o seu comando pagadores dos valores éticos, morais e pro- encontravam-se fundeados nas proximida- fissionais cultivados pela Marinha do Brasil. des da cidade argentina de Corrientes, nas Apresento os meus cumprimentos aos margens do Paraná. Já o grupo oponente, integrantes dessa exemplar instituição, par- composto por oito embarcações e seis te do Ministério da Defesa, estimulando-os chatas artilhadas a reboque, descia o rio a manter a motivação, o profissionalismo decidido a sobrepujar os brasileiros, con- e a dedicação em todas as atividades em tando, inclusive, com canhões e soldados defesa de nossa nação. posicionados, de forma camuflada, nas À Marinha do Brasil, parabéns pela sua barrancas próximas à desembocadura de Data Magna!” um pequeno afluente, o Riachuelo.

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Aproximadamente às 9 horas, alertado O cenário de paz que ora desfrutamos sobre a ameaça próxima, o Almirante não pode minimizar a importância das Barroso determinou que suas unidades atribuições constitucionais da nossa ins- levantassem ferros e se preparassem para o tituição, principalmente aquelas voltadas combate. Seguiu-se, então, a sangrenta luta, para a defesa da soberania e para a garantia cujo desenrolar registrou demonstrações de do imenso patrimônio que possuímos na heroísmo e de amor à Pátria. ‘Amazônia Azul’, nas hidrovias e nas águas Na Canhoneira Parnaíba, abordada por interiores. quatro barcos rivais, sobressaíram a cora- Os ensinamentos extraídos daquela gem e a resistência da tripulação, da qual campanha, que permanecem válidos até faziam parte o Guarda-Marinha Greenhalgh hoje, permitem-nos assegurar que não se e o Imperial Marinheiro Marcílio Dias, prepara uma Marinha em um curto espaço que, assim como muitos outros, pereceram de tempo, corroborando as palavras do enfrentando os atacantes, buscando impedir ilustre Rui Barbosa: ‘Esquadras não se que o Pavilhão Nacional fosse arriado. improvisam’. Se, naquela ocasião, possu- A bordo da Fragata Amazonas, o Al- íssemos meios atualizados e em número mirante Barroso percebeu a gravidade da adequado, apropriados às diferentes tarefas situação, uma vez que se delineava um e áreas de atuação, possivelmente teríamos quadro tático desfavorável, demandando contribuído mais eficazmente para fazer uma ação peremptória que pudesse reverter com que a via diplomática fosse o caminho a situação. Mandou, então, hastear o célebre escolhido pelo oponente, evitando, assim, sinal ‘O Brasil espera que cada um cumpra o início das hostilidades. o seu dever’, contagiando as tripulações, Cabe destacar também a atuação do que entoaram entusiasmados vivas à Nação. então Arsenal da Corte, hoje Arsenal Na sequência, tomou uma decisão auda- de Marinha do Rio de Janeiro, onde fo- ciosa e, valendo-se da vantagem do maior ram projetadas e construídas muitas das porte de seu capitânia, investiu de proa, embarcações disponíveis no começo da sucessivamente, contra três embarcações e guerra, todas de madeira, como também uma chata opositoras, afundando-as. as unidades encouraçadas empregadas nas Sua ordem seguinte, ‘Sustentar o fogo ações posteriores no Rio Paraguai, demons- que a vitória é nossa’, prenunciava o desfe- trando a importância de contarmos com cho do embate, que se encerrou antes do pôr uma Base Industrial de Defesa autóctone, do sol, com o inimigo batendo em retirada colaborando com o esforço de mobilização praticamente aniquilado, configurando-se, e reduzindo a dependência do exterior. assim, um triunfo decisivo e um ponto de A crescente importância político- inflexão na guerra, com a consequente estratégica do País no cenário internacional garantia do bloqueio fluvial, asfixiando requer que tenhamos uma Força pronta, logisticamente o adversário. tecnologicamente atualizada, adestrada, Na época presente, cabe-nos não apenas motivada, com credibilidade e apta a dis- cultuar as demonstrações de bravura daque- suadir eventuais atitudes hostis. les que lá estiveram, mas também aprender É nesse contexto que se insere o Prosub, com as lições emanadas de um conflito que cuja meta maior é a obtenção da capacidade resultou em uma perda inestimável de vidas de projetar e fabricar no Brasil submarinos e envolveu um significativo dispêndio de convencionais e com propulsão nuclear, recursos do País. sendo relevante mencionar os avanços já

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obtidos, como a inauguração, em 1o de estando dois prontos e cinco em andamento, março, pela Presidenta da República, da de um total de 27 planejados; a prontificação Unidade de Fabricação de Estruturas Me- dos novos Estudos de Exequibilidade, marco tálicas (Ufem), em Itaguaí, RJ, onde será inicial para a retomada da fabricação no iniciada a preparação das recém-recebidas País das corvetas classe Barroso, de grande seções 3 e 4 do primeiro submarino da importância por ser fruto de um projeto classe Scorpène, que lá já se encontram. nacional; a aquisição de novos helicópteros Quanto aos nossos demais projetos de e equipamentos para o Corpo de Fuzileiros modernização e de reaparelhamento, des- Navais; as ações buscando lograr a aprova- taco: a chegada ao Rio, em 24 de maio, do ção e a implementação do Programa de Ob- segundo navio-patrulha oceânico de 1.800 tenção de Meios de Superfície (Prosuper); a toneladas, o Apa, e a incorporação do ter- conclusão, prevista para o 2o semestre deste ceiro deles, o Araguari, no próximo dia 21 ano, da arquitetura do Sistema de Gerencia- de junho; a continuidade do programa de mento da ‘Amazônia Azul’ (SisGAAz); e as construção de navios-patrulha de 500 tone- tratativas que conduzirão à decisão sobre a ladas, privilegiando os estaleiros brasileiros, localização da futura Segunda Esquadra. Meus comandados! Ao comemorarmos os 148 anos da Batalha Naval do Riachuelo, exorto-os a manter o ‘Fogo Sagrado’ e a renovar o compromisso de dedicação ao serviço, somando esforços no sentido de alcançarmos a Marinha que a Nação ne- cessita e que tanto desejamos, como uma forma de honrar a memória desse herói na- cional, o Almirante Barroso, e daqueles que sacrificaram suas vidas na defesa da Pátria. Expresso o meu reconhecimento a todos os militares e servidores civis, homens e mulheres que fazem parte da nossa institui- ção, pelos profissionalismo, perseverança, garra e denodo com que, sobrepujando os eventuais óbices que se descortinam, vêm cumprindo, com competência, suas atri- buições no mar, nas águas interiores, nos mais diversos pontos do nosso território e no exterior, em especial nas Missões de Paz no Haiti e no Líbano, e na Antártica. 11 DE JUNHO, ANIVERSÁRIO DA Ao finalizar, dirijo-me aos promovidos BATALHA NAVAL DO RIACHUELO e agraciados com a Ordem do Mérito Na- val, apresentando os agradecimentos pelo esforço e pela contribuição dispensados em O Brasil de hoje provém de um passado prol da nossa Força. de superações, como a vitória do Parabéns a todos!” Almirante Barroso na Batalha Naval do (Fontes: Bonos Especiais nos 404 e 405, Riachuelo, em 1865 de 10/6/2013)

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DIA INTERNACIONAL DOS MANTENEDORES DA PAZ DA ONU*

Foi comemorado, em 29 de maio último, Ao longo dos anos, as Operações de o Dia Internacional dos Mantenedores da Paz evoluíram para atender às demandas Paz, os Peacekeepers, da Organização das decorrentes de diferentes conflitos e pa- Nações Unidas (ONU). A data faz referên- noramas políticos e passaram de missões cia ao dia em que o Conselho de Segurança ‘tradicionais’, envolvendo somente tarefas da Organização das Nações Unidas auto- militares, a complexas operações ‘mul- rizou pela primeira vez uma Operação de tidimensionais’, criadas para assegurar a Manutenção da Paz, em 1948. implementação de acordos e contribuir A mobilização se deu na Palestina, após para o estabelecimento de base s para uma o cessar-fogo da guerra árabe-israelense e, paz sustentável. a partir daí, iniciou-se a busca por soluções Fruto dessa evolução, foi criado dentro pacíficas para os conflitos internacionais. da estrutura da ONU o Departamento de O Brasil integra missões de paz desde Operações de Paz (DPKO), instrumento 1956, quando enviou tropas para Suez, no operacional do secretário-geral das Nações Egito. Daquela data até hoje o País partici- Unidas para o emprego de Forças Militares pou de mais de 33 missões da Organização na solução dos conflitos que perturbam a das Nações Unidas, enviando mais de 27 ordem global. E assim, em reconhecimento mil militares ao exterior. à dedicação diuturna de homens e mulheres Transcrevemos a seguir a Ordem do Dia que trabalham em diversas partes do mundo do comandante de Operações Navais, Al- na busca da paz, a ONU estabeleceu o dia mirante de Esquadra Luiz Fernando Palmer 29 de maio como ‘Dia Internacional dos Fonseca, sobre a comemoração: Mantenedores da Paz’, uma referência ao “‘Manutenção da Paz não é um traba- cessar-fogo na Guerra Árabe-Israelense lho para soldados, mas apenas soldados de 1948. podem fazê-lo’ (Dag Hammarskjöld, ex- O Brasil já participou de mais de 30 secretário-geral da ONU). Operações de Manutenção de Paz, tendo Depois do fim da Segunda Guerra cedido um efetivo já superior a 24 mil ho- Mundial, a comunidade internacional, após mens. Integrou operações na África (Con- anos de planejamentos e discussões, viu a go, Angola, Moçambique, Libéria, Uganda necessidade de criar uma Organização que e Sudão), na América Latina e Caribe (El tivesse a responsabilidade de manter a paz Salvador, Nicarágua, Guatemala e Haiti), e a segurança. A Organização das Nações na Ásia (Camboja, Timor Leste e Líbano) Unidas (ONU) surgiu no cenário mundial e na Europa (Chipre e Croácia) e, ainda, fruto dessa necessidade e, nesses 68 anos empregou unidades militares formadas em de existência, já atuou em 63 Forças de Paz. várias Operações, como no Suez (Unef I), As Operações de Paz das Nações Unidas Angola (Unavem III), Moçambique (Onu- são um instrumento singular e dinâmico, moz), Timor-Leste (Untaet/Unmiset), Haiti desenvolvido pela ONU para ajudar os países (Minustah) e Líbano (Unifil). devastados por conflitos a criar condições para O primeiro registro da participação alcançar uma paz permanente e duradoura. brasileira em organismos voltados para a

* Ver artigo “Brasileiros na conquista do Prêmio Nobel da Paz de 1988”.

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manutenção da paz data de 1933, quando, bas em prol da Organização dos Estados ainda sob a égide da Liga das Nações, o Americanos (OEA). País foi mediador do litígio entre Colômbia Criada em 2006 em atendimento à soli- e Peru, na região de Letícia. Em 1965, pela citação do governo libanês, a Força-Tarefa primeira vez participou de uma Operação Marítima (FTM) da Força Interina das de Paz, com o envio de tropas para integrar Nações Unidas no Líbano (Unifil) conta a Força Interamericana de Paz (FIP) na com a participação de 35 países, incluindo República Dominicana, com destacada o Brasil, a quem cabe o comando da FTM. atuação dos nossos Fuzileiros Navais. A participação irretocável dos nossos meios Atualmente, o Brasil é o maior contri- navais, aeronavais e de fuzileiros navais na buinte de tropas na Missão da ONU para Unifil é fator de orgulho, contribuindo para a Estabilização do Haiti (Minustah). Che- elevar o bom nome do Brasil no cenário fiando a missão desde 2004, o País man- internacional. tém um contingente de aproximadamente Mantenedores da paz, integrantes de 1.200 militares, com rotação semestral, na missões sob a égide da Organização das qual a Marinha do Brasil se faz presente Nações Unidas do passado e do presente, por meio do Grupamento Operativo de no momento em que celebramos essa Fuzileiros Navais. importante data, deixo registrado meu Destaca-se, ainda, a participação de reconhecimento pela dedicação e pelo nossos militares atuando como observa- comprometimento com essa nobre missão dores no Timor-Leste, no Saara Ocidental, em prol da paz mundial. no Sudão, na Costa do Marfim e, mais re- Que seus exemplos sejam seguidos pelas centemente, na Síria e integrando a Missão próximas gerações. de Assistência à Remoção de Minas na Bravo Zulu! Viva a Marinha!” fronteira entre Equador e Peru (Marmi- (Fonte: Assessoria de Comunicação nas) e a Missão de Grupo de Monitores Social do Ministério da Defesa e Bono Internacionais (GMI) na Colômbia, am- Especial no 374, de 29/5/2013)

DIA METEOROLÓGICO MUNDIAL

Os 191 membros da Organização Mete- o tema “Observar o tempo para proteger orológica Mundial (OMM) e a Comunidade vidas e propriedades” buscou salientar a Meteorológica Internacional comemora- importância dos centros meteorológicos ram, em 23 de março último, o Dia Mete- como geradores de informações vitais ao orológico Mundial. A data, que celebra a poder público e aos usuários particulares, criação da OMM, em 1950, é marcada por na tomada de decisão para salvaguardar um tema definido a cada ano. Neste ano, vidas humanas e proteger o patrimônio.

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Desta maneira, registra-se a importân- cia do Serviço Meteorológico Marinho (SMM), executado pelo Centro de Hidro- grafia da Marinha. O SMM realiza um trabalho ininterrupto de coleta de dados e produção de informações ambientais destinadas à segurança dos navegantes em toda área marítima de responsabilidade do Brasil, a Metarea V, e contribui diretamente para o cumprimento dos compromissos assumidos pelo País, como signatário da Convenção Internacional para a Salvaguar- da da Vida Humana no Mar. (Fonte: www.mar.mil.br)

REENCONTRO NA EAMCE APÓS 40 ANOS DE FORMATURA

Após 40 anos de formatura, cerca de 80 (RM1-T) Francisco José Souza Gouveia, ex-alunos da Turma Kilo, de 1973, da Es- orador da turma, proferiu mensagem para cola de Aprendizes Marinheiros do Ceará todos os presentes e, em seguida, descerrou (Eamce), organizaram seu reencontro em a placa da turma no prédio do departamento 15 de março último. escolar. Após, todos se confraternizaram no Durante a cerimônia realizada no iní- auditório da Escola, e foi ministrada uma cio do evento, o Capitão de Mar e Guerra celebração religiosa pelo Capitão-Tenente (CN) Gelcimar Antônio de Carvalho e por três pastores evangélicos: o Capitão de Fragata (RM1-T) José Orcélio de Almeida Amâncio, Manoel Joaquim Filho e Francis- co Assis Morais Leite Filho. A solenidade foi presidida pelo co- mandante da Eamce, Capitão de Fragata Marcelo Gurgel de Souza, e contou com a presença do capitão dos portos do Ceará, Capitão de Mar e Guerra Adauto Braz da Silva Júnior. Reencontro da Turma Kilo, de 1973 (Fonte: www.mar.mil.br)

MILITARES DA MB SÃO AGRACIADOS COM A MEDALHA MÉRITO DESPORTIVO MILITAR

Foi realizada em 8 de março último, cerimônia de entrega da Medalha Mérito na Escola de Educação Física do Exército Desportivo Militar aos militares e civis (EsEFEx), na cidade do Rio de Janeiro, a que participaram da realização dos 5o

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Jogos Mundiais Militares, em 2011, no Rio. Os militares do Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes (Cefan) fo- ram agraciados pelo esforço para o sucesso da competição, tanto na preparação técnica e treinamento das equipes quanto na nutrição e acompanhamento psicológico. O evento contou com a pre- Tripulação do Cefan sença de diversas autoridades, entre elas o ministro da Defesa, em- porte, é sem dúvida de grande importância baixador Celso Amorim, que declarou: e motivo de orgulho para nós.” “Queria saudar mais uma vez a presença A Medalha Mérito Desportivo Militar foi dos comandantes do Comitê Olímpico. criada pelo Decreto no 5.958, de 7 de novembro Gostaria de reiterar a nossa disposição de de 2006, e destina-se a agraciar militares bra- continuar cooperando, intensamente, com sileiros que tenham se destacado em compe- vistas a 2016. Como sabem, em se tratando tições desportivas, nacionais e internacionais, das Olimpíadas, a participação das Forças bem como militares e civis, brasileiros ou Armadas, cedendo instalações, participan- estrangeiros, que tenham prestado relevantes do com atletas, ajudando na formação de serviços ao desporto militar do Brasil. atletas juntamente com o Ministério do Es- (Fonte: www.mar.mil.br)

PETROBRAS APROVA CONTRATAÇÃO DE 23 NOVAS EMBARCAÇÕES DE APOIO

A Petrobras aprovou, em 18 de abril Esta foi a 4a Rodada do Plano de Renova- último, a contratação de 23 embarcações ção da Frota. Em julho deste ano, a Petrobras de apoio, como parte do 3o Plano de Reno- irá ao mercado para contratar outras 24 embar- vação da Frota de Embarcações de Apoio cações do mesmo tipo (5a Rodada), cumprindo, Marítimo. As unidades, do tipo PSV 4500 assim, a meta de contratar, até 2014, 146 e OSRV 750, cumprirão requisitos de embarcações a serem construídas no Brasil, conteúdo local de 60% e serão construídas conforme previsto no 3o Plano de Renovação no Brasil. Os preços apresentados foram da Frota de Embarcações de Apoio Marítimo. competitivos, atendendo às métricas e (Fonte: Gerência de Imprensa/Co- orçamentos esperados. municação Institucional da Petrobras)

DESATIVAÇÃO DO DEPÓSITO DE MATERIAL DE ELETRÔNICA DA MARINHA NO RJ

Por meio da Portaria no 89, de 18 de rinha, foi extinto o Depósito de Material de fevereiro de 2013, do comandante da Ma- Eletrônica da Marinha no Rio de Janeiro

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(DepMEMRJ). A Mostra de Desativação da aperfeiçoamento do processo de aquisição Organização Militar (OM) foi realizada em de material, o desenvolvimento de novas 27 de fevereiro último, na Base de Abas- metodologias de armazenagem e controle de tecimento da Marinha no Rio de Janeiro estoque de materiais de diversas categorias, (BAMRJ), presidida pelo secretário-geral bem como o reposicionamento do Brasil da Marinha, Almirante de Esquadra Edu- no cenário internacional, nos impulsionam ardo Monteiro Lopes. a reavaliar os processos e procedimentos Conforme o Almirante Monteiro Lo- utilizados pela Marinha no apoio logístico”, pes, a unificação do DepMEMRJ com o disse o secretário-geral da Marinha. Segun- Depósito de Sobressalentes da Marinha do ele, foram identificadas transformações no Rio de Janeiro (DepSMRJ) concretiza necessárias no SAbM visando ao melhor mais um passo na busca do aprimoramento preparo para os desafios logísticos vislum- do Sistema da Abastecimento da Marinha brados com a incorporação de novos meios (SAbM) e, no, caso, otimizará a utilização da Marinha do Brasil, principalmente os de- de recursos humanos e financeiros e, prin- correntes do Programa de Desenvolvimento cipalmente, continuará para a elevação de Submarinos (Prosub). contínua de seu nível de prontidão. (Fontes: Bono no 135, de 25/2/2013 e “As grandes inovações tecnológicas Ordem do Dia no 1/2013 da Secretaria- ocorridas nas últimas décadas, o constante Geral da Marinha)

5o DN INTENSIFICA FISCALIZAÇÃO EM RIOS NO SUL DO PAÍS

Com o intuito de garantir a segurança de Uruguaiana, a Polícia Federal, o Insti- da navegação, reprimir a pesca ilegal e as tuto Brasileiro do Meio Ambiente e dos atividades ilícitas, foram realizadas, nos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), dias 21, 24, 25 e 26 de março, autuações e a Brigada Militar e o Ministério Público apreensões nos Rios Uruguai e Ibicuí, no Estadual do RS. Rio Grande do Sul. A ações fazem parte de As equipes envolvidas percorreram parceria firmada entre a Delegacia Fluvial o Rio Ibicuí, desde Mariano Pinto, em Maçambará, até desembocar no Rio Uruguai, na divisa com Itaqui, bem como o Rio Uruguai da Ilha Quadrada, em Itaqui, até a Barra do Quaraí. Na ocasião, foram vistoria- dos 21 acampamentos e dezenas de embarcações. Durante o período, foram apre- endidos mais de 3 mil metros de redes de pesca e notificadas várias embarcações irregulares. As ativida- des continuarão a ser desenvolvidas na região. Uma equipe de vistoria (Fonte: www.mar.mil.br)

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APREENSÃO DE ENTORPECENTES E ARMAS COM AJUDA DE CÃES FAREJADORES

Como parte das atividades desenvol- para ser inspecionada por meio naval vidas durante a Operação Formiga nas subordinado ao Comando da Flotilha proximidades de Novo Airão (AM), a do Amazonas. Marinha do Brasil fez, em 22 de março Os traficantes estavam navegando no último, uso do mais Rio Negro, nas proxi- novo investimento midades da cidade. O realizado pelo Bata- apresamento dos cri- lhão de Operações minosos e a apreensão Ribeirinhas, subor- das drogas e armamen- dinado ao Comando to foram realizados do 9o Distrito Naval com o apoio da Polícia (Manaus-AM), com Militar local. relação ao treinamen- Mais uma vez, os to de cães farejadores. militares da Marinha Em sua primeira do Brasil, com ajuda missão efetiva, dois Cão farejando entorpecentes em embarcação de autoridades locais, animais da raça Pas- demonstraram a im- tor Belga Malinous farejaram pasta base portância da atividade da Patrulha Naval no de cocaína escondida em embarcação controle aquaviário da Região Amazônica. regional, que foi conduzida para o porto (Fonte: www.mar.mil.br)

NPa GUANABARA APREENDE CONTRABANDO

O Navio-Patrulha (NPa) Guanabara, metros adaptado para o transporte de carga, subordinado ao Comando do 4o Distrito transportava grande quantidade de caixas Naval (Com4oDN), realizou, em 22 de abril de cigarros, bebidas alcoólicas, sacos de último, a apreensão roupas e equipamentos do Barco Pesquei- eletroeletrônicos no ro (B/P) Milagre de convés, coberto por Deus do Tucunduba, lona e camuflado com nas proximidades do redes de pesca, e, no Cabo Cassiporé, na porão, grande quanti- costa do Estado do dade de mercadorias Amapá, pelo descum- que não pôde ser veri- primento da Lei de ficada no momento da Segurança do Tráfego apreensão, por obstru- NPa Guanabara apreende barco pesqueiro na costa Aquaviário, uma vez do Amapá ção do acesso. que nenhum tripulan- O NPa Guanabara te estava habilitado, e por suspeita de crime escoltou e depois rebocou até Belém (PA) de descaminho. o barco pesqueiro, que foi inspecionado A embarcação, um barco de pesca de 20 em sua chegada, 24 de abril, por agentes

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da Polícia Federal e da Receita Federal, a caminhões, foi apreendida pela Receita Fe- fim de se verificarem a legalidade da mer- deral. No total, foram apreendidos cerca de cadoria e a situação dos tripulantes a bordo 700 caixas de cigarros, 65 fardos de roupas, da embarcação. 50 caixas de vodka, condicionadores de ar, as- Os tripulantes foram presos pela Polícia sessórios automotivos e um motor marítimo. Federal e a mercadoria, que encheu quatro (Fonte: www.mar.mil.br)

OPERAÇÃO CONJUNTA MB/MINISTÉRIO DA PESCA E AQUICULTURA

A Marinha do Brasil (MB) realizou, entre 24 e 28 de mar- ço último, operação conjunta com o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) no litoral leste do Estado do Ceará, nos municípios de Aracati, Fortim e Icapuí. A operação envolveu a Capitania dos Portos do Ce- ará (CPCE), a Agência da Ca- pitania dos Portos em Aracati (AgAracati) e fiscais do MPA. No mar, os militares da CPCE e os fiscais notifica- ram nove embarcações que estavam com documentação Abordagem a embarcação de pesca irregular. Durante a operação, foi empregada a Lancha Sirigado, recebida que estivessem atuando em desrespeito às do MPA em função de Termo de Cessão exigências contidas na legislação do MPA estabelecido. A lancha possui 11 m de e às Normas da Autoridade Marítima (Nor- comprimento total; 3,68 m de boca; 1,75 m mam), com a consequente notificação. A de pontal; 9,5 toneladas de deslocamento; operação conjunta é decorrente de Acordo 37 nós de velocidade máxima contínua; e de Cooperação Técnica firmado entre a 26 nós de velocidade de serviço. MB e o MPA e contribuiu para estreitar Por terra, a AgAracati notificou duas laços com o Ministério para futuras ope- embarcações que estavam em desacordo rações na região e incrementar a ação de com a Lei de Segurança do Tráfego Aqua- presença da MB no litoral leste do Estado viário (Lesta). Foram empregadas no apoio do Ceará, em especial nas proximidades de à Operação quatro viaturas tipo L-200 Aracati, Fortim e Icapuí. Serviu também (4x4), um flexboat e uma moto aquática, para aprimorar o conhecimento técnico pertencentes à CPCE e à AgAracati. da região para futuros eventos, como, por O propósito da operação foi identifi- exemplo, a realização de busca e socorro, car possíveis pontos de pesca predatória caso necessário. e localizar embarcações e proprietários (Fonte: www.mar.mil.br)

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INAUGURADO O CENTRO DE FORMAÇÃO DE FLUVIÁRIOS EM MANAUS

A Marinha do Brasil (MB), por inter- currículos dos cursos, tendo como base o médio do Comando do 9o Distrito Naval atendimento das necessidades específicas (Com9oDN – Manaus-AM), inaugurou em da navegação fluvial nos rios da Amazô- 15 de abril último, na capital amazonense, nia Ocidental. Esses currículos já estavam o primeiro Centro Técnico de Formação sendo modificados pela Diretoria de Portos de Fluviários da Amazônia Ocidental e Costas (DPC), com o propósito de via- (CTFFAO). bilizar com meios próprios e de entidades O evento contou com a presença do privadas ou públicas cursos que eram an- comandante de Operações Navais e teriormente realizados somente no Centro diretor-geral de Navegação, Almirante de de Instrução Almirante Braz de Aguiar Esquadra Luiz Fernando Palmer Fonseca; (Ciaba), em Belém (PA). do comandante do 9o Em 11 de dezembro Distrito Naval, Vice- daquele mesmo ano, Almirante Antonio foi firmado convênio Carlos Frade Carnei- entre o Com9oDN e a ro; e do comandante Soamar-AM para a re- nomeado, Vice-Al- vitalização e aparelha- mirante Domingos mento das instalações Savio Almeida No- da antiga sede da CFA- gueira, além de auto- OC para sediar o futuro ridades locais, civis e CTFFAO. Iniciava-se militares. Destaca-se então a parceria entre Da esq. para dir.: Presidente da Soamar-AM, Luiz a participação maciça Mariano Rebelo; VA Frade e as empresas da região, dos componentes da AE Palmer inauguram o CTFFAO que contribuíram para Sociedade Amigos a realização das obras, da Marinha do Estado do Amazonas iniciadas em 17 de dezembro. (Soamar-AM) e de representantes das O Centro Técnico conta com os seguin- empresas de navegação corresponsáveis tes espaços destinados aos corpos docente e pelo empreendimento. discente: seis salas de aula com capacidade A ideia de criação do CTFFAO surgiu para 180 alunos, auditório para 90 pessoas, após várias reuniões, desde 2011, entre re- refeitório, cantina, área de convivência, presentantes da MB, da Sociedade de Ami- área de atendimento ao público, biblioteca gos da Marinha do Estado do Amazonas, de com acesso à internet, sala para o curso de empresas de navegação e de instituições de ensino a distância, banheiros masculinos e ensino do Amazonas. Buscava-se atender femininos, sala de professores e salas para a um antigo anseio da comunidade fluvial, a administração do Centro. que desejava acompanhar o crescimento São oferecidos os seguintes cursos: Es- quantitativo e técnico das tripulações e em- pecial de Acesso a Supervisor Maquinista- barcações que navegam nos rios da região. Motorista Fluvial; Adaptação para Aquavi- Em 22 de agosto de 2012, a Capitania ários – Cozinheiros, Taifeiros, Enfermeiros Fluvial da Amazônia Ocidental (CFAOC) e Auxiliar de Saúde; Adaptação para apresentou sugestões para adequação dos Aquaviários – Módulo Específico para a

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Seção Convés; Adaptação para Aquaviários GLP; Atlantis da Amazônia Comércio; – Módulo Específico para Seção Máquinas; Chibatão Navegação e Comércio; Cida- Formação de Aquaviários – Marinheiro de Transportes; Cimento Vencemos do Fluvial Auxiliar de Convés e de Máquinas; Amazonas; Companhia de Navegação Especial de Acesso para Capitão Fluvial; da Amazônia; Delima Comércio e Na- Especial Avançado de Combate a Incêndio; vegação; E. D. Lopes e Cia. Ltda.; Erin; Especial Básico de Combate a Incêndio; Grupo VDA; Hermasa Navegação da Especial de Familiarização em Balsas Amazônia; Itaiguara Transportes; Nave- Transportadoras de Petróleo e Derivados e gação Nobrega; Norte Cimento; Petrobras; Etanol; Especial de Rádio Operador Res- Oziel Mustafa dos Santos e Cia. Ltda.; SD trito; Especial Prático de Operador Radar; Arquitetura; Sindicato das Empresas de Especial de Segurança de Embarcações de Navegação Fluvial no Estado do Amazo- Passageiros; Especial de Sobrevivência nas – Sindarma; Soamar/AM; Sociedade Pessoal; e Especial de Segurança Pessoal Fogás; Socorro Carvalho Transportes e e Responsabilidades Sociais. Construções; Superterminais Comércio e As empresas parceiras na criação do Indústria; Transportes Bertolini; e Waldo- Centro foram: Amazonav – Amazonas miro P. Lustoza e Cia. Ltda. Navegação; Amazongás Distribuidora de (Fonte: www.mar.mil.br)

EISA LANÇA O GRANELEIRO LOG-IN TUCUNARÉ

O Estaleiro Eisa lançou ao mar, em 25 de portos de Trombetas e de Vila do Conde, abril último, o graneleiro Log-In Tucunaré. ambos no estado do Pará. Em janeiro de Este é o quarto navio de uma encomenda 2010, a Log-In iniciou a operação para a de sete embarcações que a Log-In tem com empresa com navios afretados. Uma das em- o estaleiro. Segundo a companhia, a opera- barcações foi substituída em fevereiro deste ção movimentará 150 ano, quando entrou em milhões de toneladas operação o graneleiro de minério de bauxita Log-In Tambaqui. A a granel no período. outra substituição está “Com o lançamen- prevista para o início de to ao mar do Log-In 2014, quando o Log-In Tucunaré, supera- Tucunaré começará a mos mais da metade operar. de nosso projeto de Para a construção construção. Em 2015, da embarcação, foram completaremos nossa O Log-In Tucunaré utilizadas cerca de 13 construção com a en- mil toneladas de chapas trega dos outros três porta-contêineres”, de aço. Com 245 metros de comprimento, 40 disse o presidente da Log-In, Vital Jorge metros de largura e calado de 11,58 metros, Lopes. O investimento estimado no navio o navio tem capacidade individual de 80.100 é de R$170 milhões. toneladas de porte bruto e transporta cerca O graneleiro foi construído para atender de 75 mil toneladas de bauxita por viagem. ao contrato de 25 anos com a Alunorte, De acordo com a Log-In, o projeto da em- realizando viagens consecutivas entre os barcação levou em conta a natureza da carga

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a ser transportada e a região onde irá atuar. iniciativa da Log-In para contribuir com Sua hidrodinâmica foi projetada para que a formação e a capacitação da Marinha tenha melhor navegabilidade, deslocando Mercante brasileira. “O Log-In Tucunaré, baixo volume de água para não prejudicar a assim como o Log-In Tambaqui, terá ca- população ribeirinha, que sofre com a erosão marotes extras com o objetivo de receber das suas margens, agravada pela navegação estudantes e auxiliá-los em sua formação fluvial. Seu consumo de combustível e sua como marítimos”, explicou o presidente da emissão de gases consideraram padrões empresa. A Log-In escolheu como madri- superiores de eficiência. nha da embarcação Fernanda Gonçalves de O Log-In Tucunaré foi adaptado para Carvalho, esposa do presidente do Fundo da funcionar como sala de aula. Segundo Marinha Mercante (FMM), Gustavo Lobo. Lopes, o Programa Navio-Escola é uma (Fonte: Portos e Navios)

ASSUNÇÃO DE CARGOS POR ALMIRANTES

– Vice-Almirante Ilques Barbosa Junior, de Desportos da Marinha e comandante comandante do 1o Distrito Naval, em 22/3; do Centro de Educação Física Almirante – Contra-Almirante (FN) Jorge Arman- Adalberto Nunes, em 4/4; do Nery Soares, comandante da Tropa de – Vice-Almirante Sergio Roberto Fer- Reforço, em 26/3; nandes dos Santos, comandante em chefe – Contra-Almirante Afrânio de Paiva da Esquadra, em 5/4; Moreira Junior, diretor do Pessoal Militar – Contra-Almirante Flávio Macedo da Marinha, em 28/3; Brasil, coordenação de Manutenção de – Contra-Almirante Wagner Lopes de Meios da Diretoria-Geral do Material da Moraes Zamith, diretor do Departamento Marinha, em 5/4; de Ciência e Tecnologia Industrial da – Almirante de Esquadra Luiz Fernando Secretaria de Produtos de Defesa do Mi- Palmer Fonseca, comandante de Operações nistério da Defesa, em 28/3; Navais e diretor-geral de Navegação, em 8/4; – Contra-Almirante (FN) Paulo Martino – Contra-Almirante Paulo Cesar Demby Zuccaro, comandante da Divisão Anfíbia, Corrêa, secretário de Acompanhamento em 28/3; e Estudos Institucionais do Gabinete de – Almirante de Esquadra Elis Treidler Segurança Institucional da Presidência da Öberg, diretor-geral do Pessoal da Marinha, República, em 8/4; em 1/4; – Contra-Almirante Renato Batista de – Vice-Almirante (FN) Washington Melo, subchefe de Logística e Plano Diretor Gomes da Luz Filho, comandante da Força do Comando de Operações Navais, em 9/4; de Fuzileiros da Esquadra, em 3/4; – Contra-Almirante (Md) Luiz Claudio – Contra-Almirante Sérgio Nathan Barbedo Fróes, diretor do Centro de Medi- Marinho Goldstein, diretor do Centro de cina Operativa da Marinha, em 10/4; Inteligência da Marinha, em 3/4; – Vice-Almirante Cláudio Portugal de – Contra-Almirante Almir Garnier Santos, Viveiros, diretor de Portos e Costas, em 11/4; diretor da Escola de Guerra Naval, em 4/4; – Contra-Almirante Roberto Gondim – Contra-Almirante (FN) Luiz Artur Carneiro da Cunha, diretor do Pessoal Civil Rodrigues Nunes, presidente da Comissão da Marinha, em 12/4;

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– Contra-Almirante Walter Eduardo – Contra-Almirante (IM) Marcelo Bombarda, chefe do Estado-Maior da Es- Barreto Rodrigues, diretor do Centro de quadra, em 12/4; Controle Interno da Marinha, em 22/4; – Contra-Almirante Oscar Moreira – Contra-Almirante Edervaldo Teixeira da Silva Filho, diretor do Instituto de de Abreu Filho, comandante do 6o Distrito Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira, Naval, em 23/3; em 15/4; – Almirante de Esquadra (FN) Fernando – Vice-Almirante Domingos Savio Al- Antonio de Siqueira Ribeiro, comandante- meida Nogueira, comandante do 9o Distrito geral do Corpo de Fuzileiros Navais, em Naval, em 16/4; 24/4; – Contra-Almirante Cid Augusto Claro – Contra-Almirante Flávio Soares Júnior, diretor do Centro de Análises de Ferreira, comandante da 1a Divisão da Sistemas Navais, em 16/4; Esquadra, em 24/4; – Contra-Almirante Paulo Cesar Mendes – Contra-Almirante (Md) Sérgio Perei- Biasoli, comandante da Segunda Divisão da ra, diretor do Centro Médico Assistencial Esquadra, em 16/4; da Marinha, em 24/4; – Contra-Almirante (FN) Nélio de – Almirante de Esquadra (RM1) Gil- Almeida, comandante do Centro de De- berto Max Roffé Hirschfeld, coordenador- senvolvimento Doutrinário do Corpo de geral do Programa de Desenvolvimento Fuzileiros Navais, em 16/4; de Submarino com Propulsão Nuclear, – Contra-Almirante (IM) Hugo Caval- em 26/4; cante Nogueira, diretor de Administração – Contra-Almirante Carlos Alberto da Marinha, em 17/4; Matias, comandante da Força Aeronaval, – Contra-Almirante (Md) Edmar da em 26/4; Cruz Arêas, diretor do Centro de Perícias – Vice-Almirante (IM) Helio Mourinho Médicas da Marinha, em 17/4; Garcia Junior, diretor de Abastecimento da – Contra-Almirante Newton de Almeida Marinha, em 29/4; Costa Neto, gerente do Empreendimento – Contra-Almirante Glauco Castilho Modular de Obtenção da Infraestrutura para Dall’Antonia, subchefe de Organização do Construção e Manutenção de Submarinos, Estado-Maior da Armada, em 29/4. em 17/4; – Almirante de Esquadra Eduardo Ba- – Vice-Almirante (FN) Alexandre José cellar Leal Ferreira, comandante da Escola Barreto de Mattos, comandante do Pessoal Superior de Guerra, em 6/5; de Fuzileiros Navais, em 19/4; – Contra-Almirante Carlos Frederico – Contra-Almirante Marcos Sampaio Carneiro Primo, diretor de Aeronáutica da Olsen, comandante da Força de Submari- Marinha, em 6/5; nos, em 19/4; – Almirante de Esquadra Eduardo – Contra-Almirante Hermann Iberê Monteiro Lopes, chefe do Estado-Maior Santos Boehmer Junior, comandante do da Armada, em 7/5; Centro de Instrução Almirante Alexandri- – Vice-Almirante Paulo Mauricio Farias no, em 19/4; Alves, vice-chefe de Logística do Estado- – Contra-Almirante Wilson Pereira de Maior Conjunto das Forças Armadas, em Lima Filho, subchefe de Organização e 7/5; Assuntos Marítimos do Comando de Ope- – Contra-Almirante (FN) José Luiz rações Navais, em 19/4; Corrêa da Silva, subchefe de Inteligên-

248 RMB2oT/2013 NOTICIÁRIO MARÍTIMO cia Operacional da Chefia de Operações – Contra-Almirante Victor Cardoso Go- Conjuntas do Estado-Maior Conjunto das mes, comandante do Centro de Instrução Forças Armadas, em 7/5; Almirante Graça Aranha, em 10/5; – Vice-Almirante Luiz Guilherme Sá – Vice-Almirante Liseo Zampronio, de Gusmão, diretor de Obras Civis da comandante do 8o Distrito Naval, em Marinha, em 8/5; 15/5; – Contra-Almirante Rodolfo Frederico – Vice-Almirante Celso Luiz Nazare- Dibo, subchefe de Inteligência Operacional th, chefe de Gabinete do Comandante da do Comando de Operações Navais, em 9/5; Marinha, em 29/5.

PASSAGEM DA COGESN

Foi realizada, em 26 de abril último, O primeiro problema foi a escolha do a cerimônia de passagem de cargo na local onde seria construído o Estaleiro Coordenadoria-Geral do Programa de e a Base Naval de Submarinos. Um dos Desenvolvimento de Submarino com Pro- locais cogitados seria na parte marítima pulsão Nuclear (Cogesn). Assumiu como da Estação Rádio da Marinha em Campos coordenador-geral o Almirante de Esquadra Novos; outro sugerido seria em Aratu, em (RM1) Gilberto Max Roffé Hirschfeld, Salvador, até se chegar ao atual local, em em substituição ao Almirante de Esquadra Itaguaí. (Refo) José Alberto Accioly Fragelli. A O segundo foi um local para colocar a cerimônia foi presidida pelo diretor-geral Cogesn. Um primeiro espaço foi um peque- do Material da Marinha, Almirante de no prédio na Ilha Fiscal, depois um prédio Esquadra Arthur Pires Ramos. antigo na Rua São Bento, até chegarmos ao prédio atual, quando o Centro de Eletrônica DESPEDIDA DO ALMIRANTE da Marinha (CETM) cedeu-nos um andar. FRAGELLI Assim, cada problema foi sendo resolvido ao seu tempo, quando então chegamos ao “O Livro do Eclesiaste ensina que ‘todas mais complexo até então, a feitura dos as coisas que Deus faz são boas a seu tem- convênios iniciais, para após realizarmos po, embora ninguém possa compreender a os contratos comerciais, que foram discu- obra divina de um extremo a outro’. Ensina tidos por nove meses. Terminamos com também que ‘para tudo há um tempo, para um documento de cerca de 5 mil páginas, cada coisa há um momento’. que hoje já supera 80 mil páginas com os Creio que é tempo de encerrar mais Termos Aditivos. essa jornada, que começou em 3 de ja- Depois vieram as licenças ambientais, neiro de 2008, quando aceitei o convite burocráticas e difíceis, com audiências do Almirante Moura Neto para ser o co- públicas e muita negociação, até hoje não ordenador-geral do Projeto de Submarino encerradas pela falta das licenças da Comis- com Propulsão Nuclear e, assim, iniciar são Nacional de Energia Nuclear. a criação da Cogesn. No início tudo foi Foram então iniciadas as obras em muito difícil por ignorar a grandeza do Itaguaí, culminadas com a inauguração trabalho que estava sendo colocado em do complexo industrial e administrativo minhas mãos. da Unidade de Fabricação de Estruturas

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Metálicas no dia 1o de março do corrente, e Capitão de Corveta Vale e a todo meu que totalizaram 47 prédios e 55,591 m2 de precioso estado-menor, sempre pronto a me obras civis. Setenta por cento das obras agradar e a me servir lealmente. marítimas do Estaleiro e da Base Naval já Agradeço de forma especial ao meu estão concluídos. companheiro de jornada Almirante Bezer- Paralelamente, o primeiro submarino ril, amigo alegre e profissional, comparsa convencional está sendo construído no desta grande aventura, junto com o seu Brasil e na França. As seções de vante, Centro Tecnológico da Marinha em São feitas na França, deverão chegar na Ufem Paulo. até a primeira quinzena de junho. Agradeço também aos companheiros da O projeto do submarino com propulsão Odebrecht, Romildo e Fábio Gandolfo; da nuclear começou em 2 de julho passado, Nuclep, e a seu presidente, Jaime Cardo- nos escritórios em São Paulo da Cogesn, so; da DCNS, Pierre Quinchon; da CBS, dentro do Centro Tecnológico da Marinha Sérgio Cunha; e da ICN, Pascale Leroy, em São Paulo, após a conclusão dos cur- que nunca faltaram à Cogesn quando deles sos feitos por 31 dos nossos engenheiros precisamos. navais na França, onde passaram cerca Agradeço também a meu calouro e ami- de 20 meses, absorvendo transferência de go Almirante Othon, que me ensinou e me conhecimento vital para o projeto. introduziu no conhecimento dos assuntos Assim, pouco a pouco, em que cada complexos da energia nuclear. coisa há seu tempo, o terreno foi limpo, Não poderia deixar de agradecer tam- aplainado e semeado, e os primeiros frutos bém a meu querido chefe e amigo, Almiran- começaram a aparecer. te Pires Ramos, meu porto seguro, que, com Creio que agora é tempo de agradecer. sua inteligência, tranquilidade e fidalguia, É tempo de agradecer a Deus por tudo o me deu segurança para tomar decisões que vivi na Marinha, pelos amigos e com- difíceis, respaldada sempre no seu apoio. panheiros da Turma Dedo e pelos que fiz Agradeço também ao Almirante Moura ao longo da carreira, iniciada há 59 anos, Neto, com o qual comecei este projeto des- quando ingressei no Colégio Naval, em de seu início e que no presente momento 1954. É tempo também de agradecer a prestigia esta passagem com sua presença Deus pela equipe maravilhosa que tive na como comandante da Marinha. Cogesn, sem a qual não teríamos alcançado É tempo também de agradecer a uma os sucessos realizados até agora. Devido à pessoa muito especial, minha mulher razão de serem muitos, não poderei citar to- Beatriz, que, com seu carinho e amor por dos, mas que todos se sintam representados mim, teve influência fundamental em mi- pelos nomes do Almirante Pinto Correa, nha carreira. meu oficial executivo; dos gerentes dos É tempo também de desejar ao meu Empreendimentos Modulares, Almirantes sucessor, meu amigo Almirante Max, toda Garcia, Hecht, Neves e Alan; e dos oficiais sorte na condução desse grande projeto, mais próximos que se destacaram, os Capi- pois as demais qualidades, de inteligência tães de Mar e Guerra Luiz Antonio, Ferreira e profissionalismo, ele as tem de muito. Marques, Hildo, Ivan, Álvaro, Cupello Creio que é tempo de terminar. e Sergio Andrade. Agradeço à pequena Li de um certo autor que ‘daquele equipe, fiel e amiga, que me acompanhou de quem você tira tudo não é mais seu até agora, Capitão de Mar e Guerra Teles dependente, ele está livre novamente’.

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A Marinha e os navios, desde a minha deixam claro que a rota, até este ponto, foi juventude, foram sempre tudo para mim. traçada por mãos firmes ao timão. Assim, embora com muitas saudades, eu Por dever de justiça, expresso meu estou livre. Peço a Deus que me ajude a profundo reconhecimento pessoal e os usar bem esta liberdade. agradecimentos do Setor do Material Meu coração permanece na Marinha e pela inestimável colaboração prestada, nos navios. ressaltando sua participação em algumas Que Deus proteja todos.” importantes realizações: primeira visita ao terreno do Estaleiro e Base Naval (EBN) AGRADECIMENTO E BOAS- na Ilha da Madeira em Itaguaí; assinatura VINDAS DO ALMIRANTE PIRES do contrato de parceria estratégica entre RAMOS o Brasil e a França; inauguração das ins- talações da Coordenadoria do Programa “Após quatro anos e sete meses de de- de Desenvolvimento de Submarino com dicação e profícuas realizações no cargo Propulsão Nuclear (Cogesn); realização de de coordenador-geral do Programa de audiências públicas, em Itaguaí e Muriqui, Desenvolvimento do Submarino com Pro- para obtenção das licenças ambientais; iní- pulsão Nuclear, despede-se hoje do cargo o cio da obra de terraplanagem da Unidade de Almirante de Esquadra (Refo) José Alberto Fabricação de Estruturas Metálicas (Ufem); Accioly Fragelli. início da construção do S-BR1 na França; Neste período, deu contínuas e inde- início da obra de estaqueamento das fun- léveis demonstrações de determinação, dações da Ufem; assinatura do acordo de inteligência, perseverança, entusiasmo pelo posse temporária de dois anos do terreno do serviço e intensa vibração, traços marcantes EBN com a Nuclep; emissão, pelo Ibama, em sua longa e brilhante carreira naval. da licença de instalação do EBN; inaugu- Sua reconhecida competência profissio- ração da Escola de Projeto de Submarinos nal e a clara percepção das nuances ineren- em Lorient; inauguração do auditório no tes às tarefas afetas ao coordenador-geral canteiro de obras da Ufem; visita do mi- resultaram em uma eficiente condução dos nistro da Defesa, Nelson Jobim, à Cogesn mais variados trabalhos realizados, bem e às obras em Itaguaí; início da construção como na superação dos desafios diários que dos S-BR no Brasil, presidida pela Presi- se apresentavam na tentativa de impedir a denta da República, Dilma Rousseff; visita consecução de um dos mais audaciosos do ministro da Defesa, embaixador Celso anseios da Marinha do Brasil, qual seja Amorim, às obras em Itaguaí; inauguração projetar e construir seu primeiro submarino do refeitório e da cozinha no canteiro de com propulsão nuclear. obras da Ufem; visita do chefe do Estado- A dimensão e a complexidade de tais Maior da Marinha Nacional da França; desafios eram diretamente proporcionais conclusão das obras de perfuração do túnel ao calibre da conquista almejada, ou seja, do EBN e corte da primeira chapa do S-BR imensas. A forma firme e serena como fo- 1; primeira inspeção técnica no ET-Prosub ram enfrentados corrobora o acerto da alta em Houilles e Cherbourg; prontificação dos administração naval ao designar o Almi- quatro motores do S-BR 1; encerramento rante de Esquadra Fragelli para o exercício das atividades da Escola de Projetos de deste cargo tão desafiador. Os evidentes Submarinos em Lorient; visita do chefe resultados já alcançados pelo programa do Estado-Maior da Marinha Nacional da

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França ao ET-Prosub; início do projeto assumir a Coordenadoria-Geral do Progra- de Submarino com Propulsão Nuclear ma de Desenvolvimento do Submarino de realizado no CTMSP; visita do 1o Lord do Propulsão Nuclear. Neste momento, reitero Almirantado Britânico à Ufem e ao EBN; o agradecimento não só por me conceder o inauguração do túnel do EBN; visita do privilégio de participar desse grandioso Pro- comandante da Marinha do Canadá à Ufem grama, como permitir que continue a servir e ao EBN; visita do chefe de Operações a essa bela instituição, a Marinha do Brasil. Navais dos Estados Unidos da América Prezado ministro da Defesa, embaixador à Ufem e ao EBN; inauguração da Ufem, Celso Amorim, a sua presença tem para presidida pela Presidenta Dilma Rousseff; mim significado especial e, mais uma vez, visita da Frente Parlamentar de Defesa a demonstra o prestígio com que distingue a Itaguaí; visita do inspetor das Forças Ar- nossa Marinha. madas da Marinha Nacional da França às Aos ex-ministros e ex-comandante da obras em Itaguaí; e visita do comandante da Marinha, Almirantes de Esquadra Karam, Marinha do Peru à Ufem e ao EBN. Mauro Cesar e Guimarães Carvalho, mem- Almirante Fragelli! Este é apenas um re- bros do Almirantado, chefes navais e de- sumo de suas muitas realizações. Parabéns mais autoridades, obrigado pelas presenças por mais uma missão muito bem cumprida que abrilhantam esta cerimônia. e manifestos votos de continuado sucesso, Ao caro amigo Almirante Pires Ramos, muita saúde e felicidades, extensivos à diretor-geral do Material da Marinha, meu digníssima família. chefe a partir deste momento, conte com a Bravo Zulu! minha lealdade. Ao Almirante de Esquadra (RM1) Gil- Agradeço as presenças de amigos, fa- berto Max Roffé Hirschfeld, que assume miliares, companheiros da Turma Ricardo tão honroso e importante cargo, apresento de Moraes, ex-subordinados, colegas de os meus cumprimentos e boas vindas ao praça-d’armas e comandantes, constantes Setor do Material, certo do sucesso que incentivadores de minha carreira e que, com alcançará como coordenador-geral do Pro- certeza, partilham comigo esse momento grama de Desenvolvimento de Submarino especial. Suas presenças muito me honram. com Propulsão Nuclear, fruto de sua longa Almirante Fragelli, não foi surpresa a experiência naval e dos seus inegáveis forma transparente, clara, objetiva e, prin- atributos morais e profissionais, manifesto cipalmente, amiga com que me transmitiu votos de sucesso, saúde e felicidades, ex- as informações e suas preocupações refe- tensivos à sua digníssima família.” rentes ao cargo que ora assumo. Agradeço também ao chefe naval o trato e as atenções PALAVRAS INICIAIS DO ALMI- a mim dispensadas desde a época em que RANTE MAX o senhor exercia a função de chefe do Estado-Maior da saudosa Força de Con- “Há poucos dias, ao transmitir os cargos tratorpedeiros. Aproveito a oportunidade de Comandante de Operações Navais e para desejar felicidades extensivas a Sra. de diretor-geral de Navegação, deixei o Beatriz e família. serviço ativo da Marinha. Com orgulho e alegria, passo a fazer par- Naquela ocasião, agradeci ao meu co- te dessa entusiasmada e competente equipe. mandante, o Almirante de Esquadra Moura Esse Programa já ultrapassou as frontei- Neto, pela confiança e pelo convite para ras da Marinha, é reconhecido pela socie-

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dade e tornou-se um programa de Governo e de Estado. Tenho consciência de que o desafio é grande. A nacionalização, a absorção de novas tecnologias e a capa- citação de nosso pes- soal são fundamentais para que possamos atingir com sucesso o objetivo final: a cons- Transmissão do cargo de Cogesn trução do submarino de propulsão nuclear. É sempre bom lem- Adriana e Ana, pelo constante incentivo, e brar que não estamos falando da área nu- à minha neta Olívia pela sua existência. À clear, pois nessa área somos independentes. minha mulher Mariza, pelo constante apoio A conquista das diversas etapas para irrestrito e, em especial, pela convivência alcançarmos o objetivo final resultará no amorosa que pauta nossa relação. fortalecimento de segmentos da indústria Aos meus pais, pela formação do meu nacional e na inclusão do Brasil entre os caráter. Mesmo ausentes, mais uma vez poucos países no mundo com tal capaci- contarei com vocês nessa nova jornada. dade. Alcançaremos, assim, significativos Finalmente, reitero os agradecimentos a avanços tecnológicos para o País. todos que com suas presenças conferem um Permitam-me os últimos agradecimentos. brilho especial a esta cerimônia. Aos meus filhos Gustavo e Victor e às noras Muito obrigado.”

PASSAGEM DE COMANDO DA ESG

Foi realizada, em 6 de maio último, na de Guerra (ESG). Tomou posse como cidade do Rio de Janeiro, a cerimônia de comandante da instituição o Almirante de passagem de comando da Escola Superior Esquadra Eduardo Bacellar Leal Ferreira, em substituição ao Ge- neral de Exército Tú- lio Cherem, que esteve à frente da instituição durante dois anos. O ministro da De- fesa, Celso Amorim, que participou da so- lenidade, destacou que a ESG, criada há 64 anos, chega aos dias Ministro da Defesa empossa o AE Leal Ferreira na ESG atuais com o desafio

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de se inserir num mundo que se altera a No discurso de despedida, o General cada dia. “A ESG nasceu sob o signo da Túlio Cherem lembrou dos avanços obtidos bipolaridade. Hoje, vivemos num mundo a partir da expansão da escola e a oferta de muito diferente, marcado pela multipolari- novos cursos, bem como a aproximação dade. Um mundo em que os nossos rivais com a sociedade. tornaram-se principais aliados. Um mundo Compareceram à cerimônia, entre totalmente novo e cheio de surpresas”, disse. outros, os comandantes da Marinha, Esse cenário, de acordo com o ministro, Almirante de Esquadra Julio Soares de reforça o papel das Forças Armadas, seja Moura Neto, do Exército, General do Exér- na defesa da pátria ou das riquezas de que cito , e da Aeronáutica, o país dispõe. “Temos recursos humanos e Tenente-Brigadeiro do Ar Juniti Saito; o naturais que têm que ser protegidos, e isso chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças é tarefa das Forças Armadas”, ressaltou Armadas, General José Carlos De Nardi; e Amorim, que vê esforços para “ajudar a o secretário-geral do Ministério da Defesa, reequipar de forma adequada as Forças Ari Matos. Armadas, para que elas estejam à altura da (Fonte: www.defesa.gov.br/index.php/ defesa deste nosso grande país”. ultimas-noticias)

PASSAGEM DOS CARGOS DE COMANDANTE DE OPERAÇÕES NAVAIS E DE DIRETOR-GERAL DE NAVEGAÇÃO

Foi realizada, em 8 de abril último, Procurei ser fiel à mensagem inicial aos a cerimônia de passagem dos cargos de meus comandados, mensagem de otimis- comandante de Operações Navais e de mo. Otimismo por sermos partícipes de diretor-geral de Navegação. Assumiu o um importante momento da nossa Marinha, Almirante de Esquadra Luiz Fernando momento de renovação, de aquisição de Palmer da Fonseca, em substituição novos meios, de recuperação da capacidade ao Almirante de Esquadra Gilberto operativa, de avanços tecnológicos signifi- Max Roffé Hirschfeld. A cerimônia foi cativos, desenvolvidos por nós, brasileiros. presidida pelo comandante da Marinha, Nesse sentido, a todo momento busquei Almirante de Esquadra Julio Soares de o equilíbrio nas minhas opiniões e ações Moura Neto. entre o futuro e a recuperação da capaci- dade operativa dos meios. Quanto a essa DESPEDIDA E AGRADECIMENTO recuperação, objetivo principal do meu DO ALMIRANTE MAX comando, agradeço o apoio da Diretoria- Geral do Material da Marinha, na pessoa “O dia de hoje tem para mim um signi- do Almirante de Esquadra Arthur Pires ficado especial por dois motivos. Ramos, e a seus subordinados pelo esfor- O primeiro, por estar transmitindo os ço e resultados obtidos, proporcionais às cargos de comandante de Operações Navais dificuldades existentes. e de diretor-geral de Navegação após um Ainda fiel ao meu compromisso inicial, ano e quatro dias vividos intensamente, pautei minhas ações no trabalho, na cria- com satisfação e orgulho indescritíveis. tividade, no bom senso, e, em especial, na

254 RMB2oT/2013 NOTICIÁRIO MARÍTIMO busca de um adequado gerenciamento dos Agradeço ao ministro da Defesa, embai- recursos, sejam de material, de pessoal ou xador Celso Amorim, cuja presença nesta financeiros. Procurei aplicar o conhecimen- cerimônia demonstra o prestígio com que to adquirido nessas quase cinco décadas distingue a nossa Marinha. servindo à Marinha. Aos membros do Almirantado com Como foi bom ter a oportunidade de quem tive o privilégio de conviver, meus planejar no mais alto escalão do setor cumprimentos pelo profissionalismo na operativo diversas operações, inclusive do busca constante do melhor para a nossa exterior, e de contribuir para o desenvol- Marinha e obrigado pelo companheirismo vimento do País, participando de projetos e amizade. e programas referentes ao poder marítimo. Agradecimento especial faço ao meu Enfim, como foi bom ser o comandante comandante, Almirante de Esquadra Ju- de Operações Navais e diretor-geral de lio Soares de Moura Neto, comandante Navegação, ter como subordinadas 284 da Marinha, companheiro desde os bons organizações militares das 393 existentes tempos do Cais Norte, pelas orientações, na Marinha, poder comandar cerca de 57 fidalguia, amizade e pelo convite para as- mil homens e mulheres e ser o responsável sumir o importante e desafiador cargo de pela defesa e a proteção da Amazônia Azul coordenador-geral do Programa de Desen- e das águas interiores. volvimento de Submarino com Propulsão Tenho consciência que nada pode- Nuclear. Obrigado pela confiança em mim ria ser feito e não seria tão bom sem a depositada. qualidade dos trabalhos desenvolvidos Ao prezado amigo Almirante de Es- pelos meus subchefes, sob a harmoniosa quadra Palmer, além de agradecer o e correta coordenação dos meus chefes de apoio prestado pelo Setor do Pessoal ao estado-maior, os prezados amigos Vice- Setor Operativo, enquanto diretor-geral Almirantes Zanella e Garrone. Destaco, do Pessoal da Marinha, desejo sorte nesse especialmente, a iniciativa, a competên- inigualável comando. Sucesso, realizações cia e o apoio incondicional dos meus e felicidades extensivas à amiga Graça, sua subordinados diretos, comandante em esposa. Aproveite cada momento. O tempo chefe da Esquadra, comandante da Força passa rápido. de Fuzileiros da Esquadra, comandantes O segundo motivo de hoje ser um dia de de Distritos Navais, diretor de Portos e significado especial é que deixo o serviço Costas, diretor da Hidrografia e Navega- ativo. ção, comandante do Controle Naval do Há 48 anos, com 15 anos de idade, optei Tráfego Marítimo e do diretor do Cen- por fazer parte dessa bela instituição, a tro de Guerra Eletrônica da Marinha, a Marinha do Brasil. quem cumprimento pela excelência dos Vivi intensamente: embarquei nos comandos e direções. Aos senhores, aos mais variados tipos de navios, fiz parte seus subordinados e à minha tripulação, de estados-maiores, imediatei, comandei, o meu obrigado. Bravo Zulu! ah! O comando de um navio! Quantas Ao meu gabinete, na pessoa do seu recordações, quantas histórias para contar, chefe, o Capitão de Mar e Guerra Toledo quanto conhecimento operativo, técnico e e, mais recentemente, o Capitão de Mar e sociocultural armazenado! Aprendi a não Guerra Ibsen, o meu reconhecimento pelo temer o mar e sim a respeitá-lo. Também eficiente trabalho e pela amizade. tive oportunidade de servir em organiza-

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ções de terra, em gabinetes e na Escola Hirschfeld, que, após cerca de um ano de de altos estudos da Marinha, locais onde intensos e profícuos trabalhos, passa o Co- consolidei os ensinamentos que tive ao mando de Operações Navais e a Diretoria- longo da carreira. Geral de Navegação. Muito em breve deixarei de envergar o Possuidor de reconhecidos atributos uniforme que, há quase meio século, visto morais, profissionais e pessoais, dentre diariamente. Considero-o um símbolo: com os quais destaco lealdade, objetividade, ele somos iguais, marinheiros e fuzileiros. dinamismo, perspicácia, inteligência e Chegou o meu momento! Momento de capacidade, o Almirante Max conduziu, agradecimento e de despedida do serviço ativo. de modo impecável e exemplar, os seto- Amigos da Turma Ricardo de Moraes, res Operativo e da DGN, logrando total importantes incentivadores da minha car- êxito na consecução das diversificadas e reira, obrigado pelas constantes manifesta- complexas tarefas que lhe foram confia- ções de carinho e amizade. das, principalmente em face dos muitos Agradecimento a todos aqueles, subor- compromissos com que a instituição tem dinados, pares e superiores com quem tive se deparado nos últimos tempos. o privilégio de servir, desde o primeiro Dotado de um modo afável de ser, embarque como oficial no saudoso Contra- granjeou o respeito e a admiração de todos torpedeiro Paraíba, o velho ‘Manila’, pelos com quem conviveu na comissão, o que lhe ensinamentos e companheirismo. Tenham facultou uma liderança natural, garantindo a certeza que também são responsáveis por a superação dos óbices que se apresentaram eu ter alcançado a mais alta patente, a de e zelando pelos meios navais, aeronavais almirante de esquadra. e de fuzileiros navais, além de prestar um Aos meus pais que, em março de 1965, me assessoramento seguro e oportuno ao co- conduziram ao Colégio Naval e que infeliz- mandante da Marinha. mente já estão ausentes, mais uma vez con- Não tenho dúvidas quanto ao seu su- tarei com vocês na minha próxima jornada. cesso, cabendo ressaltar, sem a intenção À minha família, e em particular à mi- de abranger o muito que foi feito, algumas nha mulher Mariza, a meus filhos Gustavo de suas principais conquistas: e Victor e às noras Adriana e Ana. Com – planejamento, em alto nível, das eles divido este especial momento. Suas Operações Amazônia 2012; Líbano II e III; presenças, a convivência amorosa e o apoio Ágata IV, V e VI; Panamax 2012; e Atlânti- constante foram fundamentais na minha co III, sendo esta última como comandante caminhada. do Teatro de Operações Marítimo; Ao me despedir do serviço ativo, reitero – apoio aos órgãos de segurança pública os sentimentos que me invadem, de dever do Governo do Estado do Rio de Janeiro, cumprido e de orgulho. Orgulho por per- nas Operações Rio V, VI e VII; tencer a nossa querida Marinha do Brasil.” – ações em proveito da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento AGRADECIMENTO E BOAS- Sustentável, a Rio + 20; VINDAS DO COMANDANTE DA – planejamento da participação da MARINHA Força por ocasião dos grandes eventos que ocorrerão no País, como a Copa das “Hoje é dia de nos despedirmos do Al- Confederações e a Jornada Mundial da mirante de Esquadra Gilberto Max Roffé Juventude, ambas em 2013; a Copa do

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Mundo de Futebol, em 2014; e os Jogos rante, tendo seu pavilhão tremulado nos Olímpicos, em 2016; mastros da 2a Divisão da Esquadra, da Es- – condução da maior operação logística cola de Guerra Naval e dos 1o e 5o Distritos já realizada em âmbito do Proantar, a An- Navais. Já como almirante de esquadra, tártica XXXI; assumiu a chefia de Logística do Estado- – transferência para o Setor Operativo de Maior Conjunto das Forças Armadas, no diversos meios, tais como o Navio-Patrulha Ministério da Defesa, além dos cargos que Oceânico Amazonas, o Navio-Patrulha hoje passa. Macaé, os Avisos Hidroceanográficos Flu- Por outro lado, o difícil encargo que me viais Rio Tocantins e Rio Xingu, as quatro cabe, de transmitir-lhe as nossas despedi- primeiras aeronaves MH-16 Seahawk e a das, é bastante amenizado, na medida em segunda aeronave UH-15 Super-Cougar; que sabemos que continuará junto a nós, – elevação da Agência da Capitania dos como coordenador-geral do Programa de Portos em Porto Seguro, na Bahia, para Desenvolvimento de Submarino com Pro- a categoria de Delegacia; e ativação das pulsão Nuclear (Cogesn). Agências de Aracati, no Ceará; de São João Prezado Almirante Max! No momento da Barra, no Rio de Janeiro; e de Cruzeiro em que V. Exa. encerra o seu ciclo à frente do Sul, no Acre; dos setores Operativo e da DGN, gostaria – coordenação do Plano Plurianual de que levasse a certeza do dever muito bem Aquisição de Residências, possibilitando o cumprido, ao mesmo tempo que apresento início da construção de 208 PNR nas áreas os mais sinceros votos de alegrias e de con- de jurisdição dos Comandos dos 2o, 3o, 4o, tinuado sucesso no cargo que assumirá em 5o, 6o, 7o e 8o Distritos Navais; e breve, extensivos à sua esposa, D. Mariza, – reformulação do Plano de Desenvol- filhos e neta, ao mesmo tempo em que ex- vimento do Programa Oceano (Pladepo). presso a minha gratidão pelo significativo Entretanto, esta ocasião não se resume trabalho desenvolvido. apenas a uma transmissão de cargos, uma Bons ventos e que Deus o acompanhe! vez que o Almirante Max está deixando o Seja muito feliz! serviço ativo e se transferindo para a reser- Ao Almirante de Esquadra Luiz Fer- va, após uma belíssima singradura de pouco nando Palmer Fonseca, apresento as mais de 48 anos, o que dá ao comandante da boas-vindas e formulo votos de muitas Marinha a oportunidade de apresentar-lhe felicidades e realizações, na convicção de os agradecimentos da instituição. que seus reconhecidos atributos, aliados Após um período de aprendizado, ini- à sua bagagem profissional, garantirão a ciado, em 1965, no Colégio Naval e com- continuidade das atividades desenvolvidas plementado em Villegagnon e na Viagem pelo Comando de Operações Navais e pela de Instrução do Navio-Escola Custódio de DGN e contribuirão para o pleno êxito Mello, principiou sua vida como oficial no no cumprimento da missão que ora lhe é Contratorpedeiro Paraíba, passando por di- confiada.” versas outras comissões, cabendo destacar os comandos do Navio-Patrulha Pampeiro PALAVRAS INICIAIS DO e da Corveta Inhaúma, consolidando, na ALMIRANTE PALMER plenitude, a sua liderança. Em 31 de julho de 2001, fruto da sua “Os interesses do Brasil no mar e nas competência, recebeu as platinas de almi- bacias fluviais indicam, por si só, que uma

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Marinha forte é imprescindível. Quatro determinação é que tenham sempre pre- milhões e 500 mil km2 de espaço marítimo sente que a sociedade anseia por sentir-se a ser protegido e ordenado; 40 mil km de respaldada por um poder combatente crível rios navegáveis, grande parte permeando no mar; confiar que as águas jurisdicionais fronteiras ainda não vivificadas; pesquisas brasileiras estão protegidas e que nelas num continente antártico ainda em disputa; impera a ordem; estarmos prontos para participação em missões sob a égide da os socorro e salvamento em nossa área ONU no Haiti e no Líbano; e crescente in- de responsabilidade; termos nosso litoral teração com o vizinho continente africano, e portos bem cartografados e sinalizados fundamentada em laços históricos e cul- e previsões de tempo no mar sempre dis- turais compõem uma moldura que requer poníveis; controlarmos e formarmos com aprestamento, prontidão e presença de um eficácia a Marinha Mercante; enfim, por Poder Naval com capacidade oceânica, nos fazermos presentes, atuantes e fortes costeira e fluvial. É para atender a estes re- na imensidão de nossas águas e no interior querimentos que o Comando de Operações de nossos rios. Navais deve preparar e empregar as forças Perguntado recentemente por um aluno navais, aeronavais e de fuzileiros navais do Colégio Naval sobre qual a virtude mais da Marinha. Sem dúvida, tarefa de grande importante a ser observada por um oficial, envergadura que vem sendo cumprida com eu lhe respondi que é o comprometimento extraordinário esforço. É assim que, neste com a Marinha, pois nele se juntam a momento, os navios-patrulha Amazonas, lealdade, a honestidade de propósito, a Gravataí, Guaporé, Goiana, Piratini, disciplina, a coragem moral, a tenacidade Poti, Pedro Teixeira, Apa e Macau se e, em suma, todas as virtudes indispensá- encontram no mar e em rios, zelando pelo veis a um marinheiro. Foi como ele que patrimônio brasileiro; que a Fragata Consti- há 41 anos iniciei minha vida como oficial tuição navega nas proximidades do Líbano de Marinha no serviço hidrográfico, e é participando de Missão da ONU; que os nele que, ainda hoje, encontro a energia navios polares Almirante Maximiano e Ary indispensável à vida naval. É este mesmo Rongel e o Navio de Socorro Submarino comprometimento que eu lhes ofereço a Felinto Perry realizam a Comissão An- partir de agora, juntamente com a identi- tártica XXXI; e que 249 fuzileiros navais dade que me trouxe até aqui. É este mesmo e marinheiros compõem, no Haiti, o 17o comprometimento que lhes será exigido, contingente do Brasil. para que possamos juntos bem satisfazer Ao me dirigir pela primeira vez a todos os anseios da Nação no mar. os comandantes e tripulações dos Distritos Assumir o mais alto cargo operativo Navais, forças e meios subordinados, assim da Marinha é motivo de enorme orgulho como àqueles da Diretoria de Hidrografia e para todo oficial. Este sentimento, que me Navegação, da Diretoria de Portos e Cos- acompanhará para sempre, só foi possível tas, das capitanias dos Portos, delegacias pela indicação do Almirante de Esquadra e agências espalhadas por todo o País e Julio Soares de Moura Neto, comandante das demais organizações subordinadas, da Marinha, a quem deixo registrado meu expresso o meu orgulho e entusiasmo em sincero agradecimento pela confiança em poder, a partir de agora, compartilhar com mim depositada e a quem manifesto minha cada um o esforço para o cumprimento lealdade, assim como a determinação de de tão dignificante tarefa. Minha primeira continuar empregando toda minha energia

258 RMB2oT/2013 NOTICIÁRIO MARÍTIMO para a consecução dos objetivos maiores da nossa instituição. Para mim, esta ce- rimônia tão marcante é revestida de especial significado pela pre- sença neste convés do embaixador Cel- so Amorim, ministro da Defesa, a quem expresso a honra em tê-lo conosco neste Transmissão do cargo de CON/DGN momento. São também razão de grande honra as Geral da União, que muito me honram com presenças dos ex-ministros e comandantes suas presenças. da Marinha, os Almirantes de Esquadra Muito agradeço também aos amigos da Mauro Cesar Rodrigues Pereira e Roberto Turma Visconde de Ouro Preto, cuja maio- de Guimarães Carvalho, assim como do ria, no dia 6 de março de 1966, ingressando ex-ministro chefe do Estado-Maior das na Marinha, comigo, formou no portaló do Forças Armadas, Almirante de Esquadra Colégio Naval, bem como aos tripulantes Arnaldo Leite Pereira, e de chefes navais de outras singraduras, tão marcantes de um com os quais tive o privilégio de servir passado que insiste em não se afastar e de e conviver. Saibam os senhores que seus quem guardo o companheirismo e o espírito exemplos de dignidade e profissionalismo de equipe da vida de bordo como elementos são muito caros a mim e aos oficiais de fundamentais na lapidação da nossa per- diversas gerações que seguiram suas águas. sonalidade. Suas presenças são, para mim, Expresso meus agradecimentos ao emblemáticas de uma frase que, a bordo do Almirante de Esquadra Fernando Eduardo Cisne Branco, em 1982, expúnhamos bem à Studart Wiemer, chefe do Estado-Maior vista de todos que embarcavam, a enfatizar da Armada; ao Tenente-Brigadeiro do Ar que na Marinha só se trabalha em equipe: Aprígio Eduardo de Moura Azevedo, chefe ‘Eu não, nós’. de Operações Conjuntas do Estado-Maior O Serviço Ativo despede-se hoje de Conjunto das Forças Armadas; ao Tenente- um marinheiro autêntico e chefe naval por Brigadeiro do Ar Ricardo Machado Vieira, excelência. O Almirante Max é admirado e chefe do Estado-Maior da Aeronáutica; aos respeitado por todos que com ele convive- Almirantes de Esquadra Álvaro Luiz Pinto ram, sentimento maior a engrandecer a vida e Marcus Vinicius Oliveira dos Santos, de um oficial de Marinha. Coube a mim, por ministros do Superior Tribunal Militar; sorte, a honra e o privilégio de receber o ti- ao General de Exército João Carlos Vi- mão de suas competentes mãos. Espero ser lela Morgero, comandante de Operações capaz de continuar a bem governar esse bar- Terrestres; aos membros do Almirantado co que lhe foi tão caro. Seu entusiasmo, seu e demais autoridades federais, estaduais, profissionalismo e sua fidalguia, marcantes municipais, assim como do Poder Judiciá- por toda sua carreira, continuaram a me rio, do Ministério Público e da Advocacia- ensinar ao longo do período de passagem

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das atribuições, razão pela qual registro o especial a presença daqueles amigos que meu muito obrigado, associado aos votos conviveram com meus pais. Disse-me um de muitas felicidades junto à Marisa e filhos deles: ‘O céu hoje está em festa!’ Saibam e de bons ventos na nova responsabilidade todos estes amigos que tê-los aqui neste dia perante uma Marinha que poderá continuar faz com que eu sinta a presença deles entre contando com sua dedicação. nós em momento que, tenho certeza, teriam A presença, neste momento, de meus enorme prazer em vivenciar, e que não pode familiares – esposa, irmãos, cunhados e ser maior minha alegria ao constatar juntas amigos – se reveste de um caráter todo as gerações de uma Marinha que eles me especial. Juntamente com estes também é ensinaram a amar.”

TRANSMISSÃO DO CARGO DE CHEFE DO ESTADO-MAIOR DA ARMADA

Foi realizada, em 7 de maio último, desafios superados, bons de recordar, a a cerimônia de transmissão do cargo de convivência fraterna das praças-d’armas, as Chefe do Estado-Maior da Armada (Cema), partidas e os regressos ao lar, as mudanças presidida pelo comandante da Marinha, Al- de sede, de funções e de cargos, enfim, uma mirante de Esquadra Julio Soares de Moura carreira e uma aventura: a carreira, repleta Neto. Assumiu o Almirante de Esquadra de responsabilidades; a aventura, o prazer Eduardo Monteiro Lopes, em substituição de vivê-la. ao Almirante de Esquadra Fernando Edu- Não pretendo fazer aqui um retrospecto ardo Studart Wiemer. de toda a minha carreira naval, mas foram mais de quatro décadas vividas intensa- DESPEDIDA DO ALMIRANTE mente a bordo de navios, submarinos e or- WIEMER ganizações militares em terra, quando pude participar da evolução de uma Marinha “‘Somos todos defensores da bandeira, romântica para uma Marinha profissional, nos mastros da vitória a tremular! que goza de prestígio junto à nossa socie- Nós somos os Sentinelas dos Mares, do dade, bem como de respeito e admiração glorioso Brasil!’ internacional. Há 46 anos, após transpor o pórtico da Que privilégio ter sido distinguido com Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição de três comandos no mar, envergar a estrela Villegagnon e, naquele ‘campo santo’, can- dourada no peito, contar mais de mil dias tar com grande vibração, pela primeira vez, de mar e 10 mil horas de imersão e receber o Hino da Escola Naval, tinha como objetivo a Medalha Mérito Marinheiro com quatro maior simplesmente me capacitar para bem âncoras. servir à Marinha do Brasil. Não passava pela Que orgulho e realização profissional, imaginação daquele jovem que, entre os 192 como almirante, haver comandado a For- aspirantes da então Turma Barão de Teffé, ça de Submarinos, a Escola Naval, o 2o seria o único a exercer o cargo de Chefe do Distrito Naval e o Comando em Chefe da Estado-Maior da Armada. Esquadra. Ao olhar para trás, com a satisfação do Que honra chegar ao Almirantado e dever cumprido, vejo uma vida de muitos exercer os cargos de diretor-geral do Pes-

260 RMB2oT/2013 NOTICIÁRIO MARÍTIMO soal da Marinha, de comandante de Opera- realizar o Curso de Aperfeiçoamento de ções Navais e diretor-geral de Navegação e, Submarinos para Oficiais, ocasião em que por fim, ocupar a Chefia do Estado-Maior ele já comandava a nossa gloriosa Flotilha da Armada. de Submarinos; Nesse último cargo, trabalhando de – ao ministro de Estado da Defesa, Em- maneira amiga e sinérgica com todo o Al- baixador Celso Amorim, que muito honra mirantado, busquei contribuir para o aper- a Marinha do Brasil ao presidir este ato e, feiçoamento dos documentos doutrinários particularmente, pela ratificação do meu de alto nível, do planejamento estratégico nome à Excelentíssima Senhora Presidenta e, em especial, da nossa vida orçamentária da República, Dilma Rousseff, para exercer e administrativa, de modo a conciliar as o cargo de conselheiro militar junto à Mis- necessidades com as disponibilidades, as- são Permanente do Brasil na Organização sessorando o nosso comandante na direção das Nações Unidas; geral da Marinha, de modo a manter rumos – ao comandante da Marinha, Almirante e velocidades adequados à concretização de Esquadra Julio Soares de Moura Neto, das principais metas de nossa instituição, que sempre me prestigiou e deu ampla numa década extremamente desafiadora, liberdade no trato dos assuntos que me marcada, por exemplo, pelos Programas eram afetos, a quem externo minha leal Nuclear da Marinha e de Desenvolvimento amizade e admiração pela obstinação com de Submarinos. que conduz a nossa Força; Ademais, foi gratificante exercer as pre- – aos comandantes do Exército e da Ae- sidências dos Conselhos do Plano Diretor ronáutica, General de Exército Enzo Mar- (Coplan); de Planejamento de Pessoal (Co- tins Peri e Tenente-Brigadeiro do Ar Juniti plape); de Ciência, Tecnologia e Inovação Saito, pelo apreço e pela cordialidade que (Comcitem) e de Tecnologia e Informação demonstraram nas mais diversas ocasiões; da Marinha (Cotim), além da Comissão de – ao chefe do Estado-Maior Conjunto Promoções de Oficiais (CPO). das Forças Armadas, General de Exército É chegado o meu momento de despedida José Carlos de Nardi; ao então chefe do do Serviço Ativo da Marinha e de manifes- Estado-Maior da Aeronáutica, Tenente- tar a mais sincera gratidão. Assim sendo, Brigadeiro do Ar Aprígio Eduardo de Mou- desculpando-me pelas possíveis omissões, ra Azevedo; e ao chefe do Estado-Maior destaco, reconheço e agradeço: do Exército, General de Exército Joaquim – inicialmente, a todos os marinheiros e Silva e Luna, pelas excepcionais harmonia fuzileiros, homens e mulheres, comandan- e convergência que tivemos ao defender tes e subordinados que conheci e com quem os interesses maiores de nossas Forças, convivi ao longo de minha jornada na Ma- como integrantes do Comitê de Chefes de rinha e que me transmitiram os mais nobres Estado-Maior; valores dos homens do mar. Não podendo – aos ministros do Superior Tribunal Mi- nominar a todos, permitam-me voltar a litar, membros do Almirantado e secretários destacar uma dessas referências, um insigne do Ministério da Defesa, com quem tive o chefe naval aqui presente, o Almirante de privilégio de trabalhar, cumprimento pelo Esquadra Alfredo Karam, ex-ministro da profissionalismo e agradeço pela amizade Marinha, em quem tenho a honra de me demonstrada no trato diuturno; espelhar desde os idos de 1973, quando – ao representante permanente do Brasil me apresentei em Mocanguê Grande para junto à IMO, Almirante de Esquadra Men-

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donça, e aos diretores da Escola de Guerra compreensão e permanente participação em Naval, Vice-Almirante Viveiros e Contra- todas as etapas de minha vida marinheira; e Almirante Garnier, destaco pela excelência – não por fim, ao Senhor Bom Jesus dos na execução de suas tarefas; Navegantes, que sempre nos protege, rogo – à minha tripulação no Estado-Maior da para que abençoe os homens e as mulheres Armada, cujas subchefias tiveram à frente que tripulam a Marinha do Brasil. os Contra-Almirantes Castilho, Flávio, Dobrada a amarração, é tempo de de- Garcez, Cunha, Roberto e Rocha, a todos sembarcar e, quando for arriado o meu os oficiais, praças e servidores civis com pavilhão, com imensa satisfação, passar os quais labutei nesse último ano, e que, o timão às firmes e competentes mãos do sob coordenação segura e sempre oportuna Almirante de Esquadra Eduardo Monteiro de meu vice-chefe, Vice-Almirante Airton Lopes, desejando sorte, felicidade e reali- Teixeira Pinho Filho, souberam, de maneira zações na condução do Órgão de Direção incansável, agregar qualidade aos traba- Geral da Marinha, votos que faço exten- lhos e estudos conduzidos, agradeço pela sivos à sua estimada esposa Neilda e aos assessoria competente, leal e franca que seus familiares. possibilitou superarmos eventuais desafios; Hoje, na Escola Naval, há um aspirante – aos generais, brigadeiros e almirantes muito jovem que um dia será o chefe do e demais autoridades civis, militares e Estado-Maior da Armada. O dever dos eclesiásticas com quem convivi, amigos senhores que permanecem na ativa, dos presentes e ausentes, o meu muito obrigado; oficiais, dos almirantes e também do co- – aos adidos navais das Marinhas mandante da Marinha é fazer com que ele amigas, pelo excepcional relacionamento sempre sinta orgulho de pertencer à nossa mantido; querida Marinha do Brasil. – ao meu Gabinete, chefiado pelos Co- ‘Um brado levantemos à nossa Rainha: mandantes Noriaki, Mathuiy e Guilherme, Hip! Hip! Hip! Rá! Viva a Marinha’.” e integrado por oficiais e praças que por tanto tempo têm me acompanhado, mani- AGRADECIMENTO E BOAS-VIN- festo o meu reconhecimento pelo profissio- DAS DO COMANDANTE DA MARINHA nalismo, pela lealdade e pelo cuidado que me foram dispensados, além da paciência “Dentro de alguns instantes, o Almirante para com o Cema; de Esquadra Fernando Eduardo Studart – aos bons companheiros da Turma Wiemer terá o seu pavilhão arriado no Ricardo de Moraes, que sempre estiveram mastro principal do Estado-Maior da juntos em minha carreira, registro a grati- Armada, encerrando o período de cerca dão pelos constantes incentivo e amizade; de um ano em que esteve no timão desse – aos meus pais, por terem me transmi- Órgão de Direção Geral. É hora, pois, de tido os valores fundamentais e que, tenho lhe apresentarmos nossos agradecimentos certeza, lá de cima, olharam por mim nessa e nossas despedidas. longa travessia; Nesta ocasião, creio ser importante res- – aos queridos familiares, sogra, tios, saltar que todos nós que tivemos o prazer da primos, irmãos, filhos, netos e, em es- sua companhia durante a longa jornada na pecial, à minha mulher Helena, amiga e Marinha, os muitos amigos aqui presentes companheira de sempre, sou eternamente e a sua família estamos vivenciando um grato pelo amor, carinho e estímulo e pela momento de marcante emoção, repleto

262 RMB2oT/2013 NOTICIÁRIO MARÍTIMO de fortes sentimentos e de significativas – a regulamentação, no âmbito da Ma- recordações, pois o Almirante Wiemer está rinha do Brasil, do Serviço de Informações se despedindo do serviço ativo, após uma ao Cidadão, em atendimento à Lei de Aces- brilhante carreira de um pouco mais de 46 so à Informação; anos, iniciada com o seu ingresso na Escola – a assinatura, com o Departamento Naval, em 1967. Nacional de Infraestrutura de Transportes Após o período de formação, deu os (DNIT), de Termos de Cooperação para primeiros passos como oficial a bordo do o Levantamento Hidrográfico do Rio Aviso Oceânico Baependi, tendo cumprido Tocantins, de Tucuruí, no Pará, à sua foz, todas as atribuições e responsabilidades e para a manutenção do balizamento do atinentes aos diversos postos, cabendo uma Tramo Norte do Rio Paraguai, no trecho menção especial ao Curso de Aperfeiçoa- entre Corumbá, no Mato Grosso do Sul e mento de Submarinos e aos comandos do Cáceres, em Mato Grosso; Aviso de Instrução Guarda-Marinha Brito, – a proposição do estabelecimento de do Navio de Assistência Hospitalar Carlos um equilíbrio na distribuição dos recursos, Chagas e do Submarino Tupi. entre os projetos de investimento voltados Em 31 de março de 2001, compartilhou para a Marinha do Amanhã, e os de ma- com todos aqueles que lhe eram caros a nutenção operativa, com vistas à Marinha merecida alegria e o orgulho pela promo- do Presente; ção a almirante, fruto de suas indiscutíveis – a contribuição na elaboração do Livro aptidão e eficiência. Branco de Defesa Nacional, quanto aos A partir daquele momento, esteve à fren- capítulos atinentes à Marinha; te de importantes OM, podendo ser citados – a revisão, no âmbito da Força, da Po- os comandos da Força de Submarinos, da lítica Nacional de Defesa e da Estratégia Escola Naval e do 2o Distrito Naval; o co- Nacional de Defesa; mando em chefe da Esquadra; a Diretoria- – a proposta de Estrutura Naval de De- Geral do Pessoal; o Comando de Operações fesa que, uma vez aprovada, substituirá a Navais e a Diretoria-Geral de Navegação; Estrutura Naval de Guerra; além do cargo que hoje transmite. – o estudo sobre a importância político- Oficial afável, provido de elevada cultu- estratégica do Atlântico Sul, apontando as ra e de um esmerado preparo profissional, possibilidades de cooperação com os países possuidor de outras qualidades, dentre as da África Ocidental; quais sobressaem lealdade, liderança, in- – a revisão da Doutrina Básica da Ma- teligência, dinamismo e dedicação, soube rinha, um importante passo para direcionar prestar um seguro assessoramento ao co- a organização, o preparo e o emprego do mandante da Marinha, trazendo-me muita Poder Naval; e tranquilidade. No último ano, conduziu – a Mostra de Armamento e Incorpora- com notável competência as desafiantes ção dos Navios-Patrulha Oceânicos Amazo- tarefas do Estado-Maior da Armada, nas e Apa e dos Avisos Hidroceanográficos cabendo-lhe uma marcante contribuição Fluviais Rio Tocantins e Rio Xingu. para o processo de desenvolvimento e Prezado Almirante Wiemer! O que aprimoramento contínuo da nossa institui- acabou de ser descrito não é suficiente para ção. Por um dever de justiça, gostaria de compor o cenário de sua completa obra, destacar alguns dos principais feitos de sua construída em quase meio século de dedi- administração: cação à Força, mas, certamente, estimula a

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lembrança dos momentos alegres e felizes da Força e responsável pela Direção Geral vividos, das conquistas alcançadas e da da Marinha. superação dos óbices surgidos. Estas importantes atribuições dão a Mais do que a sua valiosa assessoria, correta dimensão do cargo de chefe do pude encontrar na sua pessoa o apoio nos Estado-Maior da Armada, mais alto cargo mais importantes processos decisórios que um oficial da Marinha no Serviço Ativo relacionados aos interesses da nossa ins- pode ocupar. tituição. A sua singradura de sucesso e a Citei esses aspectos apenas para jus- recente indicação, pela Presidenta da Re- tificar as minhas primeiras palavras, que pública, para o cargo de conselheiro militar devem ser de agradecimento. Assim, apre- da Missão Permanente do Brasil junto à sento ao Excelentíssimo Senhor Almirante Organização das Nações Unidas permitem- de Esquadra Julio Soares de Moura Neto, me afiançar-lhe o reconhecimento do dever comandante da Marinha, meus sinceros bem cumprido e a confiança e a admiração agradecimentos por ter me indicado para conquistadas, não somente por parte de seus o exercício de tão relevante cargo, de- superiores, como também de seus pares e monstrando depositar confiança neste seu subordinados. subordinado. Além deste agradecimento, Apresento os agradecimentos pelo manifesto-lhe minha total lealdade e dis- expressivo trabalho realizado em prol posição de integral dedicação às tarefas da Marinha e os mais sinceros votos de que me forem determinadas, no limite da continuado êxito no cargo que em breve minha capacidade. assumirá, desejando-lhe muitas felici- Permitam-me agora lançar um breve dades, extensivas à sua esposa, Dona olhar para o futuro, buscando definir o am- Helena, e família. biente no qual teremos que trabalhar. Sendo Bons ventos, Almirante de Esquadra tempo de mudanças, não posso deixar de Fernando Eduardo Studart Wiemer, e que citar as profundas alterações que estamos Deus o acompanhe! Seja muito feliz! vivendo na Marinha. Estamos executando Ao Almirante de Esquadra Eduardo um dos maiores programas do Estado bra- Monteiro Lopes, apresento as boas-vindas sileiro, o Programa de Desenvolvimento e formulo votos de muitas realizações, na de Submarinos (Prosub), que nos levará ao convicção de que seus reconhecidos atri- primeiro submarino brasileiro de propulsão butos, aliados à sua bagagem profissional, nuclear. Em paralelo, desenvolvemos o garantirão a continuidade das atividades de- Programa Nuclear da Marinha, que talvez senvolvidas pelo Estado-Maior da Armada seja até mais certo chamar de Programa e contribuirão para o pleno cumprimento da Nuclear do Brasil. Para nos beneficiarmos missão que ora lhe é confiada.” da capacidade de arrasto desses programas, devemos ser capazes de absorver as novas PALAVRAS INICIAIS DO ALMI- tecnologias que nos são transmitidas. Há RANTE MONTEIRO LOPES que garantir que esses novos conhecimen- tos sejam também internados nas diversas “Ao assumir o mais importante cargo cadeias produtivas brasileiras, única forma da minha carreira, estou perfeitamente de desenvolvermos uma base industrial de cônscio das responsabilidades inerentes à Defesa realmente verde e amarela. Chefia do Estado-Maior da Armada, órgão Por outro lado, a visão dessa nova máximo de assessoramento ao comandante Marinha nos obriga a procurar novas e

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Transmissão do cargo de Cema modernas formas de gestão de processos, membros do Almirantado, como forma bem como a melhorar a formação do nosso de vencer o mar proceloso à proa e as pessoal, providências indispensáveis para dificuldades evidentes, apesar das minhas quem busca maior eficácia e sempre me- incontáveis limitações. lhor uso para poucos recursos. Precisamos Feitas essas observações, volto a fazer dos utilizar a nossa capacidade administrativa agradecimentos o norte das minhas palavras. – da qual sempre nos orgulhamos – para Extremamente honrado, registro a pre- nos prepararmos para projetar, construir, sença do Excelentíssimo Senhor Embaixa- operar e manter equipamentos cada vez dor Celso Amorim, ministro de Estado da mais sofisticados.Temos também que Defesa, que dá um brilho todo especial a considerar as constantes e rápidas trans- esta cerimônia. Senhor ministro, agradeço- formações pelas quais passa o mundo de lhe a gentileza e peço-lhe também que me hoje, fatos que resultam na inquestionável permita estender este agradecimento ao compressão do tempo, exigindo decisões Excelentíssimo Senhor General de Exército cada vez mais rápidas, dificultando a arte José Elito Carvalho Siqueira, ministro de de administrar. Essas mudanças virão, in- Estado Chefe do Gabinete de Segurança dependentes da nossa vontade: não temos Institucional da Presidência da República. como evitá-las. Não é possível manter Agradeço a presença dos Excelentíssi- sempre o mesmo rumo, sempre o mesmo mos Senhores General de Exército Enzo regime de máquinas. Soluções antigas não Martins Peri, comandante do Exército; e são mais respostas adequadas aos novos do Tenente-Brigadeiro do Ar Juniti Saito, problemas. É indispensável que, mantendo comandante da Aeronáutica. Suas pre- inalteradas a nossa ética, a nossa lhaneza senças demonstram, além da amizade e no trato e as nossas tradições, busquemos gentileza de sempre, a indissolúvel união novos caminhos, novas parcerias sinérgicas dos homens e mulheres que usam o verde, com parceiros competentes, novas táticas o azul e o branco. de emprego dos meios existentes, nova Destaco a presença dos Excelentíssimos distribuição desses meios. Enfim, temos Senhores Almirantes de Esquadra Alfredo que enfrentar o novo. Não temos o direito Karam e Mauro Cesar Rodrigues Pereira, de temer as mudanças. ex-ministros da Marinha. Para minha sa- Tenho certeza que poderei contar com tisfação, estão presentes também antigos o apoio de todos os marinheiros e fuzilei- chefes navais, sempre respeitados. Aos ros navais, especialmente dos senhores senhores que, no passado, me deram a régua

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e o compasso para que eu traçasse meus Pela segunda vez em minha carreira, rumos, apresento meu ‘muito obrigado’ substituo o Almirante de Esquadra Fer- por mais essa prova de amizade. nando Eduardo Studart Wiemer. A ele sou Registro, ainda, as presenças dos Ex- grato pela forma correta, extremamente celentíssimos Senhores chefe do Estado- gentil e profissional com que me trans- Maior Conjunto das Forças Armadas, mitiu o cargo. Em meu nome e em nome General de Exército De Nardi; e dos chefes dos oficiais, praças e funcionários civis dos Estados-Maiores do Exército e da do Estado-Maior da Armada, transmito Aeronáutica, respectivamente General de ao amigo de longa data os votos de bons Exército Silva e Luna e Tenente-Brigadeiro mares e bons ventos na nova singradura do Ar Mendes. A esses importantes chefes que está prestes a iniciar, como conse- militares, asseguro a minha disposição de lheiro militar na Organização das Nações procurar sempre o consenso e o envolvi- Unidas. Estendo esses votos à sua esposa mento sinérgico em busca da indispensável Helena, aos filhos e netos. Permita-me, interoperabilidade militar. Agradeço-lhes Almirante Wiemer, içar na verga de as presenças, mais uma demonstração da boreste, que é o bordo de honra, o sinal amizade com que Vossas Excelências me ‘Bravo Zulu’ como reconhecimento ao distinguem. Estendo esses agradecimentos bom companheiro, ao eficiente oficial, ao aos Excelentíssimos Senhores ministros do respeitado chefe naval e ao marinheiro Superior Tribunal Militar e aos Excelentís- ‘que outra coisa não quis ser’. simos Senhores secretários do Ministério Tendo expressado meus agradecimen- da Defesa. tos, minhas preocupações, minhas esperan- A longa jornada que empreendi nestes ças e meus pedidos de ajuda, estou pronto últimos 45 anos, do solo sagrado de Ville- para suspender. Tenho certeza que contarei gagnon ao Estado-Maior da Armada em Bra- com a ajuda da tripulação do Estado-Maior sília, foi sempre acompanhada, incentivada da Armada, dos meus oficiais, praças e e inúmeras vezes ajudada pelos amigos da servidores civis. Turma Visconde de Ouro Preto da Escola Peço ainda a Neilda, minha companheira Naval, alguns aqui presentes. A esses velhos em todas as jornadas, que, mais uma vez, amigos dos bancos escolares, apresento meu me acompanhe e me ajude. Sem você tudo emocionado e especial agradecimento. teria sido muito mais difícil ou mesmo Apresento também meus agradeci- impossível e eu não teria chegado até aqui. mentos às autoridades e aos amigos que, Por fim, rogo a Nossa Senhora de Nazaré com suas presenças, emprestam um brilho para que continue a me proteger. especial a esta cerimônia. Viva a Marinha!”

TRANSMISSÃO DO CARGO DE COMANDANTE-GERAL DO CORPO DE FUZILEIROS NAVAIS

Foi realizada, em 28 de abril último, Ribeiro, em substituição ao Almirante de a cerimônia de passagem de cargo de Esquadra (FN) Marco Antonio Corrêa comandante-geral do Corpo de Fuzileiros Guimarães. A cerimônia foi presidida Navais (CFN). Assumiu o Almirante de Es- pelo comandante da Marinha, Almirante quadra (FN) Fernando Antonio de Siqueira de Esquadra Julio Soares de Moura Neto.

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D E S P E D I D A DO ALMIRANTE GUIMARÃES

“‘Quem não vive o espírito de seu tempo, de seu tempo vive só as mazelas.’ Estas palavras, do filósofo francês Voltaire, traduzem a essência do nosso Corpo de Fuzileiros Cerimônia de passagem do Comando-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais Navais, que sempre viveu o espírito de seu tempo, desde a trans- Fernando Antonio, companheiro de bancos migração de Portugal até os dias de hoje. E escolares e amigo, expresso meus votos de um destes tempos foi por mim vivido quan- felicidades no novo cargo, e que Deus lhe do tive a ventura de vivenciar, nos meus 45 dê sabedoria e lhe guarde na consecução anos de vida na Marinha, parte da história desta nobre missão. do Corpo de Fuzileiros Navais, escrita por Mas é chegado o momento de despedir- homens abnegados, soldados-marinheiros, me. Falar de despedida quase sempre é o que possuíam os sentimentos de amor e mesmo que falar do passado. Mas falar de crença pela instituição, sentimentos que passado também é falar do futuro. Passado, transcenderam seus próprios interesses presente e futuro se fundem em uma única na construção de um Corpo de Fuzileiros linha de tempo, marcada por pessoas e Navais respeitado e com alta credibilidade. instituições que fazem diferença em nossas Assim, coube-me a responsabilidade vidas. de portar o estandarte de nosso Corpo, A Marinha do Brasil é uma dessas insti- como fiel depositário das tradições, do tuições, em especial o Corpo de Fuzileiros legado recebido e dos anseios daqueles Navais, que tive a honra de comandar por que representei. Não me permiti um só cerca de dois anos e quatro meses. instante deixar de perseverar na busca de Durante esse período, pude constatar seu fortalecimento, não perdendo de vista o que os alicerces do CFN foram construídos espírito do tempo que vivemos, de intensas em bases sólidas, apoiadas nos valores de modificações sociais e tecnológicas. honra, competência e determinação. Verifi- Ainda que seja grande o peso da respon- quei também que esses valores norteiam as sabilidade de portar tal estandarte, maior é decisões, as escolhas e o comportamento de a capacidade e competência profissional do seus militares, criando uma perfeita concor- Almirante de Esquadra (Fuzileiro Naval) dância moral com as crenças, os objetivos Fernando Antonio de Siqueira Ribeiro de e a missão de nossa corporação. Esse é o representar os Fuzileiros Navais. Não tenho ambiente indispensável ao desenvolvimen- dúvida de que honrará nosso legado, viverá to do comprometimento com a organização, intensamente o espírito de seu tempo e ou seja, de sentimentos de afeição, apego, continuará a construção do Corpo de Fu- identificação, reconhecimento e lealdade zileiros Navais do amanhã. Ao Almirante ao Corpo de Fuzileiros Navais.

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Nesse contexto, o fuzileiro naval, com- característica é o imediatismo. Esperar por prometido sob essa perspectiva, honra resultados a longo prazo não faz parte das seu compromisso com a Marinha, mesmo suas vidas. diante de atitudes e vontades mutáveis Os nossos jovens fuzileiros navais, que impostas por um ambiente sociopolítico e conduzirão o futuro do Corpo de Fuzilei- econômico altamente dinâmico. Comporta- ros Navais, não estão imunes a essa nova se dessa maneira não por imposição, mas mentalidade. Querem fazer a diferença e por acreditar que, moralmente, é certo fazê- ter a sensação de estar contribuindo para a lo. Novamente, os mesmos sentimentos de missão da Marinha do Brasil. Assim, aos amor e crença que nos foram legados pelos jovens fuzileiros navais peço que sejam fuzileiros de ontem nortearão as ações comprometidos com tudo o que forem futuras. fazer. Não tenham E esses foram os pressa. Não queiram sentimentos que bali- acelerar o processo zaram minhas ações: natural de aprendi- amor e crença. zagem que acontece Acredito no Corpo com o passar dos anos. de Fuzileiros Navais! A vida é curta sim, E penso que a única a vida é curta, mas o maneira de alguém prazer e a satisfação ser realmente realiza- de aprender, em cada do profissionalmente momento, ao lado de é fazer o que acredita. Passagem do estandarte do Corpo de Fuzileiros Navais homens e mulheres, E acredito que a única nos exercícios, nas maneira de se fazer um excelente trabalho demonstrações, nos adestramentos, nas é amar aquilo que se faz. missões – no Brasil ou no exterior – tornar- Acredito que os jovens fuzileiros navais se-ão inesquecíveis, e se esses momentos foram tocados também pelos mesmos sen- forem vividos com intensidade, certamente timentos de amor e crença pela Marinha nada fará seu ânimo diminuir. do Brasil. Para que cresçam como homens e pro- Acredito que todos nós tivemos o mes- fissionais, mantenham sempre uma visão mo sonho e, ao escutarmos os nossos cora- crítica, mas saibam diferenciar as pessoas e ções, decidimos ir além do profissionalismo suas condutas. As pessoas falham, e assim o ao nos tornarmos fuzileiros navais. fazem porque é da natureza humana evoluir Acredito que esta devoção pela Marinha com seus erros. Pensamentos e ideias nega- os fizeram se entregar pela mesma causa tivas podem existir. Aliás, são normais em que me entreguei quando jovem: o Corpo seres humanos. No entanto, não se deixem de Fuzileiros Navais. Por esta causa, deci- levar por esses caminhos! Não se deixem dimos oferecer a própria vida. iludir por ideias falsas! Afastem-se dos desa- Acredito nas novas gerações que ‘vi- nimados, daqueles que trazem o olhar opaco vem o espírito de seu tempo’, que são bem e a alma fria, pois lhes faltam o brilho do informadas, estão constantemente conec- entusiasmo e o calor da motivação. Afastem- tadas em redes sociais, lidam e almejam se deles, pois nada têm a lhes oferecer. mudanças em todas as esferas de suas Aos que chefiam os jovens fuzileiros, às vidas. Valorizam a inovação, e sua maior vezes também jovens, comandem-os por

268 RMB2oT/2013 NOTICIÁRIO MARÍTIMO meio da liderança e dos exemplos, e não que lhe apresentei, aprovando todos, sem pelo simples peso de galões. distinção. Reitero minha amizade e con- Mas é chegado o momento de me fiança e apresento esses leais Fuzileiros despedir. E falar de despedida é também Navais perfilados a sua frente como tropa a oportunidade de apresentar meu preito pronta para segui-lo no combate. de gratidão àqueles que me ajudaram a À minha família, agradeço a compreen- construir o caminho que me fez chegar a são das ausências, o apoio incondicional este momento. que muitas vezes a fez arcar com respon- Aos meus subordinados, oficiais ou pra- sabilidades, sem que pudesse contar com ças, que em diversos momentos de minha minha presença. carreira me acompanharam, agradeço a Por fim, agradecer ao Criador humilde- dedicação e o empenho com que se esme- mente é nosso dever, por saber que sem seu raram no cumprimento das diversas tarefas consentimento nada do que vivi seria possí- que nos foram atribuídas. vel, e encerrar estas breves palavras citando Aos meus superiores, com os quais tive a Sra. Violeta Telles Ribeiro, esposa do a honra de trabalhar nas diversas Organiza- saudoso Almirante Telles Ribeiro, criadora ções Militares em que servimos, agradeço do nosso lema Adsumus, que escreveu: a maneira profissional e amiga com que ‘Adsumus... exprime a presença da força sempre me distinguiram. para salvaguardar a liberdade. Aos meus comandantes, chefes navais Adsumus... significa a ordem para man- e grandes mestres que tive em toda minha ter a autoridade. carreira, sou grato por terem me brindado Adsumus... simboliza o sacrifício para com suas lições de caráter, humildade, li- o bem comum. derança, busca da justiça, perseverança na Adsumus... traduz o heroísmo no com- realização da missão e, acima de tudo, as bate. demonstrações dos sentimentos de devoção Adsumus... é a resposta quando a pátria e crença na Marinha, no Brasil e no Corpo chama. de Fuzileiros Navais. Adsumus... é o dever cumprido.’ Ao chefe do Estado-Maior da Armada A estas palavras, tomo a liberdade de e demais membros do Almirantado, agra- acrescentar uma última frase: deço a cordialidade e o apoio que recebi Adsumus... é Marinha! em todas as demandas. Muito me orgulho Adsumus! de ter participado de tão distinto grupo Viva a Marinha!” e de contribuir para o fortalecimento da Marinha. Despeço-me tendo a certeza do AGRADECIMENTO E BOAS-VINDAS dever cumprido! DO COMANDANTE DA MARINHA Quero externar minha especial gratidão ao Exmo. Sr. Almirante de Esquadra Julio “A presente cerimônia encerra o perí- Soares de Moura Neto, nosso Comandante odo de dois anos e quatro meses em que da Marinha, pela forma amiga e zelosa o Almirante de Esquadra (FN) Marco como sempre me distinguiu, tornando pos- Antonio Corrêa Guimarães esteve à frente sível a realização de todos os projetos do do Comando-Geral do Corpo de Fuzileiros Corpo de Fuzileiros Navais. Conhecendo Navais (CGCFN) e que se caracterizou pelo como ninguém a mente e os corações dos dinamismo e pela proficiência das muitas fuzileiros, apoiou diuturnamente os pleitos realizações.

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Durante esse tempo, o Almirante Gui- assessorar o comandante da Marinha nas marães, mercê de seus predicados, dentre diversas atividades inerentes ao CFN, essa os quais elenco a lealdade, a inteligência, parcela intrínseca e indissociável do Poder a objetividade, a perspicácia e a dedicação, Naval, consolidada como força estratégica soube conduzir de forma exemplar o nosso por excelência, de caráter expedicionário, valoroso CFN nas complexas e múltiplas de pronto emprego e de projeção de poder, tarefas relacionadas ao pessoal, ao material cabendo-me ressaltar algumas de suas e aos aspectos doutrinários. muitas conquistas: Por outro lado, o presente momento – a ativação do Comando do Desenvol- representa também o encerramento de uma vimento Doutrinário do CFN, órgão res- brilhante carreira de um pouco mais de 45 ponsável pela gestão do conhecimento e da anos de dedicação exclusiva à instituição. doutrina dos nossos combatentes anfíbios; Assim, todos nós aqui presentes, e que ti- – o reconhecimento do Centro Tecnoló- vemos o prazer de sua companhia, estamos gico do CFN, Organização Militar que su- absolutamente seguros de que sentimentos cedeu ao Centro de Reparos e Suprimentos difusos, que mesclam saudade, gratidão e Especiais do CFN, como uma instituição alegrias, devem estar invadindo a mente e científica e tecnológica da Marinha, de o coração desse competente e prestigiado acordo com a Lei de Inovação Tecnológica; ‘soldado-marinheiro’, provocando um – o recebimento de viaturas operativas; turbilhão de recordações e pensamentos. de equipamentos de engenharia, de viaturas Nesta difícil hora de despedidas, cabe blindadas especiais sobre rodas Piranha relembrar o ano de 1968, quando, com en- IIIC; das primeiras unidades do Sistema de tusiasmo e espírito jovial, o Almirante Gui- Armas do Míssil Superfície-Superfície MS marães ingressou na Escola Naval. Como 1.2 AC; e a aquisição do Sistema Lançador oficial, sua primeira comissão foi a bordo Múltiplo de Foguetes Astros, cuja entrega do Batalhão Tolenero, tendo exercido fun- está prevista para o ano de 2014; ções em diversas Organizações Militares, – a entrega simbólica das chaves aos mo- dentre as quais destaco os comandos do radores da Vila Naval do Guandu do Sapê; Batalhão de Serviços e do então Centro de – o gerenciamento dos V Jogos Mun- Reparos e Suprimentos Especiais do CFN. diais Militares, envolvendo inúmeros pro- As tão almejadas platinas douradas jetos, como a construção da Vila Branca, foram conquistadas em 31 de março de para hospedar os atletas; a segurança das 2001, representando o coroamento de sua comitivas; e a realização das competições trajetória e o reconhecimento da Alta Ad- esportivas propriamente ditas; ministração Naval pela excelência de sua – a seleção do Centro de Educação Fí- atuação, sendo motivo de merecido júbilo sica Almirante Adalberto Nunes (Cefan) e para ele e para todos aqueles com quem do Centro de Instrução Almirante Milcía- convivia. Como almirante, conduziu o ti- des Portela Alves (Ciampa) como centros mão do Comando do Material de Fuzileiros de treinamento dos atletas para os Jogos Navais, da Divisão Anfíbia, da Força de Olímpicos Rio 2016; Fuzileiros da Esquadra e do Comando do – a renovação e a assinatura de convê- Pessoal de Fuzileiros Navais, além do cargo nios para apoio aos atletas de alto nível que hoje transmite. em diversas modalidades olímpicas, como Como comandante-geral, seu sucesso atletismo, levantamento de peso, boxe e foi expressivo, sabendo, com eficácia, outras lutas;

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– o lançamento dos livros institucionais Marinha, guardiã das instituições nacio- Fuzileiros Navais, confie neles e Ilha da Ma- nais, parcela indivisível e inseparável da rambaia, um bem de todos os brasileiros; e Marinha do Brasil, facultando a esta a – o incentivo ao estabelecimento de im- capacidade única de projetar poder sobre portantes parcerias na área da Comunicação terra, principalmente por meio de Opera- Social, possibilitando as apresentações das ções Anfíbias, de defender as instalações Bandas Sinfônica e Marcial, contribuindo de interesse naval, além de participar em para dar visibilidade às atividades da Ma- ações de Operações de Paz, Operações Hu- rinha do Brasil. manitárias, Operações de Garantia da Lei e Prezado Almirante Guimarães! Estou da Ordem, Operações de apoio à Segurança certo de que essa breve menção a alguns Pública e de Defesa Civil. dos seus principais feitos no CGCFN não é Corpo de Fuzileiros Navais, força de suficiente para traçar um panorama comple- caráter expedicionário por excelência, com to de sua longa e meritória jornada de total meios materiais e recursos humanos em dedicação à Força e ao País. No entanto, permanente condição de pronto emprego, por sua expressividade, eles nos permitem consoante com o prescrito na Estratégia garantir-lhe o reconhecimento da missão Nacional de Defesa. cumprida e espelham o apreço e a admira- Corpo de Fuzileiros Navais da honra, ção de todos aqueles que compartilharam da competência, da determinação e do de sua convivência. Transmito os mais profissionalismo, de crenças inabaláveis sinceros votos de felicidade pessoal na nova que nos levam a materializar utopias de fase de vida que ora se inicia, extensivos à gerações anteriores. sua esposa D. Mariza e família, bem como Corpo de Fuzileiros Navais de sempre, manifesto a gratidão por tudo que V. Exa. dos Combatentes Anfíbios que defenderam realizou em prol da Marinha. nossa Pátria, imortalizados em memorial Bons ventos e mares tranquilos, e que Deus erigido neste solo sagrado da Fortaleza do permaneça iluminando a sua caminhada! Patriarca de São José da Ilha das Cobras, Bravo Zulu! composto originariamente pelos Fortes de Ad Sumus! São José e do Pau da Bandeira e pelo Ba- Ao Almirante de Esquadra (FN) Fernan- luarte de Santo Antônio, onde muitos fuzi- do Antônio de Siqueira Ribeiro, apresento leiros navais perderam suas vidas na defesa as boas-vindas e os meus cumprimentos por de seus ideais e crenças, hoje justamente sua recente promoção ao último posto da nominado Pátio Almirante Maximiano. carreira, na convicção de que seus sólidos Corpo de Fuzileiros Navais dos Com- conhecimentos e experiência, aliados aos batentes Anfíbios de sempre, reunidos em seus meritórios atributos, garantirão a con- ativa Associação, onde continuam prestan- tinuidade dos trabalhos desenvolvidos pelo do serviços à sociedade, nesta cerimônia CGCFN e o pleno sucesso no cumprimento representados por significativo contingente da missão que lhe está sendo confiada.” da Associação de Veteranos do Corpo de Fuzileiros Navais (AVCFN) da qual muito PALAVRAS INICIAIS DO ALMI- nos orgulhamos e que com sua presença RANTE FERNANDO ANTÔNIO vibramos neste histórico pátio. Corpo de Fuzileiros Navais do futuro, “Corpo de Fuzileiros Navais: institui- combatentes responsáveis por manter o ção secular, oriunda da Brigada Real da sólido legado forjado desde 1808 e por

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traçar as novas singraduras do CFN. Hoje Aos ex-ministros da Marinha Exmos. representados pelos aspirantes (FN) dos 3o Srs. Almirante de Esquadra (Refo) Al- e 4o anos da Escola Naval. fredo Karam e Almirante de Esquadra Corpo de Fuzileiros Navais do Projeto (Refo) Mauro Cesar Rodrigues Pereira, ao Olímpico da Marinha do Brasil a preparar ex-ministro do Estado-Maior das Forças atletas militares para a conquista de me- Armadas Exmo. Sr. Almirante de Esquadra dalhas e vitórias nas arenas esportivas dos (Refo) Arnaldo Leite Pereira e ao ex-co- seis continentes. mandante da Marinha Exmo. Sr. Almirante Corpo de Fuzileiros Navais dos Gru- de Esquadra (Refo) Roberto de Guimarães pamentos Distritais, dos Batalhões de Carvalho, meus agradecimentos, honrado Operações Ribeirinhas, das Companhias com suas presenças. de Defesa Química, Biológica e Nuclear, Aos Exmos. Srs. membros do Almiranta- da aguerrida e sempre pronta Força de do e ao secretário de Pessoal, Ensino, Saúde Fuzileiros da Esquadra – a Força que vem e Desporto do Ministério de Defesa, Exmo. do mar –, do Grupamento Operativo de Sr. Almirante de Esquadra (Refo) Julio Sa- Fuzileiros Navais-Haiti, dos Destacamen- boya de Araujo Jorge, agradeço a gentileza tos de Segurança de Embaixadas do Brasil de suas presenças nesta cerimônia. e do Destacamento embarcado em fragata Aos comandantes-gerais anteriores, da nossa Esquadra em missão de paz no representados pelos Exmos. Srs. Almi- Líbano. rante de Esquadra (Refo-FN) Coaraciara Nestas referências ao Corpo de Fuzilei- Brício Godinho, Almirante de Esquadra ros Navais da Marinha do Brasil justifico (Refo-FN) Valdir Bastos Ponte, Almirante meu indisfarçável orgulho profissional e a de Esquadra (Refo-FN) Carlos Augusto satisfação pessoal de, alçado ao mais alto Costa, Almirante de Esquadra (Refo-FN) posto da carreira de oficial da Marinha Marcelo Gaya Cardoso Tosta e Almirante do Brasil, assumir o cargo de guardião de de Esquadra (RM1-FN) Alvaro Augusto 205 anos de história e de crença em nossas Dias Monteiro, sou grato pelo magnífico utopias. legado que hoje me compete conduzir e, Assim, agradeço a confiança dos mem- principalmente, pelos seus exemplos de bros do Almirantado por inserirem meu profundo amor à nossa instituição. nome em seleto grupo de chefes navais Ao comandante militar do Leste, Exmo. responsáveis pelo governo da nau Marinha Sr. General de Exército Francisco Carlos do Brasil. Modesto; aos Exmos. Srs. Almirantes; ge- Agradeço ao comandante da Marinha, nerais do Exército Brasileiro; brigadeiros Almirante de Esquadra Julio Soares de da Força Aérea Brasileira; ao secretário Moura Neto, pela indicação para este dig- de Segurança do Estado do Rio de Janei- nificante cargo de comandante-geral dos ro, Dr. José Mariano Benincá Beltrame; Combatentes Anfíbios da Marinha do Brasil, ao prefeito do município de Duque de honra e privilégio de inscrever meu nome em Caxias-RJ, Dr. Alexandre Cardoso; à nobre lista de chefes navais onde constam chefe de Polícia Civil do Estado do Rio de o do Almirante (FN) Sylvio de Camargo, Janeiro, Dra. Martha Mesquita da Rocha; Patrono do Corpo de Fuzileiros Navais, e aos comandantes de Unidades e de Orga- do Almirante de Esquadra (FN) Domingos nizações Militares de nossa Marinha do de Mattos Cortez, responsáveis maiores pelo Brasil; oficiais do Exército Brasileiro, da moderno Corpo de Fuzileiros Navais. Força Aérea Brasileira e da Polícia Militar

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do Estado do Rio de Janeiro; integrantes da por sua brilhante carreira. Continue sendo Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro; muito feliz, meu amigo. demais oficiais e praças da MB, agradeço Mais uma vez, rogo a Deus por suas a presença, emprestando brilho especial a bênçãos e proteção, de modo a permitir- este evento. me desempenhar com serenidade, justiça Aos companheiros das Turmas Aspirante e tempestividade o cargo ora assumido. César Henriques e Esperança, agradeço as inú- Fuzileiros Navais! Continuem a cultivar meras manifestações de amizade, o incentivo a crença no desempenho individual como de sempre e pela presença nesta cerimônia. alicerce de um trabalho de equipe harmo- Agradeço também aos meus familiares nioso e bem-sucedido, sempre orientado e amigos o apoio manifestado por suas pela estrela única do estandarte único do presenças, afastando-se de seus afazeres Corpo de Fuzileiros Navais, símbolo de diários para prestar este carinhoso preito nossa unidade e espírito de corpo. de amizade. Houve somente uma troca de timonei- À minha esposa Eva; aos nossos filhos ros nesta nau que continuará demandando Roberta, Wallace, Bruno e Clara; e aos portos seguros, singrando os mares com nossos netos Pedro e Rodrigo, ressalto o ventos à feição. continuado amor, carinho e a compreensão A emoção deste momento e o orgulho e e agradeço pela ativa participação, o que a honra de comandá-los serão direcionados sempre me estimulou ao longo da carreira. em dedicação aos anseios e às necessidades Ao prezado amigo Almirante de Esqua- e metas do venturoso Corpo de Fuzileiros dra (FN) Marco Antonio Corrêa Guima- Navais da Marinha do Brasil, honrando rães, agradeço a lhaneza do trato nestes dias sempre o juramento que todos fizemos de passagem de cargo, cumprimentando-o perante a Bandeira de nossa Pátria. pelo intenso trabalho repleto de realizações Que o bom Deus continue nos abenço- para o nosso Corpo de Fuzileiros Navais. ando a todos. Saiba que se trata de uma enorme honra, ‘...minha galera também vai cruzando desafio e imensa responsabilidade sucedê- os mares... na vanguarda, que é honra e lo no Comando-Geral do Corpo de Fuzi- dever...’ leiros Navais. Permita-me cumprimentá-lo Adsumus!”

TRANSMISSÃO DO CARGO DE DIRETOR-GERAL DO PESSOAL DA MARINHA

Foi realizada, em 1o de abril deste AGRADECIMENTOS DO ALMI- ano, a cerimônia de passagem de cargo RANTE PALMER de diretor-geral do Pessoal da Marinha (DGPM). Assumiu a função o Almiran- “‘O pessoal é o nosso maior patrimônio.’ te de Esquadra Elis Treidler Öberg, em Esta sentença, ao evidenciar a importância substituição ao Almirante de Esquadra que nossa Instituição atribui ao seu recurso Luiz Fernando Palmer Fonseca. A ceri- mais valioso, pressupõe também o significa- mônia foi presidida pelo comandante da do da missão atribuída ao setor responsável Marinha, Almirante de Esquadra Julio por planejar, prover e preparar tal recurso Soares de Moura Neto. em uma Marinha que cresce quantitativa e

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qualitativamente na busca da dimensão que a ajudou na importante tarefa de equacionar realidade nos impõe. Sinto, portanto, enorme e implementar as ações necessárias à ob- orgulho por ter participado de tão nobre mis- tenção e ao preparo do pessoal destinado são e, com isso, ter podido contribuir para ao guarnecimento dos nossos futuros a continuidade de programas que buscam a submarinos de propulsão convencional e excelência na gestão do nosso pessoal e para nuclear. Do mesmo modo, manifesto meu o aprimoramento dos setores da saúde e da destacado agradecimento ao Capitão de assistência social, setores estes cujo nível Mar e Guerra Marcos Almeida, meu chefe de atendimento ideal sempre haveremos de de Gabinete enquanto estive à frente desta buscar, em que pese as dificuldades para seu Diretoria, que, com suas inteligência, de- atingimento. dicação, lealdade e liderança, coordenou Assim sendo, mais uma vez agradeço eficazmente o trabalho das assessorias e ao Almirante de Esquadra Julio Soares de divisões, em muito facilitando o processo Moura Neto pela oportunidade concedida decisório. Desejo-lhe continuado sucesso de poder ter estado ao timão deste impor- na promissora carreira e reafirmo a satisfa- tante setor da Marinha. Mas nada disso ção de mais uma vez ter podido contar com teria sido possível sem a direção firme, suas costumeiras proficiência e cortesia. competente e dedicada dos almirantes Assinalo também àqueles colegas de que me foram diretamente subordinados, outras Forças com os quais tive a oportuni- responsáveis primeiros pela condução dos dade e o privilégio de interagir no trato de setores da Saúde, do Pessoal Militar, do assuntos correlatos, os Generais de Exército Ensino, do Pessoal Civil e da Assistência Lucio e Montesano, respectivamente diretor- Social, respectivamente os Almirantes geral do Pessoal e chefe do Departamento Montenegro, Monteiro Dias e Savio, de Educação e Cultura do Exército, e os Puntel, Campos e Olsen, aos quais cumpri- Tenentes-Brigadeiros do Ar Leite e Ter- mento pelo desempenho e manifesto meus ciotti, respectivamente comandante-geral do sinceros agradecimentos pelo assessora- Pessoal e chefe do Departamento de Ensino mento sempre preciso e leal, assim como da Aeronáutica, o meu agradecimento pela pela cortesia a mim dedicada. Saibam os atenção e a cortesia sempre demonstradas. senhores da minha honra em tê-los chefiado Ao Almirante de Esquadra Saboya, secre- e da satisfação pelos resultados alcançados. tário de Pessoal, Ensino, Saúde e Desporto Ao me despedir da DGPM, deixo tam- do Ministério da Defesa, chefe naval ao qual bém aqui registrado meu muito obrigado tive a honra de ser subordinado no Estado- a todos oficiais, servidores civis e praças Maior da Armada, transmito o meu muito que, servindo nos diversos setores desta obrigado pelas oportunidades proporciona- Diretoria, com exemplar dedicação e pro- das de interação com as outras Forças e com fissionalismo, contribuíram eficazmente o Ministério da Defesa e reafirmo minha na condução dos assuntos e dos serviços satisfação por tê-lo tido como interlocutor com que aqui lidamos. Em especial, ex- junto àquele Ministério. presso minha gratidão ao Vice-Almirante Neste momento em que deixo o Setor de Terenilton, amigo com quem, há 47 anos, Pessoal, por dever de justiça, uma menção junto ingressei no Colégio Naval, e que, especial não me é permitido olvidar. Refiro- ao longo do último ano, munido de suas me ao distinguido trabalho voluntário e reconhecidas organização, inteligência desinteressado que vem sendo realizado, e conhecimento profissional, tanto me desde o ano passado, pelos integrantes

274 RMB2oT/2013 NOTICIÁRIO MARÍTIMO do Conselho Delibe- rativo do Abrigo do Marinheiro, com trans- cendentes implicações para o bem-estar da família naval. Regis- tro, portanto, meus sinceros agradecimen- tos aoVice-Almirante (FN) Leitão, Contra- Almirante Médici, Contra-Almirante Transmissão do cargo de DGPM (Md) Sérgio Pereira e Contra-Almirantes (RM1) Marcus Vinicius AGRADECIMENTO E BOAS-VINDAS e Gomes, dizendo-lhes que suas atitudes são DO COMANDANTE DA MARINHA emblemáticas de um comprometimento que fundamenta as mais nobres tradições de nos- “Após cerca de um ano e quatro meses sa instituição. Faço questão de mencionar de intensas e profícuas atividades, o Almi- também o abnegado trabalho desenvolvido rante de Esquadra Luiz Fernando Palmer pelas Voluntárias Cisne Branco, que tanto Fonseca passa hoje a Diretoria-Geral do tem contribuído para a assistência ao nosso Pessoal da Marinha. pessoal e suas famílias e, consequentemente, Dono de indiscutíveis qualidades, den- para o moral de nossas tripulações. Assim, tre as quais destaco lealdade, experiência, agradeço à Senhora Sheila Royo Soares de objetividade, perspicácia, inteligência e Moura pela atenção distinguida à Seccional dedicação ao serviço, o Almirante Palmer Rio de Janeiro dessa organização e à minha soube conduzir com brilhantismo o Setor mulher, Graça, pelo trabalho em prol das do Pessoal, cumprindo todas as atribuições voluntárias, realizado em detrimento de suas que lhe foram confiadas. atividades profissionais. A superação dos desafios inerentes ao Prezado Almirante Obërg, no momento cargo, cuja amplitude e complexidade são em que assume seu primeiro cargo no últi- significativas, apenas corrobora a sua capa- mo posto da carreira, posso imaginar que cidade administrativa e o seu talento de líder uma forte emoção invade seu coração e sua sensível e capaz de zelar pelo maior patrimô- mente. Peço-lhe, portanto, que me permita nio da instituição: os homens e as mulheres compartilhar desse momento, que é seu, que dela fazem parte e seus dependentes. manifestando minha alegria em lhe passar E sem sombra de dúvida foi muito atribuições que me foram tão gratas. Não bem-sucedido, cabendo enaltecer, por de- tenho dúvida de que o marinheiro estudioso ver de justiça, algumas de suas principais que eu aprendi a admirar quando calouro na realizações: Escola Naval e aluno da Escola de Guerra – as alterações quantitativas e qualita- Naval saberá conduzir a porto seguro o tivas das Tabelas de Lotação, em face do nosso maior patrimônio. aumento autorizado do efetivo; Sucesso e felicidades extensivas à sua – a criação da Viagem de Instrução para esposa Lidia. os Oficiais do Quadro Complementar do Bons Ventos!” Corpo da Armada;

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– a designação de servidoras civis e Prezado Almirante Palmer! No mo- praças do sexo feminino para embarcarem mento em que V. Exa. transmite o honroso no Navio-Escola Brasil; cargo, cabe-me agradecer a dedicação – o aperfeiçoamento dos órgãos de exe- despendida e parabenizar pelos resultados cução do Sistema de Assistência Integrada alcançados, que foram de extrema impor- do Pessoal da Marinha (SAIPM), por meio tância para incrementar uma das metas da utilização sistematizada de indicadores prioritárias da Força, que é a elevação do de desempenho e da padronização de nível de satisfação do pessoal. procedimentos; Apresento-lhe os mais sinceros votos – a reestruturação da Diretoria de As- de sucesso à frente dos setores Operativo sistência Social da Marinha, com foco na e da DGN, que em breve assumirá, e de realização de estudos relativos à situação felicidades e realizações, extensivos à sua psicossocial, financeira e profissional do esposa, D. Graça, filhas e neta. nosso pessoal, a fim de subsidiar o plane- Bons ventos, e que Deus o acompanhe! jamento das ações de gestão social; Seja muito feliz! – a ampliação das atividades do Labo- Ao Almirante de Esquadra Elis Treidler ratório Farmacêutico da Marinha; Öberg, apresento as boas-vindas e os meus – a continuação da revitalização do cumprimentos ao assumir o seu primeiro cargo Hospital Naval Marcílio Dias, visando ao como almirante de esquadra, na certeza de que incremento da sua capacidade operacional; seus sólidos conhecimentos, aliados aos seus – a inauguração da Policlínica Naval de meritórios atributos, garantirão a continuida- Campo Grande; des das atividades desenvolvidas pela DGPM – o prosseguimento da modernização e contribuirão para o pleno êxito no cumpri- do Centro de Instrução Almirante Alexan- mento da missão que ora lhe é confiada.” drino, para atender ao aumento autorizado do efetivo; PALAVRAS INICIAIS DO ALMIRANTE – a implementação de um projeto piloto ÖBERG nos Comandos dos 1o, 3o, 5o e 8o Distritos Navais, dinamizando os processos de re- “Alegria e desafio. São com estes dois crutamento a nível regional; sentimentos que assumo o Setor de Pes- – a reestruturação da carreira das praças, soal da Marinha. A alegria, naturalmente por meio do Quadro de Praças da Armada decorrente do momento em que acabo Submarinistas, com interstícios diferen- de atingir o último posto da carreira, e o ciados; e desafio em face das responsabilidades e – a realização do concurso para o Qua- dos complexos processos de tomada de dro Técnico de Praças da Armada, sendo decisão inerentes ao cargo. que, em meados de 2014, muitos dos 80 As Marinhas são constituídas por navios terceiros-sargentos das especialidades CI, e pessoas. Os navios, com seus sofisticados EL, MA e MO, que compõem a primeira sistemas de armas e de plataforma, têm turma, serão selecionados para o Curso de um comportamento previsível decorrente Subespecialização em Submarinos, quan- de leis físicas e matemáticas que regem os do iniciarão o processo de capacitação seus sistemas. As pessoas não. para a operação dos complexos submari- As pessoas carregam paixão, emoção nos ora em construção, em especial o de e sentimentos, além de reagirem de forma propulsão nuclear. inesperada às demandas e aos comporta-

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mentos que lhes são apresentados. Portanto, presente momento, para agradecer a pre- planejar as decisões neste setor e conduzir sença e dizer que buscarei incansavelmente os processos decorrentes implicam sensi- honrar a herança deixada e avançar no bem bilidade, maturidade e arte. No Setor do gerir o pessoal de nossa instituição. Pessoal, as decisões impulsivas e não ama- Agradeço às autoridades civis e mili- durecidas devem ficar do portaló para fora. tares, aos convidados e amigos que me Ter a tranquilidade para prospectar o honraram com a sua presença. futuro de forma a começar a fornecer agora Aos companheiros da Turma Esperança, o conhecimento e a sofisticação intelectual o meu muito obrigado, e acreditem que dos almirantes de esquadra da segunda me- sempre estaremos juntos. tade deste século é um desafio fantástico. Deixo meu registro de saudade à memó- Por isso sou grato. ria de meus pais, que me ensinaram honesti- Inicialmente, agradeço ao Exmo. Sr. dade, caráter e justiça, e um agradecimento Embaixador Celso Amorim, ministro da especial aos familiares aqui presentes. Defesa, que, com a sua presença, abrilhanta Finalmente, à Lídia, que estará junto de forma marcante esta cerimônia. comigo em mais essa travessia, o meu Agradeço ao comandante da Marinha, amor. Aos meus filhos Cláudio, André e Almirante de Esquadra Julio Soares de Arthur, o carinho de um pai que ainda os Moura Neto, por ter me confiado a responsa- vê como meninos. bilidade inerente à chefia do Setor do Pessoal Ao Almirante de Esquadra Luiz Fernan- da Marinha. Almirante Moura Neto, esteja do Palmer Fonseca, brilhante chefe naval, certo de que buscarei o máximo de minha agradeço a forma minuciosa, a gentileza e a capacidade para bem conduzir a DGPM. fidalguia com que me recebeu e transmitiu Gostaria, neste momento, de me dirigir o cargo. Almirante Palmer e Dona Graça, às OM subordinadas e à minha tripulação. recebam os mais calorosos votos de felici- Saibam que é uma honra e um privilégio dade, meus e de Lídia, nas suas atividades poder comandá-los. Estejam seguros de no Comando de Operações Navais, porque que, com honestidade, lealdade e coragem o sucesso, mercê de sua competência, já de- moral, conseguiremos juntos seguir em monstrada ao longo de sua carreira, é certo! frente, honrando o legado de insignes Por fim, elevo meu pensamento a Deus, chefes navais que nos antecederam, alguns para que me inspire na condução da DGPM. deles aqui presentes e a quem me dirijo no Viva a Marinha!”

OFICIAL DE MARINHA “FAZ DIFERENÇA” EM MISSÕES DE PAZ E É PREMIADO PELO JORNAL O GLOBO

O jornal O Globo homenageou, em Diversas autoridades e personalidades 27 de março último, o Capitão de Mar e estiveram presentes, entre elas o presiden- Guerra (FN) Alexandre Mariano Feitosa. O te do Supremo Tribunal Federal (STF), oficial recebeu o prêmio “Faz Diferença”, Joaquim Barbosa, que falou à equipe da categoria “Mundo”, por sua contribuição TV Marinha a respeito da importância no esforço de paz na Síria. A cerimônia foi de um brasileiro representar o País em realizada no Hotel Copacabana Palace, na missões de paz. “O fato de ele estar em cidade do Rio de Janeiro. outros países representando o nosso país,

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é uma prova da importância crescente do Operações Especiais e de Inteligência. Foi Brasil na cena internacional.” oficial de Inteligência da Missão das Na- Para o homenageado, o prêmio con- ções Unidas para a estabilização no Haiti, solidou o esforço de 29 anos dedicados de junho de 2005 a junho de 2006. Nos anos à Marinha do Brasil, dos quais boa parte de 2010 e 2011, serviu no Ministério da De- à paz mundial. Em 17 de maio do ano fesa, onde participou do Grupo de Especia- passado, o Coman- listas Governamentais dante Feitosa sofreu da Organização das um súbito acidente Nações Unidas (ONU) vascular cerebral e na qualidade de perito, teve que passar duas nos assuntos ligados à semanas internado. segurança internacio- Três semanas depois, nal, no campo da segu- confiante, já estava rança da informação. pronto para retomar Como capitão de as suas atividades na mar e guerra, serviu Síria. no Departamento de O prêmio “Faz Di- Operações de Ma- a CMG (FN) Feitosa recebe troféu da editora de ferença”, em sua 10 “Mundo”, Sandra Cohen nutenção de Paz da edição, é uma iniciati- ONU, em Nova Ior- va do jornal O Globo que tem por objetivo que, de dezembro de 2010 a dezembro homenagear os brasileiros que mais con- de 2012, exercendo o cargo de oficial de tribuíram para transformar o Brasil num Planejamento Militar das Missões de Paz país melhor por meio de seus trabalhos, da ONU no Oriente Médio. Durante esse exemplos e iniciativas. São selecionados período, fez parte do Grupo Avançado na candidatos para as 17 editorias do jornal, missão precursora de seis observadores entre as quais a categoria “Mundo”, em que internacionais enviados pela ONU à Sí- concorrem brasileiros e instituições brasi- ria, em abril de 2012, a fim de preparar leiras que fizeram diferença fora do País. A o caminho para a chegada de outros 250 disputa ocorre anualmente, entre três candi- monitores encarregados de fiscalizar datos de cada editoria, que são escolhidos o cumprimento do cessar-fogo entre o por um júri composto por jornalistas de O regime de Bashar Al Assad e as forças Globo e do vencedor do ano anterior, além rebeldes de oposição. Após percorrer os da votação popular feita por meio do site do jornal. Graduado em Ci- ências Navais pela Escola Naval em 1987, casado e pai de três filhos, o Coman- dante Feitosa traba- lhou, durante prati- camente toda a sua a carreira, nas áreas de Vencedores da 10 edição do Prêmio Faz Diferença Foto: Fabio Rossi (Agência O Globo)

278 RMB2oT/2013 NOTICIÁRIO MARÍTIMO principais pontos de conflito na Síria, o Atualmente, o comandante desempenha “Grupo Avançado” conseguiu chegar ao o cargo de chefe do Departamento de Con- seu objetivo: propiciar condições para o trainteligência do Centro de Inteligência da estabelecimento da Missão de Supervisão Marinha (CIM). de Paz da ONU na Síria. (Fonte: www.mar.mil.br)

PRÊMIO QUALITY BRASIL 2013

A Base Naval de Val-de-Cães (BNVC), tem como propósito distinguir e premiar localizada em Belém (PA), recebeu, em empresas e instituições que se destacam 16 de maio último, o no mercado brasilei- Prêmio Quality Brasil ro e cuja excelência 2013. A cerimônia na qualidade de seus de premiação foi re- produtos ou serviços alizada na Sociedade contribui efetivamente Hebraica de São Pau- para o desenvolvimen- lo, na capital paulis- to socioeconômico do ta, com a presença País. Entre os fatores do comandante da que contribuíram para BNVC, Capitão de a distinção da BNVC Mar e Guerra Átila está a construção das Martins Thomazelli, lanchas escolares para e de seu antecessor o Ministério da Edu- no cargo, Capitão de cação, que teve alta Mar e Guerra Ricardo relevância no processo Barros. educacional em áreas O Prêmio Quality, concedido pela Socie- ribeirinhas brasileiras de difícil acesso. dade Brasileira de Educação e Integração, (Fonte: Bono no 376, de 31/5/2013)

PROMOÇÃO DE ALMIRANTES

Foram promovidos por Decreto Presi- Rocha, Paulo Cesar Demby Corrêa, Flávio dencial, contando antiguidade a partir de Macedo Brasil, Newton de Almeida Costa 31 de março de 2013, os seguintes oficiais. Neto, Renato Batista de Melo e Wladmilson – Corpo da Armada: ao posto de Al- Borges de Aguiar. mirante de Esquadra, os Vice-Almirantes – Corpo de Fuzileiros Navais: ao Eduardo Bacellar Leal Ferreira e Elis Trei- posto de Almirante de Esquadra (FN), o dler Öberg; ao posto de Vice-Almirante, Vice-Almirante (FN) Fernando Antonio os Contra-Almirantes Wagner Lopes de de Siqueira Ribeiro; ao posto de Vice- Moraes Zamith, Leonardo Puntel, Afrâ- Almirante (FN), os Contra-Almirantes nio de Paiva Moreira Junior, Celso Luiz (FN) Washington Gomes da Luz Filho Nazareth e Cláudio Portugal de Viveiros; e Alexandre José Barreto de Mattos; ao ao posto de Contra-Almirante, os Capitães posto de Contra-Almirante (FN), os Ca- de Mar e Guerra Flávio Augusto Viana pitães de Mar e Guerra (FN) Jorge Nerie

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Vellame, Luiz Artur Rodrigues Nunes e – Corpo de Engenheiros da Marinha: ao José Luiz Corrêa da Silva. posto de Vice-Almirante (EN), o Contra- – Corpo de Intendentes da Marinha: ao Almirante (EN) Francisco Roberto Portella posto de Vice-Almirante (IM), o Contra- Deiana; ao posto de Contra-Almirante Almirante (IM) Helio Mourinho Garcia (EN), o Capitão de Mar e Guerra (EN) Ivan Junior; ao posto de Contra-Almirante (IM), Taveira Martins. os Capitães de Mar e Guerra (IM) Marcelo – Corpo de Saúde da Marinha: ao posto Barreto Rodrigues, Luiz Carlos Faria Vieira de Contra-Almirante (Md), o Capitão de Mar e Hugo Cavalcante Nogueira. e Guerra (Md) Luiz Claudio Barbedo Fróes.

PRIMEIRA ALMIRANTE BRASILEIRA VISITA MARINHA DOS EUA

A Contra-Almirante (Md) Dalva Ma- e experiências com as militares de di- ria Carvalho Mendes, primeira oficial- ferentes especialidades e de conhecer a general feminina do Brasil, visitou, de rotina militar feminina norte-americana, 25 de fevereiro a 1o de março, os Estados visitando alojamentos, locais de trabalho, Unidos da América (EUA). Os propósitos espaços de estudo e de prática desportiva, da viagem foram: trocar experiências tanto na Academia Naval de Annapolis atinentes a aspectos quanto a bordo do na- relacionados à car- vio USS Bataan – um reira e à formação do meio naval de assalto Corpo Feminino da anfíbio que conta com Marinha; conhecer várias militares na o Setor do Pessoal; tripulação, em virtude e observar algumas das instalações médi- Organizações Mili- cas e odontológicas tares da Marinha da- disponíveis. quele país, localiza- Ainda como par- das em Washington, te da programação, Millington, Tennes- CA (Md) Dalva, no Pentágono, acompanhada pelas a Contra-Almirante see, Norfolk e Vir- almirantes americanas e oficiais brasileiras (Md) Dalva e sua gínia. A almirante comitiva participa- viajou acompanhada pela vice-diretora ram de um almoço no Pentágono, com de Ensino da Marinha, Capitão de Mar a presença de sete militares norte- e Guerra (T) Aldner Peres de Oliveira; e americanas e almirantes de diversos pela Primeiro-Tenente (CD) Luísa Brazão Corpos e Quadros. de Abreu, do Centro de Instrução Almi- A visita à Marinha norte-americana rante Graça Aranha. agregou inúmeros conhecimentos sobre A semana foi de intensas atividades, a participação da mulher nas Forças Ar- incluindo visitas a instituições de saúde, madas, trazendo informações importantes de ensino e protocolares. Durante o pe- para os setores de Pessoal e de Ensino da ríodo, a almirante brasileira e comitiva Marinha do Brasil. tiveram a chance de trocar informações (Fonte: www.mar.mil.br)

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CIAW TERÁ AUTONOMIA EM GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

O Centro de Instrução Almirante Wan- Para solucionar o problema e tornar o denkolk (CIAW) recebeu, em 23 de feve- CIAW autossuficiente em geração de ener- reiro último, três geradores a diesel que gia elétrica, uma central está sendo construí- permitirão iniciar a montagem da Central da com apoio da Diretoria de Obras Civis da de Geração de Energia do CIAW (Cegec). Marinha. A chegada dos geradores de 750 Essa central dará ao CIAW autonomia na KVA e sua operacionalização provisória já geração de energia elétrica para atender à permite ao CIAW utilizar energia constante atual demanda exigi- e altamente confiável. da pelas instalações Após a conclusão da Ilha das Enxa- das obras civis e elétri- das, localizada no cas para a montagem da Rio de Janeiro, onde Cegec, o CIAW passará fica este Centro de a ter plena autonomia Instrução. em geração de energia O recebimento elétrica para pronto em- de energia elétrica prego nas ocasiões em por meio de cabo que precisar. submarino, princi- Esta central de pal fonte de ener- Chegada dos geradores no CIAW energia permanecerá gia da ilha, durante como fonte alternativa décadas vem sofrendo com constantes de energia confiável e eliminará o risco de interrupções, causadas por dragagens e o CIAW paralisar suas atividades acadêmi- passagens de navios de grande calado cas por falta de energia elétrica, trazendo no canal de acesso ao porto do Rio de mais segurança e conforto para os alunos Janeiro. Nessas ocasiões, dois pequenos dos Cursos de Formação, Especialização e motores a diesel atendiam parcialmente Aperfeiçoamento ao longo do ano. à demanda da ilha. (Fonte: www.mar.mil.br)

ANUNCIADO O VENCEDOR DO CONCURSO ESTAÇÃO ANTÁRTICA COMANDANTE FERRAZ

Foi anunciado em 15 de abril último, propósito de selecionar o melhor projeto na sede do Instituto Arquitetos do Brasil para as instalações da Estação Científica no Rio de Janeiro (IAB-RJ), o projeto Brasileira na Antártica. O concurso foi vencedor do concurso da Estação Antártica lançado em 28 de janeiro e teve inscritas Comandante Ferraz (EACF). O trabalho es- 109 equipes, coordenadas por arquitetos colhido é coordenado pelo arquiteto Fábio que entregaram 74 projetos. Henrique Faria, de Curitiba, que venceu “A proposta vencedora contempla to- por unanimidade. dos os interesses da Marinha, do IAB, do Promovida pela Marinha do Brasil e Ministério da Ciência e Tecnologia e do organizada pelo IAB, a iniciativa teve o Ministério do Meio Ambiente”, esclareceu

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o coordenador do concurso, o arquiteto Com investimento em torno de R$ 72 Luiz Fernando Janot. milhões, as novas instalações terão 19 Dez pontos foram estabelecidos como laboratórios, sistemas de água potável, base e serviram de referência para a energia, de coleta e separação de resíduos comissão julgadora. sólidos, rede avança- Entre eles estavam a da de comunicações implantação da edi- de dados e de voz, ficação no sítio, a segurança, logística, resolução funcional instalações mecânicas dos ambientes que e sistemas especiais, compõem a estação, como fontes de ener- a harmonia arquitetô- gias renováveis. Além nica do conjunto, os disso, terá biblioteca, aspectos e as técnicas academia de ginásti- construtivas, a pos- ca e centro cirúrgico sibilidade de criação de emergência, entre de novas alternativas Vista do projeto vencedor outros ambientes ne- de energia e coletas cessários ao seu pleno de lixo, transformação de águas residuais, funcionamento. Esta estrutura vai abrigar água potável, além do conforto ambiental. 64 pessoas durante o verão e 34 no inver- A comissão julgadora foi construída no, entre militares da Marinha do Brasil e por três arquitetos indicados pelo IAB e pesquisadores. dois indicados pela Marinha do Brasil, (Fonte: www.mar.mil.br) que se reuniram ininterruptamente durante cinco dias para obter uma avaliação justa e precisa dos trabalhos que eles indicaram. O próximo passo será a realização de um projeto executivo e de licitação em que será escolhida a empresa construtora. O início das obras da nova estação está previsto para novembro de 2013. A estação será recons- truída no mesmo local da anterior, em uma área de aproximadamente 3,2 mil m2. Vista do projeto vencedor

CAAML APOIA COMISSIONAMENTO DOS MÓDULOS ANTÁRTICOS EMERGENCIAIS

Militares do Centro de Adestramento Com o propósito de intensificar proce- Almirante Marques de Leão (CAAML) rea- dimentos e promover a correta utilização lizaram durante a 31a Operantar, em março dos novos equipamentos instalados e ad- deste ano, Assessoria de Adestramento de quiridos, a equipe do CAAML ministrou prevenção e combate a incêndio, em apoio aulas e exercícios diários de combate a ao Grupo-Base nos novos Módulos Antár- incêndio, acidentes com vítimas e evacua- ticos Emergenciais (MAE), na Antártica. ção de pessoal.

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Ao longo dos 19 dias de adestramento, os componentes do Grupo-Base puderam se familiarizar com os novos agentes extintores empregados nos módulos dos geradores e da cozinha. Por outro lado, os instrutores do CAAML tiveram a oportunidade de aprimo- rar seus conhecimentos, conciliando técnicas de combate a incêndio, já consagradas, com as condições adversas encontradas no con- tinente gelado, como baixas temperaturas, fortes ventos e dificuldades de locomoção. (Fonte: www.mar.mil.br) Grupo Base e militares do CAAML

MARINHA TERMINA OBRA DE ESTAÇÃO BRASILEIRA PROVISÓRIA NA ANTÁRTICA

A Marinha do Brasil terminou, em militares por um período mínimo de cinco 25 de março último, a construção de um anos, até que o novo complexo brasileiro no complexo provisório na Antártica, que vai continente comece a ser construído e tenha abrigar cientistas e militares na Estação condições de funcionamento. Comandante Ferraz. Os chamados Módulos A obra foi realizada onde funcionava o Antárticos Emergenciais (MAEs) substi- heliporto da estação. De fabricação cana- tuem a infraestrutura dense, o novo abrigo destruída por incêndio foi montado na África em fevereiro de 2012. do Sul e no Canadá, Os módulos são sendo unificado poste- compostos por seis riormente em Buenos dormitórios, uma Aires, na Argentina. enfermaria e uma De lá, foi levado de cozinha, além de re- caminhão até Punta feitório, escritório e Arenas, no Chile, onde laboratório. Há, ainda, embarcou no navio dois contêineres des- San Blás até a estação tinados a tratamento Módulos emergenciais foram construídos na brasileira no continen- de esgoto, três para Antártica para abrigar cientistas e militares te gelado. geração e distribuição A nova construção de energia e mais um para o fornecimento tem um sistema eficaz contra incêndio. de água potável. O comandante Paulo César Galdino de Entre novembro de 2012 e março de Souza, chefe da Estação Comandante 2013, cerca de 200 homens, sendo cem Ferraz, explica que, além de portas corta- em terra, trabalharam diariamente no pro- incêndio, foram instalados na cozinha do cesso de desmontagem da antiga estação módulo e na casa de máquinas, onde estão e de construção dos módulos. O conjunto os geradores que funcionam com diesel de contêineres abrigará pesquisadores e especial para uso no frio, dispositivos

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Imagem panorâmica da estação para extinção de incêndio que podem ser A reconstrução da Estação Antártica acionados remotamente. Há ainda, no lo- Comandante Ferraz deverá começar no cal, conexão à internet, acesso à telefonia verão de 2013/2014. A nova infraestru- móvel e à TV a cabo. tura destinada aos militares e cientistas Os MAEs poderão ser reaproveitados brasileiros deve ter cerca de 3.300 m2 de pelo governo brasileiro na Antártica após área construída e capacidade para abrigar a construção do novo até 65 pessoas por vez. complexo, que subs- O investimento será de tituirá a estação des- R$ 100 milhões. As in- truída. O comandante vestigações científicas está na estação desde realizadas pelo Brasil novembro passado, na Antártica podem quando foi iniciada ajudar no serviço de a remoção dos des- meteorologia, na pre- troços, e deve perma- visão de frentes frias necer até novembro e no impacto que elas de 2013. Até lá, o causam em atividades Brasil marcará sua agropecuárias do País. Militar da Marinha trabalhando na construção dos presença na Antártica, módulos emergenciais na Antártica Além disso, os estudos fazendo a manuten- (Foto: Eduardo Carvalho/G1) ajudam a entender os ção dos módulos e o efeitos da mudança monitoramento da geração de energia e de climática global, provocada pelo excessivo água. Nesse período, o chamado inverno lançamento de gases causadores do efeito antártico, nenhum navio irá até lá, já que o estufa, responsáveis por aquecer o planeta mar congela. Suprimentos serão lançados e provocar um acelerado degelo da região. de paraquedas com a ajuda de aviões da (Fonte: www.g1.globo.com, por Edu- Força Aérea Brasileira (FAB). ardo Carvalho)

NAVIO POLAR ALMIRANTE MAXIMIANO REGRESSA DA ANTÁRTICA

Após aproximadamente seis meses em (Operantar), o navio foi a principal base para operação na Antártica, o Navio Polar Almirante 105 pesquisadores, que, nesse período, traba- Maximiano retornou ao Rio de Janeiro em 18 de lharam em 11 projetos de pesquisa em diversas abril último. Durante a 31a Operação Antártica áreas, como biologia, geologia e oceanografia.

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“Nessa operação, o navio, com seus mudanças ambientais e globais sobre essas cinco laboratórios, pôde empregar todo populações. Monitoramos, por exemplo, seu potencial no apoio à pesquisa”, disse com relação a alguma virose, como o vírus o comandante do navio, Capitão de Mar influenza aviária. O navio serviu de apoio e Guerra Newton Calvoso Pinto Homem. para irmos para o ponto de reprodução das Foram 159 dias no mar, percorren- aves”, explicou a pesquisadora. do as áreas das ilhas Durante a 31a Ope- Elefante, Deception rantar, o navio partici- e Livingston, Rei Ge- pou, ainda, da Integra- orge, Nelson, Robert ção Antártica I, na Ilha e Marambio, além dos Meia Lua. Essa foi a estreitos de Gerlache primeira operação con- e Bransfield. Entre os junta entre a Marinha projetos científicos do Brasil, por meio do desenvolvidos, estava Instituto de Estudos do o estudo das aves, Navio Polar Almirante Maximiano Mar Almirante Paulo coordenado por Maria Moreira (IEAPM), e a Virgínia Petry, ligada ao Instituto Nacio- Armada Argentina (ARA), que trabalhou nal de Ciência e Tecnologia Antártico de para a ocupação da Base Antártica Camara, Pesquisas Ambientais. “Estudamos, desde operada pela ARA, em proveito do Progra- 1986, a dinâmica das populações de aves, ma Antártico Brasileiro (Proantar). com o intuito de analisar o impacto das (Fonte: www.mar.mil.br)

NM GERMANIA CHEGA AO RJ COM ESCOMBROS DA EACF

O Navio Mercante (NM) Germania, escombros e os equipamentos danificados uma das embarcações utilizadas na maior da Estação Antártica Comandante Ferraz operação logística já realizada no Conti- (EACF). Além do material avariado, o nente Antártico pela Marinha do Brasil, navio trouxe também para o Brasil tratores, atracou no Arsenal de Marinha do Rio de escavadeiras, botes e empilhadeiras para Janeiro em 26 de março último, com os passarem por manutenção.

NM Germania atracado no Arsenal de Marinha do Dez carretas transportaram os escombros para a Rio de Janeiro para retirada dos escombros Base de Abastecimento da Marinha

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Todo o escombro retirado do navio irá requer maior cuidado para evitar contami- para a Base de Abastecimento da Marinha, nação) deverá ser entregue a uma empresa onde vai ser acondicionado até a destinação especializada. adequada. Segundo o Capitão de Corveta O comandante do NM Germania, Ca- (IM) Yuri, ajudante do encarregado da pitão de Longo Curso Andrey Kirillov, logística do Programa Antártico Brasileiro destacou que toda a expectativa criada (Proantar), a conclusão da etapa de des- em relação ao transporte dos escombros montagem da antiga estação se dará com a foi correspondida sem a ocorrência de venda do escombro de aço em leilão, após problemas. licitação. Já o escombro de cinza (parte que (Fonte: www.mar.mil.br)

REGRESSO DO NApOc ARY RONGEL ENCERRA A 31a OPERANTAR

O píer da Diretoria de Hidrografia e Além do Ary Rongel, a Marinha do Navegação da Marinha (DHN) recebeu, Brasil enviou outros dois de seus navios: o em 25 de abril, o último navio participante Navio de Socorro Submarino Felinto Per- da 31a Operação Antártica (Operantar). O ry, também empregado, prioritariamente, Navio de Apoio Oceanográfico (NApOc) no apoio aos trabalhos na área da EACF Ary Rongel atuou no apoio logístico ao des- e o Navio Polar Almirante Maximiano, monte da Estação Antártica Comandante que abriga modernos equipamentos para Ferraz (EACF) e à instalação dos Módulos o desenvolvimento de projetos científicos Antárticos Emergen- no ambiente antártico. ciais (MAE), durante Também participaram os cinco meses que dessa edição o Navio permaneceu no con- de Apoio Logístico tinente gelado. ARA San Blas, da Ma- O “Gigante Ver- rinha argentina, e o melho”, como o re- Navio Mercante Ger- cém-chegado navio mania, afretado para é carinhosamente co- apoiar o desmonte e a nhecido pela tripula- instalação dos MAEs. ção, também apoiou Foram 120 dias de projetos científicos de NApOc Ary Rongel na Baía de Guanabara (RJ) mar e mais de 17.300 14 pesquisadores, em milhas navegadas pelo sua maioria realizados próximo ao local do “Gigante Vermelho” nessa operação. Com desmonte, na Enseada Martel, e, ainda, na dois porões com capacidade de 1.254 m3 Ilha Deception. Entre eles, estavam proje- para o transporte de carga e dois laborató- tos de geofísica, com sondagem do fundo rios para apoio à pesquisa, o navio cumpriu do oceano; acampamentos de análises de sua missão. “Trouxemos, por exemplo, aves e algas; e um projeto dentro da própria materiais que não tinham mais uso e esta- área da Estação, onde foi realizada manu- vam em Punta Arenas, como os utilizados tenção de equipamentos que funcionarão para o reabastecimento de óleo da Estação. neste inverno. Também transportamos a lancha para ma-

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nutenção, para que seja reutilizada na nova missão Interministerial para os Recursos do Estação”, descreveu o comandante do Ary Mar, do Arsenal de Marinha, da tripulação Rongel, Capitão de Mar e Guerra Marcelo dos navios e dos pesquisadores. A previsão Luis Seabra Pinto. deste ano é ser de muito trabalho para a “A Marinha reagiu de uma forma es- construção da nova estação. Após o reparo, plêndida ao sinistro e hoje, após apenas o trabalho recomeça”, disse o diretor de alguns meses, já possui praticamente outra Hidrografia e Navegação, Vice-Almirante estação montada com os módulos emergen- Marcos Nunes de Miranda. ciais. Foi um trabalho da Secretaria da Co- (Fonte: www.mar.mil.br)

CAPITANIA DO AMAPÁ E NB TENENTE CASTELO APOIAM BUSCAS EM SANTANA

O Navio-Balizador (NB) Tenente Cas- dade dos destroços no fundo do rio, a fim telo foi deslocado, em 1o de abril, para a de apoiar o trabalho de mergulhadores na área de Santana (AP), onde ocorreu, em procura por desaparecidos. 28 de março último, A ação faz parte do acidente no Terminal esforço do Comando do Privado da Anglo Fer- 4o Distrito Naval (Be- rous. Subordinado ao lém-PA) para resguardar Serviço de Sinaliza- a segurança da navega- ção Náutica do Norte, ção e apoiar ações de o Tenente Castelo se busca e salvamento após encontrava realizando o referido acidente. levantamentos hidro- Inicialmente, a Ca- gráficos na Barra Nor- pitania dos Portos do te do Rio Amazonas. Amapá (CPAP) havia O navio está equi- Lancha Jari, do NB Tenente Castelo, e sido acionada para auxi- pado com Sonar de Lancha Oiapoque, da Capitania dos Portos do Amapá, liar a segurança da nave- Varredura Lateral realizando buscas no local do acidente em Santana gação na área próxima (Side Scan Sonar), ao Terminal e realizar o destinado à obtenção de imagens de re- levantamento das avarias causadas nas embar- giões submersas, podendo ser empregado cações regionais que se encontravam no local, para a localização de estruturas naturais e além de colaborar com as equipes do Corpo de artificiais. O equipamento será utilizado Bombeiros na busca aos desaparecidos. na identificação da posição e da profundi- (Fonte: www.mar.mil.br)

NP BABITONGA RESGATA VELEIRO ARGENTINO

O Navio-Patrulha Babitonga, embarcação O veleiro se encontrava à deriva a cerca de 15 subordinada ao Comando do 5o Distrito Naval milhas a nordeste da cidade de Rio Grande. (Rio Grande-RS), prestou socorro, em 20 de Apesar das condições climáticas ruins, a março último, ao veleiro argentino Don Isidro. embarcação foi rebocada com êxito para o por-

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to da cidade, e todos os tripulantes resgatados Portos do Rio Grande do Sul, atracou o Don apresentavam boas condições de saúde. No dia Isidro em segurança no Iate Clube Rio Grande. seguinte, a Lancha Gravataí, da Capitania dos (Fonte: www.mar.mil.br)

O veleiro argentino resgatado Navio-Patrulha Babitonga

RESGATE DE TRIPULANTES DO BP LION DE LAMER

Um grupo de três tripulantes do Barco de nas proximidades do Porto de Tubarão, Pesca (BP) Lion de Lamer foi encontrado, na em Vitória. Em 3 de maio, o pesqueiro manhã de 7 de maio último, a cerca de 15 mi- havia saído de Jacaraípe, no Município lhas náuticas da costa da Serra (ES), com de Vitória (ES). Os três tripulantes a bordo pescadores, que esta- para pescar, porém não vam sem suprimentos havia regressado. na embarcação, foram A CPES iniciou as resgatados pela Equi- buscas imediatamente, pe de Inspeção Naval enviando uma equipe da Capitania dos Por- de Inspeção Naval a tos do Espírito Santo bordo da embarcação (CPES). Eles foram Capela, além de comu- levados à Capitania, nicar o desaparecimen- onde foram recebidos Pescadores encontrados pela equipe da CPES to às companhias de por seus familiares. navegação que atuam No dia anterior, a CPES foi informada, na área e divulgar o fato na Vitória Rádio. via telefone, de que o BP estava à deriva (Fonte: www.mar.mil.br)

NAVIOS JAPONESES PARTICIPAM DE EXPOSIÇÃO E DE PROGRAMA DE GEOLOGIA MARINHA

O Navio Oceanográfico Yokosuka e o Conhecimento”, sobre geologia marinha, Submersível Shinkai 6500 foram as es- no Píer Mauá, na cidade do Rio de Janeiro. trelas da exposição “A Nova Fronteira do A abertura do evento, em 6 de maio último,

288 RMB2oT/2013 NOTICIÁRIO MARÍTIMO contou com a presença de autoridades bra- governo. Juntos eles debateram as mais sileiras e japonesas e incluiu a tradicional recentes pesquisas marinhas voltadas para cerimônia de boa sorte japonesa Kagami- o meio ambiente, a biodiversidade e o biraki. Entre as autoridades presentes, o potencial mineral dos oceanos. Também ministro de Minas e Energia, Edison Lo- no Museu Naval, foram expostas amostras bão; o ministro de Ciência e Tecnologia e de rochas coletadas no fundo do oceano, Inovação, Marco Antônio Raupp; o diretor painéis e gráficos sobre o programa de presidente do Serviço geologia marinha que Geológico do Bra- está sendo desenvol- sil (CPRM), Manoel vido pelo governo Barretto; o presidente brasileiro, tanto em da Agência Japonesa águas internacionais de Ciências do Mar e quanto na Plataforma da Terra (Jamstec), Continental e na Zona Asahiro Taira; e o Econômica Exclusiva embaixador do Japão, brasileiras. Akira Miwa. O programa de pes- O navio e o sub- quisa é considerado es- mersível ficaram tratégico pelo governo, abertos à visitação Submersível Shinkai 6500 pois, além de avaliar o pública no dia 6; o potencial mineral, visa dia seguinte foi reservado à visitação de ampliar a presença brasileira no Atlântico alunos de escolas do Ensino Fundamental e Sul. A Jamstec e a Marinha do Brasil Médio da rede pública. Os navios japoneses também participaram da exposição. A ex- chegaram ao Rio após pedição teve seu início realizar uma série de em 13 de abril, quando experimentos científi- partiu de Cape Town, cos no leito marinho, na África do Sul, le- em águas internacio- vando a bordo seis pes- nais do Atlântico Sul, quisadores brasileiros com a participação e cientistas japoneses. de pesquisadores do Ela está mapeamento Brasil e do Japão. e recolhendo material Nessa primeira fase geológico e biológico da Expedição Iatá- do leito marinho do Piuna – “Navegando O Yokosuka no Píer Mauá Atlântico Sul. No pri- em águas profundas e meiro trecho, foram escuras”, na língua tupi-guarani –, foram percorridas a Elevação do Rio Grande – realizados mergulhos a profundidades que região mais rasa localizada a cerca de 1,5 chegaram a 4 mil metros, os principais mil quilômetros da costa do Sudeste – e a desafios da tripulação. Cordilheira de São Paulo. Os pesquisadores Paralelo à exposição, foi realizado levantaram a probabilidade de esta região seminário no Museu Naval, que reuniu ser uma parte da Plataforma Continental pesquisadores brasileiros e da comunida- Brasileira que se desprendeu e afundou com de internacional, além de autoridades do o movimento das placas tectônicas.

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As novas conclusões foram obtidas a tificação de recursos naturais e minerais partir do apoio do submergível Shinkai com usos econômicos. 6500, capaz de descer a 6,5 mil metros de O Shinkai 6500 custou cerca de US$ 130 profundidade, e que foi usado para coletar milhões ao governo japonês e faz pesquisas material do local. Por meio de dragagem, em águas profundas desde 1991. Também pesquisadores brasileiros já tinham encon- foram investidos US$ 100 milhões no navio trado granito na região, e agora confirma- Yokosuka, a fim de adequar a embarcação ram a presença da rocha com os mergulhos para transportar o submersível. possibilitados pelo veículo. Menos denso A expedição é o marco principal da que as rochas normalmente encontradas cooperação Brasil-Japão em Oceanografia, no fundo do oceano, o granito está mais Ciências do Mar e Tecnologia de Oceanos, associado aos continentes. iniciativa decorrente de acordo de coope- No segundo trecho da expedição, ração técnica celebrado entre o CPRM, o será explorado o Platô de São Paulo Instituto de Oceanografia da Universidade para a pesquisa científica da biogeo- de São Paulo (IO-USP) e a Jamstec. grafia e da biodiversidade dos fundos (Fontes: http://www.cprm.gov.br e marinhos e, ainda, para a possível iden- www.ebc.com.br)

MARINHA DOS EUA “FATIA” E RETIRA NAVIO ENCALHADO NAS FILIPINAS

O navio caça-minas USS Guardian, da janeiro último, foi “fatiado” e cuidadosamente Marinha dos Estados Unidos, encalhado em desmontado, peça por peça, ao longo dos últi- um santuário marinho das Filipinas em 17 de mos dois meses. Um navio guindaste foi usado

Pedaços do navio da Marinha americana encalhado nas Filipinas foram retirados nos dois últimos meses (Foto: U.S. Navy/Kelby Sanders)

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nos trabalhos na costa filipina para desmantelar tirar o navio preso foi desmantelá-lo em e extrair o navio do recife de coral Tubbataha, seções, devido à deterioração do navio um patrimônio da humanidade desde 1993. e do seu peso, e pelo local onde estava Segundo comunicado da Marinha encalhado. norte-americana, a única maneira de re- (Fonte: www.g1.globo.com)

Um guindaste auxiliou na retirada das partes do Parte do navio recolhida durante o desmonte navio encalhado no recife (Foto: U.S. Navy/Anderson Bomjardim) (Foto: U.S. Navy/Anderson Bomjardim)

TERMO DE COOPERAÇÃO DO TRAMO NORTE DO RIO PARAGUAI – 3o TERMO ADITIVO

Foi assinado, em 16 de abril último, 370/2009-DAQ-Dnit para 11 de agosto de entre a Marinha do Brasil e o Depar- 2014. Com a prorrogação, serão repassados tamento Nacional recursos na ordem de de Infraestrutura de R$ 12,7 milhões com Transportes (Dnit), o a finalidade de man- 3o Termo Aditivo ao ter o balizamento do Termo de Coopera- Rio Paraguai no trecho ção do Tramo Norte entre Corumbá (MS) e do Rio Paraguai. A Cáceres (MT). cerimônia de assi- O documento foi natura aconteceu na assinado pelo diretor sede no Estado-Maior de Hidrografia e Nave- da Armada (EMA), gação, Vice-Almirante em Brasília (DF). Marcos Nunes de Mi- General Fraxe e Almirante Miranda O evento foi con- assinam o 3o Termo Aditivo randa; pelo comandan- duzido pelo subchefe te do 6o Distrito Naval de Logística e Mobilização do EMA, (Ladário-MS), Contra-Almirante Rodolfo Contra-Almirante José Augusto Vieira Frederico Dibo; e pelo diretor-geral do da Cunha de Menezes, que firmou, por DNIT, General de Divisão Jorge Ernesto meio do 3o Termo Aditivo, a prorrogação Pinto Fraxe. de prazo do Termo de Cooperação no (Fonte: www.mar.mil.br)

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MARINHA TESTA COMBUSTÍVEL NUCLEAR NA NORUEGA

O combustível nuclear que vai abastecer a compra do urânio a ser utilizado. A aqui- o submarino atômico brasileiro foi testado sição de um pequeno lote de 20,2 gramas e funcionou pela primeira vez em 10 de foi feita pela Noruega. O Brasil domina o março último, no Instituto de Tecnologia ciclo do combustível e tem o material es- da Energia (IFE), localizado em Halden, na tocado, porém a legislação exige que toda Noruega. Um grupo ligado ao Centro Ex- movimentação, saída e entrada no País, perimental Aramar, da Marinha do Brasil, seja autorizada pelo Congresso. Como a preparou o teste durante três meses, e os quantidade era pequena e a pressa era laboratórios de Halden foram escolhidos grande, a solução para superar a dificuldade porque o Brasil ainda não dispõe de um burocrática foi a compra pela Noruega. reator de pesquisa para tal tarefa. O governo Os resultados do teste revelaram que o federal está providenciando a construção combustível nuclear poderia fazer o sub- do modelo nacional, destinado a atender a marino de 100 metros e 4 mil toneladas necessidades dos setores médico, agrícola mergulhar além dos 350 metros, navegar e de energia. com a agilidade esperada e velocidades na O governo da Noruega permitiu a re- faixa de 50 km/hora. O primeiro submarino alização dos testes no IFE pelo fato de o nuclear brasileiro deverá estar construído Programa Nuclear da Marinha (PNM) ser até 2023. Em 2013, os programas do setor identificado naquele país como “estrita- deverão receber R$ 2,5 bilhões do Progra- mente pacífico”. Para realizar a “qualifi- ma de Aceleração do Crescimento (PAC) cação técnica do combustível nuclear”, o do governo federal. nome oficial do exame, foi preciso negociar (Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo)

MB ASSINA ACORDO DE COOPERAÇÃO TÉCNICA E CIENTÍFICA COM EMPRESA DE DEFESA NACIONAL

A Marinha do Brasil (MB), representada da Força, ao mesmo tempo que servirá de pelo Comando do Material de Fuzileiros alavanca para o crescimento da empresa. Navais (CMatFN), assinou, em 10 de abril (Fonte: www.mar.mil.br) último, um Acordo de Cooperação Técnica e Científica com a empresa Aeroespacial e Defesa (Ares). A parceria que será de- senvolvida com o Centro Tecnológico do Corpo de Fuzileiros Navais (CTecCFN) permitirá a substituição das passadeiras flutuantes, utilizadas pelos fuzileiros navais para transposição de córregos e rios, por tropa, assim como em situações de cala- midade pública. Para o diretor da Ares, Ricardo Cam- pello da Silveira, a parceria com a Marinha O CA (FN) Loureiro e o diretor da Ares do Brasil aumentará a capacidade operativa assinam Acordo de Cooperação Técnica e Científica

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IAE REALIZA TRABALHO EM CONJUNTO COM A MB

Como parte de uma parceria entre a A velocidade simulada do navio foi Marinha do Brasil (MB), por meio do de 10m/s, para malha computacional Centro de Análises de Sistemas Navais de 8 milhões de elementos. Essa simu- (Casnav), e o IAE (Instituto de Aeronáutica lação exigiu sete dias de trabalho para e Espaço), foram realizadas, em novembro a geração da malha e mais de 16 horas de 2012, simulações de processamento de de escoamento no oito computadores da IAE sobre corveta da Divisão, trabalhando classe Inhaúma, da em paralelo. MB. Este projeto con- As imagens resul- templa o estudo das tantes mostraram a condições de escoa- distribuição de pres- mento sobre o convés são do ar sobre a su- de voo, uma vez que perestrutura, além de esta embarcação está Simulação de escoamento – corveta classe Inhaúma magnitudes da velo- apta a receber pousos cidade do escoamento e decolagens de helicópteros. ao redor do navio. Estão previstos mais O estudo determinará as condições em que ensaios e simulações em diferentes con- o pouso poderá ser feito com maior seguran- dições de velocidade e direção do vento, ça. Juntamente com os estudos de Dinâmica para que, no final, possam ser determina- dos Fluidos Computacional, foram realizados das condições seguras de operações de ensaios no túnel de vento TA-2 da ALA, para pouso de aeronaves sobre o convés deste uma completa caracterização do escoamento tipo de navio. aerodinâmico nesta parte da embarcação. (Fonte: www.iae.cta.br)

BRASIL ADQUIRE EQUIPAMENTO INÉDITO PARA PROJETO DO SETOR PORTUÁRIO

O Brasil importou, pela primeira vez, sel, emitindo gases poluentes na atmosfera. o seccionador elétrico Cable Cabinet Ao analisar este cenário, o Tecon, junta- HDC-A, equipamento a ser utilizado em mente com a K2 do Brasil, desenvolveu um projeto da Tecon Salvador. A ABB, líder sistema de alimentação em AT e BT para os em tecnologias de energia e automação, foi primeiros RTGs elétricos no Brasil e Amé- a responsável por concretizar a operação rica Latina, os quais estão implementados comercial, realizada em abril último por hoje no pátio do Tecon Salvador. Dessa meio de negociações da EPCista K2 do forma, a ABB forneceu diversos equipa- Brasil com a operadora de serviços portu- mentos para EPCista, desde baixa até alta ários Tecon Salvador. tensão, para compor o sistema. Entre eles, Atualmente, os equipamentos RTGs está o Cable Cabinet HDC-A, importado da (Rubber Tire Gantry Cranes) utilizados nos Suécia especialmente para o projeto. portos brasileiros para movimentação de O projeto, cem por cento elétrico, possui contêineres funcionam por geradores a die- um diferencial fundamental para atender à

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nova tendência do setor portuário do País, melhoria da sua performance energética, que é a de atualizar seus equipamentos para além da redução dos impactos ambien- sistemas de tecnologias mais avançadas. tais. O grupo ABB opera em cerca de A ABB é líder em tecnologias de cem países. energia e automação, proporcionando aos (Fonte: Kreab Gavin Anderson Comu- clientes industriais e de concessionárias a nicação)

APP PORTONAVE É O PRIMEIRO APLICATIVO MULTIFUNCIONAL DO GÊNERO NO PAÍS

Os clientes do Terminal Portuário de empresa), ver os serviços que o Terminal Navegantes, localizado em Santa Catarina, oferece (transporte, logística, câmara frigo- podem, a partir de agora, ter seus trabalhos rífica da Iceport,trading ), e consultar e bai- facilitados. A Portona- xar fotos da empresa ve está lançando o APP em alta resolução. Portonave, um aplica- O diferencial do tivo para smartphones APP Portonave é a e tablets com informa- área privada para ções e serviços que vão clientes, despachan- desde a programação tes e transportado- de navios até a altera- ras. Com usuário e ção de guias de entrada senha cadastrados, e saída de contêineres. será possível con- Este é o primeiro apli- sultar e alterar guias cativo multifuncional de entrada e saída de de portos no País. contêineres, pesqui- O APP Portonave é sar os contêineres gratuito e pode ser con- APP Portonave no Terminal (patea- sultado em celulares mento) e fazer simu- e tablets com sistema Android e IOS. No lação de faturamento. O aplicativo está dispositivo, é possível consultar a progra- disponível para download na APP Store mação de navios (atracados, esperados e e Play Store. finalizados), conhecer mais sobre a Porto- (Fonte: Assessoria de Imprensa da nave (diretrizes, histórico e localização da Portonave)

BELTSHIP IMPLANTA FLEETBROADBAND UNLIMITED PARA VALE

A Beltship Management Limited graneleiros que administra para a Vale, (BML), empresa de gestão especializada segunda maior empresa de mineração em transbordo e volume de autodescarga, do mundo, sediada no Brasil. O serviço implantou o serviço FleetBroadband Un- de telecomunicação ilimitada foi insta- limited, da Inmarsat, em todos os navios lado pelo AND Group PLC, parceiro da

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Inmarsat e provedor de serviços globais guração e suporte de TI a seus terminais de satélite e engenharia, após avaliação e cybercafés com pontos de atendimento da Beltship no serviço de comunicações localizados em todo o mundo. para credenciar a Inmarsat. Antes de optar A motivação da tripulação era um pela solução da Inmarsat, a empresa havia dos principais pontos de consideração da considerado outras ofertas desenvolvidas Beltship – abordagem compartilhada tam- por concorrentes. bém pela Vale, proprietária dos navios. O A Beltship precisava de uma nova so- acesso gratuito e ilimitado à internet para a lução de comunicação capaz de prestar um tripulação faz parte de uma iniciativa mais serviço mais sólido, eficaz e econômico, ampla em prol do bem-estar dos marinhei- com grande disponibilização de dados e ros, iniciativa essa que inclui, ainda, uma que fosse capaz de cobrir as necessidades academia de ginástica e a disponibilização operacionais dos navios. Além disso, o de itens destinados a entretenimento, tais serviço seria usado pela tripulação durante como instrumentos musicais, jogo de dar- viagens de três meses entre ida e volta do dos e exibição de filmes em cada navio. Brasil à China. A Beltship também buscava (Fonte: Jeffrey Group Marketing e Co- um provedor que pudesse oferecer confi- municação Corporativa)

NOVIDADE PARA O SETOR DE OFFSHORE CHEGA AO BRASIL

A multinacional Bentley apresentou, mentos ambientais (fenômenos naturais em maio último, um novo produto para o como vento, velocidade do mar, tempesta- crescente mercado de offshore no Brasil. des etc.). Já o Maxsurf é um aplicativo para Trata-se do SACS Marine, uma integração arquitetos navais que precisam de diversos entre os já conhecidos SACS e Maxsurf. recursos para análise de estabilidade, com- Os softwares passaram por um upgrade e portamento dinâmico e resistência de casco. agora promovem uma sinergia que favorece Além disso, o Maxsurf tem facilidade de principalmente engenheiros civis e navais. integração com aplicativos 3D CAD/CAM Graças a essa nova plataforma, os especia- para projetos de detalhamento. listas de áreas diferentes utilizam uma única A Bentley é líder global dedicada a solução para execução de projetos. fornecer soluções abrangentes de software O SACS software para plataformas e para arquitetos, engenheiros, profissionais estruturas offshore (cais, módulos topsides, geoespaciais, construtores e proprietários- torre de flare e embarcações) realiza cálcu- operários para a infraestrutura sustentável. los estruturais de carregamentos comuns (Fonte: XComunicação e www.bentley. (peso e materiais, entre outros) e carrega- com.br)

TECNOLOGIA ALEMÃ ANTICORROSÃO É LANÇADA NO PAÍS

O EcoGlas Pro Protetor Permanente, fero, estaleiros e outras áreas com estruturas uma tecnologia anticorossão e antiabrasão metálicas chega ao Brasil. A tecnologia, indicada para indústria naval, setor petrolí- conhecida em outros países como “vidro

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líquido”, é capaz de proteger qualquer tipo revestimento anticorrosão, antiabrasão e de estrutura metálica contra corrosão. antipichação. É 500 vezes mais fino do que Do ponto de vista econômico, os um fio de cabelo. prejuízos causados pela corrosão em Na Rússia, o produto tem sido usado nas embarcações, plataformas e tanques, por indústrias de alumínio. O EcoGlas Pro Pro- exemplo, atingem custos extremamente tetor Permanente também pode ser aplicado altos, resultando em consideráveis des- em outras superfícies que não respiram, perdícios de investimento. “O objetivo é como plástico e granito, com finalidade de selar a superfície, não permitindo mais que proteger contra umidade, sujeiras e diversas a oxidação aconteça”, explica Paulo Loria, substâncias líquidas, como água, vinho, diretor da DPM Tecnologia, empresa que ácidos, sendo uma solução definitiva para está comercializando o produto. mármores e granitos. Desenvolvido na Alemanha, o EcoGlas Com durabilidade de até 20 anos, a nova Pro Protetor Permanente tem dióxido de tecnologia ainda não tem custo definido sílica (SiO2) e uma solução de polissilazano no Brasil. em solvente na fórmula. A mistura cria um (Fonte: Gonzalez Comunicação)

IX CONFERÊNCIA INTERAMERICANA DE TELECOMUNICAÇÕES NAVAIS

Foi realizada na Escola Naval (RJ), de Conferência Naval Interamericana (CNI) 27 a 31 de maio, a IX Conferência Inte- e ocorre, sob o patrocínio da Marinha dos ramericana de Telecomunicações Navais Estados Unidos, em local escolhido pela (CITN). O evento teve o propósito de Secretaria da RNIT, desde que nenhum país aperfeiçoar e padronizar os sistemas de co- se ofereça para sediá-la. municações navais americanos para, assim, Paralelamente à IX CITN, foi come- dispor-se de sistemas operativos eficientes morado o Jubileu de Ouro de criação da em tempos de paz ou em crises. RNIT. Durante o evento, buscou-se, ainda, A CITN é o resultado da fusão, em 1998, incrementar a interoperabilidade entre as de duas outras reuniões sobre o trato de Marinhas das três Américas. telecomunicações entre as Marinhas ame- (Fonte: www.mar.mil.br) ricanas: a Conferên- cia Interamericana de Chefes de Comunica- ções Navais (CICCN) e a Reunião de Pessoal Operativo (RPO) da Rede Naval Intera- mericana de Teleco- municações (RNIT), composta atualmente por 18 países. O fórum é convo- cado bienalmente pela Delegados e assistentes participantes da IX CITN

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III CONGRESSO MARES DA LUSOFONIA

Foi realizado na Escola de Guerra Naval militares e civis dos diversos países de (EGN), Rio de Janeiro, de 20 a 23 de maio, língua portuguesa. o III Congresso Mares da Lusofonia, orga- (Fonte: www.mar.mil.br) nizado pelo Instituto Mares da Lusofonia e com apoio da Marinha do Brasil. A palestra de abertura, “No Mar, o futuro das Nações Lusófonas”, abordou a importância da “Amazônia Azul”. Durante todo o evento, foram discutidos assuntos como segurança, aspectos legais, exploração com sustentabilidade e o futuro do mar, com a participação de autoridades Instituto Mares da Lusofonia

RIO BOAT SHOW 2013 GERA R$ 276 MILHÕES EM NEGÓCIOS

Realizada de 25 de abril a 1o de maio, Marine, Prestige e Segue Yachts, crianças a 16a edição do Rio Boat Show, palco dos se divertiram numa área de recreação in- principais lançamen- fantil. As tradicionais tos do setor náutico palestras, ministradas brasileiro, gerou um por especialistas e na- total de R$ 276 mi- vegadores experientes, lhões em negócios também fizeram parte realizados, superan- da maior exposição do a edição anterior, brasileira de barcos em quando foram gerados flutuação. Além disso, R$ 270 milhões. Este o Rio Boat Show teve, ano, o salão, realizado pela primeira vez, um no Píer Mauá, na cida- pavilhão dedicado ex- de do Rio de Janeiro, clusivamente a empre- atraiu cerca de 130 sas americanas, como expositores, com 230 estaleiros e fabricantes barcos expostos em de equipamentos náuti- uma infraestrutura de cos, todas membros da 45 mil m2 e mais de National Marine Ma- 500 metros de píer. nufactures Association Enquanto adultos (NMMA), principal conferiram as embar- associação da indús- cações expostas, no Embarcações foram expostas também no mar tria náutica de recreio mar e em terra firme, na América do Norte. apresentadas por estaleiros nacionais e Empresas associadas ao NMMA produzem estrangeiros, como Schaefer, Cimitarra, mais de 80% dos barcos, motores, rebo- Azimut-Benetti, Beneteau, Princess, Sessa ques, acessórios e equipamentos usados

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por navegadores e pescadores esportivos O mercado náutico vem crescendo mui- nos EUA e Canadá. O Brasil é, atualmente, to nos últimos anos no Brasil e deverá do- o quinto maior mercado de exportação dos brar de tamanho até 2020. No ano passado, EUA. Além de barcos, o salão náutico do foram gerados mais de US$ 800 milhões Rio mostrou também em vendas no País. Por lançamentos em equi- ano, são vendidos 21 pamentos e motores. mil barcos importados Outro destaque e nacionais, mais de desta edição foi a 400 lanchas e veleiros Semana Náutica Rio são importados e 28 Boat Show, que reuniu mil motores de popa competições náuticas são comercializados. em diversos pontos O Rio Boat Show turísticos do Rio, como 2013 teve patrocínio na Lagoa Rodrigo de da Oi e da Volkswagen Cerca de 130 expositores participaram da Freitas, na Marina da Rio Boat Show 2013 e apoio da Associação Glória, na Urca e no Brasileira dos Cons- Píer Mauá. As famílias visitantes puderam trutores de Barcos e seus Implementos desfrutar do Espaço Cultural, uma área exclu- (Acobar). siva com atrações como filmes e exposições (Fonte: In Press Porter Novelli Asses- de fotos sobre os diversos temas náuticos. soria de Comunicação)

AVIÕES BRASILEIROS EM FEIRA NOS ESTADOS UNIDOS

Dois aviões produzidos em Palhoça, maior, também participou da feira ameri- na Grande Florianópolis (SC), pela Wega cana a Novaer Craft, indústria do setor que Aircraft foram expostos na Sun’n Fun 2013, será instalada em Lages, no mesmo Estado, a segunda maior feira e que programa o início do setor aeronáutico da produção para os no mundo e a mais próximos meses. expressiva em vo- No dia 10, o evento lume de negócios, e em Lakeland recebeu a que foi realizada de visita de comitiva ca- 9 a 14 de abril últi- tarinense liderada pelo mo em Lakeland, na presidente do Sistema Flórida (EUA). Os Federação das Indús- aviões catarinenses trias de Santa Cata- expostos, que foram riana (Sistema Fiesc), voando numa viagem Modelo Wega 180, monomotor para dois lugares, Glauco José Côrte. O de mais de 7,5 mil foi voando aos EUA (Foto: Fernando Willadino) Sistema, que, além da quilômetros, são do Fiesc, reúne o Serviço modelo Wega 180, um monomotor com Social da Indústria (Sesi), o Serviço Na- capacidade para dois lugares, asa baixa. cional de Aprendizagem Industrial (Senai), Focada na produção de aviões de porte o Instituto Euvaldo Lodi (IEL) e o Centro

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das Indústrias do Estado de Santa Catarina SC Parcerias. Outra iniciativa do Sistema (Ciesc), apoia o surgimento e o fortale- Fiesc para apoiar a indústria de aviação cimento de mais um segmento industrial no Estado é a capacitação profissional, naquele Estado, já reconhecido pela diver- com os cursos técnicos de mecânica de sidade de seu parque industrial. aviação do Senai. A Fiesc também criou o A presença catarinense no evento é Comitê de Desenvolvimento da Indústria resultado da articulação de diversas orga- Aeronáutica. nizações públicas e privadas, incluindo a (Fonte: Assessoria de Imprensa do Fiesc e o governo estadual, por meio da Sistema Fiesc)

INTERMODAL SOUTH AMERICA 2013

A Feira Internacional de Logística, de 600 empresas representando 26 países, Transporte de Cargas e Comércio Exterior dentro de uma área 23% maior em relação (Intermodal South America 2013), reali- ao ano passado. O ministro dos Portos, zada de 2 a 4 de abril último no Transa- Leônidas Cristino, esteve presente no mérica Expo Center, em São Paulo (SP), último dia da feira, quando participou da registrou mais de 48.500 visitantes, em sua abertura da 4a Conferência de Logística maioria embarcadores de carga/indústria Brasil-Alemanha. Ele falou sobre a cria- envolvidos no processo de compra de suas ção da Hidrobras, que será responsável empresas. pelos portos fluviais, hidrovias e eclusas, O evento foi marcado por um clima de e esclareceu dúvidas sobre a MP 595. A 4ª otimismo e confiança no desenvolvimento Conferência de Logística Brasil-Alemanha da logística brasilei- abordou temas como ra. Os integrantes do “O transporte e a lo- setor avaliaram que, gística diante da nova mesmo que a Medida política da infraestru- Provisória (MP) 595, tura brasileira”, “O novo marco do se- sucesso na implanta- tor portuário, divida ção de estruturas de lo- opiniões, o cenário gística e redes de valor é de investimentos e agregado no Brasil” e ampliação das fron- “Tendências e estra- teiras de negócios. Positivas também são tégias na logística”. Esse evento foi uma as perspectivas de crescimento dos modais parceria da Associação Alemã de Empre- ferroviário e aeroportuário, fundamentais sas de Logística (BVL) e da Câmara de para maior inserção do Brasil no mercado Comércio e Indústria Brasil-Alemanha do internacional. Paralelamente à feira, foram Rio de Janeiro. Atualmente, a Alemanha realizadas a Conferência InfraPortos, a Rail importa por ano, do Brasil, o equivalente Cargo South America 2013, a Air Cargo a 11 bilhões de euros, principalmente em South America 2013, a Innovative Supply minérios, produtos alimentícios e metais. Chain 2013 e a 4a Conferência de Logística Entre os expositores, marcaram pre- Brasil-Alemanha. sença 34 portos internacionais, bem como Esta 19a edição do evento reuniu mais quatro das cinco maiores empresas de

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transporte marítimo do mundo. Na América com informações e serviços que vão desde Latina, o Brasil é o principal parceiro do a programação de navios até a alteração porto francês Le Havre, que atualmente de guias de entrada e saída de contêineres. recebe produtos alimentícios, como café, Além disso, a empresa apresentou os novos carnes, pescados e frutas. equipamentos que entrarão em operação A Intermodal, mais uma vez com ainda neste primeiro semestre: mais três pavilhões lotados, consagrou-se como a portêineres e cinco novos transtêineres para principal vitrine de lançamentos e debates integrar a atual frota, que passará a ter seis acerca da conjuntura nacional na área. Ex- portêineres e 18 transtêineres. Já a Maestra positores estrangeiros presentes ao evento Navegação e Logística apresentou a con- destacaram as perspectivas de ampliar as solidação do serviço de logística regional. relações comerciais com empresas nacio- A empresa atua, ininterruptamente, há um nais e participantes brasileiros. ano com frequência semanal de Navegan- As mudanças trazidas pela MP 595, tes (SC) a Manaus (AM) por meio de seus a chamada MP dos Portos, que cria um quatro navios full container. novo marco regulató- A Federação das rio para o setor, foi o Indústrias do Esta- principal assunto dos do de Santa Catarina debates e conversas (Fiesc) participou da entre os principais conferência InfraPor- players do segmento. tos, em um painel que O diretor da Agência aborda o papel dos Nacional de Trans- portos no avanço do portes Aquaviários comércio internacio- (Antaq), Pedro Brito, nal e na atração de disse que “o Brasil investimentos empre- A feira atraiu 45 mil visitantes em busca de precisa apresentar novidades e negócios sariais para o Brasil, padrões de competi- destacando-se a efici- tividade. Com um marco regulatório claro, ência nas operações portuárias em Santa o investidor tem regras claras e a certeza Catarina. Santa Catarina possui mais de de que serão cumpridas. Além disso, vai 500 quilômetros de extensão costeira, na permitir um planejamento. O ideal é seguir qual estão instalados seis portos: Itajaí, a tendência dos melhores portos do mundo, Navegantes (Portonave), São Francisco do onde se pensam os complexos para um Sul, Imbituba, Itapoá e Laguna. período de 50 anos”. Outro participante foi o Terminal de A Portonave S/A – Terminais Portuários Contêineres de Paranaguá (TCP), um dos de Navegantes – foi uma das empresas maiores terminais portuários de contêineres nacionais que participaram da Feira. O do Brasil, que destacou os investimentos re- Terminal Portuário, que é responsável por alizados em sua modernização e ampliação. 44% da movimentação de contêineres de Esses investimentos envolvem a aquisição Santa Catarina e integra o Complexo Por- e a implantação de novos equipamentos e tuário do Rio Itajaí-Açu, o segundo maior a construção de um novo píer de atracação, em movimentação de cargas conteineri- que deve ser concluída ainda este ano, além zadas do País, divulgou aos clientes seu de programas de gestão e recursos humanos aplicativo multifuncional, inédito no País, avançados.

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Durante a Feira, foram realizadas 16 de cargas e comércio exterior. A edição coletivas de imprensa de alguns dos expo- de 2014 será especial, pois a feira estará sitores do evento para anúncio de investi- comemorando seu 20o aniversário. mentos e projeções de mercado. (Fontes: Conteúdo Empresarial Comu- A Intermodal é o segundo maior evento nicação Integrada, Voice Comunicacão do mundo e o principal latino-americano Institucional e Assessoria de Imprensa para os setores de logística, transporte Portonave S/A)

MARINHA PARTICIPA DA MAIOR FEIRA DE DEFESA E SEGURANÇA DA AMÉRICA LATINA

A Marinha do Brasil (MB) participou, destacou a importância do investimento com um estande próprio, da 9a edição da em Defesa, mesmo em tempos de paz. Laad Defense & Security, a maior feira Também estiveram presentes à feira o de defesa e segurança da América Latina, ministro da Defesa, Celso Amorim, e realizada de 9 a 12 de abril no Riocentro, várias autoridades civis e militares de na cidade do Rio de Janeiro e que neste diversos países. ano recebeu mais de Participaram do 30 mil visitantes. evento empresas na- De acordo com o cionais e estrangeiras, Plano de Articula- que expuseram seus ção e Equipamentos equipamentos e ser- de Defesa (Paed), a viços, entre os quais MB apresentou aos aqueles utilizados visitantes o tema pelas Forças Arma- “Amazônia Azul – das, Polícias e Forças Patrimônio brasileiro Especiais. O evento no mar” e projetos permitiu o intercâmbio estratégicos da For- Vice-presidente visita estande da Marinha na Laad com representantes das ça, como o Programa delegações das Forças Nuclear da Marinha (PNM); o Sistema Armadas estrangeiras, contribuindo para de Gerenciamento da “Amazônia Azul” o fortalecimento da indústria nacional de (SisGAAz); e a construção do Núcleo do Defesa. Poder Naval, que contempla o Programa de A novidade do estande da Marinha do Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), Brasil este ano ficou por conta do Simu- a construção de navios-patrulha de 500 lador de Navegação, desenvolvido pelo toneladas, a construção de corvetas classe Centro de Análise de Sistemas Navais Barroso, o Programa de Obtenção de Meios (Casnav) em parceria com universidades de Superfície (Prosuper), o Programa de brasileiras. O equipamento ficou à dis- Obtenção de Navios-Aeródromos (Pronae) posição do público para familiarização e o Programa de Obtenção de Navios An- com a manobra de um navio de guerra em fíbios (Pronanf). ambiente virtual. O vice-presidente da República, Michel Na área externa aos pavilhões, junto Temer, que abriu oficialmente a Laad, com outros equipamentos, estiveram ex-

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postos carros de combate, minissubmarino, C), que possui blindagem para proteção do helicópteros e lanchas, entre as quais a motor e dos tripulantes. Lancha de Ação Rápida Combinada (LAR- (Fonte: www.mar.mil.br)

Estande da MB, com o Simulador de Navegação Simulador de Navegação desenvolvido pelo Casnav, em parceria com universidades brasileiras

II WORKSHOP DE ACÚSTICA SUBMARINA

Foi realizado, em 21 e 22 de março últi- Programa de Desenvolvimento de Submari- mo, o II Workshop de Acústica Submarina nos, foram realizadas mesas temáticas com da Marinha, organizado pela Secretaria de os participantes. O propósito foi aumentar Ciência, Tecnologia e Inovação da Marinha a cooperação e as interações transversais (SecCTM), em parceria com a Odebrecht entre os diversos projetos de acústica. Defesa e Tecnologia. O evento ocorreu (Fonte: www.mar.mil.br) no Instituto de Pesquisas da Marinha, na cidade do Rio de Janeiro. Participaram do workshop as institui- ções de ciência e tecnologia da Marinha, empresas da Base Industrial de Defesa, Universidade Federal do Rio de Janeiro e Universidade Federal Fluminense. Durante os dois dias de duração do evento, foram apresentados projetos prioritários de acús- tica submarina. Sob coordenação da Gerência de Acústi- ca Submarina da SecCTM e em proveito do Cerimônia de abertura do workshop

DHN É SEDE DE WORKSHOP DA COMISSÃO OCEANOGRÁFICA INTERGOVERNAMENTAL

A Diretoria de Hidrografia e Navegação membros da Comissão Oceanográfica In- (DHN), organizou, entre 6 e 8 de março tergovernamental (COI) do Grupo Eleitoral último, um workshop entre os estados- América Latina e Caribe (Grupo III). O

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evento teve o propósito de promover as ob- Guatemala, Haiti, México, Panamá, Re- servações sustentadas e serviços oceânicos pública Dominicana e Uruguai, além de na região abrangida pelo Grupo. convidados especiais da COI e cientistas A cerimônia de abertura foi presidida brasileiros. pelo diretor de Hidrografia e Navegação, A COI é uma instituição governamental Vice-Almirante Mar- subordinada à Orga- cos Nunes de Miran- nização das Nações da, que enfatizou a Unidas para a Educa- importância do mar, ção, Ciência e Cultura da Zona Econômica (Unesco) e, de acordo Exclusiva e do co- com o seu estatuto, mércio exterior para possui o propósito de o Brasil. “Por esses promover a coopera- motivos, devemos ção internacional e prestar a devida aten- coordenar programas ção ao oceano, a fim de pesquisa, serviços de melhor protegê-lo, VA Miranda e participantes do workshop e capacitação a fim defendê-lo, e fazer de melhor conhecer a uso sustentável de suas riquezas”, explicou. natureza e os recursos dos oceanos e zonas Participaram do evento o presidente costeiras, além de aperfeiçoar a gestão, o da COI e representantes de Argentina, desenvolvimento sustentável e a proteção Aruba, Brasil, Belize, Colômbia, Cos- do meio ambiente marinho. ta Rica, Cuba, El Salvador, Equador, (Fonte: www.mar.mil.br)

COLÉGIO NAVAL SE DESTACA NA OLIMPÍADA BRASILEIRA DE FÍSICA

Os alunos do Colégio Naval (CN) se propósito de despertar e estimular o inte- destacaram ao conquistar 14 medalhas, resse pela Física. sendo sete de ouro, quatro de prata e três (Fonte: www.mar.mil.br) de bronze, além de medalhas estaduais e menções honrosas, na Olimpíada Brasileira de Fí- sica (OBF). A Cerimônia de Premiação da OBF e da Olimpíada Bra- sileira de Física das Escolas Públicas (Obfep) foi realizada em 14 de março último, na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). As Olimpíadas são uma ini- ciativa da Sociedade Brasileira de Física e têm, entre outros, o Os alunos do Colégio Naval na Uerj

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2o DN REALIZA CURSO ESPECIAL DE DEFESA NUCLEAR, BIOLÓGICA, QUÍMICA E RADIOLÓGICA

Realizado pela primeira vez na área do química e radiológica; primeiros socorros; Comando do 2o Distrito Naval (Salvador- manuseio de produtos perigosos; e táticas BA), nas instalações do Grupamento de navais. Fuzileiros Navais de Salvador (GptFNSa), (Fonte: www.mar.mil.br) foi encerrado, em 15 de março último, o 7o Curso Especial de Defesa Nuclear, Bioló- gica, Química e Radiológica (DNBQR). O curso teve a duração de dois meses e foi ministrado por militares do Centro de Adestramento Almirante Marques de Leão (CAAML) para militares dos 2o, 3o (Natal- RN) e 7o (Brasília-DF) Distritos Navais. Estiveram presentes também integrantes do Corpo de Bombeiros Militares da Bahia. Entre os temas abordados, destacaram- se: instruções de defesa nuclear, biológica, Exercício de DNBQR

BRASIL E ONU ORGANIZAM CURSO DE PREPARAÇÃO DE INSTRUTORES PARA OFICIAIS DE ESTADO-MAIOR EM MISSÕES DE PAZ

O Centro Conjunto de Operações de Paz Estados Unidos da América, Guatemala, do Brasil (CCOPAB) e o Departamento de Paraguai e Uruguai. Operações de Manutenção da Paz da Orga- Este foi o primeiro curso realizado nização das Nações Unidas (Departament sobre o tema nas Américas. A opção por of Peacekeeping Operations – DPKO/UN) realizá-lo no Brasil reflete o excelente conduziram, de 15 a 26 de abril último, desempenho do País nas Missões de Paz nas instalações do Centro General Erna- da ONU, sobretudo no Haiti (Minustah) e ni Ayrosa, em Itaipava (RJ), o Curso de Líbano (Unifil). Preparação de Instrutores para Oficiais de O CCOPAB, Centro Sergio Vieira de Estado-Maior em Missões de Paz (Training Mello, foi criado em 1o de março de 2010 Of Trainers Course for Staff Officers). por transformação do Centro de Instrução O curso teve o propósito de familiarizar de Operações de Paz e tem como missão os participantes com os novos materiais de apoiar o preparo de militares, policiais e treinamento para oficiais de estado-maior civis brasileiros e de nações amigas para em missões de paz desenvolvidos pelo Ser- missões de paz e desminagem humanitária, viço de Treinamento Integrado (Integrated buscando ser um líder global na promoção Training Sevice – ITS) do DPKO e contou da excelência do preparo de recursos hu- com a participação de representantes de manos para emprego em áreas onde são Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Equador, conduzidas as Operações de Paz da ONU.

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Com a filosofia de integrar forças e para Comandantes de Organizações multiplicar conhecimentos, o CCOPAB Militares e Estado Maior (Epcoem) e de tem o propósito de contribuir para a paz Preparação para Missões de Paz (EPMP), mundial, alinhando-se além dos Estágios de com as diretrizes da po- Desminagem Humani- lítica externa brasileira. tária, de Cooperação Cabe ressaltar que esse Civil Militar (Cimic), esforço é realizado por de Preparação de Jor- militares das três For- nalistas em Áreas de ças Armadas, que com- Conflito, de Preparação põem o Centro Con- de Tradutores e Intér- junto e desenvolvem pretes Militares e do estágios, treinamentos Exercício Avançado específicos e exercícios de Operações de Paz que capacitam e auxi- (Eaop), todos de suma liam na execução das importância e vitais missões fora do País. para o excelente desem- Dentre as ativida- penho daqueles que têm des realizadas no Centro destacam-se os o privilégio de integrar uma Operação de Estágios Preparatórios para Comandantes Manutenção da Paz. de Subunidade e Pelotão (EPCSUPel), (Fonte: www.mar.mil.br)

ASPIRANTE DA EN PARTICIPA DA XVI CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE ASPIRANTES E CADETES NO JAPÃO

O Aspirante Pimenta, do 4o ano do Corpo com o apoio de um cadete da Academia da Armada da Escola Naval (EN), partici- Militar das Agulhas Negras (Aman). pou, entre 28 de fevereiro e 7 de março, da Durante o intercâmbio, o aspirante teve XVI Conferência Internacional de Cadetes, a oportunidade de vivenciar a rotina dos as- na Academia de Defesa Nacional do Japão, na cidade de Yokosuka. O evento, que teve como tema “O papel dos militares no futuro”, contou com a presença de aspirantes e cadetes de outros 14 países: Alemanha, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, Filipinas, França, Índia, Indoné- sia, Itália, Japão, Reino Unido, Suécia, Tailândia e Tunísia. O Aspirante Pimenta elaborou um trabalho sobre “Tecnologia e Operações Militares” e, por oca- sião de sua apresentação, contou Intercâmbio no Japão

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pirantes da Academia Japonesa, instituição proferidas por oficiais japoneses presentes responsável pela formação de oficiais dos à Conferência, participar de atividades típi- três setores (Marítimo, Terrestre e Aéreo) cas da cultura japonesa e visitar as cidades das Forças de Autodefesa daquele país. O de Yokohama e Tóquio. aspirante pôde, ainda, assistir a palestras (Fonte: www.mar.mil.br)

COMANDANTE DA MARINHA PROFERE AULA PARA O CURSO SUPERIOR DE DEFESA

O comandante da Marinha, Almirante de O CSD tem por objetivo proporcionar Esquadra Julio Soares de Moura Neto, fez conhecimentos para o exercício de funções uma apresentação, em 13 de março último, de assessoramento de alto nível que envol- para o Curso Superior de Defesa (CSD). vam assuntos de Defesa, tanto no âmbito do Tendo a Escola Superior de Guerra (ESG) Ministério da Defesa como no dos demais como coordenadora, órgãos governamentais este é o mais novo de interesse da Defesa curso no âmbito do Nacional, promovendo Ministério da Defesa. a interação entre os O evento, presti- integrantes dos Cursos giado por oficiais-ge- de Altos Estudos re- nerais das três Forças alizados pelas Forças Armadas, foi minis- Singulares e pela Esco- trado no auditório da la Superior de Guerra. Escola de Comando e O curso tem duração Estado-Maior da Ae- de 40 semanas e, neste ronáutica (Ecemar), ano, conta com 210 na cidade do Rio de participantes, entre ci- Almirante Moura Neto em apresentação ao Janeiro. A apresenta- Curso Superior de Defesa vis e militares oriundos ção teve como tema das Forças Armadas, “O Comando da Marinha”, em que foram Forças Auxiliares e de órgãos das três esferas mostrados os aspectos da Força, a impor- da Administração Pública. A Aula Magna, tância da “Amazônia Azul”, a inserção da que marcou o seu início, foi proferida pelo Marinha na Política Nacional de Defesa ministro da Defesa, Celso Amorim. e a visão de futuro da Marinha do Brasil. (www.mar.mil.br)

COMANDANTE DE OPERAÇÕES NAVAIS FALA SOBRE COPA DAS CONFEDERAÇÕES

As atenções estão voltadas para o Brasil, nas cidades de Belo Horizonte, Brasília, que será sede de grandes eventos que inten- Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro e Salvador. sificarão o turismo nacional, já a partir de De acordo com a Federação Internacional de junho. Entre os dias 15 e 30, o País será sede Futebol Associado (Fifa), o Brasil deverá da Copa das Confederações, que acontecerá bater o recorde histórico de ocupação dos

306 RMB2oT/2013 NOTICIÁRIO MARÍTIMO estádios durante o evento, que é de 83%, ídos pelas cidades-sede, 63 pelotões de registrado em 2005, na Alemanha. fuzileiros navais, sete aeronaves, além de Já a Jornada Mundial da Juventude, que 14 navios distritais. acontecerá em julho deste ano, deve reunir As cidades onde nossos navios estarão cerca de 2,5 milhões de turistas brasileiros e fazendo a defesa são Fortaleza, Recife, Rio do exterior. E, de acordo com o Ministério de Janeiro e Salvador. O caso de Salvador do Turismo, durante os 30 dias da Copa do é especial, porque a Marinha exercerá Mundo de 2014, o Brasil deverá receber a função de Coordenação de Defesa de cerca de 600 mil turistas internacionais. Área, representada pelo comandante do 2o Para que dê tudo certo, o País tem Distrito Naval (cuja sede fica na própria tomado as providências para garantir a Salvador). Isso significa que ele vai coor- defesa e a segurança desses grandes even- denar as ações de todas as demais Forças tos. O comandante de na cidade. Operações Navais, Almirante de Esqua- CCSM – Poderia dra Luiz Fernando citar em que pontos a Palmer Fonseca, em Marinha vai atuar? entrevista ao Cen- AE Palmer – A tro de Comunicação Marinha irá atuar nas Social da Marinha seguintes áreas: Força (CCSM), explica o de Contingência para papel da Força Naval Segurança Pública, e como ela tem se Defesa de Estruturas preparado para atuar Estratégicas, Contra- durante a Copa das terrorismo, Comando Confederações. e Controle, Defesa Ci- bernética, Defesa de CCSM – Quais Área Marítima e Flu- serão atribuições da vial e Defesa NBQR. Marinha do Brasil Comandante de Operações Navais, durante a Copa das AE Luiz Fernando Palmer Fonseca CCSM – Como é o Confederações? planejamento da Mari- AE Palmer – Primeiramente, é preciso nha para um evento desse porte? esclarecer que, durante a Copa das Confe- AE Palmer – Esse planejamento já derações, as ações estão divididas entre a vem sendo feito não só para esse evento, segurança e a defesa. A segurança está a como também para a Jornada Mundial da cargo do Ministério da Justiça. Já a defesa Juventude, que vai ocorrer este ano, para é coordenada pelo Ministério da Defesa. a Copa do Mundo de 2014 e para 2016, No âmbito da defesa, a Marinha, basi- quando acontecem os Jogos Olímpicos. O camente, vai atuar na proteção das áreas planejamento para a defesa desses grandes marítima e fluvial, além das estruturas eventos vem sendo realizado desde o plane- estratégicas, como os portos, por exemplo. jamento da Rio+20, que ocorreu em 2012. Durante o evento, vamos mobilizar um É importante destacar que a Copa das grande efetivo. Ao todo serão empregados Confederações será um excelente exercício cinco navios-escolta que estarão distribu- para a Copa do Mundo, talvez o evento mais

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conhecido internacionalmente, juntamente serão coordenadas pelo Comando do 2o com os Jogos Olímpicos. Nesse tipo de Distrito Naval. evento, o planejamento é coordenado entre Podemos dizer que em Salvador teremos todas as partes envolvidas. Participamos de uma responsabilidade maior. Na Copa do reuniões constantes entre os coordenadores Mundo, isso vai acontecer também em Natal. de defesa de área e os órgãos municipais, E o que esse coordenador faz? Antes de mais estaduais e federais envolvidos. nada, é o responsável por ativar um Estado- Maior Conjunto entre as três Forças e coor- CCSM – A Marinha já possui uma denar as ações com os órgãos de segurança rotina intensa de treinamentos, mas há envolvidos. Essa estrutura possui militares de alguma diferença em relação a esses exer- diversas áreas que assessoram o comando nas cícios que são realizados para a Copa das suas decisões. O coordenador também é res- Confederações? ponsável pelo estabelecimento de um plano de AE Palmer – A Marinha faz rotineira- contingência, caso ocorra algum tipo de evento mente exercícios de defesa de área marítima, extraordinário, algo que requeira um número controle de área marítima, defesa de portos. maior de tropas. Ele tem que ter planejado Essa é a nossa missão, que será também exe- uma força de contingência pronta para atuar. cutada durante a Copa das Confederações. É importante ressaltar que essas ações são CCSM – A Marinha atuou diretamente feitas de uma maneira integrada entre os ór- na segurança da Rio+20. Podemos consi- gãos de segurança envolvidos, a Marinha do derá-lo também como um evento teste? Brasil, o Exército Brasileiro e a Força Aérea AE Palmer – Na Rio+20, as Forças Brasileira. O grande teste será realizado em atuaram não só na defesa, como também na cada um dos estádios em que ocorrerão os segurança. Uma coisa importante durante jogos, por meio de jogos testes. Esse é o a Copa das Confederações diz respeito aos elemento novo em relação a tudo aquilo que pontos sensíveis. Quem vai guarnecer e de- a gente já faz. É nesse momento que toda a fender esses pontos sensíveis serão os órgãos estrutura será testada, havendo tempo de se de segurança pública, mas as Forças Armadas fazerem as correções necessárias. estão prontas a apoiá-los caso seja necessário.

CCSM – Em Salvador, a Marinha do CCSM – Quais seriam esses pontos Brasil será Coordenadora de Defesa de sensíveis? Área. O que isso significa? AE Palmer – Os pontos sensíveis para a AE Palmer – Significa que o plane- Copa das Confederações são estádios e seus jamento e a coordenação da execução de entornos, centros de treinamento, hotéis, todas as ações ficam a cargo da Marinha. locais de concentração e centrais elétricas, Então, todas as outras Forças Componentes entre outros. do Exército e da Força Aérea Brasileira (Fonte: www.mar.mil.br)

EN SERÁ BASE DE TREINAMENTO PARA ATLETAS OLÍMPICOS BRASILEIROS

Os atletas olímpicos brasileiros de nado e vela contarão com a Marinha para se sincronizado, polo aquático, tiro esportivo prepararem para as competições em 2016.

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Em 13 de maio, a Escola Naval (EN) e o o Ministério do Esporte, com previsão para Comitê Olímpico Brasileiro (COB) cele- conclusão em julho de 2014. O COB contrata- braram convênio que torna a EN uma base rá dois técnicos estrangeiros para a atividade. de treinamento para essas quatro modali- Com relação ao nado sincronizado e o dades no período de 2013 a 2016, ano em polo aquático, a medida prevê prioridade que ocorrem os Jogos Olímpicos. O local para treinamento dos atletas nas piscinas da foi escolhido por já possuir uma estrutura Escola Naval, além da realização de suas esportiva adequada para o apoio. preparações finais para o Rio 2016 no local. A vela, segunda modalidade que con- Além dessas modalidades, que englo- quistou mais medalhas para o País em Jogos bam cerca de 200 atletas, equipes de outras Olímpicos, contará também poderão utili- com apoio comple- zar as instalações para to, desde o período treinamentos, como de pré-jogos até o já aconteceu em mar- decorrer dos Jogos ço deste ano com o Rio 2016. A Escola pentatlo moderno. As será a base exclusiva contrapartidas ofere- para a preparação da cidas pelo COB in- equipe, oferecendo cluem a modernização serviços de alimen- da academia e da base tação, treinamento náutica, manutenção físico e acomodação, do parque aquático e além de oficinas e de- O comandante da EN, Contra-Almirante Antonio investimento na estru- Carlos Soares Guerreiro, e o presidente da COB, pósitos, entre outras Carlos Arthur Nuzman, após a assinatura do acordo tura de acomodação instalações. Em con- e na capacitação de trapartida, a área náutica será remodelada pessoal, com auxílio do Instituto Olímpico com uma nova cobertura para proteção de Brasileiro. equipamentos com a mudança de clima, no- “Em paralelo existe um benefício indi- vas rampas e guindastes para embarcações. reto. Nossos aspirantes terão um convívio Outro investimento resultante do acordo muito importante com atletas de alto nível é a construção de um Centro de Treinamento esportivo e terão a chance de desenvolver de Tiro Esportivo de nível internacional, com uma qualidade melhor para competição estandes de 10, 25 e 50 metros. O novo local em nossos níveis”, acrescenta o almirante. será fruto de um acordo entre a Marinha e (Fonte: www.mar.mil.br)

RESULTADOS ESPORTIVOS

GRAND SLAM DE PARIS DE JUDÔ Ketleyn Lima Quadros. A competição foi A primeira medalha do Brasil no Ciclo realizada em 9 e 10 de fevereiro, no Ginásio Olímpico 2016 da categoria foi conquistada de Bercy, em Paris, França. pelo Marinheiro (MN) Bruno Mendonça Silva, vice-campeão masculino na Catego- EUROPEAN OPEN DE JUDÔ ria Leve (-73 kg). O 7o lugar feminino na As equipes masculinas disputaram o Categoria Leve (-57 kg) ficou com a MN Open de Budapeste, na Hungria, em 16 de

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fevereiro; as femininas competiram no Open A prova conta com três etapas e, em sua de Obewart, na Áustria, no dia 17 do mesmo primeira fase, o percurso varia entre 5 e mês. Os atletas da Marinha obtiveram os 10 km. O Terceirto-Sargento Alex Passos seguintes resultados: MN Bruno Mendonça Barbosa conquistou o 3o lugar na prova, Silva – Categoria Leve (-73 kg), 3o lugar; MN com a marca de 33min12s. Essa partici- Ketleyn Lima Quadros – Categoria Leve (-57 pação foi uma preparação para a Meia kg) 3o lugar; MN Claudirene Maria Cezar – Maratona. Categoria Pesado (+78 kg), 7o lugar. CAMPEONATO SUL-AMERICANO GRAND PRIX DE DUSSELDORF DE JUDÔ DE JUDÔ Realizado no Centro Nacional de Alto Realizado em 23 e 24 de fevereiro, Rendimento Esportivo (CeNard), em em Dusseldorf, Alemanha. A MN Maria Buenos Aires, Argentina, em 24 de março. Suelen Altheman venceu três lutas no Os militares da Marinha obtiveram os se- torneio e conquistou a medalha de ouro na guintes resultados: 1o lugar – MN Eduardo Categoria Pesado (+78 kg). A MN Erika Santos (90 kg) e MN Walter Santos (+100 de Souza Miranda, Meio-Leve (-52 kg), e kg); 2o lugar – MN Andressa Fernandes a MN Maria de Lourdes Mazzoleni Portela, (52 kg) e MN Mariana Barros (63 kg); e Médio (-70 kg), conquistaram o 7o lugar em 3o lugar – MN Raquel Silva (52 kg) e MN suas categorias. Katherine Campos (63 kg).

PAN-AMERICAN OPEN BUENOS CAMPEONATO PAN-AMERICANO AIRES 2013 DE JUDÔ DE JUDÔ Realizado em 22 e 23 de março, em Realizado entre 18 e 21 de abril na Buenos Aires, Argentina. A Marinha obte- Cidade de San José, Costa Rica. Foram ve os seguintes resultados: 1o lugar – MN os seguintes os resultados dos atletas da Katherine Campos (63 kg) e MN Walter Marinha: 1o lugar – MN Sarah Menezes (48 Santos (+100 kg); 2o lugar – MN Raquel kg) e MN Mayra Aguiar (78 kg); 2o lugar Silva (52 kg); e 3o lugar – MN Mariana – MN Katherine Campos (63 kg); 3o lugar Barros (63 kg), MN Eduardo Santos (90 kg) – MN Érika Miranda (52 kg), MN Ketleyn e MN Andressa Fernandes (52 kg). Quadros (57 kg) e MN Bruno Mendonça (73 kg); 5o lugar – MN Maria de Lourdes CIRCUITO ATHENAS Mazzoleni Portela (70 kg). Na disputa por Realizado em 24 de março no Aterro equipe, a Masculina ficou em 1o lugar e a do Flamengo, cidade do Rio de Janeiro. Feminina em 3o.

MH-16 SEAHAWK SERÁ AVALIADO COM O SISPRES 5.0

A Avaliação Operacional (AO) dos planejamento e testes iniciais dos sistemas novos helicópteros MH-16 Seahawk, da de guerra antissubmarina da aeronave. Marinha do Brasil, utilizará o Sistema de O Instituto de Estudos do Mar Almiran- Previsão do Ambiente Acústico para o te Paulo Moreira (IEAPM) foi incumbido Planejamento das Operações Navais (Sis- da instalação do Sispres 5.0. Tal sistema pres 5.0), como ferramenta de auxílio ao tem a finalidade de auxiliar na previsão do

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ambiente acústico em uma determinada área e época do ano. Seu uso capacita a Marinha a otimizar o planejamento e o emprego dos meios navais nas operações navais, interferindo de modo decisivo na tomada de decisão em operações antissub- marino. Além disso, realiza cálculos de nascer e pôr do sol e da lua, de crepúsculos náutico e civil, bem como da previsão de maré, cujas aplicações estendem-se às operações anfíbias. (Fonte: www.mar.mil.br) Aeronave MH-16 Seahawk

EXERCÍCIO DE DESEMBARQUE RIBEIRINHO

O Comando do 9o Distrito Naval (Manaus-AM) realizou, em 20 de março último, Exercício de De- sembarque Ribeirinho, Controle de Área Ribeirinha e Assistência Hos- pitalar no município de Novo Airão (AM) e adjacências. O propósito foi incrementar o preparo dos 430 militares envolvidos nas atividades. A operação teve apoio do Comando da Flotilha do Amazonas, do Ba- talhão de Operações Ribeirinhas e Meios navais da MB durante a Operação Formiga do 3o Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral. Nilson Nascimento de Carvalho, empregou A ação fez parte da Operação Formiga e, os Navios-Patrulha Fluvial Pedro Teixeira sob o comando do Capitão de Mar e Guerra e Raposo Tavares; o Navio de Assistência Hospitalar Soares Meirelles; dois helicóp- teros UH-12 Esquilo e um efetivo de 200 fuzileiros navais, em uma conjugação do trinômio navio-helicóptero-fuzileiros na- vais, com o propósito de manter e controlar uma área ribeirinha. Uma novidade desta Operação foi a participação do NAsH Soares de Meirelles como navio de multiemprego ribeirinho, pois, além de realizar assistência hospitalar, transportou grande parcela do efetivo de NAsH Soares de Meirelles escoltado pelo fuzileiros navais para a área de operações. NPaFlu Raposo Tavares (Fonte: www.mar.mil.br)

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PRIMEIRO EXERCÍCIO DE COMUNICAÇÕES ACÚSTICAS SUBMARINAS DIGITAIS

A atual versão do protótipo de modem feitas em duas faixas de frequências, com acústico submarino do Instituto de Estudos mensagens de texto recebidas sem erros em do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM) diversas ocasiões. foi submetida à sua primeira avaliação Durante a CSub I foi possível obter operacional, entre 9 e 11 de abril último. um banco de dados com sinais gravados a O Projeto Comunica- diferentes distâncias, ções Submarinas foi em diferentes profun- testado na costa do didades e em diversas Rio de Janeiro, com cotas de operação do o propósito de prati- submarino. De acordo car a transmissão de com o comandante do dados digitais entre Timbira, Capitão de meios de superfície e Fragata André Martins submarinos. de Carvalho, os resul- A Comissão CSub tados obtidos nessa I contou com a parti- oportunidade foram cipação do Submari- satisfatórios e a ex- NHo Amorim do Valle visto do periscópio do no Timbira, que rea- S Timbira na Comissão CSub I pectativa é de avanço lizou a recepção dos significativo de desem- dados, e do Navio HidroceanográficoAmo - penho em curto prazo, com o incremento rim do Valle, encarregado da transmissão do código do modem, que é definido em de sinais a partir de uma fonte acústica do software. IEAPM rebocada. As transmissões foram (Fonte: www.mar.mil.br)

TROPICALEX-2013

Foram encerradas, em 13 de maio navio-plataforma nas Águas Jurisdicionais último, as 2a e 3a fases da Operação Tro- Brasileiras (AJB). picalex-2013. A 2a fase abrangeu a área marítima compreendida entre Rio de Ja- neiro (RJ) e Natal (RN). Durante essa fase, foram realizados exercícios que visaram elevar o nível de adestramento dos meios da Marinha do Brasil e contribuir para a manutenção da segurança da Amazônia Azul, destacando-se: problema de batalha, exercício de guerra submarina, trânsito com oposição de submarino, tiro sobre alvo rebocado, transferência de carga leve (diurna e noturna), transferência de óleo no Transferência de Óleo no Mar (TOM) simultânea mar sob múltiplas ameaças e proteção de para dois navios

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A 3a fase da Operação teve início com a atracação dos navios do Grupo-Tarefa (GT) nos portos de Natal e de Cabedelo (PB), onde foram realizados exercícios de sabotagem (Sabotex) e adestramento de combate e prevenção à poluição hídrica. Nos dias 11 e 12 de maio, 5.490 pessoas compareceram à visitação pública aos navios. O GT suspendeu no dia 13, ini- ciando a 4a fase da Operação, com novos exercícios no mar. Visitação pública em Natal Sob o comando da 1a Divisão da Esqua- dra, a Operação começou em 2 de maio Navio-Tanque Marajó, Corveta Barroso, e conta com a participação dos seguintes Aeronave AH-11A Super Lynx e Aeronave meios navais e aeronavais: Fragata Liberal UH-13 Esquilo. (capitânia da Operação), Fragata Bosísio, (Fonte: www.mar.mil.br)

NAVIO RUSSO ATRAI ATENÇÃO NA FEIRA DA INDÚSTRIA DE DEFESA EM ISTAMBUL

O hovercraft porta-mísseis russo Bora, Concebidos como porta-mísseis de da Frota do Mar Negro, um dos dois navios ataque para romper a defesa organizada já construídos do Projeto 1239, foi o centro por uma força-tarefa de porta-aviões e das atenções dos especialistas reunidos na afundar porta-aviões, os navios do Projeto Feira Internacional da Indústria de Defesa 1239 constituíram um verdadeiro avanço (Idef-2013), realizada no início de maio, na construção naval. Pela primeira vez no em Istambul, Turquia. mundo, os engenheiros navais russos con- seguiram instalar oito mísseis antinavio pesa- dos​ ​em um hovercraft, o que era anteriormen- te considerado impos- sível. Os hovercrafts são normalmente bar- cos pequenos e pouco estáveis, podendo virar em consequência de um tiro de míssil. No entanto, um gru- po de engenheiros do Сentro de Desenvol- vimento em Tecno- Pela primeira vez no mundo, os engenheiros navais russos conseguiram instalar logias Navais Almaz, oito mísseis antinavio pesados em​​ um hovercraft (Foto: RIA Nóvosti) em São Petersburgo,

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chefiado por Valerian Korolkov, elaborou em qualquer situação. Além disso, ele pode um projeto de navio híbrido de catamarã se deslocar com os motores desligados e e hovercraft. O hovercraft porta-mísseis com um vento contrário de 7 m/s a uma Bora é uma embarcação com dois cascos velocidade de 3 nós. A propulsão é asse- estreitos feitos de uma liga especial de gurada pelo fluxo de ar direcionado pelos alumínio e unidos por uma plataforma de ventiladores do colchão de ar à popa. cerca de 64 metros de comprimento e 17,2 Os principais armamentos do navio metros de largura. O efeito colchão de ar são oito mísseis antinavios supersônicos surge quando, na frente do navio, desce Mosquito, distribuídos em grupos de uma tela flexível, e o ar é impelido por um quatro a bombordo e a boreste, além de ventilador entre os cascos. um sistema de mísseis antiaéreos Osa-Ma O hovercraft do Projeto 1239 tem quali- e dois canhões de seis canos automáticos dades únicas. Por um lado, é um catamarã AK-6-30M de 30 mm. Na proa, o navio estável, capaz de se mover a uma velocida- possui um canhão automático AK-176 de de de até 20 nós. Por outro, um hovercraft 76,2 milímetros. veloz capaz de desenvolver uma velocidade Os oito mísseis disparados em salva po- de mais de 50 nós. dem destruir qualquer navio de guerra mo- Com um deslocamento de 1.050 tonela- derno, inclusive um porta-aviões nuclear. das, o navio possui unidades de propulsão Além disso, o navio se torna praticamente com uma potência total de 56 mil cavalos: invulnerável quando se desloca sobre um dois motores a diesel, cada qual com 10 mil colchão de ar. Os mísseis antinavios auto- cavalos de potência, para operar em regime guiados em serviço da Organização do Tra- de catamarã e dois motores de turbina a gás, tado do Atlântico Norte (Otan) não podem com uma potência total de 36 mil cavalos, manter na mira um alvo em movimento a para operar em regime de hovercraft. Isso uma velocidade de cerca de 90 km/h. permite ao navio permanecer em marcha (Fonte: Rossiyskaia Gazeta)

4o DN APOIA IBAMA DURANTE A PATRULHA NAVAL ATLÂNTICO SUL

O Navio-Patrulha (NPa) Bocaina, do MA) embarcou no navio para participar Comando do Grupamento de Patrulha das abordagens do Grupo de Visita e Naval do Norte, realizou, de 13 a 27 de Inspeção às embarcações pesqueiras. Du- março, a Comissão de Patrulha Naval (Patnav) Atlântico Sul, no litoral de Ma- ranhão e Piauí. Uma equipe com seis agentes do Ins- tituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBA- NPa Bocaina realiza inspeção naval em barco-pesqueiro

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rante a comissão, também foram realizados de Segurança do Tráfego Aquaviário, exercícios de tiro de superfície sobre alvo no que se refere à salvaguarda da vida à deriva, com canhão de 40 mm e metra- humana, à segurança da navegação na lhadoras de 20 mm. região e à prevenção da poluição no O resultado foi a apreensão de oito meio hídrico, quanto por não possuírem embarcações e de 6,5 toneladas de pes- licença para a pesca. cado, tanto pelo descumprimento da Lei (Fonte: www.mar.mil.br)

SEÇÕES DO NOVO SUBMARINO BRASILEIRO EMBARCAM NA FRANÇA

A Marinha do Brasil (MB) deu mais um passo rumo à obtenção de seus novos submarinos convencionais (S-BR1), que serão construídos no País. Em 14 de maio último, as seções de vante (S3 e S4) do primeiro submarino da classe Scorpène foram embarcadas no Navio Mercante Tracer, em Cherbourg, França, rumo a Itaguaí, no Rio de Janeiro, para o início da construção. O novo submarino faz parte do Progra- ma de Desenvolvimento de Submarinos Transporte da seção para o local de embarque (Prosub), que prevê a fabricação de cinco navios, sendo quatro deles convencionais e um com propulsão nuclear. Desde maio de 2010, quando as seções de vante tiveram sua construção iniciada, aproximadamente 365 pessoas, entre fun- cionários, engenheiros, técnicos e especia- listas da MB, da Nuclebrás Equipamentos Pesados S/A (Nuclep) e da Itaguaí Cons- truções Navais (ICN) foram treinadas para transmitir conhecimento a todos aqueles que irão trabalhar na construção dos sub- Embarque da seção de vante no Navio Mercante marinos no Brasil. Tracer (Fonte: www.mar.mil.br)

CASOP E BRVANT CELEBRAM INÍCIO DA OPERAÇÃO DE PLATAFORMA AÉREA

O Centro de Apoio a Sistemas Opera- promoveram, em 11 de abril último, evento tivos (Casop), da Marinha do Brasil, e a alusivo ao início da operação da plataforma empresa BRVant Soluções Tecnológicas aérea BRV – Cardeal 55, realizado durante

RMB2oT/2013 315 NOTICIÁRIO MARÍTIMO a Feira Internacional de Defesa e Seguran- ça (Laad). O Casop recebeu nove dos dez drones encomendados. Desenvolvidos em conjunto com a Marinha do Brasil, os drones podem ser operados em modo automático ou manual, com velocidade superior a 200 km/h. O Casop utiliza-os para treinamento de con- troladores de drones e exercícios de tiro antiaéreo com os Fuzileiros Navais. (Fonte: www.mar.mil.br) O Casop na Laad

PETROLEIROS: ZUMBI DOS PALMARES ENTRA EM OPERAÇÃO E ANITA GARIBALDI É LANÇADO AO MAR

Entrou em operação, em 20 de maio limite para passar nas eclusas do Canal último, o navio petroleiro Suezmax Zumbi do Panamá). Ele foi lançado ao mar pela dos Palmares. A cerimônia que marcou o Transpetro e o Estaleiro Mauá no final do início das atividades do navio foi realizada ano passado, na mesma época que o Zumbi no Estaleiro Atlântico Sul (EAS), no Porto dos Palmares. de Suape, em Ipojuca (PE), e contou com a O Zumbi dos Palmares é um gigante presença da Presidenta da República, Dilma com 274 metros de comprimento e capa- Rousseff; da presi- cidade para transportar denta da Petrobras, 1 milhão de barris, ou Graça Foster; e dos seja, quase metade da 6 mil colaboradores produção diária nacio- do estaleiro. Esta é a nal de petróleo. Como quinta embarcação do navio Suezmax, tem Programa de Moder- as maiores dimensões nização e Expansão para passar no Canal da Frota (Promef) en- de Suez, que liga o tregue à Transpetro Mar Vermelho ao Mar em um período de 18 Zumbi dos Palmares em provas de mar Mediterrâneo. Já o Ani- meses e o segundo ta Garibaldi tem 228 navio deste tipo construído pelo estaleiro metros de comprimento e capacidade para pernambucano. 650 mil barris. Seu nome foi escolhido Por sua vez, o petroleiro Anita Garibaldi em homenagem à heroína que, durante a está no cais do Estaleiro Mauá, em Niterói Revolução Farroupilha, lutou pela indepen- (RJ), onde passa por acabamentos finais dência gaúcha e de outros territórios do Sul antes de ser entregue à companhia para do Brasil. Os outros três Panamax também início das operações. O Anita Garibaldi é serão batizados em homenagem a mulheres o primeiro de uma série de quatro petrolei- que ajudaram a construir a história do País. ros do tipo Panamax (navios que, segundo O Zumbi dos Palmares zarpa do cais suas dimensões, alcançaram o tamanho do EAS totalmente testado e aprovado

316 RMB2oT/2013 NOTICIÁRIO MARÍTIMO de acordo com os padrões internacionais O Anita Garibaldi tem 72.900 toneladas de qualidade da indústria naval mundial. de porte bruto (TPB), boca moldada de 40 Seu alto padrão de qualidade foi atestado metros, calado de 12 metros, altura de 48,3 pela sociedade classificadora internacional metros e velocidade de 15 nós. American Bureau of Shipping (ABS). A Atualmente, o Estaleiro Atlântico Sul produção do navio envolveu quase dois está produzindo simultaneamente mais três mil profissionais e utilizou mais de 21 mil navios Suezmax do Promef. Duas embar- toneladas de aço. Sua cações encomendadas autonomia é de 20 pelo programa – o na- mil milhas náuticas, vio de produtos José o que significa que a Alencar e o petroleiro embarcação poderia Suezmax Dragão do dar a volta ao mundo Mar – deverão ser con- sem a necessidade cluídas e entregues à de abastecer. São as Transpetro ainda este seguintes as demais ano. características do Com encomenda de Zumbi dos Palma- 49 navios e cem em- res: porte bruto (peso barcações hidroviárias, da embarcação com o Promef garantiu as carga máxima) de bases para o renasci- 157,7 mil toneladas, mento da indústria na- comprimento entre Petroleiro Anita Garibaldi val brasileira, que tem perpendiculares de hoje a terceira maior 264 metros, boca moldada de 48 metros, carteira mundial de encomendas de navios pontal moldado de 23,2 metros, calado de petroleiros e emprega 54 mil metalúrgicos. escantilhões de 17 metros, demanda de (Fontes: Agência Petrobrás, www. aço de 24,5 mil toneladas, motor principal transpetro.com.br, Informativo Marítimo Doosan com potência de 22.500 HP e hélice da Diretoria de Portos e Costas e In Press de passo fixo. Porter Novelli)

LINHA DA MSC ESTREITARÁ COMÉRCIO COM A ÁSIA

Por meio da companhia de navegação ção de cargas na Portonave, mas também MSC, o Terminal Portuário de Navegantes para a economia de Santa Catarina. Hoje, (Portonave) terá um novo serviço para a a Ásia representa 43% das importa- Ásia. Este terminal e o porto de Santos (SP) ções catarinenses, em valores (dólares). serão os dois únicos portos brasileiros que O novo serviço integra os portos da Amé- receberão a nova linha do armador MSC. rica do Sul – Buenos Aires (Argentina), Denominado “Ipanema”, o serviço terá 11 Navegantes e Santos – aos portos da Ásia: navios e fará escalas semanais na Portonave. Cingapura, Yantian, Chiwan, Hong Kong, O tráfego com a Ásia é o que mais Ningbo e Xangai. A Portonave soma 12 cresce nas rotas marítimas que envolvem serviços semanais para atender aos clientes. o Brasil. A nova escala será importante (Fonte: Assessoria de Imprensa da não só para o crescimento da movimenta- Portonave)

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FIESC BUSCA NO PANAMÁ COOPERAÇÃO PARA OS PORTOS DE SC

Integrantes de missão empresarial ao Panamá, liderada pela Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), visi- taram, em 16 de abril, terça-feira, o Porto de Manzanillo, o maior e mais importante da- quele país da América Central. O vice-presidente Comitiva, liderada pela Fiesc, em frente à Expocomer regional da Fiesc, Maurício Cesar Pereira, e o diretor de Rela- com os Estados Unidos e o Canadá, o que ções Industriais, Henry Quaresma, apresen- traz facilidades às empresas que querem taram o programa Portos SC ao diretor do vender para estes mercados. porto panamenho, Rodrigo Vidal-Mackay, O PIB do Panamá cresceu 10,8% em e iniciaram as tratativas para buscar coo- 2012. O país está ampliando a sua infraes- peração. O programa catarinense prevê a trutura. Já há aeroporto sendo expandido atuação conjunta dos portos em busca de com o objetivo de tornar-se um ponto de cargas, por meio de articulação liderada ligação internacional, a exemplo do que pela Fiesc. O Porto de Manzanillo não tem ocorre em aeroportos da Ásia, como o de acordos com o Brasil nesta área. “Abriu-se Cingapura. um espaço de trabalho. O Panamá é um Na Cidade do Panamá, a delegação portal de entrada para a América Latina e participou da abertura da Expocomer, feira para os Estados Unidos”, afirmou Pereira, multissetorial, com destaque os setores de que lidera a delegação. alimentos, têxtil, construção civil e tecno- O grupo também visitou a Zona Franca logia. O grupo também visitou o Canal do de Colón, que reúne as maiores empresas Panamá. do mundo e oferece benefícios tributários. (Fonte: Assessoria de Imprensa do O Panamá tem acordos de livre comércio Sistema Fiesc)

CONVENÇÃO SOBRE O TRABALHO MARÍTIMO (MLC 2006) ENTRARÁ EM VIGOR EM AGOSTO

Entrará em vigor internacionalmente, o documento tem como propósito garantir em 20 de agosto deste ano, a Convenção à gente do mar (em torno de 1,2 milhão de sobre o Trabalho Marítimo (MLC 2006). trabalhadores) condições de trabalho em Adotado pela Organização Internacional do harmonia com as regras universais da digni- Trabalho (OIT) em 7 de fevereiro de 2006, dade humana, sem representar obstáculo ao

318 RMB2oT/2013 NOTICIÁRIO MARÍTIMO transporte marítimo mundial. A Convenção Marítimo. Nesse caso, os navios brasileiros se aplica a navios de arqueação bruta igual que se dirigirem a portos de Estados que as- ou superior a 5001, que fazem viagens inter- sinaram a Convenção poderão ser submeti- nacionais ou os de um determinado estado dos a inspeção, sendo exigido que qualquer membro e que operam a partir de um porto, deficiência encontrada seja sanada. O navio ou entre portos, em outro país. poderá até mesmo ser proibido de deixar Esses navios de- o porto caso se avalie verão levar a bordo que essas deficiências um Certificado de constituem grave infra- Trabalho Marítimo ção dos dispositivos da e uma Declaração Convenção. de Conformidade do Para minimizar Trabalho Marítimo, possíveis exigências que atestam que a em- de port state dos países barcação foi inspecionada e que está em signatários da MLV 2006, as empresas acordo com a legislação nacional. cujos navios costumam demandar portos A MLC 2006 foi assinada pelo Governo de países que já a ratificaram devem obter brasileiro quando de sua adoção; porém um Atestado de Conformidade junto a uma falta ratificá-la. Assim, o País ainda não sociedade classificadora. poderá emitir o Certificado de Trabalho (Fonte: Syndarma Informa – março/2013)

“LANCHAS SOCIAIS” SÃO ENTREGUES AO MDS

A Marinha do Brasil entregou ao Minis- de Val-de-Cães, em Belém (PA), visam tério do Desenvolvimento Social e Combate atender às famílias de comunidades carentes à Fome (MDS), em 10 de maio último, dez que vivem em áreas ribeirinhas das regiões “lanchas sociais”. A entrega é o resultado de um Termo de Co- operação Técnica fir- mado entre a Marinha e o MDS, com a par- ticipação da Diretoria de Engenharia Naval e da Empresa Gerencial de Projetos Navais (Emgepron), para a construção de um total de cem lanchas. As embarcações, desenvolvidas e proje- tadas pela Base Naval Cerimônia de entrega das “lanchas sociais”

N.R.: A arqueação bruta, não definida por unidade física de medida, constitui um número adimensional.

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Norte e Centro-Oeste do Brasil, em apoio Militar e 8a Divisão de Exército, General de aos programas e ações do Sistema Único Divisão Ivan Carlos Weber Rosas, do dire- de Assistência Social (Suas) contemplados tor administrativo-financeiro da Emgepron, pelo Plano Brasil Sem Contra-Almirante (IM) Miséria, do MDS. Walter Lucas da Silva, As lanchas trans- As lanchas transportarão e dos representantes das portarão técnicos para técnicos para atendimento prefeituras que mantêm atendimento e pres- parceria com o MDS no tação de serviços so- e prestação de serviços Plano Brasil sem Mi- cioassistenciais nos socioassistenciais nos séria, entre outras. Na municípios de Afuá, ocasião, a ministra res- Curralinho, Gurupá, municípios de Afuá, saltou ser esta uma ação Igarapé-Miri, Mara- Curralinho, Gurupá, inédita no MDS: “A área bá, Melgaço, Moju, Igarapé-Miri, Marabá, de assistência social e Óbidos, Oriximiná e o Suas não possuíam Viseu, todos no Pará. Melgaço, Moju, Óbidos, lanchas e equipamentos A cerimônia de en- Oriximiná e Viseu, adequados para chegar trega das embarcações à população ribeirinha, contou com a presença todos no Pará extrativistas, assentados do governador do Es- e indígenas”. tado do Pará, Simão Jatene; da ministra do Construída em alumínio naval e medindo Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 7,70 m de comprimento, a “lancha social” Tereza Campello; do Senador Fernando de possui capacidade de transporte para até 12 Souza Flexa Ribeiro; do comandante de Ope- pessoas e vem equipada com coletes salva- rações Navais, Almirante de Esquadra Luiz vidas, extintor de incêndio, sirene, luzes de Fernando Palmer Fonseca; do comandante navegação, rádio comunicador, defensas, do 4o Distrito Naval, Vice-Almirante Ade- holofote fixo, buzina e bombas de porão. mir Sobrinho; do comandante da 8a Região (Fonte: www.mar.mil.br)

“Lancha Social”

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