Sexta-feira 10 Julho 2009 www.ipsilon.pt ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DA EDIÇÃO Nº 7038 DO PÚBLICO, E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE DO PÚBLICO, EDIÇÃO Nº 7038 INTEGRANTE DA PARTE FAZ ESTE SUPLEMENTO ROBIN VAN LONKHUIJSEN/REUTERS/UNITED PHOTOS PHOTOS LONKHUIJSEN/REUTERS/UNITED VAN ROBIN

Sacha Baron Cohen

João Coração Stan Matthias Langhoff Marie Chouinard Miguel Vale de Almeida Este espaço vai ser sobre ele, concordando seu. Que filme, peça de ou não concordando Espaço teatro, livro, exposição, com o que escrevemos? Público disco, álbum, canção, Envie-nos uma nota até concerto, DVD viu e 500 caracteres para gostou tanto que lhe [email protected]. E apeteceu escrever nós depois publicamos.

“Black like Me #2”, de Glenn Ligon, uma das primeiras escolhas da família Obama

Glenn Ligon (“Black like Me #2”), muito tempo. Há alguns meses, o de sempre e, como é hábito, Noel cuja obra reflecte a trajectória de irmão guitarrista afirmou que um aproveitou a entrevista para lançar um afro-americano gay vindo do novo álbum, sucessor de “Dig Out algumas farpas. O alvo? Os Coldplay Bronx, e de Alma Thomas (“Watusi Your Soul”, poderia demorar cinco e, mais especificamente, Chris (Hard Edge)” e “Sky Light”), a anos a ser gravado. Agora, em Martin: “Olho para o Chris Martin, primeira americana de raça negra a entrevista ao diário italiano que diz que nunca tomou ter uma exposição individual no “Corriere Della Sera”, citada drogas na vida, e acho que Whitney Museum of American Art, pelo britânico “Guardian”, ele é um idiota. Tomar em 1971. foi mais longe. “Preciso de drogas é aquilo que de A nova política de aquisições – e de algo diferente, talvez outra mais bonito podes fazer empréstimos a longo prazo - da banda”, afirmou, numa banda rock”. Casa Branca está a ser bem recebida acrescentando que Farpa lançada, Noel fez Barack pelo meio, que vê a decisão como apreciaria limitar-se a contas de cabeça: até 1998, Obama quer uma um gesto profundamente tocar guitarra, sem ter terá gasto um milhão de sintomático do programa de Barack que se preocupar em libras [1,16 milhões de euros] Casa menos Branca Obama. Kinshasha Holman Conwill, “cantar ou compor em drogas. Depois, deixou-as. Flash directora do National Museum of canções”. “Parei porque são Por fora, a Casa Branca vai African American History and Não se infira daqui que prejudiciais para a tua continuar tão branca como no dia Culture do Smithsonian, disse ao o fim dos Oasis está saúde, cérebro, vida e da inauguração, há 209 anos, mas é “Independent” que a América está próximo. Gallagher para as pessoas à tua só por fora: Barack Obama está a “em pulgas”: “Um gesto destes é peremptório: “Os volta”. revolucionar a colecção de arte vindo de um lugar tão influente teve Oasis não se vão Tudo somado, eis- contemporânea da presidência com compreensivelmente um efeito separar. Acontece nos perante um uma política de aquisições que catalisador, provocando o debate e que neste aforismo da filosofia pretende corrigir o défice de fazendo subir as expectativas. E isso momento não Noeliana: Chris representação das minorias (e das é muito bom”. Kerry Brougher, o consigo ver que Martin pode ter uma mulheres) nos fundos da residência curador do Hirshhorn que mais podemos boa vida, mas vive oficial. trabalhou com a Casa Branca para fazer. Maiores decerto um mau Desde que fez as contas (apenas formalizar os empréstimos, digressões? Mais rock’n’roll. cinco negros representados numa confessou-se “impressionado” com dinheiro? Preciso colecção que já vai em 400 obras), a lista de escolhas entregue pelos de algo diferente conta o “The Independent”, a Obama: “Não acredito que alguma para manter o A praia do Sr. presidência tem-se desdobrado em vez tenha havido outra interesse”. Hulot já não abordagens discretas a negociantes Administração tão interessada na A relação de de arte e coleccionadores com arte contemporânea”. Gallagher com Noel Gallagher: vem no mapa ligações a artistas afro-americanos, a música dos os Oasis já não hispânicos e asiáticos. A campanha Oasis está, lhe chegam Os habitantes da pequena Sumário está a ser directamente coordenada Noel Gallagher quer portanto, a estância balnear de Saint- pelo gabinete da Primeira Dama, outra banda mudar. A sua Marc-sur-Mer - onde Jacques Sacha Baron Cohen 4 que já pediu emprestadas ao relação com o Tati pôs o seu Sr. Hulot a mostra tudo em “Bruno” Hirshhorn Museum and Sculpture Noel Gallagher não pára, mas os mundo, essa, passar férias num filme de Garden pinturas de artistas como seus Oasis poderão parar durante mantém-se a 1953 - estão em protesto João Coração 12 Caminha para a pop

Brandford Marsalis 17 Incansável explorador E se Jimi Hendrix t Tg STAN 20 Michael Jackson morreu há A premissa é simples, mas O mundo está a pedir uma duas semanas e já há quem digna de guião de filme de comédia garanta que o Rei da Pop Máfia. O britânico “The encenou a sua morte e que Times”, o primeiro jornal a Marie Chouinard 24 andará pela Terra anónimo, entrevistar Wright acerca de Don’t look back in anger afastado da pressão revelação, divulgada há Miguel Vale de Almeida 28 mediática e livre das cerca de um mês, apresenta- Eis a voz mais consistente do monstruosas dívidas que a pormenorizadamente. Dia activismo “gay” português acumulou. Nada de 18 de Setembro de 1970, o surpreendente. Afinal, para guitarrista de “Purple Haze” muitos, Elvis continua vivo não terá sufocado no seu Ficha Técnica desde que morreu em 1977. próprio vómito, depois de Director José Manuel Fernandes Já quanto a Jimi Hendrix, as uma noite regada a álcool e Editor Vasco Câmara, Inês Nadais dúvidas relativas às da ingestão de vários (adjunta) circunstâncias da sua morte, comprimidos. Wright alega Conselho editorial Isabel tendo existido, nunca que um grupo invadiu o Coutinho, Óscar Faria, Cristina atingiram dimensão de mito quarto de hotel onde Jimi Fernandes, Vítor Belanciano Design Mark Porter, Simon urbano. “Rock Roadie”, estava hospedado, forçando- Esterson, Kuchar Swara livro de memórias de James o a ingerir o vinho e os Directora de arte Sónia Matos “Tappy” Wright, antigo comprimidos que o Designers Ana Carvalho, Carla “road manager” de Hendrix, vitimaram. O “road Noronha, Mariana Soares pode alterar tudo isso: Jimi manager” sabe-o porque Editor de fotografia Miguel Não está vivo, como Elvis: pode é ter sido Madeira assassinado, segundo uma nova teoria foi assassinado, diz. isso mesmo lhe terá E-mail: [email protected] da conspiração

2 • Sexta-feira 10 Julho 2009 • Ípsilon O Hôtel de la Plage, onde o Sr. Hulot passou férias em 1953 celebrado, o monumental “Um Wenders deixa cair Bausch, o Tanztheater Bom Partido”, que em Portugal foi Wuppertal, retomarão o contacto publicado pela Editorial Presença. projecto Pina Bausch para decidir se é oportuno Já há “plot” - Lata, a heroína de terminar o filme. Quando foi “Um Bom Partido”, é agora uma Quando Pina Bausch morreu apresentado, em Maio, Wenders avô em busca da noiva ideal para o inesperadamente, há pouco mais declarou que a animação era a neto. A Penguin, que terá o livro cá de uma semana, Wim Wenders única técnica à altura da fora em 2013 (se tudo correr bem: estava a trabalhar num filme de fisicalidade de Pina Bausch: “O “Um Bom Partido” demorou dez animação 3D sobre a coreógrafa. Já cinema bidimensional não é capaz anos a ser escrito), anunciou que não está: o realizador decidiu não de captar o trabalho dela, tanto Seth vai trazer a narrativa para o dar continuidade ao projecto, pelo emocional como esteticamente”. presente, “acompanhando assim menos para já. O trabalho de pré- algumas das enormes mudanças produção foi interrompido e sociais e económicas que a Índia “Pina” está em “stand- atravessou nos últimos 60 anos”. by”. Depois do luto, Em entrevista à Reuters, Seth a produtora de explicou que não lhe interessava Wenders, Neue “Pina”, o filme, está em “stand-by” voltar a fazer um romance Road Movies, histórico e que este salto quântico e a lhe permitirá reflectir sobre a Índia companhia do pós-independência. de Pina contra uma decisão das autoridades região circundante. locais que pretende tirar do mapa O “timing” da medida enfureceu (literalmente) o nome da localidade. particularmente os habitantes da As novas placas instaladas na cidade aldeia: 2009 está a ser um ano Tati de St. Nazaire, de que Saint-Marc- em França, com uma sur-Mer depende retrospectiva e uma exposição administrativamente, omitem na Cinemateca e o quaisquer referências à estância - lançamento de cópias onde uma estátua do Sr. Hulot, em restauradas de alguns dos tamanho real, continua a vigiar os seus filmes. banhistas. Algumas das antigas placas foram roubadas antes da demolição; muitas das novas foram Vikram Seth vandalizadas. Dominique Guiet, mais um bom cuja mãe assistiu às filmagens de “As Férias do Sr. Hulot” durante o partido Verão de 1951, explicou ao “Guardian” que “Saint-Marc-sur- O indiano Vikram Seth Vikram Seth: Mer tem a sua própria história e os está a escrever uma salto quântico seus próprios hábitos”, sequela para o seu para a Índia absolutamente distintos dos da romance mais contemporânea x tiver sido assassinado? confessado em 1973 Mike (em 1967 meteu-o numa altura, o medo que Jeffery Isto até lhe serem revelados quantidade de álcool nos Jeffery, presumível autor digressão desastrosa com os lhe incutia o impediu de os relatórios médicos e as pulmões, mas pouco tinha moral do crime, “manager” Monkees; em 1968, tentou revelar a confissão. memórias do polícia e dos sido, à altura da morte, de Hendrix e personagem impedi-lo de lançar o álbum Acrescenta que se manteve enfermeiros que acorreram absorvida pela corrente de percurso nebuloso: duplo “Electric Ladyland”; calado após a sua morte por ao quarto de hotel londrino sanguínea – o que vai ao serviu os serviços secretos em 1969 pretendia obrigá-lo receio de ser directamente naquele 17 de Setembro de encontro da tese de britânicos no canal do Suez, a contratar músicos brancos implicado no caso. 1970 – a história é contada assassinato. dava-se com a máfia para a sua banda), levasse Entre os entrevistados no em “The Final Days of Jimi O agora sexagenário James americana e tinha em frente a decisão de o artigo do “Times”, figuras Hendrix”, de Tony Brown, Wright não dedica grande conhecimentos na CIA e no despedir. Um seguro de vida próximas do guitarrista, as publicado em 1997. espaço a toda esta história FBI. Jeffery já não poderá de Jimi Hendrix, no valor de reacções dividem-se. Alguns Segundo eles, a porta do no seu novo livro, centrado confirmar a história - dois milhões de dólares e reconhecem que pode quarto estaria escancarada, na sagrada trindade “sexo, morreu num acidente de revertendo em nome de existir um fundo de verdade sugerindo uma saída drogas & rock’n’roll”. Dela, avião, um mês depois da Mike Jeffery, que este nas alegações de Wright. apressada, e Hendrix mais sexo, menos droga, alegada confissão. celebrara algum tempo Outros, mesmo recordando completamente vestido, o sabemos praticamente tudo. O motivo para o assassinato, antes, como era norma no o fundo sinistro de Jeffery, que contraria a tese oficial, Já uma teoria da investiga o “Times”, seriam meio, poderia ser a sua negam peremptoriamente segundo a qual teria conspiração, para mais bem as dívidas monstruosas que salvação. Como escreve o que possa ter ordenado o ingerido uma quantidade montada, com pormenores Jeffery vinha acumulando. “Times”, Jimi vivo não crime. Joe Boyd, o histórico exagerada de comprimidos aparentemente credíveis, é Dividas que se veria valeria nada ao seu quase produtor que, em 1973, para conseguir dormir sempre um festim para os impossibilitado de saldar se ex-manager. Morto, é fazer realizou o primeiro durante várias horas. Mais: cultores da mitologia pop. Já Hendrix, descontente com as contas. documentário dedicado a o autor da autópsia fazia falta uma assim para as decisões do “manager” James Wright conta que, à Jimi Hendrix, é um deles. descobriu-lhe uma grande Hendrix. Ei-la. Mário Lopes

Ípsilon • Sexta-feira 10 Julho 2009 • 3 ROBIN VAN LONKHUIJSEN/REUTERS/UNITED PHOTOS LONKHUIJSEN/REUTERS/UNITED VAN ROBIN

4 • Sexta-feira 10 Julho 2009 • Ípsilon O humor astira calças Hoje é preciso escândalo para chamar a atenção. Sacha Baron Cohen consegue-o com “Brüno”, filme sobre o jornalista de moda, austríaco, homossexual. Mostra tudo. E deixa o espectador nu. Que limites, hoje, para o humor? Joana Amaral Cardoso

Nudez frontal masculina (e dançante). xo, raça, género. Um “buffet” que faz Dildos, muitos. Sexo com pigmeus. dos temas ditos sensíveis aquilo a que “Não existem limites Mães e pais que admitem expor os Jel, o Homem da Luta que provoca os filhos bebés a ácido ou emagrecê-los homens com o seu machista gay, cha- no humor. O limite é rapidamente desde que entrem numa ma de “hiper-realismo”. se tem piada ou não.” sessão fotográfica. Um pastor evan- Os métodos são os que tornaram gélico com o dom de curar a homos- Sacha Baron Cohen ou, melhor dizen- Rui Sinel de Cordes, sexualidade. Adopção de uma crian- do, Borat, numa celebridade. “Brüno” ça negra – chamada O.J. para fazer é mais uma viagem de um jovem em humorista Capa justiça à herança afro-americana – por busca da fama na terra das oportuni- um jornalista de moda que quer ser dades. E, pelo caminho, e com a fia- célebre à força, usa maquilhagem, bilidade que o género “mockumenta- pinta o cabelo, é gay. ry” permite, coloca um espelho em O que o choca mais nesta lista? Na- frente à cultura ocidental. Surpreende britânico, uma máscara mediática es- da? Tudo? Perante Sacha Baron Co- gente mais ou menos conhecida com conde sempre outra. Descodifique-se, hen e “Brüno” o espectador não po- as suas perguntas, com a sua sexuali- para se avançar: ele encara as perso- de ficar passivo: desconforto, riso, dade, com a sua estupidez. E desarma- nagens, exageros dos exagerados, “di- confronto. Tudo, da nudez masculina os e desarma-nos. Forçando-nos a seurs” do indizível, como ferramen- aos pais sedentos por uma gota de pensar nos limites do humor, do bom tas. Sobre Borat, disse, em rara entre- fama por interposto bebé, está em gosto. Pelo caminho, o “walk of fame” vista à “” (2006): “Pelo

“Brüno”. E está lá para si. de Brüno torna-se “walk of shame”. facto de ele ser anti-semita, ele permi- KOPCZYNSKI/REUTERS PAWEL “São temas incontornáveis porque “Brüno” é, verdade, “Borat” com te às pessoas baixarem as defesas e são os mais importantes, que trazem melhor guarda-roupa. E Brüno é Bo- exporem o seu próprio preconceito, divisão, polémica”, diz o humorista rat, que é Ali G, que é Sacha Baron seja o anti-semitismo ou a aceitação Nuno Duarte, aliás Jel, ao Ípsilon. Se- Cohen.... No trabalho do humorista do anti-semitismo”.

Ípsilon • Sexta-feira 10 Julho 2009 • 5 TOBY MELVILLE/REUTERS TOBY

O palhaço da turma dizer asneiras Sacha Baron Cohen adora este- “Uma das razões na sala para cha- reótipos e sabe quais são os pon- pelas quais vemos mar a atenção. E tos sensíveis em que espeta o que pode ser humor dedo. Isso faz dele um comen- mais desta comédia politicamente esclarece- tador, corrobora Robert Thomp- dor, mas que também pode son, director do Centro Bleier para hoje é porque ser nojento só para ser nojento”. a Cultura Popular e Televisão. “Ele é alguém cujas opiniões ouvimos”. E, o ambiente cultural é Humor sem limites mais depressa do que conseguirá dizer Três anos depois de “Borat”, o novo “Borat: Aprender Cultura da América mais tolerante: canais registo de Cohen está carregado de Para Fazer Benefício Glorioso à Nação de cabo onde estas mais e mais intencionalidade. A nudez do Cazaquistão”, já está a girar a mira masculina, o homem-com-homem, para outro alvo. Agora é a moda mas, coisas podem passar, Jesus vs. Gays, estão para Sacha Baron mais do que tudo, a homofobia. Não Cohen como W. Bush e Charlton Hes- é a homossexualidade. uma indústria com ton estavam para Michael Moore. O Cohen “incorpora as características valor-choque de Cohen, ora crucifica- que quer parodiar e desencadeia” as- um sistema de do, ora elogiado como pioneiro – à sim as reacções mais cruas, compara saída de “Borat”, George Meyer, argu- Filipe Homem Fonseca, um dos auto- classificações que mentista de “Os Simpsons”, dizia: res de “Contra-Informação”, metade as permitem” “Sinto-me como alguém a quem de- dos Cebola Mol, argumentista total. ram a ouvir o ‘Sgt. Pepper’s Lonely “É o agente provocador perfeito. É o Robert Thompson, Heart Club Band’ pela primeira vez” humor de observação levado ao ex- –, é certeiro. Não só sabe escolher os tremo. E isso é brilhante”. director do Centro temas, como é capaz de os atacar “di- Depois de Borat Sagdiyev reflectir rectamente na jugular”. “E isso é que os preconceitos em relação aos estran- Bleier para a Cultura o torna relevante”, diz Thompson ao geiros (a “Vanity Fair” escrevia, num telefone com o Ípsilon a partir da Uni- perfil de 2006, que Cohen vestiu Borat Popular e Televisão versidade de Syracuse. de fato cinzento, mal amanhado, por- Rui Sinel de Cordes sabe bem do que “sabe que a maior parte dos ame- que se está a falar. Tal como Jel, já foi ricanos esperam que um estrangei- propósito de coser um gag ao seguin- agredido na rua, já recebeu ameaças ro cheire mal”) e aos judeus, te) se adequa ao mundo da web, da de morte por causa de “Preto no Bran- Brüno vem embalado como tele-realidade, das celebridades de co”, o seu programa de humor na SIC uma efígie do que o cidadão pacote, dos “household names” ins- Radical. Fátima, estrangeiros, góticos, médio acha que é um homos- tantâneos. E é suja, chocante, “in your mulheres vítimas de violência domés- sexual-tipo. face”. tica, cancro, cadeiras de rodas, vale Sempre vestido de forma ex- Robert Thompson, o académico tudo. “Não existem limites no humor. tra-chocante e hiper-sexual (porque mais citado dos EUA pelo interesse O limite é se tem piada ou não.” Filipe também se esperará, arrisquemos, que desperta hoje essa ampla secção Homem Fonseca, Jel e os três autores que um homossexual seja provocador da cultura a que se chama pop, vê Sa- de “Bruno Aleixo” (SIC Radical) con- e exibicionista), viaja pelos EUA com cha como o “palhaço da turma”, cuja cordam. Pedro Santo, João Moreira e o objectivo de se tornar célebre. E última partida foi tão forte que todos João Pombeiro classificam o trabalho isso cruza-se com a sua capacidade esperam a seguinte com expectativa. de Baron Cohen como “um Apanhado de capturar o “zeitgeist” e de o regur- E, ainda por cima, “estamos numa evoluído, 2000, 2.0, redux”. E como gitar – a comédia de Cohen é tão vis- grande sala de aulas em que há cele- não costumam navegar as áreas dos ceral quanto isso. Usa, tal como Jel bridades em tantas e múltiplas dimen- temas sensíveis, apenas acham que “a na sua comédia “Vai Tudo Abaixo” sões que é preciso baixar as calças e riqueza do humor não tem muito a (SIC Radical) – Jel sente-se honrado com este paralelismo –, uma “esté- tica de apanhados mas com perso- nagens bem definidas. E nesses apanhados, há o injectar de um certo surrealismo, de uma certa provocação na realidade. Isto é muito moderno, é uma reacção aos tempos. É contemporâneo, é agora”. Agora? “É a so- ciedade do espec- táculo, em que tudo é espectacularizado: a guerra, a política, o desporto. E a possibili- dade de intervir nisso, sur- realizando, é muito tentadora”. Algures, ao longe, ao ver “Borat” e agora “Brüno”, ouvimos o ruído da cultura ocidental a partir-se em bocadinhos. Pelo choque, pe- lo desconforto, mas também por- que a mescla de situações reais e a ficção débil (serve apenas o Sacha Baron Cohen, a anti-celebridade Não gosta de se mostrar fora das personagens para não distrair as atenções e porque é pessoa pouco atreita à exposição pública – afinal, o seu trabalho é apanhar figuras públicas desarmadas.

ver com pôr ou não o dedo na fe- Jel (à pelo seu ídolo, Peter Sellers rida. Há bom e mau humor que põe esquerda) e – o actor que se queixava de o dedo na ferida e o mesmo se aplica Rui Sinel de não ter personalidade fora ao que não põe o dedo na ferida. Pôr Cordes, dois das personagens –, Cohen o dedo é uma opção”. humoristas estabeleceu metas: tinha cinco Já Rui Sinel de Cordes é fervoroso portugueses anos para vingar na comédia e

adepto do humor das partes onde o que se revêem NICHOLSON/REUTERS LUCY ganhar dinheiro ou desistia. sol não brilha. “Faço humor negro no humor Teve uma série de pequenos porque gosto. E se gosto existem mais “kamikaze” trabalhos na TV (Windsor TV, pessoas que gostam”. Ao pensar em London Weekend Television, Sacha Baron Cohen, lembra-se da co- Paramount Comedy Channel) média de Bill Hicks e George Carlin – e até foi modelo em catálogos. que desafiaram limites humorísticos E de repente Ali G, cujas raízes e culturais há duas, três décadas. “Nos estão no amor de adolescente EUA fazia falta um humorista que vol- pelo break-dance, nasceu. Um tasse a desafiar o sistema. Sacha Baron dia estava em filmagens e viu Cohen é capaz de ser o humorista que um grupo de skaters, com ar conseguiu, nos últimos 20 anos, se- durão mas brancos como a cal, a guir o trabalho deles”. comportarem-se como membros São tempos bons para a comédia, da anti-elite do gangsta rap. Isto assegura-nos Thompson. “Especial- juntou-se a uma personagem mente agora, neste ambiente em que Perfil que construía a partir do DJ há tantos programas, filmes e séries da Radio One da BBC, o filho televisivas que apostam nesse género de um bispo que falava como de temas não-acredito-que-eles-fize- um “dread”. Mergulhou nessa ram-isto. Na Comedy Central, o ‘Sou- composição e anos mais tarde th Park’ fá-lo todas as semanas e mes- nasceria Ali G, o “rapper” branco mo nos generalistas, temos o ‘Family inconveniente que tornou o fato Guy’ e afins. No breve período desde de treino amarelo icónico muito que ‘Borat’ se estreou, estranhamen- antes de Tarantino e “Kill Bill”. te, a noção de comédia escandalosa e Entretanto, sem dinheiro, excessiva tornou-se praticamente or- Sacha foi convidado a integrar todoxa”. Como as comédias de Judd o programa de humor The 11 Apatow (“Virgem aos 40 anos”, “Um O’Clock Show, do Channel 4, Azar do Caraças”) têm comprovado, onde Ali G daria os primeiros professor Thompson? “Sim, são um passos até ganhar autonomia exemplo de quão ‘mainstream’ isto se televisiva em 2000. A SIC está a tornar.” Radical começou a exibir o Borat Sacha Baron Cohen é, então, como programa e em 2002 saía o filme “nasceu” a um miúdo com fósforos num mundo “Ali G Inda-House”. A série partir de Alexi regado a querosene, e onde há já fo- É um judeu que cumpre o migraria para a americana HBO Krickler, gueiras a bruxulear lá ao longe. A po- regime kosher, que respeita o É fortemente e, entretanto, Ali G tornava- jornalista lémica, os tais temas fracturantes, são Sabat sempre que possível e influenciado pelos se o motorista de Madonna moldavo que o seu ponto de partida. Depois, resta que tem uma filha com a actriz no videoclip de “Music”. No um dia marcar a diferença. Nas semanas que Isla Fisher. São-lhe conhecidas Monty Python e programa “Da Ali G Show” já divertiu antecederam a estreia de “Brüno”, ele escassas entrevistas e há apareciam as personagens Cohen com o assombrava as redacções dos jornais poucas imagens de Sacha Baron sobretudo pelo seu Brüno, o correspondente de seu inglês e a Internet. Exímio manipulador, Cohen fora de uma personagem: moda de um canal austríaco que macarrónico para não distrair as atenções e ídolo, Peter Sellers – o enviava as suas histórias, porque é pessoa pouco atreita à e Borat Sagdiyev, que fazia exposição pública e ao conceito actor que se queixava reportagens e entrevistas de celebridade; afinal, o seu de não ter – Borat “nasceu” a partir de trabalho é apanhar figuras Alexi Krickler, jornalista públicas desarmadas, sejam personalidade fora moldavo que um dia se elas um furioso Harrison cruzou com Cohen e Ford ou um complacente e, das personagens o divertiu com o seu depois, indignado Ron Paul, inglês macarrónico e a

KEVIN WINTER/GETTY IMAGES/AFP WINTER/GETTY KEVIN congressista republicano. admiração por tudo o O mais novo de três que era anglo-saxónico. irmãos, nasceu em 1971 em Sacha Baron Cohen Hammersmith, Londres. O pai apareceu em “Calma, tinha uma loja de roupa em judeus, brancos e aculturados Larry” e no “Saturday Picadilly Circus e a mãe, nascida pelo hip-hop. Night Live”, fez “Talladega em Israel, era professora de Estudou em Cambridge e Nights: The Ballad of Exímio dança. Nos primeiros anos de actuava no famoso Footlights ao Ricky Bobby” (2006) manipulador, escola não se destacou. Era, mesmo tempo que se centrava com o amigo Will Ferrell, Sacha Baron aliás, discreto. Os colegas não na construção de personagens... depois juntou-se a Tim Cohen tem sabiam que adorava break- na vida real. Para entrar em Burton e foi dramático em estado em dance e rap. Numa entrevista sítios sem pagar, por exemplo. “Sweeney Todd”. Agora, digressão à “Rolling Stone”, recorda que, Fortemente influenciado está na rua com “Brüno”, promocional: desde os 12 anos, a mãe o levava pelos Monty Python (um dos mas já está garantido num aparições em (e à sua “crew”, os Black on irmãos fê-lo entrar à socapa filme, ainda sem título, figurinos White) até Covent Garden, onde num cinema para ver “A sobre Sherlock Holmes. surreais em actuava com amigos – todos Vida de Brian”) e sobretudo J.A.C. todas as cidades

Ípsilon • Sexta-feira 10 Julho 2009 • 7 O performer Andy Kaufman (1949-1984) é uma genealogia possível para TIM WIMBORNE/REUTERS o humor de Sacha Baron Cohen

estava em todo o lado em digressão promocional. Aparições em figurinos surreais em todas as cidades. Entre- vistas dentro da personagem (“Quero ser o austríaco mais famoso desde Hi- Cristiano Ronaldo tler”; “O filme que acabei de fazer é o mais importante documentário sobre “é totalmente Brüno” um gay branco desde ‘A Paixão de Segundo o criador Julien MacDonald, Cristo’”). Filipe Homem Fonseca elo- gia-lhe a consistência. “Sacha Baron Brüno é plausível, existente. Cohen é o Dias Loureiro da comédia. Mantém a história até ao fim”. Como A frase promocional diz tudo: “Borat é tão 2006”. Andy Kaufman (1949-1984, performer Até parece que ouvimos o “tão” arrastado e americano – Jim Carrey interpretou-o afectado que um “fashionista” diria para comentar em “Homem na Lua”), em relação ao um fenómeno passado e ultrapassado. Brüno é qual nunca sabíamos onde acabava a o guardião das tendências, figura que conjuga personagem e começava o homem, é estereótipos gay, sim, mas também “fashion”. Com tudo parte do espectáculo. toda a controvérsia e debate a girar em torno da temática homossexual, o aspecto moda cai para Espírito kamikaze segundo plano. Mas o mundo da moda também E, como não podia deixar de ser, com terá motivos para se contorcer na cadeira, talvez ele vem a polémica. A Gay and Lesbian mais do que quando viu “Zoolander”, “O Diabo Alliance Against Defamation (GLAAD) Veste Prada” ou “Pronto-a-Vestir”, de Altman. O viu duas versões inacabadas do filme, “Telegraph” pôs-se a comparar os comentários no a convite da Universal. E Rashad Ro- Twitter feitos por Brüno e Karl Lagerfeld, o mestre binson, director dos programas de “É a sociedade irrecuperável grão de areia? Ele testa da casa Chanel, e desafiou os leitores a encontrar média da GLAAD, foi à imprensa dizer os limites porque “o timing é tão vo- as diferenças. O grau de comicidade equiparava-se. que “as intenções de quem fez o filme do espectáculo, látil que é rico para a comédia e [ele] A questão é, para o jornalista Simon Mills (que até estão no lugar certo – a sátira deste vai atrás de coisas que nos deixam já desfilou na passerelle), que “o mundo da moda é género pode desmascarar a homofo- em que tudo é desconfortáveis, que nos testam”, em grande parte imune à paródia essencialmente bia – mas ao mesmo tempo ele pode postula Thompson no seu púlpito de porque faz um trabalho relativamente bom a aumentar o desconforto das pessoas espectacularizado: peritagem pop. parodiar-se, constantemente”. Sacha Baron em relação à nossa comunidade”. “Brüno” chega numa altura em que Cohen não falou muito sobre a construção da sua Eis a palavra-chave: desconforto. a guerra, a política, parece existir mais espaço para todos personagem, mas Brüno é o exagero do exagero, Tal como a Human Rights Campaign, o desporto. os tipos de comédia. Agora, diz-nos o que no fundo é uma certa parcela desta cultura a GLAAD acha que “Brüno” devia vir Thompson, nos EUA a última frontei- focada na estética e no “look”. Brüno resulta com um aviso prévio. Qualquer coisa E a possibilidade de ra dos tabus é a palavra “preto”, mas porque “é tão, tão plausível”, escreve Mills. A como: “Este filme tem como objectivo continua a haver “regras diferentes excentricidade de Brüno é apenas um espelho de expor a homofobia”. Mas Aaron Hi- intervir nisso, para salas diferentes”. Se for a de Jay Feira Popular posto à frente da tribo “fashionista”. cklin, editor da revista “Out”, vê mais Leno, como era a de Herman José no Já na rodagem do filme, Cohen foi detido depois de além. “O filme faz algo enormemente surrealizando, infame episódio censório da Rainha ter andado pelos bastidores da Semana da Moda importante, que é mostrar que as ati- Santa, é melhor não abusar. O “mains- de Milão e de ter “caído” na passerelle durante um tudes das pessoas podem mudar, num é muito tentadora” tream” é demasiado condicionado desfile de Agatha Ruiz de la Prada. segundo, quando elas se apercebem Jel, humorista pelas regras e convenções genéricas. O criador britânico Julien MacDonald comenta, que és gay. Os ‘habituées’ dos multi- Nos nichos, no cabo, já é outra coisa. divertido, que Brüno é, de facto, plausível, plexes normalmente não se sentariam A chegada de mais um objecto Co- possível, existente. E toca, em declarações ao para ver uma palestra de duas horas hen à comédia é como a chegada de “Guardian”, numa referência próxima ao planeta sobre homofobia, mas é exactamente quecendo os danos colaterais – neste mais um filme de Michael Moore aos Portugal: Ronaldo. “Há dezenas de homens como isso que vai acontecer”, disse ao “New caso os entrevistados, os apanhados. EUA – e cabe agora a “Brüno” provar Bruno em East London ou à porta da Topshop York Times”. E vai pôr Sacha na capa “Às vezes tem de haver baixas entre se a partida seguinte do palhaço da num sábado à tarde. Já vi homens a usar o ‘look’ de Agosto, tal como a “GQ” fez este civis”, ri-se Filipe Homem Fonseca. turma vale a pena. Mas uma coisa ele total tirolês que ele tem. E, honestamente, o novo mês nos EUA. “Isso faz parte do dispositivo. Quando conseguiu: é um dos ingredientes de corte de cabelo de Bruno é basicamente uma cópia Uma das mais-valias do fenómeno fazes uma piada, mesmo quando con- um caldo cultural mais tolerante e directa do cabelo que os manequins masculinos Cohen é a tal lógica das bonecas rus- tas uma simples anedota, há sempre ajudou a confeccioná-lo porque a ca- tinham no último desfile da Gucci. E não são só os sas: há vários níveis de entendimento uma rasteira.” da aparição mais ultrajante/hilariante gay. Olhem para o Cristiano Ronaldo. A forma como de uma piada, de uma caricatura, e se O risco não é só para os incautos (risque o que não interessa) se clarifi- ele se veste é totalmente Brüno”. Ronaldo é muitas há espectadores que vão vê-lo apanhados (que podem ser muito cam os novos limites. E depois há o vezes citado como uma forte influência

“ao engano, aca- pouco inocentes – “Uma coisa é eu resto. GAUDÊNCIO RUI na moda masculina portuguesa. bam também por fazer uma imitação do José Sócrates, “Uma das razões pelas quais vemos Especialmente pelo factor pólo ser alvo da paródia. outra é apanhar o José Sócrates à mi- mais desta comédia hoje é porque o cor-de-rosa: antes uma peça de Isso é a sofisticação nha frente com o meu megafone. Tem ambiente cultural é muito mais tole- “Olhem roupa conotada pela cor com um maior”, comen- muito mais força, força política”, su- rante. Temos canais de cabo onde para o universo homossexual, agora ta Filipe Ho- blinha Jel). Também sobra risco para estas coisas podem passar, uma indús- Cristiano está no tronco de milhares mem Fonse- os protagonistas que têm boas hipó- tria cinematográfica com um sistema Ronaldo. de “machos latinos” ca. Não es- teses de apanhar. Melhor ainda, ga- de classificações que as permitem. Há A forma país fora. A rante Jel no seu espírito kamikaze. um lugar para elas que não existia nos como ele se diversidade “Dispara a nossa adrenalina, é sem anos 1950”, diz Robert Thompson. veste é fica-lhes rede. Criativamente, é muito inspira- “Outra coisa é um ambiente cultural totalmente bem. J.A.C. dor.” Cohen, na tal entrevista à tão fragmentado, com milhares de Brüno”, “Rolling Stone”, apenas resume que músicas disponíveis no iTunes, um disse ao o carinho intensivo dos seus pais lhe número infinito de coisas na Internet “Guardian” dá hoje “a força para sair para junto e 300 canais de cabo, muitos dos quais o criador

de uma multidão de pessoas que te a produzir programação original. É Julien PHOTO GREG WOOD/AFP odeiam”. No fundo, o mundo é a sua preciso fazer uma coisa muito escan- MacDonald ostra e os EUA a sua pérola de expe- dalosa para chamar a atenção”.

JUAN MEDINA/ REUTERS MEDINA/ JUAN riência sociológica. Ou serão um Diríamos que “Brüno” o conseguiu.

8 • Sexta-feira 10 Julho 2009 • Ípsilon 10  1  10    #(+) " &-)#

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Consulte a agenda cultural em    

 São 472 os “screen tests” produzidos É como se Warhol por Andy Warhol, sobretudo entre 1964 e 1968, na Silver Factory, Nova quisesse captar a vida Iorque, a primeira das linhas de mon- Quatro minutos tagem habitada pelo artista america- na sua própria no e assim designada devido à deco- ração prateada concebida pelo fotó- duração, contudo, grafo Billy Name, que também ali instalou o famoso sofá vermelho, en- nesse gesto, entrega-a contrado na rua – por isso alguns irremediavelmente aproximam esses retratos filmados de uma sessão de psicanálise. a uma morte Situado no quinto andar do nº 231 na East 47th Street, em Midtown Ma- nhattan, este “loft” foi o epicentro da cena artística nova-iorquina nos anos de fama 1960. Frequentado por artistas, vicia- dos em anfetaminas e outras drogas, “Screen Test” estrelas porno, drag queens, músicos, de Edie era o espaço de todos os encontros, Sedgwick, um do absoluto artifício e permissividade. dos 13 que irão Como sublinhou Jonh Cale, um dos dormir em “Sleep” (1963), uma pelí- ser exibidos fundadores dos Velvet Underground, cula com cinco horas. amanhã em “enquanto uma pessoa fazia uma se- Os “screen tests” – o último filme Vila do Conde: rigrafia, outra estava a filmar um concerto do Curtas de Vila do Conde, instantes de ‘screen test’.” E acrescentou: “Todos protagonizado pela dupla Dean & absoluta e os dias algo de novo.” Brita, ex-elementos dos Luna, acom- lenta magia No catálogo “Andy Warhol: A Fac- panhados por Matt Sumrow e An- tory”, exposição que passou pelo Mu- thony LaMarca, tem como ponto de seu de Serralves, no Porto, há dez partida 13 destes filmes – podem ser anos, o comissário da mostra, Germa- vistos como prolongamento das sé- no Celant, considera que a primeira ries fotográficas realizadas por Wa- ruptura realizada pelo artista está re- rhol, desde a Primavera de 1963, nas lacionada com a sua produção cine- “photomatons”, cabines nas quais se matográfica: “O tempo, o tema, o obtêm uma sucessão de retratos, mui- desperdício, o falso, a abjecção, a por- tas vezes em diferentes poses, que ali nografia, a sedução, a excitação, o são revelados em curto espaço de duplo, a duração aparecem como tempo – os instantâneos eram ainda confins transponíveis”, nota o cura- usados como base das serigrafias cria- dor italiano. De forma a sustentar a das pelo pintor. sua afirmação, anexa uma frase de O primeiro “screen test” é o do seu Warhol, tirada do livro “Popism”, es- assistente e performer Gerard Malan- crito por Drella – esse misto de Drá- ga, tendo sido realizado com uma cula e Cinderela que definia o artista câmara Bolex de 16mm, no primeiro – em colaboração com Pat Hackett: estúdio de Warhol, a Fire House, as- “Considero que os filmes deveriam sim designado por se situar num an- apelar aos interesses mais escabrosos, tigo quartel de bombeiros – quase isto é, da maneira que as coisas estão todo o corpo de trabalho incluído sob actualmente – os indivíduos estão alie- a designação “screen test” foi conce- nados uns dos outros. Os filmes de- bido na Silver Factory, mas há excep- viam então excitá-los” ções, como é também o caso do filme protagonizado por Marcel Du- A vida e a morte champ. Tal intenção, a excitação do especta- Os fins dos “screen tests” eram di- dor, parece porém distante dos “scre- versos: tanto podiam servir para tes- en tests” e outros filmes minimalistas tar o potencial de cada retratado em realizados por Warhol, que muitas vir a transformar-se numa estrela, ou vezes, depois de colocar a câmara fi- numa “superstar”, segundo a desig- xa sobre um tripé e escolhido o plano, nação de Warhol, como para serem abandonava a rodagem, entregando vendidos ao protagonista – um colec- à máquina e aos protagonistas o des- cionador, por exemplo. A cada mo- tino das imagens. Criava assim um delo, o artista pedia para olhar para ponto de vista único: o enquadramen- a câmara instalada num tripé, deven- to definia os acontecimentos; tudo do manter-se quieto, sem mexer os dependia não só das instruções dadas olhos, durante o tempo de rodagem, por Warhol, mas também da forma cerca de três minutos: um exercício Cinema como cada um dos sujeitos filmados, de resistência. Quem passava pela os quais eram transformados em pu- Factory era quase sempre sujeito a É o retrato dos anos da Silver ros objectos, reagia às situações. A este ritual iniciático, resultando o con- ideia de “tableau vivant” – a recriação junto dos filmes – a preto e branco e Factory. Os anos 60 de Warhol de uma pintura num palco, em que sem som – num impressionante do- se exigia a imobilidade dos intérpre- cumento de quem era quem na Nova passam pelos “Screen Tests”. tes, prática usual no século XIX, no- Iorque dos anos 1960. O resultado era meadamente após a invenção da fo- exibido informalmente na Factory – O último filme concerto do Curtas tografia –, pode ser aproximada deste muitas vezes os “screen tests” eram modo de fazer, o qual cria uma dis- agrupados nessas ocasiões – ou na de Vila do Conde, amanhã, faz tância intransponível entre cada tra- cooperativa de realizadores (Film- balho e o espectador: é como se Wa- makers’ Co-op), em sessões semanais deles o motivo de uma viagem rhol quisesse captar a vida na sua intituladas “Andy Warhol Serial”. própria duração, contudo, nesse Em Vila do Conde irão passar pelo através de rostos em lenta gesto, entrega-a irremediavel- ecrã, amanhã, às 24h, Edie Sedgwick, mente a uma morte – não Billy Name, Dennis Hopper, Nico, In- combustão. A música é de existem diferenças entre o grid Superstar, Lou Reed, Jane Holzer, “Empire” (1964) – o Em- entre outros. Embora fossem capta- Dean & Brita. Óscar Faria pire State Building filma- dos durante três minutos, o facto de do em tempo real, a serem projectados com uma veloci- preto e branco, sem dade mais lenta dá a estes retratos som, durante oito ho- uma duração de quatro minutos, ras –, e John Giorno a acentuando-lhes a estranheza e reve- lando-lhes outros detalhes. São ins- tantes de absoluta e lenta magia: a revelação de cada face a face, entre máquina e modelo. Como aponta o ensaista David E. James: “A câmara é o analista silencioso que abandonou Dean & Brita, autores da música o sujeito à necessidade das suas fan- deste filme concerto tásticas auto-projecções.”

Meio ano depois de “Nº1: Sessão de para a última canção que tinha feito. deixado muitos sem saber o que pen- creto a noite toda antes de cometer Cezimbra”, eis “Muda Que Muda”, o Só isso”. sar: Coração surge de camisa aberta, um acto inesperado só para ver no excelente segundo disco de João Co- É nítido que não lhe interessa pro- olhar de carneiro mal morto, e aqui- que dá. É um solitário: “Não tenho ração. O mais idiossincrático bala- teger a sua imagem, ou deixar sair lo está próximo das capas de Micha- grupos de amigos. Nunca tive”. deiro da nação transformou-se no rei apenas o que está perfeito. Ele pró- el Carreira ou de Julio Iglesias. Percebemos melhor as suas angús- das canções para beira de piscina de prio diz que mesmo agora, com “So- “As pessoas ficam sem jeito com tias acerca do seu futuro musical “resort” de férias e a mudança é de fia” editada oficialmente em “Muda aquela capa. Não sabem o que hão-de quando nos confessa que ficou ofen- monta: onde antes havia canções de Que Muda”, a canção “ainda não atin- fazer. São pessoas que não estão con- dido por termos descrito as suas can- Inverno, melancólicas e cheias de giu, em nenhuma das duas versões, fortáveis consigo próprias e sentem-se ções como produto do tédio bur- angústia e charme, agora há canções o que poderia atingir”. E no entanto ameaçadas com quem está. A liber- guês. de Verão, melancólicas e cheias de não se importa que haja aquele vídeo. dade pode parecer uma ameaça mas “Que é que sabes sobre a minha alegria angustiada. Na altura chamá- “Só o tempo falará sobre o valor da não é. É só um tipo a fazer uma coisa vida?”, atira, com o tom doce mes-

Música mos-lhe “vagabundo romântico em coisa e nunca haverá uma versão final que lhe apeteceu fazer”. clado por certa amargura. “Não sou pantufas”; agora ele parece um se- de uma música”. Isto é o lado filosófico de Coração, burguês. Sou um aristocrata falido”. dutor existencialista em chinelas. O Tem uma visão curiosa do negócio rapaz de quase trinta anos que faz É verdade: na família corre sangue Gainsbourg de Sesimbra. O Hank da música, que oscila entre o racio- muitas perguntas a si mesmo e é de azul, e embora não faça gala em falar Williams dos letrados. O futuro ven- nal e o ingénuo: “Quando dou uma uma honestidade desarmante. “Eu disso, as obrigações inerentes inter- cedor do Festival da Canção. canção às pessoas é só a versão que também nunca sei quando é que rompem-lhe o sono: herdou uma Mas mesmo entre os amigos de gravei naquele dia. Não quer dizer estou a gozar e quando é que não casa que está na família desde o sé- Coração há quem o defenda ferrea- que não tenha feito melhor sozinho estou”. Ele simplesmente experi- culo XVI e não tem dinheiro para a mente e quem não o aprecie. em casa, ou que não vá fazer melhor menta. arranjar porque gasta-o todo em ins- “Não chego a perceber se alguns vinte anos depois ao vivo. É um pro- trumentos e microfones. amigos não gostam das minhas can- cesso que nunca acaba. Não vou per- Aristocrata falido Consegue ser desconcertante sem ções ou implicam comigo. Como são guntar-me muitas vezes se já é a ver- Encontrámo-nos em Sesimbra, onde esforço. É capaz de atirar uma frase pouco claros não faço perguntas”, são final ou não. Senão nunca acaba- a esposa de Coração tem um pequeno como: “Só compro o jornal quando diz, antes de acrescentar que tudo va uma canção”. e simpático apartamento, para con- me dizem que escreveram sobre pode ter mudado, porque “agora até Não é só no vídeo de “Sofia” que o versar acerca de “Muda Que Muda”. mim” com uma candura que retira o Manel [Fúria, vocalista e líder d’Os estranho humor de Coração deixa as A expansiva barba que ostentava da qualquer vestígio de narcisismo. Por Golpes] gosta deste disco”. pessoas sem saber o que pensar. A ca- primeira vez que o víramos, há meses, vezes parece um homem que não A ambiguidade da recepção a Co- pa de “Muda Que Muda” também tem desapareceu para dar lugar ao cinzen- sente à vontade “neste mundo com ração começou com uma canção que to de pelos de três dias. Vem de cal- excesso de iconografia”. Durante uns está em “Muda Que Muda”, mas que ções, t-shirt e sandálias e mantém minutos versa acerca do actual ex- tinha saltado cá para fora de forma aquele ar de quem não sabe muito cesso de dados, de falta de referên- oficiosa aquando do primeiro disco: bem porque está ali mas quer ver até cias, de ausência de Deus. “Temos “Sofia”. onde a coisa vai parar. dados sem informação, que não se Meio ano A 21 de Novembro de 2008, dia em “Não chego Estava ali em retiro: “Para saber o transformam em conhecimento. Te- depois de que o Ípsilon fez capa com Coração, a perceber se que vou fazer da minha vida”. A da- mos falta de sabedoria”. “Nº1: Sessão Tiago Guillul, Manuel Fúria (d’Os Gol- do momento da tarde, quando lhe Não é - de todo - encaixável numa de Cezimbra”, pes) e Samuel Úria - uma capa sobre alguns amigos perguntamos se vai continuar a fazer “figura-tipo”. Num segundo diz: “Te- eis “Muda Que a chegada de novos cantautores em discos a cada semestre, atira: “Sei lá nho andado alheado das novidades. Muda”. O mais português - João gravou um vídeo de não gostam se vou continuar a fazer música”. Dou por mim com prateleiras de dis- idiossincráti- uma canção que acabara de compor. Depois continua: “Sinto que ainda cos parecidas às dos meus pais e dos co baladeiro Tinha acabado de lançar “Nº1: Sessão das minhas canções tenho canções para dar. Mas não meus tios” e podíamos tomar esta da nação de Cezimbra” e talvez fosse sensato penso sobre isso. Deixo que a música frase como provocação blasé. Mas transformou- lançar um vídeo bem preparado de ou implicam comigo. decida. A obra tem de nascer de for- depois de uma longa pausa (faz pau- se no rei das uma canção terminada e disponível. Como são pouco ma visceral”. sas longas) conclui de forma impie- canções Mas não. No vídeo Coração canta Por mais contraditório que isso pa- dosa: “Anda tudo muito preocupado para beira de “Sofia” rodeado de raparigas com ar claros não faço reça num tipo doce e educado, essa com a estética e pouco com o que piscina de blasé, que ora lêem ora olham o in- visceralidade cabe-lhe bem. É o tipo interessa, que é a vida”. “resort” finito, indiferentes à performance do perguntas” de homem que está sossegado e dis- E está a falar muito a sério. de férias bardo, que canta de forma desafina- da uma canção que nitidamente ain- da precisa de trabalho. Ao contrário do que acontece com os vídeos ofi- ciais, o som não está pré-gravado (ele nem tinha gravado a canção), é som directo. O vídeo foi a desculpa que os de- tractores precisavam para o qualificar de fraude. Quando lhe perguntamos agora se aquele vídeo era uma piada, mantém-se semi-críptico: “Alguém pôs um comentário no vídeo da ‘So- fia’: ‘Mas isto é a sério ou é a brincar?’ E o Pedro Fernandes Duarte, que fez o vídeo, respondeu: ‘Isso terás de dei- xar o coração responder’”. Isto é como o humor de João Co- ração funciona: nunca há um laça- rote no final que nos diga “Hey, isto era uma piada” que nos permita ficar descansados e seguir com a nossa vida. Como todo o bom tipo que não joga de acordo com as regras con-

vencionais, atira: “Aquilo era o vídeo DE VERA MARMELO FOTOGRAFIAS oNão podemos coração adiar “Muda Que Muda” é o segundo disco de João Coração em seis meses. Vê-o transformado em Gains b arruinado dançando um último bolero. É um disco de Verão, mas cheio de angústia, como o seu eni g

12 • Sexta-feira 10 Julho 2009 • Ípsilon Tudo instinto mostra os seus “Tenho andado ças, criando melodias lindíssimas. “O que une estas canções é serem instrumentos, Pedimos-lhe para repetir, mas não canções de adeus”, confessa a dada exibindo orgu- alheado das tem a mínima noção do que acabou altura, munido de guitarra na varan- lhosamente de tocar. da do apartamento com vista para a um Omni- novidades. Dou Mas é essa impetuosidade que o praia de Sesimbra. chord, ins- impele, foi ela que o levou a fazer um A tarde toda foi explicando que o trumento por mim com segundo disco tão depressa. “Eu ti- novo disco é acerca de aceitar mudan- de brinca- nha-lhe dito que este ano não o po- ças, seguir em frente, etc. Nunca con- deira dos prateleiras de díamos editar, porque só tínhamos cretiza a ideia com exemplos da vida anos 70. discos dinheiro para o disco do Samuel Úria pessoal, porque nitidamente preza Tem um e do B Fachada”, conta Guillul. Mas a sua intimidade e um certo pudor. botão parecidas Coração não desarmou “e gravou tu- Surge - depois de ganhar confiança por ca- do às escondidas”. Quando Guillul - como um homem à procura de da acor- às dos meus ouviu o produto final cedeu. chão, de algo fiável, mas cuja natu- de sim- Perguntamos por fim a Coração o reza inquieta não o deixa estar sos- ples, outro pais e dos que ele próprio acha deste disco e ele segado no mesmo sítio. As palavras por cada res- mostra-se orgulhoso. Com graça diz que mais repete são “liberdade” e pectivo acorde meus tios. que “a festividade na música portu- “verdade”. Proclama várias vezes o menor, e outro Anda tudo guesa é uma coisa muito contida” e seu empenho em “viver em verda- ainda por cada que por isso se orgulha de na canção- de”, em não mentir acerca do que acorde de sétima. muito título haver “uma espontaneidade deseja. Diz querer constantemente Do lado direito tem que é muito curiosa”. Gostaria que perceber o que quer de cada situação uma espécie de autoco- preocupado “Passo a passo” servisse de banda- e levar o que descobre a fundo, inde- lante com uma escala que sonora para a reprodução de portu- pendentemente das consequências. se toca deslizando o dedo. com a estética gueses. “Seria bom, num país que “O tentar viver com a verdade obriga- (Funciona aproximadamen- está a envelhecer, que eu pudesse te a um grande esforço se não queres te como um acordeão). e pouco com o contribuir para o rejuvenescimento tornar-te um misantropo”. A dada altura demonstra co- que interessa, da população”. A frase implica teimosia e obses- mo o Omnichord funciona e tudo Quando lhe perguntamos se ele são e Tiago Guillul confirma. Guillul, aquilo sai-lhe de um rojo: música que é a vida” acha que finalmente vai deixar de músico, compositor e um dos fun- celestial, divina, uma ponte entre Ba- haver dúvidas a seu respeito, ele ati- dadores da editora Flor Caveira, con- ch e música de elevador, um primo ra com ferocidade: “Estou-me ta que aquando da gravação do vídeo bastardo dos Air, o dedo médio da a cagar para o que as pes- de “Sofia” Coração decidiu que devia mão direita deslizando e saltitando soas dizem de mim. cantar rodeado de raparigas. “Ele a velocidade espantosa por Estou mesmo”. foi pedir a todas as raparigas que es- aquela escala, os dedos da tavam por ali para se juntarem a ele. esquerda fazendo É assim que ele funciona”. bruscas mudan- A cena repetiu-se recentemente: quando marcámos a entrevista disse- mos-lhe que devia ter fotos de pro- moção rodeado de raparigas, num gozo ao vídeo de “Sofia”. Uns dias mais tarde encontrámo-lo num sho- wcase d’Os Golpes na FNAC do Chia- do. Tinha umas maracas e quando o concerto acabou andava a con- vencer as raparigas a tirarem uma foto com ele. (E conseguiu.) Os exemplos tornam nítido que o lado solitário de Coração anda de mão dada com um lado impul- sivo. “Eu não sou tanto de andar em matilha. É difícil fazer uma via- gem própria quando se está sempre em grupo.” Conta que todos os músicos que estão com ele estão-no graças à sua lata. Aborda-os sem os conhecer de lado algum e convence-os a gravar. Não lhes dá pistas: reúne-os, mostra as canções e eles que se desenras- quem. “Não dou sugestões porque quero que os músicos se entreguem e descubram algo de original no pou- co tempo que temos. Aproveito a energia da espontaneidade. Eles fa- zem o que têm de fazer sem se polu- írem com ideias”. Quando inquirimos Guillul, que é fã, acerca dos méritos musicais de Coração ele atira prontamente: “Aqui- lo é tudo instinto”. Sentados no sofá do apartamento da Ericeira acreditamos. Coração

s bourg de Sesimbra, aristocrata i gmático criador. João Bonifácio

Ípsilon • Sexta-feira 10 Julho 2009 • 13 A nova pele d Ele detestava-se. Os fãs adoravam-no. Ele é Brian Molko, líder dos Placebo, grupo que procura regene r

Um cantor rock desequilibrado, com problemas de dependência de álcool e drogas, olhos pintados, pele pálida, sexualmente ambíguo, solitário, ape- sar de ter banda, os Placebo. Era es- sa a nossa imagem de Brian Molko, cantor, guitarrista, líder dos Placebo desde há quinze anos, quando entrá- mos num hotel de Paris para o entre- vistar. À saída, a nossa perspectiva tinha mudado. O próprio admite-o: está a transformar-se. Por agora é mais desejo que realização, mas está a acontecer. Depois de anos de excessos, o gru- po mudou de baterista, está a encarar o negócio da música de forma dife- rente, tendo saído da editora de há Brian Molko, Steven Forrest muitos anos, e quis, no novo álbum, e Stefan Olsdal “Battle Of The Sun”, deixar a claus- trofobia do anterior “Meds”, concen- trando-se num rock mais solto. Tam- bém neste capítulo, a ambição ainda não se materializou por completo, mas já esteve mais longe. Hoje os Pla- cebo tocam no Festival Optimus Alive, ao lado dos Prodigy, Eagles Of Death Metal ou Ting Tings. Em Paris, fomos encontrar Brian Molko na companhia dos outros dois membros dos Placebo: Steven Forrest e Stefan Olsdal. Nos dois últimos concertos em Lisboa sentia-se tensão entre os músicos. Num deles [Creamfields 2007] abandonaram o palco antes do previsto. De vez em quando são notícia por situações semelhantes. Têm essa percepção? Brian Molko - Sim. Mas é necessário separar as histórias. Um concerto en- volve sempre uma série de riscos. Muitos deles podem ser preparados, mas também existem aqueles que não se podem controlar, do clima à reac- ção do público. Isso é uma coisa. A outra é a relação que se estabelece entre os músicos, no palco. Claro que, nesse contexto, aquilo que é exposto é a relação que se estabelece entre os músicos e, no nosso caso, nos últimos anos, essa relação era tensa. Pouco amistosa. O desejo de mudança exposto neste álbum nasce daí? B.M. - Não só, mas também. Claro que havia divergências musicais, e tam- bém pessoais, com o baterista Steven Hewitt, daí termos optado por mudar. No final da última digressão já quase não falávamos, existia tensão cons- tante entre nós. E, sim, claro que isso devia ser amplificado para o palco, onde há uma energia especial. Neces- sitávamos de alguém que tivesse uma atitude mais disponível e, depois de alguma procura, encontrámos a pes- soa certa - Steven Forrest. Como é entrar para um grupo - que acaba por ser um duo - já com dinâmicas instituídas? Steven Forrest - Foi fácil. Fui muito bem recebido. A minha anterior ban- da, os Evaline, abriram para os Place- bo numa altura em que mal os conhe- cia. Mais tarde, quando soube que Steve Hewitt tinha saído, abriu-se esta possibilidade. Sei que parece um cliché mas estávamos destinados a encontrar- nos numa banda, de tal forma as nos- Música sas mentes funcionam bem quando

14 • Sexta-feira 10 Julho 2009 • Ípsilon dos Placebo e rar-se em “Battle Of The Sun”, o álbum que apresenta hoje no Optimus Alive! Vítor Belanciano, em Paris

estamos a compor. O primeiro concer- prios espaço para reflectir. Pusemo- tivemos ninguém a dizer-nos: “Deviam de álcool e drogas. Por fuga. Por re- to com eles foi no Camboja, junto a um nos em causa e isso foi fundamental. ir por aqui ou por ali” ou a propor pa- “Para mim, a música jeição da realidade. Por rejeitar que templo budista do séc. XII. Estávamos De alguma forma, os Placebo haviam- ra single esta ou aquela canção. Não é os Placebo iam mal, também. É lixado nervosos, mas correu bem. Foi super- se transformado num emprego com que essas coisas nos tenham influen- funciona como quando temos milhares e milhares de divertido. De repente, com eles, estava rotinas, e também defesas, que nos ciado no passado, mas também não terapia. É ela que me pessoas à nossa frente, prontas para a tocar para 60 ou 80 mil pessoas e isolaram. Quisemos tentar recuperar nos passam completamente ao lado. nos amarem, para fazerem tudo o que isso muda tudo. É uma experiência o espírito de grupo dos primeiros tem- Desta vez, estávamos entregues a nós permite quisermos delas, e nós nos sentimos que muda a tua vida. É incrível! pos. Sou sincero: não sei se o iremos próprios e funcionou muito bem. a maior merda do mundo. Pensamos: Stefan Olsdal - Ao nosso lado não diz conseguir por completo, mas estamos Se o grupo terminasse, atravessar se vocês me conhecessem realmen- “toda a verdade”... [risos]. no processo de tentar e estamos a di- imaginavam-se a fazer o quê? te, talvez não me amassem. S.F. - Tocar ao lado deles, começou por vertir-nos como há muito não aconte- B.M. - Desde a adolescência que não estados Mas essa imagem da estrela ser uma grande responsabilidade, para cia. E, sim, devemos isso também a faço outra coisa. Inicialmente aquilo de depressão à beira do precipício acaba se transformar num grande prazer. Steven. que me seduzia era o cinema. Depois por fazer também parte B.M. - Foi este optimismo, californiano, Na forma como abordaram o foi a música. Sempre me interessaram e tristeza. da mitologia rock. E o que nos conquistou. É muito entusias- disco o que resultou diferente? coisas onde fosse possível encontrar público acaba por gostar. ta e positivo e isso é, sem dúvida, im- B.M. - Desta vez fomos um verdadei- a minha voz. Na música encontrei o É ela que me Não é por isso que Amy portante. ro grupo. Não vou mentir. Claro que meu lugar. A música salvou-me a vida. Winehouse inspira tantos O novo álbum é, precisamente, existe a consciência de que é sobre Deu-me a determinação para enfren- permite instintos protectores? mais optimista. “Meds” era mim que recaem muitas das atenções, tar a minha família, que nunca me B.M. - Talvez, mas também só claustrofóbico. “Battle Of The mas também existe a consciência de apoiou quando decidi ir por aqui. Em confrontar embarca nessa história quem Sun” já é uma declaração de que precisamos uns dos outros. Quan- parte, os Placebo são isso: a minha comigo quer. Para além de ser perigoso. intenções. do isso terminar, mais vale cada um família de substituição. Só posso responder por mim. Pa- B.M. - Sim, depois de “Meds” estáva- ir para o seu canto. Foi-lhe colada a imagem de próprio e isso ra mim, a música funciona como mos à beira do fim. A relação entre nós S.O. - Quase que nos obrigámos a ou- rebelde do rock, como se terapia. É ela que me permite atra- era difícil, estávamos no final do con- vir todos os géneros de música, me- incarnasse uma espécie de é qualquer vessar estados de depressão e tris- trato com a editora, não sabíamos o nos rock. Quisemos sair das rotinas. marginalidade. Revê-se nela? teza. É ela que me permite con- que fazer. Mas essa parede que se le- Foi também por isso que optámos por B.M. - Sim, porque existe qualquer coisa frontar comigo próprio e isso é vantou à nossa frente obrigou-nos a sair de Londres e acabámos em To- coisa em mim que me leva para esses qualquer coisa que agradeço, pro- pensar o que queríamos para o futuro. ronto. “Meds” respirava muito Lon- territórios. Não, porque também me que agradeço, fundamente. O resto não me inte- Não sabemos fazer mais nada. Esta é dres e queríamos uma coisa mais defendo, como todas as pessoas: do profundamente” ressa muito. a nossa vida. Percebemos que se que- isenta. sucesso, dos outros, dos meus fantas- ríamos ter um grupo iríamos precisar B.M. - Ninguém nos pressionou e essa mas. Nesse sentido, sou eu, sempre, Brian Molko Ver agenda de concertos uns dos outros e demo-nos a nós pró- foi outra diferença importante. Não mas por excesso. Já tive a minha dose págs. 44 e 45

Ípsilon • Sexta-feira 10 Julho 2009 • 15

Brandford Marsalis continua a tentar ser uma pessoa melhor O pai dizia-lhe que tocar é como ser uma pessoa melhor: é difícil mas tenta-se até ao fim. É um incansável explorador. Nome ilustre do jazz, tem dificuldade em resistir a outros apelos. Tanto podemos encontrá-lo num álbum de Sting como a tocar Debussy e Stravinsky. Nos dias 16 e 17 o saxofonista apresenta o programa “Marsalis Brasilianos” com a Orquestra Metropolitana de Lisboa. Cristina Fernandes

Brandford Marsalis nunca se conten- vo milénio resolveu centrar-se tam- tou com um caminho musical único. bém no repertório clássico, actuando “No jazz os músicos O seu lema é manter “os ouvidos aler- como solista com várias orquestras ta” e uma disponibilidade permanen- americanas e europeias e gravando podem tocar muitas te para explorar novos estilos. Mem- obras de Debussy, Stravinsky, Mi- notas, mas podem bro de uma ilustre família de músicos lhaud, Copland ou Vaughan Williams. de jazz (é filho do pianista Ellis Mar- Recentemente realizou uma impor- escolher quais salis e irmão do trompetista Wynton tante digressão nos EUA com a Phi- Marsalis), este saxofonista americano larmonia Brasileira e o projecto “Mar- as notas que querem de espírito inquieto cresceu numa salis Brasilianos”, que será agora re- casa fervilhante de sons, ao mesmo tomado em Portugal com a Orquestra tocar. Na clássica tempo que absorvia as várias tradi- Metropolitana de Lisboa, sob a direc-

Música o compositor escreve ções musicais que se cruzavam nas ção de Cesário Costa. Nos dias 16 e 17, ruas de Nova Orleães. Tocou com os respectivamente no Centro Cultural e temos de ser fiéis Art Blakey’s Jazz Messengers e no de Belém, em Lisboa, e no Teatro de quinteto do seu irmão Wynton Portimão, Marsalis toca obras de à partitura. Não antes de fundar o seu quarte- Villa-Lobos (Fantasia para Saxofone to (cuja última gravação, e Bachianas Brasileiras nºs 5 e 9) e podemos dizer: vou “Metamorphosen”, foi ob- Darius Milhaud (“La Creation du jecto de recensão no últi- Monde” e “Scaramouche”) no âmbi- mudar estas notas mo Ípsilon) mas sempre to de um programa de forte influên- ou estes acordes para fez incursões noutros cia brasileira. domínios. Colaborou A sua experiência no campo adaptar melhor com Sting em álbums do jazz influencia a foma como como “Dream of the interpreta o repertório clássico? a peça ao meu estilo” Blue Turtles” ou Experiências musicais diferentes im- “The Soul Cages” e plicam abordagens diferentes na in- nos anos 90 criou terpretação. No repertório clássico o projecto Bu- não faz sentido tocar como um instru- ckshot LeFonque, mentista de jazz. A música tem mes- que combinava mo de soar clássica e esse tem sido influências do para mim um dos grandes desafios. jazz, Rhythm Neste caso são também and Blues, compositores especiais, já que hip-hop e pop foram influenciados pela música rock. Com o de tradição popular… início do no- Como o Brasil fica no Novo Mundo

Ípsilon • Sexta-feira 10 Julho 2009 • 17 não há tanto o estigma de ter de “Não acredito na não praticava nada! Aos 15 anos dedi- apresentar algo que seja puramente cava-me a tocar numa banda de “co- europeu. Villa-Lobos conheceu a mú- obsessão pela vers”. Nessa altura ainda não se usa- sica de Milhaud, Ravel e Debussy em vam DJs, contratavam bandas que Paris mas depois de regressar ao Bra- inovação. Quando tocavam as canções da moda. Apren- sil continuou a conviver com os mú- di por intuição e por imitação, sem- sicos do samba, do tango, com a mú- ouvimos muita pre coloquei os meus ouvidos alerta. sica popular brasileira. Foi a familia- Fico espantado com o grande núme- ridade com diversos estilos e uma música clássica ro de músicos que não conseguem compreensão profunda das suas lin- (Mozart, Beethoven, ouvir verdadeiramente a música que guagens – ele tanto dominava o choro tocam. Este é um problema que se como a harmonia clássica – que tor- Mahler…), por um verifica na música sinfónica mas tam- nou a sua obra tão rica. Na Europa, bém no jazz. Acontece porque hoje muitos compositores dedicavam-se lado todos os os jovens começam logo a ler música também a estudar outras músicas, o e não têm a experiência de tocar de que se reflecte nas suas obras, mas compositores soam ouvido. Antes as pessoas não iam pa- essa atitude era menos comum entre ra a escola aos quatro ou cinco anos, os intérpretes da tradição clássica. de maneira aprendiam a tocar com o que ouviam Tem trabalhado com músicos de semelhante, mas por nas ruas, decoravam canções infantis. jazz, da clássica, do pop rock, da Obrigo sempre os meus alunos a tra- world music… É difícil interagir outro todos são muito balhar uma série de canções de ouvi- com pessoas com experiências do, que não estejam nos livros. tão distintas? diferentes. Mas o mais É pouco comum um músico Os músicos podem ser muito diferen- percorrer tantos universos, tes mas o objectivo é sempre o mes- incrível é que todos geralmente tende-se para a mo: tocar as pessoas emocionalmen- especialização… te através do som. É mais fácil na pop estes mundos sonoros É uma escolha pessoal. Um dia al- porque há uma componente visual foram construídos guém perguntou a Sibelius: “quando muito forte: a dança, as luzes, muitas está com os seus colegas sobre o que coisas que impressionam visualmen- com as mesmas é que falam?” E ele respondeu: “não te. Em muitas sociedades, como é o falo com músicos, falo com banquei- caso da norte-americana, as pessoas 12 notas. A mesmas 12 ros. Os banqueiros gostam de falar ainda vão aos concertos para ver e sobre música, os músicos só falam não não tanto para ouvir. É por isso notas que Michael sobre dinheiro”. Há pessoas que só que quando se fala do Michael Jack- são boas numa coisa, mas outras son os temas são as luvas, as jaquetas, Jackson ou Prince pensam: em que área é que posso o seu comportamento ou as coisas também usaram!” fazer mais dinheiro? O meu pai sem- estranhas da vida dele, mas há muito pre nos disse: “vocês são espertos, pouca discussão sobre a voz. E ele se querem ganhar dinheiro não to- tinha uma voz fantástica, sobretudo quem música”. Por isso num Verão quando era mais novo, só que nin- trabalhei numa quinta e no Verão guém conversa sobre isso. Quanto se seguinte num hospital, mas no final toca um estilo de música em que es- decidi que o que queria mesmo era tamos sentados numa cadeira, como ser um bom instrumentista. Nunca acontece na clássica, dependemos me preocupei em saber quanto di- apenas do som para envolver a audi- nheiro isso podia render. Temos ten- ência. dência para a catalogação: sou um Na música clássica o som ainda músico clássico, sou um músico de prevalece sobre a imagem… jazz, etc… Não concordo. Sei que Há pessoas que dizem que gostam de nunca tocarei saxofone clássico tão música, mas não é realmente da mú- bem como os fazem profissão da mú- sica que gostam mas sim do espectá- sica clássica mas faço o melhor que culo. Há cantores que cantam muito posso e sei. O importante é que as mal e o público nem dá por isso. Mas coisas que fiz nesse campo me tor- num concerto clássico se alguém can- naram melhor como músico. ta mal toda a gente nota. E também é Ficar apenas vinculado a um mais fácil tocar música pop. Quando género seria limitativo? tinha 12 anos tocava quase todas can- Sempre estive aberto a experimentar ções do Elton John no piano e fazia-o novos estilos e a ouvir muito. E nunca bastante bem, mas não conseguiria tive receio de ter lições nem de pro- tocar um concerto de Rachmaninov. gredir. Digo sempre aos meus alunos Continuo a gostar de Elton John – a que somos eternos estudantes. Nou- sua música faz-me sentir bem, gosto tras profissões recebemos um diplo- da sonoridade, da linha vocal, da par- ma e podemos dizer: sou médico, sou te do piano – mas ao mesmo tempo advogado, sou contabilista, etc. A mú- também acho espantoso um concerto sica é diferente. O meu pai costumava clássico de grande virtuosismo, sendo dizer: a música não é aquilo que tu que nesse caso tenho a consciência és, mas aquilo que fazes. E se é aqui- de que o instrumentista precisou de lo que fazes, então nunca serás tão estudar muitas horas por dia. bom como poderias ser. Ou seja, é Mas o jazz pode ser também como ser uma pessoa melhor. É mui- muito exigente tecnicamente… Nos dias 16 e to difícil mas continuamos a tentar O repertório clássico é o mais exigen- 17 o até ao fim da vida. te tecnicamente. No jazz os músicos saxofonista Também é compositor. Como podem tocar muitas notas (na minha apresenta o encara essa vertente da sua opinião tocam demasiadas!), mas po- programa actividade? dem escolher quais as notas que que- “Marsalis Não acredito na obsessão pela inova- rem tocar. Na clássica o compositor Brasilianos” ção. Quando ouvimos muita música escreve e temos de ser fiéis à partitu- com a clássica (Mozart, Beethoven, Mah- ra. Não podemos dizer: vou mudar Orquestra ler…), por um lado todos os composi- estas notas ou estes acordes para Metropolitana tores soam de maneira semelhante, adaptar melhor a peça ao meu estilo. de Lisboa: mas por outro todos são muito dife- Quando comecei a abordar o reper- toca obras de rentes. Mas o mais incrível é que todos tório clássico mais a sério, há sete ou Villa-Lobos e estes mundos sonoros foram constru- oito anos, precisei de ter aulas de sa- Darius ídos com as mesmas 12 notas. A mes- xofone. A minha técnica funcionava Milhaud mas 12 notas que Michael Jackson ou para o jazz e para a pop mas não ser- Prince também usaram! A ideia de que via para a música clássica. temos sempre de inventar algo é ab- Não tinha tido antes uma surda. Não se é original apenas porque preparação musical formal se quer. O que temos a fazer é apren- nessa área? der o máximo possível, dedicarmo- Não tive uma formação clássica tra- nos a ser os melhores músicos possí- dicional, mas o meu irmão Wynton veis. O resto é uma consequência. teve. Eu simplesmente ouvia os discos que ele trazia para casa. O Wynton Ver agenda de concertos págs. 44 estudava o tempo todo, mas eu e segs.

18 • Sexta-feira 10 Julho 2009 • Ípsilon ". $& )$ * ( silva!designers

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                serve-seA comédia fria com os STAN

“of/niet” é uma raridade porque não é todos os dias que vemos os quatro actores fundadores dos S palco. Dado o estado do mundo, estávamos a precisar de uma comédia, dizem. Vamos rir, mas c Kathleen Gomes

Os belgas STAN não querem que nada de Roo, que se juntou a eles em 1992 se intrometa entre eles e os seus es- “Conhecemo-nos (Waas Gramser, o quarto fundador pectadores, por isso nunca trabalham original, deixou-os em 1994 e é ho- com encenadores. Sem deus nem che- há 25 anos, e por vezes je membro da Comp.Marius). fe - nem mesmo na sombra. As peças parece que estamos A última vez que tinham feito uma são sempre criações colectivas, como peça juntos fora em 1997, com “Pri- se não fossem uma companhia de te- numa relação vate Lives”, de Noël Coward, e Jolen- atro mas uma cooperativa. Por telefo- te De Keersmaeker está a notar, agora ne, perguntamos a Jolente De Keers- matrimonial” mesmo, a tendência: sempre que tra- maeker (n. 1967), um dos quatro fun- balham os quatro, as escolhas recaem dadores dos STAN - cujo nome é o Jolente De em comédias conjugais ásperas. “Co-

Teatro acrónimo de Stop Thinking About Na- nhecemo-nos há 25 anos, e por vezes mes - se, no fundo, no fundo, não são Keersmaeker parece que estamos numa relação uma companhia de actores-encenado- matrimonial”, admite Jolente sobre o res. “Acho que somos uma companhia quarteto de actores. Em 2006, quan- de quatro actores-executantes” (o que do os STAN estrearam “of/niet”, o ela diz, em inglês, é “actors-makers”). jornal belga “De Morgen” definiu o “Não encenadores, mas executantes. seu funcionamento como “uma rela- E isso está presente em nós desde o ção aberta, em que, de tempos a tem- conservatório: uma vontade de fazer pos, os parceiros partem numa via- as nossas coisas, de nos dirigirmos a gem individual, em vez de deixarem “É uma coisa que vai e vem”, ex- “of / niet” é nós próprios. O que significa, também, a casa batendo com a porta”. plica Jolente. “Às vezes sentimos: mais uma que, a dada altura, temos de distan- Na prática, isso significa que oca- ‘Agora apetece-me fazer uma coisa a comédia ciar-nos do que estamos a fazer.” sionalmente seguem caminhos sepa- solo’. Ou: ‘Quero fazer um projecto conjugal “of/niet” (“ou/não”), o espectáculo rados, desenvolvendo os seus projec- sem eles’. É muito orgânico, na ver- áspera, o tipo que trazem este sábado e domingo à tos, a solo ou chamando outros cola- dade.” de coisa que Culturgest, em Lisboa, integrado no boradores, e até chegam a trabalhar E acabam sempre por voltar aos acontece Festival de Almada, reúne em palco, em produções exteriores, de outras STAN. “Assim que eu sentir que já não quando os pela primeira vez em muito tempo, o companhias - Jolente fez “Just Befo- estou a aprender nada ou que nos quatro STAN núcleo duro dos STAN - Jolente De re”, “I said I” e “Kassandra”, com a estamos a repetir, páro”, diz. “Mas, se juntam Keersmaeker, Damiaan De Schrijver irmã, a coreógrafa Anne Teresa de até agora, tenho encontrado sempre e Frank Vercruyssen, os três funda- Keersmaeker, e Sara de Roo trabalhou novos desafios.” dores da companhia em 1989, e Sara com o grupo holandês Dood Paard. E é assim tão diferente quando são

20 • Sexta-feira 10 Julho 2009 • Ípsilon texto de Pinter é uma alegoria ácida “Eu também sou sobre um mundo de conforto e privi- légio, isolado e indiferente à realidade burguesa, e estou a do exterior - o ambiente é o de uma MUSEU DO ORIENTE “cocktail party” num clube selecto, e criticar os burgueses. a peça é composta pelas conversas que os membros vão tendo entre si - Também estamos sobre a piscina do clube, ilhas para- disíacas e outras frivolidades - en- a falar de nós. Na quanto lá fora decorre uma guerra (a sexta-feira [hoje] vou - -1  cidade está vazia, há soldados nas ru- as, estradas bloqueadas). Pinter es- apanhar um avião creveu “Party Time” no ano em que eclodiu a primeira Guerra do Golfo. para actuar num 9 É uma sátira com uma violência e um sadismo latentes. teatro em Lisboa *$%%7  = “Relatively Speaking”, de Ayck- bourn, é uma sofisticada comédia de - o que é muito 0<+>($%% enganos envolvendo dois casais - um confortável, jovem visita o que julga ser a casa dos pais da namorada, quando, na verda- obviamente” de, trata-se da residência do antigo      amante dela. Um hilariante enredo Jolente De de mentiras e equívocos.    A peça de Ayckbourn - Keersmaeker dramaturgo que tem inte- Ou/Não ressado o cinema de         De Alan Ayckbourn Alain Resnais, desde e Harold Pinter !   “Fumar”/ “Não Fumar” Lisboa, Culturgest – Grande Auditório, sáb. 11 às 21h30, - constitui 85 por cento   e dom., 12, às 17h de “of/niet”, resume Jo- das coisas que gostamos muito no lente, e a de Pinter os res- Pinter: as peças têm sempre uma du- tantes 15 por cento. Esta pla camada. Ao misturar ‘Party Time’ última abre e fecha a versão dos na peça de Ayckbourn estamos como STAN, e vai pontuando o espectáculo que a inserir pequenas agulhas. Para 2.3 / como interlúdios. nós, isso era um bom equilíbrio. Se Para lá dos temas comuns que po- fosse só o Ayckbourn, teria sido de- /  ; demos apontar às peças de Pinter e masiado fácil. O Pinter também tem Ayckbourn - dois microcosmos de fal- imenso humor, mas ele lembra-nos sas aparências sob o pano de fundo que há um mundo lá fora - que há de uma “Britishness” emproada, dois uma guerra em curso. O que nos pa- mundos de faz-de-conta, cada um à receu uma bela metáfora do que es- sua maneira -, o que é que levou os tamos a fazer quando representamos STAN a juntá-las? “Sentimos que es- a peça - somos actores e estamos a tava na altura de fazer uma comédia representar e a divertir-nos, mas aqui outra vez. Às vezes escolhemos peças ao lado o mundo continua.” que são, digamos, um pouco mais pe- A actriz conclui: “Sem ser moralis- sadas, mas isso tem muito a ver com ta, ele faz-nos pensar que estamos a o espírito e o momento em que se es- viver num mundo extremamente pri- tá. Sei lá, se há uma guerra em curso vilegiado, rico e luxuoso. As pessoas no mundo, qual é a nossa resposta a que vão ao teatro não são as pessoas ela? Se calhar, temos de fazer qual- que não conseguem ganhar a vida... quer coisa ligeira... A dada altura, foi Claro que houve a crise financeira uma coisa do género: ‘Vamos fazer mas isso não é nada comparado com uma comédia, vamos rir’.” o que as pessoas em África, na Amé- O que explica a escolha da peça de rica do Sul ou na Índia têm de fazer Ayckbourn, “o exemplo perfeito da para ganhar a vida.” comédia de enganos, sobre dois ca- Não é a primeira vez que os STAN s STAN juntos e em sais que estão no lugar errado à hora afiam as facas na mira da nossa bur- errada”, resume Jolente, em que “a guesia de costumes (não é por acaso s com os pés na terra. única coisa que podemos fazer é rir que um dos autores mais representa- '  com os erros tão típicos de todos os dos pela companhia é o austríaco Tho- seres humanos - enganar, cometer mas Bernhard). Perguntamos a Jolen- erros, mentir e não admitir a verda- te se a velha expressão “épater le bour- só os quatro? O que é que isso tem de de, ter medo”. Mas não explica Pin- geois” (chocar a classe média) ainda especial? “Claro que é diferente. É ter. Os STAN são conhecidos por as faz sentido, para eles. “A primeira coi-  9 0 fantástico porque só temos de mexer suas escolhas de textos e de espectá- sa que tem de perguntar é: quem é 55"0# um dedo para saber: ‘Oh, ele quer culos terem, implícita ou explicita- burguês? Eu também sou burguesa, e dizer isto’. Estamos juntos há mais mente, uma carga política. “Se me estou a criticar os burgueses. Também 4  de 20 anos, conhecemo-nos tão, tão perguntar se [a escolha de Ayck- estamos a falar de nós. Na sexta-feira bem que isso tem vantagens e tam- bourn] tem algum significado políti- [hoje] vou apanhar um avião para ac- bém desvantagens. Mas, ao fim e ao co, diria que não. Claro que é um tuar num teatro em Lisboa - o que é cabo, quando olhamos para o resul- manifesto [“statement”, em inglês] muito confortável, obviamente.” tado, sabe tão bem trabalhar num dizer: não se esqueçam das pessoas A comédia serve-se fria, e isso tam-  / / :  ambiente com estas três outras pes- nestes tempos de cinismo. Mas falta- bém se vê no dispositivo cénico. O soas em quem posso confiar, com va mais qualquer coisa. Tínhamos de palco é descarnado em “of/niet”, o 61, /3 $&8 quem me sinto segura para correr trazer [a peça] de volta para o mun- “décor” quase inexistente, os figuri- riscos, para ser frágil, para cometer do. E o Pinter faz-nos assentar os pés nos sóbrios e básicos. “Representa- 55 falhas. Tem sido um longo, longo per- na terra outra vez. ‘Party Time’ tam- mos com quatro cadeiras e quatro curso. E por vezes foi muito difícil bém é uma comédia mas tem uma sacos de plástico, e tudo o que preci- &)4  atingir o ponto em que estamos ago- nuance perversa, tem uma camada samos está dentro do saco de plástico. ra. Houve altos e baixos. Mas senti- política subterrânea, é mais cínica e Não há cenário”, nota. Porquê? “De mo-nos tão bem a fazer esta peça, ela irónica. Isso é uma outro modo, isso iria distrair da força ,)1 <=(2(1(2(15 2&  % ## $$ # #3,'.(3,(:::799 lembra-nos o gozo que é estarmos os e da espirituosidade do texto. Seria ,+(3(2;5( &42(4 1,(3("613(") '" ,22" quatro juntos em palco.” demasiada explicação, a nosso ver. - 25, *(2 1(4",5 4+2 (,1 2/ 104(('' ', ( /13(/32(* 1( ( Queremos dar ao público a oportuni- Humor e uma guerra lá fora dade de construir a sua própria his- “of/niet” é uma montagem de duas tória. Não é preciso construir um ce-  899& 89>& peças, “Party Time”, escrita em 1991, nário realista, com cortinas, isto e  ! por Harold Pinter, e “Relatively Spe- aquilo. Quanto mais despido for, mais    aking”, do também britânico Alan se consegue ir à essência da coisa.”    9& Ayckbourn (escrita em 1965, e re- “Of/niet” é representado em :::89 presentada em Londres em neerlandês, com legendas em 1967, foi a peça que trou- francês. xe notoriedade ao dra- maturgo, que ainda Ver agenda de não tinha 30 anos). O espectáculos págs. 39 e segs.

Ípsilon • Sexta-feira 10 Julho 2009 • 21 Matthias Langhoff teve um pesadelo O mundo contemporâneo é o cadáver esquisito que Matthias Langhoff, um dos monstros inclassificáveis do teatro europeu, devora em “Deus como Paciente - Assim Falava Isidore Ducasse”, dias 13 e 14 no Festival de Almada. Visto daqui, é um lugar terrível. Inês Nadais

Quando era pequeno, o filho de Três actores são uma multidão Matthias Langhoff acordava de na nova criação de Matthias manhã “satisfeitíssimo” a dizer que Langhoff “tinha feito” (Matthias Langhoff responde às nossas perguntas em francês, por “email”, e os franceses não “têm” pesadelos: fazem-nos) “um enorme pesadelo”. Imaginamos Matthias Langhoff a acordar de manhã, satisfeitíssimo (fantasia nossa: ele não poderia estar mais angustiado com o que Cantos de Maldoror” durante a vê de manhã, quando acorda, juventude, “numa bela tradução debaixo do prédio onde vive), alemã”, e releu-os mais tarde em a dizer o mesmo. “Deus como francês. “É difícil explicar como Paciente - Assim Falava Isidore fiz a montagem do texto, Ducasse”, o espectáculo construído Deus porque tenho-o na a partir dos “Cantos de Maldoror” cabeça. Primeiro do Conde de Lautréamont como imaginei a história (pseudónimo de Isidore Ducasse) Paciente das personagens, e que a Compagnie Rumpelpumpel – Assim Falava depois fui buscar traz ao Festival de Almada nos Isidore as palavras. Sabia dias 13 e 14, é um enorme - e Ducasse exactamente maravilhoso - pesadelo. Visto das onde estavam”, A partir de Isidore Ducasse noites mal dormidas de Langhoff esclarece. De resto, Almada, Teatro Municipal - e das escadas da Comédie onde mora, onde há “um grupo explica ao Ípsilon, “fui à Comédie ao naufrágio e do – Sala Principal, 2ª 13, há momentos em Française, a grande casa do teatro permanente de sem-abrigo cujo Française onde tinha uma reunião naufrágio ao “music- e 3ª 14, às 21h30 que o significado de repertório em Paris -, o mundo discurso, na sua incoerência para discutir um projecto. Para hall”, como nesses dessas palavras é é um lugar terrível: “Para falar alcoolizada”, lhe faz “lembrar os entrar, fui obrigado a passar pelos apagões da consciência marginal: “Hoje, a catástrofe do escândalo contemporâneo, velhos contos que dizem sempre pobres que dormem debaixo das que acontecem durante o sono, que está diante de nós chega- e apenas do escândalo que eu a verdade”, nas lojas chiques do arcadas - e enquanto subia aquela é um transe, uma colagem de nos direitinha do outro lado do conheço, acho que 365 edições do Boulevard Raspail com o seus bela escadaria compreendi que experiências de vida (uma Atlântico. Fiz questão de levar o seu jornal não seriam suficientes. sapatos a mil euros que lhe dão Racine e Molière estão muito longe travessia marcada pelo exílio, por grupo a passar um dia no mar, para Enquanto a injustiça mantiver o “vontade de partir os vidros de mim”. Voltou-se, sentou-se todos os devastadores traumas da que, à maneira de Lautréamont nosso mundo no escândalo, não das montras”, e nas escadas da num banco ao lado do teatro: “Era condição alemã, pelo comunismo e através do ruído do rebentar posso mudar de assunto”. Comédie Française, o lugar onde um belo dia de sol, havia gente e, em geral, por todas as feridas das ondas na costa, os actores Matthias vê o escândalo em começou a ter pesadelos com a passear, e vi um negro que, abertas do século XX europeu), compreendessem a mensagem que todo o lado - debaixo do prédio “Deus como Paciente”. “Um dia”, enquanto toda a gente se divertia, de visões de Paris, do mundo em era preciso fazer passar. Porque esvaziava sem parar os caixotes que vivemos - e das coisas que é a música do estrondo dessas do lixo e controlava tudo o que as continua a redescobrir “na língua vagas que devemos dar a ouvir pessoas deitavam fora, à procura de Lautréamont”. com Isidore Ducasse”, escreveu de qualquer coisa que pudesse no programa que acompanhou a meter ao bolso. Tinha a câmara O espectáculo do estrondo apresentação do espectáculo no comigo e filmei. Esse homem é É um francês singular - francês Théâtre de la Ville, em Paris. um dos actores principais deste de estrangeiro, como o dele “Deus como Paciente” é o espectáculo”. (Isidore Ducasse nasceu no espectáculo desse estrondo - do O filme que Matthias Langhoff Uruguai, Matthias Langhoff estrondo que o mundo faz a partir- fez nessa tarde é a primeira nasceu na Suíça, em 1941, filho de se. É dessa energia destrutiva que coisa que vemos em “Deus como um encenador comunista que já o teatro de Langhoff se alimenta, Paciente” - como se o nosso mundo tinha estado internado em dois desde os primeiros trabalhos no fosse, mais do que um escândalo, campos de concentração nazis Berliner Ensemble da fase Brecht, um escândalo espectacular. Os e de uma actriz judia, ambos de em 1962, até às colaborações três actores que escolheu para nacionalidade alemã). “Quando com Heiner Müller, que foi o seu irem com ele em direcção ao apanho o metro em Paris, quando melhor amigo. Continua a fazer abismo - Anne-Lise Heimburger, vejo a energia dessas pessoas, na teatro para se lembrar dele (“Para Frédérique Loliée e André Wilms, sua maioria negras, a energia para um homem antigo como eu, é que há poucos anos vimos a deixar continuar até à próxima estação, importante manter o diálogo a pele, sozinho, em “Eraritjaritjaka”, e ouço a mistura de monólogos com um velho amigo”) e para de Heiner Goebbels, no Porto - só e de diálogos, sinto-me próximo sobreviver ao escândalo do mundo aparecem depois, misturando-se da língua de Ducasse. Não é contemporâneo: “Se fosse tudo uns com os outros (“Construí uma um falso francês, é um francês perfeito, não vejo por que razão história com três personagens diferente do francês. A língua continuaria a fazer teatro”. Como de galáxias diferentes [anjos, dele funciona por imagens. Essa nem tudo é perfeito, precisamos prostitutas, vagabundos, maneira de utilizar uma língua dos pesadelos dele para sobreviver marinheiros, loucos, enfermeiras, - ou de se encontrar numa língua à experiência de ser europeu artistas de cabaré] que atravessam - é-me familiar. Compreendo o depois de duas guerras mundiais, o passado, o presente e o futuro”) francês do Lautréamont melhor e de uma Shoah, da bomba atómica e com as imagens do filme. Nunca mais facilmente do que o francês e do estalinismo. É um “tesouro sabemos bem quem estamos a ver de autores de origem francesa”. nacional vivo” do teatro europeu, e quem estamos a ouvir, que parte Sabe essa língua de cor - leu “Os como lhe chamou Bruno Tackels, da história está à nossa frente em da revista “Mouvement”, mas carne viva, e a três dimensões, e sente-se melhor no papel de besta que parte da história está à nossa negra (não se fixa em lado nenhum frente apenas como assombração: desde 1985, à excepção dos 18 “Como na minha cabeça não é meses que passou no Théâtre Vidy, claro o que pertence ao teatro e o “Se fosse tudo de Lausanne, entre 1989 e 1991, e que pertence ao cinema, e como dos dois anos em que co-dirigiu também não é claro se o teatro perfeito, não vejo o Berliner Ensemble, entre 1992 e está no chão ou em cima do palco, 1993): “De tempos a tempos, sou misturei tudo, como faço sempre. por que razão obrigado a institucionalizar-me, Agora que durmo cada vez menos, continuaria mas não tenho pressa. Depois é possível que tenha até misturado de mortos, acabamos todos na de mais”, diz-nos. O pesadelo a fazer teatro” instituição”. que ele fez a dormir acordado, e que nos faz passar do cemitério Matthias Langhoff Ver agenda de teatro págs. 30 e 40

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                       #        Dança

Carol Prieur em “Orphée et Eurydice”, que na leitura de Chouinard é uma imaginativa celebração do desejo, da luxúria e do sexo Olhar para trás também p Marie Chouinard regressa a Portugal com uma versão pessoalíssima do mito de Orfeu e Eurídice, i em olharmos para trás. T

A primeira vez que Marie Chouinard Remix - Goldberg Variations”, apre- Eurídice nos braços, por vingança de quando uma das bailarinas sai do pal- veio a Portugal foi em 2002, apresen- sentado no CCB, em Lisboa, em 2006. uma das suas muitas amantes. Chouinard escolhe co e prolonga o movimento pela pla- tando no Rivoli – Teatro Municipal, Quem se lembrar dos corpos susten- “A história é universal e é apenas teia, por cima das cadeiras e das ca- no Porto, “Les 24 Preludes de Cho- tados por muletas a quererem rasgar um veículo”, insiste a bailarina. “Há apresentar os deuses beças dos espectadores pedindo-lhes, pin” (1998) e “Le cri du monde” aquelas limitações, abrindo assim es- muito mais para além disso: o traba- como seres divertidos, precisamente, para não olharem pa- (2000). Agora que vamos poder ver paço para um outro corpo menos au- lho com o corpo, os músculos, os or- ra trás. Nessa altura o amplo palco em Portugal “Orphée et Eurydice”, tómato e capaz de se lançar numa gãos, com tudo o que é humano”. pândegos, onde permanentemente entram ade- estreada em 2008 e que encerra o ci- voragem criativa que não devia nada Chouinard trabalha os corpos dos bai- reços transfere-se para a plateia, os clo Dancem!09, a decorrer no Porto à ilustração, vai encontrar em “Or- larinos como uma massa disforme desresponsabilizando- bailarinos interrompem as suas se- desde 27 de Junho, aquelas duas pe- phée et Eurydice” o mesmo desejo de que vai moldando ao longo da peça. quencias alegóricas e fantasmáticas ças parecem pertencer a uma outra abertura do corpo para o espaço e Se é verdade que desenvolve com eles os dos erros de Orfeu. (umas apostadas na blasfémia, outras assinatura. As dinâmicas alternadas deste para algo mais que a metáfo- um trabalho a partir das tensões dos E, assim, Orfeu não divertidas no gozo evidente da sua que constituíam a obra inspirada na ra. movimentos, também é verdade que desconstrução), as luzes, sempre obra de Chopin, dando margem para A peça está longe de ser consensu- leva essa tensão mais longe, a uma poderá olhar para quentes e hipnotizantes encandeiam diálogos entre força e delicadeza a al e eleva o trabalho de Chouinard a espécie de possessão (tal como Marcel os espectadores e a banda sonora partir das marcas deixadas pelos so- um outro patamar. A sua distanciação Camus fez no filme “Orfeu Negro”) trás com raiva transforma-se num burlesco musical los, duos, ou trios dançados pelo con- da tragédia dos amantes amaldiçoa- luxuriante e sedutora. onde antes vivia em crescente tensão. junto da companhia, deram lugar a dos faz-se não na exploração gratuita “Orphée et Eurydice”, na versão de e culpá-los Nessa altura, em que já não se sabe uma massa disforme, onde não pare- da violência contida na história, mas Chouinard, com música original de quem foi buscar o quê ou quem e on- ce haver regras. numa autonomização, fundamental- Louis Dufort, parece situar-se no mo- de, abre-se o jogo deste “Orphée et “Orphée et Eurydice”, na sua ima- mente conceptual, onde a narrativa mento em que os deuses pedem a Eurydice”. A peça, explica-nos Carol, ginativa celebração do desejo, da lu- se torna secundária e formal servindo Orfeu para os convencer a devolve- “é muito intuitiva, como é intuitivo o xúria e do sexo, é a pedra de toque de assim, e apenas, de pretexto para uma rem-lhe Eurídice, mostrando-lhe que movimento da Marie, que nunca par- um discurso que se autonomizou de celebração da liberdade que as esco- há mais do que essa mulher. Há um te da história. A história chega sempre uma reciclagem do modernismo nor- lhas difíceis garantem. mundo inteiro de prazer, de carne e depois”. te-americano transvestido pelas famí- paixão dispostos a receberem Orfeu. Para ela, o “caos criativo” da peça lias coreográficas europeias, dando A liberdade da escolha A vingança dos deuses – os bailarinos, mitir” e, diz, “é natural, e expectável, não é mais do que uma “metaforiza- lugar à singularidade de um discurso Desta vez Chouinard não vem a Por- cujas sensações Prieur descreve como que se possam ler as obras de forma ção do mundo subterrâneo” onde que partiu da exploração das tensões tugal, entrou de férias há dias e por “um gozo imenso, uma viagem mag- correspondente”. Para a bailarina, o Orfeu vai buscar Eurídice. “Estão lá criadas pelo movimento para chegar isso não pode falar com o Ípsilon. nífica e rara porque não temos muitas facto de se apresentar o submundo os símbolos, como a serpente e a ár- a uma ficcionalização dessas mesmas Quem nos atende o telefone é Carol oportunidade para nos expressarmos como “espaço de liberdade” quer vore, e está lá o gozo e o prazer”. E tensões. São desse período as suas Prieur, bailarina na companhia que de forma tão ampla” – faz-se, pelo também dizer que “Orfeu podia ser “Orphée et Eurydice” é, sobretudo, leituras de “L’Après-midi d’un faune” leva o mesmo nome da coreógrafa e menos assim parece na versão de feliz ali” e que, no fundo, “escolhe o uma peça sobre o prazer. E as conse- (1987) “Sagração da Primavera (1993, que dela faz parte há 14 anos. A baila- Chouinard, porque Orfeu ousa dizer caminho que escolhe totalmente quências de se ter prazer. Olhar para remontada para o Ballet Gulbenkian rina revela que esta peça “vai às raízes que não aos deuses e prosseguir com consciente do que está a perder”. trás também pode ser uma boa hipó- em 2003) e “Prélude à l’après-midi de Marie Chouinard como intérprete, Eurídice, mesmo que morta. Choui- tese, parece dizer Marie Chouinard. d’un faune” (1994), hoje peças que onde existia um caos criativo e dife- nard escolhe apresentar os deuses Burlesco musical “Ela quer que abandonemos a ne- remetem para um tempo onde a co- rentes possibilidades de leitura”. como seres divertidos, pândegos, des- Chouinard começa a peça com um cessidade de perceber e ler directa- reógrafa buscava na ultrapassagem “Orfeu et Eurídice”, o mito, conta responsabilizando-os dos erros de prólogo onde percebemos claramen- mente o que se está a passar”, explica da linearidade uma lisura cénica que a história de um homem e de uma Orfeu. E, assim, Orfeu não poderá te que não é a narrativa que lhe vai Prieur. “A peça quer que as pessoas fosse progressivamente disruptiva. mulher que se descobrem ligados pe- olhar para trás com raiva e culpá- interessar. Ao longo da peça vamos se relacionem com o que lhes é orgâ- Eram tempos de pesquisa mais cen- lo destino e, por isso, dispostos a de- los. assistindo a este festim desregrado – nico e, nesse caminho, que cheguem trada nos efeitos que o movimento safiar os deuses. Orfeu insiste em res- Carol Prieur diz que esta é “uma “mas essa liberdade coreográfica de- à essência da peça”. Por isso, Carol podia provocar no corpo e que teve gatá-la do Inferno e o que lhe é pedi- possibilidade de leitura porque en- pende de um rigor intenso”, esclare- Prieur acredita que é uma tentativa o seu momento alto em “Le cri du do é que nunca olhe para trás, sob tende o trágico, a crueza e a intensi- ce a bailarina a propósito das rígidas de Chouinard afirmar “que somos ve- monde”, onde os corpos, explorando prejuízo de perder Eurídice para sem- dade do amor que une Orfeu e Eurí- marcações de cena –, onde somos, ículos para algo maior”. essa tensão, buscavam formas de a pre. Inevitavelmente Orfeu desobe- dice. Na peça há momentos muito também nós espectadores, seduzidos. subverterem. dece aos deuses e é culpado pela mor- poéticos que alargam a diversidade O momento de viragem para essa par- Ver agenda de espectáculos A mesma ideia voltou em “Body te da amada. Orfeu morrerá, com de sentimentos que se podem trans- tilha da responsabilidade acontece págs. 39 e 40

24 • Sexta-feira 10 Julho 2009 • Ípsilon FOTOGRAFO

pode ser uma boa hipótese , imaginativa celebração do desejo, da luxúria e do sexo. No limite diz-nos que não há mal nenhum . Tiago Bartolomeu Costa

Ípsilon • Sexta-feira 10 Julho 2009 • 25 Homens e mulheres bailam e rodo- lho e até ao fim do mês serão mostra- “A arte de Matt Stokes (Cornualha, 1973), que piam ao som de northern soul, géne- dos trabalhos de Matt Stokes, Film- pode ser visto dias 11, 14, 15 e 16 de ro britânico dos anos 60 inspirado gruppe West (Kai Althoff, Michaela contemporânea Julho. A dança foi organizada e ence- pela soul negra dos EUA. Os movi- Eichwald, Ralf Schauff e Jens Wagner) nada numa igreja em Dundee onde mentos são atléticos e arrojados e há e Iain Forsyth & Jane Pollard. tornou-se uma nos anos 70 se realizaram as primei- corpos que suam. A sala escura acen- A presença nas obras de sons, can- ra celebrações northern soul da cida- tua a energia, quase clandestina, da ções, de certos diálogos ou reconhe- componente de escocesa. Desta vez, no entanto, dança e o espectador interroga-se: cidas referências visuais identificam os dançarinos não se limitam (como devo ver apenas ou também dançar? as relações entre a música popular e da cultura pop no passado) a uma ala contígua da Eis uma das situações que Marzlive a arte contemporânea como o tópico contemporânea igreja, mas bailam na nave, cercados propõe na Galeria Marz, em Lisboa, geral do programa. Mas a exposição de ícones e imagens religiosas. O Em “File até 30 de Julho. Afinal, onde acaba a não é ilustrativa. A selecção dos no- e ao fazê-lo pisou o acesso ao “novo” espaço foi permiti- Under Sacred arte e começa a música popular? mes foi precedida de um período de do pela igreja ao artista, que assim Music” (25, A ambiguidade começa logo na na- pesquisa na qual se privilegiou um território aproxima a festa de uma subcultura 28, 29 e 30 de tureza de Marzlive: não é um concer- dos assuntos que o encontro entre a ao lugar de uma comunhão. Mais do Julho), Iain to e não é propriamente uma expo- arte e a música pop faz emergir: o da produção musical” que ao corpo, à dança, é à memória Forsyth & Jane sição. Não é um concerto porque, questionamento da autoridade e au- de uma comunidade, mesmo tempo- Pollard re- apesar do sufixo “live”, não conta toria do artista enquanto criador so- João Paulo Feliciano, rária, que “Long After Tonight” diri- constituíram com artistas/músicos fisicamente pre- litário. Ou seja, os vídeos apresenta- ge o seu repto. um concerto Exposições artista, mentor sentes. Não é uma exposição tradi- dos lidam com o gesto que é pensar À comunidade e à comunhão (tam- dos Cramps, cional, porque consiste na projecção a arte contemporânea com tipolo- do Real Combo bém patentes nas obras de Iain For- em 1978, semanal de vídeos. O primeiro e o gias, realidades e contextos prove- syth & Jane Pollard ou Johanna no Napa State segundo, respectivamente, de Julian nientes da música pop. Lisbonense e ex-Tina Billing) acrescentam-se outros con- Mental Rosefeldt e Johanna Billing foram pro- Voltemos ao trabalho descrito no ceitos. Em “Aus lauter Haut do Film- Institute, jectados entre 27 de Junho e 9 de Ju- início: “Long After Tonight” (2005), and The Top Ten gruppe West” (18, 21, 22 e 23 de Julho) Califórnia

Quando a arte vê a música pop no e Na galeria Marz, em Lisboa um conjunto de vídeos da autoria de artistas internacionais inspiram u aparecimento no panorama internacional da arte de exposições sobre música pop? Moda? Ou um i

26 • Sexta-feira 10 Julho 2009 • Ípsilon é a colaboração que surge evocada João Paulo Feliciano, artista, men- através de um metáfora (histórica) tor do Real Combo Lisbonense e ex- da música pop: o grupo rock. Filma- Tina and The Top Ten, subscreve a do em vídeo, num registo caseiro, três “teses”, não sem antes lembrar mostra-nos o quotidiano de um con- antigas genealogias: “Por detrás des- junto com as suas tensões, expecta- sas modas há antecedentes históri- tivas e estratégias. De fora estão os cos, remotos ou não tão remotos concertos, as canções, o palco; sobra como foram os anos 60, quando se apenas o grupo como estrutura que deu um miscigeneganção das artes revelar o artista enquanto sujeito e estáticas e performativas. Acontece colaborador (Kai Althoff, um dos que hoje o contexto propicia essa membros do Filmgruppe West, é mú- miscigenação. A arte contemporânea sico na banda alemã Workshop) tornou-se uma componente da cul- Já o último trabalho projectado, tura pop contemporânea e ao fazê-lo “File Under Sacred Music”, de Iain pisou o território da produção mu- Forsyth & Jane Pollard (25, 28, 29 e sical. Por outro lado a produção de 30 de Julho), é aquele que mais ex- música expandiu-se e incorporou os plicitamente cita as narrativas da componentes visuais e sonoros que música popular urbana. Trata-se de implicam uma outra relação com o uma “reconstrução” de um concerto espaço e aproximam a experiência que os Cramps realizaram em 1978 sonora e musical das experiências para os doentes do Napa State Men- da instalação”. tal Institute, na Califórnia. Com uma À evolução da produção musical série de amigos e colaboradores, a juntaram-se necessidades pragmáti- dupla britânica reconstituiu o regis- cas cuja existência o artista reconhe- to do espectáculo para inventar uma ce: “O catálogo de temas para os cura- reprodução “imperfeita” onde a co- dores inventarem exposições tem que munhão se confunde com a encena- ser alargado. E este é apetecível pois ção e a identidade da autoria artísti- através da música pode-se chegar a ca se dilui na participação; uma crí- públicos que não estão muito próxi- tica do “espectáculo” através de uma mos da arte, mas que também não celebração diferida de um aconteci- estão assim tão distantes”. mento da história do rock. Diedrich Diederichsen é dos pou- cos autores internacionais que pensa Museus e música pop e escreve, ao mesmo tempo, sobre Marz Live é, provavelmente, a pri- Captain Beefheart e os Melvins e John meira exposição colectiva em Portu- Baldessari ou Martin Kippenberger. gal exclusivamente subordinada às “Rock - Paper – Scissors”, aliás, resul- incursões da arte contemporânea no ta da sua curadoria, o que não o im- território da música popular. Não pede de criticar as exposição que se esgota todas as possibilidades, mas limitam fazer da música pop um te- torna-se significativa, para além das ma: “Detesto-as, pois prejudicam ou obras apresentadas, pela sua opor- menosprezam as especificidades da tunidade ou não reflectisse uma re- práticas e das obras, embora a músi- alidade sobretudo internacional: o ca pop seja, de facto, um dos poucos interesse dos curadores e dos mu- temas abordados pelos artistas de seus por exposições sobre música uma forma que permite comparações pop. Fiquemo-nos só por 2009: no ou justaposições. Creio que a história Kunsthalle de Düsseldorf esteve, até das relações entre os dois campos já Maio, “Sensational Fix”, dedicada é conhecida. O que está por investigar aos Sonic Youth e o Kunsverein de é o modo como os artistas desenvol- Colónia recebeu, em Abril, “Après vem a sua arte através do olhar que Crépuscule”, mostra que reunia a vertem sobre a música pop” produção visual da editora Les Dis- É nesta pesquisa que tem centrado ques du Crépuscule. “Rock - Paper a sua actividade, pesquisa a que não - Scissors” é a exposição mais recen- é alheio um entendimento aberto da te, inaugurou no Kunsthaus Graz, na própria música pop: “Interessa-me Aústria, com obras de Cory Arcangel, como um híbrido feito de formatos Sam Durant, Kim Gordon e Jutta Ko- artísticos distintos, de práticas, me- ether, Renée Green, Mike Kelley e dias, sociologias. Ora as artes visuais Albert Oehlen. também são um híbrido. Por isso ve- Podemos aventar três hipóteses jo-a como o único espelho disponível que explicam a aparição recorrente à arte contemporânea. Ao contrário deste tipo de iniciativas. Resultam de do cinema e do teatro, acontece em tendências efémeras (vulgo modas); todo lado e os seus receptores limi- são organizadas com o intuito de cru- tam-se a reunir coisas que viram, zar e atrair públicos ou espelham tão descobriam ou fizeram. Em casa, somente um interesse genuíno sobre diante da capa de um disco, de um uma realidade complexa e, por isso, disco ou de uma revista. Numa sala merecedora de uma perspectiva mais de concertos, num espaço público, analítica. com os amigos”. espelho m uma pergunta: o que motiva o m interesse genuíno? José Marmeleira

Ípsilon • Sexta-feira 10 Julho 2009 • 27 CARLOS MANUEL MARTINS CARLOS

No seu novo livro, “A Chave do Armário: Homossexualidade, Casamento, Família”, cruza abertamente o activismo com as teorias da Antropologia – e não vê nisso problema

28 • Sexta-feira 10 Julho 2009 • Ípsilon Miguel Vale de Almeida Senhor de si Acaba de publicar “A Chave do Armário: Homossexualidade, Casamento, Família”, diz que homossexualidade e rebeldia já não colam, gosta da ideia de “lobby” gay e quer casar-se com o companheiro mal o casamento gay seja legal em Portugal. Eis a voz mais consistente do activismo gay português. Bruno Horta

Dir-se-ia que se Que eu saiba, não. balho colectivo e associativo, sou me- dizer asneiras, falar coloquialmente. aburguesou. Sem Sempre assumi lhor a escrever. Tenho esse problema, É um jogo delicado. dor ou culpa. Mem- que grande parte sou intelectual. Mas gosto que o que Se tivesse de me descrever diria que bro da Juventude do que faço é para escrevo dialogue com a sociedade e gosto de correr o risco de sair do con- Comunista no fim ter um efeito social gosto de ter um registo radical. Não forto de uma definição categorial mui- dos anos 70, militante específico. No passa- faço Antropologia para dentro, mas to certa: o académico, o activista, isto da Política XXI e do Bloco do, submetia as minhas para fora. Escrevo não apenas em li- ou aquilo. Curiosamente, isto bate de Esquerda até 2006, 48 análises antropológicas à sua vros, mas também nos media, para certo com o ar dos tempos. A partir anos, é um dos protagonistas da luta utilidade social. E nas intervenções permitir o acesso de outras pessoas. dos anos 80, 90, com a transformação dos homossexuais portugueses pelo como activista tentava ser suficiente- Gosto de escrever com cuidado e tra- da sociedade em termos dos meios de

Livros casamento. Mas admite ter-se afastado mente crítico a partir do que sei da tar bem a língua, mas não gosto de ter comunicação, das legitimações do que do activismo esquerdista para agora Antropologia. Com este livro quase uma língua elitista, gosto de poder as pessoas fazem e da divisão do abraçar ideias liberais de igualdade. acaba essa distinção. Isso não preju- No seu novo livro, “A Chave do Ar- dica uma coisa ou outra. A mistura é mário: Homossexualidade, Casamen- libertadora, o que tem a ver com o to, Família”, cruza abertamente o amadurecimento. Se as pessoas ama- activismo com as teorias da Antropo- durecerem bem, libertam-se de coi-         logia. E não vê nisso problema. É o sas. Agora, a questão é se aquilo que nono livro científico que escreve e o se produz do ponto de vista do acti- quarto ensaio editado em Portugal vismo e do da Antropologia é ou não no último ano e meio sobre o casa- mais rico. Se for, tudo bem. mento entre pessoas do mesmo (se- Parece haver uma matriz anglo- gue-se a “O Casamento entre Pessoas saxónica no seu modo de estar. É do Mesmo Sexo”, de Pamplona Côr- uma pessoa de reflexão e acção, te-Real e outros; “Casamento entre de academismo e activismo. Que Pessoas do Mesmo Sexo – Sim ou lugar ocupa no espaço público  Não?”, de Pedro Múrias e Miguel No- português?    gueira de Brito; e “O Casamento Sem- Essa maneira de estar surgiu natural- pre foi Gay e Nunca Triste”, de José mente, tem a ver com razões de ori- António Almeida). gem e educação, e com experiências  # Frontal, polémico e bom comuni- noutros lugares, nomeadamente nos cador, nasceu e vive em Lisboa e dou- EUA [fez o mestrado em Antropologia,          torou-se em Antropologia pelo ISCTE em 1986, pela State University de No- em 1994. Bloguista inveterado, escre- va Iorque]. O espaço que gosto de ocu- ve “Os Tempos Que Correm”, desde par, e onde me sinto bem, é o da mi- Maio de 2003. Tímido, lê muito, so- litância e activismo, mas não dou bretudo ficção das Américas. O mexi- muito o corpo ao manifesto. cano Jorge Volpi é um dos autores que Mas desfila sempre na Marcha do actualmente lhe interessam. Orgulho LGBT [Lésbicas, Gays, Considera-se um ficcionista e artis- Bissexuais e Transgéneros], em ta plástico no armário, mas já publicou Lisboa. um romance (“Euronovela”, 1998) e Sim, mas depois não sou bom no tra-  um livro de contos e desenhos (“Que-  brar em Caso de Emergência”, 1996).   De entre os seus livros mais conheci- “Gosto de correr dos destaca-se “Senhores de Si: Uma Interpretação Antropológica da Mas- o risco de sair culinidade” (1995). Sente-se bem na pele de militante do conforto de uma e activista e confessa que o tempo lhe ensinou que sair do armário “dá imen- definição categorial so poder a uma pessoa”. Na introdução do livro diz que muito certa: não é fácil para o antropólogo o académico,  olhar com distância as causas em  que se envolve como cidadão. o activista, isto ou É, portanto, um antropólogo  activista. aquilo. Curiosamente, ! Sou e não tenho nenhum problema      " com isso. isto bate certo com Av. Frei Miguel Contreiras, 52 | 1700-213 Lisboa Os seus pares terão problemas telefone: 218 438 800 | www.teatromariamatos.egeac.pt   com isso? o ar dos tempos”

Ípsilon • Sexta-feira 10 Julho 2009 • 29 timos anos surgiu um pequeno nú- mero de intelectuais e académicos que o fizeram, sim, mas no mundo do “entertainment” só recentemente começou a acontecer alguma coisa

NUNO FERREIRA SANTOS [apresentadores Solange F. e Manuel Luís Goucha]. Em Portugal não se usa o método de denunciar publicamente a orientação sexual das figuras públicas. Que pensa disso? É uma estratégia errada, só seria ad- missível no caso extremo de uma pessoa francamente homofóbica que praticasse actos políticos persecutó- rios. Mas o princípio é o do respeito pela vontade dos outros, indepen- dentemente de isso ser prejudicial para o avanço colectivo. Diz neste livro que o seu companheiro é Paulo Côrte- Real [presidente da associação ILGA Portugal e professor na Faculdade de Economia da Universidade de Lisboa]. Vivem em união de facto desde quando? Desde 2001. Se o casamento gay for possível em Portugal tencionam casar- se? Sim. Essa é uma opção nova para si. A ideia de casamento cresceu entre nós e em função da luta que temos feito. Hoje parece-me inquestionável que o faria, mas houve uma altura em que pensava que não seria necessário casar. trabalho, deu-se essa mistura de de orientação sexual, depois fui fa- estável. Depois comecei a trabalhar De um ponto de vista simbólico e prag- estilos. Entrei nela algures nos anos O movimento [gay] zendo o meu percurso e acompanhan- na universidade e disse a toda a gen- mático a união de facto não é suficien- 80, na universidade. Mais até através “[está] agora mais do os tempos. Assim que nos EUA te para que no trabalho a coisa ficas- te para um conjunto de coisas. de actividades artísticas ou associati- começou a reivindicação do casamen- se logo estabelecida. Dois ou três A discussão sobre o casamento vas estudantis, do que do ponto de preocupado com to percebi que muita coisa já se tinha anos depois, comecei a ter actividade gay em Portugal foi lançada pela vista científico ou activista. Foi através transformado. E isso corresponde a pública e aí a coisa foi por si. Publi- ILGA, através de uma petição de leituras, de filmes que víamos, da a integração e o uma sociologia do período pós-sida. camente, assumi numa crónica no [entregue na Assembleia da forma como olhávamos o mundo que Mas então a sua é uma atitude PÚBLICO, de forma indirecta. República a 16 de Fevereiro de eu e um certo grupo de amigos, que reconhecimento da recente, porque a reivindicação Alguma vez se sentiu 2006]. Se o activismo tivesse tínhamos 13 ou 14 anos no 25 de Abril, igualdade jurídica de do casamento nos EUA é coisa já prejudicado no trabalho por ser cedido na palavra casamento e criámos nos anos 80 um modo de es- dos anos dois mil. gay assumido? aceitasse outra figura jurídica, tar que foi a reacção de quem recusou direitos e menos É quase já dos anos dois mil, mas re- Directamente, não. Indirectamente, mas com os mesmos direitos, a desiludir-se com o 25 de Abril. sulta dessa reconfiguração da comu- não sei. Aliás, é um dos mistérios des- esta hora já haveria portugueses Uma reacção muito Bloco de preocupado em fazer nidade e do movimento [gay], agora ta questão. Muitos gays e lésbicas são a beneficiar das vantagens que o Esquerda (BE), diríamos hoje. mais preocupado com a integração e prejudicados de forma frontal, vio- casamento gay vai trazer? Ao BE foram parar muitas pessoas da orientação sexual, o reconhecimento da igualdade jurí- lentíssima, terrível. Mas também são Felizmente, acho que não, porque se desse tipo, sim. dica de direitos e menos preocupado prejudicadas sem nunca saberem não ficávamos numa posição compli- O início da sua militância nomeadamente em fazer da orientação sexual, nome- que o foram. Agora, em determina- cada do ponto de vista histórico. política coincide com o do a homossexual, uma adamente a homossexual, uma fonte dos meios, para determinadas ori- Grande parte das reacções que houve activismo gay? necessária de rebeldia. Isto é, deixou gens sociais privilegiadas, como re- de hesitação ou contra as propostas Não exactamente. Ao formar-se o BE fonte necessária de se ver nisso qualquer acto anti-sis- conheço que tenho, as coisas acon- que foram feitas, ainda na fase da dis- [1999] fui introduzindo no partido témico. tecem menos. A verdade, porém, é cussão das uniões de facto e mais questões de temática LGBT. Mas já de rebeldia” O que é bom ou mau? que fazer o “coming out” dá imenso tarde com o casamento, não tinham participava em conferências ou deba- Faz parte da realidade. Se queremos poder a uma pessoa. Permite uma nem têm a ver com o nome, mas com tes, como antropólogo e gay assumi- promover maiores oportunidades de guerra preventiva, como diria Geor- o reconhecimento. Só depois de o do. Mas o meu activismo não é o acti- felicidade para um maior número de ge Bush. casamento já estar colocado na agen- vismo das associações. É o activismo pessoas, e é isso que me interessa co- Desarma os outros? da política é que surgiram questões de cronista, sobretudo quando escre- mo programa político, seja ele qual Completamente. Colocamos as cartas do tipo “está bem, mas com outro via no PÚBLICO [1992-1995], e da par- for, temos que ter propostas o mais na mesa e isso torna difícil o ataque. nome”. ticipação cívica. abrangentes possível. Não impede que As pessoas sofrem muitas vezes por E por que não outro nome? Sente-se o principal responsável se faça um trabalho crítico, e aí a An- causa da sua orientação sexual por- Pela questão do reconhecimento sim- pela dinâmica LGBT do BE? tropologia entra, que fale sobre o pa- que a vivem secretamente e os ou- bólico. O mundo social é feito de ma- Não, porque havia todo um segmento O livro de Miguel Vale de triarcado, a heteronormatividade e a tros, ao saberem, podem manipular terial e de simbólico, de forma indis- que vinha do Grupo de Trabalho Ho- Almeida é o quarto ensaio ligação dessas realidades a outras, o segredo. sociável. Se uma pessoa tem dinheiro, mossexual do PSR [um dos partidos editado em Portugal no último económicas, políticas, etc. Agora, do Já foi beneficiado por ser gay? tem simbolicamente poder e reconhe- que deram origem ao BE]. Mas lem- ano e meio sobre o casamento ponto de vista estratégico, prefiro Isso não. Não consigo ver situações cimento. Se uma pessoa tem um di- bro-me de introduzir as coisas a partir entre pessoas do mesmo sexo apostar no cumprimento onde os critérios não tivessem sido ploma, que é um reconhecimento de uma perspectiva menos ideológica das promessas liberais. os do mérito. simbólico, tem maior probabilidade e mais preocupada com igualdade de Foi difícil assumir-se Dá ideia que em Portugal a de obter bens materiais. direitos e cumprimento da democra- como gay? assunção depende da profissão Isso é partir do princípio de que cia, sobretudo no que se refere ao ca- Foi problemático do que se exerce. Ou se assumem a instituição casamento está samento. ponto de vista psicoló- os profissionais liberais, artistas muito bem cotada. Considera-se o teórico do gico, de ansiedade. incluídos, ou os académicos. Não estou a falar de prestígio, mas do movimento gay português? Coincidiu com o fim da Concorda? reconhecimento que o Estado faz da Espero que não, é um troféu que não adolescência e o início Percebo que se possa ter essa percep- capacidade que os cidadãos têm de me agrada muito. E há outras pessoas. da idade adulta jovem, ção, mas não concordo. Nos últimos aceder ou não a determinado tipo de Aceito que seja um dos teóricos, mas em que toda a gente passa anos tenho participado mais na vida instituições. é uma responsabilidade e não especial por complicações identitá- associativa e conheci pessoas das Mas uma instituição é tanto mais prazer. rias. Eu tinha esta a mais, mais diversas origens sociais, gera- importante simbolicamente No livro faz a distinção entre o por falta de informação e cionais, profissionais, com capitais quanto maior prestígio tiver. activismo gay “left”, originário receio de reacções. Finalmen- culturais completamente diferentes. Uma instituição desacreditada dos anos 60 e 70, e o activismo te, já tarde, em 1984, quando Uma das coisas que mais me doem é não é simbolicamente relevante. gay pós-sida, mais actual. O seu concluí a licenciatura e fui ver que o meio artístico e do “enter- Mas ela não é tão desacreditada quan- será este último. para os EUA, fiz o “coming tainment” fecha-se completamente. to isso, porque foi reformulada pela Pode dizer-se que sim, mas tenho as out” [assunção da homosse- Há um “coming out” interno, para os dinâmica social. Deixou de ser uma duas coisas na minha bagagem. Pensei xualidade] para os amigos. Na amigos, mas não para a sociedade. instituição patriarcal há muito. Do muito em termos da ligação entre uma família foi mais tarde, em 1986, Logo temos uma amostra pouco re- ponto de vista jurídico, há absoluta

teoria social de esquerda e as questões HENRIQUES JOÃO quando tive a primeira relação presentativa da diversidade. Nos úl- igualdade entre homens e mulheres

30 • Sexta-feira 10 Julho 2009 • Ípsilon no casamento. Nas práticas sociais convicto de que o casamento gay luta contra a homofobia interiorizada. foi reconfigurado sob a forma da pu- seria uma realidade este ano? Os gays e as lésbicas crescem na mes- ra relação, de que fala [o sociólogo A maioria política existe. Os partidos ma sociedade que os heterossexuais, inglês] Anthony Giddens. Cada vez que apoiam a alteração do Código Ci- por isso interiorizam também a ho- mais, o casamento é supostamente vil têm uma maioria, mesmo compa- mofobia. Grande parte da sua luta é por amor, supostamente para durar rando com os resultados das Euro- para se aceitarem a si próprios, mas enquanto os sentimentos durarem, peias. Estou convencido de que não MANUEL MARTINS CARLOS muitas vezes projectam a homofobia para mútua gratificação das pessoas, esperaremos muito tempo. Agora, di- nos outros. É preciso esse respeito feito na base do elogio da igualdade go sinceramente, se o PSD tiver uma mútuo, de facto. Agora, não me pare- máxima possível entre os membros maioria absoluta é uma derrota para ce que haja nenhuma pecha particular do casal, etc. O reconhecimento sim- nós e teremos de esquecer o assunto dos gays e lésbicas em termos de falta bólico tem a ver com isto: considerar durante quatro anos. de respeito que seja diferente da falta que aquelas pessoas [gays e lésbicas] Tem defendido que se deve de respeito que há entre qualquer ou- são exactamente como as outras, por- discutir a adopção por casais gay tro grupo social. que podem aceder a tudo. A prova ao mesmo tempo que se discute Fica bem em televisão, de que isso é verdade está em que o casamento, para não dar argumenta bem, está à-vontade. quem se opõe ao casamento ainda argumentos aos opositores. Mas De onde lhe vem esse jogo de tenta dizer que há uma diferença [en- o que é facto é que ninguém fala cintura mediático? tre casais gay e “hetero”]. de adopção. Porquê? Não sei, mas vou-lhe dizer uma coisa Admite que o debate público O que digo é que não deve haver que é capaz de ter piada: só me sinto sobre o casamento gay estava receio de responder a qualquer per- “‘Lobby’ é o que quer dizer que não haja outras coisas bem na televisão. Descobri que gosto por fazer quando em Outubro o gunta sobre a adopção. E a resposta por cumprir. A luta contra a homo- imenso daquele meio e em particular Partido Socialista inviabilizou no que se deve dar é a de que o assunto o movimento social fobia não acabará depois da aprova- de estar em directo. As coisas gravadas Parlamento as propostas do BE está mal colocado. Está a ser utilizado ção do casamento. O casamento é tiram-me completamente o tesão, co- e de Os Verdes para o casamento como espantalho para assustar as tem de fazer. Falar apenas uma de muitas formas jurídi- mo se costuma dizer. No entanto, sou gay? pessoas em relação ao casamento. A cas que garantem que a homofobia um bocado tímido e pouco sociável. Admitira que sim se essa tivesse sido adopção não depende da alteração à com deputados, deixa de acontecer. Tem razões de queixa dos media a verdadeira razão. Mas a razão foi lei do casamento, depende de outros Não lhe parece que a luta contra em relação a si ou ao movimento apenas uma clara estratégia político- articulados da lei. E é apenas uma jornalistas, vender a homofobia passa também por gay? partidária. O debate já estava a acon- parte de um conjunto mais vasto de o seu peixe. acabar com a falta de respeito Em relação a mim, não. Em relação tecer e houve sempre a recusa de questões que são a homoparentali- entre os próprios homossexuais ao movimento gay, há cada vez menos admitir isso. Tinha havido uma peti- dade e a reprodução. Quando um É absolutamente e o tratamento pouco humano razões de queixa e que já foi muito ção, debates na TV e nos jornais, cró- certo tipo de opositores elegem a que por vezes dispensam uns aos pior. Muitas vezes faziam coisas mal nicas, livros recentes… Mas isso ago- adopção como questão, não posso salutar” outros? por ignorância e não por malvadez. ra é pouco relevante. Houve uma deixar de dizer que estão a mexer Responderia de duas maneiras. Pre- Houve um grande trabalho de peda- aceleração extraordinária nos últi- no fantasma da ideia de uma cisamos de tornar os homossexuais gogia feito movimento, no sentido de mos meses e resulta de um trabalho criança a viver com um casal de mais visíveis e visíveis na sua enorme enviar materiais, contactar as pessoas, de sapa feito durante muitos anos, homens – com um casal de mu- diversidade, porque a questão da chamar a atenção. quando muitas pessoas achavam que lheres aceita-se melhor. Tem de orientação sexual é absolutamente Fazer “lobby”. não havia debate. se dar uma resposta a transversal à sociedade. Muitas vezes Sim, sim, excelente palavra, sem qual- Acha que se vai casar ainda este esse argumento fala- passamos a imagem de que o homos- quer problema. É irreal como certas ano? cioso e explicar que sexual é homem, e não mulher, urba- expressões são apropriadas e trans- Este ano já não, ainda temos de ir a o que está em no, de classe média, com algum di- formadas numa ideia de maçonaria eleições, ver o resultado das ditas e causa é a igual- nheiro e gosta de ir às discotecas. Ao ou sociedade secreta. “Lobby” é o que em função disso ver os “timings” le- dade de aces- fazer isso estamos a esquecer o cana- o movimento social tem de fazer. Falar gislativos. so ao casamen- lizador e a lavadeira. com deputados, jornalistas, vender o

Antes das Europeias estava mais to, o que não HENRIQUES JOÃO Por outro lado, temos de fazer uma seu peixe. É absolutamente salutar.

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Ípsilon • Sexta-feira 10 Julho 2009 • 31 o apogeu Vida”, atinge que, em“A Boa uma toadaelegíaca substituído por lentamente e sexo, foi a álcool,drogas alimentadas de Jay McInerney, primeiras obras e desmedidodas O tomirónico Livros mmmmn TeoremaEdição (Trad. Carla Lopes) Jay McInerney VidaA Boa Vasconcelos Helena Nova Iorque feridado“11/9”. juventudechora asua na homem demeia-idade que pungenteMeditação deum Elegia Ficção conseguidos graças à fertilização dos dos àfertilização graças conseguidos onde vivem comosfilhosgémeos, noseu“loft”alugado, para jantar contos doautor –recebem amigos “Quando oBrilhoCai”ealguns Russell que protagonizou –ocasal e Corrine “socialites”. EmTriBeCa, o frenesim e defotógrafos porentre Park, emCentral Zoológico noJardim decaridade para umafesta Lukeabastados eSasha preparam-se noUpper Manhattan: Side,os East emlugares opostosde casais dois encontram-se os seushabitantes Público Espaço óvulos dapouco recomendável irmã catástrofe. Entre catástrofe. antes da últimas horas Iorque vive as Novaquando Setembro de2001, vésperas de11 em começa “A Vida” Boa apeteceu escrever gostou tanto quelhe concerto, DVD viu e disco, álbum,canção, teatro, livro, exposição, seu. Quefilme,peçade Este espaçovai ser de Corrine, de Corrine, Hillary. ambiente – ambiente – cancelou, cancelou, mas entre (Rushdie) Salman O “feérie” docenáriodas escavações é –ànoite,a para opontodeimpacto emque sedesenrola). circunstâncias “pathos” necessáriodevidoàs o uma “sitcom”, sóalcançando banal eporvezes ganhacontornosde éreconhecidamente infiéis também cujos respectivos cônjuges lhes são entre pessoasdemeia-idade duas doséculoXXIo“affair” Manhattan que na de umacatástrofe. (Note-se preso mulheres aduas noseguimento explora asagonias deum homem livro católico emque oescritor daMatéria”, guião de“O o Coração atrabalharno Corrine colocando GrahamGreene, directamente cita que McInerney culpa. Nãoéporacaso deprazercomo que temtanto quem setorna amante, numa relação Zero. Éaíque reencontra Luke, de noites comosvoluntários noGround construída emantida,parapassaras dificilmente abandona afamília,tão várias referências aPompeia –, pelo fumoepelosdetritos–existem dia 12comLuke enegrecida narua corpos incinerados. dos escombros edosmilhares de respirar oarrarefeito eenvenenado identidade, enlouquecendo ao deuma asegurança fornecia se doque anteriormentelhes maré torrencial, aspessoas afastam- devem ouficar, partir e,comouma entredesaparecido –discutem sise toda agente conhecealguém – famílias eosgruposamputados as mentes dossobreviventes, as ospesadelosinvademapocalíptico, Oambiente é bomba atómica. deuma com arapidezmortífera claro que tudomuda num instante descrever emboraseja emdetalhe, sema Setembro comocatalisadora para introduzir acatástrofe de11 drogas, sexo econsumismo. exploração doradianteuniverso das avançado emestado na encontra-se equivalente ater27noutro local”), (“ter 14 éo anosemManhattan deluxoboneca eAshley, com14 anos Sasha de actividades continua assuas mulher dele, eafilhapoucoprecisam família”, deque apercebe-se a reformar-se para“dar à atenção mais amante, Luke, financeiro que decidiu deque Russellsuspeita temuma teme que airmãlhetire osfilhose desespero edesconforto. Corrine são visíveis de algunssinais comonada“inteligentsia”finança iorquina nareunião mastanto daalta Drang, angsteadrenalina”. repasto que envolve “Sturmund do vinhos) seafadiganapreparação McInerney escreveu umlivro sobre masculina” darestauração (opróprio competitiva“na nova esferadeacção eembrenhado armado em“chef” Russell, enquanto descontracção, célebres –édesofisticada dono deumrestaurante, ambos eo os convidados umcineasta está que documenta umsentimento denojodomundo “Um Outro”, deKertész, éum“road movie” porcenárioseuropeus Entre aNova Iorque que converge namanhãdo queCorrine, secruza hábil McInerney ésuficientemente nova- umanoitedeazáfama É mais nós depoispublicamos. [email protected]. E 500 caracteres para Envie-nos umanotaaté com oqueescrevemos? ou nãoconcordando sobre ele,concordando a Mau néon, no céu: “Jadis, si je me souviens sijemesouviens néon, nocéu:“Jadis, versos deRimbaud seinscreveram, a quando asluzesseapagaram eos donovo doinício mortal milénio, aogolpe anos 80esujeita quase desdeos emdecadência sociedade fúnebre deuma entoa ocanto dosanosvinte–McInnerney festa –ofinalamargo uma época dagrande SeJaya morte. Gatsby éoíconede ferida, envolta echeirando emcinzas metrópole esplendorosa, seriamente juventudeidade que choraasua na pungente deumhomemmeia- apogeu esetransformanameditação que, em“A Vida”, Boa atinge oseu substituído porumatoadaelegíaca álcool, drogas esexo, foilentamente dos primeiros a anos, alimentados contundente, irónico edesmedido autobiográfico masotomrápido, comumcunhofortemente escrita baixos numa dasúltimasdécadas McInerney acompanhouosaltose para ocircuito dosricosefamosos. extravagâncias que oscatapultaram “curriculum” osexcessos eas anos vinte,incluindonoseu herdeiros da“geração perdida” dos comofiéis Pack“ eassumiram-se Janowitz. Foram apelidadosde“Brat personagens), Mark eTama Lindquist (comquem temtrocado Ellis Easton consigoarrastando autores como Bret redesenhouBeattie, omapaliterário, professor Criativa) eAnn deEscrita Raymond Carver (que foiseu Na esteira deescritores como era consideradogénero emextinção. oromance em1984,quando Big City” doséculoXVIII.finais Literatura,desdeos asua contamina eque, ciclicamente, americana nacultura inscrito fortemente “inocência”, essetematão explora aperda repetida da –enquanto urbano deManhattan dotecido actividades essenciais (com maioroumenorcinismo), livros acausas sociais ouadedicar-se familiar –todaagente aescrever está deumuniversoa descrição que lheé Cidade”. McInerney remete-nos para de“Osair directamente Sexo ea eAshley,Hillary figurasque parecem Sasha, Trisha (amante deRussell), Melman, a“Barbie” bilionário Bernie personagens comoofilantropo arranjar para sair)–para descrever 1732, nacenaemque Sasha a seestá Swift Lady’s (“The Dressing Room”, deTomAmis, Wolfe ede Jonathan deMartin sátira –contaminações eLuke,Corrine McInerney fazusoda doçura fitzgeraldiana dascenascom absurda vidas.Acontraporà dassuas deixam levarpelatrivialidade eosque se redenção edecatarse de aqueles umaespécie que buscam semelhanteaoqueforças, divide desequilíbrio existe umabissal de vertiginoso“buraco” ehorrendo, procura afastar-se desse –eaque tabernáculo adorado num comoosol hipnótica tão bien, ma vie était un festin où unfestinoù bien, mavieétait McInerney publicou“BrightLights, m Medíocre mm Razoável mmm Bom mmmm sido remetidas para umglossário. notas derodapé, quepoderiamter Below Street) Canal –easmúltiplas (Triangledelimitações deTriBeCa Italy deChinaTown eéumadas neste contextoporque separa Little Street”, “Canal uma rua, importante nãoéum“canal”“Canal” massim lamentar algunserros –umexemplo: termos eojargão éde “locais”, numa tradução ondeabundamos Nota: reconhecendo-se adificuldade possível eque obrilhoregresse. espera, ainda,que seja aredenção chegou masMcInerney abomporto Nietzsche, Hofmannsthal, Freud,Nietzsche, mmmmm Presença,Editorial €11,00 Rodrigues) dohúngaro(tradução deErnesto Imre Kertész Um Outro Direitinho Riço José literatura daEuropa Central. vozes angustiadas da mais Reflexões deumadas estranheza Crónica da da língua alemãautoresda língua como a viver detradutor, doofício vertendo Passou Comunista. doPartido oficial transformou numa deórgão espécie 50 foi ojornal se demitidoquando de periódico, dadécada masnoinício ocupações exerceu num ojornalismo Regressado aBudapeste, entre outras em1945.onde foilibertado deBuchenwald, para ocampo de Auschwitz tarde emais transferido 1944 (com15 para anos)foi deportado numa famíliajudiaassimilada,eem Ele vaisucumbirsozinho.” personagem: “Para quê liquidá-lo? dizumasua desdém. Como uma propositada indiferença efalso entanto, ovigiavam), dedicavam-lhe kafkianos” doregime (que, no intermédio dos“secretários por edições easinstituiçõesestatais, passado deumasexíguas primeiras estranhas, osseuslivros nãotinham porcircunstâncias Durante décadas, noseupaís. quase desconhecido Imre Kertész nasceuemBudapeste Muito Bom Muito ébrio” do poeta francês não ébrio” francêsnão dopoeta verdade que o“barco les vins coulaient.” É É les vinscoulaient.” ainda a ser um ainda aserum este continuava Kertész (n.1929), húngaro Imre de Literaturao com oPrémio Nobel distinguir decidiu Academia Sueca Quando, em2002, a mmmmm les coeurs, où tous les coeurs,oùtous s’ouvraient tous Excelente aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

O segundo romance de Vasco Graça Moura, publicado em 1988, chega agora às livrarias em terceira edição

Wittgenstein, Schnitzler, Canetti, mesma se escreve.). E durante estes ponto culminante o jantar. Ponto Entre o “jogging” e discussões sobre há uma intenção polémica declarada. Thomas Bernhard, entre outros. tempos Kertész acha que deixou de prévio: nenhuma das cinco amigas de as irmãs Brontë (Heathcliff é um Essa intenção manifesta-se desde Curiosamente, todos autores que “saber escrever”. “Arlington Park” tem a mais remota canalha “sexy” ou um vulgar logo no retrato deliberadamente acabaram por influenciar bastante a “Um Outro” é uma espécie de afinidade com Clarissa Dalloway, patife?), o tédio abre-se a todas as grotesco dos anos imediatos do pós- sua obra. Em 1989, com a queda do “road movie” por uma sequência de ainda que Christine a cite de viés. possibilidades. Revolução, vistos em grande medida Muro de Berlim e dos regimes cenários europeus e que documenta Mulheres do nosso tempo, Das cinco, Juliet é a única que como o triunfo de um “tropel europeus pró-soviéticos, a ele, que a nova maneira de viver do escritor, Christine, Solly, Maisie, Amanda e questiona o padrão de vida de andrajoso” que não descansava se considera “filho incorrigível das de leitura em leitura, de cidade em Juliet querem ser, ou pelo menos Arlington: “As raparigas a quem enquanto não metesse “a direita no ditaduras”, é-lhe oferecida a cidade, mas em que são raros (talvez parecer, belas, cultas, independentes Juliet dava aulas eram criaturinhas Campo Pequeno”. Vinte anos depois, possibilidade de sair da Hungria e de não exista mesmo algum) os e respeitáveis. Também querem satisfeitas consigo próprias, que o discurso parece menos ousado, ver o mundo. “Simplesmente, momentos de espanto, de felicidade, provocar desejo no homem da rua. saíam do mesmo molde que as mães mas mantém a mesma recusa face a aconteceu que me devolveram a de um pequeno interesse que Maridos e filhos são peças da mesma [...] sem a mínima noção da sua uma memória geracional idealizada. ‘conditio minima’, a minha liberdade justifique a viagem. Um sentimento engrenagem. Christine é a que tem a vulnerabilidade.” Fora essas Tanto mais que este “narrador” individual – rangendo, abriu-se, de nojo do mundo. Há um cansaço responsabilidade do jantar; Solly ocasionais perplexidades de não se distingue do chamado “autor assim, a porta da cela em que me que perpassa todo o texto. São hospeda estudantes estrangeiras para natureza existencial, tudo repousa empírico”: é escritor, foi advogado, fecharam durante quarenta anos, e cidades onde chove quase sempre e equilibrar o orçamento do mês; numa “beleza destrutiva”. Por vezes, secretário de Estado, director da RTP pode dar-se que seja bastante para que, sem que o leitor perceba bem Maisie, cujos pais têm uma vivenda a narrativa aproxima-se da epifania, e administrador da Imprensa me perturbar. Não se pode viver a porquê, convocam a Kertész em Portugal, trocou Londres por mas se Rachel não tivesse os Nacional (o currículo actual seria bem liberdade onde se viveu o cativeiro. memórias de Auschwitz Arlington e sente dificuldade em pergaminhos académicos que tem, mais extenso). Recusando a ficção Seria preciso ir para qualquer lado, ir confrontando-o com o passado, com adaptar-se ao novo estilo de vida; seria expeditamente arrumada na pura, o romance ganha assim uma para muito longe daqui.” Tendo a infância, provocando momentos Amanda troca um emprego de prateleira das autoras “do coração”. dimensão de testemunho, cheio das então já alguns dos seus livros reflexivos sobre o que é a existência executiva bem sucedida pela rotina Eduardo Pitta idiossincrasias que conhecemos a traduzidos para alemão, Kertész num mundo pós-Auschwitz, sobre o da vida em família, e Juliet, a V.G.M. O texto está pejado de começa a aceitar todos os convites totalitarismo, o terror, a identidade professora, dinamiza o Clube referências culturais, pintura e para sessões de leitura, conferências, judaica, a inutilidade da lucidez, a Literário do liceu do bairro. Arlington História Trágico- música clássica sobretudo, e nelas apresentações e debates, bolsas, vergonha de ter sobrevivido, mas é um subúrbio ficcionado de Londres, Marítima detectamos os sofisticados gostos do residências artísticas, visitando recusando sempre o heroísmo do decalcado, se assim se pode dizer, de autor. Mas há também desgostos, que cidades (por vezes ficando durante sofrimento, o papel de vítima, e Agrestic, o condomínio asséptico Naufrágio de Sepúlveda são muitos, de Brecht ao Bairro Alto, semanas) uma após outra: Viena, prescindindo, de maneira onde Craig Zisk situa a série de Vasco Graça Moura passando pela UNESCO e o Zurique, Frankfurt, Berlim, implacável, de encontrar qualquer televisão “Weeds”. Rachel não tem Quetzal, € 16,90 conceptualismo. A experiência Hamburgo, Leipzig, Paris… Chega a tipo de consolo. culpa da coincidência, mas o institucional faz o “narrador” ver o passar apenas três meses por ano “modelo” não nos larga à medida que mmmnn mundo da cultura como uma em Budapeste. “Assim vivo, como a leitura progride. Infelizmente, a sucessão de “reivindicações, um fugitivo.” As cinco falta de espessura das personagens “Relação da mui retaliações, demissões, perversões, Mas esta nova e estranha “leveza contribui para potenciar esse efeito notável perda do legislações”, diagnóstico do ser” traz-lhe uma inesperada e Arlington Park de proximidade. Porém, lá onde as galeão grande S. especialmente divertido, uma vez que irracional nostalgia do passado, os Rachel Cusk personagens de Zisk vivem na linha João em que se em 1988 o “autor empírico” exercia “novos tempos” começam a parecer- (Trad. Tânia Ganho) de fronteira da transgressão, as de contam os grandes funções oficiais. lhe uma traição ao seu antigo modo ASA Rachel (mau grado o cinismo amargo trabalhos e Além das embirrações, o texto de vida espartano (“viver de Christine e o desencanto de Juliet) lastimosas cousas recicla tudo o que vai acontecendo, constantemente face a forças de mmmnn não têm arestas. Noutro patamar, que aconteceram ao um recurso decisivo no estilo destruição”), era esse que lhe tinha qualquer tentativa de relacionar o capitão Manoel de romanesco de Graça Moura. Uma conferido uma identidade de escrita. O que levará críticos “plot” com o psicologismo de Virginia Sousa Sepulveda, e o lamentável fim entrevista de José Mattoso ao “Porque me sinto assim tão perdido? conspícuos a Woolf é pura perda de tempo. que ele, e a sua mulher, e filhos, e “Expresso”, o trânsito em Lisboa, a Manifestamente, porque estou considerarem A história vive dos detalhes. toda a mais gente houveram na Terra biblioteca, “Les Demoiselles perdido?” É, em parte, desse Rachel Cusk (n. Rachel é extremamente feminina no do Natal, onde se perderam a 24 de d’Avignon”, o “caso Heidegger”, tudo sentimento e desses “novos tempos” 1967) uma espécie relato do quotidiano (pequeno- Junho de 1552”. Este célebre episódio entrou no romance, provavelmente à que Kertész nos dá conta em “Um de Jane Austen do almoço, compras, trapos, tricas, da “História Trágico-Marítima” serve medida que este foi sendo escrito, em Outro – Crónica de uma século XXI, como cozinhados), bem como na minúcia de ponto de partida ao segundo tempo real. Redigido num único metamorfose”. apareceu escrito no com que descreve a cupidez geral: romance de Vasco Graça Moura, parágrafo compacto (não por acaso Este livro, apresentado “Times Literary “Elas podem não ser licenciadas, publicado em 1988, cuja terceira se cita Bernhard), “Naufrágio de intencionalmente pelo autor como Supplement”, ou mesmo a falar de nem doutoradas, nem ter empregos edição chega agora às livrarias. Sepúlveda” é “um texto ondulante de uma obra de ficção, é um diário de Stendhal? Em 2003, quando a revista fascinantes... podem não ser as O histórico naufrágio encontra eco tempos encadeados sem costuras reflexões pessoais anotadas entre o “Granta” incluiu o seu nome na lista pessoas mais ricas que já conheceste em duas mortes contemporâneas: os nem pausas”, sucessão rápida, num Outono de 1991 e a “Primavera fria e dos vinte melhores jovens na vida, nem as mais famosas e aparentes suicídios de Luís de fôlego, de diálogos, actos, descrições, lamacenta de 1995”. Mas porquê, romancistas britânicos, já ela havia importantes, mas acredita que o Montalvor, editor e poeta do concerto de vozes que, do princípio então, chamar-lhe obra de ficção, publicado cinco romances. “Arlington grupo de pessoas que eu vejo aqui modernismo português, e do ao fim, se sucedem debaixo de sendo um diário? A resposta é-nos Park” é o sétimo. O livro integrou a todos os dias é o mais variado, ficcional Manuel de Sousa Sepúlveda, chuvadas, trovoadas, tempestades, dada pela epígrafe de Rimbaud, a lista de finalistas do Orange Prize, e interessante e corajoso que vais homem de negócios homónimo do como nos desastres em mar alto. fórmula que este deixou para o se Rachel o tivesse ganho teria encontrar seja onde for!” Tão capitão quinhentista. Montalvor e Essa maleabilidade do texto é o Modernismo: “Je est un autre” (Eu é sido o quarto prémio em dez especiais que não querem Sepúlveda morreram em décadas mais estimulante em “Naufrágio do um outro). O autor é Imre Kertész, anos. Isto para dizer que a viver em Londres. E diferentes mas com um método Sepúlveda”, que às vezes tem mas a personagem (narrador) é o autora, docente do New explicam porquê: “O raio da semelhante, ambos num automóvel personagens apenas esboçadas e escritor I. K. (“eu vivo a vida de um College de Oxford, é hoje um capital terrorista do mundo. atirado ao rio no cais de Belém. Isso minúcias enfadonhas. Ao mesmo escritor chamado I. K.”), que nos diz nome de referência da Estão lá todos, a conviver deixa o narrador do romance tempo, há uma pulsão poética em que o “Eu” é “uma ficção de que literatura de língua inglesa. alegremente em Bayswater, bastante intrigado. Através de jornais Graça Moura que desenha com somos, quando muito, co-autores”. À superfície, “Arlington Park” livres como passarinhos, e antigos e conversas, investiga os exactidão tonalidades e texturas Kertész sente que perdeu a sua lembra “A Festa de Mrs ainda por cima a estranhos casos, relatando ao mesmo quotidianas. Não é por acaso: além identidade anterior, que se Dalloway”, o livro de contos arranjarem os tempo outros naufrágios pessoais e do naufrágio, o tema do metamorfoseou, e estas reflexões de Virginia Woolf que dentes à borla colectivos. Acontecimento real ou romance é a representação. Essa apresentadas como ficção são uma teve publicação através do metafórico, o naufrágio tem uma representação que no Ocidente foi tentativa de descoberta de uma outra, póstuma em 1973 Serviço Nacional longa tradição, de Homero a evoluindo da mimese para o próprio de se reinventar como um “outro”. (não confundir com de Saúde.” Ali, Hopkins, e aqui representa vários processo criativo, originando assim Mas a sua identidade é apenas a da o romance “Mrs naquele colapsos económicos ou mentais de vários modelos de realidade, escrita. “Confesso-vos, pois: tenho Dalloway”, de O que levará críticos subúrbio sem gente que viveu na transição da modelos testados ao longo do uma só identidade, a identidade da 1925). Tudo conspícuos a considerarem textura, não há ditadura para a democracia. romance, aplicados à História escrita. (Eine sich selbst schreibende acontece num único Rachel Cusk uma Jane sobressaltos Como acontece com frequência portuguesa e à história dos seus Identität.)” (Uma identidade que a si dia, tendo como Austen do século XXI? nem intrusos. nos romances de Vasco Graça Moura, naufrágios. Pedro Mexia

34 • Sexta-feira 10 Julho 2009 • Ípsilon

Jorge Luís M. Mário Vasco As estrelas do público Mourinha Oliveira J. Torres Câmara Brüno mmnnn mnnnn nnnnn mmnnn Deixa-me Entrar mmmmn mmnnn mmmnn mmmnn Elegia mmmnn mnnnn nnnnn nnnnn Cidade das Sombras mmmnn nnnnn nnnnn nnnnn Histórias de Caçadeira mmmmn mmmnn mmmnn mmmnn Home-Lar Doce Lar mmmnn mmmnn mmnnn mmmnn A Idade do Gelo 3 mmmnn mmnnn nnnnn nnnnn Ligações Perigosas mmmnn mmnnn mmmnn nnnnn A Ressaca mmnnn nnnnn mnnnn nnnnn Transformers A nnnnn nnnnn nnnnn

Estreiam 19h, 21h15, 23h45; ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª do norte-americano Andy Kaufman mercado americano por respeito a 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 15h40, 17h45, (1949-1984) – o humorista (neste caso Michael), perante a tentativa de 19h50, 21h55; ZON Lusomundo CascaiShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h10, 18h50, ajuda pouco o termo...) que fez de engate do senador republicano Ron 21h05, 23h40; ZON Lusomundo Colombo: 5ª 6ª “humor” outro nome para loucura – Paul, perante a aventura pelo Médio Isto é Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h55, 15h15, 17h25, partilha a mesma pulsão “kamikaze”. Oriente onde Brüno confunde 19h35, 21h45, 24h; ZON Lusomundo Odivelas Parque: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª Tivemos Borat, temos Brüno, outra “hummus” com “Hamas” ou perante hardcore 13h20,15h40, 17h50, 21h30, 23h40; ZON Lusomundo personagem que o britânico Cohen o anúncio da adopção de bebé negro Oeiras Parque: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª desenvolveu no seu “show” televisivo em “talk show” com assistência afro- 13h15, 15h35, 17h40, 19h50, 21h50, 24h; ZON Lusomundo Torres Vedras: 5ª 6ª Sábado Domingo – é o jornalista de moda austríaco, americana chocada. Essas dúvidas, É um filme explícito e a sua 2ª 3ª 4ª 13h45, 16h20, 18h40, 21h30, 23h40; ZON homossexual, que ambiciona a contudo, não nos salvam do Lusomundo Vasco da Gama: 5ª 6ª Sábado notoriedade de outro austríaco, o desconforto. Porque – é a principal estrutura é a repetição: muda Domingo 2ª 3ª 4ª 12h55, 15h20, 17h20, 19h20, de quarto, não sai do sexo. 21h20, 24h; Castello Lopes - C. C. Jumbo: Sala 3: 5ª pequeno Adolf. Depois de estragar diferença entre Sacha Baron Cohen e Domingo 2ª 3ª 4ª 15h30, 17h30, 19h30, 21h45 6ª “shows” de moda na Europa, onde se outro especialista em “apanhados”, O que, como no porno, é Sábado 15h30, 17h30, 19h30, 21h45, 24h; Castello torna “persona non grata”, Brüno Michael Moore – o que se passa no Lopes - Fórum Barreiro: Sala 2: 5ª Domingo 2ª 3ª experiência de tolerância 4ª 13h, 15h20, 17h30, 19h20, 21h50 6ª Sábado 13h, parte para a América para ser célebre ecrã nunca é apenas uma questão limitada. Mas é de admirar a 15h20, 17h30, 19h20, 21h50, 00h10; Castello Lopes - entre as celebridades. E aí junta-se a entre o comediante e as suas Rio Sul Shopping: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo fome com a vontade de comer... “vítimas”; o que se passa no ecrã ferocidade de Sacha Baron 2ª 3ª 4ª 13h20, 15h40, 17h40, 19h40, 21h50, 24h; ZON Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª E em “Brüno” junta-se a “câmara nunca deixa o espectador em lugar Cohen. Vasco Câmara Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h25, 18h05, escondida” com a encenação, os seguro. Sacha Baron Cohen/Brüno 21h05, 23h25; ZON Lusomundo Fórum Montijo: 5ª “apanhados” e a simulação de não é o justiceiro que denuncia, nem 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h10, 17h20, espontaneidade, e o resultado é o filme é a clássica demonstração de Bruno 19h30, 21h40, 23h50; próximo de uma orgia uma aventura de denúncia. Sacha Brüno Porto: Arrábida 20: Sala 16: 5ª 6ª Sábado confrontacional. Sexo, sexo, sexo, Baron Cohen/Brüno e o espectador De Larry Charles, Domingo 2ª 13h45, 15h45, 17h55, 20h05, 22h15, 00h40 3ª 4ª 15h45, 17h55, 20h05, 22h15, sobretudo sexo, atirado à cara – fazem parte da história. O filme não é com Sacha Baron Cohen, Richard 00h40; ZON Lusomundo Dolce Vita Porto: 5ª 6ª literalmente, pois até há uma altura o que se passa no ecrã, o “filme” é o Bey, Ron Paul. M/16 Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 15h40, 17h50, 20h, 22h10, 00h20; ZON Lusomundo Marshopping: em que temos a sensação de que se que se passa entre o ecrã e o MMNNN 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h30, 19h, nos mexermos muito na cadeira da espectador. Tudo encenado ou tudo 21h30, 23h40; ZON Lusomundo NorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h10, 17h30, sala de cinema apanhamos com um espontâneo – “Brüno” é um filme que Lisboa: Castello Lopes - Cascais Villa: Sala 4: 5ª 20h, 22h25, 00h50; ZON Lusomundo Parque pénis que abana no ecrã. Como num procura determinadamente os seus Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 15h20, 17h20, 19h30, Nascente: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50,

Cinema porno, “Brüno” é um filme explícito e efeitos –, é tudo feito para nos 21h50 6ª Sábado 13h20, 15h20, 17h20, 19h30, 15h, 17h10, 19h30, 21h50, 00h15; ZON Lusomundo 21h50, 00h20; Castello Lopes - Loures Glicínias: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª a sua estrutura é a repetição: muda o envolver. Para nos envolver? Para nos Shopping: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 3ª 4ª 14h05, 16h30, 18h55, 21h20, quarto mas nunca saímos da agredir, saquear. A prova de que o 4ª 13h, 15h, 16h50, 18h50, 21h50, 00h15; CinemaCity 23h45; cama, o que, e isso acontece que se passa em “Brüno” não se Alegro Alfragide: Sala 7: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 13h30, 15h30, 17h35, 19h30, 21h30, 23h30 Sábado Domingo Talvez seja altura de quando se assiste a um passou entre “eles”, comediante e um 11h45, 13h30, 15h30, 17h35, 19h30, 21h30, começarmos a pedir porno, é uma experiência de “apanhado”, mas entre “nós”, está na 23h30; CinemaCity Beloura Shopping: Sala 1: 5ª 6ª a Sacha Baron tolerância limitada – aliás, mais incómoda “performance” de um 2ª 3ª 4ª 13h35, 15h30, 17h35, 19h30, 21h35, 23h30 Sábado Domingo 11h50, 13h35, 15h30, 17h35, 19h30, Cohen, e a quem faz “Brüno” não só progride destemido actor que temos visto 21h35, 23h30; CinemaCity Campo Pequeno Praça de os filmes com ele, através da repetição ultimamente: ele, sozinho, sem Touros: Sala 1: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 14h, 16h, 18h05, que nos dê como todas as “partenaire”, pois o “partenaire” é 20h, 21h45, 23h35 Sábado Domingo 11h55, 14h, 16h, 18h05, 20h, 21h45, 23h35; Medeia situações criadas são um fantasma, tacteando, Monumental: Sala 4 - Cine Teatro: 5ª 6ª Sábado variações das posições lambendo as várias hipóteses de Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15, 15h, 16h45, 18h30, 20h15, mais ou menos uma ementa sexual. Imaginando e 22h, 00h30; UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 13: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h10, 16h10, 18h10, 20h10, acrobáticas de puxando pela nossa imaginação. É 22h10, 00h15 Domingo 11h30, 14h10, 16h10, 18h10, “Borat”. hardcore. 20h10, 22h10, 00h15; UCI Dolce Vita Tejo: Sala 2: 5ª O que é 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 15h15, 17h05, espontâneo Cidade das Sombras e o que é City of Ember De Gil Kenan, Sacha Baron Cohen nunca deixa com Bill Murray, Tim Robbins, o espectador em lugar seguro Saoirse Ronan, Martin Landau. M/12 MMMnn

Lisboa: ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h55, 16h10, 18h25, 21h35, 23h50; ZON Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Sábado encenado? Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h30, 17h50, 21h15, O que é 23h40; UCI Freeport: Sala 3: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h35, imaculadamente 18h30, 21h20 6ª 15h35, 18h30, 21h20, 23h55 Sábado 13h30, 15h35, 18h30, 21h20, 23h55 Domingo 13h30, suicidário na 15h35, 18h30, 21h20; ZON Lusomundo Almada “performance” de Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h05, mais cinema e não apenas Sacha Baron Cohen 15h30, 18h10, 21h15, 23h50; emanação do(s) e o que é que foi Porto: Arrábida 20: Sala 14: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 14h15, 16h40, 19h05, 21h45, 00h20 3ª 4ª 16h40, pequeno(s) ecrã(s), TV ou assistido? É o que 19h05, 21h45, 00h20; ZON Lusomundo YouTube – que é o podemos GaiaShopping: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h30, “habitat” destes perguntar, com 17h50, 21h20 6ª Sábado 13h10, 15h30, 17h50, 21h20, 00h30; ZON Lusomundo MaiaShopping: 5ª 2ª 3ª “apanhados”, da sua maiores ou 4ª 13h40, 16h20, 18h40, 21h50 6ª Sábado Domingo estética e da sua ética. menores certezas, 13h40, 16h20, 18h40, 21h50, 00h35; ZON Lusomundo Mas não é razão perante o “foreplay” Parque Nascente: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 16h30, 18h50, 21h40, 24h; ZON Lusomundo para não homossexual em Fórum Aveiro: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª admirarmos a ringue de wrestling, 13h45, 16h20, 18h50, 21h20, 23h50; ferocidade e a com multidão a coragem física de vaiar os actos, Que vos parece uma aventura Cohen, que se não perante a ofensa adolescente sobre dois miúdos que mergulha, para bem a LaToya procuram descobrir os segredos da da sua saúde mental, Jackson (ao cidade onde vivem? Contado assim, nas profundezas que se diz, nada de novo, provavelmente mais esquizofrénicas das sequência uma fita para miúdos na linhagem “performances” cortada no dos velhos filmes de imagem real da

36 • Sexta-feira 10 Julho 2009 • Ípsilon aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Uma intrigante aventura distópica de Coixet não fez Roth, fez Coixet e “fazer Coixet” ficção científica: “Cidade das Sombras” é algo de muito pouco interessante

MNNNN A espanhola Isabel Coixet anda há “cinema de autor”). Dentro do seu egoísta, mesmo “isolacionista”, do anos (“Coisas que Nunca Te Disse”, “A género, filmes tão honestos quanto macho solitário e envelhecido Lisboa: Medeia Saldanha Minha Vida Sem Mim”, “A Vida enfadonhos. Mas que fazem de Coixet reconvertida na neblina sentimental Residence: Sala 5: 5ª 6ª Sábado Secreta das Palavras”) a filmar a última pessoa que nos de um mau melodrama. Que não tem Domingo 2ª 3ª 4ª 14h20, 16h50, 19h20, 21h50, 00h20; UCI Cinemas - histórias de personagens “sensíveis” lembraríamos de recomendar para bem “cenas”, antes “vinhetas” El Corte Inglés: Sala 10: 5ª 6ª Sábado vítimas de crises existenciais de todo filmar uma história de Philip Roth. ilustrativas à espera do diálogo (ou da 2ª 3ª 4ª 14h10, 16h30, 19h, 21h30, o tipo, numa mistura (nada explosiva, Em todo o caso ninguém nos frase, ou pior, da máxima) que as vem 23h55 Domingo 11h30, 14h10, 16h30, 19h, 21h30, 23h55; ZON Lusomundo “hélas!”) de filosofia positiva digna de perguntou nada (leitores “online”, resolver e justificar. Que não tem Alvaláxia: 5ª 2ª 3ª 4ª 13h35, 16h05, magazine dominical e melancolia pela vossa saúde, não deixem tanta “personagens”, mas (de Kingsley e 18h40, 22h 6ª Sábado Domingo 13h35, artificial criada e caucionada pela sua presunção passar em claro), e eis Cruz a Dennis Hopper e Patricia 16h05, 18h40, 22h, 00h30; própria pose (ou seja, uma versão “Elegia”, título que pudicamente Clarkson) “exemplos”, retóricos e Porto: Arrábida 20: Sala 4: 5ª 6ª Sábado Disney Domingo 2ª 14h05, 16h40, 19h20, 22h, 00h35 3ª 4ª “soft”, e portanto aceitável, do que esconde o “Animal Moribundo” do ambulantes. Que não tem dos anos 16h40, 19h20, 22h, 00h35; alguns vêem como “tiques” do escritor americano. A angústia crua, “ambiente”, e muito menos 1960 ou da linhagem das produções Spielberg dos anos 1980. E se vos dissermos que essa cidade é um oásis de luz no meio de uma escuridão subterrânea para lá da qual nada parece existir, estabelecida como uma arca de Noé que permitiu à humanidade sobreviver a um apocalipse inexplicado, e que a saída que os miúdos procuram pode também ser a salvação de uma Ember que, pensada para sobreviver apenas 200 anos, está à beira do colapso? A tal fita para miúdos transforma-se noutra coisa — uma intrigante aventura distópica de ficção científica, ambientada num futuro decadente e retro-futurista misto de Revolução Industrial e anos 1950 ingleses, sobre a juventude como salvação do amanhã, dirigida com habilidade e economia pelo anglo-israelita Gil Kenan, revelado há três anos com a bem interessante animação “A Casa Fantasma”. Em abono da verdade, “A Cidade das Sombras” parece mais interessado na sua prodigiosa cenografia de conto de fadas (cortesia do designer Martin Laing) do que nas suas personagens, reduzidas a arquétipos decalcados. Mas, paradoxalmente, esse funcionalismo acaba por emprestar ao filme um certo charme de série B clássica, muito sublinhado pelo luxuoso elenco de veteranos actores de composição (Bill Murray, Tim Robbins, Martin Landau, Toby Jones) convocados para preencher os papéis secundários do que não deixa por isso de ser uma peculiar variação sobre temas clássicos da ficção científica, feita com inteligência e alguma originalidade (o guião, adaptação de um romance juvenil, é de Caroline Thompson, a argumentista de “A Noiva Cadáver”, “O Estranho Mundo de Jack” e “Eduardo Mãos de Tesoura” para Tim Burton). É mais uma das surpresas que têm andado a emergir pelo meio do refugo que anda a chegar às salas e que não merecia este lançamento meio desamparado. Jorge Mourinha

Continuam

Elegia Elegy De Isabel Coixet, com Sonja Bennett, Patricia Clarkson, Penélope Cruz, Ben Kingsley. M/12

Ípsilon • Sexta-feira 10 Julho 2009 • 37 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

“meteorologia”, mas uma 12h40, 14h50, 17h, 19h10, 21h15, 23h30; CinemaCity 22h, 00h10 (V.Port.) Domingo 11h, 13h20, 15h30, 19h30, 21h40, 23h50; Castello Lopes - Rio Sul graça nenhuma à adopção; dois fotografia de enjoativos cinzentos e Alegro Alfragide: Sala 8: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 17h40, 19h50, 22h, 00h10 (V.Port.); ZON Lusomundo Shopping: Sala 4: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª gambás palermas; uma mamute 3ª 4ª 11h30, 13h35, 15h40, 17h45, 19h50, 21h55, Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 13h10, 15h20, 17h25, 19h30, 21h30, 23h40 (V. azuis que nos grita “reparem, é o 24h; CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 2: 5ª 6ª 16h20, 18h10, 21h20, 23h30 (V.Port.); ZON Port.); UCI Freeport: Sala 1: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h25, muito grávida e o seu cônjuge Outono da vida”. E que faz o que Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 11h50, 13h55, 16h, 18h30, Lusomundo CascaiShopping: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 17h40, 19h45, 21h45 (V.Port.) 6ª 15h25, 17h40, 19h45, neurótico com a paternidade; um pode (interlúdios musicais e tudo) 21h30, 23h35 (V.Port.); CinemaCity Beloura 4ª 13h10, 15h20, 17h30, 19h40, 21h50, 24h (V.Port.) 21h45, 24h (V.Port.) Sábado 13h25, 15h25, 17h40, tigre dentes de sabre com palpitações; Shopping: Sala 2: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª Domingo 11h, 13h10, 15h20, 17h30, 19h40, 21h50, 24h 19h45, 21h45, 24h (V.Port.) Domingo 13h25, 15h25, para que o espectador não saia sem a 11h40, 13h45, 15h50, 18h30, 21h30, 23h35 (V. (V.Port.); ZON Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Sábado 17h40, 19h45, 21h45 (V.Port.) ; ZON Lusomundo uma esquila pré-histórica que sabe sua lagrimita. O poder do cinema: Port.); CinemaCity Campo Pequeno Praça de Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h, 18h45, 21h20, Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª fazer uso do seu poder de sedução; e, Coixet não fez Roth, fez Coixet. Touros: Sala 6: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 23h50; ZON Lusomundo Colombo: 5ª 13h10, 13h20, 13h30, 16h, 18h20, 21h35, 23h55; ZON Lusomundo sobretudo, uma doninha zarolha 11h30, 13h35, 15h40, 17h45, 19h50, 21h55, 24h (V. 15h25, 15h40, 17h40, 18h, 19h50, 21h10, 00h20 (V. Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 12h50, Infelizmente, “fazer Coixet” é algo de Port.); CinemaCity Campo Pequeno Praça de Port.) 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 13h10, 13h20, 15h25, 15h10, 17h25, 19h40, 22h, 00h20 (V.Port.) Domingo desvairada armada em Rambo da muito pouco interessante. Luís Touros: Sala 3: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 15h40, 17h40, 18h, 19h50, 21h10, 22h, 23h35, 00h20 10h30, 12h50, 15h10, 17h25, 19h40, 22h, 00h20 (V. selva mesozóica, se é que isto tudo se Miguel Oliveira 11h45, 13h50, 15h55, 18h, 21h30, 23h40 (V. (V.Port.) Domingo 11h, 13h10, 13h20, 15h25, 15h40, Port.); ZON Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª passa no Mesozóico. O que não temos Port.); Medeia Fonte Nova: Sala 1: 5ª 6ª Sábado 17h40, 18h, 19h50, 21h10, 22h, 23h35, 00h20 (V. Sábado 2ª 3ª 4ª 13h15, 15h40, 18h, 21h10, 23h30 (V. Domingo 2ª 3ª 4ª 14h10, 16h05, 18h, 19h55, 21h50 Port.); ZON Lusomundo Dolce Vita Miraflores: 5ª 2ª Port.) Domingo 11h, 13h15, 15h40, 18h, 21h10, 23h30 certeza, porque tudo isto pressupõe (V.Port.); Medeia Nimas: Sala 1: 5ª 6ª Sábado 3ª 4ª 15h10, 17h30, 19h40, 21h50 (V.Port.) 6ª Sábado (V.Port.); ZON Lusomundo Fórum Montijo: 5ª 6ª que na idade do gelo havia um oásis A Idade do Gelo 3: Despertar dos Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h, 18h, 20h (V. 15h10, 17h30, 19h40, 21h50, 24h (V.Port.) Domingo Sábado 2ª 3ª 4ª 13h50, 16h30, 18h50, 21h20, 23h40 de dinossáurios escondido por baixo Dinossauros Port.); Medeia Saldanha Residence: Sala 6: 5ª 6ª 11h, 15h10, 17h30, 19h40, 21h50 (V.Port.); ZON (V.Port.) Domingo 11h, 13h50, 16h30, 18h50, 21h20, do gelo. E que os mamutes, tigres Ice Age 3: Dawn of The Dinosaurs Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h, 18h, 20h, 22h, Lusomundo Odivelas Parque: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 23h40 (V.Port.); 24h; UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 9: 5ª 6ª 4ª 13h15, 15h30, 18h15, 21h15, 23h30 (V.Port.) Porto: Arrábida 20: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo dentes de sabre, preguiças, gambás e De Carlos Saldanha, Sábado 2ª 3ª 4ª 14h, 16h, 18h, 20h, 22h, 00h10 Domingo 11h, 13h15, 15h30, 18h15, 21h15, 23h30 (V. 2ª 13h40, 15h45, 18h, 20h15, 22h30, 00h45 (V.Port.) doninhas tivessem um sentido de com John Leguizamo (Voz), Queen Domingo 11h30, 14h, 16h, 18h, 20h, 22h, 00h10; UCI Port.); ZON Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª 3ª 4ª 15h45, 18h, 20h15, 22h30, 00h45 (V. Cinemas - El Corte Inglés: Sala 3: 5ª 6ª Sábado 2ª Sábado 2ª 3ª 4ª 12h55, 15h10, 17h30, 19h45, 22h, humor herdado das sitcoms Latifah (Voz), Denis Leary (Voz). M/4 Port.); Arrábida 20: Sala 11: 5ª 6ª Sábado Domingo 3ª 4ª 14h10, 16h20, 19h40, 21h (V.Port.) Domingo 00h25 (V.Port.) Domingo 10h45, 12h55, 15h10, 17h30, 2ª 14h05, 16h30, 19h, 21h25, 24h (V.Port.) 3ª 4ª americanas. Mas não faz mal, porque 11h30, 14h10, 16h20, 19h40, 21h (V.Port.); UCI 19h45, 22h, 00h25 (V.Port.); ZON Lusomundo Torres 16h30, 19h, 21h25, 24h (V.Port.); Arrábida 20: Sala 15: a terceira (e a melhor) animação da MMMNN Cinemas - El Corte Inglés: Sala 6: 5ª 6ª Sábado 2ª Vedras: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 13h, 15h10, 17h20, 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 14h40, 17h, 19h25, 21h55, 3ª 4ª 14h20, 16h40, 19h, 21h15, 23h30 (V.Port.) 19h30, 21h45, 00h20 (V.Port.) Domingo 10h45, 13h, série da “Idade do Gelo” chuta para 00h20 3ª 4ª 17h, 19h25, 21h55, 00h20; Cinemax - Lisboa: Atlântida-Cine: Sala 2: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª Domingo 11h30, 14h20, 16h40, 19h, 21h15, 23h30 (V. 15h10, 17h20, 19h30, 21h45, 00h20 (V.Port.); ZON Cinema da Praça : Sala 1: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h30, 21h45 canto muito longínquo as animações 15h45, 21h45 (V.Port.) Sábado Domingo 15h45, Port.); UCI Dolce Vita Tejo: Sala 10: 5ª 6ª Sábado 2ª Lusomundo Vasco da Gama: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª (V.Port.) 6ª 15h30, 21h45, 23h55 (V.Port.) Sábado 15h, tecnicamente impecáveis mas 18h30, 21h45 (V.Port.); Castello Lopes - Cascais 3ª 4ª 13h45, 15h50, 18h30, 21h10, 23h30 (V.Port.) 4ª 13h05, 15h15, 17h30, 19h40, 21h50, 23h55 (V.Port.) 17h30, 21h45, 23h55 (V.Port.) Domingo 15h, 17h30, Villa: Sala 5: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h05, Domingo 11h30, 13h45, 15h50, 18h30, 21h10, 23h30 Domingo 11h, 13h05, 15h15, 17h30, 19h40, 21h50, narrativamente preguiçosas da 21h45 (V.Port.); Cinemax - Penafiel: Sala 2: 5ª 2ª 3ª 17h10, 19h15, 21h20 (V.Port.) 6ª Sábado 13h, 15h05, (V.Port.); UCI Dolce Vita Tejo: Sala 3: 5ª 6ª Sábado 23h55 (V.Port.); Castello Lopes - C. C. Jumbo: Sala 1: 4ª 15h30, 21h45 (V.Port.) 6ª 15h30, 21h45, 23h55 (V. Dreamworks, reivindicando com 17h10, 19h15, 21h20, 23h50 (V.Port.); Castello Lopes - 2ª 3ª 4ª 14h, 16h15, 18h50, 21h25, 23h50 15h25, 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h15, 17h20, 19h25, 21h30 Port.) Sábado 15h, 17h30, 21h45, 23h55 (V.Port.) graça e inteligência o espírito Londres: Sala 1: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h30, 17h40, 19h45, 21h45, 24h (V.Port.) Domingo 11h30, (V.Port.) 6ª Sábado 15h15, 17h20, 19h25, 21h30, Domingo 15h, 17h30, 21h45 (V.Port.); Medeia Cidade 19h, 21h30 (V.Port.) 6ª Sábado 14h, 16h30, 19h, 14h, 16h15, 18h50, 21h25, 23h50 15h25, 17h40, 19h45, 23h40 (V.Port.); Castello Lopes - Fórum anárquico dos velhos cartoons da do Porto: Sala 2: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 21h30, 24h (V.Port.); Castello Lopes - Loures 21h45, 24h (V.Port.); ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª Barreiro: Sala 1: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h10, 14h05, 16h05, 18h, 19h55, 21h50 (V.Port.); ZON Warner. A culpa é em grande parte da Shopping: Sala 5: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 13h20, 15h30, 17h40, 19h50, 17h20, 19h30, 21h40 6ª Sábado 12h50, 15h10, 17h20, Lusomundo Dolce Vita Porto: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª tal doninha zarolha desvairada, a que 4ª 13h, 15h10, 17h20, 19h30, 21h40, 23h50 (V.Port.) o inglês Simon Pegg dá inspiradíssima Domingo 10h50, 13h, 15h10, 17h20, 19h30, 21h40, 23h50 (V.Port.); ZON Lusomundo Ferrara Plaza: 5ª voz ao nível do Génio de Robin 2ª 3ª 4ª 15h20, 17h30, 19h40, 21h40 (V.Port.) 6ª Williams em “Aladino” ou do Rei Sábado 15h20, 17h30, 19h40, 21h40, 23h50 (V.Port.) Lemur de Sacha Baron Cohen no Domingo 11h, 13h10, 15h20, 17h30, 19h40, 21h40 (V. -/.Í,/'/3 Port.); ZON Lusomundo GaiaShopping: 5ª 2ª 3ª 4ª primeiro “Madagáscar”. A culpa volta 12h40, 15h, 17h20, 19h40, 21h50 (V.Port.) 6ª Sábado a ser também, em parte igualmente 12h40, 15h, 17h20, 19h40, 21h50, 00h10 (V.Port.) grande, da interminável perseguição      Domingo 10h40, 12h40, 15h, 17h20, 19h40, 21h50 (V.Port.); ZON Lusomundo MaiaShopping: 5ª 3ª 4ª da bolota fugidia pelo esquilo Scrat,     13h10, 15h45, 18h30, 21h10 (V.Port.) 6ª Sábado 13h10, aqui transformada numa das mais $!6!').! 15h45, 18h30, 21h10, 23h20 (V.Port.) Domingo 10h50,      deliciosas guerras dos sexos a que 13h10, 15h45, 18h30, 21h10, 23h20 (V.Port.) 2ª 10h50, 13h10, 15h45, 18h30, 21h10 (V.Port.); ZON Lusomundo assistimos recentemente (muita $%%6%%.3,%2 Marshopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª atenção ao hilariante tango da 12h50, 15h10, 17h30, 19h50, 22h, 00h30; ZON bolota). Mas é também de um guião Lusomundo Marshopping: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 13h50, 16h10, 18h40, 21h, 23h20 (V.Port.) Domingo engenhoso e esquizofrénico que 11h10, 13h50, 16h10, 18h40, 21h, 23h20 (V.Port.); ZON consegue urdir em paralelo três Lusomundo NorteShopping: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 12h40, percursos (Scrat e a bolota; Sid, a 15h, 17h20, 19h50, 22h15, 00h40 (V.Port.) Sábado Domingo 10h30, 12h40, 15h, 17h20, 19h50, 22h15, preguiça, e os dinossáurios; e a 00h40 (V.Port.); ZON Lusomundo Parque Nascente: missão de salvamento de Sid pelos 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 12h40, 14h50, 17h20, 19h40, outros todos) com uma harmonia 22h10, 00h30 (V.Port.) Domingo 10h30, 12h40, 14h50, 17h20, 19h40, 22h10, 00h30 (V.Port.); Castello inesperada, construindo Lopes - 8ª Avenida: Sala 1: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 15h30, efectivamente uma narrativa que lá 17h30, 19h30, 21h40, 23h50 (V.Port.) Sábado por ser consistente não abdica de Domingo 13h20, 15h30, 17h30, 19h30, 21h40, 23h50 (V.Port.); Cinema Paraíso - Dolce Vita Ovar: Sala 1: 5ª alinhar piadas de sitcom com graça. 2ª 3ª 4ª 14h20, 16h30, 18h30, 21h30 (V.Port.) 6ª Ou, trocando por miúdos: a Sábado 14h20, 16h30, 18h30, 21h30, 23h30 (V.Port.) animação é espantosa mas “Idade do Domingo 11h, 14h20, 16h30, 18h30, 21h30 (V. Port.); ZON Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª 6ª Gelo 3” tem mais história em dez Sábado 2ª 3ª 4ª 13h55, 16h30, 19h05, 21h40, 00h20 minutos que a maior parte dos (V.Port.) Domingo 10h50, 13h55, 16h30, 19h05, Dreamworks recentes na sua duração 21h40, 00h20 (V.Port.); ZON Lusomundo Glicínias: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h30, 17h, 19h30, 22h, inteira. A tristeza de “Monstros e 00h30 (V.Port.) Domingo 11h15, 14h30, 17h, 19h30, Aliens” e a preguiça de “Madagáscar 22h, 00h30 (V.Port.); 2”, ao pé disto, são esforços Resumamos: uma preguiça que amadores. Jorge Mourinha adopta três bebés dinossáurios esfomeados; uma mamã B$&+ dinossáuria que não acha   

%.#%.!a«/ )3!"%, -%$).! 42!$5a«/ */3b ,5É3 ,5.! &)'52)./3 $)./ !,6%3 \ .5./ "!,4!:!2 \ 34/294!),/23 -Ñ3)#! .5./ 2!&!%, $%3%.(/ $% ,5: 0!5,/ 3!")./ !33)34 %.#%.!a«/ -!24! ,!0! ! "  

!"""     “Idade do Gelo 3” tem mais história em dez minutos que a maior www.uau.pt parte dos Dreamworks recentes na sua duração inteira.

38 • Sexta-feira 10 Julho 2009 • Ípsilon aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

O Teatro Maria Matos estão a cumprir. “Sempre”, Thiare Maia e Alex Casal, deu-lhes um prazo - três que está desde ontem e até construída no âmbito semanas para fazerem amanhã na Sala Principal, do projecto Estúdios. Estreias três espectáculos - e eles é a primeira criação A seguir vêm “Pedro colectiva dos portugueses Procura Inês” (de 16 a 18) e Cláudia Gaiolas, Paula “Bobby Sands Vai Morrer Diogo e Tiago Rodrigues Thatcher Assassina” (de com os brasileiros Felipe 23 a 25). Rocha, Michel Blois,

E tudo isto é “incrivelmente “o vazio do teatro”, gesto radical de renúncia ao actor A Medeia contemporâneo”, dizem eles. Resumindo, “é aquilo a que se chama dor de corno”, graceja Nuno está na moda Cardoso, o encenador que é actor “de vez em quando” (mas já lá vamos). O encenador Nuno Cardoso O texto foi cortado cirurgicamente também é actor nesta “num trabalho conjunto entre todos os actores”. “Mantivemos os pontos recriação intimista do texto preponderantes do texto – a relação de Eurípides pelas Boas entre a Medeia e o Jasão, a expulsão Raparigas. Mariana Duarte dela da cidade pelo rei, Creonte, o relato do mensageiro, o coro e a ama” Medeia [protagonizados por Carla Miranda, De Eurípides. Pelas Boas Raparigas. num grito de defesa das mulheres] – Encenação de Luís Mestre. Com para conservar a “linearidade da Carla Miranda, Daniel Pinto, Maria narrativa” e “deixámos partes de do Céu Ribeiro e Nuno Cardoso. fora, como a intervenção das perceber porque é que os meus vê, aquele que se move entre dois crianças”, explica Carla Miranda. actores bloqueiam”. É uma questão abismos, à procura de um acontecer Porto. Estúdio Zero. R. do Heroísmo, nº 86. Tel.: 225373265. 3ª a Sáb. às 21h45; Dom. às 16h. De Nesta tragédia “sem ‘frou-frou’”, o de “pôr o corpo onde costumo pôr as sempre adiado. Uma espera diante de 10/07 a 26/07 e de 18/09 a 30/09. Bilhetes entre desafio mais complicado coube a minhas palavras”, afirma. E, afinal, o um entrançado de luz e de um 2,5€ e 8€. Daniel Pinto, o Jasão que enfrenta Estúdio Zero é um lugar especial para volume em terra. Não existem As Boas Raparigas gostam de ir uma Medeia (Maria do Céu) irascível. Nuno Cardoso. “Depois do TeCA (o palavras, porque os palcos estão Teatro buscar a actualidade à dramaturgia “Quando comecei senti alguma meu último e primeiro amor), gosto povoados de frases, tutelas, clássica. Desta vez, foram à procura dificuldade em defender o Jasão muito desta casa. Fiz aqui coisas de distracções. Aqui convida-se a um da mulher contemporânea que existe porque o acho estúpido”, atira. “A que me orgulho muito, como ‘Os recolhimento: em certos instantes, o em “Medeia”. Na recriação do texto Medeia sacrifica tudo por ele. Purificados’ e ‘Os Parasitas’”. Nesta calar é mesmo a melhor forma de se de Eurípides, a companhia formada Ajudou-o a conseguir o velo de ouro, “Medeia”, eles são todos produtos dizer. Nesse intervalo tudo é possível: por Carla Miranda e Maria do Céu fez-lhe a papinha toda para ele poder “de uma época feliz no Porto, os anos uma comunidade sem nome, um Ribeiro privilegia a dimensão privada ser considerado um herói. E ele não 90”. Por isso, estes encontros dão texto sem corpo, uma troca sem da estória, que se traduz, reconhece que a Medeia foi quem fez “um gozo” que, “com sorte, passará comércio. De um ao outro lado, em principalmente, na relação entre dele o homem que é. Depois fica também para o público”, remata. volta, imóvel: tantos gestos por Medeia e Jasão. embasbacado com uma jovem cumprir nesse percurso entre “Temos uma ligação muito forte rapariga com posses e abandona-a. vislumbres da morte – a que se aos textos fundadores, não só por Exactamente como se vê hoje em Acto sem prepara em vida, a que se anuncia funcionarem como arquétipo, mas dia”, lembra Daniel Pires. através de um silêncio vindo do também por se conseguir encontrar “A Medeia faz tudo por amor mas passado. sempre neles uma grande comete crimes [para além dos filhos, palavras Neste gesto radical de renúncia ao contemporaneidade”, diz Carla matou o irmão]. Não é propriamente actor, figura colocada em potência, Miranda ao Ípsilon. Afinal, Medeia simpática! E consegue sempre Um trabalho do Projecto numa espécie de bartlebiano matou por amor, foi traída por Jasão escapar”, contrapõe Carla Miranda. E “preferia não fazer”, coloca-se e assassinou os filhos como vingança. isto também está na moda. “A vida Teatral sobre uma figura sempre esta questão: de que falamos Daniel Pinto (Jasão) e Maria do Céu Ribeiro (Medeia) privada do Jasão está muito presente ausente: o actor. Óscar Faria quando falamos de teatro. É que, tal no nosso quotidiano”, considera como acontece hoje com tantas Nuno Cardoso. “Este sentimento de vazio do teatro palavras – arte, cultura, política, etc. – traição e o facto de o traidor achar Pelo Projecto Teatral. Com Gonçalo , há uma homonímia que afecta a que tem razão estão no cerne de Ferreira de Almeida, Helena distinção entre uma prática ancorada muitos divórcios”. Já Nuno Cardoso Tavares, João Rodrigues, Maria num diálogo com a tradição e uma simboliza a dimensão pública da Duarte, André Maranha. actividade absolutamente veiculada peça: o rei Creonte, pai da futura ao instante da sua realização, Lisboa. O Negócio. R. do O Século, 9 - Páteo de Santa mulher de Jasão, que entra pela casa Clara Ptª 5. Tel.: 213430205. De 10/7 a 11/07, das 22h dependente da economia e variantes de Medeia dizendo que a vai expulsar às 23h. Entrada livre. (publicidade, mercado). Distante da cidade. “O mais refrescante desta submissão, o Projecto Teatral quando se faz uma tragédia é que ela, mmmmm tem vindo a apontar para outras na sua simplicidade e acutilância, formas de activar o exercício de recorda-nos cenários sociais e Há uma figura ausente deste trabalho: representar: construindo-o em filme, políticos de agora”, diz. Mas não foi só o actor. Esse vazio, que é também o convocando-o através de uma por isso que Nuno Cardoso despiu o do teatro, sublinha essa falta, porque sucessão de momentos – o trabalho traje de encenador. Foi também para ninguém sabe quando será possível a “Estufa”, realizado entre 2005 e 2007 nos lembrar que nunca deixou de ser voz regressar à cena. Um lugar, –, manifestando-o em textos

NELSON GARRIDO actor. “Meia volta faço-o para contudo, está disponível para quem entretanto publicados.

Ípsilon • Sexta-feira 10 Julho 2009 • 39 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Orphée et Eurydice

Em 2001, o Projecto Teatral confundam com a aridez da terra e pensamento: uma forma de fazer anunciado em cada proposta do edita um pequeno livro de Samuel com o pano-cru que anuncia a morte. destinada não só aos presentes, mas Projecto Teatral. Em rigor, esta peça Agenda Beckett: “imaginação morta Tudo acontece nesse espaço entre também, e sobretudo, à memória dos é completada por cada espectador, imaginem”. “Em parte alguma traço duas vozes – elas estão lá, sem corpo, antepassados, de cada voz contida que se intromete entre as vozes, Estreiam de vida, dizem vocês, pah, grande sem som, apenas entrevistas numa nesse espaço que se abre no chão. deixadas na expectativa. Podemos coisa, imaginação não morta, sim, sequência de que emergem os Aqui não há disciplinas, há uma imaginar-nos cobertos por um Festival de Almada bom, imaginação morta imaginem”, retratos de Faium, o salto de Yves disciplina no dizer o silêncio: daí o entrançado ou debaixo da terra: a Ou/Não diz-nos o início do texto. É desse Klein e o nascimento da tragédia, rigor com que cada volume é posto nossa fragilidade é também a do De Alan Ayckbourn e Harold Pinter. lugar que nos fala este “vazio do esse instante em que o actor se quis no seu actual lugar, criando-se desse teatro, desse vazio dito por uma Pelos Tg Stan. Lisboa. Culturgest. R. Arco do Cego - Ed. da CGD. teatro”, um gesto entre dois destacar do comum, interpretando modo as condições para uma morte, uma ausência, um calar. O De 11/07 a 12/07. Sáb. às 21h30. Dom. às 17h. 5€ a momentos, duas translações, dois personagens. ausência – em tudo diferente de uma “sonho de uma sombra”, como nos 15€. volumes sublinhados por uma ténue “vazio do teatro” começa por nos retirada, pois há sempre a diz um verso no qual Píndaro Ver texto págs. 20 e segs. luz, de modo a que as sombras se dizer que cada acto pode ser apenas expectativa de um regresso, descreve aquilo que um homem é. Deus Como Paciente - Assim Falava Isidore Ducasse De Isidore Ducasse. Encenação de      Matthias Langhoff. Almada. Teatro Municipal. Av. Professor Egas Moniz. De 12/07 a 13/07. 2ª e 3ª às 21h30. Tel.: 212739360. 12€ a 20€. Ver texto págs. 20 e segs.  A Criada Zerlina De Hermann Broch. Encenação de Robert Cantarella. Almada. Teatro Municipal. Av. Professor Egas Moniz. De 10/07 a 11/07. 6ª às 19h. Sáb. às 11h. Tel.: 212739360. 7€ a 13€. Compota Russa De Liudmila Ulítskaia. Encenação de Andrzej Bubien. Almada. Palco Grande - Escola D. António da Costa. Av. Professor Egas Moniz. Dia 10/07. 6ª às +#66#.4# 22h. Tel.: 212745294. 7€ a 13€. -*4'$#.&('#2 Uivos #3-0#.&- De Jesús Peña. Encenação de Jesús '-*#.' #.2B.* Peña. +3- Almada. Palco Grande - Escola D. António da Costa. Av. Professor Egas Moniz. Dia 11/07. Sáb. às %#1%#*1 '-*#1 6#$3+ 22h. Tel.: 212745294. 7€ a 13€. ?#02'$11#.11# %= *4#.-*.1 Para Louis de Funès %*&#&'-# De Valère Novarina. Com Jorge  +3-  +3- Silva Melo. Lisboa. Instituto Franco-Português. Av. Luís Bívar, %#1%#*1#0/3' %#1%#*1#0/3' 91. De 12/07 a 13/07. 2ª às 19h. Dom. às 17h. Tel.: #0'%#-%#0.# #0'%#-%#0.# 213111400. 5€ a 10€. Dezembro 4#5#  De Guillermo Calderón. Encenação de Guillermo Calderón. %##.A@0*-#)*.#$'0.#0& Almada. Fórum Municipal Romeu Correia. 4#&*1 1#11'22*'%.4*&#&%#0-1$*%# Pç. Liberdade. Dia 12/07. Dom. às 20h30. Tel.: %. #(0#+#0&*&%'0% 212724928. 5€ a 10€. "+3- Flores Arrancadas à Névoa &*1 De Arístides Vargas. Encenação de Pepe Bablé. #%312*% Almada. Palco Grande - Escola D. António da Costa. Av. Professor Egas Moniz. Dia 12/07. Dom. ('#230*.) às 22h15. Tel.: 212745294. 7€ a 13€. &#.*,-'*. Contracções De Mike Bartlett. Encenação de !+3- Solveig Nordlund. Lisboa. Culturgest. R. Arco do Cego - Ed. da CGD. #(0# De 13/07 a 18/07. 2ª a Sáb. às 21h30. Tel.: +#0&*&%'0% 217905155. 5€ a 12€. Dança Estreiam Orphée et Eurydice de Marie Chouinard. Porto. Teatro Carlos Alberto. R. Oliveiras, 43. De 10/07 a 12/07. 6ª, Sáb. e Dom. às 21h30. Tel.: 223401905. 5€ a 15€. Viseu. Teatro Viriato. Lg. Mouzinho Albuquerque. De 15/07 a 16/07. 4ª e 5ª às 21h30. Tel.: 232480110. $ 8  C=  2 :   >>> :   -9( 2< ;    87 <  10€ a 20€. Ver texto págs. 24 e segs.                         Continuam Solo De Philippe Decouflé. Viseu. Teatro Viriato. Lg. Mouzinho Albuquerque. De 10/07 a 11/07. 6ª e Sáb. às 21h30. Tel.: 232480110. 10€ a 20€.

40 • Sexta-feira 10 Julho 2009 • Ípsilon No ano de 2009, The Heart fico com a sensação planetas que encontrar Smiths, The Cure e Echo de já ter escutado aquele pela frente na sua Espaço and the Bunnymen riff, aquela rima ou aquele travessia. Por aqui, o decidiram juntar-se tom de voz num dos disco passou claramente Público para gravar um dico vinis que se encontram ao lado, sobretudo por de beneficiência. religiosamente arrumados nele sentir uma falta de Claro que se trata na prateleira da sala. É originalidade não muito de um boato para mim estranho que o recomendável. Um longa- gigantesco, disco tenha sido levado duração a que aconselho mas ao ao colo por grande parte vivamente a realização de escutar da imprensa musical, 5.5 TAC`s (em 10). o disco convencida de que Pedro Miguel Silva, técnico homónimo dos estaremos perante um de comunicação, 35 anos The Pains of meteorito musical capaz Being Pure at de destruir todos os

Pop O mérito foi o de ser credível a tema de Callahan. Essa reflexão paralelo entre a sua vida e a do enfiar-se na cabeça de gente sobre a consciência teve o seu escritor, cantando “I started out in colocada em fronteiras emocionais. epítome em “Rain On Lens”, disco search of ordinary things/ how much A salvação de A infância, por exemplo, era terrível: sufocante, de guitarras ásperas e voz of a tree bends in the wind”, para em “Battysphere” (“Wild Love”, cada vez mais seca, em que canta chegar aqui: “I used to be darker/ 1995) um miúdo quer ir para o fundo “The mind is always working out/ then I got lighter/ then I got dark Bill Callahan do mar e não se importa de ficar por ways to see/ the things I shouldn’t again”. lá; em “Cold Blooded Old Times” see” (em “Natural decline”). Em “Jim Cain” serve de programa ao Não há muitos discos por aí (“Knock Knock”, 1999), um adulto Callahan a consciência é castradora disco, um conjunto de canções recorda a infância e só encontra a e o inconsciente é sabotador – vença meticulosamente desenhadas, em que entremos de gatas separação dos pais quando era quem vencer é a alegria que perde. assentes nos jogos harmónicos entre e saiamos apoiados apenas criança. A partir de “Supper” (2003) as as guitarras, com as melodias de voz nas patas traseiras. As mulheres também não foram canções procuram a beleza, a (sempre seca, sempre controlada) à João Bonifácio fonte de alegria. Em “Be Hit” (“Wild calmaria domina e aqui e ali nota-se frente, enquanto em fundo cortinas Love”) Callahan advogava a violência uma procura de humanidade, que de cordas e sopros acentuam e Bill Callahan doméstica como método para evitar domina o tremendo “A River Ain’t pontuam o que se canta. Todo o separações. Em “All your women Too Much To Love” (2005). Se antes disco assenta numa premissa: a Sometimes I Wish We Were an Eagle Domino; distri. Flur things” (“Doctor Came At Dawn”, tínhamos a impressão de estar a aceitação dos erros passados, a 1996) um homem recorda uma assistir a uma inevitável tragédia pelo dissolução do ego num bem maior. mmmmm mulher perdida e pergunta porque é buraco da fechadura, agora Callahan Isto poderia corresponder a filosofia só a conseguiu amar quando ela o abria-se para o exterior. new-age, mas Callahan tem O movimento deixou. “Sometimes I Wish I Was an demasiados filtros para ser auto- Discos traçado pela música Essa distância face às emoções é Eagle” é o primeiro grande disco em complacente. de Bill Callahan ao abordada em “River Guard”, nome próprio. Abre com “Jim Cain”, Em “Eid Ma Clack Shaw” uma brisa longo de 17 anos é extraordinária canção de “Knock canção dedicada ao escritor “noir” de cordas varre o minimalismo do uma lenta elipse em Knock”. Canta-se: “We are James M Cain. Há um simples piano enquanto nos bastidores direcção à constantly on trial/ it’s a way to be entrançado de guitarras enquanto sopros trabalham na beleza. Em “The normalidade possível, cujo ponto free”. Aqui a consciência serve como cordas idílicas sobrevoam a voz wind and the dove” estamos de volta culminar é “Sometimes I Wish We forma de prisão e é esse o grande quente de Callahan, que traça um aos entraçados de guitarra com Were an Eagle”. O disco assinala o fim de uma recente e progressiva decantação de toda a provocação e www.obidos.pt violência que marcavam os primeiros discos de Callahan. O milagre de “Sometimes I Wish We Were an Eagle” consiste em usar a favor de uma beleza simples mas exacta os elementos fundamentais “Sometimes I Wish We Were que marcam a escrita de Callahan: an Eagle” assinala o usar um mínimo de recursos, fim da decantação de toda a assentes numa estrutura repetitiva à violência que marcava guitarra, com enorme economia os primeiros disco de Callahan vocal e palavras lapidares. Esta estrutura mantém-se desde o início, mas nessa altura Callahan procurava resultados diferentes. Vejamos o que ele caminhou. A sua primeira canção- bandeira, “Your Wedding”, está em “Julius Caeser” (1993) e foi editada sob o nome Smog, denominação que só abandonou há dois anos com “Woke on a Waleheart”. Sob um manto de violoncelos lúgubres, o que parece ser um oboé a desenhar uma harmonia desagradável e uma guitarra desafinada, Callahan canta, com voz ébria, enquanto o ruído se acumula à sua volta: “I’m gonna be drunk, so drunk, at your wedding”. Os riffs bluesy disfuncionais, as guitarras desafinadas e repetitivas tornaram-se a marca de água de Callahan, que nessa altura usava o ruído com abundância.

Ípsilon • Sexta-feira 10 Julho 2009 • 41 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Ao quarto álbum, Stephen Wilkinson, ou melhor Bibio, encontrou a verdadeira inspiração, aquela que lhe permite descortinar uma linguagem sua

debruado de cordas e sopros com tempo todos os contornos, a Madness: aqui se mostra como agora, poderosamente, para o novo evocativos. Numa pequena ponte em finura das texturas, a abstracção das envelhecer graciosamente século. Com este novo disco e uma ascensão, prenuncia-se uma epifania cores, e traduzi-la numa música extensa digressão norte-americana, que se concretiza no refrão. As aberta. Hassell revela uma vitalidade qualidades evocativas das cordas A maior parte dos temas aproxima- surpreendente para um músico de 72 atingem o zénite em “Rococo se da estrutura da canção pop, mas anos que redefiniu parâmetros, nos Zephiyr”. Callahan canta: “I used to nem todos o são exactamente. anos 80 e 90, nos mais variados be sort of blind/ Now I can sort of “Lovers carvings” ou “Jealous of géneros músicais, do “ambient” ao see” e o génio está naquele “sort of”. roses” partem de variações simples e jazz, electrónica, pop, ou à chamada “Too many birds” é canção de repetitivas para guitarra, “música do mundo”. Regressado à fogueira, inapelavelmente imediata, desembocando num clima de pop ECM, 23 anos depois de “Power com órgão a saltitar no refrão. “My primaveril, com a voz em falsete de Spot”, Hassell encontra nos valores friend” talvez seja a grande canção Wilkinson em acção. “Fire ant” ou de produção da editora o contexto do disco: “We share a common “Sugarette” são construídos segundo ideal para uma re-actualização dos dream/ To destroy what will harm as premissas de corte-e-costura do seus princípios sonoros, que aqui other men/ My friend” e Callahan hip-hop, libertando uma energia em surgem mágicos, mais brilhantes do canta aquele “my friend” como se forma de arco-íris. “Abrasion” respira que nunca, evocando diversos fosse um anti-herói de série B a fazer naturalmente o ar da Inglaterra rural, pontos chave da sua discografia, uma ameaça, dando uma intensidade num registo folk psicadélico. nomeadamente a série “Fourth teatral inusitada à canção. Até ao fim É uma avenida cheia de árvores, World”, o já referido “Power Spot”, ainda há um disparate ambiental aquela que ilustra a capa de um “City: Works of Fiction”, “Dressing (“Invocation of Ratiotination”) e duas álbum de canções diversas, unidas for Pleasure” ou “Fascinoma”. tremendas canções, “All thoughts are pela mesma atmosfera vagamente cartografia precisa da geografia e da Uma e outra, terra de emigrantes. A Simultâneamente acessível e prey to some beats” e “Faith/Void”, nostálgica. Não faltará quem as personalidade londrinas. Estão canção, eloquente, celebratória, experimental, a música de Hassell com Callahan a cantar “It’s time to contemple e as encare como mera iguais a si próprios, entenda-se, junta tudo: orquestrações Bollywood desafia categorizações e é baseada put God away”. revisitação ao passado. Mas é uma como banda formada por distintos e ritmo ska, valsas psicadélicas e em estímulos sensoriais não A salvação costuma ser visão redutora. Em “Ambivalence quarentões que, agora, já não se piano de pub, chineses a vender tangíveis. Para isso, o trompetista esteticamente repreensível, mas Avenue” fundem-se múltiplas atiram ao humor tão DVDs na rua e irlandeses a acostar no realiza inúmeras sessões de estúdio, Callahan consegue torná-la temporalidades. E mesmo que isso despudoradamente como antes, que porto. Não poderia haver melhor pesquisando sons, explorando ritmos comovente. Não há muitos discos por não acontecesse, haveria sempre passaram longo tempo a aperfeiçoar forma de encerrar o álbum. Mário e arranjos, num ritual que tem tanto aí em que entremos de gatas e uma mão cheia de canções cada orquestração, que olham para Lopes de racional como de instintivo. Em saiamos apoiados apenas nas patas inspiradas, daquelas que não estão o mundo à volta com sensibilidade “Last Night the Moon...”, a música traseiras. Extraordinário, senhor presas a nenhuma época, capazes de de adulto. desenvolve-se lentamente, numa Callahan, extraoridnário. contaminar, com frescura, o Verão na Álbum conceptual, vagueia por Jazz polirritmia subtil que é acentuada cidade. Vítor Belanciano Londres, acompanhando Norton pelas linhas profundas do baixo e Folgate da euforia à depressão, da pelas melodias intemporais do Divagações pop adolescência em que tudo é belo e Um trompete de Hassell - metamorfose numa avenida da O inspirado regresso possível à inevitável queda que se constante de formas e sons que dos Madness segue. Álbum de sabor clássico, admirável fazem do álbum uma peça única. cidade parte do padrão obrigatório (os Com sucessivas audições, o admirável Madness Kinks de “Village Green Preservation mundo mundo de Hassell é-nos Society”) e junta-se a uma genealogia progressivamente revelado numa Bibio The Liberty Of Norton Folgate que teve continuidade nos Blur de imensidão de detalhes sónicos. Um Ambivalence Avenue Naïve; distri. Andante Warp, distri. Symbiose “Parklife” e, mais recentemente, nos O trompetista Jon Hassel mundo que, apesar de já não ser mmmnn Streets de Mike Skinner. reafirma-se como um dos novo (os alquimistas fizeram mmmmn “Sugar and spice” tem a leveza escola e estão Aqui se mostra encantatória e os coros de um single mais importantes músicos por todo o Na música, como como envelhecer dos Hollies. “Forever Young” é um do séc XX. Rodrigo Amado lado), noutros campos graciosamente. Os pedaço de melancolia embrulhada raramente artísticos, há a ideia Madness, eles de em congas e linha de baixo resgatada Jon Hassell nos é feita que é nas “One step beyond”, ao dub. “Idiot child”, “always revelado Last Night the Moon Came estreias que existe eles, a par dos destined to fail / always ending in com Dropping its Clothes in the Street” dose maior de Specials, representantes do jail”, dá ares de single clássico dos ECM, dist. Dargil tamanho espontaneidade. Os anos vindouros revivalismo ska na Inglaterra dos Madness, com o piano a comandar a brilho. serão de superação ou consolidação anos 1970 e 1980, editam o seu acção e virtudes trauteáveis mmmmm e, supostamente, o gesto instintivo primeiro álbum numa década e impossíveis de negligenciar. será mais difícil de se manifestar. conseguem a proeza de não repetir “Clerkenwell polka”, por sua vez, Apesar de não ser Não digam isso a Stephen nenhum dos dois erros habituais começa com tuba a marcar o ritmo a tão conhecido Wilkinson, ou melhor Bibio, britânico nestas circunstâncias. A ver: tentar há-de acabar em festa rija: metais ao como outros que já lançou três álbuns e que, ao uma modernização que, neste caso, alto e um pouco de fanfarra cigana no músicos quarto, parece ter encontrado a incluiria colaborações com alguma centro de Londres. verdadeira inspiração, aquela que lhe luminária actual do ragga, Mark É certo que algumas canções permite, com gesto desprendido, Ronson a dar um toque “vintage menos inspiradas – como essa que exploraram descortinar uma linguagem sua, digital” ao single de apresentação e “Africa” atormentada por perigoso a fundo a onde se sente confortável, uma participação especial de Pete solo de saxofone – parecem servir alquimia dos conseguindo transmitir o prazer, que Doherty; ou, pelo contrário, ir lá apenas para dar maior dimensão ao sons, como é também leveza, de ter chegado a atrás e regurgitar o passado como se álbum – afinal, demorou três anos a Miles Davis ou um lugar seu. Coisas que levam o presente não existisse, tornando a gravar, tempo para compor cerca de Brian Eno, o tempo. banda um artefacto, certamente vivo, cinco dezenas de músicas. Isso, trompetista Jon Não que o novo álbum seja mas capaz de suscitar vergonha porém, está longe de diminuir “The Hassell radicalmente diferente dos anteriores alheia ao mais generoso dos corações Liberty Of Norton Folgate” como construiu uma registos, combinação de planície e (é ver o que andam a fazer os New álbum que recoloca os Madness, com carreira que cidade, repetição electrónica urbana York Dolls). dignidade assinalável, no presente atravessa de e elegância acústica, folk bucólica e Não, neste “The Liberty Of Norton pop. Para tal, de resto, bastaria o forma oblíqua ambientalismo caleidoscópico. Não Folgate” os Madness estão iguais a si tema título, o último do álbum. Suite toda a música é. Mas possui um travo diferente: o próprios no sotaque “cockney”, na de dez minutos, estabelece uma do final do travo de quem é capaz de olhar a “britishness” impoluta, na forma ponte imaginária entre a Londres de século XX, Um trompetista cuja carreira atravessa toda paisagem por inteiro, saboreando como cada canção apresenta uma outros tempos e a Londres de hoje. projectando-a a música do final do século XX

42 • Sexta-feira 10 Julho 2009 • Ípsilon

Depeche Mode, um dos últimos grupos de estádio da década de 80 a manter uma base de apoio fiel

Pop cuidadosamente despenteado. Hoje, no Optimus Alive, a história é outra. Depeche “Tudo ao molho” e vamos em frente. Os No palco Optimus, o principal, há Mode Placebo com álbum novo (“Battles For The Sun”), Brian Molko com regenerados cabelo também novo e, logo a seguir, versão os cabeças de cartaz Prodigy, Prodigy... regenerados por um álbum bem Super comerciantes investir no vinho do recebido, “Invaders Must Die”, e pela Porto, agora, no Festival Marés sensação de que o terrorismo rave Rock Vivas, é a cultura musical britânica Depois dos encontros que os tornou uma das bandas mais que se anuncia. Investida imediatos de terceiro graus célebres dos anos 90 faz todo o multifacetada. de ontem, o Optimus Alive sentido no século XXI. Aqui vamos nós outra vez Os Kaiser Chiefs, dignos entra em velocidade de No mesmo palco, veremos ainda o em direcção aos anos 80. representantes da pop da Velha festim tribal-cósmico dos Blasted Vítor Belanciano Albion, regressam com “Off With cruzeiro. Mário Lopes Mechanism, a pop britânica dos Their Heads” e uma história inglesa, Kooks, os excessos roqueiros e o Festival Super Bock Super Rock com início nos Beatles e nos Kinks e bigode “à maneira” dos Eagles Of The 2009 passagem por The Jam e Blur, Optimus Alive! 09 Death Metal e, para início de festa, as transformada em canções de canções perfeitas para cantarolar e Porto. Estádio do Bessa Séc. XXI. R. 1º Janeiro. 6ª e digestão imediata. Algés. Passeio Marítimo de Algés. Passeio Marítimo Sáb. às 20h00. Tel.: 226071004. 40€ (dia) a 70€ de Algés. 6ª e sáb. às 17h00. 50€ (dia) a 90€ (passe). ideais para dançar dos Pontos Negros (passe). Antes deles, os veteranos Primal e seu pope-roque. Palco Principal: Depeche Mode, Nouvelle Vague, Scream, grupo histórico (bastaria Dia 10 O dia, naturalmente, não se esgota Peter, Bjorn & John, Motor e Soapbox. “Screamadelica” para o ser) que, nos ali – a distracção chama-nos de todo o últimos tempos, os de “Riot City Palco Optimus: Os Pontos Negros (17h30), Eagles of Death Metal (18h30), The Kooks (19h50), Blasted lado e isso, como sabemos, é uma das Trinta anos e muitas crises depois, os Blues” (2006) e “Beautiful Future” Mechanism (21h15), Placebo (22h45), The Prodigy “maravilhas” dos festivais de Verão. Depeche Mode continuam activos, (2008), se reconverteu em banda de (00h30). No palco secundário, os Ting Tings, à sobreviventes num universo, o do putos a tocar rock’n’roll, muito Palco Super Bock: The Gaslight Anthem (17h00), uma da manhã, concentrarão entretenimento, onde a voragem do glam, muito pecaminoso, como se os John Is Gone (18h10), Late Of The Pier (19h15), atenções. “We Started Nothing” foi tempo faz vítimas todos os dias. A anos 1970 nunca tivessem Hadouken! (20h25), Does It Offend You, Yeah? (21h45), Fischerspooner! (23h15), um dos bons álbuns de 2008 e as digressão que agora passa por desaparecido. Quinta-feira é (01h00), Zombie Nation (02h15). canções do duo britânico têm a Portugal tem como pretexto “Sounds também dia de regresso dos Lamb, Palco Optimus Discos: Youthless (18h30), Bezegol qualidade trauteável e a sofisticação Of The Universe”, o 12ª álbum da banda fetiche do público português. (19h30), DJ Ride (20h30), Coldfinger (21h30), Zig pop para pôr o pessoal a saltar da carreira, disco que se divide entre No palco Novos Portugueses onde Zag Warriors (22h40). forma correcta. Antes dos Ting Tings, canções dinâmicas e contemplativas, actuam os John Is Gone, recomenda- Dia 11 os Fischerspooner vêm mostrar, com em contexto pop electrónico. se uma olhadela atenta ao concerto as canções do novo “Entertainment”, Dave Gahan, voz, Martin Gore, dos Sizo, banda portuense que se Palco Optimus: Boss AC (17h30), Ayo (19h00), Chris Cornell (20h30), The Black Eyed Peas (22h15), Dave se sobreviveram à queda do multi-instrumentista e voz, e Andrew prepara para editar um segundo Matthews Band (00h00). electroclash, primeiro, e, depois, à Fletcher, teclas, voltaram a reunir-se álbum, “Got To Love People Who Set Palco Super Bock: X-Wife (17h00), A Silent Film megalomania floydiana de com o produtor Ben Hillier, como já Themselves Up For Disaster”, todo (18h15), Los Campesinos! (19h40), Trouble Andrew “Odyssey”, o seu segundo álbum. Ali havia sucedido no anterior álbum. ele urgência rock’n’roll correndo (21h10), Autokratz (22h30), Lykke Li (23h40), ao lado, no palco Optimus Discos, Talvez por isso, os elementos desgovernada (elogio). Ghostland Observatory (01h00), Deadmau5 (02h30). apresenta-se o funk acetinado dos contidos no novo registo não sejam O Marés Vivas prossegue sexta, Coldfinger e o terramoto rítmico de muito diferentes daquilo que já se com concertos dos eternos Palco Optimus Discos: Olive Tree Dance (18h30), The

Concertos Pragmatic (19h30), Madame Godard (20h30), Linda DJ Ride (do hip hop para o mundo). conhecia, com guitarras dissonantes, baladeiros do rock, os Scorpions, e o Martini(21h30), Sofia M (22h40), DJ Kitten (00h20). Amanhã, no encerramento do sintetizadores borbulhantes e ruídos regresso inesperado dos Guano Optimus Alive, dia de virtuosismo percussivos, embora o resultado final Apes, a banda germânica que o Ontem houve metal de um para as massas. O virtuosismo da exponha uma paleta sonora um público português adoptou ali na lado, comunidade indie Dave Matthews Band, que é pouco diferente. passagem dos anos 1990 para o do outro ou tudo junto idolatrada por milhões, entre os Mas naturalmente ninguém vai a século XXI e que, depois da em alegre convívio - as quais todos os membros de todas as um concerto dos Depeche Mode separação em 2005, regressa para “leggings” e o cabedal, bandas de bar de todo o mundo, e apenas para ouvir as últimas averiguar se ainda estamos o cabelo escorrido e o que apresentará “Big Whiskey and novidades do trio, sendo por isso de interessados em riffs metaleiros penteado the GrooGrux King”, o primeiro esperar que se oiçam os inúmeros abrindo caminho para a voz gutural álbum desde 2005. O virtuosismo do êxitos que a banda, um dos últimos de Sandra Nasic. Seconhand vocalista Chris Cornell, ex- grupos de estádio da década de 80 a Serenade, os portugueses Fonzie e Soundgarden e ex-Audioslave, que manter uma base de apoio fiel, foi Cazino completam o cartaz de dia 17. vem apresentar “Scream”, o álbum acumulando ao longo dos anos. Para que a despedida seja suave, o em que a postura rock surge Depois de o vocalista ter sido vítima último dia do Marés Vivas será embrulhada em produções de de uma gastroentrite, chegou a delico-doce. Os Keane trazem Timbaland. E, por fim, o virtuosismo temer-se pela realização do concerto teclados e pop de refrão orelhudo, dos Black Eyed Peas, menos óbvio, em Portugal, mas os Depeche Mode Jason Mraz e Colbie Caillat serão os mas que de alguma forma se retomariam a digressão em 8 de mui veraneantes baladeiros de manifestará – é o que dizem os Junho, a tempo da presença, serviço (entre a calma da esplanada milhões vendidos mundo fora, é o amanhã, no Estádio do Bessa. e uma fogueira na praia) e Gabriella diz o toque de Midas do produtor Cilmi vem mostrar o que é isso de will.i.am, que ultrapassou o contexto ser a resposta australiana a da sua própria banda. O palco Dos Primal Scream Amy Whinehouse. No palco principal abre com Boss AC e, nos aos Scorpions Novos Portugueses estarão restantes, destaque para a pop os Sinal e a elegância disco- electrónica da sueca Lykke Li, Festival Marés Vivas 2009 - sound dos revelação de 2008 com o álbum Dia 16 Soulbizness. “Youth Novels”, para a adolescência M.L. Vila Nova de Gaia. Afurada (Foz do Douro). 5ª, às feita canção indie dos Los 19h00. Tel.: 229389978. 25€ (dia) a 38€ (passe). Campesinos! e para os X-Wife, Um grupo histórico convertido autores de “Are You Ready For The Na quinta, Gaia estreitará a sua em banda de putos a tocar Blackout?”, um dos melhores discos centenária ligação a Inglaterra. rock’n’roll, muito glam, muito Prodigy, cabeças de cartaz nacionais de 2008. M.L. Antes, vinham industriais e pecaminoso: Primal Scream

44 • Sexta-feira 10 Julho 2009 • Ípsilon Real Combo Lisbonense

Clássica Agenda Chico César em Vila Real Cantores sem sexta 10 Renata Rosa e Galandum Galundaina Jazzanova + Paul Randolph Porto. Casa da Música. Pç. Mouzinho de fronteiras Cascais. Cidadela. Av. D. Carlos I, às 22h00. Tel.: Albuquerque, às 22h00. Tel.: 220120220. 10€. 214826730. 30€. Festival Uma Casa Portuguesa. Cool Jazz Fest 2009 The King’s Singers Real Combo Lisbonense + Roda Suzanne Vega de Choro de Lisboa apresentam em Espinho um Sintra. CC Olga Cadaval. Pç. Dr. Francisco Sá Lisboa. Jardim da Estrela. Pç. Estrela, às 18h00. programa que testemunha Carneiro, às 22h00. Tel.: 219107110. 15€ a 25€. Entrada livre. a enorme versatilidade do Vinícius Cantuária + Takuya segunda 13 Nakamura grupo. Cristina Fernandes Vila do Conde. Teatro Municipal - Sala 1. Av. Dr. Vana Gierig e Paquito D’Rivera João Canavarro, às 00h30. Tel.: 252646516. 7,5€. Com Vana Gierig (piano), Paquito The King’s Singers Esperanza Spalding D’Rivera (clarinete e saxofone alto), Espinho. Auditório de Espinho. Rua 34, 884. Dom. Estombar. Sítio das Fontes, às 22h00. Tel.: Sean Conly (contrabaixo), Marcello às 22h00. Tel.: 227340469. 7€. 211205050. 20€. Pellitteri (bateria), Vinícius Barros FIME 2009 - 35.º Festival Internacional de Música Deolinda (percussão). Espinho. Auditório. R. 34, 884, às 22h00. Tel.: de Espinho. Freamunde. Lg. 1º de Maio, às 21h00. Tel.: 227340469. 7€. 919412056. Entrada livre. A actividade do agrupamento FIME 2009 - 35.º Festival vocal britânico The King’s Singers é Cesária Évora Internacional de Música de Espinho. Viana do Castelo. Forte de Santiago da Barra. um dos mais notáveis exemplos de Campo do Castelo, às 22h00. Entrada livre. versatilidade dentro do actual terça 14 panorama musical. Para este Mundo Cão São João da Madeira. Paços da Cultura. R. 11 de Mariza conjunto de seis vozes Outubro, 89, às 21h45. Tel.: 256827783. 6€. Oeiras. Jardim do Palácio Marquês de Pombal. Lg. masculinas, fundado em 1968 no do Marquês de Pombal - Palácio, às 22h00. Tel.: Joana Amendoeira e Orquestra 214465300. 20€ a 30€. King’s College de Cambridge e Nacional do Porto especializado no repertório “a Porto. Casa da Música. Pç. Mouzinho de quarta 15 cappella”, géneros tão diversos Albuquerque, às 22h00. Tel.: 220120220. 7,5€. como a polifonia renascentista, a Direcção Musical: Osvaldo Ferreira. António Zambujo & Ivan Lins música contemporânea ou as Cascais. Parque Marechal Carmona às 22h00. 20€ Grândolas: Bernardo Sassetti + a 35€. canções dos Beatles não têm Mário Laginha Cool Jazz Fest 2009. segredos. Igualmente bem sucedido Lisboa. Castelo de São Jorge às 22h00. Tel.: nos universos erudito e popular, o 218800620. Entrada livre. Maria João e Mário Laginha grupo já recebeu numerosos Com Maria João (voz), Mário Laginha sábado 11 (piano). prémios, entre os quais um dos Caldas da Rainha. CC e Congressos - Grande Grammys de 2009 pelo álbum Dean & Britta Auditório. R. Doutor Leonel Sotto Mayor, às 21h30. “Simple Gifts”. O seu percurso tem Vila do Conde. Teatro Municipal - Sala 1. Av. Dr. João Tel.: 262889650. 12,5€ a 20€. sido marcado por colaborações com Canavarro, às 00h00. Tel.: 252646516. 10€ a 12,5€. artistas de vários quadrantes como Ver texto pág. 9 quinta 16 é o caso dos agrupamentos de Gala Drop Andreas Staier música antiga Saraband, Concordia Rates. Igreja de São Pedro de Rates. Lugar do Lisboa. Fundação e Museu Calouste Gulbenkian. Mosteiro - Estrada Municipal 504, às 21h45. Tel.: e L’Arpeggiata, da WDR Big Band, Av. de Berna, 45A, às 21h30. Tel.: 217823700. 10€. do Mormon Tabernacle Choir, da 252298120. 3€ a 5€. Passe Festival: 25€. Madeleine Peyroux XXXI Festival Internacional de Música Cincinnati Pops Orchestra, de Portimão. Teatro Municipal. Lg. 1.º de Dezembro, da Póvoa de Varzim. Obras de Bach e pianistas da área do jazz (George às 22h00. Tel.: 282402475. 20€. Scarlatti. Shearing) e da clássica (Emanuel Amélia Muge + Siba e a Fuloresta Ax, Roger Vignoles), de cantoras Branford Marsalis + Orquestra Porto. Casa da Música - Sala Suggia. Pç. Mouzinho Metropolitana de Lisboa líricas como Kiri te Kanawa e de Albuquerque, às 22h00. Tel.: 220120220. 10€. Lisboa. CCB - Grande Auditório. Pç. do Império, às Marilyn Horne ou ainda da Festival Uma Casa Portuguesa. 21h00. Tel.: 213612400. 10€ a 35€. No Grande percussionista Evelyn Glennie. Têm Auditório. Fazil Say Marsalis Brasilianos - Heitor procurado ampliar o repertório Espinho. Auditório de Espinho. R. 34, 884, às através de encomendas, contando já 22h00. Tel.: 227340469. 7€. Villa-Lobos. Direcção Musical: Cesário Costa. com 200 obras dedicadas ao grupo. FIME 2009 - 35.º Festival Algums delas foram escritas por Internacional de Música de Ver texto pág. 17 e segs. Ligeti, Berio, Menotti, Penderecki, Espinho. Obras de Mussorgsky, Janacek e Prokofiev. Vaya Con Dios Ned Rorem, Takemitsu e John Mafra. Jardim do Cerco, às 22h00. 20€ Tavener. Cristina Branco a 35€. No domingo, apresentam-se no Arcos de Valdevez. Casa das Artes. Cool Jazz Fest 2009. Jardim dos Centenários, às 22h00. Festival de Espinho com um Tel.: 258520520. Entrada livre. Stewart Sukuma + programa que retoma um dos seus Chico César + últimos trabalhos discográficos Chico César Lamatumbá Vila Real. Teatro - Auditório Tondela. Cine Tejá - Novo (“Romance du Soir”) em Exterior. Al. de Grasse, às 22h30. Ciclo ACERT. R. Dr. Ricardo Tel.: 259320000. Entrada livre. combinação com peças ibéricas dos Mota, a partir das 22h. Tel.: séculos XV e XVI, das quais se Real Combo 232814400. 10€ (dia) a 30€ (passe). destaca a exuberante “ensalada” “La Lisbonense + Roda Tom de Festa - 19.º Bomba”, de Mateo Flecha. A de Choro de Lisboa Festival de Músicas expressão “Romance du Soir”, Lisboa. Castelo de São Jorge, às do Mundo 2009. extraída da peça homónica de Saint- 21h30. Tel.: 218800620. 5€. Säens, serve de fio condutor a um Alan Braxe + conjunto de canções de amor de domingo 12 D.I.S.C.O. Texas + várias épocas — dos madrigalistas Rocket + Xinobi Buraka Som Sistema Lisboa. Lux Frágil. Av. Freamunde. Lg. 1º de Maio, às ingleses (Thomas Welkees e John Infante D. Henrique, 23h59. Tel.: 919412056. Entrada Wilbye) a compositores dos séculos Armazém A, às 23h00. livre. XIX e XX como Schubert, Elgar ou Tel.: 218820890. Libby Larsen. Suzanne Vega

Ípsilon • Sexta-feira 10 Julho 2009 • 45 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Este espaço vai ser sobre ele, concordando seu. Que filme, peça de ou não concordando Espaço teatro, livro, exposição, com o que escrevemos? Público disco, álbum, canção, Envie-nos uma nota até concerto, DVD viu e 500 caracteres para gostou tanto que lhe [email protected]. E apeteceu escrever nós depois publicamos.

A jangada parece assumir não só uma função de desempenhar a função de uma Uma espaço de resistência, mas também de comentário bandeira, etc.), de modo a sugerir ao actual momento da arte uma jangada. incessante Segundo Michel Foucault, o barco, pedaço flutuante de espaço, é a heterotopia por excelência; é aí, deriva nesse lugar de contestação não só mítica, mas também real dos A galeria enquanto jangada: territórios em que vivemos, que se situa, desde o século XVI, a “maior um projecto de António de reserva de imaginação.” Através da Sousa. ” Óscar Faria transformação da galeria em jangada somos convidados a ocupar um lugar Acerca da sobrevivência vazio, o do náufrago. Pensar a partir De António de Sousa. dessa condição extrema e tantas vezes solitária – o filósofo alemão Porto. Galeria Extéril. R. do Bonjardim, 1176. T. Até Hans Blumenberg define a 18/7. Só por marcação via [email protected]. Outros. modernidade como “naufrágio com espectador” – potencia o mmmmn aparecimento de imagens provenientes de acontecimentos que Aos 27 anos, Henry David Thoreau vão do desaparecimento no mar da decidiu construir uma cabana nas fragata Medusa, assunto pintado por margens do lago glaciar Walden, Géricault entre 1817 e 1818 aos onde viveu isoladamente durante balseros cubanos, passando pelas dois anos, entre 1845 e 1847. Dessa tentativas de travessia do estreito de experiência resultou aquele que é o Gibraltar por cidadãos africanos que seu livro mais conhecido: “Walden desejam trabalhar na Europa. ou a vida nos bosques” (Antígona, A jangada parece assumir não só 2009), publicado em 1854. Como uma função de espaço de resistência nota Júlio Henriques, é nesse – é nessas construções precárias que território que o escritor norte- os sobreviventes aos diferentes americano irá aprender “que a arte escravatura. Essa experiência levou-o intervenção que apresenta na Galeria desastres jogam as suas vidas –, mas de escrever e a arte de viver são a reflectir sobre as relações entre o Extéril, um projecto de Teixeira também de comentário ao actual inseparáveis.” O responsável pela indivíduo e o Estado, propondo o Barbosa com dez anos de existência e momento da arte, cada vez mais revisão e adaptação do livro para direito à auto-governação como sintetizado na frase “produzir o necessitada de um lugar solitário, português, trabalho realizado a partir modo de enfrentar os abusos do máximo com o mínimo” – o ponto flutuante ou não, para evitar o da tradução de Astrid Cabral, poder. O ensaio, que se inicia com a em comum entre os trabalhos naufrágio presente, entrevisto nas sublinha ainda que neste texto célebre frase “o melhor governo é o mostrados é uma estrutura portátil, diferentes formas como hoje o fazer Thoreau se mostra “como exemplo que governa menos”, inclui ainda um cubo com 2x2x2 metros; até artístico se confunde, é confundido, de uma possível vida vivida ‘com esta passagem: “Num governo que 2005, as exposições tinham lugar com objectivos alheios – o turismo simplicidade e inteligência’.” aprisiona qualquer pessoa numa antiga fábrica ocupada, na cultural, as indústrias criativas, os Próximo de Emerson, a quem injustamente, o verdadeiro lugar de zona do Marquês, no Porto. leilões, os fundos de investimento, , pertencia o terreno onde ergueu a um homem justo é também na Intitulada “Acerca da sobrevivência”, a decoração de hotéis, a cabana, e do pensamento prisão” a proposta actual pretende dotar o gastronomia, etc. Como escreve transcendentalista, Thoreau escreveu Estes dois textos espaço expositivo de uma imaginada António de Sousa no curto texto que ainda “A desobediência civil” (1849), encontram-se entre o mobilidade – a arquitectura pré- associa à sua intervenção: “Num onde descreve a sua passagem pela material utilizado por existente foi colocada sobre paletes contexto político, económico e prisão após ter recusado pagar António de Sousa de madeira, às quais o artista cultural de crise, já de si adverso à impostos, atitude justificada pela sua (Matosinhos, adicionou outros materiais (fios, experiência, este simbiótico corpo posição contrária quer à guerra que 1966) para garrafas de água em plástico, uma sobrevive devido à sua estranha Exposições opunha os EUA ao México, quer à preparar a cana com uma camisa a natureza e à sua incessante deriva.”

Agenda

Depois do Dilúvio Lisboa. das 14h às 20h (última admissão às 19h30). Salla Tykkä Inauguram De Gao Xingjian. Culturgest. Vila do Conde. Solar - Galeria de Arte Cinemática. R. Arco do Colecção #2 - Francisco Sintra. Sintra Museu de Arte Moderna Colecção Solar de S. Roque. Tel.: 252646516. Até 06/09. 3ª, Cego - Retratos, 10 Anos do Berardo. Av. Heliodoro Salgado. T. 219248170. Até Tropa 4ª e 5ª das 14h30 às 18h. 6ª das 14h30 às 00h. Edifício da Microcrédito em Portugal 27/9. 3ª a dom. das 10h às 18h. Lisboa. Culturgest. R. Arco do Cego - Edifício da Sáb. das 10h às 00h. Dom. das 10h às 18h. 17º Porto. Centro Português de Fotografia - Cadeia da CGD. Tel.: CGD. Tel.: 217905155. Até 06/09. 2ª, 4ª, 5ª e 6ª das Curtas Vila do Conde Festival Internacional de Relação do Porto. Campo Mártires da Pátria. Tel.: Dan Flavin na Colecção Panza 217905155. Até 11h às 19h (última admissão às 18h30). Sáb., Dom. e Cinema. 222076310. Até 31/08. 3ª a 6ª das 10h às 18h. Sáb., De Dan Flavin. 06/09. 2ª, 4ª, 5ª Feriados das 14h às 20h (última admissão às e 6ª das 11h às 19h30). Dom. e Feriados das 15h às 19h. Inaugura 11/7 às 16h. Lisboa. Museu Colecção Berardo. Pç. do Império - Wish We Could Tell 19h (última CCB. Tel.: 213612878. Até 30/08. 6ª das 10h às 22h De Joana Hadjithomas, Khalil Joreige. admissão às MARZLIVE Projecto 09 (última admissão às 21h30). 2ª a 5ª, Sáb. e Dom. das Vila do Conde. Teatro Municipal. Av. Dr. João 18h30). Sáb., De vários autores. 10h às 19h (última admissão às 18h30). De Julian Rosefeldt, Johanna Billing, Canavarro. Tel.: 252646516. Até 30/07. 2ª a Dom. Porto. Centro Português de Fotografia - Cadeia da Dom. e Feriados Matt Stokes, Jens Wagner, Michaela das 14h às 00h. 17º Curtas Vila do Conde Festival Relação do Porto. Campo Mártires da Pátria. Tel.: Serralves 2009 - a Colecção das 14h às 20h Internacional de Cinema. (última admissão às Eichwald, Kai Althoff, Ralf Schauff, 222076310. Até 30/08. 3ª a 6ª das 10h às 18h. Sáb., De vários autores. Iain Forsyth, Jane Pollard. Dom. e Feriados das 15h às 18h. Trabalho final dos 19h30). Quantos Artistas um Artista Porto. Museu de Serralves. R. Dom João de Castro, Lisboa. MARZ - Galeria. R. Reinaldo Ferreira, 20A. Estudantes do Curso de Tecnologia da Comunicação 210. Tel.: 226156500. Até 27/09. 3ª a 6ª das 10h às Tel.: 915769723. De 26/06 a 30/07. 3ª a Sáb. das 12h pode ser Audiovisual ESMAE/IPP. Inaugura 11/7 às 16h. Colecção #1 - Ana 17h. Sáb., Dom. e Feriados das 10h às 20h. Jotta às 20h. De 26/6 a 2/7: Julian Rosefeldt. De 3/7 a 9/7: De João Paulo Feliciano. Fotografia, Vídeo. Castelo Branco. 102-100 Galeria de Arte. R. de Lisboa. Culturgest. R. Arco Johanna Billing. De 10/7 a 16/7: Matt Stokes. De 17/7 Ombro a Ombro: Retratos Santa Maria, 100. Tel.: 933180211. Até 01/08. 3ª a do Cego - Edifício da CGD. a 23/7: Jens Wagner, Michaela Eichwald, Kai Althoff 6ª das 15h às 19h. Sáb. das 10h30 às 19h. Continuam Políticos Tel.: 217905155. Até e Ralf Schauff. De 24/7 a 30/7: Iain Forsyth e Jane Lisboa. MUDE - Museu do Design e da Moda. R. 06/09. 2ª, 4ª, 5ª e 6ª das Pollard. Lições de Música, Vol. II Feijoeiro Augusta 24. Tel.: 218886117. Até 13/09. 6ª e Sáb. das 11h às 19h (última De João Pedro Vale. 10h às 22h. 3ª a 5ª e Dom. das 10h às 20h. admissão às 18h30). Gao Xingjian De João Paulo Feliciano. Porto. Galeria Fernando Santos. R. Miguel Lisboa. MNAC - Museu do Chiado. R. Serpa Sáb., Dom. e Feriados Lisboa. Galeria Graça Brandão. R. dos Caetanos, 26A Vermelho ou Azul/Red or Blue Bombarda, 526/536. Tel.: 226061090. Até 30/07. 3ª Pinto, 4. Tel.: 213432148. Até 30/10. 3ª a Dom. das (Bairro Alto). Tel.: 213469183. Até 31/07. 3ª a Sáb. das De Daan van Golden. 11h às 20h. a 6ª das 10h às 19h30. 2ª e Sáb. das 15h às 19h30. 10h às 18h. No Piso 1. Retratos de políticos no MUDE

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